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2007305_2673114_TAUANY TCC 1.

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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL - UNINTER
CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL
TAUANY ARAUJO DO NASCIMENTO	Comment by Silmara Quintana: Olá Tauany, espero que esteja bem.
2007305
 
 VIOLENCIA CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE
SOBRAL	Comment by Silmara Quintana: Sigla doEstdo.
2022
TAUANY ARAUJO DO NASCIMENTO
VIOLENCIA CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTES
Trabalho de Conclusão de Curso de graduação, apresentado à disciplina e Orientação de Trabalho de Conclusão de Curso - OTCC, do curso de Bacharelado em Serviço Social do Centro Universitário Internacional UNINTER, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel.
Orientadora: Profa. Ma. Silmara C. R. Quintana	Comment by Silmara Quintana: Realinhei.
SOBRAL	Comment by Silmara Quintana: Sigla do Estado.
2022
TAUANY ARAUJO DO NASCIMENTO 2007305
VIOLENCIA CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTES
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação, apresentado à disciplina de Orientação de Trabalho de Conclusão de Curso - OTCC, do curso de Bacharelado em Serviço Social do Centro Universitário Internacional UNINTER / Curitiba-PR, como requisito final para a obtenção do título de Bacharel.
Aprovado em: ____ de ___________ de 2022.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
(Titulação e nome completo)
Instituição 1
_____________________________________
 (Titulação e nome completo)
Instituição 2
_____________________________________
(Titulação e nome completo)
 (Orientador)
Dedico a minha família e todos aqueles me apoiaram ao longo da vida.	Comment by Silmara Quintana: realinhei
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por me ajudar nas minhas batalhas, segundo, meus pais que sempre lutaram e com sacrifio nos crio para que não faltasse nada para me e meu irmão, terceiro meu marido que esteve ao meu lado lutado minhas batalhas que sempre disse que iriamos conseguir, quarto ao meu filho por ter me dado um sentido a vida.
Meu agradecimento especial a Uninter que fez esse sonho possível abrindo uma porta da universidade sinto orgulho de participar dessa universidade.	Comment by Silmara Quintana: trabalhar com caixa baixa.
A criança aprende mais quando ensinamos com amor do que quando ensinamos com violência.
Lakhsmi Daimon
RESUMO
Todos os dias pelo menos 243 casos de tortura ou agressão física, psicológica (registrado mais de dez por hora), contra menores de idade são notificados no Brasil, para especialista esse número representa a ponta de um número muito maior, pois existem casos que não são denunciados, muitos acabam em morte como o caso do menino Henry Borel, 81% dos casos de violência contra criança e adolescentes ocorrem dentro de casa, número referido ao primeiro semestre de 2021, total registrada pelo disque 100 no período foi de 50,1mil (segundo o artigo https://www.gov.br). A maioria das violências é praticada por pessoas próximas ao convívio familiar, a mãe aparece como principal violadora. Através do artigo (gaz.com.br) somente no ano de 2019, a soma desses três tipos de violência, contra criança e adolescentes de (0 a 19 anos) chegou 88.572 notificações, desses totais de casos, 71% foram violência física, 27%violencia psicológica e 3% tortura.	Comment by Silmara Quintana: Resumo compreende: delimitação do tema, objetivo geral da pesquisa, metodologia (abordagem, objetivo da abordagem, procedimentos, método. Resultados da pesquisa.Rever.
Palavras-chave: Educação, disciplina, amor e compreensão. 
RESUMEN 
 
Cada día se denuncian en Brasil al menos 243 casos de tortura o agresión física y psicológica (registrados más de diez por hora), contra menores, para especialista esse número representa a ponta de um número muito maior, pois existem casos que não são denunciados, muitos acabam em morte como o caso do menino Henry Borel, El 81% de los casos de violencia contra niños, niñas y adolescentes ocurren en el hogar, un número reportado en el primer semestre de 2021, un total registrado por el dial 100 en el período fue de 50.100. (según el artículo https://www.gov.br). La mayor parte de la violencia es practicada por personas cercanas a la vida familiar, la madre aparece como la principal violadora. A través del artículo (gaz.com.br) solo en 2019, la suma de estos tres tipos de violencia, contra niños, niñas y adolescentes de (0 a 19 años) alcanzó las 88,572 notificaciones, de estos casos totales, el 71% fueron violencia física, el 27% violencia psicológica y el 3% tortura.	Comment by Silmara Quintana: Após rever o resumo, passar por nova tradução.
Palabras clave: Educación, disciplina, amor y comprensión
LISTA DE ILUSTRAÇÕES	Comment by Silmara Quintana: Apenas a figura, e o titulo sem a imagem
figura 1 – violência silenciada
Figura 2- consequência das violências as marcas 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS	Comment by Silmara Quintana: Usar com as siglas que estão no trabalho.
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
Color. Colorido
comp. Compilador
coord. Coordenador
DVD Digital Video Disc
ed. Edição
Ed. Editor
f. Folha
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ideal. Idealizador
il. Ilustrador
ISBN International Standard Book Number
NBR Norma Brasileira Regulamentar
P&b Preto e branco
p. Página
trad. Tradutor
SUMÁRIO	Comment by Silmara Quintana: Vamos apresentar algumas sugestões no decorrer do texto, e após vc precisará rever o sumario.
1. INTRODUÇÃO...................................................................................12
2. VIOLENCIA QUE VEM DA FAMILIA..................................................13
 2.1 O QUE LEVA A FAMILIA A PRATICAR A VIOLENCIA........................14
 2.2 QUAIS AS VIOLENCIAS QUE MAIS AFETAM CRIANÇAS.......................15
 2.2.1 AS FORMAS DE MAUS TRATOS........................16
 2.2.2 QUAIS OS FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A VIOLENCIA SEXUAL 
 2.2.2.1 AS MARCAS QUE FICAM NAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES....18
 3. ABANDONOS DE INCAPAZ...........................................................................19
 3.1 AS CONSEQUECIAS DO ABANDONO DE INCAPAZ........20
 3.2 CASOS DE TORTURAS INFANTIS E SUAS EXPLICAÇÕES.....................21
 3.2.1ABUSOS INFANTIS ...................................................................................22
 3.2.1.1 DIREITOS VIOLADOS..........................................................................23 
 4. QUAIS OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE........................24
 4.1 COMO GARANTIR SEUS DIREITOS..........................................................25
 4.2 O SERVIÇO SOCIAL DIFRENTE AS VIOLENCOIAS................................26
 4.2.1 QUAL O PAPEL DA ASSISTENTE SOCIAL COM CRIANÇAS...............27
 4.2.2.1 LEIS DO ECA......................................................................................28
 5. ANALISES DOS RESULTADOS...................................................................29
 6. CONCLUSÃO...............................................................................................30
 REFERENCIAS;
 
INTRODUÇÃO
A violência infantil ocorre quando um adulto ou alguém mais desenvolvido age de forma a machucar, física ou emocionalmente, uma criança. É caracterizado crime, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Para o CNJ, machucar um menor de idade de forma que lhe cause marcas, cortes e similares no corpo é crime e pode dar entre dois meses a um ano de prisão ou o pagamento de uma multa. Se for lesão corporal grave, são quatro anos de prisão e, se levar a óbito, doze anos.
Há também a modalidade de tortura, que envolve não somente violência física, mas também mental. Ameaças constantes que causem sofrimento também podem acontecer e a punição varia entre dois e oito anos de prisão. O abuso sexual contra menores é um crime inafiançável.
Para apresentar a monografia foram levantadas as seguintes questões:
· O que levao adulto a cometer violência infantil
· Como saber que uma criança ou adolescente sofre violência
· Quais os anos de maiores índice de violência infantil
· Os maiores crimes brasileiros contra crianças 
· Qual país possui o maior índice de violência infantil
Por tanto no capitulo 1, apresentaremos as principais causas de violência contra crianças e adolescentes e o que leva seus agressores cometer esse crime.
No capítulo 2, apresentaremos o que leva a família a cometer as violências, as práticas, costumes, as formas violentas que agem com crianças.
No capítulo 3 abordaremos o abandono infantil e o que leva a ele, casos de torturas e alguns depoimentos de vítimas.
No capítulo 4 apresentaremos, os direitos do eca, como combater a violência, o papel do serviço social.
 2. Violência que vem da família
Dentre os tipos de Violência Intrafamiliar, a Violência Intrafamiliar Infantil é definida como aquela que acontece dentro da família ou até mesmo no lar onde a criança convive; cometida por algum parente ou pessoas que tenham função parental, ainda que sem laço de consanguinidade, e pode ser caracterizada de formas diferentes como: física, psicológica, sexual e negligência. Geralmente é mantida por meio das relações de subordinação e dominação e é um dos principais motivos para as crianças fugirem de casa e do convívio familiar (Williams, 2004). O problema da Violência Intrafamiliar Infantil não ocorre de forma fragmentada, e sim de forma dinâmica. No entanto, é importante que se faça uma definição adequada e didática para que este seja compreendido e tenha implicações práticas para a prevenção e o manejo. A Negligência é a omissão de responsabilidade e de cuidados básicos de atendimento às necessidades físicas e emocionais prioritárias e de proteção à criança frente a situações graves que podem ser evitadas. Uma forma de negligência considerada grave é o abandono, que por sua vez evidencia a ausência de um vínculo adequado dos responsáveis para com a mesma. Para Gomide (2004) pais negligentes agem como espectadores e não como participantes ativos da educação dos filhos. Assim, esse tipo de violência é considerado a forma mais frequente de maus tratos e inclui a negligência física, emocional e educacional. A Negligência Física abrange a maioria dos casos de maus tratos e caracterizam problemas como: ausência de cuidados médicos pelo não reconhecimento ou admissão por parte dos pais ou responsáveis, abandono ou expulsão da criança de casa por rejeição, ausência de alimentação, cuidados de higiene, roupas, proteção a alterações climáticas, imprudência ou desobediência às regras de trânsito, falta de medidas preventivas para evitar intoxicação exógena, supervisão inadequada (como deixar a criança sozinha e sem cuidados por longos períodos). A Violência Física pode ser praticada por parte dos pais, responsáveis, cuidadores, familiares ou pessoas próximas, assim como os outros tipos de Violência Intrafamiliar Infantil. Neste caso, a força física é usada de forma intencional, isto é, não acontece de forma acidental, e tem como objetivo ferir e lesar a vítima. Na maioria das vezes este tipo de violência deixa marcas no corpo, o que possibilita seu diagnóstico. As marcas indicativas do abuso incluem hematomas, escoriações, lacerações, contusões e queimaduras. 
2.1 O que leva a família a praticar a violência
A violência familiar provoca indignação, provoca choque, pois o que se espera da família é que seja o porto seguro, que seja uma comunidade de amor, o lugar do direito e do cuidado, da solidariedade, partilha, amizade, respeito, companheirismo, lugar de crescimento pessoal. Espera-se que a família acolha e proteja seus membros. É na família que começa o processo de conscientização dos valores, onde se aprende a respeitar os outros e a colaborar com eles.
A violência familiar acontece quando se tem um desiquilíbrio de poder na relação entre os membros da família. Este comportamento deliberado de violência pode causar danos físicos ou psíquicos ao outro com diferentes níveis de gravidade.
A família deveria ser a base do desenvolvimento saudável e deveria ser responsável em atender as necessidades básicas de amor e segurança. No entanto, diversas famílias “educam” por meio de agressões gratuitas ou ainda violência justificada supostamente pelo amor. A perpetuação da violência, de geração em geração, reforça as relações de poder historicamente desiguais e injustas entre os membros da família. Ocorre com certeza o efeito dominó: pessoas que sofreram violência na infância, quando crescem, reproduzem essa atitude, tornando-se adultos violentos.
A Escola de Pais do Brasil orienta a não fazer uso do poder e da força, mas é frequente ouvir dos pais que “uma tapinha não faz mal a ninguém”. Embora um beliscão, um tapa e um espancamento sejam diferentes, o princípio que rege os três tipos de atitude é exatamente o mesmo: utilizar a força e o poder. Muitos pais defendem que pode ser um recurso eficiente. No entanto, bater é uma demonstração de impotência e incompetência diante do fato existente.
É indiscutível a importância da autoridade dos pais e está autoridade deve ser fundamentada no amor e no respeito. O filho é dependente do amor dos pais e o que pode ocorrer é que ao invés de os pais concederem o amor, os pais resolvem confundir os filhos com maus tratos.
2.2 Quais as violências que mais afetam as crianças
O desenvolvimento de meninos e meninas é seriamente comprometido pela violência psicológica. Especialmente em uma idade jovem A violência psicológica é muito mais sutil que outras, não em seus efeitos, mas na forma como se expressa. Não aplica golpes ou abusos físicos, mas se manifestam por chantagem emocional, humilhação e comentários destrutivos. Ou também por ações ou omissões. Independente do disfarce que adote, acaba corroendo a autoestima das crianças.
3. Humilhações. Refere-se a todas aquelas ações ou verbalizações em que a criança é levada a se sentir incompetente, inútil ou de pouco valor. Ela é chamada por nomes ou apelidos humilhantes
4. Agressões verbais. Gritos, insultos, comentários e pedidos mal-educados o tempo todo. Também se aplica aqui o uso do sarcasmo nas respostas.
5. Ênfase nos “erros”. Dessa forma, seu valor é erodido e uma única história ou imagem de si mesma é promovida. Por exemplo, quando dizem “lá vem o tortinho” ou “ele é vesgo”.
6. Proibições ou impedimentos para desenvolver, explorar e se relacionar. Às vezes isso acontece porque as bases do apego seguro não são fornecidas para que as crianças tenham total segurança para explorar o mundo. Sua liberdade é cerceada, o medo é gerado e suas possibilidades são limitadas.
7. Chantagem emocional. Geralmente vem na forma de “Se você não fizer isso, então…”. Dessa forma, as crianças são confrontadas com uma situação em que são responsáveis pelo bem-estar dos pais. Elas sentem que não são capazes de satisfazer seus desejos e interesses e acabam respondendo apenas aos dos adultos. É como se fossem colocadas entre a espada e a parede. Uma das formas mais comuns de chantagem emocional é quando as crianças são usadas como motim em conflitos de casal.
8. Invalidez de emoções e interesses. As necessidades ou a forma como a criança se sente são subestimadas. Esse tipo de violência psicológica também se expressa por não reconhecer suas conquistas e aprendizados ou não os parabenizar por eles. Dessa forma, a criança internaliza que suas necessidades não são importantes nem levadas em consideração.
9. Rejeição. Os adultos não facilitam o contato ou a aproximação com a criança, não demonstram apoio nem carinho.
10. Autoritarismo. O adulto se posiciona como quem dá as ordens e a criança deve ser quem obedece. Geralmente é baseado no adulto centrismo, que justifica esse comportamento com base na diferença de idade.
11. Parentalidade baseada no medo. Às vezes, é pela própria ansiedade dos pais que eles transferem suas próprias inseguranças aos filhos. E assim, seu desejo de explorar e aprender é limitado. Outras vezes, trata-sede crianças que se comportam com muitos cuidados exagerados para não incomodar os adultos, por medo de sua reação. Esse comportamento muitas vezes decorre de ter vivenciado ou presenciado uma situação de violência. Até porque os gestos e a postura dos pais são ameaçadores, sem que isso signifique que vão bater neles.
12. Indiferença. Consiste em negligenciar e não dar atenção às demandas e necessidades das crianças. É como se elas não existissem
2.2.1 As formas de maus tratos
O número de registros de maus-tratos em crianças e adolescentes subiu 21,3% em 2021 no país, de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Foram 19.136 vítimas de 0 a 17 anos, sendo que 36% delas têm de 5 a 9 anos e 26%, de 0 a 4 anos. Em 2020 eram 15.846 ocorrências nessa faixa etária.
A taxa, que era de 29,8 vítimas por 100 mil habitantes no país, subiu para 36,1. Para Sofia Reinach, pesquisadora associada do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e gerente sênior de programas de prevenção e enfrentamento a violências da Vital Strategies Brazil, a pandemia contribuiu para subnotificações do crime, sobretudo quando o isolamento por causa da Covid-19 estava mais rígido.
"A subida tão expressiva desse número se deve à queda significativa dos registros em 2020. Isso não significa que tenha sido um ano de baixa violência, mas sim que os casos não chegaram às delegacias. Estamos recuperando os níveis de 2019 e vendo o aumento devido a esse período que as crianças ficaram em isolamento social, mais distantes da escola. Presença na escola é um fator importante para que os crimes cheguem à polícia", afirma. Hoje as crianças e adolescentes no Brasil são em maior número vítimas de violência sexual, segundo o estudo. Na sequência, estão os maus-tratos. Crimes que ocorrem dentro das residências. "É um retrato do perfil das vítimas de violência sexual no Brasil. Entre 10 e 14 anos está a maior parte das vítimas de estupro e, majoritariamente, do sexo feminino. De maus-tratos o perfil varia mais: a maioria é masculina, mas não tão expressiva, e atinge muito crianças de 0 a 4 anos", afirma Sofia Reinach.
2.2.2 Os fatores que contribuem para violência sexual
Os fatores culturais também têm um peso importante quando falamos de violência sexual contra crianças e adolescentes. E neste universo entra a questão de gênero, os rituais sobre iniciação sexual, tradições de grupos específicos, um forte apelo ao consumo, erotização infantil, entre outras coisas.
A mulher ainda é vista como objeto. E muitas propagandas, como as de cerveja, reforçam esse estigma. “É uma questão que está inserida na matriz cultural brasileira, na forma de ser do homem e da mulher no Brasil, e no exercício da masculinidade”, diz Graça.
Apesar de haver um maior número de casos de homens abusadores do que de mulheres, e da maioria das vítimas ser do sexo feminino, não é incomum acontecerem violações contra meninos praticadas tanto por homens quanto por mulheres. Esses casos, porém, são menos denunciados, pois causa constrangimento, e os dados da realidade acabam sendo mascarados. “O menino fica com vergonha de falar, pois ele é treinado para ser ‘macho’”, conclui Itamar. A ausência de políticas públicas ou projetos para atender meninos também dificulta a notificação e encaminhamento desses casos.
A violência é um substantivo plural, e tem diversas manifestações. Sua ocorrência está muitas vezes baseada em uma relação de poder em relação à vítima. Esse poder pode ser tanto econômico, geracional, de força física, de classe social, ou mesmo de gênero. Refletir sobre o papel de cada um e cada grupo na sociedade e como isso impacta na vulnerabilidade de crianças e adolescentes a violência é fundamental.
2.2.2.1 As marcas das violências
Os principais sinais apresentados pelo jovem ou criança que sofre violência são: ansiedade, choros constantes sem aparente motivo, medo, pesadelos, tentativas de suicídio, marcas de violência no corpo, ataques de pânico, baixo rendimento escolar, sentimento de inferioridade.
Se a sociedade pudesse viver o verdadeiro uso da palavra “amar” e não aquele afirmado pela mídia, ligado apenas ao namoro e ao sexo, mas pensar no amor por sua definição mais simples, relacionar-se com igualdade de consideração, sem superioridade ou inferioridade, sendo tolerante às falhas e às diferenças humanas, muitos casos não seriam mais presenciados.
Amar é não fazer ao outro coisas que nós não gostamos que façam conosco. O que nós não gostamos de receber, certamente o outro também não deve gostar. A partir dessa vivência, tornaremo-nos cooperadores um do outro em vez de destruidores. Que possamos ser agentes na extinção dessa violência, com o máximo de respeito e ação diante de tais situações.
Muitas pessoas se perguntam, a todo o momento, o que leva um adulto a maltratar, violentar e torturar uma criança? São inúmeros os casos de pais e familiares que cometem estes maus tratos, babás que espancam bebês e conhecidos que violentam sexualmente meninas e meninos. O último caso de maus tratos contra criança ganhou notoriedade na mídia nacional e chocou o país ao envolver a Procuradora de Justiça aposentada, Vera Lúcia Sant’ana, e uma criança de dois anos. Ela é acusada de agredir violentamente uma criança e foi denunciada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro pelo crime de tortura qualificada. Segundo a médica e psicanalista Soraya Hissa de Carvalho, este caso é uma exceção entre os casos de maus tratos cometidos contra crianças dentro de casa porque não ficou encoberto. A maioria dos casos de violência infantil no ambiente doméstico não é denunciada. "Agressões graves chegam aos hospitais camufladas na forma de acidentes residenciais, quedas ou versões fantasiosas criadas pelos próprios pais para ocultar surras e maus tratos contra os filhos", alerta.
A médica explica que violência é todo comportamento que causa danos a outro ser vivo, seja fisicamente, psicologicamente ou moralmente. Contra a criança a violência pode ser física; psicológica; sexual e a negligência – que consiste na omissão dos pais ou responsáveis quando deixam de prover as necessidades básicas para o desenvolvimento físico, emocional e social da criança e do adolescente.
O Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (CECRIA), gestor do serviço disque 100, que recebe informações sobre violência contra crianças e adolescentes em todo o Brasil, divulgou estatísticas sobre os casos no Brasil. Segundo as informações, em todo o país, entre janeiro e abril deste ano, o serviço atendeu 8.799 casos de violência contra crianças e adolescentes. Desde 2003, quando começou a atuar, o Disque 100 encaminhou 123 mil denúncias. Violência física e psicológica contra menores corresponde a 34% do total de atendimentos – mesma proporção de denúncias de negligência. Os casos de violência sexual compõem os 32% de registros restantes. A psicanalista alerta que as consequências da violência na infância acompanham o indivíduo por toda a sua vida se não houver um acompanhamento médico adequado. "As marcas deixadas no corpo podem até ser curadas rapidamente, mas as psicológicas podem deixar sequelas para toda a vida", afirma Soraya.
De acordo com médica, a maioria das crianças vítimas de algum tipo de violência preenche os critérios de diagnóstico de desordens mentais e estresse pós-traumáticos, apresentando reduzido envolvimento com o mundo externo, revivência do trauma, hiperatividade, hiper agressividade e distúrbios de sono. Nos quadros agudos, manifestam sentimentos de infelicidade e pânico, regressões a fases anteriores de desenvolvimento do ego, comportamento autodestrutivo e depressivo.
Alguns estudos afirmam que há a possibilidade de indivíduos vítimas de violência na infância se tornar um adulto propenso a cometer as mesmas crueldades sofridas por ele. "Não há desculpas e justificativas para quem agride uma criança. Estudos mostram que muitos que foram vítimas de violência quando crianças tendem a repetir o modelo aprendido e cometem, na fase adulta, crimescontra crianças", completa a psicanalista.
3. Abandono de incapaz
O abandono de incapaz teve alta de 11,1% nas taxas por 100 mil pessoas. Em 2020, foram 7.145 registros desse tipo de crime com vítimas de 0 a 17 anos no país. Esse número saltou para 7.908 em 2021. A maior taxa está entre 5 e 9 anos. São situações em que a criança ou o adolescente sofreu algum tipo de negligência, normalmente de pais ou responsáveis. Um dos casos que o Brasil acompanhou foi o do menino Miguel, que foi deixado sozinho dentro de um elevador pela patroa da mãe, Sari Corte Real.
O garoto de 5 anos caiu do prédio de luxo em Recife, em junho de 2020. Sari foi condenada oito anos e seis meses de prisão por abandono de incapaz com resultado morte.
De acordo com o levantamento do anuário, "as principais vítimas são os não tão jovens sobre os quais há maior controle e nem as mais velhas, que têm condições de se defender dos riscos".
O ato de abandono coloca em xeque a relação jurídica de cuidado, guarda, vigilância ou autoridade. Na verdade, é comum, que vários desses aspectos coexistam, ao menos em parte. Um pai que saia a passeio com seu filho menor mantém sobre ele os deveres de cuidado, vigilância, guarda e autoridade. O médico em face de seu paciente assume dever de cuidado. Um diretor de penitenciária tem a custódia (guarda) dos sentenciados, exercendo sobre eles sua autoridade, nos termos da lei. O motorista que oferece carona a uma pessoa inválida assume compromisso de guarda e vigilância, não podendo deixá-la em lugar perigoso, do qual se afaste voluntariamente. Quando é mencionado o crime de abandono de incapaz, a primeira associação feita pelo público é o da quebra da relação de cuidado de um pai ou mãe para com seu filho ainda em tenra idade, mas, como visto pelos exemplos acima, o ilícito pode envolver diferentes pessoas. Com o abandono, há o perigo concreto, que se traduz no ato de afastar-se da vítima, colocando-lhe em risco a vida ou a saúde. Haja vista a gravidade da conduta, é fundamental o distanciamento físico entre réu e ofendido, onde o sujeito ativo se aparta da pessoa da vítima, que permanece onde de hábito se encontrava ou a leva propositadamente para outro local, em que é exposta a perigo.
O estatuto do idoso, em seu artigo 98 criou uma nova figura delituosa dentro do âmbito do abandono: "Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado. Pena — detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa".
3.1 As consequências do abandono de incapaz
 O abandono de incapaz é um crime de grande seriedade e passível de punições legais. Os criminosos condenados pelo artigo 133 estarão sujeitos a sofrer pena.
A pena pode variar por qualquer conjunto de tempo entre três meses e cinco anos.
O crime exige a reclusão do responsável e não apresenta direito à fiança, sendo assim um crime inafiançável.
O artigo 133 do código penal traz o seguinte texto;
Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena - detenção, de seis meses a três anos.
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Aumento de pena
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:
I - Se o abandono ocorre em lugar ermo;
II - Se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
O crime será qualificado quando presente o que está previsto nos §1 e §2 do artigo 133, vale ressaltar que como explicado anteriormente o dolo no crime aqui estudado é o de abandonar, não o de lesionar ou matar, ainda que previsível.
Portanto o agente garantidor, quando abandona, não busca o resultado de dano, mas expõe o incapaz ao perigo, se a intenção é de causar lesão corporal ou morte a tipificação passa a ser a dos artigos 121 e 129 do código penal.
I - Se o abandono ocorre em lugar ermo;
Para qualquer das causas de aumento será acrescido 1/3 a pena aplicada, quando tratamos do abandono em lugar ermo é preciso ter em mente que o local não pode ser completamente ermo, abandonado.
O inciso fala de um local pouco frequentado habitualmente, não se aplicando o aumento de pena no caso de o abandono ocorrer em local que é normalmente bem frequentado, mas no dia do fato estava vazio.
A mesma lógica é aplicada quando o abandono ocorre em lugar que não é comumente frequentado, mas no dia do abandono havia um evento.
Porém, quando o incapaz é deixado em um local completamente abandonado, pode configurar o crime de homicídio.
II - Se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
Buscou o legislador punir com maior rigor aqueles que possuem o dever maior de cuidado, pelos laços familiares ou legais, importante ressaltar que a jurisprudência inclui neste rol os companheiros que vivem em união estável.
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
3.2 CASOS DE TORTURAS INFANTIS E SUAS EXPLICAÇÕES
Todos os dias, são notificados, em média, 243 agressões de diferentes tipos (física, psicológica e tortura) contra crianças e adolescentes, entre o nascimento e 19 anos de idade. Em menores de quatro anos, nos últimos anos foram registrados pelo menos 25 casos por dia. Somente no ano de 2019, a soma desses três tipos de registro chega a 88.572 notificações. Cerca de 60% dessas situações tiveram como local de ocorrência declarada o ambiente doméstico e grande parte têm como autores pessoas do círculo familiar e de convivência das vítimas, evidenciando que as vítimas permanecem reféns de seus agressores. 
Os dados foram extraídos pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), com o apoio da equipe da 360° CI, do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan), mantido pelo Ministério da Saúde. Apesar do volume significativo de registros, os especialistas acreditam que o número são apenas a ponta do iceberg e que a subnotificação não revela o cenário provavelmente pior.
Desse total de casos notificados pelos serviços de saúde, 71% (62.537) são decorrentes de violência física; 27% (23.693) de violência psicológica; e 3% (2.342) de episódios de tortura. Este levantamento não considerou variações como violência e assédio sexual, trabalho infantil, entre outros tipos de agressão, que serão abordados pela SBP em publicação posterior.
Ao analisar a série histórica nos últimos dez anos – 2010 a 2019 (dados mais recentes disponíveis), o volume de agressões chega a 629.526 registros, ou 173 casos por dia. Impressiona que desde a implantação dessa plataforma, os registros têm crescido de forma consistente. Em 2010, foram 24.040 notificações (média de 66 por dia). Em 2019, foram 88.572. No período analisado, o aumento foi de 268%.
“O recente caso do menino Henry Borel traz, em si, a indignação de toda a sociedade brasileira, sobretudo dos pediatras, que, diariamente, se deparam em seus consultórios com os mais diversos desrespeitos e afrontas à integridade física, psicológica e moral das crianças e adolescentes”, lamentou a presidente da SBP, Dra. Luciana Rodrigues Silva.
VULNERÁVEIS – Pelos dados do Sinan, é possível observar que as agressões atingem todas as faixas etárias da população pediátrica. Quase 25 mil casos notificados nas unidades de saúde das redes pública e privada ao longo da última década diziam respeito a bebês menores de um ano. Outros 51,3 mil registros envolviam crianças de um a quatro anos. 
“Esses números são apenas a ponta de um enorme iceberg. A subnotificação é uma realidade, ou seja, o total de casos que não chega ao atendimento médico nem ao conhecimento das autoridades, é significativa”, explica o dr. Marco Antônio Chaves Gama, presidente do Departamento Científico de Segurança da SBP.
Segundo ele, muitas situaçõesde violência não são encaminhadas aos locais de atendimento à saúde, pois os agressores não levam as vítimas para receber cuidados, o que geralmente só acontece quando a violência assume proporções graves ou com risco de morte. 
Apesar do encaminhamento da notificação não constituir denúncia policial contra os autores da violência, ele é o disparador da linha de cuidados voltadas para pessoas em situação de risco. Mas, não garante a assistência integral e as ações de proteção emergenciais que muitos casos demandam. 
A notificação da violência ou de sua simples suspeita é compulsória pelo Ministério da Saúde e obrigatória pela Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), devendo ser feita ao Conselho Tutelar da região e ao Ministério Público nas situações crônicas ou de maior gravidade. Em caso de crimes, como as violências físicas que deixam lesões, as psíquicas com repercussão na vida da criança e sexuais, comprovadas ou de suspeita, as delegacias de polícia devem ser notificadas também. 
Além disso, destaca o dr. Marco Gama, estudos pontuais em todo o mundo já indicam que a crise sanitária e a necessidade do isolamento social causados pelo coronavírus tem agravado esse cenário de violência no último ano. “Infelizmente, a casa não é um lugar seguro para todos, pois muitas crianças e adolescentes da família precisam compartilhar esse espaço com a pessoa que os violenta”, disse. Desde 2004 a SBP, através de seu DC de Segurança tem feito publicações para o enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes, em manuais, capítulos do tratado de pediatria, livros para pais e documentos científicos. 
Em 2018, o grupo lançou o “Protocolo de Abordagem da Criança ou Adolescente Vítima de Violência Doméstica, com o detalhamento do diagnóstico e dos encaminhamentos necessários em caso de suspeita de violência, cujo objetivo é orientar os especialistas no reconhecimento das várias formas de maus-tratos e na adequada condução dessas complexas situações. No mesmo ano, a entidade também disponibilizou gratuitamente em seu portal uma nova edição do “Manual de Atendimento às Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência”.
O livro tem o intuito de discutir estratégias para prevenir, identificar e encaminhar situações de risco de violência em nível doméstico, na escola e nos ambientes públicos. O documento tem como público-alvo os profissionais que atuam diretamente com a população pediátrica nas áreas da saúde, educação, assistência social, psicologia, segurança, justiça e mídia.
O caso de Gabriel Fernandez, o menino de 8 anos torturado e morto pela mãe e o padrasto retratado em série da Netflix
Era difícil não ver os sinais dos abusos sofridos por Gabriel Fernandez, mas mesmo assim as autoridades não foram capazes de impedir sua morte. A série de documentários da Netflix "The Trials of Gabriel Fernandez" conta os detalhes do caso.
"É normal que as mães batam nos filhos?"
Com essa pergunta, Gabriel Fernandez, então com 7 anos, deixou sua professora, Jennifer Garcia, muito preocupada.
Quando ela indagou a razão daquela estranha pergunta, Gabriel foi além: perguntou se era normal apanhar de cinto.
"É normal sangrar?", também questionou o menino.
Meses depois dessa conversa, Gabriel Fernandez, o Gabrielito, morreu depois de ser agredido em casa por sua mãe, Pearl Fernandez, e seu namorado, Isauro Aguirre.
Mas eles não foram os únicos a serem julgados pelo crime. Em uma decisão sem precedentes, quatro assistentes sociais foram acusados de abuso infantil e falsificação de registros públicos.
Em The Trials of Gabriel Fernandez ("Os Julgamentos de Gabriel Fernandez", em tradução livre), a Netflix apresenta um relato completo e documentado do que aconteceu com esse menino de origem latina que morava em Palmdale, norte de Los Angeles, EUA.
A série de documentários de seis episódios não se limita a contemplar apenas os abusos sofridos pela criança, destacando as falhas de um sistema que não pôde evitar o pior resultado.
Quem era Gabriel Fernandez?
Os parentes de Gabriel dizem que sua mãe não queria tê-lo. E embora ela tenha levado a gravidez adiante, abandonou o bebê no hospital quando ele nasceu.
Foram os avós do menino que o acolheram. Gabriel cresceu em várias casas diferentes, sempre em meio a parentes.
Segundo entrevistas com membros da família e relatos feitos após sua morte, Gabriel era um menino doce que buscava o amor de sua família.
Imagens da época em que ele morava com seus tios ou avós mostram uma criança aparentemente feliz e saudável.
Mas tudo mudou em 2012, quando Pearl Fernandez decidiu levá-lo para morar com ela e o namorado para poder receber benefícios sociais.
No humilde apartamento, havia também os dois irmãos do pequeno: Ezequiel e Virgínia, ambos menores de idade.
O destino de Gabriel estava a ponto de sofrer uma reviravolta.
8 meses de horror
Com a mudança de endereço, Gabriel também mudou de escola.
Foi ali que Gabriel teve aulas com Jennifer Garcia, com quem falou sobre ter apanhado de cinto.
Após a conversa alarmante, Garcia ligou para uma linha direta para denunciar situações de abuso infantil e relatou o que a criança lhe havia dito.
O caso caiu nas mãos de Stefanie Rodriguez, uma assistente social que, segundo pessoas próximas, tinha pouca experiência para um trabalho tão exigente.
A partir daí, ocorreram visitas, telefonemas e críticas, mas nada de fato mudou na vida de Gabriel.
O abuso que o menino sofria estava piorando, segundo disse seu professor no documentário da Netflix.
Ele começou a ir para a aula sem alguns fios de cabelo, com feridas no couro cabeludo, lábios inchados, hematomas no rosto ou ferimentos causados por tiros de uma pistola de ar comprimido.
Garcia reforçou suas queixas junto aos serviços sociais e alguns membros da família, preocupados, também pediram ajuda.
Policiais visitaram o apartamento várias vezes, um deles poucos dias antes da agressão que o vitimou, mas acreditavam no que a mãe lhes dizia e não verificavam o estado de saúde da criança.
Assim, nenhuma das ações das autoridades resultou em uma decisão que salvaria a vida de Gabriel.
Em 22 de maio de 2013, a mãe e o padrasto de Gabriel ligaram para o departamento de emergência para pedir ajuda, porque a criança não estava respirando.
Fazia oito meses que ele havia ido morar com eles.
Dois dias depois, Gabriel morreu. Tinha 8 anos.
Depoimentos chocantes
Pearl e Isauro foram presos e acusados de homicídio culposo em primeiro grau. A promotoria de Los Angeles anunciou que iria pedir a pena de morte para os dois.
No início, apenas um julgamento seria realizado, mas depois foi decidido julgar o casal separadamente por temores de que as limitações intelectuais de Pearl, atestadas pelos especialistas que a examinaram, atrasassem o processo.
O promotor responsável pelo caso foi Jon Hatami, que atua como o fio condutor do documentário da Netflix, que teve acesso exclusivo ao tribunal.
Hatami mostra seu lado mais pessoal, abre sua casa para o espectador e conta como ele próprio foi vítima de abusos físicos por seu pai, o que faz com que a história de Gabriel tenha um significado especial para ele. O que as testemunhas da acusação contam é chocante.
Alguns dos paramédicos que atenderam à chamada de emergência dizem que foi possível identificar imediatamente que Gabriel tinha diversas contusões na cabeça, várias costelas quebradas, partes da pele queimada e as mãos inchadas.
O médico legista que realizou a autópsia relata que Gabriel estava com estômago cheio de fezes de gato.
Os próprios irmãos de Gabriel, que testemunharam a portas fechadas no julgamento por serem menores de idade, confirmaram que o garoto era forçado a comer excrementos de gatos se não limpasse bem a bandeja do animal.
Eles também explicaram que a mãe e o namorado costumavam trancá-lo em um móvel que tinham em seu quarto, sem dar comida ou deixá-lo ir ao banheiro, e que o padrasto o espancava bastante, chamando-o de homossexual.
O advogado de Isauro, incapaz de negar as provas da causa da morte de Gabriel, baseou sua defesa em argumentar que o espancamentonão foi premeditado, mas o resultado de um acesso de raiva. Ele pediu aos jurados que condenassem seu acusado por homicídio em segundo grau.
Mas não conseguiu convencê-los.
Isauro Aguirre foi condenado à morte e aguarda execução na prisão de San Quentin, na Califórnia.
Depois de ouvir a condenação, Pearl decidiu se declarar culpada, evitando assim um julgamento e a pena de morte. Ela foi condenada à prisão perpétua sem a possibilidade de liberdade condicional. Sistema falho
O processo legal não terminou aí.
As assistentes sociais Stefanie Rodriguez e Patricia Clement e os supervisores Gregory Merritt e Kevin Bom foram formalmente acusados de abuso infantil e falsificação de registros públicos em 2017.
Os quatro já haviam sido demitidos logo após a morte de Gabriel. Merritt concordou em participar do documentário para apresentar sua versão dos fatos.
Ele relatou as dificuldades do serviço social e sobre como os assistentes estão sobrecarregados, frequentemente lidando com 25 a 30 casos de crianças cada um.
Segundo ele, os casos de proteção infantil se concentram na preservação da unidade familiar e a separação ou retirada forçada de menores de uma família é um processo traumático.
Finalmente, um tribunal de apelações na Califórnia determinou em janeiro passado que eles não deveriam enfrentar acusações criminais no caso de Gabriel.
"Ninguém ouviu Gabriel quando ele estava vivo", disse Knappenberger.
"Muitas pessoas falharam e existem muitas razões pelas quais isso aconteceu. Mas quando você chega ao fim, a pergunta é: como queremos tratar as crianças?"
3.2.1 ABUSOS INFANTIS
Os números mostram que na maioria dos casos de abuso infantil, os agressores são os pais da vítima. Isto é simplesmente devido ao fato de que a negligência infantil é um dos tipos mais comuns de abuso. Portanto, se você quiser proteger seus filhos, a primeira coisa que precisa fazer é aprender sobre todos os tipos de abuso infantil. Quais são os tipos de abuso infantil? 
De acordo com a Lei de Prevenção e Tratamento de Abuso Infantil dos Estados Unidos (CAPTA), existem 6 tipos de abuso infantil, 4 dos quais acontecem com extrema frequência: abuso físico, abuso emocional (mental, psicológico), abuso sexual e negligência infantil. Há dois outros que incluem abuso de substâncias e exploração infantil.
1. Abuso físico 
Um dos tipos mais comuns de abuso infantil, o abuso físico é qualquer ato que cause lesões físicas a uma criança. Muitas vezes, os pais não percebem como isto pode ser tão prejudicial. Não só pode causar danos a longo prazo a saúde mental da criança, mas também pode levar a diferentes problemas físicos (fraturas, hemorragias internas, etc).
2. Abuso emocional 
O abuso emocional (também mental ou psicológico) é indiscutivelmente o tipo de abuso mais oculto. O abuso mental raramente se manifesta fisicamente até que seja tarde demais. Qualquer ação ou palavra que possa causar sofrimento severo e prejudicar a mente de uma criança é considerada um abuso emocional. 
Raramente isso acontece intencionalmente e o agressor (pais, outros parentes, amigos e professores) não tem consciência sobre prejudicar a vítima. O exemplo clássico de tal comportamento é um pai superprotetor. Formas típicas de abuso emocional incluem: rejeitar, aterrorizar, ignorar, isolar e corromper.
3. Abuso Sexual 
Por definição, o abuso sexual ocorre quando um adulto usa o corpo de uma criança para satisfazer suas necessidades sexuais. O tipo mais horrível de abuso infantil afeta a saúde física e mental da criança da forma mais cruel: dos danos físicos aos órgãos, DSTs e traumas neurológicos, à depressão, comportamento suicida, problemas de confiança, baixa autoestima, etc. 
Abuso sexual inclui exibicionismo indecente, expondo um menor a materiais pornográficos, relações sexuais, forçando uma criança a tocar nos genitais de um adulto, etc.
4. Negligência infantil 
A incapacidade ou falha em prover uma criança com suas necessidades básicas em comida, roupa, abrigo, cuidado apropriado e atenção é considerada negligência infantil. 
Há muitas razões para a negligência infantil: da pobreza à simples falta de preocupação (especialmente no caso dos enteados). Os sinais mais óbvios de negligência infantil são os sinais de desnutrição e distúrbios comportamentais diferentes.
· O abuso infantil pode acontecer em qualquer família. Mesmo os pais mais amorosos e atenciosos podem abusar emocionalmente de seus filhos. Todos os dias estatisticamente 5 crianças morrem de abuso infantil e negligência no mundo. Imagine quantos permanecem desconhecidos. Alguns fatores que aumentam o risco de negligência e abuso infantil são a pobreza, o abuso de drogas e álcool, distúrbios de saúde mental e situação de pai ou mãe solteira.
· Crianças que sofreram negligência ou abuso podem aparentar estar cansadas, com fome, sujas ou apresentar lesões físicas ou problemas emocionais ou mentais, ou elas podem ter uma aparência completamente normal.
· Deve haver suspeita de abuso quando o padrão das lesões sugere que a lesão não foi acidental, quando as lesões não são compatíveis com a explicação do cuidador, quando o nível de desenvolvimento de uma criança a impediria de fazer coisas que pudessem resultar em lesão (por exemplo, um bebê acender o fogão) ou quando a criança tem tanto lesões novas como antigas que não parecem ser acidentais.
· As crianças devem ser protegidas contra a continuidade do maltrato, incluindo por meio do envolvimento da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente e/ou agências policiais, hospitalização, terapia psicológica para os pais e as crianças e ajudar a família a prestar cuidados seguros e adequados.
A negligência envolve não atender às necessidades básicas da criança, sejam físicas, médicas, educacionais ou emocionais.
O abuso pode ser físico, sexual ou emocional. Ele também pode incluir o abuso infantil em um contexto médico.
A negligência e o abuso infantil com frequência ocorrem ao mesmo tempo e com outras formas de violência familiar, como o abuso do parceiro íntimo. Além dos danos imediatos, a negligência e o abuso aumentam o risco de apresentar problemas de longa duração, incluindo problemas de saúde mental e abuso de substâncias. O abuso infantil também está associado com problemas na idade adulta como, por exemplo, obesidade, doença cardíaca e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
As pessoas que negligenciam ou abusam as crianças sob seus cuidados são chamadas agressoras. Isso significa, por exemplo, que pais e outros familiares, pessoas que vivem na casa da criança e são responsáveis por cuidar da criança ocasionalmente, professores, motoristas de ônibus, aconselhadores podem ser agressores. Outras pessoas que cometem violência contra crianças pelas quais elas não têm qualquer responsabilidade (como, por exemplo, tiroteios em escolas) são culpadas pelos crimes de agressão e/ou assassinato em vez de abuso infantil.
A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (Child Protective Services, CPS) dos Estados Unidos recebeu, em 2018, 4,3 milhões de denúncias sobre possível abuso infantil envolvendo 7,8 milhões de crianças. Dessas denúncias, aproximadamente 2,4 milhões foram investigadas minuciosamente e, dentre essas, foram identificadas 678.000 crianças que sofreram abuso ou negligência. Em geral, meninos e meninas são igualmente afetados, mas os meninos sofrem abuso físico mais frequentemente. Bebês e crianças pequenas têm o maior risco de sofrer abuso.
A maioria das crianças são vítimas de um tipo de abuso. Por exemplo, dentre as crianças que foram identificadas em 2018, 60,8% sofreram negligência (incluindo negligência médica), 10,7% sofreram abuso físico e 7% sofreram abuso sexual. Contudo, muitas crianças (15,5%) foram vítimas de vários tipos de abuso.
Aproximadamente 1.770 crianças morreram devido à negligência ou abuso nos Estados Unidos em 2018, das quais cerca da metade tinha menos de um ano de idade. Cerca de 80% dessas crianças foram vítimas de negligência e 46% foram vítimas de abuso físico que ocorreu com ou sem outrasformas de abuso. Cerca de 80% dos agressores eram os pais agindo sozinhos, juntos ou com outras pessoas.
Fatores de risco para negligência e abuso infantil
A negligência e o abuso resultam de uma complexa combinação de fatores individuais, familiares e sociais. Ser mãe ou pai solteiro, ser pobre, ter problemas com o abuso de drogas ou álcool, ter um problema mental (como distúrbios da personalidade ou baixa autoestima) ou ter uma combinação desses fatores pode aumentar a probabilidade de um pai ou mãe negligenciar ou abusar uma criança. Além disso, os adultos que sofreram abusos físicos ou sexuais quando crianças são mais propensos a abusar dos seus próprios filhos. A negligência é identificada com uma frequência doze vezes maior nas crianças que vivem na pobreza do que as que não vivem.
Pais de primeira vez, pais adolescentes e pais que já têm vários filhos com menos de cinco anos de idade também correm um risco maior de praticar abuso contra seus filhos. Mulheres que fumam, abusam de drogas ou têm histórico de violência doméstica durante a gestação podem correr risco de praticar abuso contra seus filhos.
Às vezes, não ocorre o desenvolvimento de laços afetivos fortes entre pais e filhos. Esta ausência de laços afetivos ocorre com mais frequência em bebês prematuros ou bebês doentes que são separados dos pais no início da primeira infância ou com crianças sem relacionamento biológico (por exemplo, enteados), e isso aumenta o risco de haver abuso.
Embora o abuso físico, o abuso emocional e a negligência estejam associados com a pobreza e um nível socioeconômico mais baixo, todos os tipos de abuso, incluindo o abuso sexual, ocorrem em todos os grupos socioeconômicos.
A negligência é a falha em prestar ou atender às necessidades básicas físicas, emocionais, educacionais e médicas de uma criança. Os pais ou cuidadores podem deixar a criança sob o cuidado de pessoas reconhecidas como praticantes de abuso ou podem deixar a criança sozinha, sem vigilância. Existem muitas formas de negligência.
Na negligência física, os pais ou cuidadores não fornecem adequadamente alimentação, vestuário, abrigo, supervisão e proteção contra possíveis danos.
Na negligência emocional, os pais ou cuidadores não dão afeto, amor ou outros tipos de apoio emocional. As crianças podem ser ignoradas ou rejeitadas ou impedidas de interagir com outras crianças ou adultos.
No caso de negligência médica, os pais ou cuidadores não fornecem os cuidados médicos adequados para a criança, como o tratamento necessário para lesões ou distúrbios de saúde física ou mental. Os pais podem retardar os cuidados médicos da criança quando esta está doente, colocando-a em risco de doenças graves e até de morte.
No caso de negligência educacional, os pais ou cuidadores não matriculam a criança na escola nem garantem que a criança esteja frequentando uma escola em um contexto tradicional, como uma escola pública ou particular ou receba educação em casa.
A negligência é diferente do abuso pelo fato de que os pais e cuidadores não maltratam intencionalmente as crianças sob seus cuidados.
A negligência geralmente resulta de uma combinação de fatores como má criação, capacidade ruim de lidar com o estresse, sistemas familiares sem assistência e circunstâncias de vida estressantes. Com frequência, a negligência ocorre em famílias pobres que estão passando por situações financeiras ou ambientais difíceis, sobretudo aquelas em que os pais também têm distúrbios de saúde mental não tratados (tradicionalmente depressão, transtorno bipolar ou esquizofrenia), praticam o abuso de drogas ou álcool ou têm capacidade intelectual limitada. As crianças em famílias de mãe ou pai solteiro têm mais risco de serem negligenciadas devido a uma renda mais baixa e menos recursos à disposição.
3.2.1.1 DIREITOS VIOLADOS
As principais violações desses direitos estão relacionadas às doenças, às necessidades especiais e aos óbitos causados por precariedades no atendimento pré e perinatal e no sistema de vacinação; aos portadores de necessidades especiais com atendimento de saúde deficiente; às doenças decorrentes de habitação e saneamento básico precários; à mortalidade e desnutrição infantil; ao alcoolismo e à drogadição; à mortalidade infanto-juvenil por causas externas; às doenças sexualmente transmissíveis e AIDS; à gravidez e paternidade precoces; e à mortalidade infanto-juvenil por causas externas (sobretudo homicídios) (Ribas Junior, 2011).
O segundo eixo do ECA prevê o direito à liberdade, respeito e dignidade à criança e ao adolescente por considerá-los pessoas em desenvolvimento e sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos pela Constituição Federal (Brasil, 1990). As principais formas de violação desses direitos são: aliciamento de crianças e adolescentes para atividades ilícitas ou impróprias; submissão em instituições do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA) a práticas incompatíveis com as determinações do ECA; abuso e exploração sexual; tráfico de crianças e adolescentes; violência doméstica; crianças e adolescentes autores de ato infracional; e utilização de crianças e adolescentes na mendicância (Ribas Junior, 2011).
Para a compreensão desses aspectos, adotamos a Psicologia Sócio-Histórica como base epistemológica da pesquisa, uma vez que ela propõe uma concepção de sujeito como ser ativo, social e histórico e utiliza-se do método dialético para a compreensão da relação do homem com a sociedade, de forma que esta seja reconhecida como produção histórica dos homens, os quais, através do trabalho, produzem a sua vida material. Ao contrário de outras perspectivas, para a Psicologia Sócio-Histórica, o fenômeno psicológico não pertence à Natureza Humana, tampouco é preexistente ao sujeito, mas reflete a condição social, econômica e cultural em que vivem os homens. Dessa forma, o fenômeno psicológico é um fenômeno social, já que subjetividade e objetividade são instâncias intercambiáveis — são dois aspectos do mesmo movimento que se dirige ao processo no qual o sujeito atua e modifica a realidade, e esta, por sua vez, oferece as propriedades para a sua constituição psicológica (Bock, 2001). Essas postulações são favoráveis à análise da interação do homem com as instituições sociais e permitem uma ampla percepção de fenômenos como a exclusão, a vulnerabilidade social, os movimentos sociais e suas formas de resistências.
De acordo com Katzman (1999), as situações de vulnerabilidade social devem ser analisadas a partir da existência, por parte dos indivíduos ou das famílias, de dispositivos capazes de enfrentar determinadas situações de risco. Logo, a vulnerabilidade refere-se à capacidade de controle das forças que afetam o bem-estar de determinado indivíduo ou grupo. Os aspectos que produzem a condição de vulnerabilidade são, no entanto, socialmente construídos e, quando são interiorizados pelo indivíduo, geram muito sofrimento. Esse sofrimento, de acordo com Sawaia (2001), nasce frente às injustiças sociais e se estende além da preocupação com a sobrevivência. É o sofrimento ético-político que surge à medida que, com a negação da emoção e da afetividade, a pessoa é privada de sua condição humana.
A comunidade de Heliópolis, por meio de suas lutas sociais, busca minimizar esses impactos, desconstruindo preconceitos e estereótipos, promovendo discussões, realizando projetos e programas sociais. No entanto, mesmo com a consolidação de políticas públicas voltadas para diferentes áreas sociais, a comunidade ainda hoje convive com a ausência de políticas efetivas para a melhoria das condições de vida das crianças e adolescentes que ali vivem. Esta pesquisa não só dá visibilidade às situações de exclusão social que produzem violações de direitos, mas também aos desafios enfrentados pelos profissionais que atuam na garantia desses mesmos direitos.
Marcas da vulnerabilidade social
As profundas situações de miséria na realidade brasileira nos fazem refletir sobre seus impactos nas políticas de atendimento às famílias que vivem em situaçãode vulnerabilidade (Gomes, 2005). Segundo dados do Panorama Geosocioeconômico (Matriz, 2014), 10,6% da população do Sudeste do Brasil ainda vive em situação de pobreza, com renda per capita entre 25% e 50% do salário mínimo, e 0,6% da população não possui acesso a esgotamento sanitário.
Nesse cenário, a moradia é a representação de um espaço de privação, instabilidade e padecimento dos laços afetivos íntimos. Essa questão foi levantada em duas das entrevistas como um grave problema em relação ao direito à saúde: “[...] a habitação, sempre muito precária. Então, é um cômodo ‘desse’ tamanho p’ra 10 pessoas. Moram em becos, em vielas, condições de higiene horrorosas, tanto do ambiente quanto físico”. As condições precárias da habitação podem agravar problemas de saúde: “[...] o menino está ficando doente direto porque a família mora com problema de esgoto, não tem alimentação, não tem uma renda...” (profissional entrevistado na UBS).
Políticas como o Bolsa Família surgem como tentativa de suprir as carências emergentes, mas não promovem uma resolução efetiva de tal condição. No entanto, o representante do MSE concorda que programas de transferência de renda auxiliam inúmeras pessoas em vulnerabilidade social, principalmente em casos de divórcios e novos membros agregados. O profissional do NPJ também confirmou o fato de que a maioria das crianças está na escola, principalmente pela contratualidade do programa.
Pode-se entender, dessa forma, que a educação tem o desafio de interromper a perpetuação do ciclo de pobreza entre as gerações. A redução do número de alunos evadidos do ciclo básico de ensino não significa necessariamente que esses se formem com alto nível de aprendizagem. As considerações do profissional fazem refletir sobre as afirmativas de Marques et al (2007), para quem a sociedade brasileira vem terceirizando seus eventuais fracassos na educação, negando-se a assumir seu papel no que diz respeito ao ensino público de educação básica. Também corroboram os dados encontrados na pesquisa de Fonseca et al (2013), cujos resultados, pautados em recentes publicações, revelaram que as crianças e adolescentes são vulneráveis às situações ambientais e sociais, e estas se manifestam em diversas formas de violência cotidiana, tanto no contexto familiar quanto escolar, obrigando crianças e adolescentes a se inserir precocemente no mercado de trabalho e/ou no tráfico de drogas.
4. QUAIS OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O que é o ECA e qual sua importância?
O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) é o “nome” da Lei nº 8.069, promulgada em julho de 1990. Ela nasceu para proteger, de acordo com as diretrizes do direito, integralmente as nossas crianças e adolescentes, instituindo, para isso, os direitos e deveres dos cidadãos responsáveis pelos menores, da sociedade e do Estado.
Para a lei, são consideradas crianças aquelas indivíduos com até 12 anos incompletos e adolescentes os que têm de 12 a 18 anos. Em alguns casos excepcionais, previstos na lei, essa idade pode se estender até os 21 anos.
A partir da criação do Estatuto, houve o surgimento de mecanismos que protegem as crianças e os adolescentes em diversas esferas, como nas áreas de saúde, educação, trabalho e assistência social.
O ECA é uma legislação extremamente importante, uma vez que promove a assistência integral às crianças e aos adolescentes e protege os seus direitos básicos, favorecendo o seu desenvolvimento saudável e seguro.
Dessa forma, podemos entender que, a partir da promulgação do ECA, as crianças e os adolescentes brasileiros tiveram, legalmente, os seus direitos fundamentais assegurados que são: liberdade, respeito, dignidade, saúde, educação, cultura, convivência familiar e comunitária, lazer e proteção.
Para alcançar isso, o ECA prevê que toda a sociedade deve estar envolvida, com deveres relacionados ao Estado, aos pais ou responsáveis, às escolas e também à sociedade civil de uma maneira geral.
De acordo com essas legislações, são deveres da criança e do adolescente:
respeitar pais e responsáveis;
frequentar a escola e cumprir a carga horária estipulada para a sua série;
respeitar os professores, educadores e demais funcionários da escola;respeitar o próximo e as suas diferenças (como religião, classe social ou cor da pele);
participar das atividades em família e em comunidade;
manter limpo e preservar os espaços e ambientes públicos;
conhecer e cumprir as regras estabelecidas;
respeitar a si mesmo;
participar de atividades culturais, esportivas, educacionais e de lazer;
sempre que tiver dúvidas sobre seus direitos e deveres procurar o responsável legal ou o conselho tutelar;
proteger o meio ambiente.
Esses deveres citados no ECA são, basicamente, todos os deveres que os demais cidadãos possuem de acordo com a Constituição Brasileira, independentemente da idade, sexo, credo, cor da pele ou religião. Isso garante o que, em direito, chamamos de princípio da isonomia.
Além dos deveres da criança, é claro, o ECA também prevê os deveres de cada um de nós e do Estado como um todo, visando resguardar os direitos básicos das crianças e dos adolescentes.
O carácter universal dos direitos humanos significa que valem igualmente para todas as crianças e todos os adolescentes. Eles, não obstante, têm alguns direitos humanos adicionais que respondem às suas necessidades específicas em termos de proteção e de desenvolvimento. Todas as crianças e todos os adolescentes têm os mesmos direitos. Esses direitos também estão conectados, e todos são igualmente importantes – eles não podem ser tirados das crianças e dos adolescentes.
Constituição de 1988 e ao Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), sendo eles:
- Proteção à maternidade, à infância e à adolescência como direito social, que possibilite o seu nascimento e desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
- Amparo às crianças e adolescentes "carentes" perante a assistência social.
- Acesso universal e gratuito à educação básica (educação infantil ao ensino médio), desde o nascimento (0 anos).
- Vida, saúde, alimentação saudável, educação, lazer, profissionalização (para os maiores de 14 anos), cultura, dignidade, respeito, liberdade, convivência familiar e comunitária.
- Vedação de sofrer negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, e ainda, ao tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
- Assistência integral à saúde.
- Acolhimento de crianças e adolescentes que estiverem em situação de risco, abandono, ou outras situações que atentem aos seus direitos.
- Programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins.
- Desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
- O direito à liberdade compreende: ir e vir, opinião e expressão, crença e culto religioso, brincar e praticar esportes, participar da vida familiar e comunitária, participar da vida política, buscar refúgio, auxílio e orientação.
- Inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral.
- Educação sem castigo físico ou tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto.
- Igualdade de direitos em relação aos seus irmãos adotivos, consanguíneos, socioafetivos.
. 4.1 COMO GARANTIR SEUS DIREITOS
O eixo de controle, ou de vigilância, tem como função a promoção e defesa de direitos da criança e do adolescente mediante debates entre órgãos governamentais e entidades sociais, através da formação de um conselho de direito.
Conselhos de direito
Eles atuam nas diversas instâncias, sejam elas municipais, estaduais ou federais, como é o caso do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA. Estes conselhos acompanham, avaliam e propõem ações públicas de promoção e defesa de direitos da criança e do adolescente. Para exemplificar a importância desses conselhos, o CONANDA foi o responsável pela criação do Sistema Nacional de AtendimentoSocioeducativo (SINASE),que estabelece as regras gerais, aplicadas em todo território
A melhoria dos serviços das entidades citadas ao longo do texto depende também do planejamento de estratégias que visem a maior agilidade nas ações que envolvem os atores do SGD. Caso contrário, crianças e adolescentes, que deveriam ser protegidos, terão seus direitos violados diante da sua vulnerabilidade – uma vulnerabilidade que é também institucional perante às entidades públicas, cujo dever principal é resguardar os direitos desses sujeitos, mas que, por vezes, são ineficientes, atuando em desacordo com a lei.
Isso faz com que crianças e adolescentes muitas vezes não tenham acesso aos serviços prestados pelos atores que compõe o SGD, ou ainda, se têm, acabam sendo negligenciados no que diz respeito à prestação de serviço por um dos atores do SGD, seja por conta do atendimento demorado que podem receber, ou ainda por conta de como são tratadas
4.2 O SERVIÇO SOCIAL DIFRENTE AS VIOLENCOIAS
O Serviço Social brasileiro tem uma luta histórica pela ampliação e defesa dos direitos de crianças e adolescentes, cujas batalhas conjuntas com movimentos sociais e populares culminaram em conquistas importantes na Constituição Federal de 1988, especialmente nos Princípios Constitucionais de Proteção Integral previstos na Carta Magna em vigor”. É o que afirma o conselheiro do CFESS Agnaldo Knevitz, neste dia 13 de julho de 2020, em que se completam 30 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei nº 8.069/1990.
Podemos afirmar que a profissão, juntamente com outros sujeitos coletivos, protagonizou a conquista do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que conferiu visibilidade a este segmento da população como sujeitos de direitos, buscando superar o Código de Menores de 1979 e conferir prioridade de atenção e proteção integral pelo poder público. Este, por sua vez, a partir de então, obrigou-se a instituir um Sistema de Garantia de Direitos e uma Rede de Proteção, voltados a enfrentar todas as formas de violência e violações de direitos de crianças e adolescentes. profissão no Brasil tem uma formação acadêmica que, apesar de generalista, deve garantir uma matriz curricular que articule as dimensões teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política. Nessa perspectiva, possibilita a inserção profissional em diferentes espaços sócio-ocupacionais. Assistentes sociais trabalham, por exemplo, em ministérios, autarquias, prefeituras, governos estaduais, em empresas privadas, hospitais, escolas, creches, unidades de saúde, centros de convivência, movimentos sociais em defesa dos direitos da mulher, da classe trabalhadora, da pessoa idosa, de crianças e adolescentes, de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), negros e negras, de comunidades e povos tradicionais, em organizações não governamentais, em universidades públicas e privadas e em institutos técnicos.
Assim, direta ou indiretamente, os/as profissionais de Serviço Social atuam com crianças e adolescentes na maioria dos espaços sócio-ocupacionais, quando crianças e adolescentes estão presentes no contexto familiar em que as pessoas atendidas estão inseridas. Destacamos alguns espaços, como os Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e Centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), os Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (Scfv), os Centros de Juventude, os Centros de Referência de Direitos Humanos, as Varas da Infância e Juventude, as unidades de acolhimento institucional, o sistema socioeducativo, os serviços de saúde, na assessoria de conselhos tutelares e outros espaços em que o atendimento a crianças, adolescentes e jovens e suas famílias é mais recorrente.
A relação dessa atuação com o ECA reside no fato de que grande parte da nossa categoria atua na execução das políticas públicas e sociais. É por meio da efetivação destas políticas e da integração do Sistema de Garantia dos Direitos que o ECA ganha materialidade, constituindo assim uma ‘rede de proteção’. Além disso, os princípios ético-políticos do Serviço Social, que precisam estar presentes na atuação profissional, a exemplo do reconhecimento da liberdade como valor ético central e defesa intransigente dos direitos humanos, confluem para a defesa do ECA e da garantia de direitos fundamentais de crianças e adolescentes
 4.2.1 QUAL O PAPEL DA ASSISTENTE SOCIAL COM CRIANÇAS
A Convenção sobre os Direitos da Criança marcou a grande mudança na conceção de direitos da criança, sendo reconhecidas expressões como “criança sujeito de direitos” e “superior interesse da criança”. O Assistente Social no reconhecimento da criança como sujeito de direitos tem o dever de intervir na promoção e proteção do seu superior interesse, noção que tem implícitas as normas que regulamentam as relações: Criança-Família-Estado-Sociedade. É neste contexto de proteção das crianças e, no âmbito das suas interações intergeracionais (pais, professores, médicos, etc.), que assume relevância o papel desempenhado pelo Serviço Social. O Assistente Social tem como objetivos promover o bem-estar, autoconhecimento e a valorização dos indivíduos, grupos ou comunidades, detetando necessidades humanas e sociais com vista ao desenvolvimento de recursos necessários na prossecução da justiça social e do respeito dos direitos [2]. Ao abordarmos a prática profissional do Assistente Social é fundamental referir que o seu papel é transversal a todas as áreas de intervenção e adaptado aos sistemas de proteção social, assim como à equipa com a qual trabalha e à rede social que articula, importante recurso de apoio à intervenção social. Na área da infância e juventude, o Assistente Social utiliza referenciais teórico-metodológicos e ético-políticos e tem por base as orientações do sistema de proteção social definidas pelas políticas públicas para crianças e jovens. Assim, no âmbito da intervenção do Assistente Social, a problemática da criança e do jovem constitui uma área que exige uma orientação profissional que contemple a participação da criança/jovem, enquanto sujeito de direitos e da promoção da sua cidadania, tal como preconiza a Convenção sobre os Direitos da Criança. É impossível pensar na criança sem falar da família, suporte fundamental ao nível dos afetos, da educação e da socialização. Convém referir que família “é um grupo de pessoas unidas diretamente por laços de parentesco, ao qual os adultos assumem a responsabilidade de cuidar das crianças” [3] valorizando a sua defesa e proteção. A proteção da criança é uma das problemáticas do Serviço Social ao nível institucional, familiar e comunitário. A negligência, o abandono, os maus tratos e as carências sócio económicas são os problemas sociais com maior incidência na criança em contexto familiar [4]. É notória a segregação dos diversos tipos de riscos, salientando-se alguns que constrangem a vida familiar sendo nesta que recaem carências que afetam o equilíbrio dos seus próprios membros. Havendo famílias sem capacidade para assegurar os cuidados socialmente reconhecidos como corretos. Ressaltando-se que o risco é notoriamente agravado sempre que as condições de existência da família são atingidas seja pela perda de referências culturais, recursos económicos ou até mesmo pela privação da sua identidade social. O desafio que se coloca ao Assistente Social reside no ativar as políticas sociais e apoiar as pessoas, as suas redes e comunidades. Nesta perspetiva, no âmbito das políticas de família, “não basta políticas de “manutenção” de pobreza das famílias (ou seja, políticas protetoras), são necessárias políticas que reforcem as competências das famílias e as valorizem como pessoas
4.2.2.1 LEIS DO ECA
O ECA estabelece que Crianças e Adolescentes são reconhecidos como pessoas e como tais, merecem respeito e são dotadas de direitos, tendo seus direitos tratados como prioridades absolutas.
“Para tudo, deve ser levado em conta a condição peculiar de crianças e adolescentes serem pessoas em desenvolvimento.” ou seja, todacriança e adolescente estão em desenvolvimento e devem ser tratados com compreensão dos adultos, de que eles não possuem condições que devem ser exigidas além do que podem fazer tanto físico, psicológico, moral e socialmente.
A lei 8069 foi promulgada no dia 13 de julho de 1990. Desde então, uma série de mudanças e dispositivos legais influenciaram em seus artigos, nunca alterando a essência do Estatuto que tem como principal intuito garantir qualidade de vida e segurança para crianças e adolescentes.
Veja abaixo um pequeno resumo com as principais mudanças e legislações complementares que influenciam na aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente;
· Lei 13.010 de 26 de junho de 2014: protege criança e adolescentes contra qualquer tipo educação que envolva o uso de violência e/ou degradação física, moral ou psicológica. Adicionou três artigos ao ECA e é conhecida também como Lei Menino Bernardo.
· Lei nº 13.798, de 3 de janeiro de 2019: instituição da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência
· Lei nº 13.812, de 16 de março 2019: alterou a idade mínima para viagens de crianças e adolescentes sem acompanhantes ou responsáveis de 12 para 16 anos. Também criou o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas.
· Lei 13.824, de 9 de maio 2019: permite a reeleição conselheiros tutelares por vários mandatos consecutivos.
5. ANALISES DOS RESULTADOS
Os estudos do tema da violência infantil explicam o seu aparecimento e manutenção utilizando diversos modelos, nos quais se incluem:
· O modelo sociológico, que considera que o abandono físico é uma consequência de situações de carência econômica ou de situações de isolamento social (Wolock y Horowitz, 1984).
· O modelo cognitivo, que entende o maltrato como uma situação de desproteção como consequência de distorções cognitivas, expectativas e percepções inadequadas dos progenitores/cuidadores em relação aos menores no seu encargo (Larrance, 1983).
· O modelo psiquiátrico, que considera que a violência infantil é uma consequência da existência de psicopatologia nos pais (Polansky, 1985).
· O modelo do processamento da informação, que considera a existencia de um estilo peculiar de processamento nas famílias com menores em situação de abandono físico ou negligência infantil (Crittender, 1993).
· O modelo de compreensão do estresse, que faz referência à forma de avaliar e compreender as situações e/ou sucessos estressantes por parte destas famílias (Hilson y Kuiper, 1994).
Na atualidade, o modelo etiopatogênico que explica melhor o maltrato infantil é o modelo integral de violência infantil. Este modelo considera a existência de diferentes níveis ecológicos que estão encaixados uns dentro dos outros, interagindo numa dimensão temporal. Existem fatores compensatórios que atuariam segundo um modelo de afrontamento neste modelo, impedindo que os fatores estressantes que ocorrem nas famílias desencadeiem uma resposta agressiva em relação aos seus membros.
A diminuição progressiva dos fatores compensatórios pode explicar a espiral de violência intrafamiliar que se origina no fenômeno do maltrato infantil. Entre os fatores compensatórios, se assinalam : harmonia marital, planificação familiar, satisfação pessoal, escassos sucessos vitais estressantes, intervenções terapêuticas familiares, apego materno/paterno ao filho, apoio social, boa condição financeira, acesso a programas de saúde adequados, etc. Entre os fatores estressantes se encontram: historial de abuso familiar, falta de harmonia familiar, baixa autoestima, distúrbios físicos e psíquicos nos pais, dependência de fármacos, filhos indesejados, pai não biológico, mãe sem instinto protetor, ausência de controle pré-natal, desemprego, baixo nível social e econômico, promiscuidade, etc.
6. CONCLUSÃO
independentemente das sequelas físicas que a agressão provocada pelo abuso físico ou sexual desencadeia diretamente, todos os tipos de maltrato infantil dão origem a transtornos de comportamento, emocionais e sociais. A importância, gravidade e cronicidade dessas sequelas depende de:
· Intensidade e frequência do maltrato.
· Características da criança (idade, gênero, susceptibilidade, temperamento, habilidades sociais, etc).
· Uso ou não da violência física.
· Relação da criança cm o agressor.
· Apoio intrafamiliar à vítima infantil.
· Acessoe competência dos serviços de ajuda médica, psicológica e social.
Nos primeiros momentos de desenvolvimento evolutivo, podem ser observadas repercussões negativas nas capacidades relacionais de apego e na autoestima da criança, assim como pesadelos e problemas de sono, mudança de hábitos alimentares, perda de controle de esfíncteres, deficiências psicomotoras e distúrbios psicossomáticos.
Em crianças e adolescentes encontramos: fugas de casa, comportamentos auto-lesivos,
hiperatividade ou isolamento, baixo rendimento acadêmico, deficiências intelectuais, fracasso escolar, transtorno dissociativo de identidade, delinquência juvenil, consumo de drogas e álcool, medo generalizado, depressão, rejeição do próprio corpo, culpa e vergonha, agressividade, problemas de relação interpessoal.
Os pediatras, por serem os profissionais de saúde em maior contato com as crianças, são chamados para fazer a prevenção em casos de violência infantil, além de estabelecerem diagnósticos com uma equipe multidisciplinar que colabora no tratamento.
Os pediatras estão em posição favorável para detectar crianças em situação de risco (sobretudo em menores de 5 anos, a população mais vulnerável). Depois dessa idade, os professores assumem um papel principal na prevenção e diagnóstico da violência infantil.
A prevenção da violência infantil é estabelecida em três níveis:
1. Prevenção primária
Dirigida à população geral com o objetivo de evitar a presença de fatores estressantes ou de risco e potenciar os fatores protetores da violência infantil. Estão incluídos:
· Sensibilização e formação de profissionais de atenção ao menor.
· Intervir na psicoprofilaxia obstétrica (preparação do parto)
· Investir em escolas para pais, promovendo valores de estima da infância, da mulher e da paternidade.
· Prevenir a gravidez indesejada, principalmente em mulheres jovens, através da educação sexual em centros escolares e de assistência.
· Busca sistemática de fatores de risco em consultas de criança saudável, assim como avaliação da qualidade do vínculo afetivo entre pais e filhos, os cuidados da criança, atitude dos pais na aplicação do binômio autoridade-afeto.
· Intervir nas consultas e expôr os direitos das crianças e a inconveniência dos castigos físicos. Oferecer a alternativa da aplicação do castigo comportamental.
· Identificar os valores e forças dos padres, reforçando a sua autoestima.
2. Prevenção secundária
Dirigida à população de risco com o objetivo de realizar um diagnóstico atempado da violência infantil e um tratamento imediato. Atenuar os fatores de risco presentes e potenciar os fatores protetores. Estão incluídos:
· Reconhecer situações de violência infantil, estabelecendo estratégias de tratamento.
· Reconhecer situações de maltrato infantil, doméstico ou de abuso contra a mulher e procurar soluções.
· Reconhecer os comportamentos paternos de abuso físico ou emocional, considerando o reencaminhamento da família a uma ajuda especializada no controle da ira e da frustração.
· Reencaminhar pais com adição a álcool e drogas para centros de saúde mental.
3. Prevenção terciária
Consiste na reabilitação da violência infantil, tanto para as vítimas menores como para os agressores. Para isso, é essencial dispôr de uma equipe interdisciplinar (pediatras, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, orientadores familiares, terapeutas, juízes de menores, corpo policial, etc.).
Como identificar violência infantil - denúncias
Na presença da suspeita de que uma criança está sendo vítima de violência infantil no Brasil, a nossa obrigação é agir perante a situação e passar essa informação aos organismos encarregados da proteção de menores.
Para notificar uma situação de maltrato infantil, recorra

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