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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CAMPUS DE JABOTICABAL BANCO DE SEMENTES, FLUXO DE EMERGÊNCIA E FITOSSOCIOLOGIA DE COMUNIDADE DE PLANTAS DANINHAS EM AGROECOSSISTEMA DE CANA-CRUA. Marcos Antonio Kuva Engenheiro Agrônomo JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL Julho de 2006 i UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CAMPUS DE JABOTICABAL BANCO DE SEMENTES, FLUXO DE EMERGÊNCIA E FITOSSOCIOLOGIA DE COMUNIDADE DE PLANTAS DANINHAS EM AGROECOSSISTEMA DE CANA-CRUA. Marcos Antonio Kuva Orientador: Prof. Dr. Robinson Antonio Pitelli Co-orientador: Prof. Dr. Antonio Sérgio Ferraudo Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Campus de Jaboticabal, como parte das exigências para a obtenção do título de Doutor em Agronomia (Produção Vegetal) JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL Julho - 2006 Kuva, Marcos Antonio K97b Banco de sementes, fluxo de emergência e fitossociologia de comunidade de plantas daninhas em agroecossistema de cana-crua / Marcos Antonio Kuva – – Jaboticabal, 2006 xi, 105f. ; 28 cm Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2006 Orientador: Robinson Antonio Pitelli Banca examinadora: Miguel Ângelo Mutton, Maria do Carmo Moreli Damasceno Pavani, Ricardo Victoria Filho, Carlos Alberto Mathias Azania Bibliografia 1. Plantas daninhas. 2. Saccharum spp. 3. Fitossociologia. 4. Análise multivariada. Título. II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. CDU 632.51:633.61 Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal. ii DADOS CURRICULARES DO AUTOR MARCOS ANTONIO KUVA – é natural de São Carlos, SP, (14/01/1970), onde cursou e completou o primeiro e o segundo grau. Entre março de 1989 e dezembro de 2003 cursou Agronomia na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal (UNESP – Campus de Jaboticabal), sendo que durante boa parte do curso dedicou-se à iniciação científica desenvolvendo o trabalho de graduação e participando de vários trabalhos de pesquisa, sempre na área da ciência das plantas daninhas e sob a supervisão dos professores Doutores Pedro Luis da Costa Aguiar Alves e Robinson Antonio Pitelli. Em 1995 ingressou no curso de Pós-graduação em Fitotecnia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, com a supervisão do Professor Doutor Pedro Jacob Christoffoleti, desenvolvendo dissertação relacionado ao tema plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar. No final do mestrado participou do curso de aperfeiçoamento “Manejo de Malezas, Medio Ambiente y Agricultura de Concervation” ministrado em Córdoba, Espanha. De novembro de 1998 ao final de 2001 trabalhou em pesquisa e desenvolvimento na empresa Delta & Pine Land desenvolvendo a tecnologia do algodão geneticamente modificado para tolerância ao glifosato e lepidópteros. Em agosto de 2002 ingressou no doutorado do programa de Pós-graduação em Produção Vegetal da Universidade Estadual Paulista, Campus de Jaboticabal, SP. Em 2004, paralelamente ao curso de doutorado participou da constituição da Herbae Consultoria e Projetos Agrícolas Ltda., uma empresa dedicada à consultoria agrícola, elaboração e condução de projetos de pesquisa em agronomia sendo, atualmente, um dos proprietários. iii DEDICO Aos meus pais Yossio e Setsuko, À minha irmã Silvia, Aos meus irmãos Eduardo e Wilson. OFEREÇO À querida Lucélia, pelo amor e pela amizade. iv AGRADECIMENTOS Ao prof. Dr. Robinson Antonio Pitelli pela sua orientação e pela oportunidade concedida. Ao professor Dr. Antonio Sérgio Ferraudo pelo auxílio no tratamento estatístico dos dados. Ao prof. Dr. Pedro Luis da Costa Aguiar Alves pela amizade e pelas oportunidades proporcionadas ao longo dos últimos anos. Aos membros que compuseram a banca examinadora (Prof. Dr. Miguel Ângelo Mutton; Prof. Dra. Maria do Carmo Moreli Damasceno Pavani; Engenheiro Agrônomo, Dr. Carlos Alberto Mathias Azania; Prof. Dr. Ricardo Victoria Filho) pelas sugestões apresentadas. Aos funcionários do Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária (Unesp – Jaboticabal), em especial ao José Valcir Fidelis Martins e Francisco Rigler Neto (in memorian), pelo auxílio nas atividades de campo. Ao Técnico Agropecuário Marco Antonio Farias pela organização e coleta dos dados. Ao meu sócio na empresa Herbae Consultoria e Projetos Agrícolas Ltda, Engenheiro Agrônomo Tiago Pereira Salgado pela voluntariedade, companheirismo, honestidade, responsabilidade e amizade. À equipe de alunos de pós-graduação (Tomás, Mariluce, Edson Mattos, Lúcio) e de estagiários (Antonio Carlos Evangelista Júnior, Rafael Luvezutti, Felipe Ridolfo Lúcio, Renata Pereira, Sâmara, André Seixas, Mariana, Nilton e Guilherme). Às funcionárias da Seção de pós-graduação da Unesp-Jaboticabal pelas orientações e paciência com que me atenderam. Às funcionárias da Biblioteca da Unesp-Jaboticabal pelas revisões nas citações bibliográficas. À Dow Agrosciences Ltda e a Milenia Agro Ciências Ltda. e aos agrônomos e técnicos das usinas e fazendas envolvidas (Usina Bonfim, Usina da Pedra, Usina v Andrade, Usina São Martinho, Fazenda Santa Isabel, Fazenda Santa Cecília, Fazenda Santo Antonio) pelas diversas formas de apoio. vi SUMÁRIO Páginas RESUMO............................................................................................................ viii SUMMARY.......................................................................................................... x CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS..................................................... 1 Introdução........................................................................................................ 1 Revisão de bibliográfica.................................................................................. 3 A cultura da cana-de-açúcar e sua importância......................................... 3 Plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar........................................ 4 Colheita mecanizada de cana-crua............................................................ 7 Efeito da palha no comportamento de herbicidas...................................... 8 Plantas daninhas no agroecossistema cana-crua..................................... 10 Banco de sementes de plantas daninhas.................................................. 14 Índices fitossociológicos............................................................................. 17 Análise multivariada................................................................................... 20 CAPÍTULO 2 – BANCO DE SEMENTES DE PLANTAS DANINHAS E SUA CORRELAÇÃO COM A FLORA ESTABELECIDA NO AGROECOSSISTEMA CANA-CRUA....................................................................................................... 23 Resumo........................................................................................................... 23 Introdução........................................................................................................ 24 Material e Métodos.......................................................................................... 25 Resultados e Discussão.................................................................................. 27 Conclusões......................................................................................................39 CAPÍTULO 3 – FLUXO DE EMERGÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS EM AGROECOSSISTEMA CANA-CRUA............................................................... 40 Resumo........................................................................................................... 40 Introdução........................................................................................................ 41 Material e Métodos.......................................................................................... 42 Resultados e Discussão.................................................................................. 43 Conclusões...................................................................................................... 47 vii CAPÍTULO 4 – FITOSSOCIOLOGIA DE COMUNIDADE DE PLANTAS DANINHAS EM AGROECOSSISTEMA CANA-CRUA..................................... 48 Resumo........................................................................................................... 48 Introdução........................................................................................................ 49 Material e Métodos.......................................................................................... 50 Resultados e Discussão.................................................................................. 52 Conclusões...................................................................................................... 61 CAPÍTULO 5 – PADRÕES DE INFESTAÇÃO DE PLANTAS DANINHAS EM AGROECOSSITEMA CANA-CRUA................................................................. 62 Resumo........................................................................................................... 62 Introdução........................................................................................................ 63 Material e Métodos.......................................................................................... 64 Resultados e Discussão.................................................................................. 66 Conclusões...................................................................................................... 73 CAPÍTULO 6 – CORRESPONDENCIA ENTRE VARIÁVEIS DA COMUNIDADE INFESTANTE DE PLANTAS DANINHAS E VÁRIÁVEIS LIGADAS AO AMBIENTE CANA-CRUA............................................................. 74 Resumo........................................................................................................... 74 Introdução........................................................................................................ 75 Material e Métodos.......................................................................................... 76 Resultados e Discussão.................................................................................. 78 Conclusões...................................................................................................... 85 CAPÍTULO 7 – IMPLICAÇÕES........................................................................... 86 REFERÊNCIAS................................................................................................... 88 APÊNDICE.......................................................................................................... 104 viii BANCO DE SEMENTES, FLUXO DE EMERGÊNCIA E FITOSSOCIOLOGIA DE COMUNIDADE DE PLANTAS DANINHAS EM AGROECOSSISTEMA DE CANA- CRUA. RESUMO – O agroecossistema da cana-de-açúcar vem sendo alterado com a adoção gradativa do sistema de colheita mecanizado, pois além de eliminar a presença do fogo possibilita a manutenção da camada de palha sobre a superfície, reduz a movimentação do solo e altera a dinâmica de herbicidas. Essas alterações promovem modificações nas condições microclimáticas, que por sua vez, afetam a composição especifica das plantas daninhas. Sendo assim, foi objetivo desta pesquisa estudar vários aspectos da comunidade de plantas daninhas em áreas de cana-de-açúcar colhidas no sistema mecanizado e sem queima da palha. Os dados utilizados neste projeto foram coletados durante a safra 2004 em vinte e nove talhões de cana-soca localizados em usinas ou fornecedores da região de Ribeirão-Preto, SP. Foram realizados estudos fitossociológicos baseados no banco de sementes e na flora emergida, de fluxo de emergência, de correlação entre o conteúdo do banco de sementes e da flora emergida, de similaridade entre talhões e de correlações entre variáveis da comunidade infestantes e variáveis edáficas (textura do solo) e relacionadas à cultura (quantidade inicial de palha) e ao seu manejo (época de corte). Concluiu-se que o banco de sementes apresentou em média 350 indivíduos por metro quadrado, porém, foi pouco eficiente para estimar a flora emergente, independentemente da metodologia de determinação e da época de corte da cana. A maior densidade de planta daninha ocorreu entre 90 e 120 dias após o corte, independentemente da época que foi realizada a colheita. Baseado nos dados de densidade, freqüência e biomassa das espécies constatou-se que as espécies mais importantes foram Cyperus rotundus, Ipomoea hederifolia, I nil, outras espécies de convolvuláceas e Euphorbiaceas. O padrão de distribuição nos talhões foi agregado, e os maiores índices foram observados para Cyperus rotundus e para as cordas-de-viola. A análise de agrupamento proporcionou a formação de quatro grupos em função da ix importância relativa e cinco grupos em função do índice de agregação, sendo que dentro dos grupos foi observado a formação de sub-grupos. A análise de correspondência indicou que no universo de talhões avaliados os maiores valores de importância relativa de Cyperus rotundus correlacionou-se com talhões colhidos nas épocas mais secas e com menores quantidades de palha. Em contrapartida para as cordas-de-viola e demais plantas de folha larga propagadas por sementes houve maior correlação com talhões colhidos na época úmida e com maiores quantidades iniciais de palha. Palavras-chave: análise multivariada, banco de sementes, coeficiente de similaridade, correlação de Spearman Rank, fitossociologia, x SEED BANK, EMERGENCE PERIODICITY AND PHYTOSSOCIOLOGY OF WEED COMMUNITY ON NO BURN SUGAR-CANE AGROECOSYSTEM. SUMMARY – The sugar-cane agroecosystem has being changed with the progressive adoption of the mechanical harvesting without burning the plant straw. This system, besides eliminate the burning effects, maintain a layer of sugar-cane straw mulching, reduce the soil mobilization and change the herbicide dynamic in the soil. These changes are enough to promote large changing in the weed community composition in this agroecosystem. Then, the objective of this research was to evaluate weed communities compositions in several sugar-cane areas harvested under the mechanized way without straw burning. The data used in this thesis were collected during the year 2004 using 29 areas in Ribeirão Preto Country. The seed banks and the weeds emergence flows were measured and studied using phytosociological index, correlations involving the seed bank and the seedling banks and similarity coefficients comparing the weed communities in different areas. Correlations studies involving the weeds indexs and soil texture, straw amount and harvesting time also were studied. In average the seed bank density was 350 individuals per square meter and was did not showed good correlations to estimate the seedlings banks, regarding the time of sugar- cane harvesting time. The highest weed densities occurred in the period of 90-120 after the sugar-cane harvesting, regarding the time of the year. The most important weed species in the region evaluated were: Cyperus rotundus, Ipomoea hederifolia, I nil, and other Euphorbiaceae and Convolvulaceae species. The weedspatterns of geographic distribution were aggregated for the majority of the weed populations and the highest aggregation index were observed to purple-nutsedge and morninglories. The correspondence analysis showed that the highest relative importance of Cyperus rotundus were related to areas harvested during the dry season with thin layer of sugar- cane straw and the highest relative importance of Ipomoea spp were related to areas in which the harvesting was done during the rainy season and under large amount of sugar-cane straw. xi Key-words: seed bank, phytosocilogy, similarity coefficients, Spearman Rank correlation, multivariate analysis. 1 CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS Introdução A colheita mecanizada da cana-de-açúcar sem queima prévia da palha, vem sendo implantada no Brasil e tende a abranger quase a totalidade das áreas ocupadas pela cultura, pois, além de cumprir exigências legais, proporcionam vários benefícios agronômicos e ambientais. Qualquer mudança no sistema produtivo promove, em maior ou menor grau, alterações nas condições microclimáticas. Estas alterações, por sua vez, poderão influenciar nas composições específicas dos microorganismos do solo, da artropodofauna e de plantas daninhas, pois novos fatores de pressão seletiva passam a atuar de forma mais significativa no agroecossistema. Um primeiro efeito que tem sido observado é a redução da importância relativa de algumas plantas daninhas predominantes no sistema anterior, uma vez que a manutenção da camada de palha, de inicio constitui-se num fator ecológico não periódico. Com a adoção sistemática e periódica do sistema, as populações que melhor se adaptam ao novo conjunto de pressão seletiva tendem a predominar e a comunidade infestante novamente se estabelece, porém, com uma composição diferente daquela que predominava anteriormente. No caso da colheita mecanizada da cana-de-açúcar as duas alterações mais significativas são: a manutenção de uma camada de palha na superfície do solo e a ausência da queimada que já atuava como fator ecológico periódico secundário. Os efeitos do fogo sobre as sementes de plantas daninhas são pouco conhecidos, no entanto, sabe-se que variam desde a morte de sementes de algumas espécies até a promoção da germinação de outras, principalmente quando estão enterradas no solo. A camada de palha mantida sobre o solo neste sistema de colheita funciona como barreira física para plântulas em emergência, altera o balanço hídrico, modifica a quantidade e a qualidade de luz que atinge a superfície do solo e interfere decisivamente na amplitude de variação térmica do solo, além de proporcionar a 2 liberação de compostos alelopáticos. O balanço desses fatores é essencial para a germinação das sementes e para o estabelecimento das plântulas e seus efeitos são diferenciados de acordo com a espécie e, em determinados casos, de semente para semente dentro da mesma espécie. Além desses fatores microclimáticos alterados pela camada de palha a germinação de plantas daninhas é influenciada por variações macroclimáticas, uma vez que o longo período de colheita expõe o desenvolvimento inicial da cultura e das plantas daninhas às condições de baixa umidade e temperatura (junho a agosto) até alta temperatura e umidade que ocorrem no final da safra (outubro a dezembro). O entendimento das influências exercidas pelo sistema de cana-crua sobre as comunidades infestantes da cana-de-açúcar, o conhecimento das composições florísticas de plantas daninhas adultas, banco de plântulas e de sementes são de fundamental importância, pois possibilita estabelecer prioridades de controle, direcionar o emprego dos métodos de controle, detectar potenciais plantas daninhas e direcionar o desenvolvimento de novas moléculas pela indústria. Considerando que as informações acima descritas são fundamentais para o planejamento do manejo de plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar, o presente trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar as composições específicas de comunidades infestantes em ambientes de cana-crua, baseadas em amostragens de banco de sementes e da flora emergida. Estudar o fluxo de emergência das principais espécies ou grupos de espécies e a relação entre o conteúdo do banco de sementes e as plantas emergidas. Estabelecer padrões de infestação, utilizando análise de agrupamento considerando os principais índices fitossociológicos da comunidade infestante como parâmetros para avaliações das similaridades entre comunidades e por fim estudar a correlação entre as populações das principais plantas daninhas com variáveis edáficas (textura do solo ) ou relacionadas à cultura (quantidade inicial de palha e época de corte), por meio de análise de correspondência multivariada. 3 Revisão bibliográfica A cultura da cana-de-açúcar e sua importância Os primeiros relatos do cultivo da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) provêm da Nova Guiné difundindo-se, progressivamente para a China e Índia (FAUCONNIER, 1991) e chegou ao Brasil na metade do século XVI. Atualmente é uma das principais culturas agrícolas do país e do seu processo industrial, obtém-se o açúcar e suas derivações como o álcool anidro e hidratado, o vinhoto, a levedura de cana, o bagaço, entre outros (FIESP-CIESP 2006). Atualmente o setor canavieiro compreende 320 usinas em funcionamento e 50 em construção e a projeção é que nos próximos dez anos, pelo menos cem novas usinas deverão ser instaladas. Com isso, as exportações brasileiras de açúcar deverão passar dos atuais 17,5 milhões de toneladas para algo em torno de 30 milhões de toneladas na safra de 2014/15. No mesmo período a projeção para as exportações de álcool deverá passar dos atuais 2,8 bilhões de litros para 13,5 bilhões de litros (AGRIANUAL 2006). Até a safra 2000/01 o setor gerava mais de 900.000 empregos diretos no país (500.000 em São Paulo) e mais de 3,5 milhões de empregos indiretos, sendo dois milhões em São Paulo (FIESP-CIESP, 2006). Nos dias de hoje, com a expansão dos negócios do setor, devido à demanda externa, esses números sofreram alterações com elevações dos valores. Os canaviais brasileiros estão localizados em vários Estados, mas os principais pólos produtores são os Estados de São Paulo, Alagoas, Paraná, Pernambuco, Minas Gerais e Goiás sendo que o Estado de São Paulo respondeu por 51,77% da área colhida (2.960.480 ha) e 60,35% da produção (255.140.812 toneladas) na safra 2005/2006 (AGRIANUAL, 2006). No Estado de São Paulo o cultivo da cana-de-açúcar pode ser separado em dois grupos, cana-planta e cana-soca. De acordo com a época de plantio, os canaviais plantados no final de cada ano, se desenvolverão inicialmente sob condições de alta 4 umidade e temperatura, será colhida após um ano, e são denominados de “cana-de- ano”. Os canaviais plantados no início de cada ano serão colhidos após dezoito meses e são denominados de “cana-planta de ano e meio”. Os canaviais plantados no meio do ano são denominados de plantio de inverno. Após o primeiro corte, ocorrerá a rebrota, que voltará a ser colhida um ano após e todos são denominados de “cana-soca” (KUVA, 1999). Em função do longo período de safra da cana-de-açúcar, a rebrota encontra diferentes condições ambientais de temperatura, precipitação e umidade relativa para seu crescimento inicial. A indústria de herbicidas para o setor canavieiro considera quatro diferentes épocas em função das condições de umidade do solo. No início da safra no Estado de São Paulo (abril-junho) as chuvas começam a ficar mais esparsas, mas ainda existe estoque de umidade do solo resultante das chuvas de verão, estes talhões são denominados “soca semi-seca”. Em seguida, nos meses de junho a agosto ocorre um período de estiagem e o solose encontra em condições de baixíssima umidade, estes talhões são denominados “soca seca”. Em meados de setembro as chuvas recomeçam, há a reposição da umidade no solo constituindo-se a “soca semi- úmida”. Com a estabilização das chuvas, constitui-se a “soca úmida” de final de safra, que vai até dezembro. Um único plantio de cana-de-açúcar permite a realização de uma colheita anual até um limite que varia de 5 a 10 anos. Quando o aproveitamento da rebrota é encerrado se procede à renovação do canavial com o plantio opcional de uma cultura em rotação, geralmente uma leguminosa, sendo freqüentemente plantadas crotalária, soja ou amendoim. Plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar Segundo publicação realizada pelo PLANALSUCAR – IAA (1986), as mais freqüentes espécies de plantas daninhas que ocorriam em canaviais eram: gramíneas anuais; capim-colchão (Digitaria spp.), capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), 5 capim-carrapicho (Cenchrus echinatus) e capim-pé-de-galinha (Eleusine indica); gramíneas perenes; grama-seda (Cynodon dactylon), capim-massambará (Sorghum halepense), capim-colonião (Panicum maximum) e capim-braquiária (Brachiaria decumbens); folhas largas anuais; beldroega (Portulaca oleracea), picão-preto (Bidens pilosa) e carrapicho-carneiro (Acanthospermum hispidum); folhas largas perenes; guanxumas (Sida spp.), trapoeraba (Commelina benghalensis) e ciperáceas; tiririca (Cyperus rotundus) e tiriricão (Cyperus esculentus). Mais recentemente, PROCÓPIO (2003) cita as principais espécies de plantas daninhas infestantes da cana-de-açúcar na região centro-sul como sendo: capim- braquiária (Brachiaria decumbens), capim-colonião (Panicum maximum), capim-colchão (Digitaria spp.), capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), grama-seda (Cynodon dactylon), capim-massambará (Sorghum halepense), capim-falso-massambará (Sorghum arundinaceum), tiririca (Cyperus rotundus), corda-de-viola (Ipomoea spp), caruru (Amaranthus spp), beldroega (Portulaca oleracea), trapoeraba (Commelina benghalensis), falsa-serralha (Emilia sonchifolia), serralha (Sonchus oleraceus), mentrasto (Ageratum conyzoides), leiteiro (Euphorbia heterophylla), nabiça (Raphanus raphanistrum), poaia-branca (Richardia brasiliensis), carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum), picão-preto (Bidens pilosa) e guanxuma (Sida spp.). Confrontando as duas relações de espécies, algumas diferenças podem ser observadas, como a inclusão de várias espécies de corda-de-viola (Ipomoea spp.), leiteiro (Euphorbia heterophylla) e outras espécies de folha larga na relação mais recente. Em 1986, a colheita da cultura da cana-de-açúcar era totalmente manual e a cultura era queimada para facilitar a operação. Em 2003, a participação da colheita mecanizada, sem queima prévia da palha, já era bastante significativa na região sudeste. A relação apresentada por PROCÓPIO (2003) não especifica o sistema de colheita, mas as diferenças tenderiam a ser maiores se a relação mais recente fosse baseada somente em áreas de colheita mecanizada. Um grupo importante de plantas tem causado sérios problemas na colheita mecanizada de cana-crua. Segundo DEUBER (1992) as plantas daninhas trepadeiras 6 necessitam de outras plantas para apoio nas quais sobem por enrolamento (volúveis) ou prendendo-se a elas por meio de gavinhas, garras ou espinhos (cirriferas), podendo produzir várias ramificações as quais atingem vários metros de comprimento. Algumas dessas plantas encontraram na cana-de-açúcar um hábitat adequado para sua colonização e tem causado interferência generalizada na colheita mecanizada (Ipomoea spp e Merremia spp) ou potenciais esporádicos (Pyrostegia venusta, Momordica charantia, Cissampelos glaberrima, entre outras). A redução da produtividade da cana-de-açúcar em função da presença da comunidade de plantas daninhas tem sido relatada na literatura por diversos autores, entre os quais; ROLIM & CHRISTOFFOLETI (1982), GRACIANO & RAMALHO (1983), GRACIANO (1989), CONSTANTIN (1993) e COLETI et al., (1997). Em canaviais recém implantados nas condições de outono no estado de São Paulo, as perdas de produtividade em decorrência da interferência das plantas daninhas variaram em função do tipo de infestação. Numa área que predominava tiririca a produtividade foi reduzida em 20% (KUVA et al., 2000); infestação predominantemente de capim-braquiária promoveu perdas de até 82% (KUVA et al., 2001) e infestação mista de capim- braquiária e capim-colonião promoveu perda de 40% (KUVA et al., 2003). Resultados sobre o potencial de redução de produtividade da cana-de-açúcar em função da interferência da comunidade infestante em áreas já tradicionais de colheita mecanizada de cana-crua não foram encontrados durante a fase de revisão. No Estado de São Paulo, os insumos, as operações e a mão-de-obra envolvidos no processo de controle de plantas daninhas são responsáveis por 8,2% do custo total de implantação do canavial. Para a soqueira, considerando seis cortes, as participações do controle de plantas daninhas nos custos de produção são, em média, de 6,99 % (1a soca), 7,96% (2a soca), 8,56% (3a soca), 9,26% (4a soca), 10,08% (5a soca) e 13,86% (6ª soca), considerando investimentos para produtividade esperada de 124, 104, 93, 82, 72 e 62 t.ha-1, respectivamente (AGRIANUAL, 2006). 7 Colheita mecanizada de cana-crua Durante vários anos a colheita da cana-de-açúcar foi realizada manualmente com queimada prévia da palha, visando aumentar o rendimento da operação. Esse sistema de colheita reduz a quantidade de material orgânico sobre o solo e contribui para o aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera, contribuindo com o efeito estufa e para a diminuição do teor de matéria orgânica no solo (SOUZA et al., 2005). Posteriormente, com a crescente pressão ambientalista contra a prática da queimada e com o desenvolvimento de máquinas de elevado rendimento, apropriados para a colheita mecanizada sem queima da palha, houve uma crescente adoção dessa modalidade de colheita, de tal forma que algumas usinas já colhem mais de 90% de suas áreas mecanicamente e sem queima prévia da palha. Essa tendência deve se confirmar, uma vez que o decreto de Lei Estadual 47.700 foi assinado em 11 de março de 2003, o qual regulamenta a Lei Estadual 11.241, de 19 de setembro de 2002, determinando prazos para eliminação gradativa do emprego do fogo para eliminação da palha da cana-de-açúcar (SOUZA et al., 2005). Apesar dos grandes benefícios ambientais, operacionais e econômicos da colheita mecanizada sem queima, a deposição e a manutenção de palha sobre a superfície do solo trouxeram algumas dificuldades no processo produtivo, que gradativamente está sendo superado pela pesquisa. Entre essas dificuldades podem ser citados os entraves às operações de cultivo e adubação da cana-soca (AUDE et al., 1993), a baixa taxa líquida de mineralização de N (TRIVELIN et al., 1995), a dificuldade de execução de controle seletivo de plantas daninhas, o aumento das populações de insetos-praga (MACEDO et al., 2003) e a interferência negativa da palha sobre a brotação da cana-de-açúcar (VASCONCELOS, 2002). A quantidade dos resíduos (folhas e palmitos) resultantes da colheita mecanizada de cana-crua depende de uma série de condições intrínsecas à máquina colhedora e outras relativas à planta ou à condição de manejo da mesma (ABRAMO FILHO et al., 1993). Considerando resultados obtidos por vários autores brasileiros, 8 RIPOLI et al. (1990) obtiveram uma estimativa de que um hectare de cana-de-açúcar com rendimento agrícola de 70 t.ha-1, cortada sem queima prévia resultariam em sete toneladas de palha. No entanto, segundo TRIVELIN et. al. (1996), a quantidade de palha em canaviais colhidos sem queima varia de 10 a 30t.ha-1. No que se refere às plantas daninhas e seu controle, a presença da camada de palha trouxe alterações na dinâmica e eficácia dos herbicidas bem como nas composições específicas e nas densidades das populações que compõe as comunidades infestantes e, por fim, em suas relações de interferência em relação à cultura da cana-de-açúcar. Efeito da palha no comportamento de herbicidas A camada de palha promoveu alterações na dinâmica dos principais herbicidas na cana-de-açúcar que antes eram aplicados diretamente ao solo e que atualmente precisam vencer a barreira de palha. VELINI & NEGRISOLI (2000) estudaram a interceptação da calda de herbicida pela camada de palha de cana-de-açúcar com auxílio de corantes e constataram que 35,5% da calda atingiram o solo coberto com 1,0 t.ha-1. Para camadas mais espessas, 10 e 15 t.ha-1, a interceptação chegou a atingir 99,4% e 99,5%, respectivamente. Para a formulação de hexazinone e diuron, VELINI et al., (2004) verificaram 39, 33, 14, 4 e 1% de transposição da palha para camadas uniformes com 1; 2,5; 5; 7,5; 10; 15 e 20 t.ha-1, respectivamente. Em trabalho semelhante, porém para o herbicida diuron, NEGRISOLI et al., (2002) constataram que 28, 5, 1, 1, 0 e 0% do herbicida passaram diretamente pelas camadas de palha de cana-de-açúcar constituídas por 2, 4, 6, 8, 10, 15 e 20 t.ha-1, respectivamente. Segundo HERNANDEZ et al., (2001) uma precipitação simulada com 30 mm aplicada sobre uma camada de palha equivalente a 12 t.ha-1 após 24 horas da aplicação foi suficiente para levar o herbicida imazapic para os primeiros 15 centímetros de profundidade e proporcionar controle eficiente das plantas estudadas. 9 VELINI et al. (2002 a), estudaram a remoção do herbicida tebuthiuron da palhada de cana-de-açúcar tendo como variáveis: (i) duas formulações, Combine 500 SC e Perflan 800 BR, (ii) várias espessuras da lâmina d’água aplicada na forma de chuva simulada (2,5; 5; 10; 20; 35; 50 e 65 mm após a aplicação e duas outras simulações complementares de 20 mm espaçadas de uma semana), (iii) diferentes quantidades de palha de cana-de-açúcar sobre o solo (5, 10, 15 e 20 t/ha) e (iv) umidade da palha no momento da aplicação (seco e úmido). Observaram que a formulação Combine 500 SC permitiu que fosse removido, em média, 25% mais tebuthiuron da palha quando comparada à formulação Perflan 800 BR. Entretanto, o pré-molhamento reduziu em 44%, na média das duas formulações, a remoção do herbicida pela água da chuva simulada. Concluíram, ainda, que a partir de 20 mm de chuva houve boa remoção do herbicida e que as situações experimentais complementares pouco colaboraram com a remoção. Por outro lado, segundo VELINI et al., (2002 b), a aplicação de tebuthiuron sobre palha de cana-de-açúcar, seguida por longos períodos sem chuva reduziu a liberação deste herbicida para o solo com possível redução de eficiência no controle de plantas daninhas. SIGUA et al. (1993), sugerem que a menor lixiviação de atrazina quando aplicado em resíduo fresco, com maior teor de água, se deve à maior hidrofilicidade deste resíduo em relação aos resíduos envelhecidos. MEDEIROS & CHRISTOFFOLETI (2002) estudaram o efeito de diferentes quantidades de palha (0, 5, 10 e 15 t.ha-1) e chuva simulada (0, 10, 20, 30, 40 e 50 mm, aplicada 24 horas após a aplicação dos herbicidas) sobre o controle de plantas daninhas anuais com a mistura formulada dos herbicidas diuron e hexazinone e no controle de tiririca com sulfentrazone. Concluíram que a transposição dos herbicidas estudados através da palha de cana-de-açúcar aumenta com a ocorrência de chuvas acima de 10 mm. Em estudo conduzido por NEGRISOLI et al., (2002), o herbicida diuron, aplicado sobre uma camada de palha equivalente a 10 t.ha-1 e submetido à precipitação simulada na ordem de 2,5; 5; 10; 20; 35; 50 e 65 mm (um dia após a aplicação), observaram que, respectivamente, 8%, 19%, 31%, 41%, 50%, 65% e 59% do produto transpôs a camada. Em trabalho utilizando metodologia semelhante, com as mesmas 10 precipitações, porém para o herbicida atrazina, TOFOLI et al., (2002) determinaram que 17%, 32%, 50%, 63%, 76%, 86% e 92% do herbicida transpôs camada de palha de cana-de-açúcar equivalente a 10 t/ha. Plantas daninhas no agroecossistema cana-crua Ainda não foi realizado um levantamento abrangente da composição específica de plantas daninhas em áreas comerciais de cana-de-açúcar com histórico de colheita mecanizada, mas sabe-se que as mudanças advindas da adoção dessa técnica promoveram e promoverá alterações. É possível tecer alguns comentários a respeito das alterações físicas, químicas e microclimáticas provenientes da adoção deste sistema e suas possíveis conseqüências na germinação e estabelecimento de plantas daninhas. Com a introdução da colheita mecanizada de cana-crua e a conseqüente deposição anual e manutenção de uma camada de palha sobre a superfície do solo é de se esperar que ocorra um aumento na manifestação do processo alelopático da cana-de-açúcar sobre as plantas daninhas (CORREIA et al., 2004 e GRAVENA et al., 2004). A alelopatia é definida como efeitos prejudiciais das plantas de uma espécie vegetal sobre a germinação, crescimento ou desenvolvimento de outras plantas de mesma ou de outra espécie por meio da liberação de substâncias químicas no ambiente comum (PITELLI, 1985). A decomposição vegetal ocorre pela perda da integridade da membrana celular dos resíduos das plantas permitindo a liberação direta de uma variedade de compostos, que podem atuar no desenvolvimento das plantas, atuando de maneira aditiva ou sinergística com outras substâncias presentes na superfície do solo. A atuação dos microorganismos presentes no solo pode induzir a produção de compostos tóxicos por degradação enzimática dos conjugados ou polímeros presentes nos tecidos (PITELLI, 1998). O isolamento do efeito alelopático dos outros processos de interferência vegetal não é uma tarefa fácil, no entanto, a potencialização da liberação no ambiente via decomposição de grandes quantidades de 11 palha pode elevar a concentração dos compostos com potencial alelopático e exercer efeitos significativos de inibição para algumas plantas daninhas. O desencadeamento da germinação está atribuído a fatores internos e externos. Os principais fatores internos são: permeabilidade da casca da semente, presença de inibidores bioquímicos e imaturidade do embrião. Já os fatores externos são: disponibilidade de água, temperatura do solo, intensidade e qualidade da luz (FERNANDEZ-QUINTANILLA, et al., 1991). As práticas culturais alteram substancialmente os fatores externos (condições microclimáticas) daí o grande impacto que exercem na composição florística de plantas daninhas. A camada de palha mantida neste sistema de colheita funciona como barreira física para plântulas em emergência, altera o balanço hídrico, a amplitude térmica da superfície do solo, a quantidade e a qualidade da luz que atinge a superfície do solo (VELINI & NEGRISOLI, 2000). O balanço desses fatores é essencial para a germinação das sementes e para o estabelecimento das plântulas e seus efeitos são diferenciados de espécie para espécie e, em vários casos, de semente para semente da mesma espécie. A barreira física formada pela cobertura morta reduz a oportunidade de sobrevivência de plantas daninhas com pequenas quantidades de reservas nas sementes. Para algumas espécies, as reservas não são suficientes para garantir a sobrevivência das plântulas durante a transposição da camada de palha para ter acesso à luz e aumentar o processo fotossintético (PITELLI, 1998). Quando se compara com o solo nu, a presença da palha protege a superfície do solo da elevação de temperatura durante as horas mais quentes do dia e, em contrapartida, durante a noite exerce maior resistência à dissipação de calor retido pelosolo, mantendo a temperatura mais elevada (FENNER, 1980; EGLEY & DUKE 1995). A amplitude da variação térmica nas camadas superficiais do solo tende a ser menor sob a cobertura da palha. Esse comportamento exerce grande influencia na germinação das espécies de plantas daninhas, principalmente daquelas com caráter ruderal mais desenvolvido (PITELLI, 1998). 12 A disponibilidade de água é um dos fatores mais importantes para o processo de germinação das sementes e têm participação decisiva nas reações enzimáticas, na solubilização e no transporte de metabólitos e como reagente na digestão hidrolítica de proteínas, carboidratos e lipídeos de tecido de reserva. A partir da re-hidratação dos tecidos das sementes ocorre intensificação da respiração e de todas as outras atividades metabólicas (CASTRO & VIEIRA, 2001). A germinação ocorre dentro de certos limites de temperatura, e dentro destes limites há um valor ótimo (CASTRO & VIEIRA, 2001), que varia de espécie para espécie e muitas vezes de semente para semente dentro da mesma espécie. A temperatura influencia a absorção de água e os processos bioquímicos, e, em última instância, a velocidade e uniformidade da germinação (CASTRO & VIEIRA, 2001). As sementes apresentam respostas diferenciadas em relação ao fator luminosidade. De acordo com CASTRO & VIEIRA (2001), as sementes podem ser classificadas em três categorias quanto às respostas à luminosidade: fotoblásticas positivas, que apresentam maior capacidade de germinação quando expostas à luz; fotoblásticas negativas, que germinam melhor no escuro e as fotoblásticas neutras, que são indiferentes à presença da luz durante o processo germinativo. É importante destacar que estas categorias não são absolutas e estão sujeitas às alterações ao longo do tempo. No caso de sementes de plantas daninhas, FELIPE & POLO (1983) concluíram que as sementes de Sida rhombifolia e S. spinosus se comportam como fotoblásticas positivas, Amaranthus deflexus e Cassia patellaria também se comportam como fotoblásticas positivas quando intactas e fotoblásticas neutras quando escarificadas. Em trabalho conduzido por SALVADOR et al., (2006 a) sementes de Sida glaziovii podem ser fotoblástica negativa, positiva ou indiferente de acordo com as condições de temperatura e armazenamento em que são expostas. Num outro trabalho, SALVADOR et al., (2006 b) concluíram que as espécies Euphorbia heterophylla, Eleusine indica, Ipomoea purpurea, Sida glaziovii e Brachiaria plantaginea comportaram-se como indiferentes em relação à presença de luz para germinarem, sendo que sementes de Eleusine indica apresentaram velocidade de germinação maior no escuro e sementes de Ipomoea purpurea na presença de luz. Por estes resultados, 13 pode-se inferir que a resposta à luz pode ser alterada pela ação de outro fator ecológico, como a perda da integridade da semente pela ação de um predador ou pela temperatura do solo. Nos últimos anos alguns trabalhos foram conduzidos em condições controladas com o objetivo de estudar a germinação e a emergência das principais plantas daninhas da cultura da cana-de-açúcar em função da presença de quantidades variadas de cobertura de palha. SILVA et al, (2003) observaram que camadas de palha de até 8 t.ha-1 retardaram a emissão de manifestações epígeas de tiririca mas não afetaram a sua densidade final. Com 16 t.ha-1 de palha houve redução no número de manifestações epígeas, no entanto, a massa seca acumulada por estas estruturas e a produção de novos tubérculos não foi afetada. Em outro trabalho DURIGAN, et al (2004) constatou que a quantidade de 10 t.ha-1 de palha foi suficiente para reduzir a emissão de manifestações epígeas, mas não conseguiu impedir a formação de grandes densidades de manifestações epígeas no campo. AZANIA et al., (2002) constatou que as sementes de Ipomoea quamoclit e Merremia cissoides conseguiram emergir sob uma camada de 15 t.ha-1 de palha de cana, variedade SP 79-2233, embora sofresse redução de 46% e 62 %, respectivamente, de plântulas emergidas quando comparado à ausência de palha. Concluíram que, dentre as diferentes espécies estudadas, I. hederifolia foi a menos suscetível ao efeito da camada de palha, ao passo que M. cissoides foi a mais susceptível. Para Ipomoea grandifolia, MARTINS et al., (1999) obteve redução na emergência com uma camada de 15 t.ha-1 de palha e estímulo quando a camada foi de 2 a 10 t.ha-1. GRAVENA et al., (2004), em estudo conduzido em mesocosmos observou que a camada de palha, por si só, reduziu as densidades das populações de Brachiaria plantaginea, Digitaria horizontalis, Panicum maximum, Sida glaziovii e Amaranthus hibridus a níveis de infestação considerados baixos, quando comparados com a testemunha sem cobertura. Por outro lado, para Senna obtusifolia, Ipomoea nil, Ipomoea hederifolia e Ipomoea grandifolia, a população de plântulas foi reduzida, porém para níveis ainda considerados insatisfatórios. CORREIA & DURIGAN, (2004) 14 verificaram que camadas de palha com 5, 10 e 15 t.ha-1 inibiram a emergência de plântulas das espécies Brachiaria decumbens e Sida spinosa. Para a espécie Digitaria horizontalis a inibição somente ocorreu com camada igual ou superior a 10 t.ha-1. Resultados obtidos por ROSSI et al. (2006), em dois experimentos conduzidos no campo, demonstraram que na presença de palha de cana (7,5 e 15 t.ha-1) as sementes de Brachiaria plantaginea, Panicum maximum e Commelina benghalensis não germinaram. Com 15 t.ha-1 ocorreu inibição da germinação de Brachiaria decumbens e Ipomoea quamoclit, porém, Euphorbia heterophylla, Ipomoea nil e Ipomoea grandifolia continuaram geminando, embora em menores quantidades em relação ao solo nú. Banco de sementes de plantas daninhas O banco de sementes foi definido como sendo a reserva de sementes viáveis em contato com o solo (ROBERTS, 1981). O banco de sementes é o responsável pela reposição de plantas mortas naturalmente ou devido a distúrbios impostos ao ambiente (BAKER, 1989). Segundo CARMONA (1992), o termo banco de sementes tem sido usado na literatura internacional para descrever o montante de sementes viáveis e outras estruturas de propagação presentes no solo ou nos restos vegetais. A magnitude e as composições botânicas do banco de sementes são variáveis em função dos distintos habitats (CARMONA, 1992). Para áreas cultivadas, FENNER (1995) estimou uma variação no tamanho do banco de sementes entre 20.000 e 40.000 sementes.m-2. CARMONA (1995) realizou estimativas das magnitudes dos bancos de sementes para área de rotação de culturas anuais (6.768 sementes.m-2), várzea (22.313 sementes.m-2), coroa de pomar de citros (3.595 sementes.m-2) e para área de pastagem (529 sementes.m-2). O autor associou as diferenças de quantidade de sementes à freqüência de distúrbios aplicados ao ambiente, inserindo no extremo superior a várzea cultivada e no inferior a pastagem. 15 A composição do banco de sementes é influenciada pelas práticas culturais e varia com o sistema agrícola empregado (BENOIT et al., 1992) e geralmente são compostos por várias espécies, porém, com poucas espécies dominantes que abrangem entre 70 a 90% do total presente no solo (WILSON 1988). O banco de sementes apresenta mecanismos de entrada e saída de indivíduos. A entrada de sementes no solo pode ocorrer de duas maneiras: (i) pela produção e chuva de sementes oriundas das plantas presentes na área, ou (ii) pela introdução de sementes originárias de outras áreas por agentes de dispersão. Os principais mecanismos de saída são; (i) germinação, (ii) morte, e (iii) transporte por agentes de dispersão (CARMONA 1992). As estratégias de manejo da cultura e de controle das plantas daninhas alteram de forma decisiva as dinâmicas de entrada e saída de sementes no banco, influenciando a médio e longo prazo na composição de espécies e densidadespopulacionais. A composição do banco de sementes de plantas daninhas, bem como a distribuição no perfil do solo reflete parcialmente o histórico da ocupação da área, principalmente quanto às medidas de controle e às práticas agrícolas adotadas ao longo do tempo. Isso porque a grande maioria das plantas daninhas produz sementes com diferentes tipos e intensidades de dormência. Quando são lançadas ao solo, o enriquece de sementes com diferentes comportamentos em relação à germinação e emergência. Assim, uma parte das sementes não germina imediatamente, apresentam grande longevidade e podem permanecer por longos períodos no solo aguardando as condições requeridas para a germinação. O banco de sementes é composto por uma mistura de sementes de idades distintas, acumuladas durante vários anos, indicando as espécies do passado e do presente (GRIME, 1989). Em trabalho conduzido por TOOLE & BROWN (1946), mesmo depois de 38 anos enterradas no solo, trinta e seis espécies de plantas daninhas, dentre as 106 espécies que iniciaram o experimento, apresentaram sementes viáveis. Entre os fatores culturais que podem afetam o banco de sementes e que são alterados com a adoção do sistema de colheita de cana-crua em substituição à colheita 16 manual queimada estão: revolvimento do solo, cobertura do solo e a eliminação da queimada. As principais pesquisas que tratam do tema banco de sementes procuram quantificar e determinar a suas composições específicas (CARMONA, 1992; FENNER, 1995), estudar os efeitos dos fatores naturais ou decorrentes de alterações promovidas por práticas agrícolas adotadas (STARICKA et al., 1990; CLEMENTS et al., 1996; BUHLER et al., 1997), inclusive dos métodos de controle empregados, incluindo herbicidas (BALL, 1992; MONQUERO & CHRISTOFFOLETI, 2003) e por fim aplicar o conhecimento de sua composição e distribuição na tomada de decisões quanto ao método e intensidade de controle a ser empregado na área (SHIRATSUCHI & CHRISTOFFOLETI, 2002; BAIO 2001 e ESQUERDO, 2002). O banco de semente do solo pode ser utilizado para estudar as relações quantitativas entre a sua densidade e composição e a da flora infestante (DESSAINT et al., 1990; GRANADOS & TORRES, 1993), mas uma estimativa segura nem sempre é obtida devido aos diversos fatores que estão envolvidos no processo de germinação e emergência da plântula e ao padrão agregado da distribuição geográfica das populações. As melhores estimativas têm sido obtidas quando as parcelas são pequenas ou quando as distâncias entre os pontos de coleta de amostra são reduzidas, ou seja, existe uma grande dependência espacial. Uma análise de correlação utilizada para verificar se o banco de sementes estimou com segurança a composição de plantas estabelecidas é a correlação de “Spearman Rank” utilizado por CARDINA et al., 1996; CARDINA & SPARROW 1996 e SHIRATSUCHI, 2001. O teste de Spearman Rank analisa a hipótese da nulidade de que as ordens dos dados não possuem correlação. De acordo com STEEL & TORRIE (1980) e CARDINA (1996) esse tipo de correlação é o mais apropriado para dados que não possuem distribuição normal, como normalmente acontece para dados de banco de sementes de plantas daninhas e de emergência de plantas no campo (JOHNSON et al., 1996; ZANIN et al., 1998 e HEISEL et al., 1996). Este teste é semelhante à análise de correlação linear de Pearson; porém, o teste de Spearman Rank ordena (ranqueia) os dados amostrados e correlacionam as ordens dos dados (STEEL & TORRIE, 1980). O 17 teste considera, portanto, a composição especifica e a ordem de grandeza das populações, pois quanto maior a população de plantas no campo será esperada uma maior presença de suas sementes nas amostras de solo coletadas para avaliação do banco de sementes. No sistema de colheita mecanizada de cana-crua ocorre menor movimentação do solo, pois as operações de adubação não são acompanhadas da operação de cultivo mecânico do solo e a movimentação do solo é mínima. YENISH et al., 1992 estudou esses efeitos em agroecossistemas de culturas anuais e obteve redução logarítmica no número de sementes com o aumento da profundidade em sistema de plantio direto e linear em sistema de cultivo mínimo. CLEMENTS et al., 1996 encontraram mais de 60% do total do banco de sementes concentrado em profundidades de até 5 cm em solos com cultivo mínimo ou sem cultivo. As sementes localizadas na superfície ficam mais expostas à predação (CARMONA, 1992 e YENISH et al., 1992) e ficam mais sujeitas às variações de temperatura e umidade, auxiliando na quebra da dormência. Índices fitossociológicos A composição da comunidade de plantas daninhas em um agroecossistema é dependente das características de solo, clima e das práticas agronômicas, tais como o manejo de solo e aplicação de herbicidas (GODOY et al, 1995; VOLL et al., 2001). Segundo PITELLI (2000), os índices fitossociológicos são importantes para analisar os impactos que os sistemas de manejo e as práticas agrícolas exercem sobre a dinâmica de crescimento e ocupação de comunidades infestantes em agroecossistemas. Esses índices são determinados levando-se em conta a densidade, distribuição espacial e a biomassa das populações presentes. A densidade relativa reflete a participação numérica de indivíduos de uma determinada espécie na comunidade; a freqüência expressa a uniformidade de distribuição espacial das populações; a dominância relativa representa a relevância de uma espécie em termos 18 da massa global da comunidade infestante e a importância relativa é uma análise ponderada dos três índices anteriores e indica as espécies mais importantes em termos de infestação numa cultura. Numa comunidade de plantas daninhas, nem todas as espécies têm a mesma importância ou participação na interferência imposta ao desenvolvimento e produtividade da cultura. Normalmente existem três ou quatro espécies dominantes, que ocasionam a maior parte dos danos. Além dessas espécies existem as secundárias, presentes numa menor densidade e cobertura e as acompanhantes, cuja presença é ocasional e, portanto, não resultam em problemas econômicos aos cultivos (FERNÁNDEZ-QUINTANILLA et al., 1991). As composições específicas de comunidades infestantes de diferentes locais podem ser comparadas utilizando-se o coeficiente de similaridade de Odum (ODUM, 1985), que considera o número de espécies de duas diferentes aéreas e o número de espécies comuns. Este índice permite comparar as áreas duas a duas quanto à composição florística, possibilitando a recomendação de tratamentos comuns ou específicos para cada um dos talhões (MACEDO et al 2003). O coeficiente de similaridade varia de 0 a 1, sendo máximo quando todas as espécies são comuns as duas áreas e mínimo quando não há espécies comuns. Alguns trabalhos têm se dedicado à caracterização e comparação de áreas agrícolas quanto à composição específica da comunidade de plantas daninhas por meio dos índices fitossociológicos como são os casos dos trabalhos de MACEDO et al., (2003), em áreas de pós-colheita de milho; SOUZA et al., (2003) em áreas de cupuazeiro e pupunheira; CARVALHO & PITELLI (1992); LARA et al., (2003) e TUFFI SANTOS, et al., (2004) em áreas de pastagens e ERASMO et al., (2004) em várzeas destinadas ao cultivo de arroz sob diferentes formas de manejo. JEKELAITIS et al., (2003) utilizaram os índices fitossociológicos para comparar as composições específicas de comunidades infestantes da cultura do milho e também para estudar a dinâmica populacional na cultura do milho e do feijão sob diferentes sistemas de plantio direto e convencional. 19 Esses índices caracterizam as áreas quanto à densidade, freqüência e acúmulo de massa pelas diferentes espécies, mas não fornece informação de como suas populações estão distribuídas nas áreas. Essa idéia pode ser dada em função do índice de agregaçãocalculado pelo quociente entre a variância e a média (ODUM, 1985). Segundo DESSAINT et al., (1991) o valor da variância sobre a média dos dados mede o desvio da unidade, ou seja, valores maiores que a unidade indica um padrão de agregação espacial. Sendo assim, podem ser identificados três padrões básicos de distribuição de indivíduos; uniforme, aleatório e agregado. O padrão agregado pode ser desmembrado em agregado-aleatório quando os grupos formados se distribuem aleatoriamente, agregado-uniforme, quando os grupos estão distribuídos uniformemente e agregado-agregado quando os grupos estão concentrados numa região (ODUM, 1985). A amostragem realizada em populações agregadas deve ser mais criteriosa do que em populações uniformemente distribuídas. No caso específico para comunidades de plantas daninhas o mais comum é que a distribuição apresente padrão agregado com diferentes índices de agregação (RADOSEVICH & HOLT, 1984). O padrão agregado que as populações ou comunidades de plantas daninhas apresentam, em alguns casos podem ser explorados para adoção de aplicação localizada ou diferencial de herbicidas mediante geração de mapas de distribuição e desenvolvimento de tecnologias de aplicação adequadas. SHIRATSUCHI (2001) utilizou o índice de agregação para obter um indicativo de agregação espacial de plantas daninhas na cultura da soja e obteve valores elevados para as principais espécies ou grupo de espécies. Por meio de técnicas da geoestatística confeccionou mapas de classes de infestação e obteve uma economia de 22% em herbicidas aplicando de forma diferencial, baseando-se no banco de sementes e de 18% e 44% baseando-se em plantas emergidas. BAIO (2000) avaliou metodologias para obtenção de mapas de distribuição das plantas daninhas. Baseando-se na variabilidade espacial das plantas daninhas mapeadas criou um mapa de prescrição com quatro dosagens diferentes de herbicidas e obteve controle satisfatório das mesmas com uma economia de 31,6% de herbicida, quando comparado à aplicação em área total. Segundo trabalho conduzido por ESQUERDO (2002) obteve-se redução de 69,52% na quantidade de 20 herbicida utilizado com a aplicação localizada numa área comercial de 4,1 ha baseando-se em mapas de distribuição de plantas daninhas cujo padrão era extremamente agregado. No exterior, vários trabalhos se dedicaram à geração de mapas de distribuição de plantas daninhas sustentados no banco de sementes (BENOIT et al., 1992), na flora de plântulas emergentes (CARDINA et al., 1997 e JOHNSON, et al., 1996) ou buscando verificar a correspondência entre mapas de distribuição horizontal de sementes e de flora emergente (CARDINA et al., 1996). Análise multivariada Os dados coletados num experimento servem para caracterizar um objeto de estudo, o que é relativamente simples quando o número de variáveis é pequeno. Porém, a maioria dos objetos de estudo está inserida num universo multivariado e a questão que surge é, como interpreta-las e extrair informação relevante (STATSOFT SOUTH AMERICA, 2006). A padronização é uma capacidade única dos seres humanos e esse processo é complexo, levando cientistas a buscar o desenvolvimento de metodologias matemáticas que permitam reconhecer padrões num conjunto de dados, uma vez que a capacidade humana de identificação por reconhecimento visual vai até a terceira dimensão. A questão fundamental reside em transformar informação m-dimencional em tri ou bidimensional. Isto pode ser feito através de várias técnicas entre as quais: Análise de Agrupamentos, Análise de Correspondência e Análise de correspondência Canônica (STATSOFT SOUTH AMERICA, 2006). A análise de agrupamento tem por finalidade reunir, por algum critério de classificação, os objetos de estudo em grupos, de tal forma que exista máxima homogeneidade dentro do grupo e máxima heterogeneidade entre grupos. Após terem sido escolhidas as variáveis, três procedimentos devem ser seguidos: padronização dos dados, escolha do coeficiente de semelhança e escolha da estratégia de agrupamento (STATSOFT SOUTH AMERICA, 2006). 21 A padronização dos dados elimina o efeito arbitrário que alguns atributos podem empreender no grau de similaridade entre objetos, fazendo com que esses atributos contribuam com o mesmo peso no cálculo do coeficiente de similaridade entre objetos. A escolha de um coeficiente que quantifique o quanto dois objetos são parecidos é o segundo passo da análise de agrupamento. Estes coeficientes podem ser medidas de similaridade e medidas de dissimilaridade. Na primeira, quanto maior o valor observado, mais similar serão os objetos e na segunda, quanto menor o valor mais similar serão os objetos. A distância euclidiana é, provavelmente, o coeficiente mais utilizado e corresponde à distância geométrica num espaço m-dimensional, entre dois objetos A e B, calculado pela seguinte fórmula matemática. 22 22 2 11 )(...)()( mBmABABAAB XXXXXXd −++−+−= Dentre as estratégias de agrupamentos mais freqüentes utilizados, destacam-se aqueles que se caracterizam por serem seqüenciais, aglomerativos, hierárquicos e sem sobreposição. Os métodos mais utilizados são: Ligação simples, que considera a menor distância; Ligação completa, que considera a distância máxima; UPGMA, que considera a média das distâncias entre todos os pares de um grupo com o outro e o Método de Ward’s, que busca minimizar o soma das diferenças entre os elementos de cada grupo e o valor médio do grupo. A representação dos resultados da análise de agrupamento é feita num gráfico com uma estrutura de árvore denominado dendrograma (STATSOFT SOUTH AMERICA, 2006). Em ciências agrárias essa técnica pode perfeitamente ser empregada, entretanto poucos são os trabalhos que a utilizaram. No Brasil, tem sido utilizado na área florestal para padronização de estratos verticais de florestas (SOUZA et al., 2003; SOUZA & SOUZA, 2004), e para análise de divergência genética de culturas (OLIVEIRA et al., 2003; KARASAWA et al., 2005 e SOUZA et al., 2005) e plantas daninhas resistentes a herbicidas (WINKLER et al., 2003). 22 A análise de correspondência é um importante recurso de análise multivariada aplicada em conjunto de dados estritamente categóricos, por sua flexibilidade e facilidade de interpretação (CUNHA JÚNIOR, 2000). Pertence a um conjunto de técnicas associadas a mapas perceptuais/intuitivos, que segundo HAIR et al., (1995) são representações visuais de objetos de um indivíduo em duas ou mais dimensões. Os objetos a serem avaliados podem ser definidos, segundo HAIR et al., (1995) como os estímulos aos quais se expõe um indivíduo que podem ser avaliados e comparados. Tais estímulos (ou objetos) podem ser elementos tangíveis (produtos ou objetos físicos), sensoriais (odores, sabores, temperaturas) e, mesmo, pensamentos (idéias, slogans e preferências). A análise de correspondência é especialmente indicada para descrever matrizes com grande volume de dados discretos e sem uma estrutura claramente definida a priori. Este método permite a visualização das relações mais importantes de um grande conjunto de variáveis. Os resultados são apresentados sob forma de gráficos, que apresentam categorias de cada variável possibilitando observar as relações através da distância entre os pontos desenhados. As categorias com localização próxima na projeção plana têm relação mais forte do que categorias separadas por distâncias maiores. Qualquer categoria, representada como um ponto na projeção plana pode ser analisado em separado e caracterizada segundo a proximidade das projeções de todas as outras categorias sobre uma reta que ligue seu ponto característico à origem dos eixos do plano de projeção. Quando categorias de uma mesma variável encontram-se em posições próximas no mapa da análise de correspondência, isto sugere que, independentemente de seus conteúdossemânticos, elas podem ser consideradas iguais no que tange a distribuição de massas do total das observações realizadas (BATISTA et al., 2004). 23 CAPÍTULO 2 - BANCO DE SEMENTES DE PLANTAS DANINHAS E SUA CORRELAÇÃO COM A FLORA ESTABELECIDA NO AGROECOSSISTEMA CANA- CRUA RESUMO – O conhecimento da composição específica do banco de sementes, sua distribuição horizontal e a correlação com a flora emergente são importantes para nortear a escolha dos herbicidas e a distribuição da aplicação dos mesmos nos talhões. A colheita mecanizada de cana-de-açúcar acarretou em mudanças significativas neste agroecossistema, quando proporcionou a manutenção de uma camada de palha, reduziu a movimentação do solo e eliminou a queimada. Essas alterações refletiram nas condições microclimáticas e, consequentemente, na composição da flora de plantas daninhas e do banco de sementes. Durante parte da safra 2004 foram realizados levantamentos do banco de sementes e da flora emergida em talhões colhidos mecanicamente, sem queima prévia da palha. Foram realizados estudos fitossociológicos baseados nos dados de banco de sementes, além de estudo de correlações com a flora emergida presente aos 120 dias após a colheita (DAC). As principais espécies presentes no banco foram as pertencentes à classe das dicotiledôneas anuais, com destaque para o Amaranthus spp., diversas Euphorbiáceas e Convolvuláceas. As sementes de gramíneas tradicionais da cultura tiveram pouca participação. Para as principais espécies ou grupo de espécies a distribuição horizontal foi aleatória ou agregada (V/m > 1,00), mas com valores relativamente baixos de agregação. O banco de sementes teve baixa correlação com a flora emergente, independentemente da época de colheita do talhão, da metodologia de quantificação do banco de sementes e das espécies de plantas daninha. Palavras-chave: Correlação de Spearman Rank, Fitossociologia, Índice de agregação, Saccharum spp. 24 Introdução Muitos são os conceitos encontrados na literatura para tentar definir o banco de sementes no solo. ROBERTS (1981) o definiu como sendo a reserva de sementes viáveis encontradas no solo. Esta reserva é um somatório de sementes produzidas e introduzidas no solo ao longo do tempo através da “chuva de sementes” e que se mantiveram vivas e dormentes, com sementes recém produzidas. Sendo assim, a composição do banco de sementes no agroecossistema cana-de-açúcar contém representantes que predominavam em sistemas anteriores de cultivo da própria cana- de-açúcar ou associados a culturas anteriores. Isso ocorre porque a maioria das espécies de plantas daninhas possui adaptação para produzir grande número de sementes (DEUBER, 1992), que muitas vezes apresentam grande longevidade (BURNSIDE et al., 1986) e ainda apresentam mecanismos de dormência, distribuindo a germinação no tempo (CARMONA, 1992). O tamanho e a composição botânica do banco de sementes são variáveis em distintos habitats (CARMONA, 1992). Para áreas cultivadas FENNER (1995) estimou em 20.000 a 40.000 o número de sementes por metro quadrado. A composição do banco de sementes é influenciada pelas práticas culturais e varia de sistema para sistema (BENOIT et al., 1992). Geralmente são compostos por várias espécies, mas poucas são as dominantes (WILSON, 1998). O banco de sementes apresenta mecanismos de entrada e saída. A entrada de sementes no solo de uma determinada área pode ocorrer de duas maneiras: (i) produção e chuva de sementes oriundas das plantas presentes, ou (ii) introdução de sementes originárias de outras áreas por agentes de dispersão. Por outro lado os principais mecanismos de saída são; (i) processo de germinação, (ii) morte, (iii) predação e (iv) transporte por agentes de dispersão (CARMONA, 1992). As práticas de manejo de plantas daninhas bem como as práticas culturais adotadas no manejo da cana-de-açúcar, de um modo geral atuam e alteram a dinâmica de entrada e saída de sementes no banco, refletindo a médio e longo prazo na composição de espécies. 25 O sistema de cana-crua, cuja implantação se iniciou há mais de vinte anos, trouxe algumas modificações importantes no que se refere às plantas daninhas: (I) - reduziu a movimentação do solo; (II) – introduziu a colhedeira como agente disseminador; (III) – eliminou o distúrbio pela queimada e (IV) – proporcionou a manutenção de uma camada de palha sobre o solo. A redução na movimentação do solo pelo uso de cultivadores reduziu a incorporação de sementes recém produzidas no solo e o resgate de sementes de outras gerações para a superfície. Com a eliminação desse efeito, as sementes ficam mais sujeitas ao desencadeamento da germinação, à predação e à perda de viabilidade (YENISH et al, 1992). A manutenção de uma camada de palha, por sua vez, acarreta em grandes transformações no sistema. Alteram a dinâmica dos principais herbicidas utilizados na cultura da cana-de-açúcar (HERNANDEZ et al., 2001; VELINI & NEGRISOLI, 2000; NEGRISOLI, 2002; VELINI et al., 2004), funcionam como barreira física à emergência, modificam importantes elementos microclimáticos, a composição microbiológica e o meio químico (PITELLI, 1998). O objetivo deste trabalho foi avaliar a composição específica do banco de sementes de plantas daninhas em áreas ocupadas pela cultura da cana-de-açúcar e a sua correlação com a flora de plantas daninhas, que se estabeleceu em canaviais com histórico de colheita mecanizada sem queima prévia da palha. Material e Métodos Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos durante a safra de 2004, em vinte e nove talhões de cana-soca com histórico de colheita mecanizada sem queima prévia da palha, localizados em usinas e fornecedores da região de Ribeirão Preto, SP. Esses talhões foram separados em três grupos em função da época de corte. O primeiro grupo composto por talhões colhidos durante o mês de julho (Época 1 ); o segundo por talhões colhidos a partir da segunda quinzena de agosto até meados de 26 setembro (Época 2) e o terceiro por aqueles colhidos nos meses de outubro e novembro (Época 3). Os talhões estudados, bem como as datas da realização das colheitas e as informações mais importantes encontram-se também no anexo 1. Os elementos meteorológicos registrados durante o período de coleta dos dados foram extraídos de um conjunto de dados pertencentes ao acervo da área de Agrometeorologia do Departamento de Ciências Exatas (Unesp – Jaboticabal) e encontram-se sumarizadas no anexo 2. Logo após o corte, cada talhão teve seu perímetro geoferenciado (GPS Garmim 12; Software GPS Track maker) e, quando necessário, foi limitado ao tamanho máximo de cinco hectares, e serviram como área de coleta de amostras para avaliação do banco de sementes e da flora emergida aos 120 DAC. As amostras para avaliação do banco de sementes foram coletadas logo após o corte e foram compostas por 50 sub-amostras cilíndricas (5 cm de diâmetro por 10 de profundidade), coletadas dentro de cada hectare, ao redor de cinco pontos diferentes, também georeferenciados (10 sub-amostras por ponto). As sub-amostras foram coletadas dentro de um raio de 10 metros dos pontos e, após a homogeneização, foram retirados amostras de 2,5 kg.ha-1 que foram destinadas ao Laboratório de Biologia e Manejo de Plantas Daninhas (Unesp - Jaboticabal). No laboratório foi feita a contagem direta de sementes pelo método da extração (lavagem do solo) e contagem de plântulas emergidas em bandejas (três fluxos de emergência e contagem das sementes restantes), segundo metodologia proposta por FORCELLA (1988). Com os dados obtidos foram realizados estudos fitossociológicos sendo calculados os seguintes índices: densidade relativa (De.R), freqüência relativa (Fr.R.), importância relativa (I.R.) e índice de agregação (V/m), utilizando fórmulas contidas em MUELLER DOMBOIS &ELLENBERG (1974). Com os valores das importâncias relativas das espécies acumuladas nas vinte e nove áreas monitoradas, foi elaborado um “ranking” das principais espécies quanto à presença de sementes no solo. A flora emergente foi avaliada aos 120 dias após o corte da cana (DAC) para estudar a correlação com o banco de sementes. Foi determinada a densidade das espécies que a compuseram em cada um dos talhões, exceto no USB-30, que por 27 engano sofreu aplicação de herbicida em área total. Para isso, nos vinte e oito talhões foram demarcadas áreas que ficaram livres da aplicação de herbicidas e que serviram de local para a realização das amostragens. Para cada talhão estudado essas áreas foram locadas aleatoriamente, na proporção de duas a cada hectare, e consistiram de áreas retangulares (4 linhas x 4 metros). A flora emergida foi avaliada, por meio de quadrados vazados de 0,5 x 0,5 m lançados ao acaso por duas vezes nas entre-linhas da cultura dentro de cada área demarcada mantida sem controle. As plantas abrangidas pelo quadrado foram identificadas e contadas, sendo consideradas somente plantas propagadas por sementes. A correlação entre a composição específica do banco de sementes e da flora emergente estabelecida nas áreas foi estudada pela correlação de Spearman Rank, conforme SHIRATSUCHI (2001) e CARDINA et al., (1996) e pelos coeficientes de similaridade de Odum calculados pela formula: S = (2A/(B+C))*100 onde: A = número de espécies comuns entre banco de sementes e flora emergida aos 120 DAC B = número de espécies do banco de sementes C = número de espécies na flora emergida aos 120 DAC Resultados e discussão Analisando a composição do banco de sementes nos primeiros 10 cm de profundidade das áreas estudadas, foram encontradas sementes de 33 espécies de plantas daninhas (Tabela 1). Outras estruturas de reprodução, tais como, tubérculos e rizomas que normalmente não são detectados por esse tipo de amostragem não foram encontrados, o que justifica a ausência ou o pouco destaque para espécies sabidamente importantes na cultura como Cynodon dactylon e Cyperus rotundus na relação de espécies encontradas. 28 Tabela 1. Relação de espécies ou gênero cujas sementes foram encontradas durante as avaliações nos talhões estudados. Jaboticabal, 2006. Nome científico Código* Nome científico Código Acanthospermum hispidum ACNHI Emilia sonchifolia EMISO Ageratum conyzoides AGECO Euphorbia heterophylla EPHHL Alternanthera tenella ALRTE Cassia patellaria CASPA Amaranthus spp. AMASS Indigofera hirsuta INDHI Bidens pilosa BIDPI Ipomoea grandifolia IAOGR Blainvillea rhomboidea BLARH Ipomoea hederifolia IPOHF Brachiaria decumbens BRADC Ipomoea quamoclit IPOQU Brachiaria plantaginea BRAPL Lepidum virginicum LEPVI Chamaesyce hirta EPHHI Nicandra physaloides NICPH Chamaesyce hyssopifolia EPHHS Panicum maximum PANMA Commelina benghalensis COMBE Phyllanthus tenellus PYLTE Croton glandulosus CVNGL Physalis angulata PHYAN Cyperus spp CYPSS Portulaca oleraceae POROL Cyperus rotundus CYPRO Sida spp. SIDSS Digitaria insularis DIGIN Solanum americanum SOLAM Digitaria spp. DIGSS Tridax procumens TRQPR Eleusine indica ELEIN --- --- * código internacional Bayer Considerando sementes de todas as espécies encontradas e todos os talhões estudados, o banco de sementes apresentou, em média, aproximadamente 350 sementes.m-2 nos primeiros dez centímetros do solo (Tabela 2). Para Amaranthus spp., cujas sementes foram as mais numerosas e freqüentes, observou-se, em média 167 sementes.m-2. Já para as duas espécies de corda-de-viola, Ipomoea hederifolia e I. quamoclit a quantidade de sementes encontradas foi, em media, 83,3 e 38,4 sementes.m-2, respectivamente. Para as demais espécies que se destacaram, os números podem ser vistos na Tabela 2. Os valores apresentados não representam o potencial de infestação imediato do talhão, pois englobam sementes provenientes da contagem direta e contabilizam também as sementes que originaram plântulas pelo método do fluxo de emergência, ou seja, sementes dormentes foram contabilizadas. O valor médio obtido ficou bem abaixo daqueles obtidos por CARMONA (1995) para área de rotação de culturas anuais (6.768 sementes.m-2), várzea (22.313 sementes.m-2) e coroa de pomar de citros (3.595 sementes.m-2) e pouco abaixo do obtido para área de 29 pastagem (529 sementes.m-2). O autor associou o gradiente de quantidade de sementes à freqüência de distúrbios, inserindo no extremo superior a várzea e no inferior a pastagem. Não há um levantamento abrangente de banco de sementes em áreas de colheita de cana queimada e corte manual seguida de cultivo mecânico com implementos tradicionais que realizam movimentação do solo, que possa fornecer um valor médio do tamanho do banco de sementes nestas áreas. Mas, é bastante claro que há uma redução na freqüência de distúrbio quando se adota a colheita mecanizada, pois a queimada é eliminada e a movimentação do solo reduzida. Nos sistemas com movimentação vertical do solo reduzido as sementes tendem a se concentrar nas camadas superficiais do solo e na presença da camada de palha, parte das sementes recém produzidas fica nela retidas. Como as sub-amostras atingiram até dez centímetros de profundidade e foram coletadas mediante afastamento da palha os valores obtidos podem estar subestimados o que justifica a baixa densidade média obtida. Os resultados de densidade relativa (De.R.) e freqüência relativa (Fr.R.) foram utilizados para o cálculo da Importância relativa (I.R.) e não são apresentados individualmente, pois estão, de certa forma contidos neste último índice. A participação, em termos de importância relativa, de cada espécie na composição do banco de sementes foi variável de talhão para talhão. Analisando a relação das quatro principais espécies encontradas em cada talhão (Tabela 3) constatou-se predominância de sementes de plantas daninhas anuais dicotiledôneas, dentre as quais; Amaranthus spp., Portulaca oleraceae, Ipomoea spp., Euphorbia heterophylla, Sida spp., Chamaesyce hyssopifolia e Croton glandulosus. As sementes de Amaranthus spp. foram encontradas em vinte dos vinte e nove talhões estudados, sendo que em nove talhões foi o principal componente do banco em função da importância relativa. As diversas espécies de caruru estão entre aquelas que mais produzem descendentes (DEUBER, 1992), as quais apresentam dormência, distribuindo sua germinação ao longo de vários anos. Dentre as espécies de corda-de-viola, destacaram-se Ipomoea hederifolia e Ipomoea quamoclit, sendo que a primeira figurou entre as principais em onze talhões, 30 sendo quatro como a principal espécie. Essas espécies produzem grandes quantidades de sementes e, por serem relativamente grandes, possuem reserva suficiente para nutrir as plântulas durante a passagem através da camada de palha. Além disso, em várias ocasiões, os frutos com as sementes se mantêm ligados às plantas até a época da colheita e a passagem da colhedeira auxilia na sua disseminação a distâncias maiores. 31 Tabela 2. Estimativa da quantidade de sementes por m2 das principais espécies ou grupo de plantas que compuseram o banco de sementes dos talhões estudados. Jaboticabal, 2006. ÁREA Amaranthus SP. Ipomoea hederifolia Ipomoea quamoclit Sida spp. Cyperus spp* Cassia patellaria Digitaria spp. Panicum maximum Brachiaria plantaginea OUTRAS TOTAL FSI-1 123,2 11,2 112,0 11,2 11,2 56,0 324,8 FBV-2 89,6 33,6 22,4 11,2 67,2 224,0 NSF-3 56,0 18,6 74,6 FSC-4 11,2 11,2 67,2 44,8 89,6 369,6 604,8 FBV-5 168 257,6 78,0 11,2 22,4 11,2 11,2 44,8 604,8 UDP-6 140,0 70,0 42,0 28,0 280,0 UAN-7 56,0 112,0 56,0 112,0 28,0 392,0 756,0 FSI-8 201,6 112,0 22,4 11,2 44,8 0 392,0 FSI-9 1120 11,2 67,2 11,2 44,8 78,4 56,0 257,6 1.646,4 USB-10 33,6 44,8 123,2
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