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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” 
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS 
CAMPUS DE JABOTICABAL 
 
 
 
 
 
 
 
BANCO DE SEMENTES, FLUXO DE EMERGÊNCIA E 
FITOSSOCIOLOGIA DE COMUNIDADE DE PLANTAS 
DANINHAS EM AGROECOSSISTEMA DE CANA-CRUA. 
 
 
 
 
 
Marcos Antonio Kuva 
Engenheiro Agrônomo 
 
 
 
 
JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL 
Julho de 2006
 i
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” 
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS 
CAMPUS DE JABOTICABAL 
 
 
 
 
 
BANCO DE SEMENTES, FLUXO DE EMERGÊNCIA E 
FITOSSOCIOLOGIA DE COMUNIDADE DE PLANTAS 
DANINHAS EM AGROECOSSISTEMA DE CANA-CRUA. 
 
 
Marcos Antonio Kuva 
 
Orientador: Prof. Dr. Robinson Antonio Pitelli 
Co-orientador: Prof. Dr. Antonio Sérgio Ferraudo 
 
 
 Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e 
Veterinárias – Unesp, Campus de Jaboticabal, como 
parte das exigências para a obtenção do título de Doutor 
em Agronomia (Produção Vegetal) 
 
 
 
JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL 
Julho - 2006
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Kuva, Marcos Antonio 
K97b Banco de sementes, fluxo de emergência e fitossociologia de 
comunidade de plantas daninhas em agroecossistema de cana-crua / 
Marcos Antonio Kuva – – Jaboticabal, 2006 
 xi, 105f. ; 28 cm 
 
 Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de 
Ciências Agrárias e Veterinárias, 2006 
 Orientador: Robinson Antonio Pitelli 
Banca examinadora: Miguel Ângelo Mutton, Maria do Carmo 
Moreli Damasceno Pavani, Ricardo Victoria Filho, Carlos Alberto 
Mathias Azania 
 Bibliografia 
 
 1. Plantas daninhas. 2. Saccharum spp. 3. Fitossociologia. 4. 
Análise multivariada. Título. II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências 
Agrárias e Veterinárias. 
 
CDU 632.51:633.61 
 
Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço 
Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ii
DADOS CURRICULARES DO AUTOR 
 
 
 MARCOS ANTONIO KUVA – é natural de São Carlos, SP, (14/01/1970), onde 
cursou e completou o primeiro e o segundo grau. Entre março de 1989 e dezembro de 
2003 cursou Agronomia na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de 
Jaboticabal (UNESP – Campus de Jaboticabal), sendo que durante boa parte do curso 
dedicou-se à iniciação científica desenvolvendo o trabalho de graduação e participando 
de vários trabalhos de pesquisa, sempre na área da ciência das plantas daninhas e sob 
a supervisão dos professores Doutores Pedro Luis da Costa Aguiar Alves e Robinson 
Antonio Pitelli. Em 1995 ingressou no curso de Pós-graduação em Fitotecnia da Escola 
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, com a supervisão do Professor Doutor Pedro 
Jacob Christoffoleti, desenvolvendo dissertação relacionado ao tema plantas daninhas 
na cultura da cana-de-açúcar. No final do mestrado participou do curso de 
aperfeiçoamento “Manejo de Malezas, Medio Ambiente y Agricultura de Concervation” 
ministrado em Córdoba, Espanha. De novembro de 1998 ao final de 2001 trabalhou em 
pesquisa e desenvolvimento na empresa Delta & Pine Land desenvolvendo a tecnologia 
do algodão geneticamente modificado para tolerância ao glifosato e lepidópteros. Em 
agosto de 2002 ingressou no doutorado do programa de Pós-graduação em Produção 
Vegetal da Universidade Estadual Paulista, Campus de Jaboticabal, SP. Em 2004, 
paralelamente ao curso de doutorado participou da constituição da Herbae Consultoria 
e Projetos Agrícolas Ltda., uma empresa dedicada à consultoria agrícola, elaboração e 
condução de projetos de pesquisa em agronomia sendo, atualmente, um dos 
proprietários. 
 
 
 
 
 
 
 iii
 
 
DEDICO 
 
 
Aos meus pais Yossio e Setsuko, 
À minha irmã Silvia, 
Aos meus irmãos Eduardo e Wilson. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 OFEREÇO 
 
À querida Lucélia, pelo amor 
e pela amizade. 
 
 
 
 
 iv
AGRADECIMENTOS 
 
 Ao prof. Dr. Robinson Antonio Pitelli pela sua orientação e pela oportunidade 
concedida. 
 Ao professor Dr. Antonio Sérgio Ferraudo pelo auxílio no tratamento estatístico 
dos dados. 
 Ao prof. Dr. Pedro Luis da Costa Aguiar Alves pela amizade e pelas 
oportunidades proporcionadas ao longo dos últimos anos. 
 Aos membros que compuseram a banca examinadora (Prof. Dr. Miguel Ângelo 
Mutton; Prof. Dra. Maria do Carmo Moreli Damasceno Pavani; Engenheiro Agrônomo, 
Dr. Carlos Alberto Mathias Azania; Prof. Dr. Ricardo Victoria Filho) pelas sugestões 
apresentadas. 
 Aos funcionários do Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária (Unesp – 
Jaboticabal), em especial ao José Valcir Fidelis Martins e Francisco Rigler Neto (in 
memorian), pelo auxílio nas atividades de campo. 
 Ao Técnico Agropecuário Marco Antonio Farias pela organização e coleta dos 
dados. 
 Ao meu sócio na empresa Herbae Consultoria e Projetos Agrícolas Ltda, 
Engenheiro Agrônomo Tiago Pereira Salgado pela voluntariedade, companheirismo, 
honestidade, responsabilidade e amizade. 
 À equipe de alunos de pós-graduação (Tomás, Mariluce, Edson Mattos, Lúcio) e 
de estagiários (Antonio Carlos Evangelista Júnior, Rafael Luvezutti, Felipe Ridolfo Lúcio, 
Renata Pereira, Sâmara, André Seixas, Mariana, Nilton e Guilherme). 
 Às funcionárias da Seção de pós-graduação da Unesp-Jaboticabal pelas 
orientações e paciência com que me atenderam. 
 Às funcionárias da Biblioteca da Unesp-Jaboticabal pelas revisões nas citações 
bibliográficas. 
À Dow Agrosciences Ltda e a Milenia Agro Ciências Ltda. e aos agrônomos e 
técnicos das usinas e fazendas envolvidas (Usina Bonfim, Usina da Pedra, Usina 
 v
Andrade, Usina São Martinho, Fazenda Santa Isabel, Fazenda Santa Cecília, Fazenda 
Santo Antonio) pelas diversas formas de apoio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 vi
SUMÁRIO 
 Páginas 
RESUMO............................................................................................................ viii 
SUMMARY.......................................................................................................... x 
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS..................................................... 1 
Introdução........................................................................................................ 1 
Revisão de bibliográfica.................................................................................. 3 
A cultura da cana-de-açúcar e sua importância......................................... 3 
Plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar........................................ 4 
Colheita mecanizada de cana-crua............................................................ 7 
Efeito da palha no comportamento de herbicidas...................................... 8 
Plantas daninhas no agroecossistema cana-crua..................................... 10 
Banco de sementes de plantas daninhas.................................................. 14 
Índices fitossociológicos............................................................................. 17 
Análise multivariada................................................................................... 20 
CAPÍTULO 2 – BANCO DE SEMENTES DE PLANTAS DANINHAS E SUA 
CORRELAÇÃO COM A FLORA ESTABELECIDA NO AGROECOSSISTEMA 
CANA-CRUA....................................................................................................... 
 
 
23 
Resumo........................................................................................................... 23 
Introdução........................................................................................................ 24 
Material e Métodos.......................................................................................... 25 
Resultados e Discussão.................................................................................. 27 
Conclusões......................................................................................................39 
CAPÍTULO 3 – FLUXO DE EMERGÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS EM 
AGROECOSSISTEMA CANA-CRUA............................................................... 
 
40 
Resumo........................................................................................................... 40 
Introdução........................................................................................................ 41 
Material e Métodos.......................................................................................... 42 
Resultados e Discussão.................................................................................. 43 
Conclusões...................................................................................................... 47 
 vii
CAPÍTULO 4 – FITOSSOCIOLOGIA DE COMUNIDADE DE PLANTAS 
DANINHAS EM AGROECOSSISTEMA CANA-CRUA..................................... 
 
48 
Resumo........................................................................................................... 48 
Introdução........................................................................................................ 49 
Material e Métodos.......................................................................................... 50 
Resultados e Discussão.................................................................................. 52 
Conclusões...................................................................................................... 61 
CAPÍTULO 5 – PADRÕES DE INFESTAÇÃO DE PLANTAS DANINHAS EM 
AGROECOSSITEMA CANA-CRUA................................................................. 
62 
Resumo........................................................................................................... 62 
Introdução........................................................................................................ 63 
Material e Métodos.......................................................................................... 64 
Resultados e Discussão.................................................................................. 66 
Conclusões...................................................................................................... 73 
CAPÍTULO 6 – CORRESPONDENCIA ENTRE VARIÁVEIS DA 
COMUNIDADE INFESTANTE DE PLANTAS DANINHAS E VÁRIÁVEIS 
LIGADAS AO AMBIENTE CANA-CRUA............................................................. 
 
 
74 
Resumo........................................................................................................... 74 
Introdução........................................................................................................ 75 
Material e Métodos.......................................................................................... 76 
Resultados e Discussão.................................................................................. 78 
Conclusões...................................................................................................... 85 
CAPÍTULO 7 – IMPLICAÇÕES........................................................................... 86 
REFERÊNCIAS................................................................................................... 88 
APÊNDICE.......................................................................................................... 104 
 
 
 
 
 viii
BANCO DE SEMENTES, FLUXO DE EMERGÊNCIA E FITOSSOCIOLOGIA DE 
COMUNIDADE DE PLANTAS DANINHAS EM AGROECOSSISTEMA DE CANA-
CRUA. 
 
 
RESUMO – O agroecossistema da cana-de-açúcar vem sendo alterado com a 
adoção gradativa do sistema de colheita mecanizado, pois além de eliminar a presença 
do fogo possibilita a manutenção da camada de palha sobre a superfície, reduz a 
movimentação do solo e altera a dinâmica de herbicidas. Essas alterações promovem 
modificações nas condições microclimáticas, que por sua vez, afetam a composição 
especifica das plantas daninhas. Sendo assim, foi objetivo desta pesquisa estudar 
vários aspectos da comunidade de plantas daninhas em áreas de cana-de-açúcar 
colhidas no sistema mecanizado e sem queima da palha. Os dados utilizados neste 
projeto foram coletados durante a safra 2004 em vinte e nove talhões de cana-soca 
localizados em usinas ou fornecedores da região de Ribeirão-Preto, SP. Foram 
realizados estudos fitossociológicos baseados no banco de sementes e na flora 
emergida, de fluxo de emergência, de correlação entre o conteúdo do banco de 
sementes e da flora emergida, de similaridade entre talhões e de correlações entre 
variáveis da comunidade infestantes e variáveis edáficas (textura do solo) e 
relacionadas à cultura (quantidade inicial de palha) e ao seu manejo (época de corte). 
Concluiu-se que o banco de sementes apresentou em média 350 indivíduos por metro 
quadrado, porém, foi pouco eficiente para estimar a flora emergente, 
independentemente da metodologia de determinação e da época de corte da cana. A 
maior densidade de planta daninha ocorreu entre 90 e 120 dias após o corte, 
independentemente da época que foi realizada a colheita. Baseado nos dados de 
densidade, freqüência e biomassa das espécies constatou-se que as espécies mais 
importantes foram Cyperus rotundus, Ipomoea hederifolia, I nil, outras espécies de 
convolvuláceas e Euphorbiaceas. O padrão de distribuição nos talhões foi agregado, e 
os maiores índices foram observados para Cyperus rotundus e para as cordas-de-viola. 
A análise de agrupamento proporcionou a formação de quatro grupos em função da 
 ix
importância relativa e cinco grupos em função do índice de agregação, sendo que 
dentro dos grupos foi observado a formação de sub-grupos. A análise de 
correspondência indicou que no universo de talhões avaliados os maiores valores de 
importância relativa de Cyperus rotundus correlacionou-se com talhões colhidos nas 
épocas mais secas e com menores quantidades de palha. Em contrapartida para as 
cordas-de-viola e demais plantas de folha larga propagadas por sementes houve maior 
correlação com talhões colhidos na época úmida e com maiores quantidades iniciais de 
palha. 
 
 
Palavras-chave: análise multivariada, banco de sementes, coeficiente de similaridade, 
correlação de Spearman Rank, fitossociologia, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 x
SEED BANK, EMERGENCE PERIODICITY AND PHYTOSSOCIOLOGY OF WEED 
COMMUNITY ON NO BURN SUGAR-CANE AGROECOSYSTEM. 
 
 
SUMMARY – The sugar-cane agroecosystem has being changed with the 
progressive adoption of the mechanical harvesting without burning the plant straw. This 
system, besides eliminate the burning effects, maintain a layer of sugar-cane straw 
mulching, reduce the soil mobilization and change the herbicide dynamic in the soil. 
These changes are enough to promote large changing in the weed community 
composition in this agroecosystem. Then, the objective of this research was to evaluate 
weed communities compositions in several sugar-cane areas harvested under the 
mechanized way without straw burning. The data used in this thesis were collected 
during the year 2004 using 29 areas in Ribeirão Preto Country. The seed banks and the 
weeds emergence flows were measured and studied using phytosociological index, 
correlations involving the seed bank and the seedling banks and similarity coefficients 
comparing the weed communities in different areas. Correlations studies involving the 
weeds indexs and soil texture, straw amount and harvesting time also were studied. In 
average the seed bank density was 350 individuals per square meter and was did not 
showed good correlations to estimate the seedlings banks, regarding the time of sugar-
cane harvesting time. The highest weed densities occurred in the period of 90-120 after 
the sugar-cane harvesting, regarding the time of the year. The most important weed 
species in the region evaluated were: Cyperus rotundus, Ipomoea hederifolia, I nil, and 
other Euphorbiaceae and Convolvulaceae species. The weedspatterns of geographic 
distribution were aggregated for the majority of the weed populations and the highest 
aggregation index were observed to purple-nutsedge and morninglories. The 
correspondence analysis showed that the highest relative importance of Cyperus 
rotundus were related to areas harvested during the dry season with thin layer of sugar-
cane straw and the highest relative importance of Ipomoea spp were related to areas in 
which the harvesting was done during the rainy season and under large amount of 
sugar-cane straw. 
 xi
Key-words: seed bank, phytosocilogy, similarity coefficients, Spearman Rank 
correlation, multivariate analysis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 1
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS 
 
 
Introdução 
 
A colheita mecanizada da cana-de-açúcar sem queima prévia da palha, vem 
sendo implantada no Brasil e tende a abranger quase a totalidade das áreas ocupadas 
pela cultura, pois, além de cumprir exigências legais, proporcionam vários benefícios 
agronômicos e ambientais. Qualquer mudança no sistema produtivo promove, em maior 
ou menor grau, alterações nas condições microclimáticas. Estas alterações, por sua 
vez, poderão influenciar nas composições específicas dos microorganismos do solo, da 
artropodofauna e de plantas daninhas, pois novos fatores de pressão seletiva passam a 
atuar de forma mais significativa no agroecossistema. Um primeiro efeito que tem sido 
observado é a redução da importância relativa de algumas plantas daninhas 
predominantes no sistema anterior, uma vez que a manutenção da camada de palha, 
de inicio constitui-se num fator ecológico não periódico. Com a adoção sistemática e 
periódica do sistema, as populações que melhor se adaptam ao novo conjunto de 
pressão seletiva tendem a predominar e a comunidade infestante novamente se 
estabelece, porém, com uma composição diferente daquela que predominava 
anteriormente. 
No caso da colheita mecanizada da cana-de-açúcar as duas alterações mais 
significativas são: a manutenção de uma camada de palha na superfície do solo e a 
ausência da queimada que já atuava como fator ecológico periódico secundário. Os 
efeitos do fogo sobre as sementes de plantas daninhas são pouco conhecidos, no 
entanto, sabe-se que variam desde a morte de sementes de algumas espécies até a 
promoção da germinação de outras, principalmente quando estão enterradas no solo. 
A camada de palha mantida sobre o solo neste sistema de colheita funciona 
como barreira física para plântulas em emergência, altera o balanço hídrico, modifica a 
quantidade e a qualidade de luz que atinge a superfície do solo e interfere 
decisivamente na amplitude de variação térmica do solo, além de proporcionar a 
 2
liberação de compostos alelopáticos. O balanço desses fatores é essencial para a 
germinação das sementes e para o estabelecimento das plântulas e seus efeitos são 
diferenciados de acordo com a espécie e, em determinados casos, de semente para 
semente dentro da mesma espécie. 
Além desses fatores microclimáticos alterados pela camada de palha a 
germinação de plantas daninhas é influenciada por variações macroclimáticas, uma vez 
que o longo período de colheita expõe o desenvolvimento inicial da cultura e das 
plantas daninhas às condições de baixa umidade e temperatura (junho a agosto) até 
alta temperatura e umidade que ocorrem no final da safra (outubro a dezembro). 
O entendimento das influências exercidas pelo sistema de cana-crua sobre as 
comunidades infestantes da cana-de-açúcar, o conhecimento das composições 
florísticas de plantas daninhas adultas, banco de plântulas e de sementes são de 
fundamental importância, pois possibilita estabelecer prioridades de controle, direcionar 
o emprego dos métodos de controle, detectar potenciais plantas daninhas e direcionar o 
desenvolvimento de novas moléculas pela indústria. 
Considerando que as informações acima descritas são fundamentais para o 
planejamento do manejo de plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar, o presente 
trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar as composições específicas de 
comunidades infestantes em ambientes de cana-crua, baseadas em amostragens de 
banco de sementes e da flora emergida. Estudar o fluxo de emergência das principais 
espécies ou grupos de espécies e a relação entre o conteúdo do banco de sementes e 
as plantas emergidas. Estabelecer padrões de infestação, utilizando análise de 
agrupamento considerando os principais índices fitossociológicos da comunidade 
infestante como parâmetros para avaliações das similaridades entre comunidades e por 
fim estudar a correlação entre as populações das principais plantas daninhas com 
variáveis edáficas (textura do solo ) ou relacionadas à cultura (quantidade inicial de 
palha e época de corte), por meio de análise de correspondência multivariada. 
 
 
 3
Revisão bibliográfica 
 
 
A cultura da cana-de-açúcar e sua importância 
 
Os primeiros relatos do cultivo da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) 
provêm da Nova Guiné difundindo-se, progressivamente para a China e Índia 
(FAUCONNIER, 1991) e chegou ao Brasil na metade do século XVI. Atualmente é uma 
das principais culturas agrícolas do país e do seu processo industrial, obtém-se o 
açúcar e suas derivações como o álcool anidro e hidratado, o vinhoto, a levedura de 
cana, o bagaço, entre outros (FIESP-CIESP 2006). 
Atualmente o setor canavieiro compreende 320 usinas em funcionamento e 50 
em construção e a projeção é que nos próximos dez anos, pelo menos cem novas 
usinas deverão ser instaladas. Com isso, as exportações brasileiras de açúcar deverão 
passar dos atuais 17,5 milhões de toneladas para algo em torno de 30 milhões de 
toneladas na safra de 2014/15. No mesmo período a projeção para as exportações de 
álcool deverá passar dos atuais 2,8 bilhões de litros para 13,5 bilhões de litros 
(AGRIANUAL 2006). Até a safra 2000/01 o setor gerava mais de 900.000 empregos 
diretos no país (500.000 em São Paulo) e mais de 3,5 milhões de empregos indiretos, 
sendo dois milhões em São Paulo (FIESP-CIESP, 2006). Nos dias de hoje, com a 
expansão dos negócios do setor, devido à demanda externa, esses números sofreram 
alterações com elevações dos valores. 
Os canaviais brasileiros estão localizados em vários Estados, mas os principais 
pólos produtores são os Estados de São Paulo, Alagoas, Paraná, Pernambuco, Minas 
Gerais e Goiás sendo que o Estado de São Paulo respondeu por 51,77% da área 
colhida (2.960.480 ha) e 60,35% da produção (255.140.812 toneladas) na safra 
2005/2006 (AGRIANUAL, 2006). 
No Estado de São Paulo o cultivo da cana-de-açúcar pode ser separado em dois 
grupos, cana-planta e cana-soca. De acordo com a época de plantio, os canaviais 
plantados no final de cada ano, se desenvolverão inicialmente sob condições de alta 
 4
umidade e temperatura, será colhida após um ano, e são denominados de “cana-de-
ano”. Os canaviais plantados no início de cada ano serão colhidos após dezoito meses 
e são denominados de “cana-planta de ano e meio”. Os canaviais plantados no meio do 
ano são denominados de plantio de inverno. Após o primeiro corte, ocorrerá a rebrota, 
que voltará a ser colhida um ano após e todos são denominados de “cana-soca” 
(KUVA, 1999). 
Em função do longo período de safra da cana-de-açúcar, a rebrota encontra 
diferentes condições ambientais de temperatura, precipitação e umidade relativa para 
seu crescimento inicial. A indústria de herbicidas para o setor canavieiro considera 
quatro diferentes épocas em função das condições de umidade do solo. No início da 
safra no Estado de São Paulo (abril-junho) as chuvas começam a ficar mais esparsas, 
mas ainda existe estoque de umidade do solo resultante das chuvas de verão, estes 
talhões são denominados “soca semi-seca”. Em seguida, nos meses de junho a agosto 
ocorre um período de estiagem e o solose encontra em condições de baixíssima 
umidade, estes talhões são denominados “soca seca”. Em meados de setembro as 
chuvas recomeçam, há a reposição da umidade no solo constituindo-se a “soca semi-
úmida”. Com a estabilização das chuvas, constitui-se a “soca úmida” de final de safra, 
que vai até dezembro. 
Um único plantio de cana-de-açúcar permite a realização de uma colheita anual 
até um limite que varia de 5 a 10 anos. Quando o aproveitamento da rebrota é 
encerrado se procede à renovação do canavial com o plantio opcional de uma cultura 
em rotação, geralmente uma leguminosa, sendo freqüentemente plantadas crotalária, 
soja ou amendoim. 
 
 
Plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar 
 
Segundo publicação realizada pelo PLANALSUCAR – IAA (1986), as mais 
freqüentes espécies de plantas daninhas que ocorriam em canaviais eram: gramíneas 
anuais; capim-colchão (Digitaria spp.), capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), 
 5
capim-carrapicho (Cenchrus echinatus) e capim-pé-de-galinha (Eleusine indica); 
gramíneas perenes; grama-seda (Cynodon dactylon), capim-massambará (Sorghum 
halepense), capim-colonião (Panicum maximum) e capim-braquiária (Brachiaria 
decumbens); folhas largas anuais; beldroega (Portulaca oleracea), picão-preto (Bidens 
pilosa) e carrapicho-carneiro (Acanthospermum hispidum); folhas largas perenes; 
guanxumas (Sida spp.), trapoeraba (Commelina benghalensis) e ciperáceas; tiririca 
(Cyperus rotundus) e tiriricão (Cyperus esculentus). 
Mais recentemente, PROCÓPIO (2003) cita as principais espécies de plantas 
daninhas infestantes da cana-de-açúcar na região centro-sul como sendo: capim-
braquiária (Brachiaria decumbens), capim-colonião (Panicum maximum), capim-colchão 
(Digitaria spp.), capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), capim-carrapicho (Cenchrus 
echinatus), capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), grama-seda (Cynodon dactylon), 
capim-massambará (Sorghum halepense), capim-falso-massambará (Sorghum 
arundinaceum), tiririca (Cyperus rotundus), corda-de-viola (Ipomoea spp), caruru 
(Amaranthus spp), beldroega (Portulaca oleracea), trapoeraba (Commelina 
benghalensis), falsa-serralha (Emilia sonchifolia), serralha (Sonchus oleraceus), 
mentrasto (Ageratum conyzoides), leiteiro (Euphorbia heterophylla), nabiça (Raphanus 
raphanistrum), poaia-branca (Richardia brasiliensis), carrapicho-de-carneiro 
(Acanthospermum hispidum), picão-preto (Bidens pilosa) e guanxuma (Sida spp.). 
Confrontando as duas relações de espécies, algumas diferenças podem ser 
observadas, como a inclusão de várias espécies de corda-de-viola (Ipomoea spp.), 
leiteiro (Euphorbia heterophylla) e outras espécies de folha larga na relação mais 
recente. Em 1986, a colheita da cultura da cana-de-açúcar era totalmente manual e a 
cultura era queimada para facilitar a operação. Em 2003, a participação da colheita 
mecanizada, sem queima prévia da palha, já era bastante significativa na região 
sudeste. A relação apresentada por PROCÓPIO (2003) não especifica o sistema de 
colheita, mas as diferenças tenderiam a ser maiores se a relação mais recente fosse 
baseada somente em áreas de colheita mecanizada. 
Um grupo importante de plantas tem causado sérios problemas na colheita 
mecanizada de cana-crua. Segundo DEUBER (1992) as plantas daninhas trepadeiras 
 6
necessitam de outras plantas para apoio nas quais sobem por enrolamento (volúveis) 
ou prendendo-se a elas por meio de gavinhas, garras ou espinhos (cirriferas), podendo 
produzir várias ramificações as quais atingem vários metros de comprimento. Algumas 
dessas plantas encontraram na cana-de-açúcar um hábitat adequado para sua 
colonização e tem causado interferência generalizada na colheita mecanizada (Ipomoea 
spp e Merremia spp) ou potenciais esporádicos (Pyrostegia venusta, Momordica 
charantia, Cissampelos glaberrima, entre outras). 
A redução da produtividade da cana-de-açúcar em função da presença da 
comunidade de plantas daninhas tem sido relatada na literatura por diversos autores, 
entre os quais; ROLIM & CHRISTOFFOLETI (1982), GRACIANO & RAMALHO (1983), 
GRACIANO (1989), CONSTANTIN (1993) e COLETI et al., (1997). Em canaviais recém 
implantados nas condições de outono no estado de São Paulo, as perdas de 
produtividade em decorrência da interferência das plantas daninhas variaram em função 
do tipo de infestação. Numa área que predominava tiririca a produtividade foi reduzida 
em 20% (KUVA et al., 2000); infestação predominantemente de capim-braquiária 
promoveu perdas de até 82% (KUVA et al., 2001) e infestação mista de capim-
braquiária e capim-colonião promoveu perda de 40% (KUVA et al., 2003). Resultados 
sobre o potencial de redução de produtividade da cana-de-açúcar em função da 
interferência da comunidade infestante em áreas já tradicionais de colheita mecanizada 
de cana-crua não foram encontrados durante a fase de revisão. 
No Estado de São Paulo, os insumos, as operações e a mão-de-obra envolvidos 
no processo de controle de plantas daninhas são responsáveis por 8,2% do custo total 
de implantação do canavial. Para a soqueira, considerando seis cortes, as participações 
do controle de plantas daninhas nos custos de produção são, em média, de 6,99 % (1a 
soca), 7,96% (2a soca), 8,56% (3a soca), 9,26% (4a soca), 10,08% (5a soca) e 13,86% 
(6ª soca), considerando investimentos para produtividade esperada de 124, 104, 93, 82, 
72 e 62 t.ha-1, respectivamente (AGRIANUAL, 2006). 
 
 
 
 7
Colheita mecanizada de cana-crua 
 
Durante vários anos a colheita da cana-de-açúcar foi realizada manualmente 
com queimada prévia da palha, visando aumentar o rendimento da operação. Esse 
sistema de colheita reduz a quantidade de material orgânico sobre o solo e contribui 
para o aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera, contribuindo com o 
efeito estufa e para a diminuição do teor de matéria orgânica no solo (SOUZA et al., 
2005). 
Posteriormente, com a crescente pressão ambientalista contra a prática da 
queimada e com o desenvolvimento de máquinas de elevado rendimento, apropriados 
para a colheita mecanizada sem queima da palha, houve uma crescente adoção dessa 
modalidade de colheita, de tal forma que algumas usinas já colhem mais de 90% de 
suas áreas mecanicamente e sem queima prévia da palha. 
Essa tendência deve se confirmar, uma vez que o decreto de Lei Estadual 
47.700 foi assinado em 11 de março de 2003, o qual regulamenta a Lei Estadual 
11.241, de 19 de setembro de 2002, determinando prazos para eliminação gradativa do 
emprego do fogo para eliminação da palha da cana-de-açúcar (SOUZA et al., 2005). 
Apesar dos grandes benefícios ambientais, operacionais e econômicos da 
colheita mecanizada sem queima, a deposição e a manutenção de palha sobre a 
superfície do solo trouxeram algumas dificuldades no processo produtivo, que 
gradativamente está sendo superado pela pesquisa. Entre essas dificuldades podem 
ser citados os entraves às operações de cultivo e adubação da cana-soca (AUDE et al., 
1993), a baixa taxa líquida de mineralização de N (TRIVELIN et al., 1995), a dificuldade 
de execução de controle seletivo de plantas daninhas, o aumento das populações de 
insetos-praga (MACEDO et al., 2003) e a interferência negativa da palha sobre a 
brotação da cana-de-açúcar (VASCONCELOS, 2002). 
A quantidade dos resíduos (folhas e palmitos) resultantes da colheita 
mecanizada de cana-crua depende de uma série de condições intrínsecas à máquina 
colhedora e outras relativas à planta ou à condição de manejo da mesma (ABRAMO 
FILHO et al., 1993). Considerando resultados obtidos por vários autores brasileiros, 
 8
RIPOLI et al. (1990) obtiveram uma estimativa de que um hectare de cana-de-açúcar 
com rendimento agrícola de 70 t.ha-1, cortada sem queima prévia resultariam em sete 
toneladas de palha. No entanto, segundo TRIVELIN et. al. (1996), a quantidade de 
palha em canaviais colhidos sem queima varia de 10 a 30t.ha-1. 
No que se refere às plantas daninhas e seu controle, a presença da camada de 
palha trouxe alterações na dinâmica e eficácia dos herbicidas bem como nas 
composições específicas e nas densidades das populações que compõe as 
comunidades infestantes e, por fim, em suas relações de interferência em relação à 
cultura da cana-de-açúcar. 
 
 
Efeito da palha no comportamento de herbicidas 
 
A camada de palha promoveu alterações na dinâmica dos principais herbicidas 
na cana-de-açúcar que antes eram aplicados diretamente ao solo e que atualmente 
precisam vencer a barreira de palha. VELINI & NEGRISOLI (2000) estudaram a 
interceptação da calda de herbicida pela camada de palha de cana-de-açúcar com 
auxílio de corantes e constataram que 35,5% da calda atingiram o solo coberto com 1,0 
t.ha-1. Para camadas mais espessas, 10 e 15 t.ha-1, a interceptação chegou a atingir 
99,4% e 99,5%, respectivamente. Para a formulação de hexazinone e diuron, VELINI et 
al., (2004) verificaram 39, 33, 14, 4 e 1% de transposição da palha para camadas 
uniformes com 1; 2,5; 5; 7,5; 10; 15 e 20 t.ha-1, respectivamente. Em trabalho 
semelhante, porém para o herbicida diuron, NEGRISOLI et al., (2002) constataram que 
28, 5, 1, 1, 0 e 0% do herbicida passaram diretamente pelas camadas de palha de 
cana-de-açúcar constituídas por 2, 4, 6, 8, 10, 15 e 20 t.ha-1, respectivamente. 
Segundo HERNANDEZ et al., (2001) uma precipitação simulada com 30 mm 
aplicada sobre uma camada de palha equivalente a 12 t.ha-1 após 24 horas da 
aplicação foi suficiente para levar o herbicida imazapic para os primeiros 15 centímetros 
de profundidade e proporcionar controle eficiente das plantas estudadas. 
 9
VELINI et al. (2002 a), estudaram a remoção do herbicida tebuthiuron da palhada 
de cana-de-açúcar tendo como variáveis: (i) duas formulações, Combine 500 SC e 
Perflan 800 BR, (ii) várias espessuras da lâmina d’água aplicada na forma de chuva 
simulada (2,5; 5; 10; 20; 35; 50 e 65 mm após a aplicação e duas outras simulações 
complementares de 20 mm espaçadas de uma semana), (iii) diferentes quantidades de 
palha de cana-de-açúcar sobre o solo (5, 10, 15 e 20 t/ha) e (iv) umidade da palha no 
momento da aplicação (seco e úmido). Observaram que a formulação Combine 500 SC 
permitiu que fosse removido, em média, 25% mais tebuthiuron da palha quando 
comparada à formulação Perflan 800 BR. Entretanto, o pré-molhamento reduziu em 
44%, na média das duas formulações, a remoção do herbicida pela água da chuva 
simulada. Concluíram, ainda, que a partir de 20 mm de chuva houve boa remoção do 
herbicida e que as situações experimentais complementares pouco colaboraram com a 
remoção. Por outro lado, segundo VELINI et al., (2002 b), a aplicação de tebuthiuron 
sobre palha de cana-de-açúcar, seguida por longos períodos sem chuva reduziu a 
liberação deste herbicida para o solo com possível redução de eficiência no controle de 
plantas daninhas. SIGUA et al. (1993), sugerem que a menor lixiviação de atrazina 
quando aplicado em resíduo fresco, com maior teor de água, se deve à maior 
hidrofilicidade deste resíduo em relação aos resíduos envelhecidos. 
MEDEIROS & CHRISTOFFOLETI (2002) estudaram o efeito de diferentes 
quantidades de palha (0, 5, 10 e 15 t.ha-1) e chuva simulada (0, 10, 20, 30, 40 e 50 mm, 
aplicada 24 horas após a aplicação dos herbicidas) sobre o controle de plantas 
daninhas anuais com a mistura formulada dos herbicidas diuron e hexazinone e no 
controle de tiririca com sulfentrazone. Concluíram que a transposição dos herbicidas 
estudados através da palha de cana-de-açúcar aumenta com a ocorrência de chuvas 
acima de 10 mm. 
Em estudo conduzido por NEGRISOLI et al., (2002), o herbicida diuron, aplicado 
sobre uma camada de palha equivalente a 10 t.ha-1 e submetido à precipitação 
simulada na ordem de 2,5; 5; 10; 20; 35; 50 e 65 mm (um dia após a aplicação), 
observaram que, respectivamente, 8%, 19%, 31%, 41%, 50%, 65% e 59% do produto 
transpôs a camada. Em trabalho utilizando metodologia semelhante, com as mesmas 
 10
precipitações, porém para o herbicida atrazina, TOFOLI et al., (2002) determinaram que 
17%, 32%, 50%, 63%, 76%, 86% e 92% do herbicida transpôs camada de palha de 
cana-de-açúcar equivalente a 10 t/ha. 
 
 
Plantas daninhas no agroecossistema cana-crua 
 
Ainda não foi realizado um levantamento abrangente da composição específica 
de plantas daninhas em áreas comerciais de cana-de-açúcar com histórico de colheita 
mecanizada, mas sabe-se que as mudanças advindas da adoção dessa técnica 
promoveram e promoverá alterações. É possível tecer alguns comentários a respeito 
das alterações físicas, químicas e microclimáticas provenientes da adoção deste 
sistema e suas possíveis conseqüências na germinação e estabelecimento de plantas 
daninhas. 
Com a introdução da colheita mecanizada de cana-crua e a conseqüente 
deposição anual e manutenção de uma camada de palha sobre a superfície do solo é 
de se esperar que ocorra um aumento na manifestação do processo alelopático da 
cana-de-açúcar sobre as plantas daninhas (CORREIA et al., 2004 e GRAVENA et al., 
2004). A alelopatia é definida como efeitos prejudiciais das plantas de uma espécie 
vegetal sobre a germinação, crescimento ou desenvolvimento de outras plantas de 
mesma ou de outra espécie por meio da liberação de substâncias químicas no 
ambiente comum (PITELLI, 1985). A decomposição vegetal ocorre pela perda da 
integridade da membrana celular dos resíduos das plantas permitindo a liberação direta 
de uma variedade de compostos, que podem atuar no desenvolvimento das plantas, 
atuando de maneira aditiva ou sinergística com outras substâncias presentes na 
superfície do solo. A atuação dos microorganismos presentes no solo pode induzir a 
produção de compostos tóxicos por degradação enzimática dos conjugados ou 
polímeros presentes nos tecidos (PITELLI, 1998). O isolamento do efeito alelopático 
dos outros processos de interferência vegetal não é uma tarefa fácil, no entanto, a 
potencialização da liberação no ambiente via decomposição de grandes quantidades de 
 11
palha pode elevar a concentração dos compostos com potencial alelopático e exercer 
efeitos significativos de inibição para algumas plantas daninhas. 
O desencadeamento da germinação está atribuído a fatores internos e externos. 
Os principais fatores internos são: permeabilidade da casca da semente, presença de 
inibidores bioquímicos e imaturidade do embrião. Já os fatores externos são: 
disponibilidade de água, temperatura do solo, intensidade e qualidade da luz 
(FERNANDEZ-QUINTANILLA, et al., 1991). As práticas culturais alteram 
substancialmente os fatores externos (condições microclimáticas) daí o grande impacto 
que exercem na composição florística de plantas daninhas. 
A camada de palha mantida neste sistema de colheita funciona como barreira 
física para plântulas em emergência, altera o balanço hídrico, a amplitude térmica da 
superfície do solo, a quantidade e a qualidade da luz que atinge a superfície do solo 
(VELINI & NEGRISOLI, 2000). O balanço desses fatores é essencial para a germinação 
das sementes e para o estabelecimento das plântulas e seus efeitos são diferenciados 
de espécie para espécie e, em vários casos, de semente para semente da mesma 
espécie. 
A barreira física formada pela cobertura morta reduz a oportunidade de 
sobrevivência de plantas daninhas com pequenas quantidades de reservas nas 
sementes. Para algumas espécies, as reservas não são suficientes para garantir a 
sobrevivência das plântulas durante a transposição da camada de palha para ter 
acesso à luz e aumentar o processo fotossintético (PITELLI, 1998). 
Quando se compara com o solo nu, a presença da palha protege a superfície do 
solo da elevação de temperatura durante as horas mais quentes do dia e, em 
contrapartida, durante a noite exerce maior resistência à dissipação de calor retido pelosolo, mantendo a temperatura mais elevada (FENNER, 1980; EGLEY & DUKE 1995). A 
amplitude da variação térmica nas camadas superficiais do solo tende a ser menor sob 
a cobertura da palha. Esse comportamento exerce grande influencia na germinação das 
espécies de plantas daninhas, principalmente daquelas com caráter ruderal mais 
desenvolvido (PITELLI, 1998). 
 12
A disponibilidade de água é um dos fatores mais importantes para o processo de 
germinação das sementes e têm participação decisiva nas reações enzimáticas, na 
solubilização e no transporte de metabólitos e como reagente na digestão hidrolítica de 
proteínas, carboidratos e lipídeos de tecido de reserva. A partir da re-hidratação dos 
tecidos das sementes ocorre intensificação da respiração e de todas as outras 
atividades metabólicas (CASTRO & VIEIRA, 2001). 
A germinação ocorre dentro de certos limites de temperatura, e dentro destes 
limites há um valor ótimo (CASTRO & VIEIRA, 2001), que varia de espécie para 
espécie e muitas vezes de semente para semente dentro da mesma espécie. A 
temperatura influencia a absorção de água e os processos bioquímicos, e, em última 
instância, a velocidade e uniformidade da germinação (CASTRO & VIEIRA, 2001). 
As sementes apresentam respostas diferenciadas em relação ao fator 
luminosidade. De acordo com CASTRO & VIEIRA (2001), as sementes podem ser 
classificadas em três categorias quanto às respostas à luminosidade: fotoblásticas 
positivas, que apresentam maior capacidade de germinação quando expostas à luz; 
fotoblásticas negativas, que germinam melhor no escuro e as fotoblásticas neutras, que 
são indiferentes à presença da luz durante o processo germinativo. É importante 
destacar que estas categorias não são absolutas e estão sujeitas às alterações ao 
longo do tempo. No caso de sementes de plantas daninhas, FELIPE & POLO (1983) 
concluíram que as sementes de Sida rhombifolia e S. spinosus se comportam como 
fotoblásticas positivas, Amaranthus deflexus e Cassia patellaria também se comportam 
como fotoblásticas positivas quando intactas e fotoblásticas neutras quando 
escarificadas. Em trabalho conduzido por SALVADOR et al., (2006 a) sementes de Sida 
glaziovii podem ser fotoblástica negativa, positiva ou indiferente de acordo com as 
condições de temperatura e armazenamento em que são expostas. Num outro trabalho, 
SALVADOR et al., (2006 b) concluíram que as espécies Euphorbia heterophylla, 
Eleusine indica, Ipomoea purpurea, Sida glaziovii e Brachiaria plantaginea 
comportaram-se como indiferentes em relação à presença de luz para germinarem, 
sendo que sementes de Eleusine indica apresentaram velocidade de germinação maior 
no escuro e sementes de Ipomoea purpurea na presença de luz. Por estes resultados, 
 13
pode-se inferir que a resposta à luz pode ser alterada pela ação de outro fator 
ecológico, como a perda da integridade da semente pela ação de um predador ou pela 
temperatura do solo. 
Nos últimos anos alguns trabalhos foram conduzidos em condições controladas 
com o objetivo de estudar a germinação e a emergência das principais plantas daninhas 
da cultura da cana-de-açúcar em função da presença de quantidades variadas de 
cobertura de palha. SILVA et al, (2003) observaram que camadas de palha de até 8 
t.ha-1 retardaram a emissão de manifestações epígeas de tiririca mas não afetaram a 
sua densidade final. Com 16 t.ha-1 de palha houve redução no número de 
manifestações epígeas, no entanto, a massa seca acumulada por estas estruturas e a 
produção de novos tubérculos não foi afetada. Em outro trabalho DURIGAN, et al 
(2004) constatou que a quantidade de 10 t.ha-1 de palha foi suficiente para reduzir a 
emissão de manifestações epígeas, mas não conseguiu impedir a formação de grandes 
densidades de manifestações epígeas no campo. 
AZANIA et al., (2002) constatou que as sementes de Ipomoea quamoclit e 
Merremia cissoides conseguiram emergir sob uma camada de 15 t.ha-1 de palha de 
cana, variedade SP 79-2233, embora sofresse redução de 46% e 62 %, 
respectivamente, de plântulas emergidas quando comparado à ausência de palha. 
Concluíram que, dentre as diferentes espécies estudadas, I. hederifolia foi a menos 
suscetível ao efeito da camada de palha, ao passo que M. cissoides foi a mais 
susceptível. Para Ipomoea grandifolia, MARTINS et al., (1999) obteve redução na 
emergência com uma camada de 15 t.ha-1 de palha e estímulo quando a camada foi de 
2 a 10 t.ha-1. 
GRAVENA et al., (2004), em estudo conduzido em mesocosmos observou que a 
camada de palha, por si só, reduziu as densidades das populações de Brachiaria 
plantaginea, Digitaria horizontalis, Panicum maximum, Sida glaziovii e Amaranthus 
hibridus a níveis de infestação considerados baixos, quando comparados com a 
testemunha sem cobertura. Por outro lado, para Senna obtusifolia, Ipomoea nil, 
Ipomoea hederifolia e Ipomoea grandifolia, a população de plântulas foi reduzida, porém 
para níveis ainda considerados insatisfatórios. CORREIA & DURIGAN, (2004) 
 14
verificaram que camadas de palha com 5, 10 e 15 t.ha-1 inibiram a emergência de 
plântulas das espécies Brachiaria decumbens e Sida spinosa. Para a espécie Digitaria 
horizontalis a inibição somente ocorreu com camada igual ou superior a 10 t.ha-1. 
Resultados obtidos por ROSSI et al. (2006), em dois experimentos conduzidos 
no campo, demonstraram que na presença de palha de cana (7,5 e 15 t.ha-1) as 
sementes de Brachiaria plantaginea, Panicum maximum e Commelina benghalensis 
não germinaram. Com 15 t.ha-1 ocorreu inibição da germinação de Brachiaria 
decumbens e Ipomoea quamoclit, porém, Euphorbia heterophylla, Ipomoea nil e 
Ipomoea grandifolia continuaram geminando, embora em menores quantidades em 
relação ao solo nú. 
 
 
Banco de sementes de plantas daninhas 
 
O banco de sementes foi definido como sendo a reserva de sementes viáveis em 
contato com o solo (ROBERTS, 1981). O banco de sementes é o responsável pela 
reposição de plantas mortas naturalmente ou devido a distúrbios impostos ao ambiente 
(BAKER, 1989). Segundo CARMONA (1992), o termo banco de sementes tem sido 
usado na literatura internacional para descrever o montante de sementes viáveis e 
outras estruturas de propagação presentes no solo ou nos restos vegetais. 
A magnitude e as composições botânicas do banco de sementes são variáveis 
em função dos distintos habitats (CARMONA, 1992). Para áreas cultivadas, FENNER 
(1995) estimou uma variação no tamanho do banco de sementes entre 20.000 e 40.000 
sementes.m-2. CARMONA (1995) realizou estimativas das magnitudes dos bancos de 
sementes para área de rotação de culturas anuais (6.768 sementes.m-2), várzea 
(22.313 sementes.m-2), coroa de pomar de citros (3.595 sementes.m-2) e para área de 
pastagem (529 sementes.m-2). O autor associou as diferenças de quantidade de 
sementes à freqüência de distúrbios aplicados ao ambiente, inserindo no extremo 
superior a várzea cultivada e no inferior a pastagem. 
 15
A composição do banco de sementes é influenciada pelas práticas culturais e 
varia com o sistema agrícola empregado (BENOIT et al., 1992) e geralmente são 
compostos por várias espécies, porém, com poucas espécies dominantes que 
abrangem entre 70 a 90% do total presente no solo (WILSON 1988). 
O banco de sementes apresenta mecanismos de entrada e saída de indivíduos. 
A entrada de sementes no solo pode ocorrer de duas maneiras: (i) pela produção e 
chuva de sementes oriundas das plantas presentes na área, ou (ii) pela introdução de 
sementes originárias de outras áreas por agentes de dispersão. Os principais 
mecanismos de saída são; (i) germinação, (ii) morte, e (iii) transporte por agentes de 
dispersão (CARMONA 1992). As estratégias de manejo da cultura e de controle das 
plantas daninhas alteram de forma decisiva as dinâmicas de entrada e saída de 
sementes no banco, influenciando a médio e longo prazo na composição de espécies e 
densidadespopulacionais. 
A composição do banco de sementes de plantas daninhas, bem como a 
distribuição no perfil do solo reflete parcialmente o histórico da ocupação da área, 
principalmente quanto às medidas de controle e às práticas agrícolas adotadas ao 
longo do tempo. Isso porque a grande maioria das plantas daninhas produz sementes 
com diferentes tipos e intensidades de dormência. Quando são lançadas ao solo, o 
enriquece de sementes com diferentes comportamentos em relação à germinação e 
emergência. Assim, uma parte das sementes não germina imediatamente, apresentam 
grande longevidade e podem permanecer por longos períodos no solo aguardando as 
condições requeridas para a germinação. O banco de sementes é composto por uma 
mistura de sementes de idades distintas, acumuladas durante vários anos, indicando as 
espécies do passado e do presente (GRIME, 1989). Em trabalho conduzido por TOOLE 
& BROWN (1946), mesmo depois de 38 anos enterradas no solo, trinta e seis espécies 
de plantas daninhas, dentre as 106 espécies que iniciaram o experimento, 
apresentaram sementes viáveis. 
Entre os fatores culturais que podem afetam o banco de sementes e que são 
alterados com a adoção do sistema de colheita de cana-crua em substituição à colheita 
 16
manual queimada estão: revolvimento do solo, cobertura do solo e a eliminação da 
queimada. 
As principais pesquisas que tratam do tema banco de sementes procuram 
quantificar e determinar a suas composições específicas (CARMONA, 1992; FENNER, 
1995), estudar os efeitos dos fatores naturais ou decorrentes de alterações promovidas 
por práticas agrícolas adotadas (STARICKA et al., 1990; CLEMENTS et al., 1996; 
BUHLER et al., 1997), inclusive dos métodos de controle empregados, incluindo 
herbicidas (BALL, 1992; MONQUERO & CHRISTOFFOLETI, 2003) e por fim aplicar o 
conhecimento de sua composição e distribuição na tomada de decisões quanto ao 
método e intensidade de controle a ser empregado na área (SHIRATSUCHI & 
CHRISTOFFOLETI, 2002; BAIO 2001 e ESQUERDO, 2002). 
O banco de semente do solo pode ser utilizado para estudar as relações 
quantitativas entre a sua densidade e composição e a da flora infestante (DESSAINT et 
al., 1990; GRANADOS & TORRES, 1993), mas uma estimativa segura nem sempre é 
obtida devido aos diversos fatores que estão envolvidos no processo de germinação e 
emergência da plântula e ao padrão agregado da distribuição geográfica das 
populações. As melhores estimativas têm sido obtidas quando as parcelas são 
pequenas ou quando as distâncias entre os pontos de coleta de amostra são reduzidas, 
ou seja, existe uma grande dependência espacial. 
Uma análise de correlação utilizada para verificar se o banco de sementes 
estimou com segurança a composição de plantas estabelecidas é a correlação de 
“Spearman Rank” utilizado por CARDINA et al., 1996; CARDINA & SPARROW 1996 e 
SHIRATSUCHI, 2001. O teste de Spearman Rank analisa a hipótese da nulidade de 
que as ordens dos dados não possuem correlação. De acordo com STEEL & TORRIE 
(1980) e CARDINA (1996) esse tipo de correlação é o mais apropriado para dados que 
não possuem distribuição normal, como normalmente acontece para dados de banco de 
sementes de plantas daninhas e de emergência de plantas no campo (JOHNSON et al., 
1996; ZANIN et al., 1998 e HEISEL et al., 1996). Este teste é semelhante à análise de 
correlação linear de Pearson; porém, o teste de Spearman Rank ordena (ranqueia) os 
dados amostrados e correlacionam as ordens dos dados (STEEL & TORRIE, 1980). O 
 17
teste considera, portanto, a composição especifica e a ordem de grandeza das 
populações, pois quanto maior a população de plantas no campo será esperada uma 
maior presença de suas sementes nas amostras de solo coletadas para avaliação do 
banco de sementes. 
No sistema de colheita mecanizada de cana-crua ocorre menor movimentação 
do solo, pois as operações de adubação não são acompanhadas da operação de 
cultivo mecânico do solo e a movimentação do solo é mínima. YENISH et al., 1992 
estudou esses efeitos em agroecossistemas de culturas anuais e obteve redução 
logarítmica no número de sementes com o aumento da profundidade em sistema de 
plantio direto e linear em sistema de cultivo mínimo. CLEMENTS et al., 1996 
encontraram mais de 60% do total do banco de sementes concentrado em 
profundidades de até 5 cm em solos com cultivo mínimo ou sem cultivo. As sementes 
localizadas na superfície ficam mais expostas à predação (CARMONA, 1992 e YENISH 
et al., 1992) e ficam mais sujeitas às variações de temperatura e umidade, auxiliando na 
quebra da dormência. 
 
 
Índices fitossociológicos 
 
A composição da comunidade de plantas daninhas em um agroecossistema é 
dependente das características de solo, clima e das práticas agronômicas, tais como o 
manejo de solo e aplicação de herbicidas (GODOY et al, 1995; VOLL et al., 2001). 
Segundo PITELLI (2000), os índices fitossociológicos são importantes para 
analisar os impactos que os sistemas de manejo e as práticas agrícolas exercem sobre 
a dinâmica de crescimento e ocupação de comunidades infestantes em 
agroecossistemas. Esses índices são determinados levando-se em conta a densidade, 
distribuição espacial e a biomassa das populações presentes. A densidade relativa 
reflete a participação numérica de indivíduos de uma determinada espécie na 
comunidade; a freqüência expressa a uniformidade de distribuição espacial das 
populações; a dominância relativa representa a relevância de uma espécie em termos 
 18
da massa global da comunidade infestante e a importância relativa é uma análise 
ponderada dos três índices anteriores e indica as espécies mais importantes em termos 
de infestação numa cultura. 
Numa comunidade de plantas daninhas, nem todas as espécies têm a mesma 
importância ou participação na interferência imposta ao desenvolvimento e 
produtividade da cultura. Normalmente existem três ou quatro espécies dominantes, 
que ocasionam a maior parte dos danos. Além dessas espécies existem as 
secundárias, presentes numa menor densidade e cobertura e as acompanhantes, cuja 
presença é ocasional e, portanto, não resultam em problemas econômicos aos cultivos 
(FERNÁNDEZ-QUINTANILLA et al., 1991). 
As composições específicas de comunidades infestantes de diferentes locais 
podem ser comparadas utilizando-se o coeficiente de similaridade de Odum (ODUM, 
1985), que considera o número de espécies de duas diferentes aéreas e o número de 
espécies comuns. Este índice permite comparar as áreas duas a duas quanto à 
composição florística, possibilitando a recomendação de tratamentos comuns ou 
específicos para cada um dos talhões (MACEDO et al 2003). O coeficiente de 
similaridade varia de 0 a 1, sendo máximo quando todas as espécies são comuns as 
duas áreas e mínimo quando não há espécies comuns. 
Alguns trabalhos têm se dedicado à caracterização e comparação de áreas 
agrícolas quanto à composição específica da comunidade de plantas daninhas por meio 
dos índices fitossociológicos como são os casos dos trabalhos de MACEDO et al., 
(2003), em áreas de pós-colheita de milho; SOUZA et al., (2003) em áreas de 
cupuazeiro e pupunheira; CARVALHO & PITELLI (1992); LARA et al., (2003) e TUFFI 
SANTOS, et al., (2004) em áreas de pastagens e ERASMO et al., (2004) em várzeas 
destinadas ao cultivo de arroz sob diferentes formas de manejo. 
JEKELAITIS et al., (2003) utilizaram os índices fitossociológicos para comparar 
as composições específicas de comunidades infestantes da cultura do milho e também 
para estudar a dinâmica populacional na cultura do milho e do feijão sob diferentes 
sistemas de plantio direto e convencional. 
 19
Esses índices caracterizam as áreas quanto à densidade, freqüência e acúmulo 
de massa pelas diferentes espécies, mas não fornece informação de como suas 
populações estão distribuídas nas áreas. Essa idéia pode ser dada em função do índice 
de agregaçãocalculado pelo quociente entre a variância e a média (ODUM, 1985). 
Segundo DESSAINT et al., (1991) o valor da variância sobre a média dos dados mede 
o desvio da unidade, ou seja, valores maiores que a unidade indica um padrão de 
agregação espacial. Sendo assim, podem ser identificados três padrões básicos de 
distribuição de indivíduos; uniforme, aleatório e agregado. O padrão agregado pode ser 
desmembrado em agregado-aleatório quando os grupos formados se distribuem 
aleatoriamente, agregado-uniforme, quando os grupos estão distribuídos 
uniformemente e agregado-agregado quando os grupos estão concentrados numa 
região (ODUM, 1985). A amostragem realizada em populações agregadas deve ser 
mais criteriosa do que em populações uniformemente distribuídas. No caso específico 
para comunidades de plantas daninhas o mais comum é que a distribuição apresente 
padrão agregado com diferentes índices de agregação (RADOSEVICH & HOLT, 1984). 
O padrão agregado que as populações ou comunidades de plantas daninhas 
apresentam, em alguns casos podem ser explorados para adoção de aplicação 
localizada ou diferencial de herbicidas mediante geração de mapas de distribuição e 
desenvolvimento de tecnologias de aplicação adequadas. SHIRATSUCHI (2001) 
utilizou o índice de agregação para obter um indicativo de agregação espacial de 
plantas daninhas na cultura da soja e obteve valores elevados para as principais 
espécies ou grupo de espécies. Por meio de técnicas da geoestatística confeccionou 
mapas de classes de infestação e obteve uma economia de 22% em herbicidas 
aplicando de forma diferencial, baseando-se no banco de sementes e de 18% e 44% 
baseando-se em plantas emergidas. BAIO (2000) avaliou metodologias para obtenção 
de mapas de distribuição das plantas daninhas. Baseando-se na variabilidade espacial 
das plantas daninhas mapeadas criou um mapa de prescrição com quatro dosagens 
diferentes de herbicidas e obteve controle satisfatório das mesmas com uma economia 
de 31,6% de herbicida, quando comparado à aplicação em área total. Segundo trabalho 
conduzido por ESQUERDO (2002) obteve-se redução de 69,52% na quantidade de 
 20
herbicida utilizado com a aplicação localizada numa área comercial de 4,1 ha 
baseando-se em mapas de distribuição de plantas daninhas cujo padrão era 
extremamente agregado. No exterior, vários trabalhos se dedicaram à geração de 
mapas de distribuição de plantas daninhas sustentados no banco de sementes 
(BENOIT et al., 1992), na flora de plântulas emergentes (CARDINA et al., 1997 e 
JOHNSON, et al., 1996) ou buscando verificar a correspondência entre mapas de 
distribuição horizontal de sementes e de flora emergente (CARDINA et al., 1996). 
 
 
Análise multivariada 
 
Os dados coletados num experimento servem para caracterizar um objeto de 
estudo, o que é relativamente simples quando o número de variáveis é pequeno. 
Porém, a maioria dos objetos de estudo está inserida num universo multivariado e a 
questão que surge é, como interpreta-las e extrair informação relevante (STATSOFT 
SOUTH AMERICA, 2006). 
A padronização é uma capacidade única dos seres humanos e esse processo é 
complexo, levando cientistas a buscar o desenvolvimento de metodologias matemáticas 
que permitam reconhecer padrões num conjunto de dados, uma vez que a capacidade 
humana de identificação por reconhecimento visual vai até a terceira dimensão. A 
questão fundamental reside em transformar informação m-dimencional em tri ou 
bidimensional. Isto pode ser feito através de várias técnicas entre as quais: Análise de 
Agrupamentos, Análise de Correspondência e Análise de correspondência Canônica 
(STATSOFT SOUTH AMERICA, 2006). 
A análise de agrupamento tem por finalidade reunir, por algum critério de 
classificação, os objetos de estudo em grupos, de tal forma que exista máxima 
homogeneidade dentro do grupo e máxima heterogeneidade entre grupos. Após terem 
sido escolhidas as variáveis, três procedimentos devem ser seguidos: padronização dos 
dados, escolha do coeficiente de semelhança e escolha da estratégia de agrupamento 
(STATSOFT SOUTH AMERICA, 2006). 
 21
A padronização dos dados elimina o efeito arbitrário que alguns atributos podem 
empreender no grau de similaridade entre objetos, fazendo com que esses atributos 
contribuam com o mesmo peso no cálculo do coeficiente de similaridade entre objetos. 
A escolha de um coeficiente que quantifique o quanto dois objetos são parecidos é o 
segundo passo da análise de agrupamento. Estes coeficientes podem ser medidas de 
similaridade e medidas de dissimilaridade. Na primeira, quanto maior o valor observado, 
mais similar serão os objetos e na segunda, quanto menor o valor mais similar serão os 
objetos. A distância euclidiana é, provavelmente, o coeficiente mais utilizado e 
corresponde à distância geométrica num espaço m-dimensional, entre dois objetos A e 
B, calculado pela seguinte fórmula matemática. 
 
22
22
2
11 )(...)()( mBmABABAAB XXXXXXd −++−+−= 
 
Dentre as estratégias de agrupamentos mais freqüentes utilizados, destacam-se 
aqueles que se caracterizam por serem seqüenciais, aglomerativos, hierárquicos e sem 
sobreposição. Os métodos mais utilizados são: Ligação simples, que considera a menor 
distância; Ligação completa, que considera a distância máxima; UPGMA, que considera 
a média das distâncias entre todos os pares de um grupo com o outro e o Método de 
Ward’s, que busca minimizar o soma das diferenças entre os elementos de cada grupo 
e o valor médio do grupo. A representação dos resultados da análise de agrupamento é 
feita num gráfico com uma estrutura de árvore denominado dendrograma (STATSOFT 
SOUTH AMERICA, 2006). 
Em ciências agrárias essa técnica pode perfeitamente ser empregada, entretanto 
poucos são os trabalhos que a utilizaram. No Brasil, tem sido utilizado na área florestal 
para padronização de estratos verticais de florestas (SOUZA et al., 2003; SOUZA & 
SOUZA, 2004), e para análise de divergência genética de culturas (OLIVEIRA et al., 
2003; KARASAWA et al., 2005 e SOUZA et al., 2005) e plantas daninhas resistentes a 
herbicidas (WINKLER et al., 2003). 
 22
A análise de correspondência é um importante recurso de análise multivariada 
aplicada em conjunto de dados estritamente categóricos, por sua flexibilidade e 
facilidade de interpretação (CUNHA JÚNIOR, 2000). Pertence a um conjunto de 
técnicas associadas a mapas perceptuais/intuitivos, que segundo HAIR et al., (1995) 
são representações visuais de objetos de um indivíduo em duas ou mais dimensões. Os 
objetos a serem avaliados podem ser definidos, segundo HAIR et al., (1995) como os 
estímulos aos quais se expõe um indivíduo que podem ser avaliados e comparados. 
Tais estímulos (ou objetos) podem ser elementos tangíveis (produtos ou objetos 
físicos), sensoriais (odores, sabores, temperaturas) e, mesmo, pensamentos (idéias, 
slogans e preferências). 
A análise de correspondência é especialmente indicada para descrever matrizes 
com grande volume de dados discretos e sem uma estrutura claramente definida a 
priori. Este método permite a visualização das relações mais importantes de um grande 
conjunto de variáveis. Os resultados são apresentados sob forma de gráficos, que 
apresentam categorias de cada variável possibilitando observar as relações através da 
distância entre os pontos desenhados. 
As categorias com localização próxima na projeção plana têm relação mais forte 
do que categorias separadas por distâncias maiores. Qualquer categoria, representada 
como um ponto na projeção plana pode ser analisado em separado e caracterizada 
segundo a proximidade das projeções de todas as outras categorias sobre uma reta 
que ligue seu ponto característico à origem dos eixos do plano de projeção. Quando 
categorias de uma mesma variável encontram-se em posições próximas no mapa da 
análise de correspondência, isto sugere que, independentemente de seus conteúdossemânticos, elas podem ser consideradas iguais no que tange a distribuição de massas 
do total das observações realizadas (BATISTA et al., 2004). 
 
 
 
 
 23
CAPÍTULO 2 - BANCO DE SEMENTES DE PLANTAS DANINHAS E SUA 
CORRELAÇÃO COM A FLORA ESTABELECIDA NO AGROECOSSISTEMA CANA-
CRUA 
 
 
RESUMO – O conhecimento da composição específica do banco de sementes, 
sua distribuição horizontal e a correlação com a flora emergente são importantes para 
nortear a escolha dos herbicidas e a distribuição da aplicação dos mesmos nos talhões. 
A colheita mecanizada de cana-de-açúcar acarretou em mudanças significativas neste 
agroecossistema, quando proporcionou a manutenção de uma camada de palha, 
reduziu a movimentação do solo e eliminou a queimada. Essas alterações refletiram 
nas condições microclimáticas e, consequentemente, na composição da flora de plantas 
daninhas e do banco de sementes. Durante parte da safra 2004 foram realizados 
levantamentos do banco de sementes e da flora emergida em talhões colhidos 
mecanicamente, sem queima prévia da palha. Foram realizados estudos 
fitossociológicos baseados nos dados de banco de sementes, além de estudo de 
correlações com a flora emergida presente aos 120 dias após a colheita (DAC). As 
principais espécies presentes no banco foram as pertencentes à classe das 
dicotiledôneas anuais, com destaque para o Amaranthus spp., diversas Euphorbiáceas 
e Convolvuláceas. As sementes de gramíneas tradicionais da cultura tiveram pouca 
participação. Para as principais espécies ou grupo de espécies a distribuição horizontal 
foi aleatória ou agregada (V/m > 1,00), mas com valores relativamente baixos de 
agregação. O banco de sementes teve baixa correlação com a flora emergente, 
independentemente da época de colheita do talhão, da metodologia de quantificação do 
banco de sementes e das espécies de plantas daninha. 
 
 
Palavras-chave: Correlação de Spearman Rank, Fitossociologia, Índice de agregação, 
Saccharum spp. 
 24
Introdução 
 
Muitos são os conceitos encontrados na literatura para tentar definir o banco de 
sementes no solo. ROBERTS (1981) o definiu como sendo a reserva de sementes 
viáveis encontradas no solo. Esta reserva é um somatório de sementes produzidas e 
introduzidas no solo ao longo do tempo através da “chuva de sementes” e que se 
mantiveram vivas e dormentes, com sementes recém produzidas. Sendo assim, a 
composição do banco de sementes no agroecossistema cana-de-açúcar contém 
representantes que predominavam em sistemas anteriores de cultivo da própria cana-
de-açúcar ou associados a culturas anteriores. Isso ocorre porque a maioria das 
espécies de plantas daninhas possui adaptação para produzir grande número de 
sementes (DEUBER, 1992), que muitas vezes apresentam grande longevidade 
(BURNSIDE et al., 1986) e ainda apresentam mecanismos de dormência, distribuindo a 
germinação no tempo (CARMONA, 1992). 
O tamanho e a composição botânica do banco de sementes são variáveis em 
distintos habitats (CARMONA, 1992). Para áreas cultivadas FENNER (1995) estimou 
em 20.000 a 40.000 o número de sementes por metro quadrado. A composição do 
banco de sementes é influenciada pelas práticas culturais e varia de sistema para 
sistema (BENOIT et al., 1992). Geralmente são compostos por várias espécies, mas 
poucas são as dominantes (WILSON, 1998). 
O banco de sementes apresenta mecanismos de entrada e saída. A entrada de 
sementes no solo de uma determinada área pode ocorrer de duas maneiras: (i) 
produção e chuva de sementes oriundas das plantas presentes, ou (ii) introdução de 
sementes originárias de outras áreas por agentes de dispersão. Por outro lado os 
principais mecanismos de saída são; (i) processo de germinação, (ii) morte, (iii) 
predação e (iv) transporte por agentes de dispersão (CARMONA, 1992). As práticas de 
manejo de plantas daninhas bem como as práticas culturais adotadas no manejo da 
cana-de-açúcar, de um modo geral atuam e alteram a dinâmica de entrada e saída de 
sementes no banco, refletindo a médio e longo prazo na composição de espécies. 
 25
O sistema de cana-crua, cuja implantação se iniciou há mais de vinte anos, 
trouxe algumas modificações importantes no que se refere às plantas daninhas: (I) - 
reduziu a movimentação do solo; (II) – introduziu a colhedeira como agente 
disseminador; (III) – eliminou o distúrbio pela queimada e (IV) – proporcionou a 
manutenção de uma camada de palha sobre o solo. 
A redução na movimentação do solo pelo uso de cultivadores reduziu a 
incorporação de sementes recém produzidas no solo e o resgate de sementes de 
outras gerações para a superfície. Com a eliminação desse efeito, as sementes ficam 
mais sujeitas ao desencadeamento da germinação, à predação e à perda de viabilidade 
(YENISH et al, 1992). 
A manutenção de uma camada de palha, por sua vez, acarreta em grandes 
transformações no sistema. Alteram a dinâmica dos principais herbicidas utilizados na 
cultura da cana-de-açúcar (HERNANDEZ et al., 2001; VELINI & NEGRISOLI, 2000; 
NEGRISOLI, 2002; VELINI et al., 2004), funcionam como barreira física à emergência, 
modificam importantes elementos microclimáticos, a composição microbiológica e o 
meio químico (PITELLI, 1998). 
O objetivo deste trabalho foi avaliar a composição específica do banco de 
sementes de plantas daninhas em áreas ocupadas pela cultura da cana-de-açúcar e a 
sua correlação com a flora de plantas daninhas, que se estabeleceu em canaviais com 
histórico de colheita mecanizada sem queima prévia da palha. 
 
 
Material e Métodos 
 
Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos durante a safra de 2004, em 
vinte e nove talhões de cana-soca com histórico de colheita mecanizada sem queima 
prévia da palha, localizados em usinas e fornecedores da região de Ribeirão Preto, SP. 
Esses talhões foram separados em três grupos em função da época de corte. O 
primeiro grupo composto por talhões colhidos durante o mês de julho (Época 1 ); o 
segundo por talhões colhidos a partir da segunda quinzena de agosto até meados de 
 26
setembro (Época 2) e o terceiro por aqueles colhidos nos meses de outubro e 
novembro (Época 3). Os talhões estudados, bem como as datas da realização das 
colheitas e as informações mais importantes encontram-se também no anexo 1. Os 
elementos meteorológicos registrados durante o período de coleta dos dados foram 
extraídos de um conjunto de dados pertencentes ao acervo da área de 
Agrometeorologia do Departamento de Ciências Exatas (Unesp – Jaboticabal) e 
encontram-se sumarizadas no anexo 2. 
Logo após o corte, cada talhão teve seu perímetro geoferenciado (GPS Garmim 
12; Software GPS Track maker) e, quando necessário, foi limitado ao tamanho máximo 
de cinco hectares, e serviram como área de coleta de amostras para avaliação do 
banco de sementes e da flora emergida aos 120 DAC. 
As amostras para avaliação do banco de sementes foram coletadas logo após o 
corte e foram compostas por 50 sub-amostras cilíndricas (5 cm de diâmetro por 10 de 
profundidade), coletadas dentro de cada hectare, ao redor de cinco pontos diferentes, 
também georeferenciados (10 sub-amostras por ponto). As sub-amostras foram 
coletadas dentro de um raio de 10 metros dos pontos e, após a homogeneização, foram 
retirados amostras de 2,5 kg.ha-1 que foram destinadas ao Laboratório de Biologia e 
Manejo de Plantas Daninhas (Unesp - Jaboticabal). No laboratório foi feita a contagem 
direta de sementes pelo método da extração (lavagem do solo) e contagem de plântulas 
emergidas em bandejas (três fluxos de emergência e contagem das sementes 
restantes), segundo metodologia proposta por FORCELLA (1988). Com os dados 
obtidos foram realizados estudos fitossociológicos sendo calculados os seguintes 
índices: densidade relativa (De.R), freqüência relativa (Fr.R.), importância relativa (I.R.) 
e índice de agregação (V/m), utilizando fórmulas contidas em MUELLER DOMBOIS &ELLENBERG (1974). Com os valores das importâncias relativas das espécies 
acumuladas nas vinte e nove áreas monitoradas, foi elaborado um “ranking” das 
principais espécies quanto à presença de sementes no solo. 
A flora emergente foi avaliada aos 120 dias após o corte da cana (DAC) para 
estudar a correlação com o banco de sementes. Foi determinada a densidade das 
espécies que a compuseram em cada um dos talhões, exceto no USB-30, que por 
 27
engano sofreu aplicação de herbicida em área total. Para isso, nos vinte e oito talhões 
foram demarcadas áreas que ficaram livres da aplicação de herbicidas e que serviram 
de local para a realização das amostragens. Para cada talhão estudado essas áreas 
foram locadas aleatoriamente, na proporção de duas a cada hectare, e consistiram de 
áreas retangulares (4 linhas x 4 metros). A flora emergida foi avaliada, por meio de 
quadrados vazados de 0,5 x 0,5 m lançados ao acaso por duas vezes nas entre-linhas 
da cultura dentro de cada área demarcada mantida sem controle. As plantas abrangidas 
pelo quadrado foram identificadas e contadas, sendo consideradas somente plantas 
propagadas por sementes. A correlação entre a composição específica do banco de 
sementes e da flora emergente estabelecida nas áreas foi estudada pela correlação de 
Spearman Rank, conforme SHIRATSUCHI (2001) e CARDINA et al., (1996) e pelos 
coeficientes de similaridade de Odum calculados pela formula: 
 
S = (2A/(B+C))*100 onde: 
 
A = número de espécies comuns entre banco de sementes e flora emergida aos 120 
DAC 
B = número de espécies do banco de sementes 
C = número de espécies na flora emergida aos 120 DAC 
 
 
Resultados e discussão 
 
Analisando a composição do banco de sementes nos primeiros 10 cm de 
profundidade das áreas estudadas, foram encontradas sementes de 33 espécies de 
plantas daninhas (Tabela 1). Outras estruturas de reprodução, tais como, tubérculos e 
rizomas que normalmente não são detectados por esse tipo de amostragem não foram 
encontrados, o que justifica a ausência ou o pouco destaque para espécies 
sabidamente importantes na cultura como Cynodon dactylon e Cyperus rotundus na 
relação de espécies encontradas. 
 28
Tabela 1. Relação de espécies ou gênero cujas sementes foram encontradas durante 
as avaliações nos talhões estudados. Jaboticabal, 2006. 
Nome científico Código* Nome científico Código 
Acanthospermum 
hispidum 
ACNHI Emilia sonchifolia EMISO 
Ageratum conyzoides AGECO Euphorbia heterophylla EPHHL 
Alternanthera tenella ALRTE Cassia patellaria CASPA 
Amaranthus spp. AMASS Indigofera hirsuta INDHI 
Bidens pilosa BIDPI Ipomoea grandifolia IAOGR 
Blainvillea rhomboidea BLARH Ipomoea hederifolia IPOHF 
Brachiaria decumbens BRADC Ipomoea quamoclit IPOQU 
Brachiaria plantaginea BRAPL Lepidum virginicum LEPVI 
Chamaesyce hirta EPHHI Nicandra physaloides NICPH 
Chamaesyce hyssopifolia EPHHS Panicum maximum PANMA 
Commelina benghalensis COMBE Phyllanthus tenellus PYLTE 
Croton glandulosus CVNGL Physalis angulata PHYAN 
Cyperus spp CYPSS Portulaca oleraceae POROL 
Cyperus rotundus CYPRO Sida spp. SIDSS 
Digitaria insularis DIGIN Solanum americanum SOLAM 
Digitaria spp. DIGSS Tridax procumens TRQPR 
Eleusine indica ELEIN --- --- 
* código internacional Bayer 
 
Considerando sementes de todas as espécies encontradas e todos os talhões 
estudados, o banco de sementes apresentou, em média, aproximadamente 350 
sementes.m-2 nos primeiros dez centímetros do solo (Tabela 2). Para Amaranthus spp., 
cujas sementes foram as mais numerosas e freqüentes, observou-se, em média 167 
sementes.m-2. Já para as duas espécies de corda-de-viola, Ipomoea hederifolia e I. 
quamoclit a quantidade de sementes encontradas foi, em media, 83,3 e 38,4 
sementes.m-2, respectivamente. Para as demais espécies que se destacaram, os 
números podem ser vistos na Tabela 2. Os valores apresentados não representam o 
potencial de infestação imediato do talhão, pois englobam sementes provenientes da 
contagem direta e contabilizam também as sementes que originaram plântulas pelo 
método do fluxo de emergência, ou seja, sementes dormentes foram contabilizadas. O 
valor médio obtido ficou bem abaixo daqueles obtidos por CARMONA (1995) para área 
de rotação de culturas anuais (6.768 sementes.m-2), várzea (22.313 sementes.m-2) e 
coroa de pomar de citros (3.595 sementes.m-2) e pouco abaixo do obtido para área de 
 29
pastagem (529 sementes.m-2). O autor associou o gradiente de quantidade de 
sementes à freqüência de distúrbios, inserindo no extremo superior a várzea e no 
inferior a pastagem. Não há um levantamento abrangente de banco de sementes em 
áreas de colheita de cana queimada e corte manual seguida de cultivo mecânico com 
implementos tradicionais que realizam movimentação do solo, que possa fornecer um 
valor médio do tamanho do banco de sementes nestas áreas. Mas, é bastante claro que 
há uma redução na freqüência de distúrbio quando se adota a colheita mecanizada, 
pois a queimada é eliminada e a movimentação do solo reduzida. 
Nos sistemas com movimentação vertical do solo reduzido as sementes tendem 
a se concentrar nas camadas superficiais do solo e na presença da camada de palha, 
parte das sementes recém produzidas fica nela retidas. Como as sub-amostras 
atingiram até dez centímetros de profundidade e foram coletadas mediante afastamento 
da palha os valores obtidos podem estar subestimados o que justifica a baixa 
densidade média obtida. 
Os resultados de densidade relativa (De.R.) e freqüência relativa (Fr.R.) foram 
utilizados para o cálculo da Importância relativa (I.R.) e não são apresentados 
individualmente, pois estão, de certa forma contidos neste último índice. A participação, 
em termos de importância relativa, de cada espécie na composição do banco de 
sementes foi variável de talhão para talhão. Analisando a relação das quatro principais 
espécies encontradas em cada talhão (Tabela 3) constatou-se predominância de 
sementes de plantas daninhas anuais dicotiledôneas, dentre as quais; Amaranthus 
spp., Portulaca oleraceae, Ipomoea spp., Euphorbia heterophylla, Sida spp., 
Chamaesyce hyssopifolia e Croton glandulosus. 
As sementes de Amaranthus spp. foram encontradas em vinte dos vinte e nove 
talhões estudados, sendo que em nove talhões foi o principal componente do banco em 
função da importância relativa. As diversas espécies de caruru estão entre aquelas que 
mais produzem descendentes (DEUBER, 1992), as quais apresentam dormência, 
distribuindo sua germinação ao longo de vários anos. 
Dentre as espécies de corda-de-viola, destacaram-se Ipomoea hederifolia e 
Ipomoea quamoclit, sendo que a primeira figurou entre as principais em onze talhões, 
 30
sendo quatro como a principal espécie. Essas espécies produzem grandes quantidades 
de sementes e, por serem relativamente grandes, possuem reserva suficiente para 
nutrir as plântulas durante a passagem através da camada de palha. Além disso, em 
várias ocasiões, os frutos com as sementes se mantêm ligados às plantas até a época 
da colheita e a passagem da colhedeira auxilia na sua disseminação a distâncias 
maiores. 
 31
Tabela 2. Estimativa da quantidade de sementes por m2 das principais espécies ou grupo de plantas que compuseram o 
banco de sementes dos talhões estudados. Jaboticabal, 2006. 
ÁREA Amaranthus SP. 
Ipomoea 
hederifolia 
Ipomoea 
quamoclit Sida spp. 
Cyperus 
spp* 
Cassia 
patellaria Digitaria spp. 
Panicum 
maximum 
Brachiaria 
plantaginea OUTRAS TOTAL 
FSI-1 123,2 11,2 112,0 11,2 11,2 56,0 324,8 
FBV-2 89,6 33,6 22,4 11,2 67,2 224,0 
NSF-3 56,0 18,6 74,6 
FSC-4 11,2 11,2 67,2 44,8 89,6 369,6 604,8 
FBV-5 168 257,6 78,0 11,2 22,4 11,2 11,2 44,8 604,8 
UDP-6 140,0 70,0 42,0 28,0 280,0 
UAN-7 56,0 112,0 56,0 112,0 28,0 392,0 756,0 
FSI-8 201,6 112,0 22,4 11,2 44,8 0 392,0 
FSI-9 1120 11,2 67,2 11,2 44,8 78,4 56,0 257,6 1.646,4 
USB-10 33,6 44,8 123,2

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