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Análise da utilização do ciclo PDCA de melhorias para aumento da vantagem competitiva: O caso de uma mineradora localizada em Minas Gerais. Douglas Machado Zanim - (UFOP) – douglaszanim@yahoo.com.br Zirlene Santos – (UFOP) – santoszirlene@em.ufop.br Resumo: O presente trabalho é um estudo feito em uma mineradora de grande porte localizada em Minas Gerais. A empresa em seu planejamento estratégico sempre buscou possuir o maior número de vantagens competitivas em todos os setores, utilizando o ciclo PDCA de melhorias como técnica principal. Por ser 100% exportadora de seus produtos, seus clientes são muito exigentes no quesito qualidade.Pensando em atender esse quesito implantou-se um programa de qualidade total onde há a utilização de muitas ferramentas de qualidade que associadas geraram algumas metodologias de trabalho. Entre elas pode-se destacar o MASPET, mesmo conceito de MASP onde o diferencial está na inclusão do termo envolvimento de todos como uma ideologia da organização. Este artigo irá descrever os principais conceitos de qualidade e vantagem competitiva, em seguida será apresentado o MASPET, assim como as vantagens em se utilizar essa metodologia. Palavras-Chave: Qualidade; Vantagem Competitiva; MASPET. 1. Introdução O aumento da competitividade nos diferentes mercados vem obrigando as empresas a desenvolverem diferenciais estratégicos para enfrentar novos desafios e as novas necessidades dos clientes. Assim torna-se necessário otimizar recursos e atividades, para com isso criar um modelo competitivo que as permita sobreviver. Com isso uma das alternativas mais procuradas pelas empresas, para obter uma vantagem competitiva e fortalecer sua estratégia competitiva, vem sendo a busca pela qualidade. Mas devido à globalização da economia e as mudanças tecnológicas pode-se afirmar que em alguns mercados a qualidade dos produtos deixou de ser um diferencial, e passou a ser uma obrigação para garantir a sobrevivência das empresas. Em razão disto, o presente trabalho analisa a utilização do ciclo PDCA de melhorias no processo de uma organização, utilizado para aumentar a vantagem competitiva. No estudo, apresenta-se o caso de uma mineradora de grande porte localizada no estado de Minas Gerais. Assim, a questão problema do estudo é: Como o enfoque na qualidade pode ser traduzido em vantagem competitiva? De acordo com Silva (1996) a exigência de qualidade como uma vida melhor vem obrigando as organizações a traduzir isso para linguagens mais práticas. Diante disso, a adoção de novas filosofias de qualidade, não só no âmbito do produto, mas também em relação ao processo de melhorias, meio ambiente e organização interna, vem sendo o grande diferencial das empresas para se conquistar uma fatia maior de mercado. Em seguida será apresentada a metodologia assim como os principais conceitos de qualidade e planejamento estratégico. Depois será feita uma breve apresentação da empresa estudada e sobre o seu modelo de melhorias MASPET (Metodologia de Análise e Solução de Problema com o Envolvimento de Todos). E finalizando a conclusão do trabalho. 2. Metodologia De acordo com Minayo (1993) a pesquisa científica trata de uma “atividade de aproximação sucessiva da realidade o que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados”. Além disso, ela requer apreensão, análise e interpretação da realidade, questionamento crítico e criativo. Para se abordar um problema de pesquisa existe duas formas consideradas básicas: pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa. Neste caso trata-se de uma pesquisa qualitativa já que foram utilizadas pesquisas e observações e utiliza-se a técnica de estudo de caso. Estudo de caso é um estudo intensivo do passado e do presente em que se avalia com profundidade apenas um ou poucos objetos. O presente trabalho foi realizado em uma mineradora, onde seu objetivo é estudar o uso da ferramenta de qualidade PDCA como uma vantagem competitiva. Com base na visão de Vergara (1997), esta pesquisa é descritiva, pois a pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos, sem manipulá- los. Sendo assim, considera-se esta pesquisa como descritiva, pois descreve a utilização do ciclo PDCA em interação com outras ferramentas de qualidade em sua administração estratégica. Considera-se também se tratar de uma pesquisa exploratória, uma vez que foi utilizado um levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas envolvidas no trabalho pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão. 3. A Qualidade como Vantagem Competitiva Não se sabe ao certo quando o fator qualidade começou a ter influência nas decisões estratégicas. Mas alguns autores fazem marcações temporais entre as principais tendências como é o caso de David Garvin (1988), que afirma a evolução da qualidade em quatro eras: inspeção onde o interesse era pela verificação; controle estatístico de processos onde se buscava um maior controle; garantia de qualidade onde o desejado era uma melhor coordenação e finalmente a gestão total da qualidade que surgiu no final da década de 80 pela Motorola (Seis Sigmas) afim de realmente ter um impacto estratégico. Segundo Garvin (1988), a qualidade é uma medida da satisfação do cliente com um produto durante sua vida útil, em relação à satisfação dos clientes com o que os produtos dos concorrentes podem oferecer. Fernandes apud Cobra (2001) comenta que definir a qualidade não é fácil, pois quem define o que é qualidade é o consumidor, sendo assim, qualidade depende do valor percebido pelo cliente. A implantação de programas de qualidade tem sido cada vez mais comum nas empresas, o cenário de constantes mudanças, a alta competitividade e a necessidade de atender ao consumidor de maneira adequada, com produtos e serviços, tem sido fatores fundamentais para a inserção de tais programas. Hamel e Prahalad (1994) argumentaram que a essência da estratégia está: em desenvolver vantagens competitivas amanhã mais rápidas do que os concorrentes tentam imitar àquelas que se tem hoje. Assim, para eles, a melhor vantagem competitiva de todas, ocorre quando uma empresa tem a capacidade de não obstante melhorar suas habilidades já existentes, mas também, aprender novas habilidades. Do mesmo modo Drumond (1992) salienta que organizações de sucesso são as que valorizam o recurso humano em todos os seus aspectos, sendo hoje um dos fatores fundamentais da lucratividade e competitividade das empresas. Ainda mais, Maximiano (2000) defende que a qualidade é uma responsabilidade de todos, coordenada e orientada por uma gerência de qualidade. Segundo Vargas e Slongo (1998), o objetivo da administração da qualidade consiste em alavancar a produtividade e a competitividade da empresa, visando maximinizar a sua rentabilidade. Neste contexto é importante destacar que “a qualidade de um produto ou serviço pode ser definida como o conjunto total das características de marketing, engenharia, fabricação manutenção do produto ou serviço que satisfazem às expectativas do cliente” (MAXIMIANO 2000, p. 78). De acordo com Zaccarelli (1995) especialistas em estratégias defendem que buscar pequenas vantagens competitivas, uma a uma, em sucessão, é mais vantajoso do que buscar por uma grande vantagem competitiva. Então a empresa em questão com o propósito de conquistar a satisfação do cliente através da qualidade, mais a idéia de melhorar suas habilidades e utilizar o seu recurso humano eficientemente, implantou o MASPET baseado no ciclo PDCA de melhorias com interação de outras ferramentas de qualidade. 4. Estudo de Caso O presente estudo de caso foi realizado em uma mineradora localizada em Mariana – Minas Gerais. Atualmente ela é uma das maiores exploradoras de minério itabirítico (mineral com baixo teor de ferro). A empresa foi fundada em 1977, após a parceria entre outras duas empresas, onde umapossuía grandes jazidas desse mineral e a outra detinha a tecnologia para processá-lo. Tornando-se assim, pioneira nesse tipo de atividade. A empresa se destaca no setor por ser inovadora e ousada, onde sempre buscou possuir vantagens competitivas em todas as usas áreas. Deste modo ela é orientada para o mercado, com foco na superação das expectativas dos clientes, na excelência empresarial e na geração de valor para todas as partes interessadas.Uma organização transparente, aberta à troca de experiências, atenta às oportunidades de melhoria e disposta a compartilhar conhecimento. Além disso, possui uma gestão que reconhece a importância de cada um e conta com a contribuição de todos, transformando a integração na sua maior força. Como resultado hoje 100% de seus produtos saem do porto de Ubu para o mundo: Fonte: Site da empresa A história da empresa em relação à qualidade começou em 1991 quando a alta administração incorporou a implantação do programa de Qualidade Total visando a obtenção da certificação ISO 9002, como uma estratégia corporativa. Onde 1994 além de obter essa certificação foi considerada a melhor empresa para se trabalhar em todo o País, liderando o ranking de clima organizacional da Hay do Brasil. Através do programa de Qualidade Total, a organização procurou novos projetos como: desenvolvimento do sistema de monitoramento da qualidade do ar, implantação do programa de organização e limpeza visando racionalizar o ambiente e as rotinas de trabalho, implantação do gerenciamento de rotina e outros. Como uma das maiores características da empresa, tem-se a participação dos funcionários em todos os seus aspectos, como diferencial competitivo. No inicio da década de 90 os empregados de nível superior e técnico foram treinados nas seguintes ferramentas de qualidade: gráfico de Pareto, formação de equipe, fluxograma, diagrama de causa e efeito, estratificação, diagrama de dispersão, histograma, carta de controle, brainstorming, 5W1H e lista de verificação. Logo depois, as ferramentas foram implementadas em duas metodologias de solução de problema: Análise de Falha e Metodologia de Análise e Solução de Problema com o Envolvimento de Todos – MASPET, mesmo conceito de MASP onde há apenas a inclusão do termo envolvimento de todos como uma ideologia da organização. O MASPET é uma metodologia utilizada para auxiliar na eliminação ou redução ao mínimo da diferença entre o desejado e o real baseada na utilização do ciclo PDCA de melhorias, procurando uma melhor integração com outras ferramentas da qualidade. De acordo com Falconi (2004) muitos planos de ação não são suficientes para atingir metas mais difíceis, por isso é necessário um ciclo PDCA de melhorias com a participação de todos, onde melhorar é atingir metas e consequentemente resolver problemas. O ciclo PDCA de melhorias possui algumas diferenças dos outros PDCA. No Plan (planejamento) existe 4 sub-fases, a primeira é a identificação do problema onde são utilizados dados históricos (gráficos, fotografias) e a análise de Pareto para priorizar os problemas de maior importância ou influência. O processo dois é um dos mais importantes passos, ele é baseado na observação presencial do problema. Nesta etapa além da utilização da análise de Pareto e necessário utilizar o 5W1H para uma melhor organização do cronograma. Neste caso há também a utilização do How Much (quanto custo), tornando assim 5W2H. Na parte de análise primeiramente é feito um brainstorming para obter um número maior e melhor de idéias. Deve ser feito também um diagrama de causa e efeito com o intuito de escolher as causas mais prováveis. Neste instante é importante obter o maior número de dados relacionados com as causas do problema, tendo condição assim de fazer uma melhor avaliação. E finalizando a etapa do planejamento deve ser feito um plano de ação para bloquear as causas fundamentais, é condizente haver uma discussão com o grupo envolvido para a elaboração da estratégia de ação além de fazer uma revisão do cronograma e orçamento final. O do (agir) tem apenas uma sub-etapa que a execução. Neste momento do plano é preciso fazer a divulgação a todos, aplicar técnicas de treinamento assim como verificar fisicamente e no local as ações propostas e registrar todas as atitudes e os resultados bons e ruins, na intenção de ter um bom histórico no futuro. A terceira etapa do ciclo é o check (checar) é neste momento que deve ser feita a comparação dos resultados, os dados devem ser coletados antes e após ação de bloqueio para verificar a efetividade da ação e o grau de redução dos resultados indesejados. Assim como dar uma certa atenção a toda alteração no sistema que pode provocar efeitos secundários, positivos ou negativos. É no final da verificação que deve ser feita a pergunta: a causa fundamental foi efetivamente encontrada e bloqueada? Se a resposta for positiva pode ir para o próximo passo do ciclo o action. Se a solução for falha retornar ao processo de observação no planejamento. O action é caracterizado pela padronização e conclusão. Na padronização é feito uma elaboração ou alteração do padrão, a criatividade pode garantir o não reaparecimento dos problemas. Em seguida deve haver a comunicação do novo padrão através de comunicados, circulares ou reuniões, para evitar possíveis confusões. Do mesmo modo dever existir um treinamento para a comunicação não ficar só no escrito e o acompanhamento da utilização desse novo padrão para evitar que um problema resolvido reapareça. O último processo é a conclusão onde através da análise dos resultados e demonstrações gráficas possa fazer uma relação dos problemas remanescentes, e em seguida fazer o planejamento do ataque a esses problemas. E finalmente fazer uma reflexão cuidadosa sobre as próprias atividades da solução, evitando assim que erros aconteçam novamente no método. PDCA Sub-etapa Fase Objetivo 1 Identificação do problema Definir claramente o problema e reconhecer sua importância. 2 Observação Investigar as caracterisircas específicas do problema com uma visão ampla. 3 Análise Descobrir causas fundamentais. 4 Plano de ação Preparar um plano de ação para bloquear as causas fundamentais. D 5 Execução Bloquear as causas fundamentais. 6 Verificação Verificar se o bloqueio foi efetivo Bloqueio foi efetivo? 7 Padronização Prevenir contra o reaparecimento do problema. 8 Conclusão Recapitular todo o processo de solução do problema, para trabalhos futuros. P C A Modelo do Ciclo PDCA de Melhorias. Fonte: Campos, Vicente Falconi (2004) 5. Conclusão Na era da competitividade global, muitas empresas não estão apenas indo atrás de novas oportunidades, mas também tentando ser eficiente com seus recursos já adquiridos. Pensando nisso a empresa estudada sempre buscou vantagens competitivas, seja na logística com mineroduto, seja nos recursos humanos com a contribuição de todos e principalmente em relação à qualidade, transformando assim a integração na sua maior força. A organização fez a implementação do MASP incluindo “envolvimento de todos”, criando assim o MASPET. Dessa maneira a empresa sempre buscou atender ou até mesmo superar as necessidades e expectativas dos clientes. É importante ressaltar, que o MASPET prevê a utilização do ciclo PDCA para o gerenciamento da rotina e implantação de melhorias. A qualidade é vista como uma vantagem competitiva pela alta administração, uma vez que após a implementação da certificação da qualidade (ISO 9001) no ano de julho de 1994, foi possível verificar a evolução da qualidade dos produtos, utilizando cartas de controles para fazer os monitoramentos das metas estabelecidas na estratégia gerencial. Isto é de extremo interesse no mercado internacional, pois a empresa é 100% exportadora de minério de ferro. O MASPET se tornou importante por implicar em vantagem competitiva, já que além de ter como o objetivo a melhoria nosprocessos, conta com uma grande participação interna. Deste modo, consegue-se também as soluções dos problemas dentro do próprio espaço interno, acrescenta-se ainda uma maior troca de informações entre os setores assim como percebe-se que há uma grande satisfação do funcionário em contribuir para o crescimento da organização. Outras vantagens de se usar o MASPET, foi fazer trabalhos bem estruturados e planejados, estudando a causa fundamental, bloqueando-as com ações efetivas e economicamente viáveis, e com isto, foi possível ter uma economia anual de alguns milhões de dólares. 6. Referências Bibliográficas CAMPOS, Vicente Falconi. Gerenciamento da rotina do trabalho do dia-a-dia. Belo Horizonte: INDG Tecnologia e Serviços Ltda, 2004. DRUMOND, R. Qualidade Total- O homem fator de sucesso. Belo Horizente, Mazza, 1992. FERNANDES, L. A. Engenharia Simultânea e Qualidade no Transporte Rodoviário de Passageiros: Um Estudo de Caso. Dissertação (Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção) - Universidade Federal de Santa Catarina, .Florianópolis, 2003 GARVIN, D. A. Managing quality. New York: Free Press, 1988. HAMEL, G; PRAHALAD, C.K. Strategic intent. In: Global Strategies: insights from the world’s leading thinkers. The Harvard Business Review Book Series, 1994. MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2000. MINAYO, Maria Cecília de Souza.Desafio do Conhecimento.São Paulo: HUCITEC, 1993. VARGAS, C. A, SLONGO, L. A. Pesquisa de Satisfação de Clientes: O estado da Arte e Proposição de Um Método Brasileiro. Revista de Administração Contemporânea. Disponível em <http://www.anpad.org.br/rac/vol_02/dwn/rac-v2-n1-car.pdf 1998>. Acessado no dia 9 de junho de 2006 às 13:30. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 1997. ZACCARELLI, Sergio Baptista. Revista de Administração de Empresas. A nova ideologia da competição. São Paulo.v.35. n.1 p.14-21. 1995.
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