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X MOSTRA DE PESQUISA: DA INICIAÇÃO CIENTÍFICA A PÓS-GRADUAÇÃO FEMINISMO BRANCO: AS CONSEQUÊNCIAS DA EXCLUSÃO DO DEBATE DA QUESTÃO RACIAL PARA MULHERES NEGRAS UNIVERSITÁRIAS Camila Novaes da Silva – UNESP - Universidade Estadual Paulista Novaesscamila@hotmail.com Eixo Temático: III- Gênero; Raça/Etnia; Sexualidade; Violência. Categoria: Pesquisa em andamento. RESUMO Esta pesquisa visa analisar a invisibilidade da abordagem da questão racial no movimento feminista em sua origem e na atualidade, considerando que o objetivo central do movimento não era discutir as pautas das mulheres que mais sofrem com a opressão machista, as mulheres negras. O feminismo branco, no princípio, também não tinha como finalidade analisar o recorte de classes algo que se alinha diretamente com a questão racial. A partir dessas reflexões e o entendimento da ausência de discussão das particularidades, essa pesquisa também pretende observar na atualidade como as feministas brancas, quando não se propõem a discutir a temática da questão racial afim de movimentar a estrutura da sociedade, limitam a ascensão das mulheres negras dentro do ambiente universitário reforçando o racismo estrutural e se comprometendo com a supremacia racista branca. A partir disso, entende-se a necessidade de repensar estratégias de integração das mulheres negras dentro do movimento e fortificação do já reconhecido feminismo negro. Palavras-chave: Feminismo. Raça. Exclusão. 1. INTRODUÇÃO No Brasil, assim como nos Estados Unidos, a efetivação da organização da luta das mulheres pela garantia de seus direitos não começou com as mulheres que são mais oprimidas pela estrutura machista da sociedade. Inicialmente, aquelas que desde sempre foram violentadas fisicamente, mentalmente e espiritualmente tiveram suas pautas ocultadas e excluídas. A partir da análise do movimento feminista no Brasil desde o seu surgimento, é possível a observação do apagamento da questão racial nas discussões do movimento. Ainda que reconhecendo a dessemelhança das pautas, as mulheres brancas não tinham como objetivo central a comunhão de todas as mulheres na luta pela garantia de seus direitos e por uma sociedade sem hierarquia de gênero, seja porque algumas reinvindicações eram diferentes ou simplesmente porque as mulheres brancas não conseguiam observar as mulheres negras como um sujeito político. Para o entendimento do início do movimento feminista no Brasil, é de fundamental importância a compreensão de que tal movimento contou com três ondas, sendo a primeira com início no século XIX. Nesse momento, as mulheres se organizavam para reivindicar questões como o direito à vida pública e o direito ao voto. O nome de Nísia Floresta é essencial nesse período, sendo ela considerada pioneira no feminismo brasileiro e criadora da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que segundo Teles (1999. p. 44) tinha como objetivo: Promover a educação da mulher; elevar o nível de instrução feminina; proteger as mães e a infância; obter garantias legislativas e práticas para o trabalho feminino; auxiliar as boas iniciativas da mulher e orienta-las na escolha de uma profissão; estimular o espirito de sociabilidade e cooperação entre as mulheres e interessa- las para as questões sociais e de alcance público; assegurar a mulher direitos políticos e preparação para o exercício inteligente desses direitos; estreitar os laços com o os demais países americanos Nesse contexto, é notável a diferença da luta das mulheres brancas e das mulheres negras. As mulheres brancas estavam naquele momento lutando para que pudessem ter o direito de trabalhar sem a autorização do marido enquanto as mulheres negras já trabalhavam desde o período da escravidão e o “não trabalhar” nunca foi uma opção para mulheres negras. Ao se propor a analisar a situação em que se encontra as mulheres de cor, é possível observar que em qualquer contexto os objetivos de luta são desiguais. Nos anos 1970, é chegado o que é chamado de segunda onda. Segundo Ribeiro (2018, p. 45), além de lutar pela valorização do trabalho da mulher, o direito ao prazer, contra a violência sexual, também lutou contra a ditadura militar. O primeiro grupo que se tem notícia foi formado em 1972, sobretudo por professoras universitárias. Tal investigação acerca do início do feminismo no Brasil estampa o espaço onde a organização se iniciou e deixa evidente as pautas de quais mulheres estavam a ser discutidas. Nesse momento, as mulheres brancas privilegiadas com o acesso ao ensino superior engataram o processo de luta, observando suas pautas com exclusividade, deixando de refletir a condição daquelas que assumiam o papel de empregadas, faxineiras, babás e as demais profissões reservadas para as mulheres negras no período pós escravidão, onde se negou toda e qualquer possibilidade de ascensão da mulher negra. Com isso, cabe considerar que as mulheres brancas, no início de suas articulações feministas, reforçaram o racismo estrutural e deixaram notório suas colocações, sejam conscientes ou não, como pauta central, universal e exclusiva de uma determinada luta. Talvez, o ato de olhar apenas para si como individuo único e central seja uma característica gritante de grande parte da branquitude, fato estratégico e limitante da luta das mulheres negras. O que se considera como a terceira onda, ocorre no início de 1990, segundo Ribeiro (2018, p. 45), começou-se a discutir os paradigmas estabelecidos nas outras ondas, colocando em discussão a micropolítica. Apesar de que, as mulheres negras estadunidenses, como Beverly Fisher, já na década de 70, começaram a denunciar a invisibilidade das mulheres negras dentro da pauta de reivindicação do movimento. No Brasil, o feminismo negro começou a ganhar força no fim dessa década, começo da de 80, lutando para que as mulheres negras fossem sujeitos políticos. No período compreendido entre 1985 e 1995, o movimento das mulheres negras começa a ganhar mais destaque partindo da ótica que o feminismo das mulheres brancas não compreende as necessidades da história da mulher negra. Segundo Moreira (2007, p. 57), O movimento de mulheres negras, ou a organização das mulheres negras brasileiras, analisado nesse trabalho, que amadurece na década de 80, é fruto da intersecção entre os movimentos negro e feminista e é também o espaço de tensão acerca das especificidades das mulheres negras provenientes da urgência das demandas étnico-racial e de gênero. De forma geral, o movimento feminista branco tinha extrema dificuldade em visualizar a necessidade de fazer recortes como etnia e classe social, fazendo com que desta forma, as mulheres negras tivessem a necessidade de “enegrecer o feminismo” e lutassem para que fossem reconhecidas como pessoas. Ao analisar a questão atualmente, é evidente que as mulheres brancas comprometidas com a revolução feminista necessitam com urgência inserir as pautas e lutas em conjunto para a emancipação das mulheres negras, considerando também seu compromisso histórico com esse grupo socialmente excluído sobretudo no meio universitário, espaço onde o acesso a informação e desconstrução é maior. Analisando a questão das universidades, é possível perceber que o ambiente competitivo da academia dá permissão para que o racismo das feministas brancas se manifeste de formas variadas. Mulheres negras são recebidas nesse espaço de forma nada receptiva. São excluídas de atividades, vítimas de situações racistas, perseguidas, silenciadas em suas falas e suas pautas excluídas sem que nenhuma manifestação por parte do movimento feminista branco seja notado. A partir da implementação das cotas para estudantes denominados negros ou pardos, é evidente que o número de mulheres negras na academia cresceu, ainda que de forma vagarosa, mulheres negras estão ingressandonesse espaço, mas, as condições para que essas possam permanecer ainda é algo extremamente dificultoso. Para as mulheres negras a questão fundamental a ser tratada não é se as mulheres brancas são mais ou menos racistas que os homens brancos, mas que elas são racistas e esse é um fator estrutural. Quando o feminismo branco que circula dentro da academia não se propõe a discutir as questões das mulheres negras e incluir as pautas raciais, o racismo segue em atividade e as possibilidades de ascensão social da mulher negra se torna cada vez mais distante. É preciso que as feministas brancas estejam dispostas a romper com a hierarquia racial e aprender com as experiências das mulheres negras. Sem silencia-las. É preciso esforço para o entendimento de que raça, gênero e classe são fundamentos inseparáveis no contexto atual. É necessário que sejam pensados projetos democráticos, medidas e ações voltadas às mulheres negras para que as mesmas continuem sua caminhada embaladas na força existente desde o princípio. Portanto, para que essa proposta seja efetivada, as mulheres brancas, sobretudo as que levantam a bandeira do feminismo com garra, precisam reconhecer seus privilégios diante de um sistema preconceituoso e compactuar com a luta antirracista afirmando seu entendimento de que tal fato é não se fixa no ato de um favor para com uma minoria e sim de um compromisso, de uma dívida com um público oprimido por seus semelhantes. 2. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa bibliográfica com a finalidade de buscar a reflexão a partir da realidade de uma sociedade extremamente racista e a forma com o que o movimento feminista branco quando não inclui o recorte racial contribui para que a mesma se torne ainda mais efetiva. Para isso, a pesquisa será baseada com base nos estudos e contribuições de autoras negras, privilegiando seu lugar de fala, contribuindo para que essas tenham a devida visibilidade em suas obras e proporcionando o espaço para que mulheres negras sejam autoras de sua própria história, sendo esse um compromisso com a essa população. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Trata-se de uma pesquisa em andamento que visa refletir e problematizar a forma com que o feminismo branco quando não se dispõe a debater a questão étnico-racial e seus desdobramentos, alimenta uma estrutura de poder se comprometendo assim com a estadia de uma sociedade racista e preconceituosa. O campo de destaque para tal analise se dá no meio universitário, espaço onde a condição das mulheres negras diante do racismo vindo por parte da supremacia da mulher branca interrompe e limita a possibilidade de emancipação gerando assim um atraso com o compromisso da branquitude para com um público que há séculos luta pela sua ascensão. Além disso, ainda convém refletir sobre a emergência das formas de estratégias de incluir essa pauta diante da luta por direitos afim de que a mulher negra possa ocupar os mesmos espaços ocupados por mulheres brancas e assim permanecer de forma justa e de qualidade sem que isso seja feito de forma agressiva como tantos outros processos já passados por essas mulheres. A principal questão sugerida nessa pesquisa é a proposta de que a partir da reflexão apresentada, as mulheres não negras consigam se organizar em prol de um projeto democrático que certamente estabelecerá uma condição mais adequada pra mulheres que anos estão sendo esmagadas por um grupo que insiste em se organizar estrategicamente seja de forma consciente ou não para que essas não alcancem zonas reconhecidas positivamente e permaneçam estabilizadas em pontos de vulnerabilidade. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Reforçar o compromisso da mulher branca para com a mulher negra é de extrema importância para a construção de uma sociedade igualitária. É preciso que esse público busque através de seus meios de privilégios o fim de uma hierarquia racial. A mulher negra vem lutando por emancipação desde o período da escravatura e na medida em que o feminismo branco não abarca suas necessidades diante de uma sociedade machista, as possibilidades de ascensão da mulher negra se tornam limitadas, uma vez que, um grupo cujo a sociedade determina como superior, tem poder de barrar os passos da caminhada de uma mulher negra que tenta fugir de uma condição que lhe foi determinada socialmente. A partir da consciência da desigualdade social entre as raças, a opressão dupla da mulher negra por seu gênero e por sua etnia e disposição para mudar esse cenário, é possível que um movimento articulado e disposto a lutar em comunhão pelo fim dos preconceitos consiga levar a mulher negra melhores condições de vida, movimentando assim toda a estrutura da sociedade. REFERÊNCIAS RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro. 1.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. TELES, M. A. de A. Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1999. p. 44. MOREIRA, Nubia Regina. O feminismo negro brasileiro: um estudo do movimento de mulheres negras no Rio de Janeiro e São Paulo. 2007. 121p. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, SP.
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