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ANAIS DO 
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL 
GÊNERO, SEXUALIDADE E MÍDIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2015 
 
 
 
 
 
[Digite texto] 
 ISBN: 978-85-98176-73-4 
 
 
 
 
 
 
Coordenação Geral 
 
Prof. Dr.ª Larissa Pelúcio (UNESP/Bauru) 
Prof. Dr. Richard Miskolci (UFSCar) 
 
 
 
Comitê Científico 
 
• Larissa Pelúcio (Unesp-Bauru) 
• Richard Miskolci (UFSCar) 
• Berenice Bento (UFRN) 
• Leandro Colling (UFBA) 
• Paula Sibilia (UFF) 
• Miriam Aldelman (UFPR) 
• Pedro Paulo Pereira (UNIFESP) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
© A reprodução na íntegra ou em parte é permitida, desde que citados os 
créditos. 
 
[Digite texto] 
 ISBN: 978-85-98176-73-4 
 
 
SESSÕES DE COMUNICAÇÃO ORAL 
 
Sessão 1 - Conexões de gênero, sexualidade e mídias digitais 
Sessão 2 - Ciberativismos e questões de gênero 
Sessão 3 - Tecnologias e Intimidades 
Sessão 4 - Movimentos Sociais, Gênero e Culturas Digitais 
Sessão 5 - Raça, etnia e mídias 
Sessão 6 - Mídias digitais e novas subjetividades 
 
 
SESSÃO TEMÁTICA 1 
CONEXÕES DE GÊNERO, SEXUALIDADE E MÍDIAS 
 
 
1. “Transversus: um panorama da transexualidade em reportagem 360º” - 
MORA, Ana Carolina; LABORÃO, Virggínia; ASSIS, Maurício; 
PINCINATO, Gabriela; DE SORDI, Marina. 
 
2. “#SomosTodosVerônica”? – FALEIROS, Juliana Leme; BRASIL, 
Patricia Cristina. 
 
3. “Comunicar no jornalismo: a dissonância na reportagem multimídia 
“transgêneros”, do TAB” - ITO, Liliane de Lucena 
 
4. “A jornalista esportiva em jogo: a produção de sentido sobre a 
apresentadora Renata Fan em comentários no Facebook” – LOPES, 
Mariana Ferreira; DORIGON, Bruna Tamanini. 
 
5. “A Transexualidade nos Grupos Virtuais do Facebook” - PONTES, Júlia 
Clara de; SILVA, Cristiane Gonçalves da. 
 
6. “Namorada sinistra: gênero e ciúme no Facebook” - UNGER, Lynna 
Gabriella Silva; SANTOS, Flaviane Viera; OLIVEIRA, Francis Fonseca; 
SANTANA, Valéria Santos; SANTOS, Claudiene. 
 
7. “Espaços e convergências nas representações midiáticas femininas” - 
BUENO, Noemi Correa; MARQUES, José Carlos. 
 
[Digite texto] 
 ISBN: 978-85-98176-73-4 
 
 
 
8. “Narrativas transviadas: reportagens em livros Sobre gêneros e 
sexualidades dissidentes” - GONÇALVES, Gean Oliveira. 
 
9. “Ambientes Digitais e relações de gênero – Uma análise do Museu da 
Pessoa” – LANDIM, Lais Alpe. 
 
10. “Fotografias de corpos femininos: o caso Marianna Lively” - BOROSKI, 
Marcia. 
 
11. “O tabu como formador de identidade: uma análise de documentários 
e filmes relacionados a formação da sexualidade e gênero” – MARTINS, 
Hellen Damas; JUNQUEIRA, Lilian Cláudia Ulian. 
 
12. “(As)sexualidade(s): intersecção no mundo virtual e no real” - TODO, 
Gabriela Alves Martins Guimarães Lyrio. 
 
13. “Diversidade de Gênero nas Organizações: Novas Perspectivas em 
Estratégias de Comunicação para o Reconhecimento de Grupos 
LGBTs nas Empresas Vigor e Carrefour” - SOARES, Karen Greco. 
 
14. Todas putas? Sobre feminismos e sala de aula na escola da Fundação 
Casa Feminina. FALCHI, Cinthia Alves 
 
 
SESSÃO TEMÁTICA 2 
CIBERATIVISMOS E QUESTÕES DE GÊNERO 
 
1. Torcidas livres e queer em campo: sexualidade e novas práticas 
discursivas no futebol – PINTO, Maurício Rodrigues; ALMEIDA, Marco 
Antônio Bettine. 
 
2. Feminismo Negro e Interseccional: práticas e discursos sobre raça, 
gênero e sexualidade nas redes sociais – RIOS, Flávia Mateus; 
MACIEL, Regimeire Oliveira 
 
3. As (re)existências de mulheres brasileiras imigrantes em Portugal via 
mídias digitais: um estudo exploratório – ROSSI, Jéssica de Cássia 
[Digite texto] 
 ISBN: 978-85-98176-73-4 
 
 
 
4. Mídias rizomáticas, controvérsias e ativismos: resistências e 
politizações – MORELLI, Fábio; SOUZA, Leonardo Lemos de 
 
5. Ciberespaço e a Coletiva Marcha das Vadias Sampa – FERREIRA, 
Juliana Cristina da Silva 
 
6. A qualidade da informação sobre políticas públicas de combate à 
violência doméstica no portal da Secretaria de Políticas para as 
Mulheres – GIORGI, Bruna Silvestre Innocenti 
 
7. Uma questão de gênero: ofensas direcionadas à presidenta Dilma 
Rousseff nos comentários da página da Folha de S. Paulo no Facebook 
– STOCKER, Pâmela 
 
8. Travestis em situação de rua e a segregação aos bens sociais dentre 
eles as tecnologias digitais – SANTOS, Robson silva 
 
 
 
SESSÃO TEMÁTICA 3 
TECNOLOGIAS E INTIMIDADES 
 
1. A influência da mídia nas relações de gênero e costume nas 
Assembleias de Deus. COSTA, Otávio Barduzzi Rodrigues da. 
 
2. Treinadores Pokémon e Machos Alpha: masculinidades do abjeto ao 
venerável. CAMPOS, Myatã Sanches Pedrini. 
 
3. Pornografia de vingança e pornografia sem consentimento: uma 
análise. BARQUETTE, Rachel Gomes. 
 
4. A exposição da intimidade: consentimento e vulnerabilidade na era das 
redes sociais – caso Revista TPM. SILVEIRA, Daniella Orsi da; 
BELELLI, Iara Aparecida 
5. Desejos comodificados: dos classificados aos perfis nos aplicativos na 
busca por parceiros do mesmo sexo. FERREIRA, João Paulo; 
MISKOLCI, Richard. 
[Digite texto] 
 ISBN: 978-85-98176-73-4 
 
 
 
 
 
SESSÃO 4 
MOVIMENTOS SOCIAIS, GÊNERO E CULTURAS DIGITAIS 
 
1. Ativismo digital e a proteção e promoção dos direitos das mulheres no 
Brasil. BONVICINO , Mariana Torelly R. 
 
2. "A Joanna sou eu, mas a casa é nossa": a emergência de um locus 
midiático colaborativo feminista. TEIXEIRA, Thainá Battestini; BURIGO, 
Joanna; DELAJUSTINE, Ana Claudia; BURIGO, Beatriz Demboski; 
AZEVEDO, Debora. 
 
3. NTICs e Revenge Porn: Pode a tecnologia ser instrumento de 
emancipação e de promoção dos direitos humanos das mulheres? 
FAZIO; Luísa Helena Marques de. 
 
4. Viralizou: Redes digitais e ação política para os estudos de gênero e a 
educação. AZEVEDO, Lílian Henrique de. 
 
5. Ondas diferenciais para otrxs inadequadxs: experiências radiofônicas 
feministas e sociedaderede. MENDES, Júlia Araújo. 
 
6. A “cura gay” em revista: Formulação e circulação de discursos em Veja 
e Júnior. CAMPO, Amanda; ORMANEZE, Fabiano. 
 
7. A Primavera dos Direitos das Mulheres Árabes. PEREIRA JÚNIOR, 
Cláudio Aparecido 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
[Digite texto] 
 ISBN: 978-85-98176-73-4 
 
 
 
 
SESSÃO 5 
RAÇA, ETNIA E MÍDIAS 
 
 
1. O Feminismo Negro em Rede: reflexões sobre o site blogueiras negras 
enquanto prática de empoderamento. OLIVEIRA, Laila Thaíse Batista 
de 
 
2. A mulher negra na mídia televisiva brasileira. Venâncio, Karen. 
 
3. Diversidade étnica em painéis externos de midia de escolas no 
município de Marília (2014): Ausências e presenças. SILVA, Cláudio 
Rodrigues 
 
 
SESSÃO 6 
MÍDIAS DIGITAIS E NOVAS SUBJETIVIDADES 
 
1. As damas do prazer: relações sociais de sexo no cinema da boca do 
lixo paulistana. ALMEIDA, Ricardo Normanha R. de. 
 
2. Fábrica de Monstros: corpo e gênero tratados na rede virtual. DARCIE, 
Marina; DORIA, Aline; COSTA, Cauê; BROSENS, Thiago 
 
3. Entre a perversão e o estereótipo dos gêneros no filme “Macho, fêmea 
e cia – a vida erótica de Caim e Abel”. AMARAL, Muriel Emídio Pessoa 
do 
 
4. A dominação masculina e representação feminina no judô a partir da 
análise dos Jogos Olímpicos de Londres 2012. FIRMINO, Carolina 
Bortoleto 
 
5. Psicanálise, educação sexual e novas tecnologias digitais. 
RODRIGUES, Gelberton Vieira 
 
 
[Digite texto] 
 ISBN: 978-85-98176-73-4 
 
 
 
6. A representação das masculinidades (policiais) militares nas mídias: a 
evidente falta de Críticas. GONÇALVES, Arthur Rocha. 
 
7. Aborto em caso de abuso sexual infantil: uma análise de reportagens 
brasileiras e chilenas. SOUZA, Marcelle C. de 
 
8. Gênero, cultura popular e fãs: a emergência de um campo de estudos 
no Brasil. CASTILHO, Fernanda 
 
9. Imagens da aids em The Normal Heart e Clube de Compras Dallas. 
SILVA, Pedro Paulo 
 
10. Frescáh no Círio: escracho e resistência ao fundamentalismo religioso 
noclipe de Leona Vingativa. BARBOSA, Mônica 
 
11. O MURO DOS FREAKS – Capitalismo, inclusão e a “quebra” do 
self-made man. GAVÉRIO, Marco Aurélio. 
 
12. A Propaganda de Perfume como Ilustração do Imaginário da 
Subjetividade Contemporânea. PÉRA, Beatriz C, S; CAMPOS, Érico 
B.V. 
 
 
 
[Digite texto] 
 ISBN: 978-85-98176-73-4 
 
 
PROGRAMAÇÃO 
 
 
 PRIMEIRO DIA - 04 DE NOVEMBRO DE 2015 
 
 
17h00 
Credenciamento e entrega do material 
 
18h30 
Mesa abertura: Diretores FAAC, Chefia CHU, Organizadores evento 
Local: Auditório Adriana Chaves 
 
19h00 
Mesa-redonda: Tecnologias e intimidades 
Profa. Dra. Iara Beleli (Pagu – Unicamp) 
Prof. Ms. Felipe Padilha (PPGS – UFSCAR) 
Debatedor: Prof. Dr. Richard Miskolci (UFSCar) 
Local: Auditório Adriana Chaves 
 
21h00 
Lançamentos de livros e performance artística com Glamour Garcia 
Local: Hall da FAAC 
 
 
 
 
 
 
 SEGUNDO DIA - 05 DE NOVEMBRO DE 2015 
 
 
09h00 - 12h00 
Sessões de Apresentação de Trabalhos: 
Sessão 1 - Conexões de gênero, sexualidade e mídias – Juliana Jardim 
Local: Sala 77 
Sessão 2 - Ciberativismos e questões de gênero – Késia Maximiano 
Local: Sala: 79 
Sessão 3 - Tecnologias e Intimidades – Keith Diego Kurashige e Felipe Padilha 
Local: Sala 73 
Sessão 4 - Movimentos Sociais, Gênero e Culturas Digitais – Marcela Pastana 
Local: Sala 75 
Sessão 5 - Raça, etnia e mídias – Alexandre Eleotério 
Local: Sala 82 
Sessão 6 - Mídias digitais e novas subjetividades – Fernando Balieiro e Tom Rodrigues 
Local: Sala 76 
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 ISBN: 978-85-98176-73-4 
 
 
 
14h30 - 17h30 
 
 
MINICURSOS 
 
Minicurso 1: 
Feminismos e negritudes nas mídias digitais 
Local: Sala 77 
 
 
 Coordenadora: Aline Ramos 
 
Minicurso 2: 
Pornografia, pós-pornografias: política, gênero e representação 
Local: Sala 74 
 
 
 Coordenador: Prof. Dr. Jorge Leite Jr. (UFSCar) 
 
Minicurso 3: 
Metodologias de pesquisa em mídias digitais 
Local: Sala 72 
 
 
 Coordenadora: Profa. Dra. Juliana do Prado (UEMS) 
 
Minicurso 4: 
Subjetividades e Diferenças nas Mídias 
Local: Sala 70 
 
 
 Coordenadora: Profa. Dra. Simone Ávila (UFSC) 
 
 
 
15h00 - 16h30 
Sessão cine queer: Além das Sete Cores 
Debate com a diretora Camila Biau (Brodagem Filmes) e Daniela Garcia (performer protagonista do 
documentário) 
Local: Sala 83 
 
 
 
18h00 
Performance: Tigrela 
Daniela Glamour 
Local: Auditório Adriana Chaves 
 
19h00 
Mesa-redonda: Mídias e gêneros - Vozes dissonantes 
Profa. Dra. Heloísa Buarque de Almeida (USP) 
Prof. Dr. Fernando de Figueiredo Balieiro (UF Pelotas) 
Debatedora: Iara Beleli (Pagu – Unicamp) 
Local: Auditório Adriana Chaves 
 
21h00 
Programação Cultural: Performopalestra Helena Vadia 
Pâmella Villanova 
Local: Hall da Graduação 
[Digite texto] 
 ISBN: 978-85-98176-73-4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 TERCEIRO DIA - 06 DE NOVEMBRO DE 2015 
 
 
09h00 - 12h00 
Sessões de Apresentação de Trabalhos: 
Sessão 1 - Conexões de gênero, sexualidade e mídias – Juliana Jardim 
Local: Sala 77 
Sessão 4 - Movimentos Sociais, Gênero e Culturas Digitais – Marcela Pastana 
Local: Sala 75 
Sessão 6 - Mídias digitais e novas subjetividades – Fernando Balieiro e Tom Rodrigues 
Local: Sala 76 
 
 
14h30 
Mesa-redonda: Ciberativismo e políticas da diferença 
Prof. Dr. Mário Carvalho (UERJ) 
Doutoranda Amara Moira (Unicamp) 
Debatedor: Larissa Pelúcio (UNESP) 
Local: Auditório Educação Física 
 
 
 
16h00 – 18h30 
Projeção: Folia - a micropolítica da felicidade escancarada 
Ana Ferri e Olivia Pavani 
Local: sala de dança da Praça da Educação Física 
 
17h30 
Projeção: Curta - Todo Mundo Nasce Nu 
Gabriel Pereira e Rafael Bizzarro – discussão com o diretor e com Amara Moira 
Local: Auditório Educação Física 
 
18h30 
Mesa-redonda: Mídias e Transformações Sociais 
Prof. Dr. Emile Devereaux (University of Sussex) 
Profa. Dra. Karla Bessa (Unicamp) 
Debatedora: Profa. Dra. Heloísa Buarque de Almeida (USP) 
Local: Auditório Educação Física 
 
 
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL GÊNERO, SEXUALIDADE E MÍDIA 
SESSÃO 1 
Conexões de gênero, sexualidade e mídias 
 
AUTOR / CO-AUTORES TÍTULO 
MORA, ANA CAROLINA; LABORÃO, 
VIRGGÍNIA 
TRANSVERSUS: UM PANORAMA DA 
TRANSEXUALIDADE EM REPORTAGEM 360º 
JULIANA LEME FALEIROS; PATRÍCIA 
CRISTINA BRASIL 
#SOMOSTODOSVERÔNICA? 
LILIANE DE LUCENA ITO 
COMUNICAR NO JORNALISMO: A DISSONÂNCIA NA 
REPORTAGEM MULTIMÍDIA “TRANSGÊNEROS”, DO 
TAB 
MARIANA FERREIRA LOPES; BRUNA 
TAMANINI DORIGON 
A JORNALISTA ESPORTIVA EM JOGO: A PRODUÇÃO 
DE SENTIDO SOBRE A APRESENTADORA RENATA FAN 
EM COMENTÁRIOS NO FACEBOOK 
JÚLIA CLARA DE PONTES; CRISTIANE 
GONÇALVES DA SILVA 
A TRANSEXUALIDADE NOS GRUPOS VIRTUAIS DO 
FACEBOOK 
LYNNA GABRIELLA SILVA UNGER; 
FLAVIANE VIERA SANTOS; FRANCIS 
FONSECA OLIVEIRA; VALÉRIA 
SANTOS SANTANA; CLAUDIENE 
SANTOS 
NAMORADA SINISTRA: GÊNERO E CIÚME NO 
FACEBOOK 
NOEMI CORREA BUENO 
ESPAÇOS E CONVERGÊNCIAS NAS REPRESENTAÇÕES 
MIDIÁTICAS FEMININAS 
 
 
 
AUTOR / CO-AUTORES TÍTULO 
GEAN OLIVEIRA GONÇALVES 
NARRATIVAS TRANSVIADAS: REPORTAGENS EM 
LIVROS SOBRE GÊNEROS E SEXUALIDADES 
DISSIDENTES 
LAÍS ALPI LANDIM 
AMBIENTES DIGITAIS E RELAÇÕES DE GÊNERO – UMA 
ANÁLISE DO MUSEU DA PESSOA 
MARCIA BOROSKI 
FOTOGRAFIAS DE CORPOS FEMININOS: O CASO 
MARIANNA LIVELY 
HELLEN DAMAS MARTINS; LILIAN 
CLÁUDIA ULIAN JUNQUEIRA 
O TABU COMO FORMADOR DE IDENTIDADE: UMA 
ANÁLISE DE DOCUMENTÁRIOS E FILMES 
RELACIONADOS A FORMAÇÃO DA SEXUALIDADE E 
GÊNERO 
GABRIELA ALVES MARTINS 
GUIMARÃES LYRIO TODO 
(AS)SEXUALIDADE(S): INTERSECÇÃO NO MUNDO 
VIRTUAL E NO REAL 
KAREN GRECO SOARES 
DIVERSIDADE DE GÊNERO NAS ORGANIZAÇÕES: 
NOVAS PERSPECTIVAS EM ESTRATÉGIAS DE 
COMUNICAÇÃO PARA O RECONHECIMENTO DE 
GRUPOS LGBTS NAS EMPRESAS VIGOR E CARREFOUR 
CINTHIA ALVES FALCHI 
TODAS PUTAS? SOBRE FEMINISMOS E SALA DE AULA 
NA ESCOLA DA FUNDAÇÃO CASA FEMININA 
 
TRANSVERSUS: UM PANORAMA DA TRANSEXUALIDADE EM 
REPORTAGEM 360º 
MORA, Ana Carolina 
LABORÃO, Virggínia 
ASSIS, Maurício 
PINCINATO, Gabriela 
DE SORDI, Marina 
Artigo para o III Seminário Internacional Gênero, Sexualidade e Mídia: do pessoal ao 
Político – Pontifícia Universidade Católica de Campinas – Centro de Linguagem e 
Comunicação, Faculdade de Jornalismo, Campinas, 2015. 
O trabalho Transversus tem como proposta problematizar a classificação de “transtornos 
de identidade de gênero”, categoria estabelecida pela Organização Mundial da Saúde 
(OMS). Sendo assim, o pano de fundo que perpassa o projeto, bem como o seu principal 
gancho de atualidade é a “patologização” da condição de transgênero, e, por 
consequência, os desdobramentos sociais, culturais e jurídicos desse panorama. Para 
explorar com a abrangência e profundidade que o tema indubitavelmente exige e, além 
disso, para se estabelecer um fazer jornalístico sob uma perspectiva estética e interativa, 
a modalidade escolhida foi a multimídia, especificamente o gênero de reportagem 360°. 
Em suma, o Transversus busca problematizar e expor jornalisticamente as histórias de 
vida e os obstáculos em diversas esferas dos transgêneros, a fim de que se traga 
publicamente o que circunda essa temática, ou seja, aquilo que na academia é explorado 
cuidadosamente e de maneira profunda, mas que ao consciente coletivo permanece um 
tanto esquecido, por trás de preconceitos e receios advindos da insipiência ou da 
incompreensão da complexidade do tema. Portanto, o projeto se baseia em discutir os 
preconceitos sociais com as diferentes identidades de gênero, geralmente confundida 
com orientação sexual; revelar histórias daqueles que passaram pela experiência da 
descoberta de um “transtorno de identidade de gênero”; tudo isso mesclado com os 
conflitos de opiniões dos especialistas sobre o tema nas ciências humanas e nas 
biomédicas. 
Palavras-chave:transexualidade, jornalismo, transmídia. 
1. Introdução 
 O projeto Transversus, website jornalístico de reportagem 360º, tem como 
proposta problematizar a classificação de “transtornos de identidade de gênero”, 
categoria estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que patologiza a 
condição das pessoas transgêneras (que transitam entre os gêneros) e, por consequência, 
descontextualiza os desdobramentos sociais, culturais e jurídicos desse panorama. Para 
explorar com a abrangência e a profundidade que o tema indubitavelmente exige e, além 
disso, estabelecer um fazer jornalístico sob uma perspectiva estética e interativa, foi 
selecionado o gênero de reportagem 360º. 
Os estudos acadêmicos sobre reportagem 360° ainda são lacunar, tendo em vista 
o desenvolvimento contínuo da web e a proliferação de diversas terminologias. No 
entanto, é possível apreender que o gênero propicia pelo intermédio de imagens e sons 
de ambientes exibidos em documentários e fotografias a possibilidade de “transportar o 
leitor” ao conteúdo e permitir a interação com ele. Além disso, o leitor pode optar por 
onde deseja começar sua leitura de informações por diferentes ângulos disponibilizados 
na plataforma multimídia, conferindo autonomia no caminho a ser traçado pelo 
internauta, possibilitando a chamada leitura não-linear. 
Segundo argumenta Ormaneze (2012), na reportagem 360°, o leitor pode, a 
partir de uma tela introdutória sobre um determinado assunto, escolher qualquer 
percurso de leitura e sobre qual perspectiva temática deseja ter informação, desde dados 
estatísticos até perfis de personagens, como é pensado este projeto experimental. 
 
Com essa definição simples, no entanto, o jornal conseguiu criar uma 
reportagem que utiliza os hiperlinks de forma que não distancia o leitor do 
assunto principal e mostra que o webjornalismo não precisa se prender apenas 
ao imediatismo e à competição para saber quem traz a informação mais rápida, 
elementos importantes, mas não únicos no ciberespaço (ORMANEZE, 2012, 
p.4) 
 
 Quando abordado pelos meios de comunicação – fundamentalmente de massa e, 
em consequência, aquele que assenta o imaginário popular – o tema da transgeneridade 
apresenta-se de maneira consideravelmente superficial, sem que se leve em conta os 
reais entraves que o cercam, tampouco a rede de relações extremamente delicada que se 
desenvolve nos – assim cunhados pela OMS – portadores de “transtorno de identidade 
de gênero”. Com o formato 360º, foi possível romper o lugar comum jornalístico sobre 
o tema através de sua variedade de propostas imagéticas e o próprio caráter abrangente 
do jornalismo online. 
 Como pano de fundo para o projeto há o conceito de que o jornalismo deve 
incansavelmente informar de maneira a representar parcelas da sociedade cuja cultura, a 
sociedade e o Estado coagem de alguma forma, seja por frear liberdades individuais, 
seja por imbróglios advindos das ramificações burocráticas. Portanto, o projeto tem o 
objetivo de discutir os preconceitos sociais com as diferentes identidades de gênero, 
geralmente confundida com orientação sexual; revelar histórias daqueles que passaram 
pela experiência da descoberta de um “transtorno de identidade de gênero”; tudo isso 
mesclado com os conflitos de opiniões dos especialistas sobre o tema nas ciências 
humanas e nas biomédicas. 
 Em suma, o Transversus busca – a partir de textos, vídeos, áudio e fotografia em 
um website – problematizar e expor jornalisticamente as histórias de vida e os 
obstáculos em diversas esferas sofridos pelos transgêneros, a fim de que se traga 
publicamente o que circunda essa temática, ou seja, aquilo que na academia é explorado 
cuidadosamente e de maneira profunda, mas que ao consciente coletivo permanece um 
tanto oculto, por trás de preconceitos e receios advindos da insipiência ou da 
incompreensão da complexidade do tema. 
2. Metodologia 
 A leitura preliminar de obras de Judith Butler e Berenice Bento, estudiosas das 
ciências humanas que analisam a transgeneridade sob um viés antropológico e 
sociológico, abriu os horizontes para que este trabalho jornalístico pudesse ir além do 
senso comum e tratar a transgeneridade de uma perspectiva social e despatologizante. 
Tendo em vista o caráter de conflito inerente ao jornalismo, o grupo também 
empreendeu pesquisas sobre o assunto no âmbito médico e das ciências biológicas, 
tendo como exemplos de autores lidos John Money e Alexandre Saadeh. 
 O processo de pesquisa sobre o tema contou também com uma imersão em 
grupos de discussão de transgêneros, transexuais e travestis em redes sociais durante um 
período de aproximadamente seis meses no qual foi possível elucidar as problemáticas, 
discussões de representações e lutas pelos direitos desses grupos, além da participação 
presencial em um grupo no Centro de Referência LGBT de Campinas. 
 
2.1. Produção 
 Tendo em vista que o projeto Transversus conta com perfis de transgêneros e 
também com pautas sobre assuntos correlacionados à existência transgênera na qual os 
especialistas podem refletir sobre questões conflitantes como mudança de nome e 
tratamento no Sistema Único de Saúde, a seleção das fontes atrelou-se à possibilidade 
de revelar conflitos entre as conceituações e vivências. Os personagens escolhidos como 
perfilados também foram selecionados de maneira que diferentes experiências de 
transgeneridade pudessem ser explicitadas no trabalho, isto é, priorizou-se pessoas com 
histórias de vida diversas entre si. 
 Com relação à edição do site, o grupo teve como percepção que o layout da 
página de reportagem 360° é um dos fatores mais cruciais para que sejam possíveis 
características próprias do gênero como a leitura não-linear e a imersão em imagens. A 
escolha da cor foi um ponto delicado, tendo em vista que há cores claramente 
relacionadas com o gênero feminino e masculino. Sendo assim, o grupo optou pelo 
roxo, tendo em vista que consiste em uma mistura das cores máximas do binarismo de 
gênero, isto é, o rosa e o azul. 
 Para o logo do site, a ideia era de que o nome do projeto experimental 
permanecesse em três linhas, mas não separadas pela silabação de acordo com a norma 
padrão. O grupo entendeu tal ideia transparecia justamente o pressuposto do projeto de 
que o fenômeno da transgeneridade é mais complexo do que o senso comum preconiza 
e que deve ser lida atentamente, mesmo que seja de difícil compreensão a priori. 
 Rompendo com padrões tradicionais, os elementos no layout permite que o leitor 
possa fazer mais "descobertas" de conteúdo do que simplesmente se utilize do layout 
(MOHERDAUI, 2008). O layout do Transversus teve como inspiração o design de 
informação do El País 360°. No entanto, é preciso ressaltar que a natureza do tema do 
projeto experimental diz respeito a histórias de pessoas que vivenciam a transgeneridade 
e quais as implicações sociais disso. 
 A navegação do site foi pensada de forma que o internauta pudesse escolher qual 
caminho seguir, tendo acesso ao conteúdo de várias formas diferentes. Na home do site, 
isto é, na página de abertura, uma sequência rotativa de fotos é vislumbrada pelo 
internauta, sendo a porta de entrada para os perfis multimídia produzidos sobre cada um 
dos perfilados. Outra possibilidade do internauta é clicar em um dos links para as 
reportagens multimídia, distribuídas dos dois lados da sequência rotativa de fotografias. 
A partir disso, o grupo realizou o planejamento de hiperlinks que constroem a teia de 
navegação pelo site. 
 Nos perfis dos personagens, o internauta pode assistir ao vídeo, ler o texto ou ver 
a galeria de fotos. Através do perfil escrito, é possível acessar as reportagens multimídia 
que possuem mais relação com as questões que o perfilado vivencia, como, por 
exemplo, problemas com a mudança de nome nos documentos oficiais ou opiniões que 
se sobressaem sobre a patologizaçãoda transexualidade. O internauta sempre terá 
também a opção de retornar para a home e escolher se informar por um novo 
personagem ou reportagem. 
 É preciso ressaltar que a plataforma multimídia na qual foi produzido o trabalho 
possibilita a mobilização de mais fontes em diversas mídias e páginas interligadas por 
hiperlinks. 
As fontes do projeto podem ser divididas nas categorias de perfilados e fontes 
especializadas. Os perfilados são pessoas transgêneras, transexuais ou travestis, que têm 
histórias interessantes da perspectiva dos valores-notícia jornalísticos além de serem 
pertinentes para as discussões as quais o projeto se propôs. 
 
2.2. Perfilados 
No que diz respeito às fontes perfiladas, escolheu-se sete personagens. Entre 
eles, Phedra de Córdoba, 72 anos, atriz e transexual que realizou a cirurgia de 
readequação sexual e Michele dos Santos, 31 anos, profissional do sexo e travesti. Para 
mostrar as diversas faces da transgeneridade, buscamos, além de travesti e uma 
transexual que realizou a cirurgia, histórias de transexuais ainda em sua transição de 
gênero: Leila Dumaresq, 35 anos, designer de jogos, e Esther Pereira, 50 anos, artesã. 
Também foram escolhidos três homens transexuais. Juliano Maziero, 39 anos, agente 
penitenciário na Cadeia Pública Feminina de Rio Claro; Régis Vascon, 41 anos, assessor 
jurídico do Centro de Referência LGBT de Campinas e Erick Barbi, 34 anos, músico. 
- Fontes especializadas 
É importante ressaltar que todas as fontes especializadas em transgeneridade – e todas 
as identidades abarcadas por esse conceito – confrontam saberes e provocam um debate 
ético para romper o senso comum e fazer com que o projeto experimental Transversus 
fuja da superficialidade dos meios de comunicação de massa. No âmbito das ciências 
biomédicas: Alexandre Saadeh, psiquiatra e coordenador do Ambulatório de 
Transtornos de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Hospital das Clínicas (HC) 
da Universidade de São Paulo (USP), por sua tese sobre estudo psicopatológico de 
transexualismo masculino e feminino; Judit Lia Busanello, psicóloga e diretora do 
Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais da Secretaria de Saúde do 
governo do estado de São Paulo, referência no acolhimento de saúde integral de 
transgêneros; Bárbara Menezes, psicóloga, coordenadora de atendimentos no Centro de 
Referência LGBT de Campinas. Em termos de cirurgia fora dos moldes propostos pelo 
SUS e pelo HC da Universidade de São Paulo, selecionamos Jalma Jurado, PhD em 
medicina pela USP e pioneiro em cirurgia de readequação sexual no Brasil. Já no 
âmbito das ciências humanas: o doutor Jorge Leite Júnior, professor da Universidade 
Federal de São Carlos, estudioso da questão sociológica da transexualidade; a filósofa 
Marcia Tiburi, doutora em filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e 
pensadora contemporânea sobre gênero e sexualidade. O mestre e professor da PUC-
Campinas, Tiago Duque, que trabalha com as nuances por trás da descoberta da 
identidade de gênero na adolescência pelas travestis. Para questões legais: o advogado 
Eduardo Mazzilli, especialista em Direito Civil, que elucida a legislação para mudança 
de nome e sexo nos documentos oficiais, e o juiz Luiz Antonio Torrano, para expressar 
o posicionamento do Judiciário em relação à questão. 
 
2.3. Edição 
 Edição O projeto é composto por 14 vídeos subdivididos em três partes: perfis, 
os quais foram escolhidos sete personagens; seis reportagens audiovisuais, com a 
participação de nove especialistas e um vídeo de abertura que está na página inicial do 
site. Para a produção audiovisual que abre o site, os produtores decidiram diferenciá-lo 
do todo o deixando em preto e branco. Optou-se por realizar os conteúdos audiovisuais 
sem offs ou passagens, de acordo com a predileção dos produtores pela linguagem 
documental. Como aponta Oliveira, Carmo-Roldão e Bazi (2006): 
A produção desse tipo de vídeo requer cuidados especiais: a seleção de fontes 
necessita ser muito planejada, pois são elas que darão estrutura ao vídeo; o 
roteiro de perguntas deve ser realizado com continuidade, ou seja, obedecer a 
uma sequência de sonoras, levando-se em consideração o que a primeira 
fonte disse de importante, passando para a segunda e, assim, sucessivamente. 
(OLIVEIRA, CARMO ROLDÃO, BAZI, 2006, p.16) 
 
Logo, foi necessário construir uma linha narrativa, compreensível ao internauta, a partir 
dos depoimentos gravados dos especialistas e dos perfilados, utilizando recursos como 
enquadramento e trilha sonora para conceder dinamismo. Tendo como pressuposto a 
linguagem multimídia a qual a reportagem 360° Transversus se propõe, o foco na edição 
final do projeto foi possibilitar que textos, vídeos e fotografias dialogassem entre si, mas 
não se repetissem no que diz respeito ao conteúdo. Os produtores optaram por títulos 
subjetivos para as, tendo em vista que o próprio tema objeto do projeto experimental 
não está dado de forma simples. Por exemplo, a pauta sobre a patologização das 
identidades transgêneras recebeu o nome de CID 10 F.64 que é o código que classifica 
esses fenômenos como um transtorno na Classificação Internacional de Doenças (CID). 
A fotografia, além de ser uma rememoração do passado, é também condicionada pelo 
social, sendo assim, o Transversus se apegou as particularidades de cada perfilado e 
uniu ao convencional, ao comum, gerando um ensaio fotográfico de cada um, uma vez 
que o ensaio, mesmo não tendo uma definição exata, conta uma história, tem unidade 
entre as imagens e, sobretudo, não é redundante, pois cada foto revela uma nova nuance 
por meio de reflexões sensoriais e subjetivas. De acordo com Simonetta Persichetti 
(2000), crítica de fotografia, “o ensaio está intima e diretamente ligado ao jornalismo”. 
 
3. Resultados 
 Sacramentada a escolha do tema, muitas perguntas vieram à tona: O que 
desejamos mostrar? Quais serão nossos enfoques? Será que não precisamos ler mais 
sobre o tema? Conversar com mais pessoas? Os debates foram diversos e por algumas 
vezes com tons inconclusivos fantasmagóricos. As dificuldades apareceram quando 
notamos – após os primeiros contatos com as fontes - a complexidade do tema e a 
disparidade de opiniões, algo que, por um lado, nos assustava pelo tempo que diminuía, 
e por outro tornava o assunto ainda mais atraente jornalisticamente. 
 A fuga dos clichês, categorizações e idiossincrasias que circundam a abordagem 
de temas que, indubitavelmente, questionam padrões sociais vigentes foi algo pelo qual 
o grupo prezou, fazendo com que confrontássemos a nós mesmos, nossos preconceitos 
(nem sempre anunciados ou sequer conhecidos) e nossa própria bagagem cultural. Para 
isso, nos alertávamos cada vez mais para a importância de sempre revisitarmos a 
bibliografia e o principal: conceber a arte jornalística de entrevistar uma fonte, como, de 
fato, uma negociação. Negociação esta que exige – a fim de alcançar o horizonte 
pretendido – sensibilidade, atenção e serenidade. 
 Tivemos em nossa frente não só o desafio de retratar uma temática 
extremamente intrincada, com uma miríade de relações em diversas áreas do 
conhecimento humano, mas também a provocação de podermos experimentar um 
gênero jornalístico completamente novo. Mesmo com a dificuldade de termos escassa 
bibliografia teórica em mãos e até mesmo pouco conhecimento prático do novo gênero, 
vivenciar uma experiência inovadora no jornalismo multimídia nos estimulou para que a 
todo momento trabalhássemos para produzir textos, vídeos e fotografias de qualidade. 
 Sem receio de soar piegas, é totalmente justo dizer que o aprendizado do grupo 
foi imenso, não apenas no que tange o jornalismo, mas mais ainda – e talvez até de 
maneira mais decisiva – em nossas visões de mundo e noções de vivência no meio 
social. Ao abordarmos pessoas com histórias de vida das mais variadas possíveis,que, 
todavia, se interligavam por sofrimentos semelhantes (de, no limite, mesmas origens e 
mesmos fundamentos) os conceitos e análises presentes na bibliografia ecoavam em 
nossas mentes e realizávamos uma interpretação íntima com basicamente quatro 
componentes: o conteúdo da bibliografia; o aprendizado agregado na faculdade de 
jornalismo; a fala das fontes; e a ruína da imparcialidade jornalística: o que nós 
pensávamos daquilo tudo. 
 A lição que incorporamos é a de que o jornalista, entre outras milhares de 
competências um tanto mais especificas, deve ser um militante da liberdade, seja lá o 
que essa palavra expressa e significa, mas de fácil compreensão de todos. Parafraseando 
Cecília Meireles em “O Romanceiro da Inconfidência”: “Liberdade é uma palavra que o 
sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”. 
Seria pretensão demais acreditar ser capaz de explicar o que é a liberdade, mas após a 
conclusão desse projeto, fica em nós a utopia de possibilitar pessoas a alimentarem suas 
liberdades através do jornalismo. 
 
Bibliografia 
 
ANDRIGUETI, Analu. O jornalista no mundo dos games. In: FERRARI, Pollyana 
(Org.). Hipertexto hipermídia - as novas ferramentas da comunicação digital. São Paulo: 
Editora Contexto, 2012. p. 91-106. 
BENTO, Berenice. A diferença que faz a diferença: 1 corpo e subjetividade na 
transexualidade. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2009. 
LEITE JÚNIOR, Jorge. Transitar para onde? Monstruosidade, (des)patologização, 
(in)segurança social e identidades. Florianópolis: Revista de Estudos Feministas, maio-
agosto 2012. 
MANOVICH, Lev. The Language of New Media. Massachusetts: The MIT Press, 2001. 
MOHERDAUI, Luciana. Em busca de um modelo de composição para os jornais 
digitais. São Paulo: Contemporânea, vol.6, 2008. 
MONEY, John. Gay, Straight, and In-Between: The Sexology of Erotic Orientation. 
New York: Oxford University Press, 1998. P. 87 – 112. 
ORMANEZE, Fabiano. Jornalismo na internet: reflexões sobre transmídia e 
reportagem 360° como propostas de produção. In: JUNQUER, Ângela et al. Novas 
competências na sociedade do conhecimento. Campinas: Leitura Crítica, 2012, p. 73-
80. 
PERSHICHETTI, Simone. Fotografia Brasileira II. São Paulo: Estação Liberdade, 
2000. 
SAADEH, Alexandre. Transtorno de identidade sexual: um estudo psicopatológico de 
transexualismo masculino e feminino. São Paulo, 2004. 
#SomosTodosVerônica? 
 
O sonho que acho mais fascinante é de uma sociedade 
andrógina e sem gênero (mas não sem sexo), em que a 
anatomia de cada um é irrelevante para o que cada um 
é, faz ou com quem cada um faz amor. 
Gayle Rubin 
 
___________________________________________________________________________ 
Resumo 
O texto apresentado propõe uma reflexão comparativa entre o filme “Uma nova amiga”, sob a 
perspectiva dada à transgeneridade e à sexualidade das personagens, e a abordagem da 
situação de Verônica Bolina pela mídia brasileira. A ideia principal é comparar os dois casos 
e refletir o papel da mídia frente à heteronormatividade cisgênera. 
Palavras-chave: corpos; sexualidade; gênero. 
___________________________________________________________________________ 
 
Sumário 
Introdução. 1. O filme “Uma nova amiga”. 2. O Caso Verônica Bolina. 3. A mídia como 
instrumento de transformação ou reprodução? Considerações finais. Referências 
bibliográficas 
 
Introdução 
 
A partir da comparação da atuação de diferentes mídias, entendidas como 
instrumentos de pedagogia sobre linguagem, corpos e identidades, pretende-se refletir sobre o 
seu papel frente à heteronormatividade cisgênera reconhecida como padrão social. 
Para tanto, abordar-se-á o retrato das transgressões de gênero e sexualidade 
apresentadas pelo cinema, no filme “Uma Nova Amiga” originado do conto “The new 
girlfriend”, de Ruth Rendell, que trata da construção da relação entre David/Virgínia e Claire 
e, principalmente, da transgressão de identidades e manifestações de sexualidade das 
personagens. A película se utiliza de características que estimulam o espectador a ponderar as 
possibilidades que extrapolam o binarismo cisgênero marcante na sociedade contemporânea. 
Como antítese, abordar-se-á o incidente que tornou conhecida a travesti, Verônica 
Bolina. O caso foi coberto pelas mídias por vezes de forma depreciativa, exacerbando a 
atmosfera de marginalidade em que vive parte das travestis no Brasil, sem considerar a 
situação de exclusão social e desamparo estatal em que vivem. 
Nesse aspecto, ao contrário do cenário afetuoso de “Uma Nova Amiga”, a 
marginalização de Verônica começou pelo silenciamento do social e da sua identidade de 
gênero, realçadas como justificadores de sua condenação antecipada por um crime sequer 
apurado, e da violência à dignidade e à integridade que sofreu no cárcere. Tratar-se-á, ainda, 
do ativismo digital como instrumento de controle em face dos abusos dos agentes do Estado e 
da mídia dominante no exercício dos papéis ideológicos, a partir do movimento 
#SomosTodasVerônica. 
Passando pelos direitos humanos e pela teoria de gênero, em especial a elaborada por 
Judith Butler, a ideia é articular os modos como as mídias se referem aos temas gênero e 
sexualidade e refletir sobre o papel delas na educação, ainda que informal, da sociedade e na 
definição de direitos. 
 
1. O filme “Uma nova amiga” 
 
O filme “Uma nova amiga”, lançado neste ano de 2015 e dirigido pelo cineasta francês 
François Ozon e se passa em um centro urbano, nos dias atuais, no qual as personagens, de 
elevado padrão de vida, vivem uma história de amor e descoberta de identidades e 
sexualidades. A história inicia com a amizade de Claire (Anaïs Demoustier) e Laura (Isild Le 
Besco) desde a infância até a vida adulta, sugerindo uma tensão amorosa e sexual não 
concretizada de Claire em relação a sua amiga Laura. Laura e Claire se casam, 
respectivamente, com David (Romain Duris) e Gilles (Raphaël Personnaz). Laura parece feliz 
com seu casamento, mas falece logo após dar à luz à primeira filha. Claire, madrinha da 
criança, promete à amiga cuidar de Lucie, a bebê, e de David, mas, demora um pouco a 
procurar os dois após o funeral. Quando vai até à casa deles, Claire é surpreendida com David 
vestido de mulher, maquiado, com peruca loira e unhas pintadas, ninando a filha. O primeiro 
momento retrata o choque de Claire, logo afastado quando David comenta do consentimento 
de Laura com essa performance. A partir de então, David e Claire passam a construir uma 
relação oscilante entre cumplicidade e estranhamento, incertezas e, sobretudo, travas 
decorrentes de paradigmas rigidamente construídos sobre suas identidades e sexualidades no 
processo de socialização. 
A aproximação das personagens opera a desconstrução e construção de identidades. 
David se transforma em personagem de sua verdadeira identidade, Virgínia, que encontra em 
Claire a segurança necessária para se expor à sociedade. Claire, nitidamente investida em uma 
relação matrimonial marcada por estereótipos de gênero, especialmente nos jogos de sexo e 
prazer, em que performatizava o recato da esposa tradicional e abdicava da prerrogativa de 
satisfação própria, passa a exercer seu prazer sexual como um corte repentino na dinâmica do 
casal a partir da aproximação com sua nova amiga, Virgínia, e causa espanto em Gilles, o 
marido. 
A constância da convivência entre Virgínia e Claire faz com que identidade ou 
transidentidade da primeira já não fosse uma questão para o relacionamento entre elas e abre 
espaço para o questionamento da bissexualidade de Claire que transfere para Virgínia a tensão 
que sentia por Laura. Como reflexo dos próprios sentimentos, Claire questiona Virgínia sobre 
sua atração por homens em uma cena em que essa é assediada por um homem no cinema. 
Essa é uma das partes mais didáticas do filme, em que se torna clara a diferença entre 
identidadee sexualidade, pois Virgínia revela não se sentir atraída por homens, mas que se 
sente feliz que um homem desconhecido a tenha visto como mulher, ou seja, tenha 
reconhecido a sua identidade. 
A relação entre as duas personagens se transforma de amizade em amor, quando 
ocorre a primeira cena de sexo. Cena impactante, em que o peso da vinculação do desejo às 
designações socialmente construídas em torno dos diferentes órgãos sexuais. Claire então 
resiste, dizendo que Virgínia é homem e por isso não pode prosseguir. Há nesta parte um sutil 
questionamento em relação ao próprio casamento de Claire, haveria permissividade para 
relações com outra mulher? Ou simplesmente Claire pensou exclusivamente na satisfação de 
um desejo reprimido pela socialização? 
A negativa da identidade de Virgínia por Claire, naquele momento, leva ao ápice da 
narrativa, em que Virgínia sai em desespero com a rejeição de Claire e é atropelada. Levada 
em estado comatoso ao hospital, Virgínia é internada como David e tratada como homem. A 
personagem só desperta quando Claire a chama e veste de Virgínia, ainda no leito, e canta 
“Une femme avec toi” (uma mulher com você). 
O filme revela uma história de amor com um final feliz, destoando da história contada 
no livro em que se baseia, que tem um final trágico decorrente das dificuldades de 
enfrentamento cotidiano das questões ligadas à construção e performance de identidade e da 
sexualidade, destoantes do “legítimo” inscrito continuamente pela socialização dos corpos 
(LOURO, 2015: 17) 
Nesse caso, o cinema como veículo de comunicação foi capaz de tratar de gênero e 
sexualidade com delicadeza ímpar e fazer o espectador ponderar sobre o espectro de 
possibilidades desse universo marcado pela binaridade, sob o prisma do afeto, utilizando-se 
para isso elementos de aceitação, como a estética dos corpos, da cor e da classe social das 
personagens. 
 
2. O Caso Verônica Bolina 
 
Verônica Bolina é negra, pobre e travesti. Antes de ser presa, exibia um corpo forte, 
mas enquadrado nos padrões de beleza femininos ditados pelas revistas e desenhados em 
academias, tinha longos cabelos negros, e zelo com a maquiagem, aparecendo sempre 
maquiada em suas fotos. De fato, nada poderia diferenciar sua identidade em relação a 
qualquer outra mulher. 
Em abril de 2015, Verônica passou a ser, também, famosa. Não por mérito, mas por 
ser “O Travesti que arrancou a dentadas a orelha de um policial. Acusada de agredir uma 
idosa, Verônica foi presa em abril e levada uma delegacia da capital paulista, onde foi 
colocada em uma cela junto com homens. Rapidamente as imagens do policial com a orelha 
machucada chegaram ao conhecimento público pelas redes sociais e pelas manchetes dos 
principais noticiários do ramo do crime como espetáculo. Verônica foi então triplamente 
criminalizada e prejulgada, era agora negra, pobre, travesti, assassina de uma idosa e a 
agressora de um policial. 
No entanto, com a mesma velocidade, foram “vazadas” fotos de Verônica após o 
incidente com policial. Verônica apareceu com a cabeça raspada, os seios à mostra, o rosto 
deformado, com uniforme de presos homens, rasgado em sua região anal, ensanguentada. 
Essa imagem de Verônica veio a se somar com o assassinato que não cometeu e com a orelha 
quase arrancada do policial. Verônica estava “condenada”, ao melhor estilo da criminologia 
de Lombroso, assassina sem que houvesse morte, agressora sem que lhe fosse reconhecida a 
possibilidade de defesa. Verônica foi arrancada de sua identidade, portanto, de sua 
humanidade, foi transformada em escória, em um não ser humano pelos aparelhos de 
socialização e dominação cultural de massa. Verônica foi monstrificada, seu corpo abjeto 
(MISKOLCI, 2015: 43), despido de identidade, criou repulsa, deu audiência e retórica para 
conservadores e fundamentalistas acríticos ao que era óbvio. 
O óbvio não veio dos veículos oficiais de informação, mas de uma reação 
especialmente impulsionada pelas redes sociais, que denunciava a nítida tortura que Verônica 
sofreu em sua cela, a pretexto de suposta resistência e mau comportamento. A aplicação de 
pena sem processo, sem julgamento, a exacerbação de uma violência não autorizada por parte 
da polícia, a institucionalização da barbárie pelo Estado, a gravação de uma confissão 
induzida por um agente público que deveria protege-la, a supressão de todas as garantias que 
lhe ratificam o caráter de ser humano e são reconhecidas constitucionalmente a qualquer 
pessoa, inclusive a criminosos, a espetacularização de sua condição de não ser foram 
denunciadas por ativistas nas redes sociais, através da campanha #SomosTodosVerônica. 
A campanha conseguiu visibilidade e garantiu que Verônica fosse transferida para 
outro estabelecimento. Verônica ainda está presa aguardando julgamento pela agressão à 
idosa, foi assistida pela Defensoria Pública e processa o Estado de São Paulo pela tortura 
sofrida. Processa o Estado que lhe retirou a identidade e a humanidade, que a pretexto de 
garantir sua integridade, expos toda a sua vulnerabilidade, alimentando a espetacularização de 
sua miserabilidade humana. 
 
3. A mídia como instrumento de reprodução ou de transformação? 
 
A Constituição da República, em seus artigos 220 a 224, estabelece regras para a 
Comunicação Social. Ao lado da compreensão dos direitos fundamentais, é possível dizer que 
o livre pensamento é resguardado pela Lei máxima do Brasil, mas que, por certo, é necessário 
respeitar os direitos das demais pessoas bem como promover “os valores éticos e sociais da 
pessoa e da família”. 
Ainda que haja uma tentativa de redefinir o conceito ‘família’ pelo Legislativo 
brasileiro e por isso debates acalorados têm acontecido, é possível afirmar que a intenção do 
constituinte foi inserir parâmetros ao que se veicula nos meios de comunicação. 
Vale dizer que a leitura da Constituição é sistêmica; não se lê dispositivos isolados e, 
por isso, o artigo 221, IV, deve ser compreendido sob as lentes dos direitos fundamentais 
como mencionado acima. 
Tanto os direitos fundamentais previstos no artigo 5º quanto os fundamentos da 
República estabelecidos no artigo 1º, em especial a dignidade da pessoa humana. 
Além disso, em 2006, foi editada a Lei 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, 
que dentre outros preceitos, o artigo 8º, III estabelece que os entes federativos devem agir 
articuladamente a fim de incitar os meios de comunicação a promover o respeito aos valores 
éticos e sociais da pessoa e da família, coibindo estereótipos que perpetuem violências. 
Ao lado disso e no mesmo sentido, a Convenção de Belém do Pará, também estabelece 
no artigo 8, alínea ‘g’ que os Estados incitem os meios de comunicação a agirem em 
consonância com os ditames nacionais e internacionais. 
É evidente que tanto a Lei 11.340/2006, quanto a Convenção de Belém do Pará se 
valem do termo “mulheres”. No entanto, como dito acima, a leitura é feita globalmente e o 
respeito à dignidade da pessoa humana se sobrepõe ao preciosismo linguístico. Ademais, é 
forçoso compreender o sistema legislativo à luz dos fundamentos do Estado Brasileiro, 
elencados nos art. 1o e 3o da Constituição de uma república livre, justa e solidária, fundada 
para bem de todos sem preconceitos ou qualquer forma de discriminação. 
Além disso, é de se reconhecer a eficácia supraconstitucional dos tratados, incluindo a 
CEDAW e, sobretudo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no sentido de se 
garantir a intepretação da legislação e dos direitos fundamentais como corolário da existência 
humana e princípios aplicáveis entre si e sobre toda a produção legislativa e judicial. 
Pondera-se, ainda, que em recente decisão o Tribunal de Justiça do Estado de São 
Paulo determinou que as medidas protetivas previstas na Lei Maria da penha sejam aplicadas 
em favor de transexual (BRASIL, 2015) ameaçada por ex-companheiro. 
Os meios de comunicação,ao lado do Estado, são atores sociais de suma importância 
no enfrentamento da violência de gênero contra a mulher, aqui entendida como 
autoidentificação, e, portanto, devem ser convocados a assumirem esse compromisso. 
Judith Butler (2015, 69) ressalta que 
 
Se há algo de certo na afirmação de Beauvoir de que ninguém nasce e sim 
torna-se mulher decorre que mulher é um termo em processo, um devir, um 
construir de que não se pode dizer com acerto que tenha origem ou um fim. 
Com uma prática discursiva contínua, o termo está aberto a intervenções e 
ressignificações. (grifo no original) 
 
Somente a coordenação de ações entre os principais atores – com atenção à mídia - é 
que resultados positivos poderão ser alcançados em especial no sentido de impedir a 
reprodução da violência contra as mulheres. Até lá, muitos embates calorosos serão 
vivenciados porque de fato nem todos são Verônicas, nem todos reconhecem o que há de 
humano em cada um de nós, mas apenas o que há de condenação inscrita em cada corpo pelos 
dispositivos de pedagogia e ordem social (FOUCAULT, 2015:86). 
 
Referências bibliográficas 
 
BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. Acórdão em segredo de justiça. São Paulo, 19 out. 2015. 
Disponível em: <http://www.tjsp.jus.br/Institucional/Imprensa/Noticias/Noticia.aspx?Id=28416>. 
Acesso em: 26 out. 2015. 
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão de identidade. Tradução Renato 
Aguiar. 8. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. 
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: a vontade de saber. Trad. Maria Thereza da Costa 
Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2015. 
LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. 2. ed. Belo 
Horizonte: Autêntica, 2015. 
MISKOLCI, Richard. Teoria queer: um aprendizado pelas diferenças. 2. ed. rev. ampl. Belo 
Horizonte: Autêntica, 2015. 
Comunicar no jornalismo: a dissonância na reportagem multimídia 
“transgêneros”, do TAB 
 
 
ITO, Liliane de Lucena 
Departamento de Comunicação Social (PPG-COM) 
UNESP (Bauru, SP) 
Bolsista CAPES (Doutorado) 
 
 
 
 
Palavras-chave: transgêneros; reportagem multimídia; TAB 
 
 
 
Introdução 
 
Lançada em outubro de 2014 e publicada semanalmente até a atualidade, a série 
de reportagens TAB, do Uol (tab.uol.com.br), é um exemplo de novas formas narrativas 
aplicadas ao jornalismo. Com conteúdo interativo, contém diversos recursos multimídia 
e, de certa forma, introduz um formato jornalístico muito pouco explorado pelo portal 
até então. O texto do TAB se enquadra em estilo, profundidade e tamanho no gênero da 
reportagem, sem se prender às amarras da pirâmide invertida e do lead. O layout é 
produzido conforme o tema da edição, dando ao TAB uma liberdade maior em relação 
ao projeto gráfico de conteúdos jornalísticos do Uol. 
 
 
Metodologia 
 
Neste trabalho, foi escolhida para análise a edição de número 26ª, publicada em 
27 de abril de 2015, intitulada “Transgêneros”. Buscou-se aplicar o metáporo 
(MARCONDES FILHO, 2013), com foco no relato metapórico do Acontecimento 
comunicacional no momento em que a leitura foi feita. A possibilidade de autoanálise é 
permitida nos estudos que seguem a linha da Nova Teoria da Comunicação, desde que o 
observador realize uma divisão interna entre o eu-observador e o eu-receptor do mesmo 
fato (MARCONDES FILHO, 2013). 
 
 
 
 
 
 
Resultado: O relato metapórico 
 
As imagens nos abalam. Falam-nos diretamente à alma. Envolvem e trazem o 
que há de humano em nós. Atingem um limiar profundo que nos remete ao passado, 
num movimento repleto de memória, sentimentos, reminiscências. Quando acessei a 
reportagem, senti um espanto interno. “Como pode? Tão naturalmente adaptados ao 
gênero oposto e tão violentados durante toda uma vida”, era a minha pergunta inicial, 
antes mesmo de conhecê-los, de me envolver em suas histórias. As fotografias de 
abertura, dispostas em movimento constante, ora lentas, ora mais rápidas, mostram duas 
pessoas que, para mim, são totalmente desconhecidas. Mas que, ao final da reportagem, 
me parecem próximas. Elas me fizeram pensar na minha trajetória, imaginando como 
seria se eu também fosse transgênero. 
Quando vejo as imagens de abertura, sei que são dois indivíduos que fizeram a 
transição. E, então, tudo o que se passa em minha cabeça é muito rápido e é preciso 
atenção para não me perder nos pensamentos e inviabilizar este relato. De certa forma, 
me choco, por mais contra quaisquer preconceitos que eu seja. Ao ver uma pessoa 
transgênero, nascida homem, à vontade como uma mulher de meia idade, tão 
confortável em suas roupas, com seu estilo moderno, adequadamente maquiada, 
enfeitada com colares e braceletes, além de um piercing embaixo do lábio inferior, 
chego a invejar, em um relance de interiorização daquela imagem, a cor branca e o corte 
moderno dos seus cabelos, o tom chumbo das unhas extremamente bem-feitas. 
Pergunto-me se serei tão estilosa quando chegar aos 50. 
Ao surgirem as fotos da outra pessoa, me surpreendo ainda mais. Não há 
qualquer traço feminino num corpo nascido como tal. É mesmo difícil lembrar que ele 
já fora mulher em algum momento de sua vida. Barba, pelos no corpo, unhas 
carcomidas. E agora, escrevendo este relato, percebo a força dos estereótipos no meu 
sentimento, na minha necessidade em marcar-me como feminina. E acredito que, ao 
mesmo tempo, essas marcações, por mais socialmente criadas que sejam, foram 
essenciais para a libertação desses dois sujeitos. São seus instrumentos de 
posicionamento no mundo. 
Nesta reportagem, são oferecidos caminhos para a construção da minha leitura. 
Há cinco links para conhecer um pouco mais da história dela, cuja imagem está ao 
fundo, como se olhasse para ele. E, à direita, outro caminho de leitura com a mesma 
quantidade de opções, para saber mais sobre ele que, por sua vez, parece olhar para a 
direção dela. O olhar dela me parece sereno; o dele me parece pensativo. Mas não posso 
ter certeza dessas percepções. 
Ela e ele são Letícia e Alexandre. 
Nos olhos dela e dele, há um cintilar diferente. Denotariam as agruras 
testemunhadas no decorrer de uma vida? Revelariam um sentimento de desencaixe de 
mundo? Mostrariam a força interna, a liberdade conquistada? Não sei. Mas mexem 
comigo. Não são olhares comuns, que passam por mim e não me dizem nada. Tocam-
me. Fazem-me refletir sobre o quanto ainda estamos presos a parâmetros, padrões, 
modelos, conceitos, “normalidade”. A luta não foi fácil para eles. E ainda não o é, para 
ela e ele e para tantos outros que se escondem por trás de máscaras eternas. Uma forma 
de prisão em seu próprio corpo. 
 
 
 
Leio as frases que se referem a ele e a ela, mas preciso repetir a leitura para 
entender melhor, mesmo que sejam tão simples. O que me causa dificuldade não é a 
sintaxe ou a semântica. É a transposição da frase para o meu interior. “Letícia Lanz é 
escritora e psicanalista. É casada com Angela, pai e avô. Aos 50, após um infarto, disse 
adeus a Geraldo”. 
Ok, até o primeiro ponto final tudo está claro. Tudo está normal. Até casada com 
Angela, também quase comum. Tenho vários amigos gays e alguns, casados no papel. A 
união gay é possível no estado de São Paulo, nos Estados Unidos e em outros pontos do 
mundo. É um direito conquistado. Mas quando vem o trecho “pai e avô”... parece que 
Figura 1. Imagem de abertura da reportagem analisada 
não entendi bem a frase. Volto a lê-la e vejo que não houve erro de escrita. E sei que o 
estranhamento não é por preconceito. Mas porque automaticamente penso como seria 
viver dentro de parâmetros sociais tradicionais, casar e ter filhos e, depois de tudo, 
existir uma mudança tão geral. A ruptura de todo o transgênero com o gênero do 
nascimento é um rompimento com o passado. Mas há laços e relações que não podem 
ser rompidos. Então, martela a dúvida na cabeça: se foi pai,continua sendo pai, depois 
que se torna mulher? Ou será que é mãe e avó, ao invés de pai e avô? A mudança de 
gênero, ainda pouco debatida, é capaz de causar esse tipo de indagação. 
Mas daí, reflito: “Ela, Letícia, é quem tem o direito de ser chamada como bem 
entender. É ela quem, durante muito tempo, lutou, mesmo que internamente, contra a 
imagem que a denominava como Geraldo. E, se hoje, deseja ser ainda chamada de pai 
e avô, mesmo num corpo de aparência feminina, é seu direito também”. 
Opto por ler primeiro a história de Letícia. É uma guerreira. Uma intelectual. 
Cita Simone de Beauvoir, Lacan... Admiro-a. Mas o que me toca mais é o fato de como 
lidou com a situação de ter uma vida dupla: “montando-se” como mulher em viagens e 
longe da família; construindo um quarto secreto onde teria liberdade para ser quem 
gostaria de ser, com bonecas, maquiagens, roupas e sapatos femininos. Compreendendo 
que a vontade em ser mulher não era apenas no estético, no exterior, mas algo que vinha 
realmente da alma. Uma maneira de enxergar o mundo. 
E me chama a atenção principalmente a história de amor entre Letícia e Angela. 
Coloco-me no lugar de Angela. Imagino quão forte é essa mulher para aceitar a 
transição do marido. Penso que esse é um tipo de amor verdadeiro; não se preocupa com 
o julgar alheio, não se dobra diante das maiores dificuldades; é capaz de enxergar o 
outro em sua alteridade e, ainda assim, amá-lo. Sinto-me emocionada com isso. 
A reportagem me agrada em seu aspecto visual. Gosto do layout, da maneira 
como foram dispostos fotos, legendas, texto. E principalmente porque colocam a 
história na boca de quem viveu. Em alguns vídeos curtos, Letícia conta sua história. É 
ela quem diz, por exemplo, como escolheu seu nome. Letícia significa alegria e Lanz, 
guerreira. “Sou uma pessoa apaixonada pela vida. Descobri isso quando tive um infarto. 
E pensei ou fico aqui na UTI para o resto da vida, não voltava para o mundo, ou eu 
voltava e ia ser uma amante da vida”, diz. 
Pausa, respira e pondera: “é o que eu sou hoje”. 
Num dos vídeos, feito em sua casa, uma residência confortável e bem decorada, 
ela mostra os porta-retratos espalhados pela mobília cujas fotos são de antes da 
transição. Para mim, revela como esta mudança foi bem-resolvida. Não há uma negação 
total do passado, uma necessidade em apagar a todo custo aquilo que aconteceu antes. 
Foi uma vida feliz, de certa forma, e agora ainda é, com a diferença de Letícia se sentir 
mais livre. 
Agora, vou ao encontro da história de Alexandre Peixe. Assim como eu, quando 
vi as fotos dele na abertura, a jornalista que escreve o texto também inicia dizendo que, 
não fosse ele a andar em sua direção no local marcado para a entrevista, a Igreja 
Consolação, em São Paulo, ela também certamente não saberia de sua identidade. 
Alexandre não tem nenhum traço feminino. Barbado, braços cruzados, olhar receoso. 
Os braços cruzados são para esconder as mamas. Outras estratégias para camuflar o 
volume dos seios são permanecer mais gordinho e usar, diariamente, colete e blusa bem 
apertados por baixo da camiseta. 
 
 
A história de Alexandre é diferente da de Letícia. Ela, que conquistou o sucesso 
profissional, se assumiu, defendeu dissertação sobre gênero, não parece (em meu 
julgamento interior) sofrer grandes barreiras profissionais. Ao menos não foi dito no 
texto. Alexandre, por sua vez, não consegue emprego, mas sonha em trabalhar com 
crianças, algo que já foi, um dia, antes da transição, seu ganha-pão. Imagino, nessa hora, 
os olhos preconceituosos de alguns pais que encaram deixar o filho aos cuidados de um 
transgênero como algo perigoso para a formação da criança. E me dói, pois penso que 
Alexandre faria seu trabalho com muito mais amor e vocação do que tantos por aí. 
Figura 2. Alexandre e sua tática em cruzar os braços para camuflar os seios 
Parto para os vídeos. O primeiro, em que ele se apresenta, revela o único traço 
feminino: a voz. Apesar do corpo masculinizado, a voz tem um resquício de seu gênero 
anterior. Não seria perceptível a alguém que não sabe o sexo de nascimento de 
Alexandre. Mas como tenho esta informação, percebo que a voz é diferente. E me dou 
conta de que talvez seja assim mesmo no geral: quando se tem consciência do gênero 
biológico de um transgênero, nos esforçamos para captar algum resquício que o 
relacione ao biológico. 
Isso me faz compreender porque, no caso de Alexandre e no caso de Letícia, 
ambos querem ser reconhecidos por suas identidades construídas por eles: como Xande 
(como ele mesmo se refere) e Letícia. Sem que haja esse estranhamento ou essa 
indagação do outro em relação a algo tão íntimo da vida deles: o gênero e a sexualidade. 
“Eu quero ser o Xande. Ninguém pergunta pra você: ‘você é trans? É lésbica?”. Não, eu 
quero ser o Xande”, explica, à repórter, em vídeo feito num local público, onde se 
podem ver outras pessoas transitando enquanto se dá a gravação. 
Neste mesmo vídeo, ele conta que tem 42 anos e é pai de uma garota de 24 e avô 
de uma menina de pouco menos de dois anos. Agora, não sinto a estranheza inicial que 
senti quando li a frase sobre Letícia. Por quê? Indago-me, quero saber. Essa diferença 
em sentir o que ouvi e li deve ter uma razão. Esforço-me para entender. Isso causa uma 
irritação em mim. Por quê? 
Chego a uma questão que me abala: haveria certo machismo de minha parte 
achar mais chocante uma pessoa nascida, socialmente mostrada e aceita como homem 
durante muito tempo mudar de gênero após os filhos estarem em fase adulta? Por que a 
frase de Alexandre não me surpreende tanto? Será que internalizo em mim, mesmo sem 
conseguir desdobrar cognitivamente, ou seja, mesmo que em um relance muito rápido, a 
história dos dois transgêneros? Sentiria mais, no meu caso, se meu pai revelasse, depois 
de muito tempo, a real identidade de gênero com a qual quer ser aceito dali pra frente? 
Talvez. Ou talvez isso aconteça porque, no decorrer da primeira história, a de Letícia, 
eu tenha me aberto mais ao tema. Teria acontecido uma criação de sentido? Para mim, 
sim. Mas acredito que sejam as duas coisas. E a ideia de ser machista, mesmo que de 
uma maneira involuntária, arraigada, mínima e inconsciente, me abala. Irrita-me e me 
faz refletir. 
Assisto ao segundo vídeo. Não tem mais do que um minuto e meio. Mas prendo 
a respiração antes do play. A razão é o título: “Estupro”. Sei que dali não virá coisa boa. 
Não vem, realmente. Choro um choro contido quando Alexandre diz que, se em 
seu grupo de amigos nunca houvera grandes problemas em ser o que era, um dia, aos 19 
anos, num jogo de futebol, foi estuprado por quatro rapazes no banheiro da escola. A 
justificativa? Ele tinha que gostar das coisas que as meninas gostam. Lembro-me de 
outros casos, em outros textos jornalísticos, filmes e seriados, de violência sexual contra 
gays e transgêneros. 
Começo a ver outro vídeo, em que Alexandre relata que sua filha é fruto desse 
estupro coletivo. Choro novamente. É impossível não se comover com seu relato. É 
impossível ficar imune à sua fala, quando diz que criou a filha com amor e só teve 
coragem de dizer como foi gestada muito tempo depois. Mergulho no paradoxo por 
comparar o amor desse pai/mãe com o desamor de tantos pais por aí. Preciso me 
recompor. Passa, mas um aperto no peito continua. 
Alexandre é transgênero e sempre namorou meninas. Desde muito pequeno, já 
se interessava pelo universo masculino. Seu arsenal infantil eram bolinhas de gude e 
carrinhos de rolemã; as bonecas ganhadas pela mãe ficavam esquecidas de canto. E 
desde tão criancinha, a garotinha da foto que aparece no vídeo (e faz lembrar-me da 
minha filha, de quatro anos) queria parecer um menino. A ponto de se manter próxima 
das crianças que tinham piolho para que a mãe cortasse seu cabelo curtinho. Nesse 
momento, rio por dentro. Acho graça na forma como Alexandre, então Alexandra,conseguia se tornar mais próxima da imagem à qual claramente pertence. 
 
 
Considerações finais 
 
Finalizo a leitura com a sensação de ter mergulhado em histórias fantásticas. 
Porque me apresentaram um mundo muito longe da minha realidade cotidiana. E me 
comunicaram, no sentido de me violentarem, ao mostrarem a complexidade envolvida 
na questão de gênero. Em vários momentos, a reportagem foi, para mim, um fato 
estético, porque me fez sentir, fez com que me abrisse ao entendimento, chegando ao 
questionamento de mim mesma, sobre o que eu acredito que sou e defendo. 
Neste artigo, intencionou-se realizar um relato metapórico de uma reportagem 
multimídia. Considero que, em minha leitura, houve realmente um Acontecimento 
comunicacional (propositalmente com “a” maiúsculo), uma vez que inevitavelmente 
ocorreu um entendimento à alteridade do outro e uma apreensão do que foi descrito no 
texto. Os componentes da reportagem – texto, imagens e vídeos – certamente 
influenciaram nessa comunicação efetiva. Foi com esta leitura que houve a faísca e a 
agitação do que estava em mim sedimentado e, agora, não está mais. 
 
Referências 
 
CUNHA, K. M. R. da. (2013). Entre Hermes e Poseidon: o jornalismo na teoria do 
acontecimento comunicacional. Tese (Doutorado em Teoria e Pesquisa em Comunicação) - 
Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: 
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27152/tde-06052014-143942/>. Acesso em: 
2015-07-25. 
 
 
LUHMANN, N. (2005). A realidade dos meios de comunicação. São Paulo: Paulus. 
 
 
MARCONDES FILHO. (2002). O espelho e a máscara: o enigma da comunicação no caminho 
do meio. Ijuí-RS: Editora Unijuí. 
 
 
MARCONDES FILHO, C. (2004). O escavador de silêncios. Formas de construir e 
desconstruir sentido na Comunicação. São Paulo: Paulus. 
 
 
MARCONDES FILHO, C. (2008). Para entender a comunicação: contatos antecipados com a 
Nova Teoria. São Paulo: Paulus. 
 
 
MARCONDES FILHO, C. (2013). O rosto e a máquina. O fenômeno da comunicação visto 
pelos ângulos humano, medial e tecnológico. São Paulo: Paulus, volume 1. 
 
 
MARCONDES FILHO, C. (2014). Das coisas que nos fazem pensar. O debate sobre a Nova 
Teoria da Comunicação. São Paulo: Ideias & Letras. 
 
 
QUEIROGA, B. A. de. (2012). Percepção e impacto no fotojornalismo. Fotografia e 
comunicação. Dissertação (Mestrado em Teoria e Pesquisa em Comunicação) - Escola de 
Comunicações e Artes, University of São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em: 
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27152/tde-17042013-111232/>. Acesso em: 
2015-08-17. 
 
 
TEIXEIRA, R. E. (2010). Encanto e entorpecimento: um caminhar por entre imagens 
contemporâneas. Dissertação (Mestrado em Teoria e Pesquisa em Comunicação) - Escola de 
Comunicações e Artes, University of São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em: 
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27152/tde-17082011-111807/>. Acesso em: 
2015-08-17. 
 
 
A jornalista esportiva em jogo: a produção de sentido sobre a apresentadora 
Renata Fan em comentários no Facebook 
 
Mariana Ferreira Lopes 
Bruna Tamanini Dorigon 
Universidade Norte do Paraná, Londrina, PR 
Universidade Estadual Paulista, Bauru, SP 
 
Introdução 
No campo jornalístico, assim como em grande parte das profissões, as mulheres 
percorreram um longo caminho até que pudessem ocupar seu espaço. Segundo Maria 
João Silveirinha (2012, p. 169), “a linha de participação das mulheres nos jornais [...] é 
diversa, descontínua e ao pulso de um país onde os homens dominavam os meios de 
comunicação que garantiam a continuidade da sua visão cultural, social e política”. É 
importante destacar que autora fala em relação à representatividade feminina na Europa, 
mais especificamente em Portugal. Observa-se, no entanto, que, também no Brasil, o 
gênero era fator determinante para o ingresso de um profissional no mercado 
jornalístico. 
Hoje em dia, após muitos anos de luta e engajamento, tal realidade vem sendo 
modificada. Segundo uma pesquisa realizada pelo programa de pós-graduação em 
Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em convênio 
com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em 2013, existiam 145 mil 
jornalistas com registro profissional no Brasil. Desses, 64% eram mulheres brancas, 
solteiras e com até 30 anos. Os homens representavam os outros 36%. No entanto, a 
presença feminina no jornalismo esportivo ainda é menor do que a masculina e é nesta 
área jornalística, marcadamente androcêntrica, que nossa pesquisa está focada. 
Dentre as jornalistas esportivas da televisão aberta brasileira, Renata Fan1 foi a 
primeira a comandar uma mesa redonda esportiva diária. Por essa característica, nossa 
pesquisa objetiva identificar como a ideologia da dominação masculina se faz presente 
na produção de sentido sobre a apresentadora do programa Jogo Aberto. Para tanto, 
 
1
 Nascida na cidade de Santo Ângelo no Rio Grande do Sul, Renata Fan é formada em Direito e Jornalismo. Antes 
disso trabalhou como modelo e em junho de 2003, Renata teve sua primeira oportunidade na Rede Record ao gravar 
um programa piloto para a área de esportes. Aprovada no teste, ela passou a apresentar o programa Terceiro Tempo 
ao lado de Milton Neves, todos os domingos à noite, e o Debate Bola, ao meio-dia, no mesmo canal. Desde 2007, 
Renata apresenta o programa Jogo Aberto, de segunda à sexta, na Rede Bandeirantes. 
 
foram analisados os comentários sobre dois vídeos postados no seu facebook, cuja 
amostragem dos textos analisados foi realizada de maneira aleatória, buscando 
compreender a já-dito presente neles. Trata-se de um estudo exploratório, cujos 
apontamentos servirão de base para interpretações futuras sobre a mulher no jornalismo 
esportivo. 
 
Metodologia 
As formas do sujeito ser, estar e experienciar o mundo têm se reconfigurado 
devido à midiatização, definida por José Luiz Braga (2012, p.39) como um processo 
interacional de referência. Um importante conceito que deriva da midiatização consiste 
na circulação e na ideia do fluxo adiante. A premissa de que o receptor é um sujeito 
ativo no processo de comunicação modificou o sentido de circulação, que passou a ser 
vista como “o espaço de reconhecimento e dos desvios produzidos pela apropriação” 
(BRAGA, 2012, p.38). O autor propõe que alarguemos esta noção de circulação das 
relações diretas que se configuram entre emissão e recepção. Braga nos convida a 
pensarmos sobre os encaminhamentos que o receptor dá a sua produção de sentido em 
diferentes espaços que vão além do seu contato direto com o meio de comunicação. 
Trata-se do fluxo adiante que, segundo Braga (2012), pode ocorrer de diversas formas: 
de comentários à geração de outros produtos midiáticos, como, por exemplo, os 
comentários de facebook. 
A circulação e o fluxo adiante se articulam diretamente com o entendimento de 
Orozco-Gómez (2014) sobre a recepção midiática enquanto processo que não se finda 
na interação entre indivíduo e mídia, mas se estende para outros cenários onde os 
conteúdos transmitidos são rearticulados nas experiências concretas do receptor. Estas 
recepções que acontecem em cenários além do contato direto com o televisor são 
denominadas por Orozco-Gómez como recepções secundárias e terciárias, já a recepção 
televisiva de primeira ordem corresponde à recepção direta, suscetível às mediações 
situacionais e às decisões prévias do receptor. 
Nossa pesquisa se debruça na análise da ideologia da dominação masculina 
presente na produção de sentido dos telespectadores do programa Jogo Aberto sobre a 
apresentadora Renta Fan, configurada nas recepções secundárias e terciárias a partir da 
análise dos comentários na página oficial2 da jornalista no facebook. Foram 
selecionados aleatoriamente os comentários sobre dois vídeos postados em setembro de 
2015,que são trechos da mesa redonda veiculada nos dia 10 e 17. Nestas postagens, a 
apresentadora comemora a vitória de seu time, o Internacional de Porto Alegre, sobre o 
Palmeiras e o Corinthians, respectivamente, e zomba dos outros apresentadores, 
torcedores de tais equipes. 
 A metodologia empregada foi a Análise do Discurso, tendo em vista que, o 
texto dos comentários, enquanto nossa unidade inicial de estudo, nos remete ao discurso 
que “se explicita pela sua referência a uma outra formação discursiva que, por sua vez, 
ganha sentido porque deriva do jogo definido pela formação ideológica dominante 
naquela conjuntura” (ORLANDI, 2007, p.63). O foco da nossa pesquisa consiste na 
identificação dos interdiscursos, ou seja, “todo o conjunto de formulações já feitas e já 
esquecidas que determinam o que dizemos”(ORLANDI, 2007, p.32) e que nos remetem 
à noção da dominação masculina, a partir de uma ideologia adrocêntrica. Selecionamos 
para este estudo comentários representativos de grupos de enunciados que nos remetem 
ao discurso de uma ideologia de supremacia do homem. Assumimos aqui, sustentadas 
por Orlandi (2007) que o dizer é marcadamente ideológico e se filia a uma rede de 
sentidos do já dito, “uma memória afetada pelo esquecimento” (p. 34). Desta forma, os 
interdiscursos afetam a maneira pela qual o sujeito significa em uma determinada 
situação discursiva. 
 
Resultados 
Simone de Beauvoir (2009, p. 207) nos explica que os homens definiram sua 
superioridade em relação ao feminino, criando um sistema codificado, formado por 
estruturas e configurações que se voltaram contra as mulheres, que passaram a ser 
compreendidas como o Outro, o ser que se opõe ao homem e coloca-o frente a si 
mesmo. Isso, segundo a autora (2009), faz com que eles sintam necessidade de se 
reafirmarem. Para Pierre Bourdieu (2003), este cenário de submissão é produto de uma 
espécie de violência simbólica, abrigada no patamar psicológico, ideológico e social da 
humanidade e vivenciada através de regras e condutas, estas que se conjugam no 
habitus, ou seja, no sistema estruturado que age no inconsciente dos indivíduos, 
determinando o viés de suas atitudes e pensamentos. 
 
2
 A página oficial no Facebook de Renata Fan existe desde e 2010 e possui 2.450.543 curtidas 
O esporte e o jornalismo podem ser consideradas instituições legitimadoras de 
uma percepção tradicionalmente androcêntrica (BUENO, 2015b). Ao analisar os 17 
programas de esportes veiculados na televisão aberta brasileira, Noemi Bueno (2015a) 
verificou a existência de 64 profissionais – entre repórteres, editores e apresentadores – 
dentre os quais 12 são mulheres e 52 homens. Tal noção se reafirma quando analisamos 
o enunciado “mulher e futebol não combinam”, comentário postado por um homem no 
dia 10/09, e percebemos a presença de um discurso que reforça a ideia de que apenas o 
sexo masculino é capaz de analisar e gostar desta modalidade esportiva, assim como de 
que à mulher só competiriam assuntos mais frívolos. 
 Pierre Bourdieu (2003) afirma que a diferença biológica e anatômica entre os 
sexos pode ser compreendida como justificativa da diferença entre os gêneros e também, 
se não principalmente, da divisão social do trabalho na realidade social. De acordo com 
Paulo Vinícius Coelho (2003, p. 34), as mulheres começaram a aparecer no jornalismo 
esportivo brasileiro, de fato, em meados da década de 1970. Antes disso era quase 
impossível vê-las na editoria esportiva, já que este era um dos locais prioritariamente 
masculinos. Segundo Anelise Farencena Righi (2006), a participação mais efetiva das 
mulheres no jornalismo esportivo vem ao encontro ao acesso ao esporte que também se 
democratizava. Antes disso, os mesmos, em geral, eram praticados, discutidos e 
assistidos por uma grande maioria de homens. Foi com as mulheres tornando-se atletas e 
tendo acesso à prática esportiva que cresceu seu entendimento sobre o assunto. 
O enunciado postado por um homem, em 18/09, “ So ta apresentando porq eh 
gostosa né!! Talento vem beeeemm depois! ! E já repararam q a maioria das 
apresentadoras de esportes são gostosas! ! Porq será? !! (sic)”, é exemplo de um 
discurso para qual Maria Rita Khel (2004, p.175) nos chama a atenção: o fato de que o 
corpo, na sociedade atual, “pode determinar oportunidades de trabalho. Pode significar a 
chance de uma rápida ascensão social”. Neste caso, sendo o jornalismo e o esporte 
também responsáveis pela perpetuação da dominação masculina, a produção de sentido 
recai na premissa de que é pelas características do seu corpo que Renata Fan se mantém 
em sua posição de trabalho. 
A produção de sentido da apresentadora enquanto objeto, em comentários sobre 
o seu corpo, é um dos mais contundentes vieses pelo qual a ideologia da dominação 
masculina se materializa. Tal noção ideológica pode ser observada no comentário mais 
curtido, foram 1353 likes, entre as postagens analisadas. O enunciado “renata minha 
querida, foda-se o Internacional, o povo brasileiro só quer saber quando vc (sic) vai 
posar pelada? um grande beijo”, postado por um homem em 17/09, remete à ideia de 
que a mulher, em nossa sociedade, é vista como objeto erótico, enquanto associada 
sexual do homem (BEAUVOIR, 2009). 
A redução do corpo feminino ao estado de objeto se concretiza como um 
exercício de poder masculino também observado em comentários que tratam da 
vestimenta de Renata Fan, sobretudo na postagem do dia 17/09, quando ela trajava um 
vestido vermelho justo e decotado. Observamos este discurso em textos tais como “eu 
assisti alegre pq esse decote ai ta loco pq a mao chega a treme (sic)”; “ficou louco 
quando ela vai com esse vestido vermelho. Fico na torcida quando o inter joga e torço 
pra ele ganha. Renata Fan gostosa pra caralho. Posa nua (sic)”; “Gostei do decote, dava 
pra abrir mais kkk (sic)”, “Na moral Renata Fan, não prestei atenção em mais nada no 
programa, a não ser no seu decote”. A mesma formação discursiva é constatada no texto 
postado em 18/09, no qual um homem inicialmente carrega um discurso de ruptura da 
concepção que mulher não deve tratar de futebol 
 
„Grande Renata Fan‟, jornalista e comentarista de futebol competentíssima da 
TV Band!!! É uma grande torcedora de seu querido clube Internacional de 
Porto Alegre, no sul. Sabemos que o ambiente futebolístico é muito machista, 
onde trabalha (sic) muito mais homens do que mulher, pois bem, é nesse 
universo masculino que ela comanda com grande maestria, grandes debates 
esportivos entre seus colegas e convidados que comentam sobre as vitórias e 
derrotas do seu clube durante e final de semana!!!! Ao falar sobre os clubes, 
ela fala com tal charme e graciosidade, que sem saber, ela nem percebe que 
enlouquece o universo masculino, UAU (sic)!!!!!!!!!!!!!!! 
 
Bourdieu defende que o próprio ato sexual em si exerce uma relação de 
dominação, já que é construído e reproduzido de acordo com o princípio de divisão 
fundamental entre o feminino e o masculino: o desejo masculino reflete uma intenção 
de posse, de dar prazer para se sentir fonte de prazer, enquanto o desejo feminino é o de 
ser possuída, de entregar-se à dominação, e tal condição se reflete também no assédio 
sexual (BOURDIEU, 2003, p. 31). O reconhecimento erotizado de dominação é 
observado nos discursos para os quais os enunciados nos remetem: “Renata vem deitar e 
rolar na minha cama e deixa o Inter pra outro dia (sic)” e “ eu também quero ir nessa 
mamãe gostosa e chupar esses peitos lindos”, ambos postados por homens, nos dias 
17/09 e 30/09 respectivamente. 
Em suma, os comentários analisados neste ensaio, que se mostraram 
representativos de outros textos, remetem à ideologia da dominação masculina a partir 
de dois discursos. O primeiro refere-se à ideia de que o esporte, especificamente o 
jornalismo esportivo, não é um espaço a ser

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