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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DIMAS ABREU FURTADO O PROCESSO DE VENDAS COMPLEXAS NO MERCADO B2B: UM ESTUDO SOBRE A DECISÃO DE COMPRA DE SERVIÇOS DE CONSULTORIA FORTALEZA 2018 DIMAS ABREU FURTADO O PROCESSO DE VENDAS COMPLEXAS NO MERCADO B2B: UM ESTUDO SOBRE A DECISÃO DE COMPRA DE SERVIÇOS DE CONSULTORIA Monografia apresentada ao curso de Administração do Departamento de Administração da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Administração. Orientador: Prof. Dr. Hugo Osvaldo Acosta Reinaldo. FORTALEZA 2018 DIMAS ABREU FURTADO O PROCESSO DE VENDAS COMPLEXAS NO MERCADO B2B: UM ESTUDO SOBRE A DECISÃO DE COMPRA DE SERVIÇOS DE CONSULTORIA Monografia apresentada ao curso de Administração do Departamento de Administração da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Administração. Aprovada em: ___/___/______. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Dr. Hugo Osvaldo Acosta Reinaldo. (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Prof. Dr. Luiz Carlos Murakami Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Profª. Drª. Márcia Zabdiele Moreira Universidade Federal do Ceará (UFC) A Deus. Aos meus pais, irmão, amigos e familiares. AGRADECIMENTOS Meu primeiro agradecimento, acima de todos, a Deus pelo dom da vida e por todas as oportunidade e bênçãos que recebo diariamente sem as quais não seria possível chegar a esse momento. À minha família. Meu pai que sempre é exemplo em todas minhas atitudes e que sempre me motivou a essa realização. Minha mãe, rainha da minha vida, maior motivo de todas minhas conquistas, pelo amor e carinho em todos dias que as dificuldades pareciam infindáveis. Meu irmão pelas descontrações nesse momento de tanta pressão. A meus avós que tanto me motivam e mostram que a educação é a base de tudo. E todos os demais familiares pelo reconhecimento do esforço dedico à momento. Agradeço a minha namorada e mulher da minha vida, Amanda Kevys, por todo o apoio nesse momento, por todas as frases motivadoras e pela ajuda na execução das atividades necessárias para esse trabalho. Obrigado pela parceria e por me fazer cada dia mais feliz. Agradecer a todos os professores que fizeram parte dessa jornada com toda sua paciência e conhecimento. Em especial ao professor Hugo Acosta, meu orientador, que sempre foi motivo de muita admiração para mim e que aceitou me auxiliar nesse momento final do curso. Professor Hugo, meu muito obrigado pela sua orientação e pela sua dedicação ao curso de Administração da UFC e ao meio acadêmico. Agradecer aos meus mentores e amigos da Gomes de Matos Consultores Associados: Guilherme Pequeno, Lucas Castro e Thiago Alencar por toda a compreensão desse momento, apoio e motivação, além da participação direta no trabalho. Agradecer ao Arthur Lídio e todos demais diretores da Gomes de Matos por autorizarem a empresa como unidade de caso. Por fim, mas não menos importante, agradecer todos os amigos que a faculdade me apresentou e que foram responsáveis pelos momentos tão felizes que vive durante toda essa jornada. Amigos que guardarei no coração e os quais representarei aqui pelos amigos/irmaõs: Iveltyma Roosemalen, Victor Luz e Guilherme Cavalcante. “Não existe Mágica! – Um sucesso espetacular sempre vem depois de uma preparação nada espetacular.” (Jeff Thull) RESUMO As atividades de vendas, em especial as business to business, estão complexas, passando a exigir um processo que garanta qualidade no atendimento e nos produtos e soluções, sendo cada vez mais alinhado com o processo de compra do cliente e gerando valor ao longo de todo esse caminho até a decisão final de compra. Descrevendo o processo de compra e venda complexa das empresas e analisando as divergências entre o proposto na teoria e o realizado na prática, com foco no momento da decisão de compra do cliente, o presente trabalho tem por objetivo identificar, no processo de vendas complexas, se há e quais são as limitações entre a etapa de apresentação da solução e a decisão do cliente de compra. Para atingir o objetivo foi realizado levantamento teórico sobre vendas complexas e realizada uma pesquisa, de fim exploratório e qualitativos, por meio de entrevistas, baseada em um roteiro diretivo, junto a uma empresa de consultoria do mercado cearense que atua no processo de vendas complexas e uma empresa de supermercados, também cearense, que atua no processo de compra de produtos complexos. Ao fim do presente trabalho são apontados como resultados, baseados nas análises das entrevistas, as adaptações da teoria à prática e a existência de uma etapa no processo de compra e venda que não é prevista na teoria, mas que é imprescindível que ocorra. Essa é a etapa a qual se evidencia as limitações entre a o momento de apresentação da solução e o fechamento da venda. O estudo concluí com a hipótese de que essa nova etapa não prevista na teoria pode ser uma característica regional do processo de vendas complexas, mas que há necessidade de estudos quantitativos para que seja testada. Palavras-chave: Vendas Complexas. Mercado B2B. Processo de Compra. Processo de Venda. ABSTRACT Sales activities, especially business to business, are complex, requiring a process that assures quality in servisse and products and solutions, being increasingly aligned with the customer's buying process and generating value along the way to the final purchase decision. Describing the complex buying and selling process of the companies and analyzing the differences between what is proposed in theory and the one carried out in practice, focusing on the moment of the customer's purchase decision, the present work aims to identify, in the complex sales process, if there are and what are the limitations between the presentation stage of the solution and the decision of the purchase custumer. In order to reach the objective, a theoretical survey on complex sales was carried out and an exploratory and qualitative research was carried out, through interviews, based on a directing script, together with a consulting company from the market of Ceará that operates in the complex sales process and a supermarket company, also from Ceará, that acts in the process of buying complex products. At the end of the present work, results based on the analysis of the interviews, the adaptations of the theory to the practice and the existence of a stage in the process of purchase and sale are indicated that are not foreseen in the theory, but that it is essential that they occur. This is the stage that shows the limitations between the moment of presentation of the solution and the closing of the sale. The study concluded with the hypothesis that this new step not foreseen in the theory may be a regional characteristic of the complex sales process, but that quantitative studies are needed for its testing. Keywords: Complex Sales. Business to Business. Process of Purchase. Process of Sales. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Quadro 1 Figura 1 Figura 2 Quadro 2 − Classificação dos Tiposde Vendas..................................................... − Processo de Decisão do Cliente......................................................... − Processo de Qualidade....................................................................... − Resumo da Análise dos Resultados.................................................... 18 25 29 33 Quadro 3 − Resumo das Entrevistas...................................................................... 43 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 12 2 PROCESSO DE VENDAS NO MERCADO BUSINESS TO BUSINESS 15 2.1 Vendas – evolução ao modelo de vendas complexas........................ 15 2.2 Mercado Business to Business (B2B)................................................. 19 2.3 Os processos nas vendas..................................................................... 21 3 METODOLOGIA...................................................................................... 30 3.1 Estudo de Caso...................................................................................... 31 4 4.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS............................................................... Entrevista com a Gomes de Matos Consultores Associados........... 33 34 4.2 Entrevista com o Supermercado.......................................................... 39 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 44 REFERÊNCIAS....................................................................................... 46 APÊNDICE A – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM A CONSULTORIA ...................................................................................... 48 APÊNDICE B – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM O SUPERMERCADO ................................................................................. 59 12 1 INTRODUÇÃO Ao pesquisar sobre a literatura a respeito de vendas fica evidente que não há uma “história” propriamente dita, o qual seja visto a evolução desse tema no meio acadêmico. Ou pelo menos, ninguém estudava e escrevia sobre vendas da mesma forma que se estudava sobre Marketing, Logística, Qualidade, Operações, Gestão de Negócios e outros setores do mundo corporativo moderno (SULLIVAN, 2007 in THULL, 2007). Ainda segundo Sullivan (2007 in THULL, 2007) a melhor forma de entender sobre a história em vendas é olhar para evolução dos treinamentos nessa área. Em suas pesquisas sobre a evolução desses treinamentos o autor os divide no que ele chamou de Era 1, Era 2 e Era 3 de vendas. Para Sullivan (2007 in THULL, 2007) as vendas estão na chamada “terceira era de vendas”. Os vendedores não têm mais como objetivo a persuasão, ou seja, fazer com que os clientes comprem aquilo que eles vendem – fato característico da primeira era de vendas. Também não se restringe apenas a atender a necessidade expressa pelo cliente, o que caracterizou o vendedor da era 2. O vendedor da era 3 precisa ir além disso, ele precisa ser um “homem de negócios”, mais precisamente, “uma fonte de vantagem de negócios”. Para Sullivan (2007 in THULL, 2007), o vendedor deve ser um consultor, sendo assim fonte de vantagem para os clientes, e ser um estrategista, sendo assim fonte de vantagem para seu próprio negócio. O vendedor da Era 3 é o vendedor que tem chances de sucesso no mercado atual, cada vez mais complexo e concorrido. Esse mercado se caracteriza pelo que é conceituado por Thull (2007) como um mercado de vendas complexas, que são as transações entre empresas ou entre uma empresa e o governo. Thull (2007, p.9) resume: As características das vendas complexas envolvem longos ciclos de trabalho. É preciso contar com diversas decisões, tomadas por muitas pessoas em vários níveis de poder e influência, e considerar que cada uma encara a situação a partir de uma perspectiva diferente. Vendas complexas incluem situações delicadas, além de soluções caras e elaboradas – muitas delas difíceis de ser compreendidas, avaliadas e implementadas pelo cliente. 13 Nesse cenário, para competir e garantir melhores resultados num mundo de vendas complexas, profissionais de vendas têm de trabalhar com mais inteligência de negócio, ou seja, transformar a tradicional conversa sobre vendas em um processo decisório de alta qualidade. É preciso pensar em termos de desenvolvimento de negócios, ou seja, desenvolver o negócio do cliente (Thull, 2007). Thull (2007) afirma que a base para vender de forma inteligente é um processo de qualidade que forneça aos vendedores uma maneira de descobrir novos clientes, diagnosticar os problemas, planejar as soluções e entregar as melhores soluções possíveis para os problemas desses clientes. Ao falar sobre vendas como um processo, Romeo (2008) salienta que essa visão ainda é nova para a grande maioria dos profissionais e empresas que disputam seu lugar no mercado. Segundo Romeo (2008) quando se fala em processo de vendas, refere-se na transformação de esforços de venda em resultados mais eficientes, ou seja, aumentar receitas, melhorar lucros e reduzir o custo da venda. Ainda segundo o autor, acontece que, muitas vezes, a palavra “processo” está ligada imediatamente a burocracia, ou seja, uma percepção de trabalho adicional e sem sentido que, no final, irá somente tirar do vendedor mais do seu tempo útil. Para Romeo (2008) a forma mais eficaz de vender é entender o processo de compra das organizações e idealizar o processo de venda alinhado com as variações das preocupações dos clientes. Thull (2007) pontua que a definição de um processo organizado leva a um resultado previsível das vendas. Em um mercado complexo, com vendas estruturadas em processos, com foco na maior eficiência das atividades e previsibilidade nos resultados, busca-se, com o presente trabalho, responder a seguinte pergunta: Quais são as limitações no processo de vendas complexas que afetam a previsibilidade dos resultados na etapa final de compra do cliente B2B? O objetivo geral do trabalho é identificar e analisar as etapas de venda e compra no mercado B2B. Os objetivos específicos são: a) Detalhar o processo de compras complexas de serviços de consultoria das empresas supermercadistas cearense; b) Detalhar o processo de vendas complexas na perspectiva das empresas de consultoria; c) Identificar o alinhamento entre o processo de vendas e compras; 14 d) Identificar as limitações na fase que antecede a decisão final do processo de vendas. Para alcançar os objetivos propostos, o presente trabalho se utilizou de uma pesquisa de caráter exploratório, de natureza qualitativa, por meio de um estudo de caso. O caso estudado foi a venda de um serviço de consultoria para uma empresa de varejo do setor supermercadista. Esta monografia está dividida em cinco seções. Inicialmente, observa-se a parte introdutória em que são apontados o tema e a discussão inicial, assim como a definição do problema, os objetivos geral e específicos a serem alcançados ao fim da análise. Na seção dois é apresentada a parte teórica na qual são expostos o conceito e a evolução de vendas complexas e o mercado business to business. Ainda na seção dois é apresentado os processos de compra e venda, bem como o alinhamento entre eles. Na seção três é apresentada de forma detalhada a metodologia e as empresas que serviram como estudo de caso. Na seção quatro estão contidas a análise dos resultados. Por fim, na seção cinco, são apresentadas as considerações finais, e em seguida, as referências utilizadas. 15 2 O PROCESSO DE VENDAS NO MERCADO BUSINESS TO BUSINESS. Nesta seção é abordado inicialmente o conceito de vendas e a definição dos tipos de vendas que surgiram como respostaà evolução das demandas do mercado até chegar ao modelo de vendas complexas. É abordado também a definição e as características do mercado Business to Business. A seção finaliza então com uma subseção destinada a apresentação do processo de compra e vendas complexas, bem como o alinhamento entre dois processos. Está seção é a base teórica que fundamente a pesquisa realizada e que possibilita as conclusões expostas ao final do estudo. 2.1 Vendas – evolução ao modelo de vendas complexas Vendas, segundo o Glossário de Mercadologia (1962 apud MAGALDI, 2006), é definido como “o processo pessoal ou impessoal de assistir e/ou persuadir um comprador potencial a adquirir um bem ou serviço, ou reagir favoravelmente a uma ideia que tenha significação comercial para o vendedor”. Para Magaldi (2006) esse conceito tem seus alicerces fundamentados na Revolução Industrial, a partir da intensificação da produção, em que começaram a surgir os excedentes de consumo. Ainda, segundo o autor, nesse contexto o comércio entre cidades e até mesmo internacionalmente começa a surgir, estimulando o crescimento de mercados massivos em áreas geograficamente dispersas. Conforme Colenci e Guerrini (2001 apud Magaldi 2006) essa ampliação de mercado criou a necessidade da figura de um intermediário, alguém que fazia as mercadorias produzidas pelos trabalhadores chegarem ao consumidor em qualquer lugar. Esse intermediário seria o vendedor. Magaldi (2006) afirma que a posição privilegiada do vendedor, contato direto com o mercado consumidor, intermediando os insumos produzidos pelos fornecedores, garantiu a valorização do ofício de vendas. De acordo com Cobra (1994, apud Magaldi 2006), com o tempo essa valorização da atividade de vendas demandou por uma evolução, algo que, em 1946 já se tratou como necessidade de maior profissionalização do vendedor e da atividade de vendas. 16 As definições e classificações a respeito de vendas foram evoluindo de acordo com o surgimento das novas demandas do mercado, segundo Magaldi (2006) ou, utilizando a visão das “eras de vendas” de Sullivan (2007 in Thull 2007), de acordo com a migração de uma era à outra. Magaldi (2006) afirma que a necessidade originária de vendas é a mesma que existe em mercados monopolizados ou oligopolizados, ou seja, mercados com baixo nível de concorrência. E esses mercados, por sua vez, demandam atividades de vendas fundamentadas em um modelo tradicional, ou seja, aquele que é caracterizado por envolver um ciclo de vendas curto, um processo decisório mais simples e com um único decisor de compra, o que não demanda muitas variáveis para tomada de decisão. Segundo Kotler (2000) e Magaldi (2006) para o modelo tradicional de vendas existem dois perfis de vendedores, assim definidos: a) Entregador: situação em que o trabalho do vendedor é, predominantemente, entregar o produto (por exemplo, entregador de pão, leite, combustível); b) Tirador de pedido: situação em que o vendedor trabalha, habitualmente, no interior da empresa (por exemplo, o funcionário que atende atrás do balcão) ou no campo (por exemplo, o vendedor de produtos alimentícios que visita o gerente de um supermercado). Rackham e DeVincentis (2007) versam sobre esse modelo tradicional com o título de “Vendas Transacionais”. Segundo os autores esse tipo de venda é focado principal ou exclusivamente em preço e conveniência; e do ponto de vista do cliente na venda transacional não há benefícios adicionais que o vendedor possa atrelar ao produto. Para Rackham e DeVincentis (2007) a venda transacional é utilizada com clientes do tipo “valor intrínseco”, que apresentam o seguinte comportamento: Para esses clientes, o valor é intrínseco ao produto. Eles se concentram principalmente – ou exclusivamente – nos elementos de custo do valor. Em geral, eles já entendem bem o produto e sabem como querem usá-lo. Enxergam o produto ou serviço como uma commodity imediatamente substituível por ofertas concorrentes. Rackham e DeVincentis (2007, p.102). Com o avanço da competitividade dos setores estabelece-se a necessidade de um modelo de vendas mais sofisticado e que tenha aderência a 17 esses ambientes mais competitivos (MAGALDI,2006). A HSM Management (2003, apud MAGALDI, 2006) pontua que muitos autores defendem que essas mudanças requerem a migração de uma abordagem de vendas baseadas em transações para uma abordagem definida como “consultiva”. Rackham e DeVincentis (2007) definem a venda consultiva como aquela que cria um novo valor para os clientes. Produto da capacidade do vendedor de dar consultoria, customizar e trazer expertise além do produto. Nesse tipo de venda o vendedor tem uma profunda compreensão das questões que afetam o negócio do cliente. Ainda sobre o tipo de vendedor que é presente em vendas consultivas, Kotler (2000) define os seguintes tipos: a) Missionário: nesse caso, o vendedor não anota pedidos. Sua tarefa é apenas a de obter boa vontade ou de educar usuários reais ou potenciais (por exemplo, o propagandista de laboratórios de medicamentos éticos que visita médicos e instituições de saúde); b) Técnico: nesse caso, a principal ênfase do vendedor é colocada em seu conhecimento técnico (por exemplo, o vendedor-engenheiro que é principalmente um consultor das empresas-cliente); c) Gerador de demanda: Situação que exige a venda criativa de produtos tangíveis (geladeiras, livros, cadeiras) ou de intangíveis (seguros, serviços de consultoria ou educação). Conforme Rackham e DeVincentis (2007), as vendas consultivas são utilizadas em clientes definidos como “clientes de valor extrínseco”. Segundo os autores, esses podem ser definidos como clientes que carecem de consultoria e customização para sua demanda; eles necessitam de vendedores que sejam preparados e equipados para criar um valor novo além do que o produto e o serviço oferta. A síntese dos conceitos a respeito do tipo de vendas apresentados até o momento pode ser apresentada conforme quadro 1, a seguir: 18 Quadro 1 - Classificação do tipo de Vendas Fonte: Magaldi (2006) No quadro 1, acima, o autor torna de fácil visualização a presença de dois momentos de vendas, um tradicional e outro contemporâneo. O primeiro apresenta a venda tipificada como simples ou transacional, que Rackham e DeVincentis (2007) definem como focada no preço e na conveniência e que tem suas características similares com a “era 1” de Sullivan (2007 in THULL, 2007) e com vendedores caracterizados como “entregador” e “tirador de pedidos” segundo Kotler (2000, apud MAGALDI 2006). Ao passo que no momento contemporâneo os mesmos autores apontam outros tipos de vendas. Segundo Magaldi (2006), atrelando a entrega de valor por meio de vendas consultivas e personalizadas, para se diferenciar em um mercado competitivo e a habilidade dos vendedores de realizar um diagnóstico e um desenho de solução ideal para os clientes, contornando assim a complexidade cada vez mais crescente, tem-se então a evolução para as vendas complexas. De acordo com Magaldi (2006), a rápida comoditização de produtos e serviços, e o intenso nível competitivo entre as organizações configuram um ambiente complexo de negócios, onde os clientes, cada vez mais exigentes, pressionam por uma abordagem estratégica superior de vendas e marketing, e uma execução precisa das soluções propostas. 19 Para Thull (2007), “Estamos assistindo a um período de complexidade e mais complexidade”. Segundo o autor, essa complexidade surge de mudanças que atingem a essência dos negócios, essas transformações estão acontecendo com uma rapidez sem precedentes e a globalização acentua essa complexidade crescente. O autor ainda afirma que estruturas organizacionais descentralizadas estão substituindo o antigo modelo hierárquico e rígido sobre o qualmuitas empresas foram erguidas; é cada vez mais difícil identificar onde estão os centros de poder e influência; e não é raro vender para empresas descentralizadas, que estão espalhadas pelo planeta e envolvem dezenas de idiomas e culturas diferentes. É nesse contexto que surge o conceito de vendas complexas. Para Heiman, Sanchez e Tuleja (1998, p. 29 apud MAGALDI, 2006) venda complexa "é aquela na qual várias pessoas devem dar sua aprovação ou direcionamento antes do processo de compra ter se realizado". Os autores pontuam ainda que um ambiente é considerado como sendo de venda complexa quando ocorre uma ou mais das situações abaixo: a) a organização vendedora tem múltiplas opções; b) a organização compradora tem múltiplas opções; c) em ambas organizações, vários níveis de responsabilidade estão envolvidos; d) o processo decisório do comprador é complexo, ou seja, há várias decisões a serem tomadas, todas em diferentes lugares e por diferentes pessoas. Esse sistema de decisão é, raramente, evidente para alguém de fora da organização. Uma vez ciente da definição mais abrangente da atividade de vendas, sua evolução ao longo do tempo e a conceituação de vendas complexas como uma resposta às demandas mais atuais do mercado, segue-se então para o aprofundamento do mercado o qual as vendas complexas estão inseridas. 2.2 Mercado Business to Business (B2B) Segundo Ramper (2018), mercado B2B são empresas que fazem negócio com outras empresas, figurando como cliente e fornecedor, sendo que esses negócios podem ser produto ou serviço. Por exemplo: 20 a) Uma fábrica produtora de cereais vendendo seus produtos para supermercados; b) Um atacadista vendendo produtos para lojistas de varejo; c) Um escritório de Consultoria Organizacional vendendo seus serviços para empresas que estejam com problemas de gestão e crescimento. O mercado B2B é o maior de todos os mercados pois “o volume em dólar das transações no mercado de marketing industrial ou organizacional supera de forma significativa o valor do mercado do consumidor final” (HUTT; SPEH, 2002 p.34 apud SAMPAIO, 2016). Hutt e Speh (2002 apud SAMPAIO, 2016) salientam ainda que mesmo uma empresa com foco no consumidor (Bussines to Consumer - B2C), em algum momento, ou durante toda a sua existência, precisará de produtos ou serviços de outras empresas, como por exemplo, serviços de limpeza, contabilidade, transporte, dentre outros. Ainda segundo os autores, a aquisição desses produtos ou serviços é essencial para a produção de outros bens e serviços para outros clientes. Ramper (2018), saliente a presença clara de vendas complexas em Mercados B2B, pois se necessita de processos mais elaborados, uma vez que, geralmente, o produto ou serviço é de difícil compreensão e o seu preço é mais alto. Além disso, ainda segundo o autor, a presença de inúmeros tomadores de decisão influenciando no processo de compra torna-o mais longo. O mercado B2B tem reflexo direto do impacto que as demais empresas têm sobre suas vendas, conforme B2B Stack (2017), nos últimos anos devido a situação econômica do país, o mercado B2B sentiu grandes variações no consumo das empresas. Ainda segundo B2B Stack (2017) em meio a essas dificuldades passadas acabaram-se criando uma série de novas oportunidades que podem ser vistas como tendência para o mercado B2B do Brasil em que levará a um crescimento de atuação do setor. Atuar nesse mercado B2B com vendas complexas exige algumas caraterísticas que Romeo (2008, p. 67) define como: “Habilidades essenciais de um vendedor profissional”. Segundo Romeo (2008) quando se pergunta aos clientes quais habilidades um vendedor deve ter para ser eficiente, a certeza de “conhecer o produto” é sem dúvida uma das habilidades mais pontuadas. Contudo, em vendas complexas, “conhecer o produto” não se limita apenas a ter todos as características 21 de um determinado produto totalmente prontos para ser pronunciado. Ainda segundo o autor, clientes B2B precisam de um auxílio a mais, além de saber das características dos produtos, precisam entender quem pode usá-lo e como isso gerará valor aos clientes, ou seja, criar a imagem não de um produto, mas de uma solução. Outro item que surge no topo das habilidades essenciais de um vendedor profissional é “conhecer o negócio do cliente”. Para Romeo (2008) vendas B2B falham nesse ponto pelo fato de os vendedores não entenderem que quem define se o vendedor sabe sobre o negócio do cliente é o próprio cliente, ou seja, por mais que o vendedor esteja inteirado sobre o que acontece em uma determinada empresa ou indústria, se o cliente não chegar a conclusão de que ele conhece o negócio, de nada adiantará todo esse conhecimento. Ainda conforme o autor, fazer o cliente chegar na conclusão de que se tem conhecimento sobre o seu negócio não se dá por meio das informações que se fornecem, mas sim pelas perguntas que se faz. Uma boa comunicação também configura na lista de habilidades necessárias em vendas B2B, segundo Romeo (2008). Para o autor, comunicar bem não diz respeito ao vendedor showman que sobe no palco e motiva todos com seus produtos. Comunicar bem significa saber ouvir o cliente, perguntar para demonstrar que conhece o negócio e ouvir para garantir uma boa comunicação. Por fim Romeo (2008) pontua que para atingir a excelência em vendas complexas em ambientes B2B é necessário “saber vender”. Para o autor, saber vender significa integrar comportamentos e habilidades e alinhá-los aos processos de compra dos clientes. Um processo de venda dos fornecedores alinhado com o processo de compra dos clientes ajuda na eficiência de toda a jornada com o cliente. 2.3 Os processos nas vendas Segundo Thull (2007) profissionais com grandes resultados em vendas complexas seguem um processo organizado que leva a um resultado previsível e coerente. Processo segundo o BPM CBOK – Business Project Manegement Common Body of Knowledge (2013) pode ser definido como, “Uma agregação de atividades e comportamentos executados por humanos ou máquinas para alcançar um ou mais resultados”. Essa definição pode ser melhor aplicada à vendas que se 22 define, ainda segundo o autor, “processo de negócio” como, “trabalho que entrega valor aos clientes”. Segundo Rackham e DeVincentis (2007), a visão de processos de vendas como criação de valor para o cliente pode apresentar uma ideia contra intuitiva. A maioria das empresas ainda vê a atividade de vendas como provedoras de valor para a organização e não para o cliente. Rackham e DeVincentis (2007 p.212) apresentam uma analogia do processo de vendas complexas com um processo de manufatura: Suponha por um instante que a totalidade do processo de manufatura seja semelhante a um túnel. De um lado entram as matérias-primas (equivalentes às oportunidades de vendas) e, do outro lado, saem os produtos acabados (equivalentes aos contratos de vendas assinados). Que tipo de resultado deveríamos legitimamente esperar desse túnel? Os números exatos obviamente dependeriam do processo específico, mas um resultado de menos de 50% levaria a maioria dos fabricantes a derrubar o túnel a fim de descobrir o que há de errado. Em vendas é comum que o túnel dê um resultado de 10% ou menos. Um milhão de dólares de oportunidades se transforma, na melhor das hipóteses, em $ 100 mil. A ausência de compreensão do processo de vendas pela equipe de vendas impossibilita sua análise e melhoria, conforme Rackham e DeVincentis (2007 p.212), um processo em que os líderes entendam exatamente o que acontece e façam pequenas melhorias em determinadas atividades não apresentariam uma taxa de rejeição de 90% conforme o exemplo acima. Contudo, as organizações não se limitam a vender, segundo Kotler (2000) assim como elas vendem seus produtos e serviços, também compram vastas quantidadesde matérias-primas, componentes manufaturados, instalações e equipamentos, suprimentos e serviços. Essas compras que as empresas realizam configuram as compras B2B ou compras organizações. De acordo com Kotler (2000) compra organizacionais podem ser definidas como o processo de tomada de decisão por meio do qual as organizações estabelecem as necessidades da compra de produtos ou serviços, além de identificar, avaliar e escolher entre as marcas e fornecedores disponíveis, qual a melhor opção. Para Romeo (2008) entender as fases pelas quais uma organização passa durante um processo complexo de compra pode fazer com que sejam evitados erros de desalinhamento, por não saber em que momento estão da venda e 23 quais atividades executar para uma maior probabilidade de sucesso. Ainda segundo o autor, o processo de compra complexa ou B2B pode ser dividido em três fases, a saber: a) Conscientização das necessidades: Toda compra começa com a ativação de uma necessidade. Inicialmente essa necessidade se mostra confusa e surge por força de algum evento externo, (por exemplo, um feedback negativo do cliente sobre um serviço prestado pela empresa). A preocupação com essa necessidade se intensifica até que seja construído a imagem de uma solução, visualizando assim o que precisa ser feito para sanar o problema - se essa imagem for construída a compra segue para a próxima etapa, caso não, ela voltará a ser uma necessidade latente e só virá novamente à tona quanto outro fato externo a expuser. Alcançado o entendimento sobre a necessidade e construída a imagem da solução, a preocupação que inicialmente estava focada no problema passa agora para a busca de uma solução viável. b) Avaliação das soluções: Nesse momento, aciona-se na empresa um processo denominado divergência, que implica buscar informações, compará-las e descartar as que não são adequadas à situação e às necessidades avaliadas. A empresa busca achar nas soluções existentes no mercado a que melhor se adequa a imagem que já foi criada na fase anterior e que esteja dentro do orçamento disponibilizado para tal compra. Ao final do processo de divergência a empresa terá coletado uma série de informações e, finalmente, saberá de quem deseja comprar. A empresa está pronta para tomar uma decisão, prestes a entrar na última fase do processo de compra. c) A tomada de decisão: Ao finalizar a avaliação das soluções disponíveis para uma necessidade específica e decidindo qual solução comprar, duas preocupações se intensificam: o risco da tomada de decisão e o fato de estar realmente pagando o melhor preço pela compra. Essa fase pode ser rápida ou demorar algum tempo, dependendo do estilo de compra de cada empresa e do grau de meticulosidade com que o processo de análise foi conduzido pelo vendedor. 24 Kotler (2000) detalha o processo de compra das empresas de uma forma mais abrangente. Para o autor o processo de compra é divido em 8 fases: a) Reconhecimento do problema; b) Descrição da necessidade geral; c) Especificação do produto; d) Procura de fornecedores; e) Solicitação da proposta; f) Seleção de fornecedor; g) Especificação da rotina do pedido; h) Revisão do desempenho; Segundo Kotler (2000) as fases iniciais de reconhecimento do problema, descrição da necessidade e especificação do produto são esclarecimentos sobre a demanda que deu início ao processo de compra. Procura de fornecedores e solicitação da proposta são fases em que há a análise sobre o que o mercado tem disponível para resolução da necessidade existente. Diferente do proposto por Romeo (2008), Kotler (2000) aponta que a o processo de compra não se encerra com a escolha do fornecedor ou seja, na decisão da compra, o acompanhamento final do pedido de compra ainda deve ser contemplado no processo (por exemplo, as especificações técnicas dos produtos, as quantidades, o prazo de entrega, os termos de garantias), bem como a revisão do desempenho da solução adquirida, que se refere diretamente ao acompanhamento pós compra que deve ser prestado pela empresa vendedora. Sobrepondo a divergência do fim, o processo de compra de Kotler (2000) se apresenta como um detalhamento das fases inicialmente apresentadas por Romeo (2008). O último considera as fases mais abrangentes pontuando que as maiorias das etapas do primeiro são apenas atividades realizadas. Rackham (2011) colabora com a inexistência do fim do processo na decisão, apontado por Kotler (2000), ao apresentar um processo de compra cíclico. Para o autor quando o produto adquiro for implantado e atender a necessidade a qual foi motivo de início do processo, o mercado fará com que novas necessidades surjam e essa solução já não atenda mais, iniciando novamente a fase de reconhecimento das necessidade e busca por soluções. 25 Rackham (2011) define o processo de compra como o processo de decisão do cliente e põe essa fase como o centro do ciclo de compra, conforme figura 1: Figura 1 – O Processo de Decisão do Cliente. Fonte: Adaptado de Rackham (2011) Esse ciclo do comprador apresentado na figura 1 apresentam similaridade com o já apresentado processo de compra de Romeo (2008) e Kotler (2000) apresentado como grande incremento as teorias iniciais o fato de o processo ser sempre contínuo. Paralelo a isso, quando se fala em atividades necessárias para um vendedor, ou à empresa fornecedora, fechar uma venda complexa, Romeo (2008) afirma que existem três grandes fases a ser seguidas. São elas: a) Prospecção. Esse termo significa encontrar um influenciador do processo de decisão e identificar ou ativar uma necessidade que poderá ser solucionada por meio dos produtos e serviços ofertados. As atividades dessa fase dizem respeito a encontrar o cliente que tenha a necessidade para a solução que a empresa está vendendo; 26 b) Qualificação. É o momento de a organização fornecedora entender corretamente as necessidades da empresa cliente a fim de confirmar a adequação entre a situação suposta no momento da prospecção e as capacidades dos produtos ou serviços ofertados. Além disso é o momento de a empresa fornecedora identificar os influenciadores e decisores da compra e os processos legais, técnicos e administrativos os quais serão usados para avaliar o seu produto ou solução; c) Fechamento. Nessa etapa as atividades a serem executadas para garantir a compra já devem estar claramente definidas. A melhor forma de fazer isso é desde o início do ciclo de vendas entender quais são as ações que o cliente executa em sua empresa até a decisão final de compra. Essas atividades são essenciais para coordenar os esforços e recursos para a conclusão positiva do processo. Uma vez conhecida o processo de vendas deve-se, segundo Rackham e DeVincentis (2007), gerenciá-lo em cada uma de suas etapas. Para a Endeavor (2018) fazer a gestão do processo de vendas é tão importante quanto fazer o planejamento financeiro, uma vez que o mercado de hoje exige mais empenho e conhecimento por parte das áreas comerciais das empresas. Ainda Endeavor (2018), uma das ferramentas mais usadas por empreendedores de sucesso para gerir suas vendas é o Funil de Vendas. A empresa conceitua a ferramenta como: O Funil de Vendas é a jornada do cliente, é todo o processo em torno da criação de consciência sobre seu produto/serviço, a educação do cliente sobre a sua solução, o julgamento, a aprovação e, finalmente, o compartilhamento da experiência com a sua marca pelo seu cliente. Endeavor (2018, p. 4). Segundo Toledo (2014) a ideia do funil é demonstrar cada uma das etapas de venda de uma empresa, que vão da captura de clientes à entrada de dinheiro em caixa, podendo assim criar uma estratégia para cada estágio. Estas fases são divididas de formas diferentes por autores e empresários, mas que são divididas de uma forma geralem: Geração de oportunidade, que está ligada diretamente a fase de prospecção apontada acima por Romeo (2008; Qualificação que dá o suporte as atividades de qualificação do processo de venda; E Venda que se refere ao fechamento do negócio. 27 Conforme Endeavor (2018), não existe uma regra definida sobre a estrutura do processo de vendas, nem quantas etapas ele deve ter. Essa definição é feita com base no modelo de negócio, da abordagem, do produto ou serviço, do ciclo decisório do cliente, entre outros fatores que influenciam na venda. No entanto, bons modelos de processos de vendas, segundo Rackham e DeVincentis (2007), começam com um profundo entendimento do processo de aquisição do cliente. Conforme os autores, empresas que não se baseiam no processo de compra de seus clientes para criarem seus processos de vendas acabam gerando uma série de etapas que não guardam qualquer relação com a compra de seus clientes e têm pouco ou nenhum impacto positivo no desempenho das vendas. Romeo (2008) propõe um alinhamento dos processos de compra e venda das empresas. Para o autor, na fase inicial de conscientização das necessidades, as organizações vendedoras devem se preocupar em ganhar a confiança do cliente para conseguir as informações necessárias à um bom entendimento dos motivos e impactos da demanda e criar ou reconstruir uma imagem de compra baseada nas capacidades de seus produtos e serviços, deve qualificar o processo de compra daquela organização e todo os trâmites legais, técnicos e administrativos que sua venda irá passar até ser finalizada com sucesso. Essa etapa do processo de compra do cliente é correlata a fase de qualificação do processo de venda do fornecedor. Ainda segundo o autor, não construir uma imagem da solução junto com o cliente ou não entender todos os passos da compra na organização cliente levará a uma abordagem que se resumirá em apresentação das características dos produtos e o fim será uma competição entre fornecedores pelo menor preço. A fase de avaliação das soluções que é parte do processo de compra do cliente, conforme Romeo (2008), está relacionada com o início da fase de fechamento do processo de venda dos fornecedores. Nesse momento os fornecedores devem provar que seus produtos ou serviços realmente atendem à imagem de solução construída. Ainda segundo o autor, é nessa fase também que o cliente receberá a proposta de outros fornecedores concorrentes para mostrar suas soluções para a necessidade. O fornecedor que tiver melhor entendido as necessidades do cliente e tiver construído de forma mais competente a imagem da solução na cabeça dos tomadores de decisão ditará as regras pela qual os demais concorrentes serão analisados. 28 Na fase final de tomada de decisão Romeo (2008) afirma que é comum algumas organizações clientes cortarem o contato com os fornecedores. Com um processo de venda que seguiu todo alinhado com o de compra do cliente, esse silêncio é encarado com bastante calma pela organização fornecedora pois já se sabe todos os passos da compra do cliente e logo se presume que os tomadores de decisão ou estão refletindo sobre o risco da compra ou estão querendo testar a ansiedade do vendedor e iniciar manobras para redução de preço. Para Romeo (2008) quando o processo de venda é alinhado com o processo de compra a organização fornecedora tem condições de resistir às pressões por preço. Nessa fase, combater as pressões do cliente tem muito mais a ver com a capacidade do vendedor em se manter firme aos ataques de preços feitos pelo cliente, que anseia por ter certeza que está fazendo um bom negócio, do que com a capacidade de negociação. Vendas e negociação podem até parecerem semelhantes ou uma ser parte da outra, mas segundo Rackham (2011) há uma diferença e se os vendedores não a conhecerem todo o processo de vendas ficará comprometido. Conforme o autor, na negociação ambas as partes estão prontas para abrir mão de alguma coisa a fim de realizar o negócio. Isso não é verdade em vendas. Quando se está vendendo não se abre mão de nada, o sucesso se baseia apenas na capacidade de atender necessidade do cliente gerando valor através do produto ou serviço adquirido. Segundo Rackham (2011), quando as organizações não têm clareza sobre a diferença entre negociação e vendas caem no erro muito comum: começar a negociar cedo demais. Quanto mais cedo houver concessões, menos impacto elas terão. Para o autor a negociação nunca foi e nunca será um substituto para uma venda eficaz. Segundo Thull (2007) alinhar o processo de venda com o de compra por meio de geração de valor para o cliente em cada fase é necessário para ter sucesso em vendas complexas. O autor definiu como “Processo de Qualidade” a sequência das fases do processo de venda e o valor que cada ponto gera ao cliente. Conforme figura 2: 29 Figura 2 – Processo de Qualidade. Fonte: Adaptado. Thull (2007) Para Thull (2007), conforme visualizado na figura 2, o valor para o cliente deve estar presente em todas as fases do processo de venda, isso é o que dá qualidade no atendimento e no produto ou serviço apresentado. A fase da descoberta do problema, em que há uma preparação e uma abordagem do vendedor, é onde se cria um valor previsto, uma vez que ainda não se tem certeza sobre a solução. Nas fases seguintes de diagnóstico do problema e desenvolvimento da solução há uma elevação do valor que antes era apenas previsto, algo incerto, para um valor que agora é acordado, existe agora um compromisso em como gerar esse valor. Por fim na entrega, ou seja, implementação da solução, o valor que antes era acordado, mas ainda não mesurável, agora se faz atingido na organização. Apresentado então as definições e explicações sobre vendas complexas, o mercado o qual elas são presentes e o processo de compra e venda que se desenvolvem sobre elas, é atingindo a parte inicial do objetivo do presente trabalho. Contudo, para comparar a teoria à prática e com isso identificar as possíveis limitações nesses processos é apresentado a seguir a pesquisa que possibilitou a conclusão do objetivo aqui proposto. 30 3 METODOLOGIA Nessa seção é apresentada a metodologia adota pelo trabalho para que fosse chegada as conclusões sobre o estudo. A seção contemplará os conceitos da metodologia de estudo de caso, bem como os procedimentos e ferramentas utilizadas para execução. Segundo Gil (2002), a pesquisa científica é um procedimento, racional e sistemático, que objetiva apresentar respostas aos problemas propostos pelo trabalho. Ainda segundo o autor essa pesquisa pode ser classificada sob duas óticas. A primeira com base no seu objetivo e a segunda com base nos procedimentos técnicos utilizados. Dentro desse conceito o presente trabalho pode ser classificado como exploratório e qualitativo, realizado por meio de um estudo de caso. A pesquisa pode ser definida como exploratória pois segundo Vergara (2009), esse tipo de pesquisa é realizado em temas no qual há pouco conhecimento sistematizado. Ainda segundo o autor a pesquisa exploratória tem uma natureza de sondagem e embora não necessite de formulação hipóteses estas podem surgir ao decorrer ou ao final da pesquisa. Quanto ao meio da pesquisa, Gil (2002), versa que um estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado. Ainda segundo o autor um estudo de caso pode variar de acordo com seu propósito podendo ainda ser classificado como um estudo de caso intrínseco, que consiste no qual o caso constitui o próprio objeto da pesquisa, o que o pesquisador almeja é conhecê-lo em profundidade. A elaboração do estudo de caso é guiada pelas etapas que Gil (2002) considera como uma compilação sobreas etapas propostas por outros autores. Essas etapas são: formulação do problema, definição da unidade-caso, determinação do número de casos, elaboração do protocolo, coleta de dados, avaliação e análise dos dados, e preparação do relatório. A coleta das informações se deu por meio de entrevistas feitas a empresa Gomes de Matos Consultores Associados e a uma empresa do varejo supermercadista cearense, sendo este guiado por um roteiro diretivo previamente 31 estabelecido afim de confrontar as práticas postas na teoria versus o que era posto pelos líderes de ambas as empresas. 3.1 Estudo de Caso As unidades de caso utilizadas para realização do estudo são o processo de venda de consultoria, que se encaixa como venda complexa, sendo representado por uma empresa de consultoria e o processo de compra de serviços de consultoria representado pelo processo de compra de um supermercado A Gomes de Matos Consultores Associados é uma empresa privada que atua no mercado de consultoria organizacional, consultoria de diagnóstico e implementação de mudanças organizacionais. Segundo Gomes de Matos (2018), a empresa foi fundada em 1995 pelo seu sócio presidente, Eduardo Gomes de Matos. A empresa hoje trabalha com 12 portfólios de negócios em que cada portfólio oferece produtos com base na sua área de atuação. São os portfólios: Alinhamento Organizacional, Desenvolvimento Organizacional, Gestão Econômica e Financeira, Gestão Estratégica, Gestão de Marketing, Gestão Comercial e Vendas, Gestão de Pessoas, Gestão de Processos, Orientação Executiva, Educação Corporativa, Franchising e Comunicação. Esses portfólios funcionam como unidades macro de produtos e se dividem em produtos específicos menores. Conforme Gomes de Matos (2018), a empresa tem como Missão: Tornar as organizações mais competitivas e duradouras, as pessoas mais qualificadas, vibrantes e felizes e a sociedade mais desenvolvida. Visão: Um marco na história das pessoas e organizações, se assim o SENHOR quiser. Valores: Ser digno dos dons e bênçãos de Deus; O sucesso do nosso cliente é o nosso sucesso; Somos profissionais focados em gerar resultados concretos, fazendo o melhor desde a primeira vez; Pontualidade, sinceridade e honestidade; Tratar as pessoas com cordialidade, respeito e confiança; Ser ambicioso, crescer e divertir-se, com equilíbrio; Uma grande empresa é formada por grandes pessoas; Vibrar e buscar com paixão e entusiasmo o que queremos; Mais do que equipe, formamos amigos e sócios; Inovar e empreender continuamente. Conforme informações internas da empresa, atualmente a Gomes de Matos conta com uma equipe de 50 colaboradores dentre consultores e cargos internos de gestão. A empresa que originalmente atuava somente no Ceará hoje 32 conta com escritórios no estado do Rio Grande do Norte e na Paraíba. A Gomes de Matos atualmente executa cerca de 70 projetos de forma simultânea dentro dos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Alagoas, Piauí e Pernambuco, além do Ceará, sede da empresa, e dos estados do Rio Grande do Norte e Paraíba onde se localizam seus escritórios. A segunda empresa foco do estudo de caso é uma empresa varejista cearense do ramo de supermercados que preferiu não ser identificada pelo nome no referido estudo. A empresa iniciou suas atividades em 1992 com um pequeno comércio no bairro Granja Lisboa região do grande Bom Jardim em Fortaleza-Ceará, segundo informações da empresa. Ainda segundo a empresa, atualmente a empresa conta com 5 lojas. A matriz fica localizada no bairro Montese e as demais localizadas nos bairros: Aeroporto, Damas e Castelão, sendo essas na cidade de Fortaleza no Ceará, e uma última localizada na cidade de Maracanaú também no Ceará. Conforme a empresa, as lojas empregam hoje cerca de 360 funcionários diretos e cerca de 250 indiretos. A empresa também participa a uma rede de supermercados que possui associados em todo o estado do Ceará e que também não será identificada pelo nome. Segundo o supermercadista, a empresa tem por missão: Superar as expectativas dos clientes com produtos e serviços de qualidade, ter responsabilidade social e proporcionar ao colaborador excelentes condições de trabalho. Visão: Ser uma empresa varejista, sustentável e reconhecida proporcionando bem-estar e confiança aos clientes, colaboradores e fornecedores. Valores: Ética, Honestidade, Fé em Deus, Acreditar no potencial humano e Comprometimento com clientes, colaboradores e fornecedores. A intenção com o estudo de caso nas referidas empresas é identificar na prática os processos de compra e venda, compara com a teoria e a prática e apontar as possíveis limitações que tornam esse processão menos previsível do que apontado na teoria. As entrevistas foram realizadas com o Diretor Comercial e de Relacionamento da Gomes de Matos Consultores Associados e o Presidente da empresa Supermercadista. Depois de realizadas as entrevistas foram transcritas para a análise e uso das informações gravadas nos resultados. As transcrições seguem como apêndices desse trabalho. 33 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS Esta seção do trabalho é designada à análise das entrevistas aplicadas com os diretores das empresas que representam as unidades de caso do estudo. Os resultados são apontados mediante uma comparação direta entre a teoria e o que os entrevistados revelaram acontecer no dia a dia das empresas. Os resultados foram resumidos e podem ser visto de forma clara no Quadro 2, abaixo: Quadro 2 – Resumo da Análise dos Resultados Teoria Resposta da Consultoria Resposta do Cliente Teoria x Casos O processo de vendas complexas envolve múltiplos tomadores de decisão e influenciadores – Thull (2007); Heiman, Sanchez e Tuleja (1998) Na venda é envolvido todo setor comercial, assistentes, vendedores e diretor. Na compra é envolvido o líder da área que surge a necessidade, os demais gerentes como influenciadores e o diretor. Ambos os pontos em acordo. Vendas Complexas possuem longos ciclos de trabalho - Thull (2007) A duração de todo o processo de vendas complexos pode variar de 30 a 60 dias, embora esse último seja difícil de ocorrer. A duração de todo o processo de compra de serviços pode variar em 30 dias, chegando facilmente aos 60 dias devido à negociação ser lenta. Embora não se defina na teoria quantos dias é considerado um ciclo longo, o discurso que esse é um processo demorado revela a concordância entre os pontos. Vendas Complexas possuem soluções caras e elaboradas de difícil compreensão, avaliação e implantação. - Thull (2007) e Heiman, Sanchez e Tuleja (1998) Soluções são intangíveis, complexas, customizadas e que não tem uma forma única de se executar. A fase de apresentação é crítica pois o cliente tem dificuldade de entender. Soluções mais distante do que a empresa realiza hoje são mais difíceis de entender. Soluções também de alto investimento. Ambos os pontos em acordo. Vendas complexas atuam em marcados de vendas B2B - Thull (2007) O core business da empresa é vender serviços de consultoria para outras empresas, sem definição de porte ou localização. A grande parte dos fornecedores são outras empresas, sem definição de porte ou localização. Ambos os pontos em acordo. Processo de compra: Conscientização das necessidades, avaliação das soluções, tomada de decisão. – Romeo (2008) - Surgimento da necessidade; definição da solução; levantamento das opções; análise das opções; negociação e decisão. Grande parte dos pontos apresentam semelhando, porém diferem quanto a existência da negociação. Algo não presente na teoria, contudo presente na prática. 34 Processo de Venda: Prospecção; Qualificação; Fechamento. Prospecção; Qualificação; Apresentação; Negociação e Fechamento. - Assim como noprocesso de compra, no processo de venda a teoria não prevê a existência da negociação. Diferente então apenas nessa etapa. Fonte: Elaborada pelo autor. Diante do quadro fica evidente a existência da maioria dos pontos apresentado pela teoria na prática. As características do ambiente de vendas complexas são a realidade da empresa de Consultoria e da empresa de Supermercado. Além das concordâncias, o quadro também revela a inexistência de uma etapa tanto no processo de compra como no de vendas que é o momento de negociação, já revelando assim uma limitação entre teoria e prática. 4.1 Entrevista com a Gomes de Matos Consultores Associados O representante da Gomes de Matos na referida entrevista foi o Diretor Comercial e Relacionamento, Guilherme Pequeno. Ele tem 39 anos é formado em Administração de Empresas e Administração Pública pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), possui MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas e possui certificação pela Fundação Dom Cabral para atuar como Conselheiro Empresarial. O Diretor está na empresa há 17 anos. Com foco em entender todo o processo de vendas a entrevista inicia sobre o questionamento de quem são os envolvidos no processo de vendas. Diante da pergunta o entrevistado explica que o processo de vendas pode iniciar de forma ativa ou passiva e que isso apontará para a participação de mais ou menos pessoas no processo, como é o caso do setor de marketing que é presente nas vendas ativas, mas não nas passivas. Contudo o Diretor atinge o objetivo da pergunta ao informar que os vendedores da Gomes de Matos também são os consultores. Em seguida, questionado sobre as características que são valorizadas em um vendedor na empresa o Diretor explica que devido a empresa trabalhar com soluções customizadas o consultor precisa de 3 grandes habilidades para realizar uma venda: saber fazer as perguntas certas para identificar a necessidades dos clientes, ter conhecimento sobre o portfólio de serviços e a terceira é ter capacidade 35 de negociação. Essas características se mostram alinhados com a teoria de Romeo (2008), ao descrever que um bom vendedor de serviços complexos domina o produto que vende e sabe fazer as perguntas certas. A pontuação de Kotler (2000) também é pertinente nessa comparação ao escrever que um vendedor gerador de demanda está presenta nas vendas contemporâneas. Quando a capacidade de negociação apontada pelo Diretor da Empresa fica evidente que, sendo essa característica necessária para um vendedor, o que Rackham (2011) pontua como diferença entre vendas e negociação não é presente na realidade da empresa, ou seja, o vendedor também tem o poder de negociar. O Diretor continua afirmando que o vendedor ao fazer as perguntas certas consegue ir além de identificar as necessidades do cliente, consegue ter uma visão mais ampla do negócio avaliado. Característica essa apontada na teoria por Sullivan (2007 in THULL, 2007) ao definir o vendedor da era 3, o qual vai além das necessidades do cliente. Questionado agora sobre as características dos produtos da empresa o Diretor afirma que: “ele é elaborado com base em necessidades, então ele tem uma alta complexidade que preciso identificar, ele é customizado de acordo com o tamanho, porte, o nível do cliente e ele é executado de forma customizada”, ou seja, as soluções são algo intangível, complexo, customizado e que não tem uma forma única de se executar, há mais de uma forma de se fazer o serviço proposto e alcançar o mesmo resultado que o cliente deseja. Tais características estão bem alinhadas ao que Thull (2007) define como vendas complexas, uma vez que, segundo o autor, os produtos e serviços comercializados em vendas complexas são específicos para cada cliente e por muitas vezes difíceis de se entender pelo cliente. Dado o perfil das soluções, o diretor, quando questionado sobre qual o perfil de clientes para essas soluções, explica que o core business da empresa abrange somente cliente jurídicos, ou seja, outras empresas, ficando evidente que a venda acontece em um mercado B2B, retificando ainda mais o conceito de vendas complexas apresentado nos capítulos iniciais desse trabalho. O diretor afirma que essas empresas podem ser grandes, médias ou pequenas. E que a empresa não tem restrição geográfica de atuação uma vez que possui escritórios em outros estados e consultores com disponibilidade para viajar à trabalho. Esses clientes não tem um padrão de tempo de mercado, eles atendem clientes que estão em planos de abrir a empresa até empresas já consolidadas. Ao confrontar característica de 36 alto investimento e de alta complexidade de execução dos serviços complexos com clientes pequenos e novos no mercado o Diretor explica que existem soluções que são possível de aplicar em pequenas e novas empresas e ajudam elas a crescer e que o alto investimento é arcado pelo diretor e se justifica como um investimento de sócios na empresas. Sendo assim o processo de vendas complexa da teoria continua evidenciado na prática, mesmo por empresas menores. Questionado sobre as etapas do processo de vendas o diretor volta a apresentar a distinção entre a venda ativa e a passiva. Ele explica que no processo de venda ativa tem o levantamento de leads, que são contatos de possíveis clientes, contatar esses leads, agendar a visita, fazer a qualificação, elaborar a proposta, validar a proposta, apresentar a proposta, negociar a proposta, fechar a proposta e assinar contrato. No processo passivo de vendas, tem a fase de recepção do contato, identificação da demanda primária, agendamento de visita, qualificação, elaboração, validação, apresentação, negociação e fechamento. Diante do processo narrado por Romeo (2009) como o processo de vendas das empresas no mercado B2B fica evidente que a grande parte das etapas são as mesmas ficando distinta apenas a etapa de negociação, uma vez que Romeo (2009) e Thull (2007) entendem que ao realizar todo um processo de qualidade na venda não há mais o que negociar. Ao ser questionado sobre uma possível rotina de prospecção de novos clientes sobre a empresa o Diretor informa que: “Na minha opinião a gente não tem uma..., um processo sistematizado, a gente tem alguns eventos que nos ajudam a credibilizar nossa marca, tornar nossa marca autoridade junto ao mercado que faz com que uma parte daquelas pessoas que estão assistindo nos procurem”. Essa ausência de prospecção, mas uma educação dos possíveis clientes, é a primeira etapa do processo de qualidade apresentado por Thull (2007). O Autor explica que a empresa deve participar junto ao cliente desde a construção da imagem de uma solução para as necessidades. Dadas a ausência de uma prática sistematizada de prospecção essa estratégia de educar os possíveis clientes se mostra adequada ao processo de construção da imagem da solução indicado pelo autor. Porém essa criação da imagem para a solução não atinge todos os clientes que procuram a empresa, uma vez que, ao ser questionado sobre a imagem de solução que os clientes têm ao procurarem a Gomes de Matos, o entrevistado informa que eles não apresentam uma imagem da solução procurada e sim uma 37 problema que eles querem resolver e que o consultor, ao seguir com o processo de venda, qualifica e só então se chega a uma imagem de solução. Questionado então sobre esse momento de qualificação e como ele ocorre, o Diretor explica que esse processo acontece na maioria das vezes em uma reunião presencial com o cliente em que, baseado em um formulário com perguntas prévias sobre a necessidade inicial apresentada pelo cliente, o consultor consegue dirigir a reunião, aprofundando no discurso do cliente e entender de fato qual a necessidade. Além disso o entrevistado explica que é também na qualificação onde o consultor identifica tudo que possa impactarno processo de decisão do cliente para que a Gomes de Matos possa saber tudo que o cliente fará até a decisão. Diante do exposto, o processo de qualificação é exatamente igual ao processo apontado por Romeo (2009), bem como Thull (2007) ao pontuarem a necessidade desse momento para confirmar as informações prévias passadas pelo cliente. Ainda sobre o momento de qualificação o Diretor, questionado sobre quem são as pessoas que participam desse momento, informa que isso depende do tamanho da empresa e da complexidade do serviço, mas que sempre participam um gestor e o diretor. Porém há casos em que é necessário a entrevista com mais pessoas da equipe para saber o que está acontecendo em partes correlatas àquela necessidade, ao passo que, em empresas pequenas, só o diretor já consegue esclarecer bem toda a demanda. Tal evidência da necessidade da participação de mais de uma pessoa no processo ratifica em relação a Thull (2007) uma das características do processo de vendas complexas que é complexidade da solução desenvolvida. Quando questionado pelo tempo médio de duração do processo de vendas, o Diretor informa que ele dura em média 10 dias. Algo que torna ausente uma das características mais marcantes do processo de vendas complexas, o longo período para compra. No entanto ao seguir nas perguntas o Diretor informa que entre o contato do cliente e a visita de um consultor isso pode levar 4 dias. Questionado também sobre a finalização da compra por parte do cliente o entrevistado revela que: “[...] nesses últimos 2 anos em virtude dessa dificuldade econômica financeira as empresas estão fazendo um processo de cotação com dois, três fornecedores, estão comparando escopo, né?!, estão avaliando orçamentos e aí esse processo de negociação ele hoje tem demorado aí de 10 a 30 dias até o fechamento”. Logo, o 38 período inicial informado de 10 dias referia-se apenas as etapas de qualificação, elaboração da solução e apresentação ao cliente. O processo todo pode chegar a durar 60 dias. Ou seja, a característica de longos períodos é identificada no processo de vendas da Gomes de Matos. O que torna perceptível aqui é apenas o entendimento do entrevistado sobre o processo de vendas da empresa como um todo e não somente a elaboração da solução e apresentação dela ao cliente. Explicado sobre o que Rackham (2011) e Thull (2007) falam sobre agregar valor para o cliente no processo de vendas, o Diretor é questionado sobre como eles agregam esse valor no seu processo. Ele informa que o valor é agregado inicialmente no momento da qualificação em que o consultor levanta as informações corretas para elaborar uma solução que se adeque exatamente ao cliente e que ao ser apresentada informará ao cliente tudo exatamente como será feito, contemplando prazos e os resultados que serão alcançados, apresentando ao cliente que a consultoria entende do negócio dele e que vai gerar ganhos para a empresa. Esse valor narrado pelo entrevistado é semelhante ao abordado na teoria pelos autores, ou seja, o há um ganho que o cliente percebe no processo. Porém essa geração de valor não foi narrada de forma tão clara quanta a definição das etapas por exemplo, o que revela não ser algo tão discutido quando Rackham (2011) e Thull (2007) descrevem que deva ser. Questionado agora sobre a etapa de negociação do processo e posto frente a teoria que não prevê uma etapa de negociação, o Diretor explica que a negociação não se dá apenas no investimento financeiro, mas pode também se dar por meio do escopo do projeto. Uma vez que como o processo envolve uma venda técnica o consultor negocia com o cliente os pré-requisitos para que o projeto atinja os resultados vendidos. No entanto a negociação do investimento também é algo que acontece e o entrevistado explica que a negociação envolve também um fator emocional então se o consultor percebeu que o cliente gostou da solução e não concretiza a compra pelo preço o consultor deve está apto a negociar nesse ponto também. Ao informar que no momento da qualificação já identifica como ocorre o processo de tomada de decisão do cliente o entrevistado aprofunda dizendo que o decisor muitas vezes já participa da etapa de qualificação, mas que nesse momento outras pessoas podem opinar. O Diretor salienta ainda que essa decisão pode ocorrer até na hora, mas que na maioria das vezes há a participação de outros 39 fornecedores no processo, o que estende o período de análise do cliente. Ficam evidente aí outras duas grandes características das vendas complexas; as várias pessoas influenciando no processo de decisão e a participação de outras opções de compra para os clientes, características apresentadas na teoria por Heiman, Sanchez e Tuleja (1998). Por fim, questionado sobre a(s) etapa(s) mais crítica(s) do processo de vendas o entrevistado informa que são a qualificação e a apresentação. A primeira por ser o momento mais importante para entender a necessidade do cliente e conseguir gerar uma solução que irá resolver os problemas. A segunda devido a preocupação de sempre fazer com que o cliente entendo o que o consultor está querendo executar. Se não houver, no momento da apresentação, uma linguagem que o cliente entenda o projeto pode ser perdido simplesmente pela falta de compreensão dos envolvidos na compra. A teoria não prevê um fator mais crítico para o processo, uma vez que Thull (2007) aponta que todos os passos do processo de qualidade são importantes para agregar valor ao cliente, mas a atenção dada ao processo de qualificação das necessidades fica evidente na teoria e na prática. 4.2 Entrevista com o Supermercado Abordado inicialmente sobre o perfil dos fornecedores, o entrevistado informou que são em sua maioria outras empresas e que não há exclusão em suas escolhas de fornecedores por porte ou tempo de mercado. O Diretor entende que muitas das demandas da empresa podem ser atendidas por empresas menores e que estejam no mercado há pouco tempo. Dado essa informação, é possível apontar que o supermercado está em um ambiente B2B e das vendas complexas. Questionado agora sobre o perfil dos vendedores que a empresa compra os serviços, se estes são persuasivos ou mais consultivos, o entrevistado afirma que: “A gente encontra muito moderados mas também outros que realmente vem pra vender, [...], aquelas pessoas que vem muito impulsivo eu fico com receio, [...] e as vezes tem uns que a gente sente que não são tantos vendedores mas com a gente vai ver o produto dele é um produto deles é um “produtaço””. A característica de um perfil mais consultivo que é caracterizado por Sullivan (2007 in THULL, 2007) como vendedor da era 3 não é algo unanimemente apresentado por todos os vendedores, 40 muitos ainda estão na era 2, procuram saber as necessidades, mas não se preocupam em ir além disso. Indagado sobre as características das soluções apresentadas por esses fornecedores, quanto a sua compreensão e aplicação, o diretor pontua que algumas soluções apresentadas são mais fáceis de entender, outras são mais complexas. Umas que propõem soluções mais aplicáveis ao dia a dia do negócio são mais fáceis de entender e implantar. Outras são mais estranhas, comparado com a rotina da empresa, apresentando dificuldade de compreensão e alta complexidade da implantação. Há também a questão investimento que, segundo o entrevistado, o preço dessas soluções pode ser impactante para o caixa da empresa. Essas características quanto as soluções apresentadas em vendas complexas são descritas por Thull (2007) em sua definição. Ao ser questionado sobre as pessoas envolvidas no processo de compra de serviços complexos o Diretor informa que isso varia da área que surge a necessidade, que podem participar os assistentes de determinada área, passando pelos gerentes da área e também pelo gerente de recursoshumanos, chegando até ele. Fato que configura a complexidade das soluções nas empresas de compra, além de já evidenciar o caminho de compra posto por Rackham (2011). Questionado agora diretamente sobre as etapas do processo de compra presente na empresa o entrevistado informou que normalmente surgem as necessidades em alguma área e normalmente essas necessidades são perceptíveis nas reuniões mensais de resultados em que fica clara a queda de algum indicador e os gestores apontam as dificuldades que estão passando. Logo nesse momento são pensadas em soluções para essas dificuldades e os presentas já apontam as soluções e as possíveis empresas que podem ajudar. Ao final da reunião saem os encaminhamentos para entrar em contato com as empresas e solicitar uma apresentação de uma proposta de serviço. Depois são avaliadas as opções apresentadas, negociado e depois fechado a compra com alguma. Ao detalhar o processo o entrevistado ratifica o alinhamento do ciclo proposto por Rackham (2011) na teoria. Contudo Kotler (2000) aprofunda esse processo de compra e acrescenta a fase de desenho da solução. Questionado sobre a clareza quando a solução procurada para a necessidade o entrevistado afirma que após identificar a necessidade os líderes já conseguem formular com detalhes a solução desejada. 41 Porém seguindo com a resposta o Diretor exemplifica a solução imaginada na contratação de um serviço de Business Intelligence para o supermercado, “Eu digo que queria dentro das notas que vai ser apresentadas, a questão de margens e tudo, [...], eu quero ele crie um programa que eu consiga ver o produto, custo que entrou, qual foi a empresa que entrou, a quantidade que nós temos em estoque, se a gente tem a necessidade de ajustar preço ou não e aí eu vou conseguir fazer isso sem mais tá olhando papel, né?!”. Ao longo de toda a fala o Diretor se refere a solução apenas como um sistema para atender a necessidade e em nenhum momento consegue explicar a solução que foi então contratada. Tal confronto entre a fala e o exemplo dado torna possível a concordância com a fala do Diretor Comercial da Gomes de Matos, quando este pontua que os clientes apresentam apenas a necessidade e não sabem uma solução exata. Fato que se contrapõe a teoria de Kotler (2000) ao definir uma solução antes do contato com o fornecedor. Questionado agora sobre o recebimento das opções dos fornecedores o Diretor pontua que a maioria faz uma apresentação presencial para ele e sua equipe e que poucos mandam por e-mail. O entrevistado continua e informa que essa apresentação presencial é preferência dele e da equipe pois as propostas enviadas por e-mail muitas vezes não seguem pois eles não entendem a maioria das soluções lendo sozinhos e por vezes tendem a pedir mais materiais explicativo tornando o processo bem demorado. Essa característica de dificuldade no entendimento das opções é evidenciada por Thull (2007). Vale ressaltar ainda o comentário posto pelo diretor comercial da Gomes de Matos ao declarar a fase de recebimento das soluções pelo cliente como uma fase crítica, devido o entendimento delas pelos últimos, revelando o que será apresentado adiante quanto ao alinhamento dos processos de compra e venda. Seguindo com a entrevista, o Presidente do Supermercado é questionado sobre o processo de decisão pelo qual essas opções passam. Para o questionamento ele explica que, dependendo de qual área seja a solução apresentada, participa sempre o gerente da área, ele como diretor presidente e a gerente de RH como influenciadora que está há bastante tempo na empresa e tem bastante referência das empresas do mercado. Saliente ainda que não existe uma decisão final dele, o processo é finalizado com um consenso entre todos. E termina pontuando que nunca tomam a decisão logo após a apresentação. A resposta do 42 Diretor torna claro a característica das múltiplas pessoas envolvidas na decisão e participação assídua de uma influenciadora no processo. Questionado sobre a última afirmação da pergunta anterior, que nunca tomam a decisão logo após a apresentação, o Diretor explica que mesmo que ele tenha convicção que irão fechar com a empresa ele espera ficar só com a equipe interna para chegar ao consenso quanto a decisão. O Diretor continua e informa que outro grande ponto surge nesse momento que é questão do preço da solução e a equipe espera outro dia para entrar em contato com o fornecedor e barganhar preço O diretor chega a detalhar que esse processo de negociação por preço chega a durar de 10 a 15 dias. Indagado sobre esse momento de negociação o entrevistado releva que ele acontece em todas as compras e que, embora eles percebam o valor que a solução irá trazer para a empresa isso não anula o momento de falar sobre preço. O Diretor continua e informa que ele inicia a negociação tentando reduzir o preço apresentado, mas negocia também prazo de pagamento e pode negociar também tempo de projeto. Contudo sabe que não pode pedir um preço que comprometa a qualidade na execução do projeto. Finaliza a resposta, o entrevistado ratifica que esse é um processo mais lento que pode exigir contatos sucessivos com o fornecedor, mas que sempre existe. O momento da negociação não é apresentado pelos autores como uma fase específica nem tampouco algo obrigatório no processo de compra, como narrado pelo entrevistado. Porém o que chama mais atenção é que mesmo alinhado com o processo de qualidade proposto por Thull (2007) ou que gere o valor proposto por Rackham (2011) ou ainda que esteja alinhado como prevê Romeo (2009) esse momento de negociação vai existir e irá consumir considerável tempo no processo de compra. Questionado então sobre, em uma visão geral, quanto tempo dura o processo de compra o entrevistado informa que pode variar entre 15 dias a 60 dias. Esse tempo pode chegar a 15 dias para problemas que estejam causando impactos financeiros muito grandes para a empresa, mas que os demais duram de 30 a 60 dias. Esse fato revela a congruência entre a característica de um longo processo proposta na teoria e a realidade na empresa. Questionado sobre qual(is) etapa(s) do processo de compra é mais crítico para a empresa o Diretor informa que, sem sombra de dúvidas é a avaliação das opções que torna o processo mais críticos. O entrevistado continua a explicação 43 dizendo que devido a complexidade e, por vezes, o não entendimento da apresentação dos vendedores não consegue demorar para analisar se a aquela solução de fato vai atender sua necessidade. Esse fato comprova a necessidade prática do processo de qualidade posto por Thull (2009) e a questão de agregação de valor posto por Rackham (2011) uma vez que o processo deve ser conduzido já mostrando para o cliente como o fornecedor agrega valor para o cliente. Além disso, mais uma vez, ratifica a criticidade dessa fase já explanada pelo diretor da Gomes de Matos. Questionado por fim sobre sua percepção sobre o alinhamento entre o processo de compra do supermercado e o de vendas dos fornecedores o Diretor revela que a maioria sim, sabe o processo e as etapas que o projeto da sua empresa irá passar até ser contratado ou não. Porém algumas empresas não sabem e o Diretor informa que muitos vendedores não tem o poder de negociar revelando um grande desalinhamento com o processo de compra. Ao final da análise das entrevistas com o supermercadista fica evidente alguns acordos e adaptações entre a teoria, a consultoria e o supermercadista. O Quadro 3, a seguir, possibilita uma visão resumida: Quadro 3 – Resumo das Entrevistas Teoria Consultoria Supermercado Característica das vendas complexas Em Acordo Em Acordo Processo de vendas Adaptado Adaptado Vendedor não negocia Vendedor com habilidade de negociar Exigência do momento de negociação Geração de valor no processo Presente
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