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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE HUMANIDADES II
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA
RAFAELA OLIVEIRA CARNEIRO
DOCUMENTOS UFOLÓGICOS: O DESAFIO PARA O ACESSO À INFORMAÇÃO
FORTALEZA
2018
RAFAELA OLIVEIRA CARNEIRO
DOCUMENTOS UFOLÓGICOS: O DESAFIO PARA O ACESSO À INFORMAÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Graduação em Biblioteconomia
do Centro de Humanidades II da Universidade
Federal do Ceará, como requisito parcial à ob-
tenção do grau de bacharel em Biblioteconomia.
Orientador: Prof. Me. Márcio de As-
sumpção Pereira da Silva
FORTALEZA
2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação 
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
C29d Carneiro, Rafaela Oliveira.
 Documentos Ufológicos : o desafio para o acesso à informação / Rafaela Oliveira Carneiro. – 2018.
 101 f. : il. color.
 Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades,
Curso de Biblioteconomia, Fortaleza, 2018.
 Orientação: Prof. Me. Márcio de Assumpção Pereira da Silva.
 1. Ufologia. 2. Documentos. 3. Lei de Acesso a Informação. 4. Acobertamento. 5. Desinformação. I. Título.
 CDD 020
RAFAELA OLIVEIRA CARNEIRO
DOCUMENTOS UFOLÓGICOS: O DESAFIO PARA O ACESSO À INFORMAÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Graduação em Biblioteconomia
do Centro de Humanidades II da Universidade
Federal do Ceará, como requisito parcial à ob-
tenção do grau de bacharel em Biblioteconomia.
Aprovada em:
BANCA EXAMINADORA
Prof. Me. Márcio de Assumpção Pereira da
Silva (Orientador)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
Prof. Dra. Isaura Nelsivânia Sombra Oliveira
Universidade Federal do Ceará (UFC)
Prof. Dr. Arnoldo Nunes da Silva
Universidade Federal do Ceará (UFC)
Prof. Dr. Antônio Wagner Chacon Silva
Universidade Federal do Ceará (UFC)
A minha mãe Beatriz, pois tudo de bom que
eu tenho dentro de mim eu herdei dela e a Ja-
mes McDonald pela coragem e a inspiração em
momentos tão obscuros. Vocês eram bons de-
mais para esse mundo frio, injusto, corrupto e
ingrato.
AGRADECIMENTOS
Será para mim muito difícil colocar aqui todas as pessoas que, de alguma maneira,
contribuíram para que esse trabalho e que essa graduação se tornasse possível, pois o caminho até
aqui não tem sido fácil. Foram provações e desafios que sei que muitas pessoas não suportariam.
Houve muita torcida contra, muitas noites em claro, muitas lágrimas e uma sensação de desespero
e abandono que achei que a qualquer momento fosse me matar, mas não matou e aqui estamos,
vivos para contar essa história e apresentar esse trabalho.
Primeiramente gostaria de agradecer à minha mãe, Beatriz Carneiro de Oliveira,
pelos poucos anos que passou ao meu lado. Acho que nunca em minha vida encontrei alguém
com a alma tão pura e tão boa, que fazia qualquer coisa pra ver todo mundo bem, até mesmo quem,
muitas vezes, não merecia. Foi uma lutadora, saiu do sertão de Boa Viagem e veio para Fortaleza
sozinha, enfrentou esse mundo, diversas vezes, e também enfrentou o preconceito por ser mãe
solteira. Estudou tudo o que pode, trabalhou duramente onde podia. Chegou a morar de favor na
casa dos outros, foi muito julgada e humilhada, sofreu com relacionamentos abusivos, traição
de pessoas em quem confiavam, injustiça, acusações e mentiras, mas venceu as adversidades
e pôde me dar uma vida mais digna e a Educação que lhe foi negada no interior. Infelizmente,
ela não está mais aqui pra ver esse dia tão importante, a depressão cruel e devastadora que a
atingiu e sua trágica morte ainda tão jovem, com 52 anos, impediu que isso acontecesse, mas
tento carregar dentro de mim, todas os exemplos e coisas boas que ela passou, a alegria que a
tornou tão conhecida entre as pessoas, a simplicidade e humildade de quem só quem lutou muito
na vida sabe apreciar, além do coração de ouro, provavelmente o maior tesouro que ela possuía.
Em seguida, gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-
sores da Ufologia, pessoas que enfrentaram todo o tipo de descrédito, humilhação e preconceito
para trazer um pouco de luz sobre um dos maiores mistérios de nossa história: O Fenômeno
UFO. Gostaria de agradecer a Coral e Jim Lorenzen, dois dos primeiros desbravadores dessa
nova realidade, fundadores do primeiro centro de pesquisa civil de UFOs. Pessoas comuns
que gastaram seu tempo e recursos para estudar e entender esse estranho fenômeno enquanto
as autoridades governamentais e científicas fechavam os olhos para ele. Coral Lorenzen, uma
mulher, em plena década de 50 que passou por cima de machismos, desconfianças e de todas
as dificuldades que estavam no caminho de uma mulher naquela época, para se tornar uma das
grandes ufólogas do planeta e um dos pilares da Ufologia até os dias de hoje. Agradeço também
ao seu marido Jim Lorenzen que não apenas a apoiou e acreditou nela, mas como também foi
seu braço direito e principal suporte na vida e nas pesquisas. Um amor de uma vida inteira e que
nos presenteou com tudo de mais sincero e bom que só o amor verdadeiro pode trazer.
Gostaria de agradecer também a Josef Allen Hynek um homem que no começo era
um cético ferrenho da Ufologia e que foi jogado no meio desse mistério todo pelo governo
estadunidense com o único objetivo de desacreditar o Fenômeno UFO, para depois se tornar um
dos maiores defensores e divulgadores da realidade ufológica, Hynek era um homem no meio do
fogo cruzado, à frente da consultoria científica do Projeto Blue Book tinha o desafio de divulgar
a verdade sobre os UFOs, mas sem desagradar aos militares que tanto faziam para esconder
o assunto. Após se libertar do jugo das Forças Armadas, depois do encerramento do Projeto
Blue Book, em 1972 Hynek lançou o livro "Ufologia - Uma pesquisa científica", que é uma das
maiores obras em se tratando de Ufologia da história. Séria, sóbria e rica, Hynek usa todo o seu
conhecimento em Astronomia e Física para dar ao Fenômeno UFO a abordagem científica que
ela merece e foi uma das principais referências desse trabalho.
Gostaria de agradecer também a um dos primeiros ufólogos brasileiros e que tão
cedo partiu desse mundo: Dr. Olavo Fontes. Amigo próximo de Coral e Jim Lorenzen, ele foi
um dos responsáveis por levar a Ufologia Brasileira para o mundo. Investigou diversos casos
que ficaram na história da casuística ufológica mundial, também enfrentando o preconceito e
as ameaças daqueles que tem por interesse ocultar a verdade sobre os UFOs. Faleceu em 1968,
depois de um implacável câncer no estômago, mas sua obra e seu trabalho, não serão esquecidos.
Gostaria de agradecer também a Reginaldo de Athayde, o maior divulgador da
Ufologia Nordestina da História e um dos integrantes do grupo que lançou a campanha de
Liberdade de Informação para os documentos ufológicos. Ufólogo empenhado, organizado e
extremamente inteligente, ia até os mais profundos lugares do Sertão para investigar aterrorizantes
casos ufológicos sendo o mais famoso deles o Caso Barroso, cuja a vítima, depois de um contato
com seres de um objeto desconhecido que pousou numa estrada na cidade de Quixadá, foi
acometido de uma horrível enfermidade que o colocou num estado de coma por quase 20 anos.
As causas dessa doença jamais foram descobertas por nenhum médico nem daqui e nem do
exterior, permanecendo um mistério até os dias de hoje. Foi o primeiro ufólogo que conheci na
vida, ao vê-lo num programa de TV, quando eu ainda era criança, falando sobre Discos Voadores
no Ceará, foi a primeira vez que soube que eu não estava sozinha naquilo que acreditava. Athayde
tinha um amor verdadeiro pela Ufologia e foi um pesquisador atuante até a idade avançada o
impossibilitardisso. Lamentava imensamente não ter mais forças para buscar os ufos que tanto
procurou em vida. Sucumbiu no dia 13 de outubro de 2014.
Gostaria de agradecer também a Comissão Brasileira de Ufólogos, Ademar Gevaerd,
Marco Antonio Petit, Alfonso Beck, Thiago Thichetti, Claudeir Covo e Fernando Ramalho, entre
outros integrantes da Revista UFO e todos os grupos que estiveram envolvidos na Campanha
UFOs: Liberdade de Informação Já!, que tiveram convicção e enfrentaram uma batalha pelo
direito de saber o que o Governo Brasileiro escondia sobre os UFOs. Houve muitas negações,
promessas não cumpridas por parte das Forças Armadas, mas a união e força de quem luta
e batalha pela verdade uma hora dá seus frutos. A batalha pelo acesso à informação apenas
começou e continua ativa na Comunidade Ufológica, pois temos convicção de que nada fica
muito tempo oculto debaixo do véu do segredo.
Por último nesse primeiro leva de agradecimentos, deixei aquele que pra mim, é o
mais especial, aquele cuja luta ultrapassou todas as dificuldades possíveis, passou por cima das
desconfianças, zombarias, perseguições e humilhações para se tornar, a meu ver, o grande mártir
da Ufologia: Dr. James E. McDonald.
Falar de James McDonald pra mim é muito mais do que uma emoção, é um orgulho,
pois ele representava tudo aquilo que um cientista deve ser: curioso, honesto, esperto, investi-
gativo e honrado, preocupava-se com o mundo e achava que a Ciência existia para melhorar a
vida das pessoas. McDonald era doutor em Física Atmosférica e professor pela Universidade
do Arizona, era extremamente produtivo, muito conhecido e respeitado em sua área de atuação,
com dezenas de artigos publicados. Ele também sempre esteve envolvido com questões sociais
da época, como a luta contra o armamento nuclear, contra a destruição da camada de ozônio
e contra a Guerra do Vietnã. James ou “Jim” como era conhecido pelos mais íntimos, era um
homem de hábitos simples, apegado à família e a pacata vida em Tucson no Arizona, até hoje
uma cidade universitária.
Um dia, num entardecer de 1954, enquanto realizava pesquisas meteorológicas no
deserto de Tucson com mais dois colegas, sua atenção se voltou para algo além das nuvens
no céu. O Objeto Voador Não Identificado que ele descreveu, tinha a forma de uma esfera,
uma coloração parecida com o alumínio e brilhava reluzindo os últimos raios de sol. Aquele
avistamento mudaria sua vida e com ela toda a história da Ufologia, pois a partir daquele
momento, McDonald passaria a ser um dos maiores investigadores de UFOs que se tem notícia.
Sozinho ele investigou centenas de casos e com o NICAP, um dos grandes centros de pequisas
civis de Ufologia, investigou mais outras centenas.
Ele acreditava que os UFOs eram o maior desafio científico de todos os tempos, que
os cientistas tinham que tomar às rédeas do assunto e que as pessoas tinham que ser informadas
sobre o que era verdadeiro e o que não era. Ele sabia que os governos eram relapsos com relação
a esse tema e tentou trazer visibilidade e respeitabilidade para ele, sem se importar com que
iam pensar dele. Imaginem o desafio que era para um cientista de sua importância, naquela
época, se envolver ativamente na militância ufológica? Era um desafio sem precedentes! Muitos
julgamentos, zombaria e desconfiança, mas mesmo com tudo isso, ele não se importou e foi
em frente, pois tinha convicção dessa causa, confiava em suas pesquisas e no trabalho que os
ufólogos da época estavam fazendo.
James McDonald bateu de frente com personagens importantes do governo ameri-
cano, fez acusações diretas contra aqueles que sabia estarem trabalhando contra o reconhecimento
científico dos UFOs, escreveu diversos artigos sobre o assunto, palestrou em Universidades,
igrejas, associações e fez um pedido formal a ONU para que se envolvesse diretamente na
questão ufológica. Foi um dos percussores do “desacobertamento” do qual trataremos tanto
nesse trabalho e inspirou centenas de outros a seguirem seus passos. Jim McDonald era uma
inspiração, valente e inteligente ele fez o que pôde para trazer visibilidade e os cientistas para o
problema dos UFOs e continuou fazendo até não ter mais forças.
Um visionário, um pacifista, um ambientalista e um líder, a luta do Dr. McDonald em
prol da verdade e da Ciência não seria deixada de graça por forças ocultas trabalhando contra tudo
isso. Pouco depois de sua entrada na militância ufológica, McDonald sofreu com pressão de todas
as partes, foi perseguido, investigado pelo FBI, tentaram desqualificá-lo como cientista, foi vítima
de humilhações públicas e, cirurgicamente, essas forças ocultas, iam matado-o emocionalmente.
No início de 1971, no auge de uma grande depressão e sentido-se humilhado e
abandonado até pela própria família, James McDonald tentou o suicídio pela primeira vez.
Depois de ficar internado no hospital e aparentemente ter uma melhora em seu quadro de
depressão, ele fez planos para voltar a ativa, no entanto, no amanhecer do dia 13 de junho de
1971, sozinho, ele foi até o deserto do Arizona e tirou a própria vida com um tiro na cabeça.
Não era apenas a Ufologia que perdia seu maior lutador, era também o mundo que
perdia um gênio, um homem com uma visão muito a frente do seu tempo, que bem antes dos
poderosos falarem em “mudanças climáticas”, ele já alertava sobre esse perigo para o futuro
próximo. Um homem que achava que a Ciência tinha que salvar vidas, que a tecnologia tinha
que ajudar os menos favorecidos, que os cientistas tinham que estar a frente das batalhas pela
paz e pelas descobertas. James McDonald amou profundamente tudo o que fez e por mais que a
crueldade dessa vida o tenha tirado de perto de nós, seu exemplo e seu trabalho jamais serão
esquecidos por aqueles que abraçam as causas que ele defendeu.
James McDonald é muito mais do que um ufólogo para mim, ele é tudo aquilo que eu
sempre quis ser, ele é um exemplo de homem e caráter que enfrentou tantos obstáculos naqueles
tempos tão sombrios. Ele era um cientista que tinha paixão verdadeira pelo que fazia e tentou
tornar esse planeta um lugar melhor para viver. Queria muito eu fazer pelo menos 1% das coisas
que você fez, queria eu ter, pelo menos, um 1% da sua capacidade e inteligência para ajudar esse
mundo e a Ufologia. Se eu tivesse o conhecido pessoalmente, provavelmente eu teria o amado
muito, mas infelizmente não tive essa sorte e tudo o que me resta hoje é admirá-lo e me inspirar
em seu exemplo, por toda a sua luta e por todo o seu trabalho e também a lamentar pela sua
partida trágica e precoce desse mundo.
Voltei para a Universidade depois de muito tempo parada, desnorteada, enfrentando
uma grande depressão e culpa por fracassos tanto reais quanto imaginários, e esse retorno foi de
uma imensa renovação na minha vida. Eu sabia que enfrentaria muitas dificuldades financeiras
por não poder mais trabalhar em tempo integral e que ficaria dependente de um salário menor
em possíveis estágios que faria, mas ainda assim eu aceitei os riscos e estava imensamente feliz
em poder voltar a estudar, eu que tanto incentivava aqueles ao meu redor a valorizar a educação
e idolatrava a Universidade, jamais poderia ficar de fora dela. Portanto, gostaria de agradecer
toda a Biblioteconomia por me receber e por todas as coisas que aprendi. Agradeço a todo o
corpo de professores, aos coordenadores, funcionários e meus colegas de formação. Agradeço
ao Professor Márcio Assumpção, meu orientador, por me aceitar com esse projeto relacionado a
Ufologia. De uma forma geral, esses quase 5 anos de graduação salvaram a minha vida de várias
maneiras possíveis.
Em especial gostaria de agradecer aqueles amigos que mais estiveram comigo
nessa jornada: Shirley Rodrigues, com quem passei por muitas coisas, noites mal dormidas
para entregar trabalhos, estudando para provas, enfrentando as dificuldades da vida comum e
principalmente ela, uma garota batalhadora, mãe, esforçada e ainda assim muito apaixonada pelavida. Que as portas do sucesso e da felicidade estejam abertas para você sempre!
Alef Pereira, meu primeiro amigo no curso com quem compartilhava todas as minhas
ideias não ortodoxas sobre o espaço e a realidade. Muito inteligente, Alef também batalhou
muito para entrar na Universidade. Hoje ele não está mais na Biblioteconomia, mas sei que ele
terá sucesso onde quer que esteja e sempre vou carregar comigo nossas conversas e boas risadas
nos corredores do curso.
Isa Garantizado, com quem tive a honra de não apenas estudar, mas também de
trabalhar com ela e testemunhar sua enorme doçura e talento. Uma garota também muito
trabalhadora que passou por grandes desafios para poder se formar na Universidade.
Débora Toledo, minha amiga gótica e do heavy metal, muito estudiosa e extrema-
mente talentosa, tanto canta como também toca e escreve maravilhosamente bem. Trabalhamos
juntas também, conversamos sobre tudo, é uma amiga que vem me ensinando muitas coisas
novas. Débora passou por uma grande batalha no inicio desse ano, mas como a lutadora que
sempre foi a vida toda, ela venceu as adversidades e em breve estará de volta com mais brilho do
que nunca.
Cássia Sousa, minha amiga e irmã jedi, uma guerreira do bem, como os cavaleiros
jedi são em Star Wars. Ajudou-me diversas vezes, não apenas com essa monografia, mas em
trabalhos e projetos tanto da faculdade, quanto mesmo da Ufologia. Cássia é uma das pessoas
mais inteligentes e espertas que eu conheço e ela me brindou com a sua amizade e companhia e
espero levá-las por toda a vida.
Estefferson Torres, muito mais do que um a amigo, ele também é meu irmão. Foi
meu colega no curso de Física e mesmo depois de eu ter ido embora, nossa amizade perdurou,
e olha a ironia! Essa amizade começou na Biblioteca do Curso de Física, um lugar do qual eu
guardo memórias maravilhosas. Ele me apoiou diversas vezes, conheceu meus piores dramas
e sofrimentos e se hoje eu estou aqui finalizando essa graduação, muito eu devo a ele que me
socorreu quando eu mais precisava. Juntos compartilhamos o amor pela ciência, pelos filmes,
séries e a literatura. Que a nossa amizade possa durar por toda a vida e se existir outras vidas,
que possa continuar nelas também. Eu devo muito a você, muito obrigada por tudo.
Agradeço imensamente à D. Anésia Bayma, Margarida Lydia, Elza, Sigefredo
Pinheiro e a toda equipe de trabalho da Biblioteca do DNCOS (Departamento Nacional de Obras
contra a Seca), um lugar que me acolheu, onde aprendi demais e onde eu fui muito feliz. A
lembrança dessa época guardarei eternamente na memória.
Gostaria de agradecer também a minha prima Pedrita Maria, provavelmente uma
testemunha ocular desses anos em que cacei óvnis incessantemente. Viu muitas vezes o quanto
eu chorei e briguei para defender a ufologia, além daquele imenso amor pelo Fox Mulder que ela
conhece bem. Uma menina que vi crescer e que mais do que uma prima é também a irmã que a
vida me deu.
Há muitos outros que gostaria de agradecer e que por motivo de puro esquecimento
comum eu não coloquei aqui, mas que eu carrego no coração e na lembrança e que foram
essenciais para meu crescimento e vitórias nessa vida cheia de obstáculos. Muito obrigada a
todos.
“Eu vi o céu ameaçando o futuro, através de so-
nhos à noite. Eu vi os cães de guerra à solta, eu
vi o céu vermelho-sangue”
(Tristania - Exile)
RESUMO
O presente estudo apresenta uma abordagem sobre a pesquisa ufológica e de como o acoberta-
mento de documentos e estudos relacionados ao Fenômeno UFO, feito por órgãos governamentais
e pelas Forças Armadas, prejudicaram a legitimação do mesmo ao longo de sua história. Este
trabalho também analisa a importância das campanhas civis realizadas pelos ufólogos usando a
Lei de Acesso a Informação para liberar alguns desses documentos, focando que esse acoberta-
mento governamental, em torno do assunto, fere diretamente as bases fundamentais da Ciência
da Informação e da Cidadania. A pesquisa caracteriza-se por ser de abordagem qualitativa, o
que possibilitou uma maior aproximação entre pesquisador e o objeto de estudo e a responder os
objetivos propostos. Os instrumentos de coleta de dados escolhidos foram a revisão de literatura
e aplicação de questionário, onde foi possível obter uma quantidade satisfatória de informações
necessárias para a conclusão desta pesquisa. Os resultados apontam para um processo de de-
sinformação generalizada ao longo dos anos que dificultou todo um processo de estudo civil
como científico do Fenômeno UFO e gerou, consequentemente, a desinformação para o grande
público.
Palavras-chave: Ufologia. Documentos. Lei de Acesso a Informação. Acobertamento. Desin-
formação.
ABSTRACT
The present study presents an approach to ufological research and how the cover-up of documents
and studies related to the UFO Phenomenon, made by government agencies and the Military
Forces, have undermined its legitimacy throughout its history. This work also analyzes the im-
portance of the civil campaigns carried out by ufologists using the Law of Access to Information
to release some of these documents, focusing that this government cover, around the subject,
directly hurt the fundamental bases of Information Science and Citizenship. The research is
characterized by being of a qualitative approach, which made possible a closer approximation
between the researcher and the object of study and to answer the proposed objectives. The
chosen data collection instruments were the literature review and questionnaire application,
where it was possible to obtain a satisfactory amount of information necessary for the conclusion
of this research. The results point to a generalized disinformation process over the years that
made it difficult for a whole process of civil study as a scientist of the UFO Phenomenon and,
consequently, generated disinformation for the general public.
Keywords: Ufology. Documents. Law of Access to Information. Overcoating. Disinformation.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Caso 1: Ocorrência sobre Objeto Voador Não Identificado . . . . . . . . . . 63
Figura 2 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 03 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Figura 3 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 04 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Figura 4 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 05 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Figura 5 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 06 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Figura 6 – Caso 2: Documento com dados de OVNIs . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Figura 7 – Caso 2: Relatório da Operação Prato e foto do objeto avistado . . . . . . . . 69
Figura 8 – Caso 2: Várias fotos de OVNI com alguns dados . . . . . . . . . . . . . . . 70
Figura 9 – Caso 2: Outro relatório da Operação Prato com foto anexada . . . . . . . . 71
Figura 10 – Caso 2: Foto de objeto desconhecido fotografado durante as missões da
Operação Prato em 1977 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
Figura 11 – Caso 3: Documento do Comando Aéreo de Defesa Aérea com o carimbo
“CONFIDENCIAL” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Figura 12 – Caso 4: Documento da Base Aérea de Anápolis com assunto “Acionamento
de Alerta” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Figura 13 – Caso 4: Transcrição de ocorrência dos dias 19 e 20 de maio de 1986 . . . . 75
Figura 14 – Caso 4: Outro documento com o título “Acionamento de Alerta” . . . . . . 76
Figura 15 – Caso 4: Relatório dos fatos ocorridos no Vôo de Alerta do dia 19 de maio de
1986 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Figura 16 – Caso 5: Ocorrência sobre Objeto Voador Não Identificado . . . . . . . . . . 78
Figura 17 – Caso 5: Outro documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Tipos de Informação de caráter público . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Tabela 2 – Graus de sigiloe prazos de restrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Tabela 3 – Nível Hierárquico e Graus de Sigilo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Tabela 4 – Temas sobre acesso à informação e onde encontrá-los na lei . . . . . . . . . 61
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABIN Agência Brasileira de Inteligência
ADESG Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra
APRO Aerial Phenomena Research Organization
CBU Comissão Brasileira de Ufólogos
CIA Central Intelligence Agency
CINDACTA Centro Integrado de Defesa e Controle de Tráfego Aéreo
COMAR Comando Aéreo Regional
COMDABRA Comando de Defesa Aeroespacial
DAI Direito ao Acesso a Informação
FAB Força Aérea Brasileira
FBI Federal Bureau of Investigation
FID Federação Internacional de Documentação
GSI Gabinete de Segurança Institucional
LAI Lei de Acesso à Informação
OEA Organização dos Estados Americanos.
ONU Organização das Nações Unidas
OVNIS Objeto voador não identificado
SETI Search For Extraterrestrial Intelligence
SNI Serviço Nacional de Informação
SST Supersonic Transport
UFOS Unidentified flying object
USAF United States Air Force
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2 UFOLOGIA: A HISTÓRIA DE UM MISTÉRIO . . . . . . . . . . . . . 25
3 DOCUMENTOS: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS . . . . . . . . . . . . 47
3.1 O Surgimento da Documentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.2 Documentos e Lei de Acesso a Informação . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4 O CONCEITO DE LIBERDADE E DE ACESSO À INFORMAÇÃO . . 55
4.1 Diretrizes Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.2 Quais Os Tipos De Informações Que Podem Ser Pedidas Pela LAI? . . . 56
4.3 Classificação, Sigilo e Responsabilidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
5 O QUE OS DOCUMENTOS UFOLÓGICOS NOS DIZEM? . . . . . . . 62
5.1 Caso 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
5.2 Caso 2: Operação Prato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
5.3 Caso 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.4 Caso 4: A Noite Oficial dos ÓVNIs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.5 Caso 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
6 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
6.1 Instrumento de Coleta de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE CONTEÚDO . . . . . . . . . . . . 85
7.1 Primeira Pergunta: “Qual a importância que os documentos ufológicos
liberados pela Aeronáutica para a Ufologia Brasileira?” . . . . . . . . . 85
7.1.1 Primeiro Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
7.1.2 Segundo Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
7.1.3 Terceiro Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
7.1.4 Quarto Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
7.1.5 Quinto Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
7.2 Segunda Pergunta: “Você acha que o segredo imposto pelas Forças Ar-
madas prejudicou o estudo científico do Fenômeno UFO?” . . . . . . . . 90
7.2.1 Primeiro Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
7.2.2 Segundo Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
7.2.3 Terceiro Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
20
1 INTRODUÇÃO
De tempos em tempos, a Humanidade passa por momentos de grandes mistérios
e descobertas, já que nossa história como civilização tem aproximadamente 40 mil anos1 e
só agora começamos a explorar o quintal do Sistema Solar e mesmo nosso próprio planeta
e os desafios que a natureza coloca a nossa frente, nunca deixa de nos surpreender. A Era
dos Discos Voadores começou pouco depois de um dos momentos mais críticos da História, a
Segunda Guerra Mundial, e continua até os dias de hoje, exigindo uma explicação de todos nós,
cientistas ou não. A Ufologia surgiu naqueles anos do pós-guerra, em 1947, de maneira estranha
e ameaçadora, onde objetos desconhecidos avançavam sobre casas, pessoas, bases militares,
seguiam aviões, helicópteros e interrompiam o espaço aéreo de grandes nações, como os Estados
Unidos. Coral Lorenzen (1962, p.17), uma das primeiras ufólogas do mundo e fundadora do
primeiro centro de pesquisa civil sobre óvnis, a Organização de Pesquisa de Fenômenos Aéreos
(APRO), explicou sobre os anômalos eventos que ocorreram após junho de 1947: “Foi como se
o céu se abrisse e expulsasse todos os tipos de coisas estranhas”. O medo era evidente, muitos se
perguntavam se estariam diante de uma nova guerra, se aqueles aparelhos eram originários de
algum país rival ou mesmo remanescentes da Alemanha Nazista, pois deixavam claro, pela forma
como se moviam e da suposta capacidade tecnológica que demonstravam, que não poderiam vir
de nenhuma potência conhecida.
A opinião pública, contaminada por anos de desinformação em torno no assunto,
nunca olhou seriamente para a causa que, por mais que fosse defendida por alguns intelectuais e
cientistas em diversas épocas, continuava de olhos fechados para ela.
James E. McDonald (1968, p.1)2, Doutor em Física Atmosférica, da Universidade do
Arizona, dizia que o Fenômeno UFO nada tinha de um “problema sem importância”, como comu-
mente era visto, mas, era sim, um assunto de extraordinário valor e interesse científico. Dezenas
de milhares de testemunhas garantem que, o Fenômeno UFO é real; os casos e evidências físicas
de sua atuação mostram isso e muitas desses casos, em algum momento, foram investigados
e catalogados de perto por autoridades das Forças Armadas de diversos países, inclusive do
Brasil. No entanto, essa documentação permaneceu por muitos anos sob sigilo, sem qualquer
explicação, sendo mantida assim por mais tempo do que o exigido. Os ufólogos, pesquisadores
civis do Fenômeno UFO, sempre se sentiram prejudicados com relação ao segredo imposto pelos
1 Homo Sapiens Sapiens: <https://www.estudopratico.com.br/homo-sapiens-sapiens/>. Acesso em: 22/07/2017
2 Ufos - A Internacional Scientific Problem. Disponível em: <http://physics.princeton.edu/ mcdonald/JEMcDo-
nald> Acesso em 22/07/2017
21
governos e militares sobre esse assunto, já que uma das bases da pesquisa ufológica tem como
principal objetivo a disseminação da informação sobre o Fenômeno UFO.
O desejo dos pesquisadores sempre esteve no fato de provar cientificamente a
realidade dos óvnis, assim como sua origem. Contudo, graças a informações extraoficiais e
vazamentos de documentos ao longo dos anos, sabia-se que os governos, em parceria com suas
forças armadas, investigavam óvnis com muito mais recursos e adquiriam mais informações
daquilo que descobriam do que os pesquisadores civis conseguiam sozinhos, mas nunca as
compartilhavam totalmente com o público e, o mais grave de tudo, usavam casos ufológicos que
chegavam à mídia para fazer uma campanha de desinformação perante a opinião pública, o que
afastou ainda mais a comunidade científica do interesse para com o Fenômeno UFO. Entretanto,
os ufólogos nunca descasaram em sua tentativa de conseguir tais informações, sempre barradas
por diversas classificações de sigilo, e por dezenas de anos pressionaram os Governos e as Forças
Armadas de seus países para que fossem liberadas.
Alguns países saíram na frente nessa liberação como o Chile3 e a França4, outros,
continuam retendo com rigor, seus documentos referentes ao assunto, como os Estados Unidos.
Já outros países, assim como o Brasil, começaram a abrir seus arquivos, ainda que timidamente,
mas, mesmo assim, uma grande vitória a todos que lutaram tanto para que essas informações
finalmenteviessem a público. Muito mais do que meramente uma descrição estatística dos casos
envolvendo óvnis ao longo dos anos, esses documentos contém informações importantes para um
possível estudo científico mais aprofundado do Fenômeno e, consequentemente, sua legitimação
perante a comunidade científica mundial, o maior desejo dos ufólogos. E por qual motivo essa
informação é tão valiosa? Uma das mais fortes hipóteses quanto a origem dos UFOs é de que os
mesmos são de origem extraterrestre, como indagam diversos pesquisadores. James McDonald
(1968, s/n, tradução nossa), um dos maiores investigadores de UFOs da história, explica que:
Os tipos de casos envolvendo UFOs que são mais intrigantes, e apontam direta-
mente para a hipótese extraterrestre, são os de avistamento de objetos em for-
mato de máquinas de natureza, características e performances não-convencional,
vistos em baixa altitude e muitas vezes até mesmo no solo. O público em geral
está inteiramente desavisado do grande número desse tipo de casos que vem
de testemunhas de credibilidade que temem a ridicularização e a zombaria, o
que faz muitas dessas testemunhas relutarem na hora de reportar esses estra-
nhos incidentes. Quanto mais cedo nós levarmos a sério essa nova estância e
3 Governo Chileno reconhece UFOs. Disponível em: <https://www.ufo.com.br/artigos/governo-chileno-
reconhece-ufos> Acesso em 15/12/2017
4 Governo Francês libera documentos oficiais sobre óvnis. Disponível em:<
https://www.ufo.com.br/noticias/governo-frances-libera-documentos-oficiais-sobre-ufos> Acesso em:
15/12/2017
22
confrontarmos o problema dos UFOs com uma adequada e talentosa equipe
científica, menos vergonhosa será admitir que estamos desconsiderando um
possível problema de grande importância científica.5
Se essa hipótese é ou não verdadeira, somente uma vasta e profunda pesquisa
científica poderia responder, no entanto, tudo isso se torna inviável quando os governos, com
suas Forças Armadas, sonegam informações, distorcendo-as fazendo cair no descrédito público.
É dever de uma nação proteger dados e informações que possam colocar sua soberania em risco,
entretanto essa máxima parece não se adequar a esse imenso segredo em torno do Fenômeno
UFO, já que ele acontece em várias partes do mundo e atinge milhares de pessoas. Além disso,
ainda há falta de explicação para o fato de que os governos se esforcem tanto para esconder
os casos a ponto de intimidar as testemunhas6 e fazer com que ninguém mais as levem a sério.
Muito mais do que meramente um segredo de Estado, esse tipo de política fere diretamente o
direito ao acesso à informação.
A ânsia por explicações levaram centenas de pessoas ao redor do mundo a, por si
mesmas, procurar as respostas que os governos estavam se negando a dar. A minha justificativa
pessoal para a escolha desse assunto vem de muitos anos atrás, desde da tenra infância. É algo
que me instiga, que me fascina e que me acompanha até os dias de hoje. Como pesquisadora do
Fenômeno UFO, conheço de perto as dificuldades e a insatisfação dos ufólogos para conseguir
informações sobre grandes casos da Ufologia como, por exemplo, a Operação Prato e o Caso
Varginha, por se encontrarem classificados há anos nos arquivos governamentais, mas tendo
muito pouco ou nada liberados para consulta pública, mesmo depois que uma vasta campanha
por liberdade de informação mobilizou toda a Comunidade Ufológica Brasileira.
Esta pesquisa justifica-se no âmbito acadêmico, pelo fato de que toda essa documen-
tação contendo informações legítimas e oficiais sobre o Fenômeno UFO, pelos anos que foi
ocultada, fere os direitos básicos de acesso à informação, indo de encontro a tudo aquilo que a
Biblioteconomia e a Ciência da Informação pregam e defendem.
Le Coadic (2004) explica que a Ciência da Informação estuda a informação que é
tida como uma matéria-prima em que se baseia o processo comunicativo e que também deve
se preocupar com sua disseminação na sociedade. O direito à informação é essencial para
o exercício da cidadania, está previsto na Constituição7 na Organização das Nações Unidas
5 Are UFOs Extraterrestrial Surveillance Craft?. Disponível em: <http://physics.princeton.edu/ mcdonald/-
JEMcDonald/mcdonald_ aiaa _032668.pdf> Acesso em 15/12/2017
6 Fato que será abordado no Capítulo 1 deste estudo.
7 Direito ao Acesso a Informação, art. 5o inciso XXXIII, bem como no inciso II do § 3 do art. 37 e no §
23
(ONU)8, e negá-las à sociedade é negar o direito legítimo ao conhecimento de um assunto que
pode significar uma das maiores descobertas da história humana. Martins e Presser (2015, p.
141) apontam que o Direito de Acesso à Informação (DAI) precisa de proteção jurídica, pois
trata-se de um direito essencial que é defendido tanto por leis internacionais como pela nossa
legislação nacional e que é pertinente em qualquer atividade humana.
Na atualidade, o DAI é um direito reconhecido pelas leis mundiais de direitos
humanos9, assim como o dever dos governos informar. Informação é direito fundamental,
destaca programa da ONU em fórum de direitos humanos:
O acesso à informação é inerente ao exercício da cidadania, promovendo,
assim, o desenvolvimento cultural e político, primeiramente, das pessoas, e
consequentemente da sociedade como um todo. A informação sempre foi
relevante para o desenvolvimento humano, por seu alto grau de importância
e penetrabilidade em todos os setores da sociedade, seja no campo científico,
seja como necessidade intrínseca em todos os aspectos da atividade humana.
(FREIRE, 2008 apud MARTINS; PRESSER, 2015)
Por menores que sejam, as campanhas civis feitas em torno da liberação dessas
informações têm dado alguns resultados e aqui no Brasil, onde se concentra o nosso estudo.
Milhares de páginas referentes ao Fenômeno UFO, estão hoje disponíveis no Arquivo Nacional
para consulta popular. O esforço da Comunidade Ufológica aqui deve ser sempre lembrado, pois
mesmo tratando-se de uma parte relativamente pequena da população brasileira, os ufólogos
conseguiram unir-se em torno de um objetivo único e fazer valer seus direitos. Infelizmente, anos
e anos de negação oficial em torno desse assunto não prepararam os civis e nem os cientistas
para a consulta e estudo desse material.
Diante dos documentos já disponíveis a consulta popular, graças a campanha de
liberdade de informação encabeçada pelos ufólogos brasileiros, pretendemos questionar nesse
estudo: Até que ponto o sigilo em volta desses arquivos prejudicou a legitimação do Fenômeno
UFO?
A pesquisa tem como objetivo geral: demonstrar que os governos, especificamente,
o Governo Brasileiro, tem ocultado informações documentais sobre óvnis e por consequência
prejudicado diretamente a pesquisa ufológica e o possível reconhecimento científico do Fenô-
2 do art. 216 da Constituição Federal de 1988: <http://www.normaslegais.com.br/guia/clientes/direito-ao-
acesso-a-informacao.htm> Acesso em: 28/11/2017
8 Informação é direito fundamental, destaca programa da ONU em fórum de direitos huma-
nos: <https://nacoesunidas.org/informacao-e-direito-fundamental-destaca-programa-da-onu-em-forum-de-
direitos-humanos/>
9 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_ 03/_ ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm> Acesso em 12/02/2018
24
meno UFO. Como objetivos específicos pretendeu-se analisar o impacto desse acobertamento na
Ufologia.
A partir dos autores e pesquisadores do Fenômeno UFO, no capítulo um faremos
uma abordagem geral da história da Ufologia Moderna, como ela surgiu e como impactou
a sociedade e os governos das grandes potências, assim como suas forças armadas, além do
descaso da Comunidade Científica em lidar com toda essa situação. Trataremos também mais
profundamente do envolvimento governamental no acobertamento de informações sobre o
assunto e falaremos sobre a participação do Brasil, tanto no estudo do Fenômeno UFO, como em
suas próprias maneiras de omitir informações sobreo mesmo. Na segunda metade dos anos 90,
a Comunidade Ufológica Brasileira, embalada pelas comemorações do cinquentenário da Era
Moderna dos Discos Voadores, lançou uma intensa campanha por liberdade de informação, que
culminou com a liberação de parte do que o Governo Brasileiro e as Forças Armadas detinham
sobre os óvnis. Para esclarecer melhor a importância desses documentos e da campanha de
liberdade de informação encabeçada pelos ufólogos brasileiros, trataremos sobre documentação,
arquivo e Lei de Acesso à Informação nos capítulos 2 e 3 respectivamente.
Para uma melhor visualização das informações contidas nesses documentos, no
capítulo 4 desse trabalho, faremos uma descrição de alguns casos ufológicos que estão nos
documentos liberados até o momento pelas Forças Armadas, mostrando a gravidade e o impacto
que eles tiveram em situações de extremo risco para a população, como contato direto com
aviões civis e invasão do espaço aéreo.
A metodologia usada para alcançar os objetivos propostos no trabalho é apresentada
no quinto capítulo, onde são abordados os instrumentos utilizados para a pesquisa, que configura-
se, quanto à natureza, como qualitativa; quanto aos fins, como exploratória que, segundo Gil
(2008, p. 41) tem “como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas
a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses.” Quanto aos fins, a pesquisa classifica-se como
bibliográfica. O Instrumento de coleta de dados utilizado foi o questionário, que para Gil (2008,
p. 114) é “[. . . ] um conjunto de questões que são respondidas por escrito pelo pesquisado”. O
sétimo e último capítulo apresenta as considerações finais acerca da pesquisa, verificando se os
objetivos foram alcançados.
25
2 UFOLOGIA: A HISTÓRIA DE UM MISTÉRIO
Em 1947 completava-se dois anos do fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo
tentava reconstruir-se, contabilizam os mortos e os governos trabalhavam para organizarem-se
em torno do novo cenário gerado com resultado do conflito. Foi naquele ano também que, de
acordo com SUTHERLY (2009), vários novos marcos e padrões de voos foram estabelecidos
e superados. Não havia dúvidas da nova realidade que se desenvolvia. A corrida espacial já
começava a ganhar suas principais formas com os trabalhos de Wernher von Braun na Alemanha
e depois nos Estados Unidos10 e foi nesse palco de desenvolvimento tecnológico e científico
que se seguiram durante o pós-guerra que surgiu um dos maiores mistérios do Século XX: A
Ufologia. Para se entender melhor esse termo, deve-se falar sobre o caso específico que lhe deu
esse nome. Durante a tarde de 24 de junho de 1947, o piloto Kenneth Arnold, na época com
28 anos de idade, sobrevoou o Monte Rainer no estado de Washington a procura de um C-46
Marine, avião militar de transporte, acidentado naquela região. Foi nesse momento, segundo
SUTHERLY (2009, p. 7) que:
[ . . . ] surpreendido por um brilho refletido na lateral do avião. Quando observou
um segundo brilho, Arnold localizou a fonte: nove objetos reluzentes ao sol
voavam para o sul em direção ao monte Baker, de forma escalonada, indo para
frente e para trás, entre os picos. Impressionado, não teve a menor possibilidade
de pensar com calma e calcular a velocidade dos objetos enquanto passavam
entre os montes Rainier e Adams, a 88 quilômetros no sentido sul. Os cálculos
sugeriram o impossível: os objetos voavam a cerca de 2.600 quilômetros por
hora, muito além do que qualquer aeronave conhecida.
Ao descrever os movimentos dos objetos, Arnold se referiu a eles como “um disco
[. . . ] se você o arremessar para quicar na água.” Esse avistamento o colocou na mídia e a
contragosto, o tornou uma celebridade. De sua história relatada surgiu o termo “Disco Voador”,
da expressão em inglês “Flying Saucer” (BUENO, p.6). Mesmo não se tratando do primeiro
relato de objetos voadores não identificados nos céus, muitos deles, inclusive, chegaram a ser
testemunhados durante as batalhas áreas na Segunda Guerra, ganhando o nome de Foo Figthers
(ALBINO, 2003). Outros relatos parecidos, ainda mais antigos, alguns datando de bem antes do
século XIX, anterior a invenção do avião, também eram conhecidos, mas foi só a partir daquele
momento que o mundo começava a tomar consciência do estranho fenômeno que intrigava as
maiores autoridades do mundo e a população em geral. Após o incidente com Kenneth Arnold,
10 Wernher von Braun. Disponivel em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Wernher_von_Braun> Acesso em
20/10/2016
https://pt.wikipedia.org/wiki/Wernher_von_Braun
26
uma onda de avistamentos dos agora chamados “Discos Voadores”, se alastravam por todo
mundo (NAUD, 1979), o que levou às primeiras tentativas de estudo do fenômeno. Grupos
civis em diversos países, compostos de várias pessoas, com diferentes formações e profissões se
uniram na tentativa de explicá-los.
A definição da alcunha Objetos Voadores Não Identificados, do termo em inglês
Unidentified Flying Objects ou simplesmente OVNIs ou UFOs (KEYHOE, 1953) foi criado em
1953 pela Força Aérea dos Estados Unidos. Nascia ai o que até hoje é conhecido como Ufologia,
uma junção com as palavras UFO e Logia. Os ufólogos, como ficaram conhecidos, começaram
seu trabalho de investigar e catalogar centenas de relatos de óvnis em suas regiões de atuação
e, desde o princípio, estavam sozinhos em seus estudos, já que a Classe Científica apresentava
um intenso desdém a tudo o que fosse relacionado à Ufologia. Hynek, ufólogo e professor em
astrofísica da Universidade de Chicago discorre sobre isso (1972, p.16) ao dizer que:
O mundo científico, sem sombra de dúvida, não se mostrou ’ansioso para
descobrir’ o que seria o fenômeno OVNI e não deixou transparecer nenhuma
tendência para se mostrar admirado. A atitude universal de quase todos os
cientistas têm sido agressivamente negativa. Na verdade, quer nos parecer que
a reação tem sido exageradamente fora de proporção com relação ao estímulo.
A reação sobrecarregada emocionalmente e altamente exagerada que, de um
modo geral, tem sido demostrada pelos cientistas ao somente mencionar OVNIs
seria de grande interesse para os psicólogos.
Richard L. Thopson (2002) analisa que apesar de alguns cientistas identificarem
que os dados sobre o Fenômeno UFO eram verdadeiros, o posicionamento da classe científica
predominante é de que, se não é possível explicar esses dados com base nos termos científicos
que se conhecem atualmente, então eles não tem explicação e isso tem a ver com o fato de que, na
visão dos cientistas, se as provas acerca de um evento diverge da visão científica vigente, elas são
simplesmente descartadas. Esse desinteresse da Classe Científica com relação ao Fenômeno UFO
chegava a um nível de absurdo aberrante, que envolvia, inclusive, destruição de documentação e
provas. Jacques Vallee, astrônomo que também viria a se tornar ufólogo, relata uma experiência
pessoal que o incentivou de vez a entrar para a Ufologia.
Passei a interessar-me seriamente pelo assunto em 1961, quando presenciei
alguns astrônomos franceses apagando certa fita magnética onde nossa equipe
de rastreamento de satélites havia gravado onze dados de ocorrência sobre um
objeto voador desconhecido que não era avião, balão ou alguma nave conhecida
que estivesse em órbita. “As pessoas ririam de nós se relatássemos isto!” foi a
resposta que me deram na ocasião. “Melhor esquecermos tudo isto e não expor
o observatório ao ridículo.” (VALLEE, 1961 apud THOMPSON, 2002, p. 44)
27
É de grande espanto um ato como esse, perpetrados por homens da ciências, que
supõe-se serem os primeiros a mergulharem no mistério das coisas e tentar desvendá-las, mesmo
em momentos de grande dificuldade, como enfrentaram cientistas do passado como Hipácia de
Alexandria11 e Giordano Bruno12.
Para grande parte dos cientistas da época, os óvnis causavam um nível estrondoso de
repulsa e medo, mas para uns poucos, eles representavam um enigma digno de ser desvendado
e, ao menos para um famoso cientistada época, os discos voadores se tornariam sua principal
missão de vida. James McDonald, doutor em Física Atmosférica pela Universidade do Arizona e
também pesquisador de óvnis, tratou diversas vezes da desconsideração dos demais cientistas
pelo assunto. Segundo escreveu em seu artigo A Need for an International Study of UFOs13 (A
necessidade de um estudo internacional sobre Óvnis), ele argumenta que: “Cientistas ao redor
do mundo tem a tendência de ignorar os Óvnis como se eles fossem algum tipo de bobagem.”
(1968, p.11, tradução nossa). Esse menosprezo científico pela questão dos óvnis nunca deixou
de existir, apesar de que o envolvimento pessoal de cientistas como McDonald e Hynek e de seu
pupilo Jacques Vallee também astrofísico, tenham dado alguma credibilidade ao assunto. Logo
após o surgimento dos primeiros grupos de Ufologia e consequentemente dos resultados de suas
pesquisas, as hipóteses relacionadas às origens e causas desses fenômenos também começaram
a aparecer. O termo Objeto Voador Não Identificado, abrange várias possibilidades e logo os
pesquisadores tiveram que lidar com diversas delas, no entanto a que mais se destacou e que
permanece como a hipótese mais provável até os dias de hoje, se encontra na sua suposta origem
extraterrestre. Dr. James McDonald, que durante anos estudou, pesquisou e analisou diversos
casos ufológicos, acreditava que essa hipótese era a mais provável. Em uma palestra dada para o
Distrito de Columbia, casa da Sociedade Americana de Meteorologia em 1967, ele explica que:
Cuidadosamente pesquisando centenas dos melhores casos envolvendo UFOs
de várias testemunhas confiáveis durante mais de 20 anos, revela que não
é só impossível explicar todos eles nos termos da física atmosférica, mas
também, como outras categorias oficiais de hipóteses geofísicas, astronômicas,
tecnológicas e psicológicas falharam em explicar o Fenômeno UFO. Razões
foram dadas para dar que a hipótese mais provável e a menos insatisfatória para
a natureza dos UFOs seja a hipótese extraterrestre. (MCDONALD14, 1967, p.3)
11 Hipácia de Alexandria: A primeira cientista de todas. Disponível em: <https://canaltech.com.br/internet/
mulheres-historicas-hipacia-de-alexandria-a-primeira-cientista-de-todas-73227/> Acesso em 29/06/2017
12 Quem foi Giordano Bruno? O visionário queimado vivo há 418 anos: <http://www.bbc.com/portuguese/
geral-43081130> Acesso em 04/11/2016
13 A Need For International Study Of UFOs by MCDONALD, James. Disponível em <http://physics.princeton.
edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_fsr_14_2_11_68.pdf> Acesso em 04/11/2016
14 Unidentified Flying Objcets: The Greatest Scientific Problem of our times. Disponível em: <http://physics.
princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_nicap_67.pdf> Acesso em 15/12/2017
https://canaltech.com.br/internet/mulheres-historicas-hipacia-de-alexandria-a-primeira-cientista-de-todas-73227/
https://canaltech.com.br/internet/mulheres-historicas-hipacia-de-alexandria-a-primeira-cientista-de-todas-73227/
http://www.bbc.com/portuguese/geral-43081130
http://www.bbc.com/portuguese/geral-43081130
http://physics.princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_fsr_14_2_11_68.pdf
http://physics.princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_fsr_14_2_11_68.pdf
http://physics.princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_nicap_67.pdf
http://physics.princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_nicap_67.pdf
28
Como doutor em física, McDonald era um conhecedor de astronomia e entendia que
o Universo possuía vários sistemas estelares, galáxias e planetas e por essa razão, era bastante
sensível à possibilidade de vida fora da Terra, mesmo antes do estudo ufológico entrar em sua
vida. Diante das evidências de que esses objetos não identificados vigiavam e observavam
o ambiente e as pessoas, a possibilidade de que essas máquinas se tratassem de algum tipo
de inteligência extraterrestre ganhava mais força. Os casos envolvendo Objetos Voadores Não
Identificados continuavam a ocorrer em todo o território americano e com isso, documentos sobre
esses eventos eram criados com bastante frequência pelos órgãos militares. Para exemplificar isso,
citaremos um relatório sobre avistamentos ufológicos feito pelo Comitê Nacional de Investigação
de Fenômenos Aéreos publicado em 1964 chamado “The UFO Evidence”. Neste documento
constava uma tabela de 92 visões de óvnis por partes dos oficiais da Força Aérea Americana
entre os anos de 1944 e 1961:
Há 92 casos nessa tabela. Estão incluídos 24 casos de aviões da Força Aérea
perseguindo óvnis, sendo perseguidos ou repetidas vezes ameaçados por eles.
Em outros vinte casos, um óvni parecia deliberadamente seguir um avião da
Força Aérea (mas não persegui-lo) ou fazer um voo rasante sobre uma base
militar. É difícil conciliar essas estatísticas com a conclusão oficial da Força
Aérea de que os óvnis jamais foram encarados como uma ameaça militar. Se
isto é verdade, é de se supor que, volta e meia, os pilotos da Força Aérea
pensam estarem sendo perseguidos por balões meteorológicos, meteoros ou o
planeta Vênus, além de volta e meia saírem atrás de tais objetos aos trambolhões.
(THOMPSON, 2002, p.108)
Ao contrário do comportamento da maioria dos cientistas ao tratar do problema dos
óvnis, o Governo Estadunidense demonstrou bastante interesse nos mesmos. Ainda em 1947,
respondendo ao clamor popular diante da intensa onda ufológica que se seguia, a Força Aérea
Americana (USAF) criou o Projeto Sign, encabeçado pelo aviador Nathan Twining, então chefe
do Comando do Serviço Técnico Aéreo, que começou a valer no ano seguinte. Segundo trata
Haines (1998) o projeto tinha por objetivo buscar explicações para esse novo fenômeno que
se apresentava, coletando e avaliando toda a informação relativa aos óvnis, sob a premissa que
poderiam ser reais e uma ameaça à segurança nacional (JACOBS, 1975). Um ano depois, o
projeto mudou de nome e passou a se chamar Grudge e em 1951 foi rebatizado de Projeto Blue
Book (Livro Azul), permanecendo assim até o seu encerramento e 1969 (HYNEK, 1972).
Foi ainda sob o nome de Projeto Sign que Josef Allen Hynek, professor e astrônomo,
que naquela época ocupava o cargo de diretor do Observatório McMillin da Universidade Esta-
dual de Ohio, assumiu o comando de consultor científico do projeto (Jacobs, 1975). Inicialmente
um cético a respeito do Fenômeno UFO, como seus demais colegas cientistas, Hynek viu ali
29
uma oportunidade de demonstrar ao público como funcionava o método científico, usando a
análise dos relatórios sobre Discos Voadores como um meio para mostrar que nada mais eram do
que invenção da imaginação das pessoas (Hynek, 1972). No entanto, a medida que os anos se
passavam e Hynek tinha mais contato com os relatos e a consistência deles, assim também como
a boa reputação e honestidade das testemunhas a quem entrevistava, sua opinião pessoal com
relação aos discos voadores começou a mudar.
Os relatórios examinados por Hynek desafiavam seu senso crítico e cada vez mais
intrigado, ele se convencia irremediavelmente da realidade UFOs, mas em contra partida, os
objetivos da Força Aérea com relação ao Projeto ficavam mais escusos. Hynek por sua vez,
discordava, mas na época, não chegou a enfrentar abertamente o governo com suas inquietações.
Apenas depois de 1969, quando o Blue Book se encerrou, foi que decidiu criticar o posiciona-
mento governamental ao tratamento que dava aos relatórios de óvnis. Em sua mais famosa obra,
“Ufologia – Uma Pesquisa Científica” , Hynek sentiu-se livre para questionar as manobras de
desinformação que a Força Aérea usava para desacreditar os relatos e as testemunhas dos óvnis.
Ao tratar sobre os Encontros Imediatos, classificação que usou para catalogar os casos ufológicos
que estudou, ele descreveu o tratamento duvidoso que recebiam da Força Aérea:
Um caso, não só coloca em foco a natureza do Encontro Imediato mas também
fica registrado como um exemplo da maneira absurda como o Projeto Livro
Azul investigava, às vezes, um caso. Seriamuito difícil encontrar uma ilus-
tração mais clara para o desrespeito de provas quando desfavoráveis a uma
explicação preconcebida. Se um desrespeito tão gritante quanto este quanto às
provas ocorresse num tribunal, seria considerada uma caricatura abominável
dos procedimentos legais. A assombrosa falta de consideração e a distorção
dos fatos relatados, o descaso de não ouvir as testemunhas e uma estreiteza de
mente renitente e inflexível podem ser explicados ou como uma incompetência
no mais elevado grau ou como uma tentativa deliberada para apresentar uma
aparência de incompetência devido a objetivos ulteriores. (HYNEK, 1972,
p.114)
Seu colega cientista e também ufólogo James McDonald foi duramente mais incisivo
com relação às manobras de desinformação da USAF com relação à ufologia, denunciando-as
abertamente. Seu principal foco de ataque foi o Relatório Condon, outro projeto do governo
americano que visava explicar o Fenômeno UFO, posto em atividade em 196615. McDonald
também questionava o tratamento dado aos casos pesquisados pelos pesquisadores governamen-
tais, a quem acusava de não terem nenhuma formação em física ou astronomia, afirmando que
15 The Condon Report. Disponível em: <http://www.avia-it.com/act/biblioteca/libri/PDF_Libri_By_Archive.
org/AVIATION/Final%20report%20of%20the%20Scientific%20study%20of%20Unidentified%20Flying%
20Objects%20-%20Condon%20E..pdf> Acesso em 12/12/2016
http://www.avia-it.com/act/biblioteca/libri/PDF_Libri_By_Archive.org/AVIATION/Final%20report%20of%20the%20Scientific%20study%20of%20Unidentified%20Flying%20Objects%20-%20Condon%20E..pdf
http://www.avia-it.com/act/biblioteca/libri/PDF_Libri_By_Archive.org/AVIATION/Final%20report%20of%20the%20Scientific%20study%20of%20Unidentified%20Flying%20Objects%20-%20Condon%20E..pdf
http://www.avia-it.com/act/biblioteca/libri/PDF_Libri_By_Archive.org/AVIATION/Final%20report%20of%20the%20Scientific%20study%20of%20Unidentified%20Flying%20Objects%20-%20Condon%20E..pdf
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as investigações eram levadas de maneira muito superficial e de baixo nível de competência
científica, algo que ele chegou a comparar a um: “escândalo científico da maior gravidade”
(MCDONALD, 1966, s/n, tradução nossa). Em um dos seus artigos mais famosos “UFOs and the
Condon Report” (Os UFOs e o Relatório Condon), McDonald faz uma lista de alguns casos mal
explicados do projeto e mesmo aqueles que sequer foi dada qualquer explicação, permanecendo
como “inexplicado”. Ele denunciou toda a espécie de falta de rigor científico na investigação
dos casos, onde os investigadores ligados a Condon ignoravam fatos, testemunhas e muitas
vezes ajudavam na ridicularização delas perante a mídia e o grande público. Em outro artigo,
complemento desse, chamado UFOs and the Condon Report – A Scientist’s Critique (Ufos e o
Relatório Condon – Criticas de um cientista), ele escreve que:
Argumentações suspeitas e de fraca natureza científica são abundantes nos casos
analisados pelo Projeto [. . . ] Minha própria estimativa é que absolutamente
nenhum progresso com relação ao esclarecimento científico da problemática
dos UFOs vai sair enquanto as inadequações do Relatório Condon estejam
totalmente esclarecidas de todas as maneiras possíveis. (MCDONALD16, 1969,
p. 01, tradução nossa).
McDonald deixava claro sua insatisfação tanto com o Projeto Blue Book como
o Relatório Condon que, segundo ele, além de não investigarem os casos ufológicos com
competência, também passavam informações incorretas para o público. O mundo estava diante
de um fenômeno inquietante que demandava a mais alta prioridade, no entanto, objetivos ocultos
dentro do governo estadunidense afastaram um maior interesse científico do assunto, além de
minar com ele diante da opinião pública. A polêmica em torno desse assunto estava longe
de se encerrar, não apenas o Projeto Blue Book ou o Relatório Condon estavam a disseminar
inverdades sobre os óvnis, como também ganhavam o apoio da Central de Inteligência Americana
(CIA).
Seguindo as pesquisas oficiais que a Força Aérea Americana fazia sobre o fenômeno
UFO, em 9 de Janeiro de 1953, Chadwell e H.P. Robertson, físico nuclear do Instituto Tecnológico
da Califórnia, com outros cientistas civis, formaram um grupo que também tinha a intenção
de estudar óvnis. Esse projeto teve apoio direto da CIA, mas de forma secreta. Seu objetivo
inicialmente era de rever o que se sabia sobre o assunto, analisar o que a população entendia
sobre o mesmo e se o fenômeno representava algum perigo à segurança nacional dos Estados
Unidos. No entanto, o grupo estudou apenas superficialmente os casos já investigados nos
16 UFOs and the Condon Report - A Scientist’s Critique James E. McDonald. Disponível em:<http://physics.
princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_resa_021269.pdf> Acesso em 15/12/2017
http://physics.princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_resa_021269.pdf
http://physics.princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_resa_021269.pdf
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arquivos da USAF e declararam precipitadamente que a maioria dos avistamentos poderia ser
facilmente explicada, se não todos! Tais conclusões foram publicadas em um documento que
ficou conhecido como Relatório Robertson. Esse documento, além de concluir que não havia
nenhuma prova da origem extraterrestre do Fenômeno UFO e que eles não representavam
qualquer ameaça à segurança do país, indicou que a ênfase das informações dadas pela imprensa
a respeito do assunto poderiam gerar instabilidade dentro do governo (HAINES, 1998).
É importante que se lembre que os Estados Unidos e a União Soviética estavam
vivendo a Guerra Fria e que os cuidados com a segurança do Estado e o medo de um ataque
do país inimigo eram questões muito sérias, o que levou o Relatório Robertson a aconselhar
que houvesse um controle com relação às informações sobre óvnis que chegassem à mídia, caso
contrário, tais informações poderiam levar à população a histeria em massa. HAINES (1998, p.
20) explica que:
Para confrontar esses problemas, O Comitê Robertson recomendou que o
Conselho Nacional de Segurança instituísse uma política de acobertamento
oficial – embora disfarçada de educativa – para “tranquilizar” a população
sobre os discos voadores. Sugeriu-se a utilização de meios de comunicação,
campanhas de propaganda, clube de negócios, escolas e até mesmo empresas
como a Disney para atingir a toda população. O grupo também recomendou que
grupos privados de Ufologia, tais como a própria Organização de Pesquisa
de Fenômenos Aéreos, fossem monitorados por desenvolverem atividades
subversivas.
O Comitê submeteu o relatório ao secretário de Defesa os EUA, ao diretor federal da
Defesa Civil e ao presidente do Conselho de Segurança Nacional. Essa atitude foi interpretada
como um maior distanciamento do interesse científico sobre os óvnis, o que acabou estimulando a
CIA a recusar-se a prestar qualquer esclarecimento sobre o assunto à Imprensa, pois alegava não
promover debates sobre temas não autorizados. No entanto, a Agência continuava a monitorar
avistamentos de ufos em todo o país, por conta do interesse militar por eles. Nesse meio
tempo, ela procurou saber de alguma instituição americana que por acaso tivesse feito algum
estudo independente sobre os óvnis e que fossem melhores do que o Relatório Robertson. Seu
objetivo era monitorar, sem interferir, já que qualquer menção sobre a participação da Central de
Inteligência nessa questão havia sido proibida.
Há de se estranhar que mesmo depois de tantas negativas a respeito da realidade dos
UFOS, a CIA e o governo estadunidense ainda mantivessem seu interesse sobre eles, mantendo-
o, inclusive, em segredo e não apenas isso. A impressão que começava a circular dentro da
comunidade ufológica era de que os EUA investiam dinheiro público em uma suposta pesquisa
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sobre óvnis que tinha como único objetivo negar a existência deles. O que também não fazia o
menor sentido, era o porquê de já que os UFOs aparentemente não existiam, por qual motivo
o governo negavaacesso aos documentos dos casos que supostamente investigaram? Durante
toda a década de 50 e 60, a CIA assim como a USAF investigaram, catalogaram e arquivaram
centenas de documentos sobre casos ufológicos, todos secretos. Raymond Fowler, engenheiro e
também pesquisador de ufos, declara que:
Após anos de estudo, estou certo da existência de provas de observação de alta
qualidade, por parte de testemunhas habilitadas e confiáveis, para indicar o
fato de haver, em nossa atmosfera, objetos sólidos, parecidos com máquinas,
tripuladas por alguma forma de controle inteligente [. . . ] Parece-me sensato
deduzir, que se idôneos cientistas e investigadores civis conseguiram chegar
a esta conclusão, então, a Força Aérea dos Estados Unidos, apoiada pelos
tremendos recursos a sua disposição, já deve ter concluído o mesmo há muito
tempo. (THOMPSON, 2002, p. 117)
Donald Keyhoe, ufólogo e major aposentado da Marinha dos Estados Unidos defen-
deu a liberação de todas as informações relacionadas aos UFOs em seu livro The Flying Saucer
Conspiracy (KEYHOE, 1955). Grupos ufológicos civis, como o Comitê Nacional de Investiga-
ções de Fenômenos Aéreos (NICAP) e a já citada Organização de Pesquisa de Fenômenos Aéreos
(APRO), também exigiam essa liberação por parte do governo. A pressão aumentava e sem outra
escolha, a USAF deu permissão parcial à CIA para revelar alguns documentos sobre os UFOS.
No entanto, Phillip Strong, que era o oficial da Agência responsável pelos documentos pedidos
pelos ufólogos, recusou-se terminantemente a liberá-los, principalmente os mais reveladores. A
disputa entre Keyhoe junto os outros ufólogos contra a política de acobertamento do governo
americano não pararia aí e ainda duraria mais alguns anos.
James McDonald entra e desempenha um papel fundamental nesse processo.
McDonald era um notável físico atmosférico da Universidade do Arizona e, em
junho de 1966, conseguiu acesso pela primeira vez ao Caso Durant, investigado
dentro do comitê. Isso se deu em Wright-Patterson, a toda-poderosa base da
USAF no Ohio. No entanto, quando o cientista retornou àquela base mais
tarde, para copiar o relatório, como lhe havia sido prometido, A Força Aérea
se recusou a deixá-lo ver novamente o material, alegando que se tratava de um
documento secreto da CIA. (HAINES, 1998, s/n)
Não apenas isso o irritou profundamente, como também sua visita à base militar
confirmou suas suspeitas de que a Força Aérea estava guardando centenas de casos ufológicos
fora do conhecimento público, fato conhecido inclusive por Hynek, que era o consultor científico
do Projeto Blue Book. Indignado, McDonald foi até o escritório de Hynek e bateu os punhos
contra sua mesa dizendo: “Como você pôde sentar-se ai com toda essa informação, por tantos
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anos sem alertar a Comunidade Científica?” (JACOBS, 1975 apud MCDONALD, 1966, p. 196,
tradução nossa) Hynek incrivelmente não se zangou com a reação violenta de McDonald, pelo
contrário. Ter encontrado um colega cientista que também aceitava a realidade do Fenômeno
UFO foi, como o próprio disse, “Uma brisa de ar fresco”, que acabou o incentivando a também
denunciar as manobras de acobertamento perpetrados pelo governo, como assim o fez no futuro.
(JACOBS, 1975, tradução nossa).
Conhecido como uma das autoridades máximas da Ufologia, McDonald denunciou
publicamente que a CIA estava por trás da política de acobertamento desempenhada pela USAF,
assim como outros órgãos dentro do governo americano. Sem medo do ridículo e sendo um
homem extremamente franco e impulsivo (Fuller, 1980)17, a comunidade ufológica tinha em
James McDonald o líder que ela tanto buscou na cruzada para tirar o véu do segredo imposto
pelo governo sobre os óvnis. JACOBS (1975, p. 195, tradução nossa) explana bem isso:
[ . . . ] McDonald lançou uma cruzada para alertar a comunidade científica da
seriedade do problema. Pelos próximos anos ele escreveu milhares de cartas
sobre a problemática dos UFOs para cientistas, ufólogos, militares e cidadãos
comuns. Ele cruzou o país dando inúmeras palestras, entrevistas, discursos e
conversas privadas. Seu método de argumentação era sobrecarregar os ouvintes
com a riqueza e detalhes documentados nos relatórios de Ufos.
Enquanto faz isso, McDonald continua seus ataques violentos contra o Projeto
Condon e o Projeto Blue Book, assim como seus colaboradores a quem suspeita de serem
“simples forças entre as mãos da CIA e da Força Aérea dos EUA. Fantoches manipulados que
desonram a ciência pelas suas ações contra a verdade.” (McDonald, 1968 apud NAUD 1980,
p. 285). As atitudes agressivas do Dr. McDonald em sua cruzada contra o acobertamento de
informações sobre óvnis não seria deixado de graça por aqueles a quem ele diretamente atacava,
pessoas fortes, políticos e cientistas influentes dentro do complexo científico-militar americano.
Surge em cena Phillip Klass, engenheiro e editor da revista Aviation Week and Space Technology,
mais um cético da realidade dos óvnis e que afirmava categoricamente que eles não passavam de
fenômenos atmosférico, batendo de frente com McDonald que era físico meteorologista e que
discordava de toda e qualquer alegação de Klass (JACOBS, 1975).
Era de espantar a ousadia de um homem como Phillip Klass que, apesar de engenheiro
não tinha nenhuma outra formação em ciências espaciais ou atmosféricas, se arriscar a dar
explicações meteorológicas para os óvnis e não apenas isso, ele atacou diretamente McDonald,
17 Carta de Fuller. Disponível em: <http://www.fenomenum.com.br/ufo/governos/documentos/brasil/1980/1980_
john_fuller.pdf> Acesso em 22/05/2017
http://www.fenomenum.com.br/ufo/governos/documentos/brasil/1980/1980_john_fuller.pdf
http://www.fenomenum.com.br/ufo/governos/documentos/brasil/1980/1980_john_fuller.pdf
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tentou desqualificá-lo como pessoa e tentou prejudicá-lo como profissional. Jacobs (1975, p.
196) cita que ele: “[. . . ]engajou uma dura batalha e atrito contra McDonald” e chegou a inventar
para ao Escritório de Pesquisa Naval dos Estados Unidos que o Dr. McDonald usou fundos
do governo para financiar suas pesquisas sobre UFOs. A Marinha chegou a fazer um inquérito
interno para verificar irregularidades nas contas de McDonald, mas não encontrou nada fora
do comum. Aos que viam de fora, estava claro que as intenções de Klass não eram meramente
discordar sobre a existência dos óvnis, mas destruir McDonald de todas as formas possíveis,
justamente ele que era a maior autoridade em ufologia do planeta e que estava pressionando o
governo dos Estados Unidos a liberar suas informações sobre os UFOs.
James McDonald era um homem íntegro e exímio profissional, apesar das tentativas,
sua reputação jamais foi abalada, no entanto os ataques não cessaram. David Jacobs em seu
livro “The UFO Controversy In America” (1975) trata muito a respeito da história de James
McDonald como ufólogo e como cientista e de como ele lutou o quanto pôde e o fez até não ter
mais forças e a cada dia que passava ele via o seu sonho de levar a Ufologia a um status científico
cada vez mais distante. Suas posições políticas contra a Guerra do Vietnã, o arsenal atômico
e contra a destruição da camada de ozônio o tornaram um alvo ainda mais visado pelos seus
inimigos políticos. Passando por graves problemas familiares, ele chegou a sofrer humilhações
públicas por conta de sua crença em ufos em uma conferência contra o uso do avião Supersonic
Transport (SST).
Segundo Jacobs (1975), McDonald havia descoberto que o combustível do SST
poderia ter um efeito negativo na camada de ozônio, causando um crescimento dos casos de
câncer de pele. Durante seu testemunho no painel de Mudanças Climáticas no Congresso dos
Estados Unidos, o senador de Masschusetts Silvio O. Conte (apud, JACOBS, 1975), interrompeu
seu depoimento, diversas vezes, dizendo que: “Um homem que vem até aqui dizer que o avião
SST voando na estratosfera vai causar milhares de cânceres de pele tem que rever sua teoria
de que existem homenzinhos verdes voandopor ai no céu.” Outros congressistas seguiram
com os ataques iniciados por Conte e outros riram, transformando a sessão toda numa imensa
humilhação pública contra McDonald e um ataque aos seus conhecimentos científicos. Todos
esses fatos juntos, além de um anterior estado de depressão, podem ter contribuído para que
James McDonald fosse levado ao terrível ato de desespero no amanhecer do dia 13 de junho de
1971. Sozinho em pleno deserto do Arizona, o corajoso homem que tanto havia lutado pelo fim
do segredo imposto aos óvnis, grande cientista e professor universitário, morria com um tiro na
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cabeça disparado por ele mesmo.
A Ufologia perdia seu líder e com ele os ufólogos viam suas esperanças do fim do
acobertamento se esvaírem. Hynek também era um cientista influente, mas ele não tinham nem
a força e nem a coragem que McDonald possuía, no entanto fez o que pôde a favor da causa.
Mesmo tendo suas discordâncias, Hynek sentiu bastante a morte do colega e isso deu a ele mais
impulso no caminho de continuar seu legado. Em 1972, ele lançava sua maior obra Ufologia:
Uma pesquisa Científica onde contou todos os bastidores do Projeto Blue Book. Esse livro se
tornaria uma bíblia entre os estudantes de ufologia, nele Hynek classificou os tipos de contatos
que em 3 categorias usadas até os dias de hoje como padronização em pesquisas ufológicas
(HYNEK, 1972):
• Contato Imediato de Primeiro Grau: Quando a testemunha avista um objeto não identifi-
cado no céu.
• Contato Imediato de Segundo Grau: Quando o objeto deixa algum efeito físico tangível ao
solo ou no ambiente ao redor, como queda de energia ou efeitos eletromagnéticos
• Contato Imediato de Terceiro Grau: Quando a testemunha avista o objeto perto de si,
pousado no solo ou percebe algum ser perto dele.
O papel de Hynek aqui se torna decisivo quando ao falar do Projeto Blue Book
denuncia, não somente a ridicularização dos casos que eram enviados para a imprensa, mas
também um fator ainda mais preocupante, a intimidação que as testemunhas dos ufos passaram a
sofrer.
A ridicularização propagada contra aqueles que testemunhavam ou pesquisavam
óvnis já era bastante corriqueira, mesmo aqueles que nunca estiveram por dentro do assunto
podem atestá-la. No entanto, outro aspecto desse processo de desinformação é tratado por uma
autoridade científica como Hynek. Testemunhas e mesmo investigadores de ufos sofriam ameaças
diversas desde os anos 50, se falava muito disso no meio ufológico, no entanto Hynek atesta e dá
diversos exemplos de como isso acontecia. Um dos eventos analisados por ele durante o projeto
Blue Book fala de um Encontro Imediato em novembro de 1961, onde 4 homens testemunharam
um pouso de uma aeronave iluminada em um campo desimpedido e deserto. Achando se tratar
de um acidente aéreo, os homens se aproximaram do aparelho procurando ajudar alguma vítima
quando se deparam com seres humanoides em volta do objeto, um inclusive acenou para que
eles se afastassem. O relato, segundo Hynek, segue com um dos homens afirmando quê:
No dia seguinte, muito embora não tivessem contado a ninguém a sua bizarra
experiência, segundo fui informado, um dos homens foi chamado no emprego e
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conduzido à presença de alguns homens que nunca vira antes. Pediram-lhe para
que os levasse até sua casa, onde examinaram a roupa que ele usava na noite
anterior, sobretudo as botas, e partiram sem dar a menor explicação. (HYNEK,
1972, p. 161)
James McDonald, chegou a sofrer com este tipo de intimidação. Documentos que
estavam em seu poder, depoimentos e gravações de entrevistas com testemunhas ufológicas
foram roubados de dentro de sua maleta durante a passagem por um aeroporto (DRUFFEL,
2018)18. Pouco antes de sua morte, ele denunciou que carros pretos sem placa rondavam a
sua casa e seu escritório na Universidade do Arizona. Podia parecer paranoia na época, mas
recentemente, documentos liberados através da Lei de Liberdade de Informação nos Estados
Unidos (FOIA) comprovam que o FBI de fato, estava investigando Dr. McDonald e sua família19.
O dossiê sobre ele é vasto e grave, já que sugere que agentes infiltrados chegaram a se aproximar
de sua mulher, na época envolvida com movimentos sociais, a fim de investigar sua militância
dentro da Ufologia, como contatos com outros cientistas estrangeiros, inclusive soviéticos, coisa
que o já colocava numa lista negra de suspeitos de atos subversivos.
McDonald morreu sem saber de nada sobre esse assunto, o que torna a liberação de
documentos secretos do governo de fundamental importância. O caso de McDonald foi apenas
um exemplo, vários outros pesquisadores passaram pela mesma situação de espionagem, entre
eles Frank Scully autor de Behind The Flying Saucer (Por trás dos Discos Voadores) e Dr. Morris
K. Jessup20. Não só o governo estadunidense estava escondendo fatos relacionados aos óvnis,
como estava investigando seus pesquisadores.
A política de segredo imposto aos óvnis pelos EUA foi seguido de perto por outros
países. No Brasil não foi diferente, no entanto, antes do Golpe Militar de 1964, os militares
brasileiros demonstraram um interesse genuíno de compartilhar essas informações com os
pesquisadores civis. Em 1954, segundo PETIT (2007), o ufólogo Fernando Cleto Nunes Pereira
foi uma peça fundamental para servir de ponte entre os demais ufólogos e os militares pelo
seu envolvimento com o I Inquérito Confidencial sobre Objetos Aéreos não Identificados, uma
resposta da Força Aérea Brasileira (FAB) à grande onda de aparições de óvnis nos céus do
Brasil do mesmo ano. Cleto enviou uma carta ao próprio Ministro da Aeronáutica, o brigadeiro
Eduardo Gomes, dando detalhes dessa onda ufológica. Como resultado, ele foi convocado a
18 DRUFFEL, Allies on UFOs, Hynek & McDonald. 2018. (120 min.), son., color. Disponível em: <https:
//www.youtube.com/watch?v=_bQ_NglpUhU>. Acesso em: 22 fev. 2018.
19 FBI Files of Dr. James McDonald. Disponível em: <http://www.cufon.org/cufon/fbimcdon.htm> Acesso em
12/11/2016
20 A estranha Morte do Dr. Morris Jessup. Disponível em:<https://mummuo.wordpress.com/2013/01/21/
a-estranha-morte-do-dr-morris-jessup> Acesso em 13/06/2017
https://www.youtube.com/watch?v=_bQ_NglpUhU
https://www.youtube.com/watch?v=_bQ_NglpUhU
http://www.cufon.org/cufon/fbimcdon.htm
https://mummuo.wordpress.com/2013/01/21/a-estranha-morte-do-dr-morris-jessup
https://mummuo.wordpress.com/2013/01/21/a-estranha-morte-do-dr-morris-jessup
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comparecer ao Estado-Maior da Aeronáutica para uma reunião especial, onde pôde conhecer
várias testemunhas ufológicas que como ele haviam sido convocadas.
O ufólogo teve a oportunidade de ouvir depoimentos impressionantes de aviadores
civis e militares e demonstravam que algo de muito importante estava acontecendo no espaço
aéreo brasileiro. Outro evento importante dentro da Ufologia no mesmo ano foi a conferência
proferida pelo coronel-aviador João Adil de Oliveira, então chefe do Serviço de Informações do
Estado-Maior da Aeronáutica, no auditório da Escola Técnica do Exército e patrocinado pela
Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG). O texto dessa conferência
mostra toda a visão do conhecimento do militar sobre o assunto e alertava sobre o desafio desse
fenômeno. Já no início da exposição ele fala:
O problema dos discos voadores tem polarizado a atenção do mundo inteiro.
É sério e merece ser tratado como tal. Quase todos os governos das grandes
potências se interessam por ele e o tratam com seriedade e reserva, dado seu
interesse militar. (PETIT, 2007, p. 27)
O militar não pararia por ali e iria mais longe ainda ao abordar a presença de óvnis
também no passado remoto da Humanidade onde os mesmos se confundiam com manifestações
de origem divina e completou tratando de um dos mais importantes casos ufológicos daquele ano,
quando uma formação de UFOs sobrevoou Washington, a capital Norte-Americana, cujos os
registros cinematográficos foram mostrados posteriormente a militares de vários países

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