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História da Educação Unidade 3
Conhecendo a constituição da universidade
Tratar da Educação na Idade Moderna requer o entendimento do que caracterizou este momento histórico ímpar, assinalado pela racionalização, secularização, emancipação, disciplinarização, civilização dos costumes e institucionalização. Eram tempos de mentes emancipadas, sob corpos vigiados, os costumes foram civilizados e as buscas aceleraram, na busca por viver em uma realidade letrada. 
Conhecendo o cenário da chegada da idade moderna e sua oposição aos tempos medievais
Este momento da história, tão distinto da Idade média, é marcado por profundas mudanças na cultura, sociedade, política, economia, ciências, artes, literatura, religião e filosofia e tantas descobertas e invenções, entre elas a Imprensa, de Gutenberg e a até a pólvora, modificando até as guerras.
“O processo de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna ocorreu nos séculos XV e XVI e teve como características fundamentais o surgimento do movimento renascentista, a reforma religiosa e a consolidação da economia burguesa. A Europa passou por um período de organização política dos estados e deu início à época das Grandes Navegações, que buscavam novas relações comerciais e terras a serem conquistadas e exploradas. (Jélvez, 2012, p. 40).
A chamada Idade Moderna é considerada o período entre 1453 até 1789, quando ocorreu a eclosão da Revolução Francesa. Compreende o período da invenção da Imprensa, os descobrimentos marítimos e o Renascimento. Caracteriza-se pelo nascimento do modo de produção capitalista.
As grandes navegações ampliaram o mundo conhecido, através dos oceanos, chegando as Índias e as Américas. Se na Idade Média, a mesopotâmia era tão importante caminho comercial, a idade Moderna caminha para o atlântico. Os inimigos dos europeus, os mouros já tinham deixado a Península Ibérica (século XV). É notável, a contribuição de Copérnico, que a psicanálise de Freud denomina como um dos mais graves golpes no narcisismo humano, descentralizando a certeza de que habitamos o centro do universo, imagina acordar e descobrir que a Terra já não era o centro do universo (sem nunca ter sido)? A Idade Moderna ainda, foi marcada, pela construção dos modernos Estados nacionais, fatos significativos e incomuns aos tempos medievais, entre tantos outros fatos singulares da Idade Moderna. E a educação moderna foi privilegiada, a partir do século XV, com uma tipografia, capaz de oferecer os livros impressos em quantidades significativas, aposentando os copistas.
Este fato é tão significativo aos homens da modernidade quanto aos momentos de digitalização das publicações que as tecnologias contemporâneas trouxeram a editoração. O fato é que no começo do século XVI já existia uma circulação de aproximadamente 20 milhões de livros impressos. Um fato de consenso é que a Idade Média não foi além do século XV. Se nos tempos medievais, a vida era no campo e começou a se deslocar para os burgos, a lógica da idade moderna é a da urbanidade em tais burgos, regulados por controles e estratégias de poder distanciados dos modos feudais, que carregavam as proteções e obediências aos senhores feudais. Os grandes comerciantes passam a ter bastante dinheiro e poder.
É natural, perceber, que os grupos que queriam inovações rivalizaram com os que pretendiam a manutenção da ordem estabelecida, nos tempos medievais. Este período, significativo, da história da humanidade, vai exigir mais rigor nas observações (tanto faz se for para navegar por mares nunca antes navegados ou para fazer leituras). O que Copérnico fez foi extraordinário, revolucionou o mundo conhecido, até nas teorias aceitas. E os protestantes deram sua contribuição na hegemonia católica cristã, com a Reforma. O certo é que este momento da história está muito vinculado a leitura. E ler, implica em modificações nos leitores, seja a bíblia traduzida para o alemão, por Lutero ou livros sobre etiqueta social.
A Idade Moderna inicia durante a instalação do capitalismo comercial. Os comerciantes ganham fama e notoriedade, no mundo até então conhecido. Isso aliado ao movimento intenso de descoberta de novas terras, o grande impulso às navegações, amparados pela invenção da bússola, o que impedia que navegantes ficassem desorientados em alto mar, saindo da Europa e indo para o Oriente e para a América, resultando em uma inusitada circulação de moedas e mercadorias, transnacional. Havia intensa circulação de capital. Os homens passaram a controlar o tempo, muito mais que os sinos das catedrais, da Igreja e do que Deus, como vistos na Idade Média. Isso é o que se entende por secularização da temporalidade humana. Os tempos humanos, dos profissionais, possível de ser medido, não são os mesmos dos padres e outras autoridades da Igreja Católica.
Assim, este período da história foi marcado pela inventividade, novidades culturais e diversificados conflitos. Copérnico, astrônomo e matemático polonês (viveu entre os anos 1473 até 1543) vai inverter a ideia medieval de que a terra era o centro do universo, e lançar a teoria heliocêntrica do Sistema Solar, desenvolvendo a ideia de que a Terra não está fixa no centro do universo, giraria em uma órbita circular e ao redor do Sol, de modo idêntico aos outros planetas. Este fato, por si só, revolucionou a cosmovisão moderna. Assim, certezas medievais inabaláveis chegavam à exaustão. Já que a Terra já não era mais o centro do universo, até a visão de homem foi mudando, juntamente com a visão de mundo, na modernidade. As pessoas, na Idade moderna, começaram a pensar na individualidade e na liberdade, movidos por esta nova imagem do mundo.
Conhecendo a Construção da Universidade, da Idade Medieval a Idade Moderna
As Universidades, já no século XIV, antes da idade Moderna, eram lugares dedicados a conseguir um título para ser poderoso, assim como se o mundo dos práticos e dos sábios fossem distintos. Até a chegada do século XV as universidades foram sendo transformadas em espaços aristocráticos europeus. A Idade Média é o palco dos poderes do Clero e da Nobreza nos espaços universitários, isso era fator para atrelamento dos ditames dele, no cotidiano universitário. Não havia liberdade para a escolha de professores ou chamamento de alunos. Assim, devagar, foram tomando lugares distintos das primeiras agremiações universitárias, em Paris e Bolonha, na Idade Média. A Universidade Renascentista era um espaço para um ensino ortodoxo, voltado as elites, dando sua contribuição para a ordem social e política instituída no Renascimento. (Boto, 2017)
Este é o motivo do afastamento e rejeição dos humanistas às universidades. Mas serão contaminadas pelas ideias opostas aos tempos da Era Cristã Medieval. A Universidade Média foi atingida pelos movimentos da Reforma, tendo uma diminuição drástica nos números de alunos, já nos primeiros anos do século XVI. É que os humanistas defenderam que a universidade é o desdobramento da escolástica, com práticas próprias do autoritarismo medieval. Então, os humanistas preferiam aprender, fora da universidade, e esta nova instituição que criaram foi chamada de academia. Entre 1500 a 1790, foram criadas novas universidades, saltando e 60 para 1790. Só que as instituições cosmopolitas medievais foram dando espaço para as universidades renascentistas diferenciadas, se eram católicas, luteranas, anglicanas ou calvinistas. E já aquelas universidades medievais, controladas pelos bispos e nobres, serviriam como modelos para os colégios. (BOTO, 2007)
A partir do século XVI os redutos universitários sofreram transformações, mas não o suficiente para ampliar os estudos científicos. Luteranas, calvinistas, jesuíticas ou vinculadas ao Estado, novas universidades surgiram na Alemanha, Espanha, Itália e França. Nos Estados Unidos foram criados os colégios que depois dariam origem a duas conhecidas universidades: Harvard (1636) e Yale (1701). Contudo, a fundação de academias e sociedades científicas, ainda que frequentadas por professores universitários, indicou a necessidadede profundas reformas nas universidades para dotá-las de uma característica científica, o que somente ocorreria no final do século XVIII em diante. (Veiga, 2007, p. 42)
A Idade Moderna dará uma dignidade e ascensão social aos mestres universitários, compondo títulos, parecidos aos títulos de nobres. E nesta transição da Idade Média à Moderna, o mestre (Magister) se torna senhor (dominus), na tradicional Universidade de Bolonha são chamados nos documentos escritos de nobres homens e cidadãos principais, e no cotidiano são chamados de senhores juristas. Alunos chamam os seus adorados mestres por dominus meus (meu senhor), aproximandoos aos títulos comuns na vassalagem. (Boto, 2017).
Estes tempos da Idade Moderna civilizaram os costumes, racionalizando e institucionalizando as ações, os afetos e as pulsões das pessoas, promovendo uma pretensa superioridade dos povos europeus. Isso colocou outro papel para a educação, a escola, os colégios e os mestres, chamados a um papel civilizador, de regulação das existências e dos modos de conviver, e se comportar socialmente. As pessoas, nos tempos modernos, precisavam umas das outras, nas cidades, isso foi mudando as instituições, da Igreja à escola, como também as comunidades e as famílias.
A educação aos comportamentos desejados já revelaria o pertencimento à aristocracia, assim se pensava, naqueles tempos. Viver no mundo urbano exigia a modelação dos costumes, saber lidar com os outros, ter bom comportamento social. Foi assim que os nobres guerreiros viraram nobres da corte. E as crianças não podiam ser desprezadas neste projeto político moderno, precisavam receber a educação adequada das condutas, serem vigiados e controlados para aprenderem a conviver socialmente, terem posturas adequadas e civilizadas.
Definindo os Marcos Históricos da Educação Moderna
A Renascença e o Humanismo pedagógico; Reforma e Contra-Reforma Educacional Protestante; a Companhia de Jesus e o “Ratio Studiorum”; A Pedagogia Jesuítica; Os Colégios Modernos
O Renascimento marcou os séculos XV e XVI, apesar de já existirem traços renascentistas no século XIV ou ainda presentes até o século XVII. Mas não há discordância sobre importantes fatos, o ano 1443 e a invenção da imprensa, a Tomada Constantinopla pelos turcos em 1453, a descoberta da América (que toca as nossas vidas), a contribuição de Lutero com a sua Reforma, em 1517, além do Concílio de Trento, em 1545. Definindo os marcos históricos da Educação Moderna, será importante saber sobre o Renascimento, o Humanismo, a Reforma Protestante e sua contestação católica, a Contrarreforma, que trouxe uma participação importante dos jesuítas, com a sua Pedagogia e sua contribuição na construção dos Colégios Modernos.
Definindo os Marcos Históricos da Educação Moderna: a Renascença e o humanismo pedagógico.
O Renascimento foi uma vanguarda cultural, partindo da Itália. As cidades-estados italianas floresceram muito neste período. O Renascimento mudou os focos sobre os homens, as artes, o mundo e influenciou a educação.
A preparação do Renascimento, feita pelos humanistas italianos, estudiosos dos modelos da Antiguidade, propagou ideias que modificaram o modo de pensar de sua época e desenvolveram o espírito crítico da sociedade. Apontam-se como causas desse movimento a descoberta de manuscritos antigos esquecidos, a invenção da imprensa, que auxiliou na divulgação dessas novas ideias, o desenvolvimento das riquezas e a influência dos sábios gregos que fugiam de Constantinopla, tomada pelos turcos. (Jélvez, 2012, p.40).
O Renascimento foi uma importante expressão cultural e artística europeia, no decorrer dos séculos XV e XVI, marcado por intenso aprimoramento técnico e novos modos estéticos, trazendo novas formas de arte e produções culturais. O Renascimento implicou, em uma nova época, com o apogeu do movimento humanista, mudando a educação. A humanidade, no renascimento, passou a ser o centro, como não havia sido em nenhum momento anterior, os homens passam a ter a capacidade de serem os centros do universo. A humanidade, sua filosofia, sua formação e sua educação passam a ser primordiais, surgindo uma nova pedagogia, que traz preocupações políticas.
O Renascimento é um tempo diversificado, em que coexistem uma realidade tipicamente medieval (rural, cristã aos modos de visão medieval, dependentes do movimento do sol e dos anúncios dos sinos da Igreja, marcando o tempo, como ainda hoje tocam para anunciar que é meio-dia) e o tempo produtivo, mercantil e moderno, baseado no relógio. Sendo um conceito organizador (Burke, 1997), composto de muitas realidades distintas. Preservando formas clássicas herdadas da Antiguidade. Enquanto gritava contra tudo e todos que revelava algo dos movimentos antecessores a Idade Moderna. Colocou a mão no legado grego romano, se autoproclamando herdeiro de tal legado da Antiguidade, ao mesmo tempo em que contestava os tempos imediatamente anteriores, os tempos medievais. Os poderosos ricos das cidades queriam erudição e estavam prontos à oferecer a proteção burguesa as novas produções nas artes e nas letras.
Boto (2017) afirma que o Renascimento é uma espécie de pedagogia da cultura. Surgiu na Itália está vanguarda cultural (Século XV), oferecendo novos focos impensáveis em tempos medievais. Vai agir, na Europa, entre os séculos XV e XVI, oferecendo uma movimentação ampla, com técnicas renovadas e novos modos de pensar e produzir, na arte e na produção cultural. Foi uma época de intensas renovações. Isso resultou no movimento humanista, carregando inovações nos modos de pensar a educação. Além dos florescimentos das cidades italianas, o que se deu foi a elevação do homem do Renascimento a um lugar de destaque. O homem ocupa um lugar central, o centro do universo (não mais Deus, como se viu na Idade Média). “É o desenvolvimento de uma filosofia do homem, que implica uma teoria da sua formação, da sua educação. É o esboço de uma nova pedagogia, não isenta de preocupações políticas” (Garin, 1990, p.11).
É individualidade humana que está sendo apoiada na sua existência máxima, não vista nos tempos medievais. E com tantos estudos sobre o universo, o mundo passou a ser mais dinâmico do que se apresentava na idade Média. O Renascimento, lança a civilização capitalista, dinamizando e lançando um novo conceito de homem, capaz de compreender a si mesmo e aos seus semelhantes. Vai superando aquelas visões de relações sociais voltadas as suas comunidades de origem e familiares, em uma nova organização das classes sociais. Este tempo de mudanças contornar a rigidez das fronteiras e facilita os intercâmbios.
A ação do renascimento é de um fato social amplo, é de pesquisa pela identidade do homem e pelo mundo, nos mais amplos espaços da vida cotidiana, modos de pensar a existência, estabelecimento de novas práticas morais e princípios éticos para a vida social, religiosa, e os modos de produção e artes e ciências. E estes aspectos estão interligados no desabrochar do Renascimento, diante da nova estrutura social e econômica, da Idade Moderna. Ao mesmo tempo em que se sonha em voltar aos clássicos da antiguidade, a imprensa é inventada, e a mecanização do tempo surge com os relógios, como o fato de que a pólvora modifica os modos de guerrear, enquanto avançam os formatos econômicos de empréstimos a juros, com letras de câmbio, em feiras bancárias, não vistas na Idade Média. Tudo isso se dá com as promessas econômicas representadas pelas descobertas de novas terras, no além-mar europeu. A Arte, por exemplo, é vista como um ofício intelectual, contando com alguns cientistas como famosos artistas, é o caso de Leonardo da Vinci. (BOTO, 2017)
O Renascimento é o tempo primordial dos domínios das técnicas, pelos homens. Isso possibilitou viagens pelos oceanos e descobrir e se apossar de outras terras, fabricação de ferro, aprimoramento de armas de fogo, a contagem mecânica do tempo (relógio), a impressão de livros, dinheiro emprestado para fazer novos empreendimentos e enriquecer, sem ter nascido rico, como aconteciana Idade Média. Era um momento de muita curiosidade intelectual. 500 anos após a morte de Leonardo da Vinci, encanta a humanidade!
Era intensa a busca por conhecimentos e fontes impressas eram difundidas, com uma capacidade extraordinária, menos onerosa e mais acessível, de produção editorial nova, em uma escala maior de números de livros, na história da humanidade, ampliando os números dos que liam e dos que queriam aprender a ler e aprendiam (a imprensa foi inventada no século XV). Surgiam novos livros, no que se refere aos conteúdos, formas e formatos renovados, em oposição a oralidade da educação medieval. Além das escolas de mosteiros e bispados (algumas já existiam na Idade Média), a novidade nos burgos foram a extrema demanda por estudar e as escolas municipais de estres livres tentavam dar conta disso, ensinando a ler e calcular, e em casos especiais, ensinando artes liberais.
Ser letrado era um fato favorável, no Renascimento. E este desejo de aprender a ler era o motor que fazia com que as pessoas buscassem esta técnica até mesmo fora da escola. Isso explica o fato dos humanistas serem contrários a institucionalização da escola, defendendo a educação doméstica, visualizada em um preceptor que vai a casa de seu discípulo para ensiná-lo, aprendendo com liberdade, longe da influência da Igreja e outras visões medievais.
A Itália ficou notabilizada nas artes e alguns países do norte europeu no campo das letras, aparecendo uma elite cultural, com bastante respeito na sociedade. Os artistas são protagonistas, em um mundo que valoriza tanto a cultura. E este momento histórico é marcado por um grande avanço nas formas de pintar, desenhar e fazer esculturas. A arquitetura também mudou. Era preciso sujar as mãos para produzir saberes, não só bastava os saberes contemplativos. Unir ação e pensamento era um ideal, bem como a verificação de conceitos visíveis nas obras feitas, como acreditava Leonardo da Vinci (Garin, 1996). Foram intensas as novidades na cultura erudita e no campo das artes, entre os séculos XV e XVI. A busca pela cultura escrita foi herdada da Igreja medieval, que tanta dedicação apresentou ao ler e escrever e das necessidades mercantis, que exigia o domínio da escrita e do cálculo, pelo bem das ações comerciais, nos burgos.
A vida, no Renascimento, é examinada e interessa. Isso é o que se denomina secularização da vida, se na Idade Média era interessante pensar no além-vida, aqui no Renascimento a vida é necessariamente pensada, mas do que a vida celestial, o que interessa ao contemporâneo deste momento histórico é buscar compreensão e saberes sobre a sua própria humanidade. Os humanistas estavam preocupados até com a infância, passando a interessar em seus modos de viver. Tudo o que alargasse a compreensão da condição humana era muito salutar aos pensadores renascentistas.
Os séculos XV e XVI trouxeram novas formas de ver o mundo ao redor, lendo as suas imagens. As pessoas transitavam de uma sociedade medieval, movida pela oralidade, e ainda muitos não sabiam ler os livros, mas sabiam olhar as novas imagens modernas. E qual seria a expressão pedagógica do processo criativo da Renascença? A educação humanista não era somente erudita. E “os jovens recebiam educação cristã, mas também, a educação humanista por meio do ensino da educação física, da educação estética e da educação intelectual”. (Santos, 2013, p. 20)
Segundo Boto (2017) seria o refinamento do gosto, possibilitando a convivência elegante com condutas e hábitos das elites. Os cultos eram elegantes, isso era uma meta para os ricos! A intenção era adentrar em modos de ser e agir das elites, oferecendo educação dos costumes. A arte renascentista serve aos que pretendem atingir este refinamento, agindo corretamente e com as condutas sociais exigidas pelas elites perfeitamente interiorizadas. Quase uma lição de etiqueta social? Aulas de civilidade? Agir bem na civilização? O certo é que a estética renascentista tinha um formato pedagógico, queria educar as pessoas a serem nobres, na Idade Moderna. Embora nem todos fossem príncipes, um cortesão precisava ser capaz de lutar e dançar, pintar e cantar, escrever poemas e aconselhar seu príncipe (Burke, 1999, p.78). Há uma cultura a ser imposta, há um interesse em revelações científicas.
Os humanistas eram professores ou estudantes de gramática, poesia, retórica, história ou filosofia moral das universidades italianas. Já foi visto que a Itália foi palco primordial do Renascimento. Mas usar esta palavra Humanismo só será usual no século XIX. E o que significa, neste momento, “humanismo”? É um específico programa de ensino que quer tomar um distanciamento das ciências naturais e das necessidades práticas (Helferich, 2006). Representou uma nova visão do mundo, associada a um estilo. Era expressa na cultura geral, dos enciclopedistas, sem fins utilitários, marcadas pela busca de refinamento e belas boas maneiras, reveladoras dos que vivem em abundância econômica. Então era muito importante aprender a falar bem, para saber viver adequadamente na corte, por isso a busca intensa por cursos de retórica. Podia até não ser de elite, mas precisava saber interagir com os nobres.
Boto (2017) e também Veiga (2007 lembram que o modelo de educação humanista estava interessado nas crianças nobres e os burgueses ricos, era necessário ensiná-los o comportamento socialmente esperado aos ricos. Estes pensadores humanistas estavam preocupados em falar o latim elegante e o estudo de textos literários e registros escritos. A “unanimidade entre os pedagogos humanistas foi a ampliação dos currículos. O ensino das línguas pretendia incluir a língua materna e o ensino das ‘belas-letras’. A proposta era ir além do rigorismo gramatical e buscar nas línguas o estilo literário dos clássicos gregos e latinos” (Veiga, 2007, p. 38)
A palavra educação, na Pedagogia Renascentista, era entendida tanto como prática e também como reflexão sistemática sobre a prática. E estas reflexões sobre como educar produziram famosas escritas (Europa, no fim do século XV) e as principais críticas eram de mimos das famílias, o sadismo nas escolas e o descaso com os mais jovens. Aconselhavam a não ameaçar os alunos, não bater, já que bater não iria ajudar na melhoria da educação, e para evitar a vinculação entre medo e educação. Assim, deveria ser a educação dos homens de bem, das elites.
Os pedagogos deviam ter cuidado com a formação do caráter infantil e juvenil, com uma seleção adequada de conteúdos, com práticas de raciocínio, com o corpo e o espírito dos alunos. Na educação humanista não deveria haver compromissos com formações profissionais, e sobretudo privilegiar a cultura geral, a formação do caráter nobre de futuros homens livres, com o apoio dos clássicos da Antiguidade.
Os humanistas eram a expressão letrada da Renascença, opostos a Escolástica dos tempos medievais. Reclamavam dos maus modos dos escolásticos, mais preocupados com argumentos do que em tratar bem, agradar e atrair os alunos. É aquela conhecida reclamação de que os escolásticos seriam muito autoritários, com gestos muito rudes. Isso levou os humanistas a buscar inspiração, na Antiguidade. O padrão de beleza grega agradava os pintores e escritores renascentistas. Afastam-se de Aristóteles, aproximam-se de Platão, nas ideias de que textos são verdades reveladas, sendo possível ter autonomia para ler e interpretar os clássicos.
O modelo erudito, o gosto pela declamação em público, pela leitura, interesse em ler sobre a Antiguidade clássica, como ferramentas para serem sujeitos afáveis, atingindo assim aqueles que gostariam de atingir e influenciar, com bom gosto, gentileza e graciosidade, os poderosos da corte. Saber conversar, com boas maneiras. Educar, nos padrões esperados pelos renascentistas, era promover, nos aprendizes, o padrão cultural e intelectual clássico ou erudito. Educar para a polidez, ensinando os padrões de comportamento social, bons costumes, elegância, civilidade, gestos civilizatórios essenciais, na vida social, na corte, nos temposda Renascença. O humanismo tem conteúdo aristocrático, mas universalista também. Apresentou uma reflexão sobre a necessidade da educação, no campo intelectual, mas estaria longe do que será visto nos ideários republicanos (Educação para todos). (BOTO, 2017)
Renascentistas criaram maneiras de pensar a educação para crianças e jovens ricos e que necessitavam de formação primorosa, para a vida nas cortes, podendo acontecer nas casas de tais ricos, oferecidas por preceptores. Então, se são autoritários os escolásticos; não é menos verdade, que os renascentistas estavam interessados em educar os bens favorecidos economicamente, não os pobres. O conhecido humanista Erasmo de Rotterdam (1466-1536) não deixou de lançar as ideias sobre as crianças, sobre uma necessária civilidade pueril, ele esclarece, nos seus celebres escritos, na sua obra (1530) denominada De Pueris, os cuidados necessários para domar as crianças, formar e impor hábitos culturais.
A educabilidade infantil evitaria a rudez, se perfeitamente modelados, retirando-lhes qualquer semelhança com os instintos típicos dos animais. Os humanistas não defendiam que os adultos olhassem as crianças como se elas fossem inocentes. Agindo assim evitariam que seus filhos virassem monstros (isso até os reformadores protestantes e os adeptos da contrarreforma católicos concordavam). Na sua famosa obra, Elogio da loucura, julga que os professores da sua época, os conhecidos gramáticos eram pedantes e julgavam que eram eruditos, mas não passavam de ilustres para si próprios, ensinando palavras insignificantes, ameaçando os alunos constantemente e espancando aos grito (tão comum à esta época nas escolas). Erasmo de Rotterdam confere aos filhos dos homens uma fragilidade, diante da forma que já nascem quase prontos muitos filhotes de animais. Mas as crianças humanas nascem com a capacidade de aprender, desde que seja estimulado. A Pedagogia humanista defendia o afeto como fonte para favorecer o aprendizado. Isso em um tempo em que os severos castigos e o gosto de tratar os alunos com gestos humilhantes eram práticas comuns, trazidas da Idade Medieval. Ainda, com este quadro terrível de desrespeito aos alunos, o humanista Erasmo de Rotterdam vai defender a ida dos meninos da elite à escola pública, não com o intuito de tratá-los como gado a ser domado, mas para educá-los para serem livres! (BOTO, 2017)
Os humanistas ensinavam com a imitação de bons exemplos, com modelos, que deviam ser recitados aos filhos da elite. Estes jovens ricos deveriam ser preparados a raciocinar, ter argumentos, saber convencer e ter a cultura geral para vida ser mais adornada. Quanto mais enfeite, mas fácil perceber a diferença entre o que recebeu a educação, nos moldes humanistas. Assim as metodologias de ensino humanista previam a aprendizagem, a recitação, a revisão e a recapitulação das lições dadas pelo preceptor. Erasmo de Rotterdam, na obra De Pueris, recomenda que os pais (ricos da sua época) procurem homens de bons costumes, com caráter afetuoso, cultos para educar os filhos, comparando ao que é feito com os cavalinhos, adestrados, enquanto são flexíveis ao adestramento. (BOTO, 2017)
Ainda que os filhotes dos cavalos tinham suas destinações naturais e as crianças não tenham nascido prontas. Daí a necessidade de modelar as crianças, já que os humanos possuem a razão. Modelar era uma tarefa importante aos professores. Repetindo que se manuseia a cera enquanto está mole e modela a argila enquanto não secar, dizia Erasmo. Deveria se encher o vaso de excelentes licores enquanto novo. A educação deveria agir de forma intencional em prol desta modelagem. Humanistas julgavam que os adultos eram rudes para receber conhecimentos, nada comparáveis a capacidade de aprendizagem das crianças.
Caberia aos ricos falar o latim elegante e ser educado, ter boas maneiras, adornando a mente, enfeitando os modos de agir, pensar e sentir. Estes modos humanitas de pensar a educação influenciaram as universidades e escolas. E estavam, na sua nascença, vinculados aos chamados reitores medievais, vinculados a retórica medieval, muito menos do que queriam os humanistas modernos. O que lembra um poeta brasileiro contemporâneo e que dizia “ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”.
O professor medieval seria aquele que vive cercado de alunos, diante dos bancos onde estão seus alunos, onde profere suas aulas, diante de tantos olhares, na agitação das escolas, das salas empoeiradas e simples. Já o professor humanista é um erudito solitário, sozinho no seu gabinete, na sua casa rica, pensando livremente, cercado de riqueza, beleza e tranquilidade. (LE GOLF, 1973).
Uma contribuição significativa do humanismo foi tornar insignificante a influência da escolástica e a importância das universidades. Assim, os colégios prosperaram, os métodos de pesquisa mudaram, livros traziam textos antigos, não mais os recitados textos, não mais a grande importância dos mestres recitadores de textos antigos, já que era possível ler sozinho, ter métodos suficientes para estudar e para observar a realidade, podendo ser um pesquisador. Ainda que interessasse aos humanistas as obras do passado, da Antiguidade. Desde a infância era necessário apresentar o estudo das humanidades para as crianças, tarefa que deveria ser feita por um bom preceptor, da cabeça bem-feita, e não cheia (como defendia Montaigne. Ele defendia que era melhor do que martelar nos ouvidos dos aprendizes, como quem despeja em um funil, fazendo-os de repetidores do que ouviam, ao invés de favorecer a experimentação, a capacidade de discernir sozinho, sem nem mesmo ouvir as crianças. Será que já superamos nas escolas, pelo vasto território brasileiro, esta mania medieval, criticada por Montaigne? Evidente que interessava na crítica de Montaigne a educação das elites. Mas já conseguimos, nos tempos republicanos, universalizar tais direitos para uma aprendizagem significativa? Tal preceptor, na Idade Moderna, deveria primar pelos costumes (BOTO, 2017).
Definindo a reforma protestante e contrarreforma educacional
Boto (2017) comenta que a Reforma protestante iria modificar a consciência do imaginário cristão, os protestantes costumavam ler a bíblia, sem mediadores, dialogando com os textos sagrados, sem intermediários, com liberdade e individualidade. Isso vai influenciar a educação na Era Moderna. O Século XVI propagou as escolas urbanas, conduzidas por mestres livres, para ler, escrever e contar, necessárias à vida, no seio de uma cultura mercantil.
A Reforma Protestante trouxe um elemento novo: a catequese. Livros existiam, graças ao desenvolvimento tipográfico, para instruir as pessoas, por mais diferentes que fossem as classes sociais, eram necessários os tratados das boas maneiras, um mínimo de etiqueta social. Incluindo as crianças, que precisavam ter civilidade e agir com comportamentos aceitáveis socialmente. Os livros tratavam de catecismos e outros eram manuais de civilidade. Assim, na escola era possível aprender como agir corretamente, na vida social. Já a Reforma, o que trouxe este importante movimento de contestação a mais, ao campo da educação?
Reforma Protestante trouxe novas ideias e valores, que orientaram a organização de alguns sistemas de ensino, como o dos estados alemães. Com isso, a escola, de modo geral, institucionalizou-se de forma mais elaborada, visto que, nessa época, surgiram os currículos, as graduações e séries e a separação por idade. A superação da escola medieval também pode ser observada quando o ensino deixa de ser ligado a temáticas contemplativas e passa a ter um teor mais realista, vinculado à sociedade moderna em desenvolvimento. (Jélvez, 2012, p.44).
O foco trazido pela Reforma protestante era aprender a ler para conseguir ler a bíblia, sem nenhum mediador, espalhando bíblias nas mãos da população, graças a “santa” invenção da imprensa. Mas os reformadores foram além disso! Começaram a pensar na vida civil, defendendo que a educação poderia colaborar na prosperidade das pessoas, na Idade Moderna. Escolaspara as instâncias foram pensadas.
“Os alunos foram divididos em classes estabelecidas conforme o nível de seu saber. Um pedagogo luterano da época, Philipp Melanchthon (1497 -1560), propôs a divisão em três classes: uma para os alunos que estavam aprendendo a ler e a escrever, outra para os que estudavam gramática latina e uma terceira para os que e dedicavam a estudar retórica e lógica” (Veiga, 2007, p. 31)
Lutero (viveu entre 1483 e 1546) falava que o “coração do homem é como um moinho que trabalha sem parar. Se não há nada para moer, corre o risco de triturar a si mesmo” (Piletti, p. 65). Lutero entendia que o “cristão é um livre senhor de todas as coisas e não está submetido a ninguém. O cristão é em todas as coisas um servidor e está submetido a todo mundo. ” (Piletti, 2012, p. 65).
Lutero defendia que era preciso indagar às mães, às crianças e ao homem do povo,, no mercado como traduz um texto em latim para a língua materna, nacional, como o alemão falado nas ruas, nos Séculos XV e XVI. “Por discordar dos costumes da Igreja de seu tempo, o monge alemão Marino Lutero liderou a Reforma Protestante, responsável pela divisão do cristianismo e o surgimento de novas igrejas” (Piletti, 2012, p. 62). A Reforma protestante vai trazer consequências políticas, sociais, econômicas e educacionais.
O grande Lutero lança, em 1524, um conhecido manifesto intitulado Aos conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas. A ordem e a disciplina, de inspiração de colégios calvinistas, só poderiam trazer o preparo dos jovens para as suas profissões futuras, era assim que se pensava. Então era necessário ensinar de forma racional. O que a Reforma traz é uma necessária, à época, de mudança na reflexão pedagógica e o desejo de promover uma escola secularizada, civilizadora, institucionalizada e racionalizada, ou seja, bem diferente da escola medieval, gerida pela Igreja católica.
Somente ler e escrever não bastava, como era ensinado na Idade Medieval e suas escolas católicas, precisava ser inovado com saberes necessários ao mundo mercantil, urbano e comercial, dos burgos, com suas práticas materiais de troca, o modo de agir ético do burguês, do protestante, do capitalismo e a civilização social dos costumes, saber se comportar bem socialmente deveria ser buscado incessantemente. Isso levou a criação de códigos de conduta moral aceitável, capaz de fazer o aprendiz saber se autocontrolar, autoconter e autodominar, ter pudores e vergonhas, saber lidar bem com paixões e afetos, além, de saber ser cortês e civilizado. Então, este lugar da escola, como espaço de aprender civilidade e para alguns, civilização, muda o cenário dos estabelecimentos de ensino, na Idade Moderna.
Lutero foi um dos responsáveis pela reformulação do sistema de ensino público que serviu de modelo para a nossa escola atual. É dele a ideia da escola pública para todos organizada em três ciclos: fundamental, médio e superior. E, coerente com esta ideia, condenou a educação dada pelas escolas monásticas e eclesiásticas de sua época. Para ele, a educação, não devia ser dominada pela Igreja. (Piletti, 2012, p. 62)
A Reforma Protestante prestou seus serviços à escolarização, na Idade Moderna. Na Renascença, os textos eram resumidos, copiados, com as suas anotações nos cadernos, e até nos cantinhos os livros. A Reforma protestante vai favorecer a pedagogia, refletindo sobre a própria história da educação. Com a possibilidade de ter uma bíblia e lê-la, ampliados foram os números de leitores, bem como a valorização social da leitura. É interessante lembrar que a Reforma Protestante existiu motivada pela aversão à venda de indulgências, para trazer dinheiro à Igreja, com os pecados perdoados e assim sustentar a riqueza dos dirigentes da Igreja, pagar as cruzadas e construir novas igrejas.
As indulgências católicas oferecidas, no tempo de Lutero, eram absurdamente oferecidas para redimir pecados que poderiam ser impostos por Deus, no mundo espiritual, sem nem passar pelo purgatório. Lutero vai sugerir, em 1524, que as autoridades municipais criem e mantenham escolas e procurem promover uma consistente política escolar para que as crianças consigam ler a bíblia, ainda caberia oferecer aos meninos, a possibilidade de aprender a ser capaz de administrar o funcionamento dos ofícios e das cidades, e às meninas saber cuidar bem do lar. Educação era ferramenta importante enquanto estratégia para firmar a nova concepção nascente religiosa. A escolarização, para Lutero, é fato político também, não apenas algo relativo à educação. Era necessário aumentar o número de escolas, formar os jovens para cuidar das cidades, assim pensava Lutero. E, ainda, “a educação não podia ser responsabilidade só da escola. A família também devia participar nessa tarefa. Por isso, ele defendia que as escolas fossem mais amplas e abertas do que eram em sua época”. (Piletti, 2012, p. 62)
Criticando, além do pagamento que faziam os fiéis para ter seus pecados perdoados, a suprema arrogância do clero católico, que estariam inconvenientemente colocados como intermediários entre Deus e os fiéis católicos. Lutero condena a confissão auricular a um sacerdote, não admite que somente o sacerdote leia as palavras contidas na bíblia, faça seu sermão, sem que os fiéis possam ler as escrituras, continuando a fazer suas obras boas e justas. Lutero entendia que a fé é confiança em Deus, com alegria, e não com coação, fazendo o bem voluntariamente e ajudando uns aos outros, obra e fé não podem ser separados. Os clamados de Deus seriam feitos a cada um dos viventes.
Mas nem todos serão chamados ao sacerdócio, alguns trabalharam ativamente na sociedade (chamado trabalho secular), aproximando muito os postulados da Reforma Protestante com os do capitalismo. O trabalho secular dignifica o homem. Os Reformistas defendiam que a profissionalização, perseverança e êxito nas tarefas trarão prosperidade para todos. Os chamados de Deus devem ser seguidos, não recusados. Os calvinistas defendiam que ao aceitar este chamado de Deus, este trabalho vai favorecer o sujeito, pois enseja o atendimento do que pediu Deus, o homem é dignificado no trabalho, afastado dos vícios.
Calvino compreendia que nem s obras e nem a fé eram alicerces da salvação. Não é possível aos homens conhecerem a graça divina. É somente Deus quem faz suas escolhas. Os seres humanos são predestinados, unicamente por Deus. Entre os reformadores cristãos o francês João Calvino (Viveu entre 1509 a1564), “que se deu ao protestantismo suíço e ao francês sua doutrina de organização. Suas ideias se espalharam pela Holanda, Bélgica, Inglaterra, Escócia e atingiram as colônias inglesas da América do Norte”. (Gadotti, 2003, p. 68)
O que cabia aos humanos, segundo Calvino, era considerarse eleito por Deus, repudiar as forças malignas, seguir convicto, com fé e agir firmemente para conseguir a graça divina, cuidando de sua família, tratando bem sua comunidade, trabalhando com afinco, zelando por suas mulheres e filhas, os filhos precisariam respeitar os Pais, mesmos aqueles maus pais, respeitar os superiores, não permanecendo preocupados com o cumprimento dos deveres dos outros, mas apenas dos seus próprios deveres.
A doutrina de Calvino declara que é preciso aceitar as predestinações, que devem ser vividas com racionalidade, e futuros lucros serão benvindos, que não são reprováveis moralmente. Acumular capital seria legítimo, enquanto lógica subjetivamente reguladora da organização capitalista, que se sustenta com a produção e venda de matérias, e alguns lucram disto, enquanto outros trabalham, sem cessar, cumprem seus chamados divinos, e recebem seus predestinados salários, e devem dizer Glória a Deus! Calvino entendia que a vocação era uma lei da natureza.
A proposta dos Reformadores Protestantes para a educação seria renovar padrões ultrapassados, escolásticos (Idade Medieval) e dos mestres livres (que educavam em suas casas). Isso exigira um cuidado para selecionar livros. Lutero declarou que haviam muitas publicaçõesduvidosas. Outros saberes além de gramática, grego e latim (relacionados ao trivium), era necessário aprender a língua nacional e valorizá-la.
Quando ao currículo, o Latim e o Grego deveriam constituir a parte mais importante. E o Hebraico também precisaria estar ao alcance de todos. Para além do aspecto linguístico, ele incluía a Lógica, as Matemáticas, a Ciência, a Gramática e a música. Aliás, a música, por influência de Lutero, tornouse obrigatória na educação e todos. (Piletti,2012, p. 62)
Aprender história ajudaria a entender melhor o curso do mundo, segundo Lutero. Ele defendia que a educação universal era importante para a própria Reforma Protestante. E deveria ser oferecida educação para todos, ricos e pobres, plebeus ou nobres. “E contrariando o que se pensava e fazia na época, ele deveria beneficiar tanto os meninos quanto as meninas. Caberia ao Estado, finalmente, decretar a frequência obrigatória à escola”. (Piletti, 2012, p. 62)
Lutero, posteriormente, passou a defender a alfabetização para aproximar o leitor do texto bíblico, mas repensou algumas de suas metas, motivado pela irrupção de Guerra dos Camponeses (que haviam lido a Bíblia e resolveram invadir terras, já que tinham direito à terra e pela proliferação do movimento anabatista, reunidos crenças, inspiradas em Lutero e no Livro do Apocalipse, criando indisposições com os poderes civis, apelando para a possibilidade de retorno de Cristo até a defesa de partilha de bens).
Lutero criou um catecismo para as escolas, com roteiro de uma interpretação da Bíblia, organizado com perguntas e respostas, para ensinar preceito por preceito. Linha por linha, sem liberdade de interpretação. E deixou de defender a entrega de Bíblias nas mãos de pessoas comuns, por ser perigoso, já que acabou por concluir que as massas populares não conseguiam atingir a verdade pela luz das escrituras. Traduziu as Fábulas de Esopo, escreveu uma obra chamada Pequeno catecismo e o Catecismo maior. Trazendo as escolas uma possibilidade de interpretação certa do texto bíblico. Popularizou o formato de que para cada questão há somente uma resposta correta, todas as demais serão erradas, decididas pelo professor. Lutero foi um pioneiro na defesa da necessidade de promover o caráter das crianças, já nas escolas de primeiras letras. Seus Cânticos foram usados na Reforma da escola. Manteve o latim como base de seus estudos. Batalhando muito pelas línguas maternas, e por catecismos e cânticos escritos nas línguas maternas. Teria feito um silabário (cartilha) em 1525, com alfabeto, os dez mandamentos, o credo, a oração dominical, preces e passagens bíblicas e numeração e 1 a 100. (BOTO,2017).
O resultado da Reforma protestante foi uma interiorização da religiosidade cristã, que ficou mais íntima e de responsabilidade pessoal maior. E com relação as escolas, um “resultado prático foi o surgimento de sistemas de escolas controladas e parcialmente mantidas pelo Estado. Tais sistemas são considerados os primeiros de tipo moderno” (Piletti, 2012, p. 62). Cidades e vilas passaram a ter escolas elementares de latim. E também as escolas superiores de Latim, posteriormente incorporadas ao ginásio, com as escolas elementares. “E, acima de tudo, estava a universidade, cuja história foi determinada pelo progresso da religião protestante e pelo desenvolvimento da teologia protestante”. (Piletti, 2012, p. 64)
A Contrarreforma foi a reação pensada pela Igreja Católica à Reforma Protestante. Isso foi configurado, em 1534, com o surgimento da Companhia de Jesus, até no Brasil Colonial os jesuítas deixaram suas marcas. Seu fundador foi Inácio de Loyola (1491-1556), “um militar espanhol ferido em batalha e que, não podendo retornar à carreira, colocou-se a serviço da Igreja. Ele organizou a Companhia de Jesus em moldes militares, obrigando seus membros a uma rigorosa disciplina e a uma total obediência ao papa.” (Piletti, 2012, p. 65)
Estes jesuítas “graças ao seu rigoroso preparo intelectual, alcançaram grande êxito educativo. Entre eles, os que se destacavam intelectualmente eram escolhidos para exercer permanentemente a função”. (Piletti, 2012, p. 65). Vão ter grande destaque na educação católica, na Idade Moderna.
O conteúdo de ensino das escolas jesuítas tinha um caráter essencialmente humanista. As matérias eram as mesmas das outras escolas. O que diferenciava as diferenciava era o rigor do método de ensino, que e caracterizava por revisões frequentes da matéria. Cada dia, cada semana, cada mês e ano, terminavam com uma revisão”. (Piletti, p. 65)
A Contrarreforma revelou um desejo maior de ler os salmos, por parte dos católicos. Parecia que ninguém queria ficar fora destes tempos repletos de leitores, era necessário ensinar a ler, ao mesmo tempo que as autoridades eclesiásticas entendiam que também nem tudo deveria ser lido. O Concílio de Trento não mudou este temor, na religião católica, pelo potencial da leitura. A pregação era valorizada, como a confissão foi mantida para que o clero exercesse o poder. Era necessário permanecer fortalecendo o poder do papa. (BOTO, 2017).
Definindo a Companhia de Jesus e o “ratio Studiorum”; A Pedagogia Jesuítica
A Companhia de Jesus ou Sociedade de Jesus foi criada por Inácio de Loyola, em 1534, oficializada em 1540, pelo papa Paulo II, como uma resposta católica contra a Reforma Protestante. Pretendia combater as heresias e o protestantismo. Um importante fato da Idade Moderna e grande marco nas sociedades católicas na Europa e América Latina foram os colégios jesuítas (Veiga, 2007). Os colégios estiveram no centro da Igreja Contrarreformada e estimularam a cultura geral erudita, integrando a pedagogia humanista ao espírito da cristandade, enquanto favoreciam distinções sócias e formavam na moral cristã. Esses colégios se afirmaram como propedêuticos aos estudos superiores de teologia, medicina e direito. (Veiga, 2007, p. 41).
Os dirigentes católicos julgavam que era necessário ater o grande avanço protestante. E a meta era atingir tal objetivo através da educação de novas gerações, e, ao mesmo tempo, com as missões, “por meio da ação missionária, procurando converter à fé católica os povos das regiões que estavam sendo colonizadas”. (Piletti, 2012, p. 69). Com atividades múltiplas, “destacando-se as ações missionárias desenvolvidas nas colônias em favor da conversão do gentio à fé cristã por meio da pregação do evangelho”. (Veiga, 2007, p. 41). Foram fundando colégios, a depender da condição social dos estudantes. Assim, “havia tanto escolas para burgueses e nobres quanto escolas exclusivas para filhos dos pobres. Todas elas, porém, eram regidas por um mesmo regulamento: Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Jesus, de 1599, mais conhecido como Ratio Studiorum”. (Veiga, 2007, p. 41)
O Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu, foi um Plano e uma Organização de Estudos, estabelecidos pela Companhia de Jesus. Abreviada como Ratio Studiorum, tal coletânea, abalizada em experiências ocorridas no Colégio Romano, e também em observações pedagógicas de distintos colégios, desejava instruir velozmente os jesuítas docentes sobre a real natureza, a verdadeira extensão e as esperadas obrigações do seu cargo. O Ratio Studiorum aparece como resposta a precisão de unificação de procedimentos pedagógicos dos jesuítas, já que muito colégios surgiram para serem administrados pelos jesuítas, no exato momento histórico em que resolvem oferecer as suas ações missionárias, na Europa e nos países colonizados. “Desse plano de estudos constavam desde a regulamentação dos estudos e da vida no colégio até a disciplina, mas a ênfase estava no método de ensino. A emulação e a entrega de prêmios eram incentivadas, evitando-se castigos físicos.” (Veiga, 2007, p. 41).
Ratio Studiorum é a sistematização da pedagogia jesuítica, composta de 467 regras capazes de abranger a totalidade das atividades dos agentes relacionados diretamente ao ensino. Era sugerido que o professor jamais se afastasse do estilo filosófico de Aristóteles, e da teologia de SantoTomás de Aquino, que na Idade Medieval tinha instituído a escolástica. Estas observações feitas em Roma e outros colégios, em 1584, são codificadas por uma comissão, que foi encarregada de produzir a escrita do documento apresentado no fim do século XVI (1591), assim o Ratio Studiorum foi promulgado em 1599. Pretendiam instruir (civilizar) os povos originários das colônias e a elite colonial, tendo como modelo o estudante europeu. Respaldando a instrução moral para aa elite das colônias e a catequese aos indígenas. Eram previstas provas orais.
As escolas jesuítas permitiram uma certa homogeneização cultural das elites por meio da unidade entre a gramática latina, as belas-letras (humanidades) e a retórica, base fundamental da educação dos jovens. Além da formação de turmas com média etária aproximada e da designação de um professor específico para cada turma, outras materialidades ajudaram a unificar os processos de formação, o uso recorrente da escrita, a composição de textos, o uso de livros impressos e a promoção anual dos alunos, com a distribuição de prêmios. (Veiga, 2007, p. 42)
O método Pedagógico Jesuítico, previsto na Ratio Studiorum, apresentavam as 467 regras apropriadas, que deveriam ser respeitadas pelos professores, pelo bem da suas funções pedagógicas:
Que o professor ensine os jovens confiados à educação da Companhia de modo que aprendam coma s letras, também os costumes dignos de um cristão. Antes do começo da aula recite apara alguém uma oração breve e apropriada, que o professor e todos os alunos ouvirão atentamente de cabeça descoberta e de joelhos. Assistam todos à missa e à pregação; à missa diariamente, à pregação nos dias de festa. Nas classes de Gramática principalmente e, se for mister, também nas outras, aprenda-se e recitese de cor a doutrina cristã, as sextas-feiras e aos sábados. (Piletti, 2012, p. 72 e p. 73)
E, ainda, determinam que sejam conservadas as aulas no seu nível, que os alunos recitem as lições decoradas, memorizadas. Bem como, nas classes de gramática deveriam todos os dias, menos no sábado, apresentar trabalhos escritos. As correções de trabalhos deveriam ser feitas com voz baixa, diante de cada aluno, enquanto os outros alunos exercitam a escrita. Levando em conta de que ao início e fim das aulas, ler e comentar algumas escolhidas tarefas, tendo como critério de escolha as melhores ou as piores, decisão a ser feita pelo professor a cada dia.
Diferentemente do que ocorria antes, o novo método fazia largo uso da escrita. A lectio incluía leitura e comentário do texto e também aconteciam debates (sabbatinae disputattiones), mas toda aula tinha uma parte destinada aos exercícios escritos e à redação. Outra ênfase era a retórica, o desenvolvimento de uma expressão oral que produzisse no ‘como falar’ efeito de verdade para os ouvintes. (Veiga, 2007, p. 41)
O professor deveria tomar os pontos estudados pelos alunos para verificar se tinham fixado muito bem as lições, memorizado bem o que deveriam estudar, seguindo a seguinte escolha, primeiro os mais adiantados, depois os demais alunos. Era essencial fazer uma sabatina, todos os sábados, para verificar se os alunos aprenderam as lições da semana.
A gramática latina continuou sendo a base fundamental dos estudos, que eram divididos em dois conjuntos de disciplinas: o studia inferiora e o studia superiora. O primeiro compreendia seis anos de estudos linguísticos e literários - três anos de gramática latina, dois anos de humanidades ou belas-artes e um ano de retórica - e destinava-se à maioria dos alunos. Os estudos superiores visavam preparar os estudantes para as carreiras liberais (com estudos de filosofia e matemática) e para o curso de teologia, que incluía teologia moral (casos de consciência, vícios e virtudes) e teologia dogmática. (Veiga, 2007, p. 40).
Vieira afirma que inicialmente não existiam internatos para os que não fossem entrar para o sacerdócio, na Companhia de Jesus. Os demais alunos ficavam em pensionatos, anexos aos colégios, com as mesmas rígidas determinações disciplinares dos colégios.
As preleções (discursos) feitas para os alunos não podiam ser feitas baseadas em autores modernos, somente baseados nos clássicos, como Aristóteles e São Tomás de Aquino.
As preleções precisariam seguir a seguinte ordem:
	Ler, sem parar, todo o trecho.
	Argumentar com poucas palavras o texto lido.
	Ler cada pequeno trecho, explicar em Latim, clarificando as ideias mais obscuras, ligando as ideias, explanando pensamentos.
	Retome o texto inicialmente lido e faça as observações cabíveis, aquela classe, onde está lecionando.
	Com um mês completo de estudos, dias antes dos exames (excetuando os estudos de Retórica), seria necessário fazer uma boa quantidade de exercícios. E ficar atento aos alunos que alcançaram bons resultados, devendo ser comunicados tais fatos aos superiores para ocorrer exames privados, para a posterior mudança de classe. A disciplina de cada aluno será alcançada, se as 467 regras forem observadas. E quanto aos castigos, seria necessário ter cautela, e evitar ser exagerado ao investigar. No lugar de castigar, seria interessante acrescentar um trabalho literário, além das tarefas que todos deveriam fazer naquele dia. Não deveriam castigar fisicamente (só o corretor poderia fazer isso). Não cometer injúrias (ofensas) com palavras e atos. Sempre chamar os alunos pelos seus nomes. (Piletti, 2012).
Definindo o papel dos Colégios Modernos
A Idade Moderna é marcada pela ritualização da pedagogia para fins civilizatórios. Era necessário educar as elites, dar-lhes boas maneiras. “Criado no final da Idade Média, uma instituição de muita relevância foi o colégio, que aos poucos substituiu os estudos dispersos dos mestres das faculdades de artes”. (Veiga, 2007, p. 29).
Espalhar pelas cidades os hábitos de cortesia, forçar uma sociabilidade urbana, as pessoas precisavam ter bons modos, na vida social, aprender os adequados códigos de comportamento social, contendo os impulsos, as paixões, tornando-se cortesãos, urbanizados, palacianos e civilizados. Com este objetivo para realizar forma sendo criados rituais de como proceder, quais práticas buscar, quais os gestos aceitos e como torna-se pessoa letrada. Uma pessoa com cultura era alguém que tinha recebido lições de linguagem erudita, cristã, lia bastante, aprendeu a conversar, sabia conter seus comportamentos e se expressava bem. (BOTO, 2017).
Este conjunto de saberes usados para viver socialmente, de modo adequado, com comportamentos codificados e normalizados seriam fortemente buscados na educação, tanto na doméstica quanto na instrução oferecida nos colégios. Os colégios agiam com a dupla meta de racionalizar e civilizar os povos, na idade moderna. Entre os séculos XVI a XVII surgiram muitos colégios, na Europa e até nas colônias graças as ações jesuíticas. As famílias pareciam entender que era necessário qualificar à educação de seus filhos e enviá-los aos colégios
Os colégios religiosos cumpriam suas funções, já desde o século XVI. Entre os séculos XIII e XIV, da Idade Medieval, os colégios atendiam aos estudantes pobres, agindo como asilos ou alojamentos dos que vinham às universidades, sob a direção de ordens religiosas e das paróquias, ainda não sendo instituições de ensino, mas comunidades organizadas. Foi no começo do século XV, na Idade Moderna, que viraram instituições formativas, com rígidos sistemas disciplinares, com um duplo foco, instruir e moralizar.
É importante levar em conta que
quando os estudos das universitas tiveram início, jovens oriundos das mais diversas localidades procuraram a orientação de um mestre, o que exigia que buscassem um alojamento (hospitia).
Os de melhor condição financeira moravam em casas particulares ou em estalagens, enquanto os mais pobres residiam em instalações criadas para acolhê-los, as hospitias de caridade (collegiuns), anexas às casas religiosas. Esses alunos realizavam serviços domésticos, pediam esmolas ou recebiam ajuda da igreja, na forma de bolsas, para se manter. (Veiga,2007, p.30).
Já estava provado que as escolas medievais, nas casas dos mestres, reunindo diversas faixas etárias e para distintos níveis de aprendizagem, indiferentes as diferentes etapas da vida, com currículos sem graduações, com um só professor para todos e indiferente a ideia de idades deixavam muito a desejar. A Idade Moderna oferece um modo menos comunitário de viver e mais próxima da ideia de família nuclear (pai, mãe e filhos já bastam). Então esta escola com todo mundo junto e misturado já deixaram de interessar estas famílias que liam livros sobre a educação humanista. “A partir do século XVI, devido ao prestígio acumulado, os colégios deixam de servir de abrigo para estudantes pobres, e as funções se invertem: eles se especializam como locais de ensino e em suas proximidades surgem pensões especializadas para moradia dos estudantes”. (Veiga, 2007, p.30).
O programa escolar moderno passava pela valorização os bons costumes, apropriados hábitos de conduta, higiene e civilidade no trato com os outros. Foi com este objetivo que os ricos modernos começaram a enviar seus filhos aos colégios. A mudança de mentalidade à época foi que “os colégios também se fixam como estágio para ingresso nos estudos superiores da maioria das universidades, além de contar com alunos procedentes das classes abastardas – a pequena nobreza e a burguesia”. (Veiga, 2007, p.30).
Os filhinhos dos ricos eram frágeis e era necessário que o mestre, no colégio, tivesse responsabilidade moral com seus alunos, dentro e fora do colégio. Ocorreu que “os colégios rompem com o modelo corporativo presente na Idade Média, seja da corporação de mestres, seja de alunos (‘nações’), e se apresentam como instituições burocráticas que ordenam a vida de ambas as categorias”. (Veiga, 2007, p.30).
Assim, ia mudando o sentimento de infância, nos lares, nas instituições escolares e nas ruas. Começou uma investida para qualificar a profissão docente, separando-a da vida privadas dos professores. Já não era certo enviar crianças para estudar nas casas dos professores. Assim, a meta era construir uma sociedade letrada. Já o acesso de compêndios sobre a infância, que os pensadores escreviam e os pais liam, já faziam considerável papel civilizatório, difundindo as certezas dos ideólogos modernos. (BOTO, 2017)
Os colégios, na Idade Moderna, foram potencializados como espaços para obter informações novas, adquirir atitudes e habilidades socialmente esperadas, ser um ser com a consciência de sua própria individualidade, capaz de pensar, um sujeito intelectualizado, que acreditava nos princípios modernos contidos nos livros, afinal aprender a ler para ter acesso aos mais novos conhecimentos, e aprimorar sua capacidade de ver o mundo com clareza, racionalidade e ficaram para trás os aprendizados orais medievais.
Torna-se evidente a preocupação com o controle da aquisição dos conhecimentos, mas também com o trabalho do professor. Em outras palavras, novas estruturas e relações de poder se delinearam, expressas na concentração dos estudos num só local, na instituição educacional, na centralização do controle dos estudos, na reordenação do uso de tempo e espaço e no estabelecimento do ensino compulsório, seriado e de conteúdo hierarquizado. (Veiga, 2007, p. 31)
Não era possível deixar as crianças fora dos aprendizados modernos, novos leitores precisariam ser formados e a escola, na Idade Moderna, vai produzir tais futuros leitores. Estudar em um colégio é ir a uma instância intermediária entre a sua família e a sociabilidade esperada, para viver em sociedade. Nos modernos colégios, introduzindo nova forma escolar, relacionada aos processos de racionalização da Idade Moderna, surgiram quatro inovações básicas: “espaço, tempo, novas estruturas de poder e seleção de elementos socioculturais. Esse novo modelo supunha a existência de uma nova organização espacial, traduzida em prédios próprios com dependências especializadas de acordo com as funções” (Veiga, 2007, p.31).
O Extenso processo de civilização ocidental (do começo da Idade Média ao fim do século XIX) reformulou os códigos de comportamento, era necessário saber se vestir, ter bons modos, boas maneiras, cabendo aos professores serem os promotores do que a literatura moderna chamava de saber viver (savoir-vivre) e saber fazer (savoir-faire), destinado às elites, além do aprender a ler para continuar sendo um leitor e escritor, pelo resto da existência. Assim, foi possível dar conta das existências dos ricos, na Idade Moderna, lendo os seus diários, suas autobiografias, com exaustivos relatos da vida cotidiana. (BOTO, 2017)
Eram muitos os colégios, alguns católicos (jesuítas, oratorianos ou jansenistas) e outros protestantes (luteranos, anglicanos e calvinistas).
O ajustamento de um conjunto de procedimentos e de técnicas para esquadrilhar, controlar, medir, corrigir os indivíduos, para os tornar ao mesmo tempo “dóceis e úteis”. É a inauguração da “sociedade disciplinar”, onde a criança é mais individualizada que ao adulto, o doente é antes do homem são, e o louco e o delinquente antes que o normal e o não delinquente. O momento histórico das disciplinas é o tempo do corpo que se manipula, que se corrige; é também o tempo de encerramento da infância nos lugares que lhe são destinados. (Nóvoa, 1991, p. 13).
Das escolas dos mestres livres, em suas casas, no século XVII, abertas também aso filhos dos mercadores (querendo aprender a ler, escrever e contar) era necessário avançar para uma escolaridade urbana, dos bons leitores e dos que aprendiam boas maneiras e adequadas forma de civilidade, nada mais apropriado que os colégios.
Explicando a Pedagogia moderna: a trajetória histórica da infância; A nova concepção de infância na modernidade
A Pedagogia Moderna vai ser expressa através de uma mudança gigantesca com que escritores, pais e professores pensaram a infância, de um modo tão distinto, que não poderia ser comparado com outros momentos anteriores, da história humana. Assim, é necessário percorrer a trajetória moderna da infância, para explicar a nova concepção de infância na modernidade. 
Explicando a Pedagogia moderna: a trajetória histórica da infância
Como foi possível estudar os costumes modernos e entender as mudanças no pensar sobre a infância, na Idade Média? É bom lembrar que na Idade Moderna ainda não havia a propulsão das câmeras fotográfica e muito menos os modernos smartphones que possibilitam que os pais façam registros inúmeros de seus filhos. As pessoas ricas, os nobres, as classes mais abastardas contratavam um pintor para registar suas imagens. Assim, se registrou este tempo.
O historiador Ariès (1981) sugere uma possível relação entre a especialização infantil dos brinquedos e a importância sugerida pela iconografia (quadros pintados por famosos pintores renascentistas, por exemplo), à primeira infância, a partir já do fim da Idade Média. Este autor contemporâneo francês aponta que a criança medieval virou o repositório dos costumes abandonados pelos adultos, até bonecas que antes eram usadas para vestir modelos de roupas para as mulheres, abandonadas e já sem função, viravam brinquedos. Em 1600, apenas a primeira infância tinha especialização em suas brincadeiras. E “depois dos três ou quatro anos, ela se atenuava e desaparecia. A partir dessa idade a criança jogava os mesmos jogos e participava das mesmas brincadeiras dos adultos, quer entre crianças, quer misturada aos adultos.” (Ariès, 1981, p. 77). Isso vai mudar, no decorrer da idade Moderna.
Ariès lembra que representação de cenas de jogos é farta na iconografia, da Idade Média até o século XVIII, já durante a idade Moderna. Isso possibilitou que tivéssemos provas de que Luís XIII, um reizinho francês “desde seus primeiros anos, ao mesmo tempo que brincava com bonecas, jogava péla e malha, jogos que hoje nos parecem ser muito mais jogos de adolescentes e de adultos. Numa gravura de Arnoult do século XVII, vemos crianças jogando boliche.” (Ariès, 1981, p.77)
Ariès (1981) comenta não eram somente crianças queusavam bonecas e réplicas de objetos adultos. Sa na Idade Moderna serão as crianças proprietárias deste monopólio, compartilharam na Antiguidade, pelo menos com os mortos. Na Idade Média segue a ambiguidade da boneca e das réplicas. Até por ser também a boneca ameaçador instrumento do bruxo e do feiticeiro. O autor comenta que a vontade “em representar de forma reduzida as coisas e as pessoas da vida quotidiana, hoje reservado às criancinhas, resultou numa arte e num artesanato populares destinados tanto a satisfação dos adultos como à distração das crianças”. (Ariès, 1981, p. 75).
A infância mudará na Idade Moderna. Kishimoto chama o Renascimento de período de compulsão lúdica, o Renascimento viu a brincadeira como uma conduta livre e favorecedora do desenvolvimento da inteligência e aprendizagem escolar. E a autora analisa a obra Gargântua e Pantagruel, revelando que o autor Rabelais critica o jogo como futilidade e inutilidade, apreciando “como instrumento de educação para ensinar conteúdos, gerar conversas, ilustrar valores e práticas do passado ou, até, para recuperar brincadeiras dos tempos passados”. (KISHIMOTO, 1998, p. 29). Isso vai mostrando a mudança na mentalidade pedagógica, dedicada às crianças.
Mikhail Bakhtin, estudou esta obra renascentista e comenta que o expressava o livro de Rabelais fora mal interpretado. Bakhtin faz uma análise da estrutura social da Renascença com o intuito de encontrar um equilíbrio entre a linguagem não permitida e permitida à época moderna. E desvela o carnaval entre pontos muito importantes ao longo do texto. A cultura do carnaval tão associado a coletividade, desafiadora da organização sócio, política e econômica da época e marcada, pela ampla liberdade comunitária.
Rabelais criou uma nomenclatura de 216 jogos aos quais se dedica em Gargântua, correspondente ao volume 2, publicado em 1534. Bakhtin analisando o livro de Rabelais comenta que o “jogo está estreitamente ligado ao tempo e ao futuro. Não é à toa que os instrumentos do jogo, cartas e dados, servem igualmente para predizer a sorte, isto é para conhecer o futuro.” (Bakhtin, 1993, p.204). Era o homem moderno controlando o tempo.
Os contemporâneos de Rabelais eram bem conscientes do universalismo das imagens dos jogos, da sua relação com o “tempo e o futuro, o destino, o poder do Estado, o seu valor de concepção do mundo. Era assim que interpretavam as figuras do jogo de xadrez, as figuras e cores das cartas de baralho e também os dados.” (Bakhtin, 1993, p. 204). O jogo tinha a capacidade de fazer “o homem sair dos trilhos da vida comum, liberava-o das suas leis e regras, substituía às convenções correntes outras convenções mais densas, alegres e ligeiras” (BAKHTIN, 1993, p. 204). Bakhtin lembra que tal estado de liberdade não vale unicamente para as cartas, dados, e xadrez, mas além disso para todos os demais jogos, até mesmo os esportivos (pelota e boliche) e os infantis.
Bakhtin analisa os aparecimentos de jogos no decorrer do livro de Rabelais e recomenda levar em consideração a concepção de jogo que perpassa destas passagens. O jogo “não se tornara um simples fato da vida cotidiana, carregado de um matiz pejorativo. Conservava ainda o seu valor de concepção do mundo” (Bakhtin, 1993, p. 205). Ele sugere que Rabelais conhecia as ideias vinculadas a antiguidade sobre jogo, enquanto algo além de um simples passatempo.
Bakhtin analisa os aparecimentos de jogos no decorrer do livro de Rabelais e recomenda levar em consideração a concepção de jogo que perpassa destas passagens. O jogo “não se tornara um simples fato da vida cotidiana, carregado de um matiz pejorativo. Conservava ainda o seu valor de concepção do mundo” (Bakhtin, 1993, p. 205). Ele sugere que Rabelais conhecia as ideias vinculadas a antiguidade sobre jogo, enquanto algo além de um simples passatempo.
Bakhtin (1993) lembra que as literaturas paródicas medievais são literaturas recreativas, criadas durante os lazeres das festas com uma atmosfera de licença e liberdade. Comenta que as recreações escolares e universitárias foram impulsoras de tais paródias, ocorridas nas festas com ampla liberdade de rir e brincar. Longe dos regulamentos escolares aos quais usavam como inspiração para criar suas brincadeiras jocosas. A paródia medieval converte em jogo alegre e totalmente desregrado tudo o que era considerado como sagrado e importante aos olhos da ideologia oficial. E isso vai mudar drasticamente no decorrer da Idade Moderna.
Tal literatura renascentista aglutina as imagens do jogo, das profecias paródicas, dos enigmas e imagens das festas populares, do carnaval e juntos contribuem para modificar a sombria idade média, em festiva escrita, até que surjam os colégios para colocar regras aos jovens. É a ousadia de humanizar o processo histórico, produzindo um conhecimento lúcido e ousado dele, que vai marca este período. Mas com o avanço da Idade Moderna e tantas influências dos jesuítas ficará menos alegre e carnavalesco ser jovem, nos colégios.
Explicando a nova concepção de infância na modernidade
A palavra Infans significa sem voz. Era necessário ensinála a falar e assim acabava a infância. O que deveria ser concluído até o 7.º ano de vida, a conhecida Idade da Razão, ou ainda a Idade da Puerilidade. A literatura moderna vai trazer novos entendimentos, não bastará aprender a falar, serão necessárias as habilidades da lecto-escrita (ler e escrever). Com a menos idade a ser encerrada até os 18 anos, com a saída da escola. Infantil passa a ser tudo relacionado ao iletrado. Este era o público dos colégios.
Segundo um calendário das idades do século XVI, aos 24 anos é criança forte e virtuosa, assim acontece com as crianças quando elas têm 18 anos. A longa duração da infância tal como aparecia na língua comum, provinha da indiferença que se sentia então pelos fenômenos propriamente biológicos: ninguém teria a ideia de limitar a infância pela puberdade. A ideia de infância estava ligada à ideia de dependência: palavras fils, valets e garçons eram também palavras do vocabulário das relações feudais ou senhoriais de dependência. (Ariès 1981, p35).
A História Moderna confirma que somos historicamente determinados. Uma criança medieval era vista com o sentimento de linhagem, pertencente a um clã e não dissociado dele. O que ela é por si própria, sua singularidade, suas diferenças, peculiares modos de agir e ser não interessavam em nada. Do fim da Idade Média até o século XIX, atravessando a Idade Moderna e indo além dela, surgem novos modos de sentir, perceber e conceituar a infância como uma categoria, os Pais já não aparecem como indiferentes aos filhos. A criança, na Modernidade, será fruto de uma intenção e contenção de maus condutas. O caminho percorrido foi sair dos excessivos castigos e intimidações para uma busca, tão menos invasiva, de controlar internamente às mentes infantis.
A partir do século XVII desenvolve-se uma preocupação com as distinções para a educação das crianças - ou pelo menos dos filhos dos burgueses e Aristocratas. A ótica individualista e a constituição de novas sociabilidades favorecem o afeto e o cuidado com a infância, que se expressa, por exemplo, num maior empenho em planejar o futuro profissional dos filhos seja para assumir cargos administrativos, para seguir uma profissão autônoma ou continuar os negócios da família. (VEIGA, 2007, p. 38)
A escola foi uma instituição relevante na modernidade, com fortes poderes na subjetividade do aluno, moldando mentes e corações, produzindo novas formas de ser infantil. A defesa da escola como um lugar público, distanciado dos modelos familiares, como se falasse com um adulto que a criança ainda não era capaz de ser (adulto em miniatura), levou a infância a um lugar público (longe da vida privada, das mamães e das pajens).
Esta visão moderna de escola e educação vão deixar legados na educação, nos próximos tempos, por tratar tão especificamente da infância, o que ainda não havia precedentes na história da humanidade. Foram tocadas por ideias sobre infâncias,advindas das grandes concepções sobre infância, presentes na Idade Moderna, no Ocidente. Algo vem das concepções de Descartes e algo da contribuição de Rousseau. Estes dois pensadores vão representar as concepções sobre infância, cada um a seu tempo. Neste sentido, “A infância para Santo Agostinho e para Descartes era um momento para ser superado para o bem e para a verdade e, portanto, para o bem da filosofia, que afinal, é a busca da verdade.” (Ghiraldelli Junior, 2000, p. 180).
O pensamento de Descartes, sobre a infância, era que este era um tempo, em que a o entendimento e a vontade racional ficavam em posições de inferioridade, diante das paixões e desejos que reinavam nas mentes infantis e em seus modos de agir. Educar, segundo este pensador, é esquecer a imaginação, o corpo e a memória, em prol da inteligência, preparando futuros homens livres e racionais, conscientes e responsáveis por seus próprios pensamentos, para viver no século XVII. Isso vai mudar com Rousseau, pensador do século XVIII, escritor da conhecida obra Emilio, ou da educação.
Para Rousseau, toda boa educação é negativa, e “deve funcionar para preservar o ‘bom selvagem’ que há na criança, que é metaforicamente posto como o ser de coração sincero e, portanto, o único que ainda pode julgar o certo e o errado, e não só o verdadeiro e o falso, como seria o sujeito cartesiano”.
(Ghiraldelli, 2000, p. 180). Sendo assim, Descartes e Rousseau, junto com todo o pensamento desde a saída da Idade Medieval e seguindo para lá da Idade Moderna, passam a enxergar a criança. Mas não somente isso, segundo Ghiraldelli, este conjunto de ideias e certezas dos que pensaram a infância, em um período tão longo e com situações históricas diversificadas, estariam ainda hoje, na cabeça dos pais e professores, em nossos tempos contemporâneos, a partir desta potente dupla concepção de infância da modernidade, ainda que de modo confuso e cruzado. “Em certos momentos pais e mestres elogiam a inocência de seus filhos e alunos, apontando-os como modelo contra o adulto reificado, em outros momentos eles punem qualquer sinal de infantilidade, em nome do ideal cartesiano de vida adulta. (Ghiraldelli, 2000, p. 181)
Já na Modernidade europeia vivenciou tempos de decrescente mortalidade infantil. Os pais ficaram mais próximos dos filhos, percebendo as suas diferenças. Isso trouxe uma contestação, de lá para cá não superada: as crianças europeias eram diferentes dos adultos. É aqui que o historiador contemporâneo Ariès (1981) vai chamar de sentimento moderno de infância (Entre os séculos XV e XVI). Neste sentido, foram vistas diferentes dos adultos, adultos incompletos, a quem deveriam ser oferecidos mimos ou paparicação. (BOTO, 2017)
Olhando de forma mais cuidadosa, o que os adultos sentiam vontade de fazer era acarinhar seus filhinhos. Isso ainda era conhecer muito pouco as crianças e suas condições humanas infantis com que foram vistos em todo o período medieval, permanecendo a indiferença dos adultos diante das crianças, segundo Àries (1981). Foram submetidos ao discurso pedagógico dos humanistas, e passaram a ser teorizados como seres de pureza original, inocentes, configurando o segundo sentimento moderno sobre as crianças (Do século XVII a XVIII). Foram escritos muitos tratados de civilidade, já que o homem moderno e rico precisava ter boas maneiras, além de muito dinheiro, preparando bem seus filhos.
Surge e se multiplica uma literatura específica para instruir os pais sobre como cuidar dos filhos, evitando ao mesmo tempo práticas violentas e atitudes de excessiva condescendência. A ênfase recai na formação moral, na cultura geral, nas regras de comportamento e nos comedimentos necessários para a vida em sociedade. Entre outras obras podemos. A arte de criar bem os filhos na idade da puerícia (1685), do jesuíta português Alexandre de Gusmão; o Tratado sobre a educação das meninas, de Fénelon (1687); e Alguns pensamentos sobre educação, de John Locke (1708). (Veiga, 2007, p. 38)
Veiga lembra estas publicações possuem em comum um sentimento de que a criança é maleável, com natureza rebelde e precisava ser domada, demandando educação o mais cedo possível (Veiga, 2007).
Esta literatura humanística (no século XVI) será muito lida e está repleta de dicas para diminuir a paparicação com as crianças (vinculado ao 1.º sentimento de infância), surgindo um consistente conjunto de normas e padrões que os adultos deveriam seguir para ter filhos bem-educados. Um caso destas dicas é o livro de Erasmo de Rotterdam, o De Pueris que expressa como os humanistas não poupavam críticas aos excessivos afagos, em detrimento de poucos esforços para educá-los. Este autor tratando de oferecer dicas de como educar os filhos dos nobres, em uma perspectiva de educação aristocrática, os esforços dos humanistas eram dirigidos à elite, refletia sobre tantos mimos maternos, tratando uma criança de sete anos como se fosse uma bonequinha ou um animal de estimação, esclarecendo que os filhos eram crianças, que procurassem se divertir com cadelinhas ou macaquinhos e que parassem de subestimar o momento tão essencial para formar/modelar as mentes das crianças, enquanto estivessem capazes de aprender, com os seus preceptores. (BOTO, 2017)
E, ainda, compara estes atos maternos com maus-tratos. Compreendendo que os que tais mamães fazem é trucidar o espírito dos filhinhos. Os que não aprendiam eram seres inferiores, aqueles desprovidos das culturas letradas teriam dificuldades de desviar de instintos e impulsos, além de representar um distintivo diante dos que não aprenderam. Os que aprendiam eram considerados os verdadeiros homens. Os educadores, baseados nas ideias humanistas, não deviam transformar os alunos em adultos, antes da hora certa, não antecipando a maturidade, nunca deveriam pensar que os alunos eram adultos, e prosseguir nas suas obras de modelagem do futuro adulto, como um hábil escultor, dirigida às crianças, seres capazes de receber as mais diversificadas formas de instrução, já que eram vistos como ágeis mentalmente, com capacidade de captar informações diversas, em detrimento dos adultos que perdiam, com o tempo, tais capacidades. Então, era urgente educá-los!
Surge o novo sentimento de infância, que pularam de dentro dos livros dos pedagogos moralistas e dos humanistas, para tratar bem as inocentes crianças, com preocupação em disciplinar e racionalizar os costumes. Amar os filhos é ter a preocupação psicológica e moral com eles, desprezando as suas brincadeiras, primando pela sua educação, parando com as manias de vê-los como divertidos, mimando-os demasiadamente, salvando-os do desamparo, da fragilidade, orientá-los, não descuidando e fazêlos se tornar adultos racionais e éticos.
Nada seria mais indesejado do que uma criança maleducada, a mercê de seus próprios instintos, voluntariosos. As crianças da Idade Moderna precisavam ser educadas, habilmente. Isso diferenciaria as crianças pobres, os filhos do povo, malcriados e impulsivos, daqueles controlados menininhos ricos e bemeducados, aproveitando a crença humanista de que ninguém nasce homem, já expressa nos compêndios sobre como educar os filhos.
E os filhos precisavam ser modelados, os filhos dos ricos, é bom lembrar! Isso tudo vai afastar as crianças dos jogos coletivos com os adultos, dos jogos de salão, tão comuns à Idade Média. “Por fim o que ocorre é uma distinção entre os jogos dos adultos e dos fidalgos, e os jogos das crianças e dos vilões no século XVII”. (Ariès, 1981, p.116)
E aquelas roupas que os deixavam parecer com adultos em miniatura deveriam ser trocadas por roupas específicas de crianças. E de onde viria a ideia de criança como um adulto em miniatura? É inspirado no evangelho, no momento em que Jesus “pede que se deixe vir a mim as criancinhas, (...) as miniaturas que se agruparam em torno de Jesus oito verdadeiros homens, sem nenhuma das características da infância, foram reproduzidos em uma escala menor. Apenas seu tamanho distingue dos adultos”. (Ariès 1981, p.50). Evoluindo para umanova visão, retratada por Ariès,
No século XVII, entretanto, a criança, ou ao menos a criança de boa família quer fosse nobre ou burguesa, não era mais vertida como os adultos. Ela agora tinha um traje reservado à sua idade que a distinguia dos adultos. Esse fato essencial aparece logo ao primeiro olhar lançado ás numerosas representações de crianças do início do século XVII. (Áries, 1981, p70).
Com tantas mudanças, as crianças não deverão participar de conversas dos adultos referentes a sexo e violência. Assim, os bons para educar eram as instituições educacionais, ampliando as práticas de escolarização, como os modernos colégios. O século XVII será o palco desta nova civilidade escolar.
Como a escola e o colégio que, na idade média, eram reservados a um pequeno número de clérigos e misturavam as diferentes idades dentro de um espírito de liberdade de costumes, se tornaram no início dos tempos modernos um meio de isolar cada vez as crianças durante um período de formação tanto moral como intelectual de adestralas da sociedade dos adultos. (Ariès, 1981 p.165)
As crianças foram os primeiros a tomar um jeito moderno de ser, antes mesmo dos adultos das camadas populares. Quanto mais educado socialmente mais os ricos, na Idade Moderna, iam se diferenciando dos pobres. “A antiga turbulência medieval foi abandonada primeiro pelas crianças, e finalmente pelas classes populares: ela é a marca dos moleques dos desordeiros, últimos herdeiros dos antigos vagabundos” (Ariès, 1981 p.185) E aos poucos, com a ajuda dos manuais escritos pelos humanistas e renascentistas, serão as mães e o resto da família que mudaram. E “a iconografia nos permite acompanhar a ascensão de um sentimento novo: O sentimento da família, (...) o sentimento era novo, mas não a família. (Ariès, 1981, p. 222).
Avaliando a pedagogização dos conhecimentos e o disciplinamento dos sujeitos
Os Colégios jesuítas serão considerados modelos, na Idade Moderna, as famílias ricas estavam convencidas da relevância de colocar seus filhos nos colégios para ter um futuro promissor. Se os tempos medievais eram momentos de suplícios do corpo, para a salvação da alma, so tempos modernos serão ainda mais cruéis, com as mentes, a pedagogização do cotidiano trará uma eterna vigilância sobre os sujeitos e seus consequentes e constantes disciplinamentos. Ninguém escapará do vigiar e punir nos colégios, além das prisões e outros espaços.
Avaliando a pedagogização dos conhecimentos
Para saber sobre o estatuto dos saberes pedagógicos é preciso voltar os olhos para a Idade Moderna. O Renascimento carrega profundas responsabilidades, com as gigantescas mudanças.
Essa mudanças, ainda que se refiram especialmente à reorganização que afetou desde então o campo dos saberes, têm também a ver com as relações que se estabeleceram entre saberes e poderes específicos, assim como entre esses e os modos de subjetivação ou, se se prefere, os diferentes tipos de identidades sociais, que se instituíram. (Varela, 1994, p. 87).
Sendo assim, o exame apurado das instituições escolares, na Idade Média, revela a pedagogização do conhecimento, orquestradas por profissionais da educação moderna, de dentro dos colégios.
A Pedagogização do conhecimento, segundo Júlia Varela (um Estatuto dos Saber Pedagógico da modernidade), está associado as remodelações educacionais pós-renascimentos, que trouxe uma nova visão de infância e a necessidade de procurar oferecer uma educação moderna e adequada aos filhos dos burgueses, no lugar de ficar paparicando em casa.
E a criação das novas instituições educacionais jesuítica, os colégios jesuítas, não só os novos prédios, não unicamente o que os olhos conseguem ver em na arquitetura, das fardas dos estudantes, mas com tamanha relevância nas mentalidades dos agentes que agiam dentro destes colégios, tomando tanta fama que as demais instituições educacionais passaram a mirar nestes modelos para imitando-os, criar suas pedagogias. Então as novas instituições educacionais, como os colégios jesuíticos, inauguram “um processo que com remodelações sucessivas, tem se intensificado até chegar a nossos dias e que denominarei, de forma provisória, de a ‘pedagogização dos conhecimentos’. Que significa tal processo? Em função de uma nova concepção de infância - que então começava a ser aceita especialmente por alguns grupos sociais ligados à camada média - vais e produzir uma separação cada vez mais marcada entre o mundo dos adultos e o das crianças, e vai urgir a necessidade de delinear, de pôr em ação, novas formas específicas de educação. Foi nesse quadro que teve lugar o surgimento de novas instituições educacionais”. (Varela, 1994, p. 87)
Julia Varela comenta que tais instituições são nos países católicos, aqueles colégios das nova ordens, os jesuítas e a Companhia de Jesus são apontados como estabelecimentos educacionais da Idade Moderna e que romperam com os formatos medievais de ensino e “com as formas dominantes de socialização das novas gerações, tanto com as estabelecidas tradicionalmente para a nobreza (aprendizagem e ofício das armas), como as instituídas para as classes populares (aprendizagem de ofícios)” (Varela, 1994, p. 88).
Ninguém escaparia do novo modelo de pedagogização, nem os saberes, nem professores (os agentes de tal projeto que foram bem preparados). Os jesuítas retomaram a definição que moralistas e humanistas fizeram de infância e puseram em ação uma maquinaria escolar que não apenas contribuiu para dotas as crianças de um estatuto especial, mas que também converteu seu sistema de ensino, nos países católicos, num sistema modelo para as demais instituições escolares, incluindo, a pós lutas e sucessivos reajustes as universidades. (Varela, 1994, p. 88).
A ideia que era defendida é que nada mais apropriado para as crianças do que estas instituições fechadas. Foram aliados os saberes e a moral, o cotidiano escolar deveria ser pensado em uma escala de dificuldade crescente, a preocupação com a formação moral e o caráter deveria estar sempre presente, mantendo todos bem vigiados, para que só fizessem boas práticas morais. Tudo o que não poderia ser deixado acontecer era atitudes afrontosas morais entraram pelas mentes das crianças. Se os tempos medievais serviram para controlar os corpos, agora seria a hora de vigiar a mente infantil. Assim a tutela da moral da criança estava sendo entregue aos membros dos colégios e estes não poderiam falhar. Resolveram os jesuítas
controlar os saberes que iam transmitir e de organizar esses saberes que iam transmitir e de organizar esses saberes de tal forma que se adequassem às supostas capacidades infantis. Os saberes, tanto da cultura clássica como da cristã, foram desse modo selecionados e organizados em diferentes níveis e programas de dificuldade crescente, ao mesmo tempo em que se viram submetidos a censuras, em função, portanto, de seu caráter moral. (Varela, 1994, p. 88)
Os grandes mestres jesuítas deveriam ser e agir como autoridades morais ilibadas, o que os diferenciavam dos antigos mestres das universidades medievais. E, neste modelo, não é previsto autonomia aos alunos, que passam a ser sinônimo de escolares, confiados por suas famílias para receber tal educação moral e prepará-los para um futuro exemplar e próspero. Varela afirma que pedagogização dos conhecimentos é perceptível no desdobramento que causa, diferenciando as ações de um mestre jesuítas em comparação aos antigos e medievais mestres universitários. Os mestres jesuítas eram as autoridades morais, capazes de deter poderes dos estudantes, resultando “que os estudantes perderam sua autonomia, suas prerrogativas ou, se quisermos seus ‘privilégios’; transformando-se, assim, em colegiais, em escolares”. (Varela, 1994, p. 88)
A Companhia de Jesus tinha o intuito de reformar a vida, e consequentemente os costumes para batalhar contra os vícios, naquilo que não deveria ser deixado de realizar, a educação dos jovens, que deveriam aprender a serem cristãos, já bem pequenos desde. Santos considera que os conceitos como piedadee virtude estavam presentes no ensino dos Jesuítas. (Santos, 2017).
A ordem de jesuítas foi criada “com o objetivo de consagrarse à educação da juventude católica. Seguia os princípios cristãos e insurgia-se contra a pregação religiosa protestante. O criador da Companhia de Jesus imprimiu rígida disciplina e o culto da obediência a todos os componentes da ordem”. (Gadotti, 2003, p.73). Encarregada da formação dos filhos dos burgueses, seu próprio fundador Inácio de Loyola era da burguesia. Os jesuítas apareceram como uma solução para a formação das futuras gerações, entre os ricos da Europa.
Os jesuítas exerceram grande poder pedagógico e influenciaram a vida social e a política, “contrários ao espírito crítico, eles privilegiaram o dogma, a conservação da tradição, a educação mais científica e moral que humanista. Quando liam os clássicos, procuravam expurga-los previamente das partes nocivas à fé e aos bons costumes”. (Gadotti, 2003, p. 68). Nada era espontâneo, não havia espaço para imprevistos, “incluindo a posição das mãos e o modo de levantar os olhos, para evitar qualquer forma de independência pessoal. Seu lema: “obediência ao papa até a morte”. Para isso, diziam era preciso “enfaixar-se a vontade”, como são enfaixados os membros do bebês. (Gadotti, 2003, p. 68).
Estar em um colégio representava aprender não só receber as “boas-letras e virtudes”, Varela comenta que era estar submetidos a “uma série de procedimentos e técnicas que forma gradualmente aperfeiçoando, com a finalidade de conferir, tanto aso colegiais, como aos saberes, uma natureza moralizada e moralizante” (Varela, 1994, p. 89). O uso de tais técnicas e procedimentos pedagógicos viraram instrumentos hábeis de extração de “saberes dos próprios escolares, assim como fonte de exercício de poderes que tornaram possível o surgimento da ‘ciência pedagógica’, do saber pedagógico” (Varela, 1994. P. 89). Que seguiu assim, a pedagogia moderna, dando conta de vigiar aos todos.
Julia Varela indaga quais teriam sidos os efeitos desta pedagogização dos conhecimentos, partindo dos colégios jesuíticos e se disseminando em muitas outras instituições. Em primeiro lugar, Varela comenta que adquirir esses saberes moralizados não provocou uma cooperação entre mestres e aprendizes. Os mestres passaram a se sentir e a exigir que fosse tratados como os únicos detentores do saber, e os estudantes deviam ficar subordinados e “converteram-se em sujeitos
destinados a adquirir os ensinamentos dosificados, transmitidos por seus professores para convertê-los, também a eles próprios, em seres virtuosos” (VARELA, 1994, p. 89).
E ainda precisavam aceitar que seus mestres jesuítas transmitiam saberes realmente verdadeiros, estes pedaços de saberes, sempre censurados, não expostos como estavam nos clássicos gregos e romanos, para servir a manutenção da ordem social e política vigente, nem neutros e nem imparciais eram, por mais que desejassem passar estes sentimentos, eram saberes cortados e não integrais, incapazes de questionar o mundo moderno, incapazes de dar conta da realidade do trabalho, das lutas sociais e da realidade por trás das classes sociais, ficando marcados pelo estigma do erro e da ignorância e viram-se desterrados do recinto sagrado da cultura culta, uma cultura que, com o passar do tempo, converteu-se na cultura dominante e reclamou para si o monopólio da verdade e da neutralidade. (VARELA, 1994, p. 89).
E se já não bastassem estes elementos, por último, a autora aponta que tal processo de pedagogização dos saberes resultou na instauração, progressivamente aperfeiçoada, de um aparato disciplinar, que é um aparato disciplinar de penalização e de moralização dos colegiais, que ligou a aquisição da verdade e da virtude à ascese e a renúncia de si mesmo. Foi desse mofo que a disciplina e a manutenção da ordem nas salas de aulas passaram a ocupar um papel central no interior do sistema de ensino até chegar praticamente a eclipsar a própria transmissão de conhecimentos. (Varela, 1994, p. 89)
Assim será necessário desenvolver a ideia de disciplinamento interno dos saberes, apoiado em Varela e também em Michel Foucault, retratando os fins do século XVIII, marcada por uma forte conexão do disciplinamento interno dos saberes com a pedagogização dos saberes.
Avaliando a Pedagogização dos conhecimentos e o Disciplinamento dos sujeitos
Tal potente Conjunto de intenções pedagógicas foram encontrando cenários nos colégios da Idade Moderna, tendo como atores ativos os professores e demais participantes de tal projeto vitorioso. E estabelecendo como atores, passivos, os estudantes. E isso acontecia, milimetricamente planejado, através da pedagogização dos saberes, com o intuito de não falhar no objetivo de disciplinar os sujeitos.
Os saberes pedagógicos são o resultado, em boa parte, da articulação dos processos que levaram à pedagogização dos conhecimentos e à disciplinarização interna dos saberes. Estas classificações e hierarquias de sujeitos e saberes costumam, em geral, ser aceitas como algo dado, como naturais, razão pela qual seu reconhecimento contribui para aprofundar sua lógica de funcionamento. A pedagogia racionaliza, em geral, uma certa organização escolar e certas formas de transmissão sem questionar nunca a arbitrariedade dessa organização, nem tampouco o estatuto dos saberes que são objeto da transmissão. (VARELA, 1994, p.93).
Michel Foucault (estudioso contemporâneo que viveu entre 1926-1984) examinou à exaustão a realidade educacional moderna, encontrando elementos interessantes neste destino dos colégios em prol do disciplinamento e da vigilância constante, bem planejado. Tais instituições escolares modernas foram formadoras da subjetivação moderna, a formação do sujeito moderno burguês e cristão, temente e fiel ao papa e rico. Estes pedagogos modernos deveriam zelar pela formação dos estudantes, que não nasciam prontos e podiam ser moldados. Assim, os colégios, na Idade Moderna ou a partir dela, terão funções de definir qual o sujeito adequado à época, condicionando-os através de mecanismos de poder e disciplinamento, escolhidos pelos professores ou seguidos pelos mesmos, e direcionados aos meninos, nos colégios, com o aval das famílias, que pensavam estar fazendo o melhor pelo futuro de sues filhos. Este disciplinamento moderno inquestionável, naturalizado como o certo e racional, formando sujeitos racionais (Penso, logo existo!), sem que ninguém deixasse de ser controlado, sendo dependente de tais adultos-professores, passaram a deixar de ser crianças e viraram estudantes. Foucault, em tempos contemporâneos, começou a indagar sobre a história das construções sociais e seus efeitos sobre os sujeitos-estudantes,
perguntava sobre os saberes e poderes, podres poderes que criaram, forçadamente, o homem moderno, não um homem livre, mas disciplinado em seus colégios. E Foucault vai defender que o sujeito construído neste modelo pedagógico, é o resultado de um poder próprio das instituições da Idade moderna, o nome de tal poder, é poder disciplinar:
O poder disciplinar é com efeito um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior “adestrar”; ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor. (...) A disciplina “fabrica” indivíduos; ela é a técnica específica de um poder que toma os indivíduos ao mesmo tempo como objetos e como instrumentos de seu exercício. Não é um poder triunfante que, a partir de seu próprio excesso, pode-se fiar em seu superpoderio; é um poder modesto, desconfiado, que funciona a modo de uma economia calculada, mas permanente. (FOUCAULT, 1984. p.153).
Isso foi sendo construído de modo pensado, elaborando saberes pedagógicos, convencendo os pais, dominando as cabeças dos professores, já na formação deles, na França, como descreve Foucault. A Racionalidade expressa nas inúmeras técnicas de disciplinamento, dentro das instituições escolares necessitavam de seus condutores perfeitos. Dos modelos de normatização uados já na Medicina (Ortopedização usada pelos médicos paraalinhar o corpo, por exemplo, e porque não inspirar o disciplinamento das almas, das mentes estudantis modernas?) e nas guerras foram servindo para a pedagogização do conhecimento e o disciplinamento de corpos e mentes dos estudantes.
Normatizou-se primeiro a produção dos canhões e dos fuzis, em meados do século XVIII, a fim de assegurar a utilização por qualquer soldado de qualquer oficina, etc. depois de ter normatizado os canhões, a França normatizou seus professores. As primeiras Escolas Normais, destinadas a dar a todos os professores o mesmo tipo de formação e, por conseguinte, o mesmo nível de qualificação, apareceram em torno de 1775, antes de sua institucionalização em 1790 ou 1791. A França normatizou seus canhões e seus professores, a Alemanha normatizou seus médicos. (FOUCAULT, 1982, p. 83).
Os professores foram normalizados (coincidentemente são chamadas as antigas escolas de formação e professores primários por escolas normais), mas os prédios dos colégios também necessitariam de uma arquitetura capaz de normalizar perfeitamente e em harmonia com o projeto pedagógico de disciplinamento dos saberes. Afinal, foi nestes espaços coletivos que os alunos foram conviver longos anos de suas vidas. O espaço foi normatizado, com arquitetura semelhante às das prisões, as salas estavam lado a lado, impossibilitando fácil comunicação, haviam grades nas janelas (para ninguém fugir?), todos se encontravam na hora das refeições, mas as regras de disciplinamento eram rígidas para tais momentos, nada de algazarra, barulhos, o tempo todo estavam sendo vigiados, difícil ousar passar pela portas também vigiadas, todos primavam pela farda escolar, que deveria estar em bom estado e a obediência aos mestres deveria ser total. O ideal moderno da individualização, nem comparável com o viver coletivo medieval, legava a cada aluno ocupar os eu lugarzinho na cadeira, calado, com postura irrepreensível, já que sabiam que estavam sendo observados e estudar, estudar e estudar, pois já viriam os terríveis exames.
Como desobedecer diante de tão rígida disciplina que era uma técnica de poder que implica uma vigilância perpétua e constante dos indivíduos. Não basta olhá-los às vezes ou ver se o que fizeram é conforme à regra. É preciso vigiá-los durante todo o tempo da atividade e submetê-los a uma perpétua pirâmide de olhares. (FOUCAULT, 2002. p.106)? Ninguém é soberano, filho do pai burguês, paparicado pela mamãe, escolhendo o que quer fazer neste cotidiano escolar, na Idade Moderna. Todos estão submetidos as mesmas relações de disciplinamento. E para isso acontecer de forma primorosa a vigilância era humana (não a magnífica vida social cercada de câmeras, mas conduzida por olhos adultos hábeis.
Aqueles pavorosos momentos de demonstração do poder da Igreja e dos reis europeus, em que na frente de uma catedral medieval todos assistiam a um supliciamento de alguém que teria sido julgado pela Santa Inquisição, com dores impostas no corpo para alcançar o perdão dos pecados na vida eterna, cruelmente queimados em fogueiras, logo após de ter sua chance de pedir perdão por seu pecados na terra, conduzidos por um sacerdote católico, são segundo Foucault, na sua interessante obra Vigiar e Punir (1984), foram sendo, da Idade Moderna ara frente, por uma vigilância e disciplinamento constantes, que já não deveriam arder tanto no corpo (as fogueiras foram esquecidas), já que passou a interessar aos médicos, aos responsáveis pelas prisões e aos dirigentes dos colégios controlar psicologicamente moralmente as pessoas. Sendo que as correções, verdadeiras ortopedizações da alma, não eram superficiais.
Exemplar é Pan-óptico, espécie de penitenciária ideal moderna, imaginada pelo filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham (1785), dotado de poder, a um único vigilante observar todos os que estivesse, presos, em uma concepção tão perfeita que os presos nem saberiam se eram observados ou não, por isso era necessário sempre ficar bem comportamento. Foucault descreve tal projeto tão representativo da ideia de disciplinamento e de vigilância, modo de pensar a arquitetura para tempos em que controle e disciplina chegaram aos colégios.
Um edifício em forma de anel, no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro. O anel se dividia em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia segundo o objetivo da instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário trabalhando, um prisioneiro se corrigindo, um louco atualizando sua loucura, etc. na torre central havia um vigilante. Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para o exterior, o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela; não havia nela nenhum ponto de sombra e, por conseguinte, tudo o que fazia o indivíduo estava exposto ao olhar de um vigilante que observava através de venezianas, de postigos semi-cerrados de modo a poder ver sem que ninguém ao contrário pudesse vê-lo. (FOUCAULT 1996, p. 87).
Como é que este poder disciplinar era exercido? Foucault vai esclarecer que de modo invisível, deixados os vigiados submetidos encerrados a visibilidade obrigatória. Na disciplina, são os súditos que têm que ser vistos. Sua iluminação assegura a garra do poder que se exerce sobre eles. É o fato de ser visto sem cessar, de sempre poder ser visto, que mantém sujeitado o indivíduo disciplinar. (FOUCAULT, 1984, p. 167). Isso foi mudando o cenário educacional, sendo impregnado nas práticas pedagógicas, que nos tornaram os herdeiros de tal Estatuto do saber Pedagógico, desta Pedagogização do Conhecimento, de modos insípidos, com poderoso Disciplinamento Interno dos Saberes, não teve como ninguém fugir com facilidade. Dentro desta lógica é que Foucault propõe: Todo sistema de educação é uma maneira política de manter ou modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e poderes que eles trazem consigo. (FOUCAULT, 2002b, p.44). Assim, é possível afirmar que a Idade Moderna marcou de forma consistente a educação, com esta Pedagogização do conhecimento e com o disciplinamento dos saberes, dos corpos e das mentes dos estudantes, com longas repercussões ao longo da história da educação ocidental.

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