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LEGISLAÇÃO E DIREITO 
EDUCACIONAL
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Lauro Roberto Lostada
 Edemilson Gomes de Souza
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck
Equipe Multidisciplinar da 
Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz
Prof.ª Tathyane Lucas Simão
Prof. Ivan Tesck
Revisão de Conteúdo: Maria Aparecida de Oliveira e Silva
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2017
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
 340
 L878l Lostada, Lauro Roberto
Legislação e direito educacional / Lauro Roberto Lostada; 
Edemilson Gomes de Souza. Indaial: UNIASSELVI, 2017.
138 p. : il.
ISBN 978-85-69910-83-1
1.Direito.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
Lauro Roberto Lostada
Edemilson Gomes de Souza
Doutorando em Educação (UFSC). Mestre 
em Educação (UFSC). Especialista em Práticas 
Pedagógicas Interdisciplinares (FACVEST). Especialista 
em Mídias na Educação (FURG). Filósofo (UFSC). 
Lattes: <http://lattes.cnpq.br/1469046395979183>
Mestre em Educação, Comunicação e 
Tecnologia pela Universidade do Estado de Santa 
Catarina – UDESC. Graduado em Pedagogia pela 
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2006).
 
Lattes: <http://lattes.cnpq.br/3428954785179037>
Sumário
APRESENTAÇÃO ..........................................................................01
CAPÍTULO 1
A Origem da Escola .....................................................................09
CAPÍTULO 2
A Educação no Brasil .................................................................27
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
A Legislação Educacional Brasileira .......................................71
A Educação no Século XXI .......................................................107
APRESENTAÇÃO
Prezado estudante, neste livro de estudos iremos trabalhar a legislação e 
o direito educacional brasileiro, tecendo um debate crítico que poderá promover 
importantes reflexões sobre a sua própria prática pedagógica. Iremos conversar 
um pouco sobre a formação da escola, sua constituição histórica, e as práticas 
reprodutivistas comumente associadas à sua função. Apresentaremos como, 
a partir destas bases epistemológicas, a escola se constituiu no decorrer dos 
séculos até os dias de hoje. Com base nestas reflexões, iremos analisar as 
diversas mudanças vividas pelas pessoas no seu cotidiano, questionando o papel 
da escola e, destarte, do próprio educador tradicional, como figuras ultrapassadas, 
que ainda vivem um passado longínquo, transformando a escola num ambiente 
com resultados inexpressivos e com pouca participação. 
Vivemos um mundo onde há a exigência da sociedade para que as pessoas 
sejam ativas e participativas, mas muitas vezes nossa escola ainda se pauta por 
práticas alienantes, expressas por altos índices de evasão e reprovação. Nestes 
termos, precisamos conhecer a legislação que organiza este espaço e, a partir 
daí, elaborar um projeto que possa colaborar para a ressignificação deste espaço 
na vida das pessoas e em seus projetos de vida. 
A escola não pode ser vista como algo inerte, sem vida, pois é feita por nós, 
professores, e nossos alunos e comunidade. São nossas narrativas e nossos 
projetos que determinam esse ambiente e, portanto, nossas ações precisam ser 
revisitadas e planejadas em vista de nossos projetos e nossas intenções. E este, 
portanto, é o objetivo deste caderno: refletir sobre a nossa história e as bases de 
nossa escola para poder repensá-la e transformá-la em um ambiente realmente 
de aprendizagem, fundamental à vida das pessoas. 
Esperamos, enfim, que as reflexões que serão realizadas neste caderno de 
estudos sirvam como motivação para que você possa repensar suas práticas e 
que, portanto, lhe permitam um universo de novas possibilidades. 
Os autores.
CAPÍTULO 1
A Origem da Escola
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
	Apresentar as concepções de educação e saber escolar desde suas origens 
até os dias modernos.
	Debater o contexto histórico da escola, possibilitando uma reflexão coerente 
sobre os fundamentos da educação e suas bases epistemológicas. 
10
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
11
A Origem da Escola Capítulo 1 
A educação é algo que nos caracteriza desde nossas origens, configurando 
aquilo que conhecemos costumeiramente como cultura.
Contextualização
Apresentaremos, neste capítulo, um pouco da origem da educação e como 
ela foi sistematizada institucionalmente naquilo que hoje conhecemos como 
escola. Também iremos mostrar como esta instituição foi se constituindo ao longo 
da história e como ela se consolidou como um mecanismo político na Idade Média. 
Por último, iremos apresentar como a escola se transformou, na Idade Moderna, 
num instrumento de reprodução social, cuja função primordial era a manutenção 
das estruturas de poder vigentes.
Assim, toda essa panorâmica sobre a história da escola deve poder lhe 
oferecer subsídios suficientes para compreender os fundamentos epistemológicos 
da educação, que servirão como base para todo o mecanismo legislativo que 
iremos detalhar nos capítulos seguintes. 
Esperamos que você aproveite esse momento e as contribuições que lhe 
serão oferecidas para conhecer um pouco mais dessa complexa arquitetura, bem 
como para poder refletir sobre ela em busca de uma prática pedagógica mais livre 
e autônoma.
Educação x Escola: Origens
Cultura: significa a formação do homem, sua melhoria e seu 
refinamento [...] indica o produto dessa formação, ou seja, o conjunto 
dos modos de viver e de pensar cultivados, civilizados, polidos, que 
também costumam ser indicados pelo nome de civilização.
Fonte: Abbagnano (2007, p. 225).
12
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Nestes termos, quando passamos a pensar a educação como resultado 
da cultura humana, acabamos por nos defrontar com os primórdios da nossa 
civilização. Essa fase primitiva é, portanto, onde vislumbramos as formas mais 
simples e elementares da educação, aspectos que determinavam diretamente a 
sobrevivência ou não do homem diante dos desafios que a natureza lhe impunha. 
Assim, nas civilizações primitivas, a família é que desempenha o papel 
fundamental na formação dos indivíduos, sem que exista ainda qualquer 
educação sistematizada ou instituição escolar organizada. O homem, certamente, 
já não é um ser animalizado nessas sociedades e, por isso, tece sua existência 
por parâmetros mais racionais que outrora – parâmetros estes que passam a 
desempenhar grande importância em sua vida, oferecendo as noções necessárias 
para a existência e os desafios impostos pela natureza. 
O objetivo da educação nesse primeiro momento é para com a satisfação 
imediata das necessidades materiais como a alimentação, o vestuário e o abrigo, 
de modo que a educação se realiza fundamentalmente através da promoção dos 
aspectos físicos, intelectuais e morais.
A formação dos jovens é promovida através de uma grande liberdade no 
tocante às experiências físicas com os jogos e a imitação, que passam a ser 
as ferramentas mais importantes para a aprendizagem naquele momento – as 
crianças brincam nestas sociedades de fazer arcos e espadas, por exemplo, 
criando histórias nas quais vivenciam aquilo que mais tarde terão que viver nas 
caças e batalhas. Quanto à formação intelectual, a criança é formada desde cedo 
para ser capaz de prover as suas próprias necessidades e também as da família 
e da comunidade. Obviamente que esta educação varia dependendo do sexo da 
criança, que irá determinarsua função social diante da família e da comunidade: 
enquanto os meninos aprendem os hábitos dos animais, as artimanhas da caça e 
da pesca, mecanismos de defesa e navegação, desenvolvendo suas habilidades 
físicas e sua percepção natural, as meninas são educadas para a reprodução 
e cuidado dos filhos, além das ocupações domésticas. Por último, além da 
educação física e intelectual, os povos primitivos cultivam também uma rústica 
educação moral, mediante a qual formam as novas gerações, ensinando-as os 
preceitos de respeito aos mais velhos, honra, obediência, autoridade etc. Os 
povos primitivos compartilham, de modo geral, em relação à religião, a crença 
em espíritos independentes, poder, justiça, responsabilidade, dever e consciência 
moral, onde o pecado é punido e a obediência recompensada.
13
A Origem da Escola Capítulo 1 
O MITO DE PANDORA
Em tempos longínquos não existiam mulheres no mundo, 
apenas homens, que viviam sem envelhecer, sem sofrimento, 
sem cansaço. Quando chegava a hora de morrerem, faziam-no 
em paz, como se simplesmente adormecessem. Um dia, contudo, 
Prometeu roubou o fogo a que só os deuses tinham acesso e deu-o 
aos homens, para que também eles pudessem usufruir desse bem, 
na defesa contra os animais ferozes, na confecção dos alimentos, 
na garantia de aquecimento nas noites frias. O rei dos deuses não 
podia deixar passar em branco a afronta de Prometeu e concebeu 
um castigo terrível para a humanidade: mandou que, com a ajuda de 
Atena, Hefesto, o deus ferreiro, criasse a primeira mulher, Pandora, 
e cada um dos deuses dotou-a com uma das suas características: 
O conhecimento primitivo é resultado direto da linguagem e sua organização 
se dá através, principalmente, do senso comum, que é aquele:
[...] conhecimento adquirido por tradição, herdado dos 
antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da 
experiência vivida na coletividade a que pertencemos. Trata-
se de um conjunto de ideias que nos permite interpretar a 
realidade, bem como de um corpo de valores que nos ajuda a 
avaliar, julgar e, portanto, agir (ARANHA, 2009, p. 35). 
Esse tipo de conhecimento, ainda segundo Aranha (2009), embora 
fundamental nessa fase de nossa existência, pode ser hoje entendido 
como ingênuo, fragmentário e conservador – ingênuo porque consiste num 
conhecimento não crítico; fragmentário porque é frequentemente assistemático, 
difuso e sujeito a incoerências; e conservador porque também resiste à mudança. 
O senso comum é, portanto, um primeiro degrau na escalada do conhecimento, 
que deve ser superado em vista de um conhecimento mais crítico e sistemático. 
Os povos primitivos, como dissemos, organizavam seu conhecimento 
através de suas experiências vivenciais e, portanto, tinham grandes dificuldades 
para compreender com exatidão muitos dos fenômenos e acontecimentos que 
permeavam sua existência. Por esta razão, podemos destacar que neste período 
os mitos tiveram um papel de grande importância na educação moral das pessoas. 
Sobre a origem do mundo, por exemplo, podemos encontrar a lenda de 
Pandora: 
14
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Afrodite deu-lhe beleza e poder da sedução; Atena fê-la arguta e 
concedeu-lhe a habilidade dos labores femininos; mas Hermes deu-
lhe a capacidade de mentir e de enganar os outros. Zeus ofereceu-a 
então de presente a Epimeteu, que era irmão de Prometeu. Sem 
pensar duas vezes e contrariando a advertência do irmão, que lhe 
dissera que nunca aceitasse nenhum presente vindo de Zeus, ele 
deixou-se seduzir pela bela Pandora e casou-se com ela. Pandora 
trazia um presente dado pelo pai dos deuses: a Caixa de Pandora, 
que estava proibida de abrir. Mas, roída pela curiosidade, um dia 
decidiu levantar só um bocadinho da tampa, para ver o que lá se 
escondia. De imediato dela se escaparam todos os males que até aí 
os homens não conheciam: a doença, a guerra, a velhice, a mentira, 
os roubos, o ódio, o ciúme. Assustada com o que fizera, Pandora 
fechou a caixa tão depressa quanto pôde, colocando-lhe de novo a 
tampa. Mas era demasiado tarde: todos os males haviam invadido o 
mundo para castigar os homens. Lá, muito no fundo da caixa, restara 
apenas uma pequena e tímida coisa, que ocupava muito pouco 
espaço: a esperança. 
Fonte: Disponível em: <http://www.olimpvs.net/index.php/
mitologia/a-caixa-de-pandora/>. Acesso em: 15 jul. 2016.
O mito de Pandora nos faz ver que, em geral, esse tipo de conhecimento 
aborda a curiosidade, a desobediência e o castigo, constituindo-se como verdade 
intuída, ou seja, que não exige comprovações, sendo o seu critério de adesão a 
crença e não a evidência racional. 
Mito: Além da acepção geral de “narrativa”, na qual essa palavra 
é usada [...], do ponto de vista histórico é possível distinguir três 
significados do termo: 1. Como forma atenuada de intelectualidade; 
2. Como forma autônoma de pensamento [...]; 3. Como instrumento 
de estudo social.
Fonte: Abbagnano (2007, p. 673).
15
A Origem da Escola Capítulo 1 
Atividade de Estudos:
1) Como vimos, o mito consiste em uma série de conceitos que 
servem para tranquilizar o homem diante do mundo em que vive 
e daquilo que ele não sabe explicar. Assim, podemos afirmar 
que o mito ainda existe até os nossos dias enquanto forma de 
conhecimento. Que tal agora você descrever uma situação em 
que o mito pode ser exemplificado? Pode ser algo que você viu 
ou ouviu.
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Em geral, o mito surge como uma explicação daquilo que o homem não 
conhece, devido à sua capacidade imaginativa e fantasiosa, cuja função primordial 
é acomodar e tranquilizar o sujeito diante do mundo assustador em que vive. 
Assim, tudo aquilo que amedronta o homem passa a ser explicado através de 
narrativas mitológicas, que se eternizam através da cultura, sendo transmitidas de 
geração a geração. 
O Conhecimento Científico
Até o momento você aprendeu que o conhecimento informal que compõe a 
bagagem dos povos primitivos acabou sendo sistematizado de alguma maneira 
através do senso comum e dos mitos. Agora iremos analisar a passagem do 
mito à razão, que se institui primordialmente no âmbito da Grécia antiga. Neste 
sentido, é interessante destacar que os povos gregos também compartilhavam 
das concepções míticas, expressas principalmente pelas epopeias, que eram 
transmitidas pela tradição, em que pese o poder da oralidade e da coletividade (não 
existia até esse momento a concepção de autoria e nem mesmo a preocupação 
em registrar as histórias contadas). As epopeias, de modo geral, tiveram um papel 
de grande importância para os povos gregos, porque descrevem a história de sua 
civilização, transmitindo os valores de sua cultura. Os poemas de Homero, por 
exemplo, eram tidos como narrativas históricas e, desta forma, eram ensinados 
e decorados pelas crianças como sendo um guia de história, com informações 
importantes sobre comportamento, cultura, religião, fatos históricos, mitologia 
grega e a sociedade da Grécia antiga.
16
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Epopeia é um poema extenso que narra as ações, os feitos 
memoráveis de um herói histórico ou lendário que representa uma 
coletividade.
Que tal ler o livro A Ilíada e A Odisseia, de Márcia Williams, onde 
as aventuras dos heróis gregos na Guerra de Troia e a volta do herói 
Ulisses para sua casa em Ítaca se transformam em uma história em 
quadrinhos, cheia de personagens fantásticos e muito humor? 
A obra de Homero consiste na Ilíada: poema épico grego, considerado o mais 
antigo da literatura ocidental – são 15.693 versos que narram os acontecimentos 
do último ano da Guerra de Troia; e Odisseia – são 24 cantos que narram a 
viagem de 10 anos de volta do herói grego Odisseu (Ulisses) da Guerra de Troia 
até chegar à Ilhade Ítaca, onde era rei.
As ações heroicas narradas nas epopeias, de modo geral, demonstram a 
constante intervenção dos deuses na vida dos homens, seja para auxiliá-los ou 
para prejudicá-los. Neste sentido, o homem grego é uma vítima do destino, que 
passa a orientar a vida de todos os homens desde seu nascimento até a sua morte.
Essa situação permanece inalterada até o período arcaico da Grécia, por 
volta do século VII a.C., quando acontece a passagem do pensamento mítico 
para o pensamento crítico racional e filosófico. Essa mudança, contudo, não se 
deu de forma rápida e perceptível, mas como fruto de um longo e lento processo, 
que teve como fatores impactantes: a origem da pólis, as grandes navegações e 
o comércio entre os diferentes países e regiões. Considere o mapa a seguir, que 
mostra a Grécia no período arcaico:
17
A Origem da Escola Capítulo 1 
Figura 1 – Grécia no período arcaico
Fonte: Disponível em: <http://geacron.com/pt/>. Acesso em: 15 jul. 2016.
Nesse cenário podemos observar a formação das chamadas comunidades 
gentílicas, que consistiam em pequenas unidades agrícolas autossuficientes, nas 
quais todas as riquezas eram produzidas de forma coletiva. Com o passar do 
tempo, porém, a falta de terras e o uso de técnicas de plantio pouco avançadas 
estabeleceram um crescimento populacional maior que a produção agrícola das 
comunidades gentílicas, obrigando a divisão social dos membros, com a formação 
de uma restrita classe de proprietários de terras, os eupátridas (bem-nascidos); 
e aqueles que não tinham qualquer tipo de propriedade agrícola, os thetas 
(marginais). Assim, mais do que controlar a posse da terra, os eupátridas também 
organizaram os instrumentos e instituições responsáveis pelas decisões políticas, 
as manifestações religiosas e todas as outras manifestações que pudessem 
reafirmar o seu poder. Na medida em que a propriedade da terra estabelecia 
disputas de poder, vemos que alguns grupos passaram a se mobilizar em defesa 
de seus territórios, as chamadas fratrias. Com o passar do tempo, as fratrias 
também se uniriam em tribos, que tinham como função a defesa das terras.
A partir do momento em que as demandas políticas dessas comunidades se 
tornavam cada vez mais recorrentes, vemos que essas associações de cunho militar 
passaram a ter outro significado, determinando a formação das primeiras cidades-
estado ou as pólis gregas, que eram povoações que se desenvolviam em torno da 
acrópole, onde no ponto mais alto da cidade se encontravam os palácios e templos.
18
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Filosofia: é o uso do saber em proveito do homem. [...] De 
nada serviria possuir a capacidade de transformar pedras em ouro a 
quem não soubesse utilizar o ouro, de nada serviria uma ciência que 
tornasse imortal a quem não soubesse utilizar a imortalidade, e assim 
por diante. É necessária, portanto, uma ciência em que coincidam 
fazer e saber utilizar o que é feito, e esta ciência é a filosofia.
Fonte: Abbagnano (2007, p. 442).
De outro modo, como podemos verificar no mapa apresentado, a geografia do 
universo grego evidencia os benefícios que este povo tinha a seu favor em relação 
ao Mar Mediterrâneo. Os gregos possuíam ao seu dispor o mar, notadamente 
calmo, como uma importante opção para a piscicultura de subsistência. A pesca, 
por sua vez, acabou oportunizando as navegações e o contato com outros povos 
e culturas. Esse contato, entendido como comércio, gerou um ambiente crítico, já 
que as explicações até então adotadas pelos gregos passaram a ser interpostas 
por outras explicações ou visões de mundo. A pólis, então, resume todo este 
processo de transição ao oferecer um ambiente fértil para o diálogo, onde as 
inquietações oriundas desses impasses passaram a ser analisadas, gerando o 
que conhecemos hoje como a filosofia.
Figura 2 – Desenvolvimento da Filosofia na Grécia
Fonte: Os autores.
GEOGRAFIA GREGA
AGRICULTURA
PESCA
NAVEGAÇÃO
COMÉRCIO
DIÁLOGO INQUIETAÇÃO
FILOSOFIA
Assim, podemos dizer que a filosofia não é necessariamente o que 
concebemos atualmente, pois ela resumia o conhecimento racional para além do 
senso comum e dos mitos, elaborado a partir do surgimento da pólis (cidade) e, 
consequentemente, da ágora (praça pública), onde as pessoas se encontravam 
para discutir os problemas de interesse comum, tornado espaço público. O 
saber, neste cenário, deixa de ser sagrado e passa a ser elaborado pelo conflito, 
discussão e argumentação. Assim é que surge a política, que permitiu que o 
homem se livrasse dos desígnios divinos e instituísse seu próprio destino através 
19
A Origem da Escola Capítulo 1 
da praça pública. Todos podem opinar nesse modelo de sociedade, desde que 
sejam cidadãos gregos, – não participavam desse modelo de democracia as 
mulheres, as crianças, os estrangeiros e os escravos – portanto, participavam 
apenas os homens que fossem livres e nascidos gregos. Restavam, pois, 
poucos que, diante da população da época, podiam participar dos processos 
democráticos; e, desta forma, vislumbramos um modelo de participação direta, 
onde cada um podia exercer a palavra, em favor de seus interesses, ditos como 
interesses de todos. 
Foi a partir desse cenário que surgiram os sofistas. Segundo Aristóteles, a 
sofística resume a sabedoria aparente, mas não real, que indica a habilidade de 
aduzir argumentos capciosos ou enganosos (ABBAGNANO, 2007, p. 918). Estes 
sábios, diante do universo que se erguia ao seu redor, perceberam um ambiente 
em que poderiam obter lucros. Assim, eles passaram a ensinar as técnicas da 
dialética, fundamentais para o exercício da democracia, onde o cidadão, no 
exercício da palavra na ágora, poderia convencer os demais sobre aquilo que 
tinha como verdade. 
Atividade de Estudos:
1) Diante do que vimos sobre a democracia e o surgimento dos 
sofistas, analise a frase de Joseph Goebbels, Ministro da 
Propaganda na Alemanha nazista, confrontando com o poder da 
propaganda e da persuasão:
 “A essência da propaganda é ganhar as pessoas para 
uma ideia de forma tão sincera, com tal vitalidade, que, no final, 
elas sucumbam a essa ideia completamente, de modo a nunca 
mais escaparem dela. A propaganda quer impregnar as pessoas 
com suas ideias. É claro que a propaganda tem um propósito. 
Contudo, este deve ser tão inteligente e virtuosamente escondido 
que aqueles que venham a ser influenciados por tal propósito 
nem o percebam”.
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20
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
A Atitude Filosófica
Você viu há pouco como se deu a ruptura do conhecimento mitológico dos 
povos primitivos para o conhecimento filosófico grego, cujo fundamento é a crítica 
e a argumentação, com base no diálogo. Neste sentido, é importante avaliar que 
a base desse conhecimento, tal como revela a etimologia da palavra (philos-
sophia = amor à sabedoria), aponta para uma atitude de admiração, que gera 
uma procura pela verdade. Não existe, para Platão, o processo filosófico se não 
houver antes uma atitude de espanto diante do mundo e, portanto, a filosofia aqui 
exposta não é de um saber abstrato, como muitos podem pensar, mas sim de um 
saber baseado no cotidiano, nos acontecimentos. Como diz Aranha (2009, p. 72): 
A filosofia se encontra no seio mesmo da história. No entanto, 
está mergulhada no mundo e fora dele: eis o paradoxo 
enfrentado pelo filósofo. Isso significa que o filósofo inicia a 
caminhada a partir dos problemas da existência, mas precisa 
se afastar deles para melhor compreendê-los, retornando 
depois a fim de dar subsídios para as mudanças.
Sócrates é um grande exemplo desse modelo de filósofo, pois ele costumavaconversar com todos, independentemente da classe ou grupo ao qual pertenciam, 
sempre preocupado com o método do seu conhecimento. Assim, nas praças 
públicas, Sócrates interpelava as pessoas a partir do pressuposto básico de que 
“nada sabia”, que consiste exatamente na atitude de abertura ao novo, a partir 
do reconhecimento da ignorância. Em sua ânsia pela verdade, Sócrates elaborou 
um método pedagógico baseado basicamente em dois momentos: a ironia e a 
maiêutica. Nas suas conversas ele induzia as pessoas a pensarem que ele 
realmente não sabia do assunto abordado, levando o interlocutor a declarar suas 
crenças sobre a questão. Assim, com hábeis questionamentos, Sócrates conduzia 
a conversa, desconstruindo o que o seu interlocutor tinha como certo, até forçá-lo 
a perceber sua ignorância – essa era a etapa do processo conhecida como ironia. 
Após esse primeiro momento do diálogo, Sócrates começa a reconstruir um novo 
conceito, como que em um parto – essa etapa é conhecida como maiêutica e teve 
como fonte de inspiração a figura da mãe de sua mãe, que atuava como parteira. 
O interessante é que o processo não levava às conclusões já estipuladas por 
Sócrates, pois, às vezes, não havia nem resposta para as dúvidas levantadas. 
O que importava, portanto, era descontruir os pré-conceitos em busca de uma 
verdade que fosse universal. 
21
A Origem da Escola Capítulo 1 
Figura 3 - Método Socrático
Pré-conceito Desconstrução
Ironia Maiêutica
Reconstrução Novo conceito
Fonte: Os autores.
Sócrates elabora, com esse modelo, um verdadeiro projeto didático onde o 
sábio/filósofo exerce o papel de mediador dialógico, cujo trabalho é desconstruir 
os pré-conceitos (mitos e senso comum) em busca de novas respostas, desta 
vez baseadas em argumentos coerentes, elaborados através de uma reflexão 
radical (por se tratar de uma busca de conceitos fundamentais utilizados em todos 
os campos do pensar e do agir), rigorosa (por ser uma argumentação baseada 
em uma linguagem rigorosa, livre das ambiguidades das expressões cotidianas) 
e de conjunto (porque examina os problemas sob a perspectiva de conjunto, 
relacionando os diversos aspectos entre si). 
 
A pedagogia grega representava, assim, um ideal não apenas de 
conhecimento, mas de aperfeiçoamento da personalidade através do 
conhecimento. O que é importante ressaltar também sobre esse tipo de educação 
é que ela não foi fruto de uma legislação e nem resultou de um sistema público 
de ensino, constituindo-se como uma iniciativa “particular” diante do idealismo do 
povo grego e do seu grande apego às ciências e às artes, tornado possível graças 
à liberdade de expressão que se cultivava na pólis. 
Assim, a educação grega, principalmente a ateniense, era dividida em duas 
fases distintas: 
1) A educação da infância: Entre os cinco aos sete anos compreendia 
os ensinamentos paternos, frequentemente vagos diante do capital 
cultural das famílias. Nesse momento os preceitos intelectuais, físicos 
e morais eram ensinados a partir, principalmente, das poesias, fábulas, 
contos e cânticos. A partir dos sete anos as crianças eram entregues 
a um pedagogo, escravo, que acompanhava a criança, ensinando-a, 
levando-a à escola e cuidando dela. Na educação elementar todas as 
crianças aprendiam a gramática (escrita, leitura e cálculo) e, através da 
leitura e da recitação, aprendiam religião, história, geografia, política, 
geometria, cálculos, etc. Quando terminavam essa fase, as crianças 
provenientes das famílias pobres deixavam a escola e iam dedicar-se 
ao exercício profissional, enquanto as provenientes das famílias mais 
abastadas continuavam seus estudos.
22
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
2) A educação da juventude: Com 15 anos os jovens eram encaminhados 
para o ginásio, onde permaneceriam por mais três anos recebendo lições 
de diversas ciências, além da filosofia e da sofística. Quando atingiam os 
18 anos, os adolescentes eram recebidos entre os efebos (palavra grega 
que significa aquele que atinge a idade da puberdade), tornando-se 
aptos para o serviço público, de caráter militar ou cívico, com duração de 
dois anos. Assim, cada efebo recebia uma preparação física e intelectual 
para o exercício das atividades de guerra e de paz.
Há que se ressaltar, contudo, que a educação ateniense visava apenas a 
formação dos homens, já que as meninas eram educadas no interior dos gineceus 
(parte da habitação que, na Grécia antiga, era reservada às mulheres), pelas suas 
mães, para o exercício exclusivo das funções domésticas. 
Paideia: é a denominação do sistema de educação e formação 
ética da Grécia antiga, que incluía temas como ginástica, gramática, 
retórica, música, matemática, geografia, história natural e filosofia, 
objetivando a formação de um cidadão perfeito e completo, capaz 
de liderar e ser liderado e desempenhar um papel positivo na 
sociedade. O conceito surgiu nos tempos homéricos e permaneceu 
em sua essência inalterado ao longo dos séculos, embora variando 
suas formas de aplicação e as disciplinas envolvidas.
Em geral, podemos dizer que Platão foi o primeiro pedagogo da história, 
não só por ter concebido um sistema educacional para o seu tempo, mas, 
principalmente, por pensá-lo numa dimensão ética e política. Tanto como seu 
mestre Sócrates, Platão rejeitava ardentemente a educação que se praticava 
na Grécia de sua época, cuja responsabilidade cabia aos sofistas, incumbidos 
de transmitir conhecimentos técnicos, sobretudo da oratória, aos jovens da elite, 
para torná-los aptos a ocupar as funções públicas. Platão, tendo por base a ideia 
de que os cidadãos que têm o espírito cultivado fortalecem o Estado e que os 
melhores entre eles serão os governantes, defendia que toda educação era de 
responsabilidade estatal - um princípio que só se difundiria muitos séculos depois. 
Além disso, ele também defendia a mesma instrução para os meninos e as 
meninas e o acesso universal ao ensino. 
23
A Origem da Escola Capítulo 1 
Apesar do que parece, contudo, Platão era um radical opositor da democracia, 
pois via no sistema democrático que vigorava em Atenas uma estrutura que 
concedia poder a pessoas despreparadas para governar, fato que fora provado, a 
seu ver, através da condenação de Sócrates, acusado de corromper a juventude 
e morto por isso. Para Platão, o poder deveria ser exercido por um tipo de 
aristocracia, mas não constituída pelos mais ricos ou por uma nobreza hereditária, 
porém, definido pela sabedoria. Os reis deveriam ser filósofos, pois a sociedade 
só pode ser salva, ou ser forte, se tiver à frente seus homens mais sábios.
Para esta seleção Platão elaborou um modelo em que as aptidões dos 
alunos eram testadas em favor da comunidade. Assim, a formação dos cidadãos 
começaria antes mesmo do seu nascimento, pelo planejamento eugênico da 
procriação. Após nascerem, as crianças deveriam ser tiradas dos pais e enviadas 
para o campo, pois Platão considerava que a influência da família corrompia a 
juventude com pré-conceitos e falsas opiniões – lembre-se da famosa Alegoria da 
Caverna e dos grilhões que prendiam os cativos. 
Na Alegoria da Caverna de Platão (A República, Livro VII), 
encontramos a história de alguns homens que, tendo sido feitos 
prisioneiros desde a tenra infância, vivem acorrentados em uma 
caverna sem que lhes seja possível ver senão uma parede à sua 
frente, de tal modo que, assistindo somente às sombras que são 
projetadas por transeuntes que passam entre um muro e uma 
fogueira ali presentes, com toda a sorte de instrumentos e objetos, 
passam a acreditar que veem a realidade tal como ela é. 
Platão questiona nessa história sobre o que aconteceria 
se, de alguma maneira, um destes prisioneiros fosse liberto e 
seguisse o caminho que leva para fora da caverna. O prisioneiro, 
evidentemente, não poderia sair daquele ambiente sem que 
passasse por um cuidadoso processo de adaptação, de forma que 
viesse a conhecer gradativamente omundo de fora da caverna ao 
ponto de poder olhar diretamente para o Sol, se assim desejasse. 
Este sujeito, devidamente adaptado e ciente desta nova realidade, 
teria provavelmente o anseio de retornar aos seus companheiros de 
prisão com o objetivo de lhes oferecer um pouco daquilo que pôde 
provar em sua jornada, abrindo-lhes os olhos para a verdade que 
24
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
lhes fora negada em sua existência; no entanto, nesse retorno à 
caverna é possível imaginar que os demais prisioneiros teriam muita 
dificuldade para acreditar em sua história e que julgariam que sua 
fuga deixou-o alienado ou louco, de tal modo que o desconsiderariam 
e talvez até zombariam dele, permanecendo fiéis às suas antigas 
concepções.
Figura 3 – Ilustração da alegoria da caverna
Fonte: Disponível em: <http://mito-da-caverna-platao.blogspot.com/2010/07/
interpretacao-da-alegoria.html>. Acesso em: 10 jul. 2017.
Com essa metáfora Platão pretende demonstrar que a existência 
dos seres humanos se assemelha à dos prisioneiros da sua história, 
sendo a caverna o mundo onde eles vivem. As sombras simbolizam 
as coisas que são percebidas e as correntes são os preconceitos e 
as opiniões. O prisioneiro que se liberta é o filósofo e a luz do Sol que 
o ilumina é a verdade. O mundo fora dessa caverna seria, portanto, 
o mundo real, iluminado pelo Sol da verdade, e o instrumento que 
liberta o prisioneiro é a própria filosofia. Através desta alegoria Platão 
permite, portanto, refletir sobre a condição humana e sobre os riscos 
da crença e da opinião. 
A alegoria platônica possibilita compreender que a alma aspira 
a alcançar o objeto real, a essência inteligível, transcendental, mas 
os sentidos, a educação e os preconceitos dificultam esse encontro, 
agindo no sentido de acorrentar os sujeitos. De qualquer forma, no 
entanto, há um grande esforço em caminhar na direção da verdade, 
pois há uma afinidade de natureza entre a alma e a coisa inteligível. 
A inteligência é atraída para a verdade, porque não está sob a 
égide dos sentidos, constituindo-se também como algo imaterial 
25
A Origem da Escola Capítulo 1 
e inteligível, de modo que se pode perceber a existência de uma 
harmonia entre a inteligência e o inteligível. Segundo Platão, esse 
processo deixa ver que em geral o corpo não é fonte confiável de 
conhecimento, mas de engano. O mundo é feito de aparências, de 
ilusões. Deste modo, deve-se buscar a verdade das coisas. Platão 
falava que os prisioneiros da sua alegoria estavam presos desde a 
infância, simbolizando a prisão que o corpo impõe à alma, algemada 
à tradição. Os presos o estão pelas pernas, pois o conhecimento 
sugere um caminhar. Não veem, porque ver é conhecer. Todo o 
homem é prisioneiro de seus próprios preconceitos: tudo para eles 
é mera projeção do real, pura ilusão. Se os prisioneiros, contudo, 
reconhecessem a ilusão, reconheceriam também a sua ignorância. 
Não conversam, pois seria uma troca de informações que faz 
conhecer. A tarefa do filósofo é libertar as pessoas de suas prisões 
através do reconhecimento da própria ignorância. 
Os prisioneiros precisam de auxílio para deixar a ignorância e 
educar sua alma a uma escalada que parte da ilusão, passa pela 
crença, percorre os objetos matemáticos e chega finalmente às 
ideias. É possível imaginar, no entanto, que o prisioneiro que tivesse 
que passar pela experiência de se adaptar à luz do verdadeiro Sol 
preferiria permanecer nas sombras, pois a caminhada em vista do 
conhecimento é um percurso longo e difícil, mas o único possível 
para se chegar ao Sol da Verdade, do Bem e do Justo (CHAUÍ, 2002). 
Vive-se uma realidade onde o enganoso se faz, segundo Platão, 
verdade e a verdade se transforma em utopia, de modo que somente 
os momentos de crise, onde o certo se torna incerto, é que podem 
gerar mudanças de atitude. O sujeito passa a questionar suas 
crenças e suas opiniões, interrogando-se sobre suas causas e seu 
sentido (o que é, como é, por que é), em busca de razões, de certezas 
mais confiáveis, que serão, numa perspectiva política da teoria, 
fundamento de uma visão de mundo que valoriza o diálogo como 
fonte de libertação. Essa perspectiva também configura a filosofia e, 
de certo modo, as próprias tecnologias modernas, como instrumentos 
para romper os grilhões da opressão e guiar os homens que ainda 
não veem, pois elas funcionam como um espaço de encontro e de 
discussão – ágora, que era a praça principal na constituição da pólis 
grega, onde o cidadão grego convive com o outro e onde ocorrem as 
discussões políticas e os tribunais populares.
26
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Até os 10 anos, portanto, a educação seria predominantemente física e 
constituída de brincadeiras e esporte; só depois começaria a etapa da educação 
musical, que criaria uma propensão à justiça, e para atrair e tornar mais 
interessantes os conteúdos de matemática, história e ciência; depois dos 16 anos, 
à música se somariam os exercícios físicos, com o objetivo de equilibrar força 
muscular e aprimoramento do espírito; aos 20 anos, os jovens seriam submetidos 
a um teste para saber que carreira deveriam abraçar – os aprovados receberiam 
mais dez anos de instrução e treinamento para o corpo, a mente e o caráter. No 
teste que se seguiria, os reprovados se encaminhariam para a carreira militar e os 
aprovados para a filosofia - neste caso, os objetivos dos estudos seriam pensar 
com clareza e governar com sabedoria. Aos 35 anos terminaria a preparação 
dos reis-filósofos. Mas ainda estavam previstos mais 15 de vida em sociedade, 
onde testariam os conhecimentos entre os homens comuns, trabalhando para se 
sustentar. Somente os que fossem bem-sucedidos em todas estas etapas é que 
se tornariam governantes.
Você conheceu um pouco do modelo educacional grego, das 
propostas educacionais de Sócrates e Platão, além das noções 
humanistas que permeavam seu ensino. Platão foi o primeiro 
pedagogo, não só por ter concebido um sistema educacional para o 
seu tempo, mas, principalmente, pensando numa dimensão ética e 
política. Agora sugerimos que você vá até a internet e pesquise um 
pouco mais sobre como funcionava a Paideia de Platão, cujo modelo 
inspirava-se na figura de Sócrates e no cuidado das crianças desde 
a mais tenra idade para que não fossem corrompidas pelo poder das 
crenças e das opiniões. É uma proposta radical de ensino, nunca 
implementada, mas muito interessante para pensar as possibilidades 
para uma educação cosmopolita!
O Conhecimento como Instrumento 
de Poder
É interessante notar que Aristóteles, discípulo de Platão e um dos grandes 
filósofos gregos, atuou como mestre de Alexandre III, comumente conhecido 
como Alexandre, o Grande – rei da Macedônia; e encerrou a história grega até 
aqui apresentada. O espírito romano, como resultado direto de um inventário de 
27
A Origem da Escola Capítulo 1 
conquistas, se caracterizou por ter um sentido prático e utilitário e a educação 
romana, por sua vez, passou a ser orientada para o aperfeiçoamento do próprio 
Estado. O ideal educativo dos romanos, durante seu período antigo, que se 
seguia ao fim da civilização grega, foi a preparação da juventude para os serviços 
militares, através de uma rígida educação física e pelo desprezo da cultura 
intelectual. Há também nesse período uma grande valorização do poder pátrio, 
com o advento do absolutismo familiar, onde o homem mantinha a função de rei 
e sacerdote, podendo exercer o direito de vida e de morte sobre a sua esposa, 
filhos e escravos. Dentro da sociedade, contudo, o homem era ainda um cidadão 
e, sendo membro da República, tinha que servir ao Estado. A educação dos filhos, 
da mesma forma, era atribuição do pai, que detinha absoluta liberdade no ensino 
das novas gerações, transmitindo seu capital cultural, econômico, social e político. 
Somente após um período de transição, aproximadamente no século III 
a.C., é que Roma passaa receber a influência dos povos e intelectuais gregos, 
que estabeleceram ali as primeiras escolas, destinadas a completar os estudos 
domésticos e, posteriormente, expandi-los através do ensino secundário. Foi 
assim que, com a helenização da cultura romana, houve a fusão entre a educação 
romana e a grega, fazendo com que os romanos perdessem suas virtudes cívicas 
e familiares, além das tradições religiosas e morais. O ensino passa a se dirigir, 
portanto, para a formação de oradores e magistrados, com a formação de cursos 
superiores e a estruturação de métodos empíricos (baseados na experiência e 
na observação), aplicados sob a égide de uma disciplina severa e muitas vezes 
até mesmo cruel. O ensino, ao contrário dos gregos, não visava a totalidade, 
harmonia e perfeição, pois estava subordinado, como dissemos, a um objetivo 
prático e utilitário, que resultava num modelo pragmático de ensino. 
É importante destacar que neste período houve também o surgimento do 
cristianismo, que inicialmente foi perseguido diante do risco que oferecia à ordem 
da República e ao poder exercido pelos governantes – havia uma esperança 
popular de que a proposta apresentada de um novo reino satisfaria o anseio de 
justiça diante de um governo cruel e opressor da época. Assim, o Império Romano 
passou a perseguir os cristãos, que muitas vezes eram presos, torturados e mortos 
– o Coliseu, em Roma, foi o palco de muitas dessas cenas, onde os cristãos eram 
lançados aos leões como entretenimento às multidões. Contudo, ao longo de 
séculos, a perseguição, que se instituíra cada vez mais cruel, culminando com a 
morte de milhares de cristãos, tornara-se inútil e até mesmo não proveitosa.
Esse cenário permaneceu inalterado durante muito tempo, até a conversão 
de Constantino, que, enquanto imperador romano, determinou o fim da 
perseguição aos cristãos e, paralelamente, incentivou a sua expansão, ao adotar 
o cristianismo enquanto religião “oficial”. Foi assim que, aos poucos, enquanto o 
Império Romano sucumbia, sendo dividido, a Igreja Católica se estabelecia e se 
28
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
fortalecia através de acordos entre aqueles que aos poucos passavam a ocupar 
o poder, na conformação daquilo que conhecemos hoje como sistema feudal. Os 
novos reis, detentores das terras, estabeleciam relações com os senhores feudais, 
que mantinham uma teia de contatos com seus vassalos, mediados sempre pela 
Igreja, que exercia um importante papel ideológico nesta tessitura. 
Para saber mais sobre o cristianismo e a perseguição do 
Império Romano, acesse: <http://imperioroma.blogspot.com.
br/2010/03/perseguicao-aos-cristaos.html>.
Diante desse novo cenário, a Igreja passou a realizar pactos paralelos com os 
reis, organizando teias de relacionamentos, que lhe fomentavam poder suficiente 
para gerir um modelo político e econômico capaz de erigir uma estrutura em que ela 
podia dirigir os rumos dos acontecimentos, determinando acordos e estabelecendo 
as diretrizes para os feudos, que passaram a ter que se subjugar ao poder ora 
imposto. O poder da Igreja, portanto, estava intimamente ligado ao do Estado. Foi 
isso que verificamos no decorrer da Idade Média com o advento das Cruzadas e da 
Inquisição, cujo papel era consolidar o poder da Igreja diante dos ateus (aqueles 
que não participavam dos acordos promovidos, ditos como dogmas). 
A perseguição ora impingida aos que não corroboravam com os dogmas da 
Igreja produziu um saldo de incontáveis vítimas de torturas e perseguições, que 
eram condenadas e forçadas ao silêncio. Galileu Galilei foi um exemplo dessa 
situação, tendo sido perseguido por afirmar que a Terra girava em torno do Sol e 
não o contrário (pense no impacto desta teoria diante da pregação da Igreja de 
que o homem teria sido feito à imagem e semelhança de Deus e que a Terra fora 
feita para seu uso, como um presente, que, portanto, não podia ser visto como 
algo periférico dentro de um sistema geocêntrico/antropocêntrico). 
29
A Origem da Escola Capítulo 1 
Depois de conhecer sobre a perseguição da Igreja contra 
Galileu Galilei, que tal pesquisar um pouco mais sobre o monge 
Giordano Bruno e Joana D’Arc, que também foram perseguidos, mas 
que acabaram mortos por não voltarem atrás em suas crenças e 
afirmações? Isto para poder pensar um pouco sobre a relação entre 
esta perseguição e seu resultado, expresso pela afirmação de que a 
Idade Média se constituiu como um período de trevas. 
A Igreja passou a determinar até mesmo a transmissão do conhecimento, 
organizando uma lista de livros proibidos (Index Librorum Prohibitorum). Além do 
mais, a cópia/guarda/distribuição dos livros passou a ser de responsabilidade da 
instituição, que mantinha as bibliotecas e detinha o controle das reproduções, que 
eram realizadas pelos seus monges copistas. O ensino também acabou sendo 
controlado pela Igreja Católica, que passou a deter a responsabilidade sobre a 
educação formal, organizando pela primeira vez um modelo formal de educação, 
com a abertura das primeiras universidades, sempre controladas pelo clero, a quem 
cabia o ensino das elites. É interessante destacar que nesse momento o controle 
da educação e da leitura/escrita era extremamente importante para a manutenção 
do poder ideológico atribuído à organização eclesial. O clero era detentor de 
uma educação privilegiada e era responsável pela exclusiva tarefa de leitura e 
interpretação das escrituras sagradas, o que oferecia à Igreja a possibilidade 
de determinar os rumos da história. Assim, a educação foi organizada em vista 
da exclusão das grandes massas, que deveriam apenas trabalhar para manter 
as castas superiores, dentre as quais o clero. Apenas as elites que compunham 
as relações de poder mais elevadas é que recebiam o letramento e a educação 
necessários para a manutenção de seu status e da ordem estabelecida. 
Em resumo, esse período, a partir do século II, é conhecido como patrística 
e compreende a fase em que é estabelecida uma rígida aliança entre fé e razão 
– nesse período são elaboradas interpretações e adaptações das obras clássicas 
em defesa do cristianismo. De outro modo, a partir do século IX até o século XIV, 
a patrística é substituída pela escolástica, que continua a aproximar fé e razão – 
a razão era tida comumente como serva da teologia e, por isso, com frequência 
as disputas terminam com o apelo ao princípio da autoridade, que consiste na 
recomendação de humildade para se consultar os intérpretes devidamente 
autorizados pela Igreja. 
30
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Atividade de Estudos:
1) Assista ao filme O Nome da Rosa, inspirado na obra de Umberto 
Eco, que relata um pouco dessa história de controle da Igreja sobre o 
conhecimento, e descreva quais são as suas impressões sobre esse 
período e o impacto que teve no desenvolvimento da educação.
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A Escola como Mecanismo de 
Reprodução Social na Idade 
Moderna
O poder da Igreja Católica e a conformação escolar aos seus interesses 
acabam entrando em decadência por uma série de fatores que, em conjunto, por 
um longo período, determinaram também o fim da Idade Média e do feudalismo, 
com maior abertura ao conhecimento e surgimento de novos mecanismos de 
subordinação. Assim, podemos dizer que a peste negra, que dizimou entre 25 
e 75 milhões de pessoas – mais ou menos um terço da população europeia –, a 
Guerra dos Cem Anos e a fome que se estabeleceram na Europa do século XIV 
criaram um ambiente aterrorizador, onde não havia expectativas para as pessoas. 
Foi assim que, com a grave crise que o sistema feudal passou a vivenciare com 
o advento da Revolução Industrial, aqueles que não participavam dos acordos da 
época, conhecidos como burgueses (eram comerciantes que se estabeleceram na 
beira das estradas que ligavam os feudos e viviam basicamente do comércio de 
trocas), e não tinham obrigações civis como os vassalos, aproveitaram o momento 
e, com os recursos que mantinham, promoveram o início da industrialização 
manufatureira, oferecendo vagas de empregos àqueles famintos e miseráveis que 
ora se amontoavam nos falidos feudos. 
31
A Origem da Escola Capítulo 1 
SOBRE A INVENÇÃO DA PRENSA TIPOGRÁFICA
A cidade alemã de Aachen foi palco de uma verdadeira 
revolução: havia grandes peregrinações para visitar relíquias 
consideradas as mais sagradas do cristianismo (o cueiro de 
Jesus, os mantos da Virgem Maria e o pano no qual a cabeça de 
João Batista foi enrolada). Acreditava-se que esses objetos tinham 
poderes miraculosos, emitindo raios invisíveis capazes de curar 
doenças e conceder outras graças. Como havia uma corrida de 
grandes multidões, em 1300 deliberou-se que os objetos seriam 
expostos apenas uma vez a cada sete anos, durante apenas duas 
semanas. Para evitar que as pessoas precisassem se aglomerar 
para tocar as relíquias, foram criados espelhos que teriam a função 
de reter a energia sagrada. Poucos tinham autorização para fabricar 
esses espelhos.
Tendo sido criado entre fabricantes de moedas, Gutenberg 
teve a ideia de tornar o processo de fabricação massivo através de 
prensas. Com esse mecanismo Gutenberg passou a enxergar outro 
mercado próspero com relação aos livros e assim repensou sua 
tecnologia desenvolvendo uma prensa tipográfica, onde fez a Bíblia 
com 42 linhas, apresentando-a numa feira em Frankfurt, onde Enea 
Picolomini, mais tarde Pio II, a viu, escrevendo uma carta para um 
clérigo da alta hierarquia sobre a novidade, que se espalhou como 
uma febre, primeiro em versões caras, como as manuscritas, sendo 
depois popularizadas em versões de bolso.
Fonte: Powers (2012, p. 113-125).
Neste novo cenário presenciamos também o surgimento da prensa 
tipográfica, cujo papel seria o de automatizar a produção de livros, possibilitando 
sua reprodução em massa. 
32
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
A prensa possibilitou a impressão em grande escala da Bíblia, o que, por 
sua vez, gerou uma verdadeira revolução diante da democratização do acesso à 
interpretação, o que presenciamos através da Reforma Protestante de Martinho 
Lutero. A reforma protestante tem como principal contribuição a possibilidade de 
liberar a interpretação dos textos sagrados à exegese popular, permitindo uma 
abertura do cenário medieval à produção do conhecimento e livre circulação de 
ideias. A partir desta nova relação de forças surge o Iluminismo e, consequentemente, 
a Idade Moderna, como um ambiente fértil, no qual se manifestarão em breve as 
teorias do liberalismo que justificam e fundamentam o capitalismo enquanto modelo 
de regulamentação social, econômica, política e cultural. 
Iluminismo: Segundo Kant, o Iluminismo é a saída dos homens 
do estado de minoridade devido a eles mesmos. Minoridade é a 
incapacidade de utilizar o próprio intelecto sem a orientação de outro. 
Essa minoridade será devida a eles mesmos se não for causada 
por deficiência intelectual, mas por falta de decisão e coragem para 
utilizar o intelecto como guia. ‘Sapere aude! Tem coragem de usar 
teu intelecto!’ É o lema do Iluminismo.
Fonte: Abbagnano (2007, p. 535).
O Iluminismo, de forma geral, caracterizou-se pela defesa de ideais que 
pautavam a renovação das práticas e das instituições vigentes em vista da 
felicidade, da justiça e da igualdade. Assim, sua crítica dirigia-se à dominação 
religiosa, ao estado absolutista e aos privilégios das elites e, como forma de superar 
tais injustiças, a razão passou a ser vista como o instrumento fundamental para 
promover o progresso da humanidade – visão esta que fundamentou as concepções 
liberalistas e positivistas enquanto núcleos basilares da Idade Moderna. 
Por defender a razão como instrumento para a conquista da felicidade, justiça 
e igualdade, o período também passou a ser conhecido como Século das Luzes 
ou Ilustração. De modo geral, os pensadores da época estabeleceram importantes 
contribuições para a escola moderna ao determinar a liberdade de pensamento 
e expressão como norte da prática educativa, que teria como princípios a 
universalidade, a individualidade e a autonomia. Ademais, por entender que sem 
a devida ilustração ninguém alcançaria a felicidade, os pensadores do período 
33
A Origem da Escola Capítulo 1 
defendiam que a educação deveria ser gratuita, obrigatória e laica. Para o campo 
da educação, são exemplos de importantes pensadores desse período: Erasmo 
de Roterdã, Jan Amos Komensky (Comênio), Jean-Jacques Rousseau, Johann 
Heinrich Pestalozzi, Johann Friedrich Herbart e Friedrich Froebel.
Resumidamente, o movimento iluminista acabou nutrindo grandes 
transformações, com a expansão dos direitos civis e a diminuição das influências das 
elites, de modo que um dos marcos desse momento foi a promulgação da Declaração 
dos Direitos do Homem e do Cidadão, enquanto documento político de grande 
impacto sobre o direito internacional e, destarte, da própria legislação educacional. 
Para conhecer a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 
de 1789, acesse: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/>.
A grande mudança neste cenário, contudo, se estabeleceu com o advento 
da Revolução Industrial, séculos mais tarde (XVIII e XIX). Essa revolução se 
deu, basicamente, pela substituição do trabalho artesanal pelo assalariado, 
com o uso das máquinas (lembre-se de que, como vimos anteriormente, o início 
deste processo foi organizado pelos burgueses). Até esse período a maioria da 
população ainda vivia no campo, produzindo o que consumia, agora, contudo, a 
economia passa a se organizar em torno da concepção de mais-valia e, por isso, 
o empregado passa a vender sua força de trabalho aos donos das fábricas.
As novas condições de emprego nessas primeiras fábricas se assemelhavam 
à escravidão, pois eram oferecidas mínimas condições de trabalho: muitos dos 
trabalhadores tinham um cortiço como moradia e ficavam submetidos a jornadas 
de trabalho que chegavam até a 80 horas por semana; o salário era medíocre 
(em torno de 2,5 vezes o nível de subsistência) e tanto mulheres como crianças 
também trabalhavam, recebendo um salário ainda menor. Assim, ou as pessoas 
se sujeitavam a estas novas condições de trabalho ou permaneciam atreladas ao 
antigo regime e, desta forma, padeciam na miséria.
 
No tocante à educação, os impactos da Revolução Industrial se deram, 
principalmente, pela necessidade das indústrias, de mão de obra qualificada, 
o que fez com que se estabelecesse grande expansão da educação para as 
camadas mais pobres da população. A oferta, porém, era de uma educação 
34
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
de baixa qualidade, utilitarista, com fins profissionalizantes, conformadores 
e disciplinadores. Em geral, a escola passa a exercer um papel de grande 
importância para a conformação das massas aos interesses das elites. De 
qualquer forma, apesar dos esforços empreendidos pelas elites em vista do 
disciplinamento popular, alguns ainda se revoltaram, promovendo diversos 
movimentos com o objetivo de defender o trabalhador, o que gerou um conturbado 
momento social.
Para conhecer mais sobre o poder das fábricas e das escolas 
na formação do sujeito moderno, sugerimos que você leia a obra 
Vigiar e Punir, de Michel Foucault, que fala sobre a evolução histórica 
da legislação penal e respectivos métodos coercitivos e punitivos 
adotados pelo poder público na repressão da delinquência. Métodos 
que vão da violência física até instituições correcionais.
O que percebemos é que, com a democratização do conhecimento e acesso 
à educação impingidos por tais movimentos, foipreciso elaborar um sistema 
cada vez mais complexo para manter as relações de dominação até então 
constituídas. Para tanto, instituições como a própria família, a escola, a Igreja e 
o Estado se tornaram fundamentais – elas passaram a operar com a formulação 
de mecanismos estruturais que agem no sentido de organizar a sociedade e as 
relações que se estabelecem em torno dela. Para Bourdieu (1982, 1998, 2001, 
2003), por exemplo, o habitus é o princípio ativo de unificação das práticas e das 
representações, que é construído e naturalizado através destas instituições.
 
É como se fôssemos vítimas inconscientes de uma violência simbólica, 
constituída como tal por que não dispomos de ferramentas para entendê-la assim, 
tornando nossa história uma mera legitimação de processos distintivos em que o 
capital, seja ele econômico, cultural ou social, por exemplo, se constitui como um 
marco diferencial de uma disparidade já constituída e, desse modo, incorporada, 
objetivada e institucionalizada. Temos, resumidamente, disposições que marcam 
nossa posição e que geram, por sua vez, as diferenças entre o que se prega 
como sendo bom e mau, belo e feio ou certo e errado.
Bourdieu (1982, 1998, 2001, 2003) oferece, neste sentido, um sistema 
complexo de conceitos (habitus, campos, capital cultural, capital econômico, 
capital institucional, capital social, violência simbólica, illusio, éthos, héxis 
corporal etc.) que nos permitem vislumbrar como funciona a sociedade e como 
35
A Origem da Escola Capítulo 1 
somos determinados à reprodução de um sistema arbitrário. Somos educados 
pelas diversas instituições sociais de modo a não compreender como funciona 
realmente a sociedade, bem como somos motivados de diversas maneiras a 
perceber o “jogo” como interessante de ser jogado e, portanto, investir nossas 
forças e nosso capital para mantê-lo em funcionamento, pois assim mantemos 
nossa posição e os nossos privilégios herdados ou conquistados. A luta que se 
estabelece eventualmente não é para mudar as estruturas, mas para mudar a 
ordem das posições dentro do sistema, perpetuando o modelo e as arbitrariedades 
já constituídas nesse modelo. Essa relação de cooptação à ordem estabelecida é 
conhecida em Bourdieu (1998) como a illusio e se constitui essencialmente como 
o conjunto das estratégias incorporadas nos indivíduos que o fazem acreditar que 
o jogo é importante e que, portanto, precisa ser jogado. 
A escola ocupa, portanto, uma função de grande importância na constituição 
do cenário moderno, estabelecendo, através de suas práticas, a manutenção das 
posições herdadas e a permanência das relações de poder entre aqueles que são 
dominados e os que dominam. Para tal, a escola elabora e executa esquemas 
cada vez mais poderosos e bem articulados para produzir pessoas aptas a exercer 
seu papel dentro da sociedade. A educação se torna parte integrante da formação 
humana e o professor uma ferramenta de controle através de suas práticas e 
métodos pedagógicos. A escola se transforma, portanto, num instrumento de 
massificação, à luz das próprias fábricas.
Atividade de Estudos:
1) O Iluminismo tece um projeto democrático para a educação que, 
contudo, se choca com os interesses comerciais do liberalismo/
capitalismo, tornando a escola mais um ambiente de reprodução 
social. Neste sentido, que tal refletir um pouco e descrever como 
seria se os princípios originais deste projeto libertário fossem 
aplicados à educação? Seja crítico e descreva como seria a 
escola se o “capital” não tivesse adquirido tamanha importância 
para nossa sociedade e se, portanto, tivéssemos a autonomia 
como guia de raciocínio em nossas práticas pedagógicas. 
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 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Algumas Considerações
Caro estudante, esperamos que você tenha conseguido se apropriar dos 
conceitos apresentados neste capítulo, pois eles compõem os fundamentos 
epistemológicos da educação, perante os quais ela se instituiu e sob os quais 
toda a legislação educacional e o direito irão atuar. 
Você conheceu uma perspectiva teórica a partir da qual a história da 
educação foi construída desde os primórdios da civilização, passando pelos 
gregos, romanos, até chegar ao período moderno.
É importante lembrar, porém, que tecemos a conjuntura da civilização ocidental 
e, portanto, muitos cenários foram desprezados nestas considerações, sem que 
com isso tenhamos exercido qualquer julgamento de valor. Há, pois, muitas outras 
culturas e povos que poderiam ter sido citados, mas nosso objetivo contemplou 
apenas uma linha sócio-histórica, perante a qual construímos nossas reflexões. 
Assim, com as contribuições oferecidas neste capítulo esperamos tê-
lo capacitado para seguir adiante, com o objetivo de conhecer melhor como a 
educação se constituiu no Brasil ao longo da história até os dias mais recentes.
Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 5ª edição. São 
Paulo: Martins Fontes, 2007.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: 
introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2009.
BOURDIEU, Pierre. As contradições da herança. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, 
A. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. 
BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do 
campo científico. São Paulo: Editora da UNESP, 2003.
BOURDIEU, Pierre; PASSERON, J. C. A reprodução: elementos para uma 
teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.
POWERS, William. O Black Berry de Hamlet: uma filosofia prática para viver 
bem a era digital. São Paulo: Alaúde Editorial, 2012.
VALENTE, Nelson. Sistemas de Ensino e Legislação Educacional. São Paulo: 
Editora Panorama, 2000.
CAPÍTULO 2
A Educação no Brasil
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Definir os vários períodos pelos quais a educação passou na história do país e 
as bases legais norteadoras de cada um. 
� Distinguir como a educação se consolidou no país, permitindo um debate sobre 
a história da escola brasileira e sua legislação
38
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
39
A Educação no Brasil Capítulo 2 
Contextualização
Você é convidado, neste momento, a navegar conosco em torno da história 
da educação de nosso país, conhecendo melhor suas características e aquilo que 
contribuiu para a sua constituição. Nosso objetivo é conseguir entender como a 
educação foi estruturada e a partir de quais fundamentos as práticas pedagógicas 
foram se constituindo ao longo do tempo. Esperamos, portanto, que você seja 
capaz de, ao final do capítulo, poder descrever em linhas gerais todo esse cenário 
histórico, posicionando-se sobre os seus aspectos mais relevantes. 
A Educação no Período Colonial 
Brasileiro
Diante do que estudamos até o momento, você deve lembrar como a “fé” 
acabou se tornando um importante elemento para justificar o poder do Estado, 
colaborando para a sua afirmação e manutenção, bem como aproveitando-se 
dele em seu próprio benefício. Poderíamos dizer que, de algum modo, a religião 
foi utilizada como um mecanismo de propaganda ou marketing, na medida em 
que ainda não existiam o jornal, o rádio, o outdoor ou a televisão para executar tal 
empreendimento. Assim, o período colonial brasileiro nos remete a um momento 
da nossa história em que os colonizadores estavam ansiosos por encontrar 
novas terras onde pudessem explorar suas riquezas, gerando poder e glória, sem 
qualquer tipo de preocupação com os meios necessários para tanto, já que de 
antemão possuíam o consentimento e a bênçãoda Igreja para seus planos – a 
justificativa para a conquista das novas terras e povos era a obtenção de almas 
para o Reino de Deus. Os conquistados, por sua vez, precisavam, para obter a 
felicidade eterna, renunciar às suas crenças e seus modos de vida em favor das 
crenças e modos de vida dos conquistadores, a quem serviriam como escravos, 
sofrendo toda espécie de abusos. 
O Brasil se tornou, desta maneira, para os europeus, apenas uma fonte de 
recursos naturais e humanos, que devia ser mantida na opressão, maximizando 
desde então um sistema econômico capitalista injusto, em que o país exportava 
produtos como a borracha e o café, por exemplo, importando todos os produtos 
manufaturados de que necessitasse a preços elevados. 
Em conformação com esse ideal de colonização europeu e em reação à 
Reforma Protestante, estudada no capítulo anterior, encontramos os jesuítas 
atuando no país em vista da educação das novas gerações e da conversão 
dos povos para a fé católica. O trabalho jesuíta também se atrelava, como 
40
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
dissemos, aos interesses políticos de Portugal, ao oferecer uma justificativa 
para a exploração dos povos e da terra. Foi por este motivo, em especial, que 
eles receberam a incumbência de, além de expandir o poder da Igreja Católica, 
dedicar-se ao trabalho educativo do povo brasileiro. A intenção, basicamente, era 
catequizar os povos para que os colonizadores pudessem explorá-los com maior 
facilidade e ensinar-lhes a língua e a gramática para que pudessem aprender os 
costumes europeus e as doutrinas católicas.
Para atingir seus objetivos, as escolas jesuítas unificavam seu método 
de ensino, dando ênfase à concentração e atenção silenciosa dos alunos, 
num processo de ensino ligado à repetição e memorização dos conteúdos 
apresentados pelos professores. Todos estes princípios foram apresentados num 
compêndio, denominado Ratio Studiorum (Ordem dos Estudos), que resumia as 
normas e estratégias para a pedagogia jesuíta. O documento condensava estudos 
humanísticos e científicos com o objetivo de formar homens capazes de pensar 
e escrever, no exercício do que denominavam como virtude. Assim, o educando 
deveria poder desenvolver suas disposições espirituais e suas faculdades 
mentais, volitivas e afetivas, conforme sua natureza e seu destino. Neste sentido 
é interessante lembrar daquilo que foi falado sobre Platão no capítulo anterior, em 
relação à sua perspectiva ideal de ensino, acrescentando que sua teoria, durante 
a escolástica, foi reconfigurada diante dos interesses da Igreja, o que tornou o 
pensamento dualista do filósofo totalmente integrado com os dogmas da Igreja 
– essa releitura foi um projeto escolástico aplicado a grandes pensadores como 
Platão e Aristóteles como forma de adequá-los ao pensamento cristão da época, 
quando suas obras já não puderam ser restritas à leitura das pessoas por causa 
do surgimento da prensa de Gutemberg.
Além das regras e das normas, o Ratio Studiorum apresentava também 
níveis de ensino e as disciplinas que os alunos deveriam cumprir em sua vida 
escolar. Desta forma, havia um período de quatro anos que seria dedicado 
ao currículo teológico, com estudos da teologia escolástica, teologia moral 
e sagrada escritura. Já na base filosófica, que compreendia um período de 
três anos, seriam abordados estudos sobre lógica, cosmologia, ciências, 
psicologia, física, matemática, metafísica e filosofia moral. Por último, na parte 
do currículo humanista, que correspondia ao que hoje entendemos como 
Ensino Médio, com duração de mais três anos, havia estudos direcionados à 
retórica, humanidades e gramática.
41
A Educação no Brasil Capítulo 2 
Ratio Studiorum: Conjunto de normas criado para regulamentar 
o ensino nos colégios jesuíticos. Sua primeira edição, de 1599, além 
de sustentar a educação jesuítica, ganhou status de norma para toda 
a Companhia de Jesus. Tinha por finalidade ordenar as atividades, 
funções e os métodos de avaliação nas escolas jesuíticas. Não 
estava explícito no texto o desejo de que ele se tornasse um método 
inovador que influenciasse a educação moderna, mesmo assim, foi 
ponte entre o ensino medieval e o moderno.
A Guerra Guaranítica foi um confronto violento entre índios 
guaranis e soldados portugueses e espanhóis ocorrido no Sul do 
Brasil em meados do século XVIII após a assinatura do Tratado 
de Madri (1750), o qual delimitava as fronteiras espanholas e 
portuguesas da América do Sul.
Para saber mais sobre a Ratio Studiorum acesse a obra 
completa em: <http://www.bc.edu/sites/libraries/ratio/ratio1599.pdf>.
O currículo jesuíta era constituído com base numa disciplina rígida, com cinco 
horas diárias de estudos e pautada nos sentimentos de honra e dignidade, além 
do espírito de competição. Contudo, se fosse necessário fazer uso dos castigos 
físicos, era chamado um corretor para aplicar a palmatória, com o objetivo não de 
ferir ou humilhar o aluno, mas apenas causar-lhe uma pequena dor física como 
um meio eficiente de disciplina. 
Esse projeto educacional foi desenvolvido por aproximadamente 210 anos, 
até os jesuítas serem expulsos do Brasil, entre os anos de 1759 e 1760, por 
serem acusados pelo Marquês de Pombal de conspiração contra Portugal durante 
as Guerras Guaraníticas, episódio no qual os padres das missões do Sul teriam 
armado os índios contra as autoridades portuguesas em uma sangrenta batalha. 
42
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Outro motivo da expulsão teria sido dar fim aos conflitos envolvendo os 
colonos e os padres jesuítas, já que os religiosos se negavam a ceder seus 
catequizandos para o empreendimento colonial (escravização dos indígenas 
brasileiros). Assim, na época de sua expulsão os jesuítas chegaram a manter 36 
missões, 17 colégios e seminários, além das escolas de primeiras letras instaladas 
em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus, de modo que 
a saída dos jesuítas determinou uma verdadeira crise no processo educacional 
brasileiro, que viveu uma ruptura radical em seu sistema de ensino.
Extintos os colégios jesuítas, o governo não poderia deixar de suprir a 
enorme lacuna que se abria na vida educacional tanto portuguesa como de 
suas colônias e, desta maneira, em substituição ao modelo jesuíta de educação, 
acabamos assistindo à reforma pombalina dos estudos menores, cujo objetivo 
principal foi criar uma escola que fosse útil para os fins do Estado e não mais 
para os fins da Igreja Católica, como outrora se passava. O que aconteceu, 
contudo, foi que na prática não existia um sistema de ensino no país. O novo 
modelo era baseado em “aulas régias”, compreendidas enquanto unidades de 
ensino, desvinculadas umas das outras, sem qualquer articulação ou projeto. 
Não havia, portanto, currículo e nem foram instituídas estruturas de ordem ou 
tempo capazes de organizar o desenvolvimento pedagógico das escolas. Em 
lugar de um sistema mais ou menos unificado, como acontecia com as escolas 
jesuítas, fundamentado na seriação dos estudos, o ensino passou a ser disperso 
e fragmentado, baseado em aulas isoladas que eram ministradas, em geral, por 
professores leigos e mal preparados. Os alunos tinham a liberdade de se inscrever 
nas disciplinas que lhes interessassem, independentemente de qualquer tipo de 
pré-requisitos. Já os professores eram pessoas indicadas por um Diretor Geral 
dos Estudos que deveria, em nome do Rei, nomear professores e fiscalizar sua 
ação na colônia, em concordância com os bispos católicos de ordens como a 
beneditina, franciscana ou carmelita. Esses professores, nomeados pelo poder 
do Estado, passavam a deter a propriedade das suas disciplinas para o restante 
da vida, independentemente de sua capacidade intelectual para exercê-las ou 
de seu desempenho para ministrá-las, como dissemos. De modo geral, esses 
professores eram mal pagos e constituíam um grupo improvisado, que recebia a 
docência como um título de nobreza e a gozavapor toda a vida. 
A situação se tornou tão caótica que Portugal logo percebeu que a educação 
no Brasil estava estagnada e que seria preciso oferecer uma solução urgente para 
o problema. Assim, em 1767, a Real Mesa Censória, que fora instituída com a 
função de examinar os livros que chegavam ou que circulavam em Portugal, passa 
a atuar também na administração e direção dos estudos das escolas menores de 
Portugal e suas colônias. As falhas experiências da reforma pombalina passam 
a serem revistas e, em 1772, foi criado o “subsídio literário” para a manutenção 
das escolas brasileiras – um imposto que possibilitou a criação de diversas aulas, 
43
A Educação no Brasil Capítulo 2 
como leitura e escrita, gramática latina, retórica, língua grega e filosofia, além do 
pagamento do salário dos professores, compra de livros, construção de museu de 
variedades, escolas e um gabinete de física experimental.
A preocupação básica da educação neste período passou a ser a 
formação da nobreza, para a qual eram exportados professores da Europa. 
Neste sentido, os objetivos passaram a ser simplificar os estudos, abreviando 
o tempo do aprendizado de latim, além de facilitar os estudos para o ingresso 
nos cursos superiores. 
Pedagogicamente, esta nova organização e os novos investimentos 
não representaram um avanço, afinal, as mudanças atendiam apenas 
às necessidades da elite da colônia. De outro modo, as transformações 
implementadas no nível secundário de ensino não afetaram o ensino escolar 
inicial, que permaneceu totalmente desvinculado da realidade. Assim, quem 
tinha condições de cursar o Ensino Superior, acabava tendo que enfrentar os 
perigos das viagens marítimas para frequentar a Universidade de Coimbra ou 
outros centros de ensino europeus – como as reformas pombalinas visavam 
transformar Portugal numa metrópole como a Inglaterra, a elite masculina 
deveria ser educada fora das colônias, para poder servir melhor na sua função 
de articular os interesses da camada dominante portuguesa.
Atividade de Estudos:
1) Faça uma breve reflexão sobre as mudanças que ocorreram após 
a expulsão dos padres jesuítas do Brasil e de como a laicização 
do ensino favoreceu as classes dominantes da colônia.
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 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
A Educação no Período do Império: 
Independência?
A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, tendo como berço 
principalmente a Inglaterra, representou um impulso aos planos portugueses para 
o Brasil. Houve assim um grande incentivo ao desenvolvimento das colônias, 
principalmente do Brasil, de onde se originavam as matérias-primas necessárias 
à emergente economia portuguesa, e onde se poderiam comercializar em grande 
escala os produtos manufaturados dos países europeus, sempre com grandes 
margens de lucro para a Pátria Mãe, Portugal. Assim, a Inglaterra ofereceu grande 
apoio à transferência da família real portuguesa para o Brasil (lembramos que 
junto com a família real foram transferidos para o país cerca de 15 mil funcionários) 
em troca da abertura do mercado aos produtos ingleses, com taxas alfandegárias 
reduzidas em relação aos concorrentes.
Sobre a educação, o reflexo da chegada da família real foi a concretização 
da reforma pombalina, que transformou a escola num verdadeiro centro de 
formação das elites dirigentes do país. Juntamente com a criação de cursos 
para a formação militar, médica, de agricultura, química, entre outros, também foi 
aberta a imprensa oficial e a primeira biblioteca brasileira. 
Quanto ao ensino primário, não foram feitas mudanças significativas, apenas 
foi estabelecida através da Constituição de 1824 que esta fase de aprendizagem, 
ainda que não claramente expressa na letra da Constituição, seria gratuita a todos 
os cidadãos (Art. 179). Também através de uma lei de 15 de outubro de 1827 foi 
estabelecido que escolas primárias deveriam ser criadas, desde que necessárias, 
em todas as cidades. A mesma lei determinava que escolas para meninas seriam 
também abertas nas cidades mais populosas e que os professores ingressassem 
na carreira através de concurso público. Por último, em 1854, o ensino primário 
foi dividido em duas etapas: na primeira, a elementar, seriam ensinadas noções 
de moral, religião, leitura e escrita, gramática, aritmética e pesos e medidas; já na 
segunda, a superior, os estudos da etapa anterior seriam explorados através de 
disciplinas específicas. 
De forma geral, o ensino primário não era difundido e nem ao menos 
oferecido como previam as regulamentações legais, seja pela falta de dinheiro 
das províncias, seja porque essa fase não era um requisito para a entrada no 
nível secundário, seja porque os índios escravizados eram proibidos de frequentar 
a escola, ou porque, principalmente, o objetivo era a formação das elites, motivo 
este pelo qual o Estado concentrou suas energias no ensino secundário e superior. 
45
A Educação no Brasil Capítulo 2 
Tornava-se necessário dotar o país com um sistema escolar 
de ensino que correspondesse satisfatoriamente às exigências 
da nova ordem política, habilitando o povo para o exercício 
do voto, para o cumprimento dos mandatos eleitorais, enfim, 
para assumir plenamente as responsabilidades que o novo 
regime lhe atribuía. Esta aspiração liberal, embora não 
consignada explicitamente na letra da lei, conquistou os 
espíritos esclarecidos e converteu-se na motivação principal 
dos grandes projetos de reforma do ensino no decorrer do 
Império (CARVALHO, 1972, p. 2).
Já o ensino técnico-profissional era praticamente desprezado pelo Estado, 
pois aqueles que terminavam essa modalidade de ensino não podiam adentrar 
no Ensino Superior. As elites utilizavam a escola apenas como via de acesso 
ao Ensino Superior e, desta forma, não ingressavam neste tipo de curso, que 
acabava sendo, portanto, desprezado pela administração pública. Para se ter 
uma ideia sobre esse panorama, em 1864 havia apenas 106 alunos matriculados 
em todo o país em cursos técnicos. 
 Da mesma forma, o ensino normal também não fazia parte das prioridades do 
Estado e, por essa razão, a formação dos professores acabou sendo desprezada. 
O ensino normal passou a ser oferecido em algumas poucas escolas pelo país, 
sempre no período noturno, e seus estudos abrangiam a base curricular do ensino 
secundário com algumas disciplinas relacionadas à docência.
O ensino secundário, por sua vez, tinha como objetivo preparar os estudantes 
para os cursos superiores, mantendo a base curricular do período colonial, com a 
organização das disciplinas de forma dispersa e pouco relacionada. 
Neste período foram criadas algumas escolas superiores, que serviam para 
a formação profissional. A partir da Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834, essas 
escolas passaram a ser de responsabilidade do poder central, que delegou 
o ensino primário e secundário para a administração das províncias, a quem 
caberia a responsabilidade pela legislação relativa à instrução pública e as 
formas de promovê-la. Foi por esta razão que as províncias criaram os liceus, que 
basicamente consistiam num estabelecimento que congregava as aulas que antes 
eram oferecidas de forma dispersa. O objetivo destes liceus, contudo, permanecia 
sendo o fomento dos estudantes para os exames preparatórios para ingresso nos 
cursos superiores. O Colégio Dom Pedro II foi uma das poucas experiências que 
aUnião promoveu na época para aplicar o ensino secundário, com o objetivo de 
estabelecer um modelo para os demais estabelecimentos de ensino secundário 
do país, o que acabou não acontecendo devido à exigência de exames parcelados 
para acesso ao Ensino Superior, que acabaram tornando os cursos preparatórios 
muito mais atrativos. 
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 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Para saber mais sobre o Colégio Dom Pedro II, acesse: <https://
pt.wikipedia.org/wiki/Col%C3%A9gio_Pedro_II>.
De qualquer maneira, o Império possibilitou o acesso de cerca de 10% 
das crianças às escolas primárias e aproximadamente 10 mil vagas ao ensino 
secundário em escolas públicas e privadas. Considerando que neste período a 
população era de 14 milhões e que havia 300 mil alunos matriculados nos diversos 
níveis de ensino, podemos concluir que aproximadamente 15% da população em 
idade escolar foi devidamente atendida – considere que a Constituição de 1824 
previa ensino primário gratuito a todos os cidadãos em escolas que deveriam ter 
sido criadas em cada uma das cidades do país.
O período também apresentou grande dispersão em relação à integração do 
seu sistema de ensino, já que, como dissemos anteriormente, o ensino primário 
era desconexo do secundário e não lhe servia nem como prerrogativa; o ensino 
secundário era composto por uma grade de disciplinas avulsas, orientadas 
exclusivamente para os exames de ingresso aos cursos superiores, não sendo 
nem ao menos exigência para frequentá-los; por último, o Ensino Superior era 
oferecido em escolas isoladas, que ofereciam cursos específicos para o exercício 
de carreiras, sem qualquer integração comum.
As estratégias adotadas durante este período acabaram gerando um clima 
desfavorável ao ensino público e abriram paulatinamente o caminho para a 
expansão da iniciativa privada, que acabou sendo um movimento em favor do 
liberalismo em vigor no período. 
Algumas tentativas de promover uma reforma sobre esse modelo de escola 
foram organizadas, o que aferimos em 1882 e 1883 com os Pareceres de Rui 
Barbosa, que, tendo analisado as deficiências do ensino brasileiro, correlacionadas 
com as teorias e práticas educacionais da época, propôs uma reforma educacional 
que deveria atribuir importância à educação dentro da sociedade como forma de 
modernização da nação. Rui Barbosa era a favor de um ensino primário obrigatório, 
dos sete aos 14 anos, gratuito e laico, onde deveria ser substituída a antiga escola 
de primeiras letras pela escola primária moderna, com um ensino renovado e um 
programa enciclopédico, voltado para o progresso do país. 
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A Educação no Brasil Capítulo 2 
Com oito anos de duração, a nova escola primária deveria ser dividida em 
três graus: o elementar e o médio, cada um com dois anos, e o superior com 
quatro. O dia escolar, por sua vez, teria a duração de aproximadamente seis 
horas, onde seria aplicado o método intuitivo, conhecido também como lições de 
coisas – esse método baseava-se num tratamento indutivo pelo qual o ensino 
deveria ir do particular para o geral, do conhecido para o desconhecido, do 
concreto para o abstrato. A ampliação do programa escolar teria como princípio a 
educação integral (educação física, intelectual e moral). 
Atividade de Estudos:
1) Presenciamos em nossas discussões uma organização 
econômica que era considerada “mundial”, onde o ideal era 
assegurar a divisão internacional do trabalho para que fosse 
garantido o crescimento máximo da economia. O liberalismo 
econômico deste período impunha as regras e tudo o que era 
possível para demonstrar que esta prática era melhor para a 
economia mundial. Sob este pressuposto, faça uma reflexão 
sobre a escola dentro deste contexto mundial.
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A Educação na Primeira República
A Primeira República (1889-1930) marca um período da história do país em 
que o modelo educacional do Império passa a ser questionado, principalmente 
em relação aos grandes privilégios oferecidos às elites, no ensino secundário e 
superior, em prejuízo direto à população, no ensino primário, normal e profissional 
– este processo foi iniciado já através das propostas de Rui Barbosa que 
apresentamos há pouco. Com a República, as ideias democráticas que visavam 
o progresso econômico e a independência do Brasil não se concretizaram. O 
48
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
país passou a ser controlado pelo chamado coronelismo, as eleições só eram 
permitidas para os homens com idade acima de 21 anos (mesmo assim, as 
eleições eram frequentemente fraudadas, com votos duplicados, atas falsificadas, 
mortos votantes etc.), as classes médias se viram impedidas de participação 
nas estruturas do poder, a dependência da economia ao café gerou grave crise 
e depressão econômica, e a dependência cultural dos modelos europeus gerou 
grande revolta dos intelectuais e artistas (lembre-se da Semana de Arte Moderna, 
promovida em 1922). 
Com idealização do pintor Di Cavalcanti, a Semana de Arte 
Moderna ocorreu em 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, 
tendo como objetivo mostrar as novas tendências artísticas que já 
vigoravam na Europa. O evento, contudo, não foi compreendido e 
nem aceito pela elite paulista, que era influenciada pelas formas 
estéticas europeias mais conservadoras. 
Para conhecer um pouco mais da Revolução de 1930, sugerimos 
que você acesse o site: <http://cpdoc.fgv.br/revolucao1930/acervo>.
Todos esses fatores contribuíram para desencadear a Revolução de 1930, 
que trouxe ao poder as classes menos privilegiadas politicamente, que passaram 
a organizar uma série de mudanças, como o voto para ambos os sexos a partir 
dos 18 anos, a jornada de trabalho de oito horas, as férias remuneradas, o salário 
mínimo, entre outros. 
Já na educação, as mudanças mais importantes se deram com o 
estabelecimento de uma política nacional de educação, que passou a operar 
segundo alguns princípios básicos organizados na Constituição de 1934. 
O documento foi antecipado em alguns pontos pela Constituição de 1824 e 
desprezado em sua totalidade pela Constituição de 1891, que relegava toda a 
responsabilidade sobre a educação para os Estados. De maneira geral, contudo, 
os aspectos que revolucionaram a política nacional de educação na Constituição 
de 1934 foram os seguintes: 
49
A Educação no Brasil Capítulo 2 
• Gratuidade e obrigatoriedade do ensino de 1º grau: a gratuidade do 
ensino já havia sido estabelecida na Constituição de 1824, mas a 
novidade agora recai sobre a vinculação da obrigatoriedade à oferta 
da educação. O artigo 150, por exemplo, estabelece o “ensino primário 
integral gratuito e a frequência obrigatória, extensiva aos adultos”.
• Direito à educação: em seu artigo 149 aparece pela primeira vez a ideia de 
que a educação é um direito de todos, o que foi retirado da Constituição de 
1937, mas restabelecido decisivamente na Constituição de 1946.
• Liberdade de ensino: o artigo 150 da Constituição de 1934 estabelece a 
“liberdade de ensino em todos os graus e ramos, observadas as prescrições 
da legislação”. Assim, em consoante com o artigo 72 da Constituição 
de 1891, se prega a liberdade da oferta da educação por instituições 
particulares, a autonomia das instituições educativas para a prática de suas 
atividades, bem como a independência de pensamento para o ensino.
• Dever do Estado/Dever da família: na Constituição de 1934 aparece 
pela primeira vez o princípio de que deve haver uma responsabilidade 
compartilhada entre a família e o Estado com relação à educação. 
Assim, o artigo 149determina que o Estado mantenha e organize 
o sistema educativo nacional; os artigos 151 e 156 determinam que 
exista um mínimo percentual a ser investido na educação (a União e os 
municípios aplicariam ao menos 10% e os Estados e o Distrito Federal 
20% das receitas provenientes dos impostos – valores revistos através 
de algumas emendas constitucionais e pela Constituição de 1988, que 
elevou os índices para 18% e 25%, respectivamente).
• Ensino religioso interconfessional: com a separação entre a Igreja e o 
Estado durante o Império, a religião católica deixou de ser a religião 
oficial do Estado e, assim, a Constituição de 1891 instituiu, em seu artigo 
72, o ensino laico nas escolas públicas. Com a Constituição de 1934 
(artigo 153), o ensino religioso foi reintroduzido ao currículo escolar, mas 
passou a ser facultativo e interconfessional, de acordo com a confissão 
religiosa de cada aluno. 
Com relação às competências organizadas já a partir da Constituição de 
1891, os Estados permaneceram responsáveis pelo ensino primário, ficando 
a União responsável pelo ensino secundário e superior, embora de forma não 
privativa. O que aconteceu, contudo, foi que a União se limitou a manter apenas 
o Ensino Superior. Caberia ao Congresso Nacional, segundo a Constituição de 
1891 (artigo 34 e 35), legislar sobre a educação nacional, e abdicou desta função, 
autorizando o Poder Executivo a realizar tal função, o que resultou diretamente 
na realização de cinco reformas educacionais durante o período da Primeira 
República – todas objetivando, em resumo, proporcionar a instrução secundária 
e fundamental necessárias para o ingresso nos cursos superiores e para o bom 
desempenho dos deveres do cidadão. As reformas educacionais organizadas na 
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 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Primeira República foram as seguintes:
1) Reforma Benjamin Constant – 1890. 
2) Reforma Epitácio Pessoa – 1901.
3) Reforma Rivadávia Correia – 1911.
4) Reforma Carlos Maximiliano – 1915.
5) Reforma João Luís Alves – 1925.
Diante da fragmentação organizativa e da falta de uma orientação nacional, 
surgiram diversas propostas de reforma, que eram calcadas em diferentes ideais. 
Os principais embates se deram entre o positivismo e o escolanovismo, mas 
também estavam presentes os ideais católicos e o anarquismo.
Durante o período, de forma geral, houve uma redução de 
conteúdos e de tempo das disciplinas de humanidades e ciências 
sociais em benefício das de matemática e ciências. No Ensino Superior 
mantiveram-se as mesmas características do período anterior, com 
disciplinas isoladas, fragmentadas e direcionadas para a formação 
profissional. Por último, vale ressaltar que os cursos técnicos 
permaneceram na marginalidade, destinados apenas aos grupos 
excluídos, como os cegos, surdos-mudos e menores abandonados.
Esse quadro acaba por promover, na década de 20, um novo 
debate sobre o papel da educação na formação das elites, gerando 
uma revisão sistemática dos modelos educacionais e a consequente 
valorização dos níveis primário e secundário de ensino enquanto 
oportunidades de formação democrática. As escolas foram novamente 
analisadas e este trabalho resultou na consolidação de um projeto 
educacional atento à extensão (onde toda a população pudesse 
frequentar), articulação (onde os cursos sequenciais seriam articulados para 
promover uma constante formação) e adaptação ao meio (onde a escola se 
estruturaria conforme o ambiente onde se encontra).
O professor e sociólogo brasileiro Fernando Azevedo, grande representante 
desta revisão, pregava que a escola deveria ser única, ou seja, que deveria 
representar o princípio igualitário da sociedade, congregando todas as classes e 
oferecendo uma base comum única, gratuita e obrigatória. Para Azevedo, a escola 
também deveria se basear na organização do trabalho, promovendo um ensino 
que tivesse por meta a formação profissional. Por último, a intenção era aproximar 
a escola da comunidade, fomentando a cooperação entre as pessoas, com a 
promoção de um espírito coletivo. Para viabilizar essa mudança, os professores 
foram incentivados a mudar suas práticas através do oferecimento de bibliotecas, 
premiações e intercâmbios. 
Diante da 
fragmentação 
organizativa 
e da falta de 
uma orientação 
nacional, surgiram 
diversas propostas 
de reforma, que 
eram calcadas em 
diferentes ideais. Os 
principais embates 
se deram entre 
o positivismo e o 
escolanovismo, mas 
também estavam 
presentes os 
ideais católicos e o 
anarquismo.
51
A Educação no Brasil Capítulo 2 
Para saber mais sobre a educação na Primeira República, 
acesse: <http://www.virtual.ufc.br/solar/aula_link/llpt/A_a_H/estrutura_
politica_gestao_organizacional/aula_01/04.html>.
 A ideia da Escola Nova era desenvolver um trabalho com base na iniciativa 
do aluno, valorizando as suas tendências espontâneas. Assim, os professores 
teriam a função de orientá-los, oferecendo métodos e programas adaptáveis para 
cada situação, favorecendo a prática do cooperativismo e da produção criativa e 
crítica. Segundo Anísio Teixeira (1989, p. 435): 
Não pode ser uma escola de tempo parcial, nem uma escola 
somente de letras, nem uma escola de iniciação intelectual, 
mas uma escola sobretudo prática, de iniciação ao trabalho, 
de formação de hábitos de pensar, hábitos de fazer, hábitos de 
trabalhar e hábitos de conviver e participar em uma sociedade 
democrática, cujo soberano é o próprio cidadão.
Atividade de Estudos:
1) A Primeira República foi um momento marcado pelos movimentos 
sociais, que acabaram estimulando uma série de transformações, 
entre elas a da própria escola. 
- Apresente algumas das mudanças legais promovidas no período, 
comentando seu impacto sobre a democratização do ensino.
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52
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
A Educação na Revolução de 30: a 
Escola Nova
A Revolução de 1930 exerceu um papel fundamental na instituição de um 
sistema articulado de ensino para o país. Uma de suas primeiras ações para a 
educação, por exemplo, foi a criação do Ministério da Educação e das Secretarias 
Estaduais de Educação, com o objetivo principal de ampliar a participação federal 
no desenvolvimento da educação, estabelecendo instrumentos para a articulação 
e integração dos sistemas escolares antes isolados e fragmentados, além de criar 
uma rede de cooperação entre a União e os estados. 
Para John Dewey, a escola não pode ser uma preparação para 
a vida, mas sim, a própria vida. Assim, a educação tem como eixo 
norteador a vida-experiência e aprendizagem, fazendo com que a 
função da escola seja a de propiciar uma reconstrução permanente 
da experiência e da aprendizagem dentro de sua vida. Então, para 
ele, a educação teria uma função democratizadora de igualar as 
oportunidades. De acordo com o ideário da Escola Nova, quando 
falamos de direitos iguais perante a lei, devemos estar falando de 
direitos de oportunidades iguais perante a lei.
A Constituição de 1934, desta forma, apresentou os primeiros 
passos para tal empreendimento, incumbindo ao Governo Federal a 
função de integrar e planejar a educação brasileira através de um plano 
nacional de educação, o qual caberia também a ele fiscalizar (art. 150). 
Também ficou determinado que o Governo Federal passaria a ter a 
função de normatizar a educação nacional em todos os seus níveis (art. 
5). Quanto aos Estados deficitários, caberia também à União a tarefa 
de suplementação tanto técnica quanto financeira (art.150). 
Essas atribuições, apesar de constituírem um campo unívocopara 
a educação em todo o território nacional, promoveram a centralização 
do setor, instituindo um cenário de dependência administrativa, 
cujo resultado foi a organização de inúmeros departamentos, leis e 
portarias, engessamento das práticas escolares, burocracia e, muitas 
vezes, estagnação. Todo esse aparato institucional acabava, muitas 
vezes, deixando de lado o maior princípio da educação escolar: a 
formação humana.
Sobre essa crise, estabelecida desde os primórdios da educação 
brasileira, foi realizada uma Conferência em 1931 pela Associação 
Brasileira de Educação. Participaram do encontro grandes nomes, 
Para John Dewey, 
a escola não pode 
ser uma preparação 
para a vida, mas 
sim, a própria 
vida. Assim, a 
educação tem como 
eixo norteador a 
vida-experiência 
e aprendizagem, 
fazendo com que 
a função da escola 
seja a de propiciar 
uma reconstrução 
permanente da 
experiência e da 
aprendizagem 
dentro de sua 
vida. Então, para 
ele, a educação 
teria uma função 
democratizadora 
de igualar as 
oportunidades. 
De acordo com o 
ideário da Escola 
Nova, quando 
falamos de direitos 
iguais perante a 
lei, devemos estar 
falando de direitos 
de oportunidades 
iguais perante a lei.
53
A Educação no Brasil Capítulo 2 
como Anísio Teixeira, Roquete Pinto, Cecília Meireles, Afrânio Peixoto, entre outros 
tantos educadores e escritores, que discutiram o cenário do país e estratégias 
possíveis para a sua transformação. Deste encontro surge um manifesto, que se 
tornou um marco na proposta de reconstrução da escola (Manifesto dos Pioneiros 
da Educação Nova – 1932):
Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva 
em importância e gravidade ao da educação. Nem mesmo 
os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos 
planos de reconstrução nacional. Pois, se a evolução orgânica 
do sistema cultural de um país depende de suas condições 
econômicas, é impossível desenvolver as forças econômicas 
ou de produção, sem o preparo intensivo das forças culturais 
e o desenvolvimento das aptidões à invenção e à iniciativa 
que são os fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de 
uma sociedade. No entanto, se depois de 43 anos de regime 
republicano, se der um balanço ao estado atual da educação 
pública, no Brasil, se verificará que, dissociadas sempre as 
reformas econômicas e educacionais, que era indispensável 
entrelaçar e encadear, dirigindo-as no mesmo sentido, todos 
os nossos esforços, sem unidade de plano e sem espírito 
de continuidade, não lograram ainda criar um sistema de 
organização escolar, à altura das necessidades modernas e 
das necessidades do país. Tudo fragmentário e desarticulado. 
A situação atual, criada pela sucessão periódica de reformas 
parciais e frequentemente arbitrárias, lançadas sem solidez 
econômica e sem uma visão global do problema, em todos 
os seus aspectos, nos deixa antes a impressão desoladora 
de construções isoladas, algumas já em ruína, outras 
abandonadas em seus alicerces, e as melhores, ainda não em 
termos de serem despojadas de seus andaimes... (Disponível 
em: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/22e/
doc1_22e.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2017.). 
Acesse o Manifesto completo em: <http://www.histedbr.
fe.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/5_Gov_Vargas/o%20
manifesto%20dos%20pioneiros%20da%20educa%E7%E3o%20
nova.htm>.
De maneira geral, o Manifesto apresenta a concepção de que a educação 
é vista como instrumento fundamental para a reconstrução democrática do 
país, com a integração dos diversos grupos sociais; a educação deve constituir-
se enquanto pública, obrigatória, gratuita e laica, exercendo sua tarefa sem 
qualquer tipo de discriminação racial, étnica, religiosa ou social; a educação 
54
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
deve ser alinhada em seus diversos níveis, concebendo as diversas fases 
do desenvolvimento humano; a educação deve se estruturar com base nos 
interesses dos alunos, com currículos funcionais; e para o exercício da docência 
será impreterível a formação superior. 
Para promover tais mudanças, o Governo Federal estabeleceu uma série de 
reformas no ensino secundário (é interessante destacar que esse nível era até 
então destinado às elites e foi o primeiro a receber mudanças, sendo os demais 
alvo de algumas reformas somente uma década depois). De qualquer maneira, a 
reforma do ensino secundário passa a ter a finalidade não apenas de preparar os 
estudantes para o Ensino Superior, mas também a formação geral do indivíduo 
para a vida em sociedade. O ensino secundário passou a ter duração de sete anos 
e dividir-se, então, em duas etapas: uma de cinco anos, considerada fundamental, 
e outra de mais dois anos, considerada complementar. Essa divisão oferecia, 
na base fundamental, uma formação geral para todos e, na base complementar, 
uma preparação exclusiva para aqueles que pretendiam o ingresso nos cursos 
superiores. Assim, com vistas na função complementar do ensino, os conteúdos 
de humanidades novamente foram retidos em benefício daqueles ligados às 
ciências e matemática. Todas essas transformações do ensino secundário foram 
organizadas e normatizadas pelo Governo Federal através do Decreto nº 19.890, 
de 18 de abril de 1931.
Quanto ao Ensino Superior, estabeleceram-se uma série de mudanças que 
foram projetadas através do chamado Estatuto das Universidades (Decreto nº 
19.851, de 14 de abril de 1931). A intenção principal dessas mudanças era o fim 
das escolas superiores isoladas de caráter profissional, até então em atividade no 
país. As transformações mais significativas deste projeto foram a criação de um 
sistema universitário mais livre, aberto à pesquisa, unificado e integrado em suas 
múltiplas redes de conhecimento, autônomo e livre para o pensar e o produzir. 
Estas bases legais assentaram-se junto aos anseios dos intelectuais brasileiros 
que há muito desejavam a criação de universidades no país, afinal, o Brasil e 
o Paraguai eram os dois únicos países onde até então não existia esse tipo de 
instituição. Assim, em 25 de janeiro de 1934 é que é fundada a Universidade de 
São Paulo (USP), a primeira do país, cujo principal papel foi abrir o campo para 
todas as demais, que aos poucos estabeleceram um novo modelo de Ensino 
Superior, mais popular e democrático.
55
A Educação no Brasil Capítulo 2 
Atividade de Estudos:
1) Sobre a formação da USP em 1934, declarou Sérgio Milliet: 
“De São Paulo não sairão mais guerras civis anárquicas, e sim 
‘uma revolução intelectual e científica’ suscetível de mudar as 
concepções econômicas e sociais dos brasileiros”.
Sobre essa base, o lema da Universidade de São Paulo 
passou a ser: Scientia Vinces, ou Vencerás pela Ciência. Como 
você percebe essa perspectiva diante de um sistema educacional 
que sempre privilegiou as elites (recorde que as mudanças 
realizadas neste período foram exatamente nos níveis que 
atendiam esse grupo social)?
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O Estado Novo
No dia 30 de setembro de 1937, o General Góes Monteiro, chefe do Estado-
Maior do Exército brasileiro, noticiou através do programa de rádio Hora do Brasil 
que foi descoberto um plano, que teria sido arquitetado pelo Partido Comunista 
Brasileiro e por organizações internacionais, para derrubar o então presidente 
Getúlio Vargas e assassinar centenas de políticos brasileiros. O plano, chamado 
de Cohen, anunciava uma insurreição armada, com a agitação de operários e 
estudantes, a libertação de presos políticos, o incêndio de casas e prédios 
públicos, manifestações populares que terminariam em saques e depredações – 
é interessante destacarque mais tarde foi descoberto que o golpe não passou de 
um artifício impetrado por um capitão do Exército, partidário do Integralismo, que 
era contra a democracia. 
56
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Estado Novo: Sistema político de caráter ditatorial que foi 
implantado no país, na pessoa do Presidente Getúlio Vargas, a 
partir de 10 de novembro de 1937. Através da cadeia de estações 
rádio-difusoras, Getúlio anunciou a implantação do Estado Novo, 
instituindo um período de despotismo que duraria até 29 de outubro 
do ano de 1945.
Para saber mais sobre o Estado Novo, acesse: <https://www.
youtube.com/watch?v=PWfNaRP71cU>.
Diante de tal ameaça, Getúlio Vargas solicitou ao Congresso Nacional a 
decretação do Estado de Guerra, que foi logo concedido. Assim, utilizando dos 
poderes atribuídos pelo instrumento, Vargas deu início a uma grande perseguição 
aos comunistas e opositores políticos, instaurando no dia 10 de novembro de 1937 
a ditadura do Estado Novo. Algumas semanas mais tarde o Exército cercou o 
Congresso Nacional e Vargas anunciou uma nova Constituição, centralizando todo 
o poder em suas mãos. A nova legislação também permitia que Vargas expedisse 
leis e decretos, dissolvesse o Congresso Nacional, nomeasse interventores para 
os Estados, extinguisse os partidos políticos, abolisse a liberdade de imprensa 
(censura), estabelecesse a pena de morte e prorrogasse o seu mandato até a 
realização de um plebiscito, que nunca foi realizado. 
Os impactos do Estado Novo na educação se deram já com a retirada da 
obrigação de oferta de educação pública, o que foi substituído, no artigo 129 
da Constituição Federal, pela garantia de ensino em instituições públicas às 
crianças e adolescentes que não tiverem recursos para acessá-lo em instituições 
particulares – o artigo 130, por exemplo, previa uma contribuição mensal para 
as escolas por parte daqueles que não pudessem provar escassez de recursos. 
Outro aspecto importante estabelecido pela Constituição de 1937 foi a oferta de 
ensino pré-vocacional e profissional destinado às classes menos favorecidas 
como primeiro dever do Estado. 
57
A Educação no Brasil Capítulo 2 
Sobre a integração dos sistemas escolares iniciada a partir da Revolução de 
30, o governo do Estado Novo continuou o processo, com a manutenção de uma 
legislação única, válida para todos os Estados. Assim foi que a reforma do ensino 
secundário acabou regulamentando o ensino técnico industrial, comercial e 
agrícola, o ensino normal e o ensino primário, com uma centralização nunca antes 
vista, com normas rígidas e detalhadamente elaboradas, incluindo currículos e 
programas únicos que não levavam a regionalização em consideração.
O ensino secundário, por exemplo, foi reformado através da Lei nº 4.244, de 
9 de abril de 1942, que determinava que seus objetivos deveriam ser: 1. Formar 
a personalidade integral dos educandos; 2. Acentuar e elevar a consciência 
patriótica e humanística; 3. Preparar os educandos intelectualmente para os graus 
mais elevados de formação. Resumidamente, portanto, tais objetivos tinham 
como meta a formação de homens portadores das concepções e atitudes que 
eram almejadas para as massas.
A estrutura do ensino secundário, por sua vez, permaneceu dividida em dois 
níveis (ginasial e colegial). O nível ginasial, com quatro anos de duração, era 
considerado preparatório, enquanto o nível colegial, com três anos de duração, 
perdeu seu caráter de preparação para os cursos superiores, voltando-se à 
formação geral, com ensino de línguas (português, latim, francês, inglês), história, 
matemática, física, química, ciências, estudos sociais, geografia, filosofia, entre 
outras disciplinas. 
O ensino técnico-profissional, mesmo tendo sido estabelecido como o 
primeiro dever do Estado, continuou como uma alternativa modesta ao ensino 
secundário, ainda visto como caminho para o ingresso das classes mais elevadas 
ao Ensino Superior. Os estudantes, por exemplo, que completassem o curso 
técnico-profissional não poderiam entrar na Universidade sem antes completar 
seus estudos secundários. Essa constatação deixava claro que esse tipo de curso 
era utilitário e servia apenas para as classes menos favorecidas. De qualquer 
maneira, a partir da década de 40 é que o ensino técnico-profissional passa a 
receber uma legislação própria com os decretos nº 4.073, de 30 de janeiro de 
1942 (ensino técnico industrial), nº 6.141, de 28 de dezembro de 1943 (ensino 
técnico comercial) e nº 9.613, de 28 de agosto de 1943 (ensino técnico agrícola). 
Neste mesmo período foi criado, pelo Decreto nº 4.048, de 22 de janeiro de 1942, 
o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e, pelo Decreto nº 8.621, 
de 10 de 1946, o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), cujo 
trabalho atendia aos interesses do trabalhador, realizando sua aprendizagem 
profissional e formação humana; das empresas, que nutriam suas necessidades 
formativas de mão de obra qualificada; e do país, que mantinha em movimento a 
economia e a cultura. 
58
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
O ensino primário, normatizado pelo Decreto nº 8.529, de 2 de janeiro de 1946, 
enfim regulamentado pela primeira vez desde a Constituição de 1827, passou a 
objetivar a iniciação cultural, a formação e desenvolvimento da personalidade e 
a elevação do nível dos conhecimentos necessários à vida na família, à defesa 
da saúde e à iniciação no trabalho (art. 1). Sua estrutura era dividida em duas 
modalidades: 1. O ensino primário fundamental, destinado às crianças de até 12 
anos, com duração de cinco anos; 2. O ensino primário supletivo, destinado aos 
adolescentes e adultos em distorção idade-série.
Já o ensino normal, normatizado pelo Decreto nº 8.530, de 2 de janeiro de 
1946, passou a ter como objetivos a formação de professores e administradores 
para as escolas primárias, além de desenvolver e propagar conhecimentos 
e técnicas sobre a educação da infância. Da mesma forma que os demais, o 
ensino normal também se dividia em dois ciclos: O primeiro, com quatro anos de 
duração, tinha como meta a formação de regentes para o ensino primário (espécie 
de auxiliar de sala); e o segundo, de três anos, cujo objetivo era a formação de 
professores para o ensino primário.
Atividade de Estudos:
1) Durante o Estado Novo o Brasil viveu uma forte intervenção 
estatal, que determinava os rumos de cada um dos ramos da 
sociedade, entre eles o da própria educação. Neste sentido, a 
escola passou a ocupar um lugar importante no projeto que vinha 
se delineando em relação à formação das pessoas. 
A partir do que você estudou nesta seção, escreva a sua 
visão sobre esse período em relação à educação.
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A Educação no Brasil Capítulo 2 
A Educação Durante a República 
Populista
Entre os anos de 1945 e 1964 iremos acompanhar um período de 
redemocratização do país, com a promulgação da Constituição de 1946, que permitiu 
a realização de eleições diretas, o retorno dos partidos políticos e a participação 
dos diversos setores da sociedade na política. Obviamente que havia ainda muitas 
restrições nesse período, afinal, analfabetos não podiam votar, permaneciam as 
desigualdades na distribuição de renda e propriedades, entre outros.
De qualquer forma, a redemocratização recolocou o direito de todos à 
educação, sendo oferecida de forma gratuita e obrigatória até o nível primário. 
Também foi restabelecida a função do poder público na oferta da educação, embora 
as iniciativas particulares permanecessem autorizadas a continuar a atuar no ramo. 
Apesar das mudançasconstitucionais promovidas no campo do direito 
educacional, a legislação herdada do Estado Novo permaneceu em vigor até 1961, 
quando foi lançada a primeira versão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional – a LDB. O que se assistiu neste período foi uma série de campanhas 
(Campanha de Erradicação do Analfabetismo, de Aperfeiçoamento e Difusão 
do Ensino Secundário, de Material de Ensino, de Merenda Escolar etc.), que 
resultaram na ampliação e melhoria do atendimento escolar e, consequentemente, 
também no aumento do número de matrículas escolares. 
Com as mudanças projetadas a partir deste novo momento, estabeleceu-
se uma articulação entre os níveis de ensino, que seriam acessados mediante 
exames, como é o caso das universidades, que passaram a exigir exames 
vestibulares para os alunos do 2º grau. Da mesma forma, a passagem do 1º para 
o 2º grau se daria através de exames de conhecimentos. Somente em 1971 foi 
suprimido o exame para acesso ao ginásio, com a fusão dos níveis primário e 
ginasial num único nível de ensino, chamado de 1º grau (o interessante é que 
essa divisão persiste até hoje, com o primário sendo confundido com as séries 
iniciais, em que apenas um professor leciona praticamente todas as disciplinas 
da grade curricular; e o ginásio com o Ensino Fundamental, aquele a partir da 5ª 
série, em que há grande ruptura estrutural, com inclusão de grande número de 
disciplinas e professores).
60
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Outra grande novidade que a Lei nº 1.706, de 31 de março de 1950, trouxe 
foi a concepção de equivalência, perante a qual o ensino técnico passou a ter o 
mesmo valor do secundário, desde que fossem prestados exames de adaptação. 
Mais tarde, através da Lei nº 1.821, de 12 de março de 1953, os alunos do 
ensino técnico também tiveram possibilidade de acesso ao nível superior, com 
a prestação de exames que incluíam, contraditoriamente, disciplinas que não 
compunham o currículo destes cursos. A equivalência plena se daria somente 
com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 4.024, de 20 de 
dezembro de 1961, quando foi finalmente dissolvida qualquer diferença entre o 
ensino técnico e o normal – a partir de então os alunos das duas modalidades 
teriam as mesmas oportunidades e direitos.
Essas mudanças fizeram parte da nova LDB, Lei nº 4.024, de 20 de dezembro 
de 1961, que estabeleceu as diretrizes e bases da educação brasileira em todos os 
seus níveis de ensino. Os debates travados calorosamente em torno da constituição 
dessa lei deixaram em evidência a existência de dois grupos, a saber, dos que de-
fendiam a escola pública e aqueles que defendiam a escola privada. De qualquer 
forma, os fins estabelecidos pela LDB de 1961 podem ser resumidos nos seguintes 
princípios (art. 1): 
• A compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, 
do Estado, da família e dos demais grupos que compõem a comunidade;
• O respeito à dignidade e às liberdades fundamentais do homem;
• O fortalecimento da unidade nacional e da solidariedade internacional;
• O desenvolvimento integral da personalidade humana e sua participação 
na obra do bem comum;
• O preparo do indivíduo e da sociedade para o domínio dos recursos 
científicos e tecnológicos que lhe permitam utilizar as possibilidades e 
vencer as dificuldades do meio;
• A preservação e expansão do patrimônio cultural;
• A condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de convicção 
filosófica, política ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de 
classe ou de raça. 
Para conhecer a LDB de 1961 na íntegra, acesse: <http://www.
planalto.gov.br/CCivil_03/LEIS/L4024.htm>.
61
A Educação no Brasil Capítulo 2 
A mesma LDB coloca os seguintes objetivos para cada um dos níveis de ensino:
• Ensino primário: “desenvolvimento do raciocínio e das atividades de 
expressão da criança, e a sua integração no meio físico e social” (art. 25);
• Ensino Médio: “em prosseguimento à ministrada na escola primária, 
destina-se à formação do adolescente” (art. 33);
• Ensino Superior: “tem por objetivo a pesquisa, o desenvolvimento 
das ciências, letras e artes, e a formação de profissionais de nível 
universitário” (art. 66).
As novas diretrizes também acabaram por flexibilizar o currículo 
escolar, que deixou de ser padronizado, segundo os interesses e 
preferências de cada unidade de ensino. Assim, foi organizada uma 
base curricular composta por uma unidade nacional (constituída por 
disciplinas obrigatórias em todo o país, como português, história, 
geografia, matemática, etc.), uma unidade regional (composta por 
disciplinas obrigatórias, estabelecidas por cada Estado) e uma unidade 
local (composta por disciplinas escolhidas pelas próprias escolas).
Freire condenava o ensino oferecido pela ampla maioria das 
escolas, que ele qualificou de educação bancária. Nela o professor 
age como quem deposita conhecimento num aluno, como uma 
doação. Trata-se, portanto, de uma escola alienante: “Sua tônica 
fundamentalmente reside em matar nos educandos a curiosidade, o 
espírito investigador, a criatividade", escreveu Paulo Freire. Enquanto a 
escola conservadora procura acomodar os alunos ao mundo existente, 
a educação que defendia tinha a intenção de inquietá-los.
Uma das grandes bandeiras deste período foi a defesa da 
escola pública. Se você se recorda, nas seções anteriores acabamos 
constatando a prevalência das instituições privadas de ensino, bem 
como a configuração do ensino secundário como um privilégio das 
elites. Assim, em consonância com o preceito constitucional que 
garantia educação como direito de todos, houve uma intensa luta pelo 
aumento do número de escolas públicas pelo país, bem como pela sua 
qualidade. Esse movimento, nutrido pela nova LDB de 1961, também 
acabou motivando uma série de outras mobilizações em torno da 
educação popular. Deste modo, podemos citar o Movimento de Educação de Base 
(MEB), que foi um importante programa de alfabetização, ligado à Conferência 
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em parceria com o Ministério da Educação 
(MEC), tendo como fundamento a proposta de instalação de escolas radiofônicas 
Freire condenava 
o ensino oferecido 
pela ampla maioria 
das escolas, que 
ele qualificou de 
educação bancária. 
Nela o professor age 
como quem deposita 
conhecimento num 
aluno, como uma 
doação. Trata-se, 
portanto, de uma 
escola alienante: 
“Sua tônica 
fundamentalmente 
reside em matar 
nos educandos 
a curiosidade, o 
espírito investigador, 
a criatividade”, 
escreveu Paulo 
Freire. Enquanto a 
escola conservadora 
procura acomodar 
os alunos ao 
mundo existente, 
a educação que 
defendia tinha a 
intenção de inquietá-
los.
62
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
em todo o território brasileiro, mas principalmente na região Nordeste. Também 
podemos citar a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), 
que, a partir de 1941, estabeleceu um excelente papel em torno da alfabetização 
em unidades de ensino, que recebiam financiamento governamental para 
desenvolver tais atividades – é interessante destacar também que a CEAA foi a 
primeira iniciativa governamental em favor da educação de jovens e adultos no 
Brasil. Ainda outra importante campanha do movimento popular foi o Programa 
Nacional de Alfabetização, que, a partir de 1963, criou uma rede com diversas 
instituições, agremiações e organizações em vista da alfabetização de adultos 
com base no sistema freireano. 
Atividade de Estudos:
1) Paulo Freire, em sua Terceira Carta Pedagógica, escreveu: 
“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, 
tampouco, a sociedade muda” (FREIRE, 2000, p. 67). Assim, 
resume-se o movimento organizado em torno da LDB de 1961, 
que redemocratizou o ensino, trazendo conceitos cada vez mais 
atinados com os movimentos populares. 
Que tal agora você pesquisar um pouco mais sobre Paulo 
Freire, grande representante deste viés, e descrever um pouco 
do seu trabalho?____________________________________________________
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A Educação no Brasil Capítulo 2 
A Educação no Período da Ditadura 
(1964-1985)
As conquistas populares obtidas nos últimos anos acabaram sendo freadas 
através do regime militar, que se instaurou no país em 1964 com a deposição do 
então presidente João Goulart. Consolidou-se um momento na história do país em 
que muitos políticos e pensadores acabaram sendo perseguidos e exilados. O povo 
encontrou-se impossibilitado de escolher seus representantes. Na economia houve 
grande concentração da riqueza e da propriedade, com aumento expressivo de 
preços. Com a situação cada dia mais difícil, o êxodo rural provocou grande inchaço 
nas cidades, causando ainda mais problemas sociais, como a falta de trabalho, 
de moradia, crescimento das favelas, aumento na mortalidade, doenças, fome e 
pobreza. Já as multinacionais expandiram seu alcance na economia nacional e a 
dívida externa multiplicou-se, acentuando ainda mais os problemas do país.
Na educação o impacto também foi desastroso, afinal, inúmeras escolas 
foram invadidas pela polícia, sendo seus estudantes e professores presos, 
torturados e muitas vezes também exilados. Da mesma forma, instalou-se 
uma vigilância nas escolas e universidades, através de agentes infiltrados, que 
tinham a função de avaliar o funcionamento e as práticas destas instituições com 
relação às diretrizes impostas pelo novo sistema. Para exemplificar 
essa perseguição podemos citar a Lei nº 4.464, de 9 de novembro de 
1964, que tinha como objetivo extinguir os movimentos estudantis, 
transformando-os em entidades diretamente vinculadas ao Ministério da 
Educação. Na prática, os estudantes não podiam se reunir, nem discutir 
seus problemas – embora continuassem a fazê-lo clandestinamente, 
o que repercutiu em diversos episódios em que dezenas de alunos 
acabaram presos (em outubro de 1968, por exemplo, foi organizado 
o XXX Congresso da União Nacional dos Estudantes, órgão já extinto 
pela ditadura, ocasião em que 900 estudantes acabaram presos).
Foram 21 anos de regime ditatorial no país, que significaram um 
período de muitos conflitos, violência e resistência. Muitos líderes 
estudantis foram presos, universidades foram invadidas e controladas, 
a União Nacional de Estudantes foi sufocada. Boa parte da população 
que viveu esse tempo conheceu formas muito específicas de dor e 
silêncio que, no contexto do regime, tiveram uma conotação de coerção 
e medo (ROSA, 2006, p. 37).
Assim, acirrando a perseguição política, foi instituído em 13 de 
dezembro de 1968 ao Ato Institucional nº 05, que dava plenos poderes 
ao presidente para, por exemplo, fechar o Congresso Nacional, cassar 
Foram 21 anos de 
regime ditatorial 
no país, que 
significaram um 
período de muitos 
conflitos, violência e 
resistência. Muitos 
líderes estudantis 
foram presos, 
universidades 
foram invadidas 
e controladas, a 
União Nacional 
de Estudantes foi 
sufocada. Boa parte 
da população que 
viveu esse tempo 
conheceu formas 
muito específicas 
de dor e silêncio 
que, no contexto 
do regime, tiveram 
uma conotação de 
coerção e medo 
(ROSA, 2006, p. 37).
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 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
mandatos, entre outros. Da mesma forma foi instituído o Decreto nº 477, em 26 de 
fevereiro de 1967, com o objetivo de definir infrações disciplinares praticadas por 
professores, alunos, funcionários ou empregados de estabelecimentos de ensino 
público ou particulares, dando providências (BRASIL, 1967):
Art 1º Comete infração disciplinar o professor, aluno, funcionário 
ou empregado de estabelecimento de ensino público ou 
particular que:
I - Alicie ou incite à deflagração de movimento que tenha por 
finalidade a paralisação de atividade escolar ou participe nesse 
movimento;
II - Atente contra pessoas ou bens tanto em prédio ou 
instalações, de qualquer natureza, dentro de estabelecimentos 
de ensino, como fora dele;
III - Pratique atos destinados à organização de movimentos 
subversivos, passeatas, desfiles ou comícios não autorizados, 
ou dele participe;
IV - Conduza ou realize, confeccione, imprima, tenha em 
depósito, distribua material subversivo de qualquer natureza;
V - Sequestre ou mantenha em cárcere privado diretor, 
membro de corpo docente, funcionário ou empregado de 
estabelecimento de ensino, agente de autoridade ou aluno;
VI - Use dependência ou recinto escolar para fins de subversão 
ou para praticar ato contrário à moral ou à ordem pública.
§ 1º As infrações definidas neste artigo serão punidas:
I - Se se tratar de membro do corpo docente, funcionário 
ou empregado de estabelecimento de ensino com pena de 
demissão ou dispensa, e a proibição de ser nomeado, admitido 
ou contratado por qualquer outro da mesma natureza, pelo 
prazo de cinco (5) anos;
II - Se se tratar de aluno, com a pena de desligamento, e a 
proibição de se matricular em qualquer outro estabelecimento 
de ensino pelo prazo de três (3) anos.
§ 2º Se o infrator for beneficiário de bolsa de estudo ou perceber 
qualquer ajuda do Poder Público, perdê-la-á, e não poderá 
gozar de nenhum desses benefícios pelo prazo de cinco (5) 
anos.
§ 3º Se se tratar de bolsista estrangeiro será solicitada a sua 
imediata retirada de território nacional.
Art 2º A apuração das infrações a que se refere este Decreto-lei 
far-se-á mediante processo sumário a ser concluído no prazo, 
improrrogável, de vinte dias.
Parágrafo único. Havendo suspeita de prática de crime, o 
dirigente do estabelecimento de ensino providenciará, desde 
logo, a instauração de inquérito policial.
Art 3º O processo sumário será realizado por um funcionário ou 
empregado do estabelecimento de ensino, designado por seu 
dirigente, que procederá às diligências convenientes e citará 
o infrator para, no prazo de quarenta e oito horas, apresentar 
defesa. Se houver mais de um infrator o prazo será comum e 
de noventa e seis horas.
§ 1º O indiciado será suspenso até o julgamento, de seu cargo, 
função ou emprego, ou, se for estudante, proibido de frequentar 
as aulas, se o requerer o encarregado do processo.
65
A Educação no Brasil Capítulo 2 
§ 2º Se o infrator residir em local ignorado, ocultar-se para 
não receber a citação, ou citado, não se defender, ser-lhe-á 
designado defensor para apresentar a defesa.
§ 3º Apresentada a defesa, o encarregado do processo elaborará 
relatório dentro de quarenta e oito horas, especificados a 
infração cometida, o autor e as razões de seu convencimento.
§ 4º Recebido o processo, o dirigente do estabelecimento 
proferirá decisão fundamentada, dentro de quarenta e oito 
horas, sob pena do crime definido no Art. 319 do Código Penal, 
além da sanção cominada no Item I do § 1º do Art. 1º deste 
Decreto-lei.
§ 5º Quando a infração estiver capitulada na Lei Penal, será 
remetida cópia dos autos à autoridade competente.
Art 4º Comprovada a existência de dano patrimonial no 
estabelecimento de ensino, o infrator ficará obrigado a ressarci-
lo, independentemente das sanções disciplinares e criminais 
que, no caso, couberem.
Para organizar o ensino de 1º e 2º graus conforme os moldes do sistema 
ditatorial e empresarial brasileiro foi elaborada a Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional, Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, sendo reformulada em 
seguida pela Lei nº 7.044, de 1982. Esta Lei, em seu primeiro artigo, estabelecia 
como objetivo destes níveis de ensino “proporcionar aos educandos a formação 
necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de 
autorrealização, preparação para o trabalho, e para o exercício consciente da 
cidadania”. No âmbito estrutural, essa reforma modificouo antigo curso primário 
e ginasial, que acabaram unificados no chamado 1º grau, com duração de oito 
anos, destinado à educação geral. O ensino técnico também foi extinto com essa 
reforma e o 2º grau passou a apresentar um viés profissionalizante – desta forma, 
o aluno poderia obter um diploma de auxiliar técnico, se cursasse três anos do 
Ensino Médio, ou de técnico, se cursasse quatro anos. Foram criadas mais de 
200 habilitações profissionais para o 2º grau e o ingresso para o Ensino Superior 
passou a ser definido através da apresentação de documento de conclusão de 
estudos do 2º grau e classificação em concurso vestibular. O grande problema 
desta proposta foi a falta de condições para a oferta do ensino profissional nas 
escolas do país, o que gerou um verdadeiro caos na educação, sendo revisto 
somente em 1982, com a Lei nº 7.044, que vai alterar a Lei 5.692 no que se refere 
à profissionalização do ensino de 2º grau, possibilitando às escolas escolherem 
se ofereciam ou não as habilitações profissionais aos seus estudantes. 
Sobre o currículo da educação, foram incluídas disciplinas como 
Comunicação e Expressão, Estudos Sociais, Organização Social e Política 
do Brasil, entre outras, que acabaram prejudicando a liberdade dos sistemas 
estaduais e das escolas em introduzir outras disciplinas, mais convenientes às 
suas realidades. Medidas mais extremas foram a exclusão de disciplinas como 
Filosofia, Sociologia e Psicologia do currículo do 2º grau, por apresentarem maior 
caráter crítico e reflexivo, ora perturbador da ordem do sistema político ditatorial 
estabelecido no país.
66
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
No Ensino Superior, por sua vez, presenciamos um movimento de retenção 
de vagas, onde alunos eram impedidos de ingressar nas universidades, embora 
tivessem obtido nota suficiente para acessá-las. Para este nível de ensino 
também foi estabelecida uma reforma, instituída através da Lei nº 5.540, de 28 
de novembro e 1968, que, de maneira geral, determinava a extinção da cátedra 
e a instituição dos departamentos e carreira universitária aberta; também foi 
estabelecida a reorganização das universidades em institutos, dedicados à 
pesquisa e ao ensino básico, e em faculdades e escolas, dedicadas à formação 
profissional; de outra maneira, a reforma previa currículos mais flexíveis, cursos 
parcelados, semestrais, com regime de créditos; foi estabelecida a introdução de 
exames vestibulares unificados; além disso, foram regulados os cursos de pós-
graduação e de curta duração. O que se criticava pela comunidade acadêmica 
da época, porém, não era exatamente as ações acima mencionadas, mas 
a intensificação da burocracia e da centralização sobre a universidade, pois 
desejava-se uma instituição crítica, livre e aberta. Um dos exemplos desse 
movimento foram os acordos de cooperação como o MEC-USAID (Ministério da 
Educação e Cultura / United States Agency International for Development), que 
previam assistência financeira e assessoria técnica junto aos órgãos, autoridades 
e instituições educacionais. O funcionamento do programa previa a reestruturação 
administrativa, planejamento e treinamento de pessoal docente e técnico, bem 
como o controle do conteúdo geral do ensino, por meio do acompanhamento, 
publicação e distribuição de livros técnicos e didáticos para todos os níveis do 
ensino brasileiro. O que predominou, portanto, em todo o período da ditadura, 
foram os interesses das minorias responsáveis pelo golpe militar de 1964, e os 
da burguesia internacional, que iriam determinar o texto legal e os efeitos práticos 
sobre a ordenação da educação brasileira.
Para saber mais sobre a educação no período da ditadura, 
acesse: <http://www.seer.ufv.br/seer/educacaoemperspectiva/index.
php/ppgeufv/article/viewFile/171/89>.
A Constituição Federal de 1967 assegurou a gratuidade e a obrigatoriedade 
do ensino em oito anos, mas retirou a vinculação constitucional de recursos com 
a justificativa de maior flexibilidade orçamentária. Na prática, o que aconteceu 
é que o corpo docente acabou sofrendo um rebaixamento dos seus salários e 
a duplicação ou triplicação da sua jornada de trabalho. A Constituição de 1967 
também manteve a estrutura organizacional básica da educação nacional, 
67
A Educação no Brasil Capítulo 2 
preservando dessa maneira os sistemas de ensino dos Estados; contudo, 
apresentou um fortalecimento do ensino particular, mediante previsão de meios 
de substituição do ensino oficial gratuito por bolsas de estudo; a necessidade de 
bom desempenho para garantia da gratuidade do Ensino Médio e Superior aos 
que comprovassem insuficiência de pecúnia; a limitação da liberdade acadêmica 
pelo medo subversivo; a diminuição do percentual de receitas vinculadas para a 
manutenção e desenvolvimento do ensino.
Para regular melhor aquilo que já havia sido exposto parcialmente através da 
Constituição de 1967, foi instituída a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional (LDB), Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. A LDB de 1971 tinha o 
propósito de possibilitar formação, com o objetivo de que essa formação pudesse 
concorrer para a autorrealização do educando, para sua qualificação visando o 
exercício de uma atividade profissional e para sua atuação consciente no meio 
social e político em que vive. Assim, caberia à escola prover-se de conteúdo e 
métodos que possibilitassem, além da cultura geral básica, também a educação 
para o trabalho e para o relacionamento humano. Foi organizada pela nova Lei 
a ampliação da escolaridade obrigatória de quatro para oito anos, conforme 
estrutura que conhecemos anteriormente – podemos dizer que esta foi a maior 
conquista da LDB de 1971. 
Segundo a Lei nº 5.692, de 1971, o ensino de 1º grau, obrigatório, com oito 
anos de duração e carga horária de 720 horas anuais, seria destinado à formação 
da criança e do pré-adolescente da faixa etária dos sete aos 14 anos. O ensino 
de 2º grau, com três ou quatro anos de duração e carga horária de 2.200 horas 
para os cursos de três anos, e de 2.900 horas para os quatro anos, destinado 
à formação do adolescente. A educação de jovens e adultos ficou a cargo do 
ensino supletivo, destinado a suprir a escolarização incompleta, ou a aperfeiçoar 
e atualizar conhecimentos. Já o ensino de 3º grau se estruturaria através de 
cursos de graduação, abertos à matrícula de candidatos que concluíram o ensino 
do 2º grau e que tenham sido classificados em concurso vestibular; cursos de 
pós-graduação, abertos à matrícula de candidatos diplomados em curso de 
graduação, que preencham as condições prescritas em cada caso. Os cursos 
de pós-graduação levam a: especialização e aperfeiçoamento para candidatos 
diplomados em cursos de graduação ou que apresentem títulos equivalentes; 
extensão; mestrado (curso de um a três anos); e doutorado (curso de dois a 
quatro anos). 
68
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Atividade de Estudos: 
1) O período da ditadura foi um momento marcante da história de 
nosso país, onde muitos foram perseguidos, torturados, exilados 
e mortos. Assim, lhe convidamos para tecer um comentário sobre 
os impactos da ditadura na escola, principalmente, no que diz 
respeito à censura.
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Algumas Considerações
Caro estudante, você vislumbrou no decorrer deste capítulo um pouco da 
história de nosso país, bem como da escola brasileira, com seus percalços e 
dificuldades, avanços e retrocessos. Assistimos à constituição de uma escola 
que servia inicialmente aos interesses da Igreja, mas que, com o tempo, 
foi reorganizada segundo os interesses das próprias elites,devidamente 
representadas nas estruturas políticas do país. Assistimos também como os 
movimentos sociais colaboraram para grandes transformações no regime escolar 
nacional. Por último, acabamos vendo como o período da ditadura trouxe grandes 
restrições e, em muitos aspectos, retrocessos às conquistas obtidas durante 
décadas pela educação. Vimos que, de certo modo, toda a legislação educacional 
foi organizada ao longo dos anos para justificar os modelos políticos constituídos 
e que, portanto, a cada nova organização política a escola sofria uma nova ruptura 
que lhe impunha mudanças muitas vezes profundas, fragmentando o processo 
anterior, exigindo novas posturas, novos pensamentos e novas posturas docentes. 
De certo modo, o que acabamos por constatar é que à educação escolar, a cada 
novo período, se exigiu uma nova função da escola em relação à conformação 
dos sujeitos à sociedade. Assim, vislumbramos, paralelamente, a inquietação de 
muitos pensadores que passaram a discordar desse caráter utilitarista da escola, 
culminando com uma série de movimentos e correntes ideológicas que nutriram a 
transição para o período contemporâneo da escola, que passamos a apresentar a 
partir do próximo capítulo.
69
A Educação no Brasil Capítulo 2 
Referências
BASTOS, Aurélio Wander. Coletânea da legislação educacional brasileira. Rio 
de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2000.
BRASIL. Senado Federal. Decreto-Lei nº 477/67. Brasília: 1967. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/Del0477.htm. Acesso 
em: 16 jul. 2016.
BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: n. 
4.024/61. Brasília: 1961.
CARVALHO, Laerte Ramos de. Introdução ao estudo da história da educação 
brasileira: o desenvolvimento histórico da educação brasileira e a sua 
periodização. São Paulo, 1972.
CURY, Carlos Roberto Jamil. Legislação educacional brasileira. Rio de 
Janeiro: DP&A, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros 
escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
PALMA FILHO, J. C. Pedagogia cidadã. Cadernos de Formação: História da 
Educação. São Paulo: PROGRAD/UNESP/Santa Clara Editora, 2005.
PILETTI, Nelson. História da educação no Brasil. São Paulo: Editora Ática, 
1990.
ROSA, Juliano de Melo. As vozes de um mesmo tempo: a educação física 
institucionalizada no período da ditadura militar em Cacequi. Dissertação de 
Mestrado em Educação/UFSM. Santa Maria: UFSM, 2006.
TEIXEIRA, Anísio. Educação não é privilégio. Revista Brasileira de Estudos 
Pedagógicos. Brasília, v. 70, n. 166, 1989. 
VALENTE, Nelson. Sistemas de Ensino e Legislação Educacional. São Paulo: 
Panorama, 2000.
70
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
CAPÍTULO 3
A Legislação Educacional Brasileira
Na perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Definir o contexto do direito educacional brasileiro ao longo da história.
� Possibilitar um entendimento do direito educacional e suas bases legais.
72
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
73
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
Contextualização
Você estudou, até o momento, que a educação sempre caminhou alinhada 
aos interesses das elites, expressando um movimento de justificação das 
posições herdadas ou, por assim dizer, de estagnação social. Vimos que a 
ditadura militar constituiu um período da nossa história em que foi promovido 
um verdadeiro aborto dos movimentos sociais. O país, contudo, foi marcado, 
mesmo que veladamente, por uma intensa mobilização que pedia a democracia, 
logo transfigurada em novos caminhos para a própria educação, que aqui serão 
apresentados.
Pretendemos, a partir das questões apresentadas nos capítulos anteriores, 
possibilitar a você, aluno, entender as bases epistemológicas do direito 
educacional brasileiro e sua construção histórica. 
Esperamos, enfim, que você tenha aproveitado muito a trajetória que 
escolhemos para apresentar a legislação e o direito educacional e torcemos para 
que você aproveite ainda mais este espaço de debate para conhecer melhor a 
legislação que norteia a escola contemporânea e, portanto, também o trabalho 
pedagógico que desenvolvemos nas nossas salas de aula. 
O Direito Educacional Nas 
Constituições Brasileiras
Constituição Brasileira de 1824
Conforme já apresentamos no capítulo anterior, foi no período do Império que 
encontramos a primeira Constituição brasileira, datada de 1824. Essa Constituição 
foi promulgada pelo então Imperador Dom Pedro I, num momento em que se 
comemorava a independência do país, afirmando, portanto, os princípios de um 
liberalismo moderado. O poder do imperador era diretamente justificado por essa 
legislação, que lhe outorgava grande poder de decisão sobre a vida política do país. 
De modo geral, a primeira Constituição não traz grandes novidades sobre o 
campo da educação, apresentando apenas dois parágrafos de um único artigo 
sobre a matéria, em que fica estabelecido que "a instrução primária é gratuita 
a todos os cidadãos" (art. 179, § 32), e depois outro que trata dos "colégios e 
universidades, onde serão ensinados os elementos das ciências, belas letras e 
artes" (art. 179, § 33) (BRASIL, 1824).
74
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
O que se evidencia é que havia naquele momento uma pequena preocupação 
com a educação, embora a referência à ideia de gratuidade da instrução primária 
para todos constituiu um grande passo para o país, mesmo que, na prática, não 
tenha sido cumprida – é importante ressaltar que o Brasil foi um dos primeiros 
países a inscrever em sua legislação a gratuidade da educação para todos os 
seus cidadãos. 
Constituição Brasileira de 1891
Já a Constituição de 1891 constitui-se como o produto da Primeira República, 
que fora proclamada pelos militares. Assim, os princípios da Federação inscritos 
na nova Lei buscam aumentar a autonomia das antigas províncias, ao mesmo 
tempo em que criam os três poderes, o voto direto reservado aos homens com 
mais de 21 anos (analfabetos não podiam votar) e, principalmente, a separação 
entre Estado e Igreja. Da mesma forma, em paralelo com a tessitura da Carta 
Magna de 1891, surgem anseios de um novo projeto para educação, como 
é o caso da proposta de Benjamin Constant, que aprova os Regulamentos da 
Instrução Primária e Secundária do Distrito Federal, do Ginásio Nacional e do 
Conselho de Instrução Superior. 
O que podemos perceber é a existência de um número muito maior de 
dispositivos sobre a educação na Constituição de 1891 em relação à de 1824. 
Esses dispositivos acabam por inscrever princípios que nortearão o campo da 
educação durante toda a sua história, como é o caso da laicidade, ao dispor que 
seria "leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos" (art. 72, § 6º).
A nova Constituição de 1891 define também a atribuição do Congresso 
Nacional em legislar sobre o ensino (art. 34, inciso 30), da mesma forma que "não 
privativamente: animar, no país, o desenvolvimento das letras, artes, e ciências 
[...] sem privilégios que tolham a ação dos governos locais, criar instituições 
de ensino superior e secundário nos Estados e prover a instrução primária e 
secundária no Distrito Federal" (art. 35, incisos 2º, 3º e 4º). O interessante é que 
já neste documento se estabelece o modelo federalista que rege a educação 
brasileira, em que a União assume a responsabilidade de “animar” a educação, 
que se institui como responsabilidade direta dos estados federados, que assim 
determinarão a sua natureza, número e a abrangência. 
Constituição Brasileira de 1934
A terceira Constituição brasileira, datada de 1934, expressa um momento de 
nossa história inscrito com base numa série de revoltas, que materializam seus 
anseios através da ascensão de Getúlio Vargas ao poder. 
75
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
O momento vivido neste período é de grandecontrovérsia, decorrente, 
principalmente, da crise de 1929 e da necessidade de transformações econômicas 
que garantissem o desenvolvimento do país. Assim, também para a educação foi 
um momento de grandes mudanças, com a criação do Ministério da Educação 
e com a realização de uma série de reformas do ensino superior e secundário. 
No campo ideológico presenciamos a forte influência do escolanovismo, cujo 
movimento já debatemos no capítulo anterior. 
Tais influências acabaram gerando um significativo espaço para a educação 
na Constituição de 1934 – eram 17 artigos que tratavam do ensino. De qualquer 
forma, contudo, a estrutura anterior do sistema educacional foi mantida, cabendo 
à União "traçar as diretrizes da educação nacional" (art. 5º), "fixar o plano nacional 
de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos”, “organizar 
e manter os sistemas educativos dos territórios” (art. 150), assim como exercer 
"ação supletiva na obra educativa em todo o país" (art. 150).
Ainda conforme o artigo 151 da Constituição de 1934, a organização e 
manutenção de sistemas educativos permanecem sob a responsabilidade direta 
dos próprios estados da Federação, que deverão se basear no princípio geral de 
um "ensino primário integral e gratuito e de frequência obrigatória extensivo aos 
adultos”, bem como a uma “tendência à gratuidade do ensino ulterior ao primário, 
a fim de o tornar mais acessível" (art. 150).
O texto da nova Constituição também abarca tendências conservadoras, 
favorecendo o ensino religioso "de frequência facultativa [...] nas escolas públicas 
primárias, secundárias, profissionais e normais" (art. 153). A mesma tendência 
conservadora se expressa no apoio ao ensino privado através da isenção de 
tributos a quaisquer "estabelecimentos particulares de educação gratuita primária 
ou profissional, oficialmente considerados idôneos" (art. 154). 
Um aspecto de grande relevância em torno deste item é a questão do 
financiamento da educação, já que, pela primeira vez na história do país, são 
definidas vinculações de receitas para a educação. Assim, foi definido que caberia 
à União e aos municípios aplicar "nunca menos de dez por cento e os Estados e o 
Distrito Federal nunca menos de vinte por cento, da renda resultante dos impostos 
na manutenção e no desenvolvimento do sistema educativo" (art. 156). 
Outras importantes novidades da Constituição de 1934 são a exigência de 
que as empresas com mais de 50 empregados ofertassem o ensino primário 
gratuito aos seus empregados (art. 139); a "liberdade de ensino em todos os 
graus e ramos, observadas as prescrições da legislação federal e da estadual 
e reconhecimento dos estabelecimentos particulares de ensino somente quando 
asseguradas a seus professores a estabilidade, enquanto bem servirem, e uma 
76
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
remuneração condigna" (art. 150); a oferta do ensino em língua pátria (art. 150); 
a isenção de impostos para a profissão de professor (art. 113); e a exigência de 
concurso público como forma de ingresso ao magistério oficial (art. 158).
Constituição Brasileira de 1937
A era de Vargas, correspondente a um período de grande autoritarismo, 
também foi um marco num processo mais amplo, a partir do qual foram instituídas 
as bases para a modernização do país, mas onde também foi retomada 
a centralização da educação com reformas educacionais desencadeadas 
diretamente pelo poder central. Assim, a competência da União é ampliada 
com a Constituição de 1937, de forma que lhe é facultado "fixar as bases e 
determinar os quadros da educação nacional, traçando as diretrizes a que deve 
obedecer a formação física, intelectual e moral da infância e da juventude" (art. 
15). Contraditoriamente, porém, a Constituição de 1937 determinava, através do 
artigo 128, a livre iniciativa para a oferta do ensino público e privado, reduzindo a 
responsabilidade do Estado, que passa a desempenhar uma função meramente 
compensatória na oferta escolar destinada à "infância e à juventude, a que faltarem 
os recursos necessários à educação em instituições particulares" (art. 129). Nesse 
sentido, apenas o ensino pré-vocacional e profissional destinado às classes menos 
favorecidas é compreendido como dever do Estado em matéria de educação (art. 
129). O que se estabelece, portanto, é um modelo educacional centralizado nas 
instituições particulares, sendo a oferta pública destinada exclusivamente àqueles 
que não puderem arcar com os custos desse modelo – lembremos, contudo, que 
o artigo 130 acrescenta que o caráter parcial dessa gratuidade "não exclui o dever 
de solidariedade dos menos para com os mais necessitados; assim, por ocasião 
da matrícula, será exigida aos que não alegarem, ou notoriamente não puderem 
alegar escassez de recursos, uma contribuição módica e mensal para a caixa 
escolar". O que se verificou com tal mecanismo é que a educação pública foi 
reduzida à educação dos menos favorecidos.
Você que trabalha na educação já deve ter se deparado 
com as escolas que pediam contribuições para as famílias, pois 
necessitavam dessa colaboração para manter suas atividades, 
em complementação a uma política pública ineficiente para com a 
educação. Assim, você acaba de descobrir que essa prática surgiu 
com a Constituição de 1937, mantendo-se ativa até os dias de hoje 
em muitas de nossas escolas. Como, portanto, você percebe a 
continuidade desse mecanismo de financiamento educacional diante 
de todas as mudanças que assistimos desde 1937?
77
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
Constituição Brasileira de 1946
A quinta Constituição brasileira foi promulgada em 1946, a partir de 
uma série de movimentos pós-Segunda Guerra Mundial, que viabilizaram a 
redemocratização do país e o fim da ditadura, instituída pelo Estado Novo de 
Getúlio Vargas. Assim é que se estabelece o cenário desta nova Constituição, que 
passa a se orientar por princípios liberais e democráticos, que também basearão 
diversas reformas educacionais pelo país. Vemos nesse período o surgimento de 
toda uma série de leis que regulamentam o ensino industrial, o secundário e o 
comercial, criando instituições como o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem 
Industrial) e o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial). Também 
foram organizadas nesse momento reformas voltadas para o ensino fundamental, 
normal e agrícola. Lembramos que tais movimentos estruturam o cenário que irá 
resultar na primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação, estabelecida em 1961. 
A Constituição de 1946 retrata, de modo geral, um período onde se procura 
uma convivência entre tendências antagônicas, como as conservadoras e liberais, 
revelando um momento de contradições sociais e políticas vivido no país. 
Assim, se estabelece como competência da União, no artigo 5, o poder 
de legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional. Esta Constituição 
também estabelece, a exemplo das demais, que a educação é um direito de 
todos, mas passa a relacionar esse direito com o dever do Estado em prover 
tal demanda, fixando que "o ensino dos diferentes ramos será ministrado pelos 
Poderes Públicos e é livre à iniciativa particular, respeitadas as leis que o regulem" 
(art. 167). A novidade é que o ensino posterior ao primário, considerado oficial e 
como de direito de todo cidadão desde há algumas cartas costitucionais, passa 
também a ser oferecido de forma gratuita a todos os que não puderem acessá-lo 
em redes privativas, por falta de recursos (art. 168). É interessante que esse texto 
indica a intenção de manter uma rede que fosse para a maioria, sendo o ensino 
gratuito em nível subsequente ao primário, exclusivo àqueles mais pobres.
Também a laicidade não é assegurada na Constituição de 1946, ao passo 
que o ensino religioso "constitui disciplina dos horários das escolas oficiais, e é de 
matrícula facultativa e será ministrado de acordo com a confissão religiosa do aluno, 
manifestada por ele, sefor capaz, ou pelo seu representante legal ou responsável" 
(art. 168). De qualquer forma, há um avanço com a imposição de que o ensino da 
religião seja realizado em pleno acordo com as confissões dos alunos.
Agora, um passo importante desta Constituição é o estabelecimento de 
dispositivos que tratam da vinculação de recursos para a educação. Estes 
dispositivos estabeleceram, por exemplo, que a União devia aplicar nunca 
menos de 10%, e os Estados, Municípios e Distrito Federal, nunca menos de 
78
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
20% das receitas resultantes de impostos na "manutenção e desenvolvimento do 
ensino" (art. 169). Da mesma forma, ficou definido que a União deveria prestar 
colaboração com o desenvolvimento dos sistemas de ensino, prestando ajuda 
financeira a eles através do então criado Fundo Nacional (art. 171) – hoje Fundo 
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). 
Por último, vale ressaltar que a organização da educação passa a ser de 
responsabilidade direta de cada Estado da Federação, que elaborará seu próprio 
sistema de ensino, cabendo à União apenas a tarefa de organizar um sistema 
federal de ensino, com caráter apenas supletivo, de acordo com os limites 
estabelecidos pelas deficiências locais (art. 170).
Vimos nesta seção que a Constituição de 1946 estabelece a 
criação de um Fundo Nacional de amparo à educação, que serve 
como complementação financeira às redes de educação de todo 
o país. Assim, que tal conhecer um pouco mais a amplitude desse 
fundo financiador visitando o seu sítio na internet e observando onde 
são investidos os recursos da educação no país? Acesse e conheça: 
<http://www.fnde.gov.br/>.
Constituição Brasileira de 1967
Apesar do movimento de redemocratização vivido através da Constituição 
de 1946, o país acabou novamente sendo marcado por um momento de grande 
autoritarismo, com o advento da ditadura militar. Esse momento, por outro 
lado, passou a representar um avanço com relação aos processos econômicos 
de fundo capitalista, que se expressaram com um acentuado desenvolvimento 
da urbanização e industrialização do país. A Constituição de 1967 instaura, 
neste sentido, um momento em que é expressiva a subordinação das unidades 
federadas às decisões tomadas pelo poder central na gestão pública. 
Como a Constituição de 1967 não traduz ainda o movimento autoritário 
imposto pelo regime militar dos anos seguintes, ela mantém os traços fundamentais 
das constituições anteriores, expressando interesses políticos como os ligados ao 
ensino particular. A Constituição de 1967 mantém também a competência da União 
para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (art. 8), estabelecendo 
novas funções relativas aos planos nacionais de educação (art. 8).
79
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
Os elementos que são mais expressivos nesta Constituição são ainda a 
obrigatoriedade e a gratuidade do ensino primário (art. 176), o ensino religioso, de 
matrícula facultativa, como "disciplina dos horários normais das escolas oficiais de 
grau primário e médio (art. 176). Podemos destacar também a menção ao dever 
do Estado na oferta do ensino gratuito (art. 176) e o dispositivo que determina que 
o ensino seja ministrado nos diferentes graus pelos poderes públicos (art. 176). 
Embora ambas definam que este seja livre à “iniciativa particular”, a Constituição 
de 1967 avança no tocante ao subsídio que o Estado deve oferecer ao ensino 
privado, mediante apoio técnico e financeiro, inclusive com a oferta de bolsas 
de estudo (art. 176). Também em relação ao financiamento, o dispositivo das 
constituições anteriores que exigia metas de financiamento por parte da União, 
Estados e Municípios foi excluído, sendo reintroduzido somente na década de 
oitenta através de uma Emenda Constitucional, que passou a exigir a aplicação 
por parte da União de ao menos 13% de suas receitas, por parte dos Estados e 
Municípios nunca menos de 25% (Emenda Constitucional nº 24/1983).
O que se percebe, de forma geral, é que as reformas educacionais do período 
visavam, no nível de 1º e 2º graus, conter a crescente demanda sobre o Ensino 
Superior e promover a profissionalização do nível médio, enquanto que, no nível 
superior, visavam responder à crescente demanda, oferecendo formação suficiente 
para responder aos avanços econômicos e industriais vividos no período.
Constituição Brasileira de 1988
Somente com o fim do regime militar é que assistimos à retomada dos 
anseios democráticos. Assim, em 1984, intensifica-se um movimento popular em 
vista das eleições diretas, que acabou sendo frustrado com a eleição indireta do 
presidente Tancredo Neves pelo Congresso Nacional. Alguns meses mais tarde, 
contudo, Tancredo falece e em seu lugar assume o vice, José Sarney, que segue 
o compromisso de revogar o direito autoritário instituído nas décadas anteriores. 
Deste modo, foi organizada uma Assembleia Nacional Constituinte que resultou 
na promulgação de nossa sétima e última Constituição, em 1988. 
Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida 
(Fernando Sabino).
80
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
O que é importante dizer sobre o movimento que resultou nesse documento 
é que foi fruto de um intenso debate, também no campo da educação, que 
constituiu a incorporação daqueles que historicamente foram excluídos, o que foi 
expresso nos termos da igualdade de condições para o acesso e permanência na 
escola (art. 206).
Diz o Artigo 205 da Constituição Federal de 1988: "A educação, direito 
de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a 
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, 
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho". 
Desse artigo, portanto, podemos extrair alguns conceitos básicos da educação 
na Constituição de 1988: 1. Que a educação é um direito de todos; 2. Que a 
educação é dever do Estado; 3. Que a educação é dever da família; 4. Que 
ela deve ser fomentada pela sociedade. Do mesmo modo, o Artigo 205 da 
Constituição de 1988 também deixa claro que os objetivos gerais da educação 
são o pleno desenvolvimento da pessoa, o preparo da pessoa para o exercício da 
cidadania e a qualificação da pessoa para o trabalho.
A garantia da educação como direito de todos se dá através do dever do 
Estado de ofertá-la; contudo, a família é corresponsabilizada pela tarefa de educar 
seus filhos – anteriormente, a família era responsável direta pela educação das 
crianças (Art. 149, CF 1946), mas com a Constituição Federal de 1988, a família 
passa a ser colaboradora no processo educativo, seja através da promoção ou 
do incentivo. Desta maneira, o Estado reconhece o tamanho da tarefa de formar 
os educandos e passa a permitir que a sociedade civil organizada, representada 
por associações comunitárias, entidades religiosas e organizações não 
governamentais, possa, em conjunto com ele, realizar o trabalho em comum de 
educar as crianças e jovens.
Também se constituíram como importantes conquistas desse movimento 
a educação como direito público subjetivo (art. 208), o princípio da gestão 
democrática do ensino público (art. 206), o dever do Estado em prover creche 
e pré-escola às crianças de 0 a 6 anos de idade (art. 208), a oferta de ensino 
noturno regular (art. 208), o ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive 
aos que a ele não tiveram acesso em idade própria (art. 208) e o atendimento 
educacional especializado aos portadores de deficiências (art. 208), por exemplo. 
Da mesma forma, o que vinha se fortalecendo em relação ao direito à 
educação nas constituições anteriores passa a tomar corpo com a noção de 
que a educação, enquanto direito de todos e dever do Estado e da família, seria 
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno 
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho (art. 205).81
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
A Constituição de 1988 também passa a estabelecer alguns outros princípios 
que nortearão a educação nacional (art. 206):
• Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a 
arte e o saber; 
• Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de 
instituições públicas e privadas de ensino; 
• Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
• Valorização dos profissionais do ensino, garantindo, na forma da lei, 
plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional, 
ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, e 
regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União; 
• Garantia de padrão de qualidade.
O que se percebe, portanto, é que há um avanço considerável com a 
Constituição de 1988, o que é expresso também na progressiva extensão da 
obrigatoriedade e gratuidade ao Ensino Médio; no acesso aos níveis mais 
elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade 
de cada um; no atendimento ao educando, no Ensino Fundamental, através de 
programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e 
assistência à saúde (art. 208). 
Acesse a íntegra da Constituição Cidadã em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>.
É importante destacar que essa Constituição foi a primeira a tratar da 
autonomia universitária, estabelecendo, em seu artigo 207, que "as universidades 
gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira 
e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, 
pesquisa e extensão".
A competência da União para legislar sobre as diretrizes e bases da educação 
nacional é outro tema que permaneceu na Constituição de 1988, em seu artigo 
nº 22. Contudo, os Estados e Municípios passam a compartilhar da função de 
proporcionar os meios de acesso à cultura, educação e ciência (art. 23, V). Assim, 
aos municípios é atribuída a manutenção, com a cooperação técnica e financeira 
da União e do Estado, os programas de educação pré-escolar e de ensino 
fundamental (art. 30 e 211). Aos Estados, por sua vez, é atribuída a manutenção, 
82
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
também com a cooperação técnica e financeira da União, dos sistemas de ensino 
secundários. Esse financiamento da educação passou a ser estabelecido com a 
obrigatoriedade de que a União aplique "anualmente, nunca menos de dezoito, e 
os Estados, o Distrito Federal e os municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, 
da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, 
na manutenção e desenvolvimento do ensino" (art. 212). 
A exemplo das constituições anteriores, a liberdade de ensino também 
continua sendo apregoada pela Constituição de 1988, que dispõe que "o ensino é 
livre à iniciativa privada", desde que seja observado o "cumprimento das normas 
gerais da educação nacional" e a "autorização e avaliação de qualidade pelo 
poder público" (art. 209). Também é mantida a possibilidade de transferência de 
recursos públicos ao ensino privado por meio de bolsas de estudo para os alunos 
que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e 
cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando, ficando 
o poder público obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na 
localidade (art. 212). 
Resumidamente, a escola pública conquistou com a Constituição de 1988 
a gratuidade do ensino público em todos os níveis; o piso salarial profissional 
com ingresso somente mediante concurso público e regime jurídico único para 
o magistério da União; a gestão democrática do ensino público; a autonomia 
universitária; a definição da educação como direito público subjetivo e a 
manutenção da vinculação orçamentária com a ampliação do percentual da 
União. Quanto às instituições privadas de ensino, elas tiveram assegurados o 
ensino religioso no Ensino Fundamental; o repasse de verbas públicas para as 
instituições filantrópicas, comunitárias e confessionais; o apoio financeiro do poder 
público à pesquisa e extensão nas universidades particulares; a não aplicação do 
princípio da gestão democrática, plano de carreira, piso salarial e concursos de 
ingresso para o magistério das instituições particulares. 
O que temos que ter em mente é que a maior conquista da Constituição de 
1988 foi a gestão democrática, que expressa, ante a exclusão que até então se 
levava a efeito pelo regime autoritário, os anseios dos professores, pais e alunos 
de participação nas decisões sobre a vida de suas escolas. 
83
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
Atividade de Estudos:
1) Para fixar melhor as mudanças que foram sendo instituídas no 
decorrer da história de nosso país, que tal você preencher o 
quadro a seguir com pelo menos duas informações sobre como 
foi abordada a educação em cada uma de nossas constituições?
Constituição
1824
Constituição
1891
Constituição
1934
Constituição
1937
Constituição
1946
Constituição
1967
Constituição
1988
O Estatuto da Criança e do 
Adolescente – ECA
Com os avanços da Constituição de 1988, foi preciso também organizar uma 
legislação que pudesse regulamentar a proteção da criança e do adolescente, 
encerrando toda a obscura fase vivida durante o período da ditadura. Assim, o 
Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069, de 14 de julho de 1990, foi 
criado para assegurar o tratamento das crianças e adolescentes como sujeitos 
de direitos, protegidos juridicamente, através da Doutrina da Proteção Integral – 
doutrina esta que afirma que as crianças e adolescentes são sujeitos de direito e 
que, diante de sua condição, devem ter prioridade nas políticas públicas.
84
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Assim, o Estatuto acaba reforçando alguns preceitos já vislumbrados na 
Constituição de 1988, estabelecendo, por exemplo, que é dever do Estado, da 
família e da sociedade garantir o direito de crianças e adolescentes à liberdade, 
à dignidade, à convivência familiar e comunitária, à saúde, à educação, à cultura, 
ao esporte, ao lazer, à profissionalização e à proteção do trabalho. Além disso, 
o Estatuto também prevê a proteção contra qualquer forma de exploração, 
discriminação, violência e opressão. 
“Se educarmos as crianças não precisaremos punir os homens” 
(Abraham Lincoln, ex-presidente dos Estados Unidos).
Podemos, de maneira geral, destacar como alguns dos importantes 
dispositivos do Estatuto (BRASIL, 1990):
Art. 53: A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao 
pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e 
qualificação para o trabalho;
Art. 54: É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:
I - Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele 
não tiveram acesso na idade própria;
II - Progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao Ensino Médio;
III - Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, 
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - Atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos 
de idade;
V - Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação 
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - Oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do 
adolescente trabalhador;
VII - Atendimento no Ensino Fundamental, através de programas 
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e 
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
85
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
Art. 58: No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, 
artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, 
garantindo-se a estes a liberdade da criaçãoe o acesso às fontes de cultura.
Para conhecer o ECA em sua íntegra, acesse: <https://www2.
senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70318/64.pdf?sequence=3>.
O que podemos constatar, através da Lei nº 8.069/90, é que o ECA se 
constituiu como um importante instrumento de garantia da satisfação das 
necessidades das crianças e adolescentes, assegurando o cumprimento dos 
seus direitos à proteção integral. É importante ainda dizer que essa legislação 
se coaduna aos preceitos estabelecidos em normas internacionais como a 
Declaração dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas – 
Resolução 1.386, de 20 de novembro de 1959, constituindo-se como um marco 
da história legal de nosso país que devemos conhecer, divulgar e defender.
Atividade de Estudos:
1) Os dispositivos contidos no ECA estipulam situações nas quais 
tanto o responsável quanto o menor devem ser instados a 
modificarem atitudes, definindo sanções para os casos mais 
graves. Assim, nas hipóteses de o menor cometer ato infracional, 
e justamente porque são penalmente inimputáveis, os menores 
de 18 anos poderão sofrer sanções, tais como a de internação 
em estabelecimento apropriado para este fim.
- No seu cotidiano, você já deve ter ouvido muitas críticas sobre o 
ECA com relação aos menores infratores e, diante do que você leu e 
pesquisou nesta seção, como defenderia o Estatuto de tais críticas?
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86
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
A lei de Diretrizes e Bases da 
Educação – LDB
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) é uma diretriz que define 
e regulariza a organização da educação brasileira utilizando como base os 
princípios instituídos na própria Constituição Federal. Embora a sua concepção 
tenha sido citada pela primeira vez já na Constituição de 1934, a primeira LDB 
foi criada apenas em 1961, sendo depois reelaborada em 1971, como vimos nas 
seções anteriores. 
A partir dos movimentos sociais que culminaram com a Constituição Cidadã 
de 1988, foi preciso novamente reformular as estruturas existentes no país para 
implantar um contexto verdadeiramente democrático, de modo que a Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9.394/96, surge como uma oportunidade 
de rever o cenário educacional, estabelecendo diretrizes para sua execução em 
todo o país. 
Deste modo, o projeto de Lei nº 9.394/96, que tratava do assunto, foi aprovado 
em 17 de dezembro de 1996, depois de muitos debates, sendo sancionado em 20 
de dezembro de 1996, exatamente 35 anos após a aprovação da primeira Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação é a mais importante lei 
brasileira que se refere à educação, sendo também conhecida como Lei 
Darcy Ribeiro, em homenagem a este importante educador e político 
brasileiro, que participou intensamente da formulação da Lei, que é 
composta por 92 artigos que versam sobre os mais diversos temas da 
educação brasileira, desde o ensino infantil até o ensino superior.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9.394/96, foi 
um projeto que acabou reduzindo da participação do Estado com a 
educação através da diminuição dos investimentos e despesas com 
o setor, realizado a partir de uma divisão de responsabilidades com a 
iniciativa não governamental e privada, assim como vimos em alguns 
momentos da nossa história legal. 
De qualquer forma, a LDB de 1996 apresenta uma abertura no que 
diz respeito à organização da educação no país, com a consolidação de 
uma maior autonomia administrativa, pedagógica e financeira, cooperação 
entre União, Estados e Municípios – este último passou a ser considerado 
como o local propício para organizar a educação, já que ali é onde se 
vivenciam de perto os problemas relacionados às escolas e aos alunos. 
A Lei de Diretrizes e 
Bases da Educação 
é a mais importante 
lei brasileira que se 
refere à educação, 
sendo também 
conhecida como Lei 
Darcy Ribeiro, em 
homenagem a este 
importante educador 
e político brasileiro, 
que participou 
intensamente da 
formulação da Lei, 
que é composta 
por 92 artigos 
que versam sobre 
os mais diversos 
temas da educação 
brasileira, desde o 
ensino infantil até o 
ensino superior.
87
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
Para conhecer a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional na íntegra, acesse: <http://www.todospelaeducacao.org.br/
biblioteca/1090/lei-de-diretrizes-e-bases-da-educacao-nacional/>.
De maneira geral, o sistema educacional brasileiro, a partir da LDB de 1996, 
passa a ser dividido em dois níveis básicos, a saber, a educação básica e a 
educação superior, diante do qual foram estabelecidos: a educação infantil (artigos 
22 a 28), a educação fundamental (artigos 32 a 34), o ensino médio (artigos 35 
e 36) e a educação superior (artigos 43 a 57). Na modalidade de ensino superior 
ainda existem as subdivisões com os cursos de graduação, programas de 
mestrado e doutorado strico sensu, cursos de especialização lato sensu, cursos 
de aperfeiçoamento, aperfeiçoamento, atualização, sequenciais, e de extensão. 
Já quanto às modalidades de ensino, a educação brasileira passa a se dividir em: 
educação de jovens e adultos (artigos 37 e 38), educação profissional (artigos 39 
a 42), educação especial (artigos 58 a 60) e educação a distância (artigo 80).
A LDB, como vimos, acaba definindo que a educação básica passa a ser 
composta pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, onde 
as ações em relação à formação das crianças e adolescentes se estabelecerão 
prioritariamente. Assim, através do artigo 22, a LDB fixa quatro dimensões 
essenciais para a formação, a saber: a pessoa humana, o cidadão, o trabalhador 
e o sujeito preparado para continuar seus estudos posteriores.
No cenário da Educação Infantil, a LDB estabelece, em seu artigo 29, que 
essa fase de estudos se caracteriza por ser a primeira etapa da educação básica, 
tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de 
idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando 
a ação da família. Para atingir esse objetivo, fica instituído que todas as instituições 
de Educação Infantil, sendo públicas ou mesmo privadas, passam a constituir o 
sistema de ensino municipal (art. 18). A LDB de 1996 também reafirma, através de 
seus princípios, o que já tinha sido delineado através do Estatuto da Criança e do 
Adolescente e da Constituição de 1988 – a responsabilidade quanto à educação 
continua sob a responsabilidade do Estado, da família e da própria comunidade, 
sendo traçado como objetivo do nível de ensino que os seus alunos sejam 
devidamente alfabetizados até o seu acesso ao Ensino Fundamental.
88
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
O Ensino Fundamental também foi alvo da LDB de 1996, que passou 
a conceber inicialmente apenas uma mudança na nomenclatura do que 
conhecíamos antes como 1º grau. Depois, contudo, a LDB de 1996 também 
alterou esse nível de ensino à categoria de direito público subjetivo, exigível a 
qualquer tempo (art. 5). A duração do Ensino Fundamental também acabou sendo 
alterada inicialmente para oito anos, abrangendo alunos entre sete e 14 anos de 
idade; depois, porém, a prerrogativa foi revista e o Ensino Fundamental passou 
a ter a duração de nove anos, admitindo a matrícula no Ensino Fundamental de 
alunos com seis anos de idade, o que foi depois também traçado como meta 
progressiva da educação através da Lei nº 10. 172, de 9 de janeiro de 2001 
(Plano Nacional de Educação/PNE), sendo, finalmente, efetivada através da 
Lei nº 11.114, de 16 de maio de 2005, que tornou obrigatória a matrícula das 
crianças de seis anos deidade no Ensino Fundamental, e Lei nº 11.274, de 
6 de fevereiro de 2006, que ampliou o Ensino Fundamental para nove anos 
de duração, com a matrícula de crianças de seis anos de idade – o prazo de 
implantação da mudança, pelos sistemas, seria até 2010.
Quanto à divisão do ensino, a responsabilidade sobre o Ensino Fundamental 
acabou recaindo sobre as esferas estaduais e municipais (art. 10 e art. 11). 
Seguindo o exemplo da Educação Infantil, também foram estipuladas metas 
para o Ensino Fundamental, que são, em resumo, o domínio da leitura, da 
escrita e do cálculo (art. 32). Além disso, o Ensino Fundamental deve favorecer 
o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de 
tolerância recíproca em que se assenta a vida social (art. 32). 
Já com relação ao Ensino Médio, antigo 2º grau, agora última fase da educação 
básica, ele foi alvo de tentativas de implantação da politecnia, onde, a partir de 
uma base comum, os alunos poderiam receber uma formação mais técnica, o que 
acabou não acontecendo. Assim, a educação profissional se estabeleceu como 
uma modalidade de ensino paralela à de base comum, que manteve um quadro 
curricular comum com vistas à formação geral do indivíduo. A duração mínima 
dessa fase de estudos ficou definida em três anos, diante dos quais o aluno deverá 
consolidar e aprofundar os conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, 
possibilitando o prosseguimento de seus estudos; preparar-se para o trabalho e a 
cidadania, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com 
flexibilidade às novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; 
89
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
aprimorar-se como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento 
da autonomia intelectual e do pensamento crítico; compreender os fundamentos 
científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a 
prática, no ensino de cada disciplina (art. 35). 
O currículo do Ensino Médio, segundo o art. 36 da LDB de 1996, deverá 
destacar a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, 
das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e 
da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao 
conhecimento e exercício da cidadania. Também deverá adotar metodologias 
de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes, sendo 
incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, e uma 
segunda, escolhida pela comunidade escolar, em caráter optativo, dentro das 
disponibilidades da instituição. As disciplinas de Filosofia e Sociologia voltam a 
compor o quadro de disciplinas obrigatórias em todas as séries do Ensino Médio 
(Lei nº 11.684, de 2008). 
Por último, as metodologias aplicadas ao Ensino Médio devem possibilitar 
que o aluno consiga demonstrar ao final de seus estudos o domínio dos princípios 
científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna e o conhecimento 
das formas contemporâneas de linguagem.
Quanto ao Ensino Superior, a LDB de 1996 estabelece esse nível de ensino 
como sendo de competência da União, podendo ser oferecido por Estados 
e Municípios, desde que estes já tenham atendido os níveis pelos quais são 
responsáveis em sua totalidade. À União cabe também autorizar e fiscalizar as 
instituições privadas de Ensino Superior.
Ainda compõe o sistema educacional brasileiro, conforme a LDB de 1996, 
a educação especial (atende aos educandos com necessidades especiais), 
educação a distância (atende aos estudantes em tempos e espaços diversos, com 
a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação), a educação 
profissional e tecnológica (objetiva preparar os estudantes a exercerem atividades 
produtivas, atualizar e aperfeiçoar conhecimentos tecnológicos e científicos), 
a educação de jovens e adultos (atende às pessoas que não tiveram acesso à 
educação na idade apropriada) e a educação indígena (atende às comunidades 
indígenas, de forma a respeitar a cultura e língua materna de cada tribo).
90
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Atividade de Estudo:
1) A LDB de 1996, em seu artigo 206, inciso I, coloca como 
princípio da educação a igualdade de condições para o acesso e 
permanência na escola. O que vimos, contudo, durante boa parte 
de nossa história, foi a consolidação de um modelo educacional 
que privilegiava as elites. Deste modo, comente um pouco sobre 
como você vê essa questão diante daquilo que a LDB de 1996 
prega em seu texto.
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Plano Nacional de Educação – PNE
A Constituição de 1988, através de seu artigo número 214, determina que 
a União estabelecerá o Plano Nacional de Educação, de duração plurianual, 
visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à 
integração das ações do poder público que conduzam à: 
I - Erradicação do analfabetismo;
II - Universalização do atendimento escolar;
III - Melhoria da qualidade do ensino;
IV - Formação para o trabalho;
V - Promoção humanística, científica e tecnológica do país.
O Plano Nacional de Educação é uma lei ordinária, prevista na Constituição 
Federal, que entrou em vigência no dia 26 de junho de 2014 e valerá por 10 
anos, que estabelece diretrizes, metas e estratégias para a educação. A partir do 
momento em que o PNE entra em vigor, todos os planos estaduais e municipais 
de Educação devem ser criados ou adaptados em consonância com as diretrizes 
e metas estabelecidas por ele.
91
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
O Plano Nacional de Educação (PNE) tem como objetivo geral determinar as 
diretrizes, metas e estratégias para a política educacional do país. O último Plano 
Nacional data de 26 de junho de 2014, tendo sido debatido por durante quatro 
anos no Congresso Nacional, resultando num documento que projeta 20 metas 
para serem cumpridas até 2023. 
O primeiro grupo de metas são consideradas estruturantes para a garantia 
do direito à educação básica com qualidade, promovendo a garantia do acesso, 
a universalização do ensino obrigatório e a ampliação das oportunidades 
educacionais. O segundo grupo de metas diz respeito especificamente à redução 
das desigualdades e à valorização da diversidade. O terceiro grupo de metas trata 
diretamente da valorização dos profissionais da educação, enquanto estratégia 
para que as metas anteriores sejam atingidas. Por último, o quarto grupo de metas 
refere-se ao Ensino Superior.
Conheça o documento oficial do Ministério da Educação, onde 
são apresentadas as 20 metas do Plano Nacional de Educação: 
<http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf>.
De forma geral, as metas do PNE abrangem todos os níveis de formação, 
desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. Ele é constituído com atenção 
especial à educação inclusiva, à melhoria da taxa de escolaridade média dos 
brasileiros, à formação e plano de carreira para professores, bem como à gestão 
e ao financiamento da Educação. Assim, são metas traçadas pelo Plano Nacional 
de Educação de 26 de junho de 2014 (BRASIL, 2014):
1) Educação Infantil: Até 2016, todas as crianças de quatro a cinco anos 
de idade devem estar matriculadas na pré-escola. A meta estabelece, 
também, que a oferta de Educação Infantil em creches deve ser ampliada 
de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até três anos até o 
final da vigência do PNE. 
2) Ensino Fundamental: Até o último ano de vigência do PNE, toda 
a população de seis a 14 anos deve estar matriculada noEnsino 
Fundamental de nove anos, e pelo menos 95% dos alunos devem 
concluir essa etapa na idade recomendada.
3) Ensino Médio: Até 2016, o atendimento escolar deve ser universalizado para 
toda a população de 15 a 17 anos. A meta é também elevar, até o final da 
vigência do PNE, a taxa líquida de matrículas no Ensino Médio para 85%.
92
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
4) Educação Especial/Inclusiva: Toda a população de quatro a 17 anos com 
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades 
ou superdotação deve ter acesso à educação básica e ao atendimento 
educacional especializado, de preferência na rede regular de ensino, 
com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos 
multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou 
conveniados.
5) Alfabetização: Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º 
ano do Ensino Fundamental. 
6) Educação integral: Até o fim da vigência do PNE, oferecer Educação em 
tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a 
atender, pelo menos, 25% dos(as) alunos(as) da Educação Básica.
7) Aprendizado adequado na idade certa: Estimular a qualidade da 
educação básica em todas etapas e modalidades, com melhoria do 
fluxo escolar e da aprendizagem de modo a atingir as seguintes médias 
nacionais para o IDEB:
2013 2015 2017 2019 2021
Anos iniciais de Ensino Fundamental 4,9 5,2 5,5 5,7 6,0
Anos Finais de Ensino Fundamental 4,4 4,7 5,0 5,2 5,5
Ensino Médio 3,9 4,3 4,7 5,0 5,2
8) Escolaridade média: Elevar, até 2013, a escolaridade média da população 
de 18 a 29 anos, de modo a alcançar no mínimo 12 anos de estudo para 
as populações do campo, da região de menor escolaridade no país e 
dos 25% mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não 
negros declarados.
9) Alfabetização e alfabetismo de jovens e adultos: Elevar a taxa de 
alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 
e, até o final da vigência do PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e 
reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.
10) EJA integrada à Educação Profissional: Oferecer, no mínimo, 25% (vinte 
e cinco por cento) das matrículas de educação de jovens e adultos, 
nos ensinos Fundamental e Médio, na forma integrada à educação 
profissional. 
11) Educação Profissional: Triplicar as matrículas da Educação Profissional 
Técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 
50% da expansão no segmento público. Em 2012, houve 1.362.200 
matrículas nesta modalidade de ensino. A meta é atingir o número de 
93
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
4.086.600 de alunos matriculados.
12) Educação Superior: Elevar a taxa bruta de matrícula na Educação 
Superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 
anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 
40% das novas matrículas, no segmento público.
13) Titulação de professores da Educação Superior: Elevar a qualidade da 
Educação Superior pela ampliação da proporção de mestres e doutores 
do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de 
Educação Superior para 75%, sendo, do total, no mínimo, 35% doutores.
14) Pós-graduação: Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-
graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60 mil 
mestres e 25 mil doutores.
15) Formação de professores: Garantir, em regime de colaboração entre a 
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no prazo de um 
ano de vigência do PNE, política nacional de formação dos profissionais 
da educação, assegurando que todos os professores e as professoras 
da educação básica possuam formação específica de nível superior, 
obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.
16) Formação continuada e pós-graduação de professores: Formar, em 
nível de pós-graduação, 50% dos professores da Educação Básica, até 
o último ano de vigência do PNE, e garantir a todos os(as) profissionais 
da Educação Básica formação continuada em sua área de atuação, 
considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos 
sistemas de ensino.
17) Valorização do professor: Valorizar os(as) profissionais do magistério 
das redes públicas da Educação Básica, a fim de equiparar o rendimento 
médio dos(as) demais profissionais com escolaridade equivalente, até o 
final do 6º ano da vigência do PNE.
18) Plano de carreira docente: Assegurar, no prazo de dois anos, a 
existência de planos de carreira para os(as) profissionais da Educação 
Básica e Superior pública de todos os sistemas de ensino e, para o 
plano de carreira dos(as) profissionais da Educação Básica pública, 
tomar como referência o piso salarial nacional profissional, definido na 
Constituição Federal.
19) Gestão democrática: Assegurar condições, no prazo de dois anos, para 
a efetivação da gestão democrática da Educação, associada a critérios 
técnicos de mérito e desempenho e consulta pública à comunidade 
escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio 
técnico da União para tanto.
20) Financiamento da Educação: Ampliar o investimento público em 
educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% do 
Produto Interno Bruto (PIB) do país no quinto ano de vigência da lei do 
PNE e, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio.
94
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Como dissemos, o Plano Nacional de Educação, que terá validade de 10 
anos, estabelece as diretrizes, metas e estratégias para a educação brasileira. As-
sim, a partir do momento em que o PNE entra em vigor, todos os planos estaduais 
e municipais de educação devem ser criados ou adaptados em consonância com 
as diretrizes e metas estabelecidas por ele.
Atividade de Estudos:
1) Agora que você já conhece as 20 metas do Plano Nacional de 
Educação e sabe que cada Estado e cada Município também 
precisaram adequar seus planos em vista das metas e diretrizes 
estabelecidas, queremos que leia o Plano de seu Estado e/
ou Município e faça um breve relato sobre o que lhe chamou a 
atenção no documento.
Para a tarefa, acesse o quadro de Planos de Educação do 
Ministério da Educação em: <http://pne.mec.gov.br/planos-de-
educacao/situacao-dos-planos-de-educacao>.
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Novo Ensino Médio (lei nº 13.415/17)
Como resultado de um projeto político de reforma educacional, implementado 
inicialmente através de uma Medida Provisória (nº 746/16), foi sancionada em 16 
de fevereiro de 2017 a Lei nº 13.415. De maneira geral, ela altera a Lei nº 9.394, 
de 20 de dezembro de 1996, que estabelecia as Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional, e a Lei nº 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamentava o Fundo 
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos 
Profissionais da Educação; além disso, revoga a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 
2005, instituindo a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino 
Médio em Tempo Integral.
95
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
É importante destacar que esta Lei foi um marco na história da educação 
e do país, como um todo. Surgiram muitos movimentos durante o ano de 2016, 
que, em decorrência de um quadro político conturbado, acabaram gerando o 
impeachment da chefe de Estado do país, Dilma Rousseff, e a ascensão de seu 
vice, Michel Temer, que deu origem a um projeto austero de reformas, entre elas 
a que visava à reestruturação do Ensino Médio (Projeto de Lei nº 6.840/2013) 
e a que estipula um teto para osgastos públicos do país para os próximos 20 
anos (PEC 241-2016). Ambos os projetos foram considerados como resultado de 
uma demanda econômica devidamente atinada com os interesses de grandes 
corporações, insatisfazendo, portanto, o público por elas atingido. Assim, como 
resultado direto de tais insatisfações, surgiram pelo país diversos movimentos 
sociais que visavam combater os projetos em tramitação, sendo um dos mais 
expressivos o das ocupações das escolas, que chegou a atingir mais de mil 
instituições de ensino pelo país. Esse movimento organizou ações que iam 
desde simples atos de mobilização e conscientização ao fechamento completo 
dos centros de ensino, com a ocupação dos espaços pelos estudantes, que ali 
passaram a residir, realizando diversas atividades culturais, lúdicas e educativas.
Para conhecer um pouco do movimento das ocupações, 
assista ao vídeo a seguir, que apresenta o discurso de uma aluna 
secundarista na Assembleia Legislativa do Paraná: <https://www.
youtube.com/watch?v=8gGpuwZlNcg>.
Apesar dos movimentos contrários às mudanças, principalmente pelo modo 
como foram pouco discutidas com especialistas, professores e alunos de todo 
o país, a Medida Provisória tramitou com rapidez e, em fevereiro de 2017, após 
ter sido aprovada na Câmara e também no Senado, com poucas mudanças em 
relação ao texto original, acabou sendo sancionada pelo Presidente da República, 
Michel Temer. A implementação da reforma, contudo, ainda vai depender da Base 
Nacional Comum Curricular (BNCC), que deverá ser homologada até 2018, após 
análise detalhada do Ministério da Educação.
As justificativas para a mudança na Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional é que, mesmo após 20 anos de sua aprovação, ela ainda não atingiu 
os resultados previstos quanto à formação de indivíduos autônomos, capazes de 
intervir e transformar a realidade em que vivem. Considerou-se, na formulação 
da nova legislação, que o currículo do Ensino Médio é extenso, superficial e 
96
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
fragmentado, que não dialoga com a juventude, com o setor produtivo, tampouco 
com as demandas do século XXI. Esse déficit apontaria diretamente para um 
elevado número de alunos fora da escola e, paralelamente, para os resultados 
inexpressivos diante das metas educacionais projetadas e em comparação com 
outros países (em 1995 a proficiência média dos alunos brasileiros era de 282 
pontos em matemática e, hoje, o índice é de 267 pontos, ou seja, houve uma queda 
de 5,3% no desempenho em matemática neste período; quanto ao desempenho 
em língua portuguesa, em 1995, o índice era 290 pontos e, em 2015, regrediu 
para 267 – uma redução de 8%; por último, o IDEB do ensino médio no Brasil está 
praticamente estagnado desde 2011).
Dessa forma, para efetivar um quadro de mudanças, a Lei nº 13.415/17 prevê 
um aumento da carga horária escolar, com implantação de escolas em tempo 
integral – a carga horária mínima anual do Ensino Médio, que era de 800 horas, 
será aumentada, em cinco anos, para 1.000 horas e, após isso, a meta, sem prazo 
para ser atingida, será a oferta de 1.400 horas ao ano. Para atender ao aumento 
da carga horária foi instituída a Política de Fomento à Implementação de Escolas 
de Ensino Médio em Tempo Integral. O dinheiro repassado anualmente será 
com base no número de matrículas do Censo Escolar da Educação Básica, mas 
dependerá de disponibilidade orçamentária. Nas escolas, os recursos poderão 
ser usados para pagar a remuneração e o aperfeiçoamento dos profissionais 
de educação; para compra, reforma e conservação de instalações; para o uso e 
manutenção de bens e serviços; para atividades-meio e para a compra de material 
didático e custeio de transporte escolar.
Para conhecer melhor a Lei nº 13.415/17, acesse: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13415.htm>.
Quanto ao currículo, o Novo Ensino Médio será dividido em duas partes, 
cujos conteúdos serão desenvolvidos de forma paralela. A maior parte dessa 
demanda, cerca de 60%, será formada pela Base Nacional Comum Curricular 
(BNCC), sendo o restante da carga horária (40%) composto pelas seguintes 
áreas específicas: Linguagens e suas Tecnologias; Ciência da Natureza e 
suas Tecnologias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; Matemática e suas 
Tecnologias; e Formação Técnica e Profissional. 
97
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
Essa nova divisão, considerada um dos pontos mais críticos da proposta, 
também acaba permitindo que as escolas contratem professores sem diploma em 
licenciatura para dar aulas em disciplinas da parte técnica e profissionalizante. 
Desta maneira, os professores da formação técnica poderão ser profissionais de 
“notório saber” em sua área de atuação ou com experiência profissional, atestados 
por titulação específica ou prática de ensino.
Nos atuais moldes, para cursar a formação técnica de nível médio, o 
estudante precisaria cumprir ao longo de três anos 2,4 mil horas do ensino regular 
e mais 1,2 mil horas do ensino técnico. Com a nova legislação, essa formação 
pode ocorrer dentro da carga horária do ensino regular, de forma que, ao final 
do Ensino Médio, o aluno obterá o diploma do ensino regular e um certificado de 
ensino técnico.
Embora todas as 13 disciplinas do modelo antigo possam entrar na Base 
Nacional Comum Curricular (artes, educação física, português, matemática, física, 
química, biologia, geografia, história, filosofia, sociologia, espanhol e inglês), 
apenas as disciplinas de português, matemática e inglês serão obrigatórias 
durante todo o Ensino Médio (o ensino da língua inglesa também passa a ser 
obrigatório a partir do sexto ano do Ensino Fundamental e o ensino do espanhol 
deixa de ser obrigatório). O texto inicial da reforma do Ensino Médio excluía as 
disciplinas de artes, educação física, filosofia e sociologia dentre as obrigatórias, o 
que gerou protestos de estudantes e professores, mas o texto foi revisto e essas 
disciplinas voltaram a compor o quadro de disciplinas obrigatórias de acordo com 
o que for previsto pela nova Base Nacional Comum Curricular. 
Outra novidade da proposta é que o Ensino Médio poderá ser organizado 
em módulos e, portanto, as escolas poderão adotar o sistema de créditos ou 
disciplinas com terminalidade específica – esses créditos poderão ser usados 
para o aproveitamento de disciplinas no Ensino Superior.
De qualquer forma, as mudanças projetadas pela Lei nº 13.415/17 
recebem inúmeras críticas, pois a proposta obriga os jovens a fazerem escolhas 
profissionais já a partir de seus 14 anos, profissionalizando-os precocemente – 
proposta que segue uma diretriz que também baliza a reforma previdenciária do 
país. Note que entre os países membros da Organização para a Cooperação 
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por exemplo, os jovens escolhem sua 
profissão somente após o terceiro ano universitário; não há empregos para 
jovens e adolescentes, sendo que a sua entrada no mercado de trabalho ocorre 
após os 20 anos de idade, em média. Outra séria crítica é que, embora exista 
um investimento no projeto, a proposta não oferece, na prática, as condições 
necessárias para a sua implementação (escolas sucateadas, professores mal 
formados, alunos despreparados etc.) – considere o efeito da PEC 241-2016. 
98
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Atividade de Estudos:
1) Vimos que existem muitos adeptos e também muitos críticos da 
reforma do Ensino Médio. Assim, tendo conhecido um pouco 
melhor dos nortes gerais da nova proposta, avalie a sua posição 
diante do tema e justifique-a, apresentando seus argumentos. 
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____________________________________________________
____________________________________________________Parâmetros Curriculares Nacionais 
(PCN)
Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um referencial para a 
educação brasileira, de modo que sua função é “orientar e garantir a coerência 
dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e 
recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, 
principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato 
com a produção pedagógica atual” (BRASIL, 1996, p. 13). O documento se 
caracteriza, portanto, por uma proposta flexível, aberta às decisões regionais e 
locais dos sistemas de ensino e das escolas, de modo que podemos entender os 
Parâmetros como um conjunto de proposições que servem como referenciais a 
partir dos quais o sistema educacional brasileiro deve ser organizado.
Visite os PCN referentes à sua área de atuação, acessando: 
<http://saladeauladigital.com.br/mec-oferece-todos-os-parametros-
curriculares-nacionais-para-download-gratuitamente/>.
99
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
Os Parâmetros Curriculares Nacionais visam promover ações na busca de 
uma melhoria na qualidade da educação brasileira, mas não objetivam resolver 
os problemas que afetam a qualidade do ensino e da aprendizagem no país, 
afinal, essa mudança impõe a necessidade de grandes investimentos, seja na 
formação inicial e continuada dos professores, na política de salários, plano de 
carreira, qualidade do livro didático, de recursos televisivos e de multimídia, da 
disponibilidade de materiais didáticos, entre outros. De qualquer modo, melhorar 
a educação implica considerar, acima de tudo, as atividades escolares de ensino 
e aprendizagem e a questão curricular como elementos de inegável importância 
para a política educacional brasileira (BRASIL, 1996, p. 13).
A partir dos PCN, cada instituição de ensino deve montar seu próprio Projeto 
Político-Pedagógico (PPP), ou seja, a sua proposta de trabalho, adaptando esses 
conteúdos à realidade social onde se encontra. Assim, o documento é uma 
orientação quanto aos principais conteúdos que devem ser trabalhados para que 
os próprios educadores possam avaliar suas práticas, afinal, a reflexão da prática 
docente deve ser feita através de reuniões com toda a comunidade escolar. 
A escola deverá, portanto, subsidiar espaços de reflexão que possam gerir a 
aprendizagem, através do desenvolvimento de habilidades de leitura, interpretação, 
estudo independente e pesquisa. Para ajudar nesse trabalho das escolas, os 
Parâmetros Curriculares estão divididos em seis volumes que apresentam as áreas 
do conhecimento, como língua portuguesa, matemática, ciências naturais, história, 
geografia, arte e educação física. Além deles, há outros três volumes que trazem 
elementos que compõem os temas transversais – no primeiro encontramos a 
explicação sobre porque se deve trabalhar com temas transversais, além de uma 
abordagem sobre ética; no segundo volume os assuntos abordados tratam da 
pluralidade cultural e orientação sexual; já no terceiro e último volume encontramos 
uma abordagem sobre o meio ambiente e saúde.
O interessante é que os Parâmetros Curriculares Nacionais definem, em sua 
abordagem, que os currículos e conteúdos não podem ser trabalhados apenas 
como transmissão de conhecimentos, mas que as práticas docentes devem 
encaminhar os alunos rumo à aprendizagem. Desta forma, os PCN desenvolvem 
alguns pilares fundamentais, a saber (DELORS, 2003):
1) Aprender a conhecer: É necessário tornar prazeroso o ato de 
aprender, para que se valorize a curiosidade, a autonomia e a atenção 
permanentemente, de modo a sempre pensar o novo e reconstruir o velho.
2) Aprender a fazer: As mudanças do mundo contemporâneo exigem 
que o indivíduo esteja apto a enfrentar novas situações de emprego 
e a trabalhar em equipe, desenvolvendo espírito cooperativo e de 
humildade na reelaboração conceitual e nas trocas, valores necessários 
ao trabalho coletivo. 
100
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
3) Aprender a conviver: É fundamental também que, diante da realidade 
atual, valores de convivência sejam desenvolvidos, de forma que o aluno 
possa aprender a viver com os outros, a compreendê-los, a desenvolver 
a percepção de interdependência, a administrar conflitos, a participar de 
projetos comuns, a ter prazer no esforço comum.
4) Aprender a ser: Os valores éticos e estéticos, a responsabilidade pessoal, 
o pensamento autônomo e crítico, a imaginação, a criatividade, também 
são elementos fundamentais no aprendizado, que precisa ser integral, 
não negligenciando nenhuma das potencialidades de cada indivíduo.
Uma relação de ensino-aprendizagem que pretenda apenas a absorção 
de conhecimento, a partir do que propõem os PCN, deverá dar lugar ao ensinar 
a pensar. O estudante deverá poder relacionar o tema com a experiência que 
vive ou que presencia de outros personagens do seu contexto social e deverá 
desenvolver a pedagogia da pergunta, a partir da qual ele se envolverá num 
processo que conduz a resultados, conclusões ou compromissos com a prática.
Base Nacional Comum Curricular 
(BNCC)
Conforme preconiza a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, foram 
criados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o Ensino Fundamental 
e Médio, com o objetivo de criar condições que permitissem o acesso 
aos conhecimentos necessários ao exercício da cidadania dos jovens. 
A questão é que os Parâmetros Curriculares, embora se configurem 
enquanto um avanço, não são assim tão detalhados e, por isso, surge a 
proposta da Base Nacional Comum Curricular.
O Plano Nacional de Educação (PNE) determina diretrizes, metas 
e estratégias para a política educacional dos próximos dez anos (2014-
2014), com o objetivo de garantir o direito à educação básica com 
qualidade, redução das desigualdades e valorização da diversidade, e 
valorização dos profissionais da educação.
A Base Nacional Comum Curricular tem como objetivo esclarecer 
os conhecimentos essenciais aos quais todos os estudantes brasileiros 
têm o direito de ter acesso e se apropriar durante sua trajetória na 
Educação Básica, de forma que os sistemas educacionais, as escolas 
O Plano Nacional 
de Educação (PNE) 
determina diretrizes, 
metas e estratégias 
para a política 
educacional dos 
próximos dez anos 
(2014-2014), com o 
objetivo de garantir 
o direito à educação 
básica com 
qualidade, redução 
das desigualdades 
e valorização da 
diversidade, e 
valorização dos 
profissionais da 
educação.
101
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
e os professores tenham um importante instrumento de gestão pedagógica e as 
famílias possam participar e acompanhar mais de perto a vida escolar de seus 
filhos. Com a Base Nacional, ficará claro para todos quais são os elementos 
fundamentais que precisam ser ensinados nas diversas áreas de conhecimento. 
A Base Nacional Comum Curricular, portanto, é parte do currículo e deve orientar 
a formulação do Projeto Político-Pedagógico das escolas, permitindo maior 
articulação deste. A seguir, você pode entender um pouco melhor o lugar do 
documento dentro do contexto legal brasileiro:
Figura 4 – Base Nacional Comum
CONSTITUIÇÃO
FEDERAL
DIRETRIZES
CURRICULARES
POLÍTICA
CURRICULAR
NACIONAL
LDB
BASE
NACIONAL
COMUM
POLÍTICA
NACIONAL DE 
FORMAÇÃO DE 
PROFESSORES
POLÍTICA
NACIONAL DE 
MATERIAIS E
TECNOLOGIAS
EDUCACIONAIS
POLÍTICA
NACIONAL DE 
INFRAESTRUTURA 
ESCOLAR
POLÍTICA
NACIONAL DE 
AVALIAÇÃO DA
EDUCAÇÃO
BASICA
Fonte: Brasil (2016, p. 26).
Para a formulação do Projeto Político-Pedagógico, portanto, cada instituição 
deve levar em consideração o Plano Nacional de Educação (PNE), bem como 
os demais Planos Estaduais e Municipais; as Diretrizes Curriculares Nacionais 
para a Educação Básica; a BNCC e os documentos orientadores das políticas 
educacionais; as avaliações nacionais; e as avaliações regionais em relação aos 
processos e resultados de trabalho do ano anterior. Nessecaso, é importante que 
os professores conversem, no início de cada ano letivo, sobre o desenvolvimento 
102
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
e a aprendizagem dos alunos e que os PPPs expressem as estratégias didáticas 
e metodológicas, assim como as mediações pedagógicas que permitem mobilizar 
essas estratégias, a partir das características dos estudantes e do que propõem 
os documentos curriculares. Conforme podemos ler na 2ª versão do documento, 
apresentada em maio de 2016 (BRASIL, 2016, p. 31-32):
Trata-se de superar as orientações que, ao longo da história, 
têm transferido aos/às estudantes toda a responsabilidade por 
suas dificuldades. Para que sejam garantidos os direitos de 
aprendizagem e desenvolvimento, o trabalho educativo não 
pode estar restrito às práticas de cada professor, mas deve 
ser parte de um planejamento mais amplo, de toda a UE. A 
complexidade do processo educativo requer mais que a soma 
de ações individuais dos/das professores e professoras. 
Requer investigação, análise, elaboração, formulação e a 
tomada de decisões coletivas. Promover o trabalho coletivo 
pode ser uma tarefa complexa, face às diferentes jornadas dos 
educadores, às distâncias físicas a percorrer em pequenos, 
médios e grandes municípios, em regiões ribeirinhas, urbanas e 
no campo. No entanto, o desafio das secretarias ou instituições 
responsáveis pela educação, em cada município e estado, é 
buscar criar espaços e momentos de reflexão e de elaboração, 
a partir das práticas dos professores e das professoras. Tanto 
no plano das práticas individuais, como coletivas, é necessário 
que os educadores se vejam e sejam vistos como intelectuais 
que constroem o pensamento crítico sobre os diferentes 
campos da cultura e da tecnologia.
Para conhecer o trabalho desenvolvido para a elaboração da Base 
Nacional Comum Curricular, bem como conhecer seus documentos, 
acesse: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/inicio>.
Quanto ao processo de elaboração da Base Curricular, o documento foi 
iniciado em junho de 2015 com a definição dos profissionais que fariam parte 
da comissão de especialistas e do lançamento do Portal BNCC, onde foi feita 
a divulgação do texto preliminar da Base. Em setembro de 2015 foi aberto o 
espaço para as contribuições do público, resultando em mais de 12 milhões de 
contribuições, que serviram de base para a revisão do documento inicialmente 
divulgado. Em seguida, o Conselho Nacional de Secretários de Educação 
(CONSED) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) 
passaram a articular e organizar diversos seminários com o objetivo de receber 
103
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
contribuições relevantes de alunos, professores, especialistas, coordenadores e 
instituições para melhorar ainda mais o documento. Somente após a realização 
dos Seminários Estaduais, o CONSED e a UNDIME entregaram os relatórios 
elaborados à equipe de especialistas e gestores do MEC, que tem a tarefa de 
finalizar a nova proposta, a ser apreciada pelo Conselho Nacional de Educação, 
a quem cabe a elaboração de um parecer sobre o documento, que deve ser 
homologado pelo Ministro da Educação. 
Em geral, a versão final do documento implica a necessidade de formação 
docente, para que possam compreender seu papel e as mudanças que a BNCC 
acarretará no sistema de ensino brasileiro. De outro modo, as matrizes das 
avaliações nacionais, como a Prova Brasil/SAEB e ENEM, serão revisadas de 
acordo com a BNCC. Por último, a Base Curricular é um documento referente a 
todo ciclo da Educação Básica e a etapa de Ensino Médio da Base deve ainda 
ser revista e reescrita, considerando as contribuições oriundas dos seminários 
nacionais, as sugestões e considerações dos especialistas, bem como as 
necessárias mudanças decorrentes do Novo Ensino Médio.
Quanto às diferenças regionais, após a aprovação da versão final da Base 
Nacional Comum Curricular, a secretaria de Educação de cada estado e município 
poderá incluir conteúdos específicos no documento, configurando a chamada 
base diferencial. Isso está de acordo com uma estratégia do Plano Nacional de 
Educação, que visa “desenvolver tecnologias pedagógicas que combinem, de 
maneira articulada, a organização do tempo e das atividades didáticas entre a 
escola e o ambiente comunitário, considerando as especificidades da educação 
especial, das escolas do campo e das comunidades indígenas e quilombolas” 
(BRASIL, 2014, p. 52).
O documento, de forma geral, traça as diretrizes para a Educação Infantil, o 
Ensino Fundamental (anos iniciais e finais) e o Ensino Médio, estabelecendo os 
objetivos principais e metas de cada área/disciplina curricular. Resumidamente, 
a BNCC estabelece também orientações às modalidades de ensino quanto à 
Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, 
Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola, Educação para as 
Relações Étnico-Raciais, Educação Ambiental e Educação em Direitos Humanos. 
104
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Algumas Considerações
Chegamos ao final de mais uma etapa de nossa formação, na qual você 
pôde conhecer um pouco melhor a legislação que, desde a Independência, rege 
a educação brasileira. Você conheceu cada uma de nossas Cartas Magnas 
e pôde verificar como a educação foi tratada em cada uma delas, percebendo 
assim os avanços e os retrocessos que norteavam o sistema educacional de 
nosso país. Acreditamos que você também foi capaz de relacionar os movimentos 
apresentados nos primeiros capítulos deste livro de estudos com essa evolução 
legislativa da educação brasileira, afinal, foram as lutas e movimentos sociais 
diante dos imperativos das elites e interesses capitais que consubstanciaram todo 
esse cenário que vislumbramos até o presente momento. 
Neste sentido, concebemos que o processo do direito educacional é um 
processo que deve a sua evolução aos movimentos sociais que foram se 
estabelecendo ao longo de nossa história, resultando na estruturação de um 
marco democrático, que hoje pode servir de base para as conquistas por tanto 
tempo almejadas.
As leis, conforme vimos, cada vez mais passaram a atender aos anseios 
populares em vista da democratização e da cidadania, mas sabemos que ainda 
existem grandes promessas não cumpridas e que, na prática, a escola brasileira 
continua refém de uma gama de interesses, que a cerceiam na oferta de um 
ensino realmente de qualidade. De toda sorte, a concepção que trazemos é que 
somente quando tivermos consciência de nossos direitos e deveres instituídos é 
que poderemos exigir, através dos caminhos legais, uma escola que cumpra seus 
deveres para com a sociedade. 
Referências
BASTOS, Aurélio Wander. Coletânea da legislação educacional brasileira. Rio 
de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2000.
BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 
4.024/61. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: 1961.
BRASIL. Senado Federal. Plano Nacional de Educação: Lei nº 13.005/2014. 
Dispõe sobre o Plano Nacional de Educação (PNE) e dá outras providências. 
Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2014.
105
A Legislação Educacional Brasileira Capítulo 3 
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares 
nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: 1997.
BRASIL. Senado Federal. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 
8.069/90. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras 
providências. Brasília: 1990.
BRASIL. Ministério da Educação. Planejando a próxima década: conhecendo 
as 20 metas do Plano Nacional de Educação. Brasília: 2004.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. 2ª Versão. 
Brasília: 2016.
CURY, Carlos Roberto Jamil. Legislação educacional brasileira. Rio de 
Janeiro: DP&A, 2000.
DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez,2003.
PILETTI, Nelson. História da educação no Brasil. São Paulo: Editora Ática, 
1990.
SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: LDB, trajetórias, limites e 
perspectivas. Campinas: Autores Associados, 1997.
VALENTE, Nelson. Sistemas de ensino e legislação educacional. São Paulo: 
Editora Panorama, 2000.
VERONESE, Josiane Rose Petry; VIEIRA, Cleverton Elias. A educação básica na 
legislação brasileira. Revista Sequência, n.º 47, p. 99-125, dez. 2003.
106
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
CAPÍTULO 4
A Educação no Século XXI
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Analisar o contexto da escola no século XXI.
� Refletir os desafios e possibilidades da escola do século XXI.
� Permitir um debate crítico sobre o papel da escola e do educador na formação 
do sujeito.
108
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
109
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
Contextualização
Chegando ao final de nossas reflexões, a partir das quais você pôde 
acompanhar a formação do direito educacional brasileiro, temos como meta 
analisar ainda alguns aspectos legais pertinentes ao contexto da educação 
contemporânea, especialmente os que dizem respeito à democratização e 
universalização do ensino. Desta forma, iremos apresentar, neste capítulo, 
alguns conceitos sobre a democratização da escola, conteúdos, métodos e 
recursos, além do papel do professor e questões atuais no campo da legislação 
que têm conduzido tanto o debate sobre o campo quanto as práticas e ações 
dos profissionais de educação. Também buscaremos estabelecer algumas 
discussões sobre reformas possíveis na educação, que, para além das leis, 
que já se constituem como excelentes mecanismos para o trabalho docente, 
possam transformar também as concepções epistemológicas que se arraigam 
sobre o processo educativo tradicional e aqueles outros possíveis, justificando a 
construção de uma nova escola para o século XXI. 
Esperamos que sua caminhada até aqui tenha sido proveitosa e que você 
tenha conseguido desfrutar das discussões aqui organizadas para refletir sobre 
sua própria realidade. Assim, vamos em frente, com entusiasmo, pois você está 
chegando ao fim desse livro de estudos e poderá servir-se dessa base para mudar 
suas práticas, colaborando para uma mudança ainda maior no campo da educação.
Democratizando a Escola
Todo o caminho percorrido até os nossos dias, apresentado parcialmente 
nos capítulos anteriores, transparece um movimento de contraditórios, que deixa 
claro que a história é feita por impasses, revoluções e acomodações. Assim, 
observamos que as lutas travadas entre as elites e os movimentos 
sociais acabaram por escrever a própria história da educação, enquanto 
recorte de um movimento político maior, onde se inscreve a história do 
país. O conceito que prevalece em toda essa narrativa passa a ser o de 
democracia, onde, em tese, o povo exerce a soberania sobre o governo, 
ou seja, onde os interesses do povo prevalecem sobre os interesses 
das elites ou das economias. A escola, como vimos no primeiro capítulo, 
exerce o papel de reproduzir as estruturas estabelecidas e, portanto, 
consolidar as divisões sociais, servindo tanto para ascender as elites, 
justificando seu poder, quanto estagnar as massas.
O uso instrumental que se faz da educação e a inovação 
conservadora que se aplica na sala de aula é apenas o resultado de 
uma prática alicerçada em outros momentos, resultado de escolhas. 
Mas o que motiva tais escolhas?
O uso instrumental 
que se faz da 
educação e 
a inovação 
conservadora 
que se aplica na 
sala de aula é 
apenas o resultado 
de uma prática 
alicerçada em 
outros momentos, 
resultado de 
escolhas. Mas o 
que motiva tais 
escolhas?
110
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
 Na escola podemos dizer que “o legado econômico da família se transforma 
e se materializa em capital cultural, reproduzindo, legalizando e efetivando 
a desigualdade da sociedade e seus valores, seja através do sistema, dos 
conteúdos ou da própria avaliação” (VALLE, 2010, s.p.). O papel do educador, no 
entanto, é refletir e sistematizar instrumentos eficazes para a transformação da 
escola, afinal: 
A ruptura herética da ordem estabelecida (e também das 
disposições e representações por ela engendradas nos agentes 
moldados conforme suas estruturas) supõe a conjunção entre 
o discurso crítico e uma crise objetiva, capaz de romper a 
concordância imediata entre as estruturas incorporadas e as 
estruturas objetivas de que as primeiras constituem o produto, 
bem como de instituir uma espécie de épochè prática, vale 
dizer, de suspensão da adesão originária à ordem estabelecida 
(BOURDIEU, 1998, p. 118).
A educação constitui-se em sua essência como uma ferramenta 
emancipatória, pois oferece competências capazes de mobilizar instâncias de 
discussão coletiva, que podem dar força à razão, demolindo falsos problemas 
e produzindo problemas reais – essas instâncias, aliás, carregam em seu bojo 
as forças vivas que agem no sentido de coletivamente promover a autonomia do 
conhecimento e, portanto, libertar a escola de sua função reprodutora (LOSTADA; 
SOUZA, 2016). Deste modo, 
é só uma reflexão coletiva, capaz de mobilizar todas as forças 
vivas da instituição (e em particular, os pesquisadores mais 
ativos e mais inspirados, sobretudo entre os mais jovens) e 
todos os recursos (que seria preciso censear e mobilizar e dar a 
conhecer a todos os membros da instituição), poderia conduzir 
a essa espécie de conversão coletiva que é a condição de uma 
verdadeira atualização (BOURDIEU, 2003, p. 64).
O desenvolvimento da autonomia de que estamos falando, porém, 
frequentemente pode entrar em conflito com profundas crenças e opiniões geradas, 
arraigadas, e consumadas nos indivíduos, que concebem que o conhecimento é 
voltado apenas à aplicação e à produção de recursos que venham a consolidar 
e a expandir as relações já constituídas. Essas crenças e opiniões são o que 
Bourdieu (1988) chamou em seu trabalho de habitus (disposições duráveis e 
transmissíveis em relação à posição do indivíduo no campo, ou seja, o local de 
atuação social do indivíduo dentro da sociedade), e que compõe todo o capital 
cultural e simbólico que dirige o indivíduo, fazendo-o participar de sua coletividade 
e de sua época, ou seja, orientando-o, sem que ele tenha plena consciência disso.
111
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
O que se impõe é que não há outra forma de mudar essa situação a não 
ser conscientizando o indivíduo de seu estado para que ele possa tomar 
alguma atitude – Jürgen Habermas, um dos grandes representantes da Escola 
de Frankfurt, denomina esse conceito de agir comunicativo. As estruturas 
sociais precisam, portanto, ser expostas e as estratégias de reprodução social 
precisam ser desveladas, por assim dizer, de forma que, desde a relação entre 
pai e filho, passando pela escola, a Igreja, e as demais instituições, é preciso 
vislumbrar cada situação com um olhar crítico, emancipado, pois é no cotidiano 
que se expressam as mais profundas e enraizadas estruturas que fazem com que 
a realidade permaneça tal e qual e que, inconscientemente, assumamos nosso 
papel determinado na sociedade. 
Assim, concebemos que hoje, muito pelo impacto que as mídias trouxeram 
para a sociedade, muita coisa mudou. Martín-Barbero, por exemplo, afirma que 
vivemos numa cultura pré-figurativa, onde os pares estão substituindo os pais e o 
aprendizado passa a ser fundado mais na exploração que os jovens fazem do seu 
universo tecnocultural (MARTÍN-BARBERO, 2004, p. 334). Nesse novo contexto, 
segundo o mesmo autor, a educação apresenta um grande descompasso, 
pois seus objetivos de universalização não são atingidos, sua qualidade tem 
se deteriorado gradativamente, os professores são desmoralizados com seus 
baixos salários, escassez de recursos e não renovação de suas equipes. Além 
destes elementos,também podemos considerar os modelos de comunicação 
que subjazem à educação como fatores desse descompasso, afinal, a escola 
incorpora um regime do saber baseado unicamente no texto impresso (LOSTADA; 
SOUZA, 2016). 
O que vislumbramos com esse modelo escolar é a consolidação de 
um verdadeiro paradigma educacional, onde o texto impresso instaura uma 
territorialização das identidades através da aprendizagem fundada no controle 
social – seja por informação ou por segredo. A aprendizagem é medida 
pela evolução da própria leitura, que transforma-se numa escala mental de 
desenvolvimento e, assim, o rendimento escolar também é comensurado por 
pacotes de informação apreendidos, num modelo escolar que segue à risca a 
tradição cristã, progenitora do ensino escolar moderno, com relação à leitura 
das sagradas escrituras – tanto quanto o clérigo detinha o poder da leitura e 
interpretação autêntica dos Livros Sagrados, agora o professor é quem detém o 
poder de leitura e interpretação autêntica do livro didático. 
112
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
As mídias, enquanto representantes desse desafiador cenário, cujas 
possibilidades empoderam a juventude, acabam sendo refutadas nesta escola, pois:
A criatividade do leitor cresce na medida em que cai o peso da 
instituição que a controla. Daí a antiga e pertinaz desconfiança 
da escola com relação à imagem, em direção à sua 
incontrolável polissemia que a converte no contrário do escrito, 
esse texto controlado internamente pela sintaxe e de fora pela 
identificação da clareza com a univocidade. A escola buscará, 
contudo, controlar a imagem, seja subordinando-a ao ofício de 
mera ilustração do texto escrito, seja acompanhando-a de um 
cartaz que indique ao aluno o que diz a imagem (MARTÍN-
BARBERO, 2004, p. 337). 
Da forma como atua diante dessa nova juventude, a escola acaba produzindo 
nos jovens uma lacuna cada dia mais profunda entre sua cultura e a que ensinam 
seus professores, deixando-os literalmente indefesos ante a atração que exercem 
as novas tecnologias e tornando-os incapazes de se apropriar crítica e criativamente 
delas. As tecnologias apresentam-se, então, apenas como uma possibilidade 
de tornar o ensino menos entediante diante da inércia insuportável das jornadas 
escolares. Deste modo, a relação da comunicação com a educação torna-se 
apenas instrumental, afinal, o professor se sente muito confiante diante do poder 
que tem com o texto, mas balança quando se vê diante das mídias, onde o aluno 
sabe muito mais e maneja com maior facilidade que ele as linguagens da imagem. 
O que é importante ter em mente é que o livro continua e provavelmente 
continuará sendo a base para uma primeira alfabetização, mas é preciso ir 
além dessa cultura e fundar uma segunda alfabetização, que abra as portas 
para as múltiplas escritas que hoje passam a conformar o mundo tecnocultural. 
A educação não pode virar suas costas para as transformações do mundo 
e os novos saberes por ele mobilizados e, por isso, sua função passa a ser a 
construção de cidadãos mais críticos, que tenham a capacidade de ler de forma 
cidadã o mundo. Da mesma maneira, o professor precisa converter-se em um 
formulador de problemas, provocando interrogações, coordenando equipes 
de trabalho, sistematizando experiências, consolidando um verdadeiro diálogo 
entre culturas e gerações. “As tecnologias digitais [são] como investimento 
na autonomia dos estudantes para gerenciar sua educação, para que possam 
aprender perguntando e respondendo os desafios educativos e formativos da 
sociedade atual” (SANCHO, 2006, p. 31).
113
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
Para se aprofundar um pouco mais no assunto, consulte o 
livro de Jesús Martín-Barbero: Ofício de cartógrafo – Travessias 
latino-americanas da comunicação na cultura, onde o autor analisa 
os complexos terrenos do processo de comunicação, no qual se 
estabelecem as relações de dominação.
Para efetivar tal proposta de educação democrática, passamos a analisar 
a partir de agora alguns instrumentos perante os quais uma nova estrutura 
educacional pode ser organizada.
Gestão Democrática Escolar
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 206, estabelece entre os 
princípios norteadores da educação a gestão democrática do ensino público. 
Cada sistema de ensino, porém, tem a prerrogativa de definir as suas próprias 
normas de gestão democrática, levando em consideração suas peculiaridades, 
embora sempre preservando a participação dos profissionais da educação na 
elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades 
escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.
 
Também segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, é 
preciso que os sistemas de ensino assegurem “às unidades escolares públicas de 
educação básica que os integram, progressivos graus de autonomia pedagógica, 
administrativa e financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro 
público” (Art. 15).
Para garantir, portanto, a participação dos diversos segmentos da comunidade 
na gestão escolar, passamos a discutir alguns dos instrumentos de participação 
democrática escolar, como o Conselho Deliberativo Escolar, a Associação de Pais 
e Professores, o Grêmio Estudantil, entre outros. 
114
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Conselho Deliberativo Escolar – CDE 
Os movimentos que vislumbramos no capítulo anterior em vista da 
redemocratização da sociedade brasileira resultaram num processo de discussão 
da própria educação no país e, portanto, também da gestão escolar. Os 
movimentos populares da fase de lutas pela redemocratização do país, no final 
dos anos 1970, possibilitaram o surgimento de experiências de gestão colegiada 
nas instituições de educação básica. Deste modo, a intenção destes movimentos 
foi a democratização também das relações de poder instituídas no interior das 
escolas, de forma que o Conselho Deliberativo foi organizado enquanto um 
órgão de representação da comunidade escolar, tratando-se de uma instância 
colegiada que deve ser composta por representantes de todos os segmentos 
que constituem a escola.
O Conselho Deliberativo Escolar é um órgão de representação 
da comunidade escolar, tratando-se de uma instância colegiada que 
deve ser composta por representantes dos segmentos da comunidade 
escolar. O Conselho Deliberativo Escolar irá se constituir como um local 
de discussão de caráter consultivo, deliberativo e mobilizador. 
O Conselho Deliberativo Escolar estabelece-se, de forma geral, 
como um importante segmento para a gestão democrática da educação, 
de modo que as suas atividades devem permitir a formação cidadã, 
contribuindo para que a comunidade escreva a sua própria história. 
Diz-se que a educação democrática deve possibilitar ao educando 
espaço para sua participação como cidadão ativo em todos os âmbitos 
da sociedade, levando-o a desenvolver o senso crítico; assim, também 
o Conselho Deliberativo fornece espaço de aprendizagem democrática, 
onde os estudantes aprendem e assumem responsabilidades.
Em geral, o Conselho Deliberativo Escolar comporta quatro 
competências fundamentais, a saber:
a) Deliberativa: entende-se que o Conselho tem a atribuição de decidir so-
bre determinadas questões, definindo normas, procedimentos, e avalian-
do recursos que porventura sejam interpostos sobre decisões anteriores. 
O Conselho 
Deliberativo Escolar 
é um órgão de 
representação 
da comunidade 
escolar, tratando-se 
de uma instância 
colegiada que deve 
ser composta por 
representantes 
dos segmentos 
da comunidade 
escolar. O Conselho 
Deliberativo Escolar 
irá se constituir 
como um local 
de discussão de 
caráter consultivo, 
deliberativo e 
mobilizador.
115
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
b) Consultiva: cabe ao Conselho elaborar pareceres com base na legis-
lação vigente sobre questões levantadas por membros da comunidade, 
propondo medidas e normas parao aperfeiçoamento do ensino.
c) Fiscal: compete ao Conselho Escolar fiscalizar o cumprimento de nor-
mas e a legitimidade de ações, aprová-las ou determinar mudanças para 
sua adequação à legislação. 
d) Mobilizadora: por último, o Conselho Escolar tem como função promov-
er a participação social através da mediação entre a sociedade e o poder 
público em vista da promoção dos direitos educacionais.
O Conselho Escolar se constitui, portanto, na própria expressão da escola, 
como seu instrumento de tomada de decisões. A Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação de 1996, em seu Art. 14, concebe essa instância como uma estratégia 
de gestão democrática da escola pública, onde se exerce o poder das comunidades 
escolar e local, fazendo ecoar a voz dos diferentes atores da escola. Apesar do que 
trata a LDB de 1996, cada Estado é responsável, pela autonomia que lhe é conferida, 
por regulamentar a gestão democrática através de leis, decretos e portarias que 
viabilizem mecanismos participativos eficientes. Da mesma forma, cabe às próprias 
escolas a definição das prerrogativas de seus conselhos, instituindo suas diretrizes 
através da consolidação de seu estatuto social. 
Conheça o modelo de Estatuto que o Ministério da Educação 
sugere, definindo objetivos, funcionamento e normas que podem ser 
adotadas pelas escolas brasileiras em seus colegiados. Disponível em: 
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/pr_lond_sttt.pdf>.
A seguir reproduzimos um quadro onde é possível analisar as diferenças em 
relação à denominação, regulamentação, categorias, forma de escolha e presidência 
desse colegiado em cada um dos estados brasileiros (BRASIL, 2004, p. 47-49):
116
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Quadro 1 - Natureza, composição e funcionamento dos Conselhos Escolares
UF Denominação Regulamento Categorias Escolha Presidência Observações
AM
Associações de 
Pais, Mestres 
e Comunitários 
(APMC) 
(Entidade civil)
Estatuto registrado 
em cartório
Três categorias de 
sócios: Natos (pais 
e trabalhadores da 
escola); Comunitários 
(provados pela diretoria 
- exeto estudantes); 
Beneméritos (que 
prestam serviços 
à escola).
Diretoria: 
eleita pela 
assembléia, 
sendo 
elegíveis, país, 
professores e 
especialistas 
da escola
Eleita pela 
assembléia, 
sendo 
elegível 
professores 
ou técnico 
da escola
Trata-se de uma 
entidade de 
apoio à escola, 
com poderes 
delíberativos de 
gestão físico e 
financeira, mas 
não pedagógica
PA Conselho Escolar (Entidade civil)
Regimento 
registrado em 
cartório
Diretor e Vice (natos); 
Representantes 
de: Professores 
e funcionários; 
Pais e estudantes 
(+ de 12 anos) e 
comunidade local.
Eleitos pelos 
pares
Diretoria 
eleita pela 
assembléia
Funções 
pedagógicas e de 
unidade executora
AL
Conselho 
Interativos das 
Escolas (Estrutura 
da escola)
Regimento próprio, 
aprovado pela 
assembléia da 
Comunidade 
Escolar
Corpo docente - 25% 
Funcionários - 25% 
Pais ou responsáveis - 
25% Estudantes - 25%
Definida pelo 
regimento 
interno de cada 
conselho
Diretor da 
escola
Prevê uma 
assembléia-geral 
da comunidade 
escolar, convocada 
semestralmente, 
superior ao 
Conselho
BA
Colegiado 
Escolar (Estrutura 
da escola)
Estatuto aprovado 
pela assembléia-
geral da escola
Diretor e um 
representante 
dos: Professores e 
especialistas: Pessoal 
administrativo; Corpo 
discente (+ de 12 anos)
Cada segmento 
elegerá o seu 
representante. 
O diretor é 
membro nato.
Eleito pelos 
pares
Prevê, também, 
assembléia-geral 
e Conselho Fiscal
MA
Colegiado 
Escolar (Estrutura 
da escola)
Regimento próprio, 
aprovado pela 
assembléia
(Número varia de 4 
a 16) Professores e 
servidores - 50% Pais 
ou responsáveis - 25%; 
Estudantes - 25%
Eleição pelos 
pares, em 
assembléia-
geral
Diretor da 
escola
A Caixa Escolar 
é a unidade 
executora da 
escola. O conselho 
é a instância 
delíberativa
PB Conselho de Escola(Entidade civil)
Estatuto registrado 
em cartório
Diretor e Vice; um 
especialista; um 
professor e um 
estudante por turno; 
um funcionário; um 
pai de estudante e um 
menbro da comunidade
Pai e estudante 
(+16 a) 
eleitos pelos 
pares. Não há 
indicação sobre 
os demais
Eleito pelos 
pares
Funções 
pedagógicas e de 
unidade executora
PE
Conselho Escolar 
(Estrutura da 
escola)
Normas da sistemz 
e regimento 
da escola
Diretor da escola e 
um representante 
de cada categoria: 
professores, corpo 
administrativo, pais, 
estudantes e entidades 
da comunidade.
Eleitos pelos 
pares, com 
mandato de 
dois anos, 
exceto o diretor
Diretor da 
escola
Prevê, também, 
assembléia-geral 
e Conselho Fiscal
UF Denominação Regulamento Categorias Escolha Presidência Observações
SE Comitê Comunitário (Entidade civil)
Estatuto registrado 
em cartório
Diretor da escola e 
um representante 
da unidade escolar, 
e das categorias: 
professores, 
funcionários, pais, 
grêmio escolar e 
entidades sociais
Eleitos/
indiciados por 
suas categorias 
ou entídades 
Mandato: 
2 anos
Diretor da 
escola
Funções 
pedagógicas e de 
unidade executora
GO Conselho Escolar (Entidade civil)
Estatuto registrado 
em cartório
Número: mínimo 5 
e máximo 15 Diretor 
da escola (membro 
nato); Professores e 
servidores - 50%; Pais 
e estudantes - 50%
Eleição pelos 
pares
Eleito pelos 
pares
Funções de 
unidade executora 
do PDDE
MT
Conselho 
Delíberativo da 
Comunidade 
Escolar (Estrutura 
da escola)
Normas do 
sistema e 
regimento 
da escola
Número: mínimo 8 e 
máximo 16 Segmento 
escolar - 50% 
(Diretor - membro 
nato); Segmento 
comunidade - 50%
Eleição em 
assembléia 
do respectivo 
segmento
Eleitos 
pelos pares 
(excluído o 
diretor da 
escola)
Prevê, tambpém, 
assenbléia-geral 
e Conselho Fiscal 
Unidade executora: 
a própria escola
MS
Colegiado 
Escolar (Estrutura 
da escola)
Normas do 
sistema e 
regimento 
da escola
Profissionais da 
escola - 50% - (Diretor 
e Diretor - Adjunto 
(membro natos); Pais 
e estudantes - 50%
Eleitos pelo 
respectivo 
segmento
Eleito pelos 
pares 
(excluída a 
direção)
Unidade executora: 
a própria escola
117
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
UF Denominação Regulamento Categorias Escolha Presidência Observações
RJ
Associação de 
Apoio à Escola 
(Entidade civil)
Estatuto (Padrão) 
registrado em 
cartório
Associado: 
Efetivo: todos os 
estudantes;Colabo-
radores: professores, 
funcionários e 
outras pessoas 
física e jurídicas
Todos membros 
natos ou 
admitidos pela 
diretoria
Diretor 
da escola 
(eleito pela 
comunidade 
escolar)
Função de unidade 
executora
SP Conselho de Escola Rgimento da escola
Estudantes e 
pais - 50% 
Docentes - 40% 
Especialistas - 5%
Funcionários - 5%
Eleição em 
assembléia 
da respectiva 
categoria
Diretor 
da escola 
(membro 
nato)
A Caixa Escolar 
(entidade 
jurídica) é a 
unidadeexecutora 
da escola. O 
conselho de Escola 
é a instância 
deliberativa
PR Conselho Escolar
Estatuto e 
regimento próprios 
(órgão autônomo)
Diretor Todos os 
segmentos da 
comunidade escolar 
(definidos no Estatuto) 
- estudante +16 anos
Eleitos pelos 
pares, mediante 
voto secreto, ou 
por aclamação
Diretor 
da escola 
Eleito pela 
comunidade
Funções 
pedagógicas e de 
unidade executora
RS Conselho Escolar Regimento próprio
Número - entre 3 
e 21 Direção da 
escola Professores e 
servidores - 50% Pais 
e estudantes maiores 
de 18 anos - 50%
Eleição 
mediante 
champas 
respeitando 
a proporcio-
nalidade 
Mandato: 
2 anos
Eleito pelos 
pares
A escola é 
executora. 
O conselho 
tem funções 
deliberativas, 
consultivas e 
físcais em matéria 
pedagógica e 
administrativa.
SC
Conselho 
Deliberativo 
Escolar (Estrutura 
da escola)
Normas do 
sistema e 
regimento 
da escola
Número definido pela 
escola professores e 
servidores - 50% Pais 
e estudantes (a partir 
da 5ª série) - 50%
Eleitos pelos 
respectivos 
segmentos.
Eleito pelos 
pares
Funções peda 
gógicas e 
administrativase eficais sobre 
os recursos 
financeiros 
Unidade 
executora: APP
DF
Conselho Escolar 
(Estrutura da 
escola)
Normas do 
sistema e 
regimento 
da escola
Diretor da escola 
(membro nato); 4 da 
carreira magistério 
(1 especialista); 2 
carreira assinstência à 
educação; 3 estudantes 
(+ de 14 anos); 6 pais
Eleitos pelos 
pares
Eleito pelos 
pares
Funções peda 
gógicas e 
administrativas 
e eficais sobre 
os recursos 
financeiros 
Unidade executora: 
escola
ES Conselho de Escola Regimento próprio
Número: mínimo de 
5 e máximo de 15 
Diretor; professores 
e servidores (50%); 
Pais e estudantes 
(maiores de 10 anos) 
e representante 
da comunidade 
local (50%)
Eleição pela 
assembléia 
escolar 
(regulamentada 
pela Secretaria 
de Educação) 
Mandato: 
3 anos
Eleito pelos 
pares (o 
diretor, não 
sendo eleito 
presidente, 
será o 
tesoureiro)
Fuções 
pedagógicas e de 
unidade executora
MG Colegiado Escolar
Normas do 
sistema e 
regimento 
da escola
Professores e 
especialistas - 25%; 
Servidores do quadro 
- 25%; Estudantes (7ª 
série em diante) - 25% 
Pais (estudantes 1ª 
a 6ª séries) - 25%
Eleições pelos 
respectivos 
segmentos 
Mandato: 
2 anos
Diretor da 
escola
Funções 
pedagógicas, 
administrativas 
e fiscais sobre 
os recursos 
financeiros 
Unidade executora: 
Caixa Escolar
Fonte: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/
pdf/Consescol/ce_gen.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2016.
118
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Apesar das especificidades de cada estado brasileiro, podemos resumir as 
atribuições do Conselho Deliberativo da seguinte forma:
• Participar da avaliação e reelaboração do Projeto Político-Pedagógico da 
escola;
• Acompanhar e avaliar o desempenho da escola quanto às prioridades 
e metas estabelecidas no Projeto Político-Pedagógico, em consonância 
com as diretrizes nacionais e estaduais;
• Definir conjuntamente com as demais entidades e direção da escola, 
critérios para o uso do prédio escolar para outras atividades que não as 
de ensino;
• Analisar e emitir parecer, fundamentados na legislação e diretrizes da 
SED, sobre projetos elaborados pelos diversos segmentos que compõem 
a comunidade escolar;
• Propor alternativas de solução dos problemas de natureza administrativa 
e/ou pedagógica, tanto daqueles detectados pela própria entidade, como 
dos que forem a ela encaminhados por escrito pela comunidade escolar;
• Articular ações em parcerias com as entidades da sociedade que 
possam contribuir para a melhoria da qualidade do processo ensino-
aprendizagem;
• Elaborar e/ou reformular o Regimento do Conselho Deliberativo Escolar, 
sempre que se fizer necessário em consonância com a legislação vigente;
• Promover círculos de estudos envolvendo os conselheiros, visando a um 
melhor desempenho do trabalho;
• Buscar mecanismos que garantam a capacitação continuada para todos 
os segmentos da comunidade escolar;
• Participar da discussão e definição de critérios para a distribuição de 
material escolar ou de outros materiais destinados aos alunos;
• Discutir e fiscalizar, juntamente com as demais entidades representativas 
da comunidade escolar, sobre o destino de verbas da escola, 
considerando os recursos descentralizados e/ou oriundos de parcerias 
com outras instituições ou arrecadação de contribuições espontâneas, 
doações, legados e outras promoções;
• Divulgar através de relatórios ou boletins todas as ações desenvolvidas 
pelo CDE, a todos os segmentos da comunidade escolar;
• Assessorar e colaborar efetivamente com o gestor escolar em todas as 
suas atribuições, com destaque especial para:
- Colaborar para o cumprimento das disposições legais;
- Assessorar a preservação do prédio e dos equipamentos escolares;
119
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
- Comunicar ao órgão competente as situações de emergência em casos 
de irregularidades na escola (as que representam risco à integridade 
física, moral e profissional das pessoas; as que caracterizem risco ao 
patrimônio escolar; aquelas que, comprovadamente, se configurem como 
trabalho inadequado, acarretando prejuízo pedagógico; o desvio de 
merenda escolar, material de qualquer espécie e recursos financeiros).
Associação de Pais e Mestres – APM 
Conforme já vimos nos capítulos anteriores, remonta à Constituição de 1937 
a instituição de um modelo de financiamento para o qual as famílias deveriam 
contribuir com as escolas de seus filhos (art. 130). Assim, a Associação de Pais 
e Mestres (APM) se constitui enquanto uma associação sem fins lucrativos que 
representa os interesses comuns dos profissionais e dos pais dos alunos de uma 
escola, de forma que cada um deles colabore com a gestão escolar com o objetivo 
de melhorar a aprendizagem dos alunos e a qualidade da educação oferecida 
pela escola. A APM permite que famílias e escola dialoguem, promovendo uma 
integração da comunidade com a instituição de forma democrática. 
Não há na legislação federal, contudo, nenhuma tratativa quanto à criação 
e gestão dessas associações, sendo sua existência obrigatória somente para 
as escolas que eventualmente estiverem dentre as instituições financiadas pelo 
Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), do Ministério da Educação. 
De qualquer forma, tanto quanto em relação aos Conselhos Escolares, 
as Associações de Pais e Mestres seguem o preceito assinalado pela Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação de 1996, em seu Artigo 14, quando é garantida a 
gestão democrática do ensino público por meio da “participação dos profissionais 
da Educação na elaboração do projeto pedagógico da escola” e da “participação 
das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”. 
Além disso, as Associações de Pais e Mestres também estão previstas no Plano 
Nacional de Educação, em sua estratégia 19.4, quando se trata do fortalecimento 
dessas entidades. 
De forma geral, a Associação de Pais e Mestres deve auxiliar a diretoria 
escolar para que ela cumpra os objetivos e intenções do seu projeto político 
pedagógico, representando os interesses de pais e professores em vista de uma 
educação de qualidade. Ela tem objetivos administrativos e pedagógicos, embora 
120
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
sua atuação no âmbito financeiro da escola seja protuberante, uma vez que as 
unidades de ensino não têm autonomia para gerir de forma direta as verbas 
subvencionadas às instituições pelos programas de apoio financeiro. Assim, as 
associações têm a tarefa de decidir como os recursos governamentais serão 
investidos na escola e como serão definidas as aplicações/arrecadações por 
outros meios (eventos, rifas, contribuições etc). 
Diante de seu caráter administrativo, as escolas que recebem verbas do 
PDDE são obrigadas a elaborar um estatuto, registrando-a como uma entidade 
jurídica de direito privado no cartório de pessoas jurídicas de sua circunscrição, 
sendo os membros eleitos por seus pares em assembleias gerais para mandatos 
de dois anos.
Para saber mais sobre as Associações de Pais e Mestres, 
sua atribuição, fins, procedimentos, consulte: <http://www.fnde.
gov.br/arquivos/category/191-consultas?download=9059:manual-
de-or ien tacao-para-const i tu icao-de-un idade-executora-
propria-07082014>.
A APM é uma associação constituída por pais e professores das escolas 
com finalidades determinadas livremente em seus próprios estatutos, que 
na maioria das vezes apontam para alternativas de trabalho conjunto e com 
objetivos que levam em consideração a realidade da escola à qual está vinculada. 
Resumidamente, é um organismo de representação e organização dos pais, dos 
educadores e da comunidade escolar.
Apesar de autônomas, as Associações de Pais e Professores, em geral, 
devem se orientar pelos seguintes preceitos gerais:
• Integrar escola e comunidade através da participação dos seus segmentos;
• Contribuir para a melhoria do processo ensino/aprendizagem nos seus 
diversos aspectos, juntamente com a equipe gestorae as demais 
entidades representativas existentes na unidade escolar, discutindo e 
analisando a realidade envolvendo toda a comunidade escolar;
121
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
• Participar com a equipe gestora, corpo docente e demais entidades da 
comunidade escolar, na execução, avaliação e re-elaboração do Projeto 
Político-Pedagógico da escola, sugerindo e reivindicando inovações de 
cunho administrativo e pedagógico;
• Instituir a gestão democrática na APP e contribuir com a equipe gestora 
da escola, para que esta seja extensiva aos demais segmentos que 
compõem a comunidade escolar, promovendo a participação política na 
construção da autonomia;
• Colaborar com a equipe gestora, com os professores e com outras 
entidades organizadas da escola, na busca de consenso provisório para 
solucionar conflitos gerados no cotidiano escolar e que são necessários 
para a construção da cidadania, contribuindo para a solução de 
problemas inerentes à vida escolar, no sentido de melhorar as relações 
entre escola, pais e/ou responsáveis legais;
• Atuar como órgão representativo e organizador da comunidade escolar, 
constituindo-se em um espaço público de participação da comunidade local;
• Promover debates que propiciem o afloramento das relações de poder 
enraizadas na prática cotidiana, visando romper com os mecanismos 
e artimanhas contrárias ao processo democrático na construção da 
cidadania;
• Promover com a equipe gestora da escola e/ou em cooperação com 
outras entidades, campanhas, atividades sociais, culturais e desportivas, 
bem como para o funcionamento de cursos comunitários;
• Cooperar na conservação do prédio e equipamentos e da unidade escolar;
• Incentivar a criação e atuação do Grêmio Estudantil e atuar junto com 
o Conselho Deliberativo, de forma colaborativa sempre que houver 
necessidade;
• Administrar os recursos provenientes de subvenções, doações e 
arrecadações da entidade, prestando contas dos recursos públicos 
aos órgãos públicos, e de todas as movimentações financeiras, à 
comunidade escolar;
• Através do voluntariado, administrar os serviços essenciais de limpeza 
e alimentação escolar da unidade escolar, sendo responsável pela 
contratação e demissão de empregados, dependendo da necessidade e 
da possibilidade da manutenção destes;
• Administrar a Cantina Escolar, desde que deliberado conjuntamente com 
a Gestão Escolar e Conselho Deliberativo Escolar.
122
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Grêmio Estudantil
Ao longo deste caderno vislumbramos uma série de transformações no 
cenário legislativo e educacional, advindas, principalmente, dos movimentos 
sociais, para os quais a participação juvenil foi fundamental. Assim, acabamos 
nos deparando com a criação, em 1937, de uma entidade brasileira que passa 
a representar os estudantes universitários, a União Nacional dos Estudantes – 
UNE, e em 1948, também nos deparamos com a criação da União Brasileira dos 
Estudantes Secundaristas – UBES. Ambas atuarão de forma muito ativa durante 
os movimentos contra a ditadura militar dos anos subsequentes, confirmando o 
ímpeto dos jovens para a transformação social. 
O Grêmio Estudantil é um dos mecanismos para o desenvolvimento da cidadania 
do educando, cidadania esta que deve ser fomentada, discutida e exercida.
Assim, depois de todo o histórico de lutas observado, principalmente durante 
o movimento das “Diretas Já”, em 1985, os estudantes secundaristas, que tiveram 
suas atividades restritas e extintas pela ditadura militar, voltam a ter o direito de se 
reunirem em grêmios estudantis através da Lei nº 7.398. 
Atualmente, a organização de agremiações fortalece o protagonismo juvenil 
através da gestão participativa. O entendimento atual é que os jovens discutam e 
conscientizem outros jovens, qualificando-os para que possam contribuir com mais 
criticidade, interagindo e mudando o contexto social e da escola em que vivem.
Para pensar um pouco mais sobre o protagonismo juvenil, que 
já tratamos anteriormente quando, no capítulo anterior, falávamos do 
Movimento das Ocupações, acesse: <https://periodicosonline.uems.
br/index.php/interfaces/article/view/1233/1102>.
O Grêmio Estudantil constitui-se como uma entidade representativa dos alunos, 
que deve participar ativamente na elaboração, execução, avaliação e reelaboração 
do Projeto Político-Pedagógico da Escola, favorecendo o desenvolvimento da 
consciência crítica, da realidade social, da prática democrática, da criatividade e da 
iniciativa dos alunos, indispensáveis para o exercício da cidadania. Assim, essas 
agremiações devem objetivar, de forma geral:
123
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
• Defender os interesses dos educandos para que sejam respeitados os 
seus direitos, bem como para que os mesmos cumpram os seus deveres;
• Representar os estudantes nas discussões de possibilidades de ações 
na escola e na comunidade;
• Estabelecer parcerias com a APP e Conselho Deliberativo Escolar para 
soluções de problemas existentes na escola e demais ações pertinentes 
ao andamento das atividades escolares;
• Contribuir para o exercício da cidadania, possibilitando a atuação do jovem 
na construção da cultura da paz através de uma sociedade mais justa;
• Contribuir para a dinamização do processo pedagógico discutindo com 
a comunidade escolar as dificuldades de aprendizagem, repetência, 
infrequência, evasão e atitudes comportamentais dos alunos, buscando 
possíveis soluções;
• Envolver os pais e a comunidade escolar em ações contínuas sobre 
temáticas multidisciplinares, como a Educação Fiscal, Educação 
Ambiental, Educação Sexual, Prevenção ao uso indevido de Drogas 
e outras de interesse desta comunidade, que devem também estar 
contempladas no Projeto Político-Pedagógico;
• Promover o envolvimento do aluno no ambiente escolar, através de 
atividades pedagógicas, culturais, recreativas e esportivas;
• Respeitar as autoridades constituídas, tendo-as como parceiros.
Atividade de Estudos:
1) Você acaba de saber um pouco mais sobre o funcionamento e as 
bases de alguns organismos que favorecem a construção de uma 
escola mais democrática. Nestes termos, descreva quais são, a 
seu ver, os impeditivos para que este movimento democrático se 
constitua de forma efetiva em nossas escolas.
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124
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Projeto Político-Pedagógico – PPP
O Projeto Político-Pedagógico, enquanto resultado expressivo de todas as 
lutas e movimentos travados na história do país pela redemocratização, deve se 
constituir como a referência que norteia todos os âmbitos da ação educativa 
da escola, por isso ele requer a participação de todos aqueles que compõem a 
comunidade escolar para sua efetiva elaboração e implementação.
Nenhuma escola se estrutura sem objetivos a alcançar, metas a cumprir e 
sonhos a realizar, de modo que o conjunto dessas aspirações e os meios para 
concretizá-las é o que dá forma e vida ao chamado PPP. 
O Projeto Político-Pedagógico nasceu após a Constituição de 1988 
para dar autonomia às escolas na elaboração da própria identidade. 
Esse projeto é o referencial de qualquer instituição de ensino.
Em resumo, podemos considerar que seu nome já traduz a essência 
do que se propõe, afinal, estamos falando de um “projeto, porque reúne 
propostas de ação concreta a executar durante determinado período 
de tempo, que é político, por considerar a escola como um espaço 
de formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos, que 
atuarão diretamente na sociedade, modificandoos rumos que ela 
vai seguir, e que é também pedagógico, porque define e organiza as 
atividades e os projetos educativos necessários ao processo de ensino 
e aprendizagem” (LOPES; GURGEL, 2010, p. 1). Assim, sobre o itinerário político-
pedagógico traçado pelo PPP na luta pela democratização, podemos ler que: 
A educação transmite porque quer conservar; e quer conservar 
porque valoriza certos conhecimentos, certos comportamentos, 
certas habilidades e certos ideais. Nunca é neutra: escolhe, 
verifica, pressupõe, convence, elogia e descarta. Tenta 
favorecer um tipo de homem em face dos outros, um modelo 
de cidadania, de disposição para o trabalho, de maturidade 
psicológica e até de saúde, que não é o possível mas que se 
considera preferível aos demais [...] nenhum professor pode ser 
verdadeiramente neutro, isto é, escrupulosamente indiferente 
diante das diversas possibilidades que se oferecem ao seu 
aluno: se o fosse, começaria antes de tudo por respeitar (por ser 
neutro diante dela) sua própria ignorância, o que transformaria 
a demissão em seu primeiro e último ato de magistério. [...] 
De modo que a questão educacional não é "neutralidade-
partidarismo", mas sim estabelecer que partido vamos tomar. 
Não pode nem deve haver neutralidade, por exemplo, no que 
se refere ao repúdio à tortura, à pena de morte, à prevaricação 
dos juízes ou à impunidade da corrupção em cargos públicos; 
O Projeto Político-
Pedagógico nasceu 
após a Constituição 
de 1988 para 
dar autonomia 
às escolas na 
elaboração da 
própria identidade. 
Esse projeto é 
o referencial de 
qualquer instituição 
de ensino.
125
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
nem no que diz respeito à defesa das proteções sociais à 
saúde ou à educação, à velhice ou à infância, nem quanto ao 
ideal de uma sociedade que corrija o mais possível o abismo 
entre opulência e miséria. Por quê? Porque não se trata de 
simples opções partidárias, mas de realizações da civilização 
humanizadora às quais já não podemos renunciar sem incorrer 
em concessão à barbárie (SAVATER, 2012, p. 141-153).
Já a LDB de 1996 (artigos 12 a 14) estabelece a orientação de que as 
escolas sejam responsáveis por elaborar, executar e avaliar elas mesmas seus 
projetos pedagógicos. A legislação define, contudo, as normas que deverão ser 
observadas para a gestão democrática escolar (art. 14), a saber, a participação 
dos profissionais de educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a 
participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares equivalentes.
O que se pretende, de forma geral, é que as decisões não sejam mais 
centralizadas na figura do gestor escolar, que por muito tempo teve sua atividade 
alinhavada com os interesses dos mandatários políticos. O Projeto Político-
Pedagógico tem o objetivo de descentralizar a gestão com o fortalecimento da 
autonomia da escola e da participação democrática da sociedade. De modo geral, 
podemos dizer que o PPP deve:
• Definir a concepção de mundo, sociedade, homem e escola que querem 
trabalhar e produzir;
• Objetivar como se fará a organização da instituição para a materialização 
desta concepção;
• Definir o seu ponto de partida – através de um referencial de realidade – 
e o ponto de chegada que se constituirá no seu objetivo maior;
• Estabelecer os passos a serem dados para a materialização da proposta 
filosófica definida;
• Definir a função social e pública da escola;
• Definir as relações de poder no interior da escola;
• Definir as instâncias de deliberação coletiva e individualizada;
• Materializar as condições necessárias à garantia dos direitos e deveres 
dos segmentos que compõem a comunidade escolar – alunos, pais, 
professores e corpo diretivo-administrativo.
Do mesmo modo, o projeto escolar deve estabelecer, minimamente:
• O número de alunos por séries e/ou turmas em cada nível de ensino e 
sua justificativa dentro da filosofia proposta;
• As normas de organização e convivência da comunidade escolar;
126
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
• A função social e pública de cada integrante da comunidade escolar, 
quais sejam: alunos, pais, professores e especialistas, direção da escola, 
secretaria da escola, pessoal de apoio, APP, grêmio estudantil e outros;
• O processo de capacitação de recursos humanos intra e extra-escolar;
• As funções dos Conselhos de Classe e Deliberativo, enquanto instâncias 
de decisões coletivas, sociais e públicas;
• O calendário escolar para a materialização do planejamento anual/
quinquenal;
• A função social e pública da biblioteca escolar e dos materiais didático-
pedagógicos;
• As referências bibliográficas que fundamentaram a proposta filosófica 
e aquelas que darão suporte na materialização do processo de ensino-
aprendizagem;
• As datas e semanas comemorativas como atividades suplementares e 
convergentes com a proposta formulada;
• O programa de formação de cidadania nas diversas áreas do 
conhecimento;
• O currículo, seus objetivos, metas, referências bibliográficas e, 
principalmente, como ocorrerá a materialização do mesmo;
• O processo de avaliação como forma de constatar a apropriação real 
de conhecimento, nas suas formas cotidiana, bimestral ou semestral e 
anual e, em decorrência destas, o processo de recuperação.
Podemos dizer, para concluir esta seção, que o Projeto Político-Pedagógico 
é o resultado de décadas de lutas em favor da democratização e da participação 
popular, expressando em seu seio um ideal de escola cujas práticas se alicerçam 
em um projeto coletivo, devidamente elaborado, para uma sociedade melhor.
 Muitas escolas ainda mantêm o PPP como um instrumento 
de poder e justificação das práticas pedagógicas e administrativas 
constituídas. Não há a efetiva participação da comunidade na 
formulação, execução e avaliação desse importante documento. 
Para refletir: Você conhece o Projeto Político-Pedagógico de 
sua escola ou participou de sua elaboração? Há nele a elaboração 
de um projeto que pense uma escola para o amanhã ou apenas se 
estabelecem as práticas cotidianas do fazer escolar?
127
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
Gestão Democrática Escolar – Direção 
Escolar
No país existiram diversas formas de acesso à gestão das escolas públicas, 
destacando-se (BRASIL, 2004b): 
1) Diretor indicado pelos poderes públicos: a livre indicação dos 
diretores pelos poderes públicos se fundamenta na prerrogativa do 
gestor público em indicar o diretor como um cargo de confiança da 
administração pública, transformando a escola, muitas vezes, num 
espaço instrumentalizador de práticas autoritárias, barganhas políticas e 
ingerência na gestão escolar;
2) Diretor de carreira: neste caso o acesso ao cargo de diretor pode 
considerar critérios como o tempo de serviço, o merecimento e/ou a 
distinção e escolarização. De forma geral, contudo, o modelo apresenta-
se como uma variação da modalidade de indicação política;
3) Diretor aprovado em concurso público: nesse modelo a nomeação 
do diretor é baseada num processo de seleção com base em méritos 
intelectuais. Como, no entanto, a gestão escolar é um ato político, 
compreende-se que o cargo não deve constituir uma função vitalícia, 
já que não leva em consideração a participação efetiva da comunidade 
escolar e local;
4) Diretor indicado por listas tríplices ou sêxtuplas ou processos 
mistos: no modelo de indicação a partir de listas tríplices ou sêxtuplas, 
ou a combinação de processos (modalidade mista), há a consulta 
à comunidade escolar para a indicação de nomes dos possíveis 
dirigentes. Em seguida, o próprio Poder Executivo avalia os candidatos, 
submetendo-os à avaliações que considerarem pertinentes, resultando 
na nomeação de um dos candidatos apresentados inicialmente pela 
comunidade escolar. Esse modelo deixa a dúvida sobre o papel da 
comunidade na escolha de seu gestor, pois o processo desenvolvido 
pode apenas legitimar o discurso da participação e da democratização 
das relaçõesescolares.
5) Eleição direta para diretor: as eleições diretas para diretores podem ser 
consideradas uma das modalidades mais democráticas para a escolha 
dos gestores das escolas, já que o processo implica uma retomada ou 
conquista da decisão sobre os destinos da escola pela própria escola. 
128
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
O importante na forma com que o diretor é escolhido é a garantia plena da 
gestão democrática da escola, afinal, o ocupante do cargo deve possibilitar em 
sua gestão a efetiva participação das comunidades local e escolar. Em muitos 
dos casos, porém, os diretores das escolas ainda são escolhidos através de 
indicação política, seja de uma ou outra maneira. Assim, os candidatos acabam 
ocupando cargos comissionados e, portanto, sua escolha atende normalmente 
a uma demanda por benefícios aos cabos eleitorais, que ajudam nas eleições 
e, desta forma, têm como recompensa tais provimentos – prática que, de certa 
forma, remonta ainda ao período do Império, quando a escolha de cargos para o 
exercício público dava-se, em grande parte, por mecanismos políticos. O principal 
problema desta forma de seleção é que, em geral, os diretores acabam agindo 
em consonância com os interesses dos seus representantes, a quem devem certa 
subordinação, colocando, portanto, os interesses da própria escola em segundo 
plano. Os organismos democráticos da escola, como a Associação de Pais e 
Professores, o Conselho Deliberativo e o Grêmio Escolar, neste contexto, acabam 
sendo um instrumento de “democratização” das decisões autoritárias do diretor 
escolar, que as promove em total consonância com as concepções daqueles a 
quem representam dentro do poder público. 
De maneira geral, os processos democráticos ora impingidos pelos 
mecanismos aqui expostos a partir da Constituição de 1988 acabavam esbarrando 
na gestão escolar, que mantinha o controle sobre os rumos que as escolas 
tomavam e que, portanto, mantinham os organismos democráticos escolares 
praticamente na “rédea”, dirigindo-os, seja por participação, manipulação ou 
conformação (era comum observar-se nos processos de escolhas destes 
organismos que o diretor agia na “seleção” dos membros que fariam parte das 
chapas apresentadas para a escolha da comunidade escolar).
 
Assim, uma das grandes conquistas dos movimentos populares e da 
redemocratização da escola brasileira foi também a mudança, em muitos 
estados brasileiros, na forma de escolha dos diretores escolares, que passaram 
a ser eleitos pelas próprias comunidades diante das propostas que apresentam. 
Desta forma, a gestão escolar passa a ser exercida pela equipe gestora (diretor 
de escola e assessoria), com observância às diretrizes e normas oriundas das 
secretarias de Educação, da legislação educacional vigente, do PPP e do plano 
de gestão escolar traçado pelo candidato para sua gestão. 
129
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
Atividade de Estudos:
1) Os Planos de Gestão Escolar, mesmo que tardiamente, cumprem 
a função de democratizar a escola, oferecendo mais autonomia 
em suas práticas. O que se verifica, contudo, é que os processos 
realizados para a escolha dos novos gestores escolares não 
são sempre totalmente democráticos, por vezes implicando 
complicações àqueles que desejam ocupar o cargo. 
 Assim, que tal refletir um pouco sobre esse movimento e 
sobre o quanto ele se conforma às lutas promovidas em prol da 
democratização escolar?
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O Papel do Educador no Século XXI
O que vimos até o momento, através do estudo do direito educacional, 
demonstra como a sociedade se organizou ao longo da história em vista da 
democracia e como essa luta mobilizou instâncias que viabilizaram também 
a democratização da escola, bem como sua autonomia. Nestes termos, 
vislumbramos como a participação da comunidade escolar na gestão educacional 
passa a se tornar algo real no cotidiano das escolas, embora ainda tenhamos 
grandes desafios no sentido de efetivar tais instâncias como verdadeiros núcleos 
de participação coletiva. 
Esse trabalho de efetivação dos espaços democráticos como verdadeiros 
espaços de participação política pode ser considerado uma das grandes tarefas 
do educador do século XXI, que, enquanto condutor do fazer pedagógico, pode 
gerir espaços de discussão, colaborando diretamente para a construção de uma 
escola mais comprometida com a sociedade e seus rumos. 
130
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Os professores, em geral, não possuem nenhum aporte formativo no exercício 
de sua função e, mesmo assim, são considerados como sujeitos plenamente 
capacitados para o exercício do magistério. Sabemos, contudo, que vivemos 
uma realidade desafiadora, afinal, a pós-modernidade, em suas especificidades 
e contradições, é um tempo em que as circunstâncias ocasionaram um estado de 
fusão tal na sociedade que, de acordo com o sociólogo Zygmunt Bauman (2004), 
houve uma transformação radical do estado sólido para o líquido – o que pode 
ser considerado uma paráfrase ao célebre conceito marxista de que “tudo o que é 
sólido se desmancha no ar”.
Educação: Em geral, designa-se com esse termo a transmissão 
e o aprendizado das técnicas culturais, que são as técnicas de uso, 
produção e comportamento, mediante as quais um grupo de homens 
é capaz de satisfazer suas necessidades, proteger-se contra a 
hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em conjunto, de 
modo mais ou menos ordenado e pacífico.
Fonte: Abbagnano (2007, p. 305).
A revolução tecnológica acabou entrando no cotidiano das pessoas por 
tantos lados, que elas nem sequer se deram conta da enormidade das mudanças. 
Hoje há uma obsolescência muito rápida, não só dos aparatos, como também 
dos conhecimentos, das habilidades e das destrezas (MARTÍN-BARBERO, 1995, 
p.46). E assim é que se concebe que a educação deveria colaborar para que 
os professores e os alunos transformem suas vidas em processos permanentes 
de aprendizagem, na constituição de um caráter dinâmico em relação à 
informação que cada vez mais se torna pública. A educação pode ajudar os 
alunos, na construção de seu próprio projeto de vida, no desenvolvimento de suas 
habilidades, a fim de se tornarem cidadãos realizados, autônomos e criativos, 
capazes de questionar as implicações da sociedade.
É ao mesmo tempo uma revolução da modalidade técnica 
da produção do escrito, uma revolução da percepção das 
entidades textuais e uma revolução das estruturas e formas 
mais fundamentais dos suportes da cultura escrita. Daí a 
razão do desassossego dos leitores, que devem transformar 
seus hábitos e percepções, e a dificuldade para entender uma 
mutação que lança um profundo desafio a todas as categorias 
que costumamos manejar para descrever o mundo dos livros e 
a cultura escrita (CHARTIER, 2002, p. 24, apud LEMOS, 2013, 
p. 146).
131
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
A evolução das mídias digitais tem gerado a necessidade de se avaliar 
as experiências passadas, cujos hábitos se baseavam em modelos culturais 
estabelecidos ou consagrados. Nesse sentido, o livro didático, enquanto uma 
experiência analógica, acaba sendo também alvo de considerações, afinal, 
o formato digital possibilita grandes inovações na produção do conteúdo, no 
compartilhamento das informações e na criação de redes sociais. O material 
impresso, como o jornal, por exemplo, possui uma temporalidade muito própria e 
exige uma corporalidade também específica daquele que o utiliza. Esse material 
é, basicamente, descartável, portátil e, quase sempre, acessível. A diferença com 
o material disponibilizadode forma aberta na internet passa a ser os hiperlinks, 
que oferecem ao leitor possibilidades de conexões que o material impresso não 
permite. Esse material é permanentemente atualizado e, portanto, os conteúdos 
não se fecham e não se constituem como descartáveis – eles estão sempre lá, 
“linkados”, “relinkados” e “hiperlinkados”. Esse produto pode ser considerado, 
portanto, como multimidiático e interativo. Além de tudo, todo esse material passa 
a constituir uma memória informacional sempre disponível, diferente do que 
acontece com o material impresso, logo descartado. É certo, porém, que o leitor é 
exigido no ambiente virtual de forma diferente do que era quando lia um material 
impresso. O leitor precisa ter uma nova postura, novos hábitos, interagindo com o 
dispositivo (computador, tablet, e-reader, celular etc). 
O que não se pode deixar de lembrar, porém, é que estes dispositivos fazem 
parte de uma rede, onde se encontram produtores de textos, vídeos e imagens, 
distribuidores, programadores, empresas, fornecedores, usuários, entre outros. 
Essa rede tem um papel fundamental nessa nova tessitura, pois colabora na 
constituição da mobilidade dos processos de informação. Muitos podem até 
duvidar de tais mudanças, mas é importante ter em mente que o processo de 
comunicação já sofreu radicais transformações ao longo da nossa história e o 
impacto deles para a educação é certamente inquestionável. Desde a invenção 
da escrita, os pergaminhos, os livros, a internet, os celulares e o surgimento 
das tecnologias móveis, muita coisa já mudou e certamente ainda muitas mais 
mudarão quanto aos suportes da leitura e da escrita. 
O que essas novas trajetórias deixam claro no momento é a dificuldade 
quanto à transição das materialidades dos dispositivos, principalmente em relação 
à concepção de originalidade e cópia. Os materiais impressos têm o hábito de 
serem considerados originais, enquanto os materiais digitais tendem a serem 
considerados apenas cópias, simulacros. “O papel formou e conformou nosso 
pensamento ao moldar formas de escrita e leitura” (LEMOS, 2013, p. 152). A 
nova configuração oferecida pelos dispositivos digitais ao leitor faz com que ele 
se transforme de alguma maneira no editor da obra e, em muitos casos, também 
o seu distribuidor. O leitor pode, em maior ou menor grau, interagir com a obra, 
reconfigurá-la, editá-la e até repassá-la adiante. 
132
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Os dispositivos não são apenas ferramentas, mas mediadores 
importantes. O mesmo podemos dizer dos demais artefatos 
técnicos: eles não são ferramentas, meios, por um lado, ou 
agentes, mediadores por outro. Se abandonamos a perspectiva 
essencialista, podemos ver nas associações e as redes em 
formação e afirmar que os artefatos não são uma coisa ou 
outra, não estão na dimensão micro ou macro, mas se definem 
nas associações, em espaços planos e em dimensões que 
colocam em tradução humanos e não humanos. Assim é com 
os dispositivos de leitura eletrônicos, assim é com a internet e 
as redes sociais (LEMOS, 2013, p. 157).
Concebemos que as tecnologias, por longo tempo, para a educação ou 
qualquer outro setor da sociedade, pareceram apenas uma ideologia, um sonho. 
Hoje, no entanto, essas tecnologias estão se difundindo na sociedade e também 
na escola de maneira tão rápida, que nem sempre é possível acompanhar as 
mudanças. A mera presença das mídias na escola não evita, porém, o fracasso 
escolar e nem estimula, por si só, os professores a repensarem seus métodos e 
os alunos a adotarem novos modos de aprender/pensar. Professores e alunos 
precisam saber tirar vantagens destes novos artefatos. 
O uso das mídias proporciona novos conhecimentos do objeto, transformando, 
pela mediação, a experiência intelectual e afetiva do ser humano, individualmente 
ou em coletividade; possibilitando interferir, manipular, agir mental ou fisicamente, 
sob novas formas, pelo acesso a aspectos até então desconhecidos do objeto. 
O professor, infelizmente, carece de motivação e meios para que possa se 
manter num processo formativo contínuo e, neste sentido, a legislação carece de 
novos instrumentos, pois o único incentivo para a formação docente acaba sendo 
o acesso a novos níveis da carreira e, portanto, a uma nova percepção salarial. 
Obviamente que este quadro se configura dentro de uma conjuntura maior, onde, 
por exemplo, podemos encontrar a Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008, que 
instituiu o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério 
público da educação básica, sem, contudo, garantir plenamente sua aplicação, 
através de brechas que fizeram com que muitos estados questionassem sua 
fórmula de aplicação, resultando em desacordos e, consequentemente, no não 
cumprimento daquilo que a legislação tinha como meta.
Para conhecer melhor a Lei do Piso Salarial, acesse: <http://
portal.mec.gov.br/piso-salarial-de-professores>.
133
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
Para saber mais sobre o assunto, sugerimos que você leia o livro 
Cultura da Convergência, de Henry Jenkins, em que o autor investiga 
o interesse em torno das novas mídias e expõe as transformações 
culturais que ocorrem à medida que esses meios convergem. 
O que percebemos é que não existe de fato uma política pública com relação 
ao incentivo formativo e que, portanto, os professores, em geral, não estabelecem 
um calendário de formação baseado em suas próprias necessidades profissionais 
– infelizmente, a procura por cursos ou formação continuada acontece apenas 
quando o professor enseja uma promoção em sua carreira. Como dissemos, a 
culpa obviamente não é do professor, pois falta-lhe incentivo dentro de sua jornada 
exaustiva, carga horária excessiva e baixos salários. O resultado, contudo, é uma 
dissonância que, segundo apontou Martín-Barbero (2004), promove uma séria 
crise na escola, advinda, principalmente, da contradição entre o vivido pelos 
jovens e o praticado em nossas escolas. 
Muitos professores, herdeiros que são de uma cultura medievalesca, se 
cerceiam da autoridade que lhe confere o livro didático e, assim como o padre que 
tinha o poder da interpretação, confirmam sua ação na negação de tudo aquilo 
que o aluno conhece e vivencia no seu cotidiano (MARTÍN-BARBERO, 2004). 
O equívoco de alguns paradigmas educacionais está exatamente em 
desconsiderar, nas suas práticas pedagógicas, a capacidade dos alunos, de 
modo que seus métodos acabam não permitindo que os estudantes desenvolvam 
a possibilidade de um pensamento criativo, que utilize como base a cultura 
acumulada para assim construir um novo conhecimento. A educação precisa ser, 
portanto, um lugar onde é possível experimentar o mundo, subjetivando-o a partir 
de sua própria imanência (DELEUZE; GUATTARI, 1992).
Assim, nos deparamos com um momento de grandes transformações no 
cotidiano de nossas vidas advindo, principalmente, de três grandes revoluções: a 
saber, a convergência, que é o fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes 
midiáticos, cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e comportamento 
migratório dos públicos de meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte 
em busca de experiências de entretenimento que desejam (JENKINS, 2008, p. 
27); a cultura participativa, que consiste na circulação de conteúdos por diferentes 
sistemas midiáticos através da participação ativa dos consumidores, que são 
incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos 
134
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
midiáticos dispersos (JENKINS, 2008, p. 28); e a inteligência coletiva, que consiste 
num movimento em que, por haver mais informações sobre determinado assunto 
do que alguém poderia conhecer, há um incentivo para que as pessoas conversem 
entre si, desta forma, ninguém pode e precisa saber tudo, pois cada um sabe 
alguma coisa no que tange à inteligência coletiva (JENKINS, 2008, p. 28).
Essas mudanças paradigmáticas apresentamum cenário participativo em 
que as pessoas utilizam dos meios de que dispõem para fazer parte de projetos 
comuns, os quais se agregam por interesse e, assim, acabamos por nos defrontar 
com um público ativo e criativo que, contraditoriamente, frequenta uma escola 
passiva, baseada exclusivamente na autoridade do livro-texto e do professor, 
como afirmação direta de um período em que a verdade era forjada pela violência. 
Martín-Barbero (2004), como já dissemos, define esse momento vivido pelas 
novas gerações como sendo de uma cultura pré-figurativa, em que os pares 
substituem os pais e o aprendido passa a ser fundado na relação com os meios 
tecnoculturais. Assim, diante deste cenário de crise com relação à escola, seria 
necessária uma segunda alfabetização, que vá muito além da leitura dos signos, 
para a leitura das múltiplas escritas, cujo resultado seja a construção de cidadãos 
que tenham a capacidade de ler de forma crítica o mundo.
Durante os anos 1990, a grande preocupação era com a questão do acesso 
às tecnologias, mas hoje a maioria das pessoas tem algum acesso a tais recursos, 
convertendo o problema na familiaridade dessas pessoas com os novos tipos de 
interação social e no domínio mais pleno das habilidades conceituais elaboradas 
em resposta à convergência das mídias. 
Para Jenkins (2008), são habilidades necessárias para que o sujeito se torne 
participante pleno da cultura da convergência:
1) Capacidade de unir seu conhecimento com o dos outros numa 
empreitada coletiva;
2) Capacidade de compartilhar e comparar sistemas de valores por meio da 
avaliação de dramas éticos;
3) Capacidade de formar conexões entre pedaços espalhados de 
informação;
4) Capacidade de expressar interpretações e sentimentos por meio da 
cultura tradicional;
135
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
5) Capacidade de circular as criações através da internet para que possam 
ser compartilhadas com os outros;
6) Capacidade de interpretar papéis como meio de explorar um mundo 
ficcional e como meio de desenvolver uma compreensão mais rica de si 
mesmo e da cultura à sua volta.
A convergência representa, portanto, uma mudança de paradigma, um 
deslocamento de conteúdo midiático em direção a um conteúdo que flui por 
vários canais, em direção a múltiplos modos de acesso a conteúdos midiáticos 
e em direção a relações cada vez mais complexas entre a mídia corporativa e 
a cultura participativa (JENKINS, 2008). À escola se institui um grande desafio, 
resumidamente, o de reinventar-se, afinal, 
[...] se as crianças devem aprender habilidades necessárias 
à plena participação em sua cultura, podem muito bem 
aprendê-las envolvendo-se em atividades como a edição 
de um jornal numa escola imaginária, ou ensinando umas 
às outras as habilidades necessárias para se sair bem em 
jogos para múltiplos jogadores, ou quaisquer coisas que 
pais e professores atualmente consideram ocupações sem 
importância (JENKINS, 2008, p. 236).
A aprendizagem tornou-se uma trajetória pessoal e singular num espaço 
complexo de oportunidades, diante do qual a escola precisa expandir suas 
funções, afinal, dentro do novo universo midiático moderno não podemos mais 
imaginar um processo em que os adultos ensinam e as crianças aprendem. 
Devemos interpretar a pedagogia midiática como um espaço cada vez mais 
amplo, onde as crianças podem também ensinar umas às outras, num processo 
cooperativo capaz de mobilizar a inteligência coletiva. Interesses compartilhados 
quase sempre conduzem a conhecimento compartilhado, visão de mundo 
compartilhada e ações compartilhadas (JENKINS, 2008, p. 288).
Esse poder emergente da participação serve como um vigoroso corretivo 
às tradicionais fontes de poder, concebido assim como adhocracia (cultura do 
conhecimento que transforma informação em ação). O desafio, portanto, não é mais 
apenas saber ler e escrever, mas saber participar. O ideal da cidadania depende 
do desenvolvimento de novas habilidades em colaboração e de uma nova ética de 
compartilhamento de conhecimento que nos permitirão deliberar juntos.
Educar, portanto, é mais do que reproduzir conhecimentos, é incentivar o 
desejo de desenvolvimento contínuo, preparar pessoas para transformar algo.
136
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Atividade de Estudos:
1) O educador é considerado como um mediador do conhecimento, 
mas o educador do século XXI deve proporcionar ao seu alunado 
não só o aprendizado, mas também e, principalmente, o gosto 
em adquirir o conhecimento. Assim, diante do que estudamos até 
o momento, como você considera que as escolas podem gerir 
um processo de transformação que auxilie na apropriação desse 
novo modelo de educar?
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Algumas Considerações
Caro estudante! Chegamos ao fim deste livro de estudos onde você obteve 
subsídios para conhecer melhor as bases epistemológicas que fundamentam 
a educação ocidental. Você pôde conhecer um pouco da constituição da escola 
brasileira e da legislação que a regula desde os tempos mais remotos da 
colonização até os dias de hoje. Conhecemos juntos um pouco daquilo que as 
nossas constituições definiram ao longo da história para a escola e as lutas sociais 
que foram travadas em vista de uma maior participação popular. Deste modo, vimos 
como as novas legislações acabaram resumindo este anseio, estabelecendo um 
arcabouço legal de grande complexidade e alcance, talvez um dos mais elaborados 
do mundo, mas que, infelizmente, ainda não foi devidamente traduzido em escolas 
com resultados realmente expressivos. Percebemos, aliás, que muitas leis foram 
sendo instituídas como forma de justificar as práticas autoritárias, sem modificá-
las de fato. Assim, pudemos vislumbrar, diante de todo o cenário legal e histórico 
apresentado, que a escola não muda enquanto nós, professores, não a fizermos 
mudar e enquanto não mudarmos a nós mesmos. Somos nós os construtores 
das lutas da escola e, principalmente, de suas conquistas. Vivemos certamente 
um universo de incertezas, desilusões e desânimo, mas somos nós os únicos 
responsáveis pela mudança que tanto almejamos. 
As leis brasileiras não mudaram porque assim quiseram as elites. As leis 
mudaram porque o povo bradou por essas mudanças. Assim, não podemos nos 
ver reféns de uma estrutura rígida, pois somos nós a história que queremos para 
nossas escolas e para nossa sociedade. 
137
A Educação no Século XXI Capítulo 4 
De toda forma, temos certeza de que você também participa desse projeto 
e esperamos que tenha aproveitado muito deste percurso. Buscamos elaborar 
uma proposta que pudesse lhe fornecer o conhecimento necessário do direito 
educacional, mas que também servisse como amparo para toda uma discussão 
que norteia a formação da escola e sua conformação enquanto formadora das 
novas gerações. Esperamos sinceramente ter conseguido motivar reflexões 
importantes sobre a sua prática, e que elas sirvam de aporte para grandes 
transformações em seu saber/fazer a educação.
Agradecemos a companhia nesta jornada e desejamos que você tenha muito 
sucesso na tarefa de tornar a escola um lugar verdadeiramente democrático, onde 
se escreve o futuro de nossa nação. 
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