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1 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LIVRO TEXTO 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 
GERAL E DO AMAZONAS 
 
2 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
Sumário 
 
1. CONCEITOS E A IMPORTANCIA DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO................................................................. 3 
1.1 - O TERMO HISTÓRIA RECEBE DIFERENTES DEFINIÇÕES ................................................................. 4 
2. A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NA FORMAÇÃO DO EDUCADOR ................................................................ 5 
3. EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES PRIMITIVAS E CLÁSSICAS DA ANTIGUIDADE (GRÉCIA E ROMA) ....... 8 
3.1 - A GRÉCIA DE ESPARTA E ATENAS ................................................................................................. 12 
3.2 - ROMA, DE RÔMULO E REMULO AO GRANDE IMPÉRIO .............................................................. 14 
4. CARACTERISTICAS DA EDUCAÇÃO MEDIEVAL ..................................................................................... 17 
4.1 - A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO E A FORMAÇÃO DA IDADE MÉDIA ........................................ 18 
5. PEDAGOGIA REFORMADA E ILUMINISTA ............................................................................................. 22 
6. IDEIAS PEDAGÓGICAS DOS SÉCULOS XIX E XX ................................................................................... 33 
6.1 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS ........................................................................................... 33 
6.1.1 - Tradicional ............................................................................................................................. 33 
6.1.2 - Renovadora Progressiva ....................................................................................................... 33 
6.1.3 - Renovadora Não Diretiva ..................................................................................................... 34 
6.1.4 - Tecnicista ............................................................................................................................... 34 
6.2 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS ............................................................................... 34 
6.2.1 - Libertadora ............................................................................................................................ 34 
6.2.2 - Libertária ............................................................................................................................... 35 
6.2.3 - Crítico-Social dos Conteúdos ................................................................................................ 35 
7. PROCESSO DE EDUCAÇÃO NO PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL BRASILEIRO................................ 38 
7.1 - OS JESUÍTAS .................................................................................................................................. 39 
7.2 - A PRIMEIRA EDUCAÇÃO ............................................................................................................... 39 
8. EDUCAÇÃO DA REPÚBLICA VELHA À TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA BRASILEIRA. .............................. 46 
8.1 - A FUNÇÃO DISCIPLINAR DA ESCOLA NA PRIMEIRA REPÚBLICA ................................................. 47 
8.2 - A ESCOLA PRIMÁRIA E A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE DA NAÇÃO BRASILEIRA .................. 47 
8.3 - EDUCAÇÃO ANTES DE 1964 (ERA VARGAS) ................................................................................. 48 
9. PROCESSOS DE EDUCAÇÃO RIBEIRINHA E CABOCLA ........................................................................ 51 
10. HISTÓRIA E CULTURA INDÍGENA E AFRO-BRASILEIRA .................................................................. 54 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................... 63 
 
 
 
 
 
 
3 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
TEMA 01 
PARTE 01 
1. CONCEITOS E A IMPORTANCIA DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 
Ao estudarmos sobre a História, deparamos-nos com diferentes conceitos sobre o termo. O 
termo “história” originou-se do grego e é oriunda do vocábulo “hístor”, que significa “aprendizado”. 
Sendo assim, faz referência ao conhecimento obtido a partir da investigação e do estudo, a 
manifestação do interesse acerca das questões que envolvem o estudo da História surgem 
interrogações como, O que é História? porque estudar História? Qual a origem do termo? Para 
resolução desses questionamentos vamos estudar a concepção do termo História para alguns 
importantes historiadores. Trabalhos de autores como: Saviani (1983), Cunha (1984), expressão 
preocupação com as formas delineadas em meio a este tema, bem como as teorias e metodologias 
que vem constituindo a própria História. A História, como ciência, se constrói atendendo uma 
imensa demanda de temáticas, organizadas sob diversas vertentes. 
0 historiador Jacques Le Goff, pelo qual responderemos alguns questionamentos sobre o 
termo. Neste primeiro momento, de forma rudimentar, vamos trazer algumas reflexões que podem 
nos auxiliar na compreensão da concepção de História, de acordo com Neves (2005), fundamentada 
nos estudos de Le Goff, História é uma palavra de origem grega, cujo significado é entendido por 
procurar, investigar. 
Segundo os estudos de Lopes e Galvão (2001), cabe à História simplesmente narrar os fatos, 
tal como eles aconteceram, afirmativa a qual as historiadoras avaliam como uma ilusão positiva, 
pois o passado, nunca é completamente exposto. Le Goff (2003) por sua vez diz que, a História não 
deve ser apenas entendida como ciência do passado, mas como a “ciência da transformação e da 
explicação dessa mudança” (LE GOFF, 2003, p. 15). Nesse caso, o autor apresenta diferentes 
conceitos de História, como “o que os homens realizaram” “a História como uma procura das ações 
realizadas pelo homem; sendo o tema central ou objeto de procura; e a História como uma narração, 
verdadeira ou falsa, fundamentada na “realidade histórica” ou no imaginário. 
Le Goff (2003), apresenta também a história da seguinte forma: a história é uma ciência que 
explica o passado a questão do saber e poder; sobre a objetividade e manipulação do passado; e 
ainda, a questão do singular e universal, generalizações e singularidades da história, o autor faz 
 
4 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
referência a discussão de tais conceitos como fundamentais para a definição de sua concepção de 
história, pois os explica de forma clara e detalhada. 
1.1 - O TERMO HISTÓRIA RECEBE DIFERENTES DEFINIÇÕES 
De acordo com distintos historiadores, o historiador Marc Bloch, destaca que a História não 
estuda os acontecimentos do passado, mas é a ciência que estuda o homem e sua ação no tempo. 
Outros entendem como o estudo das transformações na sociedade humana ao longo do tempo. 
Sendo assim, de acordo com os teóricos exemplificados podemos definir a História como uma 
Ciência que estuda as ações do homem entre os tempos em suas mudanças e permanências, dentre 
esses e outros conceitos vale ressaltar que a História como Ciência que estuda as atividades 
humanas em sociedade tem sua origem na Grécia antiga e em seu pioneiro historiador Heródoto, 
considerado o pai da História. 
Em meio a muitos desdobramentos sobre o estudo da História da História surgem 
indagações que nos fazem refletir sobre o seu papel como ciência e até mesmo como disciplina, no 
entanto, vale ressaltar que o estudo da História tem sua importância fundamental na construção de 
uma sociedade mais reflexiva no que diz respeito a sua atuação social e educacional e na formação 
de profissionais críticos e capazes de criar e conceber pensamentos e ideias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
TEMA 01 
PARTE 022. A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NA FORMAÇÃO DO EDUCADOR 
Quando falamos em educação, é bem possível que a primeira ideia ou imagem que venha à 
mente, seja de crianças indo à escola, carteiras enfileiradas, livros e um professor. Esta é uma ideia 
comum a todos nós que, a grosso modo, vivemos em um tempo e em uma sociedade específicos, 
que nos moldam e que nos levam a perceber as coisas a partir do modelo vigente nessa sociedade 
a qual estamos inseridos. Assim, tendemos a tomar o nosso modelo como parâmetro generalizador, 
isto é, temos a inclinação a perceber que os processos são os mesmos no tempo, isto é, ao longo da 
história, e também no espaço, espaço esse que pode ser geográfico e/ou cultural. 
Mas de fato não é assim que o processo acontece. A educação tem um significado e um 
sentido muito mais amplo e diverso, que o senso comum de nossa sociedade costumeiramente nos 
apresenta. Muitas vezes o conceito de educação pode ser apresentado e confundido, com o de 
“sistema educativo”, isto é, o processo de ensinar e aprender, e por mais que educação também 
englobe o sistema educativo, essa noção ainda é incompleta, educação é algo mais amplo e mais 
complexo. 
Poderíamos apresentar uma síntese do conceito de educação como sendo uma estrutura 
social, um processo de “reprodução cultural”, isto é, mecanismos pelos quais os diversos grupos 
humanos repassam as novas gerações, os conhecimentos adquiridos ao longo do tempo 
necessários à manutenção do grupo, seus costumes e tradições que formam a especificidade, a 
cosmovisão desse grupo humano, aquilo que faz com que o dado grupo humano seja do jeito que 
é. Mas se a educação é responsável pela reprodução cultural, uma pergunta deriva dessa assertiva: 
O que é cultura? Para responder essa pergunta recorreremos ao que lhe diz a respeito, a 
antropologia. 
A tradição antropológica tem trabalhado o conceito de cultura a partir de uma multiplicidade 
de fontes, históricas e etimológicas, isto é, da origem do significado da palavra. Segundo (Laraia, 
2001, p. 14), “no final do século XVIII e no princípio do seguinte, o termo germânico Kultur era 
utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra 
francesa Civilization referia-se principalmente às realizações materiais de um povo.” Outra fonte 
 
6 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
etimológica da palavra vem do latim colere e é cognata às palavras agricultura, cultivar, colher, 
culto (tanto o adjetivo quanto o substantivo), ou seja, tudo aquilo que requer esforço humano para 
transformar em oposição ao encontrado na natureza. 
Com a popularização do termo pela antropologia, surgiram outras nuances. O termo cultura 
é usado para referir a um grupo social. É nesse sentido que aparece no plural: culturas. É o caso de 
a cultura dos xavantes, a cultura japonesa ou a cultura ocidental. Nessa acepção, há uma idealização 
de uma cultura como pertencente a um grupo, idealmente com suas fronteiras e conteúdos 
definidos. Entretanto, essa concepção é mais uma abstração empregada no sentido lato que 
propriamente reflexo da realidade. Falar algo como cultura brasileira ou cultura paraguaia seria um 
tipo ideal. Internamente há outras facetas nessas culturas nacionais. 
Um dos pioneiros da antropologia, Edward Tylor (1832-1917) fez uma das primeiras 
propostas científicas de que cultura seria “em seu amplo sentido etnográfico, este todo complexo 
que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou quaisquer outras capacidades ou 
hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. 
Em uma outra definição menos estática, outros pioneiros como Franz Boas e Bronislaw 
Malinowski propuseram que “cultura abrange todas as manifestações de hábitos sociais de uma 
comunidade, as reações do indivíduo afetado pelos hábitos do grupo em que vive e o produto das 
atividades humanas, como determinado por esses hábitos e que a cultura é uma unidade bem 
organizada dividido em dois aspectos fundamentais – um corpo de artefatos e um sistema de 
costumes. 
Esta apresentação panorâmica do conceito de cultura se faz necessária para a partir dela 
podermos construir links de relação com o conceito de educação e seus desdobramentos. 
Apresentamos educação como uma estrutura social, um mecanismo de reprodução cultural e 
apresentamos historicamente a cultura como o universo social e indenitário que caracterizam um 
determinado grupo humano. Assim, educação, no seu sentido mais amplo, é o processo de 
reprodução social, dos conhecimentos e dos costume e tradições históricas das diversas sociedade 
humanas. É a estrutura pela qual as sociedades constroem seus indivíduos para a vida social. 
A educação, portanto, tem um papel central no desenvolvimento humano e através do 
sentido histórico, social e cultural das diversas sociedades humanas, essa estrutura desenvolve 
diferentes estratégias para atingir seus objetivos. São diferentes formas e ferramentas 
desenvolvidas ao longo dos períodos históricos, cada um conforme a especificidade do seu tempo 
e das características das sociedades ao longo dos períodos da história. 
 
7 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
Em todas as sociedades humanas ninguém escapa da educação. Na nossa por exemplo, em 
casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da 
vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser 
ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. 
Para mundos diversos, a educação existe em modos diferente e com diferentes estratégias: 
em pequenas sociedades tribais de povos caçadores, agricultores ou pastores nômades; em 
sociedades camponesas, em países desenvolvidos e industrializados; em mundos sociais sem 
classes, de classes, com este ou aquele tipo de conflito entre as suas classes; em tipos de sociedades 
e culturas sem Estado, com um Estado em formação ou com ele consolidado entre e sobre as 
pessoas. 
No entanto, a educação, existe nas sociedades livremente, pode ser uma das formas em que 
se criam para tornar comum, o saber, a ideia, a crença e tudo aquilo que é comum entre a sociedade 
como bens, meio de produção ou como vida. Pode existir por um sistema centralizado de dominação 
política ou social, que usa o saber como controle sobre a sociedade de modo geral, o saber como 
armas que sustentam a desigualdade entre os homens, na divisão dos bens, do trabalho, dos direitos 
e dos símbolos. 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
TEMA 02 
PARTE 01 
3. EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES PRIMITIVAS E CLÁSSICAS DA ANTIGUIDADE (GRÉCIA E 
ROMA) 
 
Na era primitiva o hominídeo mais moderno o homo sapiens, que somos nós, possui 
linguagem, elabora múltiplas técnicas, educa os seus “filhotes”, vive da caça, é nômade, é “artista” 
(arte naturalista e animalista), está impregnado de cultura mágica, dotado de cultos e crenças, e 
vive dentro da “mentalidade primitiva” marcada pela participação mística dos seres e pelo raciocínio 
concreto, ligado a conceitos-imagens e pré-lógico, intuitivo e não-argumentativo. 
A educação dos jovens, nesta fase, torna-se o instrumento central para a sobrevivência do 
grupo e a atividade fundamental para a realização da transmissão e o desenvolvimento da cultura. 
No filhote dos animais superiores já existe uma disposição para acolher esta transmissão, fixada 
biologicamente e marcada pelo jogo-imitação. 
Todos os filhotes brincam com os adultos e nessa relação se realiza um adestramento, se 
aprendem técnicas de defesa e de ataque, de controle do território, de ritualização dos instintos. 
Isso ocorre em nível enormemente mais complexo – também com o homem primitivo, que através 
da imitação, ensina ou aprende o uso das armas, a caça e a colheita, o uso da linguagem, o culto dos 
mortos, as técnicas de transformação e domínio do meio ambiente. Depoisdesta fase, entra-se 
(cerca de 8 ou 10 mil anos atrás) na época do Neolítico, na qual se assiste a uma verdadeira 
revolução cultural. 
Nascem as primeiras civilizações agrícolas: os grupos humanos se tornam sedentários, 
cultivos campos e criam animais, aperfeiçoam e enriquecem as técnicas (para fabricar vasos, para 
tecer, para arar), cria-se uma divisão do trabalho cada vez mais nítida entre homem e mulher e um 
domínio sobre a mulher por parte do homem, depois de uma fase que exalta a feminilidade no culto 
da Grande Mãe, uma espécie de panteísmo rústico. 
A revolução neolítica é também uma revolução educativa: fixa uma divisão educativa 
paralela à divisão do trabalho (entre homem e mulher, entre especialistas do sagrado e da defesa e 
grupos de produtores); fixa o papel-chave da família na reprodução das infra estruturas culturais: 
 
9 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
papel sexual, papéis sociais, competências elementares, introjeção da autoridade; produz o 
incremento dos locais de aprendizagem e de adestramento específicos nas diversas oficinas 
artesanais ou algo semelhante; nos campos; no adestramento; nos rituais; na arte, que, embora 
ocorram sempre por imitação e segundo processos de participação ativa no exercício de uma 
atividade, tendem depois a especializar-se, dando vida a momentos ou locais cada vez mais 
específicos para a aprendizagem. 
A educação existe desde quando o homem rompeu a barreira do estado de natureza e 
passou ao estado de natureza e cultura. A educação existe onde não há a escola e por toda parte 
podem haver redes e estruturas sociais de transferência de saber de uma geração a outra, onde 
ainda não foi sequer criada a sombra de algum modelo de ensino formal e centralizado. Porque a 
educação aprende com o homem a continuar o trabalho da vida. A vida que transporta de uma 
espécie para a outra, dentro da história da natureza, e de uma geração a outra de viventes, dentro 
da história da espécie, os princípios através dos quais a própria vida aprende e ensina a sobreviver 
e a evoluir em cada tipo de ser. 
Quando um povo alcança um estágio complexo de organização da sua sociedade e de sua 
cultura; quando ele enfrenta, por exemplo, a questão da divisão social do trabalho e, portanto, do 
poder, é que ele começa a viver e a pensar como problema as formas e os processos de transmissão 
do saber. É a partir de entã, que a questão da educação emerge à consciência e o trabalho de educar 
acrescenta à sociedade, passo a passo, os espaços, sistemas, tempos, regras de prática, tipos de 
profissionais e categorias de educandos envolvidos nos exercícios de maneiras cada vez menos 
corriqueiras e menos comunitárias do ato, afinal tão simples, de ensinar-e-aprender. 
Entre o fim do século XIX e início do século XX, antropólogos saíram pelo mundo pesquisando 
as ditas "culturas primitivas" de sociedades tribais das Américas, da Ásia, da África e da Oceania, 
eles aprenderam a descrever com rigor praticamente todos os recantos da vida destas sociedades 
e culturas. No entanto, quase nenhum deles usa a palavra educação, embora quase todos, de uma 
forma ou de outra, descrevam relações cotidianas ou cerimônias rituais em que crianças aprendem 
e jovens são solenemente admitidos no mundo dos adultos. 
De vez em quando, aparece o conceito de educação, como quando Radcliffe-Brown - um 
antropólogo inglês que participa da criação da moderna Antropologia Social - lembra que, entre os 
andamaneses, um grupo tribal de ilhéus entre Burma e Sumatra, para ajustar a criança à sua 
comunidade é preciso que ela seja educada. Parte deste processo consiste em a criança e o 
adolescente aprenderem aos poucos a caçar, a fabricar o arco e flecha e assim por diante. Outra 
 
10 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
parte envolve a aquisição de sentimentos e disposições emocionais que regulam a conduta dos 
membros da tribo e constituem o corpo de suas regras sociais de moralidade. 
Quando os antropólogos pouco falam em educação, eles pouco querem falar de processos 
formalizados de ensino. Porque, onde os andamaneses, os maori, os apaches ou os xavantes 
praticam, e os antropólogos identificam processos sociais de aprendizagem, não existe ainda 
nenhuma situação propriamente escolar de transferência do saber tribal que vai do fabrico do arco 
e flecha à recitação das rezas sagradas aos deuses da tribo. Ali, a sabedoria acumulada do grupo 
social não "dá aulas" e os alunos, que são todos os que aprendem, "não aprendem na escola". Mas 
todo esse processo por mais que os antropólogos não chamem sistematicamente de educação por 
razões práticas, esse processo é a educação no seu sentido mais amplo. 
Nas aldeias dos grupos tribais mais simples, todas as relações entre a criança e a natureza, 
guiadas de mais longe ou mais perto pela presença de adultos conhecedores, são situações de 
aprendizagem. A criança vê, entende, imita e aprende com a sabedoria que existe no próprio gesto 
de fazer a coisa. São também situações de aprendizagem aquelas em que as pessoas do grupo 
trocam bens materiais entre si ou trocam serviços e significados: na turma de caçada, no barco de 
pesca, no canto da cozinha da palhoça, na lavoura familiar ou comunitária de mandioca, nos grupos 
de brincadeiras de meninos e meninas, nas cerimônias religiosas. 
O saber da comunidade, aquilo que todos conhecem de algum modo; o saber próprio dos 
homens e das mulheres, de crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos; o saber de guerreiros 
e esposas; o saber que faz o artesão, o sacerdote, o feiticeiro, o navegador e outros tantos 
especialistas, envolve portanto situações pedagógicas interpessoais, familiares e comunitárias, 
onde ainda não surgiram técnicas pedagógicas escolares, acompanhadas de seus profissionais de 
aplicação exclusiva, isto é, professores tais quais os conhecemos. 
Os que sabem: fazem, ensinam, vigiam, incentivam, demonstram, corrigem, punem e 
premiam. Os que não sabem espiam, na vida que há no cotidiano, o saber que ali existe, veem fazer 
e imitam, são instruídos com o exemplo, incentivados, treinados, corrigidos, punidos, premiados e, 
enfim, aos poucos aceitos entre os que sabem fazer e ensinar, com o próprio exercício vivo do fazer. 
Espalhadas pelos cantos da vida cotidiana, todas as situações entre as pessoas, e entre as 
pessoas e a natureza são sempre mediadas pelas regras, símbolos e valores da cultura do grupo - 
tem, em menor ou maior escala a sua dimensão pedagógica. Ali, todos os que convivem aprendem 
da sabedoria do grupo social e da força da norma dos costumes da tribo, o saber que torna todos e 
 
11 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
cada um, pessoalmente aptos e socialmente reconhecidos e legitimados para a convivência social, 
o trabalho, as artes da guerra e os ofícios do amor. 
Então, a partir do exposto, podemos concluir que nas sociedades da era primitiva e naquelas 
que por alguma razão do desenvolvimento histórico “optaram” por não seguir o caminho de 
desenvolvimento típico das sociedades ditas modernas ocidentais ou ocidentalizadas pelo processo 
de colonização por exemplo, não tem em sua estrutura social mecanismo de educação tal qual as 
das nossas sociedades, como a escolarização e todo o instrumental que lhe típico e característico. 
Isso, não obstante, não significa que tais sociedades não tenham educação, ou processos educativos 
eficientes para suas necessidade e peculiaridades. 
Quando em algumas sociedades primitivas o trabalho produz bens e quando os poderes que 
reproduzem a ordem são divididos e começam a gerar desigualmente na distribuição dos bens 
produzidos, essa distribuição passar a servir ao uso político e reforçar a diferença no lugar de um 
saber anterior, que afirmava a comunidade. Então, é o começo de quando a sociedade separa e aos 
poucos opõe: o que faz, o que se sabe com o que se faz e o que se faz com o que se sabe.Logo, é 
quando surge a categoria das especialidades sociais, aparecem as de saber e de ensinar a saber. 
Este é o começo do momento em que a educação vira o ensino, que inventa a pedagogia, reduz a 
aldeia à escola e transforma o “todo” como mecanismo de reprodução cultural, no educador 
especializado, o professor. 
Uma divisão social do saber e dos agentes e usuários do saber como essa existe mesmo em 
sociedades muito simples. Em seu primeiro plano de separação - o mais universal - numa idade 
sempre próxima à da adolescência, meninos e meninas são isolados do resto da tribo. Em alguns 
casos convivem entre iguais e com adultos por períodos de reclusão e aprendizagem que envolvem 
situações de ensino forçado e duras provas de iniciação. Todo o trabalho pedagógico da formação 
destes jovens é conduzido por categorias de educadores escolhidos entre todos para este tipo de 
ofício, de que os meninos saem jovens-adultos e guerreiros, por exemplo, e as meninas, moças 
prontas para a posse de um homem, uma casa e alguns filhos. 
Nas grandes sociedades civilizadas do passado (clássico) - como na Grécia e em Roma, já 
vamos encontrar um sistema pedagógico controlado por um poder externo a ele, atribuído de fora 
para dentro a uma hierarquia de especialistas do ensino, e destinado a reproduzir a desigualdade 
através da oferta desigual do saber, é uma conquista tardia na história da cultura. 
Assim, em nome do poder (Estado, por exemplo) quem os constitui educadores, estes 
especialistas do ensino aos poucos tomam a seu cargo a tarefa de assumir, controlar e recodificar 
 
12 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
domínios, sistemas, modos e usos do saber e das situações coletivas de distribuição do saber. Onde 
quer que apareça e em nome de quem venha, todo o corpo profissional de especialistas do ensino 
tende a dividir e a legitimar divisões do conhecimento comunitário, reservando para o seu próprio 
domínio tanto alguns tipos e graus do saber da cultura, quanto algumas formas e recursos próprios 
de sua difusão. 
A origem da educação tal qual existe entre nós, surge na Grécia e vai para Roma, ao longo 
de muitos séculos da história de espartanos, atenienses e romanos. Deles deriva todo o nosso 
sistema de ensino e, sobre a educação que havia em Atenas, até mesmo as sociedades capitalistas 
mais tecnologicamente avançadas têm feito poucas inovações. Talvez estejam ainda, portanto, 
entre os seus inventos e escolas, algumas das respostas às nossas demandas educacionais. 
3.1 - A GRÉCIA DE ESPARTA E ATENAS 
A cidade-estado grega (pólis) é onde começa e acaba a vida do cidadão livre e educado. Esta 
educação grega é por tanto dupla, e carrega dentro dela a oposição que até hoje a nossa educação 
não resolveu. Ali estão normas de trabalho que, quando reproduzidas como um saber que se ensina 
para que se faça, os gregos acabaram chamando de tecne e que, nas suas formas mais rústicas e 
menos enobrecidas, ficam relegadas aos trabalhadores manuais, livres ou escravos. Ali estão 
normas de vida que, quando reproduzidas como um saber que se ensina para que se viva e seja um 
tipo de homem livre e, se possível, nobre, os gregos acabaram chamando de teoria. 
Este saber que busca no homem livre o seu mais pleno desenvolvimento e uma plena 
participação na vida da polis é o próprio ideal da cultura grega e é o que ali se tinha em mente 
quando se pensava na educação. De tudo o que pode ser feito e/ou transformado, nada é para o 
grego uma obra de arte tão perfeita quanto o homem educado. A primeira educação que houve em 
Atenas e Esparta foi praticada entre todos, nos exercícios coletivos da vida, em todos os cantos onde 
as pessoas conviviam na comunidade. Quando a riqueza da polis grega criou na sociedade estruturas 
de oposição entre livres e escravos, entre nobres e plebeus, aos meninos nobres da elite guerreira 
e, mais tarde, da elite togada é que a educação foi dirigida. Por alguns séculos, mesmo para eles, 
nesse período da formação da cidade-estado, ainda não haviam escolas. 
São das relações familiares diretas até a convivência entre jovens, ou entre grupos de 
meninos educandos e um velho educador, que se desenvolveu entre os gregos a ideia de que todo 
o saber que se transfere pela educação circula através de trocas interpessoais, de relações física e 
simbolicamente afetivas entre as pessoas. Assim, a pederastia acaba sendo considerada em Esparta 
 
13 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
como a forma mais pura e mais completa de educação entre homens livres e iguais. Em toda a Grécia 
a formação do nobre guerreiro apenas desenrola ao longo dos anos uma sequência de trocas entre 
um mestre e seus discípulos. 
Aquilo que a cultura grega chama com pleno efeito de educação - Paideia - dando à palavra 
o sentido de formação harmônica do homem para a vida da polis, através do desenvolvimento de 
todo o corpo e toda a consciência, começa de fato fora de casa, depois dos sete anos. Até lá a criança 
convive com a sua criação, convivendo com a mãe e escravos domésticos. Para além ainda do que 
entre os sete e os catorze anos aprende com o mestre-escola, a verdadeira educação do jovem 
aristocrata é o fruto do lento trabalho de um ou de poucos mestres que acompanham o educando 
por muitos anos. Este era o modelo Espartano. 
Mais tarde em Atenas, por volta do VI século A.C., a educação deixa de ser uma prática 
coletiva, de estilo militar destinada apenas à formação do cidadão nobre (Eupátridas). Até então, 
mesmo no apogeu da democracia grega, a propriedade é restritamente comunal; pertence aos 
cidadãos ativos do Estado. O poder pertence aos estratos mais nobres destes cidadãos ativos, e a 
vida e o trabalho colocam de um lado os homens livres, senhores e, de outro, os escravos ou outros 
tipos de trabalhadores manuais expulsos do direito do saber que existe na Paideia. 
Durante vários séculos os "pobres"(não eupátridas) da Grécia aprenderam desde criança 
fora das escolas: nas oficinas e nos campos de lavoura e pastoreio. Os meninos "ricos" inicialmente 
aprenderam também fora da escola, em acampamentos ou ao redor de velhos mestres. Além das 
agências estatais de educação, como a “Efebia” de Esparta, que educava o jovem nobre-guerreiro, 
toda a educação fora do lar e da oficina é uma empresa particular, mesmo quando não é paga. 
Particular e restrita a poucas pessoas. 
Nos primeiros tempos, mais do que filósofos ou matemáticos, os gregos foram guerreiros, 
músicos e ginastas. Assim, mais do que jurídica ou científica, a educação do cidadão livre era ética 
e artística (no pleno sentido que estas duas palavras possuíam na paideia grega), dentro de uma 
cultura pouco acostumada a separar a verdade da beleza. Mais tarde, sob a influência de Sócrates 
e Epicuro (um sujeito feio e outro doentio) é que a educação começa a ser pensada como formadora 
do espírito. 
Por muitos e muitos séculos ela aponta para a harmonia que existe na beleza do corpo (e a 
destreza para a luta) ao lado da clareza da mente (e a fidelidade à polis dos cidadãos livres). Mesmo 
no nível da cultura letrada dos nobres, a civilização clássica não conservou sempre um único modelo 
ou estilo de saber, logo, de educação. Ela oscilou entre duas formas de algum modo antagônicas: a 
 
14 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
filosófica, cujo tipo dominante pode ser Platão, e a oratória (retórica), cujo tipo dominante pode ser 
remetido a Sócrates. 
Uma síntese possível de fazer dos princípios que orientaram toda a educação clássica criada 
pelos gregos, seria dizer que ela foi sempre entendida como um longo processo pelo qual a cultura 
da cidade é incorporada à pessoa do cidadão. Uma trajetória de· amadurecimento e formação, 
como a obra de arte que aos poucos se modela, cujo produto final é o adulto educado, um sujeito 
perfeito segundo um modelo idealizado de homem livre e sábio, mas ainda sempre aperfeiçoável.Assim, a educação grega não é dirigida à criança no sentido cada vez mais dado a ela hoje 
em dia. De algum modo, é uma educação contra a criança, que não leva em conta o que ela é, mas 
olha para o modelo do que pode ser, e que anseia torná-la depressa o jovem perfeito, o guerreiro, 
o atleta, o artista de seu próprio corpo-e-mente e o adulto educado o cidadão político a serviço da 
polis. 
Por fim, podemos dizer que os gregos ensinam o que hoje esquecemos. A educação do 
homem existe por toda parte e, muito mais do que a escola, é o resultado da ação de todo o meio 
sociocultural sobre os seus participantes. E o exercício de viver e conviver o que educa. E a escola 
de qualquer tipo é apenas um lugar e um momento provisórios onde isto pode acontecer. Portanto, 
é a comunidade quem responde pelo trabalho de fazer com que tudo o que pode ser vivido e 
aprendido da cultura seja ensinado com a vida e também com a aula - ao educando. 
3.2 - ROMA, DE RÔMULO E REMULO AO GRANDE IMPÉRIO 
A origem de Roma está ligada aos primeiros latinos, que foram camponeses aos poucos 
enriquecidos e que se tornaram nobres na Península Itálica. Ali aconteceu como em tantas outras 
partes do mundo, classes sociais que com o tempo chegaram a ser "privilegiadas" e separaram a 
direção do trabalho do próprio exercício do trabalho, separando com isso as forças produtivas 
mentais das físicas, desempenharam antes funções úteis. Primeiro, entre os romanos, o trabalho é 
entre todos e o saber é de todos. Os primeiros reis de Roma punham com os súditos as mãos no 
arado e lavravam a terra. 
No início da história do poder de Roma, ela foi uma lenta iniciação da criança e do 
adolescente nas tradições consagrada pelo tempo e pela cultura e servia à consagração da tradição, 
uma veneração ao modo camponês de vida, simples e austero. A criança começava a aprender em 
casa, com os mais velhos, e quase tudo o que aprendia era para saber e preservar os valores do 
mundo dos "mais velhos", dos seus antepassados. 
 
15 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
A educação doméstica buscava a formação da consciência moral. O adulto educado que ela 
queria criar é o homem capaz de renúncia de si próprio, voltando sua pessoa à comunidade. São as 
virtudes da vida agrícola de todos os tempos e lugares o que guia a primitiva educação de Roma, 
que exalta em verso e prosa a austeridade, a vida simples, o amor ao trabalho como supremo bem 
do homem, e o horror ao luxo e à ociosidade. 
Ao contrário do que aconteceu cedo em Atenas, em Roma não há de início qualquer tipo de 
cuidado com a pura formação física e intelectual do cidadão ocioso, ocupado com pensar, governar 
e guerrear. A educação de uma comunidade dedicada ao trabalho com a terra foi durante séculos 
uma formação do homem para o trabalho e a vida, para a cidadania da comunidade igualada pelo 
trabalho. 
Quando esse mundo romano de camponeses enriquece, com os excedentes da terra e das 
pilhagens de outros povos, quando cria classes sociais e inventa o Estado, ele ainda defende a 
criança de ser entregue cedo a alguma forma de educação estatal, militarizada, fora do lar. Entre os 
romanos os primeiros educadores de pobres e nobres são o pai e a mãe. Mesmo os mais ricos, 
senhores de escravos, não entregam a um servo pedagogo ou a uma governanta o cuidado dos 
filhos. Quando o menino completa, aos 7 anos, o aprendizado cheio de afeição que recebe da mãe, 
ele passa para o pai, que não divide sequer com o mestre-escola o direito de educá-lo, ou seja, de 
formar a sua consciência segundo os preceitos das crenças e valores da classe e da sociedade. 
Em Roma, em um primeiro momento, portanto, a família prolonga o poder de socializar o 
cidadão e, através dela, a sociedade civil estende o alcance do seu modelo em toda uma primeira 
educação da criança. Isso o oposto do que acontecia no modelo grego, principalmente o espartano, 
onde a partir de Homero, no alvorecer da história grega, o ideal da Paideia é o herói da polis. Já na 
educação romana o modelo ideal é o ancestral da família, depois o da comunidade. 
Assim, mais tarde, quando uma nobreza romana, enriquecida com a agricultura e o saque 
abandona o trabalho da terra pelo da política, e cria as regras do Império de que se serve, aquele 
primitivo saber comunitário divide-se e força a separação de tipos, níveis e agências de educação. 
Quando há livres e escravos, senhores e servos, começa a haver um modelo de educação para cada 
um, e limites entre um modelo e outro. 
Então, com essas transformações, aos poucos a educação romana deixa de ser o ensino que 
forma o pastor, o artífice ou o lavrador e, nas suas formas mais elaboradas, prepara o futuro 
guerreiro, o funcionário imperial e os dirigentes do Império. O sistema comunitário de base 
pedagógica familiar compete com outros. Aos poucos aparece a oposição entre o ensino familiar 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
dos pais, dos mestres-pedagogos que convivem com os educandos e os acompanham, prolongando 
com eles o saber que forma a consciência e que é a sabedoria; e o ensino de instruir, do mestre-
escola que monta no mercado a loja de ensino e vende o saber de ler-e-contar como uma 
mercadoria. 
O ensino elementar das primeiras letras apareceu em Roma antes do século IV a.C. Um tipo 
de ensino que poderíamos comparar com o secundário surgiu na metade do século III A.C. e o ensino 
que hoje em dia chamaríamos de superior, universitário, apareceu pelo século I A.C. Mas, durante 
quase toda a sua história, o Estado Romano não toma a seu cargo a tarefa de educar, que ficou 
deixada à iniciativa particular, mas já não mais comunitária, como ao tempo em que os reis aravam 
a terra. Só depois do advento do Cristianismo, por volta do século IV D.C., é que surge e se espalha 
por todo o Império a escola pública, mantida pelos cofres dos municípios. 
Esta educação da escola, que os romanos criam em Roma, copiando a forma e alguma coisa 
do espírito dos gregos, espalham primeiro pela Península Itálica e depois por todo o mundo que 
conquistam na Europa, na Ásia e no Norte da África. Do mesmo modo como o sacerdote, o educador 
caminha atrás dos passos do general. A educação do conquistador invade, com armas mais 
poderosas do que a espada, a vida e a cultura dos conquistados. A educação que serve, longe da 
Pátria, aos filhos dos soldados e funcionários romanos sediados entre os povos vencidos, serve 
também para impor sobre eles a vontade e a visão de mundo do dominador. Plutarco descreveu 
como Roma usou a educação para "domar" os espanhóis dominados: "As armas não tinham 
conseguido submetê-los a não ser parcialmente; foi a educação que os domou." 
 
 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
TEMA 02 
PARTE 02 
4. CARACTERISTICAS DA EDUCAÇÃO MEDIEVAL 
A pesar de ter sua origem na Grécia antiga, (paidagogia, que designava a função de 
acompanhamento do jovem educando nas atividades educacionais, o paidagogo era aquele 
“escravo” que acompanhava a criança tanto na didascoleia, quanto no gimnynásiun) a pedagogia 
moderna é conceituada e sistematizada na virada do XIX para o XX, conforme nos indica: (Ghiraldelli, 
2006, p. 8), três tradições de estudos educacionais se responsabilizam pela sua configuração atual: 
a francesa, na linha da sociologia de Émile Durkheim (1858-1917), e as tradições alemã e americana, 
segundo as filosofias e psicologias de Johann Friedrich Herbart(1776-1841)e John Dewey(1859-
1952)”. 
Ainda, segundo Ghiraldelli (Idem, 2006, p. 8) 
“Entre o final do século XIX e o início do XX, Durkheim se empenha em conceituar 
"pedagogia", "educação" e "ciências da educação". A educação é definida como o fato social pelo 
qual uma sociedade transmite o seu patrimônio cultural e suas experiências de uma geração mais 
velha para uma mais nova, garantindo sua continuidade histórica. A pedagogia, por sua vez, é vista 
não propriamente comoteoria da educação, ou pelo menos não como teoria da educação vigente, 
mas como literatura de contestação da educação em vigor e, portanto, afeita ao pensamento 
utópico. Contrariamente, teorias da educação real e vigente deveriam seguir as ciências da 
educação. Essas seriam compostas, principalmente, pela sociologia e pela psicologia. À primeira, 
Durkheim incumbe de substituir a filosofia na tarefa de propor fins para a educação; à segunda 
caberia o trabalho de fornecer os meios e instrumentos para a didática. ” 
Assim, podemos esclarecer a confusão corriqueiramente feita, atribuindo à pedagogia o 
mesmo significado de educação, os quais mesmo tendo uma intensa e intrínseca relação e 
correlação, não dizem de fato a mesma coisa. Como demonstrado a cima por Ghiraldelli (2006), 
educação é a estrutura social pela qual as sociedades fazem a sua reprodução cultural. Já pedagogia 
por sua vez, significa a teorização sobre as estratégias, os instrumentais, métodos e objetivos 
desenvolvidos ao longo da história (da educação) para alcançar os objetivos propostas pelas 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
diversas sociedades. Assim, é possível construir uma abordagem histórica tanto da educação quanto 
da pedagogia. 
4.1 - A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO E A FORMAÇÃO DA IDADE MÉDIA 
Aliada à espada, o império romano impunha, como forma de pacificação, sua cultura aos 
povos conquistados. No entanto, no século IV A.C. o imperador romano Constantino torna o 
cristianismo religião oficial do império. Com isso, a religião cristã foi levada juntos com as legiões 
romanas às mais diversas colônias do império, assim como outras características da cultura romana, 
o latim (Vulgata) por exemplo. Com esse processo deu-se as bases da formação da igreja católica, 
que mais tarde vai ter papel central no processo educacional e pedagógico no período que sucede 
o declínio do império romano do ocidente. 
Segregação é o termo que os historiadores utilizam para explicar a queda do Império 
Romano, que aconteceu em 476 d.C., quando o último imperador romano, Rômulo Augusto, foi 
destituído por Odoacro, rei do povo germânico hérulo. A parte ocidental do império foi ocupada 
pelos germânicos, e a parte oriental continuou existindo sob o nome de Império Bizantino. A crise 
do Império Romano iniciou-se a partir do século II-III d.C. Marcaram esse período a crise econômica, 
a corrupção, os sucessivos golpes e assassinatos realizados contra imperadores e, como elemento 
final, as invasões germânicas. O século III foi marcado por uma grande sucessão de imperadores, o 
que evidenciou a instabilidade desse período, pois, em um período aproximado de 50 anos, o 
Império Romano teve cerca de 16 imperadores, muitos deles mortos após conspirações. 
A chamada Idade Média começa então com a queda do Império Romano do Ocidente, em 
476 d.C., e se encerra com a tomada da capital do Império Bizantino, Constantinopla, pelos turcos-
otomanos, em 1453. Esse período costuma ser dividido em dois: Alta e Baixa Idade Média. 
A Alta Idade Média estendeu-se do século V ao X. Foi a época de consolidação, na Europa 
Ocidental, do que ficou conhecido como, modo de produção feudal ou feudalismo, sistema 
socioeconômico predominante na era medieval, baseados nas na exploração da mão de obra servil 
e nas relações de suserania e vassalagem. 
A Baixa Idade Média vai do século XI até o fim do período medieval, no século XV. É quando 
o feudalismo chegou ao auge e entrou em decadência. Lentamente, ele começou a sofrer 
transformações que só se concluiriam na Idade Moderna, quando seria substituído, no campo 
político, pelas monarquias nacionais e, no econômico, pelo sistema mercantilista. Por séculos, a 
Idade Média foi tida como uma época de insignificante desenvolvimento científico, tecnológico e 
 
19 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
artístico. Essa visão nasceu durante o Renascimento, no século XVI, quando o período medieval foi 
apelidado de Idade das Trevas. 
O período da Idade Média também foi responsável por importantes avanços, sobretudo no 
que diz respeito à produção agrícola: inventaram-se o moinho, a charrua (um arado mais eficiente) 
e técnicas de adubamento e rodízio de terras. Outra herança medieval são as universidades, que 
começaram a surgir na Europa no século XIII. Além disso, desenvolveram-se importantes 
movimentos artísticos, como o românico e o gótico; viveram influentes filósofos, como Santo 
Agostinho e Santo Tomás de Aquino; e, graças ao trabalho dos monges, preservou-se a cultura 
greco-romana – o que possibilitaria, aliás, o surto de revalorização da Antiguidade Clássica ocorrido 
durante o Renascimento. 
No período medieval a educação era desenvolvida em estreita simbiose com a Igreja. A igreja 
católica, ao lado da nobreza feudal e da massa de sevos, foi uma das três estamentos que 
caracterizaram a estrutura social da sociedade feudal, coube a igreja o papel de implementar o 
sistema educacional. Com a fé cristã e com as instituições eclesiásticas que – enquanto acolhiam os 
oradores (os especialistas da palavra) eram as únicas delegadas a educar, a formar, a conformar. 
Foi da Igreja que partiram os modelos educativos e as práticas de formação, organizavam-se 
as instituições ad hoc e programavam-se as intervenções, como também nela se discutiam tanto as 
práticas como os modelos. Práticas e modelos para o povo, práticas e modelos para as classes altas, 
uma vez que era típico também da Idade Média o dualismo social das teorias e das práxis educativas, 
como tinha sido no mundo antigo. 
A escola como nós conhecemos, é um produto da Idade Média. A sua estrutura ligada à 
presença de um professor que ensina a muitos alunos de diversas procedências e que deve 
responder pela sua atividade à Igreja, que também senhor feudal, também detinha o poder secular 
e local. As suas práticas ligadas à lectio e aos auctores, a discussão, ao exercício, ao comentário, à 
arguição etc., as suas práticas disciplinares, baseadas em prêmios e castigos e avaliativas vêm 
daquela época e da organização dos estudos nas escolas monásticas e nas catedrais e, sobretudo 
nas universidades. 
Vêm de lá também alguns conteúdos culturais da escola moderna e até mesmo da 
contemporânea: o papel do latim; o ensino gramatical e retórico da língua; a imagem da filosofia, 
como lógica e metafísica. A pedagogia medieval foi dominada por um modelo que ficou conhecido 
por Escolástica. Refere-se à produção filosófica que aconteceu na Idade Média, principalmente na 
baixa Idade Média, entre os séculos IX e XIII d.C. Em comparação com a Patrística, vertente anterior 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
da filosofia medieval, a Escolástica está situada em um período de intensidade do domínio da igreja 
católica sobre a Europa. A escola medieval era dirigida por um cônego, ao qual se dava o nome 
de scholarius ou scholasticus. 
Os professores também clérigos de ordens menores e lecionavam as chamadas sete artes 
liberais: gramática, retórica, lógica, aritmética, geografia, astronomia e música, que mais tarde 
constituíram o currriculum de muitas universidades. Para acontecer o ensino precisava-se de uma 
autorização, essa era cedida pelos bispos e pelos diretores das escolas eclesiásticas que, com medo 
de perderem a influência, dificultavam ao máximo essa concessão. Reagindo contra essas 
limitações, professores e alunos organizaram-se em associações denominadas universitas, que mais 
tarde originou a palavra universidades. 
As universidades eram compostas por quatro divisões ou faculdades. A faculdade 
de Artes era o lugar onde a educação acontecia de forma mais geral, as faculdades de Direito, 
Medicina e Teologia trabalhavam o conhecimento de forma mais específica. Os diretores das 
faculdades eram chamados de decanos (mais antigo) e eleitos a universidade diretamente. 
O método de ensino baseava-se na leiturade textos e na exposição de ideias feitas pelos 
professores. As aulas muitas vezes eram animadas quando os debates entre mestres e alunos eram 
travados em público, discutiam sobre um tema determinado, essas aulas foram denominadas 
de scholastica disputattio. Esse processo de estudo foi muito usado por São Tomás De Aquino e foi 
chamado de escolástica. A escolástica teve seu apogeu no século XIII, o método proporcionou a 
criação de diversas Universidades por toda a Europa. 
A influência da teologia cristã (católica) na escolástica foi central, praticamente não havia 
um conhecimento secular. Além disso, a necessidade de formação em larga escala de sacerdotes e 
da forte implicação cultural e educacional pela igreja católica, criou escolas e universidades para 
ensinar e formar pensadores e novos sacerdotes. Por conta da valorização cultural e do ensino, além 
do resgate a Aristóteles, imperou durante a Escolástica uma intensa mobilização para o 
conhecimento das questões metafísicas e das ciências naturais. 
Nesse sentido, vários pensadores como Alberto Magno, Santo Anselmo e Tomás de Aquino 
defenderam que o combate às heresias, ao paganismo e à não aceitação de Deus ocorreria por meio 
da formulação de teorias racionais e do conhecimento científico. As invasões mouras, que levaram 
os árabes a disputarem o domínio de partes do atual território espanhol e português, ocorridas a 
partir do século VII, foram fundamentais para a construção do pensamento escolástico, pois os 
árabes levaram consigo os estudos mais profundos das obras de Aristóteles. 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
Como exemplo, podemos destacar Averróis, filósofo árabe do século XII, que influenciou os 
pensadores escolásticos com seus comentários sobre Aristóteles. Tomás de Aquino, o mais 
importante nome da Escolástica, operou uma junção de sua interpretação de Aristóteles com ideias 
autorais, o que resultou no chamado tomismo aristotélico. 
 
 
 
 
https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/tomas-aquino.htm
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
TEMA 03 
PARTE 01 
5. PEDAGOGIA REFORMADA E ILUMINISTA 
Antes de tratarmos diretamente sobre educação na Idade Moderna, se faz necessário 
primeiro apresentarmos as pré-condições históricas, isto é, as transformações sociais que marcaram 
a passagem do período feudal ao período histórico então chamado de moderno e suas 
características. Outra questão que também importa ser tratada, é caracterizarmos o que vem a ser 
chamado período moderno e o que é comumente chamando de modernidade. Considerando que a 
pesar de serem conceitos que estão intimamente ligados e relacionados entre si, não correspondem 
necessariamente a mesma coisa. 
Crise do sistema feudal, Renascimento, surgimento do Estado moderno, da burguesia e do 
proletariado. 
Como sabemos, o modo de produção feudal era basicamente uma sociedade agrária 
fundada em uma estrutura social hierarquizada composta por três estamentos: nobreza, clero e 
servos (camponeses). “A sociedade feudal consistia dessas três classes sacerdotes guerreiros e 
trabalhadores, sendo que o homem que trabalhava produzia para ambas as outras classes, 
eclesiástica e militar. Isto era muito claro, pelo menos para uma pessoa que viveu naquela época, e 
que assim comentou o fato: "For the knight and eke the clerk Live by him who does the work.”( 
Huberman, 1981, p., 6) 
As características mais marcantes da sociedade feudal eram: a sua estática social, isto é, era 
um modelo de sociedade baseado não necessariamente na falta de transformações socias, mas sim 
em transformações que aconteciam em uma velocidade muito lenta, quase imperceptível para os 
grupos humanos e para os indivíduos do grupo, o que causava na sociedade feudal uma percepção 
que de que não haviam transformações sociais que alterassem sua estrutura social. E outra era, a 
quase total falta de possibilidade de mobilidade social. 
Quem nascia nobre, não se tornava camponês, e quem nascia camponês sabia que a 
possibilidade de sair de sua condição servil era muito pouco provável. Mesmo no clero essa 
estrutura se reproduzia, a regra era que Bispos e Cardeais eram de origem nobre, assim como padres 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
e outros postos eclesiásticos mais baixos tinham sua origem no estamento servil. Como nos é 
demonstrado na passagem de Ruberman: 
Os camponeses eram mais ou menos dependentes. Acreditavam os senhores que existiam 
para servi-los. Jamais se pensou em termos de igualdade entre senhor e servo. O servo trabalhava 
a terra e o senhor manejava o servo. E no que se relacionava ao senhor, este, pouca diferença fazia 
entre o servo e qualquer cabeça de gado de sua propriedade. Na verdade, no século XI, um 
camponês francês estava avaliado em 38 soldos, enquanto um cavalo valia 100 soldos! Da mesma 
forma que o senhor ficaria aborrecido com a perda de um boi, pois dele necessitava para o trabalho 
da terra, também o aborrecia a perda de qualquer de seus servos - gado humano necessário ao 
trabalho na terra.” ( Idem, p. 11) 
Mas as transformações aconteceram, elas sempre acontecem inevitavelmente, e 
lentamente, mas constante, elas foram paulatinamente imprimindo um acúmulo de forças 
históricas transformadoras foram solapando em uma crescente intensidade as estruturas do 
feudalismo. Há um consenso entre os estudiosos das sociedades humanas, que Guerras, Revoluções 
e epidemias, são eventos que tem enorme poder de transformação social. 
No período medieval eventos dessa natureza eram frequentes, mesmo que em intensidade 
menor. Mas entre os anos de 1340 e 1350 um evento catastrófico marcou a história da Europa e 
selou a sorte do sistema feudal. A Peste Negra se consolidou como uma das mais graves epidemias 
a atingir a população da Europa. Em pouco tempo, aproximadamente um terço dos europeus foram 
dizimados com os terríveis sintomas da doença. Como outra vez nos narra Leo Huberman: 
No ano de N. S. de 1348, ocorreu em Florença, a mais bela cidade de toda a Itália, uma peste 
terrível que, seja devido à influência dos planetas, ou seja como castigo de Deus aos nossos pecados, 
surgira alguns anos antes no Levante, e, depois de passar de um lugar para outro, provocando 
grandes danos em toda parte, atingiu depois o Ocidente. Aqui, a despeito de todos os meios que a 
arte e a previsão humana poderiam sugerir, como manter a cidade limpa, exclusão de todas as 
pessoas suspeitas de moléstia e publicação de copiosas instruções para a preservação da saúde e 
não obstante as múltiplas e humildes súplicas oferecidas a Deus em procissões e de outras formas, 
começou a se evidenciar na primavera do mencionado ano, de maneira triste e surpreendente. 
(Ibidem, p. 48-49) 
 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
 Ainda segundo autor, para a cura da doença, nem o conhecimento médico nem o poder das 
drogas tinha qualquer efeito. Qualquer que fosse a razão, poucos escaparam, e quase todos 
morriam no terceiro dia após o aparecimento dos sintomas. O que deu a essa peste maior virulência 
foi o fato de passar do doente para o são, aumentando diariamente, como o fogo em contato com 
grande massa de combustíveis. Essa, segundo me parece, a qualidade da peste, de passar não 
apenas de homem para homem, mas, o que era ainda mais estranho, qualquer coisa pertencente 
ao doente, se tocada por outra criatura, transmitia com certeza a doença, e a matava num curto 
espaço de tempo. Pude observar um exemplo disso: os trapos de um pobre que acabava de morrer 
foram lançados à rua; dois cães surgiram e, depois de brigarem por eles e sacudi-los na boca, em 
menos de uma hora caíam mortos." 
A peste provocou uma violenta retração na mão de obra disponível, tal quadro acabou sendo 
o grande responsável pelo recrudescimento das obrigações feudais. Nesse contexto de doenças e 
maior rigidez, as revoltas camponesas eclodiram em diferentespontos do Velho Mundo. Pelo visto, 
as antigas relações de trabalho não se mostravam eficazes para suprir a demanda alimentar, 
econômica e política da população. 
Assim, quando a peste cessou, uma nova dinamização social se impôs redirecionando a 
história europeia. Um novo período de novas ideias e de novos personagens começa a se iniciar. As 
mudanças ocorridas na Europa, como o desenvolvimento do comércio e das cidades e a expansão 
marítima, foram acompanhadas por um intenso movimento cultural. Essas transformações faziam 
os europeus acreditarem que viviam em um novo tempo, muito diferente daquele que imperou 
durante toda a Idade Média. Por isso, os europeus dos séculos XIV ao XVI acreditavam estar 
presenciando o verdadeiro Renascimento. 
Entre os séculos XIV e XVI, a produção artística e literária foi t]ao intensa e variada que esse 
período recebeu a denominação de Renascimento ou Renascença. Esse movimento teve início na 
península Itálica, onde se localizavam cidades de intensas atividades culturais, como Florença e 
Veneza. Assim, em grande parte da Europa, começaram a surgir escritores e artistas preocupados 
em expressar os valores daquela nova sociedade. Em grande parte, essas atividades culturais eram 
financiadas por ricos comerciantes e banqueiros O comércio com o Oriente permitiu que muitos 
comerciantes europeus, principalmente de cidades de Veneza e Florença, na península Itálica, 
acumulassem grandes fortunas. Enriquecidos, alguns desses comerciantes, bem como governantes 
e papas, passaram a financiar a produção artística de escultores, pintores, arquitetos, músicos, 
escritores, etc. Prática que ficou conhecida como mecenato. A intensificação das atividades 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
comerciais e depois manufatureiras teve como consequência aparecimento dos três personagens 
centrais da nova sociedade, a burguesia, o proletariado e o Estado moderno. Nobres suseranos 
concentraram tantas terras e poder que passaram a governar grandes áreas e fortalecendo o 
nascente espírito nacional. 
Mas em fins da Idade Média, no decorrer do século XV, tudo isso se modificou. Surgiram 
nações, as divisões nacionais se tornaram acentuadas, as literaturas nacionais fizeram seu 
aparecimento, e regulamentações nacionais para a indústria substituíram as regulamentações 
locais. Passaram a existir leis nacionais, línguas nacionais e até mesmo Igrejas nacionais. Os homens 
começaram a considerar-se não como cidadãos de Madri, de Kent ou de Paris, mas como da 
Espanha, Inglaterra ou França. Passaram a dever fidelidade não à sua cidade ou ao senhor feudal, 
mas ao rei, que é o monarca de toda uma nação. Como ocorreu essa evolução do Estado nacional? 
Foram muitas as razões políticas, religiosas, sociais, econômicas. Livros inteiros foram escritos sobre 
esse interessante assunto. Temos espaço para examinar apenas algumas causas principalmente 
econômicas. ( Ibidem, p. 66) 
Dos servos e vilãos que se tornaram homens livres e se dedicaram as atividades comerciais 
e manufatureiras como especialidades nasceram aos primeiros burgueses, assim como daqueles 
servos que perdendo o direito à terra passaram a oferecer sua mão de obra àqueles que precisavam 
sob a paga de um salário. Um dos maiores narradores e crítico desse período assim nos demonstram 
em passagem de uma de suas obras mais icônicas: 
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os 
antagonismos de classe. Não fez mais do que estabelecer novas classes, novas condições de 
opressão, novas formas de luta em lugar das que existiram no passado. 
Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os 
antagonismos de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois campos opostos, em duas 
grandes classes em confronto direto: burguesia e o proletariado. 
Dos servos da Idade Média nasceram os moradores dos primeiro burgos; desta população 
municipal saíram os primeiros das burguesia.( Marx, 2005, p., 40) 
A burguesia nascente teve um papel central e decisivo na passagem do sistema feudal ao 
sistema capitalista. É a partir de sua ação que se configura a nova sociedade, novas ideias, novas 
estruturas sociais, progresso científico, desenvolvimento artístico, expansão marítima e 
colonizadora. A burguesia foi e é revolucionária, mas uma vez Marx (2005) diz: 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia destruiu as relações feudais, 
patriarcais e idílicas. Rasgou todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a 
seus “superiores naturais”, para só deixar subsistir, de homem, o laço do frio interesse, as duras 
exigências do “pagamento à vista”. Afogou os fervores sagrados da exaltação religiosa, do 
entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo 
egoísta[...] 
A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas como dignas e 
encaradas com piedoso respeito. Fez do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio, seus 
servidores assalariados. [...] 
A burguesia revelou com a brutal manifestação de força na Idade Média, tão admirada pela 
reação, encontra seu papel natural na ociosidade mais completa. Foi a primeira a provar o que a 
atividade humana pode realizar: criou maravilhas maiores que as pirâmides do Egito, que os 
Aquedutos romanos, as catedrais góticas; conduziu expedições que empanaram mesmo as antigas 
invasões e as Cruzadas. 
A burguesia não pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de 
produção, por conseguinte, as relações de produção, e com isso, todas as relações sociais. (Idem, 
p., 42-43) 
Este é um pequeno cenário do período que vai do fim da Idade Média e os primeiros 
momentos que vão caracterizar a Idade Moderna. Mas ainda precisamos esclarecer uma confusão 
que as vezes aparece, definirmos o que é Idade Média e o que é Modernidade, suas congruências, 
similitudes e contradições. 
É comumente chamando de Idade Moderna o período histórico que compreende período 
específico da História do Ocidente que se inicia no final da Idade Média em 1453 d.C. e estende-se 
do final do século XV até à Idade das Revoluções no século XVIII; muitos historiadores assinalam o 
início desta idade na data de 29 de maio de 1453, quando ocorreu a tomada de Constantinopla 
pelos turcos otomanos, incluindo assim o Renascimento e a Era dos Descobrimentos, incluindo as 
viagens de Colombo que começaram em 1492 e a descoberta do caminho marítimo para a Índia por 
Vasco da Gama em 1498, se encerrando com a Revolução Francesa no dia 14 de Julho de 1789. 
Já modernidade, corresponde a um período de tempo que se caracteriza pela realidade 
social, cultural e econômica vigente no mundo e que remete seu nascedouro ao mesmo período de 
surgimento do período histórico moderno, com a ascensão do modo de vida burguês, iluminista (e 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
pós-iluminista) e de rompimento com o pensamento escolástico, que tinha nos preceitos 
teocêntricos ligados a teologia católica. 
É o estabelecimento da razão como forma autônoma de construção de conhecimento, 
desligado dos mores religiosos. Tendo a intensa e incessantes transformações, (reflexividade, 
conforme Antony Giddens 1938-2004) sua característica mais marcante, uma auto destruição 
criadora. Ou como nos cita Marshall Berman: 
A experiencia ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de 
classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une 
a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja 
a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de 
ambiguidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx (2005) 
“tudoque é sólido desmancha no ar.( Berman, 1986, p. 15) 
A educação na Idade Moderna 
Na Europa Ocidental, durante a Idade Média, após as invasões bárbaras e a subsequente 
reconstrução cultural sob o domínio do clero, a Educação estava sob o domínio da Igreja Católica. 
Formaram-se escolas nos monastérios, nas paróquias e nas catedrais. A partir dessas escolas das 
catedrais, surgiram - por volta do século XII - as Universidades. A Educação assim configurada 
refletia o teocentrismo da cosmovisão prevalecente. 
No entanto, durante a Idade Moderna, uma série de fatores conjugaram-se para, 
primeiramente, gerarem o abandono da fundamentação religiosa da Educação e, progressivamente, 
a retirada da função educacional das mãos da Igreja e a institucionalização da Educação. Dentre os 
fatores que mudaram definitivamente a face da Educação, podemos apresentar: a) O Renascimento 
Cultural dos séculos XV e XVI; b) A Reforma Protestante sob influência do pensamento humanista, 
a partir de 1517; c) A formação do Estado moderno; d) A revolução científica do século XVII; e) O 
movimento iluminista de inspiração liberal; f) O fortalecimento e ascensão da classe burguesa; g) O 
desenvolvimento do sistema econômico capitalista em sua fase mercantilista. 
Esse último fator de transformação da educação acompanhou o conjunto de mudanças de 
natureza ideológica, social, política e cultural que nós relacionamos acima e dele se alimentou. Na 
realidade, todo esse processo tendeu a solapar os fundamentos da civilização ocidental; a religião, 
a tradição filosófica e a autoridade política, gerando uma “ruptura fundante”, ou seja, uma mudança 
na estrutura mental do homem, que na realidade, todo esse processo tendeu a solapar os 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
fundamentos da civilização ocidental; a religião, a tradição filosófica e a autoridade política, gerando 
uma “ruptura fundante”, ou seja, uma mudança na estrutura mental do homem que deu origem a 
uma nova ordem mundial, a qual se caracterizou pelo ideal de progresso e a exaltação da razão e 
da ciência como instâncias de explicação da realidade. 
Implícito a todo esse processo está a compreensão do que seja modernidade. A 
modernidade pressupõe uma ruptura com as tradições, sobretudo a religiosa, apresentada como o 
passado obscurantista. Espera-se o triunfo da razão em oposição às trevas da irracionalidade das 
crenças. No decorrer da história moderna aconteceu esse longo processo de transformação da 
Civilização Ocidental, durante o qual a escola assumiu as suas principais características, que 
prevalecem até hoje. 
A importância da Reforma Protestante foi outro evento marcante para os rumos da 
configuração da educação. Muitos estudiosos se dedicaram e ainda se dedicam ao estudo das 
condições históricas que levaram ao surgimento da moderna sociedade capitalista e da sociedade 
moderna. Para Max Weber (1864 – 1920), em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1905), 
é fato reconhecido que a Reforma Protestante desempenhou um papel decisivo na formação da 
mentalidade moderna. Em alguns aspectos, a Reforma Protestante se identifica bastante com a 
mentalidade humanista renascentista e em outros, opõe-se veementemente. 
O caso do princípio da liberdade de consciência, que encontrou nos próprios reformadores 
consideráveis limitações, a partir do momento que submeteram a religião e a educação à tutela do 
Estado. Isso porque, Martinho Lutero reconhecia a origem divina do poder político e também 
porque foi devido ao apoio dos príncipes alemães que esse reformador pôde escapar do fim trágico 
de outros reformadores e expandir seu movimento. 
Pode-se considerar que a mais importante contribuição de Martinho Lutero para a educação 
tenha sido a defesa do princípio da obrigatoriedade da frequência escolar. Este princípio se tornaria 
viável em função do compromisso das autoridades civis de estabelecer e sustentar escolas, o que 
resultaria no controle estatal da educação. No entanto, é bom lembrar que o “Estado” ao qual 
Martinho Lutero deseja submeter o controle da educação não é o Estado Nacional, leigo e 
secularizado da modernidade ocidental. 
 Mas, numa época em que o “ser cristão” se constituía no principal princípio de identidade, 
as pessoas ainda não tinham consciência histórica de pertencer a uma nacionalidade. Martinho 
Lutero se refere aos principados alemães com estrutura ainda feudal e que, debaixo da influência 
pessoal de nobres germânicos, apesar de fazerem parte do chamado Sacro Império Romano 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
Germânico sob a Coroa dos Habsburgos, não possuíam unidade política. Nesse sentido, é 
interessante mencionar que por ocasião da celebração da Paz de Augsburgo, entre Católicos e 
Luteranos, em 1555, estabeleceu-se que os príncipes tinham o direito de impor sua escolha religiosa 
a seus súditos. Assim, a Reforma Protestante contribuiu para que a instrução passasse para o para 
o controle das “autoridades laicas”, e também para a crescente configuração de uma fisionomia 
nacional da educação nos diversos países. 
A burguesia desenvolveu seus ideais liberais, ao longo dos séculos XVII e XVIII, em sua luta 
contra a aristocracia e em oposição à aliança entre o Trono e o Altar, passando este a ser 
apresentado como representante dos ideais da totalidade da sociedade. Na escala de valores 
liberais, a Educação ocupa um lugar tão importante quanto o dinheiro. Relembrando a conhecida 
tese de Max Weber segundo a qual a Reforma Protestante contribuiu para o liberalismo porque 
valorizou o trabalho secular e profissional, contribuindo como um elemento cultural de 
desenvolvimento do capitalismo do tipo moderno e ocidental. 
Assim, a ideia de “vocação”, que irá nortear a concepção liberal de educação, provém da 
Reforma Protestante. Na realidade, essa ideia ocupa uma posição central no ideal liberal de 
educação, na medida em que ela desempenha o papel de confirmação dos processos culturais mais 
favoráveis à manutenção da organização social e do sistema de produção. No pensamento liberal é 
a partir dos talentos de cada indivíduo, ou da vocação individual, que são despertados e 
desenvolvidos pela escola, que as pessoas ocuparão o seu lugar na sociedade. Ou seja, a posição de 
cada um na sociedade não será mais determinada por nenhum privilégio de nascimento ou de 
classe, mas dependerá do desenvolvimento de sua capacidade inata por meio da escola. 
Assim, o liberalismo acaba defendendo uma exacerbação do individualismo e introduzindo 
os princípios do capitalismo na educação na medida em que as posições sociais serão conquistadas 
numa luta na qual obterão sucesso os mais aptos, ou vocacionados, numa espécie de “darwinismo 
social”. Ou seja, o objetivo da educação liberal é hierarquizar a sociedade com base no mérito 
pessoal, ao contrário das sociedades tradicionais que hierarquizavam em função da origem social 
dos indivíduos. 
O Iluminismo foi um movimento cultural que incorporou o ideário liberal, principalmente no 
século XVIII. O interesse de todo o proceder iluminista converge para o homem, uma perspectiva 
antropocêntrica em contra ponto ao teocentrismo medieval, a educação desempenha um papel 
proeminente. A rejeição à tradição determinará novo enfoque curricular, centrado na 
predominância das ciências exatas e no consequente desenvolvimento técnico. No plano político, o 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
iluminismo traduziu-se em duas formas de governo: a democracia, na França, Inglaterra e Estados 
Unidos e o despotismo esclarecido, da Europa à leste do Reno. 
Segundo o racionalismo iluminista: do mesmo modo que há leis naturais que governam o 
mundo físico, era necessário descobrir e aplicar as leis que governam a ordem moral e o mundo 
social, assim, a arte de governo deveria fundamentar-se na ciência exata e todos os negócios 
humanos deveriam obedecera essas leis, sendo os governantes, tanto nas democracias, quanto nas 
burocracias esclarecidas, encarregados de racionalmente pôr ordem na vida social e econômica. Em 
função dessas ideias, justificou-se a nacionalização da educação. 
Os primeiros educadores dos tempos modernos, inspirados no indutivismo de Francis Bacon 
e na sistematização do método científico desenvolvida por Issac Newton (1643 – 1727), apoiavam-
se num princípio educacional chamado de realismo pedagógico, segundo o qual a natureza é a fonte 
de conhecimentos e critério de verdade. A partir de Jean Jacques Rousseau (1712 – 1778), uma 
nova abordagem passou a influenciar a educação. Considerado o principal pensador educacional do 
Iluminismo, Rousseau defendia que, ao contrário de um princípio externo de verdade, se deve 
buscar no interior de cada ser humano o princípio de realidade. 
Assim, segundo essa perspectiva, a vida em sociedade é a responsável pela degradação 
humana, Rousseau propõe a educação natural como melhor método educacional, ou seja, deve-se 
seguir o “método da natureza”. Em função disso, assume sentido a ênfase que Rousseau dá à 
infância em sua obra pedagógica. Ele mesmo afirma que “uma criança suportará mudanças que um 
homem não suportaria; as fibras da primeira, moles e flexíveis, tomam facilmente a forma que lhe 
damos...” (ROUSSEAU, 1999, p., 23). 
Desde Comênio, que os educadores modernos se preocupavam com a criança, 
desenvolvendo a noção moderna de infância. Foi durante a Idade Moderna que a escola tornou-se 
uma instituição especializada operando em função do isolamento da criança da sociedade, 
preparando-a para a vida adulta. Por trás disso, está a ideia de que o mundo infantil constitui um 
universo à parte do mundo dos adultos. 
Outro personagem que trouxe novas contribuições para a constituição das características da 
educação foi o educador suíço Johann Heinrch Pestalozzi (1746-1827). Pestalozzi foi o formulador 
de um tipo de pedagogia-modelo para a escola elementar secular moderna, porém, não deixou de 
utilizar o princípio religioso como guia de suas proposições: a educação ética e religiosa (do coração) 
deve preceder à educação intelectual (da cabeça) e das artes ou indústria (mão), ou seja, para 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
Pestalozzi a vida moral do homem deve ter ascendência sobre a existência intelectual e física e 
motora. 
As aplicações de Pestalozzi foram utilizadas para o desenvolvimento cognitivo, 
principalmente na educação elementar. A ele pode-se atribuir o difundido “método de coisas” ou 
“lição de coisas”, cuja fundamentação é a valorização da experiência direta a partir da percepção 
sensorial. Porém, a grande inovação pestalozziana em consonância com a modernidade foi a 
estreita união entre estudo e trabalho, um método fundamentado na ação, especialmente na 
educação agrícola. Depois de Pestalozzi, outros acrescentaram o trabalho manual na imprensa, 
alfaiataria, fabricação de calçados, marcenaria, cerâmica e “artes” mecânicas. Para as meninas, 
ficaram as prendas domésticas. 
Como percebemos, até agora, a instituição escolar, da forma como a conhecemos, emergiu 
na Europa Ocidental concomitantemente com o Estado moderno, e sujeita aos interesses desse 
modelo de Estado, trabalhando para implantar a disciplina individual e social, criando assim 
condições para que o Estado se tornasse uma estrutura dominante na sociedade. Ou seja, 
desenvolveram-se as funções integrativa e coercitiva da escola moderna. 
Durante esse período, estabeleceram-se os grandes objetivos da educação moderna: o 
aperfeiçoamento do gênero humano, mediante a formação de pessoas amadurecidas, guiadas pela 
razão. Com isso, além de sua tarefa tradicional de reproduzir os conteúdos culturais acumulados 
durante a experiência histórica da humanidade, a escola também se viu com o objetivo de preparar 
o cidadão para a sociedade moderna; como alguém consciente de seus direitos e deveres, 
cumpridor das leis em função da autonomia moral adquirida pelo exercício da virtude durante o 
processo de socialização desenvolvido na escola, isso em tese. 
A formação dessas duas instituições modernas também contribuiu para a transferência da 
tutela da educação da religião para o estado. Os processos históricos apresentados acima, dede a 
crise do feudalismo, colaboraram fortemente para que a instrução se tornasse pública, obrigatória 
ou de frequência compulsória, gratuita e laica, ou seja, submetido à tutela do Estado nacional 
moderno. Ora, sob controle estatal, ocorreu uma difusão geográfica sem precedentes da Educação. 
Além disso, a maioria dos países, após a nacionalização e/ou laicização do ensino, procuraram 
estabelecer sistemas escolares concomitantemente a uma revisão de seus programas educacionais, 
seguindo orientação de pressupostos liberais da educação. 
De outro lado, o movimento histórico estabelecido com a sucessão de acontecimentos 
marcantes na Idade Moderna, tais como a revolução científica do século XVII, o Iluminismo do século 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
XVIII e a cosmovisão mecanicista e deísta que decretaram a ciência como única instância 
reconhecida de descrição da realidade fizeram com que uma ciência de cunho materialista se 
tornasse a determinante dos conteúdos, dos métodos e objetivos da educação. 
E quais seriam as consequências últimas desse processo? Poderíamos dizer que a principal 
consequência foi que a educação assumiu, na sociedade moderna, e porque não contemporânea 
também, uma função meramente funcionalista e instrumental. Ou seja, ao contrário de seu ideal 
propagado de formação do cidadão, a escola acabou apenas preparando o indivíduo para o 
desempenho de uma função econômica dentro do sistema de produção capitalista. Além disso, a 
racionalidade científica que tomou conta da escola determinou a fragmentação do conhecimento 
em disciplinas isoladas, o predomínio quase exclusivo da lógica dedutiva e o distanciamento dos 
conteúdos da vida cotidiana dos estudantes. 
A evolução histórica ocidental nos mostra que a formação da escola moderna da forma como 
ela é, ainda. É um processo com muitos aspectos inter-relacionados. Diversos fatores operaram 
concomitantemente, a exemplo do Estado Moderno e da própria difusão da cultura dos impressos. 
Obviamente, é claro, não foi abordado todos os aspectos desta experiência histórica, mas construiu-
se um panorama, uma paisagem vertical, para entender melhor como e porque a escola veio a 
ocupar a posição privilegiada de principal responsável pela socialização secundária das pessoas nas 
sociedades ocidentais. 
 Além disto, considerando que a escola é uma instituição que também ainda traz em si um 
caráter conservador, mesmo após o transcorrer de todo o século XX, ainda é possível identificar no 
modus operandi atual desta instituição as mesmas características dos tempos modernos. Além dos 
elementos que já foram acima apresentados, podemos mencionar: a predominância da sala de aula 
como lócus para o processo ensino-aprendizagem; a compreensão da criança como “aluno”; uma 
maior valorização do raciocínio lógico e das linguagens formais em detrimento de áreas menos 
objetivas como as humanidades; separação entre teoria e prática; dualismo educacional, ou seja, 
uma escola para a elite e outra para as classes subalternas. Tudo isso são questões que ainda pautam 
os debates pedagógicos atuais em todas as esferas, de gestores aos pais e alunos nas salas de aula. 
 
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO GERAL E DO AMAZONAS 
TEMA 03 
PARTE 02 
6. IDEIAS PEDAGÓGICAS DOS SÉCULOS XIX E XX 
Tudo que rodeia a educação institucionalizada é fruto da própria história das sociedades em 
suas mais variadas ramificações (política, econômica, etc.). As concepções sobre a educação 
também fazem parte dos caminhos tomados pelas sociedades humanas em sua incansável procura 
de cultura e conhecimento.

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