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História da Educação Unidade 1

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História da Educação Unidade 1
Educação e formação: diferenças e similaridades Unidade 1
Independente da definição conceitual ou do entendimento sobre seu significado, inicialmente podemos afirmar que educação é um conceito muito amplo. Tanto que, além da História (da educação) que estudamos aqui como disciplina, outros campos do conhecimento científico também lançam suas análises sobre tal conceito, como a Filosofia, a Sociologia, a Antropologia e a Psicologia, por exemplo.
Apenas a título de iniciação à pesquisa e de acesso à compreensão das diferentes possibilidades conceituais referentes a um mesmo termo, vamos demonstrar brevemente como cada um desses campos científicos citados definem o conceito educação.
É importante ressaltar que a filosofia, desde a antiguidade, tem especial preocupação com a educação e os aspectos que a circundam. Mesmo atualmente, quando temos o objetivo de formar cidadãos críticos e participativos da vida em sociedade, além de prepara-los para o mundo do trabalho, tal objetivo é oriundo de uma filosofia, de uma maneira de pensar o ideal de formação do homem. O Dicionário de Filosofia (ABBAGNANO, 2007, p. 306-307) traz a seguinte definição para educação:
Em geral, designa-se com esse termo a transmissão e o aprendizado das técnicas culturais, que são as técnicas de uso, produção e comportamento, mediante as quais um grupo de homens é capaz de satisfazer suas necessidades, proteger-se contra a hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em conjunto, de modo mais ou menos ordenado e pacífico. Como o conjunto dessas técnicas se chama cultura, uma sociedade humana não pode sobreviver se sua cultura não é transmitida de geração para geração; as modalidades ou formas de realizar ou garantir essa transmissão chamam-se educação. Esse é o conceito generalizado de Educação, que se tornou indispensável graças à consideração do fenômeno não só nas sociedades chamadas civilizadas, mas também nas sociedades primitivas.
Por sua vez, outro campo da ciência que lança seu olhar criterioso sobre a educação é a sociologia da educação que, como disciplina estuda os processos sociais de ensino e aprendizagem, abrangendo também aspectos organizacionais e institucionais que, por sua vez, permeiam o desenvolvimento da educação. Além disso, essa disciplina busca compreender relações sociais que envolvem os indivíduos inseridos no meio educacional e em seus distintos processos. O Dicionário de Sociologia (Repositório Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina) traz a seguinte definição para o conceito educação:
A educação interessa a duplo título as ciências sociais e mais particularmente a sociologia: sejam quais forem os costumes, os usos e os modos de pensamento dos povos, numa palavra, a sua cultura, esta é lhes primeiramente transmitida; por outro lado, esta transmissão faz-se pela mediação de instituições, algumas das quais desempenham um papel social crescente. Este duplo aspecto pode recobrir uma clivagem disciplinar: etnólogos e psicossociólogos interessar-se-ão mais pela transmissão e seus efeitos individuais; economistas e sociólogos, pelo funcionamento das instituições e pelo seu contexto social. Mas trata-se de pistas que, segundo a época e o ponto de vista, caminharão em paralelo ou misturarão o seu curso.
É real que, a educação popular atualmente se forma numa mistura de teorias e de práticas. Nas diversas partes do mundo, elas têm em comum, a missão com os mais pobres, isto é, com a emancipação humana. São possibilidades plausíveis, íntegras, fundamentadas, continuadamente comparadas com a severidade dos fatos.
No Brasil, a antropologia da educação ainda é um campo que está em processo de estruturação e de consolidação, embora possamos reconhecer que a interface entre esse campo do conhecimento antropológico ligado à educação não é um fenômeno recente em nossa realidade. Tanto que, diferente da filosofia e da sociologia, a antropologia estabeleceu um marco significativo na sua relação com a educação que é a estruturação da “antropologia pedagógica” presente em escolas regulares já no início deste século, de modo a indicar a compreensão de que o saber antropológico seja de fundamental importância no processo de formação docente, por exemplo.
Mais especificamente, em relação a uma definição conceitual sobre educação, recorremos ao Dicionário de Antropologia (BARFIELD, 2003, p. 229) para acessar o que essa ciência propõe:
Termo geral para se referir aos processos sociais que facilitam o aprendizado em comunidades humanas. A educação é universal em todas as sociedades humanas e tão necessária para a continuidade da vida social quanto à reprodução biológica, a subsistência econômica, a comunicação simbólica e a regulação social, que exigem que os jovens sejam educados para participar culturalmente. Os termos «socialização», com ênfase na preparação para a participação social, e «CULTURIZAÇÃO», que enfatizam os modelos culturais a serem adquiridos, são mais ou menos equivalentes à educação em sentido amplo.
Finalmente, a Psicologia da Educação é o ramo da psicologia aplicada que estuda as interações que se estabelecem entre o indivíduo e as situações de educação, além de observar os estados psicológicos resultantes da ação educativa e a influência das variáveis intervenientes no processo educativo. Entre todas as demais ciências que lançam suas pesquisas e análises sobre a educação, é a Psicologia que mais contribuiu com ela, sobretudo por causa de sua proximidade com a pedagogia e de autores que produziram trabalhos monumentais sobre o aprendizado e os aspectos cognitivos. Mais a frente, vamos nos ater um pouco mais profundamente sobre alguns deles, casos de Jean Piaget, Lev Vygotsky, Heinrich Pestalozzi e John Dewey, entre outros.
Nesse momento, vamos observar qual a definição conceitual sobre educação que nos traz o Dicionário de Psicologia (GALIMBERTI, 2002, p. 794):
Atividade tipicamente humana que, através de influências e atos voluntariamente realizados por um indivíduo sobre outro, geralmente por um adulto em uma pessoa jovem, tende a formar as disposições que correspondem aos objetivos da sociedade e cultura em que o indivíduo está inserido. Como a educação está sempre ligada a estilos de vida historicamente determinados, a pedagogia, ao delinear os critérios de treinamento, sente os efeitos dos ideais políticos, dos interesses econômicos e do tipo de sociedade em que opera. Essa dependência levantou a questão de se a pedagogia é uma ciência em si, com propósitos específicos, ou melhor, não é um conjunto de disciplinas diferentes que convergem no problema educacional. Permanece também o problema de se a pedagogia deve indicar os objetivos da educação, ou melhor, simplesmente descrever os procedimentos, se deve ser depositário, no sentido de transmitir aos jovens os valores e conhecimentos de sua sociedade, ou problematizar, no sentido de liberar na comunicação as instâncias criativas e interrogativas do aprendiz.
A Psicopedagogia, deliberadamente, toma o caminho da autonomia ao constituir-se como a ciência que une os campos do conhecimento ligados à psicologia e à pedagogia com a finalidade de dar suporte e de compreender os aspectos cognitivos presentes nos seres humanos.
Ao acessar o Plano de Ensino e a própria lista de referências bibliográficas ao final dessa unidade de estudo, você perceberá que os autores citados como leitura básica e a complementar são aqueles que desenvolveram trabalhos na área da história da educação, embora muitos deles lancem mão da metodologia ou de conceitos propostos pelas demais ciências que também analisam a educação, caso daquelas que aqui foram elencadas e contribuíram com suas definições conceituais.
Entre tais autores, citamos um historiador, o professor Dermeval Saviani, que afirma que “a educação é inerente à sociedade humana, originando-se do mesmo processo que deu origem ao homem. Desde que o homem é homem ele vive em sociedade e se desenvolve pela mediação da educação. A humanidade se constituiua partir do momento em que determinada espécie natural de seres vivos se destacou da natureza e, em lugar de sobreviver adaptando-se a ela necessitou, para continuar existindo, adaptar a natureza a si” (2004, p. 1).
Assim, o ser humano é a única espécie animal que vai muito além da mera adaptação à natureza, ele também a transforma por meio de um conjunto de técnicas e habilidades que são transmitidas de geração a geração.
Olhe ao seu redor: absolutamente tudo o que existe é resultado dessa interação entre o ser humano e a natureza. O homem tira proveito da natureza para dela extrair aquilo que precisa para sua melhor sobrevivência.
A vivência em sociedade e o seu desenvolvimento mediados pela educação, conforme citado acima, tem o objetivo principal de tornar melhor e mais duradoura a existência humana, também por isso as informações, o conhecimento, as experiências e as técnicas são transmitidas entre as gerações e entre os diferentes povos.
Essa “transmissão” de conhecimentos possibilita melhorar a sobrevivência humana. Além dos gêneros alimentícios, dos utensílios e ferramentas e de tantos outros itens produzidos com a finalidade de prover o sustento e o abrigar das intempéries naturais, o ser humano também produz outras coisas: instrumentos musicais (e música), pinturas artísticas, esculturas em vários materiais e com várias finalidades, brinquedos e uma infinidade de exemplos que caberiam aqui.
A esse conjunto de realizações podemos chamar de trabalho, que é, justamente, “a ação transformadora do homem sobre a natureza, que modifica também a forma de pensar, agir e sentir, de modo que nunca permanecemos os mesmos ao fim de uma atividade, qualquer que ela seja. É nesse sentido que dizemos que, pelo trabalho, o homem se autoproduz, ao mesmo tempo que produz sua própria cultura. (ARANHA, 1996, p. 15)
O ser humano só é diferente dos outros animais porque tem a capacidade de se comunicar, de educar, de transmitir aos seus pares e às novas gerações um modo de ser, de transformar o meio em que vive e as relações em sociedade. O ser humano aprende que pode sempre desenvolver mais seu modo de viver e de se relacionar, portanto, está sempre em formação. Como diferentes povos têm também distintos modos de viver, de aprender e de se expressar, são muitas as possibilidades culturais a serem produzidas.
Antes de abordarmos outros conceitos que estão diretamente relacionados, vamos aprofundar mais nossa compreensão sobre o conceito educação. Para isso, vamos recorrer às definições conceituais e perspectivas de mais autores.
O professor-pesquisador Carlos Rodrigues Brandão inicia seu livro O que é educação afirmando que “ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias, misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias: educação? Educações”. (1981, p. 9)
Essa perspectiva, que compreende a existência de várias educações, se sustenta na argumentação de que, do mesmo modo que se pode verificar que também existem múltiplas formas e variações dos modelos de casas/lares inseridos em cidades multifacetadas, de igrejas/templos que comportam inúmeras denominações religiosas e, principalmente, de escolas organizadas em diferentes modos e com muitas finalidades, pode se verificar também a existência de mais que uma forma de compreender (e de praticar) a educação.
Ainda sobre a multiplicidade conceitual e prática sobre o que é educação, é a partir das relações que estabelecem entre si, os seres humanos criam diversos padrões de comportamento, um sem número de instituições e de saberes que passam por aperfeiçoamento ao longo do tempo, por meio da ação de gerações que se sucedem, o que lhes permite assimilar e transformar os modelos valorizados em uma determinada cultura, que inclusive são influenciadas por outras. É a educação, portanto, que “mantém viva a memória de um povo e dá condições para a sua sobrevivência. Por isso dizemos que a educação é uma instância mediadora que torna possível a reciprocidade entre indivíduo e sociedade” (ARANHA, 1996, p. 15).
Podemos perceber que os diferentes autores relacionam, sempre, o conceito educação à produção humana para sua sobrevivência e a tudo que decorre dessa relação social e com a natureza, com a cultura. Também percebemos que há sempre a relação entre educação e o modo como os conhecimentos, como as técnicas e as experiências são transmitidas entre as gerações, ou seja, como tudo isso é ensinado.
Vitor Henrique Paro, professor/autor brasileiro que pesquisa os modelos de ensino e de gestão escolar, preocupado em superar o senso comum acerca do entendimento do conceito educação afirma que, em seu sentido mais amplo, a educação consiste na apropriação da cultura entendida também de forma ampla e que envolve conhecimentos, informações, valores, crenças, ciência, arte, tecnologia, filosofia, direito, costumes, tudo enfim que o homem produz em sua transcendência da natureza (2008, p. 23) e utiliza de formas sistematizadas para reproduzi-los e repassálos, principalmente a partir da organização das sociedades com a presença do Estado.
Com o surgimento das primeiras cidades e da organização das sociedades com a presença do Estado, ocorrem muitas transformações, inclusive na questão da posse dos meios de produção. Na antiguidade o principal meio de produção era a terra, que deixou de ser comunal e passou a pertencer a alguém, a algum grupo ou ao próprio Estado. Essa relação transformou também a educação e, principalmente, os seus objetivos. Assim, configuraram-se diferentes modos de transmitir a cultura e os conhecimentos, foram surgindo vários modelos de ensino.
Enquanto a educação é inerente à humanidade e com ela se constitui, o ensino é uma estratégia, um processo específico idealizado pelos homens com o objetivo claro de repassar sua cultura. Ainda na antiguidade, como a maior parte daquilo que era ensinado tinha finalidade direta ligada à produção, o desenvolvimento de maior complexidade social (surgem vários ofícios) também fez com que o modo de ensinar tivesse variações e objetivos distintos. Ampliando sua compreensão, o ensino pode ter sua definição entendida como:
Transmissão formalizada de conhecimentos que juntos constituem instrução; deve ser distinguido da educação (v. pedagogia), em que o ensino pode ser muito pouco ou não presente. Ensinar, em seu significado específico, pressupõe a existência de uma cultura escrita e, portanto, o uso de sinais especiais que são transmitidos com certa sistemática e metodologia. Como uma atitude mediata, consciente, reflexiva e intencional, o ensino está localizado além da experiência direta do ambiente, de onde também surgem informações e experiências, mas ocasionalmente ou simplesmente respondendo às necessidades mais imediatas da vida. (GALIMBERTI, 2002, p. 398)
Educação e humanidade são inerentes, se constituem de forma orgânica e simultânea, enquanto o ensino é uma parte da educação, uma estratégia composta por processos, metodologias e objetivos práticos. Portanto, se pudermos definir essa relação de forma estrutural, o grupo ensino está contido no grupo educação.
À medida que surgiam mais cidades e com o crescimento destas, ocorre a maior complexidade nas relações sociais por causa da ampliação da produção e do surgimento do comércio. Isso ocorre por causa do domínio cada vez maior das técnicas e do conhecimento por parte dos homens. Parte considerável daquilo que deve ser “transmitido” passa a ocorrer em momentos e espaços específicos, tornando-se item fundamental da própria educação. O aprendizado passa a ter um objetivo claro de formação. Para isso surgem métodos e estratégias específicas realizadas em locais próprios a essa finalidade. É o início ainda incipiente do ensino em escolas.
Nos próximos tópicos vamos avançar os estudos para compreensão sobre a relação entre educação e ensino escolar,este último ganhando cada vez maior importância e espaço à medida que também os Estados se consolidam e o que e como ensinar ganha importância nos rumos econômicos e políticos nas sociedades.
Para termos uma ideia da importância do ensino escolar atualmente, onde o modelo de vida urbana tem predominância sobre o rural e sobre os demais, Saviani (2004, p. 3) afirma que, na contemporaneidade, na sociedade moderna, é a partir da escola que é possível compreender a educação em geral e não o contrário. Nesse contexto, também não é possível compreender a educação sem a escola (formação do cidadão, participativo, consciente e crítico, preparado para o mundo do trabalho), mas é possível compreender a escola sem educação (proporcionando apenas uma parte da formação, apenas a técnica, por exemplo, sem se comprometer com os aspectos culturais mais amplos).
Para realizarmos uma primeira aproximação a essa relação, transcrevemos um trecho do referido artigo onde se destaca claramente o intricado encadeamento dos conceitos ensino e educação, além da ambiguidade e utilização difusa deles no cotidiano atual.
Neste ponto, há um contraste interessante entre ‘ensino’ e ‘educação’. Isto porque a palavra ‘educação’ cria de fato ambiguidades incômodas. Por vezes, a palavra é utilizada como sinônimo de ‘formação’ em termos gerais. É o que se passa com a obra de John Lock Alguns pensamentos relativos à educação. É também o que Hume tem em mente quando condena a ‘educação’ como fonte das nossas crenças confusas e irracionais. Mas, outras vezes, ‘educação’ significa apenas ‘escolaridade’, como quando, por exemplo, se diz que ‘15% do produto nacional é dedicado à educação’. Outras vezes ainda, educação significa um determinado tipo de escolaridade recebida por aqueles a quem chamamos ‘pessoas cultas’. (PASSMORE, 1980, p. 23).
Dúvidas? Não se preocupe. Recorra ao fórum de dúvidas e discussões para socializar o seu conhecimento e esclarecer todas as suas dúvidas. Depois, desenvolva as atividades e questões sugeridas. Nós estaremos a sua disposição em caso de dificuldades!
Evolução dos conceitos sobre educação e sua história segundo diferentes abordagens
A jornada humana é bastante longa. Passamos por um extenso período considerado como pré-história, que na história da educação corresponde a denominada educação primitiva, ou seja, antes do estabelecimento do ser humano em cidades ou agrupamentos com organização social fundamentada no sedentarismo (estabelecido em um local específico, superando o nomadismo), no domínio da agricultura e domesticação de animais, das técnicas de olaria e metalurgia, além de utilizar a escrita. Vale ressaltar que esse é um tipo de classificação estabelecido pela história como ciência a partir do pensamento europeu, ou seja, da sociedade ocidental.
Para facilitar a visualização da classificação ocidental, vamos observar a sua Linha do Tempo.
Não se preocupe em decorar datas. O importante é saber que tais divisões são fundamentadas em características gerais do modo de produção de um determinado período. Por exemplo: ao citar a pré-história, no parágrafo logo acima, destacamos que os agrupamentos humanos eram nômades, ou seja, se deslocavam coletando alimentos e caçando/pescando. Esse era o modo principal como produziam para prover suas necessidades de alimentação e abrigo da natureza. Não havia ainda o domínio da agricultura em larga escala nem das técnicas de olaria (que permitiram construir abrigos de tijolos). Também é importante saber que o inicio e o término de cada período é marcado por um grande evento histórico que representa a ruptura com o período anterior.
Como o conceito modo de produção estará presente durante todo o percurso nessa disciplina, é interessante realizar uma breve descrição com suas características principais. Vejamos:
O modo de produção, em linguagem menos teórica, seria o modo pelo qual determinada sociedade organiza sua vida econômica, o trabalho, as estruturas políticas e jurídicas e mesmo as manifestações culturais. Todos os aspectos da vida em sociedade (desde os aspectos materiais até os aspectos mentais) estariam determinados pelo modo de produção da vida material. Para o materialismo histórico, é a maneira concreta de uma sociedade organizar sua produção que dá forma a todo o edifício social nela existente. (...) Há ainda um modo de produção que complica o quadro exposto: o modo de produção asiático, que não corresponde à sucessão linear esboçada para a história europeia. Nesse modo de produção não há a subordinação de escravos, servos ou assalariados a uma classe proprietária dos meios de produção, mas a subordinação coletiva de todos os trabalhadores ao Estado. (SILVA: SILVA, 2013, p. 301-302)
Observe novamente a Linha do Tempo da sociedade ocidental e perceba que o fim do período da Pré-História e o início da Idade Antiga (Antiguidade) são marcados pela invenção da escrita. Esse foi o grande evento de ruptura entre esses dois períodos porque com o domínio da agricultura e das técnicas de olaria e metalurgia, os seres humanos criaram mais e melhores ferramentas e utensílios (o ferro substitui a pedra, o osso e a madeira) e produzem muito mais em quantidade, em variedade e em qualidade de alimentos. Além disso, consegue construir moradias de pedra e de tijolos. Se alimentando mais e melhor, a população aumenta muito, surgem cidades, as atividades produtivas ficam mais complexas e surgem os ofícios especializados, o comércio floresce e ocorre troca de mercadorias, de ideias e de cultura. A sociedade precisava urgentemente se organizar para dar conta de tantas informações e necessidades de estabelecer controles. Por isso surge a escrita, que facilita o estabelecimento de leis que superavam as consuetudinárias (tradição oral), a cobrança de taxas e impostos e o controle de estoques e movimentação de cargas e produtos.
A escrita surge pela necessidade humana e marca o fim de um período (não se esqueça do processo todo que levou a essa necessidade) e o início de outro, com características de produção bem diferentes do anterior (agricultura em larga escala, sedentarismo, e urbanidade).
Na Antiguidade estão situadas civilizações como o Egito Antigo, os povos mesopotâmicos (hebreus, caldeus, babilônicos, assírios e fenícios, entre outros), além da Grécia Antiga e de Roma, todos tendo em comum a agricultura e o escravismo como base econômica.
Os conceitos de educação na Linha do Tempo
Você já deve ter percebido que tudo é história e que tudo tem história, inclusive no processo educacional isso é ainda mais presente, uma vez que educação e humanidade são simultâneas.
Atualmente, a forma mais difundida e mais importante para a sociedade moderna é a chamada educação escolar. Acreditamos que, chegando até aqui, você já deve ter percebido também porque atualmente utilizamos com maior propriedade o termo educador, ao invés de professor, ao nos referirmos aos profissionais que atuam na docência. Os conceitos se transformam e adquirem novos significados à medida que as relações produtivas e sociais também se transformam.
Vamos iniciar, nesse tópico, uma breve viagem no tempoespaço para compreendermos alguns dos principais significados do conceito educação e da atuação dos mestres-professores educadores em cada período histórico. Ao final dessa viagem, retomaremos a questão do uso do termo educador.
Vale ressaltar que abordaremos, em tópicos posteriores e de forma específica e mais aprofundada, os modelos educacionais de cada período histórico, inclusive nos detento particularmente na História da Educação no Brasil. Nesses tópicos mais à frente vamos observar os diferentes modelos educacionais e escolares. Agora vamos passear pelos períodos históricos para termos uma visão panorâmica de como era pensada a educação e quais os significados desse conceito.
Para falarmos das concepções de educação na Antiguidade, temos que saber um pouco mais sobre as atividades produtivas e sociais desse período. Silva (2013, p. 19) entende que a Antiguidade é um conceitoé de vital importância para a construção da ideia de Ocidente, da mesma forma que algumas noções correlatas, como clássico e antigo.
No campo educacional, em linhas gerais, da Antiguidade até o início do século XIX, a característica predominante das práticas escolares era a aprendizagem de tipo passivo e receptivo. A compreensão era a de que aprender estava quase que exclusivamente ligado ao ato de memorizar informações e conteúdos.
Esse era o pensamento predominante, mas nem todas as pessoas concordavam com ele, tanto que houve mudanças dentro desse longo período e a ruptura no século XX.
Durante todo esse longo período, a compreensão, a conscientização e a aprendizagem crítica tinham papel muito reduzido ou quase nulo, pois esta forma de educação baseava-se na concepção de que o ser humano era semelhante a um pedaço de cera ou argila úmida que podia ser modelado à vontade do mestre. Estamos tão acostumados à presença da escola e dos modelos educacionais que pouco nos preocupamos em pensar sobre a possibilidade de compreender que nem sempre eles existiram.
Mais ainda, é o surgimento das escolas e dos espaços especializados para o ensino que propiciaram, em grande parte, a predominância desse tipo de pensamento (e práticas) que perdurou da Antiguidade até o século XIX. Por isso, não podemos, de modo algum, tecer considerações fundamentadas em comparações entre sociedades em diferentes tempos e espaços visando detectar qual delas é melhor, mais avançada, mais civilizada, entre outros equívocos comuns aos leigos em história da educação.
Em grande parte das sociedades consideradas primitivas (sem escrita, sem organização de classes sociais e de Estado, sem utilização de agricultura em larga escala e também sem escolas!) há um grande respeito pelas individualidades e pelo tempo de aprendizado de cada criança, além da preocupação integral. Quanto a isso, vejamos o que diz a professora Maria Lúcia de Arruda Aranha:
A cuidadosa adaptação aos usos e valores da tribo geralmente é levada a efeito sem castigos. Os adultos demonstram muita paciência com os enganos infantis e respeitam o seu ritmo próprio. Por meio dessa educação difusa, de que todos participam, a criança toma conhecimento dos mitos ancestrais, desenvolve aguda percepção do mundo e aperfeiçoa suas habilidades. A formação é integral – abrange todo o saber da tribo – e universal, porque todos podem ter acesso ao saber e ao fazer apropriados pela humanidade. É bem verdade que alguns se destacam, detendo um conhecimento mais amplo ou especial – como no caso do feiticeiro –, o que, no entanto, não resulta em privilégio, mas apenas em prestígio. (1996, p. 27-28)
Aqui, podemos destacar o conceito de educação difusa, ou seja, não há espaços definidos nem o controle social sobre esse modelo. Todos os membros da sociedade são responsáveis pela educação em todos os momentos. O processo de aprendizagem ocorre pelo exemplo prático.
Na concepção de educação difusa a responsabilidade do aprendizado não está confiada a ninguém em especial, mas a toda sociedade e a vigilância difusa do ambiente.
Novamente se faz necessário salientar que, atualmente, estamos totalmente acostumados à presença da escola como responsável por grande parte da educação. Além disso, é muito comum tecermos comparações entre modelos sociais a partir de avanços tecnológicos, com a intenção de, equivocadamente, classificá-las como mais ou menos desenvolvidas ou civilizadas.
Cada cultura, cada sociedade, se desenvolve a partir de suas reais necessidades. Conhecer a história da educação nos auxilia a ampliar nossa perspectiva acadêmica, mas também a humana, a social. Bastam apenas alguns momentos de reflexão sobre os atuais desafios educacionais e, ampliando ainda mais o olhar, os sociais, para percebermos o quão distante estamos de atingir o pleno respeito pelas diferenças e individualidades, promovendo maior igualdade.
Será que somos, atualmente, enquanto sociedade, o resultado de todo conhecimento historicamente acumulado e colhemos os frutos do maior desenvolvimento possível, principalmente no bem estar social?
Vamos observar o que Aníbal Ponce, ao analisar as sociedades primitivas, tem a contribuir sobre esse aspecto:
Na comunidade primitiva, as mulheres estavam em pé de igualdade com os homens e o mesmo acontecia com as crianças. Até os 7 anos, idade a partir da qual já deviam começar a viver às suas próprias expensas, as crianças acompanhavam os adultos em todos os seus trabalhos, ajudavam-nos nas medidas de suas forças e, como recompensa, recebiam a sua porção de alimentos como qualquer outro membro da comunidade. (...) Apesar de entregues ao seu próprio desenvolvimento – Bildung, como diriam séculos mais tarde Goethe e Humboldt –, nem por isso as crianças deixavam de se converter em adultos, de acordo com a vontade impessoal do ambiente: adultos tão idênticos uns aos outros que Marx dizia, com justiça, que ainda se encontravam ligados à comunidade por um verdadeiro ‘cordão umbilical’. (2003, p. 18-19)
Até aqui vimos apenas alguns aspectos da educação difusa. Ainda assim, não lhe parecem precipitadas as comparações que se fundamentam em avanços tecnológicos para concluírem que existam sociedades mais ou menos desenvolvidas (civilizadas)?
Vamos continuar o nosso breve passeio pela Linha do Tempo. Já vimos por que surgiu a escrita e também como todo o contexto de transformações humanas e nas técnicas para domínio da natureza marcou a ruptura entre o período pré-histórico e a Antiguidade.
O período da Idade Antiga durou aproximadamente quatro mil anos e tem duas subdivisões básicas: as civilizações hidráulicas (Mesopotâmicas, onde atualmente está o Iraque que também são conhecidas como povos bíblicos) e o Egito Antigo e; as civilizações clássicas (Grécia Antiga e Roma).
Nas civilizações da antiguidade dos povos bíblicos não havia propostas pedagógicas específicas. Os livros sagrados têm passagens que demonstram a preocupação com a educação, normalmente oferecendo regras ideais de conduta e o enquadramento das pessoas nos rígidos sistemas religiosos e morais. Aranha (1996, p. 33) relata que as sociedades tradicionalistas, por serem conservadoras, pretendem perpetuar os costumes e evitar a transgressão das normas.
Com o surgimento da posse dos meios de produção (a terra era o principal), transformam-se as relações sociais. Passam a existir pessoas que trabalham para outras, os Estados se organizam em busca de expansão territorial resultando em escravidão aos povos vencidos.
O conceito de meios de produção é definido pelo conjunto de equipamentos utilizados pelo trabalhador para obtenção de renda, seja em uma atividade individual, seja em um trabalho coletivo ou subordinado, como nas fábricas. Mais recentemente, com o desenvolvimento do sistema capitalista, os meios de produção transformaram-se, modificando, assim, as relações de trabalho e a forma de produção das mercadorias. Essa transformação é bastante perceptível quando observamos o intenso desenvolvimento tecnológico presente nas atividades produtivas, o que, irremediavelmente, se reflete nas necessidades educacionais e de formação do trabalhador, do ser humano, do cidadão, etc.
Nesse momento da história surge o dualismo escolar, isto é, um tipo de ensino para a maior parte do povo (camponeses e trabalhadores em geral) e outro tipo para as pessoas com condição social mais privilegiada (filhos dos funcionários do Estado, pessoas ligadas à religião, agregados dos dirigentes do Estado). Fato é que a grande massa de pessoas era excluída da escola e ficava restrita à educação familiar informal. Enquanto nas sociedades tribais o saber é difuso, acessível a qualquer membro, nas civilizações orientais, ao se criarem segmentos privilegiados, a população, composta por lavradores, comerciantes e artesãos, não tem direitos políticos nem acesso ao saber da classe dominante (ARANHA, 1996, p.33).
Em linhas gerais, o conhecimento da escrita ficou restrito a poucas pessoas, entre coisas porque tinha caráter sagrado e esotérico.Por outro lado, houve grande procura pela instrução, mas apenas os filhos dos privilegiados atingiam os graus superiores.
Você notou aqui alguma similaridade entre aspectos educacionais das sociedades na antiguidade oriental e aquilo que acontece na atual sociedade na modernidade?
Na Grécia Antiga, já no período clássico, o filósofo Aristóteles acreditava na ideia de que o ser humano era como se fosse uma tábua lisa, um papel em branco sem nada escrito, onde tudo podia ser impresso. Como o pensamento da antiguidade clássica influenciou as sociedades em muitos momentos posteriores, essa teoria foi retomada frequentemente, ao longo dos séculos, reaparecendo em novas formas e com pequenas variações.
Aprofunda-se a concepção dualista de educação, mas independente do espaço de ensino que as pessoas frequentassem, ensinava-se a ler e a escrever da mesma forma que se ensinava um oficio manual. Era comum o ensino de ofícios sem o ensino da escrita e leitura. A metodologia era baseada na repetição de exercícios graduados que aumentavam de dificuldade a cada etapa para que o discípulo passasse a executar atos complexos, que gradualmente, tornavam-se hábitos. Quanto ao estudo da gramática, da História, da Geografia e das ciências era caracterizada pela recitação de cor.
O marco histórico do fim da Antiguidade e do início da Idade Média é a queda do Império Romano (em tópico mais à frente vamos nos debruçar mais detalhadamente sobre a educação em Roma) e, como já sabemos, marca também a ruptura com o modelo de produção e das atividades sociais com o período anterior.
A única instituição que permaneceu sólida e espalhada pelo grande território que havia sido o Império Romano antes de sua queda foi a Igreja Católica, por onde se moveu parte considerável da história medieval e onde foram dados os primeiros passos das bases que constituíram a educação na contemporaneidade.
Com mil anos de abrangência, os relatos dos fatos da idade média requerem especiais cuidados nas análises, visto que é comum a simplificação em sua caracterização apenas a um tempo, um monobloco de períodos iguais marcados pela alcunha da “idade das trevas” ou “a noite de mil anos”. No aspecto educacional, que é o que nos interessa nesse momento e por causa do objetivo da disciplina aqui estudada, é importante saber que a educação é profundamente marcada pela religião no período medieval.
O modo de produção no período medieval é o feudalismo, isto é, todas as relações produtivas se organizam a partir do feudo. No aspecto educacional, predominaram as escolas cristãs, criadas ao lado de mosteiros e catedrais. Os alunos mais destacados estudavam a filosofia e a teologia, processo que fez com que os mosteiros dominassem a ciência, tornando-se o reduto da cultura medieval.
Vamos ler parte da definição de Feudalismo (SILVA; SILVA, 2013, p. 152) em que é possível perceber as intrincadas relações entre o poder político e a influência da igreja, além de alguns aspectos da cultura militar do período:
O Feudalismo se caracterizou, assim, por ser uma rede de relações de dependência jurídica, da servidão à vassalagem, que se entrelaçavam com a estrutura econômica fundiária. Por sua vez, a mais marcante de suas características políticas era a decadência da autoridade real. Com a queda do Império, formaram-se, nas antigas províncias, diversos reinos de origem germânica. E apesar da grande absorção da cultura romana, essas monarquias foram constituídas com base na antiga organização tribal: ao lado do rei – posição inicialmente eletiva, mas que logo adquiriu caráter hereditário – estavam os guerreiros, que logo se tornaram nobres, pois a função militar passou a definir a nobreza. Com a fragmentação do antigo poder central romano e com a influência crescente dos nobres guerreiros (que tinham, inclusive, o poder de eleger reis), gradativamente os potentados locais foram assumindo as funções da realeza. Ao mesmo tempo, a Igreja Católica em franca expansão começou a se inserir na cena política. Com as invasões e a ausência de autoridades estatais nas províncias, foram os bispos que primeiro assumiram as funções administrativas.
Nesse dicionário você encontrará definições mais aprofundadas sobre o que é educação, trabalho, cultura, elite, história, entre outros. Também poderá saber aspectos gerais do trabalho de alguns importantes autores/pesquisadores da sociologia como Émile Durkheim, Alexis de Tocqueville, Karl Marx e Max Weber, por exemplo.
Por causa das atividades econômicas pouco intensas, as pessoas não tinham interesse pelo aprender a ler e escrever, o trabalho era agrário, as pessoas não mudavam de classe social e, principalmente os servos (camponeses, em sua maioria) mal tinham tempo para dar conta das tarefas impostas pelo senhor feudal. Era uma relação bastante desigual, mas com suas peculiaridades, conforme afirma Silva:
A servidão foi a relação social predominante no Feudalismo, estabelecida entre os servos e os senhores medievais, resultante não apenas da desagregação do Império Romano como das sociedades dos povos ditos “bárbaros”. É preciso ressaltar de antemão, como fez Georges Duby, que nem a sociedade romana nem a germânica eram sociedades igualitárias. Portanto, não era de se esperar que a fusão dessas duas culturas originasse uma Idade Média livre de alguma forma de desigualdade. Essa forma de relação social – embora, sem dúvida, bastante desigual – era caracterizada, em linhas gerais, pelos laços de dependência mútua: ao servo, o senhor devia “proteção”; ao senhor, o servo devia obediência, trabalho e tributos. (2013, p. 379)
Mesmo os padres se desinteressaram pela cultura e não buscavam mais a formação intelectual oque fez com que, já no século IX, o imperador franco Carlos Magno pensasse em sua corte formada por intelectuais, intencionando reformar a vida eclesiástica, ter maior influência sobre a educação e o sistema de ensino. A escola palatina (ficava ao lado do palácio) concorre com as escolas catedrais (ao lado das igrejas), monacais e paroquiais como centro de disseminação do conhecimento.
Nos altos graus de instrução realizados nas (poucas) universidades, o modelo de ensino era a Escolástica, procedimento educacional que visava equilibrar a fé cristã com o racionalismo (base do pensamento filosófico).
No âmbito da família medieval, as crianças tinham papel social quase inexistente. As condições materiais da maior parte da população (servos) geravam altos índices de mortalidade, além de que a falta de afeto e maiores cuidados às crianças, desde o nascimento, também contribuísse em tal contexto. As mulheres, comumente, eram submissas e subalternas aos homens, não recebiam educação formal. Os jovens também eram subalternos ao pai, sem direitos e com forte dependência. A vida social dos jovens era praticamente inexistente e a posição deles se igualava à dos criados, permanecendo assim até o casamento.
A transição entre o período medieval e a Idade Moderna está marcada em nossa Linha do Tempo da sociedade ocidental utilizada aqui pela tomada de Constantinopla (antiga capital do Império Romano do Oriente, atual Istambul) pelos turcos otomanos.
A formação dos Estados Modernos é um fato histórico, ou seja, é incontestável que aconteceu. Mas, o processo e quando esse fato histórico aconteceu é passível de diferentes interpretações. Por isso, não há verdades absolutas em história, o que há são os fatos históricos que são interpretados por diferentes vieses. A Segunda Guerra Mundial é um fato histórico, mas com certeza os estadunidenses, os soviéticos e os alemães tinham diferentes interpretações sobre ela.
Para exemplificar o que foi dito acima, vamos tecer considerações sobre interpretações sobre o evento histórico que marcaria o início da Idade Moderna.
Parte considerável dos historiadores argumenta que o início do período moderno acontece com a concretização do primeiro Estado Moderno, ou seja, com a Revolução de Avis (1383-1385) em Portugal. Dois grupos formados após a morte do último rei da dinastia de Borgonha, D. Fernando,disputavam o poder. Um era liderado pela burguesia portuguesa que apoiava a ascensão do Mestre de Avis (filho bastardo do pai de D. Fernando de Borgonha), e outro liderado pela nobreza que apoiava a anexação de Portugal ao reino de Castela. Com vitória e a ascensão do Mestre de Avis, coroado como D. João I, teve início a dinastia de Avis. A vitória da burguesia nesse processo marcaria a vitória dos interesses burgueses.
Outra perspectiva bastante difundida é a de que a Idade Moderna começa com a chegada dos europeus ao continente que, mais tarde, eles próprios denominariam como América. As Grandes Navegações que pela primeira vez permitiu a travessia dos oceanos foi resultado inicial do poder de investimento de dois estados modernos: Espanha e Portugal. Nesses dois estados a burguesia já se mostrava mais presente na economia e nas decisões políticas o que, inegavelmente, contribuiu nesse processo de expansão territorial das nações citadas.
Em linhas gerais, é possível afirmar que foi na Europa Moderna que surgiu a realidade política do Estado nacional, sendo que o sociólogo Max Weber afirmou que o Estado Moderno se definiu a partir de duas características: a existência de um aparato administrativo cuja função seria prestar serviços públicos, e o monopólio legítimo da força (SILVA; SILVA, 2013, p. 114).
Seja qual for o fato histórico com maior influência na transição entre o medieval e o moderno, todos têm ao fundo um elemento comum: a burguesia. Essa classe social irá tomar o controle dos rumos econômicos e políticos a partir da Idade Moderna. Uma definição bastante empregada para definir a burguesia é “aquela cunhada por Marx e Engels em meados do século XIX, segundo a qual a burguesia é a classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção e exploradores da classe dos trabalhadores assalariados” (SILVA; SILVA, 2013, p. 34).
Portanto, também a educação começa a ter influência dos valores burgueses. Nesse aspecto, a influência da igreja e da religião começa a diminuir e duas instituições educativas passam por uma profunda redefinição e reorganização: a família e a escola, instituições cada vez mais centrais na experiência formativa dos indivíduos e na socialização dos aspectos culturais, além da formação profissional. O Estado começa a se preocupar cada vez mais com a educação por causa do importante papel das escolas e do ensino na formação de pessoas inseridas em uma sociedade marcada pelo surgimento de novos ofícios e pelo aprofundamento do conhecimento técnico ligado à expansão comercial europeia.
Chegamos, finalmente, à transição entre os dois últimos grandes períodos históricos: a passagem entre Idade Moderna e Idade Contemporânea, marcada pelo evento da Revolução Francesa no ano de 1789.
As Grandes Navegações que possibilitaram a colonização da América e o enorme crescimento das atividades comerciais, fez com que a burguesia acumulasse cada vez mais riquezas, tornando-se, ao longo de quase três séculos, a classe social mais poderosa economicamente. Quem tem o poder econômico invariavelmente quer também deter o poder político. Foi ocaso da burguesia, que via cada vez mais a nobreza (a classe social dominante na Idade Média e ainda influente nos rumos do estado na Idade Moderna) como um empecilho às suas pretensões.
Importante: A burguesia tinha consciência que produzir o conhecimento, além de difundi-lo era essencial para transformar a mentalidade “antiga” que ainda era muito presente. Era preciso tomar o poder político. Para isso, difundiram ideias “iluministas”, produzidas por pensadores respeitados da filosofia, da política, da economia e das ciências em geral.
A Revolução Industrial iniciada na Inglaterra na primeira parte do século XVIII, e logo depois reverberada na França e Alemanha, consolidou definitivamente o poder econômico da burguesia. O Iluminismo deu as bases filosóficas para o movimento revolucionário burguês que se consolidou com a Queda da Bastilha em 1789 que, na prática, representou a queda da nobreza e a ascensão da burguesia ao poder político. Os ideais revolucionários burgueses se espalharam pela Europa e por algumas outras partes do mundo. Os EUA tinha realizado sua revolução burguesa, fundamentada no ideário iluminista, anos antes, em 1776.
Alguns autores apontam a existência de uma segunda, terceira e até quarta Revoluções Industriais, acontecidas a partir do século xix e caracterizadas também por grandes transformações na tecnologia de produção. Entretanto, o pioneirismo da Inglaterra e a força do conceito clássico de Revolução Industrial são pontos pouco contestados pelos historiadores e economistas em geral. A chamada Primeira Revolução Industrial é definida pelos economistas como o ponto de partida para o crescimento autossustentável da produção. Para o historiador Eric Hobsbawm, o termo revolução deve ser aplicável ao fenômeno, pois de fato houve uma explosão na capacidade humana de produzir mercadorias e serviços por volta da década de 1780 quando, pela primeira vez na história, essa capacidade se multiplicou de modo ilimitado. A influência da Revolução Industrial, em particular no Ocidente, ultrapassou a esfera da produção e da economia, mudando, por exemplo, as noções tradicionais de tempo, ritmo e velocidade. A Revolução Industrial e as revoluções tecnológicas subsequentes forneceram algumas das bases para o mundo contemporâneo. (SILVA: SILVA, 2013, p. 372-373)
Na contemporaneidade a escolarização passa a ser a principal forma de educação, as cidades crescem vertiginosamente com o incremento das indústrias e dos processos mecanizados. É preciso formar um enorme contingente de pessoas que saibam minimamente ler e escrever, pois o trabalho na indústria e em processos industriais exige muito mais acúmulo de técnicas do que a antiga atividade agrária característica dos períodos anteriores.
Como a burguesia é a classe social dominante nesse processo, os valores e conteúdos, além da forma como eles serão ensinados nas escolas estão profundamente marcados pelo viés burguês, pela sua cultura, pela visão de mundo e por seus interesses políticos e econômicos.
O atual estágio de grandes avanços tecnológicos presentes nas atividades produtivas faz com que haja também a necessidade de uma educação voltada à formação que irá suprir a grande demanda de ofícios altamente especializados. Além disso, na sociedade moderna, mais de ¾ das pessoas vivem em cidades, por isso o objetivo de formação para a cidadania.
Depois da Revolução Francesa e, mais marcadamente a partir de meados do século XIX, inicia-se um processo de grande expansão da forma escolarizada de educação. O século XX é repleto de estudiosos e de teorias pedagógicas que são formuladas para que haja aproveitamento máximo no processo de aprendizagem e que estes cheguem o mais perto possível dos objetivos planejados pelos sistemas de ensino.
A partir de agora, nos dois próximos tópicos desta e nas próximas unidades, vamos nos deter mais detalhadamente sobre as características gerais da educação em cada um dos períodos históricos aqui citados. Vamos abordar um pouco da filosofia e dos métodos educacionais empregados em cada período, até chegarmos, ao final da disciplina, à contemporaneidade da História da Educação no Brasil.
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A Educação Primitiva
As características principais no modo de produção das comunidades primitivas (comunal) são o nomadismo com a caça, o pastoreio, a pesca e a agricultura como atividades predominantes. Segundo Ponce (2003, p. 19) nas comunidades primitivas “o ensino era para a vida e por meio da vida; para aprender a manejar o arco a criança caçava; para aprender a guiar um barco, navegava. As crianças se educavam tomando parte nas funções da coletividade”.
Como visto anteriormente: A educação difusa éaquela em que não há um ente ou indivíduo destinado à função específica de educar/ensinar. Todos os membros das comunidades primitivas participavam ativamente do processo educacional uns dos outros, notadamente no das crianças e dos jovens.
Portanto, por causa do modo de produção das comunidades primitivas, não havia a necessidade da existência de espaços específicos para a educação, uma vez que também havia pouca complexidade e variação dos ofícios e tarefas, que por sua vez, eram comunais. Embora pareça o contrário, não é tarefa fácil caracterizar as comunidades primitivas.
Alguns dos motivos:
	Há muitas diferenças entre as comunidades primitivas: imagine o modo como comunidades tribais da região do amazonas se relacionam com a natureza em comparação às comunidades que viviam na região subsaariana na África. As técnicas de trabalho e as interações com a natureza em cada um desses espaços são bem distintas gerando, portanto, modos distintos de educar.
	Há sempre o risco do etnocentrismo, isto é, avaliar estas sociedades a partir dos padrões de nossa cultura ou de outra que se mostra hegemônica.
	É comum que os estudos realizados sobre as comunidades primitivas centrem as análises sobre aquilo que elas não desenvolveram, ao invés de compreendê-las apenas como outro modelo de viver nesse mundo
As sociedades tribais têm também, em sua essência, a mítica com a manifestação do sagrado como forma principal de compreensão sobre a origem de todas as coisas. Nessa perspectiva, é por causa das forças divinas que se fazem possíveis a aquisição da técnica, o trabalho na agricultura ou a cura para todos os males. Nesse modo de compreender o mundo, a própria ação dos homens tem lastro nos possíveis movimentos dos deuses. Isso se expressa em suas manifestações religiosas, como no caso das danças antes da guerra representando a antecipação mágica do que visa garantir o sucesso ou ainda nos desenhos rupestres como forma antecipada de apropriação da caça e como forma de restituir os animais na natureza.
Tomando referência a tese de que as atividades produtivas condicionam todas as demais em uma sociedade (nesse caso, sociedades comunais), Ponce afirma que:
Dessa concepção de mundo – a única possível numa sociedade rudimentar em que todos os seus membros ocupavam a mesma posição na produção – derivava logicamente o ideal pedagógico a que as crianças deveriam se ajustar. O dever ser, no qual está a raiz do fato educativo, lhes era sugerido pelo seu meio social desde o momento do nascimento. Com o idioma que aprendiam a falar, recebiam certa maneira de associar ou de idear; com as coisas que viam e com as vozes que escutavam, as crianças se impregnavam das ideias e dos sentimentos elaborados pelas gerações anteriores e submergiam de maneira irresistível numa ordem social que as influenciava e as moldava. Nada viam e nada sentiam, a não ser através das maneiras consagradas pelo seu grupo. A sua consciência era um fragmento da consciência social, e se desenvolvia dentro dela. Assim, antes de a criança deixar as costas da sua mãe, ela já havia recebido, de um modo confuso certamente, mas com relevos ponderáveis, o ideal pedagógico que o seu grupo considerava fundamental para sua própria existência. (2003, p. 21)
Outra característica geral às comunidades primitivas é a tradição oral. Nelas, os mitos e os ritos são transmitidos pela oralidade, constituindo aquilo que conhecemos por tradição, o que permitia, no caso dessas sociedades, a coesão grupal e reprodução social de comportamentos considerados desejáveis. Tal contexto é um dos fatores que explica a configuração destas como comunidades estáveis, em que as mudanças, as transformações ocorrem de forma muito lenta.
O modelo educacional também apoia a estrutura social que se mantém homogênea, onde as relações não apresentam dominação de um ou outro segmento, “mesmo que a divisão de tarefas leve as pessoas a exercerem funções diferentes, o trabalho e o seu produto são sempre coletivos.” (ARANHA, 2006, p.27).
No modelo de educação difusa das sociedades primitivas, a universalidade ocorre porque todos seus membros têm acesso ao saber e ao fazer fundamentados nos conhecimentos acumulados socialmente. Desse modo, outro ponto importante a ser destacado nesse modelo é o seu caráter de integralidade, uma vez que abrange todo o saber da tribo em todos os momentos de atuação social.
É por esse motivo que, apesar de que algumas poucas pessoas especiais possuírem prestígio como o chefe guerreiro ou o feiticeiro, isso não represente privilégios, mas consideração e respeito. Tais pessoas especiais também não se aproveitam de sua condição de para estabelecer relações de mando-obediência.
Uma das atividades sociais mais importantes nessas sociedades são os ritos de passagem, tendo o nascimento e a morte e ainda a iniciação à vida adulta os principais entre eles, Segundo afirma Aranha (1996, p. 28) o conhecimento mítico imprime uma tonalidade especial à educação do passado da tribo. Diferentemente, o mito é atemporal e conta o ocorrido no “início dos tempos”, nos primórdios, assim é possível compreender o prestígio das pessoas especiais por serem elas fundamentais nesse processo ritual. Segundo Clastres (1978, p. 125), os rituais representam a pedagogia que vai do grupo ao indivíduo, da tribo aos jovens. Pedagogia de afirmação.
As transformações nas sociedades primitivas acontecem de forma bastante lenta e gradual, mas acontecem. Por isso, ao longo de milhares de anos acumulando conhecimento sobre técnicas de domínio da natureza, o modelo educativo dessas sociedades passou a não servir mais, pois já não funcionava. As causas dessa situação estão na própria evolução da produção, o que iniciou o processo de surgimento de classes sociais (alguns passaram a deter a posse da terra). O crescimento dos agrupamentos humanos e o gradual surgimento das cidades, fez com que o conceito de educação difusa como função espontânea da sociedade, mediante a qual as novas gerações se assemelhassem às mais velhas deixou de ser importante (PONCE, 2003, p. 23) e de representar o ideal de formação humana, pois a própria sociedade e suas relações de produção haviam se transformado. Em suma, aquela filosofia de formação do homem estava ultrapassada.
Nesse portal é possível também acessar alguns e-books, textos diversos de vários autores que têm o viés marxista como referência em suas obras.
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Educação das civilizações orientais e do Egito Antigo
Antes de iniciarmos os estudos mais específicos sobre o conceito de educação nas civilizações orientais e no Egito Antigo, precisamos localizá-las dentro de seu período de existência histórica. Tais civilizações aqui analisadas pertencem à Antiguidade que, segundo a Linha do Tempo da sociedade ocidental que adotamos, teve iniciou-se 4000 anos a.C. e teve fim com a queda de Roma no ano de 476 d.C.
Vamos caracterizar esse período utilizando definições elaboradas por estudiosos no assunto, ou seja, historiadores.
O Dicionário de Conceitos Históricos (SILVA: SILVA, 2013, p. 20) define que:
Para Rostovtzeff, a Antiguidade significava o início do desenvolvimento do Homem, período em que a civilização foi formada e a vida política e social se distinguiu da selvageria. Essa Idade teria tido seu início no Oriente Próximo, entendido como o Egito, a Mesopotâmia, a Ásia Central e o Egeu, e seu auge na Grécia e em Roma. A importância da História Antiga, para Rostovtzeff, estava na herança palpável deixada por ela na vida ocidental moderna, sendo os antigos os inventores da vida civilizada contemporânea. Nessa perspectiva, as ligações entre Antiguidade e mundo atual seriam muitas: comércio mundial e indústria em larga escala; as principais formas políticas ainda hoje utilizadas, como a monarquia, o sistema federale o Estado autogovernado; além da Filosofia, da Ética e da Estética atuais.
A leitura atenta da citação acima nos remete a relacionar o período a outros conceitos, como civilização. Ora, o fato de que a “invenção da escrita” marque o fim do período anterior e inicie a Antiguidade já denota um determinado direcionamento na interpretação destes períodos por parte dos autores que veem nesse fato histórico o marco determinante para tecer considerações e análises.
Os autores citam Rostovtzeff, para quem a Antiguidade, literalmente, significava o período em que a civilização foi formada e a vida política e social se distinguiu da “selvageria”, sendo que apenas nesse período o homem realmente evoluiu. Essa percepção é bastante carregada de etnocentrismo, ou seja, tece comparações e faz considerações a partir da percepção de que haja uma cultura, um povo, uma civilização mais desenvolvida, melhor que outras.
Vamos novamente recorrer ao Dicionário para observar a definição do conceito etnocentrismo:
De modo simples, o etnocentrismo pode ser definido como uma visão de mundo fundamentada rigidamente nos valores e modelos de uma dada cultura; por ele, o indivíduo julga e atribui valor à cultura do outro a partir de sua própria cultura. Tal situação dá margem a vários equívocos, preconceitos e hierarquias, que levam o indivíduo a considerar sua cultura a melhor ou superior. Nesse sentido, a diferença cultural percebida rapidamente se transforma em hierarquia. O outro, só compreendido Etnocentrismo de maneira superficial, é então usualmente designado como “selvagem”, “bárbaro” ou não humano. Em linhas gerais, é difícil para qualquer indivíduo se despojar dos preconceitos arraigados em sua cultura e tentar compreender a cultura do outro em seus próprios termos. Essa seria uma atitude não etnocêntrica, pois faria uso da relativização, que é o oposto do etnocentrismo. No entanto, o mais comum é o indivíduo tomar suas representações, sua linguagem, seus valores, para falar sobre o que é esse “outro”. Não dá a palavra para o outro, porque considera sua cultura a detentora da palavra.
Por isso é que ressaltamos que, ao observar as civilizações orientais, estaremos falando de apenas algumas delas, pois como nos demais períodos ou conceitos, existem uma grande variedade de povos, de culturas e modos de organização. Aqui faremos o recorte com o critério de observar aquelas que mais se destacaram e que influenciaram e deixaram legados históricos.
Comecemos então pelas características mais gerais e presentes em várias civilizações da antiguidade oriental, como na China e na Índia. Diferente daquilo que ocorre nas sociedades tribais onde a educação é difusa, nas civilizações orientais são estabelecidos modelos educacionais dotados de locais específicos à prática do ensino, com objetivos e métodos. Nessas civilizações a educação, de um modo geral, era uma preocupação que estava presente muito relacionada com a religião, tanto que aparece representada nos livros sagrados, que ofereceram regras ideais de conduta e o enquadramento das pessoas nos rígidos sistemas religiosos e morais. Portanto, não havia propostas propriamente ditas pedagógicas, principalmente se comparadas Às formas posteriores e às que conhecemos atualmente.
Como o modo de produção estabelece influência sobre todos os aspectos sociais e culturais, o modelo educacional não escapa disso: a princípio o conhecimento da escrita é bastante restrito, devido ao seu caráter sagrado e esotérico, fazendo com que a maior parte da população (camponeses, comerciantes e artesãos) não tivesse acesso ao saber da classe dominante, nem direitos políticos (ARANHA, 1996, p. 43).
Esse contexto representa, na prática, uma forma de dualismo educacional (escolar), ou seja, se destina um tipo de ensino para o povo e outro tipo para uma pequena parte da sociedade (os privilegiados). Mas, a maior parte da grande massa populacional não tem acesso nem a um nem a outro tipo, sendo excluída da escola e restringida à educação familiar informal.
Para caracterizar melhor essas civilizações, inclusive relacionando aspectos produtivos (econômicos) sociais, políticos e educacionais, vamos recorrer mais uma vez à citação, dessa vez quem nos auxilia é Franco Cambi:
O Extremo Oriente é aquela terra dos grandes rios e dos vegetais (...), mas é também um terreno polifônico do sagrado e um conjunto de terras submetidas à agressão da barbárie (seja dos turcos, dos mongóis ou dos quirguezes) contra a qual é preciso defender-se – assim como das intempéries: as grandes chuvas monçônicas – organizando-se de modo compacto, militar e social sob o governo de um soberano que, geralmente, é deus e rei. As sociedades do Extremo Oriente são sociedades complexas, mas imóveis, e por várias razões. Por um influxo central exercido pelas religiões, construídas como organismos perenes e sentidas como tais: pela indistinção entre humano e divino que as caracteriza e, portanto, pela perenização do humano (visto como invariante). São características comuns tanto à China e à Índia, como ao Japão e à Indochina/Indonésia. (1999, p. 62)
Outro traço comum às civilizações da antiguidade oriental e também à egípcia e mesopotâmica é o caráter de tradicionalismo. Isto significa que, nelas, a organização social já está estruturada com a presença do Estado que tem a preocupação de manter a ordem vigente e estabelecida. Para isso são empregadas ações organizadas em vários âmbitos: no religioso, no econômico, no cultural e, como não poderia deixar de ser, no educacional, conforme já vimos anteriormente. Os governos são despóticos e teocráticos onde rei e imperadores têm poder absoluto justificado pela crença em sua origem divina. O Estado é extremamente organizado e tem vários escalões burocráticos que administram e controlam a produção agrícola, arrecada impostos, recruta mão de obra para a construção de grandes templos, diques, túmulos e palácios (ARANHA, 1996, p. 32), sendo que essa administração é conduzida pelos membros de uma minoria privilegiada que tem acesso à educação que os prepare para tal finalidade, enquanto os demais são educados para tarefas técnicas de escalões sociais inferiores ou ainda à mera educação familiar informal e que não possibilita ascensão.
Na China os sacerdotes não são letrados, isso cabe aos chamados mandarins que são os altos funcionários de estrita confiança do imperador e responsáveis pela máquina administrativa do Estado. A educação elementar tem como objetivo a alfabetização, muito difícil e demorada por causa do caráter complexo da escrita chinesa, sendo ensinado também o cálculo e a formação moral por meio da transmissão dos valores dos ancestrais, processo realizado de maneira dogmática, com ênfase nas técnicas de memorização (ARANHA, 2006, p.35 e 36). Há um rigoroso sistema de seleção para o ensino superior (para formação de mandarins) que é composto por exames oficiais que distribuem os candidatos nas diversas atividades administrativas.
O modelo educacional na Índia era ainda mais seletivo e excludente, visto que era profundamente baseado na composição das castas sociais que, por sua vez, representavam as intensas desigualdades que permeavam a sociedade. Toda a organização social era fundamentada nos livros sagrados do hinduísmo que professa que os seres e os acontecimentos são manifestações de uma só realidade chamada Brahman (alma/essência de todas as coisas). A população é dividida em castas fechadas: os brâmanes (sacerdotes) que são os mais privilegiados na educação hindu, os xátrias (guerreiros nobres), os vaicias (agricultores e comerciantes) e os sudras (servos dedicados aos serviços mais humildes) que não recebem sequer educação formal elementar.
Devido à crença de que todos saíram do corpo do deus Brahma, os brâmanes são considerados mais importantes por terem sido gerados da cabeça do deus. No outro extremo, os párias, por sequer terem origem divina, não pertencem a qualquer casta e por isso são intocáveis e reduzidos a uma condição miserável (ARANHA, 2006, p. 34).Essa organização do modelo educacional demonstra bem a própria organização social da Índia.
Nesse mesmo período, floresce no norte da África, a partir das margens do Rio Nilo, uma imponente civilização: o Egito Antigo.
Chegando até aqui você deve ter percebido a relação direta entre a estrutura econômica e o modo como se organizam a vida social e o modelo educacional. Por isso, ao tratarmos aqui do Egito Antigo (a chamada civilização egípcia), vamos direto aos aspectos educacionais que, se bem observados, trarão elementos que permitirão analisar a própria sociedade.
No Egito Antigo, o saber religioso e também o saber técnico eram ministrados pelos sacerdotes nos templos, grupo este que representava uma casta intelectual naquela sociedade (CAMBI, 1999, p. 67) e que tinha acesso à escrita, coisa para pouquíssimas pessoas. Embora a sociedade egípcia fosse profundamente influenciada pela religião, isso se expressava mais na estrutura social para manter as classes sociais em seus lugares do que na produção intelectual e científica, resultado do modelo educacional.
Como exemplos dessa situação, principalmente na arte e na arquitetura, os egípcios criaram soluções para problemas práticos, desenvolvendo técnicas de demarcação de propriedades, medição de áreas de triângulos, retângulos, hexágonos e o volume de cilindros e pirâmides. Organizaram também um calendário (com 365 dias e três estações: cheia, inverno e verão) que apontava o início da cheia e das vazantes do rio Nilo. Na medicina, os egípcios conheciam várias doenças, praticavam operações, sabiam a importância do coração para a vida animal e conheciam a circulação sanguínea.
Ao lado da educação escolar, havia a familiar (atribuída primeira à mãe, depois ao pai) e a “dos ofícios”, que se fazia nas oficinas artesanais e que atingia a maior parte da população (ARANHA, 1996, p. 34), sendo que este aprendizado não tinha nenhuma necessidade de “processo institucionalizado de instrução” e “são os pais ou os parentes artesãos que ensinavam a arte aos filhos”, através do observar para depois reproduzir o processo observado (CAMBI, 1999, p. 68). A escrita hieroglífica, reservada aos privilegiados, era sagrada e constituída por pequenas figuras que juntas, formavam um texto. Com o uso e com a maior complexidade das atividades produtivas e comerciais, esse modelo de escrita evoluiu para representações mais simples, como a escrita hierática e, depois, culminou na escrita demótica, mais popular e usada pelos escribas.
Por fim, as classes mais populares eram também excluídas da ginástica e da música, reservadas apenas a casta guerreira e colocadas como adestramento para guerra.

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