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1 Khilver Doanne Sousa Soares IESC VI O padrão predominante do rastreamento no Brasil é oportunístico, ou seja, as mulheres têm realizado o exame de Papanicolau quando procuram os serviços de saúde por outras razões. É necessário que as Redes de Atenção à Saúde (RAS), construídas localmente a partir dos profissionais e recursos físicos e tecnológicos existentes, sigam cuidadosamente os fundamentos de economia de escala e escopo, acesso, eficiência assistencial e sanitária e níveis de atenção. A realização periódica do exame citopatológico continua sendo a estratégia mais amplamente adotada para o rastreamento do câncer do colo do útero. A história natural do câncer do colo do útero geralmente apresenta um longo período de lesões precursoras, assintomáticas, curáveis na quase totalidade dos casos quando tratadas adequadamente, conhecidas como NIC II/III, ou lesões de alto grau, e AIS. Já a NIC I representa a expressão citomorfológica de uma infecção transitória produzida pelo HPV e têm alta probabilidade de regredir, de tal forma que atualmente não é considerada como lesão precursora do câncer do colo do útero. Definiu-se que no Brasil o exame citopatológico deveria ser realizado em mulheres de 25 a 60 anos de idade uma vez por ano e após 2 exames anuais consecutivos negativos, a cada 3 anos. Um estudo realizado pela International Agency for Research on Cancer IARC), demonstrou que em mulheres entre 35 e 64 anos, depois de um exame citopatológico do colo do útero negativo, o exame subsequente pode ser realizado a cada três anos, com eficácia semelhante à realização anual. Estudos mais recentes têm confirmado que o exame citológico realizado a cada três anos é seguro após dois ou três resultados negativos. O rastreamento em mulheres com menos de 25 anos não tem impacto na redução da incidência ou mortalidade por câncer do colo do útero. Há menos evidências objetivas sobre quando as mulheres devem encerrar o rastreamento do câncer do colo do útero. Mulheres com rastreamento citológico negativo entre 50 e 64 anos apresentam uma diminuição de 84% no risco de desenvolver um carcinoma invasor entre 65 e 83 anos. Na última edição das Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero, publicada em 2011, elevou-se de 59 para 64 anos a idade da mulher sem história prévia de doença pré-invasiva para encerrar o rastreamento. Recomendações O método de rastreamento do câncer do colo do útero e de suas lesões precursoras é o exame citopatológico. Os dois primeiros exames devem ser realizados com intervalo anual e, se ambos os resultados forem negativos, os próximos devem ser realizados a cada 3 anos (A). O início da coleta deve ser aos 25 anos de idade para as mulheres que já tiveram ou têm atividade sexual (A). O rastreamento antes dos 25 anos deve ser evitado (D). Os exames periódicos devem seguir até os 64 anos de idade e, naquelas mulheres sem história prévia de doença neoplásica pré-invasiva, interrompidos quando essas mulheres tiverem pelo menos dois exames negativos consecutivos nos últimos cinco anos (B). Para mulheres com mais 64 anos de idade e que nunca se submeteram ao exame citopatológico, deve-se realizar dois exames com intervalo de um a três anos. Se ambos os exames 2 Khilver Doanne Sousa Soares forem negativos, essas mulheres podem ser dispensadas de exames adicionais (B). Neoplasia de Colo do Útero O colo é a porção inferior do útero e localiza-se dentro do canal vaginal. Apresenta uma parte interna que constitui, o canal cervical ou endocérvice, revestido por uma camada de células cilíndricas produtoras de muco – epitélio colunar simples. Em contato com a vagina, sua parte externa é chamada de ectocérvice, revestida por um tecido de várias camadas de células planas - epitélio escamoso e estratificado. O encontro desses dois epitélios é a junção escamocolunar (JEC), que pode localizar-se tanto na endocérvice como na ectocérvice, dependendo da situação hormonal da mulher. Na Zona de Transição (ZT), são encontradas mais de 90% das lesões precursoras do colo uterino. Essas lesões são categorizadas nos graus 1, 2 e 3, dependendo da porção do epitélio atingida. A NIC de grau 1 (NIC1) se dá quando as alterações celulares ocupam o terço inferior do epitélio; o grau 2, dois terços (NIC2); e o grau 3, todo o epitélio sem invasão do estroma (NIC3). As NIC2 e NIC3 têm maior probabilidade de progressão para o câncer, se deixadas sem tratamento, e são consideradas seus reais precursores Avaliação da Amostra do Citopatológico Pode ser definida como satisfatória ou insatisfatória. A amostra é insatisfatória quando: 1. Material acelular ou hipocelular (<10% do esfregaço). 2. Leitura prejudicada (>75% do esfregaço) por presença de sangue, piócitos, artefatos de dessecamento, contaminantes externos ou intensa superposição celular. Ou seja, a amostra é insatisfatória se houver menos de 10% do material para avaliação adequado e/ou + de 75% de outro material na amostra que não seja o material para avaliação citopatológica. Nestes casos o exame deve ser repetido em 6 a 12 semanas com correção, quando possível, do problema que motivou o resultado insatisfatório. Fonte: https://blog.paulatostes.com.br/introducao-ao- exame-papanicolau/. O canal interno do colo uterino, chamado endocérvice, é revestido por um epitélio colunar simples, uma única camada de células, que contém algumas glândulas responsáveis pela secreção de muco cervical. Esse tecido costuma ser chamado de epitélio colunar ou epitélio glandular. A parte externa do colo uterino, que fica em contato com o canal vaginal, é chamado de ectocérvice, sendo revestido por um epitélio escamoso, semelhante ao da vagina. Podem estar presentes células representativas dos epitélios do colo do útero: Células escamosas; Células glandulares (não inclui o epitélio endometrial); Células metaplásicas. A presença de células metaplásicas ou células endocervicais, representativas da junção escamocolunar (JEC), tem sido considerada como indicador da qualidade da coleta, pelo fato https://blog.paulatostes.com.br/introducao-ao-exame-papanicolau/ https://blog.paulatostes.com.br/introducao-ao-exame-papanicolau/ 3 Khilver Doanne Sousa Soares de essa coleta buscar obter elementos celulares representativos do local onde se situa a quase totalidade dos cânceres do colo do útero. Revisando: a coleta do exame Papanicolau deve ser realizada em todas as mulheres com vida sexual ativa e em todas a partir dos 24 até 65 anos. No Brasil, o habitual é indicar um intervalo de 1 ano entre os exames nos 3 primeiros exames. Se estiver tudo bem, os testes seguintes podem ser feitos com intervalos de 3 anos. Um bom laudo de coleta do PCCU deve ter: Identificar a lâmina corretamente; Verificar se houve sobreposição de células (não pode haver); Regra dos 75% (pelo menos 75% das células coletadas devem ser do útero, se apareceu 75% de outra coisa, ex. sangue, coleta insuficiente)!; Deve ter pelo menos JEC ou zona de transformação (ZT). A fim de garantir a qualidade do rastreamento, é necessário que as amostras dos exames CPs contenham células da ZT e apresentem os epitélios escamoso, glandular e/ou metaplásico representados no esfregaço. Se não forem cumpridos esses critérios a coleta é considerada incipiente e deve-se realizar novo exame entre 6-12 meses a depender do caso! Estou com o resultado em mãos, e agora? ASC-US ou LSIL? Repetir SEMPRE! QUALQUER RESULTADO que NÃO FOR ASC-US ou LSIL? COLPOSCOPIA DIRETO! Resultado deu intraepitelial ou escamoso? Avaliar caso a caso! Resultado deu glandular ou adenocarcinoma? BIÓPSIA! Adaptado de Sistema de Bethesda de 2001 4 Khilver Doanne Sousa Soares É um sistema de descrição dos esfregaços de Papanicolau que representaria a interpretação citológico de um modoclaro e relevante para o clínico. Na tabela a seguir, têm-se as datas para realizar nova coleta conforme resultado (SE ASC- US ou LSIL): Repetir com: 6 MESES Repetir com: 12 MESES Repetir com 3 anos ASC-US Quando for + em pacientes ≥30 anos Quando for + em pacientes entre 25 a 29 anos Quando for + em pacientes < 25 anos LSIL Quando for + em pacientes ≥ 25 anos 5 Khilver Doanne Sousa Soares Se ao repetir o exame recebi o mesmo resultado, ou resultado com prognóstico pior (ex.: 1º resultado ASC-US, 2º resultado LSIL!), COLPOSCOPIA DIRETO! A paciente teve 2 exames seguidos normais? Realizo o Papanicolau de 3-3 anos a partir de então! Se paciente HIV+ tem QUALQUER ALTERAÇÃO já no 1º resultado, COLPOSCOPIA DIRETO! Qualquer organismo achado (ex.: Trichomonas, Candida, etc.) ao avaliar o resultado do PCCU, tratar conforme critério de cada infecção/proliferação. Por fim, saber avaliar caso a caso as pacientes gestantes, virgens ou HIV+: GESTANTES HIV Virgens Dou seguimento à indicação do resultado normalmente Teve 1 relação sexual? Realizo de 6-6 meses no primeiro ano! NÃO REALIZAM PAPANICOLAU! ÚNICA COISA PROIBIDA ÀS GESTANTES? BIÓPSIA! A gestante só poderá realizar biópsia 90 dias após o parto! + CD4 < 200? Realizo de 6-6 meses até 2 resultados normais! Teve 2 resultados normais seguidos em qualquer caso? Realizo anualmente a partir de então! Mulheres na Pós-Menopausa O seguimento de mulheres na pós- menopausa deve levar em conta seu histórico de exames. Embora já tenha sido diagnosticado novos casos de câncer de colo uterino em mulheres menopausadas, o rastreamento citológico em mulheres menopausadas pode levar a resultados falso-positivos causados pela atrofia secundária ao hipoestrogenismo. Histerectomizadas Mulheres submetidas à histerectomia total por lesões benignas, sem história prévia de diagnóstico ou tratamento de lesões cervicais de alto grau, podem ser excluídas do rastreamento, desde que apresentem exames anteriores normais. Significado dos Principais Resultados da Colposcopia Obs.: quanto ao que fazer em relação ao resultado de cada uma das possíveis situações abaixo, já foi descrito acima. ASC-US É a sigla para células escamosas atípicas de significado indeterminado, talvez não neoplásicas. Há correlação com doença de baixa gravidade para a maioria das mulheres, e a conduta conservadora pouco invasiva é a recomendada. Lesão de Baixo Grau (lesão intraepitelial de baixo grau - LSIL) Os resultados LSIL e ASC-US podem sinalizar um risco significativo de lesões pré- 6 Khilver Doanne Sousa Soares invasivas (NIC2/3) ou câncer subjacentes. Entretanto, o comportamento benigno dessas alterações (na maioria dos casos, a manifestação morfológica da infecção aguda e transitória pelo HPV, associada ao risco de ocorrência de efeitos adversos psíquicos e físicos, como hemorragia, infecção e desfechos obstétricos significativos) tem levado a recomendações mais conservadoras. ASC-H ou AGC ASC-H é a sigla para células escamosas atípicas de significado indeterminado, não podendo excluir lesão de alto grau. ASC-H apresenta risco de lesão de alto grau (NIC2 e NIC3) subjacente alto. A recomendação é o referenciamento para colposcopia. AGC - células glandulares atípicas. É a categoria associada a maior risco de neoplasia cervical quando comparada à das células escamosas atípicas de significado indeterminado ou das lesões intraepiteliais de baixo grau. Lesão de Alto Grau (LIAG) A LIAG compreende as neoplasias intraepiteliais cervicais de graus 2 e 3 (NIC2 e NIC3/carcinoma in situ). Mulheres que apresentam laudo citológico de LIAG devem ser tratadas, devido ao grande potencial morfológico desta alteração em progredir para neoplasia. A conduta é o referenciamento ao serviço de referência. Quando Referenciar As mulheres devem ser referenciadas ao serviço de ginecologia para realização de colposcopia e possível biópsia para confirmação diagnóstica nas seguintes situações: LIAG; ASC-H, não podendo excluir lesão de alto grau; AGC; Lesão de baixo grau (LIBG) ou ASC-US persistente - presença de dois exames alterados; Lesão cervical suspeita ao exame clínico (lembrar-se de que ectopia é uma condição fisiológica). Atividades Preventivas As vacinas contra o HPV têm sido desenvolvidas com a finalidade de proteger contra a infecção pelo vírus e o subsequente desenvolvimento das doenças associadas. Há três diferentes tipos de vacinas: Vacina quadrivalente, que contêm os tipos 6, 11, 16 e 18; Vacina 9 valente, que contêm os mesmos tipos da quadrivalente (6,11,16 e 18) mais os tipos 31, 33, 45, 52 e 58; Vacina bivalente, que contêm os tipos 16 e 18. No Brasil temos disponível a vacina quadrivalente. Atualmente, o MS tem recomendado a vacinação para o sexo feminino de 9 a 14 anos de idade e para o sexo masculino na faixa etária de 12 a 13 anos. A vacina é recomendada também para pessoas de 9 a 26 anos que estejam imunocomprometidas. GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti; DIAS, Lêda Chaves. Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero. Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede. – 2. ed. rev. atual. – Rio de Janeiro: INCA, 2016.
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