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(Síndromes do Manguito rotador) Aspectos anatômicos Manguito rotador é formado por 4 músculos que se originam na escápula e se inserem nos tubérculos do úmero, sendo eles: · supra-espinhoso · infra-espinhoso · redondo menor · subescapular Aspectos fisiológicos O MR trabalha como unidade combinada para estabilizar a cabeça do úmero na cavidade glenóide. Sua principal função é de compressão, pois ele comprime a cabeça umeral contra a glenóide, aumentando a estabilidade, resistindo ao deslizamento e à translação da mesma (nos sentidos ântero-posterior e ínfero-superior), permitindo ainda alguma rotação em torno dos seus três maiores eixos (ântero-posterior, médio-lateral e diáfiso-umeral), isoladamente ou em conjunto. O efeito compressivo exercido pelo MR é relativamente independente da posição em que se encontra a articulação, embora nos movimentos de deslizamento e translação sua função se alterne. Em abdução e rotação neutra, o infra-espinhoso é depressor da cabeça umeral, mas em abdução e rotação externa, ele se torna elevador. O infra-espinhoso, juntamente com o redondo menor, são os únicos rotadores externos O subescapular é depressor mais efetivo em rotação externa. Tem pouco efeito na translação ântero-posterior em abdução e rotação externa, sendo importante rotador interno nos últimos graus desse movimento. O supra-espinhoso é importante estabilizador e compressor da cabeça umeral e está ativo em qualquer movimento envolvendo a elevação do membro superior O MR também se beneficia das ações de outros músculos no desempenho de suas funções, ou por sinergia ou pela criação de um ambiente biomecânico mais adequado. A função do deltóide demonstra claramente esse fenômeno. No início da elevação, com o membro superior em adução, a sua contração produz uma força de cisalhamento em direção cranial. O deltóide ântero-lateral, pela direção de suas fibras contornando o tubérculo maior, cria uma força que se opõe à primeira e aumenta o efeito compressivo e a estabilidade glenoumeral. Conceito As síndromes do manguito rotador representam um espectro de doenças podendo ser uma tendinite aguda a uma lesão maciça comprometendo todos os seus componentes. Essas lesões são caracterizadas de dor no ombro frequente. Epidemiologia · Prevalência alta; · Varia de 7 a 40%, aumentando de acordo com a idade; · Lesões parciais são mais comuns que as lesões totais; · Lesões na superfície articular são duas a três vezes mais comuns que na superfície bursal; · Lesões intratendinosas são menos frequentes, isso porque seus casos podem ser subdiagnosticados. Classificação Pode ser classificada de acordo com: Sua espessura: · Parciais ou não transfixantes; · Completas ou transfixantes. Tamanho da lesão quando completa: · Pequena, < 1cm; · Média, de 1 a 3cm; · Grande, de 3 a 5cm; · Maciça, de mais de 5cm. Grau de retração do coto tendinoso em relação à cabeça umeral: · Distais ou periinsercionais; · Intermediárias; · Proximais. A cronologia da lesão: · Agudas; · Crônicas; · Crônicas agudizadas. A etiologia: · Traumática; · Microtraumáticas; · Degenerativas; · Associadas às instabilidades. As lesões parciais podem ser classificadas de acordo com a sua localização: · Bursal · Articular · Intratendinosa Sua espessura e o seu tamanho (lesões parciais): · Grau I = 25% ou até 3mm · Grau II = 50% ou de 3 a 6mm; · Grau III = 50% ou > 6mm) As lesões do manguito rotador em três estágios: · I = edema e hemorragia, idade típica < 25 anos; · II = fibrose e tendinite, idade típica entre 25 e 40 anos; · II modificado = lesões parciais; · III = osteófitos e ruptura tendinosa, idade típica > 40 anos. Fisiopatologia · Intrínseca – Fatores vasculares · Extrínseca ou traumática – Fatores Biomecânicos 1. Intrínseca Processo degenerativo relacionado ao envelhecimento natural dos tendões (entesopatia), devido a mudanças na vascularização do manguito ou outras alterações metabólicas associadas com a idade. Um sistema microvascular comprometido agrava o problema criando uma “zona crítica” de avascularidade no local da lesão. Esse mecanismo proposto envolvendo a interação entre a lesão do tendão e o comprometimento microvascular permanece controverso. a maioria das lesões ocorria no lado articular, sugerindo que as mudanças degenerativas e o suprimento vascular insuficiente eram fatores patogênicos importantes, havendo evidências claras de preexistirem mudanças degenerativas relacionadas à idade como conseqüência de microtrauma. Portanto, todos esses indicativos nos levam a crer que a doença do manguito seja uma tendinopatia intrínseca causada por avascularidade, ida-de ou sobrecarga de uso. 2. Extrínsecos 0 a 95% das anormalidades do manguito são secundárias a trauma, sobrecarga em tensão ou excesso de uso. O atrito anormal entre o arco coracoacromial e os tendões seria a causa da lesão que ele denominou de síndrome do impacto subacromial. Em adição, fricção e atrito na superfície do acrômio poderiam agravar as mudanças degenerativas do manguito, conduzindo a uma lesão completa Tipos morfológicos de acrômio (planos, curvos e ganchosos) e que as lesões eram iniciadas pelo impacto subacromial; na presença de acrômios curvos e ganchosos, a predisposição seria maior O esporão acromial, têm papel secundário na lesão do manguito rotador e que sua etiologia, na verdade, é multifatorial. Quadro clinico Dor – principal sintoma · Localiza na região ântero-lateral do ombro e face lateral do braço · Sua intensidade é variável. · Atividades diárias dolorosas podem incluir vestir uma camisa ou escovar os cabelos. · A maioria dos pacientes se queixa de dor noturna e dificuldade ou incapacidade de deitar-se sobre o lado afetado, sendo este um aspecto muito característico e constante da doença do manguito rotador · Fraqueza é outro sintoma frequentemente citado de roturas do manguito rotador e em roturas grandes ou de espessura total representa uma parte integrante do diagnóstico. A fraqueza pode ser aparente em indivíduos assintomáticos. Diagnostico Anamnese minuciosa é fundamental · Dominância · Idade · Sexo · O tempo de evolução dos sintomas e suas características · Tipo de ocupação profissional ou de prática esportiva · História de um ou mais eventos traumáticos · Tratamentos prévios (fisioterapia, infiltrações, etc.) Exame físico No exame físico são pesquisadas: · Assimetrias das cinturas escapulares; · Atrofias das fossas supra e infra-espinhais; · Cicatrizes e deformidades da coluna cervicotorácica; · Mensuração das amplitudes ativas e passivas dos ombros é imprescindível para a diferenciação com outras lesões (capsulite adesiva, artrose glenoumeral, etc.); · A presença de crepitações à rotação passiva do ombro, muitas vezes dolorosa, é também bastante sugestiva e característica; · Sinais de irritação do manguito rotador podem ser demonstrados por diversas manobras: as de Neer, Hawkins e Yochum para o impacto ântero-supe-rior e as de Speed (palm-up test), Yergason e O'Brien para o bíceps e a âncora do bíceps. · Um arco doloroso de 60o a 120o de abdução no plano da escápula é também um sinal irritativo; · Algumas manobras permitem avaliar componentes específicos do manguito rotador: o teste de Jobe para o supraespinhoso, os testes de Gerber (lift-off e o belly-press) e o aumento da rotação externa em abdução para o subescapular e o teste de Patte para o infra-espinhoso e o redondo menor. · Os sinais da cancela (incapacidade de se manter a rotação externa máxima ativa em adução) e o "hornblow sign" - sinal do chifre caído - que é a incapacidade de se manter a rotação externa máxima ativa em abdução de 90o - demonstram lesões dos rotadores externos e estão geralmente presentes em lesões maciças crônicas irreparáveis. O teste de Neer (injeção de 10ml de lidocaína a 1% na bursa subacromial) é uma ferramenta valiosa na diferenciação entre bursites e lesões do supra-espinhoso Exames de imagem 1. Radiografias simples do ombro Não permitem a visualização das lesões, mas podem mostrar sinais indiretos importantes, tais comoesclerose e cistos do acrômio e do tubérculo maior (indicativos de impacto crônico), além da morfologia do acrômio e a medida do espaço acromioumeral (distância entre o acrômio anterior e a parte mais alta da cabeça umeral na incidência ânteroposterior, que varia de 7 a 12mm e pode estar diminuída nas lesões do manguito rotador). 2. Artrografia Muito utilizada, permite o diagnóstico de lesões parciais articulares e lesões completas. 3. Ultrassonografia Método barato, não invasivo e eficaz; Desvantagem: não permitir a avaliação quantitativa fidedigna do manguito rotador remanescente e de ser operador-dependente. 4. Ressonância magnética: Considerada como método mais acurado para a detecção das lesões e para a avaliação da sua extensão, da qualidade do tecido remanescente e da quantificação da degeneração gordurosa dos ventres musculares do manguito rotador. O grau de degeneração gordurosa é um fator prognóstico importante, devido à correlação positiva existente entre a sua quantidade e o tamanho da ruptura do supraespinhal (em relação ao infra-espinhal, pode haver degeneração na ausência de uma ruptura do mesmo). · A degeneração gordurosa é quantificada pela classificação de Goutalier (proposta inicialmente para estudo por meio de tomografia computadorizada e depois adaptada para a ressonância magnética). · Ela descreve cinco estágios: 0 = músculo normal, ausência de gordura; 1 = mínima infiltração gordurosa; 2 = menos gordura do que músculo; 3 = tanta gordura quanto músculo; e 4 = mais gordura do que músculo. 5. Artrorressonância magnética, Injeção de gadolíneo diluído na articulação, é especialmente útil na detecção de lesões parciais do supra-espinhoso, do infra-espinhoso e do subescapular, de lesões labrais, da âncora do bíceps e dos ligamentos glenoumerais. Tratamento: consiste em gelo, repouso e medicamentos anti-inflamatórios não esteroides. Apesar da escassez de pesquisas científicas para apoiar seu uso, geralmente acredita-se que a crioterapia diminui o inchaço e a inflamação aguda e fornece alguma analgesia. Referencias bibliográficas - Larissa Rached, R.A.; Rampim, D.B.; Yamauti, R. H. Síndrome do Manguito Rotador: Reabilitação. Associação Médica Brasileira, 2013. ANDRADE RP, CORREA FILHO MRC, QUEIROZ BC. Lesões do manguito rotador. Rev Bras Ortop. 2004;39(11/12) SIMONS, S.; DIXON, J. B. KRUSE, MD. Presentation and diagnosis of rotator cuff tears.. UptoDate, 2021.