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DESCRIÇÃO DA HIPÓFISE DE Geophagus proximus 
(TELEOSTEI:PERCIFORMES:CICHLIDAE) A PARTIR DE 
ANÁLISES HISTOLÓGICAS E HISTOQUÍMICAS 
 
Branco, G. S.1*; Silva, A. P. S.1,2; Silva, L. M. J. 1; Ninhaus-Silveira, A.1; Veríssimo-
Silveira,R. 
 
giovanabranco@yahoo.com 
*Graduanda em Ciências Biológicas, UNESP, Ilha Solteira, SP; 
1LINEO – Laboratório de Ictiologia Neotropical, Departamento de Biologia e Zootecnia, UNESP, Ilha 
Solteira, SP; 
2Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Animal, UNESP, Ilha Solteira, SP. 
 
Introdução 
O peixe ciclídeo Geophagus proximus foi introduzido no Rio Paraná e vem ocupando um 
lugar de destaque na pesca comercial nos reservatórios de Jupiá e Ilha Solteira, onde podemos 
encontrar famílias de pescadores que direcionam o seu sustento unicamente na captura 
desses exemplares. A reprodução do G. proximus nesses reservatórios parece não apresentar 
uma sazonalidade no processo de maturação das gônadas, sendo encontrados em todos os 
meses do ano espécimes em estágios avançados de maturação gonadal. Em decorrência 
desse fator pode-se destacar a facilidade para a obtenção de hipófises originadas de 
exemplares que se encontram no período reprodutivo, onde nessa fase os níveis de hormônios 
gonadotrópicos (FSH e LH) secretados pela hipófise e que vão atuar nas gônadas, se 
encontram mais elevados. A partir dessa hipótese, hipófises de Geophagus proximus 
provenientes da pesca profissional no reservatório de Ilha Solteira vem sendo testada (em um 
trabalho paralelo), como indutora hormonal da reprodução de peixes reofílicos (Piaractus 
mesopotamicus e Prochilodus lineatus). A importância do estudo da morfologia e histologia da 
hipófise de peixes tem como objetivo agregar conhecimentos à endocrinologia de peixes 
possibilitando o desenvolvimento de estratégias voltadas à produção eficiente de espécies na 
piscicultura (JESUS, 2011). Deste modo, no estudo foi realizada a análise histológica e 
histoquímica dessa hipófise com a finalidade de verificar a integridade da mesma e desta forma 
garantir o sucesso da hipofisação. 
 
Material e Métodos 
Os exemplares de G. proximus provenientes do reservatório de Ilha Solteira e Rio São 
José dos Dourados, foram acondicionados em tambores contendo água e oxigênio e logo em 
seguida foram transportados para o Laboratório de Ictiologia Neotropical, do Departamento de 
Biologia e Zootecnia, da Faculdade de Engenharia da UNESP, Campus de Ilha Solteira, 
anestesiados em uma solução de benzocaína (diluição de 0,5 g de benzocaína em 5 mL de 
álcool absoluto e 5 L de água), e posteriormente dissecados para a retirada das hipófises 
juntamente ao encéfalo. As hipófises foram fixadas em solução de paraformaldeído a 4% e 
glutaraldeído a 2% em tampão fosfato Sorensen 0,1 M pH 7,2, “over night”. Depois de fixado, o 
material permaneceu em álcool 70% por no mínimo 24h seguido por um banho em álcool 95% 
por 3h, tendo como finalidade a desidratação do material. Posteriormente iniciou o processo de 
infiltração da resina no material, o material foi infiltrado por uma solução de resina mais álcool 
absoluto (100%) por 5h, seguindo para uma imersão em resina pura (de infiltração) “over-
nigth". Após a infiltração, ocorreu a inclusão em metacrilato glicol (resina Technovit 7100), o 
que permite uma melhor preservação estrutural com menor distorção e retração tecidual. Para 
a confecção das lâminas histológicas, o material biológico já incluído, foi submetido a cortes de 
3 μm de espessura, obtidos em um micrótomo equipado com navalha de vidro Leica RM 2245. 
Na análise histológica foi utilizada a técnica de coloração com Hematoxilina/Eosina (H.E.), e 
para a análise histoquímica a técnica de PAS – Ácido Periódico-reativo de Schiff, as lâminas 
foram analisadas sob microscopia de luz e fotomicrografadas com uma câmera AXIOCAM MRc 
5 ZEISS (5.0M Pixel). 
 
Resultados 
A hipófise de G. proximus localiza-se na base do diencéfalo e está conectada ao 
hipotálamo através de uma estrutura delicada chamada pedúnculo Hipofisário, que se rompe 
facilmente quando se rebate o encéfalo e retira a hipófise da cela túrcica segundo o método 
proposto por Woynarovich e Horváth (1983), para tanto procurou-se retirar uma parte do crânio 
dos exemplares para após a fixação do material retirar a hipófise juntamente ao encéfalo sem 
que o pedúnculo se rompa. A hipófise é dividida em duas regiões básicas com origens 
embriológicas diferentes separadas por uma membrana basal: Adeno-hipófise (Hipófise 
Anterior) e Neuro-hipófise (Hipófise Posterior). A Adeno-hipófise apresenta duas subdivisões: 
pars intermedia (PI) e pars distalis (PD). Na região da pars intermedia (PI), estão localizadas as 
células somatolactínicas (SL), produtoras de somatolactina e estão mais concentradas na 
região das ramificações da Neuro-hipófise, são células grandes (porém menores que as 
gonadotrópicas), basófilas e PAS-positivas; e melanotrópicas (MSH), células produtoras de 
melanotropina que situam-se na periferia da PI, pequenas, acidófilas e PAS-negativas. A pars 
distalis (PD) compreende quase toda a glândula e suas células podem ter ou não afinidade por 
corantes. As hipófises de G. proximus quando coradas com Hematoxilina/Eosina apresentaram 
células cromófilas e células cromófobas. A pars distalis é subdivida em rostral pars distalis 
(RPD), localizada na região anterior da hipófise, e em proximal pars distalis (PPD), localizada 
entre a RPD e a PI e se apresenta mais basófila que as outras regiões da hipófise. Na região 
da rostral pars distalis (RPD), estão localizadas as células prolactínicas (PRL) e 
adrenocorticotrópicas (ACTH), ambas PAS-negativas. As células produtoras de prolactina 
apresentam-se em maior número, são pequenas e acidófilas. As células produtoras de 
hormônio adrenocorticotrópico foram localizadas ao redor de ramos da Neuro-hipófise 
presentes da RPD e são fracamente basófilas. Na região da proximal pars distalis (PPD), estão 
localizadas as células produtoras de hormônio do crescimento (GH) e células produtoras de 
gonadotropinas (GtHs). As células produtoras de hormônio de crescimento GH, estão 
localizadas próximas a ramos da Neuro-hipófise, são acidófilas e PAS-negativas e as células 
produtoras de gonadotropinas apresentam-se em maior número na PPD, com citoplasma 
basófilo e PAS-positivas. 
Discussão e Conclusões 
Com a análise histológica da hipófise de G. proximus, observou-se que a hipófise fixada 
logo após a morte do animal manteve sua integridade celular preservada, com boa visualização 
dos limites celulares, podendo classificar as sub-regiões da mesma. A localização da hipófise 
de G. proximus no interior do crânio, situada no lado ventral do cérebro, na base do diencéfalo, 
abaixo do hipotálamo, inserida em uma região conhecida como cela túrcica, é semelhante a 
dos outros vertebrados. A glândula pituitária ou hipófise também chamada de “glândula mestre” 
é uma glândula endócrina responsável pela produção de vários hormônios, capaz de controlar 
outras glândulas endócrinas. É responsável pela produção, acúmulo e armazenamento dos 
hormônios gonadotrópicos, que são produzidos pelo peixe sexualmente maduro e as 
mudanças cíclicas da sua concentração na glândula pituitária estão correlacionadas com o 
ciclo reprodutivo do peixe (RANDALL, et al, 2008). 
A organização das divisões da hipófise de G. proximus, onde a Neuro-hipófise invagina 
na Adeno-hipófise penetrando nessa região e se ramificando, delimitando as duas principais 
regiões dessa glândula, é semelhante à de outras espécies de vertebrados, mas 
especificamente de peixes como, por exemplo, à hipófise de Rutilus rutilus (JAFRI, 1980), 
Odontesthes bonariensis (VISSIO, et al, 1997), Salminus hilarii (HONJI, 2007), de Arapaima 
gigas (BORELLA, et al, 2009) e Epinephelus marginatus (RODRIGUES-FILHO, 2010). 
A subdivisão da Adeno-hipófise em pars intermedia (PI) e pars distalis(PD) (subdividida 
em RPD e PPD), como observada na hipófise de G. proximus, é determinada dessa forma em 
teleósteos sendo que, em mamíferos, a Adeno-hipófise é comumente divida em pars 
intermedia, pars distalis e pars tuberalis, sendo essa última região caracterizada nesses 
vertebrados como o local que envolve a haste hipofisária. 
A distribuição dos diferentes tipos celulares na hipófise de G. proximus manteve o 
padrão encontrado para outras espécies de peixes, sendo que na pars intermedia (PI) estão 
localizadas as células somatolactínicas (SL), e melanotrópicas (MSH) e na PD (RPD e PPD), 
em que na rostral pars distalis (RPD), estão localizadas as células prolactínicas (PRL) e 
adrenocorticotrópicas (ACTH), e na proximal pars distalis (PPD), estão localizadas as células 
produtoras de hormônio do crescimento (GH) e células produtoras de gonadotropinas (GtHs), 
como encontrado no também Perciforme, Cichlasoma dimerus (PANDOLFI et al., 2001), 
Serrasalmus spilopleura e Pimelodus maculatus (NÓBREGA, 2006), Salminus hillarii (HONJI, 
2007) e Salminus brasiliensis (JESUS, 2011). 
Para delimitar melhor as três regiões adenohipofisárias é necessário realizar novos 
métodos histoquímicos, como por exemplo, Tricrômico de Mallory a ser realizado em uma 
próxima etapa. 
 
 
Agradecimentos 
Apoio: FAPESP Processo nº: 2009/08519-0. 
 
Referências 
 
BORELLA, M. I.; VENTURIERI, R.; MANCERA, J. M. Immunocytochemical identification of 
adenohypophyseal cells in the pirarucu (Arapaima gigas), na Amazonian basal teleost. Fish 
Physiology Biochemistry, Amsterdan, v.35, p.3-16, 2009. 
HONJI, R. M. Caracterização endócrina durante o ciclo reprodutivo da tabarana Salminus 
hilarii (Characiformes: Characidae), em três ambientes distintos: natural, impactado e 
cativeiro. 2007. 190f. (Mestrado em Ciências, área de Fisiologia) – Universidade de São 
Paulo, São Paulo-SP. 
JAFRI, S. I. H.; ENSOR, D. M. Cell types in the pituitary of the roach, Rutilus rutilus (L.) 
(Teleostei). Journal Anatomy, v.130, n.4, p.667-672, 1980. 
JESUS, L. W. O. Desenvolvimento estrutural da hipófise e ontogenia das células adeno-
hipofisárias do dourado Salminus brasiliensis (Cuvier, 1816) Teleostei, Characiformes. 
2011. 106F. (Mestrado em Ciências, área de Biologia Celular e Tecidual) – Universidade de 
São Paulo, São Paulo-SP. 
NÓBREGA, R. H. Alterações do epitélio germinativo masculino, células endócrinas, 
testiculares e células gonadotrópicas durante o ciclo reprodutivo de Serrasalmus 
spilopleura (Kner, 1859) e Pimelodus maculatus (Lacépède, 1803). 2006. 193f. (Mestrado 
em Biologia Celular e Estrutural) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas – SP. 
PANDOLFI, M.; PAZ, D. A.; MAGGESE, C.; RAVAGLIA, M.; VISSIO, P. Ontogeny of 
immunoreactive somatolactin, prolactina and growth hormone secretory cells in the developing 
pituitary gland of Cichlasoma dimerus (Teleostei, Perciformes). Anatomy and Embryology, v. 
203, p. 461–468, 2001. 
RANDALL, D. J.; BURGGREN, W.; FRENCH, K.; FERNALD, R. Fisiologia animal: 
mecanismos e adaptações. Rio de Janeiro: Guanabara, 2008. 729p. 
RODRIGUES-FILHO, J. A. Alterações morfológicas das gônadas e da hipófise da garoupa 
Epinephelus marginatus (Teleostei: Serranidae) during the sex inversion. 2010. 144f. 
(Mestrado em Ciências, área de Fisiologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo-SP. 
VISSIO, P. G.; SOMOZA, G. M., MAGGESE, M. C.; PAZ, D. A; STRÜSSMANN, C. A. Structure 
and cell type distribution in the pituitary gland of pejerrey Odontesthes bonariensis. Fisheries 
Science, Tokyo, v.63, n.1, p. 64-68, 1997. 
WOYNAROVICH, E.; HORVÁTH, L. A propagação artificial de peixes de águas tropicais: 
manual de extensão. Brasília: Escopo, 1983. 220p.

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