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Introdução à Probabilidade e estatística Quadrimestre 2022-3 Aula 2 a u l a 2 Prof. André Timpanaro Relembrando, temos que a probabilidade depende do evento e das informações que temos disponíveis: Pr(E⎟I). - Probabilidades são números entre 0 e 1: 0 ≤ Pr(E⎟I) ≤ 1; - Pr(Ω⎟I) = 1 → coisa mais provável possível (evento certo); - Pr(∅⎟I) = 0 → coisa menos provável possível (evento improvável); - Regra aditiva: Pr[⋃ 𝐸𝑖𝑖 ⎟I] = ∑ Pr(𝐸𝑖i ⎟I ), se os Ei são disjuntos: Ei∩Ej = ∅, ∀i≠j; - Regra multiplicativa: Pr(E∩F⎟I) = Pr(F⎟I, E) . Pr(E⎟I), sendo que I são as informações iniciais e (I,E) são dadas as informações iniciais e que o evento E ocorre. Uma vez que vimos as regras básicas dos axiomas, vamos começar a analisar situações onde podemos pegar os axiomas e decidir como deve ser a probabilidade de determinados eventos em determinado experimento aleatório. Assim, agora iremos especificar as informações para conseguirmos deduzir as probabilidades. O caso mais simples é quando temos um espaço amostral equiprovável. Para entendermos essa situação primeiro vamos analisar do jeito intuitivo, como jogar moedas e dados. Pensando na moeda, sempre pensamos que temos uma probabilidade de 50% de sair cara e 50% de sair coroa. Assim como no dado, temos uma chance de 1 em 6 de sair cada uma das 6 faces. Mas por que atribuímos essas probabilidades para estes casos? O que está subjacente é a hipótese de que todas as possibilidades são igualmente prováveis. Nós fazemos essa hipótese porque temos alguma espécie de simetria entre as realizações. No caso da moeda, estamos assumindo que temos a mesma chance de tirar cara ou coroa, porque se a moeda está com a cara virada para cima e a viramos para baixo, parece que a moeda continua a mesma, neste sentido, cara e coroa seriam basicamente iguais, não importa qual o lado da moeda que chamamos de cara ou coroa, ainda temos uma simetria que permite girarmos a moeda e obter o mesmo objeto. O mesmo ocorre para o dado de 6 dados. Se tivéssemos um dado não simétrico, um dado viciado, essa premissa deixaria de ocorrer, pois um resultado é mais provável de ocorrer que outras. Assim, nestes casos temos uma simetria entre as realizações que é formalizada pelo princípio da indiferença, que traz a seguinte ideia: Se não tenho nenhuma razão para acreditar que uma das realizações é mais provável que a outra, a maneira correta de atribuir probabilidades é assumirmos que suas probabilidades são igualmente prováveis de ocorrer (equiprobabilidade). O principio da indiferença entra em ação quando o experimento é simétrico, como no caso do dado não viciado, ou seja, quando temos informação a respeito de sua simetria. O princípio de simetria pode, então, ser presente nos casos de simetria, mas também em um caso de ausência da informação. Se temos um caso onde tudo que sabemos sobre o espaço amostral é que ele é: Ω= {A, B, C}, não temos nenhuma informação que nos permite dizer que um é mais provável que outro, então a devemos assumir a chance de 1/3 para cada uma das realizações. Portanto, a equiprobabilidade ocorre quando todas as realizações têm a mesma probabilidade: Pr(E⎟eq) → probabilidade do meu evento E ocorrer, dado que o espaço amostral é equiprovável, ou seja, que as realizações têm equiprobabilidade. Como calculamos probabilidade nessa situação? É possível calcularmos utilizando apenas os axiomas de Kolmogorov. Exemplo Seja o espaço amostral (Ω) equiprovável, com as seguintes realizações (ω – ômega minúsculo): Ω= {ω1, ω2, ω3, ..., ωN}, tal que N =⎟Ω⎟ → N é o número de elementos do espaço amostral Ω. E queremos calcular a probabilidade de um evento E que tem as seguintes realizações: E= {e1, e2, e3, ..., eM}, tal que M =⎟E⎟, ou seja, M é o número de elementos do evento. A primeira coisa que iremos fazer, é reescrever o espaço amostral e o evento como uma união disjunta, ou seja, reescrever o espaço amostral como a união das realizações e o evento como a união de todos os eventos possíveis. Ω=⋃ {𝑤𝑖} 𝑁 𝑖=1 ≡{ω1}∪{ω2}∪{ω3},,,{ωN}→ união disjunta das realizações; E =⋃ {𝑒𝑖} 𝑀 𝑖=1 ≡{e1}∪{e2}∪{e3}...{eM}∪→ união disjunta de todos os eventos possíveis. Relembrando Simetrias e equiprobabilidade Probabilidade no espaço equiprovável Aula 2 ⎟x⎟= número de elementos de x Nós quebramos o evento e o espaço amostral em vários eventos que têm, exatamente, uma realização. Vamos primeiro determinar a probabilidade do evento: Pr({ωK⎟eq} = p Pegamos todos os resultados possíveis do espaço amostral e estamos atribuindo a probabilidade p para cada um deles. Ilustradamente, teríamos a seguinte situação: Cada evento e tem uma única realização w, onde Ω é a união de todos esses eventos e. Em outras palavras, a realização w que obtemos no experimento aleatório bate com a única realização que temos dentro de cada evento e. Como são todas igualmente prováveis, cada um dos eventos e possui uma probabilidade p de acontecer. Por outro lado, pelos axiomas, temos que a probabilidade do evento Ω é 1, que é igual à probabilidade da união de todas as realizações: 1 = Pr(Ω⎟eq) = Pr[⋃ {𝑤𝑖} 𝑁 𝑖=1 ⎟ 𝑒𝑞] Como dividimos o espaço amostral em eventos disjuntos, que não têm intersecção entre si, podemos utilizar a regra aditiva, portanto isso será igual a soma das probabilidades de wi, dado que o espaço amostral é equiprovável. 1 = Pr(Ω⎟eq) = Pr[⋃ {𝑤𝑖} 𝑁 𝑖=1 ⎟ 𝑒𝑞] = ∑ Pr({𝑤𝑖}⎟𝑒𝑞) 𝑁 𝑖=𝑖 = ∑ 𝑝 𝑁 𝑖=𝑖 Estamos somando p N vezes, p+p+p...p, N vezes, portanto o somatório será: ∑ 𝑝𝑁𝑖=𝑖 = 𝑝.𝑁 → 𝑝 = 1 𝑁 = 1 ⎟Ω⎟ Parece complicado, mas é a mesma coisa que o resultado intuitivo que viemos tendo até então, onde, seja uma moeda com 2 possibilidades, temos uma chance de ½ de sair cara ou coroa. Assim como no dado temos 6 possibilidades, logo temos uma chance de ⅙. ------ Qual a probabilidade do evento E? a ideia é parecida. Quebramos o E nos eventos ei disjuntos com uma realização dentro de cada um deles: Pr(E⎟eq) = Pr[⋃ {𝑒𝑖} 𝑀 𝑖=1 ⎟ 𝑒𝑞] Assim podemos utilizar a regra aditiva: Pr[⋃ {𝑒𝑖} 𝑀 𝑖=1 ⎟ 𝑒𝑞] = ∑ Pr({𝑒𝑖}⎟𝑒𝑞) 𝑀 𝑖=𝑖 E por equiprobabilidade, a somatória deve ser igual a p somado M vezes, lembrando que p = 1/N: ∑ Pr({𝑒𝑖}⎟𝑒𝑞) 𝑀 𝑖=𝑖 = ∑ 𝑝 𝑁 𝑖=𝑖 = 𝑝.𝑀 = 𝑀 𝑁 Lembrando que N =⎟Ω⎟ e M =⎟E⎟, temos: Pr(E⎟eq) = ⎟E⎟ ⎟Ω⎟ E assim calculamos a probabilidade em um espaço amostral equiprovável. Precisamos contar quantas realizações temos no evento, quantas realizações temos no espaço amostral e tomar a razão entre eles. Essa é a probabilidade quando temos essa situação equiprovável. A probabilidade do evento E ocorrer, dado que os eventos são equiprováveis, é dado pelo número de elementos de E dividido pelo número de elementos do espaço amostral. Exemplo 1 Imagine que temos uma caixa com bolas numeradas de 1 a 50. Sorteamos uma bola. Qual a probabilidade de a bola sorteada ser par? Podemos pensar que temos equiprobabilidade porque por esse enunciado não conseguimos distinguir uma bola como sendo mais provável de ocorrer que a outra, isso porque a única diferença entre elas é sua numeração. Uma vez que temos essa simetria, podemos utilizar a equiprobabilidade. Ω= {1, 2, 3, ..., 50} → ⎟Ω⎟= 50 elementos; Par= {2, 4, 6, ..., 48, 50} → ⎟Par⎟= 25 elementos ∴ Pr(Par⎟eq) = 𝑛𝑜.𝑑𝑒𝑝𝑜𝑠𝑠𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠𝑑𝑜𝑒𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑛𝑜.𝑑𝑒𝑝𝑜𝑠𝑠𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠𝑑𝑜𝑒𝑠𝑝𝑎ç𝑜𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎𝑙 = 25 50 = 1 2 Exemplo 2 Imagine uma situação semelhante, mas agora temos 15 bolas azuis e 35 bolas vermelhas. Sorteamos uma bola. Qual a probabilidade da bola sorteada ser azul? Aqui, do jeito como o problema especifica as bolas, não é claro se temos ounão equiprobabilidade, porém podemos reescrever o enunciado como um problema de bolas enumeradas de 1 a 50, ou seja, podemos reestabelecer a simetria que tínhamos no exercício anterior e que permitiu utilizarmos a equiprobabilidade. Dessa forma, agora temos bolas enumeradas de 1 a 50, onde de 1 a 15 são azuis e de 16 a 50 são vermelhas. Agora podemos considerar que cada bola tem a mesma chance de ser retirada: Ω= {1, 2, 3, ..., 50} → ⎟Ω⎟= 50 elementos; Azul= {1, 15} → ⎟azul⎟= 15 elementos ∴ Pr(Azul⎟eq) = 𝑛𝑜.𝑑𝑒𝑝𝑜𝑠𝑠𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠𝑑𝑜𝑒𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑛𝑜.𝑑𝑒𝑝𝑜𝑠𝑠𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠𝑑𝑒𝛺 = 15 50 = 3 10 Este problema nos mostra que podemos utilizar espaços amostrais diferentes para descrever o mesmo experimento aleatório, a depender do que analisamos no resultado. Por exemplo, nesse mesmo problema poderíamos dizer apenas um espaço amostral escrito: Ω= {azul, vermelho} Neste caso, teríamos uma caixa onde não sabemos o conteúdo dela, onde as únicas possibilidades são sair uma bola azul ou vermelha. Apenas com essa informação poderíamos utilizar a equiprobabilidade porque não seriamos capaz de determinar qual das duas bolas é a mais provável. Já no enunciado original, onde diz que temos 15 bolas azuis e 35 vermelhas, temos uma não simetria. Exemplo 3 Jogo de 2 dados de 4 faces. Qual a probabilidade de sair 3 e 5? Neste momento não nos importamos a ordem dos números, pode ser tanto 3 e 1, como 1 e 3. Ambos os dados são justos e o resultado de um não influencia no outro. O espaço amostral equiprovável? A grande chave desse exercício é se distinguimos ou não os dados. O que iremos discutir nesse exercício irá mostrar que, se não distinguirmos os dados, não teremos um espaço equiprovável, já quando distinguimos os dados (definir um dado de vermelho e outro de azul), o espaço amostral será equiprovável. - Discutindo primeiramente sobre o espaço equiprovável (quando distinguimos os dois dados): Neste caso, como disse anteriormente, precisamos diferenciar os dados, por exemplo, dando cor a cada um deles: Dado 1: laranja; Dado 2: azul. Analisando o espaço amostral onde distinguimos os dois dados através da tabela abaixo. 1 2 3 4 1 1 1 2 1 3 1 4 1 2 1 2 2 2 3 2 4 2 3 1 3 2 3 3 3 4 3 4 1 4 2 4 3 4 4 4 Na primeira linha temos os possíveis valores do dado laranja e na coluna, os valores do dado azul. Também seria possível pensarmos em jogar primeiro um dado e depois o outro, diferenciando por dado 1 e 2, respectivamente. Então se queremos saber a probabilidade do dado 1, dar um valor a, e o dado 2, dar um valor b, podemos utilizar a regra do produto, informando que estamos jogando os dados de forma equiprovável, ou seja, os dados 1 e 2 têm simetrias, são dados justos, além da informação que o resultado de 1 não influencia do 2: Pr(D1=a e D2=b⎟eq1, eq2) Assim esses são os dados iniciais: Evento E: [D1 = a] Evento F: [D2 = b] I: [eq1, eq2] ⎟Ωdado 1⎟= 4 → 1, 2, 3, 4 ⎟Ωdado 2⎟= 4 → 1, 2, 3, 4 ⎟Edado 1⎟= 1 → uma possibilidade: tirar a ⎟Edado 2⎟= 1 → uma possibilidade: tirar b Pela regra do produto ou regra multiplicativa (axioma 5), temos: Pr(E e F⎟I) = Pr(F⎟I, E) . Pr(E⎟I) No nosso exemplo, o axioma 5 fica: (a probabilidade de jogarmos D2 e dar b, dado que o dado 1 é equiprovável e que tiramos a, e que o dado 2 também é equiprovável) multiplicado pela (probabilidade do dado 1 dar a, sendo que os dados 1 e 2 são equiprováveis, ou seja, justos): Pr(D1=a e D2=b⎟eq1, eq2) = = Pr(D2=b⎟eq1, D1=a, eq2) . Pr(D1=a⎟eq1, eq2) Dessa última equação, podemos jogar algumas informações fora que são irrelevantes. (i) Para o D2, não importa o que aconteceu com D1, então para o calculo de probabilidade de D2, podemos descartar as informações sobre D1; (ii) Para a probabilidade que envolve D1, a informação que D2 é justo, também é indiferente, assim temos: Pr(D2=b⎟eq1, D1=a, eq2) . Pr(D1=a⎟eq1, eq2) = Pr(D2=b⎟eq2) . Pr(D1=a⎟eq1) Proobabilidade de D2 sair b, dado que ele é justo, multiplicado pela probabilidade de D1 resultar em a, uma vez que ele também é justo (equiprovável) Como vimos no início da aula, a probabilidade de um evento E ocorrer, dado que o espaço amostral é equiprovável é dado por: Pr(E⎟eq) = ⎟E⎟ ⎟Ω⎟ Portanto: Pr(D2=b⎟eq2) . Pr(D1=a⎟eq1) = = ⎟E1⎟ ⎟Ω1⎟ . ⎟E2⎟ ⎟Ω2⎟ = 1 4 . 1 4 = 1 16 Uma vez que calculamos a probabilidade, vamos discutir um pouco mais sobre a tabela do espaço amostral dos dados 1 e 2. Nós dizemos que ele é um espaço amostral distinguível ou com ordem, isso porque a tabela tem exatamente 16 elementos e os eventos que formam as realizações D1 e D2, são exatamente 2 em 16, como temos destacado na tabela. 1 2 3 4 1 1 1 2 1 3 1 4 1 2 1 2 2 2 3 2 4 2 3 1 3 2 3 3 3 4 3 4 1 4 2 4 3 4 4 4 Assim, a probabilidade de cada um dos elementos da tabela é 1/16, portanto eles são equiprováveis. Por fim, calculando a probabilidade de tirarmos 1 e 3, independente da ordem do dado é, uma vez que eles são equiprováveis: Pr(1 e 3) = ⎟E⎟ ⎟Ω⎟ = 2 16 = 1 8 - Agora vamos falar sobre o espaço amostral indistinguível: No espaço amostral indistinguível ou sem ordem, não distinguimos os dois dados. Ou seja, os dados são iguais e jogamos eles ao mesmo tempo. A nossa tabela, agora ficaria assim: 1 2 3 4 1 1 1 2 1 3 1 4 1 2 1 2 2 2 3 2 4 2 3 1 3 2 3 3 3 4 3 4 1 4 2 4 3 4 4 4 Ou então, como é mais comum de se representar, nosso espaço amostral seria: Ω= {11, 12, 13, 14, 22, 23, 24, 33, 34, 44} O número de elementos desse espaço amostral é 10. Neste caso, se calculássemos a probabilidade de tirarmos 1 e 3 nesta situação teríamos: Pr(1 e 3) = ⎟E⎟ ⎟Ω⎟ = 1 10 Isso está errado!! (i) Não fizemos nenhuma alteração no experimento para resultarmos em outra probabilidade. Para irmos do espaço amostral distinguível para o indistinguível, bastaria pintar os dados. Isso não alteraria a probabilidade de sair os números 1 e 3, se eles ainda continuam justos. (ii) Não mudamos a forma como jogamos os dados, ou seja, o dado 1 ainda continua não tendo nenhuma influencia sobre o dado 2. Então há alguma coisa estranha acontecendo aqui e o problema são os eventos onde os dois dados saem o mesmo número (11, 22, 33, 44), isso porque eles têm menos maneiras de acontecer do que os outros eventos do espaço amostral indistinguível, se remetermos ao espaço amostral onde sabemos que é equiprovável e distinguível. 1 2 3 4 1 1 1 2 1 3 1 4 1 2 1 2 2 2 3 2 4 2 3 1 3 2 3 3 3 4 3 4 1 4 2 4 3 4 4 4 Por termos os dados da mesma cor, não conseguimos diferenciar qual dado deu qual valor nos casos pintados em verde, ou seja, eles têm apenas uma maneira de acontecer. Dar 1 e 1 é o mesmo evento, independente de qual dado seja. Enquanto os valores pintados em azul têm duas maneiras de ocorrer. Assim, as realizações em azul são duas vezes mais prováveis de ocorrer do que as realizações em verde. Logo, não se trata de um espaço amostral equiprovável. Quando falarmos sobre espaços amostrais equiprovável, sempre entrará em questão se trata de um espaço amostral distinguível ou indistinguível. Isso deverá estar bem claro no nosso exercício, para não confundirmos quando o espaço amostral for indistinguível e ainda mantermos ele equiprovável. Veremos que para isso utilizaremos uma regra simples. Vamos nos aprofundar um pouco mais. Vimos que a probabilidade de um evento em um espaço amostral equiprovável é dado pelo número de elementos do evento dividido pelo tamanho (número de elementos) do espaço amostral. Pr(E⎟eq) = ⎟E⎟ ⎟Ω⎟ Para calcular a porcentagem, precisamos então, contar o número de elementos temos no evento e no espaço amostral. Essas situações são simples quando tratamos de um dado ou uma moeda, onde a contagemé trivial, mas há outras situações mais complicadas onde precisaremos de um raciocínio um pouco mais sofisticado do que simplesmente enumerar todas as possibilidades. Algo que vai aparecer repetidamente é quando precisaremos fazer uma escolha dentre diferentes possibilidades, além de sabermos quantas escolhas temos. exemplo Imagine que temos cartas de baralho. Se quiséssemos contar quantas cartas de baralho existem, poderíamos simplesmente enumerar cada uma delas. Senão, um raciocínio mais simples, é perceber que temos 13 valores numéricos possíveis (A, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, J, Q, K) e 4 naipes possíveis (♡♢♤♧). Dessa forma, para contarmos todas as cartas do baralho, precisamos contar todos os valores numéricos de cada um dos naipes. Para cada valor da carta temos 4 possíveis naipes. Neste caso, é intuitivo que precisamos multiplicar os valores numéricos possíveis com os naipes: 13 x 4 = 52 cartas. Ainda poderíamos abordar a tabela de espaço amostral, onde na primeira linha colocaríamos todos os possíveis valores numéricos e na coluna, os 4 naipes possíveis. Criando uma espécie de matriz 4x13. 1 2 3 .... J Q K ♤ ♧ ... A lógica desse raciocínio é aquilo que chamamos de princípio fundamental da contagem, que é basicamente o seguinte: se temos que fazer uma escolha em n etapas; e sempre temos o mesmo número de possibilidades em cada uma das etapas, o número total de escolhas é dado pelo produto do número de possibilidades em cada uma das etapas. Em outras palavras, se eu tenho uma escolha em n etapas e sempre temos Pi possibilidades na i-ésima etapa, então o número total de escolhas é: P1.P2.P3. ... . Pn-1.Pn possibilidades. No caso do baralho temos um evento em 2 etapas. Na primeira escolhemos o valor (sempre temos 13 possibilidades) e na segunda etapa escolhemos um naipe (sempre temos 4 possibilidades). Por isso o número de escolhas é 13x4 = 52. Exemplo 2 Quantas placas de carro são possíveis? A placa dos carros é formada por 3 letras e 4 dígitos: LLLDDD. Logo, sabemos que a escolha da placa do carro tem 7 etapas, onde das etapas de 1 a 3 temos 26 possibilidades (letras) e das etapas de 4 a 7 temos 10 possibilidades (10 dígitos numéricos), então o número total de possibilidades será: Total = 26. 26. 26. 10. 10. 10. 10 = 263.104 ≈ 150milhões A partir do princípio fundamental da contagem podemos resolver alguns problemas clássicos de contagem e que vão aparecer a todo momento em exercícios que envolvam espaços amostrais equiprováveis. O primeiro que veremos são os problemas das permutações os quais envolvem o seguinte: suponha que temos n elementos. De quantas formas podemos ordenar esses elementos sabendo que conseguimos distinguir todos eles? Permutação: temos n elementos distinguíveis, de quantas formas podemos ordená-los? Exemplo Supondo que temos n=3, e esses objetos são: A, B e C. De quantas maneiras podemos ordená-los? As possíveis permutações de A, B e C serão: ABC, ACB, BAC, BCA, CAB, CBA. Temos 6 maneiras de ordenar, ou seja, temos 6 permutações possíveis quando temos 3 elementos. ------ Para um número n arbitrário, utilizaremos o princípio fundamental da contagem. Neste caso teremos que especificar essa ideia de encontrar as permutações como um problema de escolhas. A primeira ideia, é que fazemos as escolhas de cada um dos elementos consecutivamente, em n etapas, onde em cada uma das etapas escolhemos um elemento, até chegarmos ao n-ésimo elemento. Ao realizar essas escolhas em n etapas, podemos utilizar o princípio da contagem porque em cada etapa sempre temos o mesmo número de possibilidades. Para o primeiro elemento sempre temos n possibilidades. Para o segundo elemento, temos todas as possibilidades, exceto o elemento que escolhemos na primeira etapa, então temos n-1 Princípio fundamental da contagem Permutação possibilidades. E assim por diante, até a n-ésima etapa, onde todos os outros elementos terão sido escolhidos, então temos apenas 1 possibilidade para escolher. 1ª etapa: escolho 1º elemento → n possibilidades 2ª etapa: escolho 2º elemento → n-1 possibilidades 3ª etapa: escolho 3º elemento → n-2 possibilidades ... nª etapa: escolho n-ésimo elemento → 1 possibilidade Assim, usando o princípio fundamental da contagem, o número total de possibilidades, que é o número de permutações (# permutações), será exatamente o produto de todas as possibilidades: # permutações de n elementos = n. (n-1). (n-2). ... .1 = n! Independentemente de quais são os elementos, depende apenas de quantos são os elementos, do número de elementos. Permutações de n elementos será sempre igual a n! exemplo De quantas formas podemos embaralhar um deck de 52 cartas? Agora, este é um caso de permutação, porque em cada embaralhamento você estabelece uma ordem das cartas. Se temos 52 elementos, o número possível de permutações é 52! ≈ 8.1067 exemplo De quantas formas possíveis podemos organizar livros em uma estante, dado que eles estão escritos em línguas diferentes. Temos 5 livros em português, 7 livros em inglês e 4 livros em espanhol. - De quantas formas podemos organizá-los de forma que os livros da mesma língua estejam juntos? 1ª escolha: ordem das línguas 2ª escolha: ordem dos livros em português; 3ª escolha: ordem dos livros em inglês; 4ª escolha: ordem dos livros em espanhol; Uma vez que sabemos a ordem das línguas, sabemos onde colocar os livros em português, espanhol e inglês. Assim, focamos depois os livros de cada uma das línguas, a organização interna em cada língua. 1ª escolha: ordem das línguas → 3 possibilidades 2ª escolha: ordem dos livros em português → 5 possibilidades 3ª escolha: ordem dos livros em inglês → 7 possibilidades 4ª escolha: ordem dos livros em espanhol → 4 possibilidades # permutações = 3! 5! 7! 4! = 8709x104 - De quantas formas podemos organizá-los, ignorando a língua deles? Neste caso temos 16 elementos, basta fazer 16! = 2,09x1013 Temos um número muito maior de possibilidades porque temos mais maneiras de embaralhar os livros. O próximo problema de combinação importante é o problema dos arranjos, que é uma espécie de versão parcial do problema das permutações. No caso da permutação, queríamos saber o número de maneiras que poderíamos organizar, ou seja, se trata do número de ordenamentos de n elementos: - Permutação: # ordenamentos de n elementos Já nos arranjos temos a ideia de n elementos distinguíveis entre si e escolhemos, sem repetição, m elementos, onde a ordem importa. - Arranjo: n elementos distinguíveis; escolhe m sem repetição, importa a ordem. Exemplo Supondo que temos 4 elementos (A, B, C, D) → n = 4, e dentre essas 4 letras, vamos escolher 2 → m = 2. Em outras palavras, queremos fazer a escolha de 2 letras dentre 4 possibilidades, sem repetição, e a ordem da escolha importa. Neste caso as possibilidades seriam: AB BA CA DA AC BC CB DB AD BD CD DC Temos 12 possibilidades de arranjo de 4 elementos tomados 2 a 2. ------- Agora vamos abstrair para um caso em que temos n elementos, e queremos escolher m elementos, onde a ordem em que tiramos cada um deles importa. Pelo princípio fundamental da contagem, seguimos inicialmente a mesma ideia da permutação, mas iremos parar no meio do caminho. Aqui também consideramos que temos uma primeira etapa, onde temos todas as possibilidades de escolher os elementos, depois na segunda etapa temos todas as possiblidades, menos o elemento que escolhemos na etapa anterior, e assim por diante. Desta forma temos: 1ª etapa: escolho 1º elemento → n possibilidades 2ª etapa: escolho 2º elemento → n–1 possibilidades 3ª etapa: escolho 3º elemento → n–2 possibilidades ... mª etapa: escolho n-ésimo elemento → n–m+1 possibilidade Ou seja, os passos sãoos mesmos, mas neste caso, não precisamos, necessariamente, chegar até o n-ésimo elemento, nós vamos até o m-ésimo elemento. Para entende porque no ultimo elemento temos n-m+1 possibilidades, note o número da etapa e o número de possibilidades: em todas elas, ao somarmos o número da etapa, com o número de possibilidades obtemos n+1, isso precisa ocorrer porque a cada escolha, aumentamos em 1 o número de etapas, e diminuindo em 1 a possibilidades de escolha. Por isso no m-ésimo elemento, sabemos que o número da etapa, mais o número de possibilidades deve resultar em n+1, por este motivo o número de possibilidades fica n-m+1. Agora, utilizando o principio fundamental da contagem, precisamos olhar para o produto de todas essas possibilidades ao longo de todas as etapas, assim o número de arranjos de n (# arranjos n) selecionados de m em m (An,,m), será: # arranjos de n, mam (An,,m) = n.(n–1).(n–2)...(n–m+1) Essa fórmula possui um jeito mais simples de ser escrito: n. (n–1). (n–2)...(n–m+1) . (n–m). (n–m–1)...3. 2. 1 (n–m). (n–m–1)...3. 2. 1 Como multiplicamos e dividimos por um mesmo valor, é como se tivéssemos multiplicado por 1, portanto não alteramos o valor do arranjo. Agora, ao olharmos o que acontece em cada uma das linhas, perceberemos que, em cima, temos exatamente o produto de todos os elementos de n até 1, ou seja, n!. E no denominador temos o produto Arranjo de todos os elementos de n–m até 1, ou seja, temos (n–m)!. Assim, temos que o arranjo de n elementos, selecionados de m a m, é: # An,m = 𝑛! (𝑛−𝑚)! Exemplo Imagine que temos uma caixa contendo 20 bolas numeradas de 1 a 20. Escolhemos 4 bolas, sem reposição. O número de possibilidades que podemos escolher essas 4 bolas, com a ordem importando, será exatamente o número de arranjos de 20 elementos tomados 4 a 4. # A20,4 = 20! (20−16)! ≈ 1,5. 105 Exemplo Qual a probabilidade de ganharmos na megasena? A ideia do experimento aleatório é que temos uma caixa contendo 60 bolas enumeradas de 1 a 60. Retiramos, dessa caixa, 6 bolas, sem reposição, mas neste caso a ordem não importa. Se os valores dessas 6 bolas baterem com 6 valores pré-estabelecidos, ganhamos o jogo. Neste caso, nosso espaço amostral seriam todos os arranjos possíveis de 1 a 60, tomados de 6 a 6: Ω = {A60,6} O evento em que ganhamos é qualquer permutação dos 6 valores escolhidos, isso porque não importa a ordem dos números sorteados, basta eles serem iguais aos valores pré-estabelecidos. Qualquer uma das permutações das 6 bolas sorteadas me faz ganhar a megasena, todos me dão a realização onde ganhamos o jogo: E = {permutações dos 6 valores pré-estabelecidos} Podemos dizer que o espaço amostral é equiprovável pelo princípio da indiferença. Como não temos reposição, não temos os problemas dos dados, onde podíamos ter realizações repetidas. Então ainda temos simetria no arranjo, porque não há outro motivo para pensar que a realização será mais provável que outra. Formalizaremos essa ideia mais adiante no curso, mas a ideia é que quando temos esses exercícios sem reposição, a equiprobabilidade de cada uma das etapas acaba implicando que a probabilidade é um processo como um todo. Tendo isso em mente, a probabilidade será: Pr(E⎟eq) = ⎟E⎟ ⎟Ω⎟ = #𝑝𝑒𝑟𝑚𝑢𝑡𝑎çõ𝑒𝑠𝑑𝑒6𝑒𝑙𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 𝐴60,6 Sabemos que: ⎟E⎟= 6! ⎟Ω⎟= 60! (60−6)! = 60! 54! Portanto: Pr(megasena⎟eq) = ⎟E⎟ ⎟Ω⎟ = 54!6! 60! ≈ 1 5.107 (1 em 50 milhões)
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