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Anderson Soares 5ºP IESVAP nódulos nódulos TIREOIDIANOS Nódulos tireoidianos (NT) são um achado clínico comum, com prevalência de 3 a 7% com base na palpação. À ultrassonografia (US), a prevalência de NT na população geral é estimada em 20 a 76%, percentual similar ao relatado em estudos de necropsia. Além disso, em 20 a 48% dos pacientes com um nódulo tireoidiano palpável, são encontrados outros nódulos na investigação por US. Os NT são mais comuns em pessoas idosas, em mulheres, em indivíduos com deficiência de iodo e naqueles com história de exposição à radiação. A doença nodular da tireoide, que contempla nódulos solitários e bócio multinodular, é, portanto, um problema clínico corriqueiro, com etiologias diversas e preponderantemente benignas, mais comum em mulheres, idosos e em regiões com deficiência de iodo. As causas mais frequentes de NT são cistos coloides e tireoidites (80% dos casos), além de neoplasias foliculares benignas (10 a 15%) e carcinoma (5 a 10%). O mecanismo de formação de NT é pobremente entendido. Embora o TSH seja o principal estimulador da função celular tireoidiana normal, seu papel como fator de crescimento na doença nodular é controverso. Outros fatores de crescimento atuam diretamente nas células foliculares, porém a relação entre esses fatores e o TSH é complexa e ainda pouco compreendida. Parece que tais fatores estão também envolvidos em mutações que, em muitos casos, determinariam o surgimento da doença nodular tireoidiana. A menos que nódulos de tireoide, únicos ou múltiplos, causem obstrução ou sejam cosmeticamente perturbadores, sua massa por si só não causa problemas. As principais preocupações então são: (1) se são ou não cânceres ou, se forem, se são letais e (2) se causam ou não disfunção da tireoide. Fatores de risco Os fatores associados a um risco aumentado de nódulos da tireoide e bócio incluem: • Fumar, especialmente em áreas de deficiência leve de iodo • Obesidade e síndrome metabólica • O consumo de álcool está associado ao aumento da tireoide, mais em mulheres • Níveis de fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1) – Associado a nódulos em homens e bócio em homens e mulheres • Miomas uterinos – Em um relatório, mulheres com miomas tiveram um risco duas vezes maior de nódulos tireoidianos em comparação com mulheres com útero normal Os fatores associados a uma possível diminuição do risco incluem: • Uso de contraceptivos orais • Uso de estatinas (associado a um risco reduzido de nódulos na ultrassonografia) Etiologia Causas de nódulos na tireoide Benigno Maligno Bócio multinodular (esporádico) ("adenoma colóide") Carcinoma papilífero Tireoidite de Hashimoto (linfocítica crônica) Carcinoma folicular Cistos (coloides, simples ou hemorrágicos) Minimamente ou amplamente invasivo Adenomas foliculares Tipo oxifílico (célula de Hürthle) Adenomas macrofoliculares Neoplasia folicular não invasiva da tireoide com características nucleares papilares Adenomas microfoliculares ou celulares Carcinoma medular NIFTP (tumor folicular não invasivo com características nucleares papilares)* Carcinoma anaplásico Adenomas de células de Hürthle (células oxifílicas) Linfoma primário de tireoide Padrões macro ou microfoliculares Carcinoma metastático (mama, células renais, outros) nódulos Anderson Soares 5ºP IESVAP * Anteriormente chamado de câncer papilar variante folicular não invasivo. O nódulo requer excisão cirúrgica para diagnóstico. Nódulos macrofoliculares — Os nódulos tireoidianos macrofoliculares benignos representam dois processos distintos: adenomas monoclonais verdadeiros e nódulos coloides em um bócio multinodular. A maioria destes últimos nódulos também são monoclonais; eles representam a expansão de células relativamente clonogênicas, que se replicam de forma nodular. Ambos os nódulos policlonais e monoclonais parecem semelhantes na punção aspirativa por agulha fina (PAAF; macrofolicular) e são benignos. Neoplasias foliculares (adenomas microfoliculares) — As neoplasias foliculares (adenomas microfoliculares ou celulares representam um problema diagnóstico único. Eles diferem dos carcinomas foliculares apenas pela ausência de invasão capsular ou vascular. Assim, o diagnóstico de câncer folicular in situ não existe, pois a invasão vascular ou capsular é necessária para fazer o diagnóstico de câncer folicular. Até recentemente, a maioria das lesões microfoliculares eram excisadas para excluir câncer, a menos que demonstrassem função autônoma demonstrada pela cintilografia da tireoide. A biópsia de PAAF de nódulos autônomos pode demonstrar um padrão microfolicular, mas esses nódulos são quase sempre benignos. Marcadores moleculares, seja um classificador de expressão gênica de mRNA ou análise mutacional, têm sido usados para triagem de neoplasias foliculares para excisão versus observação. O uso de marcadores moleculares na avaliação de neoplasias foliculares é revisto em detalhes separadamente. Bócios multinodulares — O processo de goitrogênese é distinto da neoplasia verdadeira. Foi, portanto, assumido que os bócios multinodulares provavelmente não continham um câncer. Vários estudos sugeriram que a frequência de câncer em bócios nodulares é de aproximadamente 25 a 60 por cento daquela em nódulos solitários. No entanto, um estudo retrospectivo de pacientes com bócio multinodular com um ou mais nódulos dominantes submetidos à biópsia de PAAF guiada por ultrassom descobriu que 5% tinham câncer de tireoide, que é a frequência em pacientes com nódulos solitários. Em outro estudo, o risco de malignidade foi semelhante em um paciente com nódulo único ou múltiplo, mas o risco de malignidade foi maior em um nódulo solitário do que em um nódulo não solitário. Assim, apesar da tendência de biopsiar preferencialmente o nódulo dominante em um bócio multinodular, em um estudo, metade dos cânceres em um bócio multinodular estava em nódulos não dominantes. BÓCIO UNINODULAR TÓXICO A doença nodular que se acompanha de hipertireoidismo pode se caracterizar por ter um nódulo único ou por ser um bócio multinodular (BMN). O bócio uninodular tóxico (BUNT) e o bócio multinodular tóxico (BMNT) têm características clinicoepidemiológicas distintas, mas seus mecanismos patogênicos parecem ser similares. O BUNT é também denominado de adenoma tóxico, adenoma tireoidiano autônomo ou doença de Plummer. Tipicamente, trata-se de um tumor benigno monoclonal, caracterizado por sua capacidade de crescer e produzir T4 e T3 de forma autônoma, ou seja, independentemente do TSH e do mecanismo de retroalimentação negativa da tireoide. Habitualmente, o hipertireoidismo se manifesta quando existe um número suficiente de folículos autônomos no interior do nódulo e, nesses casos, o diâmetro do nódulo é, em geral, ≥ 3 cm. A imensa maioria dos nódulos autônomos é benigna, resultando de mutação somática benigna adquirida.4 O risco de malignidade é muito pequeno (< 1%). Patogênese O AT é um adenoma folicular verdadeiro, na maior parte das vezes monoclonal. A base patogenética, na grande maioria dos casos (62 a 82%), é uma mutação pontual somática no gene do receptor do TSH (TSH-R), frequentemente na terceira alça transmembrânica do receptor. Essas substituições isoladas de nucleotídios provocam alterações aminoácidas pontuais que levam à ativação constitutiva do TSH-R na ausência do TSH.2,7 As mutações somáticas do TSH-R produzem uma ativação constitutiva da proteína de membrana G, gerando uma expansão clonal das células foliculares afetadase sua hiperfunção, com o desenvolvimento posterior de um adenoma hiperfuncionante. Também são descritas mutações do gene RAS, que ativam uma proteinoquinase ativadora da mitogênese (MAPK). Também foram descritas mutações P21, associadas a formas ativas do RAS e que se associam à aneuploidia. Apresentação clínica O paciente ou seus familiares podem perceber o nódulo em função do aumento de volume da região cervical anterior, ou o mesmo pode ser acidentalmente detectado em uma ultrassonografia (US) ou em outros exames de imagem. Enquanto o BMN é mais frequente em idosos, a doença uninodular tóxica ocorre em uma faixa etária mais jovem, em torno dos 40 anos. Frequentemente, o nódulo autônomo apresenta um crescimento indolente. É incomum que esses adenomas produzam hipertireoidismo enquanto seu diâmetro não atingir 3 cm de diâmetro. Raramente, o hipertireoidismo do adenoma tóxico pode evanescer subitamente por necrose hemorrágica central, com resolução do hipertireoidismo. Os pacientes portadores de adenoma tóxico costumam ser oligossintomáticos, mas raramente apresentam complicações cardíacas como fibrilação atrial (mais comum em idosos). Em geral, os sintomas periféricos da tireotoxicose são menos intensos do que na doença de Graves e são mais frequentes em pacientes com mais de 60 anos. Anderson Soares 5ºP IESVAP Figura. Volumoso nódulo no lobo esquerdo (A), que à cintilografia se mostrou hipercaptante, sem visualização do lobo contralateral (B), sendo esse o aspecto clássico do adenoma tóxico. Figura. Bócio tóxico nodular à cintilografia com 131I. A. Nódulo hipercaptante (quente) à esquerda, sem captação no lobo oposto. B. Glândula com captação heterogênea do tecnécio-99m, com áreas quentes e frias, tipicamente no bócio multimodular tóxico. Classificação de bócio • Atóxico ou simples: não há hiperfunção da tireoide. • Tóxico: há hiperfunção da tireoide. • Endêmico: ocorre em áreas geográficas onde o solo, a água e os suprimentos alimentares contêm pouco iodo, ocorrendo deficiência desse mineral. A designação endêmica é usada quando os bócios estão presentes em mais de 10% da população em dada região. • Esporádicos: na ausência de carência de iodo. Pode ser provocado pela ingestão excessiva de substânciasque interferem na síntese dos hormônios tireoidianos como, repolho, couve-flor, cálcio. • Difuso • Uninodular • Multinodular • Mergulhante (invade o mediastino) • Intratorácicos (tireoide ectópica, pois houve um defeito de migração da glândula). • Disormonogenético: falha genética que provoca defeitos nas enzimas que sintetizam os hormôniostireoidianos. • Benigno ou maligno Nódulos Fatores de risco para malignidade Alta suspeita • História familiar de carcinoma medular ou neoplasia endócrina múltipla • Prévia radioterapia de cabeça ou pescoço • Crescimento rápido, especialmente durante a terapia supressiva com L-tiroxina • Nódulo muito firme ou endurecido • Fixação do nódulo às estruturas adjacentes • Paralisia das cordas vocais • Linfadenopatia satélite • Metástase a distância Moderada suspeita • Idade < 20 anos ou > 70 anos • Sexo masculino • História de radioterapia de cabeça ou pescoço • Nódulo > 4 cm • Presença de sintomas compressivos As neoplasias malignas tireoidianas podem se originar de três diferentes tipos de células: as foliculares, as parafoliculares e as não tireoidianas. As células foliculares, que constituem a quase totalidade dos elementos celulares da tireoide, são responsáveis por cerca de 90% ou mais dos carcinomas tireoidianos. Nesses casos, há nítida diferenciação histológica entre os carcinomas bem-diferenciados e os indiferenciados. Os bem-diferenciados, que são a maioria absoluta dos derivados das células foliculares (mais de 90%), são subdivididos em dois grupos: os papilíferos e os foliculares. Os indiferenciados ou anaplásicos constituem menos de 5% dos carcinomas tireoidianos. Por outro lado, os carcinomas medulares são derivados das células parafoliculares, produtoras de calcitonina, e representam 3 a 4% dos carcinomas tireoidianos, e podem ser esporádicos (75 a 80% dos casos) ou, menos comumente, hereditários ou familiares (isoladamente ou associados à neoplasia endócrina múltipla tipo 2). Tumores malignos de origem de células não tireoidianas não ultrapassam 5% do total. Entre eles, destacam-se os linfomas, os sarcomas, as lesões metastáticas, os teratomas e os hemangioendoteliomas. Classificação simplificada dos tumores tireoidianos Benignos • Bócio endêmico • Bócio esporádico • Adenoma folicular e suas variantes o Coloide o Células de Hürthle o Embrionário o Fetal • Adenoma papilífero (provavelmente maligno) Anderson Soares 5ºP IESVAP Malignos • Carcinoma diferenciado o Adenocarcinoma papilífero ▪ Carcinoma papilífero puro ▪ Carcinoma papilífero variante folicular ▪ Outras variantes: células altas; células colunares; oxifílico; esclerosante sólido o Adenocarcinoma folicular e suas variantes (carcinoma de células de Hürthle; carcinoma de células claras; carcinoma de células insulares) ▪ Minimamente invasivo ▪ Amplamente invasivo • Carcinoma medular • Carcinoma indiferenciado (anaplásico) • Miscelânea o Linfoma primário o Sarcoma o Carcinoma de células epidermoides o Fibrossarcoma o Carcinoma mucoepitelial o Tumor metastático Adenoma Folicular O adenoma é constituído por folículos pequenos, muito menores que o normal e geralmente sem colóide. O tumor é delimitado por uma cápsula fibrosa, e o aspecto do tecido neoplásico é regular em todas as áreas. Não há atipias celulares, mitoses ou necrose. Não há infiltração neoplásica da cápsula nem de vasos, o que é o único critério seguro para se diferenciar adenoma de adenocarcinoma. O tecido tiroidiano em volta do tumor mostra atrofia por compressão. O tecido neoplásico é mais compacto que o tecido tiroidiano normal. Os folículos tiroidianos próximos ao tumor são de diâmetro irregular e contêm colóide. As células neoplásicas tendem a arranjar-se em folículos, imitando a estrutura básica do tecido tiroidiano normal. Os folículos têm diâmetro e quantidade de colóide variáveis. Carcinomas Diferenciados Carcinoma papilífero Em diversos estudos, o CPT representa cerca de 80% dos carcinomas tireoidianos. Ocorre em qualquer faixa etária, porém predomina em indivíduos mais jovens (entre a terceira e a quinta década). Seu crescimento em geral é lento e apresenta baixo grau de progressão, de modo que sua detecção leva um longo período. De maneira geral, o prognóstico é bom, e pelo menos 80% dos pacientes permanecem vivos cerca de 10 anos após o diagnóstico. Ele costuma ter excelente evolução nos adultos jovens, e raramente leva a óbito pacientes com menos de 40 a 45 anos. A disseminação do CPT dá-se por meio dos linfáticos intraglandulares, evoluindo do foco inicial para as outras partes da tireoide e para linfonodos cervicais. Dessa forma, lesões multicêntricas na tireoide são comuns e, por ocasião da apresentação, 25% dos pacientes têm metástases cervicais, 20% têm invasão extratireoidiana e 5% apresentam metástases a distância, especialmente para os pulmões. As metástases pulmonares podem ter distribuição miliar ou podem apresentar-se na forma de imagens numulares. Histopatologia Arquitetura Papilífera: As células tendem a dispor-se ao longo de eixos conjuntivo-vasculares ramificados, formando papilas. As células costumam ser cubóides ou colunares baixas, uniformes e bem diferenciadas. Núcleos claros ou em vidro fosco: A cromatina das células do carcinoma papilífero é finae regularmente dispersa, dando ao núcleo um aspecto claro e relativamente homogêneo. A isto se denomina aspecto em vidro fosco. Há também um reforço na periferia do núcleo (a cromatina é mais densa abaixo da membrana nuclear). Pseudoinclusões intranucleares: resultam de invaginações da membrana nuclear contendo citoplasma. A imagem é criada por superposição, não se tratando de inclusão verdadeira, no sentido de um corpúsculo intranuclear. São uma feição comum do carcinoma papilífero. Anderson Soares 5ºP IESVAP Fendas a membrana nuclear: São dobras da membrana que, dependendo do plano de observação, dão aspecto de uma fenda no núcleo, lembrando um grão de café. Em alguns núcleos cortados transversalmente a dobra da membrana nuclear fica bem visível. Corpos psamomatosos: São corpúsculos calcificados, freqüentemente com estrutura lamelada concêntrica, encontrados geralmente nos eixos conjuntivos das papilas. Têm importância para o diagnóstico de carcinoma papilífero porque são muito mais raros em outros tipos de carcinoma da tiróide como o folicular, medular e anaplásico. Componente folicular: Os carcinomas papilíferos têm pelo menos alguns folículos em meio às papilas. Em alguns, o componente folicular pode predominar muito sobre o papilífero, ou o tumor pode ser exclusivamente folicular. Neste caso, o diagnóstico de carcinoma papilífero baseia-se nas características nucleares. Esses carcinomas papilíferos são chamados de variante folicular e se comportam biologicamente como os carcinomas papilíferos habituais, ou seja, são infiltrativos localmente e, geralmente, não são encapsulados. Seu prognóstico é melhor que o do carcinoma folicular verdadeiro. Carcinoma folicular Corresponde a aproximadamente 10% de todos os carcinomas tireoidianos e apresenta maior prevalência em regiões onde a ingestão de iodo é deficiente. Ocorre em um grupo etário mais avançado do que o CPT, com pico de incidência na quinta década de vida. A exemplo do CPT, o carcinoma folicular geralmente é diagnosticado pelo achado de nódulo único na tireoide, descoberto casualmente. Outras vezes, porém, apresenta-se como crescimento recente de um nódulo em bócio de longa duração ou por metástase a distância (15 a 20% dos casos), com envolvimento pulmonar ou comprometimento ósseo, associado ou não a fraturas patológicas. Vale ressaltar que metástases a distância podem ser a manifestação inicial do carcinoma folicular, mesmo quando o tumor é < 1 cm. Menos comuns são as metástases cerebrais, que, excepcionalmente, são volumosas. Diferentemente do carcinoma papilífero, o folicular raramente cursa com metástases para linfonodos cervicais. Além disso, são também raras metástases cutâneas, hepáticas, adrenais, renais, cardíacas ou para a região selar. Histopatologia O tumor é geralmente um nódulo único, que pode ser bem delimitado ou infiltrativo. Quando bem delimitado não é possível distinguí-lo macroscopicamente de um adenoma folicular. Microscopicamente, o carcinoma folicular reproduz mais ou menos fielmente a arquitetura folicular da tiróide. É importante que as características nucleares do carcinoma papilífero (cromatina fina e bem distribuída, dando aspecto em vidro fosco, pseudoinclusões intranucleares e sulcos da membrana nuclear) não são encontradas no carcinoma folicular, e os corpos psamomatosos são raros. Ao contrário dos carcinomas papilíferos, os carcinomas foliculares têm pouca propensão a invadir linfáticos. Há tendência a metástases por via hematogênica, principalmente para ossos, pulmões e fígado. Quando há invasão microscópica da cápsula ou vasos, metástases à distância são encontradas em cerca de metade dos casos. Núcleos: Os núcleos diferem dos do carcinoma papilífero. Têm cromatina mais grosseira e salpicada, sem acentuação periférica. Anderson Soares 5ºP IESVAP Manifestações clínicas Os nódulos de tireoide geralmente são identificados quando o paciente percebe aumento da região cervical, quando o médico realiza a palpação da tireoide ou quando é realizado exame de imagem com outra finalidade (achado incidental). A maioria das pessoas com nódulos de tireoide é assintomática (90%), mas uma pequena parcela pode apresentar sintomas decorrentes de disfunção tireoidiana, como hipotireoidismo ou hipertireoidismo (5%), ou sintomas compressivos (5%). Esses últimos dependem do tamanho e localização do nódulo e podem incluir disfagia, rouquidão, tosse e dispneia. Essas queixas são mais comuns em indivíduos com nódulos grandes, acima de 3 cm, localizados no lobo esquerdo e anteriormente à traquéia. Nódulos únicos e menores de 3 cm costumam ser assintomáticos e a presença de sintomas sugere investigação de outras etiologias não tireoidianas. Diagnóstico Avaliação laboratorial da função tireoidiana A dosagem de TSH e T4 livre deve obrigatoriamente fazer parte da avaliação inicial. A maioria dos pacientes com Ca de tireoide se apresenta eutireóidea. O achado de hipertireoidismo em paciente com bócio nodular é um forte indicativo contra o diagnóstico de neoplasia maligna. Anticorpos antitireoperoxidase (anti-TPO), em títulos elevados, confirmam o diagnóstico de TH, mas não descartam a concomitância de uma neoplasia tireoidiana. A elevação da calcitonina sérica (sCT) é o achado mais característico do Ca medular da tireoide (CMT). Também é recomendada se os resultados citológicos das amostras obtidas por PAAF forem sugestivos de CMT, em casos de amostras citológicas insatisfatórias e em pacientes com bócio nodular a serem submetidos à tireoidectomia, para evitarmos que o paciente se submeta a uma abordagem cirúrgica menos extensa do que a necessária. OBS.: os níveis de calcitonina podem estar aumentados em pacientes com tumores endócrinos do pâncreas e pulmão, insuficiência renal, doença autoimune tireoidiana ou hipergastrinemia. Dosagem sérica do hormônio tireoestimulante (TSH): • Diminuição de TSH: realizar cintilografia o Nódulo hipercaptante: tratamento de hipotireoidismo o Nódulo hipocaptante: avaliar punção aspirativa por agulha fina (PAAF) • Aumento de TSH ou normal: dosar antitireoperoxidase (antiTPO) e avaliar PAAF Não são recomendadas na avaliação inicial: • Dosagem sérica de tireoglobulina • Dosagem sérica de calcitonina. Observação: exceto se paciente com suspeita clínica ou familiar de carcinoma medular da tireoide ou NEM2. Avaliação por imagem Cintilografia A cintilografia com radioiodo ou tecnécio tem pouco valor para distinguir lesões malignas de benignas. A maior parte dos nódulos mostra-se hipocaptante (frios) ou normocaptante à cintilografia (> 90%), porém não mais do que 15% dos nódulos “frios” são malignos. Em contrapartida, é excepcional o achado de malignidade em nódulos “quentes” ou hipercaptantes (1 a 2%). Cintilografia tireoidiana deve ser solicitada se TSH suprimido. Figura. Nódulo no lobo direito (setas), hipocaptante à cintilografia (A) e sólido à ultrassonografia (B). Não mais de 15% dos nódulos com essas características são malignos. Ultrassonografia A US da tireoide é o melhor exame de imagem para a detecção de nódulos, com sensibilidade de aproximadamente 95%, superior a outros métodos mais sofisticados, como a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM). Além disso, não raramente, ela modifica a conduta clínica baseada apenas no exame da palpação tireoidiana. A US torna possível a visualização de nódulos não palpáveis, avalia com precisão as características desses nódulos (volume, número) e diferencia cistos simples, que têm baixo riscode malignidade, de nódulos sólidos ou mistos. Além disso, a US pode também servir como guia para procedimentos diagnósticos (p. ex., PAAF) e terapêuticos (p. ex., aspiração de cistos, injeção de etanol e terapia com laser), assim como o monitoramento de crescimento do nódulo. A grande maioria (82 a 91%) dos cânceres de tireoide são sólidos ou com pouco conteúdo cístico. De acordo com a ecogenicidade, os nódulos sólidos podem ser classificados como isoecoicos (com amplitude de ecos igual à do parênquima tireoidiano normal), hipoecoicos (com amplitude de ecos menor do que o parênquima tireoidiano normal) ou hiperecoicos (amplitude de ecos maior do que o parênquima tireoidiano normal). A baixa ecogenicidade isolada é uma Anderson Soares 5ºP IESVAP característica ultrassonográfica importante, com valor preditivo positivo para malignidade de 50 a 63%. Figura. Ultrassonografia tireoidiana. A. Aspecto normal. B. Nódulo hipoecoico de 0,8 cm, com limites bem precisos, detectado incidentalmente. Outros achados são fluxo sanguíneo intranodular aumentado ao Doppler colorido, aumento do diâmetro anteroposterior em relação ao transverso e, particularmente, a presença de adenomegalia regional suspeita. A classificação proposta por Chammas et al. separa os nódulos em cinco padrões, de acordo com os achados do Doppler colorido: • Ausência de vascularização (padrão I) • Apenas vascularização periférica (padrão II) • Vascularização periférica maior ou igual à central (padrão III) • Vascularização central maior do que a periférica (padrão IV) • Apenas vascularização central (padrão V). *os padrões IV e V têm maior probabilidade de malignidade. Figura. Doppler colorido em nódulos tireoidianos, de acordo com a classificação de Chammas: (A) fluxo com padrão II (vascularização exclusivamente periférica) e (B) fluxo com padrão IV (vascularização predominantemente central) Além disso, microcalcificações são preditivas de malignidade Probabilidade para malignidade em nódulos tireoidianos, de acordo com suas características ultrassonográficas Tomografia computadorizada e ressonância magnética Avaliações por meio de TC ou RM não possibilitam diferenciar lesões benignas de malignas e são exames raramente indicados na avaliação do nódulo tireoidiano. São úteis na avaliação de bócios mergulhantes e na avaliação de compressão traqueal. Punção aspirativa com agulha fina A PAAF é o melhor método para diferenciação entre lesões benignas e malignas da tireoide, sendo tecnicamente simples e de fácil execução ambulatorial. Segue o sistema Bethesda para laudos citopatológicos de tireoide: Cetegorias Estimado risco de malignidade % I – Amostra não diagnóstica 1 a 4 II – Benigno 0 a 3 III – Atipia de significado indeterminado (AUS) ou lesão folicular de significado indeterminado (FLUS) 5 a 15 IV – Neoplasia folicular (FN) ou suspeito de neoplasia folicular (SFN) 15 a 30 V – Suspeito para 60 a 75 VI – Maligno malignidade 97 a 99 PAAF guiada por US deve ser solicitada diante de: • Nódulos > 1 cm + US com alta suspeição • Nódulos > 2 cm + US com suspeição intermediária • Nódulos > 2 cm + US com leve suspeição + aumento significativo de tamanho, história médica de cirurgia tireoidiana ou terapia ablativa. Observações: • Nódulos entre 0,5 e 1 cm com características US de alta ou intermediária suspeição podem ser acompanhados ou submetidos a PAAF Anderson Soares 5ºP IESVAP • Priorizar PAAF em situações como linfonodos suspeitos, história familiar de câncer de tireoide e história clínica de disfonia • Nódulos < 0,5 cm devem ser acompanhados com US (sem PAAF), independentemente das características ultrassonográficas • PAAF de linfonodos: em caso de linfonodo suspeito em US (arredondados com perda do hilo) • PAAF de nódulos complexos: abordar o componente sólido da lesão, principalmente em áreas vascularizadas. Indicação de punção aspirativa por agulha fina (PAAF) de acordo com as características clínicas dos nódulos. Presença do nódulo O que fazer: Hoje é consenso que a PAAF representa o principal exame de investigação e, sempre que possível, deve ser guiada por US. Inicialmente, solicita-se TSH, T4 livre e US. Na ausência de hipertireoidismo, todo nódulo sólido ou predominantemente sólido ≥ 1 cm (ou ≥ 1,5 cm, se for de baixo risco) deve ser puncionado. No caso de nódulos menores (≥ 0,6 e < 1 cm), só indicamos PAAF se houver imagens ultrassonográficas suspeitas de malignidade no nódulo ou em um ou mais linfonodos cervicais. Na dependência do laudo citopatológico, o caso será assim conduzido: Categoria VI (maligno): indicamos tireoidectomia total (TT), na grande maioria das vezes seguida de ablação do tecido tireoidiano remanescente com iodo radioativo, 8 a 12 semanas após cirurgia Categoria II (benigno): o seguimento do paciente poderá ser feito com US, inicialmente a cada ano e depois em intervalos maiores. Costumamos repetir a PAAF uma vez, após 12 meses (particularmente, nos pacientes com aspecto de maior suspeita à US). As recentes diretrizes da ATA recomendam repetir a PAAF apenas diante da detecção de crescimento nodular > 20% em pelo menos duas dimensões, aumento no volume total > 50% ou aparecimento de características ultrassonográficas sugestivas de malignidade.1 Se a segunda amostra citológica for benigna, as chances de falso-negativo para malignidade são praticamente nulas e não há necessidade de avaliações ultrassonográficas posteriores Categoria III (AUS/FLUS): deve-se repetir a PAAF e, diante da manutenção do resultado, costumamos indicar cirurgia, na dependência dos fatores de risco, aspectos ultrassonográficos e preferência do paciente. Nesta situação, entre pacientes submetidos à cirurgia, o risco de malignidade variou de 6 a 48% (média de 16%). Uma outra opção bastante interessante, se disponível, seriam os testes moleculares (comentados a seguir) Categoria IV (FN/SFN): deve-se repetir a PAAF e, diante da manutenção do resultado, costumamos indicar cirurgia, sobretudo nos pacientes com aspectos ultrassonográficos de maior risco, e cujo nódulo não seja hipercaptante à cintilografia. Nesta categoria, o risco estimado de malignidade é de 15 a 30% e, entre os pacientes submetidos à cirurgia, situou-se entre 16 e 33% (média de 26%). Se disponíveis, os testes genéticos podem ser muito úteis na decisão cirúrgica. De fato, nódulos citologicamente classificados como AUS/FLUS ou FN/SFN, e que sejam positivos para mutações de BRAFV600E, RET/PTC ou PAX8/PPARc, têm um risco estimado de malignidade > 95% e devem, pois, ser considerados como categoria similar a carcinoma da tireoide citologicamente confirmado.1 No entanto, um achado negativo não exclui malignidade (44 a 100% de sensibilidade) Categoria V (suspeito de malignidade): deve-se repetir a PAAF e, mantendo-se o diagnóstico, a conduta é sempre cirúrgica, devido ao estimado risco de 60 a 75% para malignidade. Em alguns estudos, esse risco foi confirmado em até 87% das vezes à histopatologia. Categoria I (não diagnóstico ou insatisfatório): submetemos o paciente à nova PAAF (sempre guiada por US), que possibilitará a definição diagnóstica em cerca de 60 a 80% dos casos, sobretudo quando o componente cístico for < 50%. Persistindo a indefinição, indicamos a cirurgia para os pacientes considerados de alto risco pela avaliação clínica e ultrassonográfica (p. ex., presença de sintomas compressivos; nódulos ≥ 4 cm ou nódulos menores que apresentem aspectos de suspeita maior para malignidade à US). Os demais pacientes poderãoser acompanhados clinicamente, com seguimento periódico por meio de US. Anderson Soares 5ºP IESVAP Anderson Soares 5ºP IESVAP Figura. Seguimento do carcinoma bem diferenciado de tireoide Referências Endocrinologia clínica / Lucio Vilar ... [et al.] - 6. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia. TelessaúdeRS (TelessaúdeRS-UFRGS). Telecondutas: nódulo de tireoide: versão digital 2022. Porto Alegre: TelessaúdeRS- UFRGS, 4 fev. 2022. ROSS, Douglas S. et al. Overview of thyroid nodule formation. U: UpToDate, Cooper DS [Internet] Waltham MA: UpToDate, 2017.
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