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Universidade Tiradentes - Medicina P4 Neoplasias da tireoide TUTORIA INTRODUÇÃO: ● O nódulo tireoidiano solitário é um aumento discreto e palpável na glândula tireoide supostamente normal. ● A incidência dos nódulos palpáveis solitários na população adulta dos Estados Unidos varia entre 1% e 10%, mas é significativamente elevada nas regiões de bócio endêmico. ● Os nódulos simples são cerca de quatro vezes mais comuns em mulheres que em homens e aumenta ao longo da vida. ● A principal preocupação em pessoas que apresentam nódulos na tireoide é a possibilidade de neoplasia maligna. ● A maioria dos nódulos solitários da tireoide se mostra como lesões não neoplásicas localizadas. (p. ex., nódulo dominante no bócio multinodular, cistos simples ou focos de tireoidite) ou neoplasias benignas, tais como os adenomas foliculares. ● As neoplasias benignas se sobrepõem numericamente aos carcinomas tireoidianos na razão de aproximadamente 10:1. ● Os nódulos solitários malignos representam cerca de 15 mil novos casos de carcinoma tireoidiano por ano nos Estados Unidos. ● Mais de 90% dos pacientes afetados estão vivos 20 anos após serem diagnosticados. Diversos critérios clínicos fornecem pistas sobre a natureza de um nódulo tireoidiano: ● Nódulos solitários: em geral, são mais suscetíveis à neoplasia que nódulos múltiplos. ● Nódulos em pacientes jovens são mais suscetíveis de neoplasia. ● Nódulos em homens são mais suscetíveis de neoplasia que os de mulheres. ● Um histórico de tratamento por radiação da cabeça e do pescoço está associado a uma incidência aumentada de malignidade tireoidiana. 1 2 ● Nódulos funcionantes que captam iodo radioativo nos estudos de imagem (nódulos quentes) são muito mais suscetíveis de benignidade. ● A avaliação morfológica de determinado nódulo tireoidiano, por aspiração com agulha fina e ressecção cirúrgica, fornece a informação mais definitiva sobre sua natureza. Conceito: . ● O adenoma é um tipo de tumor benigno que pode se desenvolver em glândulas e todo o corpo. Epidemiologia: . ● As neoplasias benignas se sobrepõem numericamente aos carcinomas tireoidianos na razão de aproximadamente 10:1. Fatores de risco: . Fisiopatologia: . ● As mutações somáticas da via de sinalização do receptor de TSH são encontradas nos adenomas tóxicos, assim como no bócio multinodular tóxico. ● As mutações de ganho de função em um dos dois componentes desse sistema de sinalização – próprio gene codificador do receptor de TSH (TSHR) ou na subunidade-α de Gs (GNAS) – fazem com que as células foliculares secretem o hormônio tireoidiano independentemente da estimulação de TSH (“autonomia tireoidiana”). ● Esse processo leva a sintomas de hipertireoidismo e produz um nódulo tireoidiano “quente” na imagem. ● Em geral, as mutações na via de sinalização do TSHR estão presentes em pouco mais da metade dos nódulos tireoidianos tóxicos. ● Os adenomas tóxicos e o bócio multinodular tóxico não parecem ser precursores de malignidade. ● A minoria (< 20%) dos adenomas foliculares não funcionantes apresenta mutações de RAS ou PIK3CA, que codifica a subunidade da PI-3-cinase, ou carrega um gene fusionado PAX8-PPARG. Classificação: . Quadro clínico: . 2 3 ● São tipicamente massas solitárias, discretas e derivadas do epitélio folicular, razão pela qual são conhecidos como adenomas foliculares. ● O adenoma tireoidiano típico é uma lesão solitária, esférica e encapsulada, a qual é bem demarcada do parênquima tireoidiano circundante por uma cápsula bem definida, completa e íntegra. ● Os adenomas foliculares têm, em média, cerca de 3 cm de diâmetro. ● A cor varia de branco-acinzentado a vermelho-pardacento, dependendo da celularidade do adenoma e de seu conteúdo coloidal. ● Áreas de hemorragia, fibrose, calcificação e mudanças císticas, similares às encontradas nos bócios multinodulares, são comuns. ● Microscopicamente, as células constituintes costumam formar folículos de aparência uniforme que contêm colóide. ● Clinicamente, pode ser difícil distinguir dos nódulos dominantes da hiperplasia folicular ou dos carcinomas foliculares. ● Em geral, os adenomas foliculares não são precursores dos carcinomas; ● Pelo menos um subgrupo de carcinomas foliculares se desenvolve em adenomas preexistentes. ● Em sua maioria, os adenomas são não funcionantes. ● Um pequeno subconjunto produz hormônios tireoidianos e causa tireotoxicose clinicamente aparente. ● A produção hormonal em adenomas funcionantes é independente da estimulação de TSH. ● Muitos adenomas foliculares se apresentam como massas indolores unilaterais, que são descobertas durante um exame físico de rotina. ● Grandes massas podem produzir sintomas locais, como, dificuldade de engolir. ● Os adenomas não funcionantes captam menos iodo radioativo do que o parênquima tireoidiano normal, logo aparecem como nódulos frios. ● Cerca de 10% dos nódulos frios são malignos. ● Adenomas foliculares não apresentam recorrência ou metástase e têm um prognóstico excelente. ● Carcinoma: é um tumor maligno desenvolvido a partir de células epiteliais. ● Os carcinomas da tireoide têm incidência relativamente incomum nos Estados Unidos, sendo responsáveis por cerca de 1,5% de todos os cânceres. ● Mais comum na população feminina entre os pacientes que desenvolveram carcinoma tireoidiano no início ou no meio da vida adulta. ● Casos que se apresentam na infância e tardiamente na vida adulta são distribuídos igualmente entre os sexos. Os principais subtipos de carcinoma tireoidiano e suas frequências relativas são: ● Carcinoma papilífero (> 85% dos casos). ● Carcinoma folicular (5% a 15% dos casos). 3 4 ● Carcinoma anaplásico (indiferenciado) (< 5% dos casos). ● Carcinoma medular (5% dos casos). ● A maioria dos carcinomas tireoidianos (exceto os medulares) deriva do epitélio folicular tireoidiano, e a maioria é formada por lesões bem definidas. ● O maior fator de risco predisponente para o câncer tireoidiano é a exposição à radiação ionizante, particularmente durante as primeiras duas décadas de vida. ● A deficiência de iodo na alimentação (e, por extensão, sua associação com o bócio) está ligada à alta frequência de carcinomas foliculares. PATOGÊNESE: ● Eventos genéticos distintos estão envolvidos na patogênese das quatro principais variantes histológicas de câncer tireoidiano. ● Os carcinomas medulares não surgem do epitélio folicular. ● As alterações genéticas nas três neoplasias malignas derivadas das células foliculares ocorrem nas vias de sinalização do receptor do fator de crescimento. ● Em células normais, essas vias são transitoriamente ativadas pela ligação de fatores de crescimento ligantes solúveis ao domínio extracelular do receptor tirosina-cinase, o que resulta em autofosforilação do domínio citoplasmático do receptor. ● Isso, por sua vez, aciona eventos que resultam em ativação de RAS e dois braços de sinalização da cadeia que envolvem cinase de MAP (MAPK) e PI-3-cinase (PI3K). ● Nos carcinomas tireoidianos, assim como em muitos cânceres, as mutações de ganho de função em componentes dessas vias levam à ativação permanente, gerando proliferação celular excessiva e aumento da sobrevivência das células. 4 5 1. CARCINOMA PAPILÍFERO: A: Aspecto macroscópico com estruturas papilares grosseiramente discerníveis. B: Esse exemplo contém papilas bem formadas. C: Mostra células com núcleos de aparência vazia característicos, às vezes chamados de núcleos “olho da órfã Annie”. D: As inclusões intranucleares características são visíveis em algumas das células aspiradas. Conceito: . ● O carcinoma papilar ou papilífero da tireóide é um tumor maligno, que se desenvolve a partir das célulasfoliculares, sendo considerado bem diferenciado. Epidemiologia: . ● Forma mais comum de câncer tireoidiano. ● Responsáveis por aproximadamente 85% das malignidades tireoidianas primárias nos Estados Unidos. ● Responsáveis pela maior parte dos carcinomas associados à exposição prévia à radiação ionizante. Fatores de risco: . ● Maior incidência na faixa etária de 25-50 anos ● Exposição prévia à radiação ionizante. Fisiopatologia: . ● A maioria dos carcinomas papilíferos apresenta mutações de ganho de função envolvendo os genes que codificam os receptores de tirosina-cinases RET ou NTRK1, ou na serina/treonina-cinase BRAF, que está na via de MAPK. ● O gene RET está localizado no cromossomo 10q11. ● O gene RET codifica o receptor tirosina-cinase, que é normalmente expressado nas células foliculares tireoidianas. ● Nos cânceres papilares, tanto uma inversão quanto uma translocação colocam o domínio tirosina-cinase do RET sob o controle transcricional de genes que são constitutivamente expressados no epitélio da tireoide. ● Os novos genes de fusão formados são conhecidos como RET/PTC e estão presentes em aproximadamente 20% a 40% dos cânceres tireoidianos papilíferos. ● A frequência dos rearranjos RET/PTC está significativamente elevada nos cânceres papilíferos. ● Os rearranjos de RET/PTC produzem genes que codificam proteínas de fusão com atividade contínua da tirosina-cinase. ● De modo similar, as inversões paracêntricas ou translocações do NTRK1 estão presentes em 5% a 10% dos cânceres tireoidianos. ● Esses eventos genéticos também produzem proteínas de fusão NTRK1 continuamente ativas. ● BRAF codifica um componente de sinalização intermediário na via da MAP cinase. ● Cerca de um terço a metade dos carcinomas tireoidianos 5 6 papilíferos abrigam mutações de ganho de função no gene BRAF. ● A presença de mutações em BRAF nos carcinomas papilíferos se correlaciona com fatores prognósticos adversos, como a doença metastática e a extensão extratireoidiana. ● Os rearranjos de RET/PTC e as mutações pontuais de BRAF não são observados nos adenomas ou carcinomas foliculares. Quadro clínico: . ● Podem ser solitários ou multifocais. ● Alguns tumores podem estar bem circunscritos e até mesmo encapsulados; outros podem infiltrar-se no parênquima adjacente com margens mal definidas. ● Os tumores podem conter áreas de fibrose e calcificação, e são frequentemente císticos. ● Algumas vezes, a superfície de corte revela focos papilares que apontam para o diagnóstico. ● Carcinomas papilares podem conter papilas ramificadas com um eixo fibrovascular coberto por uma ou múltiplas camadas de células epiteliais cubóides. ● Quando presentes, as papilas do carcinoma papilífero diferem daquelas vistas nas áreas de hiperplasia, por serem mais complexas e apresentarem eixos fibrovasculares densos. ● Os núcleos das células do carcinoma papilífero contêm uma cromatina finamente dispersa, o que confere uma aparência opticamente clara ou vazia. ● Invaginações do citoplasma podem conferir uma aparência de inclusões intranucleares (“pseudoinclusões”) ou sulcos intranucleares. ● Focos de invasão linfática pelo tumor estão frequentemente presentes, mas o envolvimento de vasos sanguíneos é relativamente raro. ● Metástases para os linfonodos cervicais adjacentes ocorrem em mais da metade dos casos. ● Variantes do carcinoma papilífero: ○ Variante folicular: mais comum. Características nucleares do carcinoma papilífero e uma arquitetura quase totalmente folicular. Pode ser ou encapsulada ou mal circunscrita e infiltrativa. Prognóstico geralmente favorável. ○ Variante de células-altas: apresenta células altas e colunares com citoplasma intensamente eosinófilo revestindo as estruturas papilares. Tendem a ocorrer em indivíduos mais velhos e apresentam maiores incidência de invasão vascular, extensão extratireoidiana e metástases cervicais. ○ Variante esclerosante: difusa incomum de carcinoma papilífero ocorre em indivíduos mais jovens, incluindo crianças. Apresenta um padrão de crescimento papilífero entremeado com áreas sólidas que contêm ninhos de metaplasia escamosa. Há fibrose extensiva e difusa por toda a glândula tireoide. As metástases dos 6 7 linfonodos estão presentes são muito comuns. ○ Microcarcinomas papilíferos: menos de 1 cm em tamanho. Em geral, essas lesões são notadas como um achado incidental. Podem ser precursoras de carcinomas papilíferos típicos. ● A maioria dos carcinomas papilares convencionais se apresenta como nódulos tireoidianos assintomáticos, mas a primeira manifestação pode ser uma massa em um linfonodo cervical. ● A maioria dos carcinomas são nódulos únicos que se movem livremente com a glândula tireoide durante a deglutição e não se distinguem, ao exame, dos nódulos benignos. ● Rouquidão, disfagia, tosse e dispneia sugerem doença avançada. ● Em uma minoria de pacientes, as metástases hematogênicas estão presentes no momento do diagnóstico, mais comumente no pulmão. ● Os cânceres tireoidianos papilíferos têm excelente prognóstico, com uma taxa de sobrevivência de dez anos em mais de 95% dos casos. ● Entre 5% e 20% dos pacientes têm recorrências locais ou regionais, e 10% a 15% apresentam metástases distantes. ● O prognóstico depende de diversos fatores, incluindo idade ( mais de 40 anos), presença de extensão extratireoidiana e de metástases a distância (estágio). 2. CARCINOMA FOLICULAR: A: Superfície de corte de um carcinoma folicular com substituição substancial do lobo da tireóide. O tumor tem coloração castanho-clara e contém pequenos focos de hemorragia. B: Algumas luzes glandulares reconhecíveis contêm colóide. Conceito: . ● Carcinoma folicular, também chamado de carcinoma folicular de tireóide (FTC), é um câncer da glândula tireóide. Epidemiologia: . ● São responsáveis por 5% a 15% dos cânceres primários da tireoide. ● São mais frequentes em áreas com deficiência de iodo na dieta, onde constituem de 25% a 40% dos casos de câncer de tireoide. Fatores de risco: . 7 8 ● Lugares com deficiência de iodo na dieta. ● São mais comuns em mulheres (3:1). ● Se apresentam mais frequentes em idades mais avançadas do que os carcinomas papilíferos, com pico de incidência entre os 40 e os 60 anos. Fisiopatologia: . ● Os carcinomas foliculares estão associados a mutações adquiridas que ativam RAS ou o braço de PI-3K/AKT da via de sinalização do receptor de tirosina-cinase. ● De mutações ativadas em RAS, espera-se o estímulo em ambas as vias de sinalização MAPK e PI3K. ● Cerca de um terço a metade dos carcinomas tireoidianos foliculares abrigam mutações de ponto de ganho de função de RAS ou PIK3CA. ● Tais alterações genéticas são sempre mutuamente exclusivas nos carcinomas foliculares. ● Uma única translocação foi descrita em cerca de um terço a metade dos carcinomas foliculares. ● Essa translocação cria um gene fusionado composto de porções de PAX8 e PPARG. Quadro clínico: . ● São nódulos únicos que podem ser bem circunscritos ou amplamente invasivos. ● As lesões maiores podem penetrar a cápsula e se infiltrar muito além da cápsula tireoidiana até o tecido cervical adjacente. ● Essas lesões se apresentam, aos cortes, nos tons de cinza, pardo ou rosado, podendo ser um pouco translúcidas devido à presença de grandes folículos repletos de colóides. ● Mudanças degenerativas, como fibrose central e focos de calcificação, algumas vezes estão presentes. ● Microscopicamente, a maioria dos carcinomas foliculares é composta de células regularmente uniformes que formam pequenos folículos contendo colóide, que se assemelham muito à tireoide normal. ● Em outroscasos, a diferenciação folicular pode estar menos aparente. ● Não há nenhuma diferença citológica confiável entre os adenomas foliculares e os carcinomas foliculares minimamente invasivos. ● Para estabelecer essa distinção, é necessário haver amostragem histológica extensa da interface tumor-cápsula-tireoide para excluir invasão capsular e/ou vascular. ● A disseminação linfática é incomum nos cânceres foliculares. ● Se apresentam como nódulos indolores que aumentam lentamente. ● Na disseminação vascular (hematogênica) é comum, com metástases para ossos, pulmões, fígado e outros locais. ● O prognóstico depende amplamente da extensão da invasão e do estágio de apresentação. 3. CARCINOMA ANAPLÁSICO (INDIFERENCIADOS): Conceito: . ● Os carcinomas anaplásicos consistem em tumores 8 9 indiferenciados do epitélio folicular tireoidiano. Epidemiologia: . ● São responsáveis por menos de 5% dos tumores tireoidianos. ● São agressivos, com taxa de mortalidade próxima de 100%. Fatores de risco: . ● Pacientes com carcinoma anaplásico são mais velhos do que os portadores de outros tipos de cânceres tireoidianos, com idade média de 65 anos. ● Aproximadamente um quarto dos pacientes com carcinomas tireoidianos anaplásicos apresenta um histórico de carcinoma tireoidiano bem diferenciado. ● Um quarto dos pacientes abriga tumor bem diferenciado concomitante na amostra ressecada. Fisiopatologia: . ● Altamente agressivos e letais podendo surgir de novo, ou com mais frequência, pela “desdiferenciação” de um carcinoma papilífero ou folicular bem diferenciado. ● As alterações moleculares presentes no carcinoma anaplásico incluem aquelas vistas em carcinomas bem diferenciados. ● A inativação de TP53 ou as mutações ativadoras da β-catenina, são essencialmente restritos aos carcinomas anaplásicos e podem contribuir com seu comportamento agressivo. Quadro clínico: . ● Sob o aspecto microscópico, essas neoplasias são compostas de células altamente anaplásicas, com morfologia variável, incluindo: ○ (1) células gigantes pleomórficas, inclusive células gigantes ocasionais, semelhantes a osteoclastos; ○ (2) células fusiformes com aparência sarcomatosa; ○ (3) células gigantes e fusiformes misturadas. ● Focos de diferenciação papilífera ou folicular podem estar presentes em alguns tumores, sugerindo origem em carcinoma bem diferenciado. ● Costumam apresentar-se como massas volumosas no pescoço que aumentam rapidamente. ● Na maioria dos casos, a doença já se espalhou além da cápsula tireoidiana para as estruturas do pescoço ou passou por metástase para os pulmões no momento da apresentação. ● Sintomas relacionados com compressão e invasão, como dispneia, disfagia, rouquidão e tosse, são comuns. ● Embora as metástases para locais distantes sejam comuns, na maioria dos casos a morte ocorre em menos de 1 ano, como resultado do crescimento agressivo e do comprometimento das estruturas vitais no pescoço. 9 10 4. CARCINOMA MEDULAR: Carcinoma medular da tireoide. A: Esses tumores mostram tipicamente um padrão de crescimento sólido e não têm cápsulas de tecido conjuntivo. B: A histologia demonstra abundante deposição de amilóide, visível aqui como material extracelular homogêneo, derivado de moléculas de calcitonina secretadas pelas células neoplásicas. Conceito: . ● Consistem em neoplasias neuroendócrinas derivadas de células parafoliculares, ou células C, da tireóide. Epidemiologia: . ● São responsáveis por aproximadamente 5% das neoplasias tireoidianas. ● Cerca de 70% dos tumores surgem esporadicamente. ● Os demais ocorrem na condição da síndrome de MEN 2A e 2B ou como tumores familiares sem uma síndrome de MEN associada (carcinoma tireoidiano medular familiar, ou CTMF. ● Casos associados aos tipos de MEN 2A e 2B ocorrem em pacientes mais jovens, podendo surgir na primeira década de vida. ● Em contraste, os carcinomas medulares esporádicos, assim como os familiares, são lesões da fase adulta, com pico de incidência aos 40 ou 50 anos. Fatores de risco: . ● Idade entre 40 e 50 anos ● Histórico familiar Fisiopatologia: . ● Os carcinomas tireoidianos medulares familiares ocorrem em neoplasias endócrinas múltiplas do tipo 2. ● Estão associados a mutações na linhagem germinativa de RET que levam à ativação permanente do receptor. ● As mutações RET também são vistas em aproximadamente metade dos cânceres tireoidianos medulares (esporádicos) não familiares. ● Os rearranjos cromossômicos envolvendo RET, tais como as translocações em RET/PTC relatadas em cânceres papilíferos, não são vistos nos carcinomas medulares. ● Os carcinomas medulares, similares às células C normais, secretam calcitonina, cuja medição desempenha importante papel no diagnóstico e no acompanhamento pós-operatório dos pacientes. ● Em alguns casos, as células tumorais produzem outros hormônios polipeptídicos, como 10 11 serotonina, ACTH e peptídeo intestinal vasoativo (VIP). ● As mutações pontuais ativadoras no proto-oncogene RET desempenham importante papel no desenvolvimento tanto dos carcinomas medulares esporádicos quanto dos familiares. Quadro clínico: . ● Os carcinomas tireoidianos medulares esporádicos se apresentam como nódulos solitários. ● Em casos familiares são comuns a bilateralidade e a multicentricidade. ● Lesões maiores frequentemente contêm áreas de necrose e hemorragia, e podem estender-se através da cápsula da tireoide. ● O tecido tumoral é firme, pálido, de acinzentado a pardo e infiltrativo. ● Os depósitos amiloides acelulares, derivados dos polipeptídeos calcitonina alterados, estão presentes no estroma adjacente em muitos casos. ● A calcitonina é facilmente demonstrável no citoplasma das células tumorais, assim como no estroma amilóide, por métodos imunoistoquímicos. ● Como ocorre em todos os tumores neuroendócrinos, a microscopia eletrônica revela um número variável de grânulos elétron densos, envoltos por membrana no citoplasma das células neoplásicas. ● Uma das características dos cânceres medulares familiares é a presença de hiperplasia multicêntrica de célula C no parênquima tireoidiano circundante. ● Os casos esporádicos de carcinoma medular chamam a atenção médica mais frequentemente como uma massa no pescoço, algumas vezes associada a disfagia ou rouquidão. ● Em alguns casos, as manifestações iniciais são aquelas da síndrome paraneoplásica, causada pela secreção de um hormônio peptídico (p. ex., diarreia ou síndrome de Cushing decorrente do ACTH). ● De forma notável, a hipocalcemia não é uma característica proeminente, a despeito da presença de níveis elevados de calcitonina. ● Além da calcitonina circulante, a secreção do antígeno carcinoembrionário pelas células neoplásicas é um biomarcador. ● Os pacientes com síndromes familiares podem chamar a atenção por causa dos sintomas localizados na tireoide ou como resultado de neoplasias endócrinas em outros órgãos (p. ex., glândulas adrenais ou paratireoides). ● Pacientes assintomáticos com MEN-2 que carregarem mutações em RET são candidatos à tireoidectomia profilática o mais cedo possível, a fim de se proteger contra o inevitável desenvolvimento dos carcinomas medulares. ● História Clínica ● Exame Físico ● Ultrassonografia do pescoço ● Punção aspirativa por agulha fina do nódulo (PAAF) 11 12 ECOGRAFIA DA TIREÓIDE: ● Se um nódulo for identificado, está indicada a solicitação de ecografia para definir as características do nódulo, como ecogenicidade, presença de calcificações, tamanho, margens, além da avaliação de estruturas adjacentes. ● A ecografia de tireóide nãodeve ser solicitada de forma rotineira. ● Ela deve ser realizada apenas se houver suspeita de nódulos à palpação da tireoide. ● Pessoas assintomáticas que apresentam achado incidental de nódulo de tireóide devem seguir investigação. MEDIDA DE TSH: ● Se o hormônio tireoestimulante (TSH) estiver suprimido, o paciente deverá seguir investigação de um possível nódulo quente (com produção hormonal tireoidiana) e suspeita de hipertireoidismo. ● Pacientes com nódulos e valores baixos de TSH (e que não estão usando levotiroxina) devem ser avaliados com cintilografia de tireoide com iodo. ● Nódulos hipercaptantes não precisam ser puncionados, pois apresentam um risco praticamente desprezível de malignidade. PUNÇÃO ASPIRATIVA POR AGULHA FINA (PAAF): ● A investigação adicional do nódulo de tireoide com PAAF deve ser realizada de acordo com o seu risco de malignidade, definido a partir de suas características ecográficas e não apenas o seu tamanho. ● A PAAF é normalmente realizada durante ou após a realização de ultrassonografia da tireoide. ● Esse exame consiste na inserção de uma agulha fina no local em que é identificado o nódulo da tireoide, para que seja retirado pequenos pedaços do tecido que compõe o nódulo para que possa ser analisado. Durante este procedimento, a parte líquida também pode ser retirada. ● Não é possível realizar este exame sob anestesia, porque a única anestesia que seria eficaz, é a anestesia geral, cujos riscos não justificam. ● Sugere-se preferencialmente utilizar as indicações do American College of Radiology (ACR TI-RADS). CINTILOGRAFIA DA TIREÓIDE: ● A cintilografia é um exame que faz parte da Medicina Nuclear, utilizando compostos levemente radioativos injetados em veias e órgãos por meio de cateteres. 12 13 ● Conforme os compostos radioativos se movimentam é possível obter imagens. ● Na Cintilografia de Tireoide, o exame é feito com uma variante do elemento químico Iodo, o Iodo 131. ● O iodo interage com as células da tireóide, assim, permitindo que sejam observadas mais detalhadamente, buscando tumores da tireoide e investigando causas de condições diversas, como hipertireoidismo. Nódulo quente: Quando o nódulo possui a capacidade de concentrar uma quantidade elevada de iodo radioativo. Geralmente é hiperfuncionante, ou seja, produz hormônios tireoidianos. Nódulo frio: Produz pouco ou nada de hormônios tireoidianos. Capacidade reduzida de concentrar iodo radioativo. ADENOMAS: ● Técnicas adotadas na avaliação de adenomas suspeitos são ultrassonografia e punção por aspiração com agulha fina. ● O diagnóstico definitivo do adenoma somente pode ser feito após um exame histológico cuidadoso da amostra ressecada. CARCINOMA FOLICULAR: ● Com mais frequência, são nódulos frios nas cintilografias, embora raras lesões mais bem diferenciadas possam ser hiperfuncionantes, captar iodo radioativo e parecer quentes nas cintilografias. CARCINOMA PAPILÍFERO: ● O diagnóstico de carcinoma papilífero pode ser feito com base nessas características nucleares (cromatina finamente dispersa e invaginações no citoplasma), mesmo na ausência da arquitetura papilar. ● Corpos de psamomas, estão frequentemente presentes, em geral nos núcleos das papilas. Quando presentes no material aspirado por agulha fina, são uma forte indicação de carcinoma papilífero. ● Os carcinomas papilíferos são massas frias na cintilografia. ● A melhora na análise citológica tem feito da citologia por aspiração com agulha fina um teste confiável para se estabelecer a distinção entre os nódulos benignos e malignos. ● As características nucleares são, com frequência, satisfatoriamente demonstráveis nas amostras da aspiração. CARCINOMA MEDULAR: ● Medição da calcitonina desempenha importante papel no diagnóstico e no acompanhamento pós-operatório dos pacientes. 13 14 ESTADIAMENTO: Classificação Bethesda: TRATAMENTO: ● O tratamento varia, dependendo do tipo de câncer e se ele se espalhou. Cirurgia: O cirurgião remove parte ou, mais comumente, toda sua glândula tireóide, e nódulos linfáticos anormais. Alguns cirurgiões também removem os linfonodos próximos, mesmo se eles não estiverem visivelmente anormais. Após a cirurgia, o paciente deve tomar hormônio tireoideano para o resto de sua vida. A cirurgia, quando bem realizada, é curativa na maioria dos casos, principalmente em tumores pequenos, e sem extravasamento nem comprometimento linfonodal. 14 15 Terapia com iodo radioativo: Esse tratamento consiste em ingerir uma pequena quantidade de iodo radioativo para destruir o tecido tireoidiano não removido pela cirurgia. O iodo radioativo também pode tratar o câncer de tireoide que se espalhou para os nódulos linfáticos e outras partes do corpo. ● É utilizado o iodo radioativo, também conhecido como Iodo-131. ● Após ser administrado, a ideia é que as células tumorais remanescentes após a tireoidectomia captem esse iodo que estará na circulação sanguínea e, uma vez dentro da célula, este iodo emita partículas radioativas e destrua as células. ● É um método eficaz tanto para o tratamento das células tumorais remanescentes após cirurgias de tireóide, também podendo ser utilizada em casos de metástases à distância que não podem ser operadas. ● A administração do iodo-131 é feita por via oral. ● É feita uma preparação do paciente por meio de dieta especial pobre em iodo. ● Dessa maneira, o organismo fica ávido por este nutriente, fazendo que a captação por ele seja ainda mais intensa quando administrado. ● Todo esse procedimento é feito mediante internação de 24 a 72 horas. ● É preciso que o paciente elimine toda a substância antes de receber alta para ir para casa. ● Esse cuidado é essencial para evitar a contaminação do ambiente, de pequenos animais e de outras pessoas. ● O organismo fará a eliminação do iodo por meio da urina. ● A ingestão de bastante água ajuda a diluir a substância, estimula o corpo a eliminá-la mais rapidamente e também minimiza possíveis efeitos colaterais. ● A eliminação da substância se dá, ainda, por meio das fezes, suor e saliva. ● São candidatos a essa técnica diagnosticados com tumores bem diferenciados, que seriam os carcinomas foliculares e papilíferos. ● Podem ocorrer efeitos colaterais logo nos primeiros dias, como inchaço, dor nas glândulas salivares, náuseas e dor abdominal. ● Já em longo prazo ela pode ocasionar o ressecamento da boca e dos olhos. Radiação externa: Para eliminar as células cancerosas e diminuir os tumores, a radiação é dirigida para os nódulos de uma fonte externa ao corpo. Este tipo de tratamento é menos comum, mas algumas pessoas, especialmente aquelas que têm câncer avançado e não podem fazer cirurgia, podem beneficiar-se de radiação externa. Quimioterapia: É o uso de drogas para eliminar as células cancerosas. A quimioterapia pode ser benéfica para pacientes com tumor anaplásico, mas raramente é utilizada para tratar as outras formas, exceto em estudos clínicos para doença avançada. CARCINOMA FOLICULAR: ● A maioria dos carcinomas foliculares é tratada com tireoidectomia total seguida pela administração de iodo radioativo, que pode ser usado para identificar metástases e remover as lesões. 15 https://arthurvicentini.com.br/tireoidectomia/ 16 ● Além disso, como qualquer carcinoma residual pode responder ao estímulo do TSH, em geral os pacientes são tratados com hormônio tireoidiano após a cirurgia, a fim de suprimir o nível de TSH endógeno. ● Os níveis de tireoglobulina sérica são usados para monitorar a recorrência do tumor, tendo em vista que esse produto é quase indetectável em um paciente que esteja livre da doença. CARCINOMA PAPILÍFERO: ● A complementação terapêutica com o iodo radioativo deve ser sempre utilizada em pacientes com carcinomas bem diferenciados (considerados de alto risco) e submetidos à tireoidectomia total. CARCINOMA ANAPLÁSICO: ● Não há terapias efetivas, e a doença é quase uniformemente fatal. ● Tentativa de tratamento com quimioterapia. CARCINOMAS MEDULARES: ● Indicação de tireoidectomiatotal já associado à ressecção dos linfonodos recorrenciais (adjacentes à glândula). ● A complementação terapêutica com o iodo radioativo deve ser sempre utilizada em pacientes com carcinomas bem diferenciados (considerados de alto risco) e submetidos à tireoidectomia total. 16
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