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Anderson Soares 5ºP IESVAP cefaleias Classificação Cerca de 90% de todas as dores de cabeça primárias se enquadram em algumas categorias, incluindo enxaqueca, tipo tensional e cefaleia em salvas. Enquanto a cefaleia do tipo tensional episódica (CTT) é o tipo de cefaleia mais frequente em estudos populacionais, a enxaqueca é o diagnóstico mais comum em pacientes que se apresentam aos médicos da atenção primária com cefaleia. A cefaleia em salvas geralmente leva a incapacidade significativa e a maioria desses pacientes procurará atendimento médico. No entanto, a cefaleia em salvas continua a ser um diagnóstico incomum em ambientes de cuidados primários devido à baixa prevalência geral na população em geral (<1%). Os médicos podem facilmente se familiarizar com as cefaleias primárias mais comuns e como distingui-las: Tabela 1. Características das síndromes de enxaqueca, tipo tensional e cefaleia em salvas Enxaqueca — A enxaqueca é um distúrbio de ataques recorrentes. A cefaleia da enxaqueca é frequentemente, mas nem sempre unilateral, e tende a ter uma qualidade latejante ou pulsátil. As características concomitantes podem incluir náuseas, vômitos, fotofobia, fonofobia ou osmofobia durante os ataques. Tabela 2. Critérios diagnósticos para enxaqueca cefaleias Anderson Soares 5ºP IESVAP Os fatores desencadeantes da enxaqueca podem incluir estresse, menstruação, estímulos visuais, mudanças climáticas, nitratos, jejum, vinho, distúrbios do sono, aspartame, entre outros. Tabela 3. Gatilhos de enxaqueca Cefaleia do tipo tensional – A apresentação típica de um ataque de CTT é uma cefaleia de intensidade leve a moderada, bilateral, não latejante, sem outras características associadas. Pure TTH é uma dor de cabeça bastante incaracterística. Tabela 4. Critérios diagnósticos de cefaleia tensional episódica Cefaleia em salvas – A cefaleia em salvas pertence a um grupo de entidades de cefaleias idiopáticas, as cefaleias autonômicas trigeminais, todas envolvendo crises de cefaleia unilaterais, muitas vezes graves e sintomas autonômicos típicos associados. Anderson Soares 5ºP IESVAP A cefaleia em salvas é caracterizada por crises de dor orbital, supraorbitária ou temporal unilateral severa acompanhada de fenômenos autonômicos. Os sintomas autonômicos unilaterais são ipsilaterais à dor e podem incluir ptose, miose, lacrimejamento, injeção conjuntival, rinorreia, edema periorbital, sudorese facial e congestão nasal. A inquietação também pode ser uma característica típica de um ataque de cefaleia em salvas. Os ataques geralmente duram de 15 a 180 minutos. A cefaleia em salvas às vezes pode ser confundida com uma dor de cabeça com risco de vida, uma vez que a dor de uma cefaleia em salvas pode atingir a intensidade total em poucos minutos. No entanto, a cefaleia em salvas é transitória, geralmente durando menos de uma a duas horas. Cefaleia secundária – Uma cefaleia causada por uma condição subjacente é denominada cefaleia secundária. Os médicos que avaliam pacientes com cefaleia devem estar atentos aos sinais que sugerem um distúrbio subjacente grave. No estudo brasileiro de atenção primária, 39% dos pacientes com cefaleia tiveram uma dor de cabeça devido a um distúrbio sistêmico (mais comumente febre, hipertensão aguda e sinusite) e 5% tiveram uma dor de cabeça devido a um distúrbio neurológico (mais comumente cefaléia pós-traumática, dores de cabeça secundárias à doença da coluna cervical e processos expansivos intracranianos) • Arterite temporal ou de células gigantes • Hipertensão intracraniana idiopática • Hipotensão intracraniana Anderson Soares 5ºP IESVAP • Neuralgia trigeminal • Meningite • Hemorragia subaracnóidea • Tumor cerebral fisiopatologia A sensibilidade dolorosa da cabeça é veiculada pelos aferentes trigeminais primários que inervam vasos sanguíneos, mucosas, músculos e tecidos. Fibras nervosas, a partir dessas fontes, atingem o gânglio trigeminal, especialmente pela primeira divisão do nervo trigêmeo (nervo oftálmico). Os aferentes trigeminais terminam no núcleo sensitivo principal do V nervo craniano e seu núcleo da raiz espinal, que tem vários pequenos subnúcleos, dos quais o mais importante é o subnúcleo caudalis. Esse subnúcleo recebe aferentes de vasos meníngeos, regiões sensíveis da dura-máter e mesmo da medula cervical superior que então projetam-se para o tálamo medial e lateral pelo trato espinotalâmico e para regiões do diencéfalo e do tronco encefálico envolvidas na regulação de funções autonômicas. Informação nociceptiva talâmica ascende para o córtex sensorial, bem como para outras áreas do cérebro. Embora dores de cabeça secundárias estimulem a via nociceptiva por meio de processos como inflamação e compressão, as cefaleias primárias ocorrem espontaneamente e mediadores químicos estão envolvidos neste processo. A sequência de eventos começa com ativação periférica causada pelo extravasamento neurogênico do plasma ativado espontaneamente ou pela depressão alastrante cortical. O complexo trigemino cervical especialmente o subnúcleo caudalis, é então ativado, e os pacientes podem experimentar alodinia, uma condição em que um estímulo não nocivo é percebido como doloroso. Aura é definida como um distúrbio focal neurológico visual, sensorial ou mo-tor, que pode ocorrer com ou sem dor de cabeça. A aura parece ocorrer quando a depressão alastrante cortical causa a despolarização das membranas neuronais. Tanto neurônios como células da glia podem causar constrição e dilatação dos vasos sanguíneos. A enxaqueca claramente tem um componente genético. A enxaqueca hemiplégica familiar tipo | (FHM1) pode ser causada por mutações no gene CACNAIA, que está localizado no cromossomo 19p 13.2- p 13.1 e é responsável pela codificação dos canais de cálcio neuronais dependentes de voltagem. Muitas mutações são encontradas no gene CACNAIA, e envolvem outros fenó-tipos como ataxia episódica e epilepsia. A enxaqueca hemiplégica familiar tipo 2 (FHM2) é devida à mutação no gene ATP1A2 que está localizado no cromossomo 1q21-q23 e codifica a subunidade catalítica alfa-2 da enzima ATPase sódio- potássio. Um terceiro locus genético é o gene SCNIA no cromossomo 2q24.3, que é um canal de sódio controlado pela voltagem. Apesar de existirem ligações com muitos loci genéticos para as formas mais comuns de enxaqueca, provavelmente, ocorrem múltiplas interações de genes com fatores ambientais. Manifestações clinicas Anderson Soares 5ºP IESVAP diagnóstico O diagnóstico das cefaleias primárias é baseado no histórico e classificação das dores com seus sintomas associados. Assim, cada doença tem sua especificidade de critérios diagnósticos. Por exemplo, a enxaqueca segue os critérios diagnósticos da Classificação Internacional de Cefaleias. Esse diferencia os critérios diagnósticos paras as formas de manifestação da doença, por exemplo, o diagnóstico de um paciente com dor com presença de aura tem critérios diferentes para um paciente sem aura. á nas cefaleias do tipo tensional o diagnóstico émuitas vezes confundido com cefaleias do tipo enxaqueca, hemicraniana contínua, cefaleia persistente e diária de início súbito e dores de cabeça causadas por tumores cerebrais, pressão intracraniana elevada ou baixa, ou arterite de células gigantes. Os critérios diagnósticos para cefaleia em salvas incluem dor forte unilateral orbitária, supraorbitária ou temporal, que persiste por 15 a 180 minutos com pelo menos um dos seguintes: hiperemia conjuntiva ipsilateral ou lacrimejamento, congestão nasal ou rinorreia, edema palpebral, transpiração facial e na testa, miose com ou sem semiptose, inquietação ou agitação. Não existe outra causa do distúr-bio. A hemicrania paroxística é definida por dor unilateral persistente por dois a 30 minutos, cerca de cinco vezes por dia, com uma ou mais características autonômi- cas, como hiperemia conjuntiva, congestão nasal, edema palpebral, sudorese facial e na testa, e ptose ou miose (ou ambos). A prevenção completa pode ser conseguida com indometacina. Procedimentos de imagem como ressonância magnética são indicados para todos os pacientes com cefaleias em salvas ou outras cefalalgias trigêmino-autonômicas, pois essas formas de cefaleia podem ser secundárias a outras lesões, como uma infecção, malformação vascular ou neoplasia, especialmente tumor pituitário. tratamento enxaqueca/migrÂnea Nos casos de enxaqueca, o manejo clínico segue as seguintes recomendações de acordo com a Academia Brasileira de Neurologia: • Em todos os casos tentar manter o paciente em repouso sob penumbra em ambiente tranquilo e silencioso (leitos de observação). • Nos casos em que a dor tem duração inferior a 72 horas: Anderson Soares 5ºP IESVAP o I. administrar antiemético parenteral se vômitos ou uso prévio de medica-ções: dimenidrato 30 mg por via intravenosa (IV) diluído em 100 ml de soro fisiológico a 0,9% ou dimenidrato 50 mg por via intramuscular (IM); ° II. recomenda-se jejum, com reposição de fluidos (soro fisiológico 0,9%) por via intravenosa (IV) se houver indícios de desidratação; o III. Dipirona 1 grama (2 ml) IV diluído em água destilada (8 ml); • II. Cetoprofeno 100 mg IV diluído em soro fisiológico 0,9% (100 ml) ou 100 mg IM. ° IV. Reavaliar paciente em 1 hora; se não houver melhora, prescrever sumatriptano 6 mg subcutâneo (1 seringa com 0,5 ml), repetindo a dose, se neces-sário, em 2 horas. • Se houver melhora da dor, liberar o paciente e encaminhar para acompanhamento ambulatorial na UBS. • Se houver piora ou não melhora da dor após 2 horas de observação, encaminhar paciente para hospital terciário por meio da Central de Regulação para avaliação de neurologista. • Nos casos em que paciente chega à urgência com dor há mais de 72 horas (estado migranoso); • I. Jejum e acesso venoso para reposição de fluidos se necessário. Infundir soro fisiológico a 0,9% 500 ml em pinça aberta; o II. Tratamento da crise como citado anteriormente associado a dexametasona 10 mg (ampola 10 mg/2,5 ml) IV lento. • III. Se não melhorar com dexametasona e estiver na urgência da UBS encaminhar o paciente para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde deverá ser prescrito: clorpromazina 0,1-0,25 mg/kg IM (ampola 25 mg/5 ml); manter infusão de soro fisiológico a 0,9%; o III. Se em 1 hora o paciente mantiver a dor, repetir clorpromazina por até três vezes, no máximo. • Atentar para hipotensão arterial e sinais / sintomas extrapiramidais (como rigidez muscular e inquietude) causados pela medicação, orientar o paciente a não se levantar bruscamente. Não repetir a dose se ocorrer hipotensão ou sinal/ sintoma extrapiramidal. • Se houver melhora clínica, o paciente recebe alta da UPA com encaminhamento para acompanhamento ambulatorial na UBS para que seja encaminhado a um ambulatório não hospitalar de neurologia. • Se não houver melhora da dor após as três doses de clorpromazina, acionar CR e encaminhar paciente para hospital terciário, onde será realizada avaliação por neurologista e tomada conduta especifica. Dentro dessas recomendações, cabe ainda comentar que em casos de uso de analgésicos simples e AINES (acima de 15 dias) e triptanos e ergotamínicos (acima de 10 dias) há risco de cronificar a dor do paciente, aumentar a frequência das crises e tornando a enxaqueca em cefaleia por uso excessivo de medicamentos. Já no tratamento profilático, 5 tratamentos podem ser usados nos pacientes com migrânea. Esses são os betabloqueadores (Propranolol 80-240 mg/dia ou Atenolol 25-150 mg/dia), bloqueadores de canal de cálcio (Flunarizina 5-10mg/dia), antidepressivos tricíclicos (Amitriptilina 25-150 mg ou Nortriptilina 10-75 mg), anticonvulsivantes (Ácido Valproico 500-1500 mg ou Topiramato 25-200 mg) e, também, a toxinabotulínica com aplicações na cabeça e nos ombros para pacientes refratários a outras terápias. Cefaleia tensional Dores de cabeça tensional em sua fase aguda ou episódica geralmente são tratadas com analgésicos simples, como paracetamol 750-1.000 mg até 6/6 h; dipirona 500 1.000 mg até 6/6 h e/ou anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), como ibuprofeno 400-800 mg até 6/6 h, diclofenaco 50 mg até 8/8 h, cetoprofeno 50 mg até 6/6h e naproxeno sódico 500 mg dose inicial e 250 mg até 6/6h. Deve-se ter o mesmo cuidado com essas medicações de não se utilizar medicamentos de forma excessiva. Essa cefaleia também pode se beneficiar com o tratamento profilático com amitriptilina (começando com 10 mg na hora de dormir e aumentada lentamente - 10 a 12,5 mg a cada 2-3 semanas - até 100 mg, até que o paciente melhore ou se desenvolvam sintomas colaterais intoleráveis), nortriptilina (25 a 100 mg à noite), doxepina (25 a 75 mg/dia), maprotilina (10 a 25/mg/dia), ou a fluoxetina Anderson Soares 5ºP IESVAP (10 a 20 mg/dia). Relaxantes musculares, fisioterapia e a acupuntura também são úteis. Cefaleia em salvas A cefaleia em salvas seque uma abordagem da crise com, principalmente administração de oxigênio a 100%, em máscara sem recirculação, com fluxo de 10-15l/min durante 20 minutos, ou sumatriptano 6mg por via subcutânea se disponível. Caso o paciente tenha utilizado algum medicamento vasoconstrictor, o sumatrip-tano deve ser evitado. A oxigenoterapia sozinha já tem sucesso em 60-70% dos casos. Analgésicos comuns e opioides são ineficazes e não devem ser utilizados. Após melhora do quadro álgico, o paciente deve ser orientado a evitar fatores de sencadeantes (bebidas alcoólicas e substâncias voláteis), até o final do período de crises. O tratamento profilático para as crises pode usar verapamil 240-480 mg/dia ou carbonato de lítio 300-900 mg/dia, dividido em 3 doses, podendo ser aumentada gradualmente 300 a 600 mg diariamente, a cada 1 a 7 dias. Esse segundo medicamento possui quantidade maior de efeitos colaterais, tendo preferência ao uso de Verapamil. Referência WOOTTON, R. Joshua; WIPPOLD II, Franz J.; WHEALY, Mark A. Evaluation of headache in adults. UpToDate. Waltham, MA.[cited 2022 January 5]. Available from: https://www. uptodate. com, 2019.
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