Prévia do material em texto
Anderson Soares 5ºP IESVAP síndromes CEREBELO • Vital para o controle das atividades rápidas, como correr, digitar, tocar piano e até mesmo falar. Obs.: Lesões do Cerebelo causam incoordenação dos movi- mentos. • Auxilia na sequencia de atividades motoras. • Monitora os movimentos. • Faz ajustes corretivos nas atividades motoras produzidas em outras partes do encéfalo. ÁREAS ANATÔMICAS FUNCIONAIS 3 Lobos Distintos: • Lobo Floconodular - + antigo, controle do equilíbrio. • Vérmis – Ativação Muscular do eixo corporal – pescoço. Ombro e quadril. • Zona Lateral- Planejamento e coordenação dos movi- mentos corporais DIVISÃO FUNCIONAL Conexão dos núcleos do cerebelo com o córtex cerebral: • o vestíbulocerebelo, • o espinocerebelo • o cerebrocerebelo. O vestíbulocerebelo recebe aferências da parte vestibular so- bre a posição da cabeça. Esses circuitos neurais são essen- ciais para a manutenção da postura e do equilíbrio. O espi- nocerebelo fornece os circuitos para coordenação do movi- mento das extremidades apendiculares, principalmente para movimentos de mãos e dedos. O cerebrocerebelo planeja, sequencia e temporiza nossos movimentos complexos. Lesões cerebelares CAUSAS • TCE cerebelar, • Acidente vascular encefálico do cerebelo, • Doenças e síndromes cerebelares Lesões cerebelares podem causar anormalidades no movi- mento do corpo e olhos e pode afetar o equilíbrio por pertur- bar a função vestibular. As lesões cerebelares normalmente resultam em um tipo ca- racterístico de movimento descoordenado chamado ataxia. Lesões cerebelares podem frequentemente ser localizadas com base em apenas alguns princípios simples: 1. A ataxia é ipsilateral ao lado de uma lesão cerebelar. 2. Lesões da linha média do vérmis cerebelar ou lobos fló- culo-nodulares, principalmente pode causar marcha instável (ataxia troncular) e anormalidades do movi- mento dos olhos, que geralmente são acompanhados por vertigem intensa, náuseas e vômitos. 3. Lesões laterais ao vérmis cerebelar causam principal- mente ataxia dos membros (ataxia apendicular) ETIOLOGIA DA ATAXIA CEREBELAR Sendo a principal manifestação do acometimento cerebelar, as causas são diversas: Distúrbios congênitos Doenças genéticas • Herança dominante • Herança autossômica recessiva • Herança ligada ao X Distúrbios mitocondriais Distúrbios tóxicos e metabólicos Degeneração cerebelar alcoólica Monóxido de carbono Medicamentos (por exemplo, medicamentos anticonvulsivantes, quimioterapia; consulte a tabela para obter detalhes) Mielinólise extra-pontina Degeneração hepatocerebral Hipertermia Hipomagnesemia Hipoparatireoidismo Hipotireoidismo Inseticidas síndromes Anderson Soares 5ºP IESVAP Encefalopatia portal-sistêmica Toxinas • Arsênico • Benzeno • Dissulfeto de carbono • Conduzir • Mercúrio • Tálio • Tolueno Etiologias infecciosas Abscesso cerebelar Panencefalite por rubéola congênita Meningoencefalite fúngica Encefalite HIV/AIDS Encefalite por HSV Legionela Doença de Lyme Malária Micoplasma Neurocisticercose (raramente) Doenças priônicas • Doença de Creutzfeldt-Jacob • Doença de Creutzfeldt-Jacob variante • Síndrome de Gerstmann-Sträussler-Scheinker Leucoencefalopatia multifocal progressiva Streptococcus pneumoniae Panencefalite esclerosante subaguda (classicamente sarampo, rubéola) Sífilis (raro como única manifestação) Toxoplasmose (raro como única manifestação) Tuberculose Cerebelite viral • Citomegalovírus • Coxsackie A/B • Ecovírus • Encefalite equina oriental • Vírus de Epstein Barr • Caxumba • Poliomielite • Encefalite de São Luís • Vírus Varicela Zoster • Vírus do Nilo Ocidental Doença de Whipple Vascular Hemorragia cerebelar Infarto cerebelar Siderose superficial Insuficiência vertebrobasilar • Estenose da artéria basilar • Fenômeno de roubo de subclávia • Estenose ou dissecção da artéria vertebral Deficiências de vitaminas (B12, E, Tiamina, Zinco) Processos neoplásicos Tumores benignos • Schwannoma vestibular • Meningioma Linfoma Degeneração cerebelar paraneoplásica Síndrome do tumor de hamartoma PTEN, incluindo síndrome de Cowden • Câncer metastático, mais comumente em adultos • Câncer de mama • Cancer de colo • Câncer de pulmão • Melanoma • Carcinoma de células renais Tumores malignos primários • Ependimoma • Glioma • Hemangioblastoma (associado à síndrome de von Hippel- Lindau) • Meduloblastoma Doenças autoimunes Doenças neurodegenerativas cerebelares esporádicas Ataxia cerebelar mimetiza INTOXICAÇÕES Álcool Amiodarona Medicamentos anticonvulsivantes Barbitúricos Benzodiazepínicos Bismuto Brometos Tetracloreto de carbono Agentes quimioterápicos (altas doses de citarabina, fluo- rouracil e asparaginase) Ciclosporina Glicocorticóides (dose alta) Metais pesados (mercúrio e manganês) Lítio Metronidazol Fenciclidina Piperazina Tacrolimus Tálio Tolueno Zidovudina MANIFESTAÇÕES POR localização As síndromes cerebelares podem ser divididas quanto ao lo- cal de acometimento: Disfunção cerebelar da linha média As estruturas cerebelares da linha média são críticas para a execução motora, movimentos oculares rápidos e lentos, equilíbrio/coordenação dos membros inferiores e função vestibular. Danos às estruturas da linha média podem resultar em: • Desequilíbrio – Os pacientes tendem a cair quando estão de pé com os pés juntos, estejam os olhos abertos ou fe- chados. • Ataxia do tronco – A ataxia do tronco se manifesta como balançar a cabeça e o tronco quando o paciente está sentado. • Titubação – A titubação é um aceno rítmico involuntário da cabeça, pescoço e/ou tronco • Dismetria dos membros inferiores – A dismetria refere-se a uma capacidade prejudicada de realizar movimentos precisos durante tarefas direcionadas a objetivos devido a uma estimativa incorreta da distância • Intrusões sacádicas – são rajadas irregulares de movi- mentos oculares rápidos que incluem opsoclonia, vibra- ção ocular, sacudidelas de ondas quadradas e oscila- ções macrosacádicas. • Nistagmo - é uma oscilação rítmica regular dos olhos. • Vertigem – com náusea e vômito pode resultar de danos ao vestibulocerebelo e geralmente está associada a in- trusões sacádicas e nistagmo. Anderson Soares 5ºP IESVAP DISFUNÇÃO CEREBELAR HEMISFÉRICA Os hemisférios cerebelares são amplamente responsáveis pelo planejamento motor e coordenação de tarefas comple- xas. A lesão de um hemisfério leva a sintomas que são mais notáveis nos membros ipsilaterais. Os sinais clínicos de dis- função cerebelar hemisférica incluem: • Disdiadococinesia – A disdiadococinesia, que é a incoor- denação ao realizar movimentos alternados rápidos, é um achado comum na doença cerebelar. • Dismetria – A dismetria das mãos e braços pode ser vista como um ponto passado no teste dedo-nariz. A disme- tria também é comumente vista nas pernas no teste do calcanhar à canela e leva a algum grau de ataxia da marcha. • Ataxia de membros – A ataxia de membros geralmente é vista clinicamente como dificuldade com tarefas coor- denadas. • Tremor de intenção – O tremor de intenção, também chamado de tremor cinético, geralmente aumenta em gravidade à medida que a mão se aproxima do alvo e geralmente é grande em amplitude. • Disartria atáxica – A disartria atáxica é caracterizada por episódios de alternância de loudness e níveis de pitch flu- tuantes, de modo que a ênfase é colocadaem sílabas que não devem ser acentuadas. • Achados oculares – Os achados oculares são geral- mente menos proeminentes, mas as perseguições sua- ves quebradas e o nistagmo ipsilateral evocado pelo olhar são frequentemente vistos. SÍNDROMES CEREBELARES As incapacidades de sequenciar movimentos finos, articular corretamente as palavras, manter o equilíbrio e o tônus da musculatura esquelética são frequentes em lesões cerebela- res. Essas síndromes são geralmente classificadas de acordo com a divisão funcional do cerebelo. Portanto, elas são co- nhecidas como síndromes do vestíbulo, do espino e do cere- brocerebelo. Síndrome do vestibulocerebelo A característica mais marcante em pacientes com disfunção vestíbulocerebelar é a pertubação do equilíbrio corporal prin- cipalmente durante movimentos rápidos, sobretudo quando há mudança na direção do movimento. Essas alterações são captadas pelo três canais semicirculares da orelha interna. O vestíbulocerebelo recebe essas aferências sensoriais e pron- tamente controla as contrações musculares dos agonistas e antagonistas da coluna, quadris e ombros. Como conse- quencia, é função dessa divisão cerebelar o cálculo anteci- pado dos movimentos necessários para corrigir a postura corporal e manter o equilíbrio durante a execução rápida de mudanças de direção. Na síndrome do vestíbulocerebelo, o paciente apresenta a ataxia, na qual sua marcha fica com a base de apoio alar- gada (ele precisa abrir bastante as pernas para manter o equilíbrio e simultaneamente manter o olhar voltado para os pés). Além disso, a propriocepção fica alterada (ocorre a perda do equilíbrio também com os olhos fechados). Entre- tanto, vale ressaltar que se o paciente estiver deitado, a co- ordenação dos movimentos é praticamente normal. A perda do controle dos movimentos oculares (nistagmo cerebelar ou tremor do globo ocular) também é observada. A hipotonia não é caracterítica das síndromes vestíbulocerebelares. Síndrome do Espinocerebelo Lesões no espinocerebelo são caracterizadas pela ataxia nos membros, pelo nistagmo cerebelar e pela fala arrastada. Adi- cionalmente, há a dismetria devido a redução na cronologia do movimento. Por conseguinte, ocorre o “passar do ponto”, resultando em movimentos que vão além do desejado pelo paciente, o que corresponde à falha do sistema de amorte- cimento cerebelar. É importante destacar que os movimentos rápidos do corpo (chamados de balísticos) são pré-planejados e executados pelo espinocerebelo. Em relação à síndrome dessa divisão funcional, as principais alterações observadas nos pacientes são o desenvolvimento lento na execução dos movimentos, a força reduzida deles e a demora para interrompê-los (o que reflete como dismetria). Todos esses achados são resultantes da perda da autonomia dos movimentos balísticos. Síndrome do Cerebrocerebelo A divisão funcional cerebrocerebelo é responsável pelo pla- nejamento, sequenciamento e temporização de movimentos mais complexos intencionais das mãos, dedos, pés e do apa- relho fonador. Em relação ao planejar da sequência, a carac- terística mais marcante encontrada nos pacientes com lesão do cerebrocerebelo é a dificuldade de progredir harmonica- mente e homogeneamente entre movimentos, o que leva à uma sucessão desorganizada deles. Quanto à falha na função temporizadora, o paciente apre- senta a incapacidade de coordenar quando deverá iniciar e interromper um movimento complexo. Como resultado, ações como escrever, correr e conversar ficam prejudicadas. Em suma, a síndrome do cerebrocerebelo manifesta-se por meio do atraso no início dos movimentos, por uma decom- posição de movimentos multiarticulares em diversas etapas desorganizadas, pelo tremor, pela disartria (vocalização con- fusa) e pela dismetria. CLASSIFICAÇÃO QUANTO A PROGRESSÃO Podem ser ataxias agudas (emergências), subagudas e crô- nicas EMERGÊNCIAS O início súbito de ataxia cerebelar durante um período de mi- nutos a horas é considerado uma emergência médica por- que pode representar um evento vascular agudo. Além da neuroimagem, a triagem diagnóstica para drogas e toxinas causadoras é sempre uma parte apropriada de uma avalia- ção abrangente. Anderson Soares 5ºP IESVAP Neuroimagem de urgência – Os pacientes que apresentam ataxia aguda requerem neuroimagem de emergência com tomografia computadorizada (TC) de cabeça sem contraste e/ou ressonância magnética (RM) do cérebro para avaliar hemorragia, isquemia/infarto ou edema cerebelar significa- tivo. Causas importantes: Distúrbios vasculares, Medicamentos e toxinas (anticonvulsivantes) e Infecções. INTOXICAÇÃO POR ANTICONVULSIVANTES A intoxicação por esses medicamentos é bastante comum, uma vez que os principais agentes são o fenobarbital (barbi- túrico) e carbamazepina e o contexto de sua intoxicação está geralmente relacionado à tentativa de suicídio, abuso, doses excessivas e ingestão acidental. FENOBARBITAL Na classe dos barbitúricos, o principal causador de intoxica- ções é o fenobarbital, que é usado tanto para tratamento de epilepsia quanto como anestésico geral por sua ação como depressor não seletivo do SNC. Os barbitúricos agem deprimindo o córtex sensorial, dimi- nuindo a atividade cerebral, tendo efeitos como indução da excitabilidade (efeito paradoxal), sedação leve, falta de coor- denação motora (podendo chegar até coma profundo) – além de possuir efeito na musculatura lisa esquelética, cardí- aca e nervos. Seu principal local de ação e efeito é o centro da vigília, na formação reticular do tronco encefálico. Informações Gerais Mecanismo de ação: consiste no prolongamento da abertura dos canais de Cloro, dos receptores GABA-A e consequente hiperpolarização das membranas pós-sinápticas. Meia-vida: 75 a 120h em adultos. Dose tóxica: estimada em 4mg/kg, porém há relatos na lite- ratura de toxicidade prevista quando a dose ultrapassa 5 a 10 vezes a dose hipnótica. A dose letal estimada é de 6 a 10g. Quadro clínico: sonolência, disartria, ataxia, nistagmo, miose, podendo ocorrer em casos graves coma, hipotonia, hiporre- flexia, hipotermia e depressão respiratória. Sintomas cardía- cos como hipotensão, colapso cardiovascular e parada car- díaca. Retenção urinária e íleo paralítico também. Em idosos e crianças, pode ocorrer excitação paradoxal e irritabilidade. É comum ocorrer flutuação do quadro, com períodos de me- lhora seguidos de agravamento dos sintomas (coma cíclico). Também podem ocorrer insuficiência renal aguda secundá- ria à hipotensão e rabdomiólise. Tardiamente (após 24h), po- dem surgir lesões cutâneas com bolhas translúcidas e tensas, com halo eritematoso. Abordagem e manejo: as primeiras medidas são de suporte, com proteção das vias aéreas – com o intuito de evitar bron- coaspiração e garantir adequada ventilação. Hidratação ve- nosa, mantendo débito urinário adequado – em caso de hipotensão pode-se fazer expansão volêmica e drogas vaso- ativas. O paciente deve estar sempre monitorizado. Atenção à hipotermia e, se houver presença de lesões cutâneas, o tra- tamento é similar ao realizado em casos de queimaduras. Uma vez que o paciente esteja estável, deve-se considerar as medidas de descontaminação, se ainda estiver nas primeiras duas horas. O carvão ativado (CA) em doses múltiplas seria- das é indicado como medida de descontaminação e excre- ção (clique aqui para saber como fazer adequado uso do CA). Em casos graves, com instabilidade hemodinâmica ou insufi- ciência renal já instalada, pode-se considerar hemodiálise, assim como alcalinização urinária, a fim de prevenir ou reduzir a rabdomiólise. Em pacientes com excitação paradoxal, agi- tação ou delirium, devem ser seguidos os protocolos de tra- tamento local. Carbamazepina A carbamazepina é um iminodibenzil, cujo mecanismode ação e toxicidade consiste no bloqueio de canais de sódio no SNC e coração, além de possuir também ação anticolinér- gica. Clinicamente, é usado como anticonvulsivante, no tra- tamento de neuralgia do trigêmeo e no controle de mania e agressividade. Sua toxicidade é diretamente proporcional a sua concentra- ção sanguínea, logo, quanto maior a quantidade ingerida, pi- ores são seus efeitos colaterais. Informações gerais Dose tóxica: Ingestão maior que 20mg/kg: efeitos moderados no SNC, sintomas anticolinérgicos e sintomas cardíacos; Ingestão maior que 50 mg/kg: potencialmente fatal. Meia vida: 30 a 40 horas. Quadro clínico: Intoxicação leve a moderada: podem ser es- perados sintomas como sonolência, confusão mental, ataxia, nistagmo, disartria, oftalmoplegia e taquicardia sinusal; Intoxicação grave: podemos encontrar midríase, quadros convulsivos, depressão respiratória e coma. Arritmias cardía- cas (prolongamento de QT, QRS, RP), hipo ou hipertensão, hi- per ou hiporreflexia, discinesias faciais ou da boca também. Abordagem e manejo: assim como em intoxicações por fe- nobarbital, as medidas iniciais são de suporte, proteção de vias aéreas, mantendo-as desobstruídas garantindo ventila- ção adequada, assim como reposição de fluidos se hipoten- são, podendo usar drogas vasoativas. Mantenha o paciente em monitorização constante de fre- quência cardíaca e respiratória, avaliando o nível de consci- ência e ritmo cardíaco. Nesses casos, o auxílio do eletrocardi- ograma (ECG) é benéfico, sendo o agente cardiotóxico com efeitos como prolongamento de PR, QT e QRS ou taquicardia ventricular (TV). Também está indicado o uso de CA. Em geral, se faz a dose única de CA se o paciente ingeriu mais de 20mg/kg e chegou Anderson Soares 5ºP IESVAP dentro da 1º hora após ingestão, porém, em pacientes sinto- máticos, considera-se o uso de doses múltiplas de CA por até 48h – lembrando do uso do catártico após a 3ª dose de CA (clique aqui para saber como fazer o uso adequado do car- vão ativado). O risco de convulsões existe em casos graves de intoxicação por carbamazepina; nesses casos, é preferível o uso de ben- zodiazepínico – em adultos, ou diazepam EV 10-20mg ou mi- dazolam 5-10mg. Também há risco de acidose metabólica, devendo ser tratada. Benzodiazepínicos São utilizados como ansiolíticos, anticonvulsivantes e sedati- vos, tendo alta incidência de uso caracterizando a prescrição de cerca de 50% dos psicotrópicos. Consequentemente, os casos de intoxicação por esta classe de medicamentos são uma das maiores causas de intoxicação medicamentosa no Brasil, evidenciando o alto risco de consumo de doses aci- dentais e tentativas de suicídio por tais drogas. Fisiopatologia: Os benzodiazepínicos (BZD) têm como meca- nismo de ação a potencialização da atividade inibitória do ácido gama aminobutírico (GABA) em todos os níveis do neuroeixo, incluindo a medula espinal, o hipotálamo, o hipo- campo, a substância negra, o córtex cerebelar e o córtex ce- rebral. São substâncias com excelente absorção oral e alta ligação proteica, além de serem lipossolúveis, característica que per- mite uma rápida penetração no cérebro. Aproximadamente 30% dos neurônios corticais e do tálamo apresentam receptores GABA, que tem como principais vari- ações: • GABAa • GABAb • GABAc Sendo o GABAa o responsável pela atuação dos BZD. O GABAa possui cinco subunidades e um canal que permite a entrada de cloro. Quando o BZD se liga a este receptor gabaérgico, os canais de cloro se abrem e permitem uma hiperpolarização da membrana, esse influxo causa redução da hiperexcitabili- dade dos neurônios, resultando em depressão generalizada dos reflexos da medula e do sistema ativador reticular. Em casos de superdosagem ou de exacerbação do efeito agonista por associação a outras substâncias depressoras do sistema nervoso central, como os barbitúricos, o indivíduo poderá evoluir para um estado de coma, depressão respira- tória e até mesmo óbito. Quadro clínico: Os principais sintomas associados são: • Rebaixamento do nível de consciência • Depressão respiratória, sem que haja alterações dos pa- râmetros vitais. Em alguns casos pode levar ao coma, principalmente quando associado a outras drogas depressoras do SNC. O exame físico neurológico demonstra: • Sonolência excessiva • Diplopia • Ataxia • Disartria • Hiporreflexia Diagnóstico O diagnóstico é feito pela história clínica levando em consi- deração o tempo de exposição do paciente à droga e a do- sagem consumida. Ademais, pode ser auxiliado pela identifi- cação de metabólitos de benzodiazepínicos na urina ou seus níveis séricos. Contudo, o método mais utilizado no diagnós- tico desse tipo de intoxicação é a administração de flumaze- nil, que é um antagonista do receptor da benzodiazepina, medicamento este que reverte o possível coma do paciente e, pode assim, consolidar o diagnóstico. Tratamento: O manejo inicial inclui: • Monitorização das funções vitais • Oxigenioterapia • Hidratação venosa • Exames laboratoriais (hemograma, função renal, função hepática, eletrólitos, glicemia, ECG) • Correção de possíveis distúrbios hidroeletrolíticos Além disso, é importante manter a via aérea pérvia e avaliar a necessidade de intubação orotraqueal precocemente. Para bloqueio da ação dos benzodiazepínicos, o antagonista de escolha é o flumazenil sendo a dose inicial de 0,1 a 0,2 mg IV em 15 a 30 segundos, podendo ser repetida se houver ne- cessidade (dose máxima até 1 mg). O uso de carvão ativado pode ser feito na dose de 1g/kg em casos em que a intoxicação é pequena/média. A descontaminação com lavagem gástrica não é indicada em casos leves e moderados, sendo utilizada apenas em ca- sos graves. REFERÊNCIAS TODD, Peter K.; SHAKKOTTAI, Vikram G. Overview of cerebellar ataxia in adults. UpToDate Inc, 2019. SCHACHTER, Steven C. Antiseizure medications: Mechanism of action, pharmacology, and adverse effects. UpToDate. Retrie- ved October, v. 11, p. 2021, 2021.