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Literatura Popular ebook - COMPLETO

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Prévia do material em texto

► A tradição oral na literatura popular
A tradição oral no Brasil
Durante séculos, a única maneira de transmissão da história de antepassados se
deu por meio de fontes orais, que era a forma de expressão encontrada pelas
sociedades antigas para tecerem a sua própria história. Foi através da oralidade que
homens e mulheres, de maneira coletiva, foram construindo a identidade das
regiões aonde viviam e, por conseguinte sua cultura.
Na Europa Medieval as manifestações populares se davam, na sua maioria, de
forma oral, principalmente com os poetas nômades, chamados jograis que
circulavam pelos povoados; já os que tinham sangue nobre eram chamados
trovadores, que igualmente cantavam as chamadas “cantigas”. Na Figura 1 vemos a
ilustração de um trovador acompanhado por seu instrumento musical.
As cantigas, como um tipo de produção literária, passaram p a ser classificadas em:
cantigas de amor, cantigas de amigo, cantigas de escárnio e cantigas de maldizer. O
recurso usado pelos artistas da época para a memorização foi o acompanhamento
musical, seguido da repetição de verso e rimas, o que nos leva a crer que essas
raízes fecundaram por aqui com a chegada dos colonizadores.
Figura 1 - Trovador da era medieval
Veja que interessante: em Portugal, no período medieval, a figura dos trovadores
era muito comum. Eles entoavam cantigas baseadas nos sentimentos humanos e
no cotidiano das pessoas. Além dos homens, as mulheres também exerciam essa
atividade, sendo chamadas de jogralesas as que não tinham origem nobre e de
trovadoras as que nasciam em meio à nobreza.
Atravessando os séculos e o oceano, os portugueses, enquanto colonizadores, os
indígenas como moradores da terra, e os africanos, devido à escravidão, deram
origem à miscigenação e deixaram heranças na cultura popular do Brasil. A partir
desse momento, algumas formas de registros escritos passaram a tomar corpo
enquanto literatura, mas isso veremos um pouco mais adiante. Por enquanto, nos
deteremos em aspectos das manifestações populares orais.
“As narrativas indígenas se sustentam e se perpetuam por uma tradição de
transmissão oral (sejam as histórias verdadeiras dos seus antepassados, dos fatos
e guerras recentes ou antigos; sejam as histórias de ficção, como aquelas da onça e
do macaco). De fato, as comunidades indígenas nas chamadas “terras baixas da
América do Sul” (o que exclui as montanhas dos Andes, por exemplo) não
desenvolveram sistemas de escrita como os que conhecemos, sejam alfabéticos
(como a escrita do Português), sejam ideogramáticos (como a escrita dos chineses)
ou outros. Somente nas sociedades indígenas com estratificação social (ou seja, já
divididas em classes), como foram os Astecas e os Maias, é que surgiu algum tipo
de escrita.
[...] O fato é que os povos indígenas no Brasil, por exemplo, não empregavam um
sistema de escrita, mas garantiram a conservação e continuidade dos
conhecimentos acumulados, das histórias passadas e, também, das narrativas que
sua tradição criou, através da transmissão oral.”
Em algumas sociedades onde a oralidade é de extrema importância, como
indígenas e populações ribeirinhas, a cultura oral dá empoderamento a homens e
mulheres que fazem história narrando o imaginário coletivo. Por meio da sua labuta
diária, como em épocas de colheita, quando grupos se reúnem, por exemplo, vão
passando de geração em geração o encantamento e magia da transmissão de
saberes. O mais interessante é que esse processo se dá espontaneamente, ou seja,
uma forma de produção literária singela, mas não menos importante, em que a
palavra dita sobrepõem-se à palavra escrita.
Segundo Borges (2013), no seu estudo sobre a etnopoética em sociedades
indígenas, não há dúvida de que as produções orais desses grupos apresentam
atividade poética, pois essas se utilizam de variados recursos linguísticos através
dos quais o narrador se assegura do interesse do seu ouvinte, uma vez que a
entonação, o ritmo, a imitação e a dramatização vocal, bem como os gestos e
expressões faciais fazem parte desse repertório que caracteriza as narrativas orais.
Vejamos abaixo na figura 2 uma ilustração dos Índios da etnia Kaigang.
Figura 2 - Índios da etnia Kaigang
Resumindo: No Brasil, as manifestações populares orais advêm das comunidades
indígenas que aqui viviam. Através da memória coletiva, esse grupo social
organizava, e ainda organiza como outros tantos grupos sociais, um sistema de
lembranças que se caracteriza como único recurso para a transmissão do
conhecimento às futuras gerações. A narrativa oral e mítica dos índios ao falar de
um tempo muito antigo, ensina os valores e a sua cultura de geração em geração. O
que se deu também, de certa forma, com a chegada dos colonizadores europeus,
através dos quais a tradição oral, na figura dos trovadores e jograis do Portugal
medieval, adentrou pelo nordeste brasileiro.
► O descaso com a literatura popular
O popular e o erudito
Considerando os estudos a respeito, que sempre versam e salientam o
desfavorecimento da literatura de cunho popular sobre a de formato erudito, é
sabido que as comunidades com menores recursos acabam se organizando com
suas tradições e valores de forma a desenvolverem o que se convencionou chamar
de subcultura. O termo, cunhado do resultado de transformação da cultura de uma
classe social tida com mais recursos, revela como aquilo que deveria ser
globalizado chega de forma tardia nesses grupos desfavorecidos socialmente.
Por outro lado, contrariando o que os próprios agentes produtores da literatura
popular afirmam, a mesma tece relações com as tradições, com o cotidiano e até
mesmo, em épocas atuais, com o turismo, dada a sua natureza não estática e
aberta – como o são, essencialmente, as obras de arte, em que o receptor é quem
elabora a mensagem estética da mesma. Justamente essa dinamicidade, própria do
modelo em questão, fez com que esse tipo de produção atingisse várias classes,
tornando pertinente seu estudo no meio acadêmico e, principalmente, direcionado
àqueles que intencionam multiplicar saberes.
O termo literatura popular não implica analfabetismo. É bem certo que se
fundamentou em manifestações populares orais, grande parte delas advindas do
interior do Brasil, no meio rural, locais esses, muitas vezes, com poucos recursos e
acesso difícil à escolaridade. Isso, certamente, contribuiu para que a cultura fosse
vista como um artigo refinado e atrelado ao progresso, o que pode ter impedido a
repercussão da literatura popular e sua aceitação nos meios urbanos.
Em contrapartida, os produtores dessa rica cultura literária passaram a se impor
gradativamente, trazendo sua participação num papel tão importante de
reconhecimento cultural pela manifestação da sua arte, da nossa Arte, tanto assim
que pelo Nordeste brasileiro o estudo da literatura popular faz-se presente no
currículo de vários cursos de Letras.
Manifestações artísticas na literatura popular
Aqui trazemos o recorte de alguns textos de literatura popular com características
próprias. Visto que esse material de estudo poderá chegar a recantos que, por conta
da regionalidade, desconheçam suas definições e apresentações, faz-se necessário
observar que para uns há um farto rol de detalhes; enquanto para outros uma
definição sem muitas explicações, resultado da importância e frequência que têm ou
tiveram nas sociedades onde são ou foram desenvolvidos.
Você certamente, caro estudante, já deve ter ouvido falar em uma ou outra das
manifestações artísticas abaixo. Veja que linguagem mais bonita e criativa!
Repente
O repente também conhecido por cantoria tem como local de seu surgimento o
Estado da Paraíba, na serra do Teixeira. Espalhou-se por todo o Nordeste,
influenciando uma gama de compositores. Dentre seus precursores podemos citar
Ugulino Nunes da Costa, Bernardo Nogueira e Francisco Romano de Caluête, todos
naturais da cidade de Teixeira, na Paraíba.
Dada a grande aceitação, o repente, forma de canto e poesia, foi motivo de muitos
programas de rádio e televisão. Os chamados repentistas fazemversos de
improviso e se apresentam sozinhos ou em dupla por lugares públicos. Quando em
dupla, cantam desafios em forma de repente.
A viola é instrumento inseparável do compositor de repente, no entanto, o paraibano
Inácio da Catingueira repenteava ao som de um pandeiro e o cearense Cego
Aderaldo acompanhado pelo som de uma rabeca. Ainda hoje o pandeiro é utilizado
frequentemente.
Você já ouviu falar do repente? Já assistiu a uma apresentação? Leia abaixo uma
pequena demonstração bem humorada desse tipo de literatura popular.
FALTA UMA IMAGEM AQUI
Chegança
Originário do estado de Alagoas esse é um texto teatral declamado e em forma de
autocomposição (surgida na Espanha do século XII) que se popularizou no
Nordeste brasileiro no século XIX. A encenação ocorre na época do Natal, porém
em algumas comunidades ribeirinhas as apresentações ocorrem por conta da
passagem dos festejos de Bom Jesus dos Navegantes, estendendo-se, dessa
forma, até o mês de fevereiro. Os figurantes se apresentam trajados de marinheiros
e vão narrando, em episódios, uma história como se dela fizessem parte. Em
algumas localidades, o grupo de figurantes sai numa embarcação e retornam,
chegando de fato. Imagine a cena...deve ser um evento mágico!
A “história” ora falada; ora cantada, passa-se no interior de um navio e é dividida em
episódios. Trata-se de uma apresentação muito bem organizada com vestimentas
náuticas impecáveis. Normalmente, a apresentação se faz por meio de um contrato
com valores estipulados.
Recentemente, em 2019, a chegança passou a ser considerada Patrimônio Cultural
Imaterial do Estado da Bahia.
Perceba, abaixo, o convite que é feito para quem presencia o espetáculo.
FALTAM DUAS IMAGENS AQUI
Em abril de 2006 entrou em vigor a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio
Cultural Imaterial. O objetivo é que se incentive em grupos e indivíduos envolvidos a
cooperação, o respeito e a sensibilização pela cultura local, nacional e internacional.
Segundo o documento, que poderá ser acessado na íntegra no site da Biblioteca
das Nações Unidas, são considerados patrimônios imateriais de acordo com o
Artigo 2º
[…] as práticas, representações, expressões, conhecimentos e aptidões – bem
como os instrumentos, objectos, artefactos e espaços culturais que lhes estão
associados – que as comunidades, os grupos e, sendo o caso, os indivíduos
reconheçam como fazendo parte integrante do seu património cultural. Esse
património cultural imaterial, transmitido de geração em geração, é constantemente
recriado pelas comunidades e grupos em função do seu meio, da sua interacção
com a natureza e da sua história, incutindo-lhes um sentimento de identidade e de
continuidade, contribuindo, desse modo, para a promoção do respeito pela
diversidade cultural e pela criatividade humana. (UNESCO, 2020)
Para que o objeto dessa intenção seja proclamado patrimônio imaterial e passe a
constar na lista de inventário da Convenção, é necessário que sejam atendidos
muitos requisitos como apresentação de provas documentais, depoimentos e uma
série de outros, a fim de que não restem dúvidas sobre a importância do bem à
humanidade.
Cururu
É um tipo de canto caipira de improviso que se assemelha ao repente nordestino e à
trova gaúcha. Com origem em São Paulo, essa forma de literatura popular é
acompanhada por uma viola de 10 ou de 12 cordas.
No início do século XX, quando surgiu, o canto dos curureiros era acompanhado por
uma dança, mas há algum tempo que a dança sumiu da tradição restando apenas o
canto de improviso. Durante a entoação desse, o povo vai fortalecendo ou
diminuindo os aplausos, conforme as rimas proferidas. As rimas, por sua vez, têm
nomes de santos. Por exemplo, a rima de São João é porque a “carreira” termina
em “ão”.
Esse tipo de manifestação ainda é encontrado no Interior de São Paulo, mas o
conteúdo é diverso ao que antigamente era entoado. Hoje em dia já não se cantam
mais as histórias religiosas de antigamente.
O artista de maior destaque chamou-se Antônio Cândido, o “Parafuso”, conhecido
por dar espetáculos no canto e na dança do cururu. Possuía destacada habilidade
para rodopiar, daí seu apelido.
Trova Galponeira (Gauchesca)
Trata-se de poesia oral e improvisada, semelhante ao repente, cantada em estrofes
de 6 versos e acompanhada por música gauchesca ao som de um acordeom.
Criada nos galpões de fazendas no Rio Grande do Sul, tem em Gildo de Freitas e
Teixeirinha seus maiores expoentes.
A reunião conhecida por Roda de Trova acontece quando há mais de três
trovadores e não tem um tempo estipulado, pois o assunto vai discorrendo e a
performance vai até o momento em que um dos desafiantes declama o verso de
despedida.
A maioria dos trovadores gaúchos têm preocupação em aumentar seu
conhecimento sobre determinados temas, uma vez que quanto maior o domínio
sobre assuntos variados, maior o vocabulário, e isso pode ser decisivo numa
disputa. Nesse tipo de combate, o domínio sobre a palavra é uma arma valiosa.
Em apresentações é bonito de se ver o sentimento de surpresa no público e até
mesmo no próprio trovador porque, muitas vezes, o verso é produzido sem intenção
consciente.
Cordel
Quando se fala em literatura popular é o cordel que vem à cabeça de muitas
pessoas, não é mesmo? Não é para menos, tal como a chegança, na Bahia, o
cordel é reconhecido como patrimônio cultural imaterial, dada a sua importância.
Abaixo na figura 3 podemos observar a respeito do nordestino segurando o cordel.
Vejamos:
Figura 3 - Nordestino segurando cordel
Como já vimos nessa unidade, em épocas medievais artistas chamados jograis ou
trovadores entretinham as comunidades e a nobreza declamando a chamada trova,
que atravessou séculos e se espalhou pela Europa. No Brasil, esse modelo de
poesia é de origem portuguesa e chegou trazido pelos colonizadores.
Inicialmente, o cordel era apenas cantado, mas com o advento da impressão,
passou a ser pendurado, em cordas, nas ruas, e a estampar figuras em xilogravura
na capa. A partir do século XVIII, começou a ser considerada poesia regional pelo
fato de expressar versos com assuntos locais, o que fortalecia a identidade das
comunidades à época.
Grandes nomes estão na lista dos principais cordelistas. O poeta paraibano Leandro
Gomes de Barros foi quem iniciou a escrita de cordel no Brasil, em 1893. Junto a ele
outros nomes se tornaram reconhecidos pela autoria de cordéis, como João Martins
de Athayde, também do Estado da Paraíba, esse primeiro editor especializado em
cordéis.
Outro nome, além de muitos tantos não citados aqui, mas esse de grande
expressão, é o de Patativa do Assaré, poeta cearense (figura 4). Seu nome é um
dos mais lembrados quando se fala em cordel. Não que outros não o sejam
importantes, mas Patativa viveu na contemporaneidade de dias mais próximos a
recursos midiáticos. Sua obra é estudada nos meios escolares brasileiros e, na
França, foi um dos autores estudados na disciplina de Literatura Popular Universal.
Figura 4 - Memorial a Patativa do Assaré
Na ilustração acima (Figura 4), vemos o Memorial à Patativa do Assaré. Localizado
na cidade de Assaré, Ceará. O local, uma construção antiga de três andares, abriga
uma coleção de 1200 artefatos pessoais ou referentes ao escritor.
Aqui abaixo você vai ler o fragmento de um poema de Patativa do Assaré. Observe
que, do ponto de vista estrutural, predominam as sextilhas e as décimas, ambas
com versos de 7 sílabas poéticas (redondilha maior).
FALTA UMA IMAGEM AQUI
A fim de não restarem dúvidas, cabe salientar que o repente e o cordel são gêneros
que apresentam muitas semelhanças, no entanto, o repente é uma poesia que,
como o próprio nome diz, é criada na hora, de repente, atendendo a solicitação de
uma determinada plateia; o cordel, por sua vez, é um poema, impresso em folhetos,
com capa geralmente em xilogravura.
Conto Popular
Quem de nós nunca ouviu um conto popular? Sabe aquelas histórias de avó que
vão passando de geração em geração? Pois o conto popular nasceu assim,
transmitido de forma oral e passandode boca em boca. Trata-se de uma narrativa
anônima e em prosa que conta acontecimentos fictícios. Sua sequência narrativa é
de evolução rápida dada a sua curta extensão e tem por finalidade o divertimento ou
algum propósito moral.
O conto popular faz uso do recurso do maravilhoso atrelado ao folclore, o que se
torna, de certa forma, anedótico.
Acompanhe abaixo o exemplo de um tradicional conto popular do Nordeste.
Resumindo: Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema
de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que por muito tempo se entendeu a literatura popular como merecedora de descaso
acadêmico, uma subcultura que existia no meio rural, vítima da baixa escolaridade e
do desfavorecimento social. Sabemos, no entanto, que o repente, o conto popular, a
trova gauchesca, o cordel e a chegança, como exemplos dessa literatura, tiveram
aceitação regional e até mesmo nacional, como no caso do cordel, devido à
imposição gradual de seus representantes no sentido de afirmá-la como
manifestação artística. Devido a isso, essas manifestações foram buscando na
tradição uma forma de manterem viva a cultura de seu povo e, por não serem
estáticas, vêm se mantendo e até se alicerçando no turismo como forma de
propagação.
► A formação da literatura brasileira
As primeiras manifestações literárias no Brasil
Imagine você correndo risco dentro de uma embarcação precária numa longa
viagem marítima nos séculos XVI e XVII. Não deveria ser nada fácil, não é mesmo?
Na época das Grandes Navegações (século XVI), em embarcações chamadas
“naus”, semelhantes à da Figura 5, chegaram no Brasil os portugueses e com eles
teve início a história da literatura brasileira. A bem da verdade, a história de registros
escritos em solo brasileiro. Por estas, terras, encontraram os habitantes que
compunham uma sociedade ágrafa, sem nenhum registro escrito.
Foi a partir de então que surgiram os primeiros textos de que se tem notícia. Eram
relatos descritivos que se prestavam a informar ao Rei de Portugal aquilo que
presenciavam nessas terras até então desconhecidas pelos europeus. Esses
registros contavam o deslumbramento frente à tamanha exuberância da nossa
fauna e flora e curiosidades sobre os habitantes de tão rico solo.
Figura 5 - Descobrimento do Brasil
O primeiro texto escrito a circular foi uma carta de autoria de Pero Vaz de Caminha.
Não se tratava de nenhum gênero com intenção literária, entretanto, a escrita era
repleta de elementos mágicos, como assombro e encantamento pela descoberta.
Nela, o autor descreve suas impressões sobre o local e seus habitantes e narra
como se deu o desembarque e o encontro entre índios e portugueses.
A “Carta de Achamento” do Brasil foi descoberta somente no século XVIII e é
considerada o primeiro documento redigido no Brasil. Pertence ao período do
Quinhentismo, cuja produção escrita é chamada de literatura de informação,
composta por textos descritivos, informativos e crônicas de viagem. Sua estrutura
inicia como carta, mas segue como diário.
Assim, nascia a literatura brasileira escrita por um português.
Dica: É interessante você ler a carta de Caminha, pois trata-se de linguagem
simples e muito bem organizada. Abaixo, confira trechos da mesma.
“Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos
corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam
entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal.
Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda
tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos
os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas
vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso
desvergonha nenhuma. Também andava lá outra mulher, nova, com um menino ou
menina, atado com um pano aos peitos, de modo que não se lhe viam senão as
perninhas. Mas nas pernas da mãe, e no resto, não havia pano algum.”
Fonte: BIBLIOTECA NACIONAL. Ministério Da Cultura. A Carta De Pero Vaz De
Caminha. Disponível em: < > (Acesso em: 03/02/2020).
Figura 6 - José de Anchieta
Tão logo os jesuítas portugueses se estabeleceram em nossas terras, começou a
tomar corpo um outro tipo de registro, a chamada literatura de catequese, pois
sabemos que esses viajantes chegaram numa expedição exploratória atrás de
riquezas e interessados em propagar a fé cristã através do catolicismo. Dentre seus
autores, destacaram-se Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e, o mais relevante,
dada a sua produção literária, principalmente teatral, o Padre José de Anchieta.
José de Anchieta, cuja imagem é representada na Figura 6, ao contrário do que
muitos pensam, não era português como os demais colonizadores. Nascido na
Espanha, estudou em Portugal e veio para o Brasil quando ainda era noviço.
Aprendeu a linguagem dos indígenas de tal forma que escreveu uma gramática em
tupi, que foi utilizada na missão jesuítica.
Dentre muitas obras, Anchieta escreveu sermões, peças teatrais e poemas, além da
gramática. O “Poema à Virgem” e a peça teatral “Auto da festa de São Lourenço”
estão entre as produções que se destacam.
A literatura de catequese como modelo de registro escrito se caracteriza pela
linguagem simples, estrutura informativa e descritiva e caráter religioso, documental
e pedagógico. Anchieta, por viver em meio aos índios, sabia que gostavam de
festas e disso tirou proveito, adequando o conteúdo religioso a esses momentos,
caracterizando sua maneira didática de propagar a fé dos europeus que, por sinal
estava meio abalada devido ao crescimento do protestantismo na Europa.
O que muitos não sabem também é que o Padre José de Anchieta é considerado
santo pela igreja católica, tendo sido canonizado em 2014. A partir de então sua
designação passou a São José de Anchieta.
Como exemplo da literatura de catequese, segue abaixo parte do famoso poema de
José de Anchieta.
Poema da Virgem
“Por que ao profundo sono, alma, tu te abandonas,
e em pesado dormir, tão fundo assim ressonas?
Não te move a aflição dessa mãe toda em pranto,
que a morte tão cruel do filho chora tanto?
O seio que de dor amargado esmorece,
ao ver, ali presente, as chagas que padece?
Onde a vista pousar, tudo o que é de Jesus,
ocorre ao teu olhar vertendo sangue a flux.
Olha como, prostrado ante a face do Pai,
todo o sangue em suor do corpo se lhe esvai.
Olha como a ladrão essas bárbaras hordas
pisam-no e lhe retêm o colo e mãos com cordas.
Olha, perante Anás, como duro soldado
o esbofeteia mau, com punho bem cerrado.”
O Poema à Virgem, escrito com uma vara nas areias litorâneas, é o responsável
pela conhecida imagem de José de Anchieta à beira da praia escrevendo no chão.
Ele é composto de 1500 versos que depois foram escritos em papel pelo próprio
padre.
Apesar do nascimento da literatura brasileira ter se dado no período colonial (época
em que o Brasil era colônia portuguesa), as informações que se tem a respeito de
autores brasileiros datam do final do século XVII, encerrando, dessa forma, o
período chamado de QUINHENTISMO (em alusão a 1500).
No Quadro 1 a seguir veremos a periodização cronológica da nossa literatura.
Quadro 1 - Períodos literários
Era Colonial
Era Nacional
A periodização cronológica da literatura brasileira mostra seus períodos e eras
organizados no quadro abaixo. Cada uma dessas escolas literárias está organizada
com autores cujos temas e características se aproximam. Sempre que você
precisar, consulte-o.
Resumindo: Partimos da Idade Média, em Portugal, e estudamos um pouco sobre o
período colonial do Brasil. Vimos como se deu a chegada da Esquadra de Cabral e
enfatizamos, como evento literário maior da época, a Carta de Pero Vaz de
Caminha. Lemos as informações e curiosidades sobre a carta de Caminha e
também um excerto do mesmo, onde ele narra o impacto de culturas entre índios e
colonizadores aqui chegados. Nesse período, os colonizadores faziam registrosda
convivência com os indígenas e esse material se convencionou chamar literatura de
informação, composta principalmente, de cartas e relatos de viagens. Vimos que
junto à expedição exploratória vieram padres jesuítas que traziam a intenção de
propagar a fé cristã da igreja católica. Dentre eles, ainda noviço, José de Anchieta
foi a figura que mais se destacou. Dotado de grandes habilidades intelectuais,
Anchieta, junto a outros jesuítas, desenvolveu um tipo de literatura a qual
chamou-se literatura de catequese. Nesses registros, estavam os sermões de
Anchieta, poemas e peças teatrais. Sobre Anchieta, como curiosidade, lemos que
uma das suas imagens mais propagadas em livros de literatura é aquele em que
ele, à beira da praia, escreve com uma vara um poema de 1500 versos à Virgem
Maria, produção depois registrada em papel por ele. Outra curiosidade, é que o
Padre José de Anchieta foi beatificado e canonizado santo em 2014. A partir de
então, sua designação passou a São José de Anchieta.
As formas e os gêneros literários
A prosa
Toda a literatura dita brasileira no período colonial esteve por muito tempo
subjugada a Portugal. Tudo que aqui era feito passava pelo crivo dos portugueses
de uma forma ou de outra, pois a imprensa só chegou ao Brasil com a vinda de
D.João VI, em 1808. Sendo assim, foi somente a partir do século XIX, com o
Romantismo, que a nossa literatura tornou-se autônoma e começou, de fato, a se
desapegar de Portugal. A partir de então teve início o desenvolvimento da PROSA e
do VERSO em nosso país.
Considerada um texto corrido, a prosa não está sujeita à rima, métrica, ritmo ou
número de sílabas poéticas. Trabalha com a linguagem do cotidiano, real, objetiva,
sem ambiguidade. Comumente é chamada de prosa literária ou prosa não literária.
Na prosa literária se observa a narração de fatos que podem ser inspirados na
realidade ou fictícios. Como exemplos, temos o conto, a novela, a fábula e a
crônica.
No que concerne à prosa não literária, se verifica claramente um texto didático, com
o objetivo de informar, como o são os jornais, os ensaios, as cartas, dentre outros.
O verso
Ao contrário da prosa, o verso vale-se de qualidades estéticas da língua e faz uso
de recursos semânticos, fonéticos e sintáticos. É elaborado com métrica e dividido
em versos, que reunidos formam as estrofes. Sua essência é a expressão dos
sentimentos do “eu-lírico”, o sujeito poético criado pelo autor.
A poesia pode ser encontrada em outras artes além da literatura como, por
exemplo, na pintura, na fotografia, na música e até na natureza. Um texto em prosa
pode ser poético assim como um poema também é por traduzir poesia através de
sentimentos. O correto é chamar as formas literárias por prosa e verso, embora se
veja em alguns poucos livros o registro de prosa e poesia.
Os gêneros literários
Desde os tempos da Antiguidade greco-romana, os gêneros literários aparecem
como classificação da criação literária. Eram escritos em versos e compunham a
seguinte divisão: épico, dramático e lírico. Na Modernidade, o gênero épico perdeu
força e se desdobrou no gênero narrativo, como veremos logo adiante.
O gênero épico
Texto geralmente longo. Narra histórias de um povo ou nação, envolvendo guerras,
aventuras e viagens. Valoriza heróis e seus feitos e é narrado em terceira pessoa.
As epopeias são o exemplo desse gênero.
Na literatura brasileira, como destaque, temos o Uraguai (Basílio da Gama) e
Caramuru (Santa Rita Durão).
O gênero lírico
Texto geralmente subjetivo com construções em primeira pessoa que expressam os
sentimentos do eu-lírico (que pode ser feminino ou masculino). Apresenta as
emoções através da expressão verbal e não necessita mais seguir regras estilísticas
de forma rígida como no passado. Seu nome descende do instrumento musical
“lira”, que acompanhava os poemas no passado, pois em épocas antigas esses
eram cantados.
Os poemas, de forma geral, pertencem a este gênero, dentre eles podemos citar a
elegia, a sátira, o ode e o hino, dentre outros menos comuns, como a écloga
(poema escrito em diálogos).
● A seguir, breve definição de cada tipo de poema citado.
● Elegia – poema terno e triste
● Sátira – composição irônica sobre costumes de épocas.
● Ode – poema cantado
● Hino – cântico de glorificação a deuses ou heróis
O gênero dramático
Texto de intensidade emocional que expõe conflitos e manifestações da miséria
humana. São destinados à representação cênica, apresentam-se em forma de
diálogos, não possuem narrador e dividem-se em atos e cenas. Fazem parte desse
gênero a tragicomédia, a farsa, a tragédia e a comédia.
Acompanhe, abaixo, a definição de cada um dos tipos componentes desse gênero.
● Tragicomédia – contém em sua estrutura traços da tragédia e da comédia
● Farsa – ação cômica, engraçada, atrapalhada.
● Tragédia – acontecimento aterrorizante que termina com morte.
● Comédia – apresentação humorada que retrata costumes da sociedade.
As conhecidas máscaras gregas (Figura 7) surgidas na Grécia Antiga tiveram
origem com os rituais ao deus grego Dionísio, deus do vinho.
Com o decorrer dos tempos, passaram a acessórios imprescindíveis às
apresentações teatrais, pois as arenas onde ocorriam as encenações dramáticas
eram grandes e muitas pessoas se acumulavam para assistirem aos espetáculos.
Dessa forma, os atores ficavam muito longe da plateia e a função de tais adornos
era a de transmitir a expressão causada por determinados sentimentos.
O gênero narrativo
Modelo de texto que encerra subgêneros como crônica, novela, conto e romance,
sendo esse último a mais importante manifestação desse gênero. Vale frisar que o
mesmo apresentase na forma de prosa e é visto como um desdobramento do
gênero épico.
Resumindo: Na segunda parte dessa unidade, estudamos um pouco sobre a
literatura brasileira a fim de circularmos com a literatura popular numa linha do
tempo e entendermos qual seu lugar junto aos movimentos literários. A respeito das
formas em que a literatura brasileira se apresenta, vimos que as mesmas são o
verso e a prosa. Ao contrário do que muitos pensam, sobre serem poesia e prosa,
por isso intensificamos o que o termo poesia encerra. Em se tratando dos gêneros
literários, soubemos que se dividem em quatro: épico, lírico, dramático e narrativo.
Abordamos cada um dos gêneros de maneira bem breve, pois esses serão objeto
de estudo em outras disciplinas do seu curso. Dessa forma, encerramos a unidade 1
com a certeza de que atendemos ao conteúdo programático da disciplina.
O surgimento do Regionalismo
O Regionalismo no contexto histórico do Brasil contexto
Você certamente já deve ter ouvido falar em regionalismo, não é mesmo? O termo
Regionalismo, na literatura, é compreendido como um estilo para alguns; uma
tendência para outros. É um tipo de literatura surgida na metade do século XIX que
coloca sua atenção voltada a uma determinada região dentro do nosso país, o que
não ocorria inicialmente porque os autores não colocavam seu foco num ponto
geográfico em especial, mas faziam uma literatura que abrangesse particularidades
políticas, econômicas e sociais do Brasil como um todo. Então acontece, no
Romantismo, uma renovação de temas literários para a qual o período seria
propício.
De certa forma, o Indianismo não ficava tão distante do Regionalismo no sentido de
produção nacionalista. Para os românticos, tanto o nativo, quanto o sertanejo, o
gaúcho ou outro tipo interiorano eram figuras que possuíam a cor local, a
representação do nacional que era buscada pelo Romantismo para fugir da ligação
com o modelo europeu.
No entanto, o projeto nacionalista buscou localidades que não eram submissas aos
costumes das metrópoles – o sertão e o sul do país, por exemplo, tiveram a sua
geografia descrita nas narrativas de uma maneira muito real, o que levou escritores
a alcançarem a intenção de distinguir o Brasil do modelo europeu de literatura.
A partir de 1920 passa a ocorrer um intenso processo de transformação no país. O
Brasil passa a viver uma crise de abrangência econômica,social, política, ideológica
e cultural com tendência a se agravar. Nessa época, a população rural era maioria,
mas dominada pelos coronéis. Em 1922, a fim de acompanhar as mudanças que
vinham ocorrendo em várias áreas houve uma tentativa, por parte dos modernistas,
de aproximação com o popular. Ainda nesse ano surgiram o Movimento
Regionalista e a Segunda Geração Modernista na literatura.
O discurso literário da Segunda Geração Modernista apresentou um cunho
sociopolítico que enfatizou problemas como a seca, o abandono, a violência, entre
outros.
Mesmo com as mudanças que vinham ocorrendo nas décadas de 1920 e 1930,
ainda assim o Brasil vivia uma séria crise social, visto que com o surgimento da
indústria muitos imigrantes chegaram por aqui e não e submetiam aos desmandos
do governo, gerando rebeliões e revoltas.
Você está percebendo onde é que o romance regionalista se localiza numa linha do
tempo?
Fases do Regionalismo
Antônio Cândido classifica o Regionalismo em três fases:
● Regionalismo pitoresco - possuía elementos de segregação entre a cidade
e o campo e os personagens são absorvidos pelos costumes da região a ser
retratada. Geralmente a escrita carrega um ar anedótico que em conjunto das
características dos personagens torna-se um elemento cômico para o homem
da sociedade.
● Regionalismo crítico – surge a partir de 1930 a ideia de produzir uma
literatura com traços de denúncia ao modelo anterior. A ideia agora era a
busca por um leitor crítico que se posicionasse sobre questões sociais.
● Super regionalismo – período de uma peculiar invenção linguística, com
Guimarães Rosa como seu grande percursor.
Você está percebendo onde é que o romance regionalista se localiza numa linha do
tempo? Veja no quadro abaixo.
Quadro 1- Linha do tempo do Regionalismo.
1)PROSA" Regionalismo
Romantismo
2)Realismo
Naturalismo
Parnasianismo
3)Simbolismo
4) Pré-modernismo
5) 2a Geração*Regionalismo
1a Geração
Modernismo
Está localizado? Você também pode fazer essa localização no quadro dos períodos
literários na unidade 1. Vamos em frente!
O processo de modernização pelo qual o Brasil passava no século XIX bateu de
frente com a tradição regionalista, pois com o progresso no campo das técnicas
agrícolas e com o êxodo rural a temática regionalista passou a pautar-se na
oposição de temas
De uma forma geral os romances regionalistas eram direcionados à classe média
que vivia em cidades como o Rio de Janeiro, por exemplo. Alguns desses livros
explicavam porque as pessoas que viviam afastadas dos centros urbanos, no meio
rural, não desenvolviam o gosto pela leitura e porque acreditavam que os livros
poderiam trazer prejuízos à reputação das moças de família.
Para os regionalistas dessa fase, o sentimento de idealização nacional, o caráter
otimista e o exotismo estavam acima de tudo. As marcas linguísticas, sociais e
culturais se sobressaem e a valorização de mitos ou heróis que contavam história
passou a ser comum e despertavam nos leitores um forte sentimento de patriotismo.
A diversidade cultural passou a ganhar espaço neste tipo de romance.
Autores regionalistas do Romantismo
Com o objetivo de redescobrir o Brasil através de suas características regionais, o
romance regionalista foi o resultado das criações do Romantismo. Acompanhe,
abaixo, os principais autores desse período.
José de Alencar (1829 – 1877)
Quem nunca ouviu falar em José de Alencar? Reconhecido autor de obras
importantes da nossa literatura, Alencar diversificou sua produção criativa de
maneira a atender as diversidades que o país oferecia no século XIX. Seus
romances circularam pela temática indianista, histórica, urbana e pela regionalista.
Da sua fase regionalista, os romances mais conhecidos são: O gaúcho (1870) - seu
primeiro romance regionalista, O tronco do Ipê (1871), Til (1872) e O Sertanejo
(1875).
Nesses romances, José de Alencar expressou a vida humana intimamente ligada ao
meio. Os homens, em detrimento das mulheres, em seu universo de personagens,
sempre receberam mais destaque nos seus romances regionalistas, ao passo que
as personagens femininas se sobressaíam em seus romances urbanos. Alguns
livros contam que José de Alencar conseguiu ser mais convincente na descrição da
vida nordestina do que na vida gaúcha. Vamos saber o que você pensa sobre isso
lendo o trecho abaixo do capítulo IX - Amigas, da obra O gaúcho. Aproveite para
observar a integração do homem gaúcho com a natureza.
“Levantara-se a Morena e pela rampa íngreme subira ao respaldo do penhasco. Ali
estava entre os troncos das palmeiras, sob um arbusto embastido, a cama de folhas
e grama, que servira de berço ao filho. Entre o fino capim, sobre a crosta argilosa do
rochedo, descobriam olhos vaqueanos o rastro de um casco pequeno e ainda
vacilante, a julgar pela leve depressão da terra. Baralhado com este o rastro maior
do puma, seguindo um trilho de sangue na direção da selva. Em todo o circuito,
desde a fenda até à mata, o chão estava profundamente escarvado pelos cascos da
égua. Para o fundo, o terrado declinava e abrupto sumia-se por funda barranca; era
aí o ventre da caverna a que a fenda servia apenas de glote. Acompanhando o
movimento do animal que em risco de precipitar-se alongava o pescoço, sondava
Manuel as profundezas da gruta. Nesse momento ouviu-se um som débil e flente
que vinha da fenda. A mãe aflita correu para ali e tornou a chamar ansiosamente o
filho. Entanto os ramos se afastavam e outra égua, de pêlo tordilho, se aproximou,
seguida do seu poldrinho; viera trazida pelo rincho da companheira. Eram amigas;
abraçaram-se cruzando o pescoço e acariciando-se mutuamente as espáduas.
Depois de trocadas estas primeiras carícias, a recém-chegada começou uma série
de movimentos entrecortados de rinchos que deviam ser a narração eloqüente dos
sucessos anteriores. A Morena atendia imóvel. Presenciou o gaúcho do alto aquele
terno colóquio, que veio completar a notícia colhida na confissão da baia e na
investigação do terreno. Sabia agora toda a verdade do triste acontecimento. Havia
oito dias que tivera a Morena um lindo filho alazão. Uma tarde, quase ao escurecer,
o puma assaltara a malhada do poldrinho, que recuando intrépido para fazer face ao
inimigo, escorregara pela rocha e caíra na gruta.”
Fonte: ALENCAR, José de. O gaúcho. 3. ed. São Paulo : Ática, 1998. Pág. 26-27.
Disponível em
Alfredo d’Escragnolle Taunay (Visconde de Taunay) (1843 – 1899)
Nascido no RJ, Taunay se projetou na literatura com aquele que seria seu mais
famoso romance: Inocência. Seguidor fiel dos valores europeus, é tido como o mais
equilibrado dos autores regionalistas do Romantismo. Tinha um apurado senso de
análise, o que o levou a ser bem realista, não dando tanta importância aos
sentimentos, mas sim à honra.
Perceba no trecho abaixo do capítulo VI, de Inocência, a preocupação em mostrar
os pensamentos das personagens e a fala coloquial, que torna a narrativa popular.
“Ligeiramente enrubesceu Inocência e descansou a cabeça no travesseiro.
—Por que amarrou esse lenço? perguntou em seguida o moço.
—Por nada, respondeu ela com acanhamento.
— Sente dor de cabeça?
—Nhor-não.
—Tire-o, pois: convém não chamar o sangue; solte pelo contrário, os cabelos,
Inocência obedeceu e descobriu uma espessa cabeleira, negra como o âmago da
cabiúna e que em liberdade devia cair ate abaixo da cintura. Estava enrolado em
bastas tranças, que davam duas voltas inteiras ao redor do cocoruto
—É preciso, continuou Cirino, ter de dia o quarto arejado e por a cama na linha do
nascente ao poente.
—Amanhã de manhãzinha hei de virá-la, disse o mineiro.
—Bom, por hoje então, ou melhor, agora mesmo, o suador. Fechem tudo, e que a
dona sue bem. A meianoite, mais ou menos, virei aqui dar-lhe a mezinha. Sossegue
o seu espirito e reze duas Ave-Marias para que a quina faça logo efeito.
—Nhor-sim, balbuciou a enferma.
—Não lhe dói a luz nos olhos? perguntou Cirino, achegando-lhe um momento a vela
ao rosto.
—Pouco... —um nadinha.
—Isso é bom sinal. Creio que não há de ser nada.”
Fonte: TAUNAY,Visconde de. Inocência. Universidade da Amazônia. Núcleo de
Educação à distância. p. 25. Disponível em:
Bernardo Guimarães (1825-1884)
Apesar de ter dado início ao romance regionalista, Bernardo Guimarães sofre
críticas pela sua falta de originalidade na abordagem de suas obras, que são
caracterizadas pela simplicidade. Normalmente trabalhava na fórmula herói nobre+
patife+ heroína apaixonada= conflitos até um final feliz, o que lhe deu popularidade
na literatura. Por outro lado, críticos literários elogiam a coragem do autor ao tratar
um tema pouco abordado na época: a abolição.
A Escrava Isaura é um dos romances românticos mais famosos de Bernardo
Guimarães. O livro foi publicado em 1875 e foi adaptado várias vezes para a
televisão. Nessa época eram latentes discussões sobre o abolicionismo, pois foi
somente em 1888 que aconteceu a abolição da escravatura no Brasil por ocasião da
Lei Áurea.
Para quem não conhece, A Escrava Isaura é a história de uma escrava branca que
foi criada como filha pelos proprietários da fazenda na qual vivia. A matriarca decide
que após sua morte Isaura será considerada livre, mas quando a mulher morre ,
Leôncio, seu filho, assume os negócios e não alforria a escrava conforme o desejo
da mãe. Apesar de casado, Leôncio demonstra seu interesse por Isaura enquanto
mulher e decide que se ela não for sua, não será de mais ninguém.
O drama vai se desenrolando até a altura em que a escrava e seu pai, homem
branco e livre, fogem e passam a viver longe dali. Nessa época, Isaura conhece
Afonso, seu grande amor.
Franklin Távora (1842 – 1888 )
O autor foi um crítico ferrenho da obra alencariana, pois dizia que a mesma não
traduzia um caráter nacional, uma vez que abordava o Brasil como um todo.
Defendia a separação das culturas do norte e da sul e grande parte de sua obra
teve o estado de Pernambuco, do século XVIII, como pano de fundo para suas
produções literárias. É considerado o autor da transição do Romantismo para o
Realismo.
Abaixo, um trecho do capítulo 1, de O Cabeleira.
“José Gomes, por irresistível força do instinto que muitas vezes o traiu aos olhos do
carniceiro pai, voltou-se de chofre e lhe disse: — Para que matar se eles fogem de
nós? — Matar sempre, Zé Gomes — retorquiu o mameluco com as narinas
dilatadas pelo odor do sangue fresco e quente que do rosto lhe descia aos lábios e
destes penetrava na boca cerval. Não temos aqui um só amigo. Todos nos querem
mal. É preciso fazer a obra bem feita. Este homem era o gênio da destruição e do
crime. Por sua boca falavam as baixas paixões que à sombra da ignorância, da
impunidade e das florestas haviam crescido sem freio e lhe tinham apagado os
lampejos da consciência racional que todo homem traz do berço, ainda aqueles que
vêm a ser depois truculentos e consumados sicários. Seu coração estava
empedernido, seu senso moral obcecado. Nenhum sentimento brando e terno,
nenhum pensamento elevado exercitava a sua salutar influência nas ações deste
ente degenerado e infeliz. — Estás com medo, Zé Gomes, deste poviléu?
Parece-me ver-te fraquear. Por minha bênção e maldição te ordeno que me ajudes
a fazer o bonito enquanto é tempo. Não sejas mole, Zé Gomes; sê valentão como é
teu pai(1). Tendo ouvido estas palavras, o Cabeleira, em cuja vontade exercitava
Joaquim irresistível poder, fezse fúria descomunal e, atirando-se no meio do
concurso de gente, foi acutilando a quem encontrou com diabólico desabrimento.”
Fonte: TÁVORA. Franklin. Ministério da Cultura. Fundação Biblioteca Nacional.
Disponível em :
Franklin Távora trouxe para sua narrativa o tipo cangaceiro, bandido cruel que
perambulava tipicamente vestido e armado pelos sertões nordestinos entre os
séculos XVIII e XX, espalhando o terror e a violência por onde passasse. O
personagem Cabeleira, do trecho lido acima era um cangaceiro que tentava levar
seu filho para o mundo do crime.
Esse foi o contexto no qual nasceu o Regionalismo. Você já havia tido contato com
essas informações? Vamos especificar a partir de agora como se estabeleceu o
Regionalismo na literatura brasileira. Vamos ao próximo capítulo!
Resumindo: Surgido na metade do século XIX com a finalidade de propagar a
cultura e os costumes de regiões específicas do país, o Regionalismo nasceu num
período de intenções nacionalistas que libertassem o Brasil de modelos vindo de
fora. Utilizado como meio de formação da identidade nacional brasileira, o
Regionalismo foi visto como uma oportunidade de retratar os aspectos de um Brasil
rural, interiorano, em oposição aos temas abordados nos romances urbanos. Dessa
forma, o romance regionalista teve de construir seu próprio modelo , diverso aos
modelos europeus, o que conferiu autonomia à literatura brasileira.
Entre o Romantismo e o Modernismo
O romance de 30 (2ª fase do Modernismo)
Nos anos da década de 1930 vários autores se mostraram seriamente empenhados
na construção nacionalista da nossa cultura. Neste empenho pelo nacional tiveram
notoriedade os romances de cunho indianista e histórico, o romance regional e o
romance urbano. Porém, foi o romance regionalista que assumiu a missão
nacionalista da sonhada autonomia cultural brasileira.
O Regionalismo de 1930, embora distinto daquele que vinha ocorrendo
anteriormente, ocupa um lugar de destaque na literatura brasileira, principalmente
devido à escrita crítica de caráter sociológico. Neste período ocorreu um grande
desenvolvimento do gênero devido a essa tensão crítica pelo interesse das regiões
brasileiras em geral.
A partir de então, autores foram se destacando de forma surpreendente. Será que
você já conhece algum dos livros abaixo? Se já leu algum deles não deixe de ler os
demais.
O Manifesto Regionalista
Numa época de publicações de manifestos, um grupo de escritores liderados pelo
sociólogo pernambucano Gilberto Freyre se reuniu para alavancar uma renovação
cultural nordestina. O então chamado Manifesto Regionalista, que foi apresentado
em 1926 e lançado pelo Centro Regionalista do Nordeste, que apresentou como
proposta a defesa dos interesses da região nordeste brasileira no tocante a
aspectos culturais, sociais e econômicos.
Vale lembrar que esse mesmo Centro promovia encontros de arte, exposições,
congressos e outros eventos para a propagação da cultura regional. Ao final da
leitura do Manifesto escrito por Freyre fica bem claro o desejo de que as tradições
do Nordeste brasileiro se mantenham intactas e não sofram as mesmas influências
que o Rio de Janeiro, por exemplo, sofreu ao imitar os valores estrangeiros, levando
seu povo a esquecer suas raízes.
Vamos ler um trecho do Manifesto Regionalista?
Seria bem interessante se você conseguisse ler esse manifesto na íntegra para
observar a linguagem, a narrativa e os aspectos a respeito dos quais Gilberto Freyre
discorreu, passando desde a culinária, com muita ênfase, até outras tantas
manifestações culturais.
“Augusto dos Anjos afeiçoou-se tanto, nos seus dias de menino de engenho, a um
pé de tamarindo grande do quintal da casa dos seus pais, que dele guardou a
lembrança que se guarda de uma pessoa particularmente amiga. A velha árvore foi
para ele um confidente bom dos primeiros amores ou dos primeiros sonhos da
meninice. Que menino do Nordeste não teve a sua mangueira ou o seu cajueiro de
estimação, parecido ao pé de tamarindo dos versos de Augusto? Ou um visgueiro
ou coqueiro dos que estão sempre repontando dos quadros de Telles Júnior como
se fossem mais do que árvores ou mais do que paisagem? Uma árvore mais amiga
que as outras. Uma árvore quase pessoa de casa. Quase pessoa da família. Quase
irmã dos meninos ou desses meninos eternos que são os poetas, os pintores, os
compositores que sabem ouvir não somente estrelas nas árvores, como souberam
José de Alencar e Augusto dos Anjos.
(...)Hoje precisamos de Joões Ramos, continuadores de Joaquins Nabucos e cujas
vozes se ergam não só a favor dos homens ainda cativos de homens ou dos
animais ainda maltratados e explorados pelos donos ou das matas roubadas de
seus bichos mais preciosos porcaçadores a serviço de comerciantes gulosos de
dinheiro fácil, mas a favor das árvores, das plantas, dos frutos da região, dos seus
doces e dos seus quitutes, que tanto quanto as artes populares e os estilos
tradicionais de casa e de móvel, vêm sendo desprezados, abandonados e
substituídos pelas conservas estrangeiras, por drogas suíças, remédios europeus e
pelas novidades norte-americanas. Donde a necessidade deste Congresso de
Regionalismo definir-se a favor de valores assim negligenciados e não apenas em
prol das igrejas maltratadas e dos jacarandás e vinháticos, das pratas e ouros de
família e de igreja vendidos aos estrangeiros, por brasileiros em quem a consciência
regional e o sentido tradicional do Brasil vem desaparecendo sob uma onda de mau
cosmopolitismo e de falso modernismo. É todo o conjunto da cultura regional que
precisa ser defendido e desenvolvido.”
Fonte: Gilberto Freyre. Manifesto regionalista. 7ª ed. Recife: FUNDAJ, Ed.
Massangana, 1996. Disponível em
O Movimento Regionalista se diferenciou do Manifesto Regionalista proposto por
Gilberto Freyre em 1926. Enquanto o “Movimento” Regionalista ou Regionalismo foi
uma corrente literária iniciada no Romantismo e forte no Modernismo, o “Manifesto”
Regionalista propôs a defesa dos interesses da cultura do nordeste brasileiro.
Autores Regionalistas do Modernismo
A seguir trataremos a respeito dos autores regionalistas do modernismo. Vamos lá?
José Lins do Rêgo (1901 – 1957)
Seu primeiro romance Meninos de Engenho foi publicado em 1932, mas o marco de
sua carreira literária foi Fogo Morto com seu discurso regionalista. Este e outros
livros seus fazem parte de um conjunto de obras do ciclo de açúcar.
O romance é dividido em três partes com personagens diferentes. A primeira parte
narra a história de José Amaro, cidadão que mora na periferia da fazenda Santa Fé
e que ganha a vida como artesão do couro. Vive em função da loucura da filha
Marta com a qual não consegue lidar. Chega à conclusão que uma surra talvez
ajudasse no mal da filha, o que o atormentava. Após isso, passa a perambular pelas
noites afora, e cria-se pela redondeza uma espécie de lenda que José Amaro era
lobisomem. Embora independentes entre si, na terceira parte da história sabese que
José Amaro se suicida por conta de sua própria loucura.
A segunda parte trata sobre a decadência do engenho de açúcar de Lula de
Holanda, o qual mesmo em situação financeira precária não deixa de querer mostrar
uma autoridade de coronel que já não existia mais
Por fim, a terceira parte traz novamente a figura do Capitão Vitorino (que já havia
sido mencionada na primeira e segunda partes) e desenha-o para o leitor como um
Dom Quixote, uma espécie de cavaleiro errante que julga ter um renome que não
tem.
Vamos conhecer uma parte da história? Acompanhe-a abaixo.
O bater do martelo do mestre José Amaro cobria os rumores do dia que cantava nos
passarinhos, que bulia nas árvores, açoitadas pelo vento. Uma vaca mugia por
longe. O martelo do mestre era forte, mais alto que tudo. O pintor Laurentino foi
saindo. E o mestre, de cabeça baixa, ficara no ofício. Ouvia o gemer da filha. Batia
com mais força na sola. Aquele Laurentino sairia falando da casa dele. Tinha aquela
filha triste, aquela Sinhá de língua solta. Ele queria mandar em tudo como mandava
no couro que trabalhava, queria bater em tudo como batia naquela sola. A filha
continuava chorando como se fosse uma menina. O que era que tinha aquela moça
de trinta anos? Por que chorava, sem que lhe batessem? Bem que podia ter tido um
filho, um rapaz como aquele Alípio, que fosse homem macho, de sangue quente, de
força no braço. Um filho do mestre José Amaro que não lhe desse o desgosto
daquela filha. Por que chorava daquele jeito? Sempre chorava assim sem que lhe
batessem. Bastava uma palavra, bastava um carão para que aquela menina ficasse
assim. Um bode parou bem junto do mestre. O animal era manso. O mestre
levantou-se, sacudiu milho no chão para a cria comer. Depois voltou para o seu
tamborete e começou o serviço outra vez. Pela estrada gemia um carro de boi,
carregado de lã. O carreiro parou para conversar com o mestre. Estava precisando
de correame para os bois. O coronel mandara encomendar no Pilar. Ele gostava
mais do trabalho do mestre José Amaro.”
Disponível em:
Jorge Amado (1912 – 2001)
Certamente você já ouviu falar nesse que é um dos grandes nomes da literatura
brasileira. Falamos “certamente” porque Jorge Amado viveu numa época recente, o
que fez com que muitos jovens assistissem suas obras que viraram séries
televisivas ou filmes.
Jorge Amado sempre trouxe em suas histórias a brasilidade do nosso povo, mas
sobretudo abordou e divulgou pelo mundo afora as particularidades culturais da sua
Bahia, como a religiosidade e a culinária, por exemplo.
Em Salvador, capital baiana onde moraram Jorge Amado e sua esposa, a também
escritora Zélia Gattai, está montada A Casa do Rio Vermelho, residência na qual
viveu o casal. Aberta ao público, a casa funciona como museu e guarda as
lembranças de viagens e variados tipos de objetos pessoais que decoram todos os
recantos da casa. Se você for à Bahia, essa visita é uma dica imperdível!
Em Capitães da Areia, um livro muito especial, ele tratou sobre a indignação social
diante das injustiças, marginalidade, desigualdade e liberdade entre outros
assuntos. A história conta sobre cotidiano de um grande número de meninos que
viviam nas areias da praia e que têm em si mesmos uma família.
Vamos ler o trecho abaixo.
“Boa-Vida o apresentou ao grupo, que aos poucos ganhou a confiança da maioria,
viu que era totalmente inútil pensar nesse projeto. Viu que era absurdo, porque a
liberdade era o sentimento mais arraigado nos corações dos Capitães da Areia e
que tinha que tentar outros meios. Nas primeiras vezes os meninos o olhavam com
desconfiança. Ouviam muitas vezes na rua dizer que padre dava peso, que negócio
de padre era para mulher. Mas o padre José Pedro tinha sido operário e sabia como
tratar os meninos. Tratava-os como a homens, como a amigos. E assim conquistou
a confiança deles, se fez amigo de todos, mesmo daqueles que, como Pedro Bala e
o Professor, não gostavam de rezar. Dificuldade grande só teve mesmo com o
Sem-Pernas. Enquanto que o Professor, Pedro Bala, o Gato eram indiferentes às
palavras do padre (o Professor, no entanto, gostava dele, pois lhe trazia livros),
Pirulito, Volta Seca e João Grande, principalmente o primeiro, muito atentos ao que
ele dizia, o Sem-Pernas lhe fazia uma oposição que a princípio tinha sido muito
tenaz. Porém o padre José Pedro terminara por conquistar a confiança de todos. E
pelo menos em Pirulito descobrira uma vocação sacerdotal. Mas naquela tarde não
foi com muita satisfação que o viram chegar. Pirulito se aproximou e beijou a mão
do padre. Volta Seca também. Os demais o cumprimentaram. O padre José Pedro
explicou: -- Hoje venho fazer um convite a todos vocês. Os ouvidos se fizeram
atentos. O Sem-Pernas resmungou: --Vai chamar a gente pra bênção. Só quero ver
quem topa... Mas se calou porque Pedro Bala o olhava com raiva. O padre sorriu
com bondade. Sentou-se num caixão, João Grande viu que a batina dele era suja e
velha. Tinha remendos feitos com linha preta e era grande para a magreza do
padre. Cutucou Pedro Bala, que espiou também. Então o Bala disse: -- Minha
gente,o padre José Pedro, que é amigo de nós, tem uma bisa pra gente. Viva o
padre José Pedro!”
Fonte: AMADO, Jorge. Capitães de Areia. [livro digital]. Disponível em:
No ano de 1945 Jorge Amado foi o deputado federal mais votado no Estado de São
Paulo pelo Partido Comunista Brasileiro.
Raquel de Queiroz (1910-2003)
Em se tratando de Regionalismo, o romance O Quinze é um dos principais
exemplares, muito similar às histórias de José Lins do Rego, Jorge Amado e
Graciliano Ramos no mesmo período.
A temática gira em torno de problemas nacionais muito graves como a corrupção, o
desespero pela fome, a opressão e a miséria. A narrativa trata sobre a partida de
uma família do local onde residempor conta de uma forte seca que atingiu o estado
do Ceará.
O Quinze foi escrito quando Raquel de Queiroz contava com 19 anos e publicado no
ano seguinte. Causou espanto em escritores, homens, já consagrados. O nome vem
em decorrência da avassaladora seca de 1915.
Acompanhe, abaixo, um trecho dessa envolvente história.
“Na primeira noite, arrancharam-se numa tapera que apareceu junto da estrada,
como um pouso que uma alma caridosa houvesse armado ali para os retirantes […]
O vaqueiro foi aos alforjes e veio com uma manta de carne de bode, seca, e um
saco cheio de farinha, com quartos de rapadura dentro […] Já as mulheres tinham
improvisado uma trempe e acendiam o fogo. E a carne foi assada sobre as brasas,
chiando e estalando o sal”.
Raquel de Queiroz foi a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de
Letras e também a primeira mulher a receber o Prêmio Camões (importante prêmio
da língua portuguesa que foi instituído pelos governos brasileiro e português). Pelo
lado materno possui parentesco com a família de José de Alencar.
Graciliano Ramos (1882-1953)
Suas obras têm por cenário o nordeste brasileiro e tratam especificamente da
realidade do povo nordestino e da seca, que rachava a terra, como na e as vidas
das pessoas. Vidas Secas, grande obra do autor, nasce a partir de um conto
publicado anteriormente e possui treze capítulos que se constituem da reunião de
diversos contos que dialogam entre si através de períodos curtos e com muita
pontuação gráfica. Portanto, é possível ler alguns capítulos antes de outros.
Uma família de retirantes do nordeste brasileiro constituída pelo pai, Fabiano, a mãe
Vitória, o filho mais velho, o filho mais novo e a cachorra Baleia. O espaço
indeterminado é o sertão, por onde ficam vagando de forma circular, não se fixando
em lugar algum.
Os personagens humanos são descritos numa visão zoomorfista (como animais) e a
cachorra Baleia, que sonhava e tinha ambições, é vista como antromorfizada.
Ao final da narrativa, Sinhá Vitória, a mulher, dá-se por conta que as penas dos
pássaros caídas na água em que o gado bebe água, são o prenúncio da seca/p>
Vamos conhecer um pouco dessa história? Leia-a abaixo.
“Examinou o terreiro, viu Baleia coçando-se a esfregar as peladuras no pé de turco,
levou a espingarda ao rosto. A cachorra espiou o dono desconfiada, enroscou-se no
tronco e foi-se desviando, até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca,
mostrando apenas as pupilas negras. Aborrecido com esta manobra, Fabiano saltou
a janela, esgueirou-se ao longo da cerca do curral, detevese no mourão do canto e
levou de novo a arma ao rosto. Como o animal estivesse de frente e não
apresentasse bom alvo, adiantou-se mais alguns passos. Ao chegar às catingueiras,
modificou a pontaria e puxou o gatilho. A carga alcançou os quartos traseiros e
inutilizou uma perna de Baleia, que se pôs a latir desesperadamente.
Ouvindo o tiro e os latidos, sinhá Vitória pegou-se à Virgem Maria e os meninos
rolaram na cama, chorando alto. Fabiano recolheu-se.
E Baleia fugiu precipitada, rodeou o barreiro, entrou no quintalzinho da esquerda,
passou rente aos craveiros e às panelas de losna, meteu-se por um buraco da cerca
e ganhou o pátio, correndo em três pés. Dirigiu-se ao copiar, mas temeu encontrar
Fabiano e afastou-se para o chiqueiro das cabras. Demorou-se aí um instante, meio
desorientada, saiu depois sem destino, aos pulos.
Defronte do carro de bois faltou-lhe a perna traseira. E, perdendo muito sangue,
andou como gente, em dois pés, arrastando com dificuldade a parte posterior do
corpo. Quis recuar e esconder-se debaixo do carro, mas teve medo da roda. (...)
Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as
mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam
com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de
preás, gordos, enormes”.
Resumindo: O Regionalismo deixou marcas literárias que iniciaram no Romantismo
e seguiram pelo Modernismo. Sob o ponto de vista dos românticos essa corrente
literária assumiu caráter otimista, sentimento de idealização, nacionalismo e
exotismo; sob o ponto de vista modernista, percebe-se as relações do ser humano
com o meio, linguagem popular e temas como miséria, desigualdade social e
econômica e sofrimentos humanos. Na década de 30, especificamente no ano de
1926, Gilberto Freyre lança o Manifesto Regionalista, que propôs a promoção dos
interesses culturais do nordeste brasileiro.
A poesia popular
O cordel e o repente
O repente e o cordel constituem-se duas manifestações culturais distintas. Cada
uma com suas peculiaridades embora muito parecidos.
O repente caracteriza-se pelo improviso de uma poesia falada, geralmente
acompanhada de um instrumento.
Em contrapartida, a poesia falada divulgada em folhetos, chama-se cordel. Cheios
de criatividade, os cordelistas utilizavam técnicas para chamar atenção de seus
folhetins.
A poesia era recitada e dramatizada em feiras, algumas vezes acompanhadas de
uma viola. E, por essa razão, cordel e repente se confundem no entendimento da
população.
A literatura de cordel tem como principais características:
● Linguagem coloquial (informal)
● Uso de humor, ironia e sarcasmo
● Temas diversos: folclore brasileiro, religiosos, profanos, políticos, episódios
históricos, realidade social, etc.
● Presença de rimas, métrica e oralidade
Figura 1 - Folheto de cordel - A Chegada de LAMPIÃO no Inferno
Ainda sobre Cordel,
Um exemplo dessa resistência é a definição de literatura de cordel. Vejamos: A
literatura de cordel é uma poesia folclórica e popular com raízes no Nordeste do
Brasil. Consiste, basicamente, em longos poemas narrativos, chamados “romances”
ou “histórias”, impressos em folhetins ou panfletos de 32 ou, raramente, 64 páginas,
que falam de amores, sofrimentos ou aventuras, num discurso heróico de ficção.
Esta é uma parte significativa do cordel em termos de número de poemas
publicados, mas nem de longe representa todo o gênero. Um segundo tipo de
impresso, o folheto com oito páginas de poesia circunstancial ou de acontecido,
também contribui para o corpus total. Completa o quadro o duelo poético, chamado
“peleja”, “desafio” ou termo equivalente. Assim, o cordel tem características tanto
populares quanto folclóricas, ou seja, é um meio impresso, com autoria designada,
consumido por um número expressivo de leitores numa área geográfica ampla,
enquanto exibe métricas, temas e performance da tradição oral. Além disso, conta
com a participação direta do público, como platéia. (CURRAN, 1998, p. 17)
Não tem como não tratarmos dele com mais detalhes do que o fizemos na Unidade
1. É que cordel é praticamente sinônimo de poesia popular. Isso mesmo, se você
fizer uma pesquisa na internet vai saber que essa afirmação confere.
Foi por volta do século XVIII que o cordel começou a se popularizar no Brasil e
passou a ser conhecido como Poesia Popular. Esse tipo de manifestação cultural
era baseado no folclore e cantado de forma muito simples, facilitando o
entendimento por parte da população local que também fosse mais simples.
Não há, pelo menos que se tenha conhecimento, outra poesia popular com tanto
reconhecimento quanto o cordel. O que ocorre é que ultimamente se tem percebido
uma tendência à globalização do cordel e do repente num mesmo conjunto
denominado Literatura de Cordel. Por se tratarem de gêneros semelhantes na
estrutura geram confusão na sua identificação. O que os difere é que as
modalidades de uso da língua de um e outro são diferentes: o cordel se utiliza da
fala e da escrita; e o repente somente da fala.
Até poderíamos mencionar outros gêneros, que igualmente se espalharam de
maneira ampla, como a trova gauchesca, por exemplo. No entanto esses,
principalmente a trova gauchesca, não têm a expressão de vivências da atualidade
como o cordel, que trata também de acontecimentos noticiados, pois os cordelistas
estão no meio de sua gente, nas feiras e em espaços onde possa haver um público
que o admire.Estão ali, de forma espontânea. E o gênero está também nas escolas,
entretendo e auxiliando na propagação da cultura regional e, ultimamente, é mais do
que nunca objeto de estudo nos meios universitários.
No Exterior, a França é um dos países que mais abriga manifestações em prol da
literatura de cordel com exposições e estudos nas universidades. Aqui no Brasil, nos
últimos tempos, o cordel tem passado por processos de revitalização estando,
inclusive, transitando pelos meios digitais com toda a sua propriedade, contrariando
àqueles que pensavam que a literatura de cordel não chegaria ao século XXI devido
ao aparecimento de novas tecnologias. Pois bem, não só chegou como também
ultrapassou as barreiras do tempo, se afinando a recursos modernos com tamanha
genialidade que entrou no mundo da internet sem perder aquilo que a manteve por
anos a fio: sua identidade cultural.
Principais autores
Leandro Gomes de Barros
Primeiro brasileiro a escrever cordéis. Autor de 240 obras que ficaram registradas
no imaginário popular do Nordeste brasileiro e também no Brasil. Como por exemplo
a peça “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, baseada nos cordéis de
Barros.
João Martins de Athayde
Ficou conhecido por utilizar imagens de artistas de Hollywood em seus cordéis.
Após a morte de Leandro Gomes de Barros, Athayde adquiriu alguns dos direitos de
publicação de seus cordéis, sendo descoberto, recentemente, que a verdadeira
autoria deles, na verdade, é de Barros.
Apolônio Alves dos Santos
Foi pedreiro até exercer sua virtude de escrever poesia. Seu primeiro folheto foi
Maria Cara de Pau e O Príncipe Gregoriano.
Cego Aderaldo
Famoso cantador, viveu nos sertões do Ceara. Seus versos soam conhecidos em
todo Brasil.
Elias A. de Carvalho
Pernambucano, cantou e contou coisas de seu estado. Repentista e versejador.
Seus cordéis mais vendidos são O Brasil de ponta a ponta e Desafio de Mulher.
Expedito Sebastião da Silva
Nascido em Juazeiro do Norte, Ceara. Ficou famoso por ser muito cuidadoso com a
rima e a métrica. Seu primeiro folhetim chamou-se – A moça que depois de morta
dançou em São Paulo.
Firmino Teixeira do Amaral
Piauiense, mudou-se muito cedo para Belém – PA. Escreveu a conhecida Peleja de
Cego Aderaldo e nessa obra criou um novo gênero na cantoria – o Trava Língua.
Suas obras mais conhecidas e famosas são Batacla, Pierre e Magalona, O filho de
Canção de Fogo, O casamento do Bode com a Raposa.
Jose Pacheco
Seu gênero preferido era o Gracejo, mas escreveu folhetos em outros gêneros. A
intriga do cachorro com o gato é um dos seus folhetos mais vendidos.
Mestre Azulão
Natural da Paraíba, autor de mais de cem folhetos, cantador de viola e poeta de
bancada. Dentre os poemas de seu repertório está A feira nordestina, foi assim que
começou.
Zé da Luz
Paraibano, Zé da Luz ficou conhecido pela linguagem Matuta presente em seus
cordéis. Ai, se sêsse! e A Cacimba são exemplos de alguns de seus poemas.
Veja a seguir um exemplo de verso solto de cordel.
“Galopando no tempo e no vento”, de Creusa Meira.
“Galopo pensando no tempo que passa, Tão vertiginoso qual sopro do vento Que
varre caminhos e até pensamento, Deixando pra trás, nevoeiro, fumaça… O sopro é
o que traz um alento e abraça A vida que segue traçando caminho. O tempo é o
relógio no redemoinho Dos dias, semanas, dos meses, dos anos Passados,
presentes, anelos e planos, Que foram, por certo, gerados no ninho.
Seguindo o caminho de curva fechada, Um forte arrepio na espinha dorsal; Na beira
da mata, um estranho arsenal De tocos, garranchos e pedra lascada Vedando o
acesso, atrasam a jornada, Cansaço medonho desse galopar São léguas à frente e
o tempo a rolar No despenhadeiro do dia que morre Nos braços da noite, um pranto
escorre Em gotas que banham a terra e o ar.
E quando amanhece, o sol ilumina A estrada de pedra que resta a seguir. Sem olhar
para trás, à frente, há porvir, Na noite cinzenta, ficou a neblina No leito do rio de
água cristalina, O corpo tão frágil se banha sedento. Erguendo o olhar ao azul
firmamento, Tentando alcançar a linha do horizonte Que tece a beleza que nasce da
fonte E expressa a grandeza da força do vento.”
Fonte:
Você sabia que existe uma Academia Brasileira de Literatura de Cordel? Isso
mesmo. Espantado? Espere só até falarmos onde fica...No Rio de Janeiro!!!!!! Viu
só o tamanho da importância desse gênero textual no âmbito nacional? Acesse já o
site www. ablc.com.br e se delicie com tantas novidades!
Esperamos que ao final da leitura do capítulo você tenha conseguido identificar as
características do cordel bem como a sua importância para a nossa literatura.
Resumindo: A Literatura de Cordel (designação que atualmente tem englobado os
gêneros cordel e repente de forma conjunta) tornou-se popular no Brasil pior volta
do século XVIII. Seu caráter estrutural e temático simples facilitaram a sua
propagação. Neste modelo de literatura o poeta canta e encanta através de temas
atuais ou até mesmo históricos, dentre outros. A importância da Literatura de Cordel
é tanta que existe até uma Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com sede
no Estado do Rio de Janeiro. Vale salientar que essa manifestação cultural não ficou
estagnada no tempo com o advento da tecnologia; pelo contrário, vem se inovando
continuamente.
A poética na poesia popular
A rima e a métrica
Os cordéis atingem uma grande quantidade de pessoas porque são baratos, o que,
de certa forma, acaba sendo um estímulo à leitura. Sua essência cultural é
marcante devido também ao relato de tradições regionais acompanhadas por
ilustrações em xilogravura.
Figura 2 - Xilogravura
A xilogravura é uma técnica de pintura produzida através de um modelo, em
madeira entalhada, cuja imagem é reproduzida em tinta, geralmente, em papel ou
tecido. Funciona semelhante a um carimbo. É uma técnica que remonta à cultura
medieval portuguesa.
Nesse tipo de literatura popular as histórias, muitas vezes, são consideradas
romances e apresentam um problema que normalmente é resolvido com a
esperteza de algum herói que, ao final sai vencedor, ou se não o sair dá um jeito de
ser favorecido de alguma forma. No entanto, antes do desfecho, esse mesmo herói
sofre com algum problema existencial, normalmente relacionado ao amor entre
homem e mulher.
Bem, mas não basta apenas ter uma determinada temática para que o gênero seja
considerado cordel. É necessária uma certa estrutura rítmica, a organização em
versos de sete sílabas métricas e estrofes de seis ou sete versos. O poema de
cordel se configura assim, numa estrutura poeticamente fixa e que deve ser
respeitada.
Veja o trecho abaixo
Eu vou contar uma história A
De um pavão misterioso B
Que levantou voo na Grécia C
Com um rapaz corajoso B
Raptando uma condessa D
Filha de um conde orgulhoso. B
Fonte: REZENDE, José Camelo de Melo. O Romance do Pavão Misterioso.
Disponível em
Observe o número de versos da estrofe acima e também note que as rimas não
estão presentes em todos os versos. Notou? Essa estrofe trata-se de uma sextilha,
o tipo mais comum de estrutura da estrofe no poema de cordel. E a rima é transcrita
da seguinte forma: A B C B D B
Veja abaixo outros tipos de estrofes também encontradas no cordel, porém não tão
comuns.
● Quadra – uma estrofe de quatro versos
● Septilha – uma estrofe de sete versos, essa é a mais rara
● Oitava – uma estrofe de oito versos
● Quadrão – os três primeiros versos rimam entre si, o quarto com o oitavo e o
quinto, o sexto e o sétimo também entre si
● Décima – uma estrofe de dez versos
● Martelo – estrofes formadas por decassílabos (estes são muito comuns em
desafios e versos heroicos)
Vamos avançar mais um pouco falando da Poesia Popular (ou Literatura de
Cordel)?
Os poemas de cordel, geralmente, são organizados em estrofes de seis ou até sete
versos e cada verso é composto por sete sílabas métricas.
Já o esquema de rimas é repetido ao longo das estrofes, sendo justamente essa
repetição das estruturas que faz com que sejam fixas.
Sabe aquela musicalidade gostosaque não dá vontade de parar de ouvir? Pois
bem, é devido a esse esquema métrico que falamos ali acima que o cordel
apresenta sua tão característica musicalidade.
Ao contrário do que possa parecer (por ser considerada por muitos como uma
literatura menor), a Literatura de Cordel é rigorosa quanto a sua métrica. E é
exatamente por isso que precisa ser declamada e não somente lida, pois como todo
poema a poesia acontece nessa magia da oralidade. Sem contar que o ritmo
imprimido ao poema é muito importante para o processo escansão.
Veja a seguir como se dá um exemplo de escansão num poema de cordel.
Fonte: SANTOS, José João dos. O fazendeiro mendigo e a cabocla encalhada.
Fortaleza: Tupynanquim Editora, 2001.
Quando dividimos um poema da forma como fizemos acima, dizemos que se fez um
processo de escansão, ou seja, uma divisão em sílabas poéticas, que nem sempre
são iguais às ortográficas. Notem que o número de sílabas é contado, em cada
verso, até a última sílaba tônica.
Alguns versos sem rimas são chamados de versos brancos; outros com rimas que
combinam entre si são chamadas rimas regulares.
Através do esquema de rimas é que se faz aquele jogo de letras que vimos no início
desse capítulo: A B C B D B, que serve para classificá-las quanto à posição na
estrofe, quanto à posição no verso, quanto à acentuação, quanto ao valor e quanto
à fonética.
Resumindo: A Poesia Popular, também conhecida por Literatura de Cordel, ao
contrário do que se possa imaginar, não tem uma forma livre dentro da qual o
compositor possa sair escrevendo aquilo que quer da forma que quiser. Ela possui
métrica, rimas e ritmo, elementos essenciais para que seja considerada um poema
de cordel., mas nem por isso deixa de ser uma forma simples. Seu conteúdo traz
um tanto de ludicidade, o que se dá pela combinação do tema com ritmo imprimido
na sua declamação. Atualmente, universidades do Brasil e do Exterior vêm
estudando essa nossa rica literatura, a exemplo de escolas de todas as regiões
brasileiras cujos professores da educação básica já utilizam a Literatura de Cordel
em suas aulas.
A história e as inspirações do movimento Barroco
O estilo e o espírito do Barroco
Independentemente do modo como se interpreta o movimento Barroco, é importante
que pontuemos algumas considerações sobre seu surgimento, a partir de um
contexto pós-renascentista e pós-reformista.
O Renascimento cultural, surgiu junto com o desenvolvimento urbano em alguns
dos grandes centros italianos ao longo do século XV foi ganhando novas formas na
medida em que era levado a culturas em que o medievalismo ainda imperava. Em
Portugal e Espanha, o período das grandes navegações foi responsável pelo
surgimento de uma atmosfera triunfalista e messiânica da realeza e da nobreza, o
que pode ser considerado o mais próximo dos ideais césaro-papistas da Idade
Média e do maquiavelismo burguês. E, ao longo do século XVI, na Península Ibérica
vigoraram fortes marcas de apego ao medievalismo, materializados na
Contrarreforma, na Companhia de Jesus e nos traços medievais na literatura.
(COTRIM, 2005).
Por isso, pode-se dizer que o Barroco floresceu com maior intensidade e por mais
tempo nos países europeus neolatinos, que mais foram afetados pelas novas
configurações mercantis, promovidas pelas navegações. Foi nas relações entre
nobreza e clero na Espanha, em Portugal e em Roma que foi surgindo um modo
barroco-jesuítico de arte, um mundo bastante agitado pelos ares da Contrarreforma,
do Império filipino, Protestantismo e racionalismo, sendo que essa última doutrina
estava se tornando bastante popular em países como França, Holanda e Inglaterra.
Diante desse quadro, o movimento barroco não se caracterizou como um
movimento literário com fronteiras espaciais, mas ideológicas. Aparecerá tanto na
Áustria como também na Espanha, tanto nas colônias portuguesas (Brasil), como
nas espanholas (México), ou mesmo nos países luteranos, como Suécia e
Alemanha.
Porém, para nosso estudo, procuraremos estabelecer elos mais focados no barroco
da Península Ibérica e suas colônias na América, que estavam sendo agitadas
pelas mudanças sociais e de pensamento.
É importante, com isso, ressaltar que o Barroco não marcou um retorno à cultura
medieval, fechando os olhos para tudo aquilo que se encontrava no contexto
europeu pós renascentista. Pelo contrário, a atmosfera barroca herda tanto
elementos do Classicismo como do Maneirismo, traduzidos nas relações cotidianas
da época.
Dada essa pluralidade de elementos que constituíram o Barroco, percebe-se que o
movimento foi marcado por contrastes de aceitamento e recusa, de negação e de
aceitação, de crenças em que se tratava de um conteúdo vazio e de movimentos
que abraçavam o barroco como uma mensagem de salvação. Talvez, seja por isso
que o nome “barroco”, embora não se saiba ao certo como veio a nomear esse
movimento, significa “pérola de formato irregular”.
O Barroco se distancia um pouco das questões práticas da vida para olhar para os
elementos subjetivos, em especial, os elementos pós vida. Também paisagem e
objetos o afetam pela pluralidade de seus aspectos mutáveis, que possibilitavam a
realização de analogias sensoriais.
Ao mesmo tempo, é com o Barroco que as palavras adquirem noção de significado
transitório, o que fica conhecido como conceptismo.
O conceptismo (ou consentidualismo) consistiu num desdobramento do Barroco,
cuja linguagem era marcada por jogos de ideias (conceitos) construindo um
raciocínio ao mesmo tempo lógico, retoricamente aprimorado e racionalista.
Também, pode-se considerar o Barroco como uma arte em que há um
rebuscamento para se explicar o abstrato. Por causa disso, a vertente que se
utilizou dessa forma de concepção da linguagem ficou conhecida como
barroquismo. Por causa disso, em Itália, Portugal e Espanha, entre os séculos XVII
e XVIII, surge o movimento posterior, denominado como Arcadismo ou
Neoclassicismo, ou o Rococó francês, uma forma menor do barroco cuja linguagem
é mais polida e liberta do absolutismo, misturando ilustração e grande libertinagem.
Em outras palavras, é no contexto de uma Europa pré-industrial, aristocrática e
jesuítica, deslumbrada com o racionalismo burguês e imersa nos contextos da
Contrarreforma, que entenderemos como essa “pérola de formato irregular” foi
sendo constituída: um mito de angústias, de fugas, de tensões e de subjetivismos,
elementos aos quais os racionalistas dirão trata-se de mal gosto.
Podemos dizer que o movimento Barroco surge com força, especialmente, nos
países ainda católicos e sendo atravessados por grandes mudanças históricas, tais
como Itália, Portugal e Espanha, como uma forma de resistir aos avanços
humanistas e do classicismo e, ao mesmo tempo, como uma forma de resistência
ideológica contra as ideias protestantes e contra o racionalismo materialista. Sua
linguagem, caracterizada pela grande subjetividade, pelas angústias e pelos
contrastes, justifica o nome do movimento, pois “barroco” significa “pérola de
formato irregular”. Considerada por alguns como uma arte menor dentro da
literatura, ainda assim, o Barroco expressa um momento histórico importante de
nossa literatura, pois, como colônia lusitana, o Brasil do entre séculos XVII e XVIII
foi bastante influenciado pelo movimento. Além disso, um dos grandes expoentes do
movimento foram os jesuítas da Companhia de Jesus, que atuaram fortemente na
Península Ibérica e em suas colônias.
A Companhia de Jesus (Societas Iesu, S.J.) é uma ordem religiosa que foi fundada
no ano de 1534 por estudantes da Universidade de Paris, tendo como líder o basco
Íñigo Lopez de Loyola. A ordem foi reconhecida pelo papa em 1540, atuando até os
dias de hoje fortemente nos campos educacional e missionário. Seus participantes
são conhecidos como jesuítas.
Veremos, a seguir, um exemplo de poema barroco, do autor Gregório de Matos:
FALTAM 2 IMAGENS AQUI
MATOS, Gregógio de. Custódia. In: BARBOSA, Frederico. (Org.). Clássicos da
Poesia Brasileira. 1 ed. Porto Alegre: Klick Editora, s/d, p. 14-15.
Observe que,

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