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residência estudantil em mossoró R.E.M uma proposta do morar no semiárido R.E.M RESIDÊNCIA ESTUDANTIL EM MOSSORÓ uma proposta do morar no semiárido autoria de Luana de Moura Praxedes sob orientação do prof. me. Bruno Melo Braga universidade federal do ceará departamento de arquitetura e urbanismo e design trabalho final de graduação Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária Gerada automaticamente pelo módulo Catalog. mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a) P01r Praxedes, Luana de Moura. R.E.M - Residência Estudantil em Mossoró: uma proposta do morar no semiárido/ Luana de Moura Praxedes. - 2019. 96 f.: il. color. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) - Universidade Federal do Ceará. Centro de Tecnologia, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Fortaleza, 2019. Orientação: Prof. Me. Bruno Melo Braga. 1. Moradia estudantil. 2. Arquitetura bioclimática. 3. Condicionantes ambientais. 4. Mossoró. 5. Semiárido. I. Título. CDD 720 R.E.M RESIDÊNCIA ESTUDANTIL EM MOSSORÓ uma proposta do morar no semiárido Prof. Me. Bruno Melo Braga orientador | Universidade Federal do Ceará Prof. Dr. Renan Cid Varela Leite professor convidado | Universidade Federal do Ceará George de Menezes Lins arquiteto convidado banca examinadora fortaleza, dez/2019 resumo Este trabalho final de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo tem como objetivo a proposta de um projeto arquitetônico de uma residência universitária na cidade de Mossoró/RN, destacando a importância de uma arqui- tetura bioclimática nesse local. Serão apresentados estudos sobre o contexto universitário no Brasil e em Mossoró e quais são as demandas por um equipa- mento desse tipo na cidade, como também uma análise climática para identi- ficar as principais estratégias arquitetônicas a serem utilizadas. Também são apresentadas as diretrizes de projeto, buscando um equipamento pensado para o seu usuário, provendo espaços de qualidade e com conforto ambiental. Palavras-chave: moradia estudantil - arquitetura bioclimática - condicionantes ambientais - Mossoró - semiárido. 7 Agradeço à Deus primeiramente, pela minha vida e pelas pessoas que Ele colocou em meu caminho, por todas as oportunidades e por nunca ter me deixado de lado, sempre me dando forças nos dias bons e, principalmente, nos dias ruins, para chegar até aqui. Aos meus pais, Dária e Lucivan, a quem devo tudo que tenho e que sou hoje, que sempre me mostraram que não há outro caminho além da educação e do conhecimento. Que me apoiaram desde a escolha de curso até a decisão de morar em outra cidade, me dando todo o suporte e incentivo necessário. Obrigada por tudo e por tanto que fizeram por mim até hoje. Aos meus companheiros de caminhada, em especial à Camila, Juliana, Lia, Natália, Matheus, Rebeca, Yan e Yasmin, que estiveram comigo desde o início, fosse nos longos dias de aulas, nas noites viradas, nos inúmeros traba- lhos a entregar ou em todas as saídas para desopilar e comemorar cada mínima conquista que alcançávamos. Sem dúvidas, o apoio e o amor que sempre me deram foi fundamental para deixar o caminho até aqui muito mais divertido e leve. Ao meu namorado, Rodrigo, por me incentivar e comemorar todas as minhas conquistas, por todo amor, companheirismo, paciência e compreensão. Obrigada por ser meu refúgio e ponto de paz. Ao Bruno, meu querido orientador, que aceitou me acompanhar nessa jornada, por todo o apoio e conhecimento compartilhado. Obrigada por toda a disposição e incentivo. À Consultec Jr, pela oportunidade de vivenciar a profissão, por toda a experiência adquirida e pelas incríveis amizades feitas. E os professores, por todo o conhecimento transmitido, pelas dúvidas esclarecidas e todos os conselhos e ensinamentos ao longo desses cinco anos e meio. agradecimentos 01 apresentação 11 introdução 12 objetivos 12 metodologia 03 análise climática 31 diagnóstico 35 estratégias arquitetônicas 05 aproximação 47 terreno e entorno 52 legislação 07 considerações finais 90 considerações finais 92 referências bibliográficas 02 a moradia estudantil 17 ensino superior no brasil 20 o contexto universitário em mossoró 04 referências projetuais 39 moradia estudantil unifesp 41 alojamento estudantil ciudad del saber 42 residências em alcácer do sal 06 o projeto 56 premissas projetuais 57 o programa 58 o módulo 66 implantação 68 estrutura 70 acessos 71 distribuição do programa 77 condicionamento ambiental 82 imagens 87 expansão sumário apresentação 01 11 introdução O presente trabalho tem como objeto de estudo o projeto de uma residência universitária na cidade de Mossoró/RN. O tema foi escolhido a partir da indentificação pessoal e afetiva com o lugar, aliada à problemática central do crescimento do setor universitário na cidade, que vem gerando, ultimamente, um grande fluxo de estudantes vindos de outros lugares, e, consequentemente, aumentando a demanda por moradia de qualidade e com bom custo benefício, voltada exclusivamente a esse nicho de pessoas. Diante do contexto do ensino superior no Brasil, é notório que nos últimos anos, muito tem sido feito em relação à criação de programas voltados para o incentivo ao ingresso e à permanência dos jovens nas universidades públi- cas e privadas, além de programas de expansão do ensino superior em todo o país. Fatores esses vem gerando uma grande mobilidade estudantil inter e intraestadual, criando uma real demanda por moradia universitária de qualidade e que possa atender não só ao nicho das instituições públicas, já que a maioria das residências são programas das próprias universidades voltados apenas aos seus estudantes e que muitas vezes não têm capacidade para atender toda a demanda existente, mas que atenda também ao nicho das instituições parti- culares, além dos remanescentes que eventualmente não consigam vaga nos programas gratuitos das universidades públicas. É interessante ressaltar que nem sempre os projetos de moradias estudan- tis trazem consigo as características arquitetônicas necessárias de conforto, instalações e localização, que são de suma importância para uma boa adapta- ção do estudante ao local e que influenciam diretamente no bom desempenho e na permanência dele no curso. Segundo Osse e Costa (2011), “ao mesmo tempo em que a moradia estudantil propicia uma via de acesso à inserção, (...) representa também riscos e dificuldades.” Por isso é tão importante que todos os aspectos de uma moradia com qualidade arquitetônica adequada sejam levados em consideração. No caso do projeto em questão, existe um agravante em relação à esses aspectos, justamente por localizar-se na região do semiárido potiguar, carac- terizada pelo clima quente e seco, sendo ainda mais relevante que estratégias arquitetônicas voltadas para o conforto térmico sejam utilizadas, de forma a tornar a construção mais funcional e eficiente. 12 objetivos Este trabalho tem como objetivo geral: desenvolver o projeto arquitônico de uma residência universitária para alunos de diversas instituições em Mossoró, Rio Grande do Norte, inserindo-o no contexto urbano da cidade de forma central aos principais campi universitários, permitindo acesso fácil ao transporte público e à cidade como um todo. Ao mesmo tempo, utilizando estratégias arquitetô- nicas de conforto ambiental adequadas ao clima da região, unindo ao uso do módulo, buscando um projeto eficiente e confortável para seus moradores. Já os objetivos específicos, são: 1. Propor um equipamento que atenda as demandas do lugar, criando um programa com espaços voltados não só à moradia e ao estudo, mas também que proporcionem lazer, interação social e compartilhamento de experiências; 2. Adequar o programa às condições climáticas da região, com o uso de estra- tégias arquitetônicas de conforto passivo;3. Implantar o projeto em uma área que seja de fácil acesso ao transporte público e central aos campi da cidade; 4. Inserir o projeto no contexto urbano de Mossoró, respeitando as característi- cas do entorno e propondo soluções que sirvam também ao restante da cidade; 5. Apresentar possíveis formas de expansão. metodologia As primeiras etapas do projeto se resumiram em pesquisas teóricas sobre o tema, a fim de formar uma justificativa teórica para embasamento das decisões de escolha e relevância do tema no local a ser estudado, bem como as futuras decisões projetuais, a partir de leituras de artigos, dissertações e trechos de livros que tratam sobre os diversos assuntos envolvidos no tema, como expansão do ensino superior público e privado, e a influência da arquitetura de moradias estudantis no comportamento dos estudantes. Além disso, foram realizadas visitas à cidade de Mossoró, onde foi possível 13 conversar com pessoas de dentro das universidades, para obtenção de informa- ções mais precisas e atualizadas. A visita à residência estudantil já existente na cidade foi importante para entender como as coisas funcionam e como tem sido tratada a arquitetura desses espaços na cidade, bem como para a criação do programa de necessidades. No processo de desenvolvimento projetual, a busca por referências e principalmente a preocupação com o clima foram os pontos iniciais. O primeiro passo foi a definição do módulo de quartos, que condicionou todas as outras decisões, como forma e tamanho dos edifícios. Depois de definido o módulo, partiu-se então para a implantação e para os estudos volumétricos, definidos a partir de pesquisas, referências e consultas com professores, em busca de entender como funciona, em termos de conforto térmico, a arquitetura para o clima semiárido, e como trabalhar essas questões dentro do projeto. Após essas definições iniciais, o passo seguinte foi trabalhar as fachadas com as estraté- gias arquitetônicas, unindo os estudos volumétricos à simulações em softwares específicos. a moradia estudantil 02 17 ensino superior no brasil O histórico do ensino superior no Brasil vem de uma série de universi- dades criadas e instaladas nas grandes cidades e capitais, onde apenas uma parcela da população conseguia ter acesso, principalmente quem possuia melhores condições de vida e morava nas cidades assistidas pelas instituições existentes. Dessa forma, a falta de investimentos e de incentivos para institui- ções no interior do país acabou gerando um déficit de profissionais qualificados nessas regiões. A partir da década de 2000, o Governo Federal promoveu um aumento no número de ações voltadas para o ensino superior. A iniciar em 2001 com a aprovação do Plano Nacional da Educação (PNE), que diagnosticou no ensino superior uma quantidade insuficiente de vagas e sua distribuição ainda muito desigual por região. Em resposta à isso, foi criado em 2007, o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI, com o objetivo de ampliar o acesso e a permanência no ensino superior. Todas as Instituições de Ensino Superior (IES) aderiram ao programa, que contribuiu para a criação de novas universidades, priorizando regiões que não eram atendi- das pela rede, bem como o aumento da cobertura das instituições existentes, com abertura de novos campi, favorecendo e impulsionando a interiorização e umentando o número de municípios atendidos pelas universidades federais de 114 em 2003, para 237 em 2011. Este processo de expansão e interiorização é visivelmente benéfico para várias camadas das regiões atendidas, principalmente nas cidades do interior, não só pelo aumento do número de vagas disponíveis no ensino superior, mas também por aspectos econômicos, devido, em curto prazo, aos investimentos federais para a criação dos campi e a movimentação da economia local com a vinda de estudantes de outros lugares (favorecido, principalmente pelo sistema unificado de seleção). Já em médio e longo prazo, as melhorias são, principal- mente, no aumento de visibilidade que os temas locais passam a ter pelos proje- tos de pesquisa e extensão, e também na ampliação da quantidade e qualidade de profissionais formados em diversas áreas, impactando na inovação e desen- volvimento da economia local, além de chamar atenção para novos investimen- tos. O que antes acontecia, era que muitas pessoas saíam do interior para as capitais e dificilmente voltavam para suas cidades natais, gerando uma carência de profissionais qualificados nesses lugares, que agora começa a ser suprida à 18 medida que o número de egressos das universidades aumenta. Além do REUNI e do PNE, outras ações foram criadas para ajudar ainda mais na busca de democratizar o acesso às universidades. É o caso do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), que tem como objetivo a destina- ção de um recurso anual para cada IFES, a ser usado para apoiar e maximizar a permanência de estudantes de baixa renda em cursos de graduação, promo- vendo assistência à moradia, alimentação, transporte, saúde, cultura, esporte, entre outros. E também da Lei de Ações Afirmativas (conhecida como Lei de Cotas) (12.711/12), um importante instrumento de inclusão de grupos sociais historicamente excluídos, que visa a destinação de uma porcentagem das vagas disponíveis dividida por categorias, entre: alunos de escola pública, renda, e raça. PROGRAMA O QUE É FIES (2001) Fundo para financiar a graduação de alunos matriculados em cursos superiores de instituições particulares, podendo ser de 10% a 100% do valor da mensalidade. Depois de formado, o estudante tem até 3 vezes o tempo do curso para quitar a dívida. Programa para concessão de bolsas integrais e parciais em cursos de graduação em instituições particulares, para alunos egressos do ensino médio da rede pública ou privada, desde que na condição de bolsista integral. Em contrapartida, oferece isenção de tributos às instituições participantes. Programa de expansão das universidades federais - com criação de novos campi e novas universidades. Plano de assistência estudantil que destina recursos às IFES para moradia, alimentação, esporte, saúde etc. Destinação de uma porcentagem de vagas divididas por: alunos da rede pública, raça e renda. ProUni (2005) REUNI (2007) PNAES (2007) Lei de Cotas (2012) Produção da autora. tabela 1 | programas do governo federal 19 Vale lembrar que, em paralelo ao crescimento do setor público, estava o setor privado, que passou por uma grande expansão ao passar do tempo, principalmente entre os anos de 1965 e 1980, onde o número de matrículas aumentou de 142 mil para 885 mil. Sendo assim, é também uma parte impor- tante do ensino superior, onde existe um grande número de vagas em univer- sidades e centros de qualidade reconhecida, mas que muitas vezes se tornam inviáveis para grande parte da população devido ao alto valor das mensalida- des. Por isso, também foram criadas ações e programas do Governo como o FIES e o ProUni, em busca de maximizar as oportunidades para aqueles que não conseguiram ingressar no setor público e ao mesmo tempo não possuiriam condições para ingressar no setor privado. É importante salientar que mesmo por estarem voltados uns para o setor público e outros para o privado, os programas do Governo citados (vide tabela 01), além do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), estão unidos em um único propósito: a ampliação do número de vagas e do acesso ao ensino superior. Consequentemente, principalmente devido à unificação do processo de seleção pelo ENEM e SiSU, houve também um aumento na mobilidade estudantil, que era um dos objetivos da implanta- ção do programa, já que todos os participantes têm a possibilidade de concor- rer a nível nacional e aplicar para qualquer uma das instituições do país. O ENEM foi criado em1998, mas só em 2009 começou a ser aplicado como novo meio de avaliação para entrada no ensino superior. O programa consiste em uma prova única com redação, que se utiliza da teoria de resposta ao item para dar a nota final de cada aluno. Este, em porte da sua nota, poderá aplicá-la para: obtenção de bolsa no ProUni; se candidatar para receber finan- ciamento pelo FIES; receber o diploma do ensino médio e ingressar no ensino superior, através do SiSU. Atualmente, muitas instituições particulares, mesmo sem participarem do SiSU, aceitam a nota do ENEM como forma de ingresso, sem que seja necessá- rio o aluno participar do vestibular tradicional. A junção do ENEM com o SiSU permite então que os alunos participantes apliquem suas notas para diversas instituições públicas de todo o país. Como o processo é feito já com o conhecimento da nota, o aluno pode colocar os lugares em que tem mais chance de passar, o que nem sempre é necessariamente no mesmo local onde mora. Segundo estudo de Leyi Li e Chagas (2017), o uso do SiSU aumenta em 2,9 pontos percentuais a probabilidade de um estudante migrar de um estado para outro e diminui em 3,95 p.p. a probabilidade de ele 20 migrar para outro município no mesmo estado. Isso porque com a unificação, ao invés de buscar instituições em outras cidades próximas, o aluno prefere estudar em uma universidade de melhor qualidade, mesmo que em outro estado. Existem problemas que devem ser levantados quanto à mobilidade estudantil tanto intra quanto interestadual, já que isso envolve muitas variáveis, como, principalmente: ficar longe da família, arcar com despesas para se manter em outra cidade e deslocamentos, que acabam sendo fatores de grande peso na permanência do aluno no curso escolhido. Por isso, é tão importante que haja uma assistência estudantil forte e preparada para receber esses alunos. Mesmo que hoje em dia, muitas instituições possuam programas de moradia estudan- til, nem sempre conseguem suprir a demanda, e, muitas vezes, se tratam de espaços com pouca manutenção de sua qualidade arquitetônica, o que desfa- vorece a criação de um ambiente propício para o estudante nessa fase da vida. Além disso, poucas são as universidades particulares que possuem programas de moradia, como é o caso da PUC Goiás, o que gera uma neces- sidade ainda maior de investimentos voltados para esse nicho. No caso das instituições privadas, percebe-se que a possibilidade de migrar entre cidades do mesmo estado é um pouco maior, onde os estudantes que vão em busca de um ensino superior de melhor qualidade, muitas vezes têm que ir e voltar para suas cidades natais todos os dias, por falta de condição de se manter em outro lugar, além de pagar a mensalidade do curso. Identificados esses problemas, entende-se que é válido pensar em um tipo de moradia que possa servir tanto aos estudantes da rede pública quanto aos estudantes da rede privada, e para isso, é importante entender onde (e porque) isso pode ser aplicado. o contexto universitário em mossoró Tendo em vista o crescimento da cidade de Mossoró como pólo univer- sitário, assim como os novos cursos na universidade federal, o uso do ENEM e SiSU, a chegada e aumento de grandes universidades particulares à cidade, entende-se que é um local que possui uma demanda e que precisa de estímulos à produção de moradia estudantil de qualidade e que seja pensada para esse fim, priorizando e maximizando a experiência do estudante. Mossoró está localizada no interior do estado do Rio Grande do Norte, na mesorregião do Oeste Potiguar. É a segunda cidade mais importante do Estado 0 20 40 60 80 100Km 655 Km E 450 445 44021 e a maior em extensão territorial. Pode ser acessada através das BR 304, BR 101 e 405, além das rodovias estaduais que a interligam com outros municípios. Fica entre as capitais Fortaleza e Natal, se destacando como uma centralidade entre as duas grandes cidades. Segundo o censo do IBGE de 2010, a população era de cerca de 260 mil habitantes, e em 2018, estimada pelo órgão, de 294 mil. Porém, considerando-se sua área de influência em municípios vizinhos, chega a totalizar cerca de 668 mil habitantes. No que diz respeito ao ensino superior, a cidade conta com 3 grandes universidades, sendo duas públicas, UFERSA (Universidade Federal Rural do Semi-Árido) e UERN (Universidade Estadual do Rio Grande do Norte), e uma privada, UnP (Universidade Potiguar), e mais algumas faculdades particulares- menores. A UFERSA, criada em 1967 como a antiga ESAM, passou a ser reconhe- cida como universidade federal em 2005. Conta com quatro campi no Estado, com um total de 36 cursos de graduação e 13 de pós, sendo o maior e princi- pal, o de Mossoró, com 22 cursos. É uma das instituições de ensino de ciências agrárias mais respeitadas do país, contando com inúmeras pesquisas na região voltadas para esse campo. Hoje, conta com sistema de ingresso 100% pelo ENEM e SiSU. 0 20 40 60 80 100km NATAL MOSSORÓ Produção da autora. mapa 1 | localização no estado 22 A UERN, criada em 1968 e estadualizada em 1987, conta com 6 campi no Estado, tendo sede principal em Mossoró, com 31 cursos de graduação e 14 cursos de pós-graduação/mestrado. Assim como a UFERSA, também tem como sistema de ingresso as notas do ENEM pelo SiSU. Já a UnP, que tem sede em Natal, se instalou em Mossoró em 2002 e possui 26 cursos de graduação presencial, 15 cursos de graduação semipre- sencial e 30 cursos de especialização. Adota o sistema de vestibular agendado, mas também aceita notas do ENEM como forma de ingresso, ofertando bolsas de até 100% de acordo com a nota. Segundo pesquisa realizada por Elias e Pequeno (2010) com um dos diretores, em 2009 a instituição possuía cerca de 3 mil alunos, sendo 20% oriundos de municípios vizinhos e 80% residentes de Mossoró. Atualmente são cerca de 10 mil alunos no total e 35% destes, são oriundos de outras cidades. À época dos estudos de Elias e Pequeno (2010), Mossoró contava com apenas 3 instituições particulares: a UnP, a FACENE e a Faculdade Mater Christi, que hoje faz parte da UNIRB. Comparando esse dado com a tabela 2 a seguir, Produção da autora. INSTITUIÇÃO PÚBLICA UFERSA - Universidade Federal Rural do Semiárido 22 31 26 09 19 33 53 13 06 27 29 07 UNP - Universidade Potiguar Unit (EAD) - Universidade Tiradentes UNOPAR (EAD) UNINASSAU - Centro Universitário Maurício de Nassau UNIRB - Faculdade Regional da Bahia Faculdade Católica do Rio Grande do Norte UniCESUMAR (EaD) Claretiano (EaD) Faculdade Pitágoras FACENE - Faculdade de Enfermagem Nova Esperança PRIVADA CURSOS UERN - Universidade Estadual do Rio Grande do Norte tabela 2 | instituições x tipo x quantidade cursos 23 é possível perceber que, nos últimos anos, a cidade tem atraído equipamen- tos privados de ensino superior (alguns apenas com opção à distância - EaD), e também, nas instituições que já existiam, aumentou-se o número de cursos ofertados, dentre eles os novos cursos de Medicina da UFERSA e da FACENE. Tudo isso contribui para um maior número de estudantes presente na cidade, consequentemente, favorece a atração de mais pessoas vindas de outros municí- pios, devido ao aumento no número de vagas disponíveis entre todas as institui- ções, e assim também aumenta a demanda por moradia. Devido à essa conclusão, o presente projeto procura suprir essa demanda, propondo uma moradia estudantil voltada para os estudantes de todas as insti- tuições, funcionando como uma parceria público-privada, tendo uma porcenta- gem de suas vagas vinculadas à UFERSA, que atualmente possui o seu próprio programa de moradia estudantil, mas que ainda tem uma demanda maior do que as vagas disponíveis. O restante das vagas funcionaria em regime de aluguel. Em pesquisa feita in loco na instituição, foi procurada a PROAE - Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, em busca de maiores informações sobre o programa. Existem atualmente duas alascom tipologias diferentes: a ala feminina, que conta com 3 prédios de 2 pavimentos cada um, e a ala masculina, que conta com 17 casas térreas, sendo as vagas distribuídas da seguinte forma: ALA TIPOLOGIA VAGAS FEMININA PRÉDIO TIPO 1 PRÉDIO TIPO 2 CASA TÉRREA 1 CASA TÉRREA 2 FEMININA MASCULINA MASCULINA 42 3 80 4 12 6 10 5 Produção da autora. MORADORES POR QUARTO tabela 3 | divisão de alas Na ala feminina, existem duas tipologias de prédio, um deles é mais antigo (prédio tipo 1) e comporta, como dito na tabela, 42 moradoras, divididas em 14 quartos com um banheiro cada um, além de uma pequena copa geral e uma sala de estudo. 24 Imagem 1 | Entrada prédio 1 | Fon- te: autoral. Imagem 3 | Sala de estudos | Fonte: autoral. Imagem 2 | Copa coletiva | Fonte: autoral. prédio tipo 1 Imagem 4 | Quarto | Fonte: autoral. Imagem 5 | Quarto | Fonte: autoral. Imagem 6 | Banheiro | Fonte: autoral. 25 Já os dois outros prédios (tipo 2) são mais novos, e comportam 80 moradoras cada, divididas em 20 quartos, e diferente do outro, os banheiros são coletivos, além de uma grande cozinha com área de refeições, sala de estudo e de lazer, e lavanderia coletiva. Os três prédios totalizam 202 vagas femini- nas. Imagem 7 | Prédio tipo 2 | Fonte: autoral. Imagem 10 | Quarto | Fon- te: acervo moradora. Imagem 9 | Lavanderia | Fonte: autoral. Imagem 12 | Quarto | Fonte: acer- vo moradora. Imagem 8 | Cozinha| Fonte: autoral. Imagem 11 | Quarto | Fonte: acervo moradora. prédio tipo 2 26 É possível perceber pelas fotos do prédio tipo 1 que as instalações apresentam problemas de manutenção, não possuem limpeza adequada e nem proporcionam o conforto (tanto térmico quanto físico) para uma boa moradia e estudos. Em conversa com uma estudante, a mesma relatou que apesar dos novos prédios (tipo 2) serem mais espaçosos, as pessoas ainda gostam mais do prédio 1 devido ao quarto ser suíte. Segundo ela, o uso dos banheiros coleti- vos “é muito ruim, a gente não se sente à vontade. Parece que estamos num acampamento, e não tem privacidade.”1 Já em relação à ala masculina, não foi possível entrar nas casas, mas a PROAE informou que são 17 casas no total, sendo 15 (casa térrea 1) que abrigam 12 moradores, divididos em 2 quartos com 2 banheiros cada e mais uma pequena copa, e 2 casas térreas tipo 2 que abrigam 10 moradores, também em 2 quartos. Totalizando 200 vagas masculinas. A média de demanda, segundo a PROAE, é de 45 inscritos para cada ala, sendo que o número de vagas varia de edital para edital. Para isso, foram analisados os editais de 2017 até 2019 (ver tabela 4), obtendo uma média de 20 vagas femininas e 20,4 vagas masculinas por edital, o que permite concluir que a demanda não tem sido 100% suprida. Também é importante salientar que todas as vagas são destinadas à alunos vindos de outras cidades, sendo praticamente 50% de cidades do Rio Grande do Norte e 50% de outros estados, principalmente do Nordeste, como Ceará, Paraíba e Pernambuco. Ou seja, é evidente que existe uma grande demanda de estudantes que fazem mobilidade estudantil através do ENEM e SiSU, e que buscam moradia estudantil para se estabelecer na cidade. 1 Entrevista concedida à autora por estudante moradora da residência universitária em 16 de Abril de 2019. Imagem 13 | Ala masculina | Fonte: autoral. Imagem 14 | Casa térrea ala masculina | Fonte: proae. 27 EDITAL VAGAS FEMININAS VAGAS MASCULINAS 2017.1 2017.2 2018.1 2018.2 2019.1 16 23 09 21 20 18 35 20 25 15 Produção da autora. Por fim, unindo as duas informações sobre demanda e mobilidade tanto da universidade pública quanto da particular, pode-se concluir que sim, o projeto de uma moradia estudantil mista (que sirva aos dois nichos) em Mossoró, se justifica, tanto pela demanda que é real e existe, quanto pela importância de um lugar com qualidade arquitetônica que possa ajudar na transição de cidade do estudante e ao decorrer de todo seu curso, com instalações propícias para descanso, lazer e estudos, que influenciam bastante na qualidade de vida dos moradores. Tratando-se de estudantes que deixam suas cidades natais para estuda- rem em outro local (que caracteriza o nicho de residentes do programa em questão), a moradia é mais um aspecto dessa nova fase, além das mudanças ambientais e de rotina, a formação de uma nova rede social, e o afastamento físico da família, que influenciam diretamente na adaptação e na qualidade de vida física e mental durante todo o curso. Segundo Osse e Costa (2011), “ao mesmo tempo em que a moradia estudantil propicia uma via de acesso à inser- ção, (...) representa também riscos e dificuldades.” Por isso é tão importante pensar na arquitetura desses lugares e analisar as variáveis envolvidas, a fim de poder proporcionar para os seus moradores um ambiente de lar, em que ele se sinta acolhido não só no sentido social, mas também no sentido físico do lugar, onde ele possa ter o seu abrigo, o seu lar longe de casa. Em relação a isso, Heilweil (1973) pontua quatro pontos principais em que a arquitetura influencia no comportamento dos estudantes-moradores de uma residência universitária: privacidade, sociabilidade, atividades de estudo e indivi- dualização. Os dois primeiros pontos são, de certa forma, um pouco contrário um ao outro, porque no que diz respeito a privacidade, muitos preferem não ter tabela 4 | vagas por edital 28 que dividir o quarto para poder ter sua privacidade preservada, mas ao mesmo tempo, a proposta de uma residência é o viver em conjunto e gerar a sensação de comunidade. O desafio é uni-los de forma que não seja prejudicial nem a um e nem a outro. São variáveis importantes a serem consideradas, porque envol- vem não apenas a produção dos quartos, mas também dos espaços de sociali- zação, como áreas livres, sala de jogos, sala de estar, etc. Outro aspecto trabalhado por Heilweil (1973) é a personalização dos quartos, que se mostra como um dos pontos mais citados pelos alunos, seja com a colocação de quadros, fotos, objetos de decoração ou até uma pintura diferente, mas que nem sempre é permitido. É um aspecto importante porque proporciona para o morador uma forma de identificação pessoal com o local, e entra mais uma vez no aspecto do “lar” e de se sentir em casa. Nesse tipo de moradia, o quarto é ao mesmo tempo ambiente de estudo como também de descanso e relaxamento, e onde, provavelmente o estudante vai passar a maior parte do seu tempo livre, por isso é tão importante que ele se sinta bem naquele lugar. Apesar de os móveis não permitirem personalização, por serem modulados e feitos para estarem onde devem ficar, usá-los de forma eficiente de modo a permitir, através deles, uma certa privacidade e divisão de espaços, já é um bom passo para que o estudante se aproprie daquele lugar, podendo fazer mudanças pontuais na sua decoração, colocando sua personalidade no ambiente sem invadir o espaço do outro. Um dos pontos mais importantes ao se tratar das influências da arqui- tetura no bem estar e na qualidade de vida de quem usa aquele espaço é o conforto. O conforto ambiental possibilita melhores condições de permanência com a sensação de bem-estar, e analisa a temperatura, ventilação e luminosi- dade, aspectos que influenciam nas condições de habitabilidade e também na capacidade produtiva dos usuários. Dessa forma, fazer uma arquitetura biocli- mática, ou seja, entender o clima onde a edificação vai ser inserida e adaptá- -la com as estratégias corretas para alcançar as condições de conforto, é de suma importância. E para o projeto proposto, que se encontra inserido no clima semiárido, é ainda mais importante, pois existem variáveis como incidência solar e captação de ventos que influenciam diretamente nessa questão, e por isso, devem ser bem estudadas e pensadas. Para isso, foi necessária a realização de uma análise climática para enten- der o comportamento do clima e como deveser feita a arquitetura para este local, com base em estratégias arquitetônicas voltadas para o conforto ambien- tal, que é uma das premissas principais do projeto. 03 análise climática 31 diagnóstico O Brasil foi classificado, pela NBR 15220, em oito zonas bioclimáticas, de acordo com as características e comportamento do clima nas 330 cidades estudadas, sendo Mossoró uma delas. Mossoró está inserida na Zona Bioclimática 7, caracterizada pelo clima quente e seco. Essa zona tem médias térmicas anuais superiores a 25oC, e as médias anuais de chuvas são menores que 1.000mm por ano, e no geral, se acumulam em aproximadamente três meses do ano: fevereiro, março e abril. Fonte: NBR 15220 mapa 2 | zonas bioclimáticas brasileiras 32 Fonte: projeteee.mma.gov.br Fonte: projeteee.mma.gov.br gráfico 1 | temperatura e zona de conforto gráfico 2 | radiação média mensal A partir de dados do site ProjetEEE para a cidade, foi possível obter infor- mações sobre temperatura, chuvas, ventos e carta solar, que são muito impor- tantes para entender como funciona o clima e para embasar as decisões proje- tuais que serão tomadas. 33 Fonte: projeteee.mma.gov.br A partir das informações dos gráficos demonstrados, pode-se perceber que é uma cidade que recebe alta radiação solar durante todo o ano, sempre acima dos 750 Wh/m2, o que gera a necessidade de um sombreamento maior das aberturas para proteção solar dos edifícios. Mostra-se também a grande amplitude térmica que existe na cidade mensalmente (o que se repercute no dia-a-dia também), geralmente de quase 10oC. Além de identificar as menores temperaturas mensais entre os meses de Junho a Agosto e as maiores de Novembro a Fevereiro. Segundo o gráfico da rosa dos ventos a seguir, as direções predominantes dos ventos são Leste, Nordeste e Sudeste. É válido dizer que a chuva acompa- nha os ventos, então, é importante se atentar às aberturas voltadas para essas direções. E outro fato a ser enfatizado é que por se tratar de um clima quente e seco, nem sempre os ventos são favoráveis a entrar na edificação, principal- mente durante o dia, entre 9h e 16h, quando o vento é muito quente. Sendo assim, o melhor período para ventilação natural é a noite, quando o vento é mais frio, por isso, o gráfico da rosa dos ventos considerado para os estudos foi o da noite. gráfico 3 | rosa dos ventos noturna 34 Fonte: projeteee.mma.gov.br Fonte: projeteee.mma.gov.br LEGENDA: gráfico 4 | carta solar até 21 de junho gráfico 5 | carta solar até 21 de dezembro 35 A última informação de análise climática a ser considerada nessa etapa é a Carta Solar (gráficos 4 e 5 acima), que indica a projeção das trajetórias solares ao longo da abóbada celeste, durante todo o ano em Mossoró. São duas as cartas utilizadas, uma que indica as posições solares de 22 de Dezembro a 21 de Junho (gráfico 4), e outra que indica de 22 de Junho a 21 de Dezembro (gráfico 5). Elas auxiliam no desenvolvimento do projeto, pois ao indicarem a posição exata do Sol, permitem saber em qual fachada ele vai incidir diretamente, se vai penetrar em determinada abertura e se a proteção solar desejada está sendo eficiente. estratégias arquitetônicas Tendo as informações sobre ventos, incidência solar, temperatura e posição do sol, o passo seguinte foi identificar as melhores estratégias arqui- tetônicas para o lugar, onde as mais indicadas são: ventilação natural noturna, sombreamento e inércia térmica para resfriamento. A ventilação natural noturna é utilizada em casos em que as edificações recebem ventilação natural apenas na parte da noite, e as aberturas são fechadas durante o dia. Como visto anteriormente, o vento diurno em Mossoró é muito quente e não é favorável que ele entre na edificação. Dessa forma, as aberturas tendem a se voltar para as direções predominantes dos ventos noturnos (ver gráfico 3), para que possam recebê-los. Em edifícios bem isolados, sombreados e de alta inércia térmica, que recebam ventilação apenas no período da noite, é possível que a temperatura interna seja menor que a temperatura externa. Essa estratégia é indicada para climas como o de Mossoró: quente e seco, onde há grande variação de temperatura entre o dia e a noite. Já a estratégia de sombreamento, consiste em proteger, de forma eficiente, a edificação contra a radiação solar, reduzindo o ganho de calor. As aberturas devem estar, preferencialmente, nas fachadas sob menor impacto da radiação solar, nas orientações norte e sul, que, as vezes, podem conflitar com a direção do ventos, sendo necessário buscar soluções e ponderar quais são as prioridades. A direção oeste é a que recebe os maiores picos de radia- ção durante o dia, mas, a absorção do calor pelas paredes expostas à essa orientação pode ser reduzida com o uso de cores reflexivas, sombreamento 36 e isolamento. No caso de cidades como Mossoró, o uso do sombreamento é recomendado durante o ano todo, utilizando-se não somente de proteções solares adequadas, como também do uso combinado de janela/veneziana, para permitir iluminação, ventilação e sombreamento seletivo, quando necessário. Por último, tem-se a inércia térmica, que já é utilizada desde muito antes na arquitetura vernacular do sertão, com o uso de paredes grossas e peque- nas aberturas, que conferem à edificação uma melhor resposta ao clima quente e seco. Paredes com maior inércia térmica são paredes que geram um atraso térmico no fluxo de calor, devido a alta capacidade que têm de acumular calor, fazendo com que o pico de temperatura interna seja menor em relação a tempe- ratura externa. O concreto e a alvenaria cerâmica comum respondem muito bem à essa função, por serem materiais com capacidade térmica elevada. Além das paredes, outra maneira de se obter inércia térmica são os tetos jardins. É interessante que essas estratégias sejam utilizadas em conjunto, mas sempre se atentando para que elas se somem e não se eliminem. Por exemplo, a inércia térmica só vai surtir efeito se a ventilação natural for restringida durante o dia, porque o vento aumenta a temperatura interna, que vai variar de acordo com a externa, anulando o efeito característico de atraso térmico. Por isso, o estudo das características climáticas para entender como deve se comportar uma edificação num clima como o de Mossoró é tão importante, devendo-se pensar na aplicação das estratégias desde a implantação até a volumetria. 04 referências projetuais 39 PROPOSTA FINALISTA DO CONCURSO PARA MORADIA ESTUDANTIL DA UNIFESP SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Ano do projeto | 2014 Arquitetos | Atelier Rua + Rede Arquitetos Localização | São José dos Campos, SP. Por se tratar de um concurso, os arquitetos apostaram seu diferencial na criação de um conceito modular de moradia, adaptável à outros locais, progra- mas e ambientes, permitindo uma possível expansão ou mudança de uso. Esse conceito foi a principal referência retirada desse projeto, e que serviu de ponto inicial para o projeto. Outro ponto de inspiração e referência foi a distribuição de todo o programa público no térreo, com salas de estudo, salas de jogos, salas multiuso, cineclube e miniteatro. O intuito era ter um térreo livre e sombreado, de uso público e com o programa distribuído de forma estratégica, evitando o barulho perto da área dos quartos. As principais questões norteadoras para a implantação e adequação do módulo ao terreno foram: topografia e orientação solar. Usando o desnível do terreno como estratégia, com o escalonamento dos edifícios que vão se adaptando e a implantação intercalada, foi possível criar pátios interiores, que foram pensados como zonas de convivência, assim como as galerias/corredores, Imagem 15 | Vista da ponte de ligação com o campus. | Fonte: Archdaily. 40 com seus 3 metros de largura, que servem não apenas à circulação, mas também à interação social entre os moradores. Os vãos estruturaissão de 6m de largura por 12m de comprimento, e o módulo se dá a partir da junção de dois vãos, sendo desenvolvido em um quadrado de 12m x 12m. Todos os quartos possuem uma varanda, e para cada pessoa um espaço de estudo, um vestíbulo e uma cama. Além da área priva- tiva dos quartos, existe também uma área de uso coletivo, que conta com uma copa, banheiro e área de serviço. Entre a copa e o banheiro existe um vazio, com vegetação, que permite entrada de ar e iluminação. Essa configuração modular e o conceito interno do módulo foi um dos pontapés iniciais para o projeto a ser desenvolvido em Mossoró, mas também todo o conceito da utilização do clima e o uso do térreo como espaço público, foram utilizados como inspiração. Imagem 16 | Galerias. | Fonte: Archdaily. Imagem 17 | Vista dos pátios internos. | Fonte: Archdaily. 41 ALOJAMENTO ESTUDANTIL NA CIUDAD DEL SABER Ano do projeto | 2008 Arquitetos | [sic] arquitetura Localização | Panamá Trata-se de um concurso em que o escritório brasileiro [sic] arquitetura ganhou o primeiro lugar para o dormitório de professores e estudantes. São nove blocos implantandos paralelos entre si, formando pequenos pátios arbori- zados e conectados a uma estrutura de cirulação de uso comum a todos, que traz unicidade ao conjunto. O térreo recebe programas de uso comum, como lavanderia, estar, sala de leitura, café e um pequeno auditório. No primeiro e segundo pavimentos, estão os alojamentos, copa e depósito. Todo esse programa foi distribuído em uma estrutura de concreto moldado in loco, com vãos de 7,50x3,60m e balanços de 2,50m, com laje maciça. Em relação à essa referência, os principais pontos que foram importantes e que serviram como ideias base foram a criação dos pátios, as fachadas e o térreo mais livre e com o uso mais público. A implantação otimizou o aprovei- tamento da ventilação natural. Nas unidades, grandes aberturas protegidas, e na circulação do bloco, há aberturas nas extremidades para que ocorra fluxo de ar por sucção. Essa também é uma ideia que pode ser adaptada ao clima de Mossoró, usando-a a favor da entrada do vento noturno (mais frio) na edifica- ção. Imagem 18 | Fachada e pátio | Fonte: Archdaily. 42 Imagem 19 | Integração térreo e pátio | Fonte: Arch- Imagem 20 | Volume de circulação | Fonte: Archdaily. Imagem 21 | Quarto | Fonte: Archdaily. Imagem 22 | Desenhos técnicos | Fonte: Archdaily. RESIDÊNCIAS EM ALCÁCER DO SAL - LAR DE IDOSOS Ano do projeto | 2010 Arquitetos | Aires Mateus Localização | Alcácer do Sal, Portugal O programa das residências em Alcácer do Sal define-se como hotel e hospital, em busca de uma combinação público/privado que respondesse às necessidades do grupo em questão. Formado por unidades individuais que se unem e formam um único corpo, a ideia do projeto é integrar os espaços de modo a estimular o convívio entra os moradores e entre o externo e o inter- no. 43 Nas fachadas, o jogo de cheios e vazios, e de opacos e transparente, formado pelas esquadrias dá ritmo ao edifício e favorece a integração com o exterior, permitindo que os espaços internos seja bem iluminados. A arquitetura portuguesa foi de grande inspiração e busca referencial para o projeto, buscando por nomes como Álvaro Siza, Eduardo Souto de Mou- ra, João Carrillo da Graça e Aires Mateus, que foi o escolhido para figurar aqui entre as referências projetuais. O uso de volumes mais fechados e de esquadrias recuadas são as duas características dessa arquitetura que mais se adequam ao projeto em Mossoró, principalmente em relação ao clima. Imagem 23 | Fachada | Fonte: Archdaily. Imagem 26 | Fachada | Fonte: Archdaily. Imagem 24 | Fachada | Fonte: Archdaily. Imagem 25 | Quarto | Fonte: Archdaily. 05 aproximação 47 terreno e entorno Por tratar-se de uma moradia estudantil voltada para mais de uma insti- tuição de ensino superior, a localização e escolha do terreno não poderia ser baseada em uma ou outra, mas buscar ser o mais central possível, facilitando o acesso à todas. Os pontos norteadores para essa decisão foram as duas maiores univer- sidades presentes em Mossoró, que se encontram em dois extremos da cidade, do lado leste a UFERSA e do oeste, a UNP (mapa 3). Dessa forma, era impor- tante que o terreno fosse central pelo menos à essas duas instituições, já que são as que mais recebem alunos de outras cidades e estados e, consequente- mente, geram mais demanda. A partir disso, foi possível, através de buscas pelo Fonte: Google Earth. UFERSA UNP N mapa 3 | localização UFERSA x UNP 48 Google Earth e de visitas à cidade, identificar três terrenos potenciais, destaca- dos a seguir no mapa 4 acima. O terreno 1 tem 12.436m2 e fica localizado próximo à Avenida Leste Oeste, uma das principais da cidade, que liga o centro ao lado leste da cidade, onde se encontram a UFERSA e a UERN, por exemplo. O terreno 2 tem 12.653,28m2 e se encontra numa boa localização da cidade, onde o acesso ao transporte público é fácil. É mais central que o terreno 1 em relação às universidades de referência, e está próximo de outras institui- ções da tabela 2 (pág. 11), como a Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, por exemplo. Já o terreno 3, tem 5.305m2 e em teoria, é o mais central dos três, em relação ao eixo de referência UFERSA-UNP. Fica em uma região residencial, mas um pouco mais afastado do centro e não tão inserido nas rotas de acesso ao transporte público. 1 CENTRO 2 3 Fonte: Google Earth. N mapa 4 | terrenos potenciais 49 Fonte: produção da autora. Feitas todas as considerações e levando em conta que uma das prefe- rências de projeto é a de não verticalizar muito o complexo, o terreno 3 logo foi descartado, principalmente pela dificuldade de acesso ao transporte público e pela área menor. Já os terrenos 1 e 2 possuíam áreas compatíveis com o programa e que possibilitariam a não verticalização. Por fim, o terreno escolhido foi o 2, por sua área, por sua localização mais central em relação ao eixo UFERSA-UNP e pelo melhor acesso ao transporte público e ao restante da cidade. Em relação ao entorno, localiza-se numa área majoritariamente residen- cial, mas ao mesmo tempo, bem servida em relação ao acesso à serviços diversos, já que também está próximo de clínicas, oficinas, supermercado, escolas e facul- dades, como por exemplo, o colégio estadual Jerônimo Rosado, a Faculdade Católica do Rio Grande do Norte e a Faculdade Pitágoras. mapa 5 | usos do entorno residencial serviço - saúde serviço - geral comercial terreno educacional igreja praça legenda usos N centro teatro e centro cultural lazer e entretenimento 50 Além desses equipamentos que se encontram no entorno imediato, há ainda a possibilidade de fácil acesso à outras áreas da cidade, como o centro, a apenas 1,5km de distância, o teatro e o centro cultural e de lazer da cidade, a 1,1km e a área que atualmente é conhecida como o polo de gastronomia e entretenimento a 1,9km. mapa 6 | localização x acesso à cidade Fonte: Google Earth. N Em relação à morfologia, o entorno caracteriza-se por edificações em lotes estreitos e profundos, com algumas poucas exceções onde existem postos de gasolina, galpões comerciais e lojas de carros. No geral, o gabarito é baixo, com uma média de um a dois pavimentos, com apenas alguns condomínios verti- cais, tendo apenas dois que ultrapassam 10 pavimentos. Mesmo nos estabele- cimentos como clínicas e lojas, é possível perceber que foram feitos onde antes 51 existiam casas, resultantes de reformam apenas nas fachadas e nos ambientes internos. Trata-se de uma área com uma quantidade considerável de área verde nos miolos das quadras e também nas calçadas. Imagem 27 | Entorno | Fonte: autoral. Imagem 28 | Entorno | Fonte: autoral. Imagem 29 | Entorno | Fonte: autoral. Imagem 31 | Entorno | Fonte: autoral. Imagem 30 | Entorno | Fonte: autoral. Imagem 32 | Entorno | Fonte: autoral.52 legislação Segundo o Plano Diretor de Mossoró, a cidade é dividida em duas macro- zonas: Zona Urbana e Zona de Interesse Rural. A zona urbana corresponde à porção urbanizada do território, que possui infra-estrutura e que seja adequada a usos diversos, incluindo a área de expansão urbana. Já a zona de interesse rural corresponde à porção do território que, por suas características naturais, são destinadas à atividades de agricultura e agropecuária. Ambas as macrozo- nas são subdivididas em Áreas Especiais, que requerem um regime urbanístico específico. Área especial de adensamento urbano Área especial urbana central TerrenoDireito de preempção Fonte: Plano Diretor de Mossoró e Google Earth. N mapa 7 | áreas especiais próximas ao terreno Como o terreno está completamente inserido na área urbana da cidade, consequentemente, está dentro da macrozona urbana. Segundo o mapa acima, 53 tabela 5 | índices urbanísticos nenhuma das Áreas Especiais dessa zona interferem no terreno, devendo-se seguir os parâmetros urbanísticos definidos para toda a área urbana, de acordo com o tipo de uso, que, nesse caso foi considerado como residencial multifami- liar, por ser o que mais se aproximava do programa proposto. Para esse uso, os seguintes parâmetros devem ser seguidos: Produção da autora. Fonte: Plano Diretor de Mossoró. RECUO FRONTAL RECUOS LATERAL E DE FUNDO TAXA DE OCUPAÇÃO TAXA DE PERMEABILIDADE ÍNDICE DE APROVEITAMENTO GABARITO 1,50m 3m 80% 20% 1,3 52m Atualmente, o terreno não é ocupado por nenhuma edificação, e contém apenas uma vegetação baixa e relativamente densa. Fica no meio da quadra, o que significa que existem edificações em três dos seus quatro lados. O acesso se dá apenas pela rua Jeremias da Rocha. Imagem 33 | Terreno atualmente | Fonte: Google Earth. Imagem 34 | Terreno atualmente | Fonte: autoral. 06 o projeto 57 premissas projetuais O grande desafio de se trabalhar em uma região como Mossoró é adaptar a edificação ao clima, que é muito específico e exige que o edifício seja pensado não só em sua funcionalidade e beleza, mas também em sua eficiência em relação às condições climáticas. Por esse motivo, a primeira premissa norte- adora do projeto é a adaptação ao clima, uma vez que o uso das estratégias corretas, além de proporcionar conforto ambiental para os moradores, também torna os ambientes mais aconchegantes e acolhedores. Diretamente relacionado a isso está a segunda premissa principal do projeto, que é a criação de espaços de qualidade. Esse é um do pontos mais importantes para a adaptação do estudante que sai de casa para morar em outra cidade: poder ter um lugar para chamar de lar. Além do conforto ambien- tal, trata-se também de pensar os espaços como lugares hora de socialização, hora de tranquilidade e privacidade. Para esse projeto, o uso do módulo também é uma das premissas, já que por se tratar de um programa de repetição - nesse caso, as moradias -, o conceito modular ajuda na organização e padronização das formas e dos proces- sos, proporcionando uma construção mais racionalizada. Juntamente com o uso de materiais de fácil acesso no local, o concreto e a alvenaria convencional de tijolos, também é uma estratégia que permite reduzir os custos da construção. E, em paralelo ao conceito modular, está a última premissa: a possibili- dade de expansão, uma vez que, caso essa demanda aumente, tendo em vista o grande crescimento do nicho universitário na cidade nos últimos anos, possa-se facilmente fazer acréscimos ao complexo para que o programa conte com mais vagas. adaptação ao clima conceito modular espaços de qualidade possibilidade de expansão uso de estratégias bioclimá- ticas em busca de um edifí- cio confortável e eficiente ter o módulo como organi- zador e facilitador de processos e formas propor espaços que de adaptem à cada morador, permitindo identificação e apropriação projetar um edifício que possa se adaptar às mudaças de demandas 58 o programa O programa foi definido tendo por base os projetos de referência e a moradia existente na cidade. Todo o programa de uso coletivo e os módulos acessíveis foram distribuídos no térreo e nos dois pavimentos superiores encon- tram-se apenas os quartos. Como o funcionamento do programa da moradia estudantil em questão está ligado tanto à UFERSA quanto às instituições priva- das, foi pensado em incorporar ao programa algumas lojas, pensando em ser mais uma forma de obtenção de receita, fora o aluguel a ser cobrado, para contribuição na manutenção do edifício e de seus funcionários. Essas lojas foram pensadas para uso de serviços que sejam interessante para os estudantes, como xerox, café, livraria, etc, mas que também possam ser usados por toda a cidade. Dessa forma, o programa, ficou definido da seguinte forma: quarto unidade 1 808,28m2 quarto unidade 2 927,84m2 wc + copa 588,80m2 suíte PCD 217,52m2 sala de jogos/estar 232,32m2 sala de estudos 204,93m2 cozinha 31,50m2 área de refeições 216,54m2 lavanderia 42,69m2 wc feminino 22,16m2 wc masculino 21,82m2 wc PCD 15,28m2 bicicletário 90,00m2 quadra 1.141,80m2 casa de lixo 10,47m2 casa de gás 17,55m2 sala administração 32,26m2 guarita 20,77m2 caixa d’água 18,06m2 lojas 155,38m2 praça pública 1.262,70m2 USO PRIVATIVO USO GERAL USO PÚBLICO USO COLETIVO 59 o módulo Assim como no projeto para moradia estudantil da UNIFESP, citado anteriormente, o pontapé inicial do projeto foi o desenvolvimento do módulo dos quartos. O vão estrutural escolhido foi o de 7,20mx7,20m e é nessa medida que o módulo se desenvolve. Cada módulo é composto por dois quartos duplos com banheiro e copa compartilhados entre eles e em cada quarto existe um conjunto de cama, espaço de estudo e armário para cada morador. Os armários foram utilizados como forma de divisão dos espaços entre as camas, gerando mais privacidade e individua- lidade para cada um e permitindo personalização com o uso de fotos, quadros e pôsteres, em cada espaço (ver imagens 35, 36, 37, 38), buscando adequar o projeto às premissas de identificação e apropriação do lugar, bem como do trabalho entre socialização x individualidade nesses ambientes, apontadas por Heilwel (1973). Para a otimização do uso do banheiro compartilhado, todos os espaços foram separados, tanto os lavatórios, quanto o chuveiro e o sanitário, para possi- bilitar que mais de uma pessoa utilize as instalações ao mesmo tempo. Além do banheiro, também existe uma pequena copa compartilhada, com uma bancada com pia, armários e espaço para microondas, torradeira, etc. Toda essa área compartilhada pode ser acessada pelos dois quartos, através de portas de correr. Todos os módulos da edificação são iguais, com uma única diferença relacionada às fachadas, que são tratadas de forma diferente no primeiro e no segundo pavimento para gerar um jogo de cheios e vazios (ver plantas e esque- mas a seguir). Nos módulos do primeiro pavimento (módulo 1), o recuo da janela se encontra próximo da bancada de estudos e o volume em balanço ao lado da cama, de forma que seu uso ficaria impossibilitado, por isso, optou-se por deixá- -lo como um volume oco, servindo apenas para fins volumétricos de fachada. Já no segundo pavimento (módulo 2), o recuo da janela fica próximo da cama, e o espaço gerado pela criação do volume em balanço foi utilizado como espaço de armário ou estante. 60 módulo 1 | primeiro pavimento escala 1/200 GSEducationalVersion 1,94 1,62 0,24 1,62 1,94 7,35 5 ,1 1 1 ,0 6 1 ,9 8 1,73 3,90 1,72 8 ,1 4 7,35 0 ,9 2 23 21 23 1,90 1,66 0,24 1,66 1,90 7,35 0 ,8 9 4 ,2 2 3 ,0 3 8 ,1 4 1,554,25 1,55 7,35 21 20 20 0,24 1,42 4,03 1,42 0,24 7,35 0 ,8 9 4 ,2 2 3 ,0 3 8 ,1 4 1,55 4,25 1,55 7,35 isométrica esquadria copa + wc volume fachada mesa de estudos 61 Imagem 36 | Módulo 1 | Render e edição pela autora. Imagem 35 | Módulo 1 | Render e edição pela autora. 61 62 GSEducationalVersion 1,94 1,62 0,24 1,62 1,94 7,35 5 ,1 1 1 ,0 6 1 ,9 8 1,73 3,90 1,72 8 ,1 4 7,35 0 ,9 2 23 21 23 1,90 1,66 0,24 1,66 1,90 7,35 0 ,8 9 4 ,2 2 3 ,0 3 8 ,1 4 1,55 4,25 1,55 7,35 21 20 20 0,24 1,42 4,03 1,42 0,24 7,35 0 ,8 9 4 ,2 2 3 ,0 3 8 ,1 4 1,55 4,25 1,55 7,35 módulo 2 | segundo pavimento escala 1/200 isométrica estante copa + wc esquadria mesa de estudos 63 Imagem 38 | Módulo 2 | Render e edição pela autora. Imagem 37 | Módulo 2 | Render e edição pela autora. 63 64 Para garantir a inclusão e a acessibilidade à todos, o módulo também foi adaptado em quartos para pessoas com deficiência (PCD) (ver planta e esquema a seguir). A principal mudança realizada foi na área compartilhada dos banheiros. De acordo com a NBR 9050, são necessárias áreas mínimas de transferência e de movimentação para cadeirantes, então, para que os banheiros fossem adequa- dos à esses parâmetros, decidiu-se por cada quarto ter o seu próprio banheiro. Dessa forma, um módulo acessível é formado por dois quartos duplos e dois banheiros, no mesmo vão de 7,20mx7,20m do módulo padrão. O esquema de fachada do módulo PCD é o mesmo do módulo 2. Para o quarto, seguindo a ideia do quarto duplo, chegou-se em uma solução semelhante ao módulo padrão, com uma cama e uma mesa de estudos para cada, sendo a do cadeirante a que se encaixa no espaço criado pelo volume em balanço da fachada, por proporcionar mais espaço e o conforto necessário. Seguindo o mesmo padrão de busca de privacidade para favorecer a identificação e apropriação do ambiente, o armário também foi utilizado como divisor dos espaços individuais, para criar essa sensação de individualidade e delimitação dos espaços (ver imagem 39). O quarto possui também uma pequena copa criada a partir de um recuo de 60cm para dentro do banheiro, o suficiente para abrigar uma bancada com pia e prateleiras para servir de apoio à pequenos eletrodomésticos que sejam utilizados, como microondas, torradeira, sanduicheira, etc, visando a possibilidade de realizar lanches e refeições rápidas sem ter que sair do quarto (ver imagem 40). O layout permite uma circulação fácil para o cadeirante, com espaço suficiente para giros de 360o completos e obedecendo as circulações mínimas de, pelo menos, 90cm. O banheiro de cada quarto segue as orientações da NBR 9050, com espaço para giro de 360o inscrito numa circunferência de 1,50m de diâmetro, e duas áreas de transferência, de 0,80mx1,20m cada, sendo uma ao lado do sanitário e outra ao lado do chuveiro. 65 módulo PCD | pavimento térreo escala 1/200 isométrica estudo cadeirante wc esquadria copa GSEducationalVersion 1,94 1,62 0,24 1,62 1,94 7,35 5 ,1 1 1 ,0 6 1 ,9 8 1,73 3,90 1,72 8 ,1 4 7,35 0 ,9 2 23 21 23 1,90 1,66 0,24 1,66 1,90 7,35 0 ,8 9 4 ,2 2 3 ,0 3 8 ,1 4 1,55 4,25 1,55 7,35 21 20 20 0,24 1,42 4,03 1,42 0,24 7,35 0 ,8 9 4 ,2 2 3 ,0 3 8 ,1 4 1,55 4,25 1,55 7,35 66 Imagem 40 | Módulo PCD | Render e edição pela autora. Imagem 39 | Módulo PCD | Render e edição pela autora. 66 67 implantação A implantação é uma das primeiras e principais estratégias para garantir adaptação ao clima e permitir que a edificação seja eficiente nesse sentido, já que é nessa etapa que é feita a disposição dos prédios, onde deve-se atentar à orientação solar e dos ventos em relação ao terreno, buscando aproveitar ao máximo esses condicionantes em favor da construção. Como visto na análise climática, as aberturas devem ser evitadas nas orientações leste/oeste, pois são as que mais recebem radiação solar ao longo do dia. Sendo assim, todas as esquadrias foram voltadas para norte e sul, de forma a melhor aproveitar os ventos noturnos (ver gráfico 3, pág. 33) e evitar a incidência solar direta, principalmente no período da tarde. Inicialmente, com os blocos paralelos às faces do terreno, não era possível chegar à essa conforma- ção, para isso acontecer, foi preciso realizar uma rotação dos prédios em relação ao terreno. Imagem 41 | implantação e o entorno | Produzida pela autoral. Fonte: Google Earth. 68 GSEducationalVersion GSEducationalVersion Sabendo que, para o clima quente e seco, edificações mais robustas e quadradas são preferíveis às edificações esbeltas e compridas, optou-se por usar 4 vãos estruturais lado a lado para compor a dimensão longitudinal do bloco e na dimensão transversal, 3 vãos estruturais. Dessa forma, cada bloco ficou com a medida de 28,98mx23,15m, com dois eixos de quartos separadas por um grande corredor/pátio. Para atingir um bom número de unidades e para melhor aproveitamento do terreno, pensando nas possíveis expansões, foram proprostos três blocos, unidos no térreo através de um grande pátio, seguindo os mesmos eixos e vãos estruturais dos blocos (ver planta na prancha 1 em anexo). Para não destoar do contexto arquitetônico da área em que está inserido, e também pelas dimensões do terreno permitirem, optou-se por não verticali- zar o conjunto, utilizando apenas térreo + dois pavimentos, evitando o uso de elevador, que seria um recurso caro e difícil de manter, levando em consideração o programa proposto. GSEducationalVersion a partir dos blocos com tamanho e altura definidos, posicionou-se de forma paralela aos lados do terreno, depois uniu-se os três com os blocos unidos, fez-se uma rotação para que as fachadas que vão receber as esquadrias, recebam menos incidência solar e aproveitem melhor os ventos noturnos após definida a rotação, posicionou-se o grupo de forma mais próxima a rua, abrindo espaço no terreno para futuras expansões, e também acrescentou-se uma laje verde na junção entre os blocos 69 estrutura A estrutura se desenvolve de acordo com o módulo, em vãos de 7,20mx7,20m, com o sistema pilar-viga-laje em concreto moldado in loco, permitindo configurações espaciais mais livres e dinâmicas, deixando a estrutura independente e permitindo diferentes possibilidades de configurações internas, caso haja necessidade de mudanças, tornando-se muito mais flexível do que o uso de alvenaria estrutural, por exemplo. Outra vantagem é que, por ser um sistema já muito utilizado no local, facilita na obtenção de mão de obra qualifi- cada e materiais disponíveis. Apesar de todo o conjunto ser estruturado a partir do módulo, há um momento em que o módulo é alterado: na criação do acesso principal. Para diferenciar e marcar na fachada onde se dá o acesso ao conjunto, foi preciso alterar o vão entre o dois primeiros pilares do bloco 1, aumentando de 7,20m para 12,40m. E para vencer esse vão, foi usada uma viga de concreto proten- dido, com altura de 80cm, possibilitando a criação de um volume negativo bem marcado na fachada principal. As lajes dos blocos são em concreto maciço, com espessura de 12cm e possuem rasgos centrais que possibilitam a criação de um pátio interno em cada um deles, fechado com uma coberta estilo borboleta em telhas translúci- das com estrutura de metal. Já na laje do pátio central, optou-se por fazer uso da laje verde (ver det. 01 na prancha 5 em anexo) por dois motivos: por ser uma boa estratégia de garantia de inércia térmica através da coberta, favorecendo a diminuição da temperatura interna, e por ser voltada para os módulos do primeiro pavimento, gerando um visual muito mais interessante para os quartos do que apenas uma laje impermeabilizada de concreto. módulo estrutural GSEducationalVersion 7,20 7, 20 70 laje do térreo afastamento dos pilares diferenciado no térreo do bloco 1 para criação do acesso principal laje verde viga protendida do acesso principal lajes com aberturascentrais para criação dos pátios internos nos blocos estrutura dos pavimentos coberta laje da coberta com abertura central isométrica estrutural 71 acessos O acesso dos moradores e visitantes se dá pelo primeiro bloco, mais próximo da rua. Como dito anteriormente, foi criado um volume negativo no bloco, criando uma espécie de pórtico, deixando o acesso bem marcado na fachada e facilmente reconhecido. Além da forma, também foi usada uma cor diferente do restante das fachadas, para que chamasse ainda mais atenção de quem passa pelo local. O fechamento se dá através de um grande painel modular de cobogó, que, devido ao tamanho e altura, propõe-se que seja feito em material metálico, para melhor estruturação. O módulo tem 1,60m de largura por 2,40m de altura, sendo 7 módulos no sentido transversal e 2 no sentido verti- cal. Dos sete que se encontram no nível do térreo, quatro são portas pivotantes, por onde se dá o acesso, que quando fechadas se camuflam no painel. Há também um acesso ao bicicletário que fica dentro do conjunto, feito através de um portão no muro, que também funciona para pedestres. O muro é um elemento que entendeu-se necessário dentro do contexto da cidade, e que foi tratado como extensão da fachada dos blocos, seguindo a mesma lingua- gem. Para as lojas que foram propostas no térreo, o acesso acontece pela praça criada na fachada principal, voltada para a rua, incorporando a calçada que já existia, sem fazer delimitações entre público e privado, gerando um espaço que pode ser acessado por todos. acessos às lojas acesso principal acesso bicicletas esquema acessos 72 distribuição do programa Todo o programa coletivo e público foi distribuído no pavimento térreo (ver prancha 2 em anexo). No térreo do primeiro bloco, optou-se por distribuir as áreas mais coletivas, já que ele é o espaço intermediário entre o externo e o interno, devido o acesso principal se dar através dele. Dessa forma, criou-se uma recepção e uma guarita, de forma a proporcionar mais segurança e controle na entrada de pessoas no edifício. Junto à esses ambientes está a sala da adminis- tração, localizada próxima a entrada, para que as pessoas que trabalham lá não precisem necessariamente entrar nos espaços dos moradores. Ainda no bloco 1 tem-se duas salas de estar e de jogos, pensadas para serem ambientes de convívio e socialização entre os moradores, favorecendo às interações entre eles, e facilitando a adaptação ao lugar, já que vão estar Imagem 42 | Acesso principal. | Render e edição pela autora. 73 compartilhando experiências em comum. No pátio central, estão localizadas duas cozinhas coletivas e a área de refeições, que tem vista para o jardim e para a quadra. Já no térreo do bloco 2 estão distribuídas as 5 lojas e a lavanderia coletiva. No bloco 3, por ser mais afastado da rua, ficaram as áreas que necessitavam de mais privacidade: a sala de estudos e os módulos acessíveis. No primeiro e no segundo pavimento (ver pranchas 3 e 4 em anexo) estão distribuídos os demais módulos. O acesso se dá através de escadas posiciona- das no centro dos vazios dos blocos, que são estruturadas numa viga (ver corte AA em anexo) que passa pelo vazio circulação. Imagem 43 | Recepção | Render e edição pela autora. 7474 Imagem 44 | Sala de jogos/estar | Render e edição pela autora. Imagem 45 | Sala de jogos/estar | Render e edição pela autora. 75 Imagem 46 | Sala de estudos | Render e edição pela autora. Imagem 47 | Sala de estudos | Render e edição pela autora. 75 76 Imagem 48 | Pátio central | Render e edição pela autora. Quanto aos ambientes de uso geral, a casa de lixo e a casa de gás foram posicionadas no muro ao lado do bloco 1, área que permite fácil acesso a partir da rua. Já para a caixa d’água, optou-se por criar um volume indepen- dente posicionado dentro do conjunto, próximo ao bicicletário, já que não faria sentido, volumetricamente falando, colocar em cima dos blocos. Para seguir a mesma linguagem dos blocos, pensou-se em um volume quadrado, na mesma cor branca e, para remeter mais ainda ao restante do conjunto, também usou-se o mesmo painel de cobogós usado nas fachadas. caixa d’água lixo e gás 77 GSEducationalVersion 3, 00 3, 00 3, 00 2, 40 1, 88 5, 69 1, 03 20 ,0 0 4,30 0, 15 0, 84 3, 16 0, 15 4, 28 0,15 1,21 2,79 0,15 GSEducationalVersion 3, 00 3, 00 3, 00 2, 40 1, 88 5, 69 1, 03 20 ,0 0 4,30 0, 15 0, 84 3, 16 0, 15 4, 28 0,15 1,21 2,79 0,15 corte planta isométrica cobogós 78 Imagem 49 | Bicicletário e caixa d’água | Render e edição pela autora. condicionamento ambiental Em relação à volumetria e materialidade, existem alguns pontos a serem destacados no projeto como norteadores do produto final e que influenciam nas questões de adaptação ao clima. O primeiro é que, para conseguir alcançar uma inércia térmica alta, uma das estratégias bioclimáticas indicadas, foi usado, para a alvenaria externa, o tijolo cerâmico deitado, criando assim uma parede mais grossa e consequentemente com maior inércia térmica, o que vai gerar um atraso na transmissão do calor do ambiente externo para o ambiente interno. Já as alvenarias internas, foram feitas também com tijolo cerâmico, mas na forma convencional. Outra característica marcante em relação às alvenarias externas é que, em todas elas foi usada a pintura na cor branca como revestimento, em todos 79 os blocos. Essa escolha se deu devido ao fato de ser uma cor que reflete mais calor do que absorve, justamente o que é pretendido, ajudando no processo de inércia e de alcance do conforto ambiental. Além dessas decisões no âmbito da materialidade do conjunto, também foi preciso pensar em como usar as definições de fachadas, e, consequente- mente, de volumetria, a favor do conforto, aliando a inércia térmica às outras estratégias bioclimáticas de sombreamento e ventilação noturna. Esse processo se iniciou nas escolhas de implantação, como já foi mostrado, e, foi amadure- cido nas decisões volumétricas, onde optou-se pelo uso de cheios e vazios nas fachadas. No térreo, os vazios se caracterizam por recuos das paredes, onde, estra- tegicamente são colocadas as esquadrias, já que, devido ao sombreamento criado, elas ficam mais protegidas da radiação solar. Nas janelas colocadas nessas reentrâncias, foi criada uma jardineira, para trazer o verde à fachada e até para a própria segurança dos moradores, escolhendo-se os tipos de plantas corretos. No primeiro e no segundo pavimento, como já falando anteriormente, o jogo de cheios e vazios nós módulos não se dá com recuos, mas sim com um volume extra em balanço, que saca e ao mesmo tempo, gera um recuo para as esquadrias dos quartos, seguindo o mesmo pensamento do que foi feito no térreo. Para dar ainda mais dinamicidade, intercalou-se os cheios e vazios entre os pavimentos, ou seja, o que no primeiro pavimento for vazio, no segundo será cheio e vice-versa. Dessa forma, conseguiu-se esquadrias mais protegidas e uma fachada dinâmica e com movimento. As esquadrias escolhidas para os quartos foram janelas de veneziana, que permitem iluminação e ventilação seletiva, de forma a não deixar que o sol incida diretamente dentro dos ambientes, como acontece com as esquadrias de vidro. Para garantir que essa proteção será eficiente, foram feitas simulações no software Autodesk Ecotect Analysis, para entender qual tipo de veneziana seria necessária para obter uma maior proteção. A partir dos resultados obtidos (ver gráficos 6 e 7), a esquadria utilizada deve ter 5cm de espaçamento entre cada veneziana, que por sua vez, deve ter 15cm de profundidade. A partir da leitura dos gráficos, pode-se perceber que a esquadria escolhida protege bem, nas duas fachadas onde estão distribuídas, proporcio- nando sombra sempre até as 18h, sendo que na fachada noroeste, entre Julho e Agosto, a proteção vai até as 17h30 e na fachada nordeste, entre janeiroe março, só começa a proteger a partir das 7h da manhã. 80 fachada noroeste Fonte: Autodesk Ecotect Analysis. gráfico 7 | diagrama fachada nordeste fachada nordeste Fonte: Autodesk Ecotect Analysis. gráfico 6 | diagrama fachada noroeste Já as fachadas leste e oeste, deveriam ser mais fechadas, principalmente em relação à oeste, devido à alta incidência solar durante o dia. Aqui, optou- -se pelo uso dos cobogós, seguindo o mesmo padrão de desenho dos usados no acesso principal. Para gerar um efeito dinâmico e não ser apenas um pano de cobogó rígido e inteiro, foi criada uma paginação em que no centro há mais aberturas, que vão diminuindo conforme se aproximam das extremidades. Por ficarem nas pontas das circulações tanto no primeiro quanto no segundo pavimento, as aberturas geradas ajudam na captação do vento leste noturno, além de também proporcionarem mais iluminação natural, diminuindo os gastos com energia elétrica durante o dia. No interior de cada bloco, tem-se uma grande abertura vertical, formada 81 Imagem 50 | Corredores blocos e cobogós | Render e edição pela autora. pelos rasgos nas circulações, que segue desde o térreo até o segundo pavimento, criando um pátio vertical dentro do próprio bloco, com o intuito de voltar o edifí- cio para dentro de si mesmo, possibilitando a criação de um microclima dentro da edificação. Permitindo também uma comunicação visual com todo o bloco, o que valoriza as relações sociais entre os moradores, e, pelo uso da vegetação no térreo, torna o lugar mais agradável. Como seria inviável deixar esse pátio interno aberto, por causa da chuva e até mesmo da incidência solar, foi feita uma coberta tipo borboleta, com uma calha central, telhas translúcidas e uma estrutura metálica que cria uma espécie de “forro” ripado. Essa coberta funciona como shed, devido ao fato de seu formato permitir que existam aberturas, ajudando a criar um efeito chaminé, facilitando troca de ar dentro do bloco (ver cortes na prancha 5 em anexo) e como estratégia de iluminação natural, devido ao uso das telhas translúcidas. Esse pátio só é possível devido as circulações terem sido pensadas para serem generosas. Essa escolha foi pensada tanto para valorizar as relações 82 GSEducationalVersion pátio interno - efeito chaminé sociais entre os moradores, criando não apenas simples corredores, mas sim espaços de convivência, quanto como estratégia para adaptação ao clima. Voltando no que Heilweil (1973) diz, é importante tratar as circulações como algo além, já que por se tratarem de espaços de transição entre o público e o privado, são também lugares de encontros. Considerando isso, pensar em corredores que sejam confortáveis, atrativos, iluminados e abertos, e que não sejam apenas local de passagem, é uma forma de proporcionar espaços de qualidade para os moradores dessa residência que vão além dos quartos. Imagem 51 | Pátio interno dos blocos | Render e edição pela autora. 82 83 imagens Imagem 52 | Detalhe das jardineiras nas esquadrias do térreo | Render e edição pela autora. 84 Imagem 53 | Praça e entrada | Render e edição pela autora. imagens 85 Imagem 54 | Praça e lojas | Render e edição pela autora. 86 Imagem 55 | Vista interna da quadra | Render e edição pela autora. imagens 87 Imagem 56 | Área de refeições e quadra | Render e edição pela autora. 88 expansão Uma das premissas de projeto era a de possibilitar flexibilidade e expan- são futuros, sabendo disso, medidas como o uso da estrutura modulada e a implantação que não ocupa o terreno todo foram propostas de forma a viabilizar essa proposta. Sabe-se que construir uma obra desse tipo é um processo oneroso e burocrático, principalmente por envolver interesses que podem ser conflitantes em alguns momentos, por isso, é importante pensar também em como esse equipamento pode ser útil e durável por mais tempo. No caso de a demanda por moradia estudantil aumentar, é possível fazer acréscimo de novos blocos, utilizando-se da área livre que foi deixada no terreno atualmente. Os esquemas a seguir mostram duas possíveis soluções de expansão, com o acréscimo de um ou dois blocos, seguindo a mesma modulação e a mesma linguagem dos existentes, e procurando manter a mesma qualidade arquitetônica dos espaços construídos em relação ao conforto ambiental. opção 1: acrescen- tando 1 bloco unido aos 3 existentes. opção 2: acres- centando 2 blocos seguindo a mesma estratégia de implan- tação dos existentes 07 considerações finais 91 considerações finais Ao final de todos os estudos, leituras e processos, chegou-se à uma proposta final de projeto que atende às demandas existentes na cidade e que busca ser eficiente, racional e atual. Tendo o clima como principal condicio- nante, foi possível, através de estratégias bioclimáticas específicas, trabalhar esses condicionantes a favor da edificação, fazendo com que o que antes era limitante, se tornasse intensificador, alcançando a premissa de criar espaços com qualidade e com conforto ambiental. Além do desenho e da materialização, esse projeto buscou entender como um equipamento arquitetônico pode influenciar na vida de uma pessoa. Dessa forma, foi pensado desde as necessidades mais básicas em um edifí- cio como esse, até conceitos de sociabilidade, individualidade, identificação, apropriação e adaptação. Por isso, ao fim desse processo, tem-se um projeto muito mais humano, acolhedor e que se propõe a ser lar longe de casa. Além disso, tem-se ainda a criação que vai além de apenas um equipa- mento privado, mas contando também com um equipamento urbano: a praça. Trabalhando a ideia de abrir o edifício para a cidade, inserindo-o no contexto urbano, servindo como transição entre o público e o privado, inspirando a criação de espaços com mais qualidade e mais gentileza urbana por parte de empreendimentos como esse. Por fim, espera-se que esse trabalho possa servir de inspiração para uma arquitetura mais simples, sem exacerbadas soluções formais e mais próxima do usuário, que busque facilitar suas vivências e proporcione espaços de qualidade, onde tudo deve ser pensado para acontecer da melhor maneira possível. Que seja uma arquitetura não apenas de mais um edifício em um lote, mas sim de um edifício pensado e totalmente idealizado para aquele lugar específico, conside- rando todas as variáveis que envolvem o processo de projetar e que se insira no contexto da cidade, gerando espaços que ultrapassem as barreiras do edifício. 92 referências bibliográficas Amaral, Lorena Belchior. RESIDÊNCIA UNIVERSITÁRIA DA UFC: Crateús e Sobral / Lorena Belchior Amaral. – Universidade Federal do Ceará, 2018. 76 f. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. ABNT, 2004. HEILWEIL, Martin. The influence of dormitory architecture on resident behavior. Environment and Behavior, v. 5, n. 4, p. 377-412, 1973. LI, L. D.; CHAGAS, André Luis Squarize. Efeitos do SISU sobre a migração e a evasão estudantil. XV ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS REGIONAIS E URBANOS. Anais... São Paulo: Aber, 2017. MEDEIROS, Deisyanne; NOME, Carlos; ELALI, Gleice. CONSTRUINDO NO CLIMA QUENTE E SECO DO BRASIL: CONFORTO TÉRMICO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA PARA A ZONA BIOCLIMÁTICA 7. MOSSORÓ. Plano Diretor do Município. LEI COMPLEMENTAR N.o 012/2006. Mossoró, 2006. NBR, ABNT. 9050-Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipa- mentos urbanos. ABNT, 2015. NBR, ABNT. 15220-Desempenho Térmico de Edificações Parte 3: Zoneamento Bioclimático Brasileiro e Diretrizes Construtivas para Habitações Unifamiliares de Interesse Social. ABNT, 2003. OSSE, Cleuser Maria Campos; DA COSTA, Ileno Izídio. Saúde mental e quali- dade de vida na moradia estudantil da Universidade de Brasília. Estudos de Psicologia, v. 28, n. 1, p. 115-122, 2011.
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