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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
 
 
 
 
FRANCISCO NUNES DE SOUSA MOURA 
 
 
 
 
A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NA FORMAÇÃO INICIAL DE 
PROFESSORES PEDAGOGOS NO ESTADO DO CEARÁ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA-CE 
2020 
1 
 
FRANCISCO NUNES DE SOUSA MOURA 
 
 
 
 
 
A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NA FORMAÇÃO INICIAL DE 
PROFESSORES PEDAGOGOS NO ESTADO DO CEARÁ 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação Brasileira da 
Faculdade de Educação, da Universidade 
Federal do Ceará, como requisito parcial para a 
obtenção do título de Mestre em Educação. 
Área de Concentração: Educação, Currículo e 
Ensino. 
 
Orientadora: Prof.ª. Dra. Raquel Crosara Maia 
Leite 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA-CE 
2020 
 
2 
 
 
 
3 
 
FRANCISCO NUNES DE SOUSA MOURA 
 
 
 
A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NA FORMAÇÃO INICIAL DE 
PROFESSORES PEDAGOGOS NO ESTADO DO CEARÁ 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação Brasileira da 
Faculdade de Educação, da Universidade 
Federal do Ceará, como requisito parcial para a 
obtenção do título de Mestre em Educação. 
Área de Concentração: Educação, Currículo e 
Ensino. 
 
Orientadora: Prof.ª. Dra. Raquel Crosara Maia 
Leite 
 
Aprovada em: 24 / 07 / 2020. 
BANCA EXAMINADORA 
 
_________________________________________________________ 
Profª. Dra. Raquel Crosara Maia Leite (Orientadora) 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
_________________________________________________________ 
Prof. Dr. José Arimatéa Barros Bezerra 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
 
_________________________________________________________ 
Profª. Dra. Clarice Maria Araújo Chagas Vergara 
Universidade Estadual do Ceará (UECE) 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A todos os/as pesquisadores/as do Brasil, em 
especial, aos que se identificarem com a 
presente dissertação. 
 
 
5 
 
AGRADECIMENTOS 
Na hipótese de um dia eu ter uma autobiografia, esse período de tempo, embora 
pequeno, teria a citação de diversas pessoas, e a elas, deixo o meu mais sincero obrigado. 
Primeiro, agradeço aos meus familiares – avós, Maria Santos e Francisco Sousa; pai, Antônio 
Lisboa; irmãos, Ana Karolina, Ana Larissa, Antônio Higor, Maria Paloma e Maria Gabrielly; 
tios, Antônia Moura e Antônio Arnaldo; e madrasta, Aparecida Lima – pelo incentivo na 
realização dessa trajetória e pela compreensão nos momentos de ausência. 
Agradeço também a minha querida amiga e orientadora, profª. Dra. Raquel Crosara, 
pela parceria nos diversos trabalhos acadêmicos que propus para fazermos, pela acolhida, 
atenção e preocupação a esse jovem que saiu do interior do Ceará para realizar um sonho, e 
pelas valorosas contribuições e orientações para concretizar a presente pesquisa. Eu não tenho 
palavras/métodos para definir/mensurar a satisfação em ter trabalhado com uma pessoa que 
externa tranquilidade e carinho aos amigos. 
Falando em amigos, eu não poderia esquecer dos meus. Houve os do ensino básico 
e superior que estiveram distantes, mas que contribuíram com palavras de estímulo, debates 
sobre nutrição, revisão ortográfica e por, simplesmente, estarem comigo, sendo alguns destes: 
Arlete Paula, Aline Costa, Aline Mota, Denilson Gomes, Edivânia Oliveira, Patrícia Lopes, 
Adriana Ferreira, Maria Cenny dentre outros. Incluo aqui também, com muito carinho, a minha 
amiga Aparecida Paiva pela irmandade e por ter vivenciado todo esse amadurecimento comigo. 
Nesse percurso, sou grato ao prof. Dr. José Arimatéa, meu conterrâneo, pelas 
palavras de encorajamento e à profª Dra. Clarice Vergara pelas sugestões no meu trabalho. Eles 
me acompanharam na qualificação e contribuíram na efetivação desta pesquisa. Acrescento 
também todos os meus professores do ensino básico e superior, em especial, a prof. Luciana 
Leite e o prof. Jones Menezes, os quais se tornaram meus parceiros de pesquisa. 
Agradeço a todos os integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisa em Ensino de 
Ciências (GEPENCI) pelos valiosos debates e, sobretudo, aos amigos que entraram nessa 
jornada comigo: às irmãs acadêmicas Rayanne Silva e Thaís Borges e ao primo acadêmico 
Wanderson Diogo pelas companhias nesta triagem. Aos amigos Bruno Freitas, Jarbas Negreiros 
e Joaquim Lopes, tenho gratidão pela parceria e colaboração no meu amadurecimento. 
Foi uma jornada árdua e de muitas experiências, permitida por legisladores que 
fomentam sonhos. Tais sujeitos possibilitaram a criação do Programa de Pós-Graduação em 
Educação da Universidade Federal do Ceará e de órgãos de fomento como a Fundação Cearense 
de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, onde permitiram consolidar esse 
objetivo. A todos que citei, muito obrigado por acreditar e ajudar a concretizar esse sonho. 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Parafraseando Amy Farrah Fowler de The Big Bang Theory, “eu só 
queria aproveitar esse momento para dizer a todas as pessoas por aí que 
sonham em ter as Ciências como profissão, que sigam em frente! É o 
melhor trabalho do mundo”. Em tempos de anticiência e cortes 
financeiros nos setores de produção científica no Brasil, é sempre bom 
lembrar que a origem dos recursos utilizados para expor as ideias e as 
melhorias nas condições de vida das pessoas são de cunho do 
desenvolvimento científico, atrelado às tecnologias. 
 
 
O autor. 
7 
 
RESUMO 
A discussão sobre Educação Alimentar e Nutricional (EAN) é necessária nos diversos setores 
sociais, em virtude dos hábitos alimentares inadequados dos brasileiros. Na educação escolar, 
as análises prévias da Base Nacional Comum Curricular – BNCC - para o Ensino Fundamental 
mostram que a abordagem dessa temática foi destacada no 5º ano, na disciplina de Ciências, 
momento em que os conteúdos científicos são ministrados por professores pedagogos. Dessa 
forma, emerge o seguinte questionamento norteador da presente pesquisa: como os pedagogos, 
futuros professores de conteúdos de ciências para os anos iniciais, estão sendo preparados 
para trabalhar com a Educação Alimentar e Nutricional? A indagação abrange os discursos de 
documentos oficiais para os anos iniciais; a organização curricular de cursos cearenses em 
relação à promoção da EAN; as experiências formativas; e as dificuldades dos professores 
formadores de Pedagogia em trabalhar com a EAN. Assim, o objetivo geral deste trabalho 
consistiu-se em analisar a preparação para o ensino da alimentação saudável nos cursos de 
Pedagogia em instituições públicas de ensino superior do estado do Ceará, averiguando desde 
a organização da matriz curricular até o percurso preparatório dos professores formadores de 
Pedagogia, com o propósito de promover a EAN nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Os 
objetivos específicos incidiram em: i) averiguar os discursos dos Parâmetros Curriculares 
Nacionais (PCN) e da BNCC para a EAN no ensino fundamental, os quais devem orientar a 
organização de conteúdos no currículo dos cursos de Pedagogia; ii) analisar as matrizes 
curriculares desses cursos nas universidades públicas do estado do Ceará para identificação de 
abordagens explícitas sobre a EAN, articulando com postulados das Diretrizes Curriculares 
Nacionais; iii) identificar a preparação dos professores formadores de Pedagogia, as suas 
experiências exitosas formativas e as dificuldades de atuação com essa temática; e iv) investigar 
a relação formativa nos cursos de Pedagogia com os documentos oficiais da educação para a 
promoção da alimentação saudável. No que diz respeito ao percurso metodológico, analisaram-
se os documentos oficiais em busca de conteúdo do tema enfatizado para os anos iniciais – PCN 
(1997) e a BNCC (2017), em seguida, foram verificadasas matrizes curriculares dos cursos de 
Pedagogia de uma Instituição de Ensino Superior (IES) específica do Ceará que possui 7 
campis, distribuídos na capital e demais cidades cearenses, à procura de disciplinas de EAN ou 
relacionadas. Posteriormente, à identificação das disciplinas, houve a aplicação de um 
questionário com os professores formadores, sendo complementado, em alguns casos, de uma 
entrevista, explorando as suas preparações acadêmicas, experiências exitosas e dificuldades 
com o tema em destaque. Como método de interpretação dos dados, utilizou-se a Análise 
Textual Discursiva (ATD). Referente aos documentos oficiais, enquanto os PCN abordam de 
forma majoritária os aspectos nutritivos dos alimentos, a BNCC os propõe em molde integral 
no Ensino de Ciências. Com isso, as propostas curriculares das IES apresentam fragilidades, 
sendo intensificadas pela falta de disciplinas específicas da EAN, contendo apenas 
componentes curriculares que tangenciam a sua oferta, como o Ensino de Ciências e a Saúde. 
Por fim, dos sete professores investigados, a maioria não teve formação inicial e/ou continuada 
no âmbito da EAN; as experiências exitosas são de forma majoritária com assuntos sobre os 
nutrientes nos alimentos, instruídos por uma única estratégia didática ou por diversas 
metodologias de ensino; e as dificuldades, em unânime, remetem a carência de formação 
acadêmica para promoção da alimentação saudável. Constata-se a predominância de vieses 
voltados aos nutrientes nos assuntos de EAN, desde as decisões governamentais para a 
educação, resultando nas limitadas práticas docentes. Ademais, a ausência de formação sobre a 
EAN permeia a trajetória de preparação e de atuação desses pesquisados, os quais mantêm uma 
sintonia dos aspectos nutritivos, preconizados nos PCN e na BNCC. 
 
Palavras-chave: Alimentação Saudável. Educação em Saúde. Ensino de Ciências. 
8 
 
ABSTRACT 
Discussion about Food and Nutrition Education (FNE) is necessary in different social sectors, 
due to the inadequate eating habits of Brazilian people. In school education, previous studies of 
the National Common Curricular Base – BNCC - for Elementary Education have shown that 
this theme was highlighted in the 5th grade, in the discipline of Sciences, when pedagogues 
teach scientific contents. Thus, the following guiding question emerges from this research: how 
are pedagogues, future teachers of science content for the initial grades, being prepared to work 
with Food and Nutrition Education? The questioning covers the speeches of official documents 
for the initial years; the curricular organization of courses in Ceará State in relation to the 
promotion of FNE; the formative experiences and the difficulties of pedagogical teachers in 
working with FNE. Thus, the general objective of this work was to analyze the preparation for 
the teaching of healthy eating in the Pedagogy courses of public higher education institutions 
at Ceará State; investigating from the organization of the curricular matrix to the preparatory 
course of the Pedagogy teachers, with the purpose of promoting FNE in the early years of 
elementary school. The specific objectives were: i) to investigate the speeches of the National 
Curriculum Parameters (NCP) and the BNCC for FNE in elementary education, which should 
guide the organization of content in the curriculum of Pedagogy courses; ii) to analyze the 
curricular matrices of Pedagogy courses at public universities at Ceará State to identify explicit 
approaches to FNE, articulating them to the National Curriculum Guidelines postulates; iii) to 
identify the preparation of Pedagogy educating teachers, their successful training experiences 
and the difficulties in acting with the FNE theme; iv) to investigate the relationship between 
training in Pedagogy courses and official education documents for the promotion of healthy 
eating. Regarding to the methodology, the official documents were analyzed in search of the 
content of the theme emphasized for the early years - the NCP (1997) and the BNCC (2017). 
After, the curricular matrices of the Pedagogy courses of a Higher Education Institution (HEI), 
which have 7 campuses distributed in the capital and other cities in State of Ceará, looking for 
FNE or related disciplines were analyzed. Subsequently, a questionnaire was applied to the 
teacher teachers, in some cases supplemented by an interview, exploring their preparations, 
successful experiences and difficulties with the highlighted topic. As a method of data 
interpretation, Textual Discursive Analysis (DTA) was used. Regarding the official documents, 
while the NCPs deal mostly with the nutritional aspects of food, the BNCC proposes them in 
Science education in a full form. Thus, the curricular proposals of HEI presented weaknesses, 
intensified by the lack of specific subjects of the FNE and containing only curricular 
components, such as Science Education and Health. Finally, of 7 teachers consulted, most did 
not have initial and / or continuing training within the scope of the FNE. Successful experiences 
are mostly with issues about nutrients in food, instructed by a single didactic strategy or by 
different teaching methodologies. The difficulties, unanimously, referred to the lack of 
academic training to promote healthy eating. There was a predominance of nutritional bias in 
the FNE discipline, ranging from government decisions to education, resulting in limited 
teaching practices. Furthermore, the lack of training on the FNE permeated the trajectory of 
preparation and performance of these respondents, who tried to maintain a harmony of the 
nutritional aspects, recommended in the NCP and the BNCC. 
 
Keywords: Healthy Eating. Health Education. Science Teaching. 
9 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 FIGURA 
Figura 1 - Teóricos citados nos manuscritos achados.............................................. 24 
 
 QUADROS 
Quadro 1 - Quantificação total de trabalhos detectados nas plataformas de consulta. 23 
Quadro 2 - Caracterização metodológica dos manuscritos achados........................... 24 
Quadro 3 - Resultados das pesquisas identificados no EQ.......................................... 25 
Quadro 4 - Categorias dos documentos oficiais.......................................................... 76 
Quadro 5 - 
Conteúdos sobre a promoção da alimentação saudável, contidos nos 
PCN da Saúde e no bloco/eixo de Saúde em Ciências Naturais................ 
 
80 
Quadro 6 - 
Assuntos da alimentação saudável no bloco/eixo de Recursos 
Tecnológicos............................................................................................ 
 
 
88 
Quadro 7 - Abordagem do tema alimentação saudável na BNCC (2017)............................ 99 
Quadro 8 - Especificações dos cursos de Pedagogia no estado do Ceará.................... 103 
Quadro 9 - Documentos curriculares oficiais de promoção da EAN nas escolas........ 103 
Quadro 10 - Categorias dos documentos curriculares das IES...................................... 108 
Quadro 11 - Disciplinas que remetem a EAN nas matrizes curriculares cearenses....... 109 
Quadro 12 - Categorias a partir do questionário eletrônico e da entrevista................... 115 
Quadro 13 - Perfil acadêmico e profissional dos professores formadores pesquisados 117 
Quadro 14 - Documentos governamentais para nortear as aulas.................................. 126 
Quadro 15 - Conteúdos ensinados pelos professores formadores aos licenciandos...... 138 
Quadro 16 - Recursos e métodos de ensino utilizados pelos professores formadores... 148 
Quadro 17 - Desafios e limitações dos docentes para efetivar a promoção da EAN..... 164 
Quadro 18 - Motivos para a carência de preparações continuadas voltadas à EAN...... 168 
 
10 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
AC Análise de Conteúdo 
AD Análise do Discurso 
ATD Análise Textual Discursiva 
BDTDBase Digital de Teses e Dissertações 
BNCC Base Nacional Comum Curricular 
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
CNE Conselho Nacional de Educação 
CNS Conselho Nacional de Saúde 
DCN Diretrizes Curriculares Nacionais 
DNS Departamento Nacional de Saúde 
EAD Educação a Distância 
EAN Educação Alimentar e Nutricional 
EC Ensino de Ciências 
ENPEC Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências 
EQ Estado da Questão 
ES Educação em Saúde 
FACED Faculdade de Educação 
FAEC Faculdade de Educação de Crateús 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IES Instituição de Ensino Superior 
LDB Lei de Diretrizes e Bases 
MEC Ministério da Educação 
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais 
PIBID Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência 
PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional 
PNSAN Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional 
PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar 
PNE Plano Nacional de Educação 
PPC Projeto Pedagógico de Curso 
PSE Programa Saúde na Escola 
RECNEI Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil 
SAN Segurança Alimentar e Nutricional 
11 
 
SESP Serviço Especial de Saúde Pública 
SISAN Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional 
TCC Trabalho de Conclusão de Curso 
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecida 
TCT Temas Contemporâneos Transversais 
TIC Tecnologias de Informação e Comunicação 
UECE Universidade Estadual do Ceará 
UFC Universidade Federal do Ceará 
 
 
12 
 
SUMÁRIO 
 
1 DAS EXPERIÊNCIAS PESSOAIS AO SURGIMENTO DO PROJETO... 14 
2 UMA VISITA ÀS MEMÓRIAS LITERÁRIAS: REFERENCIAL 
TEÓRICO......................................................................................................... 
 
22 
2.1 Educação em Saúde: conceito, histórico e formação docente..................... 26 
2.2 Discursos referentes a Educação Alimentar e Nutricional: sobre as 
definições e o contexto histórico...................................................................... 
 
36 
2.3 A história dos cursos de Pedagogia no Brasil: entre o currículo e a 
formação docente............................................................................................. 
 
48 
3 PERCURSO METODOLÓGICO EM DESCRIÇÃO.................................. 57 
3.1 Caracterização da pesquisa............................................................................. 57 
3.2 Delimitações dos cenários e dos sujeitos da pesquisa..................................... 60 
3.3 Coleta dos dados............................................................................................... 62 
3.3.1 Pesquisa documental......................................................................................... 62 
3.3.2 Questionário eletrônico..................................................................................... 65 
3.3.3 Entrevista........................................................................................................... 67 
3.4 Análise dos dados............................................................................................. 69 
3.5 Aspectos éticos.................................................................................................. 74 
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................... 75 
4.1 A Educação Alimentar e Nutricional em documentos governamentais da 
Educação........................................................................................................... 
 
75 
4.1.1 Os Parâmetros Curriculares Nacionais e a alimentação saudável.................. 76 
4.1.2 A Base Nacional Comum Curricular e as novas políticas de promoção da 
Educação Alimentar e Nutricional................................................................... 
 
92 
4.2 A promoção da alimentação saudável em matrizes curriculares de IES 
cearenses........................................................................................................... 
 
103 
4.2.1 Análises das matrizes curriculares e das ementas............................................. 108 
4.3 A Educação Alimentar e Nutricional nos cursos de Pedagogia das IES 
cearenses........................................................................................................... 
 
114 
4.3.1 Delineando as informações acadêmicas e profissionais dos docentes............. 116 
4.3.2 Aspectos da prática docente............................................................................... 122 
4.3.2.1 Percurso formativo dos professores em Educação Alimentar e Nutricional...... 122 
13 
 
4.3.2.2 Relato das práticas pedagógicas sobre a alimentação saudável....................... 133 
4.3.2.3 Os desafios e as limitações na promoção da Educação Alimentar e 
Nutricional................................................................................................... 
 
163 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 170 
 REFERÊNCIAS............................................................................................... 177 
 ANEXO A: APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA................................. 207 
 APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E 
ESCLARECIDO (TCLE)................................................................................ 
 
211 
 APÊNDICE B: PERFIL DOS PESQUISADOS............................................ 
APÊNDICE C: QUESTIONÁRIO ................................................................. 
212 
213 
 
 
 
 
14 
 
1 DAS EXPERIÊNCIAS PESSOAIS AO SURGIMENTO DO PROJETO1 
O objeto tema desta pesquisa contempla a formação inicial de professores 
pedagogos para a promoção da Educação Alimentar e Nutricional (EAN) nos cursos de 
licenciatura em Pedagogia do estado do Ceará. Enfatiza-se então a organização da matriz 
curricular das universidades públicas quanto a temas que abrangem a temática em destaque, as 
suas ementas com enfoque nos conteúdos e as falas dos professores formadores sobre as suas 
preparações acadêmicas, os conhecimentos das leis que regem a EAN na educação básica, o 
relato das experiências metodológicas e as dificuldades para o ensino dessa temática. 
A delimitação deste estudo emergiu a partir das minhas vivências na educação 
básica, acompanhadas da formação inicial no curso de licenciatura em Ciências Biológicas, 
subsidiada pela participação em programas de complementação à formação docente e por 
atuação como professor na educação básica. Tais vivências incitaram minha curiosidade 
pessoal e de pesquisador, voltadas a determinação de como está constituído o currículo dos 
cursos de licenciatura das universidades públicas cearenses para temas de educação em saúde, 
com necessidade de abordagem na educação básica, como sexualidade e alimentação saudável. 
Em 2011, ainda cursando o ensino médio, ingressei em um projeto municipal 
voluntário da Secretaria de Saúde da cidade de Ipaporanga/CE, cujo objetivo foi de formar 
jovens a ministrar palestras nas instituições de ensino fundamental e médio. Os membros eram 
organizados em grupos para trabalhar temas de primordial importância de discussão no 
município, a saber: bullying, drogas, sexualidade, alimentação saudável, entre outros. Nesse 
processo, iniciei os estudos referentes à sexualidade e ministrei palestras ainda no ensino médio, 
ou seja, tive o primeiro contato com a docência e participava das formações às outras temáticas 
propostas pelo projeto com ênfase na saúde aplicada à educação. 
Logo em seguida, no ano de 2013, entrei no curso de licenciatura em Ciências 
Biológicas ofertado pela Faculdade de Educação de Crateús – Universidade Estadual do Ceará 
(FAEC/UECE)2. No primeiro semestre do curso, participei da disciplina Técnicas de 
Transmissão do Conhecimento Biológico (TTCB), em que, para a avaliação final, requeria dos 
discentes a escolha de um conteúdo deBiologia e, em conseguinte, a construção de uma 
metodologia para facilitar a aprendizagem. Assim, houve a construção de um jogo sobre os 
 
1 Prezado leitor, peço licença em alguns parágrafos deste capítulo para utilizar a primeira pessoa do singular, com 
o intuito de contar a minha trajetória de vida, relacionando-a com a proposta investigativa. 
2 A FAEC, situada na cidade de Crateús com cerca de 360 km de Fortaleza, foi criada em 1983, possuindo apenas 
o curso de Pedagogia. Atualmente, a Faculdade conta com os cursos de licenciatura em Ciências Biológicas (2002), 
Química (2002), Geografia (EAD) (2016) e História (2018); e um curso de especialização à distância em 
Tecnologias Digitais para a Educação Básica (2016). 
15 
 
nutrientes, especificamente as vitaminas, adaptando o anime de cartas Yu-Gi-Oh ao jogo. Esse 
foi o primeiro contato na construção de material pedagógico à EAN, promovendo a minha 
inserção em uma escola do ensino médio para teste do jogo e, em seguida, o convite da 
instituição para apresentar o referido em sua feira científica. Nesse percurso, ocorreu as 
primeiras observações dos saberes sociais relacionados à alimentação saudável. 
Ainda no mesmo ano, 2013, fui selecionado ao Programa Institucional de Bolsas 
de Iniciação à Docência (PIBID)3, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal 
de Nível Superior (CAPES), em que durante, aproximadamente, três anos atuei em diversas 
práticas metodológicas de ensino, entre elas: o de sexualidade, com a realização de palestras e 
esclarecimento de dúvidas com os alunos; como também alimentação e nutrição, enfocando a 
realização de aulas práticas referente a detecção e função dos nutrientes nos alimentos, além de 
jogos para internalização dos conhecimentos. 
Essas participações instigaram a busca por esclarecimentos de como esses temas 
têm sido abordados nas universidades, visto que foi no PIBID que me aprofundei nessas 
temáticas. O relato das atividades realizadas no curso de Ciências Biológicas, da mesma 
maneira que de outros cursos de licenciatura da cidade de Crateús, estão no manuscrito 
intitulado relato de experiências exitosas em subprojetos do PIBID desenvolvidos em Crateús-
CE, produzido por Moura, Paiva e Sudério (2017), divulgado na revista Educere et Educare. 
Em 2016, participei de um projeto de Extensão intitulado “inserção das tecnologias 
na educação básica: contribuindo para o aprimoramento da formação docente”, no qual 
objetivava diagnosticar o uso das tecnologias digitais por docentes do ensino fundamental da 
cidade de Crateús/CE e construir um guia com ferramentas tecnológicas para os professores 
agregarem em suas práticas de ensino. Após um ano de atuação no projeto, em 2017, desenvolvi 
a monografia investigando o domínio, a formação, as experiências exitosas e as dificuldades 
com o uso das tecnologias por docentes do ensino superior de todos os cursos de licenciatura 
ofertados pelas universidades públicas dessa cidade. As reflexões das práticas exercidas no 
projeto de extensão e no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foram publicadas em 
periódicos científicos, com o intento de contribuição na divulgação das experiências formativas 
de docentes da educação básica e superior quanto ao uso das TIC’s nas práticas de ensino. 
Após constatar a resistência de alguns docentes no uso das tecnologias digitais em 
suas práticas pedagógicas, os questionamentos quanto à abordagem efetiva de temas urgentes 
 
3O PIBID possibilita o ingresso de alunos da licenciatura em escolas da educação básica, com o intuito do 
amadurecimento da prática docente, vivenciando diversas ações voltadas à docência, como observações, regências, 
planejamento das aulas, elaboração e aplicação de práticas metodológicas, entre outras atividades. 
16 
 
para discussão, como a sexualidade e a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) no curso de 
Ciências Biológicas, se intensificou, uma vez que se questionava a formação, as experiências 
metodológicas e as dificuldades dos docentes que ministravam disciplinas relacionadas às 
referidas temáticas. Estas indagações foram intensificadas pela minha experiência como 
acadêmico e pesquisador, visto que adquiri aprofundamento de conhecimento dos conteúdos 
científicos e pedagógicos atuando nos programas de complementação à formação docente, e 
obtendo poucas contribuições nas disciplinas da matriz curricular na graduação. 
No mesmo ano de defesa da monografia, 2017, ministrei aulas de Ciências do 6º ao 
9º ano em uma escola pública de Ensino Fundamental da cidade de Ipaporanga/CE. Ao analisar 
os conteúdos do 8º ano4, constatei que iniciaríamos os estudos sobre sexualidade. A abordagem 
dessa temática foi facilitada pelo meu percurso de experiências formativas, no qual firmei 
parcerias com membros da Secretaria de Saúde do município, obtendo assim materiais para 
suporte metodológico para ensino da temática e para palestras. 
Ao participar dos encontros bimestrais da área de Ciências da Natureza e 
Matemática para determinação do próximo conteúdo bimestral e relatar as práticas de ensino 
utilizadas com o conteúdo anterior, ou seja, sexualidade, observei que os recursos 
metodológicos usados pelos docentes se limitaram em leituras paragrafadas, banners 
anatômicos dos órgãos sexuais masculinos e femininos e caixa de perguntas. Por intermédio da 
observação dessas limitações metodológicas, o questionamento acerca da formação dos 
professores para trabalhar com temas ligados à educação sexual teve fortalecimento. 
O conteúdo indicado para o bimestre seguinte consistia na EAN, enfatizando a 
importância de uma alimentação saudável, a função dos nutrientes e as ações do sistema 
digestório. A temática em destaque foi ministrada com a realização de explorações no livro 
didático, aulas práticas, jogos e vídeos. Durante o desenvolvimento das aulas, instiguei aos 
alunos a mudarem os hábitos alimentares, os quais para a maioria incidia em alimentos com 
alto teor de açúcares, sais e industrializados. 
No ano seguinte, em 2018, fui selecionado novamente a ministrar a disciplina de 
Ciências em duas escolas públicas de Ipaporanga/CE. Ao averiguar os conteúdos para o novo 
bimestre, constatei que no 8º ano o conteúdo EAN estava em evidência. Com a abordagem 
diferenciada do ano anterior, iniciei o conteúdo nas escolas realizando diagnóstico com os 
alunos, em que foi identificado equívocos de conceitos relacionados aos nutrientes e à 
alimentação saudável. Após a realização do diagnóstico, decidi elaborar diversas metodologias 
 
4Neste período, as escolas do município atendiam as divisões temáticas realizadas pelos Parâmetros Curriculares 
Nacionais (PCN) em anos. Assim, os conteúdos voltados ao 8º ano corresponderam aos do Corpo Humano e Saúde. 
17 
 
de ensino, em prol de apresentar os conteúdos propostos em múltiplos contextos na tentativa de 
os discentes avaliarem a sua alimentação e mudarem as concepções equivocadas voltadas aos 
nutrientes e aos hábitos alimentares inadequados. 
Os resultados do diagnóstico e as diversas atividades realizadas estão no artigo 
comer para ficar forte e crescer: a Educação Alimentar e Nutricional em sequência didática 
(MOURA et al., 2020), publicado no periódico Ciência e Desenvolvimento. Assim como a 
sexualidade, a abordagem da EAN no ensino fundamental também chamou a minha atenção 
em virtude de ser estudada nos anos anteriores do ensino fundamental e, mesmo assim, os 
alunos continuarem com resistência para adequação a uma alimentação saudável e a concepções 
incertas sobre os nutrientes. 
No mesmo período de atuação na educação básica, em 2018, a Universidade Federal 
do Ceará (UFC) abriu seleção para o Mestrado Acadêmico em Educação Brasileira e a dúvida 
ao tema para proposta do projeto perdurou em minha mente, pois se tratava de duas propostas 
com necessidade de discussão no meio acadêmico, e as minhas experiências demonstravam 
interessenas áreas. Dessa forma, devido a inquietude da formação dos professores voltadas a 
temática sexualidade incitada pelos relatos de docentes da Secretaria Municipal de Educação 
em Ipaporanga/CE, optei pela proposta desta pesquisa no currículo das instituições de ensino 
básico, bem como na formação dos professores. 
Após a aprovação e ao cursar a disciplina Estágio de Docência na pós-graduação, a 
qual os alunos são direcionados a uma disciplina da graduação para observação da prática 
docente, escolhi a disciplina de Ensino de Ciências ofertada pelo curso de Pedagogia na 
Faculdade de Educação (FACED/UFC). Ao longo da trajetória de realização do estágio, a 
professora supervisora solicitou a apresentação do meu objeto de estudo, sexualidade, aos 
alunos, realizando uma comparação da temática entre os Parâmetros Curriculares Nacionais 
(PCN) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Os resultados desta análise estão no 
manuscrito O conservadorismo e a formação cidadã: a abordagem da Sexualidade no Ensino 
Fundamental diante o discurso em documentos oficiais (MOURA; LEITE, 2019), compondo o 
dossiê Gênero e diversidade sexual na escola da revista Educação, Ciência e Cultura. 
No percurso de estudos para a aula, deparei-me com a explicitação de conteúdos 
referente a EAN na disciplina de Ciências apenas nos anos iniciais, especificamente no 5º ano 
do ensino fundamental, fato que denota urgência de discussão em pesquisas científicas, 
investigando diversas problemáticas, entre elas, a consolidação da formação inicial de docentes 
pedagogos para ministração da EAN nos anos iniciais do ensino fundamental. Portanto, busca-
se o atendimento não apenas as novas diretrizes curriculares à educação, mas outras propostas 
18 
 
governamentais de promoção da alimentação saudável, uma vez que diante as análises 
preliminares das novas propostas governamentais, a promoção desse ensino, juntamente a 
explicitação dos conteúdos a serem abordados, é observada na disciplina de Ciências apenas 
nos anos iniciais. 
Como citado anteriormente e apontado nas Diretrizes Curriculares Nacionais 
(DCN) para a graduação em Pedagogia (BRASIL, 2006a), compete ao curso citado à formação 
a fim de atuar desde a educação infantil até o 5º ano ensino fundamental em todas as disciplinas 
curriculares obrigatórias. Essa realidade, que gera debates para organização curricular no intuito 
de atender a demandas de disciplinas no curso, intensifica a problemática de estudos sobre a 
situação da proposta de formação dos licenciandos à fundamentação com temáticas científicas, 
notadamente a de destaque no presente estudo, a EAN, que se apresenta como tema de urgência 
para debates nos dias atuais, com o intento de consolidar formação necessária aos alunos da 
educação básica acerca dos hábitos alimentares saudáveis. 
Ao caracterizar as instituições de ensino básico como primordiais, na perspectiva 
de formação social dos alunos (BRASIL, 1996), observa-se a importância destas para 
discussões a respeito da temática alimentação saudável, com o propósito de alterar índices 
extremos do perfil nutricional e hábitos inadequados alimentares da população brasileira. Os 
fatores enfatizados têm acarretado doenças aos organismos, problemáticas essas identificadas 
em análises diagnósticas promovidas pelo Ministério da Saúde. 
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde durante treze anos 
(2006-2018) nas capitais brasileiras (BRASIL, 2019a), os hábitos alimentares dos brasileiros 
têm tornado a maioria da população acima do peso (55,7%), havendo aumento também na 
quantidade de obesos (19,8%). Em consequência, os dados demonstram também o aumento de 
doenças crônicas não transmissíveis, tais como o diabetes e a hipertensão, mesmo com o 
crescimento do consumo de frutas e hortaliças, a realização de atividades físicas e a diminuição 
do consumo de refrigerantes e suco artificial. Ainda referente aos dados da pesquisa, os relatos 
apontam que o Brasil tem passado da desnutrição para a obesidade, o que demonstra a falta de 
equilíbrio entre os dois status. Ao observar os indicadores populacionais, constata-se também 
o excesso de peso crescendo com a maior idade e com menor escolaridade. 
Nesse contexto, as escolas contribuem à formação de sujeitos conhecedores das 
ações dos nutrientes no corpo humano e na aplicação desses conhecimentos em seus hábitos 
alimentares, instigando uma alimentação saudável. Assim, corrobora-se a importância das 
instituições de ensino, sobretudo as de educação básica, a fim de trabalharem a temática 
Educação Alimentar e Nutricional (EAN), contribuindo à minimização de casos extremos de 
19 
 
desnutrição e obesidade (BOOG, 2008). Segundo a autora, é de caráter significativo o trabalho 
desses conteúdos no início da vida escolar das crianças, propiciando desde cedo saberes aos 
alunos sobre os nutrientes, suas funções, os seus efeitos na falta e em excesso, tal como possam 
associar o consumo destes com a sua alimentação, baseada em fatores culturais, sociais, 
econômicos, entre outros. 
É interessante destacar que os termos alimentação e nutrição apresentam 
significados diferentes. Segundo Brasil (2007a), a alimentação é um processo voluntário e 
consciente, uma vez que escolhemos os alimentos a serem consumidos e como prepará-los para 
o consumo, enquanto a nutrição é uma reação involuntária do corpo humano, ou seja, a absorção 
dos nutrientes não ocorre de forma controlada pelo organismo, apenas acontece a digestão dos 
alimentos sem dominar a aquisição de excessos. 
Apesar da distinção entre os dois termos, a expressão Educação Alimentar e 
Nutricional surgiu dos pressupostos de que em estudos educativos é inviável a separação entre 
cultura alimentar e a ciência da nutrição, sendo esse termo um compartilhamento de mudanças 
para as novas definições de comer. Assim, nesse trajeto possam obter novas condições de 
alimentação saudável, por intermédio da elaboração de novos conhecimentos e reflexões com 
relação as práticas alimentares, sem se limitar aos sabores da vida (BOOG, 2013). 
Seguindo os pressupostos anteriores, em um contexto histórico, a temática EAN 
tem sido abordada apenas no viés científico das funções morfofisiológicas dos órgãos que 
integram o sistema digestório e o valor nutritivo dos alimentos, como mencionado por Motta e 
Teixeira (2012). Entretanto, segundo os autores, torna-se preciso a caracterização dessa 
temática em aspecto multidisciplinar, denotando assim que a abordagem no Ensino de Ciências 
(EC) seja ampliada aos aspectos cultural, ambiental, econômico, político e outros. Isso 
potencializa a formação crítica dos alunos e promove uma educação científica subsidiada sob 
amplas áreas do conhecimento, efetivando assim uma preparação sociocientífica. 
A amplitude de discussão dessas temáticas efetiva o EC, uma vez que os saberes 
científicos subsidiados pelas tecnologias vêm sofrendo alterações ao longo do tempo, no qual 
apontam a necessidade de circundar esses saberes nas diversas áreas do conhecimento para 
concretizar mudanças sociais (POZO; CRESPO, 2009). Assim, o EC realizado para consolidar 
uma cultura científica contribui na valorização e concretização da formação cidadã discente, 
contornando e explorando as mais variadas áreas de conhecimento (CACHAPUZ, 2012). 
Diante dos relatos expostos, emergiu-se o seguinte questionamento 
problematizador: como os pedagogos, futuros professores de conteúdos de ciências para os 
anos iniciais, estão sendo preparados para trabalhar com a Educação Alimentar e 
20 
 
Nutricional? Este questionamento geral é circundado por outras indagações específicas, tais 
como: o que os documentos oficiais da educação dizem sobre a promoção da EAN nos anos 
iniciais do ensino fundamental e na formação de professores de Pedagogia? Como está 
organizada a matriz curricular dos cursos de Pedagogia do estado Ceará acerca da EAN? 
Qual a trajetóriaformativa (preparação acadêmica, experiências exitosas e dificuldades) dos 
professores formadores de Pedagogia no intuito ao ensino da alimentação saudável? E em 
quais pontos a preparação promovida da EAN relacionam-se ao discurso dos documentos 
oficiais? Tais dúvidas são incitadas também pelas experiências relatadas anteriormente quanto 
a abordagem da EAN durante a atuação docente, visto que os alunos tiveram contato com o 
presente tema nos anos iniciais e apresentaram resistências nos saberes relacionados a temática. 
Dessa forma, torna-se importante a realização de pesquisas que circundam e 
impliquem em concretizar a preparação cidadã dos alunos da educação básica, em especial, no 
que rege a formação de professores pedagogos para atuação na etapa inicial do ensino 
fundamental. A preparação docente se torna um dos pontos fundamentais de relato, posto o 
desenvolvimento de conceitos e concepções da alimentação em múltiplos aspectos da formação 
e vivência cidadã. Nesse ensejo, essa preparação é consolidada com os saberes científicos e 
pedagógicos dos professores formadores, da mesma maneira com as suas experiências 
formativas agregadas com as vivências dos licenciandos. 
Nesse contexto, o objetivo geral deste trabalho é analisar a preparação para o ensino 
da alimentação saudável nos cursos de Pedagogia em instituições públicas de ensino superior 
do estado do Ceará, averiguando desde a organização da matriz curricular até o percurso 
formativo dos professores formadores de Pedagogia, com o propósito de promover a EAN nos 
anos iniciais do ensino fundamental. 
Os objetivos específicos incidiram em: 
✓ Averiguar os discursos dos PCN e da BNCC para a EAN no ensino fundamental, os 
quais devem orientar a organização de conteúdos no currículo dos cursos de Pedagogia; 
✓ Analisar as matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia de universidades públicas do 
estado do Ceará para identificação de abordagens explícitas sobre EAN, articulando 
com postulados das DCN; 
✓ Identificar a preparação dos professores formadores de Pedagogia, as suas experiências 
exitosas formativas e as dificuldades de atuação com a temática EAN; 
✓ Investigar a relação da formação nos cursos de Pedagogia com os documentos oficiais 
da educação para a promoção da alimentação saudável. 
21 
 
Nessa perspectiva, com esta pesquisa, intentemos contribuir para a discussão acerca 
da importância na abordagem da EAN por profissionais que atuam no ensino à preparação 
acadêmica inicial dos docentes de Pedagogia e colaborar no desenvolvimento de uma prática 
pedagógica reflexiva. Buscamos o fornecimento de um suporte na perspectiva que sejam feitos 
contínuos questionamentos referentes às práticas efetivas e funcionais de ensino e 
aprendizagem, utilizadas por esses profissionais acerca das Ciências da Natureza e da educação 
em saúde, tentando analisar a realidade em que atuam e as suas ações docente, haja vista 
refletirem as suas práticas pedagógicas. 
Na tentativa de melhor estruturar a presente pesquisa, dividimos este trabalho em 
seções, que correspondem a corroboração e a compreensão de relevância da investigação, 
perpassando por aprofundamento teórico de embasamento do leitor, bem como a explicação da 
metodologia, resultados, discussão e conclusão. Tais pontuações refletem nos enunciados da 
introdução, em que discorremos as problemáticas e justificativas iniciais, relacionando com a 
trajetória de vida do pesquisador e aos objetivos desta averiguação científica. 
A seção posterior à introdução (capítulo dois) consiste no referencial teórico. Este 
é iniciado com algumas pontuações identificadas no Estado da Questão, elaborado para 
norteamento da presente pesquisa. Continuando com o tópico, o referencial teórico foi 
estruturado em subtópicos, com o intento de embasar a pesquisa com múltiplos conceitos, 
relatos históricos e formação profissional docente nos assuntos de Educação em Saúde, 
Educação Alimentar e Nutricional e Formação de Professores Pedagogos. 
O terceiro capítulo aborda a metodologia utilizada para responder aos objetivos. 
Relata-se a caracterização da pesquisa, os instrumentos utilizados à averiguação, assim como 
os métodos de interpretação dos dados e os aspectos éticos da pesquisa. Tais explicitações 
contribuem para o entendimento do percurso de procedimentos realizados na presente 
investigação, além de incitar a melhor compreensão dos resultados obtidos. 
Na quarta seção apresentaram-se os resultados, juntamente a discussão dos achados, 
como uma forma de detectar as respostas das indagações. Esses tópicos serão divididos em 
subtópicos, os quais dividiremos nas seguintes propostas: 1 – a abordagem da alimentação 
saudável em documentos governamentais da educação – básica e formação de professores 
pedagogos; 2 – busca da EAN em documentos das IES (Projeto Pedagógico de Curso, Matrizes 
Curriculares das disciplinas e Ementas); e 3 – relato dos questionários feitos aos professores. 
Por fim (capítulo cinco), encontra-se a conclusão da pesquisa, respondendo aos objetivos 
propostos na presente investigação. Continuando com a estrutura pautada, inicia-se a seguir, na 
seção 2, os apontamentos do Referencial Teórico. 
22 
 
2 UMA VISITA ÀS MEMÓRIAS LITERÁRIAS: REFERENCIAL TEÓRICO 
Esta seção contém alguns conceitos e marcos históricos na perspectiva de embasar 
o leitor nos múltiplos aspectos de abordagem da proposta investigativa. Relata-se sobre a 
Educação em Saúde, uma vez que a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) se encontra 
dentro das políticas públicas voltadas para a saúde, sendo propagadas pela educação. Em 
seguida, aborda-se os escritos sobre a EAN e formação de professores pedagogos. 
Antes da construção do referencial teórico, houve a elaboração de uma pesquisa 
bibliográfica do tipo Estado da Questão (EQ) para embasamento inicial na presente pesquisa. 
Com o título “A educação alimentar e nutricional em questão: desdobramentos na formação 
inicial de professores pedagogos”, tal produção foi publicada em periódico científico pelos 
pesquisadores Moura e Leite (2020). Considerando a relevância do EQ para construir essa 
dissertação, abordaram-se alguns resultados teóricos-metodológico identificados. 
O EQ objetiva “levar o pesquisador a registrar, a partir de um rigoroso levantamento 
bibliográfico, como se encontra o tema ou o objeto de sua investigação no estado atual da 
ciência ao seu alcance” (NÓBREGA-THERRIEN; THERRIEN, 2004, p. 7), ao mesmo passo 
que tem a intenção na pesquisa científica em “delimitar e caracterizar o objeto ‘específico’ de 
investigação de interesse do pesquisador e a consequente identificação e definição das 
categorias centrais da abordagem teórico-metodológica” (NÓBREGA-THERRIEN; 
THERRIEN, 2004, p. 38). Isso auxilia na delimitação das pesquisas. 
As buscas se deram para responder o seguinte questionamento: quais as concepções 
e os conhecimentos científicos e pedagógicos dos licenciandos/licenciados/professores 
formadores, bem como a organização da matriz curricular dos cursos de licenciatura em 
Pedagogia quanto a temática Educação Alimentar e Nutricional para os anos iniciais do ensino 
fundamental? A indagação circunda a formação acadêmica, experiências exitosas e 
dificuldades nos cursos presenciais de Pedagogia para a EAN. 
A delimitação dos trabalhos ocorreu com recorte temporal entre 1996 a 2019, 
considerando o primeiro ano citado como de divulgação da Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação, as quais deram subsídios para políticas públicas educacionais posteriores até as mais 
atuais, o período final mencionado. As plataformas virtuais que tiveram identificação de 
publicações, incidiram na Biblioteca Brasileira Digital de Teses e Dissertações – BDTD, em 
busca de produções stricto sensu no Brasil; no Portal de Periódicos da CAPES (por conter 
diversos artigos de periódicos nacionais e internacionais) e no Encontro Nacional de Pesquisaem Educação em Ciências – ENPEC, à procura de pesquisas voltadas às Ciências nos cursos de 
Pedagogia e nos anos iniciais do ensino fundamental. 
23 
 
Realizado o levantamento bibliográfico nas plataformas selecionadas, obtiveram-
se os trabalhos que responderam ao questionamento do EQ, bem como contribuem para a 
produção da presente pesquisa. O quadro 1 mostra a quantidade de trabalhos identificados após 
a efetivação das buscas, podendo analisar as propostas teóricas-metodológica, assim como 
sugerido por Nóbrega-Therrien e Therrien (2004). Ressalta-se que nesse tópico apresentam-se 
os principais resultados, sendo que maiores esclarecimentos e discussão mais aprofundada no 
trabalho constam na publicação de Moura e Leite (2020). 
 
Quadro 1 – Quantificação total de trabalhos detectados nas plataformas de consulta. 
Plataforma Virtual Manuscritos Encontrados Manuscritos Selecionados 
BDTD 1.108 
5 dissertações 
1 tese 
Periódicos CAPES 2.081 1 artigo 
ENPEC 5.625 1 artigo 
Total 8.814 8 produções 
Fonte: Moura e Leite (2020). 
 
Verificam-se poucas produções com similaridades a presente pesquisa, o que 
instiga a realização desta investigação e efetiva o seu ineditismo. Tal ineditismo é verificado 
também pela regionalidade das produções, sendo realizadas no Sudeste (4), Sul (3) e Centro-
Oeste (1) do Brasil, faltando discussões das regiões Norte e Nordeste. Simultaneamente, 
observam-se que as investigações ocorrem a partir do ano de 2008, mostrando o início destas 
pesquisas a partir dos últimos dez anos. 
Sobre as áreas do conhecimento, identificou-se a proeminência em trabalhos ligado 
as Ciências, tendo maior realização em educação; Ensino de Ciências e saúde; psicologia da 
educação; educação científica e tecnológica; ciências da saúde; educação em ciências (química 
da vida e saúde); e nutrição, o que denota a realização dos trabalhos em diversos programas, 
possuindo esses relação, como educação, saúde, ciências, tecnologia, nutrição e psicologia. 
Posterior análise regional, temporal e por área dos manuscritos, identificaram-se as 
proposições metodológicas adotados para realização dos trabalhos. O quadro 2 apresenta a 
caracterização metodológica dos escritos selecionados. O percurso metodológico contribui para 
responder aos objetivos dos achados, que em suma, correspondem: identificar as concepções, 
além dos saberes científicos e pedagógicos, de docentes dos anos iniciais para explanar a 
alimentação saudável (3); analisar a opinião de sujeitos do ensino superior (licenciandos, 
professores formadores e coordenadores de curso) referente a temáticas da EAN ou temas que 
a abrange, como a saúde (3); e averiguar o currículo das IES em Pedagogia com menção a temas 
das áreas de ciências da natureza e/ou saúde (2). 
24 
 
Quadro 2 – Caracterização metodológica dos manuscritos achados. 
Abordagem 
Qualitativa (6) Quantitativa (2) 
Coleta de dados 
Entrevista (4) Questionário (3) 
Análise Documental 
(3) 
Grupo focal (1) 
Análise dos dados 
Conteúdo (4) Discurso (2) Estatística (2) 
Cenário das Pesquisas 
Instituições de Ensino Superior (5) Escolas da Educação Básica (3) 
Sujeitos das pesquisas 
Licenciandos Licenciados 
Professores 
formadores 
Coordenadores de 
curso 
Fonte: Moura e Leite (2020). 
 
As premissas demonstram a trajetória metodológica utilizada ao longo dos achados, 
destacando as mais aplicadas nas pesquisas científicas, ao mesmo passo que expõe práticas 
metodológicas não utilizadas, representando ineditismo em metodologias posteriores, inclusive 
para no presente trabalho. Outro auxílio é feito no contexto teórico, sendo analisado os 
principais autores utilizados nas distintas obras escolhidas, como é possível verificar na figura 
1. Estes contribuíram de forma significativa na dissertação, pois foram base durante a escrita. 
 
Figura 1 – Teóricos citados nos manuscritos achados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Moura e Leite (2020). 
25 
 
Diante das colocações, verificam-se que os manuscritos selecionados contribuem 
na delimitação científica e adequação da proposta aos processos necessários à sua efetivação. 
Nesse sentido, corrobora-se a relevância do EQ para investigar a concepção de uma alimentação 
saudável em diversas vertentes que a circunda e a partir de diversos autores que regem o 
currículo, a formação de professores em geral e de Pedagogia, a educação em saúde e a 
educação alimentar e nutricional. 
 Em complemento, as proposituras das IES devem se adequar às orientações 
governamentais, as quais regulamentam o ensino sobre a temática em questão. Isso possibilita 
a ampliação de debates quanto a EAN nos cursos superiores de Pedagogia, proposta nesta 
produção. No quadro 3 há um resumo dos principais resultados identificados nos trabalhos, em 
que discorrem os achados das produções encontradas. 
 
Quadro 3 – Resultados das pesquisas identificados no EQ. 
Autores Principais resultados 
Esteves e 
Gonçalves 
(2013) 
Analisaram as matrizes curriculares de IES públicas e privadas do estado de São 
Paulo sobre a promoção dos conteúdos de Ciências da Natureza, área vinculada 
a EAN. Estes identificaram que de 678 disciplinas, apenas sete abordavam os 
saberes específicos de Ciências da Natureza. 
Hansen 
(2016) 
Averiguou os temas de Educação em Saúde no currículo de uma IES em 
Pedagogia, detectando abordagem superficial da EAN no Ensino de Ciências, e 
sem disciplinas específicas. Em entrevista com o coordenador do curso, ele 
relata que houve diminuição na matriz curricular em saberes específicos e 
aumento em formação pedagógica. 
Haboba 
(2017) 
Verificou a presença da temática saúde nos currículos de Pedagogias em IES de 
São Paulo, detectando a abordagem da EAN em algumas disciplinas, com 
títulos similares, a saber, Nutrição. Para licenciandos e professores formadores, 
há a necessidade de se intensificar os relatos no curso de Pedagogia. 
Scarparo 
(2017) 
Questionou a opinião de licenciandos em Pedagogia sobre a EAN. Os 
questionados consideram: a escola com potencial para a formação discente; as 
ações dos professores influem na decisão alimentar dos alunos; e discordam da 
temática ser abordada de forma exclusiva por nutricionistas em aula. 
Fernandez 
e Silva 
(2008) 
Realizaram indagações de saberes específicos dos nutrientes e as suas fontes de 
atualização dos seus saberes. As autoras detectaram dificuldades na definição 
de alguns nutrientes pelos docentes e a falta de atualização em fontes científicas. 
Castro 
(2009) 
Investigou os saberes científicos e as práticas pedagógicos de professores sobre 
EAN, identificando saberes equivocados, bem como os estudos realizados 
(formas de atualização) em fontes não confiáveis e sem cunho científico. 
Machado 
(2009) 
Pesquisou com uma professora dos anos iniciais sobre suas crenças alimentares. 
A entrevistada teve dificuldades em proferir um discurso crítico sobre EAN, 
desconhecendo práticas educativas quando aluna do ensino básico e superior. 
Winsch 
(2009) 
Analisou com licenciandos, e ao mesmo tempo professoras atuantes nos anos 
iniciais, as suas observações quanto crianças que são/estão gordas. Ela 
identificou exclusão destes sujeitos por serem associados com características 
negativas, como preguiçosos. 
Fonte: Moura e Leite (2020). 
26 
 
Com os relatos, foi possível identificar uma carência de abordagem da EAN no 
currículo, na formação e nas práticas pedagógicas dos professores formadores em IES, o que 
intensifica a necessidade de ampliação dos diálogos dessa temática em todos os seus aspectos. 
Assim, demarcadas as aplicações teóricas-metodológica e os principais resultados de outras 
pesquisas, seguiu-se com o referencial teórico da presente dissertação. 
Ao longo deste escrito, o EQ, bem como as pesquisas identificadas serão utilizados 
para subsidiar informações referentes a temática e a tomadade decisões metodológicas. 
Contudo, a análise mais detalhada e aprofundada do EQ poderá ser vista na publicação em 
periódico5. Seguindo a proposta de investigação, inicia-se o debate que compõe o referencial 
teórico relatando no próximo subtópico sobre a temática Educação em Saúde. 
 
2.1 Educação em Saúde: conceito, histórico e formação docente 
Apesar da Educação em Saúde (ES) integrar um único termo, essa integração incide 
em áreas diferentes do conhecimento: educação e saúde, que realizam parcerias no intento de 
modificar realidades insatisfatórias voltadas à saúde do corpo humano, frutos de 
comportamentos circundados por ações histórica, social, cultural, política, econômica e 
ambiental, interferindo em hábitos saudáveis dos alunos da educação básica e impossibilitando 
a consolidação de uma qualidade de vida na sociedade. Corroborando com as afirmações 
anteriores, Schall e Struchiner (1999, p. 4) destacam que a ES agrega múltiplas concepções, 
“[...] as quais espelham diferentes compreensões do mundo, demarcadas por distintas posições 
político-filosóficas sobre o homem e a sociedade”. 
Tal definição é explicada por Venturi e Mohr (2011) quanto à ES resultante da 
junção de duas grandes áreas do conhecimento, como já mencionado anteriormente, e que em 
muitos casos é instruída nas escolas com conteúdo, objetivos e metodologias distintos do 
esperado em virtude da incompreensão desse termo nos espaços de formação profissional e 
âmbitos escolares, na qual, as atividades realizadas não correspondem a essa junção. Nesse 
sentido, essas atividades são executadas com conceitos, objetivos e práticas cercadas por várias 
problemáticas e dificuldades na abordagem efetiva da ES por seus propagadores. 
Indo ao encontro dos trabalhos da ES nas escolas, segundo o legado construído e 
disseminado por Virgínia Schall6, esse tema deve superar a aplicação de mera conceituação da 
 
5 Disponível em <https://rsd.unifei.edu.br/index.php/rsd/article/view/2141>. Acesso em: 10 de fevereiro de 2020. 
6 Nas descrições de Pimenta, Struchiner e Monteiro (2017), Virgínia Torres Schall de Matos Pinto (1954-2015) 
foi pesquisadora pioneira na articulação dos campos da Saúde, Educação e Divulgação Científica. Fomentadora 
de ideias e parcerias inter e intra institucionais, cooperou de forma efetiva para divulgação científica do país. 
Auxiliou na consolidação de políticas públicas nas áreas da saúde, educação e divulgação científica. Forneceu 
consultoria em diversos órgãos nacionais e internacionais, entre outras atividades vinculadas à saúde. 
https://rsd.unifei.edu.br/index.php/rsd/article/view/2141
27 
 
saúde associada à ausência de doenças no organismo, além de modificar o comportamento 
humano em centrá-lo no binômio saúde-doença, desconsiderando uma multidisciplinaridade 
aplicada em pesquisas e práticas de ensino, o que poderia transcender o tema saúde do viés 
biológico. O comportamento limitado descrito tem resultado no aprendizado e na utilização dos 
diversos métodos preventivos de forma mecanizada e descontextualizada, prejudicando na 
compreensão efetiva do uso de determinadas medidas preventivas. Tais atitudes têm sido 
disseminadas em diversas produções acadêmicas e em formação de profissionais nessa temática 
(PIMENTA; STRUCHINER; MONTEIRO, 2017). 
De acordo com a concepção de Venturi (2013), as instituições de ensino básico 
devem fomentar a ES de forma reflexiva e com aportes metodológicos que façam os discentes 
ponderarem acerca de seus comportamentos cotidianos. Complementarmente, Schall e Massara 
(2007) acreditam que a ES necessita ser ensinada transcendendo aspectos biológicos, 
enfatizando contextos reais voltados à cultura e à história da sociedade em prol de mudanças 
nas ações dos sujeitos sociais. 
Na perspectiva de Mohr (2002), a ES é conceituada como uma composição do 
currículo escolar, com o intento de abordagem pedagógica, relacionando o processo de ensino 
e aprendizagem de alguma temática da saúde em aspecto individual ou coletivo. Não obstante, 
a autora utiliza esse conceito para distinguir os termos Educação em Saúde de Saúde Escolar e 
Saúde do Escolar, considerando o primeiro com caráter educacional e os dois últimos incidem 
em práticas médicas direcionada a uma população com determinada idade escolar. 
Ainda sobre a determinação do termo ES como adequado para o campo do exercício 
pedagógico, Mohr (2002) define outros termos utilizados no meio científico e acadêmico, como 
Educação para a Saúde e a Educação Sanitária, conceituando o primeiro como um campo que 
lança metas, devendo ser alcançadas pelos alvos da ação, enquanto o segundo (Educação 
Sanitária) incide na propagação em hábitos de higiene, além de já ter sido utilizado com 
predominância em algum período histórico, como será visto com maiores detalhes mais adiante. 
Assim, destacam-se que os conceitos e abordagens relatados da ES são resultantes de um 
percurso histórico da sua inclusão na sociedade. 
Historicamente, a inserção de temáticas da saúde na educação surgiu no Brasil 
desde a sua colonização pelos portugueses, com a adição dos assuntos da saúde nos planos 
educacionais dos Jesuítas para reverter os altos índices de moléstias que se espalhavam no 
território brasileiro (JUCÁ, 2008). Estas práticas dos Jesuítas perduraram por aproximadamente 
duzentos anos e agregaram ações relacionadas ao ambiente local com os hábitos adequados de 
higiene, no intuito de agregar o binômio ambiente-saúde e para minimização das moléstias na 
28 
 
população, juntamente as ações e as crenças promovidas pela religião jesuíta (CALAINHO, 
2005; JUCÁ; 2008). 
Cabe ressaltar também que as atividades realizadas de saúde nessa época possuíam 
proeminência biológica, com a produção de chás e outras atividades, bem como pautadas em 
ações de higiene como lavagem de roupas e do ambiente (ANTUNES; SHIGUENO; 
MENEGHIN, 1999), apontando os primeiros exercícios da saúde já contornados por ações 
biológicas e de higiene, acumulando conhecimento histórico, no qual foi passado e repetido 
neste viés por gerações. Segundo os autores, os profissionais da saúde até o século XIX 
objetivaram apenas curar os feridos e amenizar o número de mortes da população carente, visto 
que a população abastada era tratada em casa com médicos particulares. Outra observação 
incidiu no desenvolvimento dos hospitais que passaram por mudanças devido o 
aperfeiçoamento da ciência médica. 
Contudo, no início do século XIX, Período Imperial no Brasil, os profissionais de 
saúde buscaram também integrar saúde e educação, e assim, os grupos considerados como 
“higienistas” implementaram ações para incitar a inteligência dos estudantes do ensino 
superior, com atitudes relacionadas a higiene (JUCÁ, 2008). Simultaneamente no século em 
destaque, visando diminuir a mortalidade infantil em massa e a desvalorização da infância 
emergem atividades com a tentativa de controlar a formação das crianças, sendo essas 
distanciadas pelos ensinos da família e direcionadas a colégios internos para moldagem de 
conhecimentos físicos e morais, tornando-se adultos moldados à ordem médica. Isso apontava 
a educação como disciplinadora e de domesticação, iniciando assim, uma nova pedagogia 
conhecida como higiênica e com propagação sanitária (SCHALL, 2005). 
Pode-se observar, até os presentes relatos históricos, a carência de consolidação da 
ES mediante os conceitos apresentados anteriormente, sendo que as formações profissionais da 
época e as suas práticas podem ser resumidas em ações com vieses biológicos (higiene, 
interligação saúde-doença) e sem menções efetivas de exercícios educativos para alterações 
comportamentais da sociedade, incidindo na perspectiva da saúde apenas como “curadora”. 
Essa realidade faz parte da construção e impulsionamento inicial histórico da ES na sociedade, 
em todos os seus aportes. 
A vertente da saúde como “curadora” foi se remodelando, e em1924 transcorreram 
as primeiras iniciativas estaduais para a construção e a inserção de diversos programas voltados 
à ES no País, com um trabalho sanitarista em prol da promoção de hábitos de higiene e 
finalização de doenças (LEVY et al., 2002). Entretanto, com a fundação do Ministério da 
Educação e Saúde na década de 30, os autores destacam que houve a contenção das práticas 
29 
 
estaduais e centralidade de atividades sanitárias somente nas cidades, mais visíveis nas capitais. 
Em conseguinte, ocorreu a transformação do “Serviço de Propaganda e Educação Sanitária” 
para o “Serviço Nacional de Educação Sanitária”, multiplicando-o pelas esferas federais, com 
o intuito de conscientizar os brasileiros de forma coletiva sobre as problemáticas da saúde. 
Aperfeiçoando os serviços de propagação da saúde, manifesta-se em 1942 o Serviço 
Especial de Saúde Pública (SESP), resultante de parcerias entre o governo brasileiro e o norte-
americano devido a busca desse último por recursos primários a fim da construção de matérias 
primas, com o propósito de utilização na Segunda Guerra Mundial. Além disso, o SESP sofre 
críticas de alguns autores ao ser considerada como elitista, imperialista e bélica, mas por outros 
é reconhecida a sua relevância em relação à expansão de atividades sanitaristas por todo o país, 
caracterizando-se como uma importante ação de saúde na Era Vargas (CAMPOS, 2007). 
O SESP se tornou um importante serviço em virtude da proposta sanitarista para 
rompimento dos círculos de doenças e por transcender os espaços das unidades de saúde, 
adentrando às instituições de ensino primário e atendendo professores, alunos, família e 
comunidade. Nesta vertente, ele contribuiu para a capacitação dos docentes em educação 
sanitária e para a promoção de atividades por diversos profissionais da saúde, a saber, 
enfermeiros, médicos e agentes sanitários (RENOVATO; BAGNATO, 2010). 
Na década de 50, o Ministério de Educação e Saúde foi desmembrado, resultando 
em um único ministério cada – o da Saúde e o da Educação. Juntamente a esse novo Ministério 
da Saúde diversas propostas governamentais, programas e campanhas de saúde foram criadas 
para combater enfermidades endêmicas e remanescentes dos estados, sob a responsabilidade do 
Departamento Nacional de Saúde - DNS (LIMA; PINTO, 2003), impulsionando as atividades 
para erradicação de doenças. 
Na mesma década, a ES obteve ganhos com a aplicação de um viés ambiental e a 
inovação de práticas contendo participações da comunidade, realizadas por Hortênsia Hurpia 
de Hollanda7, caracterizadas como fundamentais no desenvolvimento da ES, alfabetizando a 
população em diversos aspectos saudáveis, igualmente aos postulados de Paulo Freire, destaque 
esse dificilmente obtido em políticas públicas e atividades deste cunho (SCHALL, 1999). 
 
7 Como descrito por Schall (1999), Hortênsia Hurpia de Hollanda (1917-2011) destaca-se por diversas ações de 
Saúde Pública no Brasil, participando como assistente técnica da Divisão de Educação Sanitária do Serviço 
Especial de Saúde Pública da Fundação SESP (Serviço Especial de Saúde Púbica), Ministério da Saúde (1949-
1955). Em 1954 formulou e orientou programas de educação em saúde para o Departamento Nacional de Endemias 
Rurais (DNERU), sendo pioneira, onde formou e coordenou equipes multiprofissionais, integrando as áreas de 
epidemiologia, psicologia, educação, ciências sociais e clínica médica, dedicadas a assessorar as pesquisas e 
planejamentos de programas. Participou de múltiplas investigações científicas internacionais, foi homenageada 
em diversos congressos internacionais e realizou trabalhos com vários outros pesquisadores renomados na área de 
educação em saúde, entre demais ações para melhoria do ensino de saúde e a sua promoção nos serviços públicos. 
30 
 
Esses relatos denotam diversas ações da ES no meio social, promovidas por 
atividades no âmbito da saúde e por profissionais da área. Entretanto, no campo das políticas 
educacionais, a ES apenas foi inserida nas escolas a partir da Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação (LDB) no artigo 7 da lei 5.692 em 1971, que institui a obrigatoriedade da inserção 
dos Programas de Saúde nos currículos de ensino do 1º e 2º grau (BRASIL, 1971). Todavia, em 
virtude da precária formação dos professores, da carência de livros didáticos e de materiais 
científicos de qualidade para propagação da ES, além de outras problemáticas nas instituições 
de ensino como a continuidade de uma abordagem biológica com o tratamento de enfermidades 
e ações higiênicas, a proposta de lei 5.692/71 não se efetivou (MOHR; SCHALL, 1992). Isso 
demonstra os diversos aspectos necessários de reflexão para consolidar o ensino de temas da 
saúde na educação básica. 
Continuando sobre as perspectivas que nortearam a integralização da ES nos 
âmbitos escolares, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988) 
decreta que é um dever do Estado e direito da população o fornecimento de políticas públicas 
voltadas à educação e à saúde. Esse decreto é de primordial importância para intensificar a 
produção e extensão de leis na tentativa de propagar a ES, incitando uma reflexão aos 
governantes acerca da valorização de práticas em múltiplos aspectos. 
Após os postulados, surgem propostas governamentais para a determinação de 
saberes a serem inseridos nos currículos das escolas. Assim, emerge uma nova versão da Lei 
de Diretrizes e Bases da Educação - LDB (BRASIL, 1996), promulgando novas diretrizes a 
serem inseridas em todos os níveis da educação. No que diz respeito à saúde, as diretrizes citam 
um único artigo enfatizando o tema, ao relatar a suplementação de materiais didáticos nas 
escolas, assistência à saúde, transporte e alimentação. Partindo das diretrizes à educação, 
instigou-se a construção dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), ressaltando diversos 
conteúdos, entre eles os voltados ao tema em ênfase para inserção nas instituições de ensino. 
Embora sejam essenciais na orientação curricular das escolas brasileiras, os PCN 
tiveram uma produção privatista e antidemocrática, visto que foram produzidos por um grupo 
central, os educadores das escolas particulares de São Paulo com apoio do espanhol César Coll 
(PORTELA, 2013). As produções dos PCN ocorrem em anos distintos na Educação Básica, a 
saber: os anos iniciais foram publicados em 1997, os anos finais em 1998 e os do ensino médio 
ocorreram em 1999. Na carta aos professores, estes documentos relataram ser um suporte de 
organização e articulação para as aulas docentes, sem imposição de conteúdo, contribuindo na 
orientação da formação cidadã dos alunos de forma crítica e reflexiva para atuar em sociedade 
e respeitando as diversidades e particularidades das regiões brasileiras (BRASIL, 1997a). 
31 
 
No ensino fundamental, os documentos possuem dez volumes8, os quais ao serem 
analisados pelos títulos, observaram-se que estão organizados de acordo com as disciplinas, e 
explanam, volumes para inserção dos temas transversais no ensino fundamental. Em outras 
palavras, os arquivos discorrem sobre como os assuntos selecionados para a transversalidade 
na educação básica devem perpassar por todas as disciplinas obrigatórias do currículo, 
intensificando a formação do sujeito em diversos aspectos da preparação cidadã. 
A escolha da inserção de temáticas transversais no currículo educacional emerge da 
necessidade de se discutir problemáticas que prejudicam a consolidação da formação cidadã do 
aluno, tornando-se complemento das disciplinas obrigatórias curriculares e norteando as 
formações e práticas docentes. Assim, atendendo aos critérios de urgência social, abrangência 
nacional, possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental e o favorecimento da 
compreensão da realidade e a participação social do aluno foram escolhidas as seguintes 
propostas transversais: Ética, Meio Ambiente, PluralidadeCultural, Trabalho e Consumo, 
Saúde e Orientação Sexual (BRASIL, 1997a). 
Direcionando-se a temática transversal saúde, esperam-se abordagens perpassadas 
por todas as disciplinas curriculares, com o intuito de formar os alunos em diversos contextos 
(BRASIL, 1997b). O documento descreve também que a escolha deste tema ocorreu no 
seguimento dos critérios descritos transversais, considerando a relevância de ações educativas 
para a adequação de comportamentos da Saúde. Complementarmente, na apresentação do livro 
de transversalidade da Saúde, há a apresentação de uma justificativa para a seleção desta 
temática nos currículos escolares: 
 
O ensino de Saúde tem sido um desafio para a educação no que se refere à 
possibilidade de garantir uma aprendizagem efetiva e transformadora de atitudes e 
hábitos de vida. As experiências mostram que transmitir informações a respeito do 
funcionamento do corpo e das características das doenças, bem como de um elenco 
de hábitos de higiene, não é suficiente para que os alunos desenvolvam atitudes de 
vida saudável (BRASIL, 1997b, p. 245). 
 
A partir dos escritos nos PCN, percebe-se a mudança de paradigmas relacionados à 
saúde, em que informa a ineficiência do uso apenas da transmissão de saberes e o foco em áreas 
específicas do tema em destaque, como higiene, para a concretização de mudanças em 
comportamentos dos sujeitos escolares, denotando que o tema saúde perpasse não somente por 
todas as disciplinas, mas com caráter formador em condutas e valores. 
 
8 As disciplinas e temas transversais do Ensino Fundamental foram estruturadas em dez unidades, contendo os 
subsequentes títulos: 1- Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais; 2- Língua Portuguesa; 3- Matemática; 
4- Ciências Naturais; 5- História e Geografia; 6- Artes; 7- Educação Física; 8- Apresentação dos Temas 
Transversais e Ética; 9- Meio Ambiente e Saúde; e 10- Pluralidade Cultural e Orientação Sexual (BRASIL, 1997a). 
32 
 
Outra importante ênfase se dá nos estudos de Mohr (2002), ao discorrer a 
importância de alterar concepções do vínculo da ES apenas na disciplina de Ciências, partindo 
do pressuposto da restrição desta área do conhecimento aos de conteúdos sobre ES, mais 
específico, ao ensino dos assuntos de parasitose, desenvolvimento do corpo humano e 
problemas relacionadas à poluição. Isso faz com que se reflita na superação da centralizada 
tríade corpo humano/higiene/nutrição marcante no ensino das Ciências, possibilitando a 
concretização da formação cidadã dos alunos em múltiplos aspectos circundantes deste tema. 
Tal centralidade é marcada por fatores biomédicos, onde o foco reside em ciclos saúde-doença. 
As tentativas de mudanças nas concepções de professores dos distintos campos do 
conhecimento, que tem segregado os temas da saúde de outras disciplinas e aplicado 
responsabilidade de ensino aos professores da área de ciências, são consideradas um desafio 
nos dias atuais. Isso decorre pela fraca elucidação nos PCN para compreender a transversalidade 
e a utilização da temática em ênfase nos demais componentes curriculares, bem como a 
fragmentada formação dos professores nas disciplinas do curso superior para atuar na educação 
básica, impossibilitando práticas interdisciplinares de saúde, além do efetivo entendimento da 
transversalidade e como agregá-la em práticas metodológicas, na tentativa de consolidação dos 
saberes científicos e pedagógicos (MARINHO; SILVA; FERREIRA, 2015). 
Ao estudar as propostas curriculares das secretarias estaduais brasileiras vigentes 
para o ano de 2014, com exceção do Amazonas, Pará e Rio Grande do Sul, Assis e Araujo-
Jorge (2018) detectaram que a categoria de doenças negligenciadas9 não têm sido abordadas 
nem na disciplina de Ciências. Em alguns casos quando aparecem, o conceito de saúde 
interligado à ausência de doença no organismo, a higienistas e às práticas pautadas apenas no 
repasse das informações é prevalente, indicando valorização específica de alterações em hábitos 
e comportamentos, sem respaldar um modelo de educação com autonomia e cidadania. 
 O manuscrito citado contraria as propostas dos PCN e de outros documentos 
governamentais para a educação, como o Plano Nacional de Educação - PNE (BRASIL, 2001a), 
proposta governamental destacada na Constituição Federativa do Brasil, no intuito da 
elaboração de metas educacionais junto a objetivos de cumprimento no período de 10 anos, 
2001 a 2010, e institui diretrizes à saúde, em que é destacado a adição dos temas transversais 
nos cursos para formação de professores. Essa decisão instiga a inserção de temáticas da 
educação em saúde na formação de docentes, partindo do pressuposto que o tema mencionado 
 
9 Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010a), as doenças negligenciadas são as que atingem a população 
pobre do Brasil, dificultando o desenvolvimento do país, pois contribui na manutenção do estado de pobreza. Estas 
são exemplificadas pela dengue, doenças de Chagas, malária, tuberculose, entre outras. 
33 
 
será abordado na educação básica, uma vez que é incitado pelas orientações oficiais para 
estados e municípios, destoando na prática nos estados ao comparar com os achados anteriores. 
Não obstante, problemáticas relacionadas à consolidação do PNE (2001-2010) na 
perspectiva de atender as metas estipuladas foram apontadas antes mesmo da sua homologação, 
uma vez que a proposta governamental possuía déficit de custeio, assim como ocorria ausência 
de informações concretas dos financiamentos para suporte do plano ao longo dos dez anos 
(SOUZA, 2014). Salientam-se também nos achados desta pesquisa, a falta de consenso entre 
pesquisadores com relação à efetividade da implementação do PNE ao longo desse período e a 
obtenção de resultados negativos nas avaliações institucionais divulgadas pelo Ministério da 
Educação (MEC), necessitando de melhor reflexão com o intuito de implementar uma nova 
versão mais adequada do documento para o próximo decênio. 
Como tentativa de potencializar a formação cidadã dos alunos para a Educação em 
Saúde (ES), é elaborada outra política pública mediante o decreto 6.286 de 2007, instituindo o 
Programa de Saúde na Escola – PSE (BRASIL, 2007b), em que os alunos da educação básica 
deveriam ter formação em atividades de prevenção, promoção e atenção à saúde. Ainda sobre 
o decreto, um dos seus objetivos consiste no fortalecimento das parcerias entre saúde e 
educação, contribuindo para elaborar uma atenção social e promoção da saúde acerca de 
efetivar a cidadania e os direitos humanos, abrangendo diversas áreas voltadas ao conhecimento 
físico e mental do corpo humano. 
No estudo sobre a inserção do PSE nas escolas e a sua relação com práticas 
pedagógicas de ensino, Carvalho (2015) identifica que há resistências por propagadores dessas 
ações para consolidar as atividades de saúde aplicadas em molde pedagógico, considerando 
esse modelo como de responsabilidade das escolas, o que denota a necessária discussão entre 
membros da educação e da saúde na perspectiva de fomentar práticas saudáveis realizadas de 
forma pedagógica. Concomitantemente, em uma avaliação feita por Ataliba e Mourão (2018), 
o PSE não foi eficaz na prática, sendo que os gestores das escolas possuem conhecimento 
referente a sua ação e a importância de aplicação, todavia, os alunos afirmam a não participação 
de práticas deste cunho nas instituições de ensino básico, além de continuarem desinformados 
dos conteúdos da saúde. 
Acompanhando e intensificando as políticas públicas da ES, enfatiza-se a 
atualização de uma proposta educacional já destacada no presente texto, o Plano Nacional de 
Educação - PNE (BRASIL, 2014a), tendo a segunda versão, aprovada pela lei de nº 13.005 de 
25 de junho de 2014, promulgando novas ações de saúde em educação como metas para um 
novo decênio (2014-2024). O documento instrui: a continuação nas ações anteriores citadas 
34 
 
para realização

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