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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE DIREITO 
DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MÁRCIO BATISTA BARBOSA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DESMILITARIZAÇÃO DAS POLÍCIAS DO BRASIL: UM NOVO OLHAR 
CONSTITUCIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
 2022
MÁRCIO BATISTA BARBOSA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DESMILITARIZAÇÃO DAS POLÍCIAS DO BRASIL: UM NOVO OLHAR 
CONSTITUCIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Graduação em Direito da Universidade Federal 
do Ceará, como requisito parcial para 
obtenção do título Bacharel em Direito. 
 
Orientadora: Prof.ª Msc. Fernanda Cláudia 
Araújo da Silva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
 2022 
 
 
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FICHA CATALOGRÁFICA
MÁRCIO BATISTA BARBOSA 
 
 
 
 
 
 
DESMILITARIZAÇÃO DAS POLÍCIAS DO BRASIL: UM NOVO OLHAR 
CONSTITUCIONAL 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Graduação em Direito da Universidade Federal 
do Ceará, como requisito parcial para 
obtenção do título Bacharel em Direito. 
 
Orientadora: Prof.ª Drª. Fernanda Cláudia 
Araújo da Silva. 
 
Aprovada em: / / . 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
Prof.ª Msc. Fernanda Cláudia Araújo da Silva (Orientadora) 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
 
Dra. Fátima Maria Rosa Mendonça (Membro) 
Juíza Titular do 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar 
contra a Mulher da Comarca de Fortaleza – TJCE 
 
 
 
Antonio Alex Deyson Tomaz (Membro) 
Mestrando da UFC 
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A greve dos policiais militares no Ceará é 
ilegal, mas os policiais não podem ser 
tratados como criminosos. 
 
“O governo federal vê com preocupação a 
paralisação que é ilegal da Polícia Militar 
do estado (Ceará). Claro que o policial tem 
que ser valorizado, claro que o policial não 
pode ser tratado de maneira nenhuma 
como um criminoso. O que ele quer é 
cumprir a lei e não violar a lei, mas de fato 
essa paralisação é ilegal, é proibida pela 
Constituição. O STF (Supremo Tribunal 
Federal) já decidiu isso”. 
(Sergio Moro, ex-ministro da Justiça e 
Segurança Pública). 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço, primeiramente, a Deus, pelo dom da vida e pela força de vontade de vencer. 
À minha mãe, Maria Gorete, que sempre me incentivou e fez de tudo para que eu pudesse ser 
um bom filho, com seu amor, dedicação e suas orações, típicos de uma mãe zelosa. 
Ao meu pai, Raimundo Batista (in memoriam), agricultor e pequeno comerciante, vítima da 
violência em 1985, que, em que pese eu ter ficado órfão aos 7 anos, muito contribuiu para a minha 
primeira formação, sendo meu maior exemplo de esforço, dedicação e, sobretudo, amor. 
À minha esposa, Clêangela Batista, por me ajudar cotidianamente a traçar os nossos planos de 
futuro, trabalhando arduamente, em comunhão, pelo futuro dos nossos descendentes. 
Aos meus filhos, Mateus e Davi, pelo amor com que me olham e por serem os meus maiores 
motivadores, o verdadeiro combustível da minha força de vontade e coragem de lutar. 
Aos meus irmãos, André, Michael, Josefa, Áurea, Otoniel e Natanael (in memoriam), este, 
vítima da violência da Covid-19, que me fizeram crer que é possível vencer na vida. 
Aos meus sobrinhos-irmãos, Oséas Filho, Lucas e Israel, pela grande motivação e por sempre 
acreditarem que eu seria um projeto de vida e de perseverança que daria certo. 
Ao meu cunhado-pai, Oséas Pereira de Araújo, pela grande motivação, ensinamentos, apoio e, 
principalmente, por ter provido meu sustento, durante grande parte da minha vida. 
Aos meus sogros, José Sabino e Cleomar, pelo acolhimento, motivação, respeito, apoio e, 
sobretudo, pela dedicação, fundamental para que a nossa família concretize os nossos sonhos. 
Aos meus cunhados, Jucinara, Meire, Leide, Lene, Cléa Mara e Juarez, pela motivação, 
respeito, cuidados e apoio, sentimentos fundamentais na nossa longa caminhada. 
Aos meus sobrinhos, Lincoln, Joás, Fernando, Pedro, Nicole, Joaquim, Lícia Maria e Miguel, 
por fazerem parte das nossas vidas e dos nossos cuidados. 
À professora Fernanda Cláudia que, na Faculdade de Direito, me fez acreditar que o direito 
também pode ser libertador, um instrumento de luta em favor dos menos favorecidos. 
À professora Fernanda Cláudia, pela paciência e pelo profissionalismo com que conduziu a 
orientação desta monografia e, aqui, registro minha humilde gratidão, e aos demais membros da banca 
examinadora, à Juíza de Direito Dra. Fátima Maria Rosa Mendonça e ao Mestrando da UFC Antonio 
Alex Deyson Tomaz, por terem aceitado o encargo de bem e fielmente participarem desta banca 
examinadora, momento ímpar na vida de estudante e, mormente, da graduação no curso da Faculdade 
de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Se o Senhor não edificar a casa, em 
vão trabalham os que a edificam; 
se o Senhor não guardar a cidade, 
em vão vigia a sentinela. 
Salmos 127:1 
 
 
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Tenente é presa por abandonar 
posto ao lavar farda suja de 
menstruação (28/out/2021) 
 
A tenente conta que liberou os 
policiais que estavam na viatura 
para almoçar e saiu do local onde 
estava como supervisora da área, 
pelo Batalhão de Policiamento 
Turístico (BPTUR), também para 
almoçar no quartel. A oficial 
precisou lavar o fardamento, uma 
vez que estava sujo de sangue 
de menstruação. 
 
Enquanto o uniforme secava, ela 
foi para a porta do quartel pegar 
uma quentinha, à paisana. Um 
coronel flagrou a situação e 
conduziu a policial para a 
Coordenadoria de Polícia 
Judiciária Militar (CPJM). 
 
 
Caso recente 
 
Uma policial militar 
do Maranhão foi presa, no dia 5 de 
setembro deste ano (2021), por se 
recusar a fazer hora extra, uma vez 
que precisava amamentar o filho. 
 
 
(https://www.metropoles.com/brasil/tenente-e-presa-
por-abandonar-posto-ao-lavar-farda-suja-de-
menstruacao)
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RESUMO 
 
Procura-se analisar e propor a desmilitarização das polícias e órgãos de segurança pública do 
Brasil, a partir de um novo dispositivo constitucional, com amparo nas cartas internacionais 
sobre direitos humanos, bem como nos princípios norteadores da boa Administração Pública, 
quais sejam, legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, razoabilidade, 
proporcionalidade, segurança jurídica, contraditório e ampla defesa constitucionais. O objetivo 
é fazer uma avaliação da militarização das polícias do Brasil e como esse regime prejudica a 
eficiência da atividade de segurança pública. Visa-se, ainda, propor a desmilitarização dos 
órgãos de segurança pública, como medida eficaz para concretizar a eficiência insculpida no 
artigo 37 da Constituição Federal de 1988. No trabalho em tela, apontam-se falhas, criticando 
os abusos cometidos por gestores, ou seja, governos, sugerindo soluções, a partir de um novo 
dispositivo constitucional, bem como sua regulamentação na legislação infraconstitucional. 
Ademais, cabe esclarecer que destacaremos os aspectos do regime militar no seio das 
instituições de segurança pública, o histórico da polícia no Brasil, a desumana jornada de 
trabalho de até 96 (noventa e seis) horas semanais, o assédio moral, a mitigação da liberdade de 
expressão, o cerceamento da ampla defesa e do contraditório, o desrespeito a preceitos 
fundamentais de direitos humanos, que refletem diretamente, de forma negativa, no mau 
rendimento dos profissionais, quando da execução das atividades típicas de forças de segurança. 
Por consequência, tornam a prestação estatal do serviço de segurança pública precário, penoso, 
insalubre e ineficaz, em face da escalada incontrolável da violência. Por fim, analisam-se em 
que aspectos a desmilitarização resultariaem melhores condições de trabalho para os 
profissionais, os quais passariam a ser servidores públicos civis, tais como funcionam as forças 
policiais civis da União Federal, quais sejam, Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal 
(PRF) e Polícia Penal Federal (PPF). Para tanto, utiliza-se de pesquisas bibliográficas, baseadas, 
mormente, em estudos do direito administrativo, da teoria constitucional e da sociologia 
jurídica, seguindo um percurso metodológico a partir do estudo de literatura sobre os problemas 
da polícia militar no Brasil, bem como sobre o princípio constitucional da eficiência, abordando 
fatos noticiados em jornais e estudando obras que tratam de tais questões de modo mais 
adequado e específico. 
 
Palavras-chave: Polícia. Desmilitarização. Segurança Pública. Direitos Humanos. Sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
It seeks to analyze and propose the demilitarization of the police and public security bodies in 
Brazil, based on a new constitutional provision, based on international charters on human 
rights, as well as on the guiding principles of good Public Administration, namely, legality, 
impersonality, morality, publicity, efficiency, reasonableness, proportionality, legal certainty, 
contradictory and full constitutional defense. The objective is to make an assessment of the 
militarization of the police in Brazil and how this regime harms the efficiency of public security 
activity. It is also intended to propose the demilitarization of public security bodies, as an 
effective measure to achieve the efficiency enshrined in article 37 of the Federal Constitution of 
1988. In the work on screen, flaws are pointed out, criticizing the abuses committed by 
managers, that is, governments, suggesting solutions, from a new constitutional device, as well 
as its regulation in the infraconstitutional legislation. Furthermore, it should be clarified that we 
will highlight aspects of the military regime within public security institutions, the history of 
the police in Brazil, the inhuman working day of up to 96 (ninety-six) hours per week, moral 
harassment, the mitigation of freedom of expression, the restriction of ample defense and the 
adversary, the disrespect to fundamental precepts of human rights, which directly reflect, in a 
negative way, in the poor performance of the professionals, when carrying out the typical 
activities of security forces. Consequently, they make the state provision of public security 
service precarious, painful, unhealthy and ineffective, in the face of the uncontrollable 
escalation of violence. Finally, we analyze in which aspects demilitarization would result in 
better working conditions for professionals, who would become civil servants, such as the civil 
police forces of the Federal Union, namely, the Federal Police (PF), Federal Highway Police 
(PRF) and Federal Criminal Police (PPF). In order to do so, bibliographic research is used, 
based mainly on studies of administrative law, constitutional theory and legal sociology, 
following a methodological approach based on the study of literature on the problems of the 
military police in Brazil, as well as on the constitutional principle of efficiency, approaching 
facts reported in newspapers and studying works that deal with such questions in a more 
adequate and specific way. 
 
Keywords: Police. Demilitarization. Public security. Human rights. Society. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................12 
 
2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.................16 
2.1 Princípios da administração pública: expressos e implícitos............................................16 
2.2 Relevância dos princípios constitucionais........................................................................24 
2.3 Extensão do princípio da eficiência..................................................................................25 
2.4 Princípio da eficiência na atualidade................................................................................26 
2.5 Paralelo entre eficiência e efetividade..............................................................................27 
 
3 MILITARIZAÇÃO DO SERVIÇO DE SEGURANÇA PÚBLICA.............................29 
3.1 Polícias e Bombeiros Militares: as Forças de Segurança do Estado................................29 
3.2 Defesa do Estado Nação e da Sociedade na Constituição Federal...................................30 
3.3 Desrespeito aos direitos humanos dos profissionais.........................................................31 
3.4 Organização e ascensão na carreira militar.......................................................................35 
3.5 Jornada de trabalho dos servidores militares....................................................................36 
 
4 DESMILITARIZAÇÃO: NOVO DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL....................37 
4.1 Filosofia de polícia comunitária: polícia e comunidade...................................................38 
4.2 Segurança jurídica, relação de confiança e aproximação da sociedade............................40 
4.3 Desmilitarização da segurança pública: uma nova estrutura constitucional.....................43 
4.4 Progressão e promoção nas novas carreiras dos servidores policiais civis.......................48 
4.5 Jornada de trabalho do servidor policial civil...................................................................50 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................51 
 
REFERÊNCIAS…………………………………………………….……………...............54
12 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
O militarismo é um sistema baseado na hierarquia e disciplina, adotado pela 
Constituição Federal de 1988, aplicável às Forças Armadas, quais sejam, Marinha do Brasil, 
Exército Brasileiro e Aeronáutica (Força Aérea Brasileira), bem como às Polícias Militares e 
aos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil, sendo estas corporações tratadas como forças 
auxiliares e reservas do Exército brasileiro. 
Sobre a hierarquia, entendida como ordenação progressiva de autoridade, é necessária 
para fixar funções e responsabilidades. Acerca da disciplina, entendida como obediência às 
funções que se deve desempenhar, é fundamental para o desenvolvimento regular das 
atividades. Peculiar a todas as instituições públicas, independentemente da complexidade, a 
hierarquia é a ordenação de funções em diferentes graus, e disciplina é a necessidade de 
observância fiel das funções por cada servidor, para concretização dos fins a que se destinam. 
O regime militar, típico das forças armadas, é um regime de exceção, aplicável apenas 
às instituições militares típicas de estado, nos casos e destinadas à defesa da pátria, da lei e da 
ordem, ou seja, em casos extremos, tais como a defesa externa (guerra ou ameaça de guerra) 
e, como política de segurança interna, para a garantia da lei e da ordem. 
No Brasil, o regime militar é erroneamente tratado como regra, sendo incorporado, 
inclusive, diretamente na relação de trabalho entre Estado e agentes da segurança pública, 
integrantes das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares. Indiretamente, 
hodiernamente, vê-se a militarização de ministérios e órgãos do serviço público federal civil. 
A atividade de polícia judiciária no Brasil, com o objeto de apurar a autoria e 
materialidade das infrações penais, nas fases de investigação e inquérito, ficam a cargo das 
polícias civis estaduais e federal. No que diz respeito às atividades de polícia ostensiva, são 
exercidas pela Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal, nas suas respectivas competências 
e circunscrições, como dispõe o artigo 144 da Constituição Federal de 1988. 
O militarismo aplicado às corporaçõese seus agentes de segurança pública, com base 
na rígida hierarquia e disciplina, na obediência inconteste aos comandos superiores, revela-se 
um regime opressor e desumano, que incide tanto sobre os agentes oficiais quanto às praças, 
estes de mais baixa patente (graduação) dentro dessa hierarquia, são submetidos a jornadas de 
13 
 
trabalho excessivas e, além de sofrerem assédio moral de toda sorte, não dispõem de 
instrumentos de defesa, o que provoca diversos problemas psicológicos e, inclusive, suicídios. 
As polícias do Brasil nada têm a ver com o Exército. São instituições destinadas a 
garantir direitos e liberdades dos cidadãos, que estejam sendo violados, por meios pacíficos ou 
por uso comedido de força, associado à mediação de conflitos, nos marcos da legalidade e em 
estrita observância dos direitos humanos. Deste modo, qualquer projeto consequente de 
reforma dos órgãos de segurança pública militares, para transformar métodos de gestão e 
racionalizar o sistema operacional, tornando-os menos reativo e mais preventivo, precisa 
começar defendendo o rompimento secular com o Exército, através da desmilitarização. 
Sobre os abusos e absurdos praticados, em pleno século XXI, em nome do regime 
militar nas corporações, pode-se destacar a prisão em flagrante de uma mulher policial, oficial 
da Polícia Militar do Ceará (PMCE), simplesmente por ter tirado a farda para lavar, durante o 
serviço de plantão, tendo em vista que o uniforme estava sujo de menstruação. Ela foi presa 
quando saía do quartel, para pegar uma marmita para almoçar. Noutro caso, a prisão de uma 
mulher policial, praça da Polícia Militar do Maranhão (PMMA), por ter se recusado a fazer 
hora extra de trabalho após as 20:00h, sendo esta recusa para amamentar o filho de 2 anos. 
No Estado do Ceará, muitos policiais militares e bombeiros militares foram demitidos, 
pelo simples fato de participarem de uma reunião pacífica de associação representativa, 
mesmo a Constituição Federal assegurando o direito de participar de associação e reunião, 
posto que veda apenas a sindicalização, sendo plena a liberdade de associação para fim lícito. 
A problematização que dá luz à presente monografia põe termo à seguinte questão: de 
que modo a desmilitarização das polícias do Brasil é capaz de materializar a eficiência na 
prestação do serviço de segurança pública, buscando a execução de um serviço de excelência? 
O objetivo geral do trabalho em tela, é analisar as razões que tornam a 
desmilitarização uma medida viável, para a prestação de uma segurança pública de 
excelência, por meio da execução de um serviço humanizado, qualificado e eficiente, do 
ponto de vista dos fins a que se destinam, quais sejam, a proteção dos profissionais e dos 
membros da sociedade. Destarte, o enfoque será feito a partir das condições de trabalho dos 
profissionais e dos problemas que estes enfrentam, em face da militarização nas corporações, 
mazelas estas responsáveis pela ineficiência e fragilidades do serviço público prestado pelos 
Estados e Distrito Federal. 
 
14 
 
Os objetivos específicos consistem em compreender os questionamentos sobre a 
eficiência na prestação do serviço de segurança pública, analisar os problemas ocasionados 
pelo militarismo e como isso influencia negativamente no desempenho das atividades dos 
profissionais; analisar os aspectos que distanciam o policial militar da sociedade; e as 
vantagens da desmilitarização para os agentes e para a eficiência do serviço junto à sociedade. 
A metodologia adotada é a pesquisa bibliográfica, de modo que o trabalho se debruça 
sobre a produção escrita acerca do tema. Primeiro, selecionaram-se os livros que tratam sobre 
os tópicos mais gerais acerca do presente trabalho, quais sejam, a desmilitarização das forças 
policiais, segurança pública e princípios constitucionais. 
Nesta senda, artigos, monografias e dissertações sobre o assunto em estudo, com 
tratamento mais específico sobre o serviço de segurança pública, constitucionalismo, princípio 
da eficiência e poder de polícia. Face às devidas leituras, tanto dos livros quanto das obras em 
análise, abriu-se uma nova investigação mais acurada, tendo como substrato os projetos de 
desmilitarização, o assédio moral no âmbito das polícias, a problemática da jornada de 
trabalho excessiva, os abusos da hierarquia militar e a legislação de regência dos militares. 
Princípios e conceitos do Direito Administrativo, presentes neste trabalho, foram 
extraídos da doutrina pátria, em especial das obras de Celso Antônio Bandeira de Mello, José 
dos Santos Carvalho Filho, Marçal Justen Filho e Irene Patrícia Nohara. No tocante à 
discussão sobre o constitucionalismo, utilizou-se como referencial teórico, a obra de Paulo 
Bonavides e do ministro Luís Roberto Barroso (STF). 
A bibliografia utilizada elucidou vários pontos cruciais, já delineados anteriormente, 
posto que nunca foi observado de forma mais acurada, com relação aos abusos que os agentes 
de segurança pública sofrem no seio das corporações militares. 
Entretanto, percebe-se que há inúmeros trabalhos que se prestam a analisar as 
propostas de desmilitarização apresentadas no Congresso Nacional. Portanto, a maioria se 
debruça sobre a discussão do ciclo completo de polícia, dando enfoque à unificação das 
polícias civil e militar, gerando novo formato, através do ciclo completo da atividade policial. 
Outrossim, sobre a desmilitarização, muitos trabalhos têm como base a sociologia 
jurídica, sem ingressar nas discussões afetas ao direito público. Ademais, a obra mais recente 
sobre a desmilitarização, é do Luiz Eduardo Soares, doutor em ciência política, ex-secretário 
nacional de segurança pública do Ministério da Justiça e Segurança Pública. 
 
15 
 
O primeiro capítulo elucida como os princípios eram tratados antes do 
constitucionalismo. Em seguida, passa-se a analisar o tratamento dispensado aos princípios, a 
partir do fortalecimento do constitucionalismo, passando de simples postulados para normas 
diretas. Explica, ainda, a dimensão que os princípios tomaram com o chamado 
neoconstitucionalismo. Trata sobre a formação do entendimento acerca do princípio da 
eficiência, inserido na nova gestão pública. Por fim, explicita-se qual definição de eficiência é 
investigada no presente trabalho, a saber, a efetividade, a qual busca o serviço de excelência. 
O segundo capítulo trata dos pontos em que o regime militar, além de subjugar o 
agente de segurança pública, enseja desmotivação e influencia negativamente no desempenho. 
Explicita como nasceu, historicamente, a formação da polícia militar atual, sucessivamente 
marcada pelo autoritarismo, funcionando como braço armado dos agentes políticos do Estado. 
Trata, ainda, dos direitos fundamentais dos profissionais, os quais são desrespeitados, sob o 
manto das leis que regem o regime militar, implicando em assédio moral de toda sorte, falta 
de urbanidade, jornada de trabalho desumana e cerceamento de direitos fundamentais. 
Por fim, o terceiro e último capítulo é um contraponto ao segundo e, além de ser 
propositivo, faz as devidas colocações de como os problemas apresentados serão 
solucionados, com a desmilitarização das polícias do Brasil, a partir de um novo dispositivo 
constitucional, bem como a sua devida regulamentação na legislação infraconstitucional. 
 
16 
 
2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
A Constituição Federal de 1988 dedicou um capítulo à Administração Pública, qual 
seja, o Capítulo VII do Título III e, no seu art. 37, elencou de modo expresso apenas cinco 
princípios: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, sendo este último 
acrescentado pela EC nº 19/1998. Além desses princípios deve-se levar em conta os demais 
princípios constitucionais, a serem observados por todas as pessoas administrativas de 
qualquer dos entes federativos (CARVALHO FILHO, 2014). 
 
2.1 Princípiosda administração pública: expressos e implícitos 
 
Cabe destacar, ainda, que os princípios revelam as diretrizes fundamentais da 
administração pública, de tal modo que só se poderá considerar válido o ato administrativo, se 
este estiver compatível com os seus princípios norteadores. 
2.1.1 Princípio da legalidade 
O princípio da legalidade é inerente ao Estado Democrático de Direito, uma vez que 
em um Estado chamado de Direito, toda e qualquer atuação, seja do poder público, seja do 
particular, deve fundamentar-se na lei. Enquanto o poder público só pode fazer o que a lei 
autoriza, o particular só não pode fazer o que a lei proíbe. 
A Lei nº 9.784/1999 prevê, assim como a Constituição Federal de 1988, o princípio da 
legalidade como sendo de obrigatória observância pelo administrador público, de forma que a 
atuação deste não depende de qualquer vontade pessoal, estando vinculado à lei administrativa 
que, geralmente, trata de matéria de ordem pública, cujos preceitos não poderão ser 
descumpridos, ou seja, a natureza da função pública determina que os gestores devam cumprir 
os deveres e exercitar os poderes que a lei impõe (MEIRELLES, 2012). 
Destarte, o princípio em análise contrapõe-se diametralmente à ideia de autoritarismo, 
bem como a qualquer tendência personalista do administrador, visto que em um Estado 
Democrático de Direito todo poder emana do povo, sendo o administrador nada mais que 
representante dos interesses públicos, devendo exercer o poder pelo povo e não visando seus 
próprios interesses, confirmando a máxima regra do direito, não do particular (MELLO, 2014). 
17 
 
Neste sentido, a doutrina europeia desdobra o princípio da legalidade em dois 
subprincípios: da primazia da lei e da reserva legal. O primeiro, também denominado 
legalidade em sentido negativo, prevê que o ato administrativo, inferior à lei, não pode 
contrariá-la; já o princípio da reserva legal, institui que os atos administrativos dependem de 
autorização legal para serem praticados (MAZZA, 2012). 
Ademais, o princípio da legalidade apresenta-se como essencial à atuação da 
administração pública, garantindo uma subordinação ao ordenamento jurídico, devendo ser 
analisado à luz da lei, independentemente do tipo de ato administrativo a ser praticado. 
Os órgãos de segurança pública militares dos Estados, por vezes, não obedecem ao 
princípio da legalidade, sobretudo com relação aos direitos do trabalhador, no que diz respeito 
à carga horária não definida em Lei, ao não pagamento de horas extras, supressão da liberdade 
de expressão, vedação ao direito de greve, proibição de filiação a partido político, proibição 
de sindicalização e, principalmente, a prisão em caso de mera infração administrativa. 
2.1.2 Princípio da impessoalidade 
O princípio da impessoalidade busca garantir que a atuação da administração pública 
ocorra de forma isonômica a todos os administrados, devendo o administrador, ao praticá-los, 
visar o interesse de todos, uma vez que os bens geridos por ele são públicos e não particulares. 
Celso Antônio Bandeira de Mello conceitua muito bem o princípio da impessoalidade: 
“Nele se traduz a ideia de que a administração tem que tratar a todos os administrados sem 
discriminações, benéficas ou detrimentosas. Nem favoritismo nem perseguições são 
toleráveis. Simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não podem interferir 
na atuação administrativa e muito menos interesses sectários, de facções ou grupos de 
qualquer espécie. O princípio em causa é senão o próprio princípio da igualdade ou isonomia 
(MELLO, 2014, p. 114)”. 
O princípio da impessoalidade deve ser visto sob os dois principais pontos: o primeiro, 
diz respeito à finalidade do ato que, ao ser exercido, deve visar sempre à satisfação da 
coletividade; e o segundo, trata da vedação da promoção pessoal do administrador, à custa das 
realizações da administração pública (ALEXANDRINO, 2012). 
É neste sentido que dispõe o art. 37, § 1º, da Constituição Federal de 1988, o qual 
prevê que “a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos 
públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo 
constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou 
18 
 
servidores públicos”, ou seja, as obras realizadas pelos poderes e com verbas públicas, não 
poderão servir de propaganda particular para os administradores. 
Entretanto, no que diz respeito à finalidade do princípio impessoalidade, o Conselho 
Nacional de Justiça editou uma resolução proibindo o nepotismo e, posteriormente, o assunto 
foi inclusive sumulado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que assim previu: 
“Súmula Vinculante nº 13 – STF: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em 
linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou 
de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou 
assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função 
gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações 
recíprocas, viola a Constituição Federal”. 
Neste sentido, o princípio da impessoalidade se faz presente em todos os assuntos que 
tratam da administração pública, devendo pautar toda e qualquer atuação do administrador, 
sob pena de ser considerado nulo o ato praticado, sem que a impessoalidade seja observada. 
Alguns governos buscam mecanismos de contenção da sensação de insegurança, não 
como função típica de Estado, visando o interesse público, mas como objeto de interesse 
político-partidário. Tal postura permeia de amadorismo a segurança pública, atividade esta 
que deveria ser essencialmente profissional por excelência. 
A sensação de insegurança impulsiona e potencializa o medo e, este, por sua vez, 
mantém certos agentes políticos no poder, tanto no executivo quanto no legislativo, bem como 
promove outros atores, inclusive integrantes da categoria, e outros da mídia “policialesca”, a 
ocupar cargos políticos eletivos, tais como vereador, deputado estadual e federal, senador, 
governador e, inclusive, presidente da República. 
Muitos atores e agentes políticos obtêm vantagens, com os elevados índices de 
criminalidade, quando associam a imagem pessoal a resultados fictícios, abstratos e ilusórios. 
Deste modo, resta comprovado que existe interferência política na segurança pública, em 
todas as esferas, comportamento este que colide com o princípio da impessoalidade. 
2.1.3 Princípio da publicidade 
Acerca da publicidade, é tornar público um ato, fazendo com que este chegue ao 
conhecimento público, onde só a partir da publicação é que um ato, lei, norma ou regulamento 
19 
 
passarão a surtir os seus efeitos legais. Neste sentido, nos ensina Hely Lopes Meirelles: 
“Publicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus 
efeitos externos. Daí porque as leis, atos e contratos administrativos que produzem 
consequências jurídicas fora dos órgãos que os emitem exigem publicidade para adquirirem 
validade universal, isto é, perante as partes e terceiros. A publicidade não é elemento 
formativo do ato; é requisito de eficácia e moralidade. […]. Em princípio, todo ato 
administrativo deve ser publicado, porque pública é a administração que o realiza, só se 
admitindo sigilo nos casos de segurança nacional, investigações policiais ou interesse superior 
da administração a ser preservado em processo previamente declarado sigiloso (2012, p. 96)”. 
Desta forma, nota-se que é aceitável a limitação da publicidade dos atos 
administrativos, quando apenas as pessoas autorizadas, tais como os procuradores e os 
servidores terão acesso a estes, visando à proteção de um bem jurídico mais do que o direito à 
publicidade,ou seja, ocorrendo colisão de princípios, deve-se primar pelo de maior valor. 
O princípio correlato apresenta duas significações, quais sejam, a exigência da 
publicação dos atos administrativos em órgão oficial como condição para produção de efeitos 
e a exigência de transparência da atuação administrativa, derivada da indisponibilidade do 
interesse público, possibilitando a todos amplo acesso à atuação administrativa 
(ALEXANDRINO, 2012). 
“No que concerne ao princípio da publicidade ou da máxima transparência, quer este 
significar que a administração há de agir de sorte a nada oculta e, para além disso, suscitando 
a participação fiscalizatória da cidadania, na certeza de que nada há com raras exceções 
constitucionais que não deva ir ao público […]. Desta maneira, o agente público precisa 
prestar contas de todos os seus atos e velar para que tudo seja feito com a visibilidade do sol 
do meio dia, preservando sua própria reputação, somente se admitindo que não o faça por 
excepcional e estrita exigência superior do interesse público […] (FREITAS; J., 2004, p. 70). 
Conclui-se, portanto, que em um Estado Democrático de Direito, no qual o poder é do 
povo e exercido para o povo, não se pode admitir o sigilo dos atos praticados, em especial 
quando digam respeito a bens e interesses indisponíveis, tais como os públicos, ao menos que 
a lei assim o permita, nos casos estritamente específicos. 
2.1.4 Princípio da moralidade 
O art. 37, caput, da Constituição Federal de 1988, dispõe que a administração pública 
obedecerá ao princípio da moralidade administrativa, demonstrando que o administrador deve 
20 
 
atuar de maneira proba, primando pela tomada de atitudes em conformidade com a lei, agindo 
de maneira ética, visando sempre o interesse público. 
O princípio da moralidade exige que a administração e seus agentes atuem em 
conformidade com princípios éticos aceitáveis socialmente. Esse princípio se 
relaciona com a ideia de honestidade, exigindo a estrita observância de padrões 
éticos, de boa-fé, de lealdade, de regras que assegurem a boa administração e a 
disciplina interna da administração pública (MARINELA, 2014, p. 39). 
 
É salutar perceber que a moral comum não se confunde com a moral administrativa, 
enquanto aquela busca determinar o agir entre o certo e o errado nas regras de convívio social, 
esta significa correção de atitudes, boa administração e eficiência, sendo que a ausência desta 
na prática de atos administrativos ocasionará na sua invalidade (ALEXANDRINO, 2012). 
Ainda, acerca deste princípio, o § 4º do art. 37 da Constituição Federal, ao dissertar 
sobre este, aduz que: “[…] os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos 
direitos políticos, a perda da função, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, 
na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível” (BRASIL, 2014). 
Pela análise do dispositivo acima colacionado, percebe-se que os princípios 
moralidade e probidade significam praticamente a mesma coisa, embora algumas leis façam 
referência separadamente à cada um deles, quando se fala em improbidade como ato ilícito, 
como infração sancionada pelo ordenamento jurídico, deixa de haver sinonímia entre as 
expressões imoralidade e improbidade, porque esta tem um sentido mais amplo e mais 
preciso, por abranger não somente atos desonestos ou imorais, mas também atos ilegais 
(MEIRELLES, 2012). 
A principal forma de controle da moralidade administrativa é a Ação Popular, remédio 
por meio do qual o cidadão poderá propor a referida ação, com o fim de anular ato contrário à 
moralidade administrativa, constitucionalmente prevista no art. 5º, inciso LXXIII, da CF/88. 
O gestor público necessitara pautar-se, sempre, na moralidade administrativa, sob pena 
de, em caso de inobservância, sofrer a ação cabível para tutelar o princípio da moralidade. 
2.1.5 Princípio da eficiência 
O princípio da eficiência foi acrescentado pela Emenda Constitucional nº 19/1998, 
visando alcançar maior qualidade na atuação administrativa, rapidez no atendimento ao 
público e economia, dentre outros. Neste sentido, assim nos ensina Alexandre Mazza: “[…] 
Assim, o conteúdo jurídico do princípio da eficiência consiste em obrigar a administração a 
buscar os melhores resultados por meio da aplicação da lei” (MAZZA, 2012, p. 104). 
21 
 
Portanto, nota-se que o princípio em análise impõe ao administrador, o atendimento do 
interesse público, usando de sua competência para, de forma eficaz, garantir a melhor 
utilização dos recursos públicos, a fim atingir o interesse público. 
A segurança pública no Brasil é tratada com visão político-partidária, e não como 
função típica de Estado. Apesar de ser gerenciada por técnicos, estes são submetidos a 
interesses de grupos políticos, os quais direcionam os recursos e o policiamento, de acordo 
com a vontade pessoal dos “patrocinadores”. As estatísticas, em grande parte, são tratadas 
como segundo plano. O contribuinte é afetado negativamente, com os efeitos da violência. 
No Estado do Ceará, muitos ganham eleições à custa dos altos índices de 
criminalidade, do medo crescente e incontrolável, da sensação de insegurança. Foram criados 
programas como o “Ronda do Quarteirão”, beneficiando grupos econômicos com a aquisição 
de veículos de luxo (Toyota Hilux) e submetendo o material humano a uma escala de até 6 
noites seguidas por 1 dia de descanso, supostamente em nome da “eficiência”. O agente de 
segurança pública, submetido ao regime de trabalho militarizado, não podia adoecer ou tirar 
férias, pois perdia parte dos rendimentos. O programa “Ronda do Quarteirão” nasceu, 
subdesenvolveu-se e morreu, sem atingir os fins desejados. Surge um questionamento: o que 
mudou nos índices de criminalidade? Qual o legado? Na verdade, as facções se alastraram. 
2.1.6 Princípio da segurança jurídica 
A segurança jurídica revela-se como princípio fundamental do ordenamento jurídico 
como um todo e não apenas na seara administrativa, uma vez que no Estado Democrático de 
Direito é inaceitável que o povo não tenha garantida a tutela jurisdicional, com a consequente 
imutabilidade daquilo que foi decidido. 
Celso Antônio Bandeira de Mello ensina que, na verdade, essa segurança advém não 
só das relações jurídicas, mas da necessidade do homem em se sentir seguro: 
“Esta ‘segurança jurídica’ coincide com uma das mais profundas aspirações do 
homem: a da segurança em si mesmo, a da certeza possível em relação ao que o cerca, sendo 
esta uma busca permanente do ser humano, é a insopitável necessidade de poder assentar-se 
sobre algo reconhecido como estável, ou relativamente estável, o que permite vislumbrar com 
alguma previsibilidade o futuro; é ela, pois, que enseja projetar e iniciar, consequentemente – 
e não aleatoriamente ao mero sabor do acaso –, comportamentos cujos frutos são esperáveis a 
médio e longo prazo” (MELLO, 2014, p. 127). 
Nota-se, portanto, que o princípio da segurança jurídica possui como objetivo 
22 
 
precípuo, evitar desconfortos traumáticos, protegendo assim a estabilidade e primando pela 
certeza nas relações jurídicas, o que cada vez se mostra mais difícil em uma sociedade que 
está em constante modificação (MARINELA, 2014). 
Assim sendo, a segurança jurídica não está vinculada apenas à prática de atos 
administrativos, ou na tomada de decisões administrativas, deve se revelar, a bem da verdade, 
de indispensável observância em todas as searas do direito. 
No Estado do Ceará, por exemplo, os órgãos de controle interno, por vezes, agem em 
nome de meros interesses político-partidários, de determinados grupos dominantes, 
principalmente com relação aos agentes de segurança pública militares. Estes são, geralmente, 
tratados com rigor excessivo, ilegalidades e abuso de poder, a exemplo das demissões de 
policiais militares e bombeiros militares que, motivadas por questões políticas, foram 
“expulsos”por participarem de uma reunião pacífica. Em suma, os agentes de segurança 
pública militares do Estado não têm segurança jurídica. 
2.1.7 Princípio da razoabilidade e da proporcionalidade 
Os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade não se encontram 
expressamente previstos na Constituição Federal de 1988, todavia, são princípios de 
observância obrigatória, tanto na área jurídica quanto na área administrativa, sendo, inclusive, 
utilizado pelo Supremo Tribunal Federal ao proferir suas decisões. 
Em geral, estes princípios são analisados de forma conjunta, doutrinariamente, pois, 
apesar de cada qual possuir seu significado, a observância de um estará direta ou 
indiretamente atrelada ao outro. Desta forma, assim entende Maria Sylvia Zanella Di Pietro: 
Embora a Lei nº 9.784/1999 faça referência aos princípios da razoabilidade e da 
proporcionalidade, separadamente, na realidade o segundo constitui um dos aspectos 
contidos no primeiro. Isto porque o princípio da razoabilidade, entre outras coisas, 
exige proporcionalidade entre os meios de que se utiliza a administração e os fins 
que ela tem que alcançar […]” (DI PIETRO, 2014, p. 81) . 
 
Apesar do tratamento conjunto dado aos princípios em tela, é importante dizer que eles 
se complementam, sendo que cada um abrangerá um aspecto. Deste modo, discorrer-se-á 
acerca das características de cada um destes princípios. 
A razoabilidade é um agir com bom senso, tomando decisões que se mostrem 
adequadas, tendo em vista o fim a que se destinam, proibindo, assim, que o administrador, 
quando da prática dos atos que lhe competem, aja de forma despropositada, arbitrariamente, 
descumprindo os preceitos legais, ou seja, visa inibir os excessos (MARINELA, 2014). 
23 
 
O descumprimento das premissas delineadas pelo princípio da razoabilidade conduzirá 
à nulidade do ato praticado, em razão do vício de ilegitimidade: 
 
É óbvio que uma providência administrativa desarrazoada, incapaz de passar com 
sucesso pelo crivo da razoabilidade, não pode estar conforme a finalidade da lei. 
Donde se padecer deste defeito, será, necessariamente, violadora do princípio da 
finalidade. Isto equivale dizer que será ilegítima, conforme visto, pois a finalidade 
integra a própria lei. Em consequência, será anulável pelo poder judiciário, a 
instâncias do interessado. (MELLO, 2014). 
 
Por sua vez, o princípio da proporcionalidade busca aferir a justa medida da atuação 
administrativa perante uma situação concreta, exigindo, pois, equilíbrio dos meios a serem 
utilizados pela administração, perante os fins que almeja alcançar (MAZZA, 2012). 
Na seara administrativa, enuncia Dirley da Cunha Júnior (2009, p. 65) que a 
proporcionalidade “[…] é um princípio constitucional que limita a atuação e a 
discricionariedade dos poderes públicos e, em especial, veda que a administração pública aja 
com excesso ou valendo-se de atos desvantajosos, desarrazoados e desproporcionais”. 
Entretanto, a bem da verdade, pouco importa se os princípios são analisados separada 
ou conjuntamente, pois, conforme observação de Marcelo Alexandrino e Vicente de Paulo, 
são esses princípios que irão orientar e autorizar o controle judicial dos atos administrativos 
discricionários, sendo o poder jurisdicional competente para aferir a legalidade desses atos: 
 
Seja como for, certo é que, no âmbito do direito administrativo, os princípios da 
razoabilidade e da proporcionalidade encontram aplicação especialmente no 
controle dos atos discricionários que impliquem restrição ou condicionamento aos 
direitos dos administrados ou imposição de sanções administrativas. Deve ser 
esclarecido desde logo que se trata de controle de legalidade ou legitimidade e não 
de controle de mérito, vale dizer, não se avaliam conveniência ou oportunidade 
administrativas do ato – o que implicaria, se fosse o caso, a sua revogação –, mas 
sim a sua validade. Sendo o ato ofensivo aos princípios da razoabilidade ou da 
proporcionalidade, será declarada a sua nulidade; o ato será anulado e não revogado. 
(ALEXANDRINO, 2012, p. 203) 
 
Deste modo, mostrou-se, principalmente, a fundamental importância da obediência e 
respeito aos princípios que regem a boa administração pública, sobretudo porque o 
administrador age em nome do interesse público, devendo pautar as suas ações no 
ordenamento jurídico pátrio, dos quais os princípios são pedra fundamental. 
 
 
24 
 
2.2 Relevância dos princípios constitucionais 
 
Com o descrédito do positivismo, tendo em vista que só as leis positivadas não eram 
suficientes para a resolução dos conflitos e dos problemas sociais, políticos e econômicos, 
surgiu o movimento neoconstitucionalista. Na verdade, foi a conversão para o juspublicismo e 
o advento do Estado Social que permitiu ganhar força, a ideia de que a Constituição não se 
resumia apenas ao seu texto, era corroborada por valores, mais amplos do que suas 
denominações comportavam, sendo essa carga axiológica expressada através dos princípios. 
Deste modo, no neoconstitucionalismo os princípios, enquanto valores, são o critério 
de aferição do conteúdo constitucional em sua dimensão normativa mais elevada. Vislumbra-
se o neoconstitucionalismo em três sentidos: metodológico, ideológico e teórico. O sentido 
metodológico cuida da questão moral atrelada à Constituição, o que legitima a aplicação dos 
princípios constitucionais. Já o ideológico defende o enlarguecimento da atuação dos poderes 
políticos do Estado, a fim de que ampliem e promovam os direitos fundamentais. Por fim, em 
seu sentido teórico, agrupa os dois postulados anteriores, defendendo maior liberdade para 
que o Estado promova direitos, partindo da suposição axiológica que passa a orbitar a 
Constituição, de entender o seu valor e não somente seu sentido (BONAVIDES, 2002). 
Destarte, é essa ressignificação do Direito Constitucional, em combate ao positivismo, 
baseado na interpretação e aplicação de princípios constitucionais com o fim de resolver 
questões de outros ramos do direito, que dá, sobremaneira, enfoque aos princípios. Dessa 
forma, o neoconstitucionalismo traz, à luz do Direito Constitucional, novas nuances com 
maior relevância aos princípios constitucionais, agora componentes primordiais das 
constituições; uma nova hermenêutica constitucional e a ponderação como técnica de 
aplicação; irradiação dos princípios a todo ordenamento jurídico; maior importância da 
atividade judicial; e melhor aceitação da relação entre direito e valores (BARROSO, 2007). 
O neoconstitucionalismo encara os princípios constitucionais, colocando-os como 
normas primordiais, sobretudo, em defesa das garantias fundamentais. Ademais, com a 
ascensão do paradigmático bem estar social no pós-guerra, os princípios presentes na 
Constituição deveriam ser interpretados com a finalidade de resolver conflitos segundo os 
seus valores, posto que o positivismo já não mais conseguia fundamentar nesse sentido e, 
portanto, não traduzia mais a realidade da ordem jurídico-constitucional. 
Nesta toada, temos a relevância dos princípios constitucionais, no tocante aos direitos 
25 
 
fundamentais, com o objeto de sedimentar a desmilitarização das polícias do Brasil. Desse 
modo, o enfrentamento do paradigma neoconstitucional se dá em razão da defesa das 
garantias fundamentais, onde os direitos dos agentes de segurança pública são desrespeitados. 
 
2.3 Extensão do princípio da eficiência 
 
Cabe destacar que, antes da Emenda Constitucional nº 19/1998, o princípio da 
eficiência não constava da redação original do texto constitucional, tendo sido incluído pela 
sobredita Emenda. Porém, o dito princípio já estava positivado em leis anteriores, sendo 
referenciado duas vezes na Constituição, no art. 74, inciso II; e no art. 144, § 7º, este que 
tratava especificamente da eficiência dos órgãos de segurança pública. Sua ideia, entretanto, já 
existia, só que como o denominado “princípioda boa administração”, como aponta Celso 
Antônio Bandeira de Mello (MELLO, 2015, p. 126): “O fato é que o princípio da eficiência 
não parece ser mais do que uma faceta de um princípio mais amplo já superiormente tratado, 
de há muito, no Direito italiano: o “princípio da boa administração”. 
As modificações sugeridas foram inspiradas em um valor-base: a eficiência. Uma das 
principais medidas da reforma foi a Emenda Constitucional nº 19/1998, que promoveu ampla 
transformação das regras existentes, alterando inúmeros dispositivos do art. 37 da 
Constituição e inserindo em seu caput o princípio da eficiência, como vetor jurídico de 
atuação do poder público (NOHARA, 2012, pp. 1-2). 
Os organismos internacionais de financiamento passaram, com a influência do 
neoliberalismo, a questionar o Estado de bem-estar social, pressionando países da América 
Latina, ainda em desenvolvimento, a incorporarem alterações consideradas modernizadoras 
em seus ordenamentos, em nome da globalização (NOHARA, 2012). 
No entanto, as propostas da reforma se chocavam com forças opostas. Na medida em 
que se pretendeu modificar o papel do Estado de prestador direto de serviços públicos, para 
mero gerenciador das atividades, que seriam gradativamente transferidas ao setor privado, 
através de delegação ou até privatização, os projetos reformistas se depararam com noções 
refratárias que reforçaram a imprescindibilidade de se prosseguir com um modelo de Estado 
prestador de serviços públicos, com o fito de evitar que ocorresse, com o desmonte 
burocrático, um retrocesso em direitos assegurados constitucionalmente (NOHARA, 2012). 
26 
 
A sociedade brasileira há muito já desejava que o Estado fosse mais eficiente, ou seja, 
que sua administração e os serviços públicos fossem de melhor qualidade. A insatisfação 
deve-se, principalmente, ao mau uso dos recursos públicos e aos altos níveis de corrupção, 
potencializado pela carga tributária elevada. Surgiu uma crise ética, com a falta de 
confiabilidade nas gestões públicas, decorrente do não atendimento dos anseios sociais. Então, 
ingressa-se no modelo de administração gerencial, buscando essencialmente a eficiência dos 
órgãos de estado. 
Por conseguinte, a Emenda Constitucional nº 19/1998, ao adicionar a eficiência junto 
aos demais princípios que regem a administração pública, positivou a sua obrigatoriedade, 
elevando-a ao status de mandamento constitucional, com o objetivo de garantir a sua 
observância, bem assim assegurar o tão desejado desenvolvimento do desempenho da 
administração pública. 
 
2.4 Princípio da eficiência na atualidade 
 
A Constituição Federal de 1988, no caput do seu art. 37, elenca a eficiência como um 
dos princípios a ser seguido por toda a administração pública, de todos os poderes e entes 
federados. Deste modo, resta evidente a submissão dos órgãos de segurança pública, 
outrossim, ao referido princípio. 
A conceituação do que seja princípio é tarefa deveras dificultosa, dentro da pesquisa 
jurídica. Todavia, aceita-se que princípios são normas que ordenam a realização de algo 
dentro das possibilidades fáticas e jurídicas que melhor atendam seu fim. Por conseguinte, 
princípios são também aceitos como mandados de otimização, que se caracterizam pela 
possibilidade de serem satisfeitos em graus variados (ALEXY, 2008, pp. 90-91). 
O termo eficiência advém dos estudos de economia e, portanto, está associado à ideia 
de otimização de gastos frente aos benefícios. Contudo, no direito, não se pode resumi-la 
somente à economicidade dos recursos públicos, em especial àqueles destinados aos serviços 
que são (e devem) ser prestados diretamente pelo Estado. Desta sorte, ainda há uma certa 
confusão quanto a seu conceito, o que se percebe da forma como a doutrina e os legisladores 
usam o vocábulo, dando conotações, às vezes, completamente distintas (SANTANA, 2014). 
Assinala-se que a eficiência está intrinsecamente ligada à legalidade, pois sua busca 
27 
 
jamais poderia afastar aquele que é o dever administrativo primordial (MELLO, 2015). 
Contudo, o princípio da eficiência cobra que a função administrativa seja exercida com 
presteza, perfeição e rendimento funcional. Como mais moderno princípio da atividade 
administrativa, já não se contenta que esta seja exercida apenas com legalidade, exige 
resultados positivos para o serviço público e, principalmente, satisfatório atendimento das 
necessidades dos administrados (MEIRELLES, 2002). 
Os administrativistas concebem três definições para a eficiência: eficiência 
propriamente dita, eficácia e efetividade, conforme ensina José dos Santos Carvalho Filho. A 
eficiência transmite sentido relacionado ao modo pelo qual se processa o desempenho da 
atividade administrativa; a ideia diz respeito, portanto, à conduta dos agentes. Por outro lado, 
eficácia tem relação com os meios e instrumentos empregados pelos agentes no exercício de 
seus misteres na administração; o sentido aqui é tipicamente instrumental. Finalmente, a 
efetividade é voltada para os resultados obtidos com as ações administrativas; sobreleva nesse 
aspecto a positividade dos objetivos (CARVALHO FILHO, 2016). 
Sob esse olhar, far-se-á a análise da ineficiência dos órgãos de segurança pública 
militarizados, na acepção da efetividade, tendo como enfoque os resultados obtidos, os quais 
poderiam ser bem melhores, caso houvesse uma desmilitarização. 
 
2.5 Paralelo entre eficiência e efetividade 
 
Sobre eficiência e efetividade, trabalha-se o conceito de eficiência como sinônimo de 
bom resultado. Os neoliberais defendem a ideia de que o Estado possui como objeto, apenas 
regular o serviço público. Noutra perspectiva, os publicistas defendem o Estado Social, 
defendendo que este deve ser o prestador direto dos serviços públicos. 
No tocante ao serviço de segurança pública, tem-se que é atividade típica prestada 
diretamente pelo Estado, pois assim dispõe o ordenamento jurídico pátrio. Deste modo, a 
atividade dos órgãos de segurança pública submete-se ao princípio da eficiência, assim como 
toda atividade administrativa. Ademais, a Lei nº 11.079/2004, art. 4º, inciso III, mesmo 
tratando de parcerias público-privadas, positivou que o poder de polícia é indelegável. 
Assim sendo, os inúmeros dispositivos constitucionais atribuem ao Estado não 
somente o papel de prestador de serviços públicos, mas de participante ativo da concretização 
28 
 
de direitos sociais. O autor Ricardo Marcondes Martins (2015, p. 456) enuncia que “os 
neoliberais defendem que o Estado deva apenas regular o exercício das atividades, 
aniquilando o Estado-Prestador de serviços públicos, restando para este apenas a disciplina, 
controle e fomento da iniciativa privada, em busca de uma suposta eficiência existente 
somente na prestação do serviço por um particular” (MARTINS, 2015, p. 456). 
Destarte, pressupõe-se que essa defesa não é feita em termos científicos, mas em 
termos advocatícios: a teoria da regulação é propagada no exercício da advocacia das 
empresas multinacionais, interessadas nos lucros proporcionados pela exploração das 
atividades estatais. Tudo que foi escrito sobre a teoria do Estado-Regulador, do ponto de vista 
científico, deve ser desprezado: trata-se de mero exercício de advocacia. (MARTINS, 2015). 
O paradigma defendido pelos neoliberais é a ideia do serviço ser mais eficiente: ter 
melhor resultado, se prestado pela iniciativa privada. Os publicistas, por sua vez, tendem a 
repelir as avaliações da eficiência como resultado. Desta forma, estuda-se a possibilidade de 
manter os órgãos de segurança pública eficientes, com resultados positivos, sendo este um 
serviço público tipicamente prestado pelo Estado. 
Assim, examina-se não pelo crivo da eficiência defendida pelos neoliberais, qual seja, 
a acepção do resultado, mas partindo do pressuposto que o serviço público de segurança 
continua sendo prestado pelo Estado. Dessa forma, a tarefaé demonstrar que o serviço 
público pode ser eficiente, do ponto de vista neoliberal, se for prestado pelo estado, pois um 
dos pontos que entravam a obtenção de melhores resultados não é sua prestação de forma 
pública, mas sim a militarização da segurança pública. Por isso, analisa-se a desmilitarização 
como forma de garantir melhores resultados, tornando o serviço mais eficiente. 
A Constituição Federal de 1988, no seu art. 144, caput, trata a segurança pública como 
dever do Estado, um direito e responsabilidade de todos, serviço essencial executado por 
órgãos permanentes, que objetiva preservar a ordem pública e a incolumidade (integridade) 
das pessoas. Desta forma, é a expressão do poder de polícia que mais limita os direitos 
individuais, porém, em benefício do interesse público. 
Conforme explanado, todos os poderes e entes federados devem obediência aos 
princípios constitucionais que regem a administração pública. Por conseguinte, inequívoca é a 
obrigatoriedade dos órgãos de segurança pública trabalharem conforme o princípio da 
eficiência. Tanto pela força normativa do princípio constitucional, quanto pela sua forte 
intervenção nos direitos individuais, a fim de assegurar a imperatividade do interesse público. 
29 
 
3 MILITARIZAÇÃO DO SERVIÇO DE SEGURANÇA PÚBLICA 
 
As polícias do Brasil são órgãos permanentes do Estado, que têm por objeto preservar 
a ordem pública, a incolumidade das pessoas e do patrimônio, realizar policiamento ostensivo 
preventivo, apurar a autoria e materialidade das infrações penais, ou seja, reprimir crimes. 
Entretanto, as polícias nada têm a ver com exércitos: como foi dito anteriormente, são 
instituições destinadas a garantir direitos e liberdades dos cidadãos, que estejam sendo 
violados ou na iminência de sê-lo, por meios pacíficos ou por uso comedido de força, 
associado à mediação de conflitos, nos marcos da legalidade e em estrita observância dos 
direitos humanos. Por isso, qualquer projeto consequente de reforma das polícias militares 
para transformar métodos de gestão e racionalizar o sistema operacional, tornando-o menos 
reativo e mais preventivo (fazendo-o apoiar-se no tripé diagnóstico-planejamento-avaliação), 
precisa começar advogando o rompimento do cordão umbilical com o Exército e a 
desmilitarização (SOARES, 2019, p. 37) 
 
3.1 Polícias e Bombeiros Militares: as Forças de Segurança do Estado 
 
Especificamente, conforme dispõe o art. 144 da Constituição, a polícia federal e as 
polícias civis estaduais, inclusive do Distrito Federal, são denominadas polícias judiciárias, a 
quem cabe a apuração da autoria e materialidade das infrações penais, exceto crimes militares. 
As polícias militares são incumbidas do policiamento ostensivo, ou seja, das atividades que 
garantam a preservação da ordem pública. Os corpos de bombeiros militares, além das 
atribuições definidas em lei específica, incumbem a execução de atividades de defesa civil. 
Historicamente, a polícia tem como marco a criação da polícia de Paris, em 1665, pelo 
Rei Luís XIV. Porém, sua estrutura moderna foi elaborada na Inglaterra, na primeira metade 
do século XIX, com a criação de uma força militar independente do exército, para reprimir as 
revoltas sociais daquela época. Destarte, a polícia foi se tornando parte do Estado Moderno. 
Antes da Constituição Federal de 1988, o texto Magno não tratava das polícias, as 
quais eram apenas apêndices do Estado. A sua estruturação sempre esteve ligada às forças 
armadas, em razão da responsabilidade pela segurança interna, conceito muito comum nos 
tempos ditatoriais do Estado Novo, bem como da ditadura militar. 
30 
 
Conforme o pacto federativo do Brasil, delineado na Constituição Federal, as polícias 
militares e os corpos de bombeiros militares, na condição de forças auxiliares e reservas do 
Exército, ficaram subordinados aos governadores dos Estados e do Distrito Federal. 
 
3.2 Defesa do Estado Nação e da Sociedade na Constituição Federal 
 
A defesa do Estado Nação é atribuição constitucional das Forças Armadas, 
constituídas pela Marinha, Exército e Aeronáutica, as quais são instituições nacionais 
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade 
suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes 
constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes poderes, da garantia da lei e da ordem. 
Assim prevê a Constituição Federal, no seu art. 142, caput, sobre a defesa interna e externa. 
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela 
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com 
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da 
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, 
por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. (CF 1988). 
 
No tocante à defesa da sociedade, a Constituição Federal de 1988, no seu art. 144, 
reservou essa atividade às Polícias e aos Corpos de Bombeiros Militares, bem como às 
Guardas Municipais e aos Agentes de Trânsito, nos seus parágrafos, positivando que a 
segurança pública é dever do Estado, um direito e responsabilidade de todos, sendo exercida 
para a preservação da ordem pública e da integridade das pessoas e do patrimônio. 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, 
é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do 
patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - 
polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. VI - polícias 
penais federal, estaduais e distrital. 
(...) § 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e 
reserva do Exército subordinam-se, juntamente com as polícias civis e as polícias 
penais estaduais e distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Territórios. 
(...) § 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção 
de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. 
(...) § 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da 
incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas: 
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras 
atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana 
eficiente; e II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos 
31 
 
Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de 
trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei. (CF 1988). 
 
A polícia militar e o corpo de bombeiros militar, historicamente, são instituições 
vinculadas às forças armadas, como forças auxiliares e reservas do Exército. Na atualidade, é 
injustificada a manutenção destes órgãos de segurança pública, como sendo corporações 
regidas pelo obsoleto regime militarizado, posto tratarem diretamente da segurança de uma 
sociedade civil integrante do Estado democrático de direito, onde não se admite abusos. 
 
3.3 Desrespeito aos direitos humanos dos profissionais 
 
A princípio, cabe destacar que, para os agentes do Estado ofereçam segurança com 
eficiência, estes devem se sentir seguros, estando devidamente treinados e de posse de bons 
equipamentos e armamentos adequados. Nesta toada, para o Estado exigir tratamento urbano e 
respeito aos direitos e à dignidade da pessoa humana, por parte de seus agentes, deve também 
tratar esses profissionais com urbanidade, dignidade e o devido respeito, sobretudo com 
relação aos direitos desses agentes, trabalhadores da segurança pública. 
Ademais, são muitas as notícias de abuso de autoridade e assédio moral, sérias 
infringências aos direitos humanos dos profissionais militares, cometidospelos gestores do 
Estado, supostamente em nome deste, em prejuízo dos agentes policiais submetidos ao regime 
arcaico da segurança pública militarizada. 
No entanto, o abuso de poder é cometido contra todo e qualquer gênero, sobretudo 
contra as mulheres policiais, submetidas ao tratamento vexatório e desumano do regime 
militarizado. Numa análise superficial do problema, numa única reportagem, temos dois casos 
de sérias violações a preceitos fundamentais de direitos humanos. 
No primeiro caso noticiado, uma policial mulher, ocupante do posto de Tenente da 
Polícia Militar do Ceará (PMCE), foi presa no dia 28 de outubro de 2021, por abandono de 
posto de serviço, crime previsto no art. 195 do Código Penal Militar. A Tenente teria liberado 
os policiais que estavam na viatura sob o seu comando, para almoçar, saindo do local onde 
estava como supervisora da área, pelo Batalhão de Policiamento Turístico (BPTUR), para 
almoçar no quartel. A oficial precisou lavar o fardamento, uma vez que estava sujo de sangue 
de menstruação e, enquanto o uniforme secava, ela foi para a porta do quartel pegar uma 
https://www.metropoles.com/tag/menstruacao
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“quentinha” (marmita), à paisana. Um coronel flagrou a situação e conduziu a policial para a 
Coordenadoria de Polícia Judiciária Militar (CPJM), onde foi autuada em flagrante delito. 
Sem direito à ampla defesa e ao contraditório, preceitos insculpidos no texto constitucional e, 
mesmo diante do crime de menor potencial ofensivo, com pena detenção de 3 meses a 1 ano, a 
Tenente ficou presa durante esse mesmo dia, sendo solta apenas no dia seguinte, numa 
audiência de custódia na Justiça Militar Estadual. 
Decreto-Lei nº 1001/1969 – Código Penal Militar – Abandono de posto 
Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o pôsto ou lugar de serviço que lhe tenha 
sido designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
 
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (1948) 
Artigo 1 
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados 
de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de 
fraternidade. 
Artigo 2 
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades 
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, 
sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou 
social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 
Artigo 11 
1.Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido 
inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em 
julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias 
necessárias à sua defesa. 
 
No segundo caso, envolvendo também uma mulher policial, Tatiane Alves, ocupante 
da graduação de Soldado da Polícia Militar do Maranhão (PMMA), esta foi presa no dia 5 de 
setembro de 2021, por se recusar a fazer hora extra, uma vez que precisava amamentar o seu 
filho de apenas 2 anos. Tatiane, policial militar há 7 anos, trabalharia até as 20:00 horas. 
Entretanto, próximo ao horário do fim do expediente, ela foi ordenada a fazer hora extra. 
Como é mãe de uma criança de 2 anos, ela informou que não poderia trabalhar mais, pois 
precisava amamentar o filho. Na ocasião, Tatiane Alves foi informada que o policiamento 
seria estendido até o término do evento no qual trabalhava. Após ser detida, a Soldado Tatiane 
Alves denunciou o seu superior nas redes sociais. 
“A gente não sabia até que horário. Eu já estava sem condições físicas de 
permanecer, eu já estava cansada e não tinha tido nenhum tipo de alimentação. Eu 
estava com meu filho pequeno, que precisava de amamentação. Fui até o meu 
comandante imediato, expliquei a situação e, infelizmente, ele não me ouviu. 
Simplesmente, disse que, se eu não cumprisse a determinação dele, eu seria presa em 
http://metropoles.copm/tag/amamentacao
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flagrante por desobediência”. Tatiane Alves, Soldado da PMMA, 2021. 
(https://www.metropoles.com/brasil/tenente-e-presa-por-abandonar-posto-ao-lavar-
farda-suja-de-menstruacao). 
 
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (1948) 
Artigo 24 
Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das 
horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas. 
Artigo 25 
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as 
crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social. 
 
CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969) 
(PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA) 
Artigo 19 - Direitos da criança 
Toda criança terá direito às medidas de proteção que a sua condição de menor 
requer, por parte da sua família, da sociedade e do Estado. 
 
A tônica das violações aos direitos são rotineiras, no Brasil como um todo, tal como 
nos casos ora apresentados, onde homens e mulheres policiais são vítimas de violência física 
(com a supressão da liberdade) e psicológica, o que muitas vezes pode ensejar suicídios. 
No Brasil, o número de policiais que tiram a própria vida é maior que o número dos 
que morrem em serviço. Segundo o relatório anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 
divulgado em outubro de 2020, só em 2019, 65 policiais militares e 26 civis cometeram 
suicídio. Naquele mesmo ano, o número de PMs mortos em serviço foi de 56, contra 06 de 
policiais civis. O número de PMs mortos fora de serviço: 101 militares e 09 policiais civis. 
 
(https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2020/10/anuario-14-2020-v1-interativo.pdf) 
 
Contudo, numa rápida análise sobre o comparativo estatístico, com os números de 
suicídios entre policiais militares versus policiais civis, pode-se denotar uma elevada taxa 
entre os agentes policiais submetidos ao regime de trabalho militarizado. 
 
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3.4 Organização e ascensão na carreira militar 
 
A polícia militar e o corpo de bombeiros militar, órgãos subordinados aos respectivos 
Governadores dos Estados, são instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, 
tal qual como funciona nas Forças Armadas. Todas as corporações militares dos 26 Estados e 
do Distrito Federal possuem Estatutos e Códigos Disciplinares próprios, muito similares, 
dividindo a carreira em graduações para as praças e em postos para os oficiais, de acordo com 
a seguinte ordem crescente de hierarquia, no quadro de praças: soldado, cabo, terceiro-
sargento, segundo-sargento, primeiro-sargento, subtenente e aspirante-a-oficial, este último 
ocupando a graduação de praça especial, após a conclusão do curso de formação de oficiais 
(CFO). No quadro de oficiais, temos os seguintes postos: segundo-tenente, primeiro-tenente, 
capitão, major, tenente-coronel, coronel, subcomandante-geral e comandante-geral. 
No tocante à ascensão nas carreiras militares, tomando por base a realidade da Polícia 
Militar do Ceará (PMCE), tínhamos policiais militares que, até bem pouco tempo, passavam 
até 22 anos estacionados na mesma graduação inicial, qual seja, na condição de Soldado PM, 
numa carreira onde, quando contados 30 anos de efetivo serviço, o profissional se aposenta. 
No entanto, com os movimentos das associações de representação dos militares 
estaduais do Estado do Ceará, essa realidade foi atenuada, porém, ainda está muito longe do 
ideal, em se tratando da valorização, motivação e respeito aos agentes que tratam diretamente 
da proteção da sociedade civil, diuturnamente, mesmo com o risco da própria vida. 
Na atualidade, mesmo com os chamados “avanços” promovidos pelo Governo, em 
face do atendimento parcial das pautas das sobreditas associações de representação, o agente 
policial militar (PM) ou bombeiro militar (BM), passa, no mínimo, 7 anos na graduação 
inicial de Soldado PM ou BM, para perceber uma humilde promoção à graduação de Cabo. 
A promoção nas carreirasmilitares do Estado do Ceará tem como fundamento a Lei 
Estadual nº 15.797, de 25/05/2015, ocorrendo nas seguintes modalidades: antiguidade; 
merecimento; post mortem; bravura; e requerida. Por antiguidade, baseia-se na precedência 
hierárquica do militar estadual sobre os demais de igual posto ou graduação, conforme a Lei. 
A promoção por merecimento tem por fundamento os valores funcionais agregados 
pelo militar estadual, no decorrer da carreira e que o destaquem na atuação funcional, 
preferencialmente no posto ou graduação ocupados por ocasião da disputa pela promoção, 
sendo essa aferição promovida por comissão específica de promoção, nos termos da Lei. 
35 
 
A promoção post mortem ocorre quando o militar falecer em razão do desempenho da 
atividade militar estadual, ou em acidente em serviço ou em consequência de doença, moléstia 
ou enfermidade que nele tenha sua causa imediata, conforme aferição de comissão de 
meritoriedade designada pelo Comandante-Geral, ou, ainda, quando o militar estadual fazia 
jus à promoção em vida, não sendo esta efetivada a tempo, em razão do seu óbito. 
A promoção por bravura, a ser aferida por comissão de meritoriedade designada pelo 
Comandante-Geral da respectiva corporação, resulta de ato, ou atos, não comuns de coragem 
e audácia, que, ultrapassando os limites normais do cumprimento do dever, representem feitos 
de notório mérito, em operação ou ação inerente à missão institucional da corporação militar 
estadual, tanto em serviço quanto de folga. 
Por fim, a promoção requerida alcançará o militar estadual que completar 30 anos de 
contribuição, sendo, no mínimo, 25 anos de contribuição como militar à previdência, e 
consistirá na sua elevação, a pedido, ao grau imediatamente superior. 
Cabe ressaltar que, para que o militar estadual consiga atingir a tão sonhada promoção, 
é uma verdadeira peregrinação. São muitos impedimentos, criados pela própria Lei, sobretudo 
com relação ao percentual máximo de apenas 60% dos habilitados, bem como a cláusula de 
barreira que determina a manutenção de 40% do efetivo da base na graduação de Soldado. 
Lei nº 15.797, de 25/05/2015 – Dispõe sobre as promoções dos militares estaduais. 
Art. 9º Elaborado o Quadro de Acesso Geral, serão promovidos 60% (sessenta por 
cento) dos militares incluídos na relação de habilitados para graduação ou posto, dos 
quais metade ascenderá por antiguidade e a outra metade por merecimento. 
Parágrafo único. Na apuração do quantitativo de promoções, nos termos do caput, 
proceder-se-á ao arredondamento para o número inteiro seguinte, sempre que da 
incidência do percentual previsto resultar número fracionado. 
Art. 11. As promoções de que trata esta Lei, à exceção dos postos de Coronel e 
Major QOA, independerão de vagas e ocorrerão com observância ao percentual 
previsto no caput do art. 9º. 
§ 1º Nas promoções da praça Soldado, deverá ser observado o número mínimo de 
permanência na citada graduação de 40% (quarenta por cento) do efetivo de Soldado 
existente na Corporação respectiva. (https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao-
do-ceara/titulos-honorificos/item/3545-lei-n-15-797-de-25-05-15-republicado-por-
incorrecao-no-d-o-de-28-05-15). 
 
Deste modo, a atual legislação do Estado do Ceará impõe barreiras para o 
desenvolvimento do policial militar ou bombeiro militar, em suas respectivas carreiras, 
causando falta de perspectiva e desmotivação, o que enseja prejuízos no seu desempenho, 
refletindo nos resultados obtidos, comprometendo o princípio da eficiência constitucional, por 
conta do regime de trabalho militarizado a que é submetido o agente de segurança pública. 
36 
 
3.5 Jornada de trabalho dos servidores militares 
 
Sobre a jornada de trabalho dos profissionais da segurança pública, submetidos ao 
regime loboral militarizado, temos verdadeiras aberrações, especificamente quando se trata do 
policiamento realizado no interior do Estado do Ceará. 
Existem destacamentos da Polícia Militar do Ceará (PMCE), no interior do Estado, 
onde até bem pouco tempo, os profissionais trabalhavam até 96 horas semanais, numa escala 
de 2 dias de trabalho por 2 dias de folga, ou seja, tralhava-se 48 horas ininterruptas, com 48 
horas de folga, retornando na mesma semana para outra jornada de 48 horas, totalizando 96 
horas por semana, sem direito ao pagamento de horas extras, por falta de previsão legal, tendo 
em vista que o regime de trabalho militarizado veda o pagamento de horas extras. 
Ademais, na Constituição Federal de 1988, os policiais militares e os bombeiros 
militares pertencem a uma classe diferenciada de agentes do Estado, possuindo tratamento 
especial, ficando disciplinado que a Lei estadual de cada ente federado estabelecerá direitos, 
deveres, remuneração, prerrogativas e outras situações especiais dos militares estaduais. 
Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, 
instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. 
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, 
além do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º, do art. 40, § 9º, e 
do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as matérias do 
art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos 
governadores. 
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela 
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com 
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da 
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, 
por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. 
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, 
além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: 
X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, a 
estabilidade e outras condições de transferência do militar para a inatividade, os 
direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras situações especiais dos 
militares, consideradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas 
cumpridas por força de compromissos internacionais e de guerra. (CF 1988). 
 
Contudo, diante da omissão legislativa sobre a carga horária, bem como da 
justificativa legal de dedicação integral à atividade militar estadual, os gestores estabelecem a 
escala de serviço dos profissionais militares estaduais, fazendo uso do poder discricionário. 
São adotadas diferentes escalas de serviço, sendo cada jornada de trabalho definida de acordo 
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com o binômio: necessidade do serviço público e efetivo disponível. 
Lei nº 13.729, de 11/01/2006 - Estatuto dos Militares Estaduais do Ceará. 
Art. 217. Os militares estaduais são submetidos a regime de tempo integral de 
serviço, inerente à natureza da atividade militar estadual, inteiramente devotada às 
finalidades e missões fundamentais das Corporações Militares estaduais, sendo 
compensados através de sua remuneração normal. 
§ 1º. Em períodos de normalidade da vida social, em que não haja necessidade 
específica de atuação dos militares em missões de mais demorada duração e de mais 
denso emprego, os militares estaduais observarão a escala normal de serviço, 
alternada com períodos de folga, estabelecida pelo Comando-Geral. 
(https://www2.al.ce.gov.br/legislativo/legislacao5/leis2006/13729.htm) 
 
Destarte, conforme exaustivamente demonstrado, nem mesmo o Estatuto dos Militares 
Estaduais do Estado do Ceará, trata da definição da carga horária dos agentes da segurança 
pública, submetidos ao regime de trabalho militarizado. Os legisladores, corroborando com o 
projeto de lei elaborado pela gestão superior dos militares do Ceará, omitiram a carga horária 
de caso pensado, para submeter

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