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1 O COLORIDO ARTESANAL DO AÇAFRÃO: UM ESTUDO EM FIBRAS DE POLIÉSTER, VISCOSE E ALGODÃO Creusa Evangelista Mauricio Barbosa1 Maria da Conceição Gomes Valle1 Fernanda Pereira de Melo2 1 INTRODUÇÃO A natureza nos oferece inúmeros recursos e possibilidades para colorirmos a vida e torná-la melhor e interessante, para isto basta que nos apropriemos de técnicas e conhecimentos específicos, para explorar o que está ao nosso alcance. Podem-se obter cores e nuances em flores, frutos, ervas, arbustos, raízes, etc. Visando ampliar o conhecimento sobre a obtenção de corantes e o tingimento de forma artesanal, foi testada a aplicação do corante obtido de modo artesanal de açafrão em fibras de algodão, poliéster e raiom. Desde a Antiguidade, a utilização das tinturas incluía o uso de mordentes, que são substâncias químicas, tiradas em sua maioria de metais, usadas para fixar as cores e para a obtenção de certas nuances a partir de um único corante. As técnicas de aplicação dos mordentes constituíam segredo profissional e eram transmitidas de pai para filho. Com o passar do tempo, o número de cores naturais usadas em tingimentos de fios e tecidos foi aumentando. Se 16 eram o máximo de cores usadas na Idade Média, no século XVII o número de tons utilizados pela famosa Manufatura dos Gobelins, em Paris, variava entre 80 e 120. No século seguinte, eram 30 mil as nuances originais de 36 tons. O desenvolvimento da indústria têxtil no decorrer dos séculos XVIII e XIX foi bastante acentuado, e ela se manteve sempre perseverante ao uso de cores vegetais (BUENO, 2007). Hoje, os corantes químicos surgidos no fim do século XIX abastecem o mercado mundial. Artistas e artesãos têxteis são os únicos que ainda utilizam as tinturas vegetais, por nuances únicas e as gamas de cores infinitas que elas permitem. Esta pesquisa teve por finalidade estudar as propriedades de tingimento e a solidez do corante obtido do açafrão (zyngiberaceae), extraído de modo artesanal, em fibras de algodão, poliéster e raiom. 1 Docente da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Departamento de Economia Doméstica. creusacacatua@yahoo.com.br , valle@ufrrj.br. 2 Discente do Curso de Economia Doméstica da UFRRJ. nandapereira@yahoo.com.br . 2 2 METODOLOGIA Para esta pesquisa foi realizado um trabalho prático executado em etapas a seguir detalhadas e um trabalho de observação. O estudo foi desenvolvido em cinco etapas: 1ª Etapa – extração do corante. O corante foi extraído por infusão a 100%, o método utilizado baseia- se na técnica descrita por Delazei (O Mundo do Artesanato, sd). 2ª Etapa – Limpeza do tecido. Antes do experimento os tecidos foram pesados e lavados para retirar gomas, sujidades ou qualquer substância que viesse interferir no resultado final. 3ª Etapa – preparo para a tintura. Antes da imersão no banho de tingimento os tecidos foram tratados com um mordente. Visando obter o máximo de coloração, as amostras foram preparadas para tintura, sendo imersas em uma solução de Alúmen e Bicarbonato de Sódio, na proporção indicada por DEAN (1998) (25g de Alúmen, 6g de bicarbonato para 100g de tecido). 4ª Etapa – Aplicação do corante. A tintura foi aplicada em amostras de tecido fabricado com fibras 100% Poliéster, Raiom e Algodão, com 20cm de urdimento por 18cm de trama. 5ª Etapa – Teste de resistência à luz solar. As amostras foram expostas à luz solar. Após a imersão dos tecidos, na solução mordente, as amostras foram enxaguadas em água corrente e mergulhadas no banho de tintura, permanecendo sob fervura por aproximadamente uma hora. A formulação do banho de tintura, na proporção 100% de corante para tecido, foi feita colocando-se o açafrão, adquirido no comércio próximo, distribuído em porções, previamente calculadas e acondicionadas em saquinhos de tecido leve, tipo malha de algodão, em água para ferver. O açafrão precisa ferver por uma hora nos saquinhos imersos em água. O líquido contendo o açafrão deve ser agitado leve e constantemente, para que se possa obter maior quantidade de corante no momento da extração da tinta. A utilização de saquinhos de tecido protege contra o acúmulo do pó sobre as amostras que favorece o aparecimento de áreas mais escuras. No processo de tingimento, as amostras, após permanecerem imersas na solução corante, durante o tempo estipulado, foram levadas e colocadas para secar em temperatura ambiente. Para o teste de resistência à luz solar, as amostras foram expostas à luz do sol, tendo apenas uma janela como abertura para receber a luz. 3 RESULTADOS E DISCUSÃO 3 Em estudos realizados por Santos e Rodrigues (2000), foi descrito que o açafrão apresentou alta afinidade com as fibras de algodão, seda e lã. Resultados semelhantes foram obtidos com açafrão neste experimento. O corante de açafrão demonstrou maior afinidade com a fibra de algodão, apresentando boa homogeneização e alta intensidade de cor, o tom alcançado foi o amarelo ouro, o poliéster apresentou coloração semelhante. Já o raiom ficou ligeiramente mais claro. Embora, seja sabido que tecidos de poliéster não devem ser tingidos, pois são afetados pela ação da temperatura, resolveu-se testar devido aos baixos resultados de absorção dos corantes comerciais. As três fibras apresentaram cores fortes. No algodão e no raiom as cores se apresentaram com boa igualização, já nas amostras de poliéster as cores são intensas, porém, com má igualização. Apesar da alta afinidade do corante nas fibras testadas, o teste de resistência à luz solar apresentou resultados não esperados, pois as amostras apresentaram alto desbotamento, indicando a necessidade de se usar outros mordentes que resultem em tinturas resistentes à lavagem e à luz solar. Bueno (2007) indica que o sulfato de cobre tem esta propriedade. 4 CONCLUSÕES A utilização do corante de açafrão de forma artesanal apresentou resultados satisfatórios, tanto na obtenção do corante quanto no processo de tingimento apresentando coloração intensa e boa igualização nas fibras celulósicas. Concluímos que o corante de açafrão necessita de outros mordentes de modo a se reduzir o alto desbotamento apresentado pelo mordente à base de alumén e bicarbonato de sódio. Acredita-se que a utilização de mordentes à base de sulfato de cobre possa ser eficiente. REFERÊNCIAS DEAN, J. Cómo hacer y utilizar tintes naturales. Madri: Celeste Ediciones, 1998. BUENO, P. D. Tecidos: história, tramas tipos e usos. São Paulo: SENAC, 2007. DELAZEI, J. J. O mundo do artesanato. Rio Grande do Sul: Edelbra, sd. P. 52-95. 4 SANTOS, J. C. O.; RODRIGUES, W. L. F. Estudo das Propriedades de Tingimento e a Solidez de Corantes Extraídos do Açafrão e do Urucum em Fibras de Lã, Seda e Algodão. In: I Simpósio Internacional de Engenharia Têxtil. Natal, 2000.
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