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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ESTRUTURAL E CONSTRUÇÃO CIVIL CURSO DE ENGENHARIA CIVIL LUIZ GONZAGA DE SOUSA CONGUÊ APLICAÇÃO DO PROGRAMA PEISE PARA A AVALIAÇÃO DO EFE ITO TSCHEBOTARIOFF FORTALEZA 2011 ii LUIZ GONZAGA DE SOUSA CONGUÊ APLICAÇÃO DO PROGRAMA PEISE PARA A AVALIAÇÃO DO EFEITO TSCHEBOTARIOFF Monografia submetida à Coordenação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil, em novembro de 2011. Orientador: Prof. Dr. Joaquim Eduardo Mota FORTALEZA 2011 ��������������������������� ����������� ���� ��� ��� ��� ���������������� �������� � �� ��� �� � �������� ����� �� � ���� �� ��� ��� �� ������ ��������� �������� � !�"��!����� �#����$�%&� ���������������'��� � �&���������� ��������() �����* �� �� �))�+� � !�"��!����� �#�����������$�,�-.//$��-�)$�0� �$������$�� ��$�1�2.��'$��3������) ��4���������5�,��� � �� ��� �� � �������� ������ � ���� �� ������ ���� &�� �' � ��� �(�� �*�� ��(� �� ����� ����� ������� � ���������� �(�� �*�� ��� � ������ �� !���-.//$�6� � ����0����)$���$�7��8� '�(�������3� �$�� � �/$(� ����$�-$��� ����������9 � �� ���$�2$�#�����'�� �$��$��: ���$�� � � � � � � � � � ������-.� iv Dedico esta monografia aos meus pais, Sebastião de Souza Conguê e Maria da Conceição de Sousa Conguê. v AGRADECIMENTOS Os agradecimentos são em primeiro lugar a Deus, que permitiu e me deu disposição para terminar este curso e fazer o coroamento do mesmo com a elaboração desta monografia. Aos meus pais, Sr. Sebastião de Souza Conguê e a Sr.ª Maria da Conceição de Sousa Conguê, que mesmo não estando presentes no dia a dia da produção da monografia, me deram apoio nos momentos mais complicados. Aos Professores Joaquim Eduardo Mota e Magnólia Maria Campêlo Mota, o primeiro na condição de orientador da monografia e a Professora Magnólia pela assistência quando necessária, e também por compor a banca examinadora juntamente com o Professor Francisco Chagas da Silva Filho do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará. Agradeço ainda, a todos meus amigos que estiverem próximos a mim neste período de conclusão do curso. Quero enfatizar que eles foram pessoas fundamentais na produção deste trabalho com diálogos motivadores e construtivos. Não entrarei no mérito de agradecer nominalmente cada um deles, porque correria o risco de deixar alguém preterido. No mais, também concedo meus agradecimentos a todos os docentes da Universidade Federal do Ceará que foram meus professores nestes cinco anos e todas aquelas pessoas que contribuíram de forma direta ou indireta para a obtenção do título de Engenheiro Civil. vi "Uma pessoa inteligente resolve um problema, um sábio o previne." Albert Einstein vii RESUMO Atualmente as fundações profundas do tipo estacas tem sido utilizadas em escala aumentada nas mais diversas situações, logo, a previsão do desempenho das mesmas em condições adversas deve ser realizada, justificando dessa forma, uma modelagem adequada conforme a situação. Uma variável que deve ser sempre considerada para o dimensionamento destes elementos estruturais é a interação solo-estrutura (ISE), que se trata de um item difícil de ser definido e mais ainda de ser explicado de forma concisa. Sob condições específicas de carregamento e imersas em solos moles, as estacas podem sofrer uma ação solicitante transversal proveniente da tendência de deslocamento do solo muito deformável no qual está inserida. Este fenômeno recebe o nome de Efeito Tschebotarioff, devendo ser considerado para o dimensionamento nas condições supracitadas, uma vez que a literatura registra episódios de estruturas que entraram em colapso total ou parcial devido a esta situação particular de interação solo-estrutura. Visando uma modelagem inovadora para a interação solo-estrutura, Mota (2009), desenvolveu, em seu doutorado, o código computacional PEISE (Pórtico Espacial com Interação Solo-Estrutura), capaz de considerar a superestrutura e infraestrutura como um todo sem abrir mão da interação solo-estrutura. Esta monografia é desenvolvida no contexto de verificar a capacidade do PEISE para a modelagem de situações nas quais pode ocorrer o Efeito Tschebotarioff. Palavras-chaves: Estacas,Interação solo-estrutura, Solos moles, Efeito Tschebotarioff, PEISE. viii LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 - Ilustração que mostra a situação típica de ocorrência do Efeito Tschebotarioff. .. 2 Figura 2.1 - Outras situações do Efeito Tschebotarioff. Fonte: VELLOSO, 2010. ................. 11 Figura 2.2 - OAE com fundações em estaca raiz na obra da Ferrovia Transnordestina (Serra Talhada – PE) com aterro a ser executado. .............................................................................. 12 Figura 2.3 - Modelagem de uma estaca usada por Souza (2003). ............................................ 14 Figura 3.1 - Modelo de equilíbrio da estrutura e maciço de solos (AOKI, 2004) apud (MOTA, 2009). ........................................................................................................................................ 18 Figura 3.2 - Deslocamentos de um elemento de barra nos sistemas global e local (MOTA, 2009). ........................................................................................................................................ 18 Figura 3.3 - Fluxograma de alimentação do sistema para a análise da interação solo-estrutura. .................................................................................................................................................. 19 Figura 3.4 - Procedimento de Steinbrenner (1934) para solos estratificados. (Iwamoto, 2000) apud Mota (2009). .................................................................................................................... 23 Figura 3.5 - Discretização da força unitária nos nós da estaca. (MOTA, 2009). ..................... 24 Figura 3.6 - Esquema de transferência de carga da estaca para o solo. (CINTRA &AOKI, 2010). ........................................................................................................................................ 25 Figura 4.1 -Propostas de modelagem para esforços nas estacas segundo Tschebotarioff. Fonte: VELLOSO & LOPES, 2010. .................................................................................................... 28 Figura 4.2 - Modelo para solução analítica das solicitações transversais sobre estacas imersas em solos moles. ........................................................................................................................ 29 Figura 5.1–Corte esquemático da geometria do exemplo 1 para a consideração do EfeitoTschebotarioff. Cotas em metros. ................................................................................... 34 Figura 5.2 - Representação da vista em planta com a disposição das estacas. ......................... 34 Figura 5.3 - Modelagem proposta para análise do PEISE. Cotas em metros. .......................... 35 Figura 5.4 - Diagramas de momento fletor, esforço cortante e deformada da estaca de acordo com a solução analítica proposta (da esquerda para a direita). ................................................ 36 Figura 5.5 - Estaqueamento gerado pelo G-INFRA em perspectiva. ....................................... 39 Figura 5.6 - Modelo de análise no PEISE do exemplo 2. Cotas em metros. ............................ 41 Figura 5.7 - Vista em planta do estaqueamento do exemplo 2 com a numeraçãodas estacas. 42 Figura 5.8 - Exemplo 2 em perspectiva com enumeração dos nós da estaca principal. ........... 43 Figura 5.9 - Gráfico Nós da estaca X Deslocamentos dos nós para as soluções analítica e do PEISE. ...................................................................................................................................... 44 Figura 5.10 - Maciço de solo usado para a consideração de estacas auxiliares com 8 metros de comprimento. Cotas em metros. ............................................................................................... 46 ix LISTA DE TABELAS Tabela 5.1 - Módulo de Elasticidade (E) segundo Bowles (1977). (Fonte: FILHO, 2008). .... 31 Tabela 5.2 - Valores para o Coeficiente de Poisson (µ) segundo Bowles (1977). (Fonte: FILHO, 2008). .......................................................................................................................... 31 Tabela 5.3 - Resultados obtidos com a solução analítica de acordo com a modelagem proposta (l = 7m). .................................................................................................................................... 36 Tabela 5.4 - Resultados obtidos com a solução analítica de acordo com a modelagem proposta (l = 4m). .................................................................................................................................... 37 Tabela 5.5 - Valores de forças dissipadas em kN para o solo pelo fuste de cinco estacas auxiliares. .................................................................................................................................. 43 Tabela 5.6 - Comparativo entre as soluções analíticas e do PEISE em termos de momentos fletores e deslocamentos transversais da estaca principal. ....................................................... 44 x SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1 1.1 Justificativa .................................................................................................................. 2 1.2 Hipótese ....................................................................................................................... 3 1.3 Objetivos ...................................................................................................................... 3 1.3.1 Objetivo geral ..................................................................................................... 3 1.3.2 Objetivos específicos .......................................................................................... 3 1.4 Metodologia ................................................................................................................. 4 1.5 Estrutura da Monografia .............................................................................................. 4 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 6 3 MODELAGEM DO PROBLEMA ................................................................................... 17 3.1 Geometria do modelo ................................................................................................. 19 3.1.1 G-SUPER ......................................................................................................... 19 3.1.2 G-INFRA .......................................................................................................... 20 3.2 Matriz de flexibilidade ............................................................................................... 20 3.2.1 MINDLIN ......................................................................................................... 21 3.3 Interação Solo-Estrutura (ISE) ................................................................................... 23 3.3.1 PEISE ............................................................................................................... 25 4 SOLUÇÃO ANALÍTICA DO PROBLEMA ................................................................... 27 4.1 Carregamento ............................................................................................................. 27 4.2 Solução ....................................................................................................................... 29 5 EXEMPLOS ANALISADOS NO PEISE ........................................................................ 31 5.1 Exemplo 1 .................................................................................................................. 32 5.1.1 Solução Analítica .............................................................................................. 35 5.1.2 Solução do PEISE ............................................................................................. 38 5.2 Exemplo 2 .................................................................................................................. 40 5.2.1 Solução Analítica .............................................................................................. 41 5.2.2 Solução do PEISE ............................................................................................. 42 5.2.3 Considerações da modelagem .......................................................................... 45 6 CONCLUSÃO .................................................................................................................. 47 6.1 Comentários ............................................................................................................... 47 6.2 Sugestões ................................................................................................................... 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 50 ANEXO A – Equações de Mindlin (1936) ............................................................................... 51 1 1 INTRODUÇÃO Qualquer conjunto estrutural necessita de elementos com a função de transmitir as cargas para o solo de maneira segura. Estes elementos são as fundações, que podem ser: diretas (superficiais) ou profundas, que são os termos usados frequentemente na literatura da engenharia estrutural/geotécnica. A prática em fundações profundas tem mostrado, ao longo dos anos, que sempre pode haver problemas que surpreendem a comunidade de engenheiros civis projetistas; na maioria das vezes o fator que pode levar a uma análise ou modelo equivocado, pode ser o não entendimento da situação e do assunto, acarretando um modelo não satisfatório do ponto de vista de desempenho, ou ainda mesmo por falta de dados coerentes que são decisivos para uma análise de qualidade e escolha da solução mais adequada. Estacas cravadas em maciços de solos moles, ou mesmo naqueles que possuírem solo de natureza estratificada, sendo pelo menos uma camada constituída por um solo com características mais deformáveis, podem apresentar um comportamento especialmente particular sob a ação de um carregamento assimétrico. Uma vez solicitado, o solo como outro material qualquer, tente a deformar-se. Em consequência da deformação, sobretudo daquelas camadas mais deformáveis, o solo tende a provocar um deslocamento de sua massa, logo as estacas podem funcionar como um empecilho ao deslocamento dessa massa de solo quando comprimida, em consequência submeterá as estacas a um carregamento transversal em profundidade. É importante entender que esse tipo de situação é usual quando o carregamento é assimétrico além do solo possuir propriedades físicas que o caracterizam como um material muito deformável. Visto que é conhecida a ação de tais esforços nestes elementos estruturais, deve-se levá-los em consideração quando do dimensionamento dos mesmos, de forma diferente do que acontece usualmente na prática: considerando apenas forças axiais para o dimensionamento de estacas.A referida problemática foi estudada de forma minuciosa, pela primeira vez, por Tschebotarioff, em 1962, devido a este fato, este fenômeno ficou conhecido, no meio geotécnico, como o efeito Tschebotarioff. A ilustração que segue, mostra um esquema que representa justamente a ideia de Tschebotarioff: 2 Figura 1.1 - Ilustração que mostra a situação típica de ocorrência do Efeito Tschebotarioff. 1.1 Justificativa Devidos aos avanços tecnológicos das últimas décadas, tornou-se cada vez mais fácil usar os recursos computacionais para auxiliar a resolução de problemas, e mais particularmente no caso das engenharias, modelar o comportamento dos diversos sistemas estruturais existentes de um modo geral. Para o caso do presente estudo, e de posse de um programa computacional capaz de considerar a interação solo-estrutura (ISE), como é o caso do PEISE, a proposta de validar o desempenho do mesmo para um caso de solicitação específica, é o motivo fundamental que norteia e justifica plausivelmente o desenvolvimento desta monografia. 3 1.2 Hipótese Como o programa PEISE é concebido para representar o comportamento elástico de um maciço de solo estratificado quando submetido a ações verticais e horizontais transmitidas por estacas, acredita-se que o mesmo seja capaz de avaliar o comportamento de estacas submetidas a forças horizontais provenientes da aplicação de sobrecargas que tendem a deslocar maciços de solos moles. Em outras palavras, a hipótese é a de que o programa PEISE possa ser utilizado para avaliar o efeito Tschebotarioff. 1.3 Objetivos Os objetivos desta monografia são subdivididos em Objetivo Geral e Objetivos Específicos. 1.3.1 Objetivo geral O objetivo geral desta monografia é conhecer a capacidade que o programa PEISE tem em modelar o comportamento de estacas imersas em solos moles e submetidas a carregamentos transversais, a partir de um comparativo entre valores encontrados para esforços e deslocamentos segundo o PEISE, e os valores das soluções analíticas conhecidas na literatura. 1.3.2 Objetivos específicos As etapas necessárias para o desenvolvimento desta monografia foram definidas como objetivos específicos a serem realizados: Realizar uma modelagem da problemática abordada com o auxílio do PEISE. Obter valores para esforços e deslocamentos com o auxílio do PEISE e compará- los com os valores conhecidos na literatura. 4 1.4 Metodologia O presente trabalho tem fundamentação teórica em pesquisa bibliográfica. De posse deste estudo e com a visão da interação solo-estrutura, será feita uma modelagem para o caso específico de carregamento que estacas imersas em solos moles podem ser submetidas. A modelagem será feita com o auxílio do programa computacional PEISE (Pórtico Espacial com Interação Solo-Estrutura). Este programa foi desenvolvido pela Prof.ª Dr.ª Maria Magnólia Campelo Mota, vinculada ao Departamento de Engenharia Estrutural e Construção Civil – DEECC da UFC visando a obtenção do título de Doutora em Engenharia de estruturas no ano de 2009, na Escola de Engenharia de São Carlos. No código computacional desenvolvido, a estrutura é todo o conjunto formado pela superestrutura e pela estrutura de fundação. Na modelagem, é considerado o método dos elementos finitos e, na análise, é levada em conta a compatibilização geotécnica (MOTA, 2009, p.26). O PEISE foi implementado inicialmente para o projeto de estruturas de concreto de edifícios de múltiplos andares, com fundação profunda, levando-se em conta a interação solo-estrutura. Neste modelo o maciço de solo é representado por um modelo geotécnico proposto por Aoki e Lopes, em 1975 (MOTA, 2009). No entanto, não foi feita a verificação do desempenho do programa para uma situação de solicitações transversais nos elementos de fundações profundas provenientes de sobrecargas adversas. A sequência do desenvolvimento do trabalho é simples e prática. O PEISE faz apenas análise de tensões e deformações, para a obtenção da geometria do problema, inserção das características dos solos no qual a estrutura está imersa e outros cálculos matemáticos necessários, serão usados os programas G-INFRA e MINDLIN, que serão posteriormente apresentados nesta monografia. 1.5 Estrutura da Monografia Esta monografia apresenta-se dividida em 6 capítulos, sendo o primeiro capítulo com caráter introdutório, no qual a temática de desenvolvimento da monografia é devidamente apresentado. Justificativa, hipótese, objetivos e metodologia de desenvolvimento, são apresentados nesta ordem. 5 O segundo capítulo, que recebe o nome de Fundamentação Teórica, é onde a problemática da monografia começa a ser explorada de maneira mais profunda e científica, o texto deste capítulo apresenta como característica principal a presença constante de referências bibliográficas. O capítulo terceiro possui ainda fundamentação teórica, já que se mostrou necessária, mas neste capítulo, o ambiente de desenvolvimento do texto são os códigos computacionais a serem usados nas etapas da modelagem, com enfoque na explicação e funcionalidades de cada programa auxiliar. O quarto capítulo é relacionado com a solução analítica do modelo proposto para a obtenção de esforços e/ou deslocamentos máximos da estaca de acordo com suas propriedades de material e de geometria do problema. O quinto capítulo é o desenvolvimento da monografia propriamente dito, é neste capítulo que serão apresentados os exemplos que serão analisados com a consideração da interação solo-estrutura imposta pelo PEISE. O último capítulo é reservado aos comentários finais a respeito dos resultados obtidos com os exemplos feitos no capítulo quinto e, por último, sugestões de trabalhos futuros a serem desenvolvidos relacionados com o assunto abordado nesta monografia. 6 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Qualquer estrutura por mais simples que seja, necessita de elementos que possuam a função de transmitir as cargas acumuladas para o solo. Estas estruturas especiais com a função de realizar esta transferência das cargas são chamadas de fundações. A literatura faz uma classificação bem clara para os tipos de fundações: superficiais e profundas. A diferença principal entre estes dois tipos de fundações é relacionada à profundidade que os mesmos ficam assentes ou ainda quanto mecanismo de transferência das cargas para o solo. A própria NBR 6122 (ABNT, 2010) – Projeto e execução de fundações, não deixa bem claro uma distinção entre os tipos de fundações profundas, apenas define o que é estaca, tubulão e caixão. O foco será mantido nas fundações do tipo profundas, sobretudo nas estacas, como será visto adiante. Para Velloso e Lopes (2010), as estacas podem ser divididas ou classificadas segundo diferentes critérios. Usualmente faz-se uma classificação quanto ao seu processo executivo ou ainda quanto ao seu material constituinte, que é também uma abordagem para este assunto muito parecida com a referenciada na NBR 6122 (ABNT, 2010) – Projeto e execução de fundações. Para o processo executivo, há duas possibilidades: estacas “de deslocamento” ou de “substituição”. Na categoria estacas de deslocamentos encaixam-se aquelas estacas também conhecidas como cravadas, pois há um deslocamento da massa de solo para a acomodação do corpo da estaca. Por outro lado, as estacas de substituição são também denominadas de escavadas, já que o solo presente no espaço que a estaca ocupará é escavado e em seguida removido, para que seja feita a substituição do solo original pela estaca. Não se deve esquecer que neste método executivo, em consequência do desconfinamento do solo, há uma redução nas tensões horizontais geostáticas, portanto uma resistência mínima do solo é desejável para que o procedimento seja bem sucedido. Dentre os materiais empregados nestes elementos estruturais,pode-se citar: madeira, aço, concreto ou estacas compostas por mais de um destes materiais (mistas). O material concreto lidera o ranking entre as possibilidades de pré-moldado ou moldado in situ. Uma vez conhecidas as possíveis soluções para um projeto de fundações, deve-se escolher a mais apropriada para o caso. Variáveis como a necessidade de ganho de tempo 7 operacional, espaço disponível em campo para a execução, soluções oferecidas no mercado local e até mesmo custos são fatores que podem decidir qual o tipo de solução a ser adotada, obviamente sempre levando em consideração o fator segurança como condicionador maior. No entanto, a escolha do tipo de fundação correta não é algo tão fácil como se pensa em alguns casos. O material com o qual se trabalha em obras de geotecnia é o solo; material que possui uma incrível variabilidade de suas propriedades em todas as direções devido ao seu mecanismo de formação ao longo da evolução do nosso planeta. Há ainda muitos outros agravantes em um projeto de fundações, dentre estes, um para o qual merece ser dada ênfase, é o elo que há entre os projetos Estrutural e Geotécnico. Segundo Velloso e Lopes (1997), em geral a estrutura é calculada assumindo a hipótese de apoios indeslocáveis, no entanto esta consideração pode não ser satisfatória ao longo da vida útil da estrutura, uma vez que o solo quando solicitado sofre deformações e em consequência, submeterá o conjunto estrutural a possíveis recalques diferenciais, dessa forma impondo a estrutura uma condição de equilíbrio não esperada que sequer foi concebida inicialmente no projeto estrutural. Uma nova configuração de equilíbrio para qualquer estrutura é uma situação indesejável, já que a partir da mesma, haverá mudanças no encaminhamento dos esforços no corpo de todo o conjunto estrutural. Na pior das hipóteses, um elemento estrutural dimensionado para um carregamento pode não resistir aos novos esforços adicionais e levar a estrutura a um colapso localizado ou mesmo generalizado. Para problemas deste tipo em fundações, as consequências são percebidas em toda a estrutura. Velloso e Lopes (1997 p. 2) destacam ainda, que o profissional que optar por trabalhar no desenvolvimento de projetos de fundações deve possuir uma vasta gama de conhecimentos em assuntos como origem e formação dos solos, classificação dos mesmos, percolação e resistência ao cisalhamento. O engenheiro geotécnico deve também, ainda que em um segundo plano, possuir entendimento de Cálculo Estrutural da mesma forma que o engenheiro calculista deve conhecer as premissas básicas de um projeto geotécnico. Ambos os autores afirmam que o alinhamento do profissional com esta área da engenharia é importante, pois o mesmo deve ser detentor de conhecimentos para dimensionar as estruturas de fundações e ainda ter a capacidade de avaliar o desempenho das mesmas em termos de deslocamento do maciço de solo, que é um fenômeno inevitável. 8 Seguindo este roteiro de considerações que devem ser feitas inicialmente para o entendimento da situação e uma possível concepção de modelo estrutural, tem-se que tanto as alternativas estruturais quanto o princípio das deformações do solo foram contempladas. O próximo passo, e não menos importante, é o estudo das características do solo, já que este será o agente receptor e distribuidor das forças para as camadas inferiores. Naturalmente deve-se possuir o máximo de informações acerca das propriedades do solo no qual as fundações serão inseridas, para tanto há a norma NBR 8036 (ABNT, 1983) – Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios. Nesta norma há toda uma descrição de como deve ser feito a programação de sondagens com as exigências necessárias. Nesta programação estão incluídos o número, a localização e a profundidade das sondagens a serem executadas. Para obras civis de grande porte como no caso de pontes ou viadutos, por exemplo, profissionais que trabalham na área sugerem que sejam realizadas sondagens abaixo dos locais onde estacas ou se for o caso, os tubulões serão alocados. Acredita-se que desta forma, é possível obter-se uma precisão melhor das características do solo pontualmente, é claro, sem deixar áreas adjacentes sem sondagens, já que o conhecimento do solo nas vizinhanças é de grande importância para a previsão do comportamento do conjunto. Toda essa rotina de sondagens tem um objetivo único: conhecer o material solo. A justificativa para o motivo de tanta precaução para o estudo de fundações é mais bem entendida quando se pensa da seguinte forma: [...] o cumprimento dos formalismos da garantia da qualidade não significa que o desempenho esteja assegurado, pois um aspecto que diferencia um projeto de estrutura de um projeto de fundações é que, no primeiro, as características dos materiais de construção são definidas pelo projetista e, no segundo, se trabalha com o solo, que é um material não fabricado pelo homem. (VELLOSO, 1990 apud ALONSO, 1991, p. 3). Uma última consideração que deve ser feita para que um projeto de fundações seja bem sucedido, segundo Alonso (1991, p.5), é a relação harmoniosa que deve haver entre projeto, controle e execução, definida pelo mesmo como o tripé da boa fundação. Deve ser feito ainda, o acompanhamento de recalques da estrutura, sobretudo se houver alguma escavação de grandes proporções nas vizinhanças das fundações, por exemplo. Bauer, (1986) apud Souza & Ripper, (1988), enfatiza que tanto a resistência como a deformabilidade do terreno não são propriedades constantes, podendo vir a sofrer variações 9 apreciáveis ao longo do tempo em virtude da variação da umidade, de vibrações ou ainda ou ainda em construções executadas em sua vizinhança. Sendo sabido que o comportamento dos maciços de solos não é uma variável simples, modelar uma estrutura satisfatoriamente para resistir de forma segura a todos os esforços aos quais deve ser submetida ao longo de sua vida útil, pode tornar-se uma problemática difícil. Mas o sucesso do funcionamento idealizado do conjunto estrutural está intimamente relacionado com a concepção de projeto e esta depende ainda mais de amostragens colhidas em campo ainda com o objetivo de caracterização do solo. Alonso (1991, p. 3), relata que pouco adianta realizar ensaios e métodos de cálculo sofisticados, se as amostras utilizadas foram retiradas sem os necessários cuidados. Há historicamente, muitos relatos de obras de engenharia que foram mal sucedidas com problemas de patologia nas suas fundações, seja por falhas no processo executivo, erros na modelagem ou ainda ensaios realizados que obtiveram algum resultado viciado. Como exemplo pode-se citar a famoso caso da Torre de Pisa na Itália, a Catedral Metropolitana do México e, no Brasil, a construção de vários prédios sobre um solo bastante deformável na cidade de Santos em São Paulo. Todos estes exemplos que foram citados são devidos a sobrecargas em solos que possuem elevada capacidade de deformabilidade, portanto submetendo estruturas assentes sobre os mesmos a recalques diferenciais muitas vezes exagerados, podendo prejudicar o desempenho de uma estrutura em serviço ou ainda passar a ideia de insegurança. Outro tipo de solicitação recorrente entre obras de engenharia que possuem fundações do tipo profundas são aquelas provenientes de ações de tendência de deslocamento de uma massa de solo abaixo do nível do terreno natural. Da mecânica dos solos básica, sabe-se que quando há a aplicação de um carregamento vertical sobre uma massa de solo, esta tem a capacidade de transmitir tensões na direção ortogonal àquela do carregamento, provocando, dessa forma, uma tendência de deslocamento dessa massa de solo, uma vez que o solo além de confinado está também comprimido. Toda sobrecarga aplicada diretamente sobre um solo de fundação induz a tensõese deslocamentos no interior da massa de solo [...]. No caso de haver estacas nas proximidades da área carregada, estas se constituirão num impedimento à deformação do solo e, consequentemente ficarão sujeitas aos esforços dessa restrição (VELLOSO & LOPES, 2010, p.514). 10 A ideia de solicitações transversais em estacas é um aspecto que deve ser avaliado cautelosamente em alguns projetos específicos. O problema reside justamente no fato de esses esforços serem desprezados quando há grandes possibilidades de ocorrência. A presença de forças transversais agindo em estacas, por exemplo, implicam o aparecimento de esforços de flexão. A partir deste momento, percebe-se que a compreensão do funcionamento do conjunto estrutural como um todo, é necessária, sendo obrigatoriamente, a partir de agora, incluir a variável interação solo-estrutura no dimensionamento. O fato de esforços de flexão estarem presentes em elementos de fundações profundas do tipo estacas é algo indesejável, já que as estacas são projetadas concebendo a segurança estrutural e geotécnica levando em conta a capacidade de carga axial da estaca agindo com o solo, no sentido de transferir a carga ao solo por atrito lateral na interface de contato e depois quando a mesma começa a mobilizar a resistência de ponta. Com esta consideração, além da segurança que provém da capacidade de carga da estaca, esta também deve ser calculada para resistir a um possível esforço de flexão. A questão a ser levantada a partir deste momento é como se pode obter o valor desse momento fletor que possivelmente solicitará uma estaca ou um grupo de estacas. Com este raciocínio, em 1962, foi estudado pelo engenheiro civil russo Tschebotarioff, pela primeira vez, com um enfoque mais aprofundado, o efeito das ações horizontais sobre elementos de fundações profundas. Devido ao desenvolvimento dessa linha de estudo geotécnico, esta ação sobre elementos de fundações é conhecida na literatura como Efeito Tschebotarioff. No seu estudo, Tschebotarioff destacou a condição limite para a avaliação de esforços de flexão provenientes de uma sobrecarga assimétrica. Para esta condição, tem-se uma estaca cravada através de uma camada de argila mole e com elevada capacidade de deformação. No momento da cravação das estacas ou mesmo pouco tempo depois, esta camada de argila, não está em nenhuma hipótese comprimida, apenas deslocada e amolgada para que o corpo da estaca seja inserido. Em um segundo momento, que pode ser considerado como sendo a vida útil de uma obra, esta camada provavelmente sofrerá efeito de sobrecargas de uso. Como já foi observado antes, esta argila possui elevada capacidade de deformabilidade, o que acarretará, em consequência da aplicação da sobrecarga, um adensamento à medida que a água for expulsa dos seus vazios, no caso de ser uma argila saturada ou acomodação das partículas constituintes com redução do índice de vazios se for um solo não saturado. A etapa de adensamento do depósito argiloso oca vertical, que pode ser entendido na prática como uma redução na espessura da camada argilosa. Este fenômeno por fim, causará efeitos de flexão nas estacas ou linhas de estacas, uma vez que estas funcionarão como uma restrição ou uma contenção para a tendência de deslocamento que a camada de argila sofrerá. De posse do histórico de sinistros em obras de engenharia que vieram à pode-se prever onde a possibilidade de ocorrência do fenômeno é recorrente. Velloso e Lopes (2010) fazem uma lista das situações de projeto nos quai dependendo do perfil geotécnico obtido em ensaios de sondagens, deve para fins práticos. É válido destacar ainda que no caso de estacas muito próximas de áreas carregadas, além dos esforços horizontais, deve ser considerado também negativo. Figura 2.1 - Outras situações do Efeito Tschebotarioff. Fonte: VELLOSO, 2010. xpulsa dos seus vazios, no caso de ser uma argila saturada ou acomodação das partículas constituintes com redução do índice de vazios se for um solo não saturado. A etapa de adensamento do depósito argiloso ocasionará um deslocamento entendido na prática como uma redução na espessura da camada argilosa. Este fenômeno por fim, causará efeitos de flexão nas estacas ou linhas de estacas, uma vez que estas funcionarão como uma restrição ou uma contenção para a tendência de e a camada de argila sofrerá. De posse do histórico de sinistros em obras de engenharia que vieram à se prever onde a possibilidade de ocorrência do fenômeno é recorrente. Velloso e Lopes (2010) fazem uma lista das situações de projeto nos quai dependendo do perfil geotécnico obtido em ensaios de sondagens, deve para fins práticos. É válido destacar ainda que no caso de estacas muito próximas de áreas carregadas, além dos esforços horizontais, deve ser considerado também Outras situações do Efeito Tschebotarioff. Fonte: VELLOSO, 2010. 11 xpulsa dos seus vazios, no caso de ser uma argila saturada ou acomodação das partículas constituintes com redução do índice de vazios se for um solo não saturado. sionará um deslocamento entendido na prática como uma redução na espessura da camada argilosa. Este fenômeno por fim, causará efeitos de flexão nas estacas ou linhas de estacas, uma vez que estas funcionarão como uma restrição ou uma contenção para a tendência de De posse do histórico de sinistros em obras de engenharia que vieram à ruína, se prever onde a possibilidade de ocorrência do fenômeno é recorrente. Velloso e Lopes (2010) fazem uma lista das situações de projeto nos quais, dependendo do perfil geotécnico obtido em ensaios de sondagens, deve-se considerar o efeito para fins práticos. É válido destacar ainda que no caso de estacas muito próximas de áreas carregadas, além dos esforços horizontais, deve ser considerado também o fenômeno do atrito Outras situações do Efeito Tschebotarioff. Fonte: VELLOSO, 2010. 12 A Figura 2.1 mostra situações clássicas de ocorrência do Efeito Tschebotarioff. a) armazém estaqueado apenas na periferia, o material armazenado é uma sobrecarga que é transmitida através das camadas de solo até a camada compressível, que se desloca lateralmente e pressiona as estacas periféricas; b) tanque de armazenamento de fluidos assim como o caso anterior com estacas dispostas apenas perifericamente; c) muros de arrimo sobre estacas ou encontro de pontes; d) aterro de acesso a pontes. A Figura 2.2 mostra uma situação prática, que dependendo do maciço de solo no qual a fundação está inserida, é passível de ocorrência do Efeito Tschebotarioff. Figura 2.2 - OAE com fundações em estaca raiz na obra da Ferrovia Transnordestina (Serra Talhada – PE) com aterro a ser executado. Segundo Aoki (1970), para este tipo de solicitação em estacas, é possível elencar uma série de fatores que são variáveis a serem consideradas quando da obtenção dos esforços em uma modelagem para a problemática. Entre outros fatores, a distribuição das pressões laterais em estacas é função de: a) altura do aterro e peso específico do material utilizado (para o caso de aterros), para o caso geral referencia-se a intensidade da sobrecarga; b) características da argila; c) rigidez das estacas; 13 d) geometria do estaqueamento; e) distância das estacas ao pé do aterro; f) interação das sucessivas linhas de estacas e o terreno; g) variação ao longo do tempo. Com relação ao fator tempo, convém ressaltar que a situação logo após a atuação da sobrecarga pode não ser a pior. Não é possível estabelecer, a priori, qual dessas influências irá ditar o dimensionamento do conjunto. É possível que a fundação seja capaz de resistir durante certo tempo e que, após algum período, apresente problemas. (DE BEER & WALLAYS, 1972 apud VELLOSO & LOPES, 2010). Muitos trabalhos foram publicados com o objetivo de explicar este tipo de solicitação e a forma mais adequada de modelar a mesma.A grande maioria dos interessados no assunto não tinha, na maioria das vezes, uma bibliografia para recorrer em termos de embasamento científico ou especificações normatizadas, o que levou uma série de pesquisadores a fazerem ensaios práticos e muito parecidos com situações recorrentes desse tipo de carregamento. O trabalho de Tschebotarioff foi sem dúvida, um marco nas pesquisas para esta área específica, pois a partir daí muitos outros pesquisadores mostraram interesse em modelar esta situação de carregamento para estacas, e uma primeira conclusão que pode ser tirada para os que se iniciam em pesquisas nessa área, é que este não é um problema fácil de ser resolvido. Tschebotarioff (1962) levantou vários casos de muros de arrimo sobre estacas que apresentaram problemas de flexão e até ruptura das estacas. O autor admitiu que a magnitude e a distribuição de pressões laterais provenientes de uma sobrecarga unilateral em estacas que atravessam camadas de argila mole eram difíceis de determinar, uma vez que não dispunha ainda de resultados de instrumentação. (VELLOSO & LOPES, 2010 p. 517). Quanto às condições de apoio, espera-se que o projetista tenha em mente qual o modelo que mais se aproxime da realidade, dado que o mesmo possui informações a respeito de parâmetros de resistência do solo com embasamento em ensaios de campo ou de laboratório. Mesmo com as sugestões de Tschebotarioff, é possível que mudanças no modelo sejam inseridas conforme a situação em questão. Souza (2003) sugeriu uma modelagem modificada (Figura 2.3) para o estudo da ruptura de estacas de um prédio de quatro andares 14 mais térreo construído em alvenaria estrutural localizado no litoral norte do estado de São Paulo. O modelo adotado para o cálculo considerou a estaca engastada na base e apoiada em base elástica (K = 3000 kN/m) à meia altura do aterro (SOUZA, 2003 p. 65). Figura 2.3 - Modelagem de uma estaca usada por Souza (2003). Supõe-se que para estas modificações, Souza possuía pleno conhecimento das condições anteriores ao colapso da estrutura. Provavelmente a sugestão de um apoio elástico ao invés do engaste como sugerido por Tschebotarioff em sua proposta, seja devido à viga baldrame, onde as estacas encontravam-se ligadas, não serem suficientemente rígidas ao ponto de garantir o engaste hipotético e a estaca possuir uma extensão dentro de um aterro, quanto à ponta da estaca, a mesma deveria ser passante além do topo rochoso para que a hipótese de engaste seja garantida. No entanto, outros autores também deram sua contribuição para o desenvolvimento deste problema, e tal como Tschebotarioff, tem suas formulações para obtenção dos esforços transversais nas estacas. Outro autor que também possui uma série de publicações com outros colaboradores relacionadas com a problemática abordada é De Beer. Em sua proposta, De Beer procura associar a carga solicitante de estacas com a sobrecarga aplicada. Este autor faz referências às tensões de cisalhamento na massa de solo e ainda ao fator de segurança global. Segundo De Beer & Wallays (1972), apud Velloso & Lopes (2010), quando a sobrecarga (�) é uniforme, a pressão horizontal (�) nas estacas é igual à sobrecarga atuante equação (2.1); por outro lado se a sobrecarga lateral não for uniforme, mas definida por um talude, um fator de redução pode ser introduzido, conforme mostra a equação (2.2). 15 qp= (2.1) 2'2 2' ϕπ ϕα − − =f (2.2) De forma que a equação para obtenção da carga horizontal solicitante é ponderada pelo fator f : fqp = (2.3) Na formulação do fator de redução, α é o ângulo de um talude fictício proposto pelo autor e φ� é o ângulo de atrito do solo. A pressão obtida pode ser multiplicada pela largura ou diâmetro da estaca. Vários outros engenheiros e pesquisadores, com o objetivo de possuírem dados experimentais para um dimensionamento seguro, fizeram ensaios de cravação de estacas em solos com o comportamento tendencioso a deformações de adensamento quando submetidos a uma sobrecarga assimétrica. Pode-se destacar o trabalho experimental realizado pela empresa Pieux Franki em 1963 em Zezalte, Bélgica, e o estudo de Ratton em 1985. O grupo Estacas Franki estava interessado em saber qual a influência da sobrecarga oriunda do armazenamento de placas de aço nas fundações próximas da obra de uma Siderúrgica. Para tanto, cravou estacas de diferentes materiais e características geométricas a uma distância de 1,30 m de uma estrutura de arrimo capaz de conter um aterro de areia com 16 metros de altura. O objetivo da construção deste aterro foi simular a carga das placas que seriam armazenadas nos galpões da siderúrgica em breve. O trabalho do grupo consistiu em fazer o monitoramento do comportamento de uma linha de estacas cravadas nas proximidades da estrutura de arrimo. Ratton (1985), apud Velloso & Lopes (2010), usou um modelo tridimensional com fundamentação no Método dos Elementos Finitos, portanto tende naturalmente a ser uma modelagem mais refinada em termos de aproximação com a realidade. Além de tridimensional, o estudo de Ratton levou em consideração a presença de mais de uma linha de 16 estacas e propôs um maciço de solo estratificado com três camadas de solo com propriedades distintas, sendo a camada intermediária a mais deformável. Mais informações acerca do modelo escolhido para análise dos esforços e dos deslocamentos em fundações profundas submetidas e este tipo de solicitação, serão apresentadas e discutidas nos capítulos quarto e quinto deste trabalho. No capítulo quarto também é apresentada a solução analítica para o problema. 17 3 MODELAGEM DO PROBLEMA Os problemas de engenharia, de um modo geral, sempre envolvem, na maioria dos casos, muitas variáveis complexas. Com o objetivo de conseguir prever ou estimar o comportamento de um determinado conjunto sujeito à condições específicas, existe a modelagem. O problema que segue, a partir do momento em que a modelagem é escolhida, é verificar se o modelo é conveniente e tem capacidade de expressar os efeitos sobre o sistema. O número de variáveis, os tipos de variáveis e seus domínios de valores possíveis de assumir, podem ser decisivos para uma sugestão de análise de um modelo estudado. Tem-se ainda como fator decisivo para o sucesso de uma modelagem, a escolha das variáveis a serem consideradas. Como foi dito anteriormente, há muitas variáveis complexas, nem sempre é possível a consideração do efeito de todas. A dualidade do problema volta-se agora, para além da escolha das variáveis a serem consideradas, também para os efeitos que desprezar um parâmetro de análise pode influenciar. Deve-se interpretar a expressão “desprezar um parâmetro”, como fazer uma simplificação. Para esta tomada de decisão deseja-se que o profissional possua conhecimento ou experiência prática, ou mesmo ainda que pesquise na literatura a respeito da problemática. Se não for possível uma fundamentação com referências bibliográficas consagradas, deseja-se que o pesquisador faça um comparativo entre as possíveis combinações e até mesmo calibragens para o melhoramento do modelo. Segundo Aoki & Cintra (2004), apud Mota (2009), há alguns modelos possíveis para a análise da interação solo-estrutura. A diferença entre estes modelos diferem entre si na concepção de contorno dos mesmos. O PEISE adota para o estudo da interação solo-estrutura, o modelo que concebe dois corpos em equilíbrio: a estrutura reticulada incluindo a infraestrutura, possuindo contorno limitado pela superfície dos elementos estruturais de fundação, que recebe o nome de estrutura, e o maciço de solo, cujo contorno é a superfície dos elementos estruturais de fundações e o maciço indeslocável. A Figura 3.1mostra como o modelo pode ser melhor entendido. 18 Figura 3.1 - Modelo de equilíbrio da estrutura e maciçode solos (AOKI, 2004) apud (MOTA, 2009). O modelo é entendido como um pórtico espacial, e discretizado em elementos de barra, portanto, cada elemento apresentará seis graus de liberdade por nó, sendo três translações e três rotações. A figura seguinte representa, de forma genérica, os deslocamentos associados com um elemento de barra tridimensional do pórtico. Figura 3.2 - Deslocamentos de um elemento de barra nos sistemas global e local (MOTA, 2009). 19 3.1 Geometria do modelo A modelagem de uma determinada situação requer algumas etapas. A primeira destas etapas é a montagem da geometria do problema dada uma situação prática de interesse. Para a obtenção da geometria, é necessário criar um arquivo de dados que pode ser editado no programa mais simples de texto (no caso do Windows, o bloco de notas), com as extensões adequadas e compatíveis com o sistema desenvolvido. O objetivo deste arquivo de texto é alimentar os programas G-INFRA e G- SUPER, de acordo com a complexidade do problema em análise. A base para o entendimento da forma que o sistema desenvolvido funciona, segue uma rotina constante segundo o fluxograma abaixo: Figura 3.3 - Fluxograma de alimentação do sistema para a análise da interação solo-estrutura. 3.1.1 G-SUPER Nesta modelagem, toda a estrutura reticulada que fica aparente acima da cota do terreno natural ou aterrado, por exemplo, lajes, vigas e pilares de um prédio, é entendida como superestrutura. O G-SUPER visa realizar uma modelagem adequada da geometria do problema. 20 Implementado para realizar a leitura de um arquivo inicial, que é feito pelo próprio usuário, o G-SUPER proporciona três arquivos de saída. Falando de um modo geral, estes arquivos são relacionados com a geometria do problema, no que diz respeito a nós e elementos da estrutura, outro arquivo relacionado com material empregado e tipos de seções e um arquivo do tipo .dxf. Este arquivo contém um desenho esquemático da geometria do problema e pode ser visualizado no Auto Cad, tornando dessa forma, a modelagem mais didática. 3.1.2 G-INFRA O programa G-INFRA segue as mesmas diretrizes do G-SUPER, a diferença entre ambos, é a parte da edificação, se for o caso, que cada um dos programas modela. O G- INFRA gera exclusivamente geometria para elementos estruturais de fundação (estacas) e blocos de coroamento. Para o caso específico de blocos de coroamento, serão definidos por um reticulado plano, composto por barras rígidas interligando o topo das estacas e o pilar correspondente. (MOTA, 2009 p. 54). Os arquivos gerados pelo G-INFRA são correspondentes aos gerados pelo G- SUPER, a única diferença, é que o G-INGRA gera informações relacionadas com a infraestrutura ou subestrutura, ou seja, com a fundação propriamente dita. Oarquivo .dxf gerado, possui o esquema do estaqueamento. 3.2 Matriz de flexibilidade O modelo adotado, que tem como fundamento básico a discretização da estrutura, que é por definição, uma aplicação direta do consagrado Método dos Deslocamentos. Neste método, a obtenção das matrizes de rigidezes de cada elemento é necessária para que a montagem da matriz de rigidez global da estrutura seja possível. Seguindo os princípios do método, a equação (3.1) deve ser obedecida. ��� � � � (3.1) 21 Onde: �K� é a matriz de rigidez global da estrutura; u� é o vetor de deslocamentos nodais no sistema global da estrutura; F� é o vetor das forças nodais externas aplicadas. A consideração do maciço de solos como um material elástico linear, permite que uma matriz de rigidez que associe deslocamentos e forças no seu interior seja determinada. A matriz de rigidez do solo é obtida com a inversão de matriz de flexibilidade do solo (MOTA, 2009). Para a obtenção da matriz de flexibilidade, são usadas as equações de Mindlin, para meio contínuo, homogêneo, isótropo e semi - infinito. 3.2.1 MINDLIN De forma resumida, os estudos de Mindlin (1936), apud Mota (2009), permitem o cálculo de deslocamentos provocados em qualquer ponto de um meio semi-infinito considerado, provocados devido a uma aplicação de uma carga pontual vertical e horizontal em outro ponto do mesmo meio, desde que seja possível fazer a localização relativa entre estes pontos no mesmo meio. Os deslocamentos são obtidos por equações matemáticas analíticas em função da disposição geométrica do ponto de interesse de cálculo do deslocamento, e o ponto de aplicação das cargas. As equações matemáticas usadas para a obtenção dos deslocamentos do maciço de solo para a montagem da matriz de flexibilidade do solo são apresentadas no Anexo A. Para esta etapa do processo de modelagem, é usado o programa MINDLIN, cujo objetivo é a obtenção da matriz de flexibilidade do solo, admitidas as hipóteses mencionadas. Nesta etapa, as propriedades e características dos solos (no caso de mais de uma camada de solo) são dados de entrada para o MINDLIN, já que haverá cálculos de deslocamentos no interior do maciço. A matriz de flexibilidade obtida com este programa, que possui o mesmo nome do idaelizador das equações, é armazenada em um arquivo de texto, para posteriormente ser invertida no PEISE. 22 A matriz de flexibilidade é montada percorrendo-se todos os nós da discretização da estrutura, comuns ao solo e às estacas, e na sequência de numeração global dada aos nós das estacas. Para cada nó da estaca são considerados três graus de liberdade, correspondentes aos deslocamentos nas direções x, y e z. Os graus de liberdade correspondentes às rotações não foram considerados na montagem da matriz de flexibilidade do solo. (MOTA, 2009, p. 72-73). Como dito anteriormente, as equações de Mindlin calculam os deslocamentos em qualquer ponto de um maciço de solo sendo quando aplicada uma carga em um segundo ponto para coordenadas conhecidas, no entanto, não se deve esquecer que Mindlin parte do princípio que o meio estudado, para este caso o maciço de solo, trata-se de um meio semi- infinito. Para o caso de maciços com mais de uma camada de solo diferentes entre si, Aoki e Lopes (1975) apud Mota (2009), sugerem adotar o processo de Steinbrenner (1934). Neste processo, o recalque pode ser obtido a partir da consideração de espessura infinita, obtendo-se o recalque pela diferença entre os recalques calculados no ponto em estudo e no ponto onde a superfície é considerada indeslocável. A Figura 3.4, mostra esquematicamente o raciocínio de Steinbrenner (1934), para o cálculo do recalque nas estacas imersas em maciços estratificados. Para a disposição de camadas de solo apresentada na Figura 3.4, primeiro calcula- se o recalque no nível do indeslocável e depois no topo da camada 2, admitindo-se que todo o solo do indeslocável para cima seja do mesmo material da camada 2. O recalque dessa camada será a diferença entre os valores calculados, uma vez que do topo da camada 2 para cima inicia-se a camada 1. Faz-se necessário então, o cálculo do recalque da camada 1. Fazendo do topo da camada 2, já com seu recalque calculado, como superfície indeslocável para a camada 1, aplica-se o procedimento feito anteriormente na camada 2, obtendo-se dessa forma o recalque devido a camada 1. 23 Figura 3.4 - Procedimento de Steinbrenner (1934) para solos estratificados. (Iwamoto, 2000) apud Mota (2009). O recalque devido às camadas de solo no nível de aplicação do carregamento é obtido superpondo-se os recalques calculados para cada uma das camadas. Este raciocínio pode ser estendido para o caso em que existam várias camadas de solo antes do indeslocável. Por último vale salientar que a deformação axial da estaca também é considerada, de forma que trata-se de uma deformação elástica, podendo ser calculada pela equação de Hooke a partir do diagrama de esforço normal da estaca considerada. Para o recalque da camada 2, considera-se que todoo material sobrejacente à mesma é de mesma natureza que a sua, quando na verdade, trata-se de uma camada de solo diferente (camada 1), este artifício é empregado para que as equações de Mindlin possam ser aplicadas no maciço, já que as mesmas consideram o solo como material elástico, homogêneo e isotrópico. Outra simplificação para tornar o modelo compatível com as equações de Mindlin, e tornar possível o cálculo dos deslocamentos em cada nó de aplicação das forças unitária horizontal e vertical, ambas foram consideradas divididas em quatro partes iguais de 0,25. Cada fração da força unitária foi aplicada segundo a Figura 3.5. 3.3 Interação Solo-Estrutura (ISE) A interação solo-estrutura não é um assunto fácil de ser entendido tampouco modelado. Deve-se entender que o comportamento que há na interface maciço-estrutura, não 24 é constante, e varia ao longo dos anos e em função de parâmetros externos ao conjunto, por exemplo, interferências da vizinhança. Dado que o processo de formação dos maciços de solos nos quais as fundações encontram-se imersas, data desde o início da formação do planeta, ao longo de milhões de anos e a partir da ação de intempéries, justifica-se que um estudo com maior significância seja feito no sentido de considerar as particularidades que podem aparecer na vida útil de uma fundação. A compreensão do mecanismo de transferência de carga para o solo de uma estaca vertical isolada sujeita a uma carga axial de compressão estática, atravessando as diferentes camadas de solos que compõe o maciço, é o primeiro passo para o estudo do caso geral de interação estrutura - maciço de solos. (AOKI, 1997). Situações práticas muitos exploradas no campo da recente engenharia geotécnica são os casos de ocorrência do Atrito Negativo e das solicitações transversais em estacas, este último tópico, objeto específico de estudo desta monografia. Figura 3.5 - Discretização da força unitária nos nós da estaca. (MOTA, 2009). 25 3.3.1 PEISE No âmbito da consideração da interação solo-estrutura dita, é apresentado o PEISE. Como já foi dito anteriormente, já que o caso solicitações transversais sobre estacas imersas em solos moles ou Efeito Tschebotarioff, trata-se de um caso de interação solo- estrutura, o código computacional desenvolvido pela Prof.ª Magnólia, deve se mostrar capaz de modelar tal situação, conforme hipótese norteadora deste trabalho. No mesmo contexto, Cintra & Aoki (2010), relataram uma simplificação que pode ser considerada no mecanismo de transferência de carga vertical da estaca para o maciço: primeiro todo o atrito lateral é mobilizado no fuste da estaca, para que, somente em seguida, haja mobilização da resistência de ponta. Imaginando uma estaca subdividida em segmentos verticais, em cada um deles atua um atrito lateral local, de valor variável ao longo da estaca, em função das características geotécnicas das diferentes camadas e sua profundidade. (CINTRA &AOKI, 2010). Figura 3.6 - Esquema de transferência de carga da estaca para o solo. (CINTRA &AOKI, 2010). AFigura 3.6, mostra de forma explicada, que após a mobilização do todas as parcelas de atrito lateral (rL), ao longo da estaca, será dado início a mobilização da resistência de ponta do elemento estrutural (rP), de forma que P2 > P1. 26 Para esta etapa final de análise da modelagem, o material a ser usado na estrutura deve ser escolhido assim como suas propriedades geométricas de cada elemento. Dados obtidos a partir de todos os programas utilizados até o momento se fazem necessários. De posse dos arquivos que contem toda a geometria do problema, desde as fundações até o reticulado da superestrutura, se for o caso, das propriedades de todas as camadas de solo e do material escolhido para a estrutura, o PEISE pode ser alimentado. A resposta do problema então é obtida em termos de deslocamentos e esforços para cada um dos nós do modelo empregado. Faz-se necessário, a partir deste ponto, a interpretação correta dos valores calculados e assimilar os valores de cada nó com o auxílio do desenho do tipo .dxf gerado nas etapas anteriores da modelagem. 27 4 SOLUÇÃO ANALÍTICA DO PROBLEMA 4.1 Carregamento Em seu modelo de determinação de esforços provenientes de solicitações transversais em estacas, Tschebotarioff recomenda a utilização de um diagrama triangular de pressões agindo na estaca do lado de aplicação da sobrecarga (ALONSO, 1989 p. 107). Nesse modelo, há solicitações transversais apenas na parte correspondente a espessura da camada de solo compressível, sendo que a máxima intensidade deste carregamento ocorre na metade da espessura da camada de argila. Este valor pode ser obtido a partir da equação: H.B.K.=h γP (4.1) Onde: B é a largura ou diâmetro da estaca; K é o coeficiente de empuxo; γ é o peso específico do material do aterro; H é a altura da camada de aterro. O coeficiente de empuxo, �, para um depósito normalmente adensado e não amolgado pode ser tomado como 0,4 ou 0,5 (VELLOSO & LOPES, 2010 p. 517). Velloso e Lopes (2010) recomendam o uso de 2B ao invés de B, como está na equação (4.1), considerando que a faixa de solo envolvida no empuxo da estaca tem uma largura de duas vezes a largura da estaca. A equação a ser usada, segundo Velloso e Lopes (2010), passaria a ser então: H.2.B.K.=h γP (4.2) Além do carregamento, que segundo vários autores, é a parte mais complexa deste problema, tem-se ainda por definir as condições de apoio para as estacas. Tschebotarioff apud Velloso e Lopes (2010) sugeriu duas condições de apoios distintas: uma primeira seria a hipótese de a estaca engastar-se no bloco; na segunda hipótese, a estaca não poderia ser 28 engastada no bloco, estando, em ambas as situações, a estaca rotulada na parte inferior. A figura 4.1 mostra a idéia de Tschebotarioff em termos de modelagem: Figura 4.1 -Propostas de modelagem para esforços nas estacas segundo Tschebotarioff. Fonte: VELLOSO & LOPES, 2010. Com os valores de cargas calculados, segundo as propostas de Tschebotarioff apud Velloso e Lopes (2010), a próxima etapa para uma análise dos esforços, deve ser a imposição das condições de apoio. Este assunto, já foi abordado no capítulo segundo desta monografia. Visto que duas possibilidades são possíveis, sendo a diferença entre ambas apenas a consideração de engaste perfeito da estaca no bloco, algumas observações qualitativas podem ser feitas. Ao se considerar a estaca engastada no bloco, aparecerá momento negativo na parte superior da estaca, ao passo que se esta hipótese for descartada, este momento não existirá. Também é possível afirmar que a consideração de engaste na parte superior, levará ao cálculo de momentos fletores com valores menores, no trecho em contato com o solo, do que os momentos fletores que seriam calculados considerando a estaca birrotulada. Para este trabalho, a rigidez do bloco de fundação ou de coroamento será considerada, de forma que a mesma será interpretada no modelo da análise através de uma vinculação na qual a rotação é impedida, mas o deslocamento na direção de ação do carregamento transversal à estaca é livre. Outra consideração que poderia ser feita, quanto à modelagem a ser adotada, seria considerar, na ligação bloco-estaca, a existência de um apoio elástico, tal como fez Souza (2003). Tal hipótese justifica-se, quando se imagina que o bloco não é tão rígido ao ponto de 29 garantir o engaste perfeito, tampouco tão flexível para ser considerada, neste ponto, uma vinculação incapaz de absorver qualquer parcela de carga transversal. Analisando o problema por este lado, a etapa seguinte seria obter o valor da constante de deformação para este apoio elástico. 4.2 Solução Dentre as possibilidades para as vinculações de apoio para a estaca, o modelo com o qual foi trabalhado, para soluçãoanalítica da mesma, em termos de obtenção de momentos fletores e deslocamentos, é apresentado conforme Figura 4.2. Figura 4.2 - Modelo para solução analítica das solicitações transversais sobre estacas imersas em solos moles. Nesta sugestão de modelagem, L é a espessura da camada de solo mole e p é o valor da força no ponto médio de L segundo a equação 4.2. A solução analítica para quaisquer valores de L e p, com a geometria segundo a Figura 4.2, fornece os seguintes valores para as reações de apoio: )( 2 pL =H B kN (4.3) 30 )( 4 pL =M 2 A kNxm (4.4) O valor para a reação vertical (VB) é, neste caso, o próprio valor da reação proveniente do pilar associado com o bloco de fundação, enquanto que o apoio A, é incapaz de absorver qualquer esforço transversal em relação ao eixo da estaca, sendo ainda, o mesmo, livre para deslocar-se horizontalmente. A rigidez do bloco é considerada com a restrição da rotação no apoio A. Para esta geometria, o valor do momento máximo ocorre em A e é o valor da própria reação MA. O deslocamento máximo da estaca ocorre também neste ponto, e vale: )( EI 0,109375pL = 4 max. mδ (4.5) Na equação 4.5, EI é a rigidez à flexão da estaca considerando o eixo no qual a mesma atua. Para situações em que a camada de solo mole possui uma localização diferente do proposto no modelo, considerações específicas devem ser feitas e a análise deve ser pensada de modo a ficar condizente à situação de interesse. 31 5 EXEMPLOS ANALISADOS NO PEISE Com o objetivo de ter conhecimento da capacidade do PEISE de modelar a situação de estacas submetidas a esforços transversais oriundos de sobrecargas assimétricas, serão analisados dois exemplos. Cada exemplo será apresentado detalhadamente no desenvolvimento deste capítulo. Para a consideração da interação solo-estrutura, valores para o Módulo de Elasticidade do solo (E) e Coeficiente de Poisson (µ) foram adotados conforme sugere Bowles (1977) apud Filho (2008) de acordo com o tipo de solo. Tabela 5.1 - Módulo de Elasticidade (E) segundo Bowles (1977). (Fonte: FILHO, 2008). TIPO DE MATERIAL Es em kg/cm2 Bowles (1977) Argila muito mole 3- 30 Argila mole 20- 40 Argila média 45- 90 Argila dura 70- 200 Argila arenosa 300- 425 Silte 20- 200 Areia siltosa 50- 200 Areia fofa 100- 250 Areia compacta 500- 1000 Areia e pedregulho fofo 500- 1400 Areia e pedregulho compacto 800- 2000 Tabela 5.2 - Valores para o Coeficiente de Poisson (µ) segundo Bowles (1977). (Fonte: FILHO, 2008). TIPO DE MATERIAL µ Argila saturada 0,40- 0,50 Argila não saturada 0,10- 0,30 Argila arenosa 0,20- 0,30 Silte 0,30- 0,35 Areia densa 0,20- 0,40 Areia grossa 0,15 Areia fina misturada 0,25 Rocha, dependendo do tipo 0,10- 0,40 Concreto 0,15 Filho (2008), afirma que a obtenção dos referidos parâmetros de resistência dos solos são, na maioria das vezes, é fundamentada a partir de correlações que tem como base os 32 ensaios triaxiais ou de sondagens a percussão, por exemplo. Mas o uso destas correlações exige o bom senso do projetista. Os valores do Módulo elasticidade (Ec) e do Módulo de cisalhamento transversal (Gc) do concreto usado nas estacas também são necessários, além das propriedades geométricas da seção da estaca: área, momentos de inércias nas duas direções e o momento de inércia à torção, sendo este último considerado com valor desprezível, uma vez que o material concreto é frágil, portanto, incapaz de resistir a qualquer esforço de torção. O valor do módulo de elasticidade da estaca foi calculado conforme prevê a NBR 6118 (ABNT, 2003) – Projeto de estruturas de concreto – Procedimento, usando o módulo secante que vale: )(*5600*85,0Ecs MPaf ck= (5.1) De acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2010), estacas de concreto moldadas in loco, do tipo raiz, não devem ter resistência característica à compressão (fck) maior que 20 MPa, para efeitos de dimensionamento, possivelmente devido as condições nas quais as mesmas são moldadas, que nem sempre são as condições ideais. Para os exemplos avaliados nesta monografia, o concreto usado hipoteticamente nas estacas, assume o valor máximo segundo a norma. Também foi calculado o valor do Módulo de cisalhamento transversal do solo, para tanto foi utilizada a equação 5.2 que é a equação constitutiva dos materiais que relaciona o Módulo de elasticidade, coeficiente de Poisson e Módulo de cisalhamento transversal de um material qualquer. ( )µ+12 E =G (5.2) 5.1 Exemplo 1 Para os valores de Módulo de Elasticidade empregados no maciço de solo tem-se: para a argila da primeira camada Eargila = 30 kg/cm², ou 3.000 kPa; para a segunda camada 33 (areia compacta) Eareia = 1.000 kg/cm², ou 100.000 kPa, valores adotados de acordo com a Tabela 5.1. Para as duas camadas usou-se o valor 0,3 para o coeficiente de Poisson (µ), considerando que areia da segunda camada é correspondente a uma areia densa segundo a Tabela 5.2. O concreto usado nas estacas possui resistência característica à compressão de 20 MPa. Os valores dos parâmetros de resistência do concreto usado na estaca valem, portanto: Ec = 21,28 GPa e Gc= 8,87 GPa, valores obtidos com a aplicação das equações 5.1 e 5.2 respectivamente, considerando um fck = 20MPa para as estacas. Neste primeiro exemplo a ser apresentado, será analisada apenas uma estaca quanto aos efeitos de uma sobrecarga assimétrica e 30 estacas auxiliares para aplicação da sobrecarga. Para a modelagem deste exemplo, será considera uma estaca raiz de 410 mm de diâmetro com 13m de comprimento. A distância do eixo da estaca em que se deseja fazer a análise para o eixo das estacas mais próxima dentre as auxiliares, vale dois metros. Esta estaca encontra-se, na parte superior, vinculada a um bloco de fundação rígido. O maciço de solo no qual a mesma está imersa possui duas camadas. A primeira camada trata-se de uma argila mole com 7 metros de espessura e a segunda camada é constituída de uma areia compacta que possui 25 metros de espessura até o indeslocável. Destes 25 metros da camada de areia, a estaca será passante apenas 6 metros, completando, portanto, seus 13 metros de comprimento. A sobrecarga assimétrica para este exemplo pode ser imaginada que tenha origem de um aterro que foi supostamente executado apenas de um dos lados da fundação em estudo. A Figura 5.1 e 5.2 mostram, respectivamente, a situação hipotética para a consideração do efeito Tschebotarioff e a vista em planta do exemplo 1: 34 Figura 5.1–Corte esquemático da geometria do exemplo 1 para a consideração do EfeitoTschebotarioff. Cotas em metros. A vista em planta do mesmo exemplo é apresentada na Figura 5.2, cada estaca auxiliar absorve a carga de uma coluna de aterro de 1 m². Figura 5.2 - Representação da vista em planta com a disposição das estacas. Na modelagem deste exemplo, o aterro foi transformado em cargas concentradas calculadas em função do peso específico do material usado no aterro e também da altura do mesmo. O valor do peso específico considerado para a camada de aterro, que tem 6 metros de espessura, vale 18 kN/m³. A Figura 5.3 mostra a modelagem adotada: 35 Figura 5.3 - Modelagem proposta para análise do PEISE. Cotas em metros. Neste exemplo, o aterro foi dividido em colunas de área de 1 m². Com altura de 6 metros, o peso da coluna de solo vale 108 kN. Nas Figuras 5.1 e 5.3, a espessura da camada de solo mole aparece representada por l cotada na parte superior. 5.1.1 Solução Analítica Os resultados para a solução analítica são apresentados na forma de tabelas, também são apresentados as características geométricas do exemplo, propriedades do maciço de solo, reações de apoio e o máximo deslocamento esperado no topo da estaca segundo a solução analítica. Para a geometria apresentada, este exemplofoi formulado para duas espessuras de argila mole (l) diferentes, 4 e 7 metros. 36 Os diagramas de esforços internos e a deformada da estaca obtidos com a solução analítica são apresentados na Figura 5.4: Figura 5.4 - Diagramas de momento fletor, esforço cortante e deformada da estaca de acordo com a solução analítica proposta (da esquerda para a direita). Tabela 5.3 - Resultados obtidos com a solução analítica de acordo com a modelagem proposta (l = 7m). Características geométricas: fck = 20 MPa Ecs = 21,29 GPa l = 7 m D = 0,41 m I = 1,387E-03 m4 = 18 kN/m3 H = 6 m K = 0,4 p = 35,42 kN/m Reações de apoio: HB = 123,98 kN MA = 433,94 kNxm Deslocamento máximo: δmáx.= 31,51 cm 37 Tabela 5.4 - Resultados obtidos com a solução analítica de acordo com a modelagem proposta (l = 4m). Características geométricas: fck = 20 MPa Ecs = 21,29 GPa l = 4 m D = 0,41 m I = 1,387E-03 m4 = 18 kN/m3 H = 6 m K = 0,4 p = 35,42 kN/m Reações de apoio: HB = 70,85 kN MA = 141,70 kNxm Deslocamento máximo: δmáx.= 3,36 cm Observou-se que para a consideração de uma espessura de 7 metros para a camada de argila, foi obtido um valor muito elevado para o momento fletor a ser resistido na ligação do bloco de fundação com a estaca. O equilíbrio de forças da seção foi feito com o valor do momento característico calculado e a quantidade de aço necessária para garantir a integridade do conjunto à ruptura foi obtida. Deve-se deixar claro que para a obtenção da área de aço necessária, foi necessário estimar o valor para uma força normal que porventura venha a solicitar a estaca, dessa forma compondo o par conjugado força-momento. O valor adotado hipoteticamente da força normal característica a ser resistida pela estava seria 80 tf ou 800 kN. A área de aço obtida para l = 7m (200 cm²), não tem como ser arranjada na seção da estaca de 410 mm obedecendo às especificações da NBR 6118 (ABNT, 2003), devido ao seu valor muito elevado. Partiu-se dessa forma para uma situação no qual o valor de l apresentasse valores satisfatórios para a segurança estrutural do conjunto analisado, de forma que para l = 4m apresentou valores razoáveis. 38 5.1.2 Solução do PEISE O PEISE não reconhece a aplicação de força por unidade de área (kN/m2 por exemplo), para este fim, foi sugerida também uma modelagem especial para a aplicação desta sobrecarga. Com o intuito de representar a sobrecarga, usaram-se estacas auxiliares de 0,5 m de comprimento com a única função de aplicar a carga proveniente do aterro sobre o maciço de solo. O programa G-INFRA, conforme foi apresentado no capítulo terceiro, gera um arquivo com a extensão .dxf, que pode ser visualizado no Auto Cad, este arquivo contém a geometria do estaqueamento que se deseja fazer a análise. A Figura 5.5, foi obtida a partir do arquivo ESTACAS.dxf gerado pelo G-INFRA, nesta figura aparece apenas a numeração dos nós da estaca maior, estaca em que será feita a análise de esforços e deslocamentos. As estacas auxiliares estão representadas no lado direito superior da Figura 5.5, de forma que as suas discretizações foram retiradas, pois estas estacas possuem apenas 0,50 m de comprimento e os números dos nós não podiam ser visualizados satisfatoriamente devido ao espaço reduzido. Os deslocamentos calculados pelo programa MINDLIN, para a montagem da matriz de flexibilidade do solo, possuem valores com a ordem de grandeza no intervalo compreendido entre 10-4 e 10-8 com a presença massiva de deslocamentos nulos. Em termos numéricos, as respostas obtidas para este exemplo não foram satisfatórias. O arquivo de saída gerado pelo PEISE, que deveria possuir as respostas de esforços e deslocamentos para cada um dos nós do modelo, não apresentou quaisquer valores numéricos para as reações de apoio, segundo as vinculações impostas, nem para os esforços de cada um dos elementos em que a estrutura foi discretizada. Pode-se salientar ainda, que este exemplo foi executado no PEISE considerando duas vinculações distintas para as estacas auxiliares. Após o exemplo ter sido executado a primeira vez com as estacas auxiliares restringidas apenas à rotação em torno de seus próprios eixos, observou-se que os valores para os resultados eram inconsistentes. Uma segunda proposta de vinculação para as estacas auxiliares foi sugerida. Anteriormente a vinculação das estacas auxiliares foi imposta apenas para que cada uma das mesmas não ficasse configurada hipostaticamente quanto à condição de apoio. Nesta segunda 39 proposta, além das estacas auxiliares permanecerem restringidas quanto à rotação e torno de seus eixos, foram fixados os seus deslocamentos no plano. Figura 5.5 - Estaqueamento gerado pelo G-INFRA em perspectiva. Para esta nova configuração do modelo proposto, o PEISE apresentou respostas similares àquelas obtidas considerando as estacas auxiliares restringidas à rotação em torno de seus eixos. Tratando-se da transferência de forças para o maciço de solo, a primeira vinculação das estacas auxiliares levou a valores de forças dissipadas no maciço de solo pelo fuste das estacas com a ordem de grandeza maior que a grandeza das cargas aplicadas, ao passo que a segunda vinculação, apresentou valores das forças transferidas para o solo, contidos em um intervalo próximo dos valores obtidos com a primeira consideração de vinculação, além da presença de nós sem qualquer valor numérico para análise. Por último, deve-se ser observado ainda, que o PEISE, em uma de suas etapas para a solução do problema, inverte a matriz de flexibilidade do solo para encontrar sua 40 matriz de rigidez e então resolver o sistema linear de equações relacionado com o problema. Durante o processo de inversão da matriz de flexibilidade, o mesmo apresentou uma mensagem na qual afirma que a matriz de flexibilidade não estaria adequada para inversão. 5.2 Exemplo 2 Neste exemplo, a estaca para avaliação do Efeito Tschebotarioff possui as mesma características constitutivas do concreto empregado no exemplo anterior, estacas do tipo raiz de 410 mm com fck = 20MPa, seguindo as recomendações de NBR 6122 (ABNT, 2010) – Projeto e Execução de Fundações. Por outro lado, o comprimento das estacas auxiliares será de quatro metros e não apenas meio metro como no primeiro exemplo. A mudança do comprimento das estacas auxiliares foi motivada quando se pensou na possibilidade de o PEISE não ter apresentado valores consistentes para o primeiro exemplo, devido ao tamanho reduzido das mesmas. O número de estacas será significativamente reduzido, serão usadas no total, dez estacas, sendo nove estacas auxiliares para aplicação da sobrecarga assimétrica, mais uma na qual será feita analise dos esforços mediante o carregamento sobre as primeiras. A distância entre eixos da estaca principal para a mais próxima vale dois metros. O maciço de solo no qual este conjunto está inserido possui três camadas de solo. Há duas camadas de solos mais resistentes intercaladas por uma camada de argila muito deformável com espessura de quatro metros. A primeira e a última camada, para efeito de simplificação, são tratadas como o mesmo material (areia compacta); a camada que fica entre estas duas camadas de areia, trata- se de uma argila muito mole. Bowles (1977) apud Filho (2008), afirma que os valores: Eargila = 30 kg/cm² e Eareia = 1.000 kg/cm² são usuais para estes tipos de solos, e a relação de Poisson (µ) vale 0,3. O maciço de solo com a indicação de maiores detalhes do exemplo pode ser observado na Figura 5.6. A mesma hipótese que foi adotada para a obtenção de uma sobrecarga assimétrica no primeiro exemplo, que seria a execução de um aterro em apenas um dos lados da fundação, foi adotada para o concebimento da sobrecarga deste exemplo, de forma que o valor da sobrecarga sobre a massa de argila mole vale
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