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2a edição | Nead - UPE 2013
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife
 xxxx, xxxxxxxxxxxx
 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx. – 
Recife: UPE/NEAD, 2011 
 
 60 p. 
 ISBN - 
 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 
 xxxxxxxx
xxxxxx
U
ni
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e 
de
 P
er
na
m
bu
co
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N
CI
A
REITOR
Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado
 
VICE-REITOR
Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque
PRó-REITOR ADMINISTRATIVO
Prof. José Thomaz Medeiros Correia
PRó-REITOR DE PLANEJAMENTO
Prof. Béda Barkokébas Jr.
PRó-REITOR DE GRADUAÇÃO
Profa. Izabel Christina de Avelar Silva
PRó-REITORA DE PóS-GRADUAÇÃO E PESqUISA 
Profa. Viviane Colares Soares de Andrade Amorim 
PRó-REITOR DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL E ExTENSÃO
Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque
COORDENADOR GERAL
Prof. Renato Medeiros de Moraes
COORDENADOR ADJUNTO
Prof. Walmir Soares da Silva Júnior
ASSESSORA DA COORDENAÇÃO GERAL
Profa. Waldete Arantes
COORDENAÇÃO DE CURSO
Profa. Giovanna Josefa de Miranda Coelho
COORDENAÇÃO PEDAGóGICA
Profa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima
COORDENAÇÃO DE REVISÃO GRAMATICAL
Profa. Angela Maria Borges Cavalcanti
Profa. Eveline Mendes Costa Lopes
Profa. Geruza Viana da Silva 
GERENTE DE PROJETOS
Profa. Patrícia Lídia do Couto Soares Lopes
ADMINISTRAÇÃO DO AMBIENTE
Igor Souza Lopes de Almeida
COORDENAÇÃO DE DESIGN E PRODUÇÃO
Prof. Marcos Leite
EqUIPE DE DESIGN
Anita Sousa 
Gabriela Castro
Rafael Efrem
 Renata Moraes
Rodrigo Sotero
COORDENAÇÃO DE SUPORTE
Afonso Bione
Prof. Jáuvaro Carneiro Leão
EDIÇÃO 2013
Impresso no Brasil - Tiragem 180 exemplares
Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro
Recife / PE - CEP. 50103-010
Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664
CONTEÚDOS E MÉTODOS 
EM GEOGRAFIA 
Prof. Msc. Nilson Vasconcelos de Sousa Carga Horária | 60 horas
Profa. Ms.Fabiana Cristina da Silva 
Objetivo geral
Apresentação
Ementa
Fundamentações epistemológicas da ciência ge-
ográfica. Inter-relações entre a ciência geográfica. 
Disciplina Geografia. Teoria e Prática no ensino fun-
damental. Geografia em sala de aula. Interdepen-
dência. Cartografia e Geografia. Parâmetros Curri-
culares e o ensino de Geografia.
Demonstrar a relevância da Geografia como ciên-
cia e disciplina escolar, identificando e analisando 
os conteúdos, as metodologias, as complexidades, 
as contradições e as inter-relações estabelecidas 
entre a natureza e a sociedade, sobretudo a sua 
aplicabilidade na prática didático-pedagógica, em 
sala de aula.
Na sociedade contemporânea, as rápidas transformações no mundo do trabalho e o avanço 
tecnológico reconfiguram a sociedade virtual e os meios de comunicação, incidindo fortemente 
numa reflexão epistemológica da Geografia como ciência e disciplina escolar.
Diante dessas circunstâncias, aplicar novos paradigmas e conteúdos no ensino de Geografia não 
é uma tarefa simples nem fácil. Portanto, o nosso desafio é o de demonstrar e analisar as novas 
condições e as exigências do mundo contemporâneo frente às práticas didático-pedagógicas em 
sala de aula, propiciando um desenvolvimento humano, cultural, científico e tecnológico do dis-
cente e futuro docente em Pedagogia.
capítulo 1 7
Prof. Msc. Nilson Vasconcelos de Sousa
Profa. Ms.Fabiana Cristina da Silva
Carga Horária | 15 horas
INTRODUÇÃO
Ao longo da história, a humanidade vivenciou diversas transformações as quais refletiram na evolução 
e nos fundamentos epistemológicos da ciência geográfica, uma vez que, sendo uma ciência essen-
cialmente social e natural, deve responder aos anseios e às novas realidades. Essas vertentes geraram 
várias tendências na ciência geográfica, as quais foram e são desenvolvidas por diversos pensadores e 
teóricos.
Atualmente, muitos estudiosos e acadêmicos têm produzido vários artigos, resenhas, dissertações e 
teses relacionados aos fundamentos epistemológicos da ciência geográfica, dando enfoque a uma 
revisão de seus conteúdos e métodos. Sendo assim, essa disciplina tem como objetivo principal de-
monstrar a relevância da Geografia como ciência e disciplina escolar, identificando e analisando as 
complexidades, as contradições e as inter-relações estabelecidas entre a natureza e a sociedade, numa 
determinada escala de tempo, sobretudo a sua aplicabilidade na prática pedagógica, em sala de aula. 
Em seguida, serão expostos à história os percursores e as discussões conceituais da Geografia como 
também as tendências do pensamento geográfico no século xx.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Caracterizar e compreender as abordagens 
históricas e conceituais da Geografia;
 
• Entender e identificar as inter-relações da 
ciência geográfica com as demais ciências;
 
• Apontar e analisar as principais tendências 
da Geografia no século xx.
FUNDAMENTOS 
EPISTEMOLÓGICOS 
DA CIÊNCIA 
GEOGRÁFICA
capítulo 18
1. HISTÓRIA DA 
 GEOGRAFIA E DE 
 SEUS PERCURSORES
Os primeiros registros de conhecimentos geo-
gráficos se encontram em relatos de viajantes, 
como o grego Heródoto, no século V a.C. A 
percepção dos gregos sobre a Terra era bas-
tante avançada, e filósofos, como Pitágoras e 
Aristóteles, acreditavam que ela tinha a forma 
esférica. No século III a.C., Erastóstenes de Ci-
rene, na Geographica, primeira obra a usar a 
palavra geografia no título, calculou a circunfe-
rência da Terra com assombrosa aproximação.
Posteriormente, o geógrafo e historiador gre-
go Strabo compilou todo o conhecimento 
clássico sobre geografia numa obra de 17 vo-
lumes sobre a época de Cristo, que se tornou a 
única referência sobre obras gregas e romanas 
desaparecidas. Outra importante contribuição, 
apesar dos erros que seus estudos apresenta-
vam, foi a do astrônomo e geógrafo Ptolomeu, 
do século II da era cristã.
Com a queda do Império Romano no Ociden-
te, o conhecimento geográfico greco-romano 
perdeu-se na Europa, mas, durante os sécu-
los xI e xII, foi preservado, revisto e ampliado 
por geógrafos árabes. No entanto, as adições 
e correções que esses fizeram foram ignora-
das pelos pensadores europeus que, na época 
das cruzadas, retomaram as primeiras teorias. 
Assim, os erros de Ptolomeu se perpetuaram 
no Ocidente até que as viagens realizadas nos 
séculos xV e xVI começaram a reabastecer a 
Europa de informações mais detalhadas e pre-
cisas sobre o resto do mundo. Em 1570, o car-
tógrafo flamengo Abraham Ortelius organizou 
vários mapas sob a forma de livro, no primeiro 
Atlas de que se tem notícia.
Em 1650, surge uma importante figura da re-
tomada dos estudos geográficos, Bernhardus 
Varenius, cuja obra denominada Geographia 
generalis foi, várias vezes, revisada e permane-
ceu como principal obra de referência durante 
um século ou mais. Também era de Flandres 
o cartógrafo mais importante do século xVI, 
Gerardus Mercator, que criou um novo siste-
ma de projeções, aprimorando os que usavam 
longitudes e latitudes.
Entre os anos de 1772 e 1775, James Cook 
fixou novos padrões de precisão e técnica em 
navegação. Realizou viagens com fins cientí-
ficos e circunavegando o globo. Na França, 
surgiu a primeira pesquisa topográfica deta-
lhada de um grande país, levada a cabo entre 
os séculos xVII e xVIII por quatro gerações de 
astrônomos e pesquisadores da família Cassini. 
Em seu trabalho, baseou-se o Atlas nacional 
da França, publicado em 1791.
Como muitos que o antecederam, Alexander 
von Humboldt se propôs a conhecer outras 
partes do mundo, mas acabou se distinguindo 
pela cuidadosa preparação que antecedia suas 
viagens, pelo alcance e pela precisão de suas 
observações. Durante as viagens aos Andes, 
às Américas Central e do Sul, no período de 
1799 a 1804, fez uma descrição sistemáticae 
inter-relacionada da altitude, temperatura, ve-
getação e agricultura em montanhas situadas 
em regiões de alta e baixa latitude. Humboldt 
lançou as bases da geografia moderna, com 
ênfase na observação direta e nas medições 
acuradas como base para leis gerais.
Immanuel Kant definiu o lugar da geografia 
entre as diferentes disciplinas e afirmou que a 
Geografia lida com os fenômenos associados 
ao Espaço, da mesma forma que a história lida 
com os fatos que ocorrem durante uma mes-
ma época. Foi Kant que primeiro utilizou o ter-
mo “Geografia Física” e que relacionou a Geo-
grafia ao espaço e a História ao tempo. Tanto 
Kant quanto Humboldt lecionaram geografia 
física e foram contemporâneos de Carl Ritter, 
que ocupou a primeira cadeira de geografia 
criada numa universidade moderna.
capítulo 1 9
Carl Ritter já definiu o conceito de sistema na-
tural como uma área delimitada, dotada de 
uma individualidade. Para ele, a Geografia de-
veria estudar esses arranjos individuais e com-
pará-los. Cada arranjo abarcaria um conjunto 
de elementos, representando uma totalidade, 
em que o homem seria o principal elemento. 
Assim, a Geografia de Ritter é, principalmente, 
um estudo dos lugares, uma busca da indivi-
dualidade desses. Toda essa proposta se assen-
tava na arraigada perspectiva religiosa. Nesse 
sentido, a Geografia explicaria a individualida-
de dos sistemas naturais, pois nesta se expres-
saria o desígnio da divindade ao criar aquele 
lugar específico.
Com Friedrich Ratzel, a Geografia passou pelo 
processo de sistematização com base nos seus 
trabalhos pioneiros em geografia humana e 
política. Criador da antropogeografia, o geó-
grafo e etnógrafo alemão é autor do ensaio 
tido como ponto de partida da geopolítica, 
no qual introduziu o conceito de espaço vital. 
Apesar de admirar as concepções evolucionis-
tas de Darwin e Haeckel, criticou-as pelo meca-
nicismo. Expôs, em suas obras Antropogeogra-
fia (1882-1891) e Geografia política (1897), os 
princípios de seu pensamento: na primeira, de-
senvolveu a tese de uma relação causal entre 
as características do meio-ambiente natural e 
as realizações humanas; na segunda, estabele-
ceu uma analogia biológica entre os mecanis-
mos de contração e a expansão dos países, ou 
seja, a tendência dos povos a limitarem ou am-
pliarem fronteiras, segundo as necessidades de 
espaço vital.
Já Paul Vidal de La Blache foi um dos principais 
responsáveis pelo surgimento da geografia 
moderna na França. Deve-se a ele a definição 
do campo da geografia regional, com ênfase 
no estudo de áreas pequenas e relativamente 
homogêneas. Foi o primeiro professor de geo-
grafia da Sorbonne e planejou uma obra mo-
numental, que cobria a geografia regional em 
todo o mundo, mas não viveu o bastante para 
concluí-la. Geografia Universal (1927-1948) 
foi completada por seu aluno Lucien Gallois 
e é considerada uma das mais bem-sucedidas 
publicações sobre o tema. A seguir, no próxi-
mo subitem, serão discutidas as inter-relações 
da ciência geográfica.
2. INTER-RELAÇÕES DA 
 CIÊNCIA GEOGRÁFICA
O que é Geografia? - aparentemente é simples 
– porém se refere a um campo do conheci-
mento científico sobre o qual reina uma gran-
de polêmica. Apesar da antiguidade do uso do 
rótulo Geografia, há uma imensa controvérsia 
sobre a matéria tratada por essa disciplina. Isso 
se manifesta na indefinição do objeto dessa ci-
ência, ou melhor, nas múltiplas definições que 
lhes são atribuídas.
Alguns estudiosos definem a Geografia como 
o estudo da superfície terrestre. Esse conceito 
é o mais usual e vago. Essa definição do objeto 
apoia-se na etimologia da palavra Geografia, 
a qual significa descrição da Terra. Nesse sen-
tido, o estudo geográfico descreveria todos os 
fenômenos manifestados na Terra, sendo uma 
síntese de todas as ciências. Esse pensamen-
to fundamenta-se nas ideias de Kant. Para ele, 
a ciência estaria apoiada em duas classes: a 
especulativa, apoiada na razão, e a empírica, 
na observação e nas sensações. Em outras pa-
lavras, a Geografia é uma ciência sintética e 
descritiva, a qual visa abranger uma visão de 
conjunto do planeta.
Já outros conceituam a Geografia como o es-
tudo da paisagem. Para esses, a análise geo-
gráfica estaria restrita aos aspectos visíveis do 
real. A paisagem é vista como uma associação 
de múltiplos fenômenos, o que mantém a con-
cepção de ciência de síntese, que trabalha to-
das as demais ciências.
Uma outra proposta discutida é que a Geogra-
fia é um estudo da individualidade dos luga-
res. Para esses, nela o estudo geográfico de-
veria abarcar todos os fenômenos que estão 
capítulo 110
presentes numa dada área, tendo por meta 
compreender o caráter singular de cada por-
ção do planeta. Muitos geógrafos iriam buscar 
essa meta por meio da descrição exaustiva dos 
elementos, outros pela visão ecológica, encon-
trando, no próprio inter-relacionamento, um 
elemento de singularização.
A Geografia como estudo de diferenciação de 
áreas é outra proposta existente. A tal pers-
pectiva traz uma visão comparativa para o uni-
verso da análise geográfica. Nessa concepção, 
é individualizar as áreas e compará-las com as 
regularidades da distribuição e das inter-rela-
ções dos fenômenos como também diferen-
ciá-las delas.
Já outros autores buscam definir a Geografia 
como estudo do espaço. Para eles, o espaço 
pode ser concebido como uma categoria do 
entendimento, isto é, toda forma de conhe-
cimento efetivar-se-ia por meio de categorias, 
como tempo, grau, gênero, espaço, etc. Em 
outras palavras, o espaço pode ser concebido 
como um ser específico do real, com caracte-
rísticas e com uma dinâmica própria.
E, por fim, alguns definem a Geografia como 
estudo das relações entre o homem e o meio, 
ou posto de outra forma, entre a sociedade e 
a natureza. Dentro dessa linha de raciocínio, 
existem três visões distintas: a primeira, em 
que o homem é posto como um elemento pas-
sivo, cuja história é determinada pelas condi-
ções naturais as quais o envolvem; a segunda 
é a ideia de que a Geografia é um estudo da 
relação entre o homem e a natureza, definin-
do o objeto como a ação do homem na trans-
formação desse meio; e a terceira, em que os 
autores conceberiam o objeto como a relação 
em si, com os dados humanos e os naturais 
possuindo o mesmo peso. Para eles, o estu-
do buscaria compreender o estabelecimento, 
a manutenção e a ruptura do equilíbrio entre 
o homem e a natureza.
Conforme as discussões anteriores, podemos 
perceber, apenas, as definições da Geografia 
tradicional, sendo que existem novas propos-
tas atuais que tornam a temática cada vez 
mais complexa.
quanto às reflexões na definição de seu ob-
jeto de estudo, conclui-se que a geografia se 
relaciona com outras ciências, como a Meteo-
rologia, a Geologia, a Biologia, a Economia, a 
Sociologia e a História. Apresenta, além disso, 
pontos em comum com a Psicologia, a Filoso-
fia e a Teologia, já que tanto as ideias como os 
fatos humanos se manifestam espacialmente. 
A Ecologia é a ciência mais afim com a Ge-
ografia, e chegou-se até a definir essa última 
como ecologia humana. Não obstante, uma 
grande diferença as separa, já que a primeira 
se encarrega do estudo do ecossistema, enten-
dido como unidade funcional dos seres vivos 
e do meio a sua volta, enquanto a segunda 
estuda e interpreta a distribuição espacial dos 
ecossistemas.
A semelhança com outras ciências levou mui-
tos a considerarem a Geografia como uma 
soma de elementos que individualmente per-
tenceriam a outras ciências. Contudo, o caráter 
de síntese e a busca da interação entre os fe-
nômenos que conformam a realidade terrestre 
outorgam à geografia características próprias. 
A Geografia se divide em campos sistemáticos 
e especializações regionais, que podem ser 
reunidos em três grupos principais: geografia 
física, geografia humana e geografia regional.
As principais atividades do geógrafo físico - 
observação, medição e descrição da superfície 
da Terra - são os aspectosda geografia geral 
mais perceptíveis. A crescente complexidade 
das questões geográficas exigiu uma progres-
siva especialização, o que deu margem à cria-
ção de novas disciplinas, como ocorreu com a 
geomorfologia, a climatologia, a biogeografia 
capítulo 1 11
e a geografia dos solos, ramos da geografia 
física. Com o aumento da capacidade humana 
de alterar as paisagens e a ecologia mundial, 
dois novos ramos surgiram: o manejo de re-
cursos e os estudos ambientais.
Os temas do manejo de recursos e dos estudos 
ambientais são de especial interesse para os 
geógrafos, pois envolvem tanto sistemas físi-
cos quanto biológicos por um lado, e sistemas 
humanos por outro, e todos eles têm relações 
específicas com o espaço que ocupam. O ma-
nejo de recursos tende a direcionar a utilização 
dos recursos naturais em benefício da humani-
dade, geralmente com exploração sustentada 
ou planejamento de longo prazo, como, por 
exemplo, no uso de recursos aquáticos de um 
curso d’água para múltiplas finalidades (ener-
gia, irrigação e lazer).
Os estudos ambientais abordam a ameaça im-
posta a animais e vegetais pela atividade huma-
na; a degradação da atmosfera, da hidrosfera 
e da litosfera por poluição de muitos tipos; e a 
combinação desses dois aspectos, como ocor-
re no caso da chuva ácida, resultante da pro-
dução de energia a partir de hidrocarbonetos, 
e no caso da redução da camada de ozônio, 
pelo uso de clorofluorcarbonos. Em todos esses 
estudos, os geógrafos consideram tecnologias 
alternativas, custos, impactos sobre outros sis-
temas, políticas alternativas e distribuição espa-
cial do benefício ou do problema.
Um dos problemas centrais da geografia hu-
mana é explicar a distribuição e as caracterís-
ticas dos povos - área de estudo específica da 
geografia das populações. Essa distribuição, 
porém, somente pode ser compreendida, 
quando se presta atenção à forma como os 
povos satisfazem suas necessidades e garan-
tem sua subsistência; a seus valores culturais e 
sociais, ferramentas e organização, que são os 
campos de estudo da geografia cultural e so-
cial; à forma como se concentram em cidades 
e áreas metropolitanas, objeto da geografia 
urbana; a sua organização política, estudada 
pela geografia política; a sua saúde e às doen-
ças que os afetam, campo da geografia médi-
ca; e à evolução de seus hábitos, matéria da 
geografia histórica.
No estudo da distribuição da população, a 
geografia das populações considera várias ca-
racterísticas, como crescimento, quantidade, 
densidade, idade, sexo, fertilidade, mortalida-
de, crescimento natural e ocupação; divisão 
em grupos rurais e urbanos, étnicos, linguís-
ticos ou religiosos e migrações. Em geral, os 
geógrafos não se contentam com médias na-
cionais, que frequentemente encobrem fortes 
contrastes regionais. Em lugar disso, tentam 
medir e descrever variações regionais e locais. 
Em algumas regiões, por exemplo, a popula-
ção aumenta, enquanto em outras declina, e 
essas variações são quase sempre acompanha-
das de fluxos migratórios substanciais.
Alguns estudos geográficos abordam a dis-
tribuição espacial, a mobilidade espacial ou a 
diversidade espacial em relação ao meio am-
biente e aos recursos, frequentemente repre-
sentados nos mapas. Outros estudos se pre-
ocupam mais com fertilidade, mortalidade, 
crescimento populacional e previsões apoia-
das em modelos demográficos, outros, ainda, 
abordam questões de política populacional.
O conhecimento do modo como as pessoas 
garantem sua sobrevivência em termos eco-
nômicos é básico para a compreensão da 
distribuição da população. É de especial in-
teresse geográfico a localização da atividade 
econômica em sua evolução histórica dentro 
de contextos culturais e tecnológicos especí-
ficos, baseada em combinações particulares 
de recursos físicos, biológicos e humanos, 
condições econômicas e políticas, bem como 
de ligações e movimentos inter-regionais. Por 
exemplo, no estudo do surgimento de centros 
metalúrgicos de um país, é preciso considerar 
não apenas a localização e disponibilidade das 
matérias-primas mas também fatores, como: 
capítulo 112
a disponibilidade, a qualificação e o custo da 
mão de obra; distâncias e custos de distribui-
ção para os mercados; custos de implantação 
e até mesmo mudanças nas taxas de câmbio 
dos países competidores, entre outros fatores.
Os cinco temas principais caracterizam a geo-
grafia cultural: cultura, área cultural, paisagem 
cultural, história cultural e ecologia cultural. O 
primeiro deles refere-se à distribuição no es-
paço e no tempo de culturas e dos elemen-
tos da cultura, como artefatos e ferramentas, 
técnicas, atitudes, costumes, línguas e crenças 
religiosas. A área cultural diz respeito aos com-
plexos culturais em sua organização espacial, 
e a paisagem cultural aborda a associação de 
características humanas, biológicas e físicas 
sobre a superfície da Terra (especialmente as 
que são visualmente perceptíveis), alteradas ou 
não pela ação humana. Esse campo tende a 
concentrar seus estudos nas sociedades tradi-
cionais, e sua principal preocupação tem sido 
os aspectos espaciais dos grupos minoritários, 
como mulheres, idosos e pobres.
Já a geografia urbana é um campo de gran-
de importância em nações com economias 
mais desenvolvidas e altos níveis de urbaniza-
ção, como os países da Europa ocidental e da 
América do Norte, a Austrália e o Japão. Entre 
outros tópicos, estuda os fatores que influen-
ciam a localização de determinadas cidades, 
sistemas urbanos, diferenças regionais em ur-
banização, expansão de áreas metropolitanas, 
problemas sociais e habitacionais etc.
Os estudos de geografia política em nível in-
ternacional se concentram na organização do 
mundo em estados, nas alianças regionais en-
tre países de um lado, e sua subdivisão polí-
tico-administrativa de outro, na delimitação e 
demarcação de fronteiras, na escolha de locais 
para as capitais etc. Em nível nacional, estuda 
movimentos separatistas e distribuição dos vo-
tos, conforme interesses regionais, entre ou-
tros temas.
Existem três tipos diferentes de estudos (es-
tão incluídos sob a especialidade da geografia 
médica): um deles é o estudo da difusão de 
doenças infecciosas com base nos centros de 
ocorrência, que incluem o mapeamento da dis-
tribuição de determinada doença; em segundo 
lugar, estão os estudos da relação entre desnu-
trição e problemas médicos, e o terceiro campo 
inclui as pesquisas sobre disponibilidade de ser-
viços médicos e sua ótima distribuição.
A geografia de épocas passadas e suas mudan-
ças ao longo do tempo é o tema da geografia 
histórica. O primeiro aspecto analisado é o es-
tudo horizontal dos padrões apresentados em 
épocas específicas; o outro é a análise vertical 
do processo de mudança ao longo do tempo. 
Esse campo cresceu muito na segunda metade 
do século xx.
Em contraste com os campos sistemáticos da 
geografia, os quais enfocam categorias par-
ticulares de fenômenos, sobre a forma como 
se distribuem pelo globo, a geografia regio-
nal estuda as associações regionais de todos 
ou alguns desses elementos e, especialmente, 
sua evolução histórica. Trata-se de uma abor-
dagem relativamente recente - os trabalhos 
pioneiros nesse campo datam do fim do sé-
culo xIx e início do século xx - à qual muitos 
geógrafos têm-se dedicado, mas que, algumas 
vezes, se apresenta como claramente subordi-
nada a outros campos da geografia sistemáti-
ca. Uma das questões metodológicas a superar 
é a forma como o mundo deve ser dividido do 
ponto de vista da geografia regional. A divisão 
em continentes foi adotada por algum tem-
po. Mais recentemente, contudo, as regiões 
com semelhanças culturais ganharam maior 
reconhecimento, como, por exemplo, a Amé-
rica Latina, o Oriente Médio, muito úteis em 
alguns casos, uma vez que estão estreitamente 
ligadas ao tipo de agricultura praticado e às 
demais atividades humanas. No próximo subi-
tem, serão discutidas as tendências do pensa-
mento geográfico do séculoxx.
3. TENDÊNCIAS 
capítulo 1 13
 DO PENSAMENTO 
 GEOGRÁFICO 
 DO SÉCULO XX
As transformações ocorridas no conhecimen-
to científico e no contexto sócio-econômico 
promovem a contínua mudança nos desafios e 
nos problemas enfrentados pelos homens. Pro-
curando analisar e explicar essa problemática, 
com vistas a propor soluções e prever as pos-
síveis consequências futuras, o conhecimento 
científico está sempre aceitando os desafios e 
lutando com o objetivo de superar as questões 
relevantes para as sociedades.
Nesse sentido, o conhecimento geográfico 
tem o propósito de analisar e esclarecer esses 
problemas de cunho social, natural, cultural, 
econômico e, principalmente, científico. Toda-
via, não se poderá compreender esse debate 
atual, se não abordarmos as características da 
geografia predominante na primeira metade 
do Século xx e se não tivermos uma visão mais 
abrangente do seu desenvolvimento no tem-
po. Portanto, com o intuito de entender e ca-
racterizar as diversas tendências atuantes nos 
estudos geográficos, procurou-se, nessa seção, 
estabelecer o seguinte esquema sequencial: a 
fase tradicional (pré-1950), a Nova Geografia, 
a Geografia Humanística, a Geografia Idealis-
ta, a Geografia Radical e a Geografia Têmporo-
-Espacial.
Foi somente no Século xIx que a Geografia co-
meçou a usufruir status de conhecimento orga-
nizado, penetrando nas universidades. Em 1870, 
foram criadas, na Alemanha, as primeiras cadei-
ras de Geografia e, posteriormente, na França. 
Organizada e estruturada em função das obras 
de Alexandre von Humboldt e de Carl Ritter, de-
sabrochando na Alemanha e na França, pouco 
a pouco a Geografia foi-se difundindo para os 
demais países. As contribuições e as ideias dos 
geógrafos alemães e franceses tiveram grande 
influência no desenvolvimento dessa ciência na 
primeira metade do Século xx. Enquanto na Ale-
manha, os trabalhos mais significativos são os de 
Alfred Hettner, na França, os trabalhos básicos 
são os de Paul Vidal de La Blache.
Em 1925, Alfred Hettner considerava como 
objetivo fundamental da Geografia o estudo 
da diferenciação regional da superfície terres-
tre. Essa definição foi acatada e elaborada por 
Hartshorne, em 1939, em sua obra A natureza 
da Geografia. Muito mencionada também é 
a definição elaborada por Emmanuel de Mar-
tonne, em sua obra Tratado de Geografia Físi-
ca, cuja primeira edição surgiu em 1909, e a 
última, em 1951. Para De Martonne a “geo-
grafia moderna encara a distribuição à superfí-
cie do globo dos fenômenos físicos, biológicos 
e humanos, as causas dessa distribuição e as 
relações locais desses fenômenos”. 
Essas definições e a prática da pesquisa geo-
gráfica estavam imbuídas de contradições di-
cotômicas. Entre elas, duas merecem ser des-
tacadas nesta oportunidade. A primeira estava 
relacionada com a Geografia Física e a Geogra-
fia Humana, representando os conjuntos meio 
geográfico e atividades humanas, a Geografia 
Física destinava-se ao estudo do quadro natu-
ral, enquanto a Geografia Humana preocupa-
va-se com a distribuição dos aspectos origina-
dos pelas atividades humanas.
Em virtude do aparato teórico-metodológico 
mais eficiente das ciências físicas elaborado 
por William Morris Davis, a Geografia Física 
rapidamente ganhou a imagem de ser cienti-
ficamente mais bem consolidada e executada. 
Destituída de aparato teórico e explicativo para 
as atividades humanas, assim como da impre-
cisão dos procedimentos metodológicos, a Ge-
ografia Humana sempre se debatia na procu-
ra de justificar o seu gabarito científico, e em 
estabelecer sua definição e finalidades como 
ciência. A esta dicotomia se juntava o confli-
to conceitual de ser a Geografia uma “ciência 
única” ou um conjunto de ciências.
A segunda dicotomia se refere à geografia 
geral e à geografia regional. A geografia ge-
capítulo 114
ral analisava cada categoria de fenômenos 
de maneira autônoma, objetivando estudar a 
distribuição dos fenômenos na superfície da 
Terra. Essa focalização resultou na geografia 
sistemática ou na subdivisão da geografia (ge-
omorfologia, hidrologia, climatologia, bioge-
ografia, geografia da população, da energia, 
urbana, industrial, da circulação e outras). En-
tretanto, deve-se lembrar de que o designativo 
geral não se referia ao conceito da metodo-
logia científica de procurar generalizações ou 
leis, mas se baseava no princípio da “unidade 
terrestre” (La Blache, 1896) e na “escala plane-
tária” (Cholley, 1951).
A Geografia Regional procurava estudar as 
unidades componentes da diversidade areal da 
superfície terrestre. Em cada lugar, área ou re-
gião, a combinação e a interação das diversas 
categorias de fenômenos refletiam-se na ela-
boração de uma paisagem distinta, que surgia 
de modo objetivo e concreto. O estudo das 
regiões e das áreas favoreceu a expansão da 
perspectiva regional, que teve como padrão as 
clássicas monografias da escola francesa. Preo-
cupados em compreender as características re-
gionais, o geógrafo desenvolveu a habilidade 
descritiva, exercendo a caracterização já esta-
belecida por La Blache, em 1913.
À Geografia, considerando a totalidade, cor-
respondia o trabalho de síntese, reunindo e 
coordenando todas as informações a fim de 
salientar a visão global e totalizadora da re-
gião. A vocação sintética tornou-se a respon-
sável pela unidade do ponto de vista atribuí-
do à pesquisa geográfica. É ela a responsável 
pela unidade da Geografia, fazendo com que 
a “Geografia tenha por objeto o conhecimento 
das relações que condicionam, em determina-
do momento, a vida e as relações dos grupos 
humanos. Essas relações colocam em jogo 
elementos e atos de essência múltipla, tão di-
ferentes como a presença do granito ou a de 
uma fronteira” (Pierre George, 1961).
Em virtude dessa concepção ampla, todos os 
eventos da superfície terrestre acabam perten-
cendo ao âmbito geográfico. A importância 
assumida pela síntese é tão grande que Jacque 
Line Beaujeau Garnier, em 1971, observa que 
“o método geográfico visa analisar uma parce-
la do espaço concreto, isto é, pesquisar todas 
as formas de relações e de combinações que 
podem existir entre a totalidade dos diversos 
elementos em presença. Isso é a geografia glo-
bal, a geografia tout court”.
A propósito da Geografia Tradicional, inúmeros 
são os trabalhos conceituais e metodológicos 
disponíveis em língua portuguesa. É da mais 
significativa importância salientar o trabalho 
e a preocupação assídua do periódico Boletim 
Geográfico em publicar traduções de artigos 
básicos elaborados por geógrafos de diversas 
nacionalidades. Publicado, regularmente, des-
de 1943, pelo antigo Conselho Nacional de 
Geografia e depois pela Fundação IBGE, cons-
titui fonte preciosa de referências bibliográfi-
cas. Com o intuito somente de exemplificar, 
podemos lembrar os artigos de Boyé (1974), 
Cholley (1964), Davis (1945), James (1967), 
James e Jones (1959), Le Lannou (1948), Ta-
tham (1959) e Whittlesey (1960), Paul Vidal de 
La Blache (1954), Jean Brunhes (1962), René 
Clozier (1950), Jan Broek (1967), Olivier Doll-
fuss (1972; 1973), Pierre George (1972), Pierre 
George, R. Gughielmo, B. Kaiser e Y. Lacos-
te (1966), Richard Hartshorne (1978), Pierre 
Monbeig (1957), Gabriel Rougerie (1971), Hil-
gard Sternberg (1946), S. W. Wooldridge e W. 
G. East (1967) e a de Nelson Werneck Sodré 
(1976).
A denominação de “Nova Geografia” foi ini-
cialmente proposta por Manley (1966), consi-
derando o conjunto de ideias e de abordagens 
que começaram a se difundir e a ganhar de-
senvolvimento durante a década de cinquenta. 
O surgimento de novas perspectivas de abor-
dagem está integrado na transformação pro-
funda, provocada pela Segunda Guerra Mun-
dial nos setores científico, tecnológico, social e 
econômico. Essa transformação, abrangendo 
o aspecto filosófico e metodológico, foi deno-
capítulo 1 15
minada de “revolução quantitativa e teorética 
da Geografia” por lan Burton (1963).
Com o objetivo de superar as dicotomiase os 
procedimentos metodológicos da Geografia 
Regional, a Nova Geografia desenvolveu-se 
procurando buscar um enquadramento maior 
da Geografia no contexto científico. A fim de 
traçar um panorama genérico sobre a Nova 
Geografia, podemos especificar algumas de 
suas metas básicas:
A - Rigor maior na aplicação da metodologia 
científica - baseada na filosofia do positivismo 
lógico, a metodologia científica representa o 
conjunto dos procedimentos aplicáveis à exe-
cução da pesquisa científica. Não há metodo-
logia específica para uma ciência, mas, para o 
conjunto das ciências. Há métodos científicos 
para a pesquisa geográfica, mas não, métodos 
geográficos de pesquisa.
Considerando a metodologia científica como o 
paradigma para a pesquisa geográfica, a Nova 
Geografia salienta a necessidade de maior 
rigor no enunciado e na verificação de hipó-
teses assim como na formulação das explica-
ções para os fenômenos geográficos. E não 
se deve só explicar o existente e o acontecido, 
mas, com base nas teorias e nas leis, ser capaz 
também de propor predições. Dessa maneira, 
cria-se a simetria entre o passado e o futuro. 
Com o intuito de cada vez mais se conhecerem 
os aspectos e as questões relacionadas com 
a metodologia, os geógrafos passaram a se 
interessar pela filosofia da ciência. E as obras 
de Ernest Nagel, Gustav Bergmann, R. B. Brai-
thwaite, Mario Bunge, Carl Hempel e de Karl 
Popper, entre muitos outros, começaram a ser 
mencionadas por geógrafos preocupados com 
essa temática.
B) Desenvolvimento de teorias - a falta de te-
orias explicitamente expostas na Geografia 
Tradicional foi veementemente criticada por 
inúmeros geógrafos. Por essa razão, sob o 
paradigma da metodologia científica, a Nova 
Geografia também procurou estimular o de-
senvolvimento de teorias relacionadas com as 
características da distribuição e arranjos espa-
ciais dos fenômenos. Deve-se notar também a 
grande facilidade com que os geógrafos pas-
saram a usar e trabalhar as teorias disponíveis 
em outras ciências, como as teorias econô-
micas, mormente as relacionadas com a dis-
tribuição, localização e hierarquia de eventos 
(as teorias de Christaller, von Thunen, Losch, 
Weber).
Tendo em vista verificar a aplicabilidade de 
tais teorias, muitos geógrafos passaram a es-
tudar os padrões de distribuição espacial dos 
fenômenos (estudo de distribuições pontuais, 
de redes ou de áreas), mas sem fazer estudo 
crítico e propor modificações ou substituições 
àquelas teorias. Não se encontra contribuição 
realmente significativa para a teoria geográfica 
das organizações espaciais. Se havia deficiên-
cia em teorias, essa lacuna ainda continua a 
existir. Por outro lado, com o estudo dos pa-
drões espaciais, aceitava-se implicitamente 
o espaço como a dimensão característica da 
análise geográfica e a superfície terrestre como 
o seu objeto de estudo. Basicamente, não ha-
via nada de diferenciação fundamental com as 
definições propostas por Hettner e Hartshorne. 
Ao deslocar o foco de análise para o das or-
ganizações espaciais, estava-se propondo mo-
dificação substancial, mas a inércia da forma-
ção geográfica manteve-se, e a transformação 
continua a ser almejada.
C) O uso de técnicas estatísticas e matemáticas 
- para analisar os dados coletados e as distri-
buições espaciais dos fenômenos foi uma das 
primeiras características que se salientou na 
Nova Geografia, e o seu carisma foi tão grande 
que se refletiu na adjetivação empregada por 
muitos trabalhos, a denominação de “Geogra-
fia quantitativa”.
Indiscutivelmente, o uso das técnicas de análi-
se deve ser incentivado porque elas se consti-
tuem em ferramentas, em meios para o geó-
grafo. O conhecimento das diversas técnicas 
capítulo 116
de análise (as simples, as multivariadas e as 
relacionadas com a análise seriada e espacial) 
é básico para o geógrafo. Entretanto, usar 
técnicas estatísticas, por mais sofisticadas que 
sejam, não é fazer Geografia. Se o geógra-
fo coleta inúmeros dados e informações e os 
analisa por meio do computador (por exem-
plo, usando a análise fatoral ou a discrimi-
nante), sem ter noção clara do problema a 
pesquisar e se não dispuser de arsenal teórico 
e conceitual que lhe permita adequadamente 
interpretar os resultados obtidos, estará, ape-
nas, fazendo trabalho de mecanização, mas 
nunca, um trabalho geográfico.
D) A abordagem sistêmica - serve ao geógrafo 
como instrumento conceitual, que lhe facilita 
tratar dos conjuntos complexos, como os da 
organização espacial. A preocupação em foca-
lizar as questões geográficas sob a perspectiva 
sistêmica representou característica que favo-
receu e dinamizou o desenvolvimento da Nova 
Geografia.
A aplicação da teoria dos sistemas aos estu-
dos geográficos serviu para melhor focalizar as 
pesquisas e para delinear, com maior exatidão, 
o setor de estudo dessa ciência, além de propi-
ciar oportunidade para considerações críticas 
de muitos dos seus conceitos. A bibliografia 
específica avoluma-se continuamente, abor-
dando temas ligados às geociências ou às ciên-
cias humanas. No âmbito da Geografia, todos 
os seus setores estão sendo revitalizados pela 
utilização da abordagem sistêmica. Por exem-
plo, a introdução do conceito de geossistema 
pelos geógrafos soviéticos permitiu recompor 
e revitalizar o campo da Geografia Física (So-
tchava, 1977).
E) O uso de modelos - intimamente relaciona-
da com a verificação das teorias, com a quan-
tificação e com a abordagem sistêmica, desen-
volveu-se o uso e a construção de modelos. A 
construção de modelos pode ser considerada 
como estruturação sequencial de ideias rela-
cionadas com o funcionamento do sistema. O 
modelo permite estruturar o funcionamento 
do sistema, a fim de torná-lo compreensível 
e expressar as relações entre os seus diversos 
componentes. Para o geógrafo, o modelo 
é um instrumento de trabalho, que deve ser 
utilizado na análise dos sistemas das organi-
zações espaciais. Como na quantificação, não 
se deve se prender à construção e ao uso de 
modelos pelo simples objetivo em si mesmo. 
Mas é um meio para melhor se atingir a com-
preensão da realidade. A Geografia Humanís-
tica, a Geografia Idealista e a Geografia Radical 
são três tendências que ganharam ímpeto nos 
últimos anos.
A abordagem humanística em Geografia tem 
como base os trabalhos realizados por Yi-Fu 
Tuan, Anne Buttimer, Edward Relph e Mercer 
e Powell e possui a fenomenologia existencial, 
como a filosofia subjacente. Embora possuin-
do raízes mais antigas, em Kant e Hegel, os sig-
nificados contemporâneos da fenomenologia 
são atribuídos à filosofia de Edmund Husserl 
(1859-1939). Evidentemente, esse movimento 
filosófico foi ampliado, e vários autores forne-
ceram subsídios importantes, tais como Heide-
gger, Merleau-Ponty e Sartre, entre outros.
A fenomenologia preocupa-se em analisar os 
aspectos essenciais dos objetos da consciência 
por meio da supressão de todos os preconcei-
tos que um indivíduo possa ter sobre a natu-
reza dos objetos, como os provenientes das 
perspectivas científica, naturalista e do senso 
comum. Preocupando-se em verificar a apre-
ensão das essências por meio da percepção e 
da intuição das pessoas, a fenomenologia uti-
liza como fundamental a experiência vivida e 
adquirida pelo indivíduo.
A Geografia Humanística procura valorizar a 
experiência do indivíduo ou do grupo, visando 
compreender o comportamento e as manei-
ras de sentir das pessoas em relação aos seus 
lugares. Para cada indivíduo, para cada grupo 
humano, existe uma visão do mundo, que se 
expressa por meio das suas atitudes e de seus 
valores para com o quadro ambiente.
capítulo 1 17
É o contexto por meio do qual a pessoa valo-
riza e organiza o seu espaço e o seu mundo, 
nele relacionando-se. Nessa perspectiva, os 
geógrafos humanistas argumentam que sua 
abordagem merece o rótulo de “humanística”, 
pois estudam os aspectos do homem que são 
mais distintamente humanos: significações, 
valores, metas e propósitos (Entrikin, 1976).As noções de espaço e lugar surgem como 
muito importantes para essa tendência geo-
gráfica. O lugar é aquele onde o indivíduo se 
encontra ambientado, onde está integrado. Ele 
faz parte do seu mundo, dos seus sentimentos 
e afeições; é o “centro de significância ou um 
foco de ação emocional do homem”. O lugar 
não é toda e qualquer localidade, mas aquela 
que tem significância afetiva para uma pessoa 
ou grupo de pessoas. Em 1974, ao tentar es-
truturar o setor de estudos relacionados com 
a percepção, atitudes e valores ambientais, Yi-
-Fu Tuan propôs o termo Topofilia, definindo-o 
como “o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou 
quadro físico”.
A Geografia Idealista representa tendência para 
valorizar a compreensão das ações envolvidas 
nos fenômenos, procurando focalizar o seu as-
pecto interior, que é o pensamento subjacente 
às atividades humanas. O filósofo e historia-
dor R. G. Collingwood, em sua obra The idea 
of history, de 1956, considera que uma ação 
compreende dois aspectos: o exterior e o inte-
rior. O exterior compreende todos os aspectos 
de uma ação passíveis de descrição em função 
de corpos e de seus movimentos, enquanto a 
parte interior das ações é o pensamento sub-
jacente aos seus aspectos observáveis (a sua 
parte exterior).
Essa perspectiva collingwoodiana foi acatada 
por Leonard Guelke, o qual vem aplicando-a à 
Geografia. Em 1974, apresentou as caracterís-
ticas básicas da geografia idealista e posterior-
mente mostrou a sua potencialidade de aplica-
ção à geografia histórica (1975) e à geografia 
regional (1977).
Descontente com a característica pragmática 
assumida pela Nova Geografia, Guelke (1975) 
observa que “o valor pragmático de muitos 
trabalhos da Nova Geografia é o único aspec-
to a fornecer-lhe uma justificativa maior para 
a sua existência. Se analisarmos a Nova Geo-
grafia somente em função da sua contribuição 
intelectual à disciplina, os resultados são escas-
sos. Mas isso não é surpreendente. Os novos 
geógrafos simplesmente aplicavam técnicas 
mais sofisticadas dentro do velho contexto 
hartshorniano. Em outras palavras, os novos 
geógrafos estiveram basicamente relacionados 
com os atributos externos dos fenômenos e 
com sua associação espacial”.
O idealismo é uma alternativa ao positivismo, 
tomando plena consideração da dimensão do 
pensamento no comportamento humano. O 
idealista considera que as ações humanas não 
podem ser explicadas adequadamente, a me-
nos que se compreenda o pensamento subja-
cente a elas, em que o positivista procura expli-
car o comportamento como uma função dos 
atributos externos dos fenômenos, e o idealis-
ta procura compreendê-lo em termos dos prin-
cípios internos do indivíduo ou do grupo en-
volvido. Em outras palavras, “o idealista tenta 
explicar os padrões de paisagens repensando 
os pensamentos das pessoas que os criaram”. 
(Guelke, 1975).
Em seu artigo de 1974, Guelke observa que o 
geógrafo humano está interessado principal-
mente na forma por meio da qual uma ação 
possa se desenrolar, em “compreender a res-
posta racional para o fenômeno, mas não na 
explicação do fenômeno em si”. As formas de 
atividades humanas, em níveis individual e so-
cial, modificaram e transformaram a superfície 
terrestre. Assim, “o objetivo do geógrafo hu-
mano idealista é o de compreender o desen-
volvimento da paisagem cultural da Terra ao 
revelar o pensamento que jaz atrás dele”.
Outra tendência nos estudos geográficos que 
se iniciou na década de 1960 está relacionada 
capítulo 118
com a Geografia Radical. Em virtude do am-
biente contestatório nos Estados Unidos, nos 
anos sessenta, em função da guerra do Vietnã, 
da luta pelos direitos civis, da crise da poluição 
e da urbanização, surgiu uma corrente geo-
gráfica preocupada em ser crítica e atuante. 
Vários adjetivos são mencionados para carac-
terizá-la, tais como geografia crítica, de rele-
vância social, marxista e radical. Dentre eles, 
considero ser a denominação Geografia Radi-
cal mais abrangente e significativa, designan-
do tudo o que seja de tendência esquerdista 
e a postura contestatória de seus praticantes.
Por meio de pequenos grupos de professores e 
alunos, em diversas universidades americanas 
(John Hopkins, Clark, Simon Fraser e outras), a 
leitura e a análise das obras de Marx e Engels 
foram aspectos destacados no movimento da 
Geografia Radical, a fim de procurar focaliza-
ções para a análise marxista do espaço. Em 
1974, fundou-se a União dos Geógrafos So-
cialistas em Toronto, a qual se encontra orga-
nizada com base em federações locais e sem 
possuir uma sede central. A partir de 1975, ela 
se tornou responsável pela publicação da revis-
ta U. S. G. Newsletter. 
Outro ponto importante na evolução da Geo-
grafia Radical foi a publicação do livro de Da-
vid Harvey – Justiça Social e a Cidade 1973 -, 
que foi a primeira tentativa de apresentar uma 
síntese e um marco teórico para a análise mar-
xista do espaço urbano.
A Geografia Radical também visa ultrapassar e 
substituir a Nova Geografia. Os seus propug-
nadores consideram a Nova Geografia como 
sendo pragmática, alienada, objetivada no 
estudo dos padrões espaciais e não nos pro-
cessos e problemas socioeconômicos e com 
grande função ideológica. Dessa maneira, ela 
procura analisar, em primeiro, os processos 
sociais, e não os espaciais, ao inverso do que 
se costumava praticar na geografia teorético-
-quantitativa. Nessa focalização, encontra-se 
implícito o esforço na tentativa de integrar os 
processos sociais e os espaciais no estudo da 
realidade.
A Geografia Radical interessa-se pela análise 
dos modos: o de produção e o das formações 
sócio-econômicas. Isso porque o marxismo 
considera como fundamental os modos de 
produção, enquanto as formações sócio-eco-
nômicas espaciais (ou formações econômicas 
e sociais) são as resultantes. As atividades dos 
modos de produção constroem e geram for-
mações diferentes. Cada modo de produção, 
capitalista ou socialista, por exemplo, reflete-se 
em formações sócio-econômicas espaciais dis-
tintas, cujas características da paisagem geo-
gráfica devem ser analisadas e compreendidas.
Para a análise dos modos de produção e das 
formações sócio-econômicas, os geógrafos 
radicais têm por base a filosofia marxista. In-
serida no contexto radical do movimento cien-
tífico, ela tem por objetivo colaborar ativamen-
te para a transformação radical da sociedade 
capitalista em direção da socialista, por meio 
do incentivo à revolução. Por essa razão, a Ge-
ografia Radical deve ser marxista (Folke, 1972). 
Com o fito de atingir tais objetivos, surge a 
ênfase sobre os temas de relevância social, a 
fim de incentivar os mecanismos das lutas de 
classe, tais como: a pobreza, as desigualdades 
e as injustiças sociais, a deterioração dos re-
cursos ambientais, as desigualdades espaciais 
e sociais nas estruturas urbanas e outros. Nes-
sa perspectiva, o tema do “bem-estar social” 
não surge como novo ramo da Geografia, mas 
para definir “uma geografia humana nova” 
(Smith, 1977).
Outro aspecto importante refere-se à questão 
metodológica. A Nova Geografia baseia-se 
nos procedimentos da metodologia científica, 
enquanto a Geografia Radical se assenta nos 
procedimentos metodológicos dos matemáti-
cos dialéticos. É tema polêmico mostrar qual 
dos procedimentos é o mais adequado. A fim 
de considerar que os procedimentos metodo-
lógicos, baseados no positivismo lógico, são 
capítulo 1 19
inadequados em vários textos radicais, o termo 
“científico” surge com conotação pejorativa. 
Por outro lado, digladiam-se temas, como a 
objetividade e a exigência de verificação e refu-
tabilidade na metodologia científica, e o dog-
matismo e a impossibilidade de se verificarem 
e refutarem as explicações marxistas dadas aos 
fenômenos sócio-espaciais.
Em língua portuguesa, encontram-se disponí-
veis diversas obras e artigos relacionados com a 
Geografia Radical. Entre as traduções, convém 
mencionar as obras de Yves Lacoste (A Geo-
grafia Serve, Antes de MaisNada, para fazer a 
Guerra, 1977), de Massimo quaine (Marxismo 
e Geografia, 1979) e de David Harvey (Justiça 
Social e a Cidade, 1980), além do artigo de 
James Anderson (1977) sobre a ideologia na 
Geografia. Entre os geógrafos brasileiros, Míl-
ton Santos vem-se salientando nessa perspec-
tiva geográfica, por meio de diversos artigos e 
de duas obras mais expressivas, denominadas 
Por uma Geografia Nova (1978) e Economia 
Espacial (1979).
A Geografia Têmporo-espacial procura anali-
sar as atividades dos indivíduos e das socieda-
des em função das variáveis tempo e espaço, 
visando traçar as trajetórias dos ritmos de vida 
(diários, anuais e da própria duração da vida), 
assinalando a alocação de tempo despendido 
nas diversas atividades e nos vários lugares. O 
contexto abrangido pelo território ao alcance 
do indivíduo, ou da sociedade corresponde ao 
seu meio ambiente, dentro do qual ele execu-
ta as suas atividades, considerando as escalas 
temporais do dia, do ano ou da própria vida.
Tomando como base os trabalhos realizados por 
Torsten Hagerstrand, a partir de 1970, essa ten-
dência originou o Grupo de Geografia do Tempo 
na Suécia. Na atualidade, vários outros grupos e 
escolas já se dedicam a essa temática, como o 
Grupo Multinacional de Orçamento Comparativo 
de Tempo, o Grupo Chapin, na Carolina do Norte 
(E.U.A.), e a Escola de Becker, que se dedica à alo-
cação temporal na economia.
As questões relacionadas com o uso do tempo 
são fundamentais para a perspectiva têmporo-
-espacial da Geografia, tanto em relação ao in-
divíduo como em relação aos grupos. As ativi-
dades desenvolvidas pelos indivíduos e grupos 
na família, nos locais de trabalho e nas horas 
de lazer exigem construções adequadas, meios 
de transporte e organização dos horários. Para 
que os membros da sociedade possam usu-
fruir dos divertimentos e lazeres, por exemplo, 
é preciso que essas atividades sejam ofereci-
das fora dos seus horários de trabalho e numa 
localização próxima da sua residência, a qual 
permita um deslocamento conveniente e aces-
sível de ida e volta. As escolhas de residência, 
de locais de trabalho, de cidades para morar 
são decisões que envolvem seleção de pontos 
para usufruir das regalias e disponibilidades 
sociais e para distribuir convenientemente o 
uso do tempo diário nas diversas atividades. 
Os recursos individuais e familiares (renda, uso 
de carro etc.) criam condições que liberam as 
pessoas para agir numa porção maior do espa-
ço e para executar tarefas mais diversificadas.
As atividades produtivas e as características 
das classes sócio-econômicas são importantes 
na análise têmporo-espacial. São significativas, 
por exemplo, as diferenças no uso do tempo 
entre as populações urbanas e as rurais. Ou-
tro aspecto relaciona-se com o valor do tempo 
gasto. As pessoas de baixo nível social e cultu-
ral executam tarefas de baixo rendimento, pois 
o seu tempo é barato. As pessoas de alto nível 
social e cultural apresentam valor do tempo 
muito mais elevado, cujo gasto não é destina-
do à execução de tarefas simples e rotineiras. 
Delegar as tarefas domésticas e de limpeza às 
empregadas é procedimento usual nas famílias 
abastadas, assim como os subalternos execu-
tam muitas tarefas delegadas pelos patrões e 
dirigentes.
Portanto, as abordagens histórica-conceituais, 
as inter-relações e as tendências dos estudos 
geográficos demonstram e delineiam as carac-
terísticas da atual Geografia. Essas perspec-
tivas enriquecem conceitualmente e promo-
capítulo 120
vem um dinamismo científico. A Geografia 
continua sendo uma ciência que analisa o 
conjunto global ou as categorias setoriais dos 
fenômenos. E cabe a nós, geógrafos, conhe-
cer e atualizar as várias tendências (conteú-
dos e métodos) da Geografia, avaliando os 
seus aspectos positivos e negativos, as suas 
vantagens e desvantagens.
RESUMO
A humanidade passou por diversas trans-
formações que refletiram na evolução e nos 
fundamentos epistemológicos da ciência geo-
gráfica, uma vez que, sendo uma ciência es-
sencialmente social e natural, deve responder 
aos anseios e às novas realidades. Nesse sen-
tido, este capítulo deteve-se na caracterização 
e compreensão das abordagens histórica-con-
ceituais da Geografia, no entendimento e na 
identificação das inter-relações da ciência geo-
gráfica com as demais ciências e a descrição e 
análise das principais tendências da Geografia 
do século xx.
REFERÊNCIAS
1. Comente sobre a definição do objeto de es-
tudo da Geografia e suas inter-relações com 
as demais ciências.
2. Fale sobre a história da Geografia.
3. Caracterize e analise as tendências da 
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grafia. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
capítulo 2 21
Prof. Msc. Nilson Vasconcelos de Sousa
Profa. Ms. Fabiana Cristina da Silva
Carga Horária | 15 horas
INTRODUÇÃO
A Geografia é uma disciplina escolar, a qual oferece aos alunos e professores representações sociais, 
naturais, históricas e culturais, visando ao entendimento melhor do mundo em seu processo ininter-
rupto de transformação.
As atuais abordagens da Geografia no Brasil resultam das várias correntes do pensamento, desde 
as de Paul Vidal de La Blache até as contemporâneas. Alguns pesquisadores orientam-se, teórica e 
metodologicamente, com maior ênfase, pelas correntes humanísticas e psicológicas da Geografia da 
percepção e pela fenomenologia, enquanto outros, ainda, pelo materialismo histórico e dialético.
A identificação dessas correntes permite expor a atuação das práticas pedagógicas no desenvolvimen-
to da espacialidade dos professores e alunos, considerando a multiplicidade de concepções acerca da 
Geografia e de seu ensino.
Os conteúdos e os métodos distintos não existem um sem o outro em educação. Decidir por um mé-
todo passivo ou por outro interativo e participativo incide, de modo diferente, no desenvolvimento 
do pensamento e do raciocínio do aluno e na sua formação social. A discussão com o professor em 
formação inicial e continuada sobre a consistência e a coerência de sua opção teórico-metodológica 
é fundamental para trabalhar com a educação geográfica dos alunos e, sobretudo, ter o respeito dos 
estudantes como educador e profissional que sabe Geografia.
No entanto, este capítulo irá abordar a origem da Geografia como ciência e disciplina no Brasil, apon-
tando as abordagens conceituais, metodológicas e curriculares, o movimento de renovação da geo-
grafia no Brasil nas escolas e a teoria e prática de Geografia em sala de aula.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Levantar e compreender o processo histó-
rico da Geografia como ciência e disciplina 
escolar no Brasil, apontando as abordagens 
conceituais, metodológicas e curriculares;
 
• Analisar o movimento de renovação da 
Geografia no Brasil nas escolas;
 
• Identificar e entender a teoria e a prática 
da Geografia em sala de aula.
GEOGRAFIA 
NO BRASIL: 
CIÊNCIA E 
DISCIPLINA 
ESCOLAR
capítulo 222
1. A ORIGEM DA 
 GEOGRAFIA COMO 
 CIÊNCIA E DISCIPLINA 
 NO BRASIL
A Geografia passou a desenvolver-se com o 
respaldo do Estado francês, sendo introduzida 
como disciplina em todas as séries do ensino 
básico, na reforma efetivada na terceira repú-
blica. Foram criadas as cátedras e os institutos 
de Geografia,o que estimulou a formação de 
geógrafos e de professores da disciplina.
Os princípios da escola francesa nortearam as 
primeiras gerações de pesquisadores brasilei-
ros e o trabalho pedagógico dos docentes. No 
Brasil, as ideias produzidas pela escola france-
sa chegaram aos bancos escolares por meio de 
licenciados, que, de posse do saber científico, 
desenvolvido na universidade, e com o auxílio 
de livros didáticos, escritos por professores uni-
versitários, elaboravam suas aulas, produzindo 
um saber para os diferentes níveis de ensino. 
Vale destacar o trabalho de Aroldo de Azeve-
do, cujos livros foram adotados nas escolas 
brasileiras, entre as décadas de 1950 e 1970.
Em meados da década de 1950, as tendên-
cias tradicionais da Geografia buscavam com-
preender o espaço geográfico por meio das 
relações do homem com a natureza, passan-
do a serem questionadas em várias partes do 
mundo e, nas décadas seguintes, também no 
Brasil. Os geógrafos foram à busca de novas 
teorizações e novos paradigmas.
A fundação da Faculdade da USP (1934) e do 
Departamento de Geografia (1946) teve papel 
fundamental no desenvolvimento da ciência 
geográfica no País e na formação de licencia-
dos para o ensino da disciplina. Do ponto de 
vista teórico, é importante registrar a profunda 
influência europeia sobre o desenvolvimento 
dessa ciência no Brasil, com destaque para a 
presença francesa, justificada pela naciona-
lidade dos primeiros mestres, entre os quais 
Monbeig e Deffontaines, na faculdade da USP, 
e Ruellan na Faculdade do Rio de Janeiro.
Simultaneamente à criação da USP, fundou-se 
a AGB – Associação de Geógrafos Brasileiros, 
que teve e tem significativa importância para 
todos os que, no Brasil, produzem conheci-
mento geográfico e ensinam Geografia.
Antes da Faculdade da USP, não havia, no Brasil, 
o bacharel e o professor licenciado em Geogra-
fia. Existiam pessoas que, egressas de diferentes 
faculdades ou até mesmo das escolas normais, 
lecionavam essa disciplina, assim como outras. 
Eram os professores de Geografia: advogados, 
engenheiros, médicos e seminaristas.
Nessa época, a Geografia era uma disciplina 
decorativa, que objetivava, apenas, a enume-
ração de nomes de rios, serras, montanhas, 
ilhas, cabos, capitais, cidades, rios, etc. As 
pesquisas feitas pela Comissão Geográfica 
e Geológica do Estado de São Paulo foram 
fundamentais para a produção geográfica no 
país. Delgado de Carvalho, intelectual, forma-
do nas universidades europeias e norte-ame-
ricanas, participou dos debates educacionais 
dos anos de 1920. Foi diretor do Colégio Pe-
dro II e integrou o grupo executivo, o qual re-
formulou os programas de ensino no Distrito 
Federal (RJ), sob a direção de Anísio Teixeira 
- que teve, na época, para a História e a Geo-
grafia, profundo significado na definição tan-
to dos conteúdos a serem ensinados quanto 
das respectivas metodologias.
Ele produziu obras científicas, didáticas e me-
todológicas no campo das ciências sociais, 
participando ativamente do movimento da Es-
cola Nova, que fundamentava as discussões e 
as reformas de ensino na década de 1930 e 
nas que se seguiram. A Metodologia do Ensi-
no Geográfico, publicada em 1925, constituiu 
o trabalho mais importante da Geografia no 
Brasil da primeira metade do século xx.
Delgado de Carvalho propôs que o território 
brasileiro fosse estudado por meio das regiões 
capítulo 2 23
naturais, posição que promovia a naturalização 
das questões relativas à sociedade brasileira.
No Brasil, a formação de uma Geografia com 
caráter científico efetivou-se a partir de 1930, 
ao serem criadas as primeiras faculdades de Fi-
losofia, o Conselho Nacional de Geografia, o 
IBGE e AGB.
A criação da faculdade da USP contribuiu para 
mudanças no perfil do professor de Geografia 
e História, pois possibilitou o surgimento de 
um profissional novo, o bacharel e licenciado. 
Esse novo professor foi procurar seu espaço no 
mundo profissional, tendo papel importante na 
transformação cultural, sobretudo na sala de 
aula, na atuação junto aos alunos do ginásio.
A formação docente em Geografia desen-
volveu-se com o crescimento da produção 
científica, baseada em trabalhos de campo, 
realizados com os estudantes e vinculados à 
literatura geográfica de origem francesa ou 
alemã, acrescida da crítica dos professores 
brasileiros. O aluno, ao completar sua forma-
ção inicial, tornava-se professor de História e 
Geografia.
Entre as décadas de 1940 e 1950, o IBGE teve 
papel fundamental na produção de artigos so-
bre pesquisas de caráter geográfico, os quais 
chegaram aos alunos do antigo ginásio e co-
légio por meio dos professores da área, bem 
como pelos livros didáticos e pelas orientações 
metodológicas, fundamentadas em publica-
ções produzidas por esse instituto e pelo Con-
selho Nacional de Geografia.
Para o ensino médio, destacou-se o Boletim 
Geográfico, com distribuição por todo o ter-
ritório nacional por meio das agências e dele-
gacias do IBGE, tendo sido um dos primeiros 
a preocupar-se com o ensino da Geografia de 
forma regular. Esse boletim, que existiu por 36 
anos, possuía uma parte dedicada ao ensino. 
Os geógrafos estrangeiros e as gerações que 
os sucederam deixaram artigos e transcrições 
sobre o ensino nesse periódico.
A AGB seção – São Paulo deu início, em 1949, 
à publicação do Boletim Paulista de Geografia 
- BPG, que se tornou canal de expressão dos 
geógrafos do estado de São Paulo e, principal-
mente, da USP, contando, até o ano de 2005, 
81 números publicados.
O BPG, no qual os geógrafos expunham e 
ainda expõem suas ideias e pesquisas, foi-se 
constituindo fonte bibliográfica obrigatória 
dos estudantes e sendo utilizado pelos pro-
fessores das escolas de ensinos fundamental e 
médio. O boletim, desde a década de 1940, 
vem influenciando a formação dos professores 
na USP e nas faculdades particulares e públi-
cas do país. Os associados da AGB – São Paulo 
mantinham-se atualizados sobre o movimento 
e a produção da Geografia em nível nacional e, 
até mesmo, internacional.
Na apresentação do primeiro número do BPG, 
Aroldo de Azevedo afirmava que a publicação 
deveria ser o espelho da nova geração de ge-
ógrafos e oferecer aos leitores contribuições 
originais de valor quer no quadro da Geografia 
física e biológica, quer no da Geografia Huma-
na em seu mais amplo sentido, sem esquecer o 
campo fascinante da Geografia regional.
2. GEOGRAFIA 
 NO BRASIL: 
 qUESTIONAMENTOS
A partir do término da 2ª Guerra Mundial, 
houve uma reelaboração das condições de 
dependência do País, com a reintegração do 
Brasil ao sistema econômico mundial sob a he-
gemonia dos EUA. As classes sociais brasilei-
ras passaram a participar dos debates sobre os 
problemas nacionais, sobretudo nos grandes 
centros urbanos; a burguesia industrial, a clas-
se média e o proletariado tinham interesse e 
sensibilidade para debater o desenvolvimento 
econômico, a industrialização, o nacionalismo 
e a emancipação econômica.
capítulo 224
O planejamento econômico, com a aplicação 
de novas tecnologias, passou a ser visto como 
uma das saídas. A realidade tornou-se mais 
complexa. A urbanização acentuou-se, e for-
maram-se as áreas metropolitanas. O quadro 
agrário sofreu modificações em várias partes 
do Brasil, em decorrência da industrialização 
e da mecanização das atividades agrícolas. 
As realidades locais tornaram-se elos de uma 
rede articulada em níveis nacional e mundial, 
ou seja, cada lugar deixou de explicar-se por 
si mesmo como produto de longa relação his-
tórica entre a vida do homem em sociedade 
e o meio natural, transformando-se em meio 
geográfico por esse mesmo homem.
Baseando-se nisso, surgem novas metodolo-
gias para se compreender a tal complexidade. 
O levantamento feito por meio de pesquisa de 
campo revelou-se insuficiente, passando-se, 
aos poucos, para o uso de técnicas mais so-
fisticadas, como, na década de 1960, a aero-
fotogrametria, antes monopólio dos exércitos 
americanos e brasileiros.Na década de 1970, os geógrafos passaram 
a utilizar, com maior intensidade, a leitura de 
imagens de satélites as quais mostravam a co-
bertura do céu, sobretudo na meteorologia e 
na climatologia, como documentos importan-
tes nos estudos da dinâmica atmosférica.
Entre as décadas de 1980 e 1990, os progra-
mas de computador e as técnicas ligadas ao 
sensoriamento remoto passaram a ser usados. 
No entanto, mais importante do que as novas 
técnicas disponíveis para as análises espaciais 
foi a reflexão teórico-metodológica, intensifi-
cada no Brasil, a partir da década de 1970.
O embasamento filosófico, centrado no posi-
tivismo clássico e no historicismo, passou a ser 
fortemente questionado pelos geógrafos teoré-
ticos. O IBGE foi pioneiro na produção de arti-
gos de caráter geográfico, nos quais se verifica 
o uso de métodos matemáticos. Durante essa 
época, surgiu uma entidade denominada As-
sociação de Geografia Teorética – Ageteo, que 
passou a divulgar trabalhos relacionados a mé-
todos estatísticos e modelos matemáticos, com 
vistas à compreensão do espaço geográfico.
A geografia teorética não teve repercussão di-
reta nas escolas de primeiro e segundo graus. 
No entanto, medidas ligadas à política edu-
cacional do país na década de 1970 levaram 
para as escolas livros com saberes geográficos 
extremamente empobrecidos em seu con-
teúdo, desvinculados da realidade brasileira 
e, ademais, descaracterizados pela propos-
ta dos Estudos Sociais, introduzidos pela Lei 
5.692/71. Esse empobrecimento dos livros di-
dáticos é explicado pela imposição da censura 
militar sobre publicações, autores e editoras.
Enquanto as instituições de ensino superior 
particulares proliferavam sem condições mate-
riais e humanas de realizar pesquisas, as uni-
versidades públicas mantinham o debate sobre 
a ciência geográfica e seu ensino. No mundo, 
principalmente no pós-guerra, continuando 
nas décadas seguintes, nomes, como Pierre 
George, Yves Lacoste, Jean Tricart e outros, 
procuraram o aprofundamento teórico da Ge-
ografia, utilizando o materialismo histórico e 
dialético. Marx e seus seguidores afirmavam 
que só a perspectiva de transformar o mundo 
permitia sua compreensão, só a visão crítica 
permitia apreender a essência e o movimento 
dos processos sociais.
A partir da década de 1980, surgiram tendên-
cias críticas, as quais apresentavam o mate-
rialismo histórico como elemento unificador 
e método de investigação da realidade, bus-
cando superar os diferentes dualismos sempre 
constatados na Geografia, por constituir-se 
um corpo sistematizado de conhecimentos.
Mas, ao longo da década de 1990, despon-
taram tendências não marxistas, além de al-
gumas que desvalorizavam a importância do 
método dialético no debate. Hoje, existem vá-
capítulo 2 25
rios caminhos para a discussão e a produção 
da Geografia no Brasil, apoiadas no existen-
cialismo, na fenomenologia, na percepção, no 
anarquismo, dentre outros mais.
A seguir, será discutida a Geografia como dis-
ciplina escolar e seus currículos.
3. DISCIPLINA ESCOLAR 
 E CURRÍCULOS 
 DE GEOGRAFIA
Na década de 1970, os debates se acirravam 
em decorrência da busca de novos paradigmas 
teóricos no âmbito do conhecimento em Ge-
ografia, a escola pública de primeiro e segun-
do graus, hoje ensinos fundamental e médio, 
enfrentava um problema ocasionado pela Lei 
5.692/71: a criação de Estudos Sociais, com a 
eliminação gradativa da História e da Geogra-
fia da grade curricular.
Pela Lei 5.692/71, assistiu-se à extinção do exa-
me de admissão ao ginásio e a fusão do gi-
násio ao primário, constituindo-se a escola de 
primeiro grau de 8 anos. Com as mudanças no 
currículo e na grade curricular, como a criação 
de Estudos Sociais e Educação Moral e Cívica, 
contribuiu-se para causar danos à formação de 
toda uma geração de estudantes.
A discussão contemporânea sobre conteúdos 
de ensino beneficia-se das reflexões, dos deba-
tes e das produções sobre os currículos esco-
lares e os condicionantes históricos, políticos, 
econômicos, sociais, culturais e educacionais 
em sua elaboração e adoção. Além de permitir 
a compreensão da relação sociedade-cultura-
-currículo-práticas escolares e dos programas 
de ensino das disciplinas no passado, funda-
menta melhor a análise dos currículos e dos 
programas de ensino atuais.
No entanto, para Sacristán (1998, p.17), a con-
cepção de currículo está ligada à expressão do 
equilíbrio de interesses e forças que gravitam 
sobre o sistema educativo num dado momen-
to, enquanto que, por meio dele, se realizam 
os fins da educação no ensino escolarizado. 
Em seu conteúdo e nas formas por meio das 
quais nos apresenta e se apresenta aos pro-
fessores e alunos, é uma opção historicamente 
configurada, que sedimentou dentro de uma 
trama cultural, política, social e escolar, carre-
gado, portanto, de valores e pressupostos que 
é preciso se decifrar.
As diferentes atribuições curriculares que se 
referem ao conteúdo, à metodologia, à avalia-
ção, à organização e à inovação do/no ensino 
são assumidas pelos diversos agentes de sua 
implementação: o Estado, as comunidades, a 
escola e o professor. A este atribui-se a respon-
sabilidade pelos aspectos citados e pela defini-
ção de um programa, pelo planejamento/or-
denação das aulas, pela avaliação dos alunos, 
pelo autoaperfeiçoamento e pelo aperfeiçoa-
mento horizontal, associado ao projeto polí-
tico pedagógico da escola. Esta, por sua vez, 
orientada pelas diretrizes gerais de um Estado, 
define, com base em um mínimo curricular de 
áreas e/ou disciplinas, objetivos, conteúdos e 
horários mínimos.
No Brasil, a centralização e a descentralização 
das diretrizes curriculares pelo Estado têm so-
frido flutuações. A partir de 1940, houve uma 
centralização das diretrizes curriculares estabe-
lecidas pelo MEC. Ocorreram depois períodos 
de maior autonomia dos Estados da Federa-
ção, proporcionada pela Lei 5.692/71, para 
posteriormente verificar-se, uma vez mais, a 
centralização da política educacional com os 
parâmetros curriculares nacionais para o ensi-
no básico e as diretrizes curriculares nacionais 
para o ensino superior nos anos de 1990.
Com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação 5.692, em 1971, os Estudos So-
capítulo 226
ciais foram incorporados ao currículo da escola 
denominada de primeiro e segundo graus, de 
acordo com um núcleo composto de três ma-
térias: comunicação e expressão, estudos so-
ciais e ciências. Essas matérias correspondiam 
às chamadas licenciaturas curtas, e, para as 
disciplinas do segundo grau, seriam formados 
professores em licenciatura plena.
Essas medidas receberam intensas críticas dos 
geógrafos brasileiros, principalmente no que 
dizia respeito aos Estudos Sociais como campo 
de integração dos conhecimentos de História 
e Geografia. Com a criação dessa disciplina, a 
política educacional estabelecida subordinou 
a estrutura do ensino universitário a uma ten-
dência ambígua, segundo a qual a formação 
do professor deve ser reduzida em compara-
ção à do pesquisador.
Surgiram muitos debates acerca do assunto, 
levando-se ao MEC para substituir Estudos 
Sociais por História e Geografia nas diferentes 
séries finais do ensino de primeiro grau, com 
a ampliação da carga horária e a extinção da 
licenciatura curta.
A AGB e ANPUH auxiliaram, com as respectivas 
críticas, na extinção dos Estudos Sociais e tam-
bém contribuíram para aproximação de parte 
do professorado à universidade. Esse processo 
colaborou para minimizar o desconhecimen-
to da produção geográfica e histórica, a qual, 
apesar do período militar, continuou a avançar 
no âmbito universitário.
4. MOVIMENTOS 
 DE RENOVAÇÃO 
 DE GEOGRAFIA 
 NAS ESCOLAS
Os egressos, sobretudo das universidades pú-
blicas ou que acompanhavam os vários even-
tos da AGB, vinham participando dos debates 
entre os representantes das diferentes tendên-
cias da Geografia produzidas nas universida-
des e que, direta ou indiretamente, influíam 
nos ensinosfundamental e médio. Nas déca-
das de 1980 e 1990, variada produção sobre 
o ensino da disciplina foi posta à disposição de 
seus professores e dos responsáveis pela for-
mação docente no país.
As secretarias de educação estaduais no Brasil, 
ao produzirem suas propostas curriculares de 
Geografia para o primeiro grau, via de regra 
em convênio com as universidades, organiza-
ram cursos para a capacitação docente, possi-
bilitando o acesso às diferentes metodologias 
ligadas aos movimentos de renovação do ensi-
no da disciplina.
No entanto, apesar desse trabalho, o processo 
de mudança no ensino em sala de aula esta-
va sendo lento. Segundo pesquisas realizadas 
junto aos professores, a impossibilidade de 
mudanças foi atribuída às precárias condições 
de trabalho oferecidas pelas escolas, ao nú-
mero elevado de horas que se viam obrigados 
a cumprir e ao grande número de alunos em 
sala de aula.
A década de 1980 destacou-se pela produção 
de livros didáticos de melhor qualidade e de 
inúmeros títulos paradidáticos, teses e disserta-
ções sobre a pesquisa no ensino e na formação 
do docente e pelo movimento de reorientação 
curricular no primeiro grau efetivado pelas se-
cretarias de educação estaduais e municipais.
Nessa mesma década, a AGB teve papel pri-
mordial na promoção de encontros, cujo ob-
jetivo principal era o de refletir sobre o ensino 
e incentivar a produção de artigos sobre esse 
tema. Portanto, o objetivo das diferentes pro-
duções e dos debates consistia na tentativa de 
descobrir meios para minimizar a comparti-
capítulo 2 27
mentalização dos conteúdos escolares e a dis-
tância entre o ensino da Geografia e a realida-
de social, política e econômica do país, ambos 
discutidos no âmbito da universidade.
O movimento de renovação do ensino da 
Geografia nas escolas fez parte do chamado 
movimento de renovação curricular dos anos 
de 1980, cujos esforços estavam centrados na 
melhoria da qualidade do ensino, a qual, ne-
cessariamente, passava por uma revisão dos 
conteúdos e das formas de ensinar e aprender 
as diferentes disciplinas dos currículos da es-
cola básica. Nesse sentido, será abordado um 
breve histórico da elaboração das propostas 
curriculares para o ensino de Geografia.
Até a década de 1980, os estados da federação 
e os municípios elaboravam suas próprias pro-
postas curriculares, as quais se apresentavam 
sob nomes variados, como guias, propostas 
curriculares, programas de ensino, e, de modo 
geral, ditavam os conteúdos que deveriam es-
tar presentes nas aulas e nos planos de aula 
dos professores, incluindo os de Geografia. Os 
autores de livros didáticos pautavam-se pela 
organização dos conteúdos apresentados pe-
las secretarias de educação dos estados e dos 
municípios para elaborar seus textos.
Nos anos de 1980, em São Paulo, a Coordena-
doria de Estudos e Normas Pedagógicas consti-
tuiu uma equipe de autores, liderados por pes-
quisadores de universidades públicas, para a 
realização de propostas curriculares para todo 
o Estado. No caso da Geografia, foram con-
vidados professores da USP para efetuar uma 
revisão metodológica e inserir novos princípios 
da disciplina, inclusive os da Geografia Crítica.
Mais tarde, esses pressupostos teórico-me-
todológicos deveriam ser implementados em 
outros espaços, como secretarias de educação 
e universidades, nos eventos das entidades cul-
turais e de classe, como a AGB e o sindicato 
dos professores do estado de São Paulo da ca-
pital e do interior paulista.
Segundo os autores da proposta, baseados em 
reuniões realizadas com representantes das 
Delegacias de Ensino da capital e do interior 
(hoje Diretorias de Ensino), os professores de 
Geografia da rede estadual demonstraram as 
seguintes insatisfações: a ineficácia do ensino 
da disciplina na formação do estudante; o li-
vro didático como única fonte de estudo; as 
orientações didático-pedagógicas vulgarizadas 
de acordo com os interesses das editoras, com 
a proposição de conceitos incompatíveis com 
o momento vivido pela ciência geográfica; a 
desvinculação da Geografia ensinada na uni-
versidade daquela ensinada nas escolas de pri-
meiro e segundo graus.
Os professores sentiram a necessidade de dis-
cutir conceitos, métodos e novas abordagens 
teóricas para temas constantemente inseridos 
nas programações de Geografia, mas, muitas 
vezes, não dominados do ponto de vista teóri-
co. Dentre eles, destacavam-se os conceitos de 
trabalho e o modo de produção e questões re-
lativas à abordagem da natureza e do processo 
de industrialização.
A discussão dessa proposta promoveu uma 
ruptura no ensino tradicional da disciplina, 
apontando caminhos diferentes de um ensino 
apenas transmitido pelo professor, descolado 
dos movimentos sociais e da realidade social 
do país. Os debates estimulados pela propos-
ta conseguiram atingir grande contingente de 
professores presentes em sala de aula, oriun-
dos de cursos de Geografia e de Estudos So-
ciais de escolas públicas e particulares de ter-
ceiro grau.
Apesar de a Geografia Crítica ter surpreendido 
os professores do Estado de São Paulo, impac-
to maior deu-se entre aqueles de outras partes 
do Brasil. No I Encontro Nacional de Ensino de 
Geografia – Fala Professor, realizado em Brasí-
lia, em 1987, alguns dos professores idealiza-
capítulo 228
dores da proposta explicitaram suas posições 
teóricas e a necessidade de novas metodolo-
gias para a compreensão do espaço geográ-
fico, com base em uma ciência que, dialeti-
camente, buscasse a integração do arranjo 
espacial com as relações sociais existentes em 
cada momento histórico.
As pessoas presentes nesse evento refletiram 
sobre as ansiedades e dúvidas dos professo-
res de Geografia de todos os Estados do país, 
ou seja, sobre o que ensinar, como ensinar e 
como avaliar os conhecimentos geográficos 
nos diferentes níveis de ensino, com base na 
Geografia Crítica.
Os professores da rede pública, nas discussões 
fundamentadas na proposta, deram ênfase a 
duas questões relacionadas ao ensino da disci-
plina: sistematização e divulgação de trabalhos 
existentes em sala de aula, fundamentados nos 
princípios e pressupostos do documento de re-
ferência, e o ensino da cartografia nas escolas 
de primeiro e segundo graus.
A avaliação foi igualmente palco de discussões. 
Como avaliar o desempenho dos alunos com 
uma proposta aberta em que se pressupunha 
a construção de conceitos e não, a transmis-
são pura e simples de um rol de conteúdos? 
Embora já se falasse em avaliação contínua, a 
avaliação ainda era, na época, baseada na afe-
rição dos conteúdos aprendidos, constituindo 
a principal forma de aprovar ou reprovar o alu-
no, de expulsá-lo ou mantê-lo na escola.
Muitas vezes, mesmo os professores demo-
cratas, ditos transformadores ou críticos, rea-
lizavam a avaliação em seu sentido mais tradi-
cional: selecionar os melhores. Se a avaliação 
deve estar condicionada ao projeto de edu-
cação que a escola deseja construir, isso, no 
entanto, não estava claro para a maioria dos 
professores da rede. Estava na hora de desmis-
tificar a sala de aula como um local de seleção 
dos alunos e criar condições para a produção 
individual e coletiva do conhecimento.
Mudanças significativas ocorreram no universo 
educacional brasileiro como fruto das discus-
sões para a promulgação da LDBN/96, e, na 
década de 1990, as propostas curriculares dos 
Estados foram debatidas com a finalidade de 
gerar nova proposta, agora com o nome de 
Parâmetros Curriculares Nacionais.
Com a nova LDB, a situação foi alterada com 
base nas decisões tomadas pelo MEC, por 
meio da Secretaria do Ensino Fundamental, a 
respeito do currículo das escolas públicas do 
país. Após a crítica aos currículos propostos 
pelas Secretarias Estaduais, efetuada por pro-
fessores do ensino superior contratados pela 
Fundação Carlos Chagas, houve a constituição 
de uma equipe de professores para pensar em 
uma proposta única para as escolas públicas 
de todos os Estados, eliminando assim a par-
ticipação

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