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AULA 2 CÁLCULOS TRABALHISTAS Profª Carolina Lempe 2 TEMA 1 – HORAS EXTRAS O contrato de trabalho, como regra, tem ajustada em suas disposições a duração da jornada diária e semanal de prestação de serviço pelo empregado, a qual é remunerada pelo salário acordado. Esse ajuste deve respeitar os limites previstos no art. 7°, inciso XIII, da Constituição Federal de 1988, os quais permitem trabalho não superior a oito horas diárias e 44 semanais, sendo permitidos acordos de compensação. No mesmo sentido, essa é a previsão do art. 58 da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) (Brasil, 1943). Entretanto, é permitido trabalhar além da jornada contratada, ou seja, em horas extras, desde que respeitado o limite diário de 2 horas e que haja, via de regra, previsão em contrato, convenção ou acordo coletivo de trabalho, conforme estabelece o art. 59 da CLT (Brasil, 1943). É importante destacar que todas as horas extras prestadas, ainda que excedentes ao limite de duas horas diárias, devem ser remuneradas e, quando habitualmente prestadas, devem ser consideradas integrantes da base de cálculo dos demais direitos trabalhistas, de acordo com a Súmula n. 376 do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Para calcular o valor a ser remunerado pelas horas extras prestadas, alguns conceitos precisam ser identificados, como: base de cálculo, adicional devido, divisor e salário-hora. 1.1 Base de cálculo Compõem a base, para o cálculo da hora extra, o salário básico, assim como as gratificações, comissões, adicionais de insalubridade, periculosidade, noturno, e, ainda, outras verbas que tenham natureza salarial e sejam pagas com habitualidade. Nesta composição, devem ser observados ainda os instrumentos coletivos e os entendimentos do TST. 1.2 Adicional de horas extras O art. 7°, inciso XVI, da CF (Brasil, 1988) estabelece que o serviço extraordinário deve ser remunerado com acréscimo de 50% sobre o valor da hora normal. Esse, contudo, é o percentual mínimo a ser observado, visto que a convenção e acordo coletivo de trabalho podem prever percentuais diversos. Por esse motivo, é necessário sempre verificar os instrumentos coletivos. 3 1.2.1 Adicional de hora extra em dia de descanso Caso o empregado trabalhe no dia do descanso semanal remunerado, também conhecido como dia de folga, e o empregador não conceda um descanso até o sétimo dia consecutivo de trabalho, as horas de serviço prestado naquele dia deverão ser remuneradas em dobro, com adicional de 100%, conforme Súmula n. 146 do TST e OJ-SDI-1 n. 410 do TST. 1.3 Divisor e salário-hora Como o adicional de hora extra será aplicado sobre o valor do salário-hora, vamos recordar o seu cálculo e as jornadas mensais ou divisores mais frequentes: Tabela 1 – Horas semanais Horas semanais Cálculo Divisor 44 horas semanais 44 horas x 5 semanas 220 40 horas semanais 40 horas x 5 semanas 200 36 horas semanais 36 horas x 5 semanas 180 30 horas semanais 30 horas x 5 semanas 150 20 horas semanais 20 horas x 5 semanas 100 Divisor do salário-hora: Salário-hora: Exemplo: empregado contratado para trabalhar 44 horas semanais com salário mensal de R$ 3.000,00. Para o divisor, calcula-se 44 horas x 5 = 220 horas mensais. O valor do salário-hora será R$ 3.000,00 ÷ 220h = R$ 13,63. Horas semanais x 5 = horas mensais Salário mensal ÷ horas mensais (divisor do salário hora) = salário-hora 4 1.4 Empregado mensalista No cálculo da hora extra do empregado mensalista, é preciso identificar o adicional devido, que será 50% ou outro previsto em convenção e acordo coletivo, e o valor do salário-hora do empregado, que pode ser obtido por meio da sua remuneração mensal e do divisor de sua jornada, calculado conforme item anterior. • Calcular o valor do salário-hora: • Calcular o valor da hora extra: • Calcular o valor total de horas extras a serem pagas ao empregado: Exemplo: empregado mensalista com salário de R$ 3.000,00, contratado para uma jornada semanal de 44 horas, realizou no mês de março dez horas extras, sendo devido o adicional de 50% pela jornada extraordinária. Assim, 44 horas x 5 = 220 horas mensais. Na sequência, R$ 3.000,00 + 220 horas mensais = R$ 13,63. Após, R$ 13,63 + 50% = R$ 20,44. Por fim, R$ 20,44 x 10 = R$ 204,40 é o valor a ser pago ao empregado pela jornada extraordinária. 1.4.1 Descanso semanal remunerado Segundo entendimento consolidado na Súmula n. 172 do TST, será devido o reflexo das horas extras habitualmente prestadas no descanso semanal remunerado. Portanto, o descanso semanal remunerado em razão das horas extras deve observar o seguinte cálculo: Salário ÷ jornada mensal = salário-hora Salário-hora + adicional devido = valor da hora extra Valor da hora extra x total de horas extras trabalhadas no mês = total a ser pago ao empregado a título de horas extras Total de horas extras no mês x dias não úteis ÷ dias úteis x valor da hora extra = descanso semanal remunerado referente às horas extras 5 Exemplo: empregado mensalista com salário de R$ 3.000,00, contratado para uma jornada semanal de 44 horas, realizou no mês com quatro dias não úteis e 27 dias úteis, dez horas extras, sendo devido o adicional de 50% pela jornada extraordinária. Assim, 44 horas x 5 = 220 horas mensais. Na sequência, R$ 3.000,00 ÷ 220 horas mensais = R$ 13,63. Após, R$ 13,63 + 50% = R$ 20,44. Por fim, R$ 20,44 x 10 = R$ 204,40 é o valor a ser pago ao empregado pela jornada extraordinária. • 10 horas extras x quatro dias não úteis = 40; • 40 ÷ 27 dias úteis = 1,48; • 1,48 x R$ 20,44 = R$ 30,25 é o valor devido a título de descanso semanal remunerado em razão das horas extras prestadas. TEMA 2 – HORAS EXTRAS ESPECÍFICAS Há situações no Direito do Trabalho que ensejam cálculos específicos para remuneração da jornada extraordinária, como ocorre com a prorrogação da jornada em horário noturno e o empregado comissionista, os quais analisaremos na sequência. 2.1 Empregado comissionista As comissões, conforme parágrafo primeiro do art. 457 da CLT (Brasil, 1943), têm natureza salarial e, por este motivo, constituem a base de cálculo para remuneração da hora extra. Como orientação para a metodologia de cálculo, a Súmula n. 340 do TST estabelece que o empregado remunerado a base de comissões tem direito ao adicional de, no mínimo, 50% pelo trabalho em horas extras, calculado sobre o valor-hora das comissões recebidas no mês, considerando-se como divisor o número de horas efetivamente trabalhadas. No mesmo sentido é a OJ-SDI-1 n. 397 do TST ao dispor que o empregado que recebe remuneração mista, ou seja, uma parte fixa e outra variável, tem direito a horas extras pelo trabalho em sobrejornada. Em relação à parte fixa, são devidas as horas simples acrescidas do adicional de horas extras. Em relação à parte variável, é devido somente o adicional de horas extras, aplicando-se à hipótese o disposto na Súmula n. 340 do TST. 6 2.1.1 Cálculo Por meio da Súmula n. 340 do TST, podemos observar duas diferenças no cálculo em relação ao empregado mensalista. A primeira diz respeito ao divisor, que, para o comissionista, não considera a jornada mensal, mas sim aquela efetivamente trabalhada, nela incluída a jornada extraordinária. A segunda diferença orienta a aplicação do adicional de hora extra sobre o valor do salário- hora, que, neste caso, não deve ser somado. Assim, a remuneração ocorre exclusivamente pelo pagamento do adicional. Isto porque as comissões recebidas nesse horário suplementar já remuneram o salário-hora do empregado, faltando apenas o pagamento do adicional. Outro aspecto relevante é que na base de cálculo, além das comissões, deve ser incluído também o valor do descanso semanal remunerado. Com isso, é possível extrair a seguinte fórmula para cálculo da hora extra sobre as comissões: Exemplo: empregado comissionista recebeu R$ 2.800,00 de comissõese R$ 414,81 de dsr (R$ 2.800,00 x quatro dias não úteis ÷ 27 dias úteis). Contratado para uma jornada semanal de 40 horas, realizou no mês de março dez horas extras, sendo devido o adicional de 50% pela jornada extraordinária. A jornada efetivamente trabalhada foi: 200 horas mensais + dez horas extras = 210 horas. Assim, R$ 2.800,00 + R$ 414,81 = R$ 3.214,81 ÷ 210 horas efetivamente trabalhadas = R$ 15,30 é o salário hora do comissionista. Na sequência, R$ 15,30 x 50% (percentual de hora extra) = R$ 7,65 (valor do adicional de hora extra) x dez horas extras = R$ 76,50 é o valor a ser pago ao empregado pela jornada extraordinária. 2.1.2 Descanso semanal remunerado Segundo entendimento consolidado na Súmula n. 172 do TST, será devido o reflexo das horas extras habitualmente prestadas no descanso semanal remunerado. Portanto, o descanso semanal remunerado em razão das horas extras deve observar o seguinte cálculo: ((Comissões + dsr das comissões) ÷ total da jornada efetivamente trabalhada) x adicional de hora extra x total de horas extras = total a ser pago ao empregado comissionista a título de horas extras 7 Exemplo: empregado comissionista recebeu R$ 2.800,00 de comissões e R$ 414,81 de dsr (R$ 2.800,00 x quatro dias não úteis ÷ 27 dias úteis). Contratado para uma jornada semanal de 40 horas, realizou no mês de março dez horas extras, sendo devido o adicional de 50% pela jornada extraordinária. A jornada efetivamente trabalhada foi: 200 horas mensais + dez horas extras = 210 horas. Assim, R$ 2.800,00 + R$ 414,81 = R$ 3.214,81 ÷ 210 horas efetivamente trabalhadas = R$ 15,30 é o salário hora do comissionista. Na sequência, R$ 15,30 x 50% (percentual de hora extra) = R$ 7,65 (valor do adicional de hora extra). Por fim, dez horas extras x quatro dias não úteis = 40 ÷ 27 dias úteis = 1,48 x R$ 7,65 = R$ 11,32 é o valor do descanso semanal remunerado das horas extras do empregado comissionista. 2.2 Hora extra noturna Quando o empregado realiza hora extra no horário noturno, o valor do adicional noturno deverá compor o salário-hora para o cálculo da hora extra noturna. É o que dispõe a OJ-SDI-1 n. 97 do TST. 2.2.1 Cálculo Para o cálculo da hora extra noturna, deve-se seguir os seguintes passos: • 1° passo: salário-hora (salário mensal ÷ jornada mensal contratada), acrescido do percentual de adicional noturno = salário-hora noturno; • 2° passo: somar o adicional de horas extras ao salário-hora noturno, cujo resultado será o valor da hora extra noturna; • 3° passo: identificar o total de horas extras noturnas trabalhadas, considerando a redução da hora para os empregados urbanos; • 4° passo: multiplicar o total de horas extras noturnas trabalhadas pelo valor da hora extra noturna. O resultado será o valor a ser pago ao empregado. Exemplo: empregado urbano realizou três horas extras no horário noturno. Seu salário-hora é no valor de R$ 10,00 e o adicional devido em 20%. Total de horas extras no mês x dias não úteis ÷ dias úteis x valor do adicional de hora extra = descanso semanal remunerado referente às horas extras 8 • 1° passo: salário-hora R$ 10,00 + 20% = R$ 12,00 salário-hora noturna; • 2° passo: R$ 12,00 + 50% = R$ 18,00 valor da hora extra noturna; • 3° passo: três horas extras no horário noturno x 1,1428 (coeficiente da hora noturna) = 3,42, que corresponde ao total de hora noturna reduzida; • 4° passo: R$ 18,00 x 3,42 = R$ 61,56 é valor a ser pago pelas horas extras noturnas. 2.2.2 Descanso semanal remunerado Segundo entendimento consolidado na Súmula n. 172 do TST, será devido o reflexo das horas extras habitualmente prestadas no descanso semanal remunerado. Portanto, o descanso semanal remunerado em razão das horas extras deve observar o seguinte cálculo: Exemplo: empregado urbano realizou três horas extras no horário noturno no mês de quatro dias não úteis e 27 dias úteis. Seu salário-hora é no valor de R$ 10,00 e o adicional devido em 20%. Total de horas extras já calculadas com a redução: 3,42 horas x quatro dias não úteis = 13,68 ÷ 27 dias úteis = 0,50 x R$ 18,00 (valor da hora extra noturna) = R$ 9,00 é o valor do descanso semanal remunerado das horas extras noturnas. TEMA 3 – REFLEXO DAS HORAS EXTRAS Em razão da natureza salarial, as horas extras habitualmente prestadas integram as demais verbas trabalhistas, compondo sua base de cálculo, inclusive em rescisão do contrato de trabalho. É o entendimento consolidado na Súmula n. 376 do TST. Portanto, para o cálculo do reflexo das horas extras em outras parcelas trabalhistas (como férias, décimo terceiro, aviso prévio indenizado, por exemplo), é preciso identificar a sua média em determinado período de apuração, a qual observa o seguinte passo a passo: • 1° passo: identificar a quantidade de horas extras em cada mês; • 2° passo: somar as horas extras mensais no período de apuração; • 3° passo: dividir pelo total de meses que foram apurados. Total de horas extras no mês x dias não úteis ÷ dias úteis x valor da hora extra noturna = descanso semanal remunerado das horas extras noturnas 9 Exemplo: média de horas extras realizadas de janeiro a novembro para pagamento da segunda parcela do décimo terceiro: Tabela 2 – Cálculo para décimo terceiro Meses Horas extras a 50% Janeiro/2020 15 Fevereiro/2020 10 Março/2020 12 Abril/2020 14 Maio/2020 15 Junho/2020 18 Julho/2020 13 Agosto/2020 11 Setembro/2020 14 Outubro/202 15 Novembro/202 10 Total de HE 147 Médias dos 11 meses 147 ÷ 11 = 13,36 Por fim, a média apurada deverá ser multiplicada pelo valor da hora extra no momento do pagamento. 3.1 Hora extra em rescisão Muito embora as horas extras habitualmente prestadas integrem as demais verbas trabalhistas, compondo sua base de cálculo, inclusive em rescisão do contrato de trabalho (Súmula n. 376 do TST), há dois aspectos importantes, aos quais devemos ter atenção. O primeiro diz respeito à integração, neste cálculo, ao valor correspondente ao descanso semanal remunerado decorrente das horas extras, uma vez que a OJ-SDI-1 n. 394 do TST estabelece que o valor do descanso semanal remunerado, na integração das horas extras em outras verbas salariais, não repercute no cálculo das férias, do décimo terceiro salário, do aviso prévio e do FGTS. 10 Com isso, ao realizar o cálculo das médias das horas extras para composição da base de cálculo dessas parcelas, inclusive em rescisão, em cumprimento a OJ-SDI-1 n. 394 do TST, o descanso semanal remunerado não será computado, em que pese a divergência de entendimentos em relação à aplicação dessa orientação jurisprudencial. O segundo aspecto a ser destacado é a verificação do período ao qual deverá ser calculada a média das horas extras, o que dependerá da natureza de cada parcela. Tabela 3 – Reflexo das horas extras em rescisão Reflexo das Horas Extras em Rescisão Verba trabalhista 13° Salário Férias Vencidas e Proporcionais Aviso Prévio Indenizado Período Média de janeiro (ou da admissão, se posterior) até o mês anterior à rescisão Média do período aquisitivo de férias 12 meses anteriores à rescisão Base legal Art. 77 do Decreto n. 10.854/2021 Art. 142, parágrafos 1° e 2 ° da CLT (Brasil, 1943) Art. 487, parágrafo 5° da CLT (Brasil, 1943) 3.2 Supressão de hora extra A Súmula n. 291 do TST garante ao empregado que trabalha em jornada extraordinária com habitualidade durante pelo menos um ano o direito a uma indenização no valor correspondente a um mês de horas extras, caso elas sejam suprimidas pelo empregador, ou seja, caso não seja mais necessário o trabalho suplementar. Após um ano de horas extras habituais, a fração igual ou superior a seis meses deve ser considerada como ano integral no cálculo. O cálculo dessa indenização deve ser realizado com base na média das horas extras dos 12 meses anteriores à supressão.Caso nesse período tenham sido prestadas horas extras com adicionais distintos, deve ser realizado cálculo individual para cada um e somado ao final. Para fixação do valor dessa indenização, é preciso identificar: 11 • Total de anos ou fração superior a seis meses em que houve horas extras habituais; • Média das horas extras dos últimos 12 meses, considerando cada adicional distinto; • Valor unitário da hora extra no momento da supressão. Aplicar seguinte fórmula: Exemplo: no mês de abril/2021, foram suprimidas as horas extras habitualmente prestadas pelo empregado no período de maio de 2016 a março de 2021. Salário mensal atual do empregado era de R$ 2.000,00 para uma jornada mensal de 220 horas. • 1° passo: serão considerados cinco anos pelo período de 2015 a 2020. O ano de 2021 não será computado por corresponder a um período inferior a seis meses; • 2° passo: calcular a média de horas extras de maio de 2020 a março de 2021, correspondentes aos últimos 12 meses: Tabela 4 – Cálculo de horas extras Meses Horas extras a 50% Horas extras a 100% Abril/2020 15 4 Maio/2020 10 6 Junho/2020 12 5 Julho/2020 14 4 Agosto/2020 15 3 Setembro/2020 18 5 Outubro/2020 13 4 Novembro/2020 11 4 Dezembro/2020 14 6 Janeiro/2021 15 4 Fevereiro/2021 10 6 Março/2021 12 4 Período em que houve horas extras com habitualidade x média das horas extras dos últimos 12 meses x valor unitário da hora extra = indenização por supressão de hora extra 12 Total de HE 159 55 Médias dos 12 meses 159 ÷ 12 = 13,25 55 ÷ 12 = 4,58 Fonte: Lempe, 2021. • Valor unitário da hora extra: R$ 2.000,00/220 = R$ 9,09. Sendo: R$ 9,09 + 50% = R$ 13,63; R$ 9,09 x 100% = R$ 18,18; • Multiplicar o período em que houve horas extras habituais pela média de horas dos últimos 12 meses: Média de HE a 50% x 5 anos Média de HE a 100% x 5 13,25 x 5 = 66,25 4,58 x 5 = 22,90 • Vamos, por fim, multiplicar os resultados da etapa anterior pelo valor unitário da hora extra no momento da supressão, somando os dois resultados para encontrar o valor da indenização: Indenização sobre HE a 50% Indenização sobre HE a 100% R$ 13,63 x 66,25 = R$ 902,98 R$ 18,18 x 22,90 = R$ 416,32 R$ 902,98 + R$ 416,32 = R$ 1.319,30 Valor da indenização pela supressão das horas extras = R$ 1.319,30. TEMA 4 – INTERVALOS A jornada de trabalho do empregado obedece ao limite constitucional de oito horas diárias e 44 horas semanais. Porém, além dessa limitação, há outras que devem ser atendidas, com o mesmo objetivo de evitar a fadiga física e mental do empregado, e, ainda, os riscos de acidente de trabalho. Essa limitação, portanto, diz respeito aos intervalos que devem ser observados dentro de uma jornada, conhecido como intervalo intrajornada, e aquele entre jornadas diferentes, conhecido como intervalo interjornada, os quais serão objeto de estudo. 4.1 Intrajornada O art. 71 da CLT (Brasil, 1943) estabelece os parâmetros de intervalo intrajornada que devem ser cumpridos: 13 • Jornada de trabalho até quatro horas: sem intervalo; • Jornada de trabalho superior a quatro horas, mas não excedendo a seis horas diárias: intervalo obrigatório de 15 minutos de descanso; • Jornada de trabalho que exceda seis horas diárias: intervalo obrigatório de, no mínimo, uma hora, salvo condições específicas, e no máximo duas horas diárias. Esses intervalos não são computados na jornada, o que significa que não contam como tempo de serviço ou à disposição do empregador. Por outro lado, caso o empregador conceda outros intervalos por sua liberalidade, ou seja, não previstos em lei, estes sim deverão ser considerados dentro da jornada do empregado, conforme dispõe a Súmula n. 118 do TST. Caso esse intervalo não seja observado, o parágrafo 4° do art. 71 da CLT (Brasil, 1943) determina que será devido ao empregado o pagamento de natureza indenizatória do período não cumprido no valor correspondente ao acréscimo de 50% sobre a hora normal. Para verificar o valor devido, é preciso: • 1° passo: identificar a jornada diária, o intervalo intrajornada contratado e o período obrigatório por lei; • 2° passo: verificar o período suprimido de intervalo; • 3° passo: verificar o salário-hora e adicionar 50%; • 4° passo: multiplicar o período suprimido pelo valor do passo anterior. Exemplo: empregado contratado das 8:00 às 17:30 horas para uma jornada semanal de 40 horas. Salário contratual de R$ 3.000,00. Intervalo intrajornada de 12:00 às 13:30 horas. Em determinado dia, cumpriu intervalo intrajornada de apenas 45 minutos: • 1° passo: identifica-se que o período obrigatório de intervalo seria de uma a duas horas, já que sua jornada excede seis horas diárias. Neste caso, foi ajustado intervalo de 1 hora e 30 minutos; • 2° passo: para identificar o período suprimido de intervalo, é necessário converter os minutos em fração de hora. Assim, 1,5h (1:30h) - 0,75h (45 min) = 0,75 é o período suprimido que equivale a 45 minutos; • 3° passo: salário-hora desse empregado corresponde a R$ 3.000,00 ÷ 200 horas = R$ 15,00, acrescido de 50%, totalizando R$ 22,50; 14 • 4° passo: R$ 22,50 x 0,75 = R$ 16,87 é o valor a ser remunerado de forma indenizada pelos 45 minutos suprimidos de intervalo intrajornada. 4.2 Interjornada O intervalo interjornada é aquele que tem que ser observado entre uma jornada e outra. Nesse sentido, o art. 66 da CLT (Brasil, 1943) estabelece que, entre duas jornadas de trabalho, haverá um período mínimo de 11 horas de descanso. Assim, terminada a jornada de um dia, a próxima só poderá ser iniciada com um intervalo de 11 horas. Caso esse intervalo mínimo não seja observado, o período suprimido deverá ser remunerado com o acréscimo de 50% sobre o valor da hora normal. É importante destacar, neste ponto, a divergência que há sobre a natureza desse pagamento, já que alguns entendem que permanece a natureza salarial e outros que passou a ter natureza indenizatória, por força da OJ-SDI-1 n. 355 do TST, a qual prevê o pagamento do intervalo interjornada nos mesmos moldes do intervalo intrajornada. É importante observar que, se entre uma jornada e outra, houver um dia de descanso semanal remunerado, o intervalo a ser observado será de 35 horas, obtido por meio do seguinte cálculo: 11 horas previstas no art. 66 da CLT (Brasil, 1943) de intervalo interjornada somadas a 24 horas de descanso semanal remunerado disposto no art. 67 da CLT (Brasil, 1943). Para identificar o valor a ser remunerado pelo descumprimento do intervalo interjornada, devemos calcular a diferença entre 11 horas e o intervalo efetivamente usufruído pelo empregado. Caso tenha um descanso semanal remunerado, devemos calcular a diferença entre 35 horas e o intervalo efetivamente usufruído pelo empregado. Exemplo: empregado contratado das 8:00 às 17:30 horas para uma jornada semanal de 40 horas. Salário contratual de R$ 3.000,00. Intervalo intrajornada de 12:00 até 13:30 horas. Em determinado dia, permaneceu trabalhando em horário extraordinário até 22:00 horas, iniciando sua próxima jornada às 8:00 do dia seguinte. Muito embora a jornada extraordinária tenha excedido às duas permitidas pelo art. 59 da CLT (Brasil, 1943), todas devem ser remuneradas com adicional de 50%. 15 Entretanto, analisando o intervalo entre uma jornada e outra, observamos que das 22:00 horas até 8:00 horas do dia seguinte, houve o período de dez horas, ou seja, houve uma hora de intervalo não cumprido. Com isso, esse empregado tem direito ao pagamento de: • Horas extras prestadas das 17:30 horas às 22:00 horas, com adicional de 50% e natureza salarial; • Intervalo interjornada não cumprido de uma hora com adicional de 50% sobre a hora normal, sendo a natureza do pagamento controvertida após a Lei n. 13.467/2017 (Reforma Trabalhista). O salário-hora desse empregado corresponde a R$ 3.000,00 ÷ 200 horas =R$ 15,00, acrescido de 50%, totalizando R$ 22,50. Para as horas extras, multiplica-se o total de horas extras (4,5 horas das 17:30 até 22:00, sendo os minutos convertidos em fração de hora) pelo valor da hora extra, o que corresponde a: 4,5 horas x R$ 22,50 = R$ 101,25. Para o intervalo interjornada, multiplica-se o valor da hora normal, acrescido de 50%, pelo período não cumprido. Assim, R$ 22,50 x uma hora = R$ 22,50. TEMA 5 – DESCONTO POR FALTA Quando o empregado se ausenta do trabalho sem um motivo autorizado por lei ou instrumento coletivo, essa falta poderá ser considerada como injustificada pelo empregador e permitirá o desconto do período de ausência do salário do empregado. Para calcular o dia de desconto, basta dividir o salário mensal do empregado por 30. Assim, para o empregado mensalista com salário de R$ 3.000,00, ao dividir por 30, será permitido o desconto de R$ 100,00 pela falta injustificada. Muito embora a legislação não traga previsão específica, o empregado comissionista, que recebe apenas por comissões, se faltar a um dia de trabalho injustificadamente, não receberá pagamento por esse dia, já que não realizará vendas, por exemplo. Por esse motivo, esse empregado não sofrerá desconto. Caso seja empregado comissionista misto, ou seja, remunerado com salário fixo e comissões, poderá haver o desconto da parte fixa seguindo a metodologia de cálculo anterior. 16 5.1 Perda do descanso semanal remunerado Quando o empregado não cumpre integralmente a sua jornada semanal de modo injustificado, o art. 6° da Lei n. 605/1949 permite o desconto do descanso semanal remunerado da semana seguinte. Assim, além do desconto pelo dia de falta, poderá perder também o dia de descanso semanal remunerado. Destaca-se, entretanto, que a falta de mais de um dia na mesma semana acarreta a perda de apenas um dia de descanso semanal remunerado da semana seguinte. No exemplo anterior, o empregado poderia ter mais um desconto no valor de R$ 100,00 pela perda do descanso semanal remunerado, nos termos do art. 7°, parágrafo 2°, da Lei n. 605/1949. Em relação ao empregado comissionista, considerando que o cálculo do descanso semanal remunerado depende do valor das comissões, no dia de ausência injustificada não haverá comissão recebida e, consequentemente, não haverá reflexo no dia de descanso. Por esse motivo, para o comissionista puro, em razão da falta injustificada, também não haverá descanso semanal remunerado a ser descontado. 5.2 Reflexo nas férias As faltas injustificadas também podem refletir nos dias de descanso referentes às férias do empregado. Entretanto, não será possível descontar os dias de ausência diretamente nas férias. Será necessário observar a proporção prevista no art. 130 da CLT (Brasil, 1943), que garante ao empregado o direito a 30 dias corridos de férias, quando o mesmo não tiver faltado injustificadamente mais de cinco vezes no período aquisitivo. Neste caso, é preciso observar que o empregado terá direito a: • 30 dias de descanso, quando não tiver faltado mais de cinco vezes; • 24 dias de descanso, quando tiver de seis a 14 faltas; • 18 dias de descanso, quando tiver de 15 a 23 faltas; • 12 dias de descanso, quando tiver de 24 a 32 faltas; e • Perderá o direito às férias quando tiver 33 faltas ou mais. 17 O reflexo das faltas injustificadas nas férias apenas ocorrerá quando houver a falta integral de um dia de trabalho. Assim, atrasos, saídas antecipadas e perda do descanso semanal remunerado não comprometem os dias de férias do empregado. Entende-se que a falta injustificada que não tenha sido descontada do empregado, de igual modo, não poderá reduzir os seus dias de férias. Em relação ao valor devido a título de férias nos casos de faltas injustificadas, o mesmo será estudado detalhadamente em aula específica de férias. 5.3 Reflexo no décimo terceiro salário No décimo terceiro salário, as faltas injustificadas apenas refletirão caso o empregado não tenha trabalhado dentro do mesmo mês por pelo menos 15 dias. As faltas, portanto, devem ser analisadas mês a mês no ano calendário (de janeiro a dezembro). Neste caso, a falta injustificada prejudicará o empregado na perda de um avo inteiro de décimo terceiro. 18 REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 ago. 1943. ______. Lei n. 605, de 5 de janeiro de 1949. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 14 jan. 1949. ______. Decreto n. 57.155, de 3 de novembro de 1995. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 nov. 1965. ______. Lei n. 5.889, de 8 de junho de 1973. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jun. 1973. ______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. ______. Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 14 jul. 2017.
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