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Relações Internacionais

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A guerra marca a existência da humanidade. O único animal responsável por 
proporcionar conflitos dentro da própria espécie é o homem (MELLO, 2004, p. 1500). 
Hobbes (2003, p. 143), na tentativa de justificar filosoficamente a existência do Estado, 
expôs que a segurança das fronteiras ocupadas pelas populações somente seria possível 
com a existência de uma autoridade soberana, forte e capaz de regulamentar em todas as 
nuances a vida do homem, pois, deixada a humanidade no estado de natureza, pereceria 
ela dada a eterna selvageria. É importante estabelecer que, até o início do século XX, a 
guerra foi uma opção legítima de defesa ou de resolução de disputa entre os Estados. 
Desta forma, a guerra foi tida como um ilícito internacional somente após as guerras 
mundiais e os extremos estragos causados por conflitos que ocasionaram a dizimação da 
humanidade e danos irreparáveis na infraestrutura dos países (CAVALCANTE, 2005). 
As Relações Internacionais (RI) nasceram com o objetivo não apenas de mediar 
os conflitos entre Estados, ou entre Estados e organismos internacionais, mas também de 
adentrar todos os fenômenos que transcendem as fronteiras de um Estado, fazendo que os 
sujeitos, privados ou públicos, individuais ou coletivos, relacionem-se entre si 
(SEITENFUS, 2013, p. 2). 
Além disso, podemos compreender como um importante ator junto as RIs no 
processo de conflitos internacionais, o Direito Internacional, que pode ser entendido 
como um conjunto de normas que regula as relações externas entre os atores da sociedade 
internacional (NOVO, 2018). Essas divergências internacionais podem ser definidas 
como desacordos, sobre certo ponto de direito ou de fato, ou oposições de interesses, entre 
dois ou mais Estados ou entre Estados e Organizações Internacionais, como o caso do 
país “Independência” que expandiu seu conflito interno para o âmbito internacional, 
fazendo com que a ONU interviesse para além das respostas humanitárias que estavam 
sendo dadas ao país. 
No pós-Segunda Guerra Mundial, a criação da Organização das Nações Unidas 
(ONU) foi fundamental para a área dos conflitos internacionais (CAVALCANTI, 2005). 
A Organização lançou a Carta das Nações Unidas, um documento que deixava claro o 
repúdio à guerra como resolução de quaisquer controvérsias entre Estados ou entre 
Estados e Organismos Internacionais. Segundo Cavalcante (2005), para além de 
apresentar o seu repúdio, a carta da ONU estabeleceu a criação de diversos meios 
pacíficos de resolução de conflitos, que, apesar de não terem sido suficientes para evitar 
o acontecimento de novos confrontos armados no mundo, foram extremamente eficientes 
na redução e interdição de outras controvérsias. 
O principal foco era evitar a ocorrência de uma nova guerra mundial, 
estabelecendo um clima de paz entre as nações e promovendo, sobretudo, os direitos 
humanos, para prevenir que outro genocídio como o holocausto ocorresse novamente 
(ONU, 1945). No capítulo VI, artigo 33, da Carta assinada pelas Nações Unidas, estão 
dispostas as soluções pacíficas de controvérsias. Entre elas, a que as partes em uma 
controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais, 
procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação, 
conciliação, arbitragem, solução judicial, recurso a organismos ou acordos regionais, ou 
a qualquer outro meio pacífico à sua escolha. (ONU, 1945, p. 25). 
 
De acordo com Rezek (2005), a divisão doutrinária classificou os meios pacíficos 
de resolução das controvérsias entre: Meios Diplomáticos, Meios Políticos e Meios 
Jurisdicionais. No conflito existente no país Independência, percebe-se a necessidade de 
uma resolução de conflitos por meios políticos, tendo em vista que as partes envolvidas 
estão na iminência de uma guerra, sendo assim se faz necessário que os órgãos políticos 
ou as organizações intergovernamentais ajam contra uma das partes ou contra ambas as 
partes. 
Entre as soluções existentes neste tipo de resolução a Assembleia Geral da ONU 
e o Conselho de Segurança, são muito utilizados quando há a iminência de uma guerra, 
principalmente, o Conselho de Segurança, que está mais disponível e conta com meios 
mais eficazes de ação para os conflitos imediatos. Nesse caso, os meios políticos devem 
investigar, discutir e expedir recomendações para a solução do conflito, mas a solução, 
em geral, é provisória, pois a não obediência de suas recomendações não configura ato 
ilícito pelos Estados, que são soberanos para agir como quiserem. Já os demais esquemas 
regionais especializados, são órgãos, além da ONU, que podem interferir através da 
expedição de recomendações aos Estados envolvidos, que, do mesmo modo, não são 
obrigados a acatar suas decisões. São exemplos dessas organizações: a Organização dos 
Estados Americanos (OEA) e a Liga dos Países Árabes. 
Diante de todo o exposto, não se deve negar ou até mesmo subestimar a 
importância da ONU na interdição de novas guerras e na criação de meios pacíficos para 
a resolução desses conflitos que emergem na sociedade constantemente, bem como a 
contribuição dos diversos atores do sistema internacional, e o avanço das Relações 
Internacionais enquanto campo de estudos se tornando cada vez mais presentes e 
importantes para o desenvolvimento mundial. Preza-se também que haja uma evolução 
humana em resolver conflitos de forma a deixar a destruição da infraestrutura das nações 
e da dignidade humana longe de interesses pessoais ou culturais, que possam gerar 
conflitos demasiadamente fora de controle. 
 
CAVALCANTE, M. D. Conflitos internacionais. In: CONGRESSO NACIONAL DO 
CONPEDI, 15.,2005, Manaus. Anais [...]. Manaus: Universidade do Estado do 
Amazonas, 2005. p. 1-22. 
CAVALCANTI, A. C. M. Solução dos conflitos internacionais: evolução e perspectivas 
dos julgamentos dos crimes de guerra. 2005. Monografia (Bacharelado em Direito) – 
Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ), João Pessoa, 2005 
HOBBES, Thomas. Leviatã. Tradução João Paulo Monteiro, Maria Beatriz Nizza da 
Silva, Claudia Berliner; revisão da tradução Eunice Ostrensky. – São Paulo: Martins 
Fontes, 2003. 
MELLO, Celso de Albuquerque. Curso de direito internacional público. 15ª ed. rev. e 
ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, 2 v.. 
NOVO, B. N. O direito internacional. Jus, dez. 2018. Disponível em: 
https://jus.com.br/artigos/70769/o-direito-internacional. Acesso em: 14 fevereiro 2023. 
ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Carta das Nações Unidas. São 
Francisco: ONU,1945. 
REZEK, F. Direito Internacional Público: curso elementar. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2005. 
SEITENFUS, R. Relações internacionais. Barueri: Manole, 2013.

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