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Med Brasil DISPEPSIA FUNCIONAL 1. Definição Desordem gástrica caracterizada pela presença de um ou mais sintomas (dor epigástrica, plenitude pós-prandial, saciedade precoce, queimação estomacal) durante os últimos 3 meses e que se iniciaram, no mínimo, 6 meses antes. Ao exame endoscópico, não há evidências de lesões estruturais e os sintomas de refluxo gastroesofágico (pirose e regurgitação) não são os mais proeminentes. 2. Epidemiologia Estudos recentes apontaram que, aproximadamente, de 20 a 40% da população geral apresenta alguma queixa dispéptica. A dispepsia representa a causa de 3 a 5% dos atendimentos ambulatoriais de clínica geral e de 30%, em média, das visitas ao gastroenterologista. Os sintomas dispépticos podem surgir em qualquer faixa etária e possuem uma maior prevalência em mulheres. Após a adoção dos critérios de Roma IV, a incidência da dispepsia funcional caiu significativamente, devido a melhor distinção entre os sintomas dispépticos e os sintomas da DRGE. 3. Fisiopatologia A fisiopatologia da dispepsia funcional ainda é pouco conhecida. Alterações das funções motoras e/ou sensoriais gastroduodenais podem estar presentes, além de fatores psicossociais como estresse (está associado a maior secreção de conteúdo gástrico), depressão e ansiedade e infecção por H. pilory (pode desencadear a dispepsia mesmo sem sinais de gastrite ou úlcera). As principais alterações motoras/sensoriais envolvidas no processo da dispepsia funcional são: esvaziamento gástrico lento (devido à gastroparesia primária idiopática – causa de aproximadamente 30% das DF), distúrbios na acomodação gástrica e hipersensibilidade visceral (principalmente à distensão e a lipídeos/ácidos). A lentificação do esvaziamento gástrico e os distúrbios na acomodação gástrica estão relacionados principalmente com a saciedade precoce e plenitude pós-prandial. Já a hipersensibilidade visceral é a principal causa de dor epigástrica. 4. Clínica Segundo o critério de Roma IV, a dispepsia funcional engloba duas síndromes clínicas diferentes: a síndrome da dor epigástrica e a síndrome do desconforto pós-prandial. Os sintomas da dispepsia normalmente variam de acordo com a síndrome, no entanto, pode haver sobreposição das síndromes com manifestações de ambas. • Síndrome da dor epigástrica: caracterizada comumente por dor em região epigástrica, intermitente, com ausência de irradiação ou generalização, pelo menos uma vez na semana e que não melhora após a defecação ou eliminação de flatos. • Síndrome do desconforto pós-prandial: decorrente de alteração na motilidade e/ou na acomodação gástrica; caracterizada por saciedade precoce, sensação de plenitude pós-prandial e aumento da eructação. 5. Diagnóstico O diagnóstico da DF é um diagnóstico de exclusão, ou seja, só pode ser estabelecido após as etiologias mais comuns de dispepsia terem sido descartadas. • Clínico: Presença de pelo menos um dos sintomas definido pelo critério de Roma IV (dor epigástrica, plenitude pós-prandial, saciedade precoce, queimação estomacal) nos últimos 3 meses, com início há 6 meses, no mínimo. • Exames complementares ➢ Endoscopia digestiva alta: ausência de lesões no estômago ou duodeno que possam ser responsáveis pelos sintomas. ➢ Descartar outras causas que justifiquem os sintomas, como problemas no pâncreas ou na vesícula biliar. 6. Tratamento • Não medicamentoso ➢ Dieta: apesar de não haver referências que correlacionem diretamente a dispepsia funcional com algumas dietas, é recomendado que o paciente limite ou evite alguns alimentos, como leite, álcool, cafeína, refrigerantes, alimentos gordurosos, entre outros. Além disso, outras recomendações são importantes: Fracionamento das refeições, não se deitar nas primeiras 2 horas após a refeição, perda de peso, parar de fumar, entre outros. ➢ Apoio psicológico/psicoterapia: apoio de profissionais como psicólogo ou psiquiatra podem ajudar o paciente a lidar com questões emocionais e a se sentir melhor, tanto física como mentalmente. • Medicamentoso: visa principalmente aliviar o sintoma predominante. A estratégia terapêutica vai depender da natureza e intensidade dos sintomas, do grau de comprometimento funcional e dos fatores psicossociais envolvidos. ➢ Inibidores da bomba de prótons: controlam a acidez estomacal. Posologia: omeprazol 10 a 20mg, 1x/dia, via oral; pantoprazol 20 a 40mg, 1x/dia, via oral. ➢ Bloqueadores H2: inibem a secreção ácida. Posologia: ranitidina 150 a 300mg, 1x/dia, via oral; ➢ Procinéticos: melhoram a motilidade gastroduodenal ao aumentar o tônus gástrico, a motilidade antral e a coordenação antroduodenal; alguns também podem promover o relaxamento do fundo gástrico. Posologia: domperidona 10mg, 3x/dia, via oral, 15-30min antes das refeições; metoclopramida 10mg, 3x/dia, via oral, 10min antes das refeições; ➢ Tratamento H. pilory: Posologia: amoxicilina 1g, 2x/dia (ao acordar e antes da refeição da noite), via oral + claritromicina 500mg, 2x/dia, via oral + IBP na dose padrão; realizar o esquema durante 7 a 14 dias. ➢ Antidepressivos: indicados para casos em que o paciente não responde a nenhuma das outras medidas terapêuticas. Posologia: amitriplina 12,5 a 50mg/dia, via oral; fluoxetina 10 a 20mg/dia, via oral; sertralina 25 a 50mg/dia, via oral. Referências bibliográficas 1. Stanghellini V, Chan FKL, Hasler WL, Malagelada JR, Suzuki H. Gastroduodenal disorders. Gastroenterology, 2016. 2. Schmulson MJ, Drossman DA. What is new in Rome IV. J Neurogastroenterol Motil, 2017. 3. Passos MCF. Como diagnosticar e tratar dispepsia funcional. Moreira Jr, 2012. Disponível em: <http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=5167>. Acesso em: 04 de junho de 2018. 4. Barbuti RC. Como diagnosticar e tratar dispepsia funcional. Moreira Jr. Disponível em: <http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=3965. Acesso em: 04 de junho de 2018.