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Anderson Soares Cirrose Cirrose OBJETIVOS 1. Revisar a circulação porta; 2. Compreender a etiopatogenia e fatores de risco da cirrose hepática e da hipertensão portal; 3. Discutir acerca das manifestações e complicações clínicas da cirrose h. e hipertensão portal; 4. Relatar o diagnóstico, d. diferencial e tratamento da CH e HP; 5. Discorrer sobre a prevenção e tratamento do abuso de álcool. CIRCULAÇÃO PORTA HEPÁTICA SISTEMA PORTA Ao percorrer uma rede de capilares, o sangue é transportado através de um sistema de vasos para uma segunda rede de capilares antes de retornar para a circulação sistêmica. SISTEMA PORTA HEPÁTICA É a relação entre o sistema cardiovascular e o sistema digestivo; ela desvia o sangue venoso dos órgãos gastrointestinais e do baço para o fígado antes de retornar ao coração. A absorção de nutrientes ocorre no tubo digestivo através das veias, já que elas são os vasos de menor pressão. O fígado é o órgão responsável pelo metabolismo, de forma a transformar os nutrientes em compatíveis à célula para sua absorção, feita, principalmente, no intestino delgado. Logo, o sangue do estômago, do baço, do pâncreas, do intestino delgado e do intestino grosso necessita de passar pelo fígado antes de atingir a veia cava inferior e voltar ao coração, dada a necessidade da metabolização, o que é chamado de circulação porta hepática. Objetivo: Transformar os produtos digeridos no fígado e, após isso, transportá-los à veia cava inferior para a entrada na grande circulação VASOS SANGUÍNEOS ENVOLVIDOS I - VEIA GÁSTRICA Advém do estômago II – VEIA ESPLÉNICA Advém do baço III – VEIA MESENTÉRICA INFERIOR Advém do intestino grosso; desagua na veia esplênica IV – VEIA MESENTÉRICA SUPERIOR Advém do pâncreas e do intestino delgado, além de partes do intestino grosso V – VEIA PORTA HEPÁTICA Junção das veias mesentéricas superior, inferior (anastomose) e esplênica, que atinge o hilo hepático e que leva o sangue absorvido no sistema digestivo. HEPÁTICA Anderson Soares ANASTOMOSES I – Veia mesentérica inferior e veia esplênica II – Veia gástrica com a veia porta III – Veia mesentérica inferior e veia mesentérica superior IV – Veia mesentérica inferior, veia esplênica e veia mesentérica superior, que forma a veia porta. A veia porta penetra no ligamento hepato-duodenal, ascende por trás do ducto colédoco, responsável pelo transporte de bile sintetizada no fígado, e da artéria hepática. Após isso, ela recebe um número variável de pequenas veias e se divide, no hilo hepático, em um ramo direito e em um ramo esquerdo O metabolismo ocorre no lobo esquerdo e no lobo direito do fígado. O fígado recebe sangue arterial da artéria hepática (coração) própria e venoso da veia porta hepática (intestino) ao mesmo tempo. Por fim, todo o sangue sai do fígado pelas veias hepáticas, que desaguam na veia cava inferior. ETIOLOGIA Morte e regeneração celular, degradação e formação anormal da matriz extracelular. • Alcoolismo, • Hepatite viral crônica (B e C), • Hepatite autoimune, • Esteatose-hepatite não alcoólica, • Cirrose biliar (colangite biliar primária, colangite esclerosante primária, colangiopatia autoimune), • Cirrose cardíaca, • Doença hepática metabólica hereditária (hemocromatose, doença de Wilson, deficiência de α1- antitripsina, fibrose cística); • Cirrose criptogênica. FATORES DE RISCO • Componentes de síndrome metabólica como precipitantes de • Doença hepática gordurosa, • O uso de substâncias nocivas (por exemplo, • Álcool), • A ingestão prolongada de medicamentos hepatotóxicos; • Fatores de risco para transmissão da hepatite viral (b e c). FISIOPATOLOGIA GERAL A transição da doença hepática crônica para a cirrose envolve inflamação, ativação de células estreladas hepáticas com consequente fibrogênese, angiogênese e lesões de extinção do parênquima causadas por oclusão. Esse processo leva a pronunciadas alterações microvasculares, caracterizadas por remodelação (deposição de matriz extracelular de células estreladas ativadas em proliferação resultando em capilarização dos sinusóides hepáticos), formação de shunts intra- hepáticos (devido à angiogênese e perda de células parenquimatosas), e disfunção endotelial hepática. DISFUNÇÃO ENDOTELIAL É caracterizada pela liberação insuficiente de vasodilatadores, dos quais o mais importante é o óxido nítrico. A liberação de óxido nítrico é inibida pela baixa atividade de óxido nítrico sintetase endotelial (como resultado de fosforilação dependente de proteína- quinase B insuficiente, falta de cofatores, aumento da eliminação resultante do estresse oxidativo e altas concentrações de inibidores endógenos do óxido nítrico), com concomitante aumento da produção de vasoconstritores (principalmente estimulação adrenérgica e tromboxano A2, mas também ativação do sistema renina-angiotensina, hormônio antidiurético e endotelinas). AUMENTO DA RESISTÊNCIA HEPÁTICA AO FLUXO SANGUÍNEO PORTAL É o principal fator que aumenta a pressão portal na cirrose. Resulta da combinação de distúrbios estruturais associados à doença hepática avançada (representando cerca de 70% da resistência vascular hepática total) e de anormalidades funcionais que levam à disfunção endotelial e aumento do tônus vascular hepático; a pressão portal talvez pudesse, portanto, ser diminuída em 30% se essa anormalidade funcional fosse antagonizada. Vasodilatação esplâncnica com consequente aumento no influxo de sangue para o sistema venoso portal contribui para o agravamento, pois essas alterações interferem efetivamente no aumento da pressão portal. VASODILATAÇÃO ESPLÂNCNICA É uma resposta adaptativa às mudanças na hemodinâmica intra-hepática na cirrose; seus mecanismos são diretamente opostos aos do tônus vascular hepático aumentado. Por causa dessa oposição, as tentativas de corrigir a hipertensão portal agindo na resistência hepática ou no fluxo sanguíneo portal devem ser idealmente baseadas em estratégias que atuem da maneira mais seletiva possível na circulação intrahepática ou esplâncnica. Na cirrose avançada, a vasodilatação esplâncnica é tão intensa a ponto de determinar uma circulação esplâncnica e sistêmica hiperdinâmica, que juntamente Anderson Soares com a hipertensão portal tem papel importante na patogênese da ascite e da síndrome hepatorrenal. Vasodilatação sistêmica ainda causa uma incompatibilidade de ventilação/perfusão pulmonar que em casos graves leva à síndrome hepatopulmonar e hipoxemia arterial. Hipertensão Portopulmonar é caracterizada por vasoconstrição pulmonar, que se acredita que seja devido à disfunção endotelial na circulação pulmonar. VARIZES Formação e aumento de tamanho das varizes é impulsionada por fatores anatômicos, aumento pressão portal e fluxo sanguíneo colateral, e por angiogênese dependente do crescimento endotelial vascular fator, todos os quais contribuem para o sangramento de varizes. A dilatação dos vasos da mucosa gástrica leva à gastropatia portal-hipertensiva. Além disso, a manobra de sangue portal para a circulação sistêmica através dos colaterais portossistêmicos é um dos principais determinantes da encefalopatia hepática, de diminuição do efeito de primeira passagem das drogas administradas por via oral, e de diminuição da função do sistema reticuloendotelial. No entanto, a capilarização de sinusóides e shunts intra-hepáticos também são importantes porque essas alterações interferem na eficácia perfusão de hepatócitos, que é um dos principais determinantes da insuficiência hepática. DESCRIÇÃO: Superfície de corte fígado com aparência granular (nódulos regenerativos), presença de septos de tecido fibroso que subdividem o fígado em um padrão semelhante a umquebra cabeças (Figuras 1 e 2). Superfície externa do fígado com nodularidade pronunciada e cápsula brilhante (figura 3). Órgão com redução de volume, consistência endurecida, cor pálida a pardacenta. CIRROSE ALCOÓLICA A ingestão crônica de álcool pode causar fibrose na ausência de inflamação e/ou necrose concomitante. A fibrose pode ser centrolobular, pericelular ou periportal. Quando a fibrose alcança certo grau, ocorre a desorganização da arquitetura normal do fígado e substituição das células hepáticas por nódulos regenerativos. Com a cirrose alcoólica, os nódulos geralmente têm diâmetro de < 3 mm; esse tipo de cirrose recebe designação de micronodular. Com a cessação do uso do álcool, podem formar-se nódulos maiores, resultando em cirrose micro e macronodular mista. PATOGÊNESE ABSORÇÃO DO ETANOL: O etanol é absorvido principalmente pelo intestino delgado, em menor grau, pelo estômago. A álcool desidrogenase (ADH) inicia o metabolismo do álcool. Três sistemas enzimáticos são responsáveis pelo metabolismo do álcool no fígado, incluindo a ADH do citosol, o sistema microssomal de oxidação de etanol (MEOS, de mirossomal etanol oxidizing sytem) e a catalase do peroxissomos. A maior parte da oxidação do etanol acontece na via ADH para formar acetaldeído, altamente reativa capaz de induzir múltiplos efeitos. Por fim o acetaldeído é metabolizado em acetato pelo aldeído desidrogenase (ALDH). A ingestão de etanol acarreta maior acúmulo intracelular de triglicerídeos, por que aumenta a captação de ácidos graxos e reduz oxidação, como secreção de lipoproteínas. Assim, glicosilação e a secreção de proteínas são prejudicadas. LESÃO OXIDATIVA ÀS MEMBRANAS DOS HEPATÓCITOS ocorre em razão da formação de espécies reativas de oxigênio; o acetaldeído é a molécula altamente reativa que combina com proteínas para formar adutos de proteína acetaldeído. Esses adutos podem interferir na atividade de enzimas específicas, incluindo a formação microtubular e a movimentação das proteínas hepáticas. Com o dano dos hepatócitos mediado pelo acetaldeído, algumas espécies reativas do oxigênio podem resultar na ativação das células de Kupffer. Consequentemente, são produzidas as citocinas pro-fibrogênicas que desencadeiam e perpetuam a ativação das células estreladas, resultado na formação de quantidades excessivas de colágeno e matriz extracelular. O tecido conectivo acumula-se nas zonas periportais e pericentrais e, por fim, conecta as tríades portais com as veias centrais, formando nódulos regenerativos. Ocorre pela perda de hepatócitos e, com a produção e deposição cada vez maiores de colágeno aliada à destruição contínua de hepatócitos, o fígado contrai e diminui de tamanho. Em geral, esse processo leva danos a décadas para acontecer e requer estímulo deletérios repetidos. Anderson Soares MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Depende da quantidade e duração do consumo de álcool. Na doença hepática alcoólica os sintomas são inespecíficos: dor abdominal difusa no quadrante superior direito, febre, náuseas e vômitos, diarreia, anorexia e mal-estar. COMPLICAÇÕES, na cronicidade, são ascite, edema ou hemorragia gastrintestinal alta (varicosa). Outras manifestações: icterícia ou encefalopatia portossistêmica. EXAME FÍSICO fígado e baço podem estar aumentados de volume com borda hepática firme e nodular. Outros sinais: icterícia das escleras, eritema palpar, angiomas aracneiformes, aumento de volume das parótidas, baqueteamento digital, atrofia muscular ou acumulação de edema e ascite. HOMENS podem ter redução de pelos corporais e ginecomastia, além de atrofia testicular (anormalidades pela toxicidade do álcool nos testículos). MULHERES em fase avançada da cirrose apresentam irregularidades menstruais podendo cursar com amenorreia. DIAGNÓSTICO OBSERVAÇÃO DA CLÍNICA DO PACIENTE EXAMES LABORATORIAIS: podem estar normais na cirrose alcoólica inicial compensada. Hepatopatia avançada: pacientes anêmicos, pela perda sanguínea crônica no TGI, deficiências nutricionais ou hiperesplenismo relacionado com hipertensão portal, ou como efeito supressivo do álcool na medula óssea. Anemia hemolítica denominada síndrome de Zieve ocorre na doença grave. Contagens de plaquetas reduzidas: reflexo da hipertensão portal com hiperesplenismo. Bilirrubina sérica total normal ou elevada na doença avançada. Elevação rápida da bilirrubina direta em pacientes com b. total normal. Tempos de protrombina prolongados e não melhoram com administração de vitamina K parenteral. Níveis séricos de sódio normais, mas reduzidos na ascite. Alanina-aminotransferase (ALT) e aspartato- aminotransferase (AST) elevadas no soro, principalmente em pacientes que não param de beber, AST mais altos que ALT (2:1). Biópsia do fígado é usada para confirmar o diagnóstico, mas só é feita com um período de abstinência de pelo menos 6 meses. A imagem por ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética de um fígado irregular e nodular, juntamente com função sintética hepática prejudicada, é suficiente para o diagnóstico de cirrose. Outros achados incluem fígado pequeno e encolhido, esplenomegalia e evidências de colaterais portossistêmicos. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Hepatite viral crônica; Doença hepática metabólica; Doença hepática autoimune; Alterações hepáticas congênitas; Fibroses (fibrose sem nódulos regenerativos); Hiperplasia nodular regenerativa (nódulos, mas sem fibrose); Hipertensão portal não cirrótica. TRATAMENTO Abstinência do álcool, boa nutrição e supervisão médica de longo prazo para controlar complicações. Glicocorticóides usados na hepatopatia alcoólica grave com ausência de infecções. Pentoxifilina oral reduz a produção do fator de necrose tumoral α e de outras citocinas pró-inflamatórias. Inibidores de TNF-α (infliximabe ou etanercepte) via parenteral – USO EXPERIMENTAL. Uso de fármacos que reduzem o desejo incontido de ingerir álcool: acamprosato de cálcio. NÃO consumir Paracetamol. Anderson Soares CIRROSE POR HEPATITE B/C CRÔNICA CAUSADA POR HEPATITE C CRÔNICA O HCV é um vírus não citopático e o dano celular é causado por mecanismos imunes. A progressão da doença hepática pela hepatite C crônica caracteriza-se por fibrose portal com fibrose confluente e desenvolvimento de nódulos que culminam em cirrose. Nesse tipo de cirrose, o fígado é pequeno e contraído, com elementos característicos de cirrose micro e macrocelular mista (visto na biópsia). Além disso, há infiltrado inflamatório nas áreas portais com hepatite de interface e alguma lesão e inflamação hepatocelular lobular. As mesmas manifestações ocorrem na hepatite B crônica MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS/DIAGNÓSTICO Sintomas e sinais habituais de hepatopatia crônica: fadiga, mal-estar, dor difusa no quadrante superior direito e anormalidades laboratoriais. Para diagnosticar, faz-se a avaliação laboratorial abrangente, incluindo testes quantitativos para RNA do HCV e análises do genótipo do HCV, ou testes sorológicos para hepatite B que incluam HBsAg, anti-HBs, antígeno e da hepatite B, anti-HBe e níveis quantitativos do DNA do HBV. TRATAMENTO Na hepatite B, para os pacientes tornarem-se compensados novamente usam-se antivirais: lamivudina, adefovir, telbivudina, entecavir e tenofovir. Na hepatite C o tratamento é mais difícil, sendo que o mais seguro e eficaz tem custo muito alto, com uso de antivirais de ação direta. CIRROSE POR HEPATITE AUTOIMUNE E D. HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA Ocorrem devido à esteatose não alcoólica. Muitos pacientes com hepatite autoimune já apresentam cirrose. Tais pacientes não melhoram na imunossupressão com glicocorticoides ou azatioprina. Na biópsia não há infiltrado inflamatório significativo, assim o diagnóstico baseia-seem marcadores autoimunes, como o fator antinuclear (FAN) ou anticorpo antimúsculo liso (AML). Quando o paciente com HAI tem cirrose e inflamação ativa acompanhada de enzimas hepáticas elevadas, o tratamento com imunossupressor pode prover benefício. Pacientes com esteato-hepatite não alcoólica progridem para cirrose. Com a epidemia de obesidade, mais pacientes são diagnosticados com doença hepática gordurosa não alcoólica, dos quais alguns podem progredir para esteato-hepatite não alcoólica e progredir para fibrose e cirrose. Muitos portadores de cirrose idiopática têm esteato- hepatite não alcoólica. À medida que a cirrose progride esses pacientes tornam- se catabólicos e perdem os sinais reveladores de esteatose observados à biópsia. O tratamento é o mesmo recomendado às outras cirroses CIRROSE BILIAR Difere-se da cirrose alcoólica e da pós-hepatite, apesar das manifestações finais serem idênticas. A doença hepática colestática pode resultar de lesões necroinflamatórias, processos congênitos ou metabólicos ou compressão externa dos ductos biliares. Duas categorias para a localização da retenção anormal de bile: • Intra-hepática; • Extra-hepática. A obstrução extra- h. pode melhorar com descompressão cirúrgica ou endoscópica do trato biliar, enquanto os processos colestáticos intra-h. não são solucionados com esse tipo de intervenção. Causas das síndromes colestáticas crônicas: • Cirrose biliar primária; • Colangite auoimune; • Colangite esclerosante primária; • Ductopenia idiopática dos adultos. Essas síndromes compartilham características histopatológicas de colestase crônica: • Estase de colato; • Deposição de cobre; • Transformação xantomatosa dos hepatócitos – fibrose biliar irregular. Pode haver inflamação portal crônica, atividade na interface e inflamação lobular crônica. COLANGITE BILIAR PRIMÁRIA A causa é desconhecida e a doença caracteriza-se por inflamação portal e necrose dos colangiócitos dos ductos biliares de dimensões médias e pequenas. As características colestáticas prevalecem e a cirrose biliar é o nível elevado de bilirrubina e insuficiência hepática progressiva. Necessita-se de transplante de fígado na cirrose descompensada decorrente de CBP. Tratemtntos com ácido ursodesoxicólico (AUDC) é o único tratamento aprovado e retarda a progressão. Pacientes que não respondem AUDC podem usar ácido obeticólico. Anticorpos antimitocondriais (AAM) estão presentes em cerca de 90% dos pacientes com CBP. Esses autoanticorpos reconhecem as proteínas das membranas intermitocondriais que são enzimas do Anderson Soares complexo piruvato desidrogenase (PDC), do complexo 2- oxoácido (cetoácido) desidrogenase e do complexo 2- oxoglutarato desidrogenase de cadeias ramificadas. A maioria está relacionada com a piruvato desidrogenase. Esses autoanticorpos não são patogênicos; ao contrário, são marcadores úteis que permitem fazer o diagnóstico de CBP. PATOLOGIA Quatro estágios distintos da doença ao longo de sua progressão. A lesão mais precoce é denominada colangite destrutiva não supurativa crônica e constitui um processo inflamatório necrosante dos tratos portais. Os ductos biliares de pequeno e médio calibres são infiltrados com linfócitos e destruídos. Pode ocorrer fibrose leve e, algumas vezes, estase biliar. Com a progressão, o infiltrado inflamatório torna-se menos proeminente, porém o número de ductos biliares é reduzido e observa- se a proliferação de dúctulos biliares menores. A seguir, a fibrose aumenta com a expansão da fibrose periportal para fibrose coalescente (em ponte). Por fim, instala-se um quadro de cirrose, que pode ser micronodular ou macronodular. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A maioria dos pacientes é assintomática. Quando existem sintomas, o mais proeminente é um grau significativo de fadiga desproporcional em relação ao que poderia ser esperado com base na gravidade da doença hepática ou na idade do paciente. O prurido é observado em cerca de 50% dos pacientes por ocasião do diagnóstico e pode ser debilitante. Pode ser intermitente e, em geral, é mais incômodo ao anoitecer. Em algumas pacientes, o prurido pode manifestar-se no final da gestação, e há exemplos de pacientes que foram diagnosticadas com colestase da gravidez em vez de CBP. O prurido que se manifesta antes do surgimento de icterícia indica doença grave e prognóstico ruim. O exame físico pode mostrar icterícia e outras complicações da hepatopatia crônica incluindo hepatomegalia, esplenomegalia, ascite e edema. As outras características que são exclusivas da CBP incluem hiperpigmentação, xantelasma e xantomas, que estão relacionados com o metabolismo alterado do colesterol observado nessa doença. A hiperpigmentação é evidente no tronco e nos braços e pode ser observada em áreas de esfoliação e liquenificação associadas a arranhaduras progressivas relacionadas com o prurido. A dor óssea que resulta da osteopenia ou da osteoporose é observada ocasionalmente no momento do diagnóstico. DIAGNÓSTICO ACHADOS LABORATORIAIS: mostram anormalidades colestáticas das enzimas hepáticas com uma elevação da gama-glutamiltranspeptidase e da fosfatase alcalina (ALP) junto com elevações leves das aminotransferases (ALT e AST). As imunoglobulinas, particularmente a IgM, estão aumentadas. A hiperbilirrubinemia costuma ser observada após o desenvolvimento de cirrose. Trombocitopenia, leucopenia e anemia podem ser observadas nos pacientes com hipertensão portal e hiperesplenismo. A biópsia hepática mostra aspectos característicos. CBP deve ser considerada nos pacientes com anormalidades colestáticas crônicas das enzimas hepáticas. Essa entidade é observada mais em mulheres de meia-idade. Os testes para AAM podem ser negativos, até 10% dos pacientes com CBP podem ser AAM- negativos. A biópsia do fígado é importante nessas circunstâncias de CBP AAM-negativa. Nos pacientes que são AAM-negativos com enzimas hepáticas colestáticas, a CEP deve ser excluída por uma colangiografia. COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA A CEP é uma síndrome colestática crônica que se caracteriza por inflamação e fibrose difusas que acometem toda a árvore biliar, resultando em colestase crônica. Esse processo patológico acaba resultando em obliteração tanto intra-hepática quanto extra-hepática da árvore biliar, evoluindo para cirrose biliar, hipertensão portal e insuficiência hepática. A causa da CEP é desconhecida. As alterações patológicas que podem ocorrer na CEP mostram proliferação dos ductos biliares, assim como ductopenia e colangite fibrosa (pericolangite). Com frequência, as alterações evidenciadas pela biópsia do fígado na CEP não são patognomônicas. A fibrose periductal é observada ocasionalmente nas amostras de biópsia e pode ser muito útil para o diagnóstico. À medida que a doença progride, a cirrose biliar passa a constituir a manifestação do estágio final da CEP. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Fadiga, prurido, esteatorreia, deficiências das vitaminas lipossolúveis e as consequências associadas. Como acontece na CBP, a fadiga é profunda e inespecífica. Com frequência, o prurido pode ser debilitante e está relacionado com a colestase. A gravidade do prurido não se correlaciona com a gravidade da doença. A doença óssea metabólica, como observada na CBP, pode ocorrer com a CEP e deve ser tratada. DIAGNÓSTICO ACHADOS LABORATORIAIS: Os pacientes com CEP são identificados no transcorrer de uma avaliação de enzimas hepáticas anormais. A maioria dos pacientes exibe um aumento de pelo menos duas vezes na ALP e também pode ter aminotransferases elevadas. Os níveis de albumina podem estar reduzidos, e os tempos de protrombina são prolongados em uma proporção substancial dos pacientes por ocasião do diagnóstico. Certo grau de correção do tempode protrombina prolongado pode ocorrer com a vitamina K parenteral. Um pequeno subgrupo de pacientes demonstra elevações das aminotransferases superiores a cinco vezes o limite superior do normal e pode evidenciar características de HAI na biópsia. Acredita-se que esses indivíduos tenham uma síndrome de superposição entre CEP e HAI. Os autoanticorpos são com frequência positivos nos pacientes com a síndrome de superposição, Anderson Soares porém são negativos nos pacientes que sofrem apenas de CEP. Um autoanticorpo, o anticorpo anticitoplasma de neutrófilo perinuclear (p-ANCA) é positivo em cerca de 65% dos pacientes com CEP. Mais de 50% dos pacientes com CEP também sofrem de retocolite ulcerativa (RCU); consequentemente, uma vez estabelecido o diagnóstico de CEP, deve-se realizar uma colonoscopia em busca de possíveis evidências de RCU. O diagnóstico definitivo de CEP torna necessário exame de imagem colangiográfico. Ao longo dos últimos anos, a colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM) foi usada como técnica de imagem de escolha para a avaliação inicial. Depois que os pacientes são submetidos a esse tipo de rastreamento, alguns pesquisadores acreditam que a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) também deve ser realizada para se ter certeza da presença ou não de um estreitamento dominante. Os achados colangiográficos típicos da CEP consistem em estreitamentos multifocais e numerosas projeções arredondadas (contas de um rosário) que acometem a árvore biliar tanto intra-hepática quanto extra-hepática. Entretanto, apesar de o acometimento poder ser apenas dos ductos biliares intra-hepáticos ou apenas dos ductos biliares extra-hepáticos, é mais comum o acometimento de ambos. Esses estreitamentos são curtos e com segmentos interpostos de ductos biliares normais ou ligeiramente dilatados que se distribuem difusamente, produzindo o aspecto clássico de contas de um rosário. A vesícula biliar e o ducto cístico podem ser acometidos em até 15% dos casos. Os pacientes com estreitamentos difusos de alto grau dos ductos biliares intra-hepáticos têm um prognóstico global ruim. Gradualmente, instala- se uma cirrose biliar e os pacientes progredirão para hepatopatia descompensada com todas as manifestações de ascite, hemorragia por ruptura de varizes esofágicas e encefalopatia. TRATAMENTO Não há tratamento específico. Alguns médicos usam o AUDC em “doses de CBP” de 13 a 15 mg/kg/dia com relatos de melhora. A dilatação endoscópica dos estreitamentos dominantes pode ser útil, mas o tratamento definitivo é o transplante de fígado. Uma complicação temida da CEP é o surgimento de um colangiocarcinoma, que constitui uma contraindicação relativa para o transplante de fígado. CIRROSE CARDÍACA Os pacientes com insuficiência cardíaca congestiva direita de longa duração podem desenvolver lesão hepática crônica e cirrose cardíaca. Esta é uma causa cada vez mais incomum, ou até mesmo rara, de hepatopatia crônica graças aos avanços feitos na assistência aos pacientes com insuficiência cardíaca. No caso de insuficiência cardíaca direita de longa duração, existe uma pressão venosa elevada que é transmitida pela veia cava inferior e pelas veias hepáticas até os sinusoides do fígado, que ficam dilatados e ingurgitados com sangue. O fígado aumenta de volume e torna-se tumefeito e, com a congestão passiva prolongada e a isquemia relativa devida a uma circulação precária, os hepatócitos centrolobulares podem tornar-se necróticos, evoluindo para fibrose pericentral. Esse padrão fibrótico pode estender-se até a periferia do lóbulo até que possa ocorrer um padrão ímpar de fibrose que acaba causando cirrose. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Sinais de insuficiência cardíaca congestiva e manifestarão ao exame físico um fígado aumentado de volume e firme. Os níveis de ALP estão caracteristicamente elevados, e as aminotransferases podem ser normais ou ligeiramente aumentadas, com a AST sendo em geral mais alta do que a ALT. É improvável que os pacientes venham a desenvolver hemorragia por varizes ou encefalopatia. DIAGNÓSTICO é feito habitualmente em alguém com doença cardíaca óbvia que possui ALP elevada e fígado aumentado de volume. A biópsia do fígado mostra um padrão de fibrose que pode ser reconhecido por um patologista hepático experiente. A diferenciação da síndrome de Budd-Chiari (SBC) pode ser feita ao visualizar o extravasamento de hemácias na SBC, porém não na hepatopatia cardíaca. A doença venoclusiva também pode afetar o fluxo anterógrado hepático e apresenta elementos característicos na biópsia do fígado. A doença venoclusiva pode ser observada na circunstância de condicionamento para a realização de um transplante de medula óssea com radioterapia e quimioterapia; também pode ser observada com a ingestão de certos chás de ervas medicinais e de alcaloides da pirrolizidina. TRATAMENTO Baseia-se no controle da cardiopatia subjacente. OUTROS TIPOS DE CIRROSE Hepatopatias metabólicas hereditárias como hemocromatose, doença de Wilson, deficiência de α1- antitripsina (α1AT) e fibrose cística. HEMOCROMATOSE Distúrbio hereditário do metabolismo do ferro que resulta em um aumento progressivo da deposição de ferro hepático que, com o passar do tempo, pode evoluir para fibrose portal que progride para cirrose, insuficiência hepática e câncer hepatocelular. DIAGNÓSTICO é feito com base em estudos do ferro sérico mostrando uma saturação elevada de transferrina e níveis elevados de ferritina, junto com anormalidades identificadas pela análise das mutações HFE. TRATAMENTO é simples, com flebotomia terapêutica regular. DOENÇA DE WILSON Distúrbio hereditário da homeostase do cobre, com incapacidade de excretar as quantidades excessivas de cobre, resultando em um acúmulo no fígado. Anderson Soares DIAGNÓSTICO imediato, antes de as manifestações em estágio terminal se tornarem irreversíveis, pode resultar em uma melhora clínica significativa. O diagnóstico depende da determinação dos níveis de ceruloplasmina, que são baixos; dos níveis urinários de cobre durante um período de 24 horas, que são elevados; de achados típicos ao exame físico, incluindo os anéis corneanos de Kayser-Fleischer; e dos achados característicos da biópsia hepática. TRATAMENTO consiste em medicamentos quelantes do cobre. DEFICIÊNCIA DE α1AT Origina-se de um distúrbio hereditário que acarreta a dobradura anormal da proteína α1AT, resultando em falha da secreção dessa proteína pelo fígado. Não se sabe de que maneira a proteína retida resulta em doença hepática. DIAGNÓSTICO é feito pela determinação dos níveis de α1AT e do fenótipo. Glóbulos característicos ácido periódico de Schiff (PAS)-positivos e resistentes à diástase são visualizados na biópsia de fígado. TRATAMENTO transplante de fígado, que é curativo. FIBROSE CÍSTICA É um distúrbio hereditário incomum que afeta indivíduos brancos descendentes do norte da Europa. Pode ocorrer cirrose de tipo biliar, e alguns pacientes são beneficiados pelo uso crônico de AUDC. COMPLICAÇÕES • Hipertensão portal Varizes gastresofágicas Gastropatia hipertensiva portal Esplenomegalia, hiperesplenismo Ascite ▪ Peritonite bacteriana espontânea • Síndrome hepatorrenal Tipo 1 Tipo 2 • Encefalopatia hepática • Síndrome hepatopulmonar • Hipertensão portopulmonar • Desnutrição • Coagulopatia Deficiência de fatores da coagulação Fibrinólise Trombocitopenia • Doença óssea Osteopenia Osteoporose Osteomalacia • Anormalidades hematológicas Anemia Hemólise Trombocitopenia Neutropenia HIPERTENSÃO PORTAL Definida como a elevação do gradiente de pressão venosa hepática (GPVH) para >5 mmHg. A hipertensão portal é causada por uma combinaçãode dois processos hemodinâmicos que ocorrem de forma simultânea: 1. resistência intra-hepática aumentada à passagem do fluxo sanguíneo pelo fígado em função da cirrose e dos nódulos regenerativos 2. fluxo sanguíneo esplâncnico aumentado secundário à vasodilatação dentro do leito vascular esplâncnico. A hipertensão portal é diretamente responsável pelas duas principais complicações da cirrose, a hemorragia por varizes e a ascite. A hemorragia por varizes é um problema imediato e ameaçador com taxa de mortalidade associada de 20 a 30% a cada episódio de sangramento. As causas de hipertensão portal costumam ser subclassificadas como pré-hepáticas, intra-hepáticas e pós-hepáticas. CAUSAS PRÉ-HEPÁTICAS aquelas que afetam o sistema venoso portal antes de penetrar no fígado; elas incluem trombose da veia porta e trombose da veia esplênica. CAUSAS PÓS-HEPÁTICAS englobam aquelas que afetam as veias hepáticas e a drenagem venosa para o coração; elas incluem SBC, doença venoclusiva e congestão cardíaca crônica do lado direito. CAUSAS INTRA-HEPÁTICAS são responsáveis por mais de 95% dos casos de hipertensão portal e são representadas pelas principais formas de cirrose. As causas intra- hepáticas de hipertensão portal podem ser subdivididas em causas présinusoidais, sinusoidais e pós-sinusoidais. • pós-sinusoidais: doença venoclusiva, • pré-sinusoidais: fibrose hepática congênita e esquistossomose. • sinusoidais estão relacionadas com a cirrose de várias causas. A obstrução da veia porta pode ser idiopática ou ocorrer em associação com cirrose ou com infecção, pancreatite ou traumatismo abdominal. Os distúrbios da coagulação que podem resultar no surgimento de trombose da veia porta incluem policitemia vera; trombocitose essencial; deficiências de proteína C, proteína S, antitrombina 3 e fator V de Leiden; e anormalidades do gene que regula a produção de protrombina. Alguns pacientes podem ter um distúrbio mieloproliferativo subclínico. Anderson Soares CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS As três complicações primárias da hipertensão portal são as varizes gastresofágicas com hemorragia, a ascite e o hiperesplenismo. Assim sendo, os pacientes podem apresentar-se com hemorragia digestiva alta, que ao exame endoscópico demonstra ser devido a varizes esofágicas ou gástricas; com surgimento de ascite juntamente com edema periférico; ou com baço aumentado de volume com redução associada das plaquetas e dos leucócitos nos exames laboratoriais de rotina. VARIZES ESOFÁGICAS No transcorrer da última década, tornou-se prática comum realizar o rastreamento de cirróticos conhecidos com endoscopia em busca de varizes esofágicas. Esses estudos mostraram que cerca de 33% dos pacientes com cirrose histologicamente confirmada têm varizes. A cada ano, cerca de 5 a 15% dos cirróticos desenvolvem varizes, e foi estimado que a maioria dos pacientes com cirrose desenvolverá varizes no decorrer de sua vida. Além disso, admite-se que um terço dos pacientes com varizes acabarão tendo algum sangramento. Vários fatores permitem prever o risco de sangramento, incluindo a gravidade da cirrose (classificação de Child, escore MELD); a medida da pressão da veia hepática ocluída; o tamanho da variz; a localização da variz e certos estigmas endoscópicos, incluindo sinais de vergões avermelhados, manchas hematocísticas, eritema difuso, coloração azul, manchas vermelho-cereja, ou áreas com mamilos esbranquiçados. Os pacientes com ascite tensa também correm maior risco de sangramento pelas varizes. DIAGNÓSTICO Nos pacientes com cirrose que estão sendo acompanhados cronicamente, o desenvolvimento de hipertensão portal costuma ser revelado pela presença de trombocitopenia; pelo aparecimento de um baço aumentado de volume; ou pelo desenvolvimento de ascite, encefalopatia e/ou varizes esofágicas com ou sem sangramento. Nos pacientes ainda não diagnosticados, qualquer uma dessas características deve induzir uma avaliação adicional destinada a determinar a presença de hipertensão portal e hepatopatia. As varizes devem ser identificadas por endoscopia. O estudo por imagem do abdome, seja tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM), pode ser útil para demonstrar um fígado nodular e para evidenciar alterações decorrentes da hipertensão portal com circulação colateral intraabdominal. Se necessário, procedimentos radiológicos intervencionistas podem ser realizados para determinar as pressões na veia hepática ocluída e livre que permitirão fazer o cálculo de um gradiente de ocluída- para-livre que é equivalente à pressão portal. O gradiente médio normal entre a ocluída-e-livre é de 5 mmHg, e os pacientes com um gradiente >12 mmHg correm o risco de sofrer hemorragia por varizes. TRATAMENTO HEMORRAGIA POR VARIZES O tratamento para a hemorragia por varizes que representa uma complicação da hipertensão portal é dividido em duas categorias principais: 1. profilaxia primária; 2. prevenção de um novo sangramento após ter ocorrido uma hemorragia por varizes inicial. PROFILAXIA PRIMÁRIA torna necessário o rastreamento de rotina por endoscopia de todos os pacientes com cirrose. Após terem sido identificadas as varizes em maior risco de sangramento, a profilaxia primária pode ser conseguida a seguir por meio do bloqueio beta não seletivo ou pela ligadura das varizes com faixa elástica. Os pacientes tratados com betabloqueadores têm menor risco de hemorragia por varizes do que aqueles tratados com placebo ao longo de 1 e 2 anos de acompanhamento. Observa-se também uma redução da mortalidade relacionada com a hemorragia por varizes. Outros estudos demonstraram que o grau de redução da pressão portal constitui um elemento significativo que permite determinar o sucesso da terapia. Portanto, foi sugerido que mensurações repetidas dos gradientes de pressão na veia hepática podem ser utilizadas para orientar a terapia farmacológica; no entanto, os custos dessa conduta podem ser proibitivos. Vários estudos avaliaram a ligadura das varizes com faixa elástica e a escleroterapia das varizes como métodos capazes de proporcionar uma profilaxia primária. A ligadura endoscópica das varizes (LEV) alcançou um nível de sucesso e conforto para a maioria dos gastrenterologistas que atendem pacientes com essas complicações da hipertensão portal. Assim sendo, nos pacientes com cirrose que são submetidos a uma triagem para hipertensão portal e nos quais se constata a existência de varizes grandes, recomenda-se que recebam bloqueio beta ou a profilaxia primária com LEV. A abordagem aos pacientes após terem apresentado um sangramento varicoso consiste em tratar primeiro o sangramento agudo, que pode ameaçar a vida, e a seguir prevenir qualquer sangramento adicional. A prevenção de um novo sangramento é realizada habitualmente com ligadura repetida das varizes com faixa elástica até serem obliteradas. O tratamento do sangramento agudo torna necessária a reposição tanto de líquidos quanto de hemocomponentes, assim como a prevenção de qualquer sangramento subsequente com LEV. A conduta clínica na hemorragia por varizes aguda inclui o uso de agentes vasoconstritores, em geral somatostatina ou octreotida. O tamponamento por balão (tubo de Sengstaken-Blakemore ou tubo de Minnesota) pode ser utilizado em pacientes que não têm acesso imediato à terapia endoscópica ou que precisam de estabilização antes da terapia endoscópica. O controle do sangramento pode ser conseguido na grande maioria dos casos; entretanto, o sangramento recidiva na maioria dos pacientes se não tiver sido instituída uma terapia endoscópica definitiva. A octreotida, um vasoconstritor esplâncnico direto, é administrada na posologia de 50 a 100 μg/hora por infusão contínua.Anderson Soares A intervenção endoscópica é utilizada como tratamento de primeira linha para controlar agudamente o sangramento. Alguns endoscopistas utilizarão a terapia de esclerose das varizes (escleroterapia) como terapia inicial, em particular quando o sangramento é vigoroso. A ligadura das varizes com faixa elástica é utilizada para controlar o sangramento agudo em mais de 90% dos casos e deverá ser repetida até conseguir-se a obliteração de todas as varizes. Quando as varizes esofágicas se estendem para dentro do estômago proximal, a ligadura por faixa elástica é menos bem sucedida. Nessas situações, quando o sangramento continua a partir das varizes gástricas, deverá ser considerado um shunt intra-hepático transjugular peritoneal (TIPS). Essa técnica cria um shunt portossistêmico graças a uma abordagem percutânea utilizando um stent metálico expansível que é avançado sob orientação angiográfica até as veias hepáticas e, a seguir, ao longo da própria substância do fígado a fim de criar um shunt portocava direto. Essa conduta representa uma alternativa à cirurgia na descompressão aguda da hipertensão portal. Pode ocorrer encefalopatia em até 20% dos pacientes após TIPS, sendo a conduta particularmente problemática nos pacientes mais idosos e naqueles com encefalopatia preexistente. O TIPS deve ficar reservado aos indivíduos cujos controles endoscópico ou médico falharam ou que apresentam altos riscos cirúrgicos. O TIPS pode ser utilizado por vezes como uma ponte enquanto se espera pelo transplante. A transecção cirúrgica do esôfago é um procedimento usado apenas raramente e, em geral, associado a um desfecho ruim. ESPLENOMEGALIA E HIPERESPLENISMO A esplenomegalia congestiva é comum em pacientes com hipertensão portal. Características clínicas: presença de baço aumentado ao exame físico e surgimento de trombocitopenia e leucopenia nos pacientes que sofrem de cirrose. Alguns pacientes terão dor abdominal bastante significativa no lado esquerdo e no quadrante superior esquerdo relacionada com baço aumentado de volume e ingurgitado. A esplenomegalia em si não costuma exigir qualquer tratamento específico, porém a esplenectomia poderá ser realizada com sucesso em circunstâncias muito especiais. O hiperesplenismo com desenvolvimento de trombocitopenia constitui uma característica comum nos pacientes com cirrose e em geral representa a primeira indicação de hipertensão portal. ASCITE Refere-se ao acúmulo de líquido na cavidade peritoneal. Incontestavelmente, a causa mais comum de ascite é a hipertensão portal relacionada com a cirrose; contudo, também pode haver causas malignas ou infecciosas de ascite, sendo obviamente importante para a assistência ao paciente a diferenciação minuciosa dessas outras causas. PATOGÊNESE: A presença de hipertensão portal contribui para o desenvolvimento de ascite nos pacientes que sofrem de cirrose. Ocorre um aumento da resistência intra-hepática que é responsável por uma pressão portal aumentada, mas há também vasodilatação do sistema arterial esplâncnico que, por sua vez, resulta em um aumento do influxo venoso portal. Essas duas anormalidades resultam em maior produção de linfa esplâncnica. Fatores vasodilatadores, como o óxido nítrico, são responsáveis pelo efeito vasodilatador. As alterações hemodinâmicas resultam em retenção de sódio pelo fato de acarretarem a ativação do sistema renina-angiotensinaaldosterona, com o surgimento de hiperaldosteronismo. Os efeitos renais das quantidades maiores de aldosterona que acarretam retenção de sódio também contribuem para o surgimento de ascite. A retenção de sódio causa um acúmulo de líquido e a expansão do volume líquido extracelular, que resulta na formação de edema periférico e ascite. A retenção de sódio representa a consequência de uma resposta homeostática causada pelo enchimento insuficiente da circulação arterial devido à vasodilatação arterial no leito vascular esplâncnico. Como o líquido retido vasa constantemente e sai do compartimento intravascular para a cavidade peritoneal, a sensação de enchimento vascular não é alcançada e o processo continua. A hipoalbuminemia e a pressão oncótica reduzida do plasma também contribuem para a perda de líquido pelo compartimento vascular e para sua penetração na cavidade peritoneal. A hipoalbuminemia se deve a uma função sintética diminuída no fígado cirrótico. Anderson Soares DIAGNÓSTICO GERAL A cirrose é caracterizada histologicamente por septos fibrosos entre os campos portais; apresenta-se nas formas micro e macronodular. A condição é diagnosticada por seus achados característicos no exame clínico, exames laboratoriais e estudos auxiliares. Os achados típicos na cirrose incluem • Sinais cutâneos de doença hepática, • Fígado firme à palpação • Certas constelações de risco, tais como: síndrome metabólica consumo excessivo de álcool exposição a substâncias hepatotóxicas uso de medicamentos hepatotóxicos. Os primeiros sinais de cirrose na ultrassonografia: • Heterogeneidade do tecido hepático; • Irregularidade da superfície hepática ou aumento do lobo caudado; • A hipertensão portal leva à esplenomegalia. Na doença hepática avançada que se aproxima do estágio de cirrose, a trombocitopenia é observada, juntamente com a biossíntese hepática prejudicada (como mostrado, por exemplo, pela baixa concentração de albumina e colinesterase e uma elevação da razão normalizada internacional [INR]) e comprometimento da função desintoxicante do fígado (como mostrado por, por exemplo, concentração elevada de bilirrubina). As concentrações de transaminases estão geralmente na faixa normal ou apenas levemente elevadas. Não há valor limiar bem definido de qualquer teste laboratorial que possa ser usado para determinar quando a triagem para cirrose deve ser realizada. Estudos auxiliares: • Ultrassonografia abdominal superior • Gastroscopia. ESOFAGOGASTRODUODENOSCOPIA (EGD) pode ser usada para demonstrar varizes esofágicas e para avaliar o risco de sangramento; deve ser realizada sempre que a cirrose é inicialmente diagnosticada ou suspeita. BIÓPSIA HEPÁTICA é desnecessária, ou mesmo contraindicada, se o diagnóstico de cirrose foi claramente estabelecido a partir dos achados clínicos e estudos de imagem (por exemplo, evidência de descompensação, com ascite e biossíntese hepática prejudicada). A biópsia hepática é indicada se a etiologia da doença hepática não for clara ou se seu estágio não puder ser determinado a partir dos achados dos exames mencionados acima. Nos casos de suspeita de cirrose, a biópsia hepática transcutânea é indicada se os achados clínicos deixarem o diagnóstico em dúvida ou se houver expectativa de que a biópsia forneça informações sobre a causa da cirrose que afetará a escolha do tratamento. Para permitir o estadiamento confiável da fibrose hepática, os cilindros perfurados usados para biópsia hepática devem ter pelo menos 15 mm de comprimento e pelo menos 10 campos portais devem ser examinados por nível seccional. Deve-se ter em mente que, uma vez que a doença hepática tenha atingido o estágio de cirrose, a determinação histológica da etiologia subjacente original pode ser difícil ou impossível. AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA NÃO INVASIVA DA CIRROSE Os métodos laboratoriais para estimar a extensão da fibrose hepática podem ser divididos entre aqueles baseados em testes de função hepática de rotina e aqueles baseados em valores laboratoriais específicos associados à fibrose, como a concentração de ácido hialurônico. ÍNDICE DE RAZÃO AST-PLAQUETAS (APRI) é facilmente calculado como o quociente da AST (TGO) e a contagem de plaquetas e serve como um índice de triagem para fibrose avançada e cirrose. ULTRASSONOGRAFIA baseia-sena relação direta entre a extensão da fibrose e o grau de rigidez do fígado determinado pela ultrassonografia. ELASTOGRAFIA TRANSITÓRIA E A TÉCNICA DE IMPULSO DE FORÇA DE RADIAÇÃO ACÚSTICA (ARFI) são agora métodos bem estabelecidos para o estadiamento da fibrose em várias doenças hepáticas. Essas duas técnicas podem ser realizadas repetidamente em ambulatório, e também podem ser combinadas. As técnicas de medida da rigidez hepática e os índices laboratoriais de fibrose hepática permitem a avaliação longitudinal da progressão e regressão da fibrose em pacientes com doença hepática crônica. Embora a ultrassonografia possa excluir cirrose dentro ou fora em mais de 90% dos casos, seus achados são menos de 100% específicos devido a medições incorretas ocasionais e achados falso-positivos. Pode haver dificuldade em interpretar valores que não ultrapassem os limiares necessários para determinar fibrose avançada, ou cirrose, dentro ou fora; nessas situações, o curso temporal da variável em questão é sua característica clinicamente relevante. Também deve-se ter em mente que os valores dos limiares diagnósticos variam dependendo da etiologia subjacente da doença hepática. ABUSO DE ÁLCOOL ASSOCIAÇÃO PSIQUIÁTRICA AMERICANA AVALIAÇÃO E DETERMINAÇÃO DAS METAS DE TRATAMENTO 1. Recomenda-se que a avaliação psiquiátrica inicial de um paciente com suspeita de transtorno por uso de álcool inclua a avaliação do uso atual e passado de tabaco e álcool, bem como qualquer uso indevido de outras substâncias, incluindo medicamentos ou suplementos prescritos ou de venda livre. 2. Recomenda-se que a avaliação psiquiátrica inicial de um paciente com suspeita de transtorno por uso de álcool inclui uma medida comportamental quantitativa Anderson Soares para detectar a presença de uso indevido de álcool e avaliar sua gravidade. 3. Sugere-se que biomarcadores fisiológicos sejam usados para identificar níveis persistentemente elevados de consumo de álcool como parte da avaliação inicial de pacientes com transtorno por uso de álcool ou no tratamento de indivíduos que têm um indicação para monitoramento contínuo do uso de álcool. 4. Recomenda-se que os pacientes sejam avaliados para condições que ocorrem (incluindo transtornos por uso de substâncias, outros transtornos psiquiátricos e outros transtornos médicos) que podem influenciar a seleção da farmacoterapia para transtorno por uso de álcool. 5. Sugere-se que o objetivo inicial também do tratamento do álcool transtorno por uso (por exemplo, abstinência do uso de álcool, redução ou moderação do uso de álcool, outros elementos de redução de danos) seja acordado entre o paciente e o médico e que isso acordo seja documentado no prontuário médico. 6. Sugere-se que os objetivos iniciais do tratamento transtorno por uso de álcool inclua a discussão das obrigações legais do paciente (por exemplo, abstinência do uso de álcool, monitoramento da abstinência) e que essa discussão seja documentada. anotado no prontuário médico. 7. Sugere-se que os objetivos iniciais do tratamento transtorno por uso de álcool incluem discussão de riscos para si mesmo (por exemplo, saúde física, funcionamento ocupacional, envolvimento legal) e outros (por exemplo, condução prejudicada) do uso contínuo de álcool e que essa discussão seja documentada no prontuário médico. 8. Recomenda-se que os pacientes com transtorno por uso de álcool tenham um plano de tratamento documentado abrangente e centrado na pessoa que inclua tratamentos não farmacológicos e farmacológicos baseados em evidências. SELEÇÃO DE UMA FARMACOTERAPIA TRATAMENTO DO TRANSTORNO POR USO DE ÁLCOOL E TRANSTORNO POR USO DE OPIÓIDES CO-OCORRENTE 1. Recomenda-se que a naltrexona ou o acamprosato sejam oferecidos a pacientes com transtorno por uso de álcool moderado a grave que • têm o objetivo de reduzir o consumo de álcool ou alcançar a abstinência • preferem farmacoterapia ou não responderam apenas a tratamentos não farmacológicos • não têm contra-indicações para o uso desses medicamentos 19. 2. Sugere-se que o dissulfiram seja oferecido a pacientes com transtorno por uso de álcool moderado a grave que • tem o objetivo de alcançar a abstinência • preferem dissulfiramor são intolerantes ou não responderam a naltrexona e acamprosato • são capazes de compreender os riscos do consumo de álcool enquanto tomam dissulfiram • não tem contra-indicações para o uso deste medicamento. 3. Sugere-se que topiramato ou gabapentina sejam oferecidos a pacientes com transtorno por uso de álcool moderado a grave que • têm o objetivo de reduzir o consumo de álcool ou alcançar a abstinência • preferem topiramatoorgabapentina ou são intolerantes ou não responderam a naltrexona e acamprosato • não apresentam contraindicações ao uso desses medicamentos. TRATAMENTO O tratamento do alcoolismo não ocorre apenas de maneira isolada empregando somente o tratamento farmacológico, mas também depende da aplicação de manejos psicoterapêuticos em especial aos que utilizam a abordagem da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) no tratamento do alcoolismo. As classes de fármacos mais utilizadas no tratamento de recaídas do alcoolismo são: Inibidores de Recaptação de Noradrenalina e Dopamina (IRND) • Bupropiona. Inibidores Seletivos de Recaptação da Serotonina (ISRS) • fluoxetina Antagonistas opióides • naltrexona REFERÊNCIAS CARVALHO, Cainã Salmon Lima; CARVALHO, Guilherme Soares; COSTA, Nadine Cunha. Avanços no tratamento farmacológico do alcoolismo: revisão integrativa. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 1, p. 11271-11283, 2021. KASPER, Dennis L. et al. Medicina interna de Harrison. In: Medicina interna de Harrison. 2017. REUS, Victor I. et al. The American Psychiatric Association practice guideline for the pharmacological treatment of patients with alcohol use disorder. American Journal of Psychiatry, v. 175, n. 1, p. 86-90, 2018. SCHUPPAN, Detlef; AFDHAL, Nezam H. Liver cirrhosis. The Lancet, v. 371, n. 9615, p. 838-851, 2008. TSOCHATZIS, Emmanuel A.; BOSCH, Jaime; BURROUGHS, Andrew K. Liver cirrhosis. The Lancet, v. 383, n. 9930, p. 1749-1761, 2014.
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