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Anderson Soares Doença do Refluxo Gastroesofágico lactentes OBJETIVOS 1. Revisar a morfofisiologia do esôfago e do estômago; 2. Identificar a etiologia e os fatores de risco do refluxo gastresofágico em lactentes; 3. Discutir a fisiopatologia, manifestações clínicas e complicações da DRGE em lactentes; 4. Discorrer acerca do diagnóstico (exames e achados) da DRGE; 5. Elucidar acerca da conduta terapêutica e prevenção da DRGE. MORFOFISIOLOGIA ESÔFAGO Tubo muscular colabável, localizado posterior à traqueia. Inicia-se inferior à parte laríngea da faringe, entra no mediastino anteriormente à coluna vertebral. 4 camadas: 1. MUCOSA: Epitélio de revestimento | Lâmina própria | Muscular da mucosa Tipo de epitélio: Pavimentoso estratificado não queratinizado. Lâmina própria: possui glândulas esofágicas da cárdia (muco) próximo ao estômago. 2. SUBMUCOSA: Plexo submucoso | Vasos sang. da submuc. Glândulas esofágicas (muco) 3. MUSCULAR Circular interna | Longitudinal externa Fibras da camada muscular: • Proximal: estriadas esqueléticas • Média: mistura estri. esq. + lisa • Distal: lisas 4. SEROSA E ADVENTÍCIA ESTÔMAGO Alargamento do canal alimentar em J, inferior ao diafragma no abdome. Liga o esôfago ao duodeno. 4 regiões: Cárdia | Fundo | Corpo | Parte pilórica Parte pilórica (3 regiões): • Antro pilórico: liga o corpo ao estômago; • Canal pilórico: leva à 3ª região; • Pilo: conecta ao duodeno. Músculo esfíncter do piloro: conecta piloro ao duodeno. Curvatura menor: margem medial côncava do estômago. Curvatura maior: margem lateral convexa. FUNÇÕES: Digestão parcial | Secreção de enzimas e hormônios. DIGESTÃO QUÍMICA: • Fluido ácido (HCL): carboidratos; • Pepsina: proteínas; • Lipases gástrica e lingual: triglicerídeos. Camadas: 1. MUCOSA GÁSTRICA: • Epitélio glandular: secreta na fosseta gástrica; • Epitélio colunar simples: reveste a fosseta, protegido pelo muco alcalino da acidez do estômago. Anderson Soares • Junções de oclusão das células superficiais: protegem a mucosa • Vasos da lâmina própria e submucosa: nutrição e remoção de metabólitos tóxicos das células superficiais (proteção). 2. SUBMUCOSA: • Tecido conjuntivo moderadamente denso: vasos sang. e linfáticos; células linfóides e macrófagos. 3. MUSCULARES: Fibras musculares orientadas em 3 direções: • Camada externa: longitudinal; • Média: circular; • Interna: oblíqua. 4. SEROSA: delgada SECREÇÃO GÁSTRICA CÉLULA PARIETAL (receptores): Gastrina – CCK | Histamina – H2 | Acetilcolina – M3 muscarínico. Acetilcolina ou gastrina ligam-se aos receptores → provocam aumento do cálcio citosólico. Estimula-se as proteinocinases que promovem secreção de ÁCIDO pela H+/K+ ATPase (bomba de prótons) na superfície canalicular. CÉLULA ENTEROCROMAFIM – SÍMILES (ECL): Receptores de gastrina e de acetilcolina que estimulam liberação de histamina. Histamina liga-se aos receptores H2 na cél PARIETAL → ativa adenillilciclase que aumenta concentração intracelular de AMPc ➔ Ativa proteinocinases → Estimulam secreção de ÁCIDO pela H+/K+. ETIOLOGIA / FATORES DE RISCO O refluxo gastroesofágico (RGE) é a passagem do conteúdo gástrico para o esôfago, com ou sem regurgitação e/ou vômito. Pode ser considerado normal, fisiológico, aquele que ocorre várias vezes ao dia em lactentes, crianças, adolescentes e adultos, quando ocasiona poucos ou nenhum sintoma. Pode também representar uma doença (doença do refluxo gastroesofágico – DRGE), quando causa sintomas ou complicações, que se associam à morbidade importante. O estudo da DRGE em pediatria divide 3 grupos distintos nas manifestações clínicas e evolução da doença: LACTENTES | CRIANÇAS MAIORES | GRUPOS DE RISCO PARA DRGE LACTENTES: RGE é fisiológico sendo resolvido naturalmente entre 12 a 24 meses de idade, sendo o pico de regurgitações entre 2º e 4º meses. Dessa forma, devem ser avaliados os sintomas e os sinais de alarme. CRIANÇAS MAIORES: Classifica-se junto à DRGE em adultos, com tendência à cronicidade e reicidiva em diferentes idades, por isso essas crianças são portadoras de DRGE tipo adulto. GRUPOS DE RISCO PARA DRGE: Apresentação de doenças subjacentes: • Neuropatas • Anormalidades esofágicas congênitas • Crianças operadas de atresia de esôfago • Pacientes portadores de hérnia hiatal • Portadores de doenças respiratórias crônicas (fibrose cística) • Submetidos ao transplante pulmonar (antes e depois) • Pacientes em uso de quimioterapia • Prematuros Outros fatores de risco: • Aumento da taxa de obesidade • Hábitos alimentares • Helicobacter pylori • Comprimento esofágico curto • Ingestão relativamente grande de líquidos • Intervalos de alimentação curtos • Posicionamento corporal frequente em decúbito dorsal. Anderson Soares (BURNS et al., 2017. Tratado de pediatria - SBP) (SINGENDONK, ROSEN, TABBERS; 2018) FISIOPATOLOGIA Os mecanismos fisiopatológicos da DRGE em lactentes envolvem muitos fatores, como o mais frequente aumento da frequência e/ou duração prolongada da abertura do Esfíncter Esofágico Inferior. O Esfíncter Esofágico Inferior é o músculo que separa a extremidade inferior do esôfago do estômago; ele relaxa brevemente e abre após a deglutição para permitir que o bolo alimentar se mova do esôfago para o estômago e, em seguida, fecha para evitar que o conteúdo ácido do estômago volte para o esôfago. O esôfago é revestido por células epiteliais que diferem das do estômago. Se o EEI abrir e permitir que o conteúdo ácido do estômago se mova para o esôfago, o ácido pode danificar as células epiteliais do esôfago, resultando em inflamação e irritação que produzem o sintoma de dor. Mecanismos fisiopatológicos do EEI: DISFUNÇÃO DO EEI | AUMENTO DA PRESSÃO NO EEI DISFUNÇÃO DO EEI: Em média a pressão de repouso do EEI de RN é de 18 mmHg. Em adultos saudáveis é de 19-28 mmHg. Bebês prematuros com 27-18 semanas tem 3,8 mmHg. Prematuros de 35-36 semanas tem 12,2 mmHg. Mesmo em bebês com pressão de repouso do EEI semelhante à dos adultos, a anatomia do EEI muda à medida que o bebê cresce. Antes dos 6 meses de idade gestacional corrigida, o EEI localiza-se aproximadamente 2 cm acima do diafragma. À medida que a criança cresce, o comprimento do esôfago também cresce e por volta dos 6 meses de idade, o EEI é posicionado ao nível do diafragma, permitindo que os pilares diafragmáticos atuem como uma tipoia elástica externa, proporcionando suporte adicional ao EEI. Lactentes com DRGE decorrente apenas dessa imaturidade do EEI tem sintomas atenuados com o decorrer do crescimento, os quais desaparecem com o aumento da idade. ANATOMIA ESTRUTURAL E FUNCIONAL DO ESÔFAGO: Anomalias anatômicas do esôfago e diafragma, como hernia diafragmática congênita, hernia hiatal e esôfago curto, são capazes de afetar o fechamento do EEI. SONDA NASOGÁSTRICA OU OROGÁSTRICA: Afetam o quão bem a prevenção do EEI do RGE, pois as sondas o impedem de fechar. TÔNUS VAGAL: O vago é o nervo craniano mais longo do corpo e regula o trato GI, bem como os sistemas cardiovascular, respiratório, imunológico e endócrino. O trato GI da laringe aos dois terços direitos do cólon transverso é inervado pelo nervo vago. O movimento do alimento através do trato GI é controlado por contrações musculares bem coordenadas estimuladas pelo nervo vago, que criam movimentos peristálticos que movem o alimento na velocidade apropriada através do trato GI. Alterações congênitas ou adquiridas na função do vago: Anomalias congênitas no cérebro e sistema nervoso, história de acidente vascular cerebral e encefalopatia hipoxico-isquêmica. Lactentes que necessitaram de oxigenação por membrana extracorpórea; circulaçãoextracorpórea; correção cirúrgica de defeitos cardíacos congênitos, principalmente os que envolvem o arco aórtico; ou a ligadura cirúrgica de um canal arterial patente também apresentam alto risco de disfunção do nervo vago, o que pode contribuir para o desenvolvimento de RGE. Anderson Soares Na ausência de alterações congênitas ou adquiridas, a disfunção pode ser pelo estresse ou inflamação ao longo do TGI, causada por disbiose ou alergias alimentares. Em baixo estresse: vago fornece informações parassimpáticas enviando impulsos para os músculos do trato GI, estimulando a contração peristáltica e o movimento (ou seja, motilidade) do alimento através do TGI. Em alto estresse: a entrada do vago é retirada, o que resulta em função reduzida do EEI. DISBIOSE: desequilíbrio nas bactérias intestinais normais, com diversidade anormal no microbioma ou colonização com bactérias anormais. Aumenta o risco de alterações no sistema imunológico, integridade da mucosa GI, permeabilidade do epitélio GI e inflamação ao longo do trato GI. As respostas alérgicas às proteínas alimentares também iniciam uma resposta inflamatória no intestino. A inflamação no intestino causa aumento da permeabilidade das células epiteliais que revestem o intestino, permitindo que patógenos, toxinas, antígenos e bactérias entrem no sistema circulatório. Isso aumenta o risco de infecção e desenvolvimento de alergias alimentares, e tem um efeito direto sobre a função neuromuscular do intestino, consequentemente reduzindo a função do EEI. AUMENTO DA PRESSÃO NO EEI Apesar do de repouso do EEI em lactentes ser naturalmente mais baixo e que esteja funcionando normalmente, apenas pouca pressão adicional de dentro do estomago pode superar o tônus do EEI, fazendo com que se abra. Fatores que aumentam a pressão do EEI: • Causadores de backup de conteúdo GI; • Superexpansão do estômago; • Aumento da pressão intra-abdominal. BACKUP DO CONTEÚDO GI: Causado por obstruções anatômicas que não permitem que o alimento se move pelo sistema, como estenose pilórica, atresia intestinal ou estenoses de uma história de enterocolite necrosante ou gastrosquise. Além de dismotilidade relacionada ao baixo tônus vagal e/ou inflamação ao longo do trato GI. Superalimentação, podendo ser não intencional, resultante de expectativas inadequadas das necessidades nutricionais do bebê ou de pistas confusas exibidas por um bebê que tem dificuldade de autorregulação. Por outro lado, a superalimentação pode ser um efeito do aumento intencional do volume de alimentação ou do conteúdo calórico em bebês com demandas metabólicas aumentadas (ou seja, prematuridade, doenças respiratórias ou cardíacas) ou que não estão crescendo adequadamente. O tônus vagal baixo pode afetar a função de todo o trato GI, causando dismotilidade. Da mesma forma, inflamação do trato GI, por disbiose ou alergias alimentares, pode afetar a função neuromuscular, resultando em motilidade excessivamente rápida (ou seja, diarreia) ou motilidade excessivamente lenta (ou seja, constipação). AUMENTO DA PRESSÃO INTRA- ABDOMINAL: Lactentes com dismotilidade GI, o esforço com constipação pode causar aumento intermitente da pressão abdominal e sobrecarregar o EEI. Anomalias da cavidade abdominal, como onfalocele reparada ou hérnia diafragmática congênita, e estados patológicos, como hepatoesplenomegalia. Doenças respiratórias, por exemplo displasia broncopulmonar. AUMENTO DE GASES AO LONGO DO TRATO GI: • Deglutição excessiva de ar (ou seja, aerofagia) em bebês que não são capazes de estabelecer uma pega segura na mama ou na mamadeira, como bebês com anquiloglossia, Anderson Soares fissura de lábio e/ou palato e bebês prematuros. • Bebês que têm dificuldade em coordenar a sequência de sucção- respiração, como bebês prematuros e bebês que choram excessivamente, podem apresentar aerofagia. • Má digestão também pode levar ao excesso de ar nos intestinos. Quando alimentos não digeridos se move para o intestino grosso, é fermentado por bactérias e resulta na formação de gás. • Fluxo sanguíneo inadequado para o intestino e a má digestão podem resultar do estresse. o Em alto estresse, o sistema nervoso simpático e o eixo hipotalâmico-hipofisário- adrenal são ativados (ou seja, a resposta de luta ou fuga), resultando na retirada do fluxo sanguíneo do trato GI e desvio para os órgãos críticos (ou seja, o cérebro, coração e pulmões. Sem fluxo sanguíneo adequado para o intestino, a digestão fica mais lenta. Alimentos não digeridos dentro do trato GI também iniciam a cascata inflamatória. (PADOS e DAVITT; 2020) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Sintomas associados à DRGE: • Regurgitações • Vômitos • Perda de peso ou não ganho de peso • Irritabilidade e choro • Comportamento ruminativo • Azia ou dor torácica • Saciedade precoce • Hematêmese • Disfagia e odinofagia • Simbilância e estridor • Esofagite, estenose de esôfago e esôfago de Barrett • Inflamação de laringe ou de faringe • Pneumonia de repetição • Anemia • Erosão dentaria • Recusa alimentar • Postura distônica do pescoço/síndrome de Sandifer • Apneia ou eventos que ameaçam a vida • Tosse, rouquidão • Outras alterações no exame otorrinolaringológico. Sintomas e sinais de “bandeira vermelha” que sugerem outros distúrbios além da DRGE: • Vômitos biliosos • Sangramento gastrointestinal (hematêmese, hematoquezia) • Diarreia distensão abdominal • Febre • Letargia • Vômitos frequentes e em jato • Início dos vômitos após 6 meses de vida • Perda de peso ou parada no crescimento • Hepatoesplenomegalia • Abaulamento da fontanela • Macrocefalia • Microcefalia • Convulsões • Síndrome genético-metabólica • Mal estado geral • Disúria • Aumento anormal da circunferência da cabeça. COMPLICAÇÕES • Esofagites • Estenoses • Broncoaspiração • Pneumonia • Danos estruturais • Esôfago de Barrett DIAGNÓSTICO Não há técnica padrão-ouro para o diagnóstico exato de DRGE em lactentes, sendo necessária a observação dos sintomas e alguns exames complementares que avaliam o RGE. REED - RADIOGRAFIA CONTRASTADA DE ESÔFAGO, ESTÔMAGO E DUODENO: Anderson Soares Avalia apenas o RGE pós-prandial imediato, sem a capacidade de quantificar os episódios de refluxo. Faz a avaliação anatômica do trato digestório alto, devendo ser solicitado com esse objetivo, em pacientes selecionados. Não deve ser usado para diagnosticar ou assessorar a gravidade da DRGE, mas deve ser indicado quando há disfagia, vômitos biliosos ou suspeita de volvo, obstrução, estenose, membrana. CINTILOGRAFIA GASTROESOFÁGICA Avalia apenas o RGE pós-prandial imediato. Vantagens: identificar o RGE mesmo após dieta com pH neutro, avaliar o esvaziamento gástrico e detectar a aspiração pulmonar. OBS: a detecção de esvaziamento gástrico lento não confirma o diagnóstico de DRGE e deve ser pesquisada apenas em pacientes com clínica de retenção gástrica. ULTRASSONOGRAFIA ESOFAGOGÁSTRICA Não é recomendada para avaliação clínica de rotina da DRGE, no lactente nem na criança maior. Não diferencia RGE de DRGE. pHMETRIA ESOFÁGICA: Avalia o paciente em condições mais fisiológicas e por longos períodos, quantifica o RGE e correlaciona os episódios de refluxo com os sinais e sintomas. Limitação: não detecta episódios de refluxo não ácidos ou fracamente ácidos. Assim, especialmente em lactentes, com dieta exclusivamente ou predominantemente láctea, o RGE pós-prandial pode não ser detectado, pela neutralização do refluxo ácido provocado pelo leite. Indicações: avaliação de sintomas atípicos ou extradigestivos da DRGE; pesquisa de RGE oculto; avaliação da resposta ao tratamento clínico em pacientes portadoresde esôfago de Barrett ou de DRGE de difícil controle; além de avaliação pré e pós-operatória do paciente com DRGE. IMPEDANCIOMETRIA ESOFÁGICA INTRALUMINAL: Detecta o movimento retrógrado de fluidos, sólidos e ar no esôfago, para qualquer nível, em qualquer quantidade, independentemente do pH, ou seja, das características físicas ou químicas, pois mede as alterações de resistência elétrica e é realizado com múltiplos canais. Monitora a quantidade e a qualidade do material refluído. É utilizada em conjunto com a monitoração do pH, chamada pH-impedanciometria ou pH-MII (multichannel intraluminal impedance). MANOMETRIA ESOFÁGICA Avalia a motilidade do esôfago, estando indicada naqueles pacientes que apresentam quadro sugestivo de dismotilidade, cujos principais sintomas são a disfagia e a odinofagia. Pode ser útil nos pacientes que não responderam à supressão ácida e que têm endoscopia negativa, no sentido de buscar uma possível alteração da motilidade, como a acalásia ou outras condições que mimetizam a DRGE. ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA COM BIÓPSIA: permite a avaliação macroscópica da mucosa esofágica e a coleta de material para estudo histopatológico, possibilitando o diagnóstico das complicações esofágicas da DRGE (esofagite, estenose péptica ou esôfago de Barrett), tão importantes para a orientação da terapêutica adequada e do prognóstico do paciente. Tem papel fundamental no diagnóstico diferencial com outras doenças pépticas e não pépticas, como a esofagite eosinofílica (EoE), a esofagite fúngica, a úlcera duodenal, a gastrite por H. pylori, a gastroenteropatia eosinofílica, as malformações e neoplasias, capazes de produzir sintomas semelhantes aos da DRGE. Anderson Soares TESTE TERAPÊUTICO EMPÍRICO COM SUPRESSÃO ÁCIDA: As crianças maiores e os adolescentes, com sintomas típicos de DRGE, sem sinais de alerta, podem ser submetidos a um teste empírico terapêutico com fármacos inibidores da bomba de prótons (IBP), durante 4 semanas, podendo estender esse tempo para 12 semanas, se houver melhora clínica.1 Os sintomas típicos são: azia, dor epigástrica em queimação, tosse crônica, principalmente relacionada à alimentação, náuseas e regurgitações, dor torácica e dispepsia. Não há evidências para indicar um teste terapêutico em crianças menores, nas quais os sintomas são bem menos específicos. CONDUTA TERAPÊUTICA OBJETIVOS: promoção do crescimento e do ganho de peso adequados, o alívio dos sintomas, a cicatrização das lesões teciduais, a prevenção da recorrência destas e das complicações associadas à DRGE. TRATAMENTO CONSERVADOR (NÃO MEDICAMENTOSO): Orientação dos pais quanto a • Não usar roupas apertadas; • Sugerir a troca das fraldas antes das mamadas; evitar o uso de fármacos que exacerbam o RGE; • Orientar infusões lentas, nas crianças com sondas nasogástricas; • Evitar o tabagismo (ativo ou passivo), pois a exposição ao tabaco induz o relaxamento do esfíncter esofágico inferior (EEI), aumenta os índices de asma, pneumonia, apneia e da síndrome de morte súbita, • Orientações dietéticas e da postura anti-RGE. ORIENTAÇÕES DIETÉTICAS E POSTURAIS: Em adolescentes, as refeições volumosas e altamente calóricas devem ser evitadas. Os alimentos gordurosos não são recomendados, pois podem tornar mais lento o esvaziamento gástrico, além de diminuir a pressão do EEI. Alimentos como chocolates, refrigerantes, chá e café não são aconselháveis. Não comer algumas horas antes de dormir é uma medida simples e sem controvérsias. As fórmulas AR (antirregurgitação e não anti- RGE) podem diminuir a regurgitação visível, mas não resultam em diminuição mensurável na frequência dos episódios de refluxo. Atualmente, recomenda-se, para os lactentes normais ou para os portadores de DRGE, posição supina para dormir, pois o risco de morte súbita é mais importante do que o benefício ocasionado pela posição anti-RGE. Para os adolescentes, assim como para os adultos, é provável que a melhor posição seja o decúbito lateral esquerdo, com a cabeceira elevada. A redução de peso nos obesos é fundamental. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Embora haja discussões ou controvérsias, os fármacos recomendados são: • Antiácidos de contato, recomendados apenas como sintomáticos, para sintomas esporádicos ou diminuição da acidez noturna; • Procinéticos, que ajudam a controlar os sintomas, principalmente de vômitos e regurgitação; • Medicamentos que diminuem a secreção ácida (antagonistas do receptor H2 da histamina ou IBP), quando os sintomas, como dor retroesternal e azia, e/ou complicações, como a esofagite, estão associados à ação do ácido no esôfago ou em outros órgãos, como os sintomas respiratórios. REFERÊNCIAS SINGENDONK Maartje MJ, ROSEN Rachel R, TABBERS Merit M. Gastroesophageal Reflux Disease in Children. Encyclopedia of Gastroenterology. Elsevier, 2018. BURNS, Dennis Alexander Rabelo et al. Tratado de Pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. Barueri, SP, 2017. PADOS, Britt Frisk; DAVITT, Emma S. Pathophysiology of gastroesophageal reflux Anderson Soares disease in infants and nonpharmacologic strategies for symptom management. Nursing for Women's Health, v. 24, n. 2, p. 101-114, 2020. JUNQUEIRA, Luiz C.; CARNEIRO, José. Histologia básica. 10ª edição. Rio de Janeiro, 2004. KATZUNG, Bertram G.; MASTERS, S. B.; TREVOR, A. J. Farmacologia básica e clínica. 10ª edição. Rio de Janeiro/RJ: Mcgraw-hill Interamericana, 2010.
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