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A Origem do Homem e a Comunicação com Chimpanzés

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"Lamento pensar que muitas das pessoas consideram com desagrado a principal conclusão a que chego na presente obra, ou seja, que o Homem descende de qualquer forma de organização inferior, embora poucas dúvidas restem de que descendemos de bárbaros".
"(...) Nunca poderei esquecer a surpresa que senti ao assistir, pela primeira vez, a uma festa de fugianos numa região do litoral, selvagem e escarpada, pela reflexão que de súbito me veio à mente: eram assim os nossos antepassados. Estes homens estavam completamente nus e cobertos de pinturas, com os cabelos compridos e emaranhados, as bocas a escumar de excitação e uma expressão selvagem, amedrontada e desconfiada. Não tinham praticamente qualquer espécie de arte e, como animais selvagens, viviam do que conseguiam apanhar; não tinham governo e eram implacáveis com quem não pertencesse à sua pequena tribo. Quem quer que tenha visto um selvagem no seu lugar de origem, não se sentirá muito envergonhado se tiver de admitir que lhe corre nas veias sangue de qualquer criatura mais humilde. Pelo meu lado, preferia descender desse macaquinho heróico que enfrentou o seu temível inimigo a fim de salvar a vida do dono, ou desse velho babuíno que, ao descer das montanhas, transportava em triunfo o seu jovem companheiro salvo de uma matilha de cães que os olhavam surpreendidos, do que de um selvagem que se deleita em torturar os seus inimigos, oferece aos deuses sacrifícios sangrentos, pratica o infanticídio sem remorso, trata a sua mulher como uma escrava, ignora a decência e está imbuído das superstições mais grosseiras.
Pode-se perdoar que o Homem sinta um certo orgulho por se ter elevado, embora não através dos seus próprios esforços, até ao topo da escala orgânica; e o facto de ter assim ascendido, em vez de ter sido aboriginalmente aí colocado, pode-lhe ter dado esperança de um destino ainda mais alto no futuro distante. Mas não vamos aqui tratar de esperanças e de temores, mas apenas da verdade na medida em que a razão nos permitir descobri-la. Fiz prova do melhor das minhas capacidades; e parece-me que temos que confessar que o Homem, com todas as suas nobres qualidades, com a simpatia que sente pelos mais desfavorecidos, com a benevolência que manifesta em relação não só aos homens, mas também ao mais humilde dos seres vivos, com a sua inteligência divina, que penetrou nos movimentos e constituição do sistema solar – com todos estes poderes sublimes –, o Homem ainda tem impresso na sua consciência física o cunho indelével da sua origem inferior."
Charles Darwin, "A descendência do Homem"
(citado por Carl Sagan, 1985)
"Em Tenerife foram observados dois chimpanzés que maltratavam uma galinha: um deles estendia alguma comida, incitando-a a aproximar-se, enquanto o outro a espetava com um pedaço de arame, que tinha escondido atrás das costas. A galinha afastava-se, para se aproximar logo de seguida e ser picada de novo. Podemos encontrar aqui uma elaborada combinação de comportamento que por vezes pensamos ser exclusivamente humana: cooperação, planeamento do curso futuro da acção, fraude e crueldade. Por outro lado, podemos verificar que as galinhas têm uma capacidade muito baixa de aprender a evitar o perigo."
Carl Sagan, "Os dragões do Éden" (1985)
"Até há poucos anos, a tentativa mais ampla de comunicar com os chimpanzés processou-se do seguinte modo: um chimpanzé recém-nascido foi levado para uma casa com um bebé também recém-nascido, onde seriam criados juntos – camas de grades iguais, berços iguais, cadeiras altas iguais, bacios iguais, fraldas iguais, latas de pó talco iguais. Decorridos três anos, o chimpanzé tinha, como é evidente, ultrapassado a criança na destreza manual, na corrida, no salto, a trepar e noutras actividades motoras. Mas, enquanto a criança já "palrava", o chimpanzé só dizia, e com enorme dificuldade, mamã, papá e copo. A partir daqui generalizou-se, concluindo-se que na linguagem, no raciocínio e em outras funções mentais mais elevadas, os chimpanzés só tinham capacidades mínimas.
Mas ao reflectirem sobre esta experiência, dois psicólogos compreenderam que a faringe e a laringe do chimpanzé não estão adaptadas à linguagem humana. Assim, é possível que o chimpanzé tenha consideráveis capacidades linguísticas, mas que não as consiga expressar por limitações anatomia.
Haverá algum tipo de linguagem simbólica que possa empregar as forças e não as fraquezas, da anatomia dos chimpanzés?
Os psicólogos Gardners, ensinaram a alguns chimpanzés uma linguagem de sinais americana, conhecida pela acrossemia ameslan, da American deaf and dumb language (linguagem americana dos surdos-mudos), sendo evidente que o termo "mudo" se refere à incapacidade de falar e não a qualquer deficiência de inteligência. Essa linguagem está muito bem adaptada à imensa destreza manual dos chimpanzés, podendo ter todas as características essenciais das linguagens verbais.
Ao ver pela primeira vez um pato a grasnar no lago, Washoe esboçou com gestos a palavra waterbird (ave aquática), que é a mesma designação usada em inglês e noutras línguas, mas que ela inventou na ocasião. Nunca tendo visto um fruto esférico que não fosse uma maçã, mas conhecendo os sinais para designar as diferentes cores, Lana, depois de observar um técnico a comer uma laranja, traçou com sinais a expressão orange apple (maçã cor de laranja). Depois de provar uma melancia, Lucy descreveu-a como candy drink (bebida açucarada), que é essencialmente a expressão correspondente ao watermelon inglês. Mas depois de ter queimado a boca a comer o primeiro rabanete, Lucy passou a descrevê-lo como "comida que faz chorar de dor". Uma bonequinha inesperadamente colocada na chávena de Washoe provocou a resposta "bebé na minha bebida". Quando Washoe sujava alguma coisa, particularmente roupas ou móveis, ensinaram-na a indicar por gestos "sujo", o que ela extrapolou como um termo geral de injúria. Um macaco rhesus que lhe desagradou, foi repetidamente descrito como macaco sujo, macaco sujo, macaco sujo". Por vezes, Washoe dizia coisas como "Jack sujo, dá-me de beber". Lana, num momento de criatividade enfadada, chamou o seu treinador de "merda verde". Os chimpanzés tinham inventado impropérios. Washoe também pareceu revelar sentido de humor: certa vez, ao passear às cavalitas do treinador e, talvez inadvertidamente, o molhou, fez os gestos de "engraçado, engraçado".
Washoe foi vista a "ler" uma revista – isto é, a virar lentamente as páginas, a olhar atentamente para as gravuras e a fazer, para ninguém em particular, o sinal apropriado de "gato" quando via a fotografia de um tigre e de "bebida" quando examinava um anúncio de vermute. Depois de ter aprendido o sinal "aberto" para uma porta, Washoe alargou o conceito a uma pasta. Também tentou conversar em ameslan com o gato do laboratório, que se revelou o único analfabeto na matéria. Depois de ter adquirido este maravilhoso método de comunicação, Washoe deve ter ficado surpreendida por o gato não ser também especialista em ameslan. E, quando um dia Jane, a mãe adoptiva de Lucy, saiu do laboratório, Lucy fitou-a e desenhou os sinais de "tu chorar. Eu chorar".
Mais, Washoe e outros chimpanzés eram perfeitamente capazes, tanto de fazerem perguntas, como de negar afirmações que lhes fizessem. E é difícil ver qualquer diferença significativa entre a qualidade da linguagem gestual utilizada pelos chimpanzés e a linguagem falada por crianças.
Estas descobertas sobre a linguagem e a inteligência dos chimpanzés, tem uma relação curiosa com a teoria do "Rubicão" – a afirmação de que a massa total do cérebro, ou, pelo menos, a relação da massa do cérebro e a massa do corpo, constitui um índice de inteligência. Contudo, convém não esquecer que a qualidade e a quantidade das ligações neuronais são provavelmente vitais para os tipos de inteligência.
Uma vez que os chimpanzés adultos são, em geral, considerados (pelo menos pelos guardas dos jardins zoológicos) demasiado perigosos para serem guardados em casa ou nas suas vizinhanças, Washoe e os outros chimpanzés, com capacidadesverbais, foram involuntariamente "reformados" pouco depois de terem atingido a puberdade. Por este motivo, não temos experiência das capacidades de linguagem dos macacos na idade adulta. Uma das questões mais intrigantes que se nos põe, é se uma mãe chimpanzé, com capacidades verbais, será capaz de comunicar a linguagem aos filhos.
Nas comunidades naturais de primatas a comunicação não verbal é tão rica, que existe pouca pressão no sentido de um desenvolvimento de uma linguagem gestual mais elaborada. Mas, se a linguagem gestual fosse necessária à sobrevivência dos chimpanzés, não restam dúvidas de que ela seria transmitida extra-genética e culturalmente através das gerações. Por exemplo, Jane Godall observou bebés chimpanzés na selva que imitavam o comportamento das mães e aprendiam a tarefa, relativamente complexa, de encontrar um galho de árvore e de o enfiar numa termiteira, de modo a conseguirem alguns desses acepipes deliciosos. Assim, se todos os chimpanzés incapazes de comunicar morressem ou deixassem de se reproduzir, penso que se verificaria um desenvolvimento e uma evolução significativa da linguagem.
O inglês básico corresponde a cerca de 1.000 palavras e os chimpanzés, como os atrás referidos, já dispõem de um vocabulário de 100 a 200 palavras, para além de também serem capazes de distinguir entre modelos gramaticais e sintaxes bastante diferentes. Mais, estes animais revelaram-se extraordinariamente inventivos na construção de novas palavras e de novas frases".
Carl Sagan, "Os dragões do Éden" (1985)
Etologia
A etologia, na definição do seu próprio fundador – Konrad Lorenz –, é a ciência comparada do comportamento dos animais no seu meio ambiente natural e num meio artificial (2) (4). A definição de – comportamento – não é tão simples quanto parece (5). Na verdade, a etologia carece ainda de definições precisas porque: 1) é um ramo da ciência ainda relativamente recente, 2) um dado comportamento depende de múltiplos factores (2) (5), as metodologias de estudo estão em permanente e rápida evolução e 3) existem muitos preconceitos instalados (5). O termo comportamento é utilizado na definição de padrões de movimento, de posturas corporais, de vocalizações, de alterações externas identificáveis e utilizáveis na comunicação recíproca (alterações de cor, odores, etc.), entre outros (5). Contudo, o termo comportamento não é sinónimo de movimento, uma vez que a imobilidade é, frequentemente, um tipo de comportamento (5). Assim, por exemplo, quando um antílope se coloca, imóvel, no topo de uma termiteira, esta atitude indica que ele reclama a pertença de uma determinada área territorial específica (5). Por outro lado, a imobilidade pode ser utilizada para enganar possíveis predadores.
O estudo do comportamento passa, antes de mais, pelo conhecimento das causas que o determinam e condicionam, tanto individual como colectivamente (2) (3). Só entendendo os mecanismos psicofisiológicos que levam o animal a agir desta ou daquela forma se poderá ter a veleidade de tentar compreender o comportamento animal (2) (3).
A conduta dos animais adultos é o resultado de componentes hereditários ou inatos e de componentes adquiridos (2). Se nos animais inferiores os seus comportamentos são fundamentalmente ditados por “programação” genética, que se manifestam de forma mais ou menos estereotipada em todos os indivíduos da mesma espécie, à medida que se vai subindo na escala filogenética, a aprendizagem vai modelando cada vez mais a “programação” genética e, assim, abrindo também o leque das expressões comportamentais individuais (3).
As manifestações de conduta induzem respostas noutros indivíduos através de um sistema de sinais e de contra-sinais; muitos animais inter-relacionam-se (2). O comportamento é determinado por necessidades fisiológicas e neurológicas e é dirigido por informações que são recolhidas do meio interno ou do meio ambiente, tanto animado como inanimado (2).
A etologia é uma ciência multidisciplinar (2). Os seus estudos envolvem conhecimentos de paleontologia, de geologia, de anatomia, de fisiologia, de neurologia, de ecologia, de matemática, etc.. A formação da Lua, por exemplo, condicionou o movimento de rotação da Terra e a sucessão das estações do ano, com um importante impacto no comportamento dos animais (Figura 1).
Figura 1 – Simulação computorizada da formação da Terra a partir do impacto de um objecto celestial do tamanho de Marte (Theia) com a Terra (6).
Através dos conhecimentos obtidos pela etologia, quem contactar e trabalhar com animais poderá compreender o seu modo de “pensar” e de agir e, contribuindo para o seu bem-estar, poderá assegurar melhores desempenhos por parte deles (2).
Os estudos realizados com animais no seu ambiente natural podem clarificar os padrões de comportamento dos animais domesticados (da mesma espécie) (2). Os estudos deste tipo já se revelaram muito úteis na clarificação da importância – sobre a vida dos actuais animais domesticados – de alguns factores ambientais como o tipo de associação com outros animais, esquemas de alimentação, sistemas de contenção e o ritmo de outras actividades, como o sono e a reprodução (2). É que os actuais sistemas de exploração animal, cada vez mais intensivos, exigem um maior controlo dos animais e do seu meio, controlo esse imposto por limitações de espaço, de alimentação, de ventilação, de iluminação, entre outros factores. (2).
A análise etológica assenta em duas premissas importantes: a observação e a interpretação de um dado comportamento animal (5). A interpretação deve basear-se em aspectos funcionais, causais e filogenéticos, todos eles ligados ao comportamento adaptativo e respectivos mecanismos associados (5). O principal objectivo da etologia é alcançado quando se consegue prever o comportamento ou sequência de comportamentos de um animal e se apresentam justificações correctas (5).
O ponto de partida, a base, do estudo científico do comportamento é a compilação precisa e detalhada dos padrões de comportamento típicos de uma determinada espécie (5).
bibliografia
1. Sagan, C., 1985. Os dragões do Éden. Especulações sobre a evolução da inteligência humana e das outras. Gradiva, Lisboa, Portugal.
2. Fraser, A.F., 1980. Comportamento de los animales de granja. Editorial Acribia, Saragoça, Espanha.
3. Rodrigues, C. e Pina-Cabral, J.M., 1986. Motivação. Conceito. Aspectos fundamentalmente inatos. Elementos básicos de psicologia científica/2. Edições Contraponto, Porto, Portugal.
4. Rodrigues, C., 1986. O que é que tem sido a psicologia. Elementos básicos de psicologia científica/1. Edições Contraponto, Porto, Portugal.
5. Immelmann, K., 1983. Introduction to ethology. 2ª Edição, Plenum Press, Nova Iorque, EUA, 237 pp..
6. Grotzinger, J., Jordan, T.H., Press, F. e Siever, R., 2006. Understanding Earth. 5ª Edição, W. H. Freeman Publisher, Inglaterra, 672 pp..
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