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DISCIPLINA: ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Professora conteudista: Tatyane Perna Dias
Mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), defendeu sua dissertação intitulada, Lazer e Educação Física escolar: análise da Proposta Curricular/Currículo do Estado de São Paulo e da produção acadêmica no período de 2003 a 2012, em 2013.
Graduada no curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), em 2010.
Teve atuação profissional na educação básica estadual e nos cursos superiores de Educação Física, Ciências Biológicas e Pedagogia, entre 2011 e 2015.
Atua como docente do ensino superior junto a Universidade Paulista (UNIP) desde agosto de 2017. Atualmente é coordenadora do Curso de Educação Física do Campus Alphaville da UNIP.
Professor conteudista: Mário André Sigoli
Mestre em Pedagogia do Movimento Humano pela Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP), defendeu sua dissertação intitulada Características do Esporte Educacional nas Escolas da Cidade de São Paulo, em 2005.
Graduado no curso de Bacharelado em Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP), em 2000.
Teve atuação profissional na área esportiva da natação, sendo técnico de atletas federados no São Paulo Futebol Clube (1999 a 2002) e depois como técnico das categorias de base da natação da Fundesport Araraquara, entre 2013 e 2015.
Atua como docente do ensino superior desde fevereiro de 2004 junto na Universidade Paulista (UNIP). Atualmente é coordenador do Curso de Educação Física do Campus Araraquara da UNIP.
Desenvolve hoje trabalho e pesquisa junto à população idosa e com necessidades especiais, com ênfase em emagrecimento e doenças hipocinéticas, através da metodologia do treinamento cruzado (cross training).
Atua como consultor da Comissão de Qualificação e Avaliação (CQA) da UNIP, sendo colaborador na publicação de tomos de apoio ao estudo preparatório para o Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade) e publicações para os cursos de Ensino a Distância (EaD).
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
UNIDADE I
1. Fundamentos da Ética 
1.1. Aspectos históricos e filosóficos relacionados à ética.
1.2. Conceitos contemporâneos de ética e moral 
1.3. Ética e liberdade
2. Fundamentos da Bioética
2.1. Os princípios da bioética
2.1.1. Princípio do consentimento ou autonomia
2.1.2. Princípio da beneficência
2.1.3. Princípio da não-maleficência
2.1.4. Princípio da justiça
2.2. Bioética aplicada ao exercício profissional da Educação Física
2.3. A ética na pesquisa na história
2.4. Ética na pesquisa em Educação Física
2.5. Os comitês de ética
3. Deontologia e Código de Ética
4. Resoluções e Diretrizes do Conselho Federal de Educação Física
4.1. Regulamentação da profissão e criação dos Conselhos de Educação Física
4.2. Conselhos Federal e Regionais e suas atribuições
4.3. Regimento Interno CONFEF
UNIDADE II
5. Código de Ética dos Profissionais de Educação Física
6. Atuação do profissional de Educação Física em equipes multidisciplinares
6.1. Casos da atuação multidisciplinar relacionados ao profissional de Educação Física
6.1.1. O profissional de Educação Física nas equipes do NASF
6.1.2. A atuação do profissional de Educação Física na área de ginástica laboral
6.1.3. A prescrição de suplementos alimentares por profissionais de Educação Física
7. Casos específicos em ética profissional
7.1. Relações de trabalho: concorrência e divulgação
7.2. Academias de musculação: corpo, estética e desempenho
7.2.1. A conduta profissional e os relacionamentos socioafetivos nas academias de musculação
7.3. Equipes esportivas: regras, respeito e violência
7.3.1. A regulamentação do esporte, o fair play e a ética do gentleman
7.3.2. O movimento Mundial do Fair Play no esporte
7.3.3. A intervenção do profissional de educação física e os valores do “fair play”
7.4. Escolas: compromisso profissional e banalização das aulas 
APRESENTAÇÃO
	A disciplina de Ética e Intervenção Profissional em Educação Física tem a finalidade de apresentar discussões de temas atuais da profissão, abrangendo os valores éticos e morais que permeiam o exercício do profissional em Educação Física. 
	Os objetivos dessa disciplina são: 
· Desenvolver sólida reflexão acerca da atuação profissional;
· Discutir os comportamentos esperados no exercício da profissão;
· Compreender a importância das questões éticas na sociedade contemporânea;
· Analisar, sob o ponto de vista ético, temas ligados direta ou indiretamente à escolha profissional;
· Conhecer e discutir o Código de Ética dos Profissionais de Educação Física;
· Debater a ética profissional do professor de educação física a partir da análise de alguns casos representativos.
Inicialmente serão abordados temas introdutórios e conceituais sobre as bases filosóficas e históricas relacionadas a construção do conceito de ética atual, além de princípios que permeiam a bioética. Os princípios de deontologia serão abordados, sendo requisito para o entendimento da construção dos códigos de ética e, mais especificamente do Código de Ética dos Profissionais de Educação Física. 
Desta forma, ao final da disciplina, você será capaz de pautar sua própria atuação profissional nos direitos e deveres da categoria; comprometer-se com o exercício ético da profissão nas mais diversas áreas que a compõe; basear-se no código de ética para uma atuação comprometida com o benefício da sociedade e identificar conflitos de interesses presentes na prática profissional. 
INTRODUÇÃO
Caro aluno, 
Atualmente o mercado de trabalho exige profissionais com ótima formação técnica, ou seja, com conhecimentos sólidos sobre sua área de atuação, e também com uma boa formação moral e ética. 
Os conhecimentos técnicos são facilmente observados a cada disciplina cursada, ensina-se e aprende-se o Futebol, o Basquete, as Ginásticas e muitas outras áreas pertinentes à Educação Física. Mas onde está, então, essa formação moral e ética?
Este livro texto apresentará desde conceitos e bases históricas e filosóficas, até situações específicas da atuação profissional que exigem um olhar ético. Você poderá perceber como as normas morais e os conceitos éticos modificam-se a partir do contexto histórico, político, social e cultural. 
Nesta disciplina serão abordados os conceitos relacionados à formação ética e moral do profissional de Educação Física, proporcionando momentos de reflexão sobre a atuação profissional e temas atuais relacionados a ela. 
1. Fundamentos da Ética
Os estudos sobre ética são resultantes da Filosofia. As discussões e definições sobre o tema remontam à Antiguidade, especificamente na Grécia, sendo os filósofos gregos os primeiros a pensar o conceito de ética e sua aplicação na sociedade.
Podemos dizer que o estudo da ética é aliado ao estudo da vida em sociedade, existem normas e regras para o bom convívio entre todos. Aprendemos desde pequenos que devemos respeitar os mais velhos, ser trabalhador, não roubar, ser honesto, dentre outros atributos. 
Valls (2013) aponta que a ética é normalmente entendida como uma reflexão filosófica sobre as ações humanas, podendo ser o estudo das ações ou dos costumes, ou ainda a própria realização de um tipo de comportamento. 
Assim, nossos comportamentos são julgados de acordo com o que é socialmente aceito em diversos aspectos, com o que é chamado de ético e não ético; ou ainda, moral ou imoral. Para Marcondes (2007, p. 9) a ética é tida como um dos temas mais importantes dentro da Filosofia, abordando, em seu sentido amplo, a “(...) determinação do que é certo ou errado, bom ou mau, permitido ou proibido, de acordo com um conjunto de normas ou valores adotados historicamente por uma sociedade.”
<lembrete início>
 “Os valores éticos de uma comunidade variam de acordo com o ponto de vista histórico e dependemde circunstâncias determinadas. O que é considerado ético em um contexto pode não ser considerado da mesma forma em outro.” (MARCONDES, 2007, p. 10)
<lembrete fim>
Antunes (2013) propõe uma reflexão sobre o conceito de viver em uma sociedade; imagine que você é transportado sozinho para outro planeta, onde não há vida humana, para realizar um trabalho de coleta de informações. Após um período você é informado de que não poderá mais retornar à Terra, e passará o restante da sua vida isolado, sem nenhum contato com outros seres humanos e seus alimentos possibilitam que você viva por mais algumas décadas. 
Apesar de um exemplo bastante extremo, Antunes (2013, p. 3) indaga, “como seria viver sem o contato com outras pessoas? O que mudaria na sua forma de pensar e viver?”; essas perguntas nos conduzem a outras reflexões, “como a vida em conjunto com outras pessoas influencia a nossa forma de ver o mundo e os dilemas que enfrentamos no dia a dia?”. 
Os valores éticos e morais são aprendidos a partir do convívio em sociedade, assim como o ser humano não nasce humano, mas aprende a ser a partir das relações com as outras pessoas e com o mundo (SAVIANI, 2003).
Podemos refletir sobre a questão ética de se viver em sociedade, como é designado o que é ou não correto? Por quem são ditadas as regras e normas sociais? Viver sob normas nos tira a liberdade?
Claro que esses questionamentos e conclusões são bastante simplistas e de senso comum, porém mostram-se como um elemento norteador do que será estudado neste tópico. Ao longo do nosso capítulo iremos retomar essas reflexões.
<saiba mais início>
SAIBA MAIS: O filme “A Caixa” narra a história de um casal que enfrenta um dilema moral quando recebe uma caixa com um botão e a instrução: ao apertar o botão o casal receberá um milhão de dólares, entretanto, um desconhecido morrerá em algum lugar.
A caixa. Dir. Richard Kelly, 115 minutos, 2009. 
<saiba mais fim>
1.1. Aspectos históricos e filosóficos relacionados à ética.
A ética está pautada nos conhecimentos filosóficos, buscando fundamentar as normas de conduta da sociedade, comumente designada como código de ética ou moral. Desta forma, é possível afirmar que a ética auxilia na definição dos valores e costumes relacionados ao convívio humano, bem como em sua aceitação pela sociedade, ou seja, estamos falando dos julgamentos morais. 
De acordo com Figueiredo (2008), foi no período, entre aproximadamente 500 a 300 anos a.C. que surgem ideias e definições sobre o que seria ética, que fundamentam até hoje os conceitos nesse campo de estudo. 
A reflexão sobre o tema inicia-se com Sócrates, filósofo ateniense do período clássico, que viveu entre os anos 470 a.C. e 399 a.C., porém só foi sistematizada anos depois em obras de Platão (427 a.C. – 347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.). 
Sócrates
Platão
Aristóteles
É importante registrar que as práticas e costumes do mundo antigo são, em diversos elementos, muito diferentes daquilo que se encontra atualmente, sendo assim, evidencia-se que a religião (politeísta para os gregos) era fundamental, havia um predomínio da tradição e o desprezo pelos ofícios técnicos e profissões mercantis (COMPARATO, 2006).
Platão deixa registrado em seus diálogos discussões à volta de conceitos éticos, sendo possível observar em seus primeiros registros uma forte influência de Sócrates, seu mentor. Platão parte do princípio de que todos os homens buscavam a felicidade, sendo que ético é aquele que tem capacidade de autocontrole, “governar a si mesmo”; aponta também que a possibilidade de agir eticamente depende do conhecimento do Bem (MARCONDES, 2007; VALLS, 2013). 
No diálogo Górgias, Platão indica que Sócrates mostra que “(...) o indivíduo que comete injustiças e causa danos a outro será visto como injusto e perverso (...) não se pode ser feliz fazendo o Mal, por isso é preferível sofrer uma injustiça a praticá-la” (MARCONDES, 2007, p. 21)
<observação início>
OBSERVAÇÃO – Diálogos é o nome da obra escrita por Platão, onde cada diálogo possui o nome de seu interlocutor. Na maioria de seus textos, Sócrates é o personagem principal. 
<observação fim>
A obra platônica é dividida em períodos, sendo que no considerado intermediário, Platão desenvolve a teoria das ideias ou das formas, momento em que é escrito um dos diálogos mais conhecidos e mais extensos do filósofo, A República. Marcondes (2007) afirma que esse diálogo inclui praticamente todos os temas da filosofia de Platão, “(...) a natureza da realidade, as formas como verdadeira realidade, o problema do conhecimento e o Bem (..) como fonte suprema e fundamento da ética e da justiça (...)” (p. 29). 
Um dos textos do diálogo mencionado anteriormente, “O Anel de Giges”, expõe a tese de que os homens somente agem com justiça por temerem o castigo caso ajam de forma contrária, “deem a um indivíduo o poder de fazer o que quiser e ele não hesitará em agir de forma injusta e de acordo com seu interesse particular” (MARCONDES, 2007, p. 29). 
<exemplo de aplicação início>
Leia o texto abaixo e reflita: se não houvesse nenhum tipo de punição você faria tudo que tem vontade?
O Anel de Giges
“Giges era um pastor a serviço do rei de Lídia. Houve uma grande tempestade e um terremoto fez uma abertura na terra no lugar onde ele estava alimentando seu rebanho. Espantado com a visão, desceu até a abertura, onde, entre outras maravilhas, viu um cavalo oco de bronze, com portas. Giges então se agachou e viu o corpo de um homem com apenas um anel de ouro no dedo. Ele pegou o anel e voltou para a superfície. Com esse anel no dedo, foi assistir à assembleia habitual dos pastores, que se realizava todos os meses, para informar ao rei o estado dos seus rebanhos. Tendo ocupado o seu lugar no meio dos outros, virou sem querer o engaste do anel para o interior da mão; imediatamente se tomou invisível aos seus vizinhos, que falaram dele como se não se encontrasse ali. Assustado, apalpou novamente o anel, virou o engaste para fora e tomou-se visível. Logo em seguida repetiu a experiência, para ver se o anel tinha realmente esse poder; reproduziu-se o mesmo prodígio: virando o engaste para dentro, tomava-se invisível; para fora, visível. Assim que teve certeza, conseguiu juntar-se aos mensageiros que iriam conversar com o rei. Chegando ao palácio, seduziu a rainha, conspirou com ela a morte do rei, matou-o e obteve assim o poder. Agora suponha que existem dois anéis desta natureza e o justo recebesse um e o injusto outro. É provável que nenhum fosse de caráter tão firme para perseverar na justiça e para ter a coragem de não se apoderar dos bens de outra pessoa. Afinal, ele poderia tirar sem receio o que quisesse dos mercados e lojas, introduzir-se nas casas para se unir a quem lhe agradasse, matar uns, libertar outros da prisão e fazer o que quisesse, tornando-se igual a um deus entre os homens. Agindo assim, nada o diferenciaria do mau: ambos tenderiam para o mesmo fim. Isso é uma grande prova de que ninguém é justo por vontade própria, mas por obrigação, não sendo a justiça um bem individual, visto que aquele que se julga capaz de cometer a injustiça comete-a. De fato, todo homem pensa que a injustiça é individualmente mais proveitosa que a justiça, e pensa isto com razão, segundo os partidários desta doutrina. Pois, se alguém recebesse a permissão de que falei e jamais quisesse cometer a injustiça nem tocar nos bens de outra pessoa, pareceria o mais infeliz dos homens e o mais idiota àqueles que soubessem da sua conduta; em presença uns dos outros, iriam elogiá-lo, mas para se enganarem mutuamente e por causa do medo de se tomarem vítimas da injustiça. Eis o que eu tinha a dizer sobre este assunto.”
<exemplo de aplicação fim>
Outro texto muito conhecido do diálogo A Republica intitula-se “A Alegoria da Caverna”, nele Platão convida o leitor a imaginar uma caverna onde os homens vivem como prisioneiros desde seu nascimento, ou seja, nunca viram nenhum outro lugar ou coisa. Nessa caverna existe uma fogueira na entrada que permiteque as sombras de tudo que está do lado de fora sejam reproduzidas na parede da caverna, sendo a única realidade que os homens que lá estão conhecem. Um dos prisioneiros consegue escapar e após acostumar-se com a claridade do sol, consegue observar tudo que há fora da caverna. O filósofo propõe que pensemos o que poderia acontecer caso esse prisioneiro que escapou voltasse a caverna para contar aos demais o que havia visto, concluindo que seria mais provável que seus companheiros o julgassem louco e o matassem do que abandonassem a única realidade que conhecem. 
Imagem representando “A Alegoria da Caverna” de Platão
Em análise a esse diálogo, é possível notar que uma pessoa só poderá tornar-se justa e com virtudes a partir de um processo de transformação pelo qual deve passar, afastando-se das aparências e do preconceito para adquirir conhecimento, sendo considerado sábio aquele que consegue atingir essa percepção. Platão acredita que “(...) conhecer o Bem significa tornar-se virtuoso. Aquele que conhece a justiça não pode deixar de agir de modo justo” (MARCONDES, 2007, p. 31).
Aranha e Martins (2003) complementam a discussão sobre “A Alegoria da Caverna”, considerando, a partir dos diálogos de Platão, que a virtude pode ser aprendida, já que essa relaciona-se com a sabedoria, e o vício com a ignorância; e complementam, “o sábio é o único capaz de se soltar das amarras que o obrigam a ver apenas sombras e, dirigindo-se para fora, contempla o sol, que representa a ideia do Bem” (p. 353, grifo do autor).
As discussões de Aristóteles sobre ética rumam para uma pesquisa sobre os bens concretos para o homem, em contraponto ao Sumo Bem proposto por Platão, assim, considera-se que a ética aristotélica é marcada pelo que deve ser alcançado com o objetivo de atingir a felicidade (VALLS, 2013).
Mas em que consiste o bem ou a felicidade para o homem? Qual o maior dos bens? Ora, Aristóteles não isola muito um bem supremo, pois ele sabe que o homem, como um ser complexo, não precisa apenas do melhor dos bens, mas sim de vários bens, de tipos diferentes, tais como amizade, saúde e até alguma riqueza. Sem um certo conjunto de tais bens, não há felicidade humana. Mas claro que há uma certa escala de bens, pois os bens são de várias classes, e uns melhores do que outros. Quais os melhores bens? As virtudes, a força, o poder, a riqueza, a beleza, a saúde ou os prazeres sensíveis? A resposta de Aristóteles parte do fato de que o homem tem o seu no viver, no sentir e na razão (VALLS, 2013, p. 29-30, grifo do autor). 
Para Aristóteles, a ética é um saber prático, cuja intenção é estabelecer as condições necessárias para que seja possível agir da melhor forma possível, visando a felicidade ou a realização pessoal (MARCONDES, 2007). 
Em seu tratado “A ética a Nicômaco”, Aristóteles apresenta discussões sobre a investigação ética, sendo a publicação reconhecida como uma obra-prima da filosofia moral. É atribuído a Aristóteles o pioneirismo na formulação de princípios da ação humana sobre a diferença entre conhecimentos práticos e teóricos; sobre as relações entre a ética individual e a social. O filósofo define ética como a ciência dos costumes (FIGUEIREDO, 2008).
<observação início>
O termo “felicidade” nas discussões de Aristóteles também pode ser encontrado como “eudaimonia”, que pode ser entendido como bem-estar ou felicidade. 
<observação fim>
Na concepção do filósofo, a felicidade é relativa à realização humana e ao sucesso, que só existirá caso aquilo que se pretende fazer seja bem feito, assim, pode-se afirmar que a felicidade relaciona-se com a excelência humana, e é dependente de uma virtude, qualidade de caráter ou areté (MARCONDES, 2007). 
Assim, é possível dizer que, na visão de Aristóteles, “(...) a ética serve para conduzir as ações humanas a respeito das boas ações (virtudes) ou das não-éticas, às más (vícios)” (FIGUEIREDO, 2008, p. 2). 
Para Aranha e Martins (2003), a concepção de que a virtude é resultante da reflexão, da sabedoria e do controle racional dos desejos e paixões, é uma constante no pensamento dos filósofos gregos. 
A Idade Média (século V ao século XV), foi marcada por uma visão teocêntrica, o que fez com que os valores religiosos infiltrassem as discussões sobre ética, vinculando os critérios da moral à fé (ARANHA; MARTINS, 2003).
O monoteísmo delineou o sistema de valores dos povos que acataram a religião mais difundida na Idade Média, assim foi substituída a “(...) imanência mundana, própria dos deuses mitológicos, pela transcendência absoluta da divindade” (COMPARATO, 2006, p. 67). 
<lembrete início>
Monoteísmo defende a ideia de uma divindade criadora de todo o universo. Politeísmo é a crença em mais de uma divindade.
<lembrete fim>
Valls (2013) acredita que a religião foi responsável por grande parte do progresso moral da humanidade, porém ressalta que o fanatismo religioso, por diversas vezes, contribuiu para obscurecer “(...) a mensagem ética profunda da liberdade, do amor, da fraternidade universal” (p. 37).
Santo Agostinho, nascido em Tagasta em 345, foi um dos grandes nomes da época, sendo considerado uma autoridade na teologia do cristianismo, além de o maior filósofo depois de Aristóteles. Abordou questões éticas em seus diálogos, apoiando-se na filosofia grega, especialmente em Platão, tratando-as baseado nos conhecimentos do cristianismo (MARCONDES, 2007). 
Santo Agostinho 
Fica claro que no cristianismo, os valores éticos e morais identificam-se com os valores religiosos; o homem deve viver para amar e servir a Deus, o ideal de vida é uma vida de acordo com as doutrinas e dogmas religiosos (VALLS, 2013). 
Agostinho debate várias questões éticas em seus diálogos, como “o problema da natureza humana e do caráter inato da virtude, a origem do Mal, o conceito de felicidade, a liberdade e a possibilidade de agir de forma ética” (MARCONDES, 2007, p. 50).
O livre arbítrio é tema central nas argumentações de Santo Agostinho, e de acordo com o teólogo, é a característica humana responsável pelas escolhas e ações, permitindo que se haja de forma ética ou não. Era entendido que o livre arbítrio fora dado por Deus, não sendo possível questionar esse fato (DUSILEK, 2013; MARCONDES, 2007). 
Para Agostinho, sem livre arbítrio não há amor. Isso porque o amor precisa ser precedido por uma vontade livre (...) o teólogo afirma que uma vez o livre-arbítrio seja direcionado ao amor, o homem experimentará conexão, presença. Para que haja uma ética do amor, há necessidade de uma livre vontade capaz de fazer opções e inclinar-se para a direção correta, para o perfeito amor, para Deus. Esse ato responsivo do homem a Deus é o esteio para a ética do amor. Deus deu ao homem o livre-arbítrio para que ele pudesse, por amor e em amor, corresponder com o seu Criador (DUSILEK, 2013, p. 87). 
<saiba mais início>
Artigo: A ética do amor em Santo Agostinho: Uma apreciação, de Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek. 
Disponível em: https://img.fae.edu/galeria/getImage/1/1987431164964669.pdf#page=85
<saiba mais fim>
Ainda na Idade Média, outro filósofo se destaca por suas contribuições com os debates éticos, São Tomás de Aquino (1224-1274). Assim como Santo Agostinho, suas concepções éticas foram baseadas na filosofia grega, mais especificamente nas contribuições de Aristóteles, procurando mostrar que a as ideias do filósofo grego eram compatíveis com o cristianismo (MARCONDES, 2007). 
São Tomás de Aquino
Fica claro que na Idade Média, a moral e a ética eram transmitidas através de uma experiência religiosa, ou seja, seguir as doutrinas e os mandamentos era obedecer a Deus, e os preceitos éticos eram apresentados como leis divinas (ZAJDSZNAJDER, 1999). Comparato (2006) reitera afirmando que não havia uma diversidade de códigos morais conforme a diversidade de povos, mas sim um código ético universal. 
O Renascimento, momento de transição da Idade Média para a Idade Moderna, fica marcado por grandes transformações no pensamento científico e filosófico. 
O filósofo Immanuel Kant (1724-1804)é considerado o grande pensador do Iluminismo e dos ideais da burguesia da época. Kant idealiza a ética com o ideal da autonomia individual, “o homem racional, autônomo, autodeterminado, aquele que age segundo a razão e a liberdade, eis o critério da moralidade” (VALLS, 2013, p. 45). 
Immanuel Kant
As obras de Kant procuraram formular conceitos sobre uma filosofia moral pura e com questões morais concretas e aplicação prática dos princípios éticos, sendo três obras principais: Fundamentação da metafísica dos costumes, de 1785; Crítica da razão prática e Metafísica dos costumes (1797-8) (MARCONDES, 2007).
<lembrete início>
Renascimento e Iluminismo são dois momentos diferentes na história, ambos começando na Europa. O Renascimento está relacionado com um avanço da literatura, arquitetura e do humanismo; já o Iluminismo associa-se ao método científico e racionalidade. 
<lembrete fim>
Kant parte do princípio que ação moral é somente aquela que pode ser universalizada, este princípio foi chamado de “imperativo categórico”, sendo considerado um dos fundamentos do racionalismo ético kantiano. Para ele, o agir de maneira moral e ética, fundamenta-se apenas na razão, ou seja, rejeita as concepções que até então eram predominantes, da filosofia grega e da cristã, não aceitando que a ação moral deve ser orientar a partir da felicidade, por exemplo (ARANHA; MARTINS, 2003; MARCONDES, 2007). 
Exemplificando, suponhamos a norma moral “não roubar”:
· para a concepção cristã, o fundamento da norma se encontra no sétimo mandamento de Deus;
· para os teóricos jusnaturalistas (como Rousseau), ela se funda no direito natural, comum a todos os seres humanos;
· para os empiristas (como Locke, Condillac), a norma deriva do interesse próprio, pois o sujeito que a desobedece será submetido ao desprazer, à censura pública ou à prisão;
· para Kant, a norma se enraíza na própria natureza da razão; ao aceitar o roubo e consequentemente o enriquecimento ilícito, elevando a máxima (pessoal) ao nível universal, haverá uma contradição: se todos podem roubar, não há como manter posse do que foi furtado. (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 354)
Já no século XIX, Friedrich Nietzsche (1844 – 1900), filósofo alemão, propõe um rompimento com a moral cristã e com a tradição grega, até então prevalecentes no campo da ética. O pensador defendia que a ética não se fundamenta na razão e que a moral cristã se caracteriza por uma moral de rebanho, onde as pessoas se deixam levar pela maioria e submissos à religião (MARCONDES, 2007). 
 Nietzsche orienta seu pensamento na direção de recuperar questões relacionadas ao inconsciente e instintivas, que foram subjugadas pela razão por tanto tempo e, realizando uma análise história de moral e ética, denuncia uma incompatibilidade entre elas e a vida, pois, “(...) sob o domínio da moral, o ser humano se enfraquece, tornando-se doentio e culpado” (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 355). 
Em sua obra “Além do bem e do mal”, de 1886, Nietzsche indaga sobre a dicotomia bem/mal e verdadeiro/falso, onde encontrava-se baseada a tradição do conhecimento. Para ele, esses conceitos até então tratados como objetivos e oriundos da razão universal, são, na verdade, fruto dos sentimentos humanos, resultantes da cultura, da história e da educação (MARCONDES, 2007). 
Um ano depois, publica sua obra “Genealogia da Moral”, continuando sua crítica à ideia de que os valores morais são universais e objetivos, defendendo que esses valores possuem origem em uma cultura e um momento histórico específicos (MARCONDES, 2007). 
Friedrich Nietzsche
Ainda no mesmo século, Sigmund Freud (1856-1939), pensador e criador da psicanálise, influenciou campos da ciência, filosofia, artes e religião. Com a formulação do conceito de inconsciente, críticas foram realizadas aos pressupostos filosóficos do racionalismo da época (MARCONDES, 2007). 
Quando a hipótese do inconsciente é levantada, “(...) Freud descobre o mundo oculto da vida das pulsões, dos desejos, da energia primária da sexualidade e agressividade, que se encontram na raiz de todos os comportamentos humanos (...)” (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 356).
Freud passa a questionar a fundamentação dos valores morais e éticos na razão, mostrando que as ações humanas não necessariamente são baseadas totalmente no controle racional, pelo contrário, de acordo com o pensador, a ação humana é determinada em grande parte pelos elementos inconscientes, como os instintos, desejos e traumas, dos quais não se tem consciência plena (MARCONDES, 2007). 
Junqueira e Coelho Junior (2005, p. 107) ressaltam que Freud não se propôs a pensar novos conceitos para ética e moral, e sim “(...) desvendar a gênese da consciência moral e dos sentimentos éticos nos indivíduos e na sociedade”.
Pensador do século XX, Michel Foucault (1926-1984) aborda a moral em sua obra póstuma “O Uso dos Prazeres”, segundo volume da coleção História da Sexualidade. O autor entende por moral o conjunto de regras ou valores que são propostos às pessoas e grupos através de instituições educativas (MARCONDES, 2007).
(...) por “moral” entende-se igualmente o comportamento real dos indivíduos em relação às regras e aos valores que lhes são propostos: designa-se, assim, a maneira pela qual eles se submetem mais ou menos completamente a um princípio de conduta; pela qual eles obedecem ou resistem a uma interdição ou a uma prescrição; pela qual eles respeitam ou negligenciam um conjunto de valores (FOUCAULT, 1998, p. 26)
1.2. Conceitos contemporâneos de ética e moral 
Ética e moral são dois termos que ganharam espaços de conhecimento de senso comum, e são utilizados em diversos sentidos nas mais variadas situações cotidianas. Desta forma, serão apresentados alguns conceitos de ética e moral contemporâneos. 
Aranha e Martins (2003, p. 301) definem ética, também chamada de filosofia moral, como “a parte da filosofia que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida moral”. 
Valls (2013) acredita que hoje os problemas éticos estejam relacionados a três situações, à família, abordando questões da exigência ética do amor, dos compromissos, dos relacionamentos; à sociedade civil, englobando problemas referentes ao trabalho e propriedade; e ao Estado relacionado a uma ética política.
Para Marcondes (2007), a ética está relacionada com os valores que adotamos, os atos que praticamos e como tomamos nossas decisões. O autor salienta que estamos passando por uma crise ética, “(...) que vai desse a situação política do país, passando por questões de corrupção na sociedade e no governo, até problemas de relacionamento familiar” (p. 9).
Corroborando com as definições apresentadas, Luiz (2018), acredita que a ética constitui-se como uma análise reflexiva da moral, analisando seus fundamentos, implicações e consequências nos elementos ambientais e socioculturais. Afirma ainda que justiça, tolerância, solidariedade, responsabilidade, democracia, liberdade e igualdade são alguns dos princípios éticos fundamentais para se viver em sociedade. O autor completa, “estes princípios devem existir tanto num plano individual quanto coletivo” (p. 244). 
Cotrim (1998) define ética como sendo a parte da filosofia dedicada a reflexão sobre os fundamentos da vida moral. É possível notar que os conceitos de ética apresentados apoiam-se em um denominador comum, a moral. Convém então, neste momento, procurar elucidar as aproximações e distanciamentos dos termos “ética” e “moral”. 
Revisando a origem etimológica da palavra ética, nos deparamos com ethos, palavra grega que possui mesmo significado de “costume” (ARANHA, MARTINS, 2003). Porém, Figueiredo (2008) aponta que existem controvérsias em relação ao entendimento de ética justamente pela diversidade de significados que permeiam a palavra ethos. O autor aponta que esse termo pode ter compreensões diferentes a depender da grafia, êthos significando “morada” ou “caráter ou índole”, e éthos, relacionando-se a “hábitos, costumes”. 
Comparato (2006) observa que já na etimologia de ética é possívelobservar duas vertentes dessa reflexão, a primeira subjetiva que centra-se no indivíduo, a segunda objetiva, fundamentada na vida coletiva. 
<observação início>
Etimologia é o estudo do sentido original das palavras. 
<observação fim>
O termo ethos foi traduzido para o latim mos ou mores, que quer dizer costume, já que não existia uma palavra exata para sua tradução e que realmente representasse o sentido de ethos; assim derivou-se a palavra “moral”. Desta forma, etimologicamente, os termos possuem conteúdos idênticos, e por isso são muitas vezes utilizados como sinônimos (FIGUEIREDO, 2008). 
Apesar disso, são estabelecidas algumas diferenças entre esses conceitos, sendo a ética, como já visto, a filosofia ou ciência da moral; e a moral como “um conjunto de regras de conduta admitidas em determinada época ou por um grupo de pessoas”, ou ainda como “o conjunto de regras que determinam o comportamento dos indivíduos em um grupo social” (ARANHA, MARTINS, 2003, p. 301).
Luiz (2018) faz uma comparação aos conceitos de moral defendidos por Émile Durkheim (1858 – 1917), sociólogo e filósofo francês, e Karl Marx (1818 – 1883) filósofo e sociólogo alemão. Para Durkheim, a moral apresenta-se como um conjunto de valores, regras e normas que determinam as condutas dos indivíduos e que são construídas socialmente. 
Já em uma visão marxista, “a moral é resultante de um conjunto de relações de produção articuladas com a base material da sociedade, ou seja, o estágio de desenvolvimento das forças produtivas envolvem as relações de produção contribuindo para o surgimento da moral, que compõe a superestrutura da sociedade” (LUIZ, 2018, p. 241).
Ou seja, apesar dos dois estudiosos mencionados defenderem a participação da sociedade na construção do que se entende por moral, Durkhein apresenta um conceito de sociedade como o resultado das interações sociais, sem que quaisquer outras condições influenciem em sua formação. Já para Marx a sociedade possui uma estrutura classista, que constitui o capitalismo, e desta forma deve ser levada em consideração quando fala-se sobre temas relacionados à sociedade. 
Assim, para compreender a moral como algo constituído socialmente, é preciso entender o funcionamento desta, visto que “as expressões da consciência humana – inclusive a moral – são o reflexo das relações que os seres humanos estabelecem na sociedade (...) e portanto mudam conforme se alteram os modos de produção” (ARANHA, MARTINS, 2003, p. 354).
Passos (1993, p. 58) também afirma que a moral, ou valores morais como se refere, é dialética, o que quer dizer que acompanha as transformações sofridas pela sociedade. Alerta, ainda, o quão complexa é a problemática moral, visto que lida “com regras de conduta elaboradas pela sociedade e impostas a indivíduos dotados de consciência de capacidade de decisão”.
<observação início>
Dialética tem origem grega, e é entendida como um método de busca de conhecimento baseado no diálogo. 
<observação fim>
Apoiando-se na visão marxista, compreendemos que continuamente haverá uma moral predominante, ou seja, a moral é aprendida; essa “moral” sempre, ou quase sempre, estará pautada em valores das classes dominantes, fornecendo os parâmetros socialmente aceitos como morais pela sociedade (LUIZ, 2018). 
Observamos, contudo, que apesar de estes conceitos serem distintos, existe uma estreita articulação entre si, na medida em que a ética tem como objeto de estudo a própria moral, não existindo desligada uma da outra, mas sendo independentes entre si (PEDRO, 2014). 
1.3. Ética e liberdade.
No início deste capítulo, ao abordar conceitos históricos e filosóficos da ética, nos deparamos com alguns questionamentos sobre a liberdade, ou o livre-arbítrio em Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. 
Para relacionar ética e liberdade é imprescindível apresentar o que se entende por liberdade; assim, pensando em um sentido comum da palavra, pode-se dizer que livre é aquele que pensa e age por si mesmo, que não é obrigado a realizar o que não quer e que não seja escravo ou prisioneiro (ARANHA; MARTINS, 2003). 
A liberdade pode ser pensada em diferentes campos, como a política, as leis, a economia, a sociedade, ou em qualquer espaço onde haja a relação de indivíduos, neste caso, é claro que uma ideia de liberdade ética aparece. De acordo com Aranha e Martins (2003), “(...) a ideia de liberdade ética (...) diz respeito ao sujeito moral, capaz de decidir com autonomia em relação a si mesmo e aos outros” (p. 316, grifo do autor). 
<saiba mais início>
O filme “Laranja Mecânica”, do diretor, lançado em 1971, narra ações de uma gangue de jovens no Reino Unido. O filme explora questões sociais e políticas, além de indagações éticas relacionadas a liberdade e ao livre arbítrio. 
Laranja Mecânica. Dir. Stanley Kubrick, 136 minutos, 1971.
<saiba mais fim>
Comparato (2006), afirma que a liberdade como concepção de que as pessoas são livres e responsáveis pelos seus atos voluntários, surge apenas no período axial, e complementa:
Antes dele, prevalecia a convicção de que as forças sobrenaturais decidiam, em última instância, o destino da vida humana. A divindade estaria na origem de nossas boas ou más ações. A criação da filosofia ética na Grécia, (...), partiu do postulado fundamental da liberdade de cada indivíduo e, em consequência, da irrecusável responsabilidade de cada qual na condução de sua vida (...) para os modernos, ao contrário, liberdade foi redescoberta e afirmada, no século XVIII, como um status de independência do indivíduo, de defesa da vida íntima ou particular contra a indevida interferência dos poderes constituídos, sejam eles políticos ou religiosos. (p. 538, grifo do autor)
O autor afirma ainda que, a partir do capitalismo industrial, viu-se a importância de se defender a liberdade da classe dos trabalhadores de forma coletiva, diante do poder econômico dos empresários. 
Alguns filósofos defendiam que o ser humano não é livre, seja pelo fato de estarem fadados ao destino imutável, seja pelo discurso científico que sujeita o indivíduo ao determinismo (ARANHA; MARTINS, 2003). 
<observação início>
Determinismo na filosofia, é uma teoria que acredita que todos os acontecimentos possuem uma relação de causa, ou seja, tudo acontece por necessidade de acontecer e obedece a leis imutáveis. 
<observação fim>
	O filósofo Taine (1828-1893), por exemplo, afirmou que a ação humana não é livre, mas sim causada por três fatores, raça, meio e momento, dos quais seria impossível escapar e que, por consequência, determinariam os atos humanos (ARANHA; MARTINS, 2003). 
	Outras perspectivas acreditam que existam determinações que afetam os sujeitos, visto que todos estão situados em algum tempo e espaço, permeados por uma cultura. Porém, defendem também que uma pessoa consciente é capaz de reconhecer a existência desses determinismos e a partir de então, “(...) construir um projeto de ação. Portanto, a liberdade se torna verdadeira quando acarreta um poder de transformação sobre a natureza do mundo e sobre a própria natureza humana” (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 320). 
<Exemplo de aplicação início>
Você já ouviu falar sobre o Mito das Três Moiras?
As Moiras eram três irmãs, senhoras do destino na filosofia grega, Cloto (klothó), Láquesis (láchesis) e Átropos (átropos). Os gregos antigos acreditavam que elas eram responsáveis por tecer o fio da vida, assim, o destino das pessoas era determinado por elas e imutável. Cloto era a responsável por fiar o fio da vida, ou seja, estava relacionado com o nascimento; Láquesis enrolava o fio na roda da fortuna, dando os “altos e baixos” da vida das pessoas; Átropos era a mais nova das irmãs e responsável por findar a vida, ou seja, segurava uma tesoura cortava o fio. Nessa perspectiva, nenhuma das escolhas realizadas pelas pessoas teria qualquer influência em sua vida, já que o seu destino estava nas mãos das Moiras. 
Com o conhecimento do Mito das Três Moiras, reflita sobre as concepções de destino dos gregos antigos e a relação com a concepção de livre-arbítrioapresentada a partir da Idade Média. 
Representação do Mito das Três Moiras
<exemplo de aplicação fim>
2. Fundamentos da Bioética.
A Bioética é uma área de conhecimento proveniente da ética, que transita diante das questões relacionadas a preservação da vida e consequentemente discute a atividade dos profissionais da área da saúde (STRONG, 2007).
Seu idealizador foi o médico oncologista e professor da Universidade de Wisconsin, Professor Van Rensselaer Potter (1911-2001), que chamou a bioética de “Ciência da sobrevivência humana”. Em sua obra “Bioética – uma ponte para o futuro” Potter aponta para a necessidade de atenção para que os avanços da medicina e das ciências não descuidassem da necessidade de manutenção da dignidade humana e da qualidade de vida (STRONG, 2007).
Suas ideias sempre defenderam a bioética como uma disciplina norteadora de questões que afetam a dignidade da vida a integridade dos seres vivos em suas dimensões biológicas, sociais e culturais (STRONG, 2007).
A Bioética em sua gênese debruçou-se sobre questões relativas ao relacionamento do profissional de saúde com o paciente/cliente. Discute as questões relativas as pesquisas biomédicas com seres vivos. Através da declaração de Helsinque, foi redigido o relatório de Belmont, que definiu os princípios para experimentos com seres humanos: beneficência, justiça e autonomia (STRONG, 2007).
O marco fundamental da regulação para as pesquisas científicas com seres humanos ocorreu no Julgamento de Nüremberg – agosto de 1945 a outubro de 1946 – no qual foram condenados junto com oficiais nazistas, médicos que desrespeitaram os direitos humanos de prisioneiros nos campos de concentração nazistas, submetendo-os a atrozes experimentos científicos. A partir do julgamento das atrocidades cometidas durante a II Guerra, muitas delas em nome da pesquisa científica, foi promulgado o Código de Nüremberg em 20 de agosto de1947 (BUB, 2005).
Um episódio muito conhecido na história da bioética foi o Estudo da Sífilis não Tratada de Tuskegee (Tuskegee Syphilis Study), de 1932 a 1972, onde pesquisadores reuniram, 600 homens negros, 399 com sífilis e 201 sem a doença, com o objetivo de observar a evolução da doença sem o tratamento adequado (GOLDIM, 1999). 
Goldim (1999) alerta que antes mesmo do estudo ser iniciado, em 1929 já existiam estudos publicados sobre casos de sífilis não tratados. Além disso, a partir da década de 1950 já havia tratamento estabelecido para a doença, mesmo assim o estudo perdurou até 1972. A inadequação inicial da pesquisa deu-se pelo fato de os participantes não terem conhecimento de que tinham sífilis e nem dos efeitos por ela causados, o diagnóstico dado era o de “sangue ruim”, nomenclatura bastante utilizada pelos Eugenistas da década de 1920.
Cientistas e participantes do Estudo Tuskegee
O autor reitera que “mesmo que tendo alguma relevância inicial, este estudo teve sua maior inadequação ao não se confrontar frente aos novos conhecimentos que foram sendo gerados ao longo do tempo” (GOLDIM, 1999). 
<saiba mais início>
O filme abaixo foi inspirado no Caso Tuskegee
Cobaias. Dir. Joseph Sargent, 118 minutos, EUA, 1997.
<saiba mais fim>
Na década de 1970 foi criada nos Estados Unidos a Comissão Nacional para a Proteção dos Seres Humanos da Pesquisa Biomédica e Comportamental, com o objetivo principal de identificar os princípios éticos básicos que deveriam orientar a experimentação em seres humanos nas ciências humanas e da saúde (BUB, 2005).
Em 1978 esta Comissão publicou o Relatório Belmont, o qual apresentou as diretrizes básicas da ética principialista. Os três princípios básicos publicados no Relatório Belmont foram autonomia, beneficência e justiça. Após a publicação do Relatório os problemas envolvidos na pesquisa em seres humanos passaram a ser analisados a partir destes princípios e não mais dependiam de códigos e juramentos específicos de cada carreira ou área de conhecimento (BUB, 2005).
No Brasil a pesquisa com seres humanos passou a ter uma atenção diferenciada em 1996 com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de saúde que aprovou normas para Pesquisas com Humanos norteadas por documentos internacionais tais como: O relatório de Nuremberg, A Declaração dos Direitos Humanos, a Declaração de Helsinque e a Constituição Brasileira (STRONG, 2007).
A bioética é uma disciplina de reflexão e construção do conhecimento a respeito de questões morais humanas relativas à saúde, a dignidade e a sobrevivência humana e busca ser um valor universal, respeitando-se as divergências circunstanciadas por aspectos sociais, econômicos, culturais, considerando as divergências entre os povos (STRONG, 2007).
Silveira e Silveira (2006) ressaltam que a preocupação com os estudos envolvendo seres humanos veio crescendo nos últimos anos, por parte de institutos de pesquisa, órgãos governamentais e mesmo pela população em geral, visto a influência midiática sobre os avanços em pesquisas genéticas, principalmente. 
Mesmo diante desta situação de imensa diversidade moral, a bioética se propõe a assumir um protagonismo na construção da reflexão crítica para uma sociedade melhor, tendo como finalidade última a defesa da dignidade da vida deste o seu início até o fim (STRONG, 2007).
2.1. Os princípios da Bioética
Rocha E Benedetti (2009) afirmam existir valores e princípios balizadores do caminho desejado e esperado para a humanidade no campo da bioética. São eles:
• Autonomia: dignidade, respeito à vontade, às crenças e aos valores morais das pessoas;
• Beneficência: maximizar o bem do outro supõe minimizar o mal, atenção aos riscos e benefícios, assegurando-lhe o bem-estar ou diminuindo-lhe o mal-estar;
• Justiça: exigência de equidade na distribuição dos bens e benefícios.
Estes princípios tem origem em um movimento da década de 1970, denominado Ética Principialista. Um ano após a publicação do Relatório Belmont (1978), foi publicado o livro Principles of Biomedical Ethics. O Livro é um marco da ética principialista precursora da bioética. Seus princípios estavam voltados para as questões vinculadas ao exercício profissional da prática médica e demais profissionais da saúde. Principles of Biomedical Ethics, desdobram os três princípios do Relatório Belmont em quatro – autonomia, não-maleficência, beneficência e justiça (BUB, 2005).
2.1.1. Princípio do Consentimento ou autonomia
A autoridade para ações envolvendo outros em uma sociedade pluralista é derivada de sua permissão. Sem essa permissão não há autoridade e ações contra o consentimento devem ser denunciadas e seu praticante punido. (ENGELHARDT, 1998).
O princípio da autonomia assegura o direito das pessoas de terem pontos de vista próprios, fazer escolhas e tomar decisões embasadas em seus próprios valores e crenças pessoais (BUB, 2005).
São características deste princípio a existência do consentimento implícito, ou a necessidade de anuência individual. O consentimento explícito está embasado em normas, contratos e códigos criados por uma determinada comunidade moral, responsável pela criação de direitos de assistência social (ENGELHARDT, 1998).
Este princípio se justifica pelo fato de o consentimento expressar autoridade para resolver disputas morais em uma sociedade pluralista. Esta resolução somente pode acontecer mediante o acordo dos participantes, uma vez que não tem origem em argumentos racionais ou da crença comum. Portanto, a permissão ou consentimento é a origem da autoridade, e o respeito pelo direito de consentir é condição para a sustentação de uma comunidade moral (ENGELHARDT, 1998)
2.1.2. O princípio da Beneficência
A finalidade de uma ação moral é alcançar o bem e evitar o dano aos indivíduos. No entanto, em uma sociedade plural não existe uma definição absoluta do que pode ser ordenado como o bem ou o prejuízo para determinada pessoa. Entretanto, um compromisso com a beneficência é uma característica de uma ação moral e sem essa característica o exercício da moral não tem essência (ENGELHARDT, 1998). 
Desta forma se faz necessário apontaralgumas características do princípio da beneficência. Em uma determinada comunidade deve ter determinado por acordo uma visão comum, uma ordenação ou explicação a respeito do bem e dos prejuízos. A divergência entre o que é bom ou mal deve ser solucionada, quando possível, pelo princípio do consentimento (ENGELHARDT, 1998).
O princípio da Beneficência implica em buscar fazer o bem para o paciente em todas as ações de assistência de saúde. A beneficência se baseia na solidariedade para gerar benefícios que garantam a integridade física, moral, intelectual e cultural do paciente, evitando riscos, prevenindo o dano e maximizando os benefícios (BUB, 2005).
2.1.3. O Princípio da Não-Maleficência
O princípio de não-maleficência defende a obrigação de não causar dano intencionalmente. Está estreitamente vinculado com a máxima hipocrática, “Primum non nocere”. Embora muitos autores não o distingam diante do princípio de beneficência, o de não-maleficência gera a obrigação de não causar dano, incapacitar ou lesar, essa ação é bastante diferente da obrigação de ajudar os outros (BUB, 2005).
<observação início>
Primum non nocere é um termo em latim da bioética que significa: primeiro não prejudicar.
<observação fim>
2.1.4. O princípio da Justiça
O princípio da justiça visa ações que visem fazer o bem de acordo com uma visão moral particular. A ideia é entender o que cabe a cada um fazer ou não fazer para que haja ação beneficente para os participantes da comunidade moral (ENGELHARDT, 1998).
A ações de julgamento do certo ou errado, bem ou mal está relacionada ao confrontamento com acordos, normas, leis previamente acordados e amplamente divulgados pelos entes participantes de determinada comunidade moral pluralista (ENGELHARDT, 1998).
O princípio de justiça refere-se à distribuição igualitária dos benefícios sociais, representa as necessidades da sociedade garantindo o direito de todos a receber assistência de saúde. Os profissionais da saúde não podem desconsiderar as situações de fragilidade social e as desigualdades econômicas no acesso a assistência à saúde. As ações dos profissionais da saúde devem preservar sua integridade moral sem comprometer as finalidades da prática profissional. Os privilégios e recursos na área da saúde devem ser distribuídos sem discriminação no tratamento das pessoas, assegurando uma efetiva administração dos recursos comunitários (BUB, 2005).
2.2. Bioética aplicada ao Exercício Profissional da Educação Física
O profissional de Educação Física tem por preceitos o desenvolvimento de conhecimentos e práticas relacionados ao movimento corporal humano, que promovam o desenvolvimento pessoal e a saúde de seus alunos e/ou clientes.
Diante do desafio de combater fatos da sociedade contemporânea que são deletérios a saúde, tais como o sedentarismo, o enclausuramento de crianças em função da sua própria segurança, o acesso a uma alimentação desregrada, hipercalórica, feita com a predileção de alimentos processados, o profissional de educação física tem a missão de levar informação e desenvolver hábitos saudáveis que promovam a saúde e bem estar das pessoas. 
A bioética é, neste sentido, uma área de conhecimento bastante pertinente para pautar as ações do profissional de educação física, uma vez que transita na área das relações entre agentes da área da saúde e seus clientes com a proposta de preservar a dignidade da vida a integridade dos seres vivos em suas dimensões biológicas, sociais e culturais.
O professor de educação física deve ser um defensor as práticas saudáveis, no caso exercícios físicos sistematizados e embasados em conhecimentos técnicos e científicos e na orientação para a busca de uma alimentação saudável dentro de equipes multidisciplinares apoiadas por profissionais da área de nutrição. Essa premissa deve preservar a dignidade da vida e a integridade biológica, social e cultural de seus alunos.
Neste sentido, o professor deve ser cauteloso ao oferecer programas de exercícios físicos que, apesar de cientificamente comprovados, podem ser deletérios a integridade dos alunos em função do princípio da individualidade biológica (WEINECK, 2003).	
A individualização, pautada em aspectos da experiência motora pregressa do aluno, no nível de condicionamento físico atual, nas condições de repouso, trabalho, alimentação é uma condição fundamental para que a aplicação dos programas de exercícios físicos seja inclusiva e adequada a cada pessoa (WEINECK, 2003).
Portanto, o profissional de educação física não deve usar a si próprio como referência para prescrever o exercício, mesmo acreditando que está fazendo o bem para o aluno, pois as consequências podem ser prejudiciais e atentar contra a integridade física e a dignidade. Como ocorre comumente nas fases de adaptação ao exercício, quando o aluno é exposto a sobrecargas de esforço que são maiores do que aquelas adequadas a sua condição, desencadeando lesões musculares e dores articulares, levando o aluno a ter uma experiência negativa com o exercício físico e potencialmente prejudicial a sua saúde (WEINECK, 2003).
A bioética sugere a reflexão a respeito de questões morais humanas relativas à saúde, a dignidade e a sobrevivência humana, respeitando-se as divergências circunstanciadas por aspectos sociais, econômicos, culturais das pessoas (STRONG, 2007).
Um princípio fundamental da Bioética é o consentimento das pessoas envolvidas nos procedimentos de saúde. Dentro de uma mesma comunidade moral, não existe unanimidade a respeito do que é benévolo. As variações culturais, socioeconômicas e sociais podem ter nuances de aceitação diferente de determinado processo (ENGELHARDT, 1998).
Por esse motivo cabe ao professor de educação física ser bastante esclarecedor a respeito da proposta de estímulo de treinamento, sendo bastante receptivo as dúvidas e solicitações de adaptação dos alunos. 
O professor de educação física na ânsia em gerar um ambiente de motivação para o aluno pode gerar constrangimento ao oferecer a atividade sem o consentimento do aluno. É fundamental que a explicação seja bastante esclarecedora e acessível e que o aluno tenha entendido e concordado com a proposta, cabe ao professor avaliar as possíveis queixas do aluno e fazer as devidas adaptações individuais visando a preservação da saúde e da eficiência da atividade.
Outro importante princípio é a beneficência. As ações devem buscar fazer o bem e não gerar prejuízos aos clientes. Em uma sociedade pluralista, mesmo que em uma determinada sociedade moral devem haver normas e estatutos que reflitam os valores e ações que são tidos como geradores do bem ou causadores de prejuízo, isso se caracteriza um contrato social implícito. Outra maneira de gerar a determinação do que é bem ou prejuízo é um acordo de consentimento, ou acordo explicito (ENGELHARDT, 1998).
O profissional de Educação Física deve buscar fazer o bem ao seu aluno ou cliente, partindo do princípio da solidariedade. Deve agir, respeitando as normas sociais e leis que regem nossa sociedade, não podendo como profissional alegar ignorância destas. 
Silveira e Silveira (2006) relembram que o texto que culminou na Resolução 196/96 não é arbitrário ou criado ao acaso, mas sim representa os preceitos básicos do respeito à integridade humana, à dignidade, fixando normas de preservação as pessoas envolvidas. 
O profissional de educação física, respeitando os Estatutos do Código de Ética dos profissionais de Educação Física e a Constituição Nacional não deve oferecer procedimento de treinamento físico ou substância que potencialmente seja prejudicial à saúde, a dignidade e a integridade de seu aluno. Essa conduta deve ser adotada, mesmo que a intenção seja fazer o bem ao aluno. 
2.3. A ética da pesquisa na história
A raiz etimológica dos conceitos de ética e moral são delineados na sociedade greco-romana, éthos está radicado na cultura clássica da Grécia e dá a ética o sentido debate filosófico, reflexão teórica o ramo da filosofia que fundamenta científica e teoricamente a discussão sobre valores, opções(liberdade), consciência, responsabilidade, o bem e o mal (NOSELLA, 2008).
O termo mos-moris (mora) tem origem na cultura romana latina refere-se principalmente aos hábitos, aos costumes, ao modo de viver. Qualifica um certo hábito ou costume de virtuoso ou vicioso e um certo modo de agir ou viver de moral ou imoral (NOSELLA, 2008).
O senso comum tende a confundir os dois conceitos pois ambos referem-se a valores, hábitos e deveres, ao justo e injusto. No entanto, a ética se afirma como um postulado da esfera filosófica e científica, que estabelece normas e códigos, enquanto a moral se estabelece como um conceito pragmático de opção pessoal, de conduta exercida por hábitos e valores definidos em uma esfera individual (NOSELLA, 2008).
Como pesquisa pode-se compreender a produção e propagação do conhecimento, a inovação em científica e tecnológica no âmbito das ciências humanas, exatas, biológicas, da comunicação e da arte. A ética na pesquisa se propõe a esclarecer os fundamentos históricos e filosóficos da relação entre as atividades de pesquisa e as obrigações morais ao longo da história e até o momento presente (NOSELLA, 2008). 
O princípio fundamental da ética socrática resumia-se em na construção de uma ciência que fosse capaz de gerar conhecimento levando o homem a evolução e a superação dos impulsos sensíveis. Com isso, Sócrates identificava ciência e virtude, o verum e o bonum (NOSELLA, 2008).
Para Platão a regulação da ciência deveria ser estabelecida pelos sábios filósofos, pela razão, levando a sabedoria a condição de contemplação do bem supremo, no exercício da evolução intelectual. A transgressão dos limites éticos na busca pelo conhecimento leva o homem a condição animal. Portanto a reflexão ética para Platão restringe as perspectivas do saber pelo saber e projeta o homem com um ser responsável pelo conhecimento que produz e pelas consequências geradas (NOSELLA, 2008).
Aristóteles teve sua ascensão filosófica nos meandros da corte de Alexandre Magno da Macedônia e defendia que a arbitragem ética competia ao poder político, cuja finalidade é proporcionar a felicidade dos cidadãos. Para Aristóteles a felicidade individual está circunscrita a vida social. Gerar o equilíbrio geral da sociedade e dos indivíduos é competência da autoridade que governa o Estado (NOSELLA, 2008).
A autoridade política defendida por Aristóteles foi reafirmada pelo direito romano e pelo autoritarismo católico. O código do Direito Romano regulamentou os valores e normas para a relação do homem com os conceitos de Deus, pátria, família, religião, ciência, arte, técnica. Como herança do período romano, as estruturas políticas do período medieval entrelaçadas com o domínio dogmático da Igreja Católica radicalizaram o pragmatismo romano, substituindo seu relativismo e ecletismo filosófico por um rígido teocentrismo (NOSELLA, 2008).
No período medieval a relação hierárquica entre Deus, clero e povo cristão tornara-se de tal forma dogmática que a dialética entre ciência e virtude, se extingue totalmente. A ciência, para a filosofia escolástica da Igreja Medieval detentora do monopólio intelectual, foi conduzida ao patamar de instrumento de confirmação e legitimação dos estatutos estabelecidos pela a teologia dogmática (NOSELLA, 2008).
A filosofia moderna pós renascentistas atribuiu aos Estados laicos a arbitragem política no estabelecimento dos limites éticos da pesquisa científica. A Igreja passou a ter função de assessoramento e não mais de deliberação final e inquisição, esta transição deve-se ao fato de novos estudos e as pesquisas científicas fortaleceram a hegemonia do Estado e permitiram aos homens a formulação de novos problemas sociais, amadurecendo as condições técnicas para sua superação. A separação entre os dogmas católicos e a ciência laica foi fundamental para o estabelecimento de novos paradigmas éticos (NOSELLA, 2008).
Desse ideário nasceu o éthos iluminista da Revolução Industrial, que rompeu a clássica relação política entre a ciência e a virtude, devolvendo ao homem a reflexão individual a respeito da ética e atitudes morais que permearam as pesquisas e a busca pelo saber (NOSELLA, 2008).
Diante desta nova perspectiva livre da ação dogmática da Igreja a Ciência avançou rapidamente aparelhando todo avanço da burguesia industrial capitalista. A todo custo a eficiência e a produção avançaram e muitas vezes a reflexão ética foi negligenciada gerando a exploração e o abuso diante da dignidade humana (NOSELLA, 2008).
Grande risco de erro se comete quando um Estado laico se autodenomina benevolente e capaz de gerar a felicidade universal e impor a ética oficial a população e a pesquisa, que passa a operar em função de seus interesses. Assim aconteceu de forma terrível com as ditaturas fascistas, nazistas e comunistas, o bem universal sempre foi justificativa para se fazer as maiores atrocidades contra a humanidade (NOSELLA, 2008).
Assim, sem qualquer filtro ético a ciência avançou com experimentos cruéis realizados nos campos de concentração nazista, usando a vida humana como combustível para a especulação científica. Atos atrozes julgados no tribunal de Nuremberg (NOSELLA, 2008).
A serviço da felicidade humana e do avanço da ciência criou-se a tecnologia que foi um marco, um grande grito de terror para o mundo, a bomba atômica que foi detonada por duas vezes na Segunda Guerra Mundial no Japão nas cidades de Hiroshima e Nagasaki (NOSELLA, 2008).
Muitos pensadores do século XX, Gramsci, Brecht, Sartre, entre outros afirmaram a necessidade de se restaurar o diálogo dialético entre virtude e ciência, entre ética e pesquisa, entre autoridade política e consciência individual. Pesquisar sem saber o propósito não é ético. A busca pelo saber é ilimitada no e muitas vezes se justifica pelos objetivos imediatos, mas não dá conta das consequências a longo prazo (NOSELLA, 2008).
Contudo, o limite ético da pesquisa deve ser ponderado pelas margens dos códigos legais da sociedade civil, pelo direcionamento da sociedade política sociedade civil e pela consciência individual.
2.4. Ética na Pesquisa em Educação Física
Desde meados da década de 1980, os aspectos éticos em pesquisas envolvendo seres humanos vem provocando debates no meio acadêmico. O julgamento de médicos nazistas em Nuremberg, julgou abusos em pesquisas experimentais com humanos e foi um marco histórico do início da criação de comitês de ética para pesquisa. Em 1947, foi criado o Código de Nuremberg, onde foram instituídos princípios que impedem ações abusivas envolvendo seres humanos em projetos de pesquisa (TENÓRIO et al, 2005). 
Ainda hoje não existe um consenso a respeito das ações que podem ser aplicadas em projetos de pesquisa que usam seres humanos como amostra das experiências científicas. Por esse motivo a instauração dos Comitês de ética para a pesquisa em Universidades é um fator fundamental para garantir os princípios básico da Bioética: beneficência, consentimento e justiça. Essas medidas visam assegurar, que os benefícios de qualquer pesquisa serão maiores do que os riscos à integridade física, mental e social dos sujeitos (TENÓRIO et al, 2005).
No Brasil, as comissões éticas surgiram em 1985 e somente uma década depois a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) foi criada através da resolução 196/96. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP/MS) é uma instância colegiada, de natureza consultiva, deliberativa, normativa, educativa, independente, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde (CONEP, 2000).
A resolução 196/96 é tida como um divisor de águas na atividade das pesquisas científicas brasileiras envolvendo humanos. A resolução foi construída após um longo processo de análise de declarações e documentos internacionais sobre pesquisas com seres humanos e cumpre o que é descrito em diversos artigos da legislação brasileira (BRASIL, 1996).
Existem duas espécies de deveres éticos aos quais o cientista deve se comprometer no exercício profissional da pesquisa científica: o primeiro diz respeito aos valores universais relacionadosa bioética tais como a preservação da dignidade humana e a integridade biológica, intelectual e cultural das pessoas envolvidas, e os derivados de valores éticos especificamente científicos, engajados com a validade, credibilidade e justificação das pesquisas (SANTOS, 2017).
Rocha E Benedetti (2009) apontam para problemas específicos da ética na pesquisa nos Programas de Pós Graduação no Brasil. A quantidade de pesquisas teve um aumento significativo. No entanto este crescimento quantitativo não corresponde ao aumento da qualidade das pesquisas. As pesquisas e publicações vem sendo usadas como critério de avaliação e aprovação em programas de Pós Graduação, o que vem ocasionando uma serie de fraudes e abusos nas pesquisas.
Com a diminuição na qualidade das pesquisas devido a pressão por publicações, vem ocorrendo não só a perda de financiamento e de poder, mas vem sendo colado em a confiabilidade da ciência e de quem a produz no Brasil.
A pressão para publicar pode levar a negligência de alguns métodos e condutas. A exigência de publicações tem preocupado os pesquisadores com elevados gastos em busca de espaço nos nas revistas indexadas nacionais e internacionais, produzindo a fragmentação dos seus trabalhos, e a antecipação de suas conclusões, com propostas e constatações mal elaboradas, trazendo poucas contribuições conceituais e interventivas (ROCHA E BENEDETTI, 2009).
Santos (2017) afirma existirem más condutas na produção científica em função de um processo de mercantilização da produção de artigos científicos. Entre eles destacam-se a fabricação de resultados impulsionada pela pressão pela produção acadêmica, assim como os problemas de autoria relacionados ao plágio, apropriação indevida de dados e resultados sem a devida citação dos autores. Outra má conduta seria o uso inadequado da tutoria de alunos de programas de pós graduação como mão de obra barata para a produção de artigos e experimentos científicos, neste contexto os orientadores, pesquisadores experientes conseguem multiplicar suas publicações usando os serviços, nem sempre qualificados de estudantes inexperientes, coautores sem muita qualificação. 
Atualmente nas publicações existe a tendências em solicitar uma certa atitude de reciprocidade na autoria dos trabalhos dentro do processo de produção científica. São requeridas, inclusões de autores que fizeram sugestões de caráter técnico e não participaram efetivamente no seu processo de construção (ROCHA E BENEDETTI, 2009).
O plágio é um dos maiores e mais frequentes problemas éticos dentro das produções acadêmicas. Com os recursos tecnológicos e com os avanços da Internet percebe-se uma facilidade na ação de plágio. Copiar sem a devida citação a produção de conhecimento do outro é um problema encontrado em todos os níveis das pesquisas (ROCHA E BENEDETTI, 2009).
2.5. Os Comitês de Ética
As universidades possuem comitês que analisam os projetos de pesquisa, em função dos princípios e códigos de ética. Os comitês são formados por professores da universidade e representantes de setores da comunidade que cedem parte de seu tempo para analisar projetos de pesquisa. Os membros dos comitês de ética das universidades se apoiam na Resolução 196 (10/10/1996), do Conselho Nacional de Saúde, que trata da ética na pesquisa envolvendo seres humanos no Brasil (ROCHA E BENEDETTI, 2009).
As pesquisas devem respeitar a Resolução 196 do CNS e criar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, que deve ter redação clara e formal à pesquisa que está sendo realizada, com linguagem acessível a todos os seus participantes, para que possam entender de forma mais simplificada o que está sendo pesquisado. Os participantes também devem receber orientações verbais a respeito da pesquisa (ROCHA E BENEDETTI, 2009).
Silveira e Silveira (2006) apontam que em pesquisas com seres humanos existem uma série de regras e procedimento a serem seguidos, na intenção de assegurar que os quatro princípios da bioética estejam sendo respeitados. Citam o Consentimento Livre e Esclarecido, abordado anteriormente; a ponderação entre riscos e benefícios da pesquisa para os participantes, onde busca-se o máximo de benefícios com o mínimo de risco; a garantia que os danos previsíveis serão evitados e relevância social da pesquisa e sua aplicabilidade. 
Nas pesquisas que exigem processos invasivos, como análise de sangue, urina, outros exames e utilização de fármacos específicos, é necessário que o pesquisado tenha conhecimento de todos os problemas que possam vir a ocorrer em função do procedimento experimental. Nestes casos o pesquisador deve obter aprovação do comitê de ética antes de começar a coleta de dados, e deve ter seu trabalho cadastrado no Comitê Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP (ROCHA E BENEDETTI, 2009).
No intuito de criar uma cultura de integridade nas ações morais na pesquisa a FAPESP, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo lançou seu Código de Boas Práticas Científicas e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), importantes agências de fomento à pesquisa no Brasil, lançaram em 2011 documentos reguladores das boas condutas éticas no âmbito das pesquisas científicas, estes documentos visam gerar uma ação de educação para a formação dos futuros pesquisadores, criando também ações punitivas relacionadas ao desligamentos de programas e perdas de bolsas de auxílio para os pesquisadores com má conduta (SANTOS, 2017).
3. Deontologia e Código de Ética
Uma profissão é toda a ocupação, com o devido reconhecimento social, pela qual por instrumentação do trabalho e de forma lícita, pode-se obter seu meio de sustento. As profissões possuem sua própria dignidade perante a sociedade, no entanto se organizam de forma diferenciada de acordo com a realidade social. (MONTEIRO, 2005)
As profissões vão se transformando conforme as mudanças no mundo, nas características da sociedade. Existem profissões que desaparecem, outras, no entanto tem importância perene, mas veem constante transformações na sua forma de agir e se relacionar com o meio através do trabalho. A saúde, a educação e ajustiça valores universais para a condição humana, suas profissões devem ser consideradas pedras fundamentais para a organização da sociedade, dentro de uma Estado de Direito embasado na noção básica dos Direitos Humanos (MONTEIRO, 2005).
As profissões que possuem grande relevância e reconhecimento na sociedade possuem normas de atuação codificadas, definindo seus serviços com a identificação de valores e saberes que devem destacar a importância de seus profissionais. A ética profissional ou Deontologia reúne de forma fundamentada os valores a serem preservados no exercício de cada profissão de forma específica (MONTEIRO, 2005).
A Deontologia das profissões é um conjunto de normas que identifica o posicionamento moral de determinada profissão em relação a sociedade em que está inserida, incluindo quadro normativo que se espelha na consciência moral predominante numa sociedade, incluindo valores profissionais comuns e destaca os valores específicos de uma profissão. Os valores específicos de cada profissão são a base para determinar as responsabilidades dos profissionais fundamentadas em princípios edificantes e estabelece os deveres dos mesmos para com seus clientes (MONTEIRO, 2005). 
A deontologia, que deriva do grego deon ou deontos/logos e significa o estudo dos deveres. Surge da necessidade de um grupo profissional se autorregular, sendo submetido ao parecer de um Conselho formado por membros eleitos do grupo profissional e com a função de fiscalizar o exercício profissional através de do cumprimento de regras pré-estabelecidas em um código (CARAPETO e FONSECA, 2012).
As normas deontológicas de uma profissão devem vir do acervo científico e filosófico de cada profissão, evidenciando sua identidade. É necessário um organismo formado pela representatividade dos pares para gerir e supervisionar o cumprimento das normas deontológicas, um conselho de profissionais reconhecidos pela sua contribuiçãosocial e imaculada conduta, conselho este capaz de promover a autorregulação de uma profissão. Este órgão pode ser privado, mas deve ter reconhecimento público e aceitação da comunidade, deve ter base profissional com um estatuto público, unindo a legitimidade profissional e a legitimidade pública (MONTEIRO, 2005). 
O objetivo da deontologia é regular a atuação profissional dos membros de uma profissão para se obter a excelência no trabalho, sendo necessário o reconhecimento dos pares, visando conquistar a confiança do público e a credibilidade da profissão. É o estudo do conjunto dos deveres profissionais fundamentados em um código de conduta, que pode impor punição aos infratores (CARAPETO e FONSECA, 2012).
A deontologia funda neste código o conjunto de deveres, princípios e normas reguladoras dos comportamentos que devem ser exigidos dos profissionais, alguns princípios e normas tem função reguladora outros tem função normativa, cabendo sanções aos profissionais faltosos. Neste sentido, a deontologia é uma disciplina da ética adaptada ao exercício de uma profissão. Geralmente códigos de deontologia, ou ética profissional têm por base grandes declarações universais e buscam expressar o direcionamento ético destes documentos com adaptações cabíveis as peculiaridades de cada profissão (CARAPETO e FONSECA, 2012).
No entanto, ética não se finda na deontologia, no cumprimento de regras de conduta profissional sob judice, com a preocupação de evitar sanções disciplinares previstas. As ações dos profissionais não devem ser embasadas nas normas e sim nos valores de uma profissão. O profissional deve agir de forma consciente e racional. Deve agir de forma livre e não coagido pelas normas e suas sanções, deve conhecer e optar em seguir o valor como meio de exercer a beneficência através do seu exercício profissional (CARAPETO e FONSECA, 2012).
O bom profissional deve desenvolver todas as virtudes humanas e aplica-las por meio do exercício de sua profissão. A ética não se limita a um conjunto de proibições, o comportamento ético é satisfatório quando o agente da ação decide de forma racional fazer o bem. O comportamento ético nasce das convicções e valores do profissional, oriundos de uma formação de base humanista. (CARAPETO e FONSECA, 2012).
Entretanto a aplicações de penalidades disciplinares se faz necessária no caso de violação de normas deontológicas, faz parte de um processo de conscientização e educação assumido pelos conselhos de profissionais visando construir uma sociedade mais solidária, respeitadora dos direitos humanos e amiga do ambiente (CARAPETO e FONSECA, 2012).
4. Resoluções e Diretrizes do Conselho Federal de Educação Física
4.1. Regulamentação da profissão e criação dos Conselhos de Educação Física (CONFEF/CREF)
Sabemos que as práticas corporais iniciam-se com o surgimento da humanidade, ainda que de forma não sistematizada, e com fins voltados principalmente à subsistência. 
A nomenclatura Educação Física passa a ser utilizada a partir da modernidade, momento em que as práticas corporais e esportivas ganham importância aos olhos da sociedade e do governo, sendo aliadas ao desenvolvimento cognitivo. Na década de 1930 são criadas Escolas de Educação Física, voltadas principalmente ao desenvolvimento militar, alavancando a profissionalização na área. 
O que estamos chamando de regulamentação, então, não é a formação de um campo de atuação em Educação Física, visto que ele já existia, mas sim uma ideia de legitimação da profissão (SAUTCHUK, 2002).
A regulamentação da atuação profissional foi marcada pela criação dos conselhos de Educação Física, em 1998, pela Lei nº 9696, que “dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física” (BRASIL, 1998).
Anterior a isso ocorreram tentativas, obviamente frustradas, de regulamentação da profissão. Pode-se dizer que o início de tudo foi nos anos 1940, com a fundação da Federação Brasileira das Associações de Professores de Educação Física	 (FBAPEF). Na década de 1950, profissionais renomados da área, como Inezil Penna Marinho e Manoel Monteiro, iniciaram as discussões sobre a necessidade da regulamentação da área, porém nenhuma ação foi realmente tomada. Já na década de 1980, os primeiros esforços começam a aparecer com a tramitação do projeto de lei referente à regulamentação, porém vetada pela presidência (CONFEF, s/d). 
<saiba mais início>
O professor Inezil Penna Marinho (1915-1987) foi uma das personalidades mais influentes e produtivas no campo da Educação Física, contribuindo muito para seu desenvolvimento. Para saber mais sobre a contribuição desse e de outras personalidades, leia a publicação “Um reconhecimento aos ilustres Mestres da Educação Física”, de dezembro/2003 na Revista Educação Física do CONFEF. Disponível em: https://www.confef.org.br/extra/revistaef/arquivos/2003/N10_DEZEMBRO/06_UM_RECONHECIMENTO_AOS_ILUSTRES_MESTRES.PDF 
<saiba mais fim>
	Em meados dos anos 1990, a preocupação com a falta de regulamentação da profissão cresce entre os estudantes de Educação Física, que percebem um aumento de pessoas sem formação atuando na área; portanto, fazia-se necessário um documento jurídico que firmasse a exclusividade de atuação nesse mercado para egressos dos cursos de Educação Física (CONFEF, s/d). 
	Em 1995 foi lançado o “Movimento pela Regulamentação do Profissional de Educação Física”, liderado pelos professores Jorge Steinhilber, Sergio Kudsi Sartori, Walfrido Jose Amaral e Ernani Contursi. A partir disso, relações foram estabelecidas com instituições de ensino superior, com o corpo docente e discente. O Movimento passa agora a ter atenção e mobilização nacional (CONFEF, s/d).
Imagem representando os envolvidos no Movimento em prol da regulamentação 
Cartaz em favor do Movimento de Regulamentação do Profissional de Educação Física
	Após diversos trâmites, em 1º de setembro de 1998, o então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, sanciona a Lei 9696/98. A referida Lei possui apenas seis artigos, o primeiro tratando sobre a possibilidade de atuação na área de Educação Física, sendo prerrogativa dos profissionais que estejam regularmente registrados nos Conselhos Regionais. Já o artigo seguinte apresenta o texto:
Art. 2o Apenas serão inscritos nos quadros dos Conselhos Regionais de Educação Física os seguintes profissionais:
I - os possuidores de diploma obtido em curso de Educação Física, oficialmente autorizado ou reconhecido;
II - os possuidores de diploma em Educação Física expedido por instituição de ensino superior estrangeira, revalidado na forma da legislação em vigor;
III - os que, até a data do início da vigência desta Lei, tenham comprovadamente exercido atividades próprias dos Profissionais de Educação Física, nos termos a serem estabelecidos pelo Conselho Federal de Educação Física. (BRASIL, 1998)
Imagem da publicação da Lei 9696/98 no Diário Oficial da União
	Com a leitura do artigo acima, fica esclarecido que o objetivo era limitar quem poderia atuar na área da Educação Física, a partir das prerrogativas apresentadas, além da possibilidade de fiscalização do Conselho (ALMEIDA; GUTIERREZ, 2008). 
	No inciso III do segundo artigo, é exposto que profissionais que já exerciam, comprovadamente, atividade remunerada em alguma área da Educação Física, poderiam continuar exercendo em termos estabelecidos pelo Conselho. Esses foram os chamados provisionados. 
	Para serem enquadrados nessa categoria, os trabalhadores deveriam comprovar oficialmente o exercício da profissão por no mínimo três anos antes de 2 de setembro de 1998, data de publicação da Lei no Diário Oficial da União (CONFEF, 2003). 
	Almeida e Gutierrez (2008, p.3), ressaltam que o inciso mencionado anteriormente é perfeito juridicamente, pois “(...) respeita o direito adquirido, instituto constitucionalmente assegurado, e, também, promove uma adaptação daqueles que exerciam a atividade sem nenhum tipo de conhecimento formal sobre

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