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Apostila - Deficiência intelectual - conceito e história

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Breve Introdução à Deficiência Intelectual: Conceito e História 
Paulo Liberalesso 
 
Introdução 
A deficiência intelectual (DI) se encontra entre os transtornos neurológicos 
mais frequentemente observados na população pediátrica, com prevalência 
variando entre 1% e 3%. A elevada frequência de mutações em genes 
localizados no cromossomo X explica sua maior incidência no sexo masculino. 
Há clara associação entre fatores de risco para DI e condição 
socioeconômica, de modo que países subdesenvolvidos e em desenvolvimento 
apresentam prevalência significativamente maior que países desenvolvidos. 
Entre os principais fatores de risco para DI e atraso do desenvolvimento 
neuropsicomotor se destacam: 
A. Causas pré-natais (desnutrição materna, má assistência à gestante, 
doenças infecciosas e venéreas maternas, uso e abuso de drogas lícitas e ilícitas 
durante a gestação, poluição ambiental e alterações cromossômicas). 
B. Causas perinatais (má assistência ao trabalho de parto, asfixia e 
traumatismos de parto, baixo peso ao nascimento, prematuridade e 
encefalopatia bilirrubínica). 
C. Causas pós-natais (desnutrição crônica severa, infecções do sistema 
nervoso central, intoxicações exógenas por medicamentos, inseticidas, chumbo 
e mercúrio e traumatismos cranianos). 
De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, o diagnóstico de 
DI deve ser embasado nos seguintes critérios: a) quociente de inteligência (QI), 
aferido por meio de testes e avaliações padronizadas (testagens psicométricas 
formais), significativamente inferior à média esperada para a idade, refletindo 
valor igual ou menor que 70; b) deficiência em pelo menos duas das seguintes 
habilidades: autocuidados, comunicação, relacionamentos sociais, rendimento 
escolar/acadêmico, habilidades de lazer, trabalho, saúde e segurança; e c) início 
dos sinais e sintomas antes dos 18 anos de idade. Embora estes critérios sofram 
periodicamente discretas alterações, o “eixo diagnóstico” não se altera. Portanto, 
 
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DI pode ser compreendida como um funcionamento intelectual abaixo da média 
com impacto sobre a qualidade de vida da pessoa. 
A aferição do QI deve ser baseada em aspectos clínico-comportamentais 
e psicométricos, de modo que, sem a utilização de testes e avaliações 
padronizadas, o diagnóstico de DI deve ser considerado presuntivo. O conceito 
teórico de QI baseia-se na divisão da idade mental pela idade cronológica, sendo 
a primeira definida como a idade em que a média das crianças mentalmente 
típicas é capaz de realizar determinadas tarefas ou atividades. Avaliações 
clínicas para determinação de QI devem ser realizadas, necessariamente, por 
psicólogos experientes. Embora a maior parte dos testes psicométricos seja 
objetiva, permitindo pouca variação na interpretação do examinador, a 
experiência do profissional é quesito fundamental no momento da análise e 
validação dos resultados. 
A palavra inteligência deriva do termo latino intellectus, sugerindo a 
capacidade inata dos seres humanos para entender e aprender. Embora se 
reconheçam definições distintas, inteligência pode ser entendida como a 
capacidade mental para identificar situações-problema, raciocinar, avaliar as 
possibilidades de solução, julgar a mais adequada e aprender com novas 
experiências. 
Do ponto de vista prático, as principais formas de inteligência são a 
conceitual ou acadêmica (refletindo a capacidade de resolver problemas 
intelectuais, utilização da linguagem de expressão e percepção, incluindo as 
noções teóricas de QI), a inteligência prática (capacidade de executar as 
atividades da vida diária e os autocuidados) e a inteligência social (capacidade 
de compreender e manejar atividades sociais cotidianas, incluindo as relações 
interpessoais). 
Fundamentos Históricos da Deficiência Intelectual 
Na Grécia Antiga (1600 – 1100 a.C.), período que antecedeu o Império 
Romano, deficientes intelectuais eram considerados criaturas sub-humanas 
sendo, muitas vezes, lançados de elevadas estruturas arquitetônicas para a 
 
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morte. Esse pensamento era compatível com os ideais de perfeição e beleza 
vigentes à época. 
Durante o Império Romano (500 – 27 a.C.), a capacidade de falar era 
considerada apanágio para obter o direito de ser cidadão, de modo que os 
deficientes intelectuais, mudos e surdos-mudos não cumpriam os quesitos 
mínimos para serem cidadãos romanos. Por essa ocasião, muitas crianças com 
DI, habitualmente conhecidas como “lunáticas”, foram afogadas no rio Tibre. A 
crença de que a alma somente se manifestava por meio da linguagem falada se 
arrastou até meados da Idade Média (476 d.C. – 1453 d.C.), quando a 
capacidade de falar corretamente era considerada um critério filosófico para 
definir o Ser Humano. Na segunda metade da Idade Média os teóricos e 
religiosos passaram a crer que a alma também poderia expressar-se por 
intermédio de gestos, sinais e pequenos ruídos. 
Na Idade Média a religião tinha os deficientes físicos, sensoriais ou 
intelectuais como tomados por forças malignas ou possessões demoníacas. 
Gradativamente, a doutrina cristã passa a adotar preceitos de caridade e 
misericórdia, ampliando o direito à sobrevivência desses indivíduos, incutindo na 
sociedade a ideia de que eles estariam, de alguma forma, sob uma proteção 
especial de Deus. Por essa ocasião, Santa Dinfna de Gheel, festejada no dia 15 
de maio, torna-se padroeira dos “deficientes mentais” e “doentes psiquiátricos”. 
 Na segunda metade da Idade Média proliferam na Europa instituições 
denominadas “asilos”, onde deficientes intelectuais, físicos e surdos-mudos se 
misturam aos mendigos, andarilhos, idosos abandonados, pessoas com 
doenças contagiosas, prostitutas e delinquentes de modo geral. Talvez seu 
maior ícone, o Pitié-Salpêtrière, criado no século XVII para ser uma fábrica e 
armazém de pólvora, chegou a abrigar mais de oito mil pessoas. 
A diferenciação entre DI e doença mental ocorreria somente em meados 
do século XIX, na França, quando os psiquiatras Jean-Étienne Dominique 
Esquirol (1772-1840) e Philippe Pinel (1745 e 1826) demonstraram que a 
deficiência cognitiva apresentava caráter constante e pouco variável, enquanto 
a doença mental poderia ser transitória. O tratamento clínico de uma criança com 
DI pelo médico francês Jean-Marc-Gaspard Itard (1774-1838) demonstrou aos 
 
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teóricos da época que o acompanhamento médico e pedagógico dessas 
crianças era possível. 
Embora esses relatos históricos pareçam remotos e distantes de nossa 
realidade, até bem pouco tempo, em comunidades indígenas isoladas, havia a 
prática do abandono de crianças nascidas com deficiências físicas. As primeiras 
escolas destinadas ao atendimento de deficientes intelectuais surgiram no início 
do século XIX, na Europa, sempre afastadas dos grandes centros urbanos, pois 
naquela época se acreditava que a tranquilidade, o silêncio e principalmente o 
ar puro seriam fundamentais para a “recuperação” destas pessoas. 
No Brasil o início das escolas de educação especializada ocorre em 
meados da década de 1950. Sem dúvida, o surgimento da Associação de Pais 
e Amigos dos Excepcionais (APAE), no Brasil, representou um marco histórico 
para o cuidado e educação dos deficientes intelectuais. A primeira APAE se 
instala no Rio de Janeiro,em 11 de dezembro de 1954, por ocasião da chegada 
da senhora Beatrice Bemis, membro do corpo diplomático norte-americano e 
mãe de uma menina com síndrome de Down. O movimento rapidamente se 
expandiu e no ano seguinte (1955) era fundada a APAE de Brusque, em Santa 
Catarina, e em 1956 a APAE de Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro. 
 Com o movimento ganhando amplitude nacional, em 1962 é fundada a 
Federação Nacional das APAEs, constituindo uma sociedade civil de caráter 
filantrópico, com objetivos culturais, assistenciais e pedagógicos. 
Outro marco igualmente importante na história da luta pela educação dos 
deficientes mentais no Brasil é a inauguração da Fundação “A Voz do Povo”, em 
1959, uma entidade com o objetivo de acolher indigentes e idosos 
desamparados. Por sua forte oposição à ditadura militar, o idealizador desta 
Fundação, o deputado e radialista paranaense Jorge Miguel Nassar, vê-se 
obrigado a transferir a coordenação da instituição para seu amigo Justino Alves 
Pereira. Este, juntamente com sua esposa Ildeman Pereira e mais sete mães de 
crianças especiais de Curitiba, fundam a Associação Ecumênica de Proteção ao 
Excepcional, para acompanhar crianças com mais de oito anos, já que naquela 
época as APAEs atendiam somente crianças até essa idade.

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