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CBI of Miami 1 CBI of Miami 2 DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre o mesmo estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. CBI of Miami 3 Breve Introdução à Deficiência Intelectual: Conceito e História Paulo Liberalesso Introdução A deficiência intelectual (DI) se encontra entre os transtornos neurológicos mais frequentemente observados na população pediátrica, com prevalência variando entre 1% e 3%. A elevada frequência de mutações em genes localizados no cromossomo X explica sua maior incidência no sexo masculino. Há clara associação entre fatores de risco para DI e condição socioeconômica, de modo que países subdesenvolvidos e em desenvolvimento apresentam prevalência significativamente maior que países desenvolvidos. Entre os principais fatores de risco para DI e atraso do desenvolvimento neuropsicomotor se destacam: A. Causas pré-natais (desnutrição materna, má assistência à gestante, doenças infecciosas e venéreas maternas, uso e abuso de drogas lícitas e ilícitas durante a gestação, poluição ambiental e alterações cromossômicas). B. Causas perinatais (má assistência ao trabalho de parto, asfixia e traumatismos de parto, baixo peso ao nascimento, prematuridade e encefalopatia bilirrubínica). C. Causas pós-natais (desnutrição crônica severa, infecções do sistema nervoso central, intoxicações exógenas por medicamentos, inseticidas, chumbo e mercúrio e traumatismos cranianos). De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, o diagnóstico de DI deve ser embasado nos seguintes critérios: a) quociente de inteligência (QI), aferido por meio de testes e avaliações padronizadas (testagens psicométricas formais), significativamente inferior à média esperada para a idade, refletindo valor igual ou menor que 70; b) deficiência em pelo menos duas das seguintes habilidades: autocuidados, comunicação, relacionamentos sociais, rendimento escolar/acadêmico, habilidades de lazer, trabalho, saúde e segurança; e c) início dos sinais e sintomas antes dos 18 anos de idade. Embora estes critérios sofram periodicamente discretas alterações, o “eixo diagnóstico” não se altera. Portanto, CBI of Miami 4 DI pode ser compreendida como um funcionamento intelectual abaixo da média com impacto sobre a qualidade de vida da pessoa. A aferição do QI deve ser baseada em aspectos clínico-comportamentais e psicométricos, de modo que, sem a utilização de testes e avaliações padronizadas, o diagnóstico de DI deve ser considerado presuntivo. O conceito teórico de QI baseia-se na divisão da idade mental pela idade cronológica, sendo a primeira definida como a idade em que a média das crianças mentalmente típicas é capaz de realizar determinadas tarefas ou atividades. Avaliações clínicas para determinação de QI devem ser realizadas, necessariamente, por psicólogos experientes. Embora a maior parte dos testes psicométricos seja objetiva, permitindo pouca variação na interpretação do examinador, a experiência do profissional é quesito fundamental no momento da análise e validação dos resultados. A palavra inteligência deriva do termo latino intellectus, sugerindo a capacidade inata dos seres humanos para entender e aprender. Embora se reconheçam definições distintas, inteligência pode ser entendida como a capacidade mental para identificar situações-problema, raciocinar, avaliar as possibilidades de solução, julgar a mais adequada e aprender com novas experiências. Do ponto de vista prático, as principais formas de inteligência são a conceitual ou acadêmica (refletindo a capacidade de resolver problemas intelectuais, utilização da linguagem de expressão e percepção, incluindo as noções teóricas de QI), a inteligência prática (capacidade de executar as atividades da vida diária e os autocuidados) e a inteligência social (capacidade de compreender e manejar atividades sociais cotidianas, incluindo as relações interpessoais). Fundamentos Históricos da Deficiência Intelectual Na Grécia Antiga (1600 – 1100 a.C.), período que antecedeu o Império Romano, deficientes intelectuais eram considerados criaturas sub-humanas sendo, muitas vezes, lançados de elevadas estruturas arquitetônicas para a CBI of Miami 5 morte. Esse pensamento era compatível com os ideais de perfeição e beleza vigentes à época. Durante o Império Romano (500 – 27 a.C.), a capacidade de falar era considerada apanágio para obter o direito de ser cidadão, de modo que os deficientes intelectuais, mudos e surdos-mudos não cumpriam os quesitos mínimos para serem cidadãos romanos. Por essa ocasião, muitas crianças com DI, habitualmente conhecidas como “lunáticas”, foram afogadas no rio Tibre. A crença de que a alma somente se manifestava por meio da linguagem falada se arrastou até meados da Idade Média (476 d.C. – 1453 d.C.), quando a capacidade de falar corretamente era considerada um critério filosófico para definir o Ser Humano. Na segunda metade da Idade Média os teóricos e religiosos passaram a crer que a alma também poderia expressar-se por intermédio de gestos, sinais e pequenos ruídos. Na Idade Média a religião tinha os deficientes físicos, sensoriais ou intelectuais como tomados por forças malignas ou possessões demoníacas. Gradativamente, a doutrina cristã passa a adotar preceitos de caridade e misericórdia, ampliando o direito à sobrevivência desses indivíduos, incutindo na sociedade a ideia de que eles estariam, de alguma forma, sob uma proteção especial de Deus. Por essa ocasião, Santa Dinfna de Gheel, festejada no dia 15 de maio, torna-se padroeira dos “deficientes mentais” e “doentes psiquiátricos”. Na segunda metade da Idade Média proliferam na Europa instituições denominadas “asilos”, onde deficientes intelectuais, físicos e surdos-mudos se misturam aos mendigos, andarilhos, idosos abandonados, pessoas com doenças contagiosas, prostitutas e delinquentes de modo geral. Talvez seu maior ícone, o Pitié-Salpêtrière, criado no século XVII para ser uma fábrica e armazém de pólvora, chegou a abrigar mais de oito mil pessoas. A diferenciação entre DI e doença mental ocorreria somente em meados do século XIX, na França, quando os psiquiatras Jean-Étienne Dominique Esquirol (1772-1840) e Philippe Pinel (1745 e 1826) demonstraram que a deficiência cognitiva apresentava caráter constante e pouco variável, enquanto a doença mental poderia ser transitória. O tratamento clínico de uma criança com DI pelo médico francês Jean-Marc-Gaspard Itard (1774-1838) demonstrou aos CBI of Miami 6 teóricos da época que o acompanhamento médico e pedagógico dessas crianças era possível. Embora esses relatos históricos pareçam remotos e distantes de nossa realidade, até bem pouco tempo, em comunidades indígenas isoladas, havia a prática do abandono de crianças nascidas com deficiências físicas. As primeiras escolas destinadas ao atendimento de deficientes intelectuais surgiram no início do século XIX, na Europa, sempre afastadas dos grandes centros urbanos, pois naquela época se acreditava que a tranquilidade, o silêncio e principalmente o ar puro seriam fundamentais para a “recuperação” destas pessoas. No Brasil o início das escolas de educação especializada ocorre em meados da década de 1950. Sem dúvida, o surgimento da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), no Brasil, representou um marco histórico para o cuidado e educação dos deficientes intelectuais. A primeira APAE se instala no Rio de Janeiro,em 11 de dezembro de 1954, por ocasião da chegada da senhora Beatrice Bemis, membro do corpo diplomático norte-americano e mãe de uma menina com síndrome de Down. O movimento rapidamente se expandiu e no ano seguinte (1955) era fundada a APAE de Brusque, em Santa Catarina, e em 1956 a APAE de Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro. Com o movimento ganhando amplitude nacional, em 1962 é fundada a Federação Nacional das APAEs, constituindo uma sociedade civil de caráter filantrópico, com objetivos culturais, assistenciais e pedagógicos. Outro marco igualmente importante na história da luta pela educação dos deficientes mentais no Brasil é a inauguração da Fundação “A Voz do Povo”, em 1959, uma entidade com o objetivo de acolher indigentes e idosos desamparados. Por sua forte oposição à ditadura militar, o idealizador desta Fundação, o deputado e radialista paranaense Jorge Miguel Nassar, vê-se obrigado a transferir a coordenação da instituição para seu amigo Justino Alves Pereira. Este, juntamente com sua esposa Ildeman Pereira e mais sete mães de crianças especiais de Curitiba, fundam a Associação Ecumênica de Proteção ao Excepcional, para acompanhar crianças com mais de oito anos, já que naquela época as APAEs atendiam somente crianças até essa idade.
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