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Relação Jurídica de Consumo


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Relação Jurídica de Consumo
É necessário que exista:
· Consumidor;
· Fornecedor;
· Utilização de um produto ou serviço.
Consumidor
Consumidor padrão
 Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
· Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Consumidores equiparados
· Coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo;
· Vítimas de evento produzido pelo fato do produto e do serviço. Mesmo que nunca tenha contratado ou mantido qualquer relação com o fornecedor. Ex: Queda de avião; criança que se acidenta ao tentar fugir da colisão com a porta do caminhão; atropelamento em rodovia mal sinalizada; vazamento de petróleo que gera danos mesmo em outros Estados e etc.
· Pessoas, determináveis ou não, expostas às práticas comerciais previstas no Código.
· Bagagem: 
· Viagens internacionais: Foi fixado em pacto internacional uma limitação à indenização de danos materiais, independentemente dos valores dos objetos extraviados que estavam na mala. Não há limitação em relação aos danos morais.
· Viagens nacionais: Não há limitação.
Teorias
Teoria finalista
Aquele que é destinatário final e não adquire para uso profissional ou como instrumento de produção. O conceito é econômico*** e o destinatário é final fático e econômico. 
· Teoria finalista aprofundada, mitigada ou apurada- Vulnerabilidade ADOTADA
	O CDC veio para tentar equilibrar a relação de consumo. Dessa forma, o conceito de “destinatário final” deve ser analisado à luz da vulnerabilidade. Ex: Pessoa que compra um caminhão e o utiliza para fazer fretes ou mulher que compra máquina de costura para trabalhar fazendo bordados em casa.
Vulnerabilidade Presumida: a vulnerabilidade é presumida pela lei. Ex: mesmo que um consumidor muito rico e estudado vá a um restaurante muito humilde haverá vulnerabilidade pois o consumidor não sabe como é preparada a comida, os insumos utilizados e etc.
Teoria maximalista
Não importa se adquire como destinatário final ou não. O conceito é jurídico e o destinatário é fático (basta retirar o produto do mercado de consumo).
Fornecedor
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
· “Desenvolvem atividade” é necessário que a atividade com profissionalismo e habitualidade. 
Remuneração
É necessário que o fornecedor seja remunerado direta ou indiretamente, embora não precise ocorrer lucro, sob pena de ser reconhecida uma doação e de lhe ser aplicada às regras do CC.
· Remuneração direta: Compra e venda de bebidas estragadas.
· Remuneração indireta: amostra grátis e brindes (a empresa ganha notoriedade e consumidores em potencial), e-mail (empresa ganha sempre que é acessado).
Rol exemplificativo das atividades protegidas
Todas as atividades são protegidas em razão da modernização das relações de consumo.
Teoria da aparência
Os deveres de boa-fé, cooperação, transparência e informação devem alcançar todos os fornecedores, diretos ou indiretos, principais ou auxiliares, ou seja, todos aqueles que participam da cadeia de fornecimento, entendimento esse adotado pelo STJ.
Pessoa Jurídica de Direito Público
Também pode ser enquadrada como fornecedora. E os serviços seriam aqueles prestados mediante contraprestação ou remuneração diretamente efetuada pelos consumidores por tarifa ou preço público e que a sua medição seja realizada individualmente (também denominados de serviços uti singuli): água, luz, telefone, transporte público etc.
· Prestação de serviço público de saúde: No julgamento do Recurso Especial n. 493.181/SP, o STJ entendeu que não se pode falar em prestação de serviço subordinada às regras previstas no CDC, pois inexistente qualquer forma de remuneração direta. não há individualização nem como mensurar a remuneração específica.
· Súmula n. 563: “o CDC é aplicável às entidades abertas de previdência complementar, não incidindo nos contratos previdenciários celebrados com entidades fechadas”
· STJ também se manifestou no sentido de que os serviços públicos prestados por concessionárias são remunerados por tarifas, regidos, portanto, pelo CDC; diferentemente da remuneração do serviço público próprio, realizada por meio de taxa.
· “se o serviço for prestado diretamente pelo Estado e custeado por meio de receitas tributárias não se caracteriza uma relação de consumo nem se aplicam as regras do Código de Defesa do Consumidor”.
		não se aplica aos serviços prestados pelos Correios, ensejando-se, nesses casos, a reparação dos danos causados aos consumidores com base no CDC. Tratam-se, pois, de serviços remunerados por preço público, por isso a confirmação do entendimento acima externado.
Produtos e Serviços
· Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
· Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
· Instituições financeiras: Súmula 297, STJ: O CDC é aplicável aos contratos firmados entre as instituições financeiras e seus clientes.
· Serviços imediatos e contínuos (convênios).
· Serviços públicos e privados.
Desnecessidade de compra e utilização
É desnecessário visto que o CDC cuida de outras situações que ocorrem antes mesmo do fornecimento do produto ou serviço, como, por exemplo, nos casos de oferta e publicidade.
Compra feita no exterior
A compra feita no exterior e trazida ao Brasil, ainda que haja filial da respectiva empresa, não atrai a competência do CDC. Exceção: se a empresa tiver garantia internacional. Ex: Apple.
Hipóteses de Aplicação do CDC
· Profissionais liberais e seus clientes (REsp. n. 80.276).
· Entidades abertas de previdência privada (Súmula n. 563).
· Relação entre condomínio e concessionária de serviço público (REsp. n. 650.791).
· Atividade notarial (REsp. n. 1.163.652).
· Entidades de caráter beneficente ou filantrópico, caso desempenhem atividade no mercado de consumo mediante remuneração (AgRg no Ag. n. 1.215.680).
· Serviços públicos remunerados por meio de tarifa ou preço público (AgRg no Ag. n. 1.398.696).
· Provedores de internet, mesmo que gratuitos (REsp. n. 1.186.616).
· Súmula 608-STJ: Aplica-se o CDC aos contratos de plano de saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão. Entidades de autogestão são os planos fechados de saúde que são criados por órgãos, entidades ou empresas para beneficiar um grupo restrito de filiados.
· Súmula 602-STJ: O CDC é aplicável aos empreendimentos habitacionais promovidos pelas sociedades cooperativas.
· Súmula 563-STJ: O CDC é aplicável às entidades abertas de previdência complementar, não incidindo nos contratos previdenciários celebrados com entidades fechadas.
· Súmula 130, STJ: A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento.
· responsabilidade de provedores de conteúdo pelas mensagens postadas diretamente pelos usuários (REsp. n. 1.338.214-MT);
· responsabilidade acerca de prejuízos decorrentes de violações de direito autoral em plataforma de rede social (REsp. n. 1.512.647-MG).
Hipóteses de inaplicabilidade do CDC
· Advogados (REsp. n. 1.123.422).
· Relações entre autarquia previdenciária e seus beneficiários (REsp. n. 369.822).
· Relação entre condomínio e condôminos (REsp. n. 650.791).
· Relações de locação (AgReg. no REsp. n. 510.689).
· Contratos de crédito educativo (REsp. n. 600.677).
· Contratos entre cooperativas e cooperados (AgReg. no REsp. n. 1.122.507).
· Contrato entre empresa de factoring e outra empresa que utiliza o bem na cadeia produtiva(REsp. n. 938.979).
Política Nacional das Relações de Consumo
 Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:  
· reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;
· ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor:
a) por iniciativa direta;
b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas;
c) pela presença do Estado no mercado de consumo;
d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.
· harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;
· Refere-se à boa-fé objetiva e seus deveres anexos.
· educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;
· O princípio da informação tem duplo vértice: direito de informar e ser informado.
· A informação defeituosa também gera responsabilidade.
· O fornecedor deve complementar a informação acerca da existência de glúten com a advertência de que “o glúten é prejudicial à saúde dos consumidores com doença celíaca” (REsp. n. 1.515.895).
· incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo;
· coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores;
· racionalização e melhoria dos serviços públicos;
· estudo constante das modificações do mercado de consumo.
· fomento de ações direcionadas à educação financeira e ambiental dos consumidores; **
· prevenção e tratamento do superendividamento como forma de evitar a exclusão social do consumidor.** 
Transparência e informação
Visando preservar os princípios de transparência e prevenção, há obrigação de exibir a documentação comum às partes contratantes, não se submetendo à exigência de prévio requerimento administrativo, sob pena de desrespeito à boa-fé objetiva.
OBS: “O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de exclusão” – Súmula n. 402)
Instrumentos para a execução da Política Nacional      
Art. 5° Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, contará o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros:
· manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente;
· instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público;
· criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo;
· criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo;
· concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor.
· instituição de mecanismos de prevenção e tratamento extrajudicial e judicial do superendividamento e de proteção do consumidor pessoa natural;**
· instituição de núcleos de conciliação e mediação de conflitos oriundos de superendividamento.**
Direitos Básicos do Consumidor 
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
· a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
· a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
· a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; A informação deve ser acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em regulamento. 
· A informação se limita aos compostos e se apresentam alguma contra indicação, não incluindo o segredo industrial, que é direito do produtor.
· Todas as embalagens precisam sobreviver ao seu uso de forma a manter as informações constantes no rótulo.
· a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; Poderá exigir o cumprimento na forma que foi anunciada.
· Publicidade abusiva: discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
· Publicidade enganosa: informação/ comunicação publicitária falsa, no todo ou em parte, ou que de qualquer modo, induza o consumidor a erro.
· a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
· Refere-se à teoria da base objetiva do NJ, que diferentemente do CC (adota a teoria da imprevisão) não exige que o fato superveniente seja imprevisível à data da celebração do contrato para a revisão.
· Não acarretam sanção em caso de descumprimento.
· a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; tal reparação pode ocorrer na esfera administrativa ou judicial.
· Produtos em liquidação podem ser trocados, mas o valor será aquele da promoção e não o preço original.
· o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
· a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; foro de discussão das demandas será o correspondente à localidade de seu domicílio.
· a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Mesmo que sob o regime de concessão ou permissão.
· a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira e de prevenção e tratamento de situações de superendividamento, preservado o mínimo existencial, nos termos da regulamentação, por meio da revisão e da repactuação da dívida, entre outras medidas;** 
· a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação, na repactuação de dívidas e na concessão de crédito;
· a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de medida, tal como por quilo, por litro, por metro ou por outra unidade, conforme o caso. 
Rol exemplificativo
 Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade.
Responsabilidade objetiva e solidária
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.· Trata-se de responsabilidade objetiva, não precisando demonstrar culpa ou dolo. Basta a demonstração do dano e nexo causal.
· Exceção: A única hipótese onde o CDC previu a responsabilidade subjetiva por fato do produto ou serviço é a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais.
Qualidade de produtos e serviços, Prevenção e Reparação de danos
Proteção à saúde e segurança
Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.
Produto industrial
  Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. 
Dever de higienização de equipamentos e utensílios
O fornecedor deverá higienizar os equipamentos e utensílios utilizados no fornecimento de produtos ou serviços, ou colocados à disposição do consumidor, e informar, de maneira ostensiva e adequada, quando for o caso, sobre o risco de contaminação.
Produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos 
Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto.
Produto ou serviço com alto grau de periculosidade ou nocividade
Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.
Conhecimento posterior
§ 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários. Entra-se a obrigação de retirada (recall) do produto ou serviço e a obrigação de reparação ou substituição do produto ou serviço. 
· Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço.
Obrigação do Estado
  § 3° Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito.