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UNESP - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Odontologia de Araraquara FUED SAMIR SALMEN COMPARAÇÃO ENTRE INICIAR A CIRURGIA PELA MANDÍBULA OU PELA MAXILA NA CORREÇÃO DO EXCESSO MAXILAR VERTICAL: ESTUDO RETROSPECTIVO Araraquara 2017 UNESP - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Odontologia de Araraquara FUED SAMIR SALMEN COMPARAÇÃO ENTRE INICIAR A CIRURGIA PELA MANDÍBULA OU PELA MAXILA NA CORREÇÃO DO EXCESSO MAXILAR VERTICAL: ESTUDO RETROSPECTIVO Tese apresentada ao programa de Pós- Graduação em Ciências Odontológicas, Área de Diagnóstico e Cirurgia, da Faculdade de Odontologia de Araraquara, da Universidade Estadual Paulista para título de Doutor em Diagnóstico e Cirurgia. Orientador: Prof. Dr. Mario Francisco Real Gabrielli Araraquara 2017 Salmen, Fued Samir Comparação entre iniciar a cirurgia pela mandíbula ou pela maxila na correção do excesso maxilar vertical: estudo retrospectivo / Fued Samir Salmen.-- Araraquara: [s.n.], 2017. 66 f. ; 30 cm. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Odontologia Orientador: Prof. Dr Mario Francisco Real Gabrielli 1. Cirurgia ortognática 2. Osteotomia de Le Fort 3. Osteotomia sagital do ramo mandibular I. Título Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Marley C. Chiusoli Montagnoli, CRB-8/5646 Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Odontologia de Araraquara / UNES COMPARAÇÃO ENTRE INICIAR A CIRURGIA PELA MANDÍBULA OU PELA MAXILA NA CORREÇÃO DO EXCESSO MAXILAR VERTICAL: ESTUDO RETROSPECTIVO Comissão julgadora Tese Doutor Presidente e orientador: Prof. Dr. Mario Francisco Real Gabrielli 2º Examinador: Prof. Dr. Eduardo Hochuli Vieira 3º Examinador: Prof. Dr. Marcelo Silva Monnazzi 4º Examinador: Prof. Dr. Alexandre Elias Trivelatto 5º Examinador: Prof. Dr. Alexander Tadeu Sverzut Araraquara, 2 de fevereiro de 2017. DADOS CURRICULARES FUED SAMIR SALMEN NASCIMENTO 23/03/1965 – Agudos-SP FILIAÇÃO Foehd Salmen Hessain Neife Neggi Hessain 1984/1987 Curso de Graduação Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas 1996/1998 Curso de Pós-Graduação em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial, nível Especialização, na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo 2003/2004 Curso de Pós-Graduação em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial, nível Mestrado, no Complexo Hospitalar Heliópolis DEDICATÓRIA Dedico essa Tese ... ... a minha esposa, Regina Márcia Dau Salmen, pelo amor e dedicação como esposa e mãe, por ter suportado e amenizado tudo a minha volta. Amo essa mulher. ... as minhas filhas, Mariana Dau Salmen e Alexandra Dau Salmen, pelo companheirismo e tolerância. Minha vida não seria importante sem vocês. Amo essas meninas. ... aos meus pais, Neife Neggi e Foehd Salmen, pelo esforço, cuidado e carinho com que nos criaram. ... ao meu ídolo, Prof. Dr. Mario Francisco Real Gabrielli. Sem dúvida alguma, o maior expoente da história da nossa especialidade no nosso pais. Referência técnica, cientifica e moral para todos. Dedico essa tese e agradeço por tudo. AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Agradeço ... ... a Profa. Marisa Aparecida Cabrini Gabrielli pela humildade, amizade e carinho com que me recebeu ao longo de todo esse tempo. Sua competência como cirurgiã e professora é exemplar. ... ao Prof. Dr. Valfrido Antônio Pereira Filho que como Coordenador da Pós- graduação deste Departamento sempre me orientou e zelou pela condução do meu Doutorado. ... ao Prof. Dr. Eduardo Hochuli Vieira pela sua pronta colaboração todas as vezes que precisei da sua ajuda. AGRADECIMENTOS Agradeço ... ... a Faculdade de Odontologia de Araraquara em nome da sua Diretora Prof. Dra. Elaine Maria Sgavioli Massucato. ... aos funcionários e amigos da Secretaria da Pós-graduação desta Universidade José Alexandre Garcia e Cristiano Afonso Lamounier. ... a colega de pós-graduação, Marina Reis Oliveira, mais uma daquelas pessoas especiais que a vida põe no nosso caminho, pelo apoio incondicional em todas as nossas publicações científicas. ... ao colega de pós-graduação, Talles Fernando Medeiros de Oliveira, por ter sido o responsável por todo tratamento estatístico dessa Tese. Aprendi muito com o resultado do seu trabalho e espero poder corresponder. ... aos funcionários e amigos do Departamento de Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial da FOAR. ... a todos os alunos da pós-graduação de Cirurgia Maxilo Facial da FOAR pelo carinho e respeito que sempre me trataram. ... as Bibliotecárias pelo carinho e precisão ao revisarem minha Tese. Salmen FS. Comparação entre iniciar a cirurgia pela mandíbula ou pela maxila na correção do excesso maxilar vertical: estudo retrospectivo [Tese de Doutorado]. Araraquara: Faculdade de Odontologia da Unesp; 2017. RESUMO O objetivo deste estudo retrospectivo foi avaliar a precisão de procedimentos bimaxilares realizados para correção de excesso maxilar vertical, quando a cirurgia é iniciada pelo reposicionamento mandibular ou pelo reposicionamento maxilar. Foram incluídos no estudo 32 prontuários de pacientes, divididos em dois grupos de dezesseis. O primeiro grupo (Grupo 1) de pacientes foi submetido a cirurgia bimaxilar com a sequência clássica do procedimento, no qual a maxila foi reposicionada primeiro que a mandíbula. O segundo grupo (Grupo 2) de pacientes sofreu alteração desta sequência, na qual a mandíbula foi reposicionada primeiro que a maxila. A mensuração para determinar a precisão do reposicionamento dos maxilares foi realizada por sobreposição, pela base do crânio, os traçados obtidos de uma telerradiografia lateral realizada com, no máximo, 30 dias de pós-operatório e os traçados de planejamento. A análise estatística foi realizada utilizando o teste t pareado para verificar a diferença entre os valores previstos e os obtidos em cada grupo. O teste t de Student para amostras independentes foi utilizado para comparar o erro de previsão entre os dois grupos. Na amostra estudada, ambas as sequências operatórias permitiram precisão satisfatória. O erro de previsão para as variáveis incisal do incisivo superior (IIS), Ponto A e cúspide mesiovestibular do molar inferior (6i Oclusal), no sentido vertical, foi maior para o Grupo 2, quando comparado ao Grupo 1. O erro de previsão no sentido vertical para o Pogônio (P) foi menor quando a cirurgia foi iniciada pela mandíbula. Em conclusão, embora ambas as sequências cirúrgicas possam ser utilizadas, iniciar a cirurgia pela mandíbula provocou maior imprecisão em relação ao traçado preditivo do que iniciar a cirurgia pela maxila. A sequência clássica, reposicionando a maxila primeiro, resultou em maior precisão no reposicionamento vertical do ponto A, bem como da incisal do incisivo superior e, portanto, da maxila, do ponto de vista estético. Iniciar a cirurgia pela mandíbula permitiu maior precisão na posição vertical do pogônio. Palavras chave: Cirurgia ortognática. Osteotomia de Le Fort. Osteotomia sagital do ramo mandibular. Salmen FS. Sequencing of bimaxillary surgery in the correction of vertical maxillary excess: retrospective study [Tese de Doutorado]. Araraquara: Faculdade de Odontologia da Unesp; 2017. ABSTRACT Thisstudy aims to evaluate the precision of bimaxillary surgery performed to correct vertical maxillary excess, when the procedure is sequenced by mandibular surgery first or maxillary surgery first. Thirty-two patients were included in this retrospective study, divided into two groups. The first group was composed by patients who received bimaxillary surgery following the classic sequence of repositioning the maxilla first. In the second group patients received bimaxillary surgery by operating the mandible first. The data were tabulated and statistically analyzed. Precision of the maxillo-mandibular repositioning was measured by superimposing, through the cranial base, digital postoperative tracings taken at a maximum of 30 days after surgery to the prediction tracings. The paired t test was used to determine the difference between predicted and obtained values for each group. The Student’s t test for independent samples was applied to compare the prediction error between groups. In this sample, both surgical sequences provided adequate clinical accuracy. The classical sequence, repositioning the maxilla first, resulted in greater accuracy of A point, lower first molar and incisor edge vertical position. Repositioning the mandible first allowed greater precision in the vertical position of pogonion. In conclusion, although both surgical sequences may be used, repositioning the mandible first will result in greater imprecision in relation to the predictive tracing, than repositioning the maxilla first. The classical sequence resulted in greater accuracy in the vertical position of the maxilla, which is key for esthetics. Repositioning the mandible first allowed greater accuracy for the vertical position of pogonion. Key-Words: Orthognathic surgery. Osteotomy, Le Fort. Osteotomy, sagittal split ramus. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Controle da dimensão vertical da maxila ............................... 31 Figura 2 – Cefalograma das estruturas anatômicas do esqueleto facial 33 Figura 3 – Modelos de gesso no articulador semi-ajustável ................... 34 Figura 4 – Simulação bidimensional do cefalograma ............................. 35 Figura 5 – Referências para simulação bidimensional ........................... 35 Figura 6 – Cúspides de referência verticais .............................................. 36 Figuras 7 – A, medida anteroposterior. B, Medidas transversais ............. 37 Figura 8 – Modelos originais mantidos intactos ...................................... 37 Figura 9 – A modelo superior. B, modelo inferior .......................................... 38 Figura 10 – Relação de oclusão para iniciar a cirurgia pela maxila ................. 38 Figura 11 – Relação de oclusão para iniciar a cirurgia pela mandíbula ............ 39 Figura 12 – Sobreposição dos traçados ................................................... 40 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Análise da reprodutibilidade do método ................................ 43 Tabela 2 – Medidas descritivas das coordenadas horizontal e vertical das variáveis obtidas a partir dos traçados de previsão para os Grupos 1 e 2 ..................................................................... 44 Tabela 3 – Medidas descritivas das coordenadas horizontal e vertical das variáveis obtidas a partir dos traçados pós-cirúrgicos para os Grupos 1 e 2 ..................................................................... 45 Tabela 4 – Média, erro padrão e intervalo de 95% de confiança da diferença entre os valores pós-cirúrgicos e o s valores de previsão nos eixos horizontal e vertical para as variáveis do Grupo 1 (n=16) ....................................................................... 46 Tabela 5 – Média, erro padrão e intervalo de 95% de confiança da diferença entre os valores pós-cirúrgicos e os valores de previsão nos eixos horizontal e vertical para as variáveis do Grupo 2 (n=16) ................................................................. 48 Tabela 6 – Média, erro padrão e intervalo de 95% de confiança dos erros de previsão entre os Grupos 1 e 2 ....................................... 49 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Alterações horizontais das diferenças médias entre os valores obtidos e previstos para as variáveis dos Grupos 1 e 2 ........ 50 Gráfico 2 – Alterações verticais das diferenças médias entre os valores obtidos e previstos para as variáveis dos Grupos 1 e 2 ........ 50 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS S Ponto Sela N Násio ENA Espinha nasal anterior ENP Espinha nasal posterior A Ponto Subespinhal A B Ponto B Pg Pogônio IIS Incisal do incisivo central superior III Incisal do incisivo central inferior 6S Oclusal Cúspide mesiovestibular do primeiro molar superior 6I Oclusal Cúspide mesiovestibular do primeiro molar inferior Pr Traçado de previsão cefalométrica Po Traçado pós-operatório T1 Medidas planejadas no traçado de previsão T2 Medidas obtidas no traçado após a cirurgia CCI Coeficiente de correlação intraclasse SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 15 2 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................. 17 3 PROPOSIÇÃO .. ................................................................................. 28 4 MATERIAL E MÉTODO ..................................................................... 29 4.1 Amostra . ............................................................................................ 29 4.2 Critérios de inclusão ......................................................................... 29 4.3 Critérios de exclusão ........................................................................ 30 4.4 Formação dos grupos ....................................................................... 30 4.5 Planejamento cirúrgico ..................................................................... 31 4.6 Análise estatística ............................................................................. 40 5 RESULTADO ...................................................................................... 42 6 DISCUSSÃO ....................................................................................... 51 7 CONCLUSÃO ..................................................................................... 59 REFERÊNCIAS .................................................................................. 60 ANEXO A ........................................................................................... 63 15 1 INTRODUÇÃO Após ter se firmado como um procedimento com benefícios funcionais e estéticos favoráveis, a cirurgia ortognática tem sido bem assimilada pelos cirurgiões e ortodontistas com aumento constante da sua indicação. Associa-se a isso o fato da sua evolução técnica possibilitar amplas discussões, rompendo paradigmas e criando modificações numa velocidade que não poderia ser imaginada quando suas bases biológicas foram bem estabelecidas3. O conhecimento biológico trouxe segurança ao procedimento cirúrgico. A partir daí, o tratamento deixou de ser limitado aos reposicionamentos mandibulares e as cirurgias puderam ser realizadas na maxila, ou em ambos os maxilares, se tornando rotina. Reposicionamentos cirúrgicos antes considerados instáveis como, por exemplo, as rotações anti-horárias do plano oclusal, tornaram-se uma ferramenta indispensável para o cirurgião. Isso ocorreu em função da evolução dos materiais de fixação e técnicas4. Reconhecidamente, estão entre os fatores de sucesso da cirurgia ortognáticao correto diagnóstico, plano de tratamento apropriado, reprodução do plano de tratamento na sala de cirurgia e a estabilidade pós-operatória dos resultados7,8. Inicialmente, por haver somente fios de aço para fixar o esqueleto, a sequência cirúrgica tradicional era obrigatória para tratar discrepâncias maxilomandibulares, por meio de cirurgia bimaxilar. Assim, era necessário realizar o reposicionamento da maxila primeiro e, após a sua estabilização, reposicionar e estabilizar a mandíbula. A fixação interna estável, por meio de placas e parafusos, foi uma das principais evoluções técnicas ocorridas e permitiu a mudança dessa sequência clássica, possibilitando que a mandíbula seja reposicionada e estabilizada antes da maxila6. Apesar de muitos considerarem um tema recente, já em 1978 foi descrita a correção cirúrgica da deformidade dentofacial bimaxilar iniciando a cirurgia pela mandíbula14. A nova posição mandibular era orientada pela maxila ainda não operada, com ajuda de um guia oclusal intermediário, confeccionado após a realização da análise cefalométrica e cirurgia de modelos. A osteotomia 16 mandibular, em sua posição final, recebia osteossíntese por meio de parafusos. Após, a maxila era então orientada pela mandíbula e corretamente posicionada por meio de um novo guia cirúrgico, também produzido pela cirurgia de modelos. Naquela época, sob bloqueio intermaxilar e suspensão interna por fio de aço, o guia cirúrgico final era mantido no paciente até que o reparo ósseo ocorresse. A sequência cirúrgica mais frequentemente utilizada é realizar o reposicionamento da maxila primeiro. Em parte isso deve-se ao fato de que a maioria dos cirurgiões foram treinados utilizando essa sequência. Entretanto, principalmente na última década, cresceu a utilização da sequência cirúrgica que reposiciona primeiro a mandíbula. Os defensores do primeiro método em geral justificam essa preferência porque julgam que dessa forma se obtém um reposicionamento maxilar mais preciso, principalmente quando dos reposicionamentos verticais, com redução em altura. Por outro lado, aqueles que preferem iniciar o procedimento pela mandíbula alegam que essa sequência permite compensar erros de reposicionamento condilar realizando a cirurgia da maxila por último, obtendo maior precisão. Outros motivos específicos para diferentes tipos de reposicionamento maxilomandibular são utilizados como justificativa para a utilização de cada uma das sequências18,23. Assim, até o momento, em grande parte a escolha da sequência cirúrgica é inerente à preferência do cirurgião e existe carência na literatura relativa ao tema. Este estudo propõe avaliar a precisão de procedimentos bimaxilares realizados para correção de excesso maxilar vertical, quando a cirurgia é iniciada pelo reposicionamento mandibular ou pelo reposicionamento maxilar. 17 2 REVISÃO DA LITERATURA Spiessl21 (1974) afirmou que, como pré-requisito para corrigir uma deformidade mandibular, era necessário um procedimento de osteotomia que possibilitasse unir novamente os fragmentos da mandíbula imediatamente e rigidamente, ou seja, por meio de parafusos e/ou placas na posição pretendida. Baseados nos critérios acima, Lindorf et al.14, em 1978, já relatavam a correção cirúrgica da deformidade dentofacial bimaxilar iniciando a cirurgia pela mandíbula. A nova posição da mandíbula era orientada pela maxila ainda não operada com ajuda de um guia oclusal intermediário confeccionado após a realização da análise cefalométrica e a cirurgia de modelos. A mandíbula era fixada na região da osteotomia com parafusos, na sua posição final. A maxila era então orientada pela mandíbula e corretamente posicionada por um novo guia cirúrgico, também produzido pela cirurgia de modelos. Após o bloqueio intermaxilar e a suspensão interna por fio de aço, o guia cirúrgico final era mantido no paciente até que o reparo ósseo ocorresse. Hedemark et al.11 (1978) estudaram o comportamento de 15 maxilas reposicionadas com movimento horizontal, bem como rotação vertical, após osteotomias Le Fort I realizadas na Universidade de Zurique de 1960 a 1975. Todos os pacientes eram dentados, a maxila foi deslocada em um único segmento, não houve nenhuma combinação com outras osteotomias da mandíbula, que poderiam, por sua vez, alterar o plano oclusal. Todos os pacientes eram adultos, sem fissura lábio palatina. Os resultados foram avaliados pela análise comparativa das radiografias cefalométricas pré e até 6 meses pós-cirúrgicas, tendo como referência a linha sela-násio (SN). Os autores concluíram que o reposicionamento inferior da maxila é instável e recomendaram sobrecorreção e procura por outros métodos de fixação, que não o fio de aço. Moser et al.17 (1980) relataram uma série de 25 casos operados entre 1969 e 1977, avançando a maxila, após osteotomia Le Fort I e retroposicionando a mandíbula, após osteotomia sagital do ramo. As osteotomia eram mobilizadas “simultaneamente” e reposicionadas sem a 18 utilização de guia cirúrgico intermediário. Os pacientes permaneciam internados por 5 a 15 dias e o bloqueio intermaxilar era mantido de 4 a 9 semanas. Poucas complicações foram relatadas, mas um problema, entretanto, parece não ter sido resolvido nessa série. O posicionamento horizontal do plano oclusal era imperfeito, já que o cirurgião tinha julgado o posicionamento com os olhos, sem orientação adicional. Com muita propriedade, Bell et al.4 (1986) descreveram os fundamentos clínicos, biológicos e biomecânicos para cirurgia simultânea de reposicionamento da maxila, mandíbula e mento. A chave para obtenção de bons resultados é analisar com cuidado e sistematicamente a estética facial, estabelecer prioridades estéticas e, em seguida, coordenar e implementá-las por meio do uso de planejamento cefalométrico e avaliações oclusais. Como afirmam os autores, historicamente os clínicos foram forçados a aceitar quaisquer mudanças dos tecidos moles obtidas somente por meio de tratamento ortodôntico, mesmo nas má oclusões esqueléticas graves. A oclusão ditava o resultado final, muitas vezes comprometendo o resultado estético. O tratamento cirúrgico associado ao ortodôntico amplia o arsenal terapêutico e otimiza os resultados estético-funcionais. Em 1987, Buckley et al.5 sugeriram utilizar a sequência de cirurgia combinada iniciando pela mandíbula. Estes autores afirmaram que esta técnica prevenia possíveis erros de posicionamento maxilar pelo fato de não ser preciso manipulação adicional da maxila, diminuindo a chance de deslocamento deste segmento durante a cirurgia da mandíbula. Se a maxila sofrer segmentação para aumento do seu diâmetro transversal, essa técnica elimina a construção de um guia cirúrgico final. Como desvantagem dessa sequência cirúrgica, a fixação rígida da maxila deve ser realizada porque o reposicionamento da maxila é baseado na estabilidade da mandíbula já operada. Se por algum motivo a mandíbula não ficar bem posicionada ou não for possível usar fixação rígida para sua manutenção, os dois maxilares deverão ser soltos juntos, bloqueio intermaxilar deverá ser realizado e serão posicionados por referências anatômicas. Ellis et al.8 (1992) acreditam que o plano de tratamento para cirurgia ortognática seja o passo mais importante para alcançar um resultado bem- 19 sucedido. Esses autores salientam que, quando um articulador é usado para cirurgia ortognática, é imperativo que o ângulo formado entre o plano oclusal e o Plano de Frankfurt (ou horizontal verdadeira) no paciente seja o mesmo que o ângulo formado entre o plano oclusal do modelo da maxila em relação ao plano horizontal superior de articulador. Deve-se entender, ainda, que os articuladores nunca foram projetados para uso em cirurgia ortognática, o que dificulta seu uso. Wolford et al.24 (1993) discutiramamplamente a correção funcional e estética das deformidades pela cirurgia para aumento ou diminuição do ângulo do plano oclusal. Os autores entendem que, quando a intenção é aumentar o ângulo do plano oclusal, é geralmente mais fácil reposicionar a maxila primeiro, criando uma mordida aberta posterior e depois reposicionando a mandíbula. A tentativa de operar a maxila primeiro, nesses casos, cria uma grande mordida aberta anterior que dificulta o procedimento. Consideram, ainda, que quando a intenção é diminuir o ângulo do plano oclusal, é mais fácil operar a mandíbula primeiro, criando uma mordida aberta posterior e após isso reposicionar a maxila. Nesse caso, se a maxila for operada primeiro, cria-se uma grande mordida aberta anterior que dificulta o procedimento. Para Cottrell et al.6 (1994) a fixação interna estável, por meio de placas e parafusos, é uma das principais evoluções técnicas ocorridas, que permitiu a mudança da sequência cirúrgica clássica, possibilitando que a mandíbula seja reposicionada e estabilizada antes da maxila. Verificaram essas observações especialmente em cirurgias de grande avanço mandibular, quando a segmentação da maxila era necessária e/ou na presença de maxila com paredes ósseas delgadas, tornando difícil a osteossíntese. Por meio de um programa computadorizado (TIOPS), Donatsky et al.7 (1997) realizaram um estudo envolvendo 40 pacientes com deformidade dentofacial, que necessitavam de cirurgia ortognática bimaxilar, com reposicionamento maxilar superior associado a avanço ou redução mandibular. A simulação cirúrgica foi realizada virtualmente. Todos os pacientes receberam tratamento ortodôntico prévio e, sequência clássica da cirurgia, com a maxila sendo reposicionada antes da mandíbula, com o auxílio um guia intermediário. As maxilas receberam fixação interna estável por meio de quatro miniplacas de 20 titanio, a mandíbula por meio de 1 miniplaca com 4 furos e 1 parafuso bicortical de cada lado. Novas radiografias e cefalometrias foram realizadas 5 semanas após a cirurgia, imediatamente após a remoção do guia cirúrgico e 1 ano após. No grupo de pacientes que recebeu avanço da mandíbula, a parte anterior da maxila foi posicionada muito superiormente, com uma incorreção de 0,4mm. A parte posterior da maxila e anterior da mandíbula foram posicionadas nas posições planejadas. No Grupo de pacientes que recebeu redução da mandíbula, a parte anterior da maxila foi posicionada muito para cima e para posterior, com uma imprecisão vertical e sagital de 1,0mm e 0,7mm, respectivamente. A parte posterior da maxila apresentou-se em uma posição mais posterior, com uma imprecisão de 1,9mm. A região anterior da mandíbula foi posicionada muito anteriormente com uma imprecisão de 0,9mm. Os dois grupos tiveram os côndilos precisamente posicionados. O erro do método de sobreposição e digitalização dos cefalogramas foi calculado para mostrar que o sistema cefalométrico utilizado pode ser usado para planejamento e estudo comparativo do posicionamento maxilar e mandibular pós-operatórios. Lapp13 (1999) revisou 732 casos de cirurgia bimaxilar sem uso de guia intermediário iniciando pela maxila. Na opinião do autor que o guia intermediário não é necessário para reposicionar a maxila com precisão. O correto posicionamento da maxila e da mandíbula sem guia intermediário pode ser obtido pelos dados coletados do exame clinico pré-operatório, pelo traçado cefalométrico de previsão, análise de modelos, cirurgia de modelos, bem como medidas e observações intraoperatórias. Em sua opinião, as razões para não usar o guia intermediário são: (1) as moldagens dos quais um guia intermediário é construído podem potencialmente ser imprecisa ou distorcidas; (2) o registro do arco facial não ser preciso; (3) a montagem dos modelos pode ser incorreta; (4) é demorado para construir o guia intermediário; (5) é demorado para usar o guia intermediário durante a cirurgia; (6) o guia não permite flexibilidade para posicionar a maxila em uma interface óssea mais estável; (7) deslocamentos mandibulares não diagnosticados ou registros incorretos de mordida serão incorporadas no guia intermediário; (8) pode haver distorção dimensional do acrílico durante a construção e finalização do guia; (9) a espessura do guia pode alterar o posicionamento condilar; (10) ele dá uma falsa sensação de segurança de que tudo está precisamente 21 posicionado no momento da cirurgia. Os autores utilizaram o canto interno da fissura palpebral como referencia vertical. Para Ellis9 (1999) os fatores que determinam o sucesso da cirurgia ortognática são: um correto diagnóstico, plano de tratamento apropriado, reprodução desse plano na cirurgia e estabilidade pós-cirúrgica. O cirurgião deve ter habilidade para reproduzir o plano de tratamento na sala de cirurgia, isto é, posicionar os maxilares no local planejado. A sequência da cirurgia bimaxilar pode ser realizada mobilizando e reposicionado a maxila ou a mandíbula primeiro. Revisando a literatura, observou que a experiência clinica da maioria dos autores, sugerem realizar o reposicionamento da maxila antes do reposicionamento da mandíbula. Entretanto, a fixação interna rígida permitiu uma mudança nessa sequência clássica. Independentemente de qual maxilar é reposicionado primeiro, é imperativo que seja reposicionado com precisão, porque, uma vez estabilizado, ele se torna a referência para o outro maxilar. Se o primeiro segmento é incorretamente posicionado, o outro também o será. É apropriado reconhecer que a maxila pode ser reposicionada com ou sem o uso de um guia intermediário. Uma ampla revisão da literatura dos últimos 20 anos, entretanto, mostrou somente uma referência apresentando o reposicionamento da maxila sem usar a mandíbula ou algum dispositivo de registro aplicado externamente na face. Clínicos relatam movimentos maxilares nos planos anteroposterior, mediolateral e vertical. Entretanto, há também rotações complexas da maxila que podem ser definidas nos termos da Engenharia, caracterizando-se por pitch (ângulo do plano oclusal), roll (inclinação oclusal lateral), e yaw (rotação horizontal do arco). O passo mais crítico na cirurgia bimaxilar de modelos é o correto posicionamento do modelo maxilar. Se movimentos da maxila são difíceis de quantificar e reproduzir no articulador, pode-se começar a entender a dificuldade em tentar posicionar a maxila durante a cirurgia sem o uso da mandíbula ou qualquer outro auxilio mecânico como referencial. Isso ocorre porque não há uma estrutura que se possa utilizar tão boa como a arcada dentária. Usando a mandíbula e o guia intermediário para ajudar a reposicionar a maxila, o cirurgião tem somente que determinar a adequada dimensão vertical para estabelecer sua posição final. Jacobson et al.12 (2002) observaram que, por mais de 30 anos, a cirurgia 22 ortognática tem comprovado ser uma ferramenta importante para corrigir discrepâncias dento-esqueléticas faciais severas. O esforço combinado entre ortodontistas e cirurgiões tem melhorado dramaticamente a qualidade de vida de pacientes com desarmonias estéticas e funcionais. Mais do que nunca, o resultado estético do procedimento cirúrgico é o maior fator em determinar seu sucesso, porque as expectativas dos pacientes são muito altas. Desde a sua introdução há mais de 10 anos, programas de software usados para alterar imagens do paciente e prever o resultado dos procedimentos cirúrgicos tem sido refinados, com aperfeiçoamento gráfico e das interfaces. No entanto, tem havido uma controvérsia sobre mostrar as imagens de planejamento cirúrgico para os pacientes. Há preocupação se isso configuraria ou não promessa de resultado. Conforme Güzel et al.10 (2007), pacientes com desarmonia facial frequentemente apresentam morfologia nasal alterada e deformidade esqueléticadentofacial com diversos graus de má oclusão. A maioria desses pacientes não apresenta somente distúrbios funcionais, mas também preocupam-se com a estética. O método usual para corrigir deformidade esquelética ou deformidade dentoalveolar severa é osteotomia bimaxilar, associada com outros procedimentos na mesma sessão, incluindo aumento maxilar e zigomático, genioplastia, rinoplastia, ou algum outro procedimento cosmético. Poucos cirurgiões realizam rotineiramente cirurgia ortognática simultaneamente com outros procedimentos estéticos em um único estágio, devido à imprevisibilidade das alterações nos tecidos moles, com potencial por causar resultados desfavoráveis. Experiências individuais com abordagem complexa combinada e novas técnicas cirúrgicas permitem aos cirurgiões realizar mudanças especificas para a estrutura esquelética, geralmente com resultado estético e funcional satisfatório. O objetivo deste artigo foi apresentar 53 pacientes tratados simultaneamente com osteotomia bimaxilar, concomitante aumento maxilomalar, genioplastia, e rinoplastia, devido às suas deformidades dentofaciais complexas e maloclusão classe III. Todos os pacientes apresentavam síndrome da face longa caracterizada pelo excesso vertical maxilar, deficiência maxilomalar, prognatismo mandibular, excesso vertical do mento, área nasolabial deprimida, área labiomental suave, incompetência labial, e frequentemente um nariz estreito e excesso de 23 exposição dos incisivos superiores. A previsão de resultado do tecido mole em perfil foi apresentada no computador e discutida com todos os pacientes. Os procedimentos cirúrgicos seguiram uma sequência com a osteotomia Le Fort I primeiro, aumento maxilomalar, osteotomia sagital do ramo mandibular, mentoplastia e finalmente rinoplastia. A maxila foi orientada pela mandíbula usando um guia intermediário preparado na cirurgia de modelos. Para Barbenel et al.1 (2010), articuladores e arcos-faciais convencionais foram desenvolvidos para reproduzir relações oclusais e não a importante posição anatômica relativas da maxila com a base do crânio. O eixo horizontal definido pela trave superior do articulador frequentemente difere significativamente do plano de Frankfurt do paciente, o qual é assumido frequentemente como plano horizontal e por isso os resultados da cirurgia ortognática pode diferir significantemente do resultado planejado usando modelos dentais. A orientação dos modelos dentais montados em articuladores usando arcos faciais convencionais não reproduz com precisão a orientação dos dentes e maxilares dos pacientes, mas introduz um erro sistemático. Uma análise matemática mostrou que o desalinhamento do modelo do maxilar introduz erros nos guias intraoperatórios, os quais podem conduzir a um posicionamento cirúrgico incorreto da maxila relatada na literatura. Os resultados das análises matemáticas foram validados pela análise de fotografias dos modelos dos maxilares montados, usados para simular cinco procedimentos de cirurgia ortognática. Nenhuma diferença significante entre os resultados experimentais e as previsões teóricas das equações matemáticas foi notada. Planejamentos para maxila movimentar-se para frente e para cima produziram mais avanço e somente 50% da suspensão maxilar esperada. Planejamentos para maxila movimentar-se para frente e para baixo produziram menos avanço e mais deslocamento inferior em relação ao planos de referência horizontal e vertical. Segundo Perez e Ellis.18 (2011), o método tradicional para realizar cirurgia bimaxilar tem sido sempre reposicionar a maxila primeiro, estabilizá-la, e então reposicionar a mandíbula. Na época em que a fixação interna era feita por fio de aço, a maxila era o único segmento que podia ser estabilizado. Consequentemente, pela necessidade, a maxila era reposicionada e 24 estabilizada como passo inicial nos casos bimaxilares. O fato que permitiu o reposicionamento da mandíbula como passo inicial, é a disponibilidade de dispositivos para fixação interna estável (placas e/ou parafusos). Entretanto, se a mandíbula é o primeiro segmento a ser reposicionado, é essencial que a osteotomia realizada permita a aplicação de fixação interna estável. A sagital do ramo é a mais comum osteotomia a ser utilizada como procedimento para o reposicionamento cirúrgico da mandíbula. É possível realizar a afixação por placas e/ou parafusos por meio desta técnica. Entretanto, se ocorrer fratura mandibular incorreta que não possa ser anatomicamente reparada, haverá a possibilidade de que seja necessário interromper o procedimento. Quando se planeja o reposicionamento inferior da parte posterior da maxila, para diminuir o ângulo do plano oclusal, deve-se considerar reposicionar primeiro a mandíbula. Iniciar esses casos pela maxila cria uma mordida aberta anterior, podendo resultar em dois tipos de problema. Dependendo da quantidade planejada de reposicionamento inferior da área posterior da maxila (rotação anti-horária), a mordida aberta anterior pode ser muito grande. Poucos milímetros de reposicionamento inferior dos molares superiores podem causar muitos milímetros de mordida aberta anterior. Assim, o guia cirúrgico a ser fabricado será extremamente espesso na região anterior, e ele pode ser difícil de ser posicionado e dificultar o bloqueio intermaxilar. Mais importante, entretanto, é que, para os molares da maxila serem reposicionados inferiormente, a mandíbula terá que rodar no sentido horário, de modo a permitir o movimento da maxila. A rotação induzida do côndilo pelo movimento de abertura da mandíbula pode causar translação anterior e, possivelmente, translação inferior do côndilo seguindo o declive da eminência articular. Devido à mandíbula estar sendo usada para ajudar a posicionar a maxila, por meio do guia intermediário, a maxila poderá não terminar na posição pós-operatória planejada. Se a mandíbula for reposicionada primeiro, uma mordida aberta posterior será criada na cirurgia, tornando o procedimento mais fácil e auxiliando a manter o côndilo em sua posição pré-operatória. Além disso, a relação dos dentes anteriores será muito mais favorável para realização do bloqueio maxilomandibular. Uma vez que a osteotomia da mandíbula esteja estabilizada, a mordida aberta posterior é facilmente fechada realizando a osteotomia maxilar e posicionando sua parte posterior em oclusão com os dentes da mandíbula. 25 Os autores salientam que um correto registro interoclusal é usualmente tomado com a mandíbula em relação cêntrica, porque esta é considerada a mais reprodutível posição e é a posição que os côndilos assumirão quando o paciente está sob anestesia geral, durante a cirurgia. Se o registro interoclusal for incorreto, o guia intermediário não será capaz de prover o correto posicionamento da maxila na cirurgia, porque a posição da mandíbula será diferente daquela que estava no articulador. Entretanto, se a mandíbula for operada primeiro, um registro interoclusal inadequado não trará nenhuma consequência. A razão para isso é que, mesmo se a mandíbula for montada erroneamente, o guia intermediário ainda relacionará a desejada posição da mandíbula com a maxila ainda não operada. Os côndilos são simplesmente reposicionados dentro das fossas e osteossíntese é realizada para estabilizar os segmentos. Por outro lado, algumas relações oclusais e movimentos cirúrgicos do primeiro segmento podem dificultar a realização do bloqueio intermaxilar (BIM) intraoperatório. Por exemplo, no caso de grandes avanços bimaxilares, ocorrerá um grande trespasse horizontal entre os dentes. Isso limita a aplicação de fios de aço para o bloqueio na região dos molares e talvez dos pré-molares. Nesses casos, realizar o avanço mandibular primeiro facilita a aplicação do BIM, porque a relação dos dentes anteriores pode ser usada para esse propósito.Em grandes movimentos mandibulares, força considerável pode ser necessária para manter a mandíbula na sua posição final, enquanto seus fragmentos são submetidos a osteossíntese. Se o osso maxilar for extremamente fino e frágil, os parafusos que fixam as placas ao osso maxilar podem se soltar, criando um dilema intraoperatório, porque todas as referências das estruturas estáveis são então perdidas. Iniciar a cirurgia pela mandíbula previne esse tipo de problema. Quando são realizadas concomitantemente cirurgia da ATM e ortognática bimaxilar, a cirurgia da ATM deve ser realizada antes da osteotomia mandibular. A razão para isso é que a posição do côndilo dentro da articulação será alterada pela cirurgia. Se a mandíbula for operada antes da cirurgia da ATM, uma má oclusão pode resultar devido a alteração da posição do côndilo. Da mesma forma, se a ATM é operada primeiro e a maxila for reposicionada antes da mandíbula, a maxila pode ficar mal posicionada. 26 Para Turvey22 (2011), a decisão de realizar osteotomia maxilar ou mandibular inicialmente não é uma controvérsia. É uma preferência determinada pelo planejamento pré-operatório e pela confiança do cirurgião em estabilizar a maxila ou a mandíbula com previsibilidade. Antes da disponibilidade das placas e parafusos, realizar a cirurgia da maxila primeiro, seguida pela cirurgia da mandíbula, obedecia a lógica de que era mais previsível estabilizar a maxila. Enxertos ósseos eram comumente inseridos para ajudar a manter sua posição. Para diminuir o risco de deslocamento da maxila, durante a osteotomia sagital mandibular, os cortes ósseos da mandíbula eram feitos antes da cirurgia da maxila. Entretanto, a mandíbula era deixada intacta até a estabilização da maxila. Embora o autor tipicamente conduza a cirurgia com a sequência clássica, considera que exceções sempre existem. Se cirurgia mandibular segmentar dentoalveolar é realizada simultaneamente, ela geralmente será completada antes da cirurgia maxilar e estabilizada com um guia e com fixação óssea direta. Se osteotomias extrabucais são realizadas na mandíbula, a cirurgia mandibular é realizada após a maxila ter sido estabilizada. Se os dois côndilos forem substituídos simultaneamente com cirurgia da maxila, a cirurgia mandibular será completada primeiro e a maxila operada após adequada estabilização da mandíbula. Se a região posterior da maxila for posicionada para baixo mais que 5 mm, a cirurgia da mandíbula será realizada primeiro. Tipicamente, a mentoplastia será o último procedimento a ser realizado. Em resumo, nenhuma doutrina deve determinar a sequência da cirurgia maxilar ou mandibular. Ao invés disso, a decisão requer um aprofundado planejamento, preparação, e flexibilidade, para escolher a sequência mais lógica. Ritto et al.20 (2014) observaram que o registro da mordida é um passo muito sensível durante a montagem do articulador, acreditando que não é uma boa opção para alcançar a posição final dos maxilares. De fato, consideram que quando realizam a sequência invertida, montar o modelo inferior nem sempre será necessário. Isso acontece porque a nova posição mandibular será guiada pela posição original da maxila e só então a maxila será reposicionada, usando a mandíbula em sua nova posição como guia. Dessa forma, as posições pós-cirúrgicas da mandíbula e da maxila dependerão basicamente do correto registro do arco facial e da montagem do modelo superior. É razoável 27 esperar, então, que a sequência invertida possa prover melhores resultados, porque elimina um importante passo que pode introduzir erro no plano de tratamento. 28 3 PROPOSIÇÃO Avaliar a precisão de procedimentos bimaxilares realizados para correção de excesso maxilar vertical, quando a cirurgia é iniciada pelo reposicionamento mandibular ou pelo reposicionamento maxilar. 29 4 MATERIAL E MÉTODO A pesquisa avaliou as diferenças entre os resultados obtidos após a cirurgia e os traçados de previsão em pacientes submetidos a diferentes procedimentos cirúrgicos que apresentavam como ponto em comum o reposicionamento maxilar superior e cirurgia bimaxilar. 4.1 Amostra A amostra deste estudo retrospectivo foi formada por trinta e dois pacientes assistidos na Oral Face Care, Santos, SP, operados por um único cirurgião e que foram submetidos a cirurgia ortognática bimaxilar durante o período de março de 2007 a janeiro de 2014, considerando que todos assinaram o termo de consentimento informado para utilização dos seus registros, que permanecerão anônimos. Este estudo seguiu as normas previstas pela Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde e foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa, CAAE número 30682314.0.0000.5416, da Faculdade de Odontologia de Araraquara da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Anexo A). Todos os pacientes receberam tratamento ortodôntico prévio à cirurgia, para obter o máximo de alinhamento, nivelamento e assim como coordenação dos arcos dentários. O controle radiográfico foi realizado em média após 30 dias e incluiu telerradiografias lateral, telerradiografia frontal e uma radiografia panorâmica. Todos os pacientes reiniciaram os tratamentos ortodônticos após este controle radiográfico. 4.2 Critérios de inclusão Foram considerados critérios de inclusão no estudo pacientes: (1) adultos, (2) portadores de excesso maxilar vertical, (3) com qualquer tipo de padrão oclusal, (4) que receberam cirurgia ortognática bimaxilar com rotação anti-horária do plano oclusal, com ou sem mentoplastia, (5) apresentando 30 telerradiografias laterais pré e pós-operatórias capturadas com o mesmo aparelho de raios X e (6) sem nenhum tipo de síndrome ou fenda craniofacial. 4.3 Critérios de exclusão Foram considerados critérios de exclusão no estudo pacientes: (1) com histórico ou sequela de trauma facial, (2) submetidos a cirurgias da articulação temporomandibular ou (3) cirurgias segmentadas, (3) portadores de assimetrias com mais de 3mm de desnivelamento dos molares superiores e (4) registros incompletos para a avaliação proposta. 4.4 Formação dos grupos Foram selecionados dois grupos contendo 16 pacientes cada. O Grupo 1 foi constituído de pacientes que foram submetidos a cirurgia bimaxilar com a sequência tradicional do procedimento onde a maxila foi reposicionada primeiro que a mandíbula. Dos 16 pacientes, 10 eram do gênero feminino e 6 do gênero masculino, a idade variou dos 18 aos 40 anos e a idade média foi de 26,96 anos. Após ter recebido osteotomia Le Fort I, o controle intraoperatório das dimensões anteroposteriores e transversais da maxila foi realizado pela fixação do guia cirúrgico intermediário entre ela e a mandíbula não operada. A dimensão vertical da maxila foi controlada por medições realizadas por paquímetro entre um fio de Kirschner com ponta fixado no násio, sem incisão (ponto de referência externo) e um ponto no braquete ortodôntico de um incisivo central superior (Figura 1). Assim, a fixação interna se deu por 4 miniplacas de titânio em forma de L ou T, adaptadas ao osso e fixadas por parafusos do sistema 2,0mm. A mandíbula foi então osteotomizada bilateralmente pela técnica sagital do ramo. Um guia cirúrgico final foi utilizado para posicionar a mandíbula, criando a relação maxilomandibular. A osteossíntese mandibular foi realizada com um método híbrido, utilizando 1 ou 2 miniplacas retas do sistema 2,0mm, devidamente adaptadas ao contorno ósseo, fixadas por parafusos monocorticais e 1 ou 2 parafusos bicorticais na região retromolar. 31 Figura 1 – Controle da dimensão vertical da maxila Fonte: Autoria própria O Grupo 2 foi constituído de pacientes onde a sequência operatória foi alterada, sendo que a mandíbula foi reposicionada primeiro quea maxila. Foi utilizada a mesma forma de aferição da posição vertical da maxila. Dos 16 pacientes, 9 eram do gênero feminino e 7 do gênero masculino, sendo que a idade variou dos 17 aos 51 anos e a idade média foi de 27,81 anos. A mandíbula foi osteotomizada primeiro e reposicionada por meio do guia intermediário fixado na maxila ainda não operada, recebendo os mesmos métodos de fixação do primeiro grupo. O guia intermediário era removido, a maxila recebia corticotomia tipo Le Fort I, sua nova posição com a melhor relação oclusal com a mandíbula previamente posicionada era controlada por guia cirúrgico final, sendo realizada a osteossíntese com o mesmo método descrito para o primeiro grupo. 4.5 Planejamento cirúrgico O planejamento cirúrgico envolveu os seguintes materiais, para todos os pacientes: telerradiografias laterais, o software Dolphin Versão 10.7 (Dolphin 32 Imaging Management Solutions, Chatswoth, CA, USA), arco facial e articulador semi-ajustável (Arcon Bio-Art, São Carlos, SP, Brasil), modelos de gesso dos arcos dentários e Plataforma de Erickson (Rocky Mountain Orthodontics, Denver, CO, USA). As referências cefalométricas para preparação e sobreposição dos traçados, conforme definição de Vedovello Filho23, foram: 1) Ponto Sela (S) - Centro do contorno ósseo da sela túrcica. 2) Násio (N) - Ponto mais anterior da sutura frontonasal no plano sagital. 3) Osso frontal. 4) Ossos nasais. Os pontos cefalométricos considerados para verificar as alterações de posição da maxila foram: 1) Espinha nasal anterior (ENA) - Ponto mais anterior da maxila. 2) Espinha nasal posterior (ENP) - Ponto mais posterior da maxila. 3) Ponto Subespinhal (A) - Ponto mais profundo da concavidade anterior da maxila. 4) Incisal do incisivo central superior (IIS). 5) 6S Oclusal - Cúspide mesiovestibular do primeiro molar superior Na mandíbula serão considerados os pontos: 1) Incisal do incisivo central inferior (III) 2) Pogônio (Pg) 3) Ponto B 4) 6I Oclusal - Cúspide mesiovestibular do primeiro molar inferior Foram localizados em duplicata por dois examinadores independentemente os pontos de cada cefalograma. Quando as divergências foram superiores a 0,5° e 0,5mm, duas novas medidas foram tomadas. 33 Utilizando o aplicativo Dolphin, foi traçado sobre a telerradiografia lateral um cefalograma das estruturas anatômicas do esqueleto facial incluindo basicamente os ossos frontal, nasal, basal do crânio, meato acústico, mandíbula, maxila, incisivos centrais superior e inferior, primeiros molares e contorno orbitário, assim como o perfil tegumentar (Figura 2). Figura 2 – Cefalograma das estruturas anatômicas do esqueleto facial Fonte: Autoria própria Os modelos de gesso com registro oclusal foram montados no articulador semi-ajustável à partir do arco facial tomado para cada paciente, tentando reproduzir ao máximo a posição da maxila em relação à base do crânio e a relação oclusal. Independente do grupo a que pertencia, foram montados para cada caso dois modelos de gesso do arco superior e dois modelos de gesso do arco inferior devidamente recortados e refinados para receber linhas de formação de quadrantes e anotações das medidas realizadas na Plataforma de Erickson (Figura 3). 34 Figura 3 – Modelos de gesso no articulador semi-ajustável Fonte: Autoria própria O plano de tratamento foi determinado após avaliação clínica, radiográfica e dos modelos de gesso. Na primeira etapa do planejamento cirúrgico, foi realizada a simulação bidimensional sobre o cefalograma realizado previamente com o software Dolphin (Figura 4). Entre as principais referências para essa simulação foram considerados: (1) o ajuste da relação oclusal e seu novo ângulo formado com o Plano de Frankfurt; (2) a relação da incisal do incisivo central superior direito com o estomio do lábio superior; (3) a manutenção do côndilo dentro da fossa articular, evitando seu deslocamento; (4) interferência interna no ramo mandibular; (5) o grau de alteração do ângulo mandibular; (6) a nova posição do pogônio; (7) a relação entre os lábios; (8) a quantificação da amplitude do movimento dento-esquelético; e (9) o deslocamento da espinha nasal posterior (Figura 5). 35 Figura 4 – Simulação bidimensional do cefalograma Fonte: Autoria própria Figura 5 – Referências para simulação bidimensional Fonte: Autoria própria Na segunda etapa, a cirurgia de modelos foi realizada da forma tradicional para os dois grupos. Utilizando um par de modelos de gesso originais de cada caso, foram marcadas e utilizadas como referência para medidas verticais na Plataforma de Erickson as cúspides mesio-vestibulares 36 dos primeiros molares, as cúspides dos caninos e a incisal do incisivo central direito (Figura 6). A medida anteroposterior (profundidade) foi tomada a partir do incisivo central e as medidas transversais foram tomadas a partir do incisivo central direito e das cúspides mesio-vestibulares dos primeiros molares (Figura 7). O outro par de modelos de cada caso foi mantido intacto para avaliar as oclusões intermediárias e confecção dos guias intermediários (Figura 8). Os dados de referência da simulação bidimensional foram transferidos pela plataforma de Erickson para realizar a cirurgia de modelos no articulador semi- ajustável, reposicionando primeiro a maxila e depois a mandíbula para os dois grupos (Figura 9). Para o grupo de pacientes nos quais o procedimento cirúrgico iniciou-se pela maxila, o modelo da mandíbula mantido intacto foi posicionado no articulador para confecção do guia intermediário (Figura 10). Para o grupo de pacientes que recebeu o procedimento mandibular inicialmente, a mesma sequência foi utilizada no articulador, porém retornando o modelo não operado da maxila, de modo a confeccionar o guia cirúrgico intermediário nessa posição (Figura 11). As medidas obtidas foram anotadas diretamente nos modelos de gesso e também no prontuário eletrônico de cada paciente. Figura 6 – Cúspides de referencia para medidas verticais na Plataforma de Erickson Fonte: Autoria própria 37 Figuras 7 – A, medida anteroposterior. B, Medidas transversais Fonte: Autoria própria Figura 8 – Modelos originais mantidos intactos Fonte: Autoria própria 38 Figura 9 – A, reposicionamento do modelo superior. B, reposicionamento do modelo inferior Fonte: Autoria própria Figura 10 – Relação de oclusão para iniciar a cirurgia pela maxila Fonte: Autoria própria 39 Figura 11 – Relação de oclusão para iniciar a cirurgia pela mandíbula Fonte: Autoria própria Os pacientes receberam o acompanhamento pós-operatório de rotina, que inclui uma telerradiografia lateral de controle, realizada nos primeiros trinta dias de pós-operatório. Para verificar a precisão das duas diferentes sequências de cirurgia bimaxilar, foi realizado um cefalograma sobre a telerradiografia de controle semelhante ao do período pré-operatório. Foram comparados os traçados de previsão cefalométrica (Pr) e o traçado pós-operatório (Po) para cada paciente. Para tanto, esses traçados foram superpostos (Figura 12). As posições vertical e horizontal de cada ponto considerado foram analisadas comparativamente, de tal forma a verificar se o planejamento cirúrgico foi reproduzido clinicamente e se houve diferença na precisão obtida entre as duas sequências cirúrgicas. As marcações dos pontos e mensurações foram realizadas duas vezes para que o erro do método pudesse ser calculado. Os dados foram tabulados e analisados estatisticamente. 40 Figura 12 – Sobreposição dos traçados de previsão cefalométrica (Pr) e pós- operatório (Po) Fonte: Autoria própria 4.6 Análise estatística A metodologia empregada utilizou os valores das coordenadas cartesianas (X - horizontale Y – vertical) dos pontos anatômicos medidos nos traçados de previsão e nas telerradiografias obtidas após a cirurgia. O ponto de intersecção dos eixos cartesianos foi determinado no ponto Sela (S) representado pela coordenada (X=0 e Y=0). A análise estatística inferencial dos dados avaliou as seguintes hipóteses nulas: • Não há diferença significativa entre os resultados obtidos após a cirurgia e o traçado de previsão para os pacientes nos quais a cirurgia inicia-se pela maxila (Grupo 1); • Não há diferença significativa entre os resultados obtidos após a cirurgia e o traçado de previsão para os pacientes nos quais a cirurgia inicia-se pela mandíbula (Grupo 2); 41 • Não há diferença significativa nos “erros de previsão” entre os grupos 1 e 2. A reprodutibilidade do método foi avaliada utilizando 32 radiografias selecionadas aleatoriamente e analisadas em duplicata pelo mesmo examinador com um intervalo de 30 dias entre as medidas. O erro casual foi obtido através da fórmula de Dahlberg ( ; o coeficiente de correlação intraclasse (CCI) foi utilizado para determinação da concordância intra-examinador. A estatística descritiva foi apresentada na forma de média, desvio padrão, mediana, valor mínimo e máximo para os grupos 1 e 2 no traçado de previsão (T1) e no resultado obtidos após a cirurgia (T2). O teste de Shapiro-Wilk e a análise de assimetria e curtose foram utilizados para determinação da normalidade dos dados. As diferenças entre as medidas planejadas no traçado de previsão (T1) e as obtidas após a cirurgia (T2) foram analisadas pelo teste t de Student para amostras pareadas e pelo teste de Wilcoxon, para os dados com distribuição não normal, para os grupos 1 e 2. As diferenças intergrupos foram determinadas pelo teste t de Student e pelo teste de Mann-Whitney, para as variáveis não paramétricas. A análise dos dados foi realizada com o software SPSS 16.0 (SPSS, Chicago, IL, USA), considerando o nível de significância de 5% (α = 0,05). 42 5 RESULTADO Os resultados das análises do erro de método mostraram que o erro casual variou entre 0,46 e 1,68mm para as medidas no eixo horizontal e entre 0,20 e 1,26mm para medidas no eixo vertical. Observou-se excelente reprodutibilidade intra-examinador entre as duas medições com CCI variando entre 0,927 e 0,998 (Tabela 1). As Tabelas 2 e 3 apresentam as medidas descritivas das variáveis analisadas no traçado de previsão e nos resultados pós-cirúrgicos, respectivamente. Não se observou diferença significativa entre os Grupos 1 e 2 nos valores do traçado de previsão (Tabela 2). No entanto, foi observada diferença nas medidas horizontal e vertical para a espinha nasal posterior (ENP) quando avaliadas após a cirurgia (Tabela 3). A diferença entre o valor obtido após a cirurgia e o valor previsto no traçado de previsão, para os pacientes do Grupo 1, foi significativa para as variáveis cúspide mesiovestibular do primeiro molar inferior (6i Oclusal) e cúspide mesiovestibular do primeiro molar superior (6S Oclusal) no sentido horizontal, sugerindo que, para estas variáveis, os resultados pós-cirúrgicos apresentaram um deslocamento anterior maior que o previsto. No sentido vertical, foi observada diferença significativa para as variáveis da incisal do incisivo central inferior (III) e ENP, sugerindo que a variável III apresentou movimento para cima em média 1,13 mm menor que o previsto, ao passo que a espinha nasal posterior (ENP) apresentou uma suspensão média de 1,68 mm maior que a prevista (Tabela 4). 43 Tabela 1 - Análise da reprodutibilidade do método Eixo Variável Diferença entre as medições (mm) IC 95% Erro casual (Dahlberg) CCI Média EP Limite inferior Limite superior Horizontal Ponto A -0,07 0,14 -0,36 0,22 0,57 0,989 ENA -0,27 0,42 -1,14 0,59 1,68 0,927 Ponto B 0,21 0,15 -0,09 0,51 0,59 0,995 III -0,07 0,13 -0,34 0,19 0,52 0,996 6i Oclusal 0,07 0,11 -0,16 0,30 0,45 0,996 ENP 0,13 0,22 -0,31 0,58 0,87 0,943 Pogônio 0,05 0,12 -0,19 0,30 0,47 0,998 IIS 0,47 0,12 -0,19 0,28 0,46 0,995 6S Oclusal 0,04 0,12 -0,21 0,30 0,49 0,990 Vertical Ponto A -0,08 0,07 -0,24 0,07 0,31 0,996 ENA -0,10 0,07 -0,25 0,04 0,29 0,997 Ponto B 0,31 0,26 -0,23 0,84 1,06 0,982 III -0,08 0,10 -0,29 0,13 0,41 0,996 6i Oclusal -0,11 0,08 -0,27 0,05 0,32 0,997 ENP -0,11 0,05 -0,20 -0,01 0,20 0,997 Pogônio -0,35 0,12 -0,60 -0,09 0,55 0,996 IIS -0,08 0,11 -0,30 0,14 0,44 0,994 6S Oclusal -0,10 0,08 -0,27 0,06 0,34 0,996 * Média e erro padrão das diferenças entre a primeira e segunda medição, intervalo de 95% de confiança para a diferença entre as medições, erro causal (Dahlberg) e coeficiente de correlação intraclasse (CCI) para as coordenadas horizontal e vertical das variáveis analisadas. Fonte: Elaboração própria 44 Tabela 2 - Medidas descritivas das coordenadas horizontal e vertical das variáveis obtidas a partir dos traçados de previsão para os Grupos 1 e 2 Eixo Grupo 1 Grupo 2 p Variável Média ± DP Mediana Min Máx Média ± DP Mediana Min Máx Horizontal Ponto A 71,50 ± 3,75 71,35 65,8 77,5 69,18 ± 5,37 69,50 57,2 76,9 0,167 ENA 76,62 ± 4,94 75,20 69,1 85,5 73,22 ± 5,81 73,20 61,2 82,9 0,085 Ponto B 66,49 ± 5,08 66,95 54,2 74,1 68,08 ± 7,95 66,80 57,3 85,1 0,505 III 74,09 ± 4,49 74,55 64,6 81,7 72,47 ± 7,08 70,55 59,3 84,3 0,446 6i Oclusal 46,02 ± 4,50 46,15 36,1 53,2 44,85 ± 6,36 43,25 35,2 55,5 0,553 ENP 23,82 ± 3,09 24,10 18,7 28,7 21,98 ± 3,99 22,55 15,2 30,2 0,156 Pogônio 68,22 ± 4,97 68,25 57,7 75,5 70,62 ± 8,55 69,90 59,3 88,9 0,338 IIS 77,10 ± 4,66 78,05 67,4 84,4 75,24 ± 7,47 73,50 61,2 87,6 0,403 6S Oclusal 45,49 ± 4,67 45,90 33,8 52,9 44,35 ± 5,55 42,75 36,8 57,9 0,536 Vertical Ponto A -45,39 ± 6,28 -45,75 -56,5 -33,8 -46,28 ± 5,58 -45,55 -56,5 -38,7 0,674 ENA -38,00 ± 6,39 -38,55 -47,5 -24,3 -39,30 ± 5,97 -38,85 -52,2 -32,1 0,559 Ponto B -85,47 ± 7,68 -85,15 -102,7 -74,5 -87,05 ± 0,05 -86,80 -108,4 -69,7 0,598 III -67,30 ± 6,93 -66,10 -80,9 -55,9 -68,36 ± 6,65 -67,75 -81,1 -57,6 0,661 6i Oclusal -65,85 ± 6,00 -65,30 -78,2 -58,6 -67,46 ± 6,14 -66,85 -78,3 -56,3 0,460 ENP -42,12 ± 3,48 -41,95 -48,5 -36,5 -44,27 ± 4,11 -43,55 -51,8 -37,1 0,121 Pogônio -100,53 ± 8,91 -97,00 -119,2 -90,5 -100,14 ± 9,62 -98,90 -117,1 -82,6 0,905 IIS -70,27 ± 6,73 -69,50 -82,9 -59,0 -70,71 ± 7,20 -70,30 -82,7 -58,4 0,860 6S Oclusal -65,39 ± 6,08 -64,95 -77,8 -57,7 -67,08 ± 6,10 -66,45 -76,8 -55,8 0,440 Fonte: Elaboração própria 45 Tabela 3 - Medidas descritivas das coordenadas horizontal e vertical das variáveis obtidas a partir dos traçados pós-cirúrgicos para os Grupos 1 e 2 Eixo Grupo 1 Grupo 2 p Variável Média ± DP Mediana Min Máx Média ± DP Mediana Min Máx Horizontal Ponto A 72,54 ± 3,49 73,10 65,4 78,6 69,21 ± 5,96 68,65 58,2 79,9 0,066 ENA 77,10 ± 4,52 76,55 69,9 84,3 73,68 ± 7,27 72,70 58,9 90,3 0,121 Ponto B 65,80 ± 5,24 65,90 53,3 73,4 66,38 ± 8,96 66,20 54,8 86,5 0,823 III 74,19 ± 4,34 74,30 63,9 80,9 71,95 ± 7,81 70,65 57,9 86,3 0,328 6i Oclusal 47,77 ± 3,97 47,45 39,6 55,3 45,85 ± 7,15 44,50 34,4 61,8 0,292 ENP 23,70 ± 3,34 24,15 16,7 30,5 21,78 ± 3,71 21,60 15,2 33,1 0,042† Pogônio 67,26 ± 5,24 67,15 55,1 74,4 68,39 ± 9,82 68,20 55,9 90,8 0,686 IIS 76,76 ± 4,72 77,40 65,7 84,3 74,43 ± 7,90 73,55 59,9 87,8 0,319 6S Oclusal 46,96 ± 4,25 46,95 38,5 52,8 44,82 ± 6,16 44,30 36,9 60,0 0,261 Vertical Ponto A -45,64 ± 6,38 -46,40 -56,2 -32,2 -48,40 ± 5,90 -46,95 -58,7 -38,9 0,213 ENA -39,00 ± 5,90 -39,25 -50,4 -26,7 -40,58 ± 6,60 -39,90 -54,3 -31,3 0,482 Ponto B -86,04 ± 7,44 -85,45 -99,1 -75,7 -88,72 ± 9,44 -86,85 -111,1 -71,2 0,381 III -68,43 ± 6,63 -67,85 -78,8 -57,8 -70,29 ± 7,24 -68,60 -85,6 -57,9 0,456 6i Oclusal -65,73 ± 5,98 -63,90 -76,8 -58,1 -68,44 ± 6,40 -68,15 -80,4 -55,8 0,226 ENP -40,44 ± 2,70 -40,50 -45,1 -36,2 -43,26± 4,13 -43,85 -49,2 -35,6 0,030 Pogônio -98,09 ± 7,61 -98,40 -109,7 -81,7 -100,76 ± 11,07 -100,65 -125,0 -79,7 0,433 IIS -70,19 ± 6,64 -68,90 -80,2 -58,0 -71,74 ± 7,49 -70,25 -86,5 -59,1 0,541 6S Oclusal -65,19 ± 6,07 -63,80 -76,2 -57,3 -67,61 ± 6,27 -66,90 -78,1 -55,9 0,275 † Teste não paramétrico de Mann-Whitney Fonte: Elaboração própria 46 Tabela 4 - Média, erro padrão e intervalo de 95% de confiança da diferença entre os valores pós-cirúrgicos e os valores de previsão nos eixos horizontal e vertical para as variáveis do Grupo 1 (n=16) Eixo T2 – T1 IC95% p Variável Média ± EP Limite inferior Limite superior Horizontal Ponto A 1,04 ± 0,56 -0,15 2,23 0,082 ENA 0,48 ± 0,80 -1,23 2,19 0,558 Ponto B -0,69 ± 0,39 -1,52 0,14 0,096 III 0,10 ± 0,28 -0,51 0,70 0,746 6i Oclusal 1,75 ± 0,46 0,77 2,74 0,002 ENP -0,12 ± 0,67 -1,54 1,30 0,861 Pogônio -0,96 ± 0,59 -2,22 0,30 0,125 IIS -0,34 ± 0,25 -0,89 0,21 0,203 6S Oclusal 1,48 ± 0,44 0,53 2,43 0,005 Vertical Ponto A -0,25 ± 0,57 -1,46 0,96 0,665 ENA -1,00 ± 0,52 -2,11 0,11 0,075 Ponto B -0,57 ± 0,67 -2,00 0,85 0,365† III -1,13 ± 0,32 -1,81 -0,45 0,003 6i Oclusal 0,12 ± 0,27 -0,46 0,69 0,532† ENP 1,68 ± 0,48 0,65 2,71 0,003 Pogônio 2,44 ± 1,15 -0,01 4,89 0,051 IIS 0,08 ± 0,33 -0,62 0,78 0,823 6S Oclusal 0,20 ± 0,28 -0,39 0,80 0,473 Valores em negritos são considerados significativos (p<0,05). †Teste não paramétrico de Wilcoxon. T2-T1 = Diferença entre os valores pós-cirúrgicos (T2) e os valores de previsão (T1); No sentido horizontal, valores positivos indicam um avanço cirúrgico maior que o previsto no traçados de previsão. No sentido vertical, valores positivos indicam deslocamento superior maior que o previsto no traçados de previsão. Fonte: Elaboração própria 47 Para os pacientes cuja cirurgia se iniciou pela mandíbula (Grupo 2), a diferença entre os valores pós-cirúrgicos e os valores de previsão foi significativa para as variáveis Ponto B, Pogônio (Pg) e IIS no sentido horizontal. O posicionamento horizontal do Ponto B, do Pg e da incisal do incisivo superior (IIS) indicaram um deslocamento anterior menor do que o planejado, apresentando diferenças médias de 1,70 mm, 2,23 mm e 0,81 mm, respectivamente. No entanto, as maiores diferenças, para este Grupo, foram observadas no sentido vertical, no qual as variáveis Ponto A, ENA, Ponto B, III, 6i Oclusal, ENP e IIS apresentaram diferença entre os valores obtidos e os previstos, com deslocamento superior menor que os valores previstos. Com exceção da variável ENP, que apresentou deslocamento superior 1,01 mm maior que a prevista (Tabela 5). A Tabela 6 apresenta os resultados da comparação entre as diferenças das médias do Grupo 1 e 2. Os resultados apresentados nesta tabela mostram que as diferenças dos erros de previsão (T2-T1) entre os dois Grupos são significativas apenas para as variáveis Ponto A, 6i Oclusal, Pg e IIS quando avaliadas no sentido vertical. Desta forma o erro de previsão para a variável Ponto A, 6i Oclusal e IIS no sentido vertical, foi maior para o Grupo 2 quando comparado ao Grupo 1, no entanto o erro de previsão no sentido vertical para o Pg foi menor quando a cirurgia foi iniciada pela mandíbula. As alterações horizontais das variáveis analisadas não apresentaram diferença significativa entre os dois Grupos (Tabela 6). Os Gráficos 1 e 2 apresentam respectivamente as alterações horizontais e verticais das diferenças médias entre os valores obtidos e previstos para as variáveis dos Grupos 1 e 2. 48 Tabela 5 - Média, erro padrão e intervalo de 95% de confiança da diferença entre os valores pós-cirúrgicos e os valores de previsão nos eixos horizontal e vertical para as variáveis do Grupo 2 (n=16) Eixo T2 – T1 IC(95%) p Variável Média ± EP Limite inferior Limite superior Horizontal Ponto A 0,03 ± 0,63 -1,31 1,37 0,756† ENA 0,46 ± 1,19 -2,08 2,99 0,485† Ponto B -1,70 ± 0,41 -2,56 -0,83 0,001 III -0,52 ± 0,29 -1,14 0,10 0,096 6i Oclusal 0,73 ± 0,55 -0,45 1,91 0,209 ENP -0,20 ± 0,62 -1,53 1,13 0,753 Pogônio -2,23 ± 0,53 -3,36 -1,09 0,001 IIS -0,81 ± 0,19 -1,21 -0,39 0,001 6S Oclusal 0,47 ± 0,54 -0,69 1,64 0,398 Vertical Ponto A -2,12 ± 0,46 -3,10 -1,14 <0,001 ENA -1,28 ± 0,43 -2,19 -0,37 0,009 Ponto B -1,67 ± 0,56 -2,85 -0,48 0,010† III -1,92 ± 0,36 -2,70 -1,14 <0,001 6i Oclusal -0,98 ± 0,30 -1,63 -0,33 0,006 ENP 1,01 ± 0,42 0,12 1,90 0,029 Pogônio -0,62 ± 0,95 -2,65 1,41 0,526 IIS -1,03 ± 0,34 -1,76 -0,32 0,008 6S Oclusal -0,53 ± 0,29 -1,16 0,09 0,091 Valores em negritos são considerados significativos (p<0,05). †Teste não paramétrico de Wilcoxon. T2-T1 = Diferença entre os valores pós-cirúrgicos (T2) e os valores previstos (T1); No sentido horizontal, valores positivos indicam um avanço cirúrgico maior que o previsto no traçado de previsão. No sentido vertical, valores positivos indicam deslocamento superior maior que o previsto no traçado de previsão. Fonte: Elaboração própria 49 Tabela 6 - Média, erro padrão e intervalo de 95% de confiança dos erros de previsão entre os Grupos 1 e 2 Eixo Diferença Grupo 1 e Grupo2 IC (95%) p Variável Média ± EP Limite inferior Limite superior Horizontal Ponto A 1,01 ± 0,84 -0,71 2,73 0,097† ENA 0,02 ± 1,43 -2,90 2,96 0,970† Ponto B 1,01 ± 0,56 -0,14 2,15 0,084 III 0,61 ± 0,40 -0,22 1,44 0,143 6i Oclusal 1,02 ± 0,72 -0,45 2,50 0,167 ENP 0,08 ± 0,91 -1,78 1,94 0,930 Pogônio 1,27 ± 0,80 -0,36 2,89 0,122 IIS 0,46 ± 0,32 -0,19 1,12 0,161 6S Oclusal 1,00 ± 0,70 -0,43 2,44 0,164 Vertical Ponto A 1,87 ± 0,73 0,38 3,36 0,016 ENA 0,28 ± 0,67 -1,09 1,65 0,679 Ponto B 1,10 ± 0,87 -0,68 2,88 0,181† III 0,79 ± 0,48 -0,20 1,78 0,113 6i Oclusal 1,10 ± 0,41 0,27 1,93 0,015† ENP 0,67 ± 0,64 -0,64 1,97 0,304 Pogônio 3,06 ± 1,49 0,01 6,11 0,049 IIS 1,11 ± 0,47 0,15 2,07 0,025 6S Oclusal 0,74 ± 0,40 -0,09 1,56 0,079 Valores em negritos são considerados significativos (p<0,05). † Teste não paramétrico de Mann-Whitney. Fonte: Elaboração própria 50 Gráfico 1 - Alterações horizontais das diferenças médias entre os valores obtidos e previstos para as variáveis dos Grupos 1 e 2. A linha zero corresponde ao valor previsto Fonte: Elaboração própria Gráfico 2 - Alterações verticais das diferenças médias entre os valores obtidos e previstos para as variáveis dos Grupos 1 e 2. A linha zero corresponde ao valor previsto Fonte: Elaboração própria 51 6 DISCUSSÃO A cirurgia ortognática bimaxilar é um método reconhecido, necessário e frequentemente utilizado para tratar deformidades faciais dento-esqueléticas de todos os tipos de oclusão e padrão esquelético. A sequência operatória clássica consiste em reposicionar a maxila primeiro, utilizando a mandíbula não operada como guia. Nesse caso, a mandíbula será reposicionada depois, sendo sua posição final guiada pela maxila já reposicionada. Essa sequência era a única possível quando a osteossíntese dos segmentos era realizada por meio de fios de aço, já que a mandíbula assim fixada não apresentava estabilidade suficiente para ser utilizada como guia da posição maxilar. Com o desenvolvimento da fixação funcionalmente estável, por meio de placas e/ou parafusos, popularmente conhecida como fixação interna estável, a sequência operatória inversa passou a ser viável. Neste caso, a mandíbula é reposicionada primeiro, tendo a maxila não operada como guia. A maxila é, então, reposicionada depois, utilizando a mandíbula, que já recebeu osteossíntese, como guia. Ao escolher esta sequência, o cirurgião deverá ter experiência suficiente para tratar possível intercorrência como por exemplo uma fratura indesejada da mandíbula. Nesses casos, se a fratura for cominutiva, é possível que ela tenha que ser reparada e a cirurgia ortognática adiada para outro tempooperatório6. A alteração da sequência cirúrgica não é um conceito recente. Iniciar a cirurgia bimaxilar pela mandíbula já havia sido descrito, quando a mandíbula era fixada por parafusos bicorticais, e a maxila fixada por meio de suspensões com fios de aço14. Essa técnica exigia fixação intermaxilar, mas permitia ajustes na posição maxilar. Evitava-se a fixação estável da maxila, naquela época, com placas e parafusos, pela falta de domínio sobre esse material. Esse era o motivo fundamental pelo qual os autores iniciavam a cirurgia pela mandíbula, que podiam fixar de forma estável, não havendo nenhuma relação com os argumentos atuais. No entanto, já era demonstrada a possibilidade técnica de iniciar a cirurgia bimaxilar pela mandíbula, por meio de fixação estável. O advento da fixação interna estável foi o que permitiu a mudança na sequência clássica da cirurgia ortognática bimaxilar9. 52 Quando a cirurgia bimaxilar exige segmentação da maxila, iniciar a cirurgia pela mandíbula diminui o tempo de trabalho no laboratório por não haver a necessidade de realizar dois guias cirúrgicos considerando que a maxila segmentada é posicionada diretamente sobre os dentes da mandíbula já operada. Isso resulta em uma oclusão mais precisa e elimina o risco de deslocar a maxila já fixada, durante a separação das osteotomias mandibulares e osteossíntese6. Portanto, somente na década de 1990 é que o método de iniciar a cirurgia pela mandíbula começou a ganhar destaque. Em nosso meio, no Brasil, esse método passou a ser mais frequentemente praticado nos últimos 10 a 15 anos. A partir daí, há controvérsia significativa, principalmente sobre qual método oferece mais exatidão no reposicionamento condilar, maior precisão e melhores resultados estéticos. Entretanto, além da familiaridade do cirurgião com a técnica que utiliza, na dependência de como foi seu treinamento e de sua preferência pessoal, a revisão da literatura em inglês mostra que há muito pouca informação objetiva sobre o assunto. Isso motivou a realização deste trabalho. A escolha de realizar o estudo com pacientes que receberam correção de excesso maxilar vertical como parte de seu planejamento foi feita porque, quando os reposicionamentos são puramente anteroposteriores, é de se esperar que a sequência operatória influencie menos o resultado final. O componente estético do tratamento é de extrema importância15. A quantidade de mudança estética desejada pelo paciente pode alterar dramaticamente o plano de tratamento12. A melhor oclusão não satisfará um paciente que está infeliz com o resultado estético12,15. A maioria dos pacientes com má oclusão e deformidade esquelética não apresentam somente distúrbios funcionais, mas também são em geral muito perturbados com sua aparência externa10. É importante ressaltar que, no caso dos pacientes incluídos no estudo, a queixa principal era sempre levada em consideração. No entanto, isso não era perguntado diretamente a ele e muito menos na sua primeira avaliação, mas muitos acabavam apresentando essa queixa espontaneamente nessa ocasião. Independente do momento e se já haviam ou não recebido alguma instrução, 53 eram orientados ao máximo sobre as alterações funcionais e estéticas que poderiam ocorrer, assim como os riscos do procedimento. Inicialmente, a relação dos pacientes e familiares com o problema era bastante superficial. Ao retornarem para informar a decisão tomada em relação ao tratamento, o entusiasmo e o foco haviam, em geral, mudado. Na nossa revisão da literatura, somente um autor referiu não utilizar o guia intermediário. Após revisar 742 casos de cirurgias bimaxilares realizadas com a sequencia clássica, julgou que o uso do guia intermediário para reposicionar a maxila primeiro não era necessário. Entre as razões para não usar o guia intermediário, apontou distorções desde a tomada do arco facial até o comportamento do acrílico usado para confeccionar o guia13. Nos pacientes incluídos nesse estudo foram utilizados guias intermediário e final. Em relação ao arco facial, muito se sabe a respeito das suas deficiências e como evitá-las. As distorções dos materiais são avaliadas em tudo que se produz e são previamente conhecidas, mantendo-se dentro de normas aceitas para não haver prejuízo do seu emprego. Realmente a construção de guias cirúrgicos toma tempo. Entretanto, é preferível confeccionar guias intermediários do que reoperar um paciente devido a imprecisão do resultado. Se o raciocínio for que deslocamentos condilares não diagnosticados ou mordidas imprecisas serão incorporadas no guia intermediário, pode ser essa uma boa oportunidade para iniciar a cirurgia pela mandíbula, mas aí o uso de guia intermediário será imperativo. Ellis9 (1999) realizou uma discussão muito pertinente sobre a habilidade do cirurgião em reproduzir o plano de tratamento na sala de operações. Independentemente de qual maxilar é reposicionado primeiro, é imperativo que seja reposicionado precisamente porque, uma vez estabilizado, torna-se a referência para o outro maxilar. Assim, é necessário o uso de um guia cirúrgico intermediário. Em todos os casos incluídos neste estudo isso foi realizado, com toda a prudência exigida pela técnica, independentemente de qual fosse a sequência operatória. Tentar posicionar qualquer um dos maxilares primeiro, durante a cirurgia, sem a referência do maxilar oposto usando um guia cirúrgico é de extrema dificuldade e risco. Usar um guia intermediário, para ajudar a 54 posicionar a maxila ou mandíbula, não só fornece uma posição anteroposterior e mediolateral adequada, mas também permite orientação nos três eixos (sagital, coronal e axial) deixando a “adivinhação” fora da cirurgia. A confiabilidade na sobreposição convencional de traçados depende em grande parte da exata identificação dos pontos cefalométricos e das estruturas anatômicas utilizadas no processo de sobreposição16. O método selecionado para realizar o traçado para comparação foi escolhido por nós por duas razões. Primeiro, a sobreposição da linha sela-násio é provavelmente o método de escolha entre a maioria dos ortodontistas e cirurgiões. Segundo, nenhum outro método tem demonstrado de forma convincente oferecer melhor precisão. No software utilizado, assim é realizada a sobreposição dos traçados. A tentativa de sobrepor o traçado anatômico da sela e da região frontonasal dos traçados digitalizados seria muito imprecisa, porque elas correspondem a um desenho feito pelo próprio programa. Cumpre salientar que a determinação das coordenadas dos pontos considerados é calculada pelo programa tomando por base os eixos cartesianos x e y passando pelo ponto Sela. Os resultados demostraram a boa reprodutibilidade do método na determinação dos pontos cefalométricos considerados. O erro casual foi baixo e a reprodutibilidade intra- examinador foi alta. Porém, a cirurgia de modelos não foi realizada como descrito por Cottrell et al.6, que transferiram as medidas diretamente dos traçados de previsão para o articulador, posicionando diretamente a mandíbula para construção do guia intermediário. Neste trabalho, a cirurgia de modelos, independentemente da sequência operatória a ser utilizada, foi iniciada pelo reposicionamento maxilar. Nos casos em que a cirurgia seria iniciada pela mandíbula, um modelo maxilar não operado voltava para o articulador sobre a mandíbula reposicionada, para permitir a confecção de guia intermediário. Isso foi feito para tornar mais padronizada a cirurgia de modelos dos dois grupos e porque julgamos que assim é possível obter maior precisão. Isso porque torna-se mais fácil realizar no modelo o reposicionamento superior, por eliminar a barreira física da maxila, do que tentar reposicionar a mandíbula sem alterar a posição do modelo maxilar. 55 A comparação dos traçados preditivos
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