Buscar

09 - NEUROSES E PSICOSES MODULO 2

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Página 1 de 50 
 
NEUROSES & PSICOSES 
 
A palavra "neurótico", da maneira como costuma ser usada hoje, tem sentido 
impróprio e pode ser ofensivo ou pejorativo. Pessoas que não entendem nada dessa 
parte da medicina podem usar a palavra "neurose" como sinônimo de "loucura". 
Mas isso não é verdade, de forma alguma. 
 
Trata-se de uma reação exagerada do sistema psíquico em relação a uma 
experiência vivida (Reação Vivencial). Neurose é uma maneira da pessoa SER e de 
reagir à vida. A pessoa É neurótica e não ESTÁ neurótica . 
 
Essa maneira de ser neurótica significa que a pessoa reage à vida através de 
reações vivenciais não normais; seja no sentido dessas reações serem 
desproporcionais, seja pelo fato de serem muito duradouras, seja pelo fato delas 
existirem mesmo que não exista uma causa vivencial aparente. 
 
Essa maneira exagerada de reagir leva a pessoa neurótica a adotar uma serie de 
comportamentos (evita lugares, faz atitudes para alívio da ansiedade... etc). O 
neurótico, tem plena consciência do seu problema e, muitas vezes, sente-se 
impotente para modificá-lo. 
 
Para Freud, a neurose resultaria de um conflito entre duas forças antagônicas, um 
desejo de prazer (pulsão) e o medo de punição (moral e social). O Dicionário de 
Psiquiatria, editado no site do Hospital das Clínicas da USP e organizado pelo Dr. 
Hélio Elkis diz o seguinte: 
 
"A palavra neurose foi criada pelo médico escocês Wiliam Cullen no fim do século 
18, para designar distúrbios das sensações e movimentação corporal, sem uma 
lesão anatômica correspondente na rede nervosa. 
 
No início do século 20 o termo popularizou-se graças à difusão das idéias de Freud 
e da Psicanálise, significando conjuntos de sintomas resultantes principalmente de 
conflitos psicológicos e recalques inconscientes. 
 
Este conceito prevaleceu na Psiquiatria até a década de 60, em que os transtornos 
mentais eram distribuídos em dois grandes grupos: psicoses e neuroses. Às 
psicoses, consideradas doenças mentais mais graves, atribuíam-se causas 
orgânicas ou funcionais; as neuroses, tidas como menos graves, teriam origem nos 
conflitos emocionais e traumas psicológicos. 
Página 2 de 50 
 
 
 
 
As pesquisas das últimas décadas mostraram que esta distinção não se sustenta; 
nas neuroses, embora os eventos vitais tenham capital importância, mecanismos 
químicos de neurotransmissão participam, também, da produção e manutenção dos 
sintomas, e os fatores genéticos são igualmente significativos. Considera-se que, 
nas neuroses, a autodeterminação e capacidade de discernimento não são afetadas 
seriamente. 
 
Em muitos casos, o tratamento apenas psicológico não é suficiente, sendo 
necessário o suporte medicamentoso, até para possibilitar maior aproveitamento da 
psicoterapia e conforto do paciente ao longo da resolução de seus conflitos. 
 
Na atual classificação oficial de doenças (CID – 10), são registrados os seguintes 
transtornos neuróticos: fóbico-ansiosos, transtornos de ansiedade, obssessivo- 
compulsivo, reações de estresse e transtornos de ajustamento, transtornos 
dissociativos, somatoformes e outros, onde se incluem neurastenia e 
despersonalização. Cada um desses quadros apresenta subdivisões e formas com 
sintomas diferentes, que só o psiquiatra pode distinguir e tratar adequadamente 
 
 
Entendendo as Neuroses 
 
 
É muito difícil explicar ou discorrer didaticamente sobre neuroses, já que se 
necessita, antes, da perfeita formulação do conceito sobre o que é a neurose. Para 
começo, é bom falarmos em Transtornos Neuróticos, denominação mais corrente e, 
mais conceitualmente, Reação Neurótica. Reação Neurótica é mais didático. 
Primeiramente vamos entender que qualquer que seja um fato ou acontecimento 
introduzido em nossa consciência, receberá sempre uma maquiagem pessoal 
oferecida por nossa afetividade, dando à ele um significado muito pessoal. Portanto, 
os fatos de nossa vida, sejam presentes, passados ou perspectivas futuras, serão 
sempre coloridos pela afetividade (veja Afetividade no menu da esquerda). 
 
Para entender a Reação Neurótica devemos, então, entender a Reação (vivencial) 
Normal. Os fatos e acontecimentos apreendidos por nossa consciência e coloridos 
por nossa Afetividade serão chamados de Vivências, portanto, essas Vivências terão 
sempre caráter individual e particular em cada um de nós, de acordo com as 
particularidades de nossos traços afetivos. Os fatos podem ser os mesmos para 
várias pessoas, as Vivências desses fatos, porém, serão sempre diferentes. 
 
Tais Vivências são sempre capazes de determinar uma resposta emocional na 
pessoa sob a forma de sentimento e aos sentimentos produzidos pelas vivências 
podemos chamar de Reações Vivenciais, tal como chamaríamos de reação 
alérgica as manifestações determinadas pela imunidade diante de um objeto 
Página 3 de 50 
Pr. Flávio Nunes. 
Instituto Teológico Gamaliel 
instgamaliel@gmail.com 
www.institutogamaliel.com 
 
alérgeno. Para que uma Reação Vivencial possa ser considerada normal, Jaspers 
recomenda ter 3 elementos 
 
 
1- uma relação causal; 
2- uma relação proporcional; 
3- uma relação temporal. 
Devido à complexidade do ser humano, nem sempre uma ação determina uma 
reação previsível e pré-estabelecida. Cada pessoa pode manifestar uma 
sensibilidade bastante individual aos fatos vividos, portanto a valorização de sua 
vida será sempre concordante com sua sensibilidade afetiva. Como a afetividade é 
um atributo da personalidade, então os fatos e seus valores dependerão sempre da 
personalidade de cada um, mais que dos fatos em si. 
 
Para compreendermos bem nossas reações, bem como as reações de nossos 
semelhantes diante da vida e dos fatos vividos, é indispensável termos a idéia 
segundo a qual cada um reage exclusivamente à sua maneira diante da realidade 
dos fatos. 
 
 
 
 
Capítulo I 
 
Sentimentos e Emoções 
 
 
Muito provavelmente há, no córtex cerebral, um local responsável pela tomada de 
consciência das emoções que sentimos e, simultaneamente com a consciência 
dessas emoções, nosso organismo manifesta alterações orgânicas compatíveis. São 
respostas do sistema nervoso autônomo (SNA) ou vegetativo, por isso, chamadas 
de respostas autonômicas. 
 
Para a ocorrência dessas respostas autonômicas (do SNA), sejam elas endócrinas, 
vegetativas (palpitação, sudorese, etc) ou motoras, há necessidade de um comando 
neurológico. Para tal, quem entra em ação são as porções subcorticais (abaixo do 
córtex) do sistema nervoso, tais como a Amígdala, o Hipotálamo e o tronco cerebral. 
Essas respostas são importantes, pois preparam o organismo para a ação 
necessária e comunica nossos estados emocionais ao ambiente e às outras 
pessoas. 
mailto:instgamaliel@gmail.com
http://www.institutogamaliel.com/
Página 4 de 50 
Pr. Flávio Nunes. 
Instituto Teológico Gamaliel 
instgamaliel@gmail.com 
www.institutogamaliel.com 
 
Em meados do Século XX, os neurofisiologistas Walter Cannon e Philip Bard 
formularam teorias sobre a importância das estruturas subcorticais na mediação 
entre as emoções e o resto do organismo. 
 
Pesquisando em gatos, eles observaram respostas emocionais integradas mesmo 
quando o córtex cerebral desses animais era removido, entretanto, não ocorriam 
respostas quando o Hipotálamo, que é uma estrutura subcortical, era removido. 
 
Finalmente, Cannon e Bard propuseram a idéia, até hoje aceita, da dupla função das 
estruturas subcorticais Hipotálamo e tálamo; eram eles quem fornecia os comandos 
orgânicos das respostas emocionais e, mais que isso, forneciam ao córtex as 
informações necessárias para a consciência dessas emoções. 
 
Figura 1 
 
 
Portanto, mais recentemente, com Antônio Damasio e Stanley Schachter, 
completando as pesquisas de Cannon, Bard, James e Lange, se acredita que o 
comportamento emocional seja a interação entre o córtex cerebral, as estruturas 
subcorticais e a periferia orgânica. 
 
Entende-se que o córtex cria uma resposta cognitiva (consciente)à informação 
periférica (dos sentidos), resposta esta compatível com as expectativas do indivíduo 
e de seu contexto social. Essas estruturas subcorticais assim envolvidas na emoção 
foram denominadas de Sistema Límbico. 
 
1- Sistema Límbico 
Sabe-se hoje que as áreas relacionadas com os processos emocionais ocupam 
distintos territórios do cérebro, destacando-se entre elas o Hipotálamo, a área Pré- 
Frontal e o Sistema Límbico. 
 
Os mecanismos que controlam os níveis de atividade nas diferentes partes do 
encéfalo e as bases dos impulsos da motivação, principalmente a motivação para o 
processo de aprendizagem, bem como as sensações de prazer ou punição, são 
realizadas em grande parte pelas regiões basais do cérebro, as quais, em conjunto, 
são derivadas do Sistema Límbico. 
 
Em 1878, o neurologista francês Paul Broca observou que, na superfície medial do 
cérebro dos mamíferos, logo abaixo do contes, existe uma região constituída por 
mailto:instgamaliel@gmail.com
http://www.institutogamaliel.com/
Página 5 de 50 
Pr. Flávio Nunes. 
Instituto Teológico Gamaliel 
instgamaliel@gmail.com 
www.institutogamaliel.com 
 
núcleos de células cinzentas (neurônios), a qual ele deu o nome de lobo límbico (do 
latim limbus, que traduz a idéia de círculo, anel, em torno de, etc), uma vez que ela 
forma uma espécie de borda ao redor do tronco encefálico (em outra parte desse 
texto escreveremos mais sobre esses núcleos). 
 
Esse conjunto de estruturas, denominado mais tarde de Sistema Límbico, aparece 
na escala filogenética a partir dos mamíferos inferiores (mais antigos). É esse 
Sistema Límbico, o qual comanda certos comportamentos necessários à 
sobrevivência de todos os mamíferos, cria e modula funções mais específicas, as 
quais permitem ao animal distinguir entre o que lhe agrada ou desagrada. 
 
Aqui se desenvolvem funções afetivas, como aquela que induz as fêmeas a 
cuidarem atentamente de suas crias, ou a que promove a tendência desses animais 
a desenvolverem comportamentos lúdicos (gostar de brincar). 
 
Emoções e sentimentos, como ira, pavor, paixão, amor, ódio, alegria e tristeza, são 
criações mamíferas, originadas no Sistema Límbico. Este Sistema Límbico é 
também responsável por alguns aspectos da identidade pessoal e por importantes 
funções ligadas à memória. A parte do Sistema Límbico relacionada às emoções e 
seus estereótipos comportamentais denomina-se circuito de Papez. Na década de 
30, refletindo sobre os trabalhos de Cannon e Bard, o neurofisiologista Papez propôs 
que os diversos componentes do Sistema Límbico mantinham numerosas e 
complexas conexões entre si. 
 
Assim, o neocórtex se comunica com o Hipotálamo através de conexões do Giro do 
Cíngulo, formando uma região chamada de Hipocampo (veja hypothalamus e 
cingulate gyrus na figura). Pois bem. Essa região, o Hipocampo, processa as 
informações recebidas do córtex e as projeta para os corpos mamilares do 
Hipotálamo através de uma estrutura chamada Fórnix. 
 
Mais precisamente, as emoções e memórias fluem da Amígdala e Hipocampo para 
os corpos mamilares através de fórnix (veja figura). Do fórnix seguem para o núcleo 
anterior do Tálamo, via fascículo mamilotalâmico, e do Tálamo para o Giro 
Cingulado, irradiando-se para o neocórtex, colorindo emocionalmente a experiência 
cognitiva. Do neocórtex esses estímulos voltam novamente para o Giro Cingulado, 
retornando à Amígdala e Hipocampo. 
 
Deste modo é modulada a resposta emocional. Este circuito também está envolvido 
na formação dos sonhos e da experiência inconsciente. De fato, a mente 
inconsciente não é nenhuma realidade abstrata ou conceitual, mas fisiologicamente, 
é a elaboração da vida ou dos estímulos que ela oferece organizados no sistema 
Límbico-Hipotalâmico. 
mailto:instgamaliel@gmail.com
http://www.institutogamaliel.com/
Página 6 de 50 
 
 
 
 
 
 
Figura 2 
 
 
Com a chegada dos mamíferos superiores na escala evolutiva, desenvolveu-se, 
finalmente, a terceira unidade cerebral: o neopálio ou cérebro racional, uma rede 
complexa de células nervosas altamente diferenciadas, capazes de produzirem uma 
linguagem simbólica, assim permitindo ao homem desempenhar tarefas intelectuais 
como leitura, escrita e cálculo matemático. O neopálio é o gerador de idéias ou, 
como diz Paul MacLean - "ele é a mãe da invenção e o pai do pensamento abstrato". 
(Fonte: Júlio Rocha do Amaral, Jorge Martins de Oliveira) 
 
Assim sendo, o Hipocampo funciona como um grande banco de dados. Nele, são 
armazenados registros de todos os fatos e eventos, e essas informações ali 
guardadas servem para regular a atividade de várias outras áreas do cérebro. A 
região conhecida como Amígdala também trabalha na seleção de dados e ainda 
dispara sinais de alerta quando reconhece um perigo ou situação de ameaça. 
 
O Hipotálamo informa ao Giro do Cíngulo através de uma via dos corpos mamilares 
para os núcleos talâmicos anteriores (trato Mamilo Talâmico) e dos Núcleos 
Talâmicos anteriores para o giro cingulado. Papez acreditava, como hoje já se sabe, 
que o córtex na região límbica está seriamente envolvido nas emoções. É por isso 
que as lesões ou tumores nessas áreas corticais límbicas podem gerar distúrbios 
emocionais. Concluindo, no circuito de Papez, o Hipotálamo governa a expressão 
das emoções. 
 
2 - O Hipotálamo 
 
Um importante centro coordenador das funções cerebrais é o chamado Diencéfalo, 
Página 7 de 50 
 
 
uma região formada pelo Tálamo e pelo Hipotálamo. O primeiro consiste em uma 
massa cinzenta que processa a maior parte das informações destinadas aos 
hemisférios cerebrais. É uma grande estação de elaboração dos sentidos. 
 
O Hipotálamo, por sua vez, regula a função de abastecimento do sistema endócrino 
e processa inúmeras informações necessárias à constância do meio-interno corporal 
(homeostasia). Coordena, por exemplo, a pressão arterial, a sensação de fome e o 
desejo sexual. 
 
A importância do Hipotálamo, pode-se dizer, é inversamente proporcional ao seu 
tamanho. Ocupando menos de 1% do volume total do cérebro humano, o 
Hipotálamo contém muitos circuitos neuronais que regulam aquelas funções vitais 
que variam com os estados emocionais, como por exemplo a temperatura, os 
batimentos cardíacos, a pressão sanguínea, a sensação de sede e de fome, etc. O 
Hipotálamo controla também todo sistema endócrino através de uma glândula 
localizada em seu assoalho, a Hipófise. Desse modo, o Hipotálamo é um dos 
grandes responsáveis pelo equilíbrio orgânico interno (a homeostasia). 
 
O Hipotálamo está, pois, intimamente relacionado ao Sistema Nervoso Autônomo 
(SNA) e o SNA é, primariamente, o sistema de controle de todas as vísceras 
(músculo cardíaco, sistema digestivo, glândulas endócrinas, etc). Esse SNA possui 
duas divisões principais: o sistema simpático e o sistema parassimpático. 
 
Por causa dessa múltipla função, Cannon propôs que o Hipotálamo determinava não 
só a regulação da homeostasia do organismo, como a regulação do comportamento 
emocional. O SNA sofre influencia de diversas regiões do cérebro, em particular do 
córtex, da Amígdala e da formação reticular. Mas, todas essas estruturas exercem 
suas ações sobre o SNA através do Hipotálamo, o qual integra as informações em 
uma resposta coerente. 
 
O Hipotálamo controla a atividade das vísceras ou seja, controla o SNA, através do 
Tronco Cerebral. Isso é realizado de duas formas: 
 
Primeiramente, ele se projeta para três importantes regiões do Tronco Cerebral e da 
Medula Espinhal. 
 
1 - projeta-se para o núcleo do trato solitário, o principal recipiente dos influxos 
sensoriais provenientes das vísceras; 
 
2- projeta-se para regiões do Tronco Cerebral no Bulbo Ventral Rostral, que controla 
a saída (pré-glangionar) importante do SNA simpático e 
 
3- projeta-se diretamente para o fluxo de saída autonômica da medula espinhal 
(Fonte). 
Página 8 de 50 
 
 
Sobre o Sistema Endócrino o Hipotálamo exerce sua influência direta e 
indiretamente. Diretamenteessa influência se dá através da secreção de produtos 
neuroendócrinos direto na circulação sanguínea a partir da porção posterior da 
glândula Hipófise. Indiretamente a influência se dá pela secreção dos chamados 
hormônios reguladores, os quais atuam liberando ou inibindo outras glândulas do 
organismo, tais como as supra-renais, tireóide, para-tireóides e sexuais. 
 
3 - A Área Pré-Frontal(CÓRTEX) 
 
O Córtex Cerebral é a camada mais alta e externa do encéfalo, ou seja, dos dois 
hemisférios. Trata-se de uma capa de substância cinzenta de mais ou manos 0,3 
centímetros de espessura. 
 
Os sulcos e fissuras do Córtex Cerebral é que definem suas regiões em, por 
exemplo, Lobo Frontal, Lobo Temporal, Parietal e Occipital. O Lobo Frontal é um 
lugar onde se concentra ali enorme variedade de importantes funções, incluindo o 
controle de movimentos e de comportamentos necessários à vida social, como a 
compreensão dos padrões éticos e morais e a capacidade de prever as 
conseqüências de uma atitude. 
 
O Lobo Parietal recebe e se processam as informações dos sentidos, enviadas pelo 
lado oposto do corpo. O Lobo Temporal está permanentemente envolvido em 
processos ligados a audição e memorização, enquanto o Lobo Occipital é o centro 
que analisa as informações captadas pelos olhos e as interpreta mediante um 
intrincado processo de comparação, seleção e integração. 
 
O Córtex Pré-Frontal, considerado uma formação recente na evolução das espécies 
e a sede da personalidade e da vida intelectiva, modula a energia límbica e tem a 
possibilidade de criar comportamentos adaptativos adequados ao tomar consciência 
das emoções. 
 
Na ausência desta parte do Córtex, as emoções ficam fora de controle, são 
exageradas e persistem após cessar o estímulo que as provocou, até que se esgote 
a energia nervosa. Por outro lado, o Sistema Límbico através do Hipotálamo, pode 
exercer um efeito supressor ou inibidor sobre o neocórtex, inibindo 
momentaneamente a cognição e até o tônus muscular tônico, como se observa nas 
fortes excitações emocionais. 
 
O relacionamento concreto entre regiões corticais e as emoções ocorreu em 1939. 
Nesse ano os pesquisadores Heinrich Klüver e Paul Bucy observaram uma síndrome 
comportamental dramática em macacos depois de submeterem os animais a uma 
lobotomia temporal bilateral. Os macacos, apesar de muito selvagens e agressivos, 
tornaram-se mansos e demonstravam um apagamento das emoções. 
 
Esse embotamento de emoções se manifestava, inclusive, como uma espécie de 
cegueira emocional; os animais não se mobilizavam com objetos familiares nem com 
Página 9 de 50 
 
 
os próprios familiares. Ao mesmo tempo eles apresentaram uma contundente 
tendência oral, levando à boca todos objetos. 
 
A Área Pré-Frontal se desenvolveu bastante, na escala filogenética, com o 
aparecimento dos mamíferos, sendo particularmente desenvolvida no ser humano e, 
curiosamente, em algumas espécies de golfinhos. Entre os seres humanos essa 
região do cérebro começa a adquiri maturidade suficiente entre os 4 e 6 anos de 
idade (veja abaixo o Estágio Operacional Concreto). 
 
Mas a Área Pré-Frontal não faz parte do Sistema Límbico. Entretanto, as intensas 
conexões que mantém com o Tálamo, Amígdala e outras estruturas subcorticais 
límbicas, justificam seu importante papel na expressão dos estados emocionais. 
 
Assim como ocorreu na experiência de Heinrich Klüver e Paul Bucy em relação ao 
Lobo Temporal, quando o Córtex Pré-Frontal é lesado, há severo prejuízo das 
responsabilidades sociais, bem como da capacidade de concentração e de 
abstração, apesar de se manterem intactas a consciência e a linguagem. 
 
Em 1935, foi realizada a primeira Lobotomia Pré-Frontal em seres humanos. Foram 
seccionadas as conexões límbicas, isolando o Córtex Pré-Frontal, em sua área 
orbitofrontal, na tentativa de tratar alterações emocionais graves decorrentes de 
doença mental. A principio, houve redução da ansiedade desses pacientes, mas 
complicações como o desenvolvimento de epilepsia e alterações anormais da 
personalidade, como a falta de inibição ou de iniciativa ou de motivação impediram a 
continuidade desse tipo de tratamento. 
 
Da mesma forma como os macacos de Heinrich Klüver e Paul Bucy tinham prejuízo 
emocional após retirada do Lobo Temporal, a Lobotomia Pré-Frontal realizada em 
seres humanos para tratamento de certos distúrbios psiquiátricos, resultava 
igualmente num certo empobrecimento afetivo. Nessas pessoas não aparecia mais 
quaisquer sinais de alegria, tristeza, esperança ou desesperança. 
 
A Área Pré-Frontal do córtex corresponde a parte anterior não motora do lobo 
frontal. Ela mantém conexões com o Sistema Límbico (visto acima) e com o Núcleo 
Dorsomedial do Tálamo. Ela é responsável pela escolha das opções e estratégias 
comportamentais, pela manutenção da atenção e pelo controle do comportamento 
emocional. 
 
A mais importante função associativa do Lobo Pré-Frontal parece ser, efetivamente, 
integrar informações sensitivas externas e internas, pesar as conseqüências de 
ações futuras para efetuar o planejamento motor de acordo com as conclusões. 
 
Características do Córtex Cerebral 
 
A localização das diversas funções em áreas específicas do córtex não implica que 
uma determinada função seja mediada exclusivamente por uma única região 
cerebral, mas sim que 
Página 10 de 50 
 
 
 
As áreas de associação cortical, que são as áreas Pré-Frontal, Parieto-Têmporo- 
Occipital e Límbicas, integram as informações somáticas com o planejamento do 
movimento. Suas funções prioritárias são: 
 
Córtex Pré-Frontal: planejamento e execução das ações motoras complexas 
Córtex Parieto-Têmporo-Occipital: integração das funções sensoriais com a 
linguagem 
Área Límbica: integração da memória com aspectos comportamentais relacionados 
a memória e motivação 
 
Córtex Pré-Motor: início da ação 
 
- Áreas corticais superiores sensitivas conectadas diretamente a áreas primárias 
sensitivas projetam para o córtex pré-motor, que projeta para o córtex motor 
primário. 
- Áreas corticais superiores sensitivas não conectadas diretamente a áreas primárias 
sensitivas projetam para o Córtex Pré-Frontal, que projeta para o Córtex Pré-Motor 
O Córtex Parieto-Têmporo-Occipital recebe projeções de áreas somáticas superiores 
visuais e auditivas, processando a informação sensitiva envolvida com a percepção 
e a linguagem 
 
O Córtex Límbico recebe projeções de áreas ssensitivas superiores e projeta para 
outras regiões corticais, dentre elas o córtex pré-frontal. 
 
No cérebro normal, dotado de inúmeras e quase infinitas interconexões, a interação 
entre os dois hemisférios é tão integrada que não se pode dissociar claramente suas 
funções específicas. Ambos se auxiliam na efetuação de tarefas várias. Nenhuma 
parte do sistema nervoso funciona isoladamente, de tal forma que o cérebro pode 
fazer com que as funções das áreas lesadas sejam assumidas por outras áreas 
sadias. 
 
É importante sabermos com que idade se desenvolve, mais satisfatoriamente na 
pessoa, seus lobos frontais e pré-frontais (depois dos 12 anos, veja adiante). O 
Córtex Pré-Frontal do hemisfério esquerdo é muito mais relacionado à cognição e 
consciência, ou seja, intelectual, que o seu homólogo do lado direito. Os argumentos 
racionais das terapias cognitivas procuram fazer a pessoa reaprenderem a lidar com 
suas emoções através da cognição, como uma alternativa racional das exigências 
da angústia detonada, seja pelo córtex frontal direito ou Sistema Límbico. 
Página 11 de 50 
 
 
 
 
Entendendo as Neuroses 
 
 
 
É muito difícil explicar ou discorrer didaticamente sobre neuroses, já que se 
necessita, antes, da perfeita formulação do conceito sobre o que é a nedurose. Para 
começo, é bom falarmos em Transtornos Neuróticos, denominação mais corrente e, 
mais conceitualmente, Reação Neurótica. Reação Neurótica é mais didático. 
Primeiramente vamos entender que qualquer que seja um fato ou acontecimento 
introduzidoem nossa consciência, receberá sempre uma maquiagem pessoal 
oferecida por nossa afetividade, dando à ele um significado muito pessoal. Portanto, 
os fatos de nossa vida, sejam presentes, passados ou perspectivas futuras, serão 
sempre coloridos pela afetividade (veja Afetividade no menu da esquerda). 
 
Para entender a Reação Neurótica devemos, então, entender a Reação (vivencial) 
Normal. Os fatos e acontecimentos apreendidos por nossa consciência e coloridos 
por nossa Afetividade serão chamados de Vivências, portanto, essas Vivências terão 
sempre caráter individual e particular em cada um de nós, de acordo com as 
particularidades de nossos traços afetivos. Os fatos podem ser os mesmos para 
várias pessoas, as Vivências desses fatos, porém, serão sempre diferentes. 
 
Tais Vivências são sempre capazes de determinar uma resposta emocional na 
pessoa sob a forma de sentimento e aos sentimentos produzidos pelas vivências 
podemos chamar de Reações Vivenciais, tal como chamaríamos de reação 
alérgica as manifestações determinadas pela imunidade diante de um objeto 
alérgeno. Para que uma Reação Vivencial possa ser considerada normal, Jaspers 
recomenda ter 3 elementos 
 
1- uma relação causal; 
2- uma relação proporcional; 
3- uma relação temporal. 
Devido à complexidade do ser humano, nem sempre uma ação determina uma 
reação previsível e pré-estabelecida. Cada pessoa pode manifestar uma 
sensibilidade bastante individual aos fatos vividos, portanto a valorização de sua 
vida será sempre concordante com sua sensibilidade afetiva. Como a afetividade é 
um atributo da personalidade, então os fatos e seus valores dependerão sempre da 
personalidade de cada um, mais que dos fatos em si. 
 
Para compreendermos bem nossas reações, bem como as reações de nossos 
semelhantes diante da vida e dos fatos vividos, é indispensável termos a idéia 
segundo a qual cada um reage exclusivamente à sua maneira diante da realidade 
dos fatos. 
Página 12 de 50 
Pr. Flávio Nunes. 
Instituto Teológico Gamaliel 
instgamaliel@gmail.com 
www.institutogamaliel.com 
 
No estudo das neuroses esse aspecto individual de reagir à realidade chama-se 
Reações Vivenciais, estudadas juntamente com a Afetividade em PsiqWeb. 
 
A - Reação Neurótica Aguda 
 
Fosse permitido construir uma analogia didática para compreender a Reação 
Neurótica Aguda e diferenciá-la da Personalidade Neurótica citaria, por exemplo, o 
caso da alergia. Há indivíduos que, em contacto com um determinado alérgeno, 
como por exemplo o mofo, reagem alergicamente espirrando, com coriza e 
lacrimejando. Depois de algum tempo e distante do alérgeno, tudo volta ao normal. 
Isto é o que acontece com quase todas as pessoas mas, por outro lado, há 
indivíduos que vivem cronicamente com alergia e de maneira inespecífica. Estão 
sempre com coriza, espirrando ou lacrimejando, nas mais variadas situações e 
diante dos mais insuspeitados alérgenos. No primeiro caso temos um exemplo da 
Reação Aguda e no segundo de uma configuração da Personalidade. 
 
No primeiro caso da analogia descrita acima, podemos dizer que o indivíduo teve 
uma alergia e, no segundo, que ele é alérgico. Pois bem. Tendo em vista a 
conceituação tradicional de Neurose, como vimos atrás, a qual fala em doenças da 
personalidade como um estado permanente e duradouro, será fácil deduzir que 
apenas a Personalidade Neurótica representa, realmente, aquilo que queremos dizer 
como Neurose. Já a denominação de Reação Neurótica Aguda poderia ser 
entendida como, digamos, um tropeço emocional na vida do indivíduo. 
 
De fato, tanto o DSM-IV quanto a CID-10 não utilizam o termo Neurótico com a 
mesma assiduidade que seus antecessores DSM-III e CID-9. O DSM-IV refere-se às 
nossas Reações Neuróticas Agudas como TRANSTORNOS DE AJUSTAMENTO, a 
CID-10 classifica o mesmo estado como REAÇÃO À ESTRESSE e TRANSTORNO 
DE AJUSTAMENTO. Kaplan, baseando-se no DSM-IV fala em TRANSTORNOS de 
ADAPTAÇÃO. 
 
Insistimos na denominação de Reações Neuróticas Agudas devido, apenas, à 
similaridade sintomática e etiológica com as neuroses em geral, assim como em 
benefício da compreensão sobre o psicofisiologismo das reações emocionais às 
vivências. Entretanto, deve ficar claro que o neurótico, propriamente dito, é aquele 
portador da Personalidade Neurótica. 
 
Existem três situações clínicas englobadas pelo quadro de Reação a Estresse Grave 
e Transtorno de Ajustamento segundo a CID-10: 
 
Reação Aguda a Estresse (F43.0); 
 
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (F43.1); e 
mailto:instgamaliel@gmail.com
http://www.institutogamaliel.com/
Página 13 de 50 
 
 
 
Transtornos de Ajustamento (F43.2). 
 
Na REAÇÃO AGUDA A ESTRESSE os sintomas emocionais aparecem dentro de 
minutos ou horas após a vivência causadora e desaparecem, também, em questão 
de alguns dias ou mesmo horas. Há como uma espécie de atordoamento, 
diminuição da atenção, incapacidade para integrar todos os estímulos e até um 
estado de desorientação. Para que se caracterize uma Reação Aguda ao Estresse, 
é indispensável haver uma conexão temporal entre os sintomas emocionais e o 
impacto do estressor psicossocial. Nesta espécie de choque psíquico pode haver, 
concomitante ao atordoamento e desorientação, um quadro de depressão, angústia, 
ansiedade, raiva e desespero. 
 
Quanto ao TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO, a resposta é mais 
tardia ou protraída a um evento ou situação estressante. Poderá ser de longa ou 
curta duração. Há, aqui, um certo embotamento emocional, afastamento social, 
sonhos freqüentes com a situação causadora, diminuição do interesse para com o 
ambiente, diminuição do prazer ou sua abolição total (anedonia) e evitação de 
situações recordativas do trauma. Com freqüência há também uma hiperexitação, 
hipervigilância e insônia, ansiedade e depressão. Como complicação podemos 
encontrar, nestes casos, um abuso excessivo de bebidas alcoólicas. 
Para o diagnóstico do Transtorno de Estresse pós-Traumático há necessidade de 
que o quadro tenha surgido dentro de até 6 meses após um evento traumático de 
excepcional gravidade. O curso deste transtorno é flutuante, porém, seu prognóstico 
costuma ser favorável para a grande maioria dos casos. 
 
O TRANSTORNO DE AJUSTAMENTO é cogitado quando existe uma angústia ou 
perturbação emocional interferindo com o funcionamento e desempenho sociais, a 
qual tenha surgido como conseqüência aos esforços adaptativos a uma mudança 
significativa na vida da pessoa. A característica essencial de um Transtorno de 
Ajustamento é o desenvolvimento de um quadro psico-emocional significativo em 
resposta a um ou mais estressores psicossociais identificáveis. No Transtorno de 
Ajustamento os sintomas desenvolvem-se, normalmente, dentro de um período de 3 
meses após o início do estressor ou estressores. 
 
A Reação Vivencial no Transtorno de Ajustamento é caracterizada por um 
acentuado sofrimento, o qual excede o que seria estatisticamente esperado pela 
natureza do estressor e resulta em prejuízo significativo no funcionamento social ou 
profissional. Os sintomas principais são: humor deprimido, ansiedade, preocupação, 
sentimentos de incapacidade em adaptar-se, sensação de perspectivas sombrias do 
futuro, dificuldade no desempenho da rotina diária. Em crianças podemos observar 
comportamentos regressivos. 
 
Os sintomas podem persistir por um período de até mais de 6 meses, principalmente 
se são em resposta a um estressor crônico, como por exemplo, uma doença crônica 
ou a um estressor breve mas de conseqüências prolongadas, como por exemplo as 
dificuldades sociais, financeiras, separações conjugais, etc. 
Página 14 de 50 
 
 
O estressor pode ainda ser um evento isolado (por ex., fim de um relacionamento 
romântico) ou pode haver múltiplos estressores (por ex., dificuldades acentuadas 
nos negócios e problemas conjugais). Os estressores podem ser recorrentes (por 
ex., associados com crises profissionais cíclicas) ou contínuos (por ex., viver em 
umaárea de alta criminalidade). Os estressores podem afetar um único indivíduo, 
toda uma família, um grupo maior ou uma comunidade (por ex., em um desastre 
natural). Alguns estressores podem acompanhar eventos evolutivos específicos (por 
ex., ingresso na escola, deixar a casa paterna, casar-se, tornar-se pai/mãe, fracasso 
em atingir objetivos profissionais, aposentadoria). 
 
A resposta no Transtorno de Ajustamento é mal adaptativa porque existe um 
prejuízo no funcionamento social e ocupacional, ou porque os sintomas e 
comportamentos excedem a resposta normal esperada para tal estressor. São tão 
comuns estes Transtornos de Adaptação que Kaplan refere uma incidência de 5% 
em todas admissões hospitalares estudadas num período de três anos. 
A organização da Personalidade e os valores culturais do grupo contribuem para 
estas respostas desproporcionais, assim como também podem advir de uma 
somatória de pequenos estressores menos importantes. Como exemplo disso 
citamos um relacionamento familiar conflitivo, o qual, depois de algum tempo, poderá 
comprometer progressivamente o limiar de tolerância da pessoa tornando-a mais 
vulnerável às solicitações existenciais, ou seja, reagindo neuroticamente às 
vivências. 
 
Finalizando esta questão das Reações Neuróticas, é bom saber que sua 
fisiopatologia segue os conceitos daquilo que vimos em Reações Vivenciais 
Anormais e que a classificações propostas, tanto pelo DSM-IV quanto pela CID-10, 
podem parecer-nos um pouco pedantes. 
 
Se na REAÇÃO AGUDA A ESTRESSE os sintomas emocionais aparecem dentro de 
minutos ou horas após a vivência causadora e desaparecem, também, em questão 
de alguns dias, se no TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO a 
resposta é mais tardia e o quadro tenha surgido dentro de até 6 meses após um 
evento traumático ou se no TRANSTORNO DE AJUSTAMENTO tudo acontece 
dentro de um período de 3 meses após o início do estressor, isso tudo só terá valor 
prático quanto à duração do tratamento. Na realidade, o fenômeno psicopatológico 
pode muito bem ser o mesmo em todas essas situações. 
 
B - Personalidade Neurótica 
 
O entendimento da Personalidade Neurótica ou, conforme termo de Henri Ey, do 
Caráter Neurótico, implica antes no entendimento global do que foi dito até agora 
sobre a Personalidade; das Disposições Pessoais, do arranjo peculiar dos Traços no 
interior do eu, da modelagem afetiva no desenvolvimento da Personalidade, da 
história biológica e existencial do indivíduo e das exigências adaptativas que a vida 
solicita. 
Página 15 de 50 
 
 
O indivíduo, aqui e agora, do jeito em que ele se encontra e com esta determinada 
disposição para com a sua vida, só pode ser compreendido como uma resultância 
daquilo que ele trouxe para a vida, através de sua natureza constitucional, com 
aquilo que a vida trouxe para ele, através de seu destino existencial. Entender a 
Personalidade Neurótica implica, antes, no entendimento da Personalidade como 
um todo, normal ou alterada, apta a responder harmonicamente à vida ou claudicar 
por dificuldades imanentes ao seu modo de ser. 
 
Podemos dizer que o indivíduo possui uma Personalidade Neurótica quando ele 
reage neuroticamente diante dos eventos de uma forma habitual e isto passa a 
caracterizar sua maneira de existir. Podemos dizer ainda que é neurótico quando 
sucumbe cronicamente diante de seus conflitos, sucumbe não apenas aos conflitos 
atuais mas, também e sobretudo, aos conflitos remanescentes do passado. 
Podemos ainda arriscar a considerar neurótico quando suas pulsões inconscientes 
dominam suas atitudes conscientes, quando constatamos uma falha crônica em 
seus mecanismos de defesa, enfim, quando sua adaptação emocional à vida é 
constantemente problemática. 
 
Sempre que as Reações Vivenciais Anormais ou os Distúrbios Adaptativos, ou ainda 
e também sinônimo, as Reações de Ajustamento não são acontecimentos fortuitos e 
ocasionais, mas constituem uma maneira perene e constante de relacionar-se com a 
realidade, estamos diante de uma Personalidade Neurótica. 
 
É tênue e as vezes impossível, clinicamente, uma delimitação precisa entre aquilo 
que estudamos como Transtornos da Personalidade e a Personalidade Neurótica. 
Tanto assim, que o tema é abordado separadamente na atual CID-10 mas era 
indistintamente tratado no DSM-III-R. A grosso modo poderíamos dizer, se de fato 
for imprescindível uma distinção, que o Transtorno da Personalidade é um pré- 
requisito constitucional para a Personalidade Neurótica e que esta aparece apenas 
como uma evidência clinicamente estabelecida daquela. Arriscamos, sem receio de 
errar, que a diferença entre uma e outra é a mesma constatada entre uma miopia de 
meio grau e uma miopia de três graus. Ou seja, com meio grau o indivíduo ainda se 
conduz na vida sem auxílio de óculos, embora não tenha uma visão tão fiel da 
realidade, com três, entretanto, apresenta uma dificuldade de adaptação muito 
maior. 
 
Desta forma, o conceito de Personalidade, seja referente à Personalidade Neurótica 
ou normal, diz respeito à modalidade do relacionamento do sujeito com o objeto. Os 
critérios de avaliação destas relações objectuais normalmente são estabelecidos 
pelo conjunto normativo de um sistema cultural, o que corresponde a dizer que, se 
todos integrantes de um mesmo sistema tiverem meio grau de miopia esta será a 
norma. A classificação dos Transtornos Neuróticos pela CID.10 (Classificação 
Internacional de Doenças) é a seguinte: 
 
De F40 até F48 - Transtornos Neuróticos, Transtornos Relacionados com o Estresse 
e Transtornos Somatoformes 
Página 16 de 50 
 
 
 
Exclui: 
 
quando associado aos transtornos de conduta classificados em F91.- (F92.8) 
Este agrupamento contém as seguintes categorias: 
F40 Transtornos Fóbico-Ansiosos 
F41 Outros Transtornos Ansiosos 
F42 Transtorno Obsessivo-Compulsivo 
F43 Reações ao Estresse Grave e Transtornos de Adaptação 
F44 Transtornos Dissociativos [de Conversão] 
F45 Transtornos Somatoformes 
F48 Outros Transtornos Neuróticos 
Página 17 de 50 
 
Atenção e Memória 
 
 
Uma maneira importante pela qual a percepção se torna consciente é através da Atenção 
que, em essência, é a focalização consciente e específica sobre alguns aspectos ou 
algumas partes da realidade. Assim sendo, nossa consciência pode, voluntariamente ou 
espontaneamente, privilegiar um determinado conteúdo e determinar a inibição de outros 
conteúdos vividos simultaneamente. Portanto, reconhece-se a Atenção como um 
fenômeno de tensão, de esforço, de concentração, de interesse e de focalização da 
consciência. 
 
Atenção pode sofrer alterações em todos os transtornos mentais e emocionais. Mesmo 
quando não existam alterações psíquicas tão evidentes, como é o caso da ansiedade 
simples, a Atenção pode apresentar oscilações. Uma série de fatores intra-psíquicos pode 
modificar a sua eficácia da Atenção mesmo dentro dos limites da normalidade. 
Vários estados emocionais podem alterar a capacidade de Atenção, ora alterando sua 
intensidade, ora alterando sua tenacidade ou sua vigilância. Sob a influência de 
determinados alimentos, de bebidas alcoólicas e de substâncias farmacológicas, a Atenção 
também pode experimentar alterações em seu rendimento e em sua eficiência. 
 
A Memória, no sentido estrito, pode ser entendida como a soma de todas as lembranças 
existentes na consciência, bem como as aptidões que determinam a extensão e a precisão 
dessas lembranças . De modo geral a Memória necessita de duas funções neuropsiquícas 
fundamentais; a capacidade de fixação, que é a função responsável pelo acréscimo de 
novas impressões à consciência e graças à qual é possível adquirir novo material 
mnemônico, e a capacidade de evocação, ou reprodução, pela qual os traços mnêmicos 
são revividos e colocados à disposição livremente da consciência. 
 
A Atenção pode ser entendida como uma atitude psicológica através da qual concentramos 
a nossa atividade psíquica sobre um estímulo específico, seja este estímulouma 
sensação, uma percepção, representação, afeto ou desejo, a fim de elaborar os conceitos 
e o raciocínio. Portanto, de modo geral a Atenção parece criar a própria consciência. 
 
Alguns autores consideram a Memória em si, um processo puramente fisiológico, enquanto 
a fixação e a evocação mnêmicas das lembranças seriam atos psíquicos e vividos pelo 
indivíduo. 
 
Para que uma lembrança seja eficaz é indispensável a compreensão do objeto sobre o 
qual se polariza a Atenção, condição essa que depende da afetividade e do interesse. 
Kraepelin já afirmava a lembrança poderia persistir por mais tempo quanto mais 
claramente (mais compreensivamente) se percebia o estímulo original e quanto mais 
numerosas e intensas fossem suas ligações com o resto do conteúdo da consciência. 
Portanto, as lembranças perduram por mais tempo quanto mais são reforçadas pela 
repetição. 
 
A Memória como Parte Importante da Consciência 
Página 18 de 50 
 
 
 
Para estudar os mecanismos da memória é didático fazer analogia com o mecanismo dos 
computadores. Tal como os os computadores, nossa mente está equipada com dois tipos 
básicos de memória: "a memória imedita" (de trabalho) para tratar a informação do 
presente momento, e a memória de longo prazo, usada para arquivar durante longo tempo. 
 
Ao contrário do que se pode pensar, nosso cérebro não está continuadamente registando 
tudo que nos acontece para, num segundo momento, selecionar e apagar o que não é 
importante. A maior parte dos estímulos com os quais estamos lidando permanece por um 
brevemente tempo na memória, mais precisamente, na memória imediata ou de trabalho. 
A analogia que se faz com o computador é com a chamada memória RAM, ou seja, com a 
memória de acesso aleatório da máquina (Random Access Memory). 
 
 
Depois de algum tempo esses estímulos trabalhados pela memória imediata se evaporam 
dando lugar à outros. A memória imediata nos permite realizar os cálculos de cabeça, 
permite reter números de telefone durante algum tempo, permite continuar um diálogo 
baseado no início da conversa, permite saber o nome do interlocutor durante algum tempo 
(diretamente proporcional à importância deste para nós). 
 
Continuando nossa analogia, podemos dizer que a memória de longo prazo seria como o 
disco rígido do computador, registando fisicamente as experiências passadas na região do 
cérebro designada córtex cerebral. A córtex, ou a camada exterior do cérebro, contém 
aproximadamente dez bilhões de células nervosas, as quais se comunicam intensamente 
trocando impulsos eléctricos e químicos. 
 
Sempre que um estímulo atinge nossa consciência, seja uma imagem, som, ideia, 
sensação, etc., ativa-se um conjunto destes neurônios, modernamente chamado de 
"assembléia neuronal". A teoria baseada nas assembléias neuronais representa um 
modelo muito convincente para a formulação de uma hipótese a respeito da construção da 
consciência. Segundo essa teoria, o pensamento consciente é gerado quando vários 
neurônios de diversas colunas se unem funcionalmente e, atuando harmonicamente e em 
conjunto, constroem uma assembléia, iniciando assim a formação de um determinado 
estado consciente. Depois desse novo estado de consciência esses neurônios do conjunto 
que participou do estímulo nem sempre retomam o estado original. Eles costumam 
fortalecer as ligações uns com os outros, tornando-se mais densamente interligados. 
 
Quando isso acontece constroi-se uma memória consciente, e o que quer que estimule 
essa rede ou assembléia trará de volta a percepção inicial sob a forma de recordação. O 
que entendemos como recordações são, afinal, padrões de ligação entre células nervosas. 
Uma recordação recém-codificada pode envolver milhares de neurónios abarcando todo o 
córtex. 
 
Segundo a teoria dos conjuntos de células envolvidas na consciência e memória, os 
neurônios são capazes de se associarem rapidamente, formando grupos (assembléias) 
funcionais para realizarem uma determinada tarefa ou apreenderem um determinado 
estímulo. Uma vez que esta tarefa esteja terminada, o grupo se dissolve e os neurônios 
Página 19 de 50 
 
 
estão novamente aptos a se engajarem em outras assembléias, para cumprirem uma nova 
tarefa . Portanto, esse conjunto, rede ou assembléia de neurônios dilue-se, caso não seja 
reutilizada, mas, se a ativarmos repetidamente, o padrão de ligações incorpora-se cada 
vez mais nos padrões de nossos tecidos nervosos. 
 
É devido a essa organização e dissolução dinâmica das assembléias neuronais que 
podemos comparar a atividade mnêmica fugaz com a memória RAM do computador. Há, 
ainda, um aspecto quantitativo acerca dessa assembléia neuronal, segundo a qual, quanto 
maior o número de neurônios recrutados, maior será o tamanho dessa assembléia e, em 
conseqüência, maior será a recém criada consciência ou memória, em termos de 
intensidade e tempo de duração. Contrariamente, se for pequeno o número de neurônios 
recrutados, a memória resultante será pequena em intensidade e duração. 
 
Os estímulos são registrados na memória de longo prazo mediante repetição ou através de 
sua carga afetiva. Enquanto a decisão de armazenar ou diluir uma informação possa ser 
voluntária, a eficácia dessa memorização nem sempre depende de nossa vontade. Quem 
garante a eficácia da memória, indiretamente da consciência que se tem do vivido, é um 
atributo automático do hipocampo. 
 
O hipocampo é uma pequena estrutura bilobular alojada profundamente no centro do 
cérebro. Tal como o teclado do nosso computador, o hipocampo é como uma espécie de 
posto de comando. À medida que os neurónios do córtex recebem informação sensorial, 
transmitem-na ao hipocampo. Somente após a resposta do hipocampo é que os neurónios 
sensoriais começam a formar uma rede durável (assembléia). Sem o "consentimento" do 
hipocampo a experiência desvanece-se para sempre. 
 
É aqui que entra a carga afetiva necessária para que o estímulo se fixe na memória de 
longo prazo. A atitude de "consentimento" do hipocampo parece depender de duas 
questões. Primeiro, a informação tem algum significado emocional, portanto, tem que ter 
alguma importância afetiva. O nome de uma pessoa muito atraente tem mais probabilidade 
de conseguir "autorização" do hipocampo para se fixar no "disco rígido" de nosso 
computador do que o nome do jornalita que escreve o obituário do jornal. É assim que 
nossa consciência se constrói, sempre em conformidade com nossos próprios interesses 
emotivos. 
 
A segunda atitude do hipocampo é uma imediata analogia, ele avalia é se a informação 
que está chegando no cérebro tem relação com alguma coisa que já esteve por ai, ou que 
já sabemos. Ao contrário do computador, que armazena separadamente os factos 
relacionados, o cérebro procura constantemente fazer associações. Se o estímulo recém 
chegado tem alguma relação ou correspondência com algum material já armazenado, esse 
novo fato terá mais facilidade de agregar-se ao dinamismo psíquico. Em suma, usamos as 
assembléias elaboradas pela experiência passada para captar novas informações. 
 
Através da formação continuada de assembléias neuronais os fenômenos conscientes se 
sucederiam, continuamente, cada um diferindo dos demais em duração e intensidade, de 
acordo com o tamanho das assembléias. Esse dinamismo faz com que a substituição de 
uma vivência consciente pela que se segue seja muito rápida, conferindo à consciência 
seu aspecto de continuidade. Aqui devemos lembrar que, também continuadamente, o 
Página 20 de 50 
 
 
hipocampo vai selecionando o que fica na memória de longo prazo e o que pertence 
apenas à memória imediata. 
 
De qualquer forma forma-se uma assembléia neuronal e, numa ínfima fração de tempo, a 
consciência da vivência se formaria. Essa consciência seria recém formada a partir da 
mobilização simultânea de umdeterminado número de neurônios por um período de tempo 
variável e, imediatamente depois de terminada sua função, seria substituída por outra 
assembléia (consciência), depois por outra e, sucessivamente outras. 
Esses arranjos neuronais obedecem uma estrutura muito pessoal que, em seu conjunto, 
acabam por corresponder (ou contribuir para) ao perfil afetivo e sensibilidade de cada um 
e, quem sabe até, para a vocação de cada um. É por isso que um mesmo quadro pode 
impressionar diferentemente as várias pessoas que o observam; alguns se sensibilizam 
com as tonalidades, outros com o tema, outros até com a combinação quadro-moldura, 
outros só conseguem memorizar o preço e assim por diante. Podemos constatar essa 
experiência facilmente retirando o quadro da vista das pessoas e pedindo para elas 
descreverem o que viram: ... cores fortes.... tema triste.... muito grande.... deve valer 
muito... e assim por diante. 
 
Assim sendo, as condições capazes de perturbar o hipocampo acabam por prejudicar a 
memória e, conseqüentemente, a integração da consciência. A doença de Alzheimer 
destrói gradualmente esse órgão, portanto, destrói a capacidade para formar novas 
memórias. O envelhecimento normal também pode causar danos mais sutis. Alguns 
estudos sugerem que a massa encefálica decresce, a grosso modo e variavelmente, de 
cinco a dez por cento a cada dez anos. 
 
Exceto em casos mais patológicos, como por exemplo na doença de Alzheimer ou nos 
problemas vasculares, a idade por si só parece não perturbar a nossa memória 
significativamente. A idade, quando muito, torna as pessoas um pouco mais lentas e 
menos precisas e, embora as médias apontem para o declínio com a idade, alguns 
octogenários continuam mais incisivos e rápidos que os adolescentes. 
 
Evidentemente existem circunstâncias clínicas capazes de prejudicar o rendimento da 
memória ao longo dos anos. A pressão sanguínea elevada cronicamente pode prejudicar a 
função mental. Alguns estudos constatam que ao longo dos anos, as pessoas hipertensas 
perdem duas vezes mais capacidade cognitiva que aqueles que apresentam tensão 
sanguínea normal. Também o excesso de álcool ou o funcionamento deficiente da 
glândula tiróide, assim como a depressão, a ansiedade e a simples falta de estímulo estão 
associados ao prejuízo da memória. 
 
O Estresse e a Memória 
Atualmente um novo problema parece estar associado ao desgaste da capacidade de 
fixação. É o excesso ou sobrecarga de informação. As informações dos tempos modernos 
chegam até nós através dos mais variados meios: jornal, revista, rádio, televisão, cinema, 
fax, carta, e-mail, internet, escola, cursos, etc... Muitas vezes essa avalanche de 
informações superam nossa capacidade de apreensão eficaz. 
 
Essa dificuldade de apreensão e, conseqüentemente, de memorização tem muito a ver 
Página 21 de 50 
 
 
com o estresse por excesso de estimulação e solicitação. Evidentemente que, em curto 
prazo, o estresse até habilita nosso cérebro a reagir mais prontamente aos estímulos, 
sendo essa a função primária da ansiedade do estresse. Em longo prazo, entretanto, o 
desgaste supera a eficiência. 
 
Algumas pesquisas na área do estresse calculam que, ao fim de cerca de 30 minutos, os 
hormônios do estresse (adrenalina e cortizona) começam a desativar as moléculas que 
transportam glucose para o hipocampo, deixando assim essa parte do cérebro com pouca 
energia. Depois de períodos mais longos, os hormônios do estresse podem acabar 
comprometendo seriamente as ligações entre neurónios e fazendo o hipocampo reduzir ao 
máximo sua ação, tal como uma espécie de atrofia funcional. Esta espécie de atrofia 
funcional é reversível se o estresse for curto, mas um estado de estresse que demora 
meses ou anos, pode acabar inutilizando definitivamente neurónios do hipocampo. 
Como vimos acima, quem garante a eficácia da memória, indiretamente da consciência 
que se tem do vivido, é um atributo automático do hipocampo, portanto, havendo dano 
dessa estrutura cerebral a capacidade de fixação mnêmica estará prejudicada. 
 
O Estrogênio e a Memória 
As pesquisas que relacionam o estrogênio (hormônio feminino) com a memória foram 
estimuladas indiretamente, partindo da observação de que as mulheres que tomavam 
estrogênio reduziam o risco de contrair a doença de Alzheimer. 
 
A a importância do estrogénio em relação à memória verbal foi testado em mulheres 
jovens, antes e depois de serem submetidas a tratamento para tumores uterinos. Os níveis 
de estrogênio dessas mulheres decresciam fortemente depois de 12 semanas de 
quimioterapia, assim como decresciam também os seus resultados nos testes de retenção 
da leitura. Mas, quando metade dessas mulheres juntou estrogênio ao regime terapêutico, 
a memória melhorou prontamente. 
 
As razões para esse efeito protetor sobre a memória atribuído ao estrogênio ainda não são 
claras, mas o hormônio parece catalisar o desenvolvimento de neurônios no hipocampo e 
fomentar a produção de acetilcolina, um composto (neurotransmissor) que ajuda as células 
cerebrais a se comunicarem. Infelizmente, o uso de estrogênio também tem riscos, em 
especial para as mulheres com predisposição para o câncer de mama. 
 
Foco de Atenção 
O aspecto para o qual se dirige a Atenção é chamado de alvo (perceptual e motor), por 
isso e apropriadamente, podemos fazer uma analogia didática do focalizar da consciência 
com um alvo de tiro. O elemento que, em dado momento, constitui o objeto de nossa 
Atenção, ocupa sempre o ponto central do campo da consciência. O centro desse alvo 
perceptual corresponde ao grau máximo de consciência e é denominado foco da Atenção. 
Aí, tudo o que é focal é percebido com Atenção em seu redor, porém, existem outros 
objetos ou fenômenos psíquicos, os quais, sem ter abandonado o campo da consciência, 
deixam de ser objeto de Atenção. Os círculos concêntricos mais próximos exprimem, 
esquematicamente, a área subconsciente e o círculo mais afastado o inconsciente. 
 
O elemento que, em dado momento, constitui o objeto de nossa Atenção, ocupa sempre o 
ponto central do campo da consciência, portanto, nossa capacidade para concentrar a 
Página 22 de 50 
 
 
atividade da consciência em uma só coisa acaba, forçosamente, excluindo total ou 
parcialmente as demais. Entre as partes deste conjunto composto pela consciência, 
subconsciente e inconsciente não é possível estabelecer limites de nítidos. 
 
Aspecto Temporal da Atenção 
Geralmente, a duração de um determinado foco de Atenção é breve. Existe constante 
passagem da Atenção de uma parte da realidade para outra e isso se dá por várias razões. 
De um lado, existe na Atenção, como em todos os processos psicológicos, uma forma de 
saciedade. Esta saciedade tende a inibir a continuidade de Atenção em determinada 
direção, como se a pessoa estivesse continuadamente em busca de novidades 
perceptivas. A Atenção tender a mudar, espontaneamente, depois de um período de 
focalização em uma parte da realidade. 
Outra razão para a passagem da Atenção de uma parte da realidade para outra é 
obtenção de uma certa organização perceptual. É difícil ou impossível, por exemplo, 
organizar o todo a ser percebido com um único olhar. É preciso passos sucessivos de 
exploração para que cada parte ou aspecto seja fixado por sua vez. 
 
É importante esses aspectos temporais da organização perceptual e mesmo caso dos 
padrões estático de certos estímulos, a percepção adequada envolve, invariavelmente, 
mudanças sucessivas de focos de Atenção. Este é um elemento fundamental para o 
artista, por exemplo, o qual precisa, construir sua obra de arte de tal forma que o olho do 
observador seja dirigido numa direção determinada através do quadro ou da estátua. Sem 
esse elemento organizacional não seria possível a percepção dos detalhes alocados no 
objeto. 
 
Mais uma razão para a passagemda Atenção de uma parte da realidade para outra é a 
limitação da quantidade de material que pode ser incluída no foco de Atenção, em cada 
momento considerado. Um hipotético olho cósmico, se existisse, poderia apreender 
simultaneamente completamente tudo de uma determinada situação mas, o ser humano e 
os organismos inferiores, entretanto, podem apreender apenas uma proporção limitada da 
realidade. Uma forma de estudar o problema do alcance máximo do foco de Atenção é 
através da análise da amplitude da apreensão. 
 
Esta Amplitude da Atenção se refere ao número máximo de objetos que podem ser 
percebidos imediatamente. Espalhando um pequeno número de grãos de feijão numa 
mesa e olhando de relance, procuramos ver quantos grãos existem. Verificaremos que 
cometermos poucos erros quando os grão são em número de cinco ou seis mas, a partir 
desse número, começamos a errar mais. Portanto, nossa Atenção se desloca de tempos 
em tempos para outras partes da realidade porque é limitada a capacidade de 
apreendermos simultaneamente muitas coisas. 
 
Sob este ponto de vista, a atividade mental consiste num vaivém perpétuo de focalizações 
da Atenção em acontecimentos interiores, em sensações, em sentimentos, em idéias e em 
imagens mentais que se associam ou se repelem, segundo as leis do dinamismo psíquico. 
Serão estes diferentes estados de Atenção que permitem o aspecto dinâmico na atividade 
da consciência.Em função da atividade predominante, distinguem-se 3 tipos principais de 
Atenção: sensorial, motora e intelectual. 
Página 23 de 50 
 
 
Tipos de Atenção 
Nossos 5 sentidos podem ser ativados conscientemente para focalizar a Atenção sobre um 
determinado estímulo. Os condicionamentos, muitas vezes inconscientes, podem 
proporcionar uma certa atividade de espera, mais ou menos orientada, no sentido de 
confirmar ou não uma determinada expectativa. 
 
Ao acrescentar mais sal na comida, por exemplo, nosso paladar espera, com certa 
expectativa, constatar determinado gosto, assim como esperamos ver, momentos antes, 
determinada cena de acidente ao constatar a direção e velocidade de um carro de 
corridas. Trata-se da espera pré-perceptiva. Outras vezes, entretanto, quando os 
resultados fogem completamente da expectativa perceptiva, acontece uma espécie de 
choque sensorial que dá origem a um estado de surpresa. 
 
Atenção Motora 
Na Atenção motora, a consciência está concentrada na execução de uma atividade física e 
muscular pré-programada. Ao olhar para um objeto, por exemplo, a pessoa se inclina na 
direção desse objeto, e o mecanismo ocular atua de forma que os olhos se dirijam ao 
objeto até que este caia na fóvea; os músculos do cristalino se acomodam de forma que a 
imagem fique no foco mais claro, etc. Ao ouvir um som baixo a pessoa estica o pescoço 
para a frente, coloca sua mão atrás da orelha, e pode fechar os olhos a fim de eliminar os 
estímulos visuais concorrentes na tentativa de selecionar um determinado objeto (sonoro) 
como foco de sua Atenção. Talvez seja por isso que algumas pessoas têm que tirar os 
óculos de sol para prestarem mais Atenção em sons ou imagens. 
 
A Atenção motora se caracteriza também pela tensão estática dos músculos, juntamente 
com uma hipervigilância da consciência. Esta atividade de espera chamada por Pléron de 
"atividade imobilizante", e exige um grande consumo de energia. 
 
Veja-se, por exemplo, a brincadeira de tapa nas mãos. Neste joguete um dos jogadores, 
aquele que dará os tapas, fica com as mãos espalmadas para cima, enquanto o outro 
coloca suas mãos sobre as mãos do primeiro. Repentinamente o primeiro tentará retirar 
suas mãos e estapear as mãos do segundo. Vence o mais rápido. O segundo deve retirar 
suas mãos, tão logo perceba que o primeiro iniciou o movimento de estapeá-lo. 
 
O papel da eficiência da Atenção, nesses casos, consiste privilegiar os elementos 
automáticos da psicomotricidade, ao mesmo tempo em que reduz os elementos 
intelectuais eventualmente atrelados ao movimento. Esta forma de Atenção representa 
uma espécie de alerta às atividades musculares que devem responder prontamente a 
determinada situação no sentido de favorecer a adaptação. 
 
Atenção Intelectual 
Representa o ato de reflexão e de atividade racional dirigidos na resolução de qualquer 
problema conscientemente definido. Apesar da divisão da Atenção em Atenção Sensorial, 
Atenção Motora e Atenção Intelectual, de certa forma a Atenção implica sempre em 
alguma atividade intelectual, ora orientando os movimentos, ora dando sentido às 
percepções. 
 
Afeto e Atenção 
Página 24 de 50 
 
 
Um dos fatores individuais de maior influência no processo da Atenção destacam-se as 
condições do estado de ânimo ou de interesse, os quais podem facilitar ou inibir a 
mobilização da Atenção. Portanto, o elemento afetivo tem significação determinante no 
processo da Atenção, admitindo-se que a pessoa só dirige a Atenção aos estímulos que 
lhe despertam interesse. De fato, ao constarmos que nossa Memória tem mais afinidade 
para as coisas que nos despertam maior interesse, estamos falando antes, que nossa 
Atenção (indispensável para a Memória) é mobilizada mais prontamente pela nossa 
afetividade. 
 
Nossa Atenção sobre algo é tanto mais intensa quanto mais nos interessa esse algo, 
quanto mais desejamos conhecê-lo e compreendê-lo, quanto mais isto nos proporcione 
prazer ou satisfação. É por isso que, durante os episódios depressivos, onde o prazer e o 
interesse estão significativamente comprometidos, a Atenção e a Memória estarão também 
severamente prejudicadas; por falta de interesse e prazer. 
 
Despertam mais nossa Atenção as coisas com as quais mantemos algum laço de 
interesse, alguma predileção. Passeando num shopping as pessoas detém-se (prestam 
Atenção) diante das vitrinas que lhes despertam maior interesse, que mais lhes mobilizam 
afetivamente. Ao estudarmos a sensopercepção também constatamos o fenômeno de 
predileção sensorial de acordo com as tendências afetivas, como é o caso do artista, 
capaz de perceber com mais acuidade a obra de arte. A Atenção seria a principal parte 
dessa predileção sensorial. 
 
De acordo com o papel que determinado estímulo desempenha ou possa eventualmente 
desempenhar na vida pessoal, ele exercerá uma força maior ou menor de atração sobre a 
Atenção. A Atenção realiza uma seleção natural de seus objetivos em função da 
disposição pessoal, a qual tende a iluminar determinados objetos. A Atenção está sempre 
dirigida para algo conscientemente desejado e esse tipo de disposição da pessoa para 
com o objeto é chamado interesse. O interesse e a Atenção estão tão intimamente ligados 
que não é possível existir Atenção completamente desprovida de interesse (Stern). 
 
Níveis e Distribuição da Atenção 
Ao estudar a extensão do campo de Atenção, julga-se muito mais importante a captação 
de uma totalidade ou captação do todo significativo, que a quantidade de objetos que a 
serem captados pela Atenção. Para William Stern, a Atenção é a condição imediata para a 
produção de uma realização pessoal e suas características consistem num esclarecimento 
consciente, na concentração de uma força psíquica disponível para o esclarecimento da 
realidade. 
 
A Atenção da pessoa, num determinado momento pode estar distribuída de várias 
maneiras no campo da realidade. Pode estar concentrada num único objeto, dando-se 
pouca Atenção ao resto, pode estar difusamente espalhada, sem que uma parte específica 
esteja predominantemente em foco ou, por fim, pode estar dividida entre vários objetos, 
quando então a pessoa procura prestar Atenção, simultaneamente, a duas ou mais coisas. 
Quanto maior a divisão da Atenção entre objetos, maior a perda de qualidade da Atenção 
dada a cada parte. 
 
Conforme vimos acima, a amplitude limitada da apreensão, e o fato de que quanto maior a 
Página 25 de 50 
 
 
divisão da Atenção menor a sua qualidade, acentuam a necessidade da organização 
perceptual. Quando algumas partes do campo sãoorganizadas em todos maiores, a 
Atenção necessária para percebê-las eficientemente será menor do que quando as partes 
são simplesmente observadas separadamente. 
 
Através da organização e do agrupamento de objetos a serem percebidos podemos 
estender a amplitude da Atenção. Se separarmos nove grãos de feijão em três grupos de 
três grãos, podemos vê-los mais facilmente. Este é um exemplo simples do princípio 
segundo o qual a organização tem como função permitir; à pessoa, dirigir a Atenção para 
maior quantidade de material. 
 
Podemos ver a mesma coisa, de maneira mais significativa, no desenvolvimento de 
habilidades específicas ou do treinamento. Não é necessário prestar Atenção a uma 
atividade bem treinada, pela simples razão de que o todo integrado está tão reunido que 
pode ser realizado sem Atenção as suas partes isoladas. A inspeção de qualidade numa 
fábrica, por exemplo, é uma atividade tão treinada que o funcionário é capaz de ater-se 
rapidamente à qualquer coisa que estiver estranha àquilo considerado desejável. Este 
funcionário desenvolve seu trabalho muito mais rapidamente que outra pessoa não 
treinada. Assim, é possível perceber, com um simples olhar, situações complexas. 
 
A organização dos objetos facilita para que os estímulos se encaixem na expectativa a ser 
percebida, sem necessidade de Atenção cuidadosa a cada uma das partes isoladamente. 
Isso, naturalmente, permite maior eficiência, embora também possa provocar erros que 
passam desapercebidos, quando estes eventualmente se encaixem bem na organização. 
 
Determinates da Atenção 
Falamos comumente da Atenção como voluntária ou involuntária. A primeira refere-se a 
casos onde o indivíduo parece ter liberdade na determinação do foco de sua Atenção, 
liberdade em escolher intencionalmente aquilo sobre que prestar Atenção. Entretanto, ao 
estudarmos a influência da motivação, do interesse e da afetividade sobre a Atenção essa 
simples divisão em voluntária e involuntária ficará mais complicada. De qualquer forma 
vamos falar sobre essa divisão. 
A Atenção involuntária ou espontânea refere-se a casos em que a pessoa parece menos o 
agente de escolha da direção de sua Atenção do que um joguete nas mãos de forças que 
a obrigam a atentar para isso ou aquilo. Numa narração folclórica e acaboclada de um 
contador de casos goiano , é cômica a passagem onde diz, diante da censura de sua 
mulher por ter olhado demais para outra mulher: "- eu não queria olhar, mas os olhos 
queriam...". 
 
Alguns determinantes da Atenção involuntária estão relacionados ao afeto e sentimento 
dirigidos para o objeto, como é o caso da pessoa faminta dirigir sua Atenção, 
irresistivelmente, para o alimento da vitrina do restaurante. 
 
Outros determinantes se ligam a características duradouras dos objetos estimulantes. 
Essas características determinantes podem ser tão solicitantes que acabam atraindo 
tiranicamente a Atenção, apesar parecer que a pessoa atentou voluntariamente. As 
características dos estímulos, que exigem Atenção, foram muito estudadas por 
experimentos de laboratório e por técnicas de propaganda. Esses fatores determinantes do 
Página 26 de 50 
 
 
estímulo podem ser sumariados da seguinte maneira: 
 
DETERMINANTE DE... EXEMPLO 
intensidade ...................................: o silvo da sirene do carro de bombeiros 
repetição ......................................: anúncios na televisão 
isolamento ....................................: uma única palavra, na página da revista 
movimento e mudança..................: o pisca-pisca no cruzamento da estrada 
novidade........................................: o desenho exagerado do último modelo de carro 
incongruência................................. a mulher fumando um charuto 
 
Tenacidade e Vigilância 
Já vimos, no capítulo da sensopercepção, que o ato de perceber consiste na apreensão de 
uma totalidade e que essa totalidade não representa uma simples soma do elementos 
isolados captados pelos órgãos sensoriais. O todo sensorial caracteriza uma determinada 
forma, e esta forma percebida pelos sentidos será qualitativamente diferente daquilo que 
representa suas partes isoladas. 
 
Para a Atenção, também, somente uma parte das excitações sensoriais adquire relevo, 
dando origem à uma forma sobre a qual se polariza a Atenção, enquanto as partes 
restantes representam o fundo, menos claro, mais difuso e mais fluido. Aqui, tanto quanto 
na sensopercepção, não existem quaisquer elementos isolados, mas apenas fins totais e 
integrado para alguma realização pessoal, e serão "claras" e "nítidas" as percepções 
contidas no foco da Atenção, "vagas" e "difusas" aquelas que se encontram além desse 
foco. 
 
O nível da Atenção depende de vários fatores. Como vimos acima, o principal desses 
fatores é a ânimo ou o interesse (em outras palavras, o afeto). Quando nos encontramos 
diante de uma variedade de objetos, a Atenção está dispersa e os diferentes objetos 
recebem pequenas quantidades de energia e alcançam um grau médio de Atenção. Mas, 
ao concentrarmos a Atenção num único objeto, toda a energia se orienta neste sentido e 
os demais objetos ficam numa zona obscura. No entanto, no objeto em que se concentrou 
a Atenção se descobre uma infinidade de pormenores que haviam passado 
desapercebidos quando este se achava imerso nos demais. Neste caso a Atenção foi 
polarizada no objeto escolhido. 
 
Isso significa que dentro do campo da Atenção nem todos os estímulos recebem a mesma 
conscientização e energia. Vale aqui o alvo inicialmente exemplificado: em torno de uma 
zona central especialmente iluminada e energicamente acentuada, situam-se zonas de 
fraca intensidade. 
 
Quando estamos dirigindo o foco principal da Atenção deve estar na estrada e no trânsito à 
nossa volta. Em nível menos profundo de Atenção estão os acostamentos da estrada, o 
ruído do motor, os instrumentos do painel do veículo, etc. De um modo geral, o campo de 
visão mais externo, a visão periférica, utiliza a energia psíquica sem propósito de foco da 
Atenção, mas apenas como possibilidade para um eventual foco futuro. 
 
Usando ainda o exemplo de dirigir, há também a Atenção de espera, quando então 
Página 27 de 50 
 
 
procuramos, espreitamos, espiamos ou exploramos, sem nenhum objeto específico à se 
focar a Atenção. Digamos que é uma Atenção para as possibilidades. Nesses casos, o 
objeto da Atenção ainda não se acha presente, tudo é indeterminado, não se conhece o 
onde, nem o quando do que vai ser percebido. Pode ser que um cachorro atravesse em 
nossa frente. Esta expectância e incerteza exige que a Atenção percorra continuamente 
um campo mais amplo para, no caso do objeto aparecer, não o deixar escapar e colocá-lo 
imediatamente em foco. Para completar esse exemplo temos que entender o que é 
tenacidade e o que é vigilância. 
 
Bleuler destaca duas qualidades na Atenção: a tenacidade e a vigilância. A tenacidade é a 
propriedade de manter a Atenção orientada de modo permanente em determinado sentido. 
A vigilância é a possibilidade de desviar a Atenção para um novo objeto, especialmente 
para um estímulo do meio exterior. Essas duas qualidades da Atenção se comportam, 
geralmente, de maneira antagônica, ou seja, quanto mais tenacidade sobre um 
determinado objeto está se dedicando, menos vigilante estamos em relação à eventuais 
estímulos a serem apreendidos. 
 
Cisão da Atenção 
É quando os objetos da Atenção opõem-se um ao outro e, por causa disso, não se pode 
estabelecer uma unidade.Observação das mais significativas para a Psicopatologia 
consiste na noção de "cisão" da Atenção. Este fato pode ocorrer com relativa freqüência 
em alguns transtornos psíquicos, criando sérios problemas para a mente que deve 
atender, simultaneamente, a objetivos múltiplos ou extremamente contraditórios. No caso 
de "cisão", Nos casos mais acentuados, em que se manifestam outros sintomas 
concomitantes, a cisão da Atenção pode determinar uma verdadeira desintegraçãoda 
mente. Bateson propos a hipótese do "duplo-vínculo", aplicável às situações insolúveis em 
que se encontram muitos indivíduos no contexto familiar. 
A situação é descrita como aquela em que uma pessoa transmite à outra duas mensagens 
afins, porém contraditórias e incompreensíveis, contendo exigências de natureza oposta, 
ao mesmo tempo que trata de impedir que a vítima expresse uma opinião acerca da 
incoerência. 
 
O paciente se encontra numa situação singular e insustentável. Não pode adotar nenhuma 
atitude sem sofrer pressões e exigências contraditórias vindas, geralmente, de parte de um 
ou de ambos os pais. O fato de não saber para que lado deva se "voltar", para o lado do 
pai ou da mãe, ocasiona o desmantelamento no interior de si próprio e, externamente, nas 
relações interpessoais. Cria-se uma situação sem saída para os que se encontram a ela 
vinculados. 
 
Weakland estabeleceu os princípios da situação de duplo-vínculo criada entre filho-mãe- 
pai: 
1 ) O indivíduo participa de uma relação bastante intensa, isto é, fazem-no sentir que é 
vitalmente importante que possa distinguir com precisão o tipo de mensagem que lhe está 
sendo comunicada, a fim de poder responder de forma adequada. 
2) O indivíduo está atrapalhado em uma situação em que a outra pessoa que participa da 
relação expressa duas formas de mensagens contraditórias, nas quais uma é a negação 
da outra. 
3) O indivíduo é incapaz de fazer comentários a respeito das mensagens que se estão 
Página 28 de 50 
 
 
expressando, com o fim de corrigir sua discriminação do tipo de mensagem a que deve 
responder, isto é, não pode realizar uma formulação meta-comunicativa". 
 
Esta situação de duplo-vínculo implica, naturalmente, a "cisão" da Atenção de quem se 
encontra submetido a esta situação anômala e termina operando a desintegração de uma 
personalidade em evolução e que não alcançou ainda pleno desenvolvimento. 
 
O começo de um ato de Atenção consiste não só em dirigir a Atenção para o estímulo 
sensorial, mas, ao mesmo tempo, interromper o estado psíquico anterior. Assim começa 
uma nova vivência e, se esse processo proporcionava prazer ou não estava ainda 
terminado, a interrupção é vivenciada como uma perturbação. Por isso, admite-se que a 
dupla Atenção que um jovem deve prestar aos pais, quando ambos são muito diferentes e 
expressam opiniões divergentes, contraditórias e conflitantes, determina, como 
conseqüência, uma "cisão" no processo de Atenção, que termina comprometendo, 
sobretudo, a parte afetiva da pessoa implicada. 
 
O Ato de Concentrar a Atenção 
Alonso Fernandez considera dois aspectos no ato de concentrar a Atenção: escolher um 
tema no campo da consciência, elevando-o à um primeiro plano e; manter esse tema 
rigorosamente destacado, sem deixar-se desviar por influências excêntricas do campo da 
consciência, modificando-o com plena liberdade. Assim sendo, o individuo lúcido deve 
dispor de liberdade diante das vivências, tornando possível o funcionamento normal da 
capacidade de concentração . 
A primeira fase da Atenção representa a redução do campo da consciência. A percepção, 
representação ou conceito que se acham eventualmente no centro da consciência são 
percebidos, graças à concentração da Atenção, com maior clareza, nitidez e delimitação. 
Esse processo de concentração pode ser ativo ou passivo, dependendo da situação afetiva 
do momento. 
 
Quanto à intencionalidade da Atenção distinguem-se duas formas: a Atenção espontânea 
e a Atenção voluntária. A Atenção espontânea, como o próprio nome diz, resulta da 
tendência natural da atividade psíquica em orientar-se espontaneamente para as 
solicitações sensoriais e sensitivas necessárias à adaptação com a realidade, sem que 
para tal haja necessidade imperiosa da consciência. Atenção ao andar, ao mastigar antes 
de engolir, desviar de obstáculos para não cair, Atenção ao manusear objetos, por 
exemplo. 
 
A Atenção voluntária é aquela que já exige um certo esforço mental para algum 
determinado fim. Esta atividade psíquica permite que as representações e os conceitos 
objetos da Atenção permaneçam maior ou menor tempo no campo da consciência. Prestar 
Atenção à aula, por exemplo. A afetividade, visto em tópico anterior, participa 
inegavelmente na direção da Atenção voluntária. 
 
Distração 
Sob o rótulo de distração existem dois estados diferentes. Por excesso ou por falta de 
tenacidade. Primeiro, diz respeito à dificuldade da Atenção em fixar-se, portanto, falta de 
tenacidade. A dificuldade de tenacidade, por si só, não implica, como vimos, em prejuízo 
obrigatório da vigilância. Muito pelo contrário. Nos transtornos hipercinéticos das crianças 
Página 29 de 50 
 
 
observamos, quase sempre, uma hiper-vigilância acompanhada de hipo-tenacidade. Ela 
desvia sua Atenção diante de qualquer estímulo ambiental. 
 
No segundo caso trata-se do contrário, ou seja, de uma concentração ou tenacidade muito 
intensa em determinado estímulo, assunto ou representação, que acaba por impedir a 
apreensão de tudo que não se refere ao motivo principal da Atenção, ou seja, por quase 
abolição da vigilância. É a distração do preocupado, do sábio ou do estudioso, 
interessados vivamente e exclusivamente por algum pensamento. 
 
Na distraibilidade do primeiro caso, por falta de tenacidade, ocorre a diminuição da 
Atenção voluntária e a aumento da Atenção espontânea. No segundo caso, ao contrário, 
por excesso de tenacidade, como por exemplo na ioga, há aumento da Atenção voluntária 
e diminuição da Atenção espontânea. Afetivamente podemos dizer que nos estados de 
euforia a distraibilidade é do primeiro tipo e nos casos depressivos é do segundo, porém, 
em ambos extremos do humor haverá certamente prejuízo da Atenção. 
 
Compreendido essas duas maneiras de distraibilidade vamos aos nomes técnicos: 
Hiperprosexia 
Apesar do prefixo "hiper", há aqui prejuízo da Atenção. O "hiper" refere-se ao aumento 
quantitativo da Atenção . Como, em termos de Atenção, a quantidade pode ser tida como 
contrária à qualidade, esse tipo de alteração da Atenção se caracteriza por uma extrema 
labilidade da Atenção (voluntária ou tenaz), o que leva o indivíduo a se interessar, 
simultaneamente, às mais variadas solicitações sensoriais, sem se fixar sobre nenhum 
objeto determinado. Refere-se, pois, a uma hiperatividade da Atenção espontânea. 
 
Esta super-vigilância acompanhada de sub-tenacidade da Atenção é observada em 
estados patológicos acompanhados de excitação psicomotora, como é o caso do Episódio 
de Mania (euforia), no Transtorno Hipercinético da Infância, nas intoxicações exógenas por 
estimulantes como a cocaína ou anfetaminas, na embriaguez, na esquizofrenia ou mesmo 
em pessoas normais passando por momentos de grande excitação. 
 
Hipoprosexia 
Consiste no enfraquecimento acentuado da Atenção em todos os seus aspectos, isto é, 
tanto da Atenção voluntária, quanto da Atenção espontânea (tenacidade e vigilância). É 
observada nos estados onde haja obnubilação da consciência, seja por razões 
neurológicas ou psiquiátricas. Também na embriaguez alcoólica aguda ou embriaguez 
patológica, em casos de psicoses tóxicas, na amência, nos quadros de demências, na 
paralisia geral, na esquizofrenia e em certas reações vivenciais anormais. Os estados 
depressivos sempre se acompanham de diminuição da capacidade de concentrar a 
Atenção, particularmente nos quadros de depressão ansiosa, que podem chegar, em 
casos de estupor melancólico, a uma diminuição acentuada da capacidade de concentrar a 
Atenção. 
 
Em enfermos esquizofrênicos inibidos, a Atenção pode estar polarizada para o mundo 
interno (introspecção), dando ao examinador a impressão de desinteresse completo ao 
mundo exterior. Quando isso acontece falamos em postura autista. Nos deficientes 
mentais também se observa déficit da capacidade de Atenção, tanto mais acentuado 
quanto maior for o grau de deficiência mental, chegando, em alguns casos,

Continue navegando