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Tradições Religiosas Aula 9: Da intolerância religiosa ao secularismo Apresentação Nesta aula, estudaremos como o Cristianismo perdeu uma parte de sua in�uência e como ele se modi�cou, mas mantendo a tradição, para continuar existindo e in�uenciando a sociedade Ocidental. Abordaremos a intolerância religiosa e como ela foi fator preponderante para fazer o �el começar a analisar o papel da Igreja dentro do ordenamento social. Estudaremos como o ato de não aceitar como o outro vê o mundo pode ser danoso para a sociedade. Re�etiremos como a religião perdeu espaço no meio social, e como deixou de ser o porto seguro para onde os �éis se dirigiam quando precisavam de auxílio para resolver problemas ou procurar respostas para perguntas que lhes tiravam o sono. Entenderemos como essas repostas foram buscadas na Ciência moderna, e como as respostas dadas por ela se sobrepuseram aos dogmas religiosos, fazendo nascer, no século XX, uma sociedade nova, secularizada. Bons estudos! Objetivos • Examinar a intolerância religiosa e suas repercussões no convívio social; • Descrever o processo de secularização do Ocidente pós-revolução industrial; • Analisar a reação da religião pós-secularização da sociedade ocidental no século XX. Primeiras palavras Você já percebeu o quanto as pessoas são preconceituosas sem perceber? Julgar o outro e o comportamento do outro é uma característica cultural de todas as sociedades. Quando uma pessoa se depara com um comportamento cultural diferente do seu, o normal é o estranhamento, em seguida, a curiosidade e, por �m, a busca pelo entendimento. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online O Cristianismo nasceu assim. Ele foi perseguido porque possuía uma interpretação diferente sobre a experiência religiosa e a religiosidade. Depois do estranhamento, ele passou a ser aceito e algumas pessoas passaram a ouvir e conviver com os cristãos e sua forma de explicitar a religiosidade. Após o entendimento, ele passou a ser aceito e sua visão sobre o mundo passou a ser incorporada pela sociedade, a ponto de se transformar na religião o�cial de um império que antes lhe perseguia. Entretanto, ao longo dos séculos essa aceitação do credo deixou de ser espontânea e passou a ser imposta. No Ocidente medieval você deveria ser cristão. Caso não fosse, seria excluído, posto em guetos e/ou perseguido. De um discurso que pregava o amor e a inclusão, o Cristianismo passou a usar um discurso de exclusão e a perseguir quem lhe fazia oposição ou discordava de suas ações. Como você já deve ter lido nos livros de História, essas atitudes tiveram como consequência a morte de milhões de pessoas e �zeram surgir questionamentos sobre a primazia da visão cristã sobre o ordenamento social e principalmente, sobre a real importância da religião para a sociedade. Todos esses fatos somados �zeram os clérigos cristãos, de todas as vertentes do Cristianismo, repensarem suas ações e analisarem os atos de seus antepassados. Depois disso, admitiram erros, mudaram comportamentos e ressigni�caram tradições para não perderem espaço no meio social. Intolerância religiosa De�nir intolerância religiosa é fácil, difícil é entender porque as pessoas, em pleno século XXI, são intolerantes. Não aceitar a liberdade de culto, não aceitar que certas religiões têm o direito de existir, destruir algum objeto ou monumento só porque ele representa uma religião, matar pessoas porque ela professa uma religião diferente. São práticas de intolerância religiosa. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online A intolerância ainda acontece talvez por medo. A resposta para todos esses questionamentos é uma: Será pela interpretação de livros sagrados ou obediência a alguma seita que leva a pessoa a acreditar em verdades eternas e que todo o resto deve ser destruído? Etnocentrismo? O medo, o dogma e o preconceito são os principais componentes da intolerância religiosa. Como surgiu a intolerância religiosa? Podemos a�rmar que ela apareceu quando as religiões monoteístas começaram a tomar o lugar das religiões politeístas. O monoteísmo exige a crença no Deus único e tem uma tendência, desde o início, de excluir tudo o mais. No monoteísmo, não pode haver concorrência entre Deus e outra divindade, mesmo que de menor poder. Entretanto, em sua origem há uma contradição dogmática, ao mesmo tempo que exclui o diferente, o discurso das religiões monoteístas está ligado a comportamentos sociais ligados a solidariedade, amor, respeito à diversidade cultural. E surge a pergunta: Como é possível fazer isso excluindo? Como a História conta, pregar a tolerância e a intolerância fez e faz parte das religiões. Nunca houve um momento em que as religiões monoteístas aceitaram placidamente outros credos que não fosse o seu. O máximo que existiu foi respeito à origem da outra religião, não ao �el. Até hoje em dia, as grandes religiões abraâmicas não negam que possuem um ancestral comum e que acreditam no mesmo Deus criador de tudo, entretanto, são inimigas quando se trata da interpretação das escrituras sagradas. Mais ainda, ao longo do tempo o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo foram passando por divisões internas. Os motivos variaram, mas de modo direto ou indireto estavam ligadas à forma como deveriam ser interpretadas as escrituras, de como deveria ser realizado o culto ou a luta pelo controle do poder político nascido da in�uência clerical. Quando nos concentramos no Cristianismo é possível ver isso de forma mais clara. As cruzadas, a maneira como foram colonizadas as Américas, a Inquisição, as guerras travadas na Europa, cuja origem estava ligada a disputas político-religiosas. Esses são só alguns exemplos, mas o fato é que a briga pelo controle da palavra de Deus foi e ainda é uma constante dentro do Cristianismo. Tribunal da Inquisição Espanhola. Pintura de Francisco Goya. | Fonte: Infoescola Você se lembra das últimas aulas? O comportamento intolerante cristão é incongruente. O Cristianismo surgiu e se expandiu por meio de um discurso includente. Deus é amor e é misericordioso. Esse foi o discurso usado por Paulo de Tarso e pela Igreja Cristã Primitiva. A fala era clara: conversão sem imposições. Para ser cristão, bastava ter fé em Cristo e na salvação para quem acreditasse no evangelho. A História tende a mostrar que a intolerância religiosa cristã é obra do Papado. A busca pelo controle político e social da Europa fez a Igreja Católica Romana usar a fé para controlar as monarquias, mas a Reforma Protestante demonstrou que isso não foi só uma prerrogativa Católica. A História do monoteísmo protestante também está cheia de episódios de intolerância. No início, a intolerância religiosa era quase uma regra. Quando a Igreja Católica Romana atacava o protestantismo, suas várias vertentes se uniam, mas depois que o ataque papal passava, havia perseguições sistemáticas aos dissidentes protestantes. Exemplo Quando os alemães que viviam no campo se revoltaram contra os nobres que lhes exploravam, Lutero �cou do lado da nobreza e condenou as revoltas camponesas. Na Suíça, Calvino perseguiu e mandou queimar todos que discordavam da ortodoxia existentes em suas pregações. Lutero e Calvino a�rmaram que a Igreja Católica necessitava ser reformada, mas quem discordasse das suas propostas de Reforma era perseguido. O Cristianismo dominou o Ocidente pela força e pela imposição da fé. A forma como aconteceu a colonização das Américas e o neocolonialismo no século XIX são outros dois exemplos que corroboram essa a�rmação. javascript:void(0); javascript:void(0); Você se lembra de como a palavra de Cristo chegou nas Américas? Veja a seguir. Evangelização nas Américas Clique no botão acima. Evangelização nas Américas A evangelização foi imposta pela força. As civilizações Maia, Inca e Asteca foram destruídas em nome de Deus e dos metais preciosos. A evangelização aconteceu pela imposição da cultura europeia e do Cristianismoaos americanos primitivos. Eles deveriam abandonar suas raízes religiosas politeístas e abraçar o monoteísmo cristão. No século XIX, quando a Europa imperialista controlou a Ásia e a África, a intolerância religiosa também foi sentida. Os Europeus desrespeitaram e proibiram inúmeras expressões da religiosidade dos povos por eles dominados por acreditarem que essas expressões religiosas eram erradas. A visão cristã de mundo inferiorizou as religiões locais e várias pessoas se converteram e abraçaram o Cristianismo para serem aceitas pelos seus dominadores. A cultura cristã europeia desrespeitou a organização cultural e religiosa de outros povos por acreditar que eles interpretavam o mundo de forma errada. A verdade estava no Cristianismo e seus dogmas. A ironia disso tudo é que os povos que foram dominados perderam suas terras, foram escravizados e foram obrigados a abandonar suas culturas em nome de Deus. A dominação e a exploração socioeconômica aconteceram para garantir a salvação eterna desses povos. Para terminar, uma re�exão: As pessoas nascem inseridas em determinadas culturas que as moldam socialmente, mas suas raízes culturais não condicionam suas vidas. As pessoas são capazes de analisar a realidade e modi�cá-la. Se olharmos por esse prisma, a tolerância e ou a intolerância religiosa são uma questão de escolha. Boa parte das guerras que existem atualmente na Ásia e na África são frutos da intolerância religiosa e da visão etnocêntrica ocidental de mundo. Nós criamos vários con�itos por desconsiderarmos a cultura de outros povos, por acharmos que éramos superiores. Se realmente o Ocidente se propõe a mudar sua postura e seu olhar sobre os outros povos, o discurso cristão de inclusão e amor ao próximo deve ser posto em prática. Até agora esse é só um discurso politicamente correto. https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar1 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar1 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar1 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar1 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar1 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar1 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar1 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar1 Atividade 1 - Em março de 2019, o Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, decidiu que animais poderiam ser sacri�cados em rituais religiosos. A base de sustentação dos argumentos de todos os juízes foi a garantia constitucional da liberdade religiosa. Esse fato repercutiu na sociedade brasileira e várias instituições religiosas cristãs se manifestaram contra essa decisão. A condenação do sacrifício de animais por entidades cristãs pode ser considerada um ato de intolerância religiosa? Justi�que sua resposta. A secularização do Ocidente: descrença em Deus ou fé da Ciência? Imagine a seguinte situação: Uma pessoa que tem fé em Deus está hospitalizada, rezando com um clérigo cristão (padre ou pastor), esperando a hora da morte. Então, chega um médico com um comprimido e diz para ela tomar o remédio que �cará boa. A pessoa �ca toda contente e pega o comprimido, mas quando vai tomá-lo, o clérigo diz que se ela tem realmente fé em Deus deve abdicar de se medicar porque Deus irá curá- la. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Se fosse você nessa situação faria o quê? Manteria a fé em Deus ou acreditaria da Ciência? Se respondeu que tomaria o remédio, você chegou à essência da secularização. Nas sociedades pré-industriais, a religião era a bússola que guiava a vida das pessoas, entretanto, a partir do século XIX, a bússola passou a ser a Ciência. Essa inversão de valores não foi rápida, passaram-se séculos para que a sociedade ocidental aceitasse ser guiada pela fé na Razão e na metodologia cientí�ca para explicar a realidade. Antes de aceitar a Ciência como o meio básico para entender a realidade, o Ocidente era regido social e culturalmente pela religião cristã. Tudo girava em torno dos valores cristãos. Quando a Razão passou a ser vista também como um meio de explicar a realidade, a religião entrou em crise. Por quê? Porque surgiram a Sociologia, a Antropologia, a Psicologia e outras ciências que usam a Razão para explicar os costumes, as tradições e os comportamentos humanos. Antes da ascensão do pensamento racional no período moderno, a sociedade ocidental via a vida na Terra como um momento de passagem. A vida real era junto de Deus, no Céu, pois Ele criou e deu vida a tudo. O pensamento racional tirou de Deus esse poder (pelo menos em parte) e entregou ao homem, a�rmando: use-me, que você será capaz de entender a realidade. O uso da Razão tornou o homem autônomo. O culto à religião deu lugar ao culto da Razão. A sociedade ocidental, principalmente a partir da revolução industrial, passou a crer que nada poderia ser visto como verdade sem antes ter passado pelo crivo do conhecimento cientí�co. A prova cientí�ca passou a ser o selo de qualidade da verdade. A racionalidade do argumento dava credibilidade às discussões e análises da realidade. As explicações religiosas perderam espaço político e social, porque não legitimavam mais o ordenamento sociopolítico. Antes que você pergunte, não se está a�rmando que a Ciência acabou com a religião. O que dizemos é que a Ciência tornou a religião submissa. Ela criou os alicerces para a separação entre estado, sociedade e religião. Foi o pensamento cientí�co que criou o estado burocrático e tecnicista. Também foi ele que criou o conceito de progresso ao conceber máquinas, remédios, vacinas e outras descobertas cientí�cas. O pensamento cientí�co inspirou o Positivismo, por ser racional. Sem organização social não há progresso. Sob essa perspectiva, o pensamento religioso mais atrapalha do que ajuda, por isso, ele �cou em segundo plano depois da revolução tecnológica que começou no século XIX e aumentou no século XX. O distanciamento entre homem e religião | Fonte: Brasil Escola Então o homem abandonou a fé? Veja a seguir. Religião e razão Clique no botão acima. javascript:void(0); javascript:void(0); https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar2 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar2 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar2 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar2 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar2 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar2 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar2 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar2 Religião e razão O homem nunca abandonou a fé, ele só a transferiu da religião para a Razão. A Ciência, a capacidade de produzir bens materiais e consumi-los, e o desenvolvimento de tecnologias capazes de resolver os problemas cotidianos do homem �zeram com que abandonasse as explicações teológicas e aceitasse as explicações terrenas. A fé e a esperança na salvação saem de Deus e vão para o mundo terreno, secularizando-se. A sociedade ocidental passou a ser antropocêntrica, o homem passou a ser o centro de tudo. Deus e o Sagrado, ambos tão caros aos indivíduos até a Idade Média, foram racionalizados. As instituições religiosas, que antes ditavam os comportamentos sociais pautados na ética e moral cristã, deram lugar ao cienti�cismo. O conceito de comunidade que conectava os indivíduos por meio de uma entidade sobrenatural deu lugar a uma sociedade em que o individualismo e a Razão são as bases que moldam o convívio social. Aristóteles a�rmou que o homem sempre busca felicidade. Acreditando nisso, você pode a�rmar que o homem medievalbuscava a felicidade na fé em Deus e na salvação da alma e que o homem moderno busca a felicidade na Ciência, na capacidade que ele possui de resolver seus problemas cotidianos. Essa é a essência da secularização. Alguns pensadores a�rmam que a secularização, ao contrário do que a maioria pensa, é uma forma de revitalização das religiões. Eles acreditam que a secularização não acabou com a experiência religiosa, com a religiosidade nem mesmo com as religiões institucionais. Eles a�rmam que elas simplesmente foram ressigni�cadas, fazendo nascer um novo sentido para experiência religiosa e a espiritualidade. Isso aconteceria porque o crente, ao invés de buscar o êxtase religioso em grupo, externando a todos a sua religiosidade, passou a buscá-lo na intimidade do eu. Para essa corrente, o secularismo não acabou com as religiões, ele simplesmente retirou delas a premissa de guiar a sociedade e ditar comportamentos sociais, e a colocou na vida privada. A experiência religiosa continua a ser procurada pelas pessoas, mas agora ela é de foro íntimo. A reação cristã à modernidade O que é a modernidade? Uma resposta sucinta, mas satisfatória é: A modernidade representa o momento em que o mundo ocidental sofreu uma ruptura. As premissas medievais que ordenavam a sociedade foram sendo, gradativamente, substituídas pela razão e pelo cienti�cismo. A sociedade passou a crer nas verdades cientí�cas e a se guiar por elas, colocando em segundo plano as premissas religiosas que antes orientavam os indivíduos e ordenavam a sociedade. As consequências disso foram muitas, mas podemos dimensioná-las, para você entender melhor em três a�rmações: Como, então, o Cristianismo resistiu a essas mudanças? Veja a seguir. A experiência religiosa e a religiosidade passaram a ser buscadas de forma mais individualizada e sua expressão pública se tornou menos relevante. Houve a fusão de vários elementos religiosos, normalmente de forma sincrética. As instituições religiosas tradicionais entraram em decadência. Religião e razão Clique no botão acima. https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar3 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar3 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar3 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar3 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar3 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar3 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar3 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0158/aula9.html#complementar3 Religião e razão Sendo mais �exível e se adaptando às mudanças comportamentais dos �éis. No mundo moderno, a diversidade cultural é uma realidade, por isso, as religiões tradicionais passam por di�culdades para se adaptar a esse contexto. Para sobreviver, as religiões devem se desfazer de dogmas e aceitar a pluralidade. Pregar usando a televisão e o rádio e criar comunidades religiosas virtuais são só dois exemplos das mudanças pelas quais passaram o Cristianismo para se adaptar ao mundo moderno. Com certeza você já viu uma pregação pela TV. Essa é uma realidade que não tem volta. Para alcançar o coração dos �éis, o Cristianismo se modernizou tentado manter suas tradições. Por que tentando? Porque a sociedade atual não aceita a tradição pela tradição, ela questiona. O credo só acontece quando as respostas dadas aos questionamentos feitos são satisfatórias. A in�uência religiosa tradicional foi posta de lado pelo �el, mas ele não deixou de crer em Cristo. O catolicismo tentou se adaptar a essa nova realidade no Concílio Vaticano II. O papel desempenhado pelos movimentos leigos dentro da Igreja passou a ser mais valorizado, eles se multiplicaram e se fortaleceram. A Igreja passou a ouvir a sociedade e seus anseios e também �cou mais ecumênica. Dogmas foram relativizados e rituais mudaram ou foram abolidos, entretanto, a sociedade atual pede mais mudanças, como a relativização de alguns pressupostos éticos e morais que são pedras angulares do catolicismo: o �m do celibato, a inclusão da mulher no clero, a aceitação da orientação sexual. Como você pode perceber, tradição e modernidade são mais que palavras. Um problema que não é só do catolicismo, mas da cristandade como um todo, é resgatar o crente que busca a experiência religiosa em emoções e sensações. Nesse sentido, a fé dá lugar a experiência sensível. O indivíduo ainda busca o sobrenatural, a modernidade não acabou com isso, ela só diminuiu ou relativizou a importância das religiões tradicionais. A modernidade fez nascer um novo cristão, um crente que busca rituais e regras morais que satisfaçam suas necessidades. Por isso, surgem inúmeras igrejas cristãs e uma nova forma de expressão conservadora (como a Renovação Carismática Católica); há uma demanda por um Cristianismo que esteja antenado com o individualismo típico da modernidade. O Cristianismo moderno é complexo porque não há uma obrigação de aceitação das regras. As religiões tradicionais não controlam mais os comportamentos sociais. O novo cristão é um indivíduo que optou, voluntariamente, por seguir ideologias cristãs, mas não se sente preso, de maneira geral, a nenhuma organização religiosa. Essa verdade inconveniente é outro obstáculo que o Cristianismo tem que superar para retomar o controle sobre o sobrenatural. A modernidade desconstruiu a �delização religiosa e as instituições religiosas passaram a ser vistas de forma mais pragmática. Elas passaram a ter uma função utilitária para boa parte dos indivíduos que frequentam um culto. O contato com a Sagrado ocorre a partir das necessidades individuais e o princípio cristão de coletividade vem sendo substituído pela busca da felicidade e da realização individual. Se isso é verdade, também é verdade que movimentos conservadores estão se expandindo dentro do Cristianismo. A modernidade fez nascer uma pluralidade de visões de como se deve vivenciar a experiência religiosa cristã. Atualmente, há dentro do Cristianismo: No século XX, o Cristianismo viu surgir no seu meio movimentos religiosos que buscam a renovação do credo a partir da individualização da experiência religiosa. Isso aconteceu porque as pessoas possuem dentro de si duas ideologias que, em princípio, são antagônicas: a racionalidade da modernidade e a busca por uma experiência religiosa que tenha no seu cerne o êxtase sensitivo. As igrejas pentecostais, que buscam a experiência religiosa de forma mais pessoal e existencialista. As pessoas sem religião, que dizem acreditar em Deus, sem seguir nenhuma religião tradicional. Os fundamentalistas, que se negam a aceitar outra interpretação da Bíblia que não seja a sua. A teologia da libertação, voltada para a inclusão social e a prestação de serviços aos mais necessitados. Atividade 2 - O advento da modernidade fez com que instituições religiosas cristãs perdessem boa parte de sua in�uência sobre o ordenamento social do mundo ocidental. Explique por que isso aconteceu. 3 - O cristão ocidental, no século XX, perdeu a fé nas instituições religiosas tradicionais, mas se manteve-se �el a Cristo. Essa a�rmação é verdadeira? Notas Referências AGOSTINI, Frei Nilo. Ética cristã e desa�os atuais. Petrópolis: Vozes, 2002. DELUMEAU, Jean. A Civilização do Renascimento. v. 1. Tradução Manuel Ruas. Lisboa: Editora Estampa, 1994. GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais. São Paulo: Cia. das Letras, 1990. LE GOFF, Jacques. O Deus da Idade Média: conversas com Jean-Luc Pouthier. Tradução de Marcos de Castro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. Majorano S. A consciência: uma visão cristã. Aparecida (SP): Santuário, 2000. SILVA, Antonio Ozaí da. Monoteísmo e Intolerância Religiosa e Política. Revista Espaço Acadêmico, n. 113, outubro de 2010. Disponível em êmico, n. 113, outubro de 2010a. Disponível em: //www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/11370/6156 WALZER, Michael. Da tolerância. Tradução Almiro Pisetta. São Paulo: Martins Fontes, 1999. Próxima aula • O surgimento do movimento ecumênico no seio das igrejas protestantes e sua evolução histórica; • O Diálogo inter-religioso e seu caráter plural; • O respeito à diferença e à pluralidade de credos no século XXI. Explore mais Leia o livro Dialética da Secularização: Sobre Razão e religião. O livro foi organizado por Florian Schüller a partir de um debate realizado pela Academia Católica da Baviera, em 2004, entre o �losofo Jürgen Habermas e o então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, do Vaticano, Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI. O debate tratou das bases morais que nortearam as discussões políticas que antecederam o nascimento do Estado Liberal. A leitura é interessante porque faz uma contraposição entre a visão racional de Habermas e a secularização da sociedade ocidental e os argumentos Ratzinger, que defendiam a interpretação dessa realidade a partir da perspectiva cristã, uma vez que ela é anterior a racionalização da realidade. (SCHÜLLER, Florian (Org.). Dialética da secularização: sobre razão e religião. São Paulo: Ideias & Letras, 2007. 103 p.) Assista aos vídeos Intolerância religiosa, parte I e parte II. Eles fazem parte do programa jornalístico Sala de Debate, do Canal Futura. Vários estudiosos do tema discutem o crescimento da intolerância religiosa no Brasil e no mundo, e debatem à luz da Constituição Federal e das ciências sociais como a intolerância deve ser entendida e combatida. javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0);
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