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Técnicas de Tratamento de Resíduos Material Teórico Educação Ambiental: Instrumento de conscientização ambiental nos programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Marcus Vinicius Carvalho Arantes Revisão Técnica: Prof.a Dr.a Eloá Cristina Figueirinha Pelegrino Revisão Textual: Prof.ª Me. Fátima Furlan • Introdução; • Educação Ambiental: Contexto Histórico; • Educação Ambiental: Definição; • Educação Ambiental: Princípios Ambientais; • Considerações Finais. Caro (a) aluno (a), nessa unidade serão abordados importantes princípios ambientais de conscientização que podem ser difundidos por meio da Educação Ambiental. Esses princípios ambientais estão elencados abaixo: I. Prevenção e Precaução; II. Ética Ambiental; III. Publicidade das informações; IV. Responsabilidade Compartilhada; V. 3Rs, 5Rs e 8Rs; VI. Consumo Sustentável. A abordagem dos temas supracitados será realizada por meio do material didático desta unidade, vídeoaula e material complementar. É importante salientar que o estudo do material didático deve ser complementado com o acesso ao material de vídeoaula. OBJETIVO DE APRENDIZADO Educação Ambiental: Instrumento de conscientização ambiental nos programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Educação Ambiental: Instrumento de conscientização ambiental nos programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos Contextualização Para iniciarmos esta unidade, indico-lhe uma breve leitura do artigo publicado pelas autoras Liliane Soares, Alexandra Salgueiro e Maria Gazineu na “Revista Ciências e Tecnologia”, cujo título é: Educação ambiental aplicada aos resíduos sólidos na cidade de Olinda, Pernambuco – um estudo de caso. O presente artigo aborda a importância da educação ambiental como instrumento de transformação individual e social, sobretudo no que tange à conscientização ambiental desenvolvida no programa de gerenciamento de resíduos desenvolvido no Município de Olinda - Pernambuco, em 2004. O referido artigo pode ser acessado por meio do link abaixo: Educação Ambiental Aplicada aos Resíduos Sólidos na Cidade de Olinda, Pernambuco – um estudo de caso. https://goo.gl/lDZRGy Ex pl or 8 9 Introdução Nas unidades anteriores, foram descritas as técnicas de tratamento aplicáveis aos resíduos e rejeitos classificados como perigosos e não perigosos, elencando as suas principais características e especificidades. Pudemos observar diversas técnicas de tratamento que têm por finalidade oferecer o gerenciamento, ambientalmente correto, dos diversos resíduos e rejeitos gerados pelas atividades antrópicas, buscando, portanto, a preservação da saúde pública e a qualidade ambiental. Na presente Unidade, será abordada a importância do instrumento pedagógico intitulado como “Educação Ambiental” no processo de implementação de programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos sólidos. Esse instrumento acaba sendo fundamental para o desenvolvimento de uma conscientização ambiental nos indivíduos, gerando comprometimento e responsabilidade no que diz respeito ao gerenciamento correto de resíduos e rejeitos. Em linhas gerais, a educação ambiental configura-se como um instrumento imprescindível que auxiliar na estruturação de programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos sólidos, pois busca promover mudanças de comportamento no indivíduo, fazendo com que este enxergue a sua importância em um eventual programa de gerenciamento, sobretudo no que tange às etapas de separação/acondicionamento, tratamento e destinação de resíduos ou disposição final de rejeitos. A conscientização ambiental promovida pela educação ambiental é fundamental nesses programas de gerenciamento, pois faz com que o indivíduo reconheça sua responsabilidade em todo o processo de gerenciamento, ambientalmente correto, de seus resíduos e rejeitos. Nos tópicos a seguir, serão apresentados alguns fatos históricos que ajudaram a definir o instrumento pedagógico “Educação Ambiental”, assim como os conceitos e princípios ambientais difundidos por esse importante instrumento de conscientização ambiental. Educação Ambiental: Contexto Histórico A educação ambiental é um instrumento pedagógico que emergiu da necessidade de se difundir o respeito a todas as formas de vida, estimulando a formação de sociedades mais justas e ecologicamente equilibradas (SORRENTINO, 2005). Sendo também notabilizada como um instrumento educador, na qual a corresponsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover o desenvolvimento sustentável (REIGOTA, 2010). 9 UNIDADE Educação Ambiental: Instrumento de conscientização ambiental nos programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos A estruturação da educação ambiental foi influenciada por meio de diversos eventos internacionais, sendo contextualizados, brevemente, nos seguintes tópicos: 1952: London Smog: Consistiu em uma notável catástrofe ambiental (poluição atmosférica), decorrente do elevado processo de industrialização na Inglaterra, que assolou a cidade de Londres em 1952. Fato que culminou na morte de, aproximadamente, 1.600 pessoas. Esse evento simbólico demonstrou para toda comunidade internacional os efeitos dos impactos ambientais ocasionados pelo homem, despertando uma conscientização ambiental nos indivíduos e a necessidade de se refletir sobre os efeitos das atividades antrópicas sob a saúde humana e a qualidade ambiental 1965: Conferência de Educação da Universidade de Keele: Conferência que buscou discutir as extensões dos impactos ambientais desencadeados pelas ações humanas. Essa conferência destacou-se como o local cuja expressão “Educação Ambiental”, oriunda do mesmo termo em inglês “Environmental Education”, foi proferida pela primeira vez. 1968: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultu- ra – UNESCO: Evento que classificou a educação ambiental como um tema com- plexo e interdisciplinar que não deve se limitar a uma única disciplina específica. 1968: Clube de Roma: Reunião composta por diversos atores sociais (políticos, cientistas, empreendedores industriais etc.), cuja finalidade consistiuem avaliar o uso crescente dos recursos naturais, o que potencializava diversos problemas ambientais, tais como: industrialização exacerbada, escassez de alimentos, esgotamento de recursos não renováveis e o elevado crescimento demográfico. 1972: Declaração de Estocolmo: Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente realizada, em 1972, na cidade de Estocolmo, Suécia. Essa conferência configurou-se com um marco na elaboração de uma política mundial de proteção ambiental, culminando na criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e na criação da recomendação para a criação de um Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), também conhecido como “A Recomendação 96”. A Recomendação 96 promoveu os primeiros alicerces da educação ambiental. 1975: Carta de Belgrado: A “Carta de Belgrado” foi elaborada em um evento promovido pela UNESCO, conhecido como “Encontro de Belgrado”, através da qual estabelece as metas e os princípios globais para a estruturação teórica da educação ambiental. 1977: Declaração de Tbilisi: A “Declaração de Tbilisi” fora elaborada em um evento internacional sobre a educação ambiental, conhecido como “Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental”. Esse documento importante traçou princípios e diretrizes que influenciaram, significativamente, a estruturação da Política Nacional de Educação Ambiental, presente na Lei nº. 9.795/99. Essa política será abordada posteriormente. 10 11 1992: Agenda 21: A “Agenda 21” fora um documento elaborado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro, conhecida como “Eco-92”. Dentre os capítulos que compõe a Agenda 21 podemos destacar o capítulo número 36, ao qual estabelece os princípios que viriam a estruturar a Política Nacional de Educação Ambiental no Brasil. No presente capítulo, procuramos expor o conjunto de eventos que influenciaram a formação e estruturação do conceito pedagógico intitulado como educação ambiental. Nos próximos tópicos, apresentaremos a definição de educação ambiental, assim como os princípios ambientais e mudanças de hábitos que podem ser difundidos por esse instrumento de conscientização ambiental. Educação Ambiental: Defi nição Dentre as diversas definições existentes de educação ambiental na comunidade acadêmica, a presente unidade adotará a definição padrão presente na Lei 9.795, de 27 de abril de 1999. Logo, a referida Lei define a educação ambiental como: “Caracteriza-se como um mecanismo educacional que busca suscitar a preocupação individual e coletiva para as questões ambientais e sociais, por meio da construção de valores e princípios sociais, consciência socioambiental, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a identificação e a proposição de soluções para os problemas ambientais, preservando, contudo, a saúde humana e ambiental”. Por meio desta definição, podemos observar aspectos importantes relacionados à educação ambiental, como a preocupação desse instrumento em estimular uma maior conscientização ambiental nos indivíduos e a construção de soluções para os mais diversos desafios e problemas ambientais, como no caso do gerenciamento dos resíduos e rejeitos sólidos. E ainda segundo a Lei nº 9.795/99, que também instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental no Brasil, a educação ambiental deve ser considerada como um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. Esses dois tipos de educação ambiental, formal e não formal, serão descritos nos tópicos a seguir. 11 UNIDADE Educação Ambiental: Instrumento de conscientização ambiental nos programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos Educação Ambiental: Formal A educação ambiental “Formal” consiste no tipo de educação que deve ser desenvolvida e aplicada nas grades curriculares das diversas instituições de ensino público e privado. Ou seja, a educação ambiental formal deve ser ministrada e desenvolvida nos seguintes níveis e modalidades de educação e ensino adotados no Brasil (Lei nº 9.394/96): Fonte: Adaptado das leis nº 9.394/96 e 9.795/99 Além das modalidades de ensino ilustradas acima, a Lei 9.795/99 estabelece também que a educação ambiental formal deve estar presente nos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas. Importante! A Lei federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, define as diretrizes e bases da educação no Brasil, dividindo os níveis e modalidades de educação e ensino em: » Educação básica; » Educação superior; » Educação especial; » Educação profissional; » Educação de jovens e adultos. Você Sabia? Educação Ambiental: Não formal Já a educação ambiental “Não formal” é definida pela Lei 9.795/99 como: “As ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente”. 12 13 As ações de conscientização ambiental que compõem a educação ambiental “Não formal” podem ser consideradas mais pragmáticas, quando comparadas com a educação “Formal”. Ou seja, a educação ambiental “Não formal” configura- se como um mecanismo de conscientização mais simples e direto, podendo ser desenvolvida em campanhas de conscientização nos diversos segmentos da sociedade como: • Meios de comunicação em massa; • Programas de educação ambiental em parcerias com escola, universidades e organizações não governamentais (ONG) etc.; • Programas educacionais desenvolvidos em comunidades tradicionais, agri- cultores, unidades de conservação etc.; • Programas e campanhas educativas. É importante salientar que a educação ambiental, tanto de caráter “Formal” quanto ”Não formal”, pode desenvolver importantes instrumentos de conscientiza- ção, sobretudo em programas e campanhas educativas relacionadas ao gerencia- mento de resíduos e rejeitos, abordando temas como: identificação e segregação/ acondicionamento de resíduos e rejeitos, coleta seletiva, destinação e disposição final corretas etc. A importância da educação ambiental nesses programas é ressaltada na Política Nacional de Resíduos Sólidos, sendo considerada como um importante instrumento de conscientização ambiental. Educação Ambiental: Princípios Ambientais Até agora vimos que a educação ambiental se caracteriza como uma vertente educacional que busca despertar uma consciência individual e coletiva para as questões ambientais e sociais (humanistas), de maneira formal e não formal. Esse instrumento educacional acaba sendo uma via onde podemos difundir uma série de ações de sensibilização e conscientização ambiental que venham a auxiliar na elaboração de programas de gerenciamento de resíduos, tais como: • Conceitos e Definições; • Princípios Ambientais; • Mudanças de comportamento de consumo. A seguir, serão abordadas as principais características de cada aspecto ilus- trado acima. 13 UNIDADE Educação Ambiental: Instrumento de conscientização ambiental nos programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos Conceitos e Definições de Resíduos e Rejeitos Foi explanado nos tópicos anteriores que a educação ambiental pode ser considerada como um instrumento que pode alicerçar os programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos sólidos de diversas naturezas. Isto é, antes da implementação de qualquer programa de gerenciamento de resíduos e rejeitos, é importante investir na conscientização ambiental dos indivíduos que vierem a participar desse projeto. Por meio de campanhas de conscientização ambiental é possível ensinar os indivíduos sobre a sua importância em todo o ciclo de gerenciamento correto de seus resíduos e rejeitos. Ou seja, por meio de campanhas e programa educativos é possível esclarecer as seguintes dúvidas como: • O que é considerado como um rejeito? • O que é considerado comoum resíduo reciclável? • O que pode e não pode ser reciclado? (ILUSTRAÇÃO) • Qual material devo encaminhar para a logística reversa? • Quais são os dias que meu município disponibiliza o recolhimento dos meus resíduos recicláveis? Figura 1 - Ilustração - O que pode ser e o que não pode ser reciclado Portanto, a educação ambiental configura-se como uma mola propulsora de campanhas de conscientização ambiental direcionadas para esclarecimento de dúvidas conceituais, procurando esclarecer aos indivíduos aquilo que pode e não pode ser encaminhado para os processos de reciclagem. Essas ações devem ser desenvolvidas e aplicadas continuamente, ou seja, antes e durante da implantação de um programa de gerenciamento de resíduos e rejeitos. 14 15 Princípios Ambientais nos Programas de Gerenciamento de Resíduos e Rejeitos Os princípios ambientais são constituídos por um conjunto de leis ou valores considerados universais que definem as regras de eventuais políticas, campanhas e programas ambientais. Nesse tópico, serão ilustrados alguns dos principais princípios ambientais que podem ser fundamentais no processo de conscientização ambiental de indivíduos que venham a participar de programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos. Princípios da Prevenção e Precaução Os princípios ambientais da “Prevenção” e “Precaução” são princípios oriundos do direito ambiental e exercem um papel fundamental quando se pretende explicar a importância de se implementar o gerenciamento, ambientalmente, correto de resíduos e rejeitos perigosos e não perigosos. Os autores de direito ambiental (BELTRÃO, 2009) e (ANTUNES, 2010) definem os princípios da Prevenção e Precaução como: Prevenção “Princípio que objetiva proteger o meio ambiente e a saúde pública, por meio da implementação de medidas preventivas quando houver ameaça de danos graves e irreversíveis, já conhecidos, ao meio ambiente”. Precaução “Princípio utilizado quando se pretende evitar a degradação ambiental, nos casos de incerteza científica acerca da extensão e característica da mesma”. Em linhas gerais, adota-se o princípio da prevenção quando se pretende explicar a importância de se implementar medidas preventivas quando há certeza de amea- ça de danos ambientais graves irreversíveis. Ou seja, adota-se, por exemplo, o prin- cípio da prevenção quando se efetua o tratamento prévio de resíduos perigosos, pois já são conhecidos os diversos impactos nocivos à saúde humana e à qualidade ambiental acarretados pelo descarte incorreto desses materiais. Importante! Prezado aluno, você pode consultar o material Didático das Unidades anteriores para relembrar as características gerais dos resíduos sólidos considerados perigosos, tais como: os resíduos de serviço de saúde dos grupos A (biológicos), B (químicos) e E (perfurocortantes), pilhas e baterias, pneus, Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE), etc.” Importante! 15 UNIDADE Educação Ambiental: Instrumento de conscientização ambiental nos programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos Já o princípio da precaução é adotado quando se pretende proteger a saúde pública e a qualidade ambiental nos casos de incerteza científica da extensão do impacto ambiental que determinado resíduo ou rejeito poderá oferecer ao meio ambiente. Como, por exemplo, em casos onde se reconhece que um eventual descarte de um resíduo, sem tratamento prévio, poderá gerar algum impacto ambiental. No entanto, nesse caso não se sabe a extensão ou tamanho desse impacto, por isso adota-se o princípio da precaução. Logo, o princípio da precaução é adotado no gerenciamento de resíduos que podem oferecer risco à saúde pública e ao meio ambiente, como no caso de resíduos farmacêuticos (restos de medicamentos). Embora não se saiba a extensão dos impactos que esses resíduos podem oferecer à saúde humana e ao meio ambiente, adota-se a incineração desses resíduos como medida de precaução de eventuais impactos socioambientais. Ética ambiental A ética ambiental, criada em 1960, é um princípio ambiental que emergiu da preocupação com a sobrevivência de todos os seres vivos do planeta, assim como a preservação de seus respectivos habitats. Esse princípio é precursor ao conceito de “Desenvolvimento sustentável”, sendo definido pelos autores (BRENNAN, A. & LO, Y. S, 2002) como um princípio que afirma que a conservação da vida humana está ligada à conservação da vida das demais espécies do planeta. A ética ambiental procura enxergar cada indivíduo diante da natureza, respeitan- do todas as suas formas de vida, essa visão pode ser denominada como “ecocên- trica”, ou seja, um princípio ambiental centrado na preservação da natureza. Esse princípio diverge da visão antropocêntrica que coloca o ser humano, hierarquica- mente, no centro do universo. A figura abaixo simboliza as diferenças entre as linhas de pensamento “ecocên- trica” e “antropocêntrica”. Visão “Antropocêntrica” Visão “Ecocêntrica” 16 17 Ecocentrismo: é defi nido pelo autor DUNLAP (2008) como: “Grau em que as pessoas se conscientizam sobre os problemas ambientais e são capazes de empenhar esforços para contribuir na solução ou ao menos demonstrar vontade de engajar-se pessoalmente na questão ambiental.” Antrocêntrico: é defi nido pelo Dicionário Aurélio como um sistema fi losófi co que considera o homem como o centro do universo Ex pl or A ética ambiental considera, portanto, que o ser humano está inserido no meio ambiente com as demais espécies sem hierarquia, ou seja, o ser humano faz parte da natureza e não pode explorá-la, infinitamente, como se fosse seu único “proprietário”. Responsabilidade Compartilhada A responsabilidade compartilhada é um princípio ambiental que emergiu na Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/10), sendo abordada no material didático das unidades anteriores. A Responsabilidade Compartilhada possui um caráter inovador e agregador à temática de gestão de resíduos sólidos, postulando que todos os geradores de resíduos, seja pessoa física quanto jurídica, são responsáveis pela destinação ou disposição final, ambientalmente corretas, de seus resíduos. Os geradores de resíduos sólidos na figura de pessoa física, quando houver um sistema de coleta seletiva implementada no âmbito municipal, são obrigados a acondicionar de forma correta seus resíduos, encaminhando aqueles passíveis de reciclagem e reutilização ao sistema de coleta seletiva. Já os geradores de resíduos na figura de pessoa jurídica, conforme abordado no tópico anterior, deverão gerenciar seus resíduos sólidos e implementar os mecanismos de minimização, reciclagem, tratamento e disposição final. Logo, a Responsabilidade Compartilhada tem como objetivo os seguintes preceitos gerais (PNRS, 2010): • Promover o aproveitamento de resíduos sólidos, direcionando-os para a sua cadeia produtiva ou para outras cadeia produtivas; • Reduzir a geração de resíduos sólidos, o desperdício de materiais, a poluição e os danos ambientais; • Estimular o desenvolvimento de mercado, a produção e o consumo de pro- dutos derivados de materiais reciclados e recicláveis; • Incentivar as boas práticas de responsabilidade socioambiental. 17 UNIDADE Educação Ambiental: Instrumento de conscientização ambiental nos programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos Publicidade das Informações A publicidade das informações é um princípio ambiental importante, pois obriga que os órgãos públicos divulguem ao público em geral seus atos administrativos. A Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, também conhecida como “Lei de Acesso à Informação”, assegura que os órgãos públicos deverão divulgar informações de interesse público, independentemente de solicitações. Logo, órgãos públicos como autarquias, fundações públicas, empresas públicas, universidades públicas e sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios deverãoassegurar a gestão transparente da informação, propiciando amplo acesso a ela e sua divulgação. (Lei nº 12.527/11). Podemos citar o seguinte exemplo: Por meio desse princípio ambiental qualquer cidadão poderá reivindicar, junto aos órgãos públicos citados, informações relacionadas ao gerenciamento de seus resíduos e rejeitos, sobretudo se esses órgãos são geradores de resíduos e rejeitos classificados como perigosos. Nesse exemplo, o cidadão poderá propor e exigir a esses órgãos públicos enquadrados na referida Lei, mecanismos, ambientalmente corretos, para o gerenciamento de seus resíduos e rejeitos, buscando, portanto, assegurar a preservação da saúde pública e qualidade ambiental. Embora esse princípio ambiental seja muito importante para o exercício da cidadania socioambiental, nota-se que a sua divulgação ainda é realizada de forma tímida. Logo, a educação ambiental pode se configurar como um eficaz instrumento de divulgação desse interessante princípio. Princípios dos 3Rs, 5Rs e 8Rs Por fim, a educação ambiental pode ser um instrumento pedagógico voltado à promoção dos princípios ambientais dos “3Rs, 5Rs e 8Rs”. Esses princípios ambientais são constantemente utilizados em ações de conscientização ambiental pertencentes aos programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos, sendo um processo educativo cujo objetivo é a mudança de hábitos no cotidiano dos cidadãos por meio da reciclagem, reutilização, redução do desperdício e consumo, etc. 18 19 O Ministério do Meio Ambiente (MMA) define os princípios ambientais dos “3Rs” e “5Rs” como: 3Rs “Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Princípios que visam poupar os recursos naturais e conter o desperdício”. 5Rs “A política dos cinco R’s é constituída pelos seguintes princípios: Reduzir; Repensar; Reaproveitar; Reciclar; Recusar produtos geradores impactos socioambientais significativo”. Já o Instituto Akatu define o princípio dos “8Rs” conforme ilustrada na figura abaixo: 19 UNIDADE Educação Ambiental: Instrumento de conscientização ambiental nos programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos É importante destacar que a adoção desses princípios ambientais pode gerar os seguintes benefícios socioambientais e econômicos: • Diminuição da extração e exploração de recursos naturais; • Redução dos resíduos e rejeitos dispostos nos aterros e o aumento da sua vida útil; • Aumento da vida útil dos aterros sanitários. • Redução dos gastos dos gestores públicos com o tratamento e disposição final de resíduos e rejeitos; • Incentivo a programas de coleta seletiva; • Redução do uso de água e energia elétricas nos processos produtivos industriais; • Inclusão social por meio de cooperativas e indústrias de reciclagem; • Destinação e disposição final, ambientalmente corretas, de resíduos e rejeitos. Mudanças de Comportamento de Consumo A mudança de comportamento de consumo que a educação ambiental preconiza busca, essencialmente, diminuir o consumo elevado de produtos, o desperdício de alimentos, e, consequentemente, a geração abrupta de resíduos e rejeitos sólidos descartados no meio ambiente. Por meio da mudança de comportamento podemos diminuir a nossa geração de resíduos e rejeitos, aliando-se às políticas dos “3Rs, 5Rs e 8Rs”. O consumismo, portanto, é um hábito comum nas sociedades de consumo da modernidade, sendo diretamente ligado à exploração excessiva de recursos naturais (água, combustíveis fósseis, madeira etc.), produzindo inúmeros impac- tos socioambientais. Consumismo: é definido pelo Manual de Consumo Sustentável como: a expansão da cultura do “ter” em detrimento da cultura do “ser”. O consumo invade diversas esferas da vida social, econômica, cultural e política. Neste processo, os serviços públicos, as relações sociais, a natureza, o tempo e o próprio corpo humano se transformam em mercadorias. Sociedade de Consumo: é definido pelo Manual de Consumo Sustentável como as mudanças que vêm ocorrendo nas sociedades contemporâneas. Refere-se à importância que o consumo tem ganhado na formação e fortalecimento das nossas identidades e na construção das relações sociais. Assim, o nível e o estilo de consumo se tornam a principal fonte de identidade cultural, de participação na vida coletiva, de aceitação em um grupo e de distinção com os demais. Ex pl or Visando combater o consumismo, o desperdício de alimentos e a grande geração de resíduos e rejeitos, o Ministério do Meio Ambiente elaborou um manual que visa combater essas mazelas da sociedade moderna. Esse manual é intitulado como “Consumo Sustentável” e entende que os atuais padrões de consumo estão nas raízes da crise ambiental enfrentada pela sociedade moderna. 20 21 O manual “Consumo Sustentável” traz consigo uma importante proposta para a construção de uma sociedade moderna, que visa propor a mudança dos padrões de consumo atuais. Essa proposta é composta por três modelos de padrões de consumo, tais como: • Consumo Verde: Consumidor busca a melhor qualidade e preço, incluindo em seu poder de escolha a variável ambiental. Ou seja, o consumidor prio- riza produtos e serviços que não agridam o meio ambiente. • Consumo ético, responsável e consciente: Modo de consumo que visa à inclusão dos aspectos sociais, e não apenas ecológicos, nas ativida- des de consumo. Nessa filosofia, os consumidores devem incluir, em suas escolhas de consumo, um compromisso ético ambiental, considerando os eventuais impactos sociais e ambientais que suas escolhas podem acarretar; • Consumo sustentável: É uma proposta mais abrangente que as anteriores, pois além das inovações tecnológicas e das mudanças de escolhas individuais de consumo, prioriza as iniciativas coletivas e mudanças de políticas, econômi- cas e institucionais, voltadas às mudanças de padrões e os níveis de consumo. O presente tópico procurou enfatizar que a mudança de hábitos de consumo tanto do indivíduo como da sociedade pode gerar impactos positivos nas esferas social, ambiental e econômica. Isto é, por meio da mudança dos padrões de consumo o indivíduo poderá agregar conceitos presentes nas políticas dos “3Rs, 5Rs e 8Rs”, tais como: • Reduzir: O volume de resíduos gerados e o desperdício de alimentos; • Recusar/Refletir/Repensar: Sobre a consciência e uma responsabilidade quanto aos impactos sociais e ambientais que suas escolhas podem acarre- tar ao ambiente; • Respeitar/Repassar: Novos valores e hábitos de consumo, visando adotar os princípios da ética ambiental e desenvolvimento sustentável. Considerações Finais Nessa unidade, foi possível estudar a importância da educação ambiental na conscientização dos indivíduos, sobretudo nas ações relativas aos programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos sólidos. Observamos que por meio da educação ambiental muitos princípios podem ser abordados e difundidos, enfatizando a importância da participação de todos na elaboração de medidas e propostas voltadas ao gerenciamento, ambientalmente correto, dos resíduos e rejeitos gerados pela sociedade moderna. 21 UNIDADE Educação Ambiental: Instrumento de conscientização ambiental nos programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Para aqueles discentes que desejam ampliar seus conhecimentos acerca do contexto histórico sobre a formação do instrumento pedagógico “Educação Ambiental” recomenda- se a leitura dos seguintes materiais complementares: Sites Principais marcos históricos mundiais da educação ambiental. Ambiente Brasil (Online) ARAÚJO, T. C. D. Principais marcos históricos mundiais da educação ambiental. Ambiente Brasil (Online), São Paulo, setembro 2007 https://goo.gl/fgZFhn Carta de Belgrado. 1975. https://goo.gl/FMdSN Declaração de Estocolmo: Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente. 1972. https://goo.gl/FMdSN DECLARAÇÃO DE TBILISI. Global Development Research Center. https://goo.gl/GYeHRq Dicionário Aurélio-Online. Banco de dadoshttps://goo.gl/1Moyez Environmental Ethics, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Summer 2002 Edition) BRENNAN, A.; LO, Y. S. Environmental Ethics, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Summer 2002 Edition), Edward N. Zalta (ed.). https://goo.gl/IKCe6N Consumo Sustentável: Manual de Educação Consumo Sustentável: Manual de educação. Brasília: Consumers International/MMA/MEC/ IDEC, 2005. 160 p. Livros A Educação Ambiental Frente aos Desafios Apresentados pelos Discursos Contemporâneos sobre a Natureza. REIGOTA, Marcos. A Educação Ambiental frente aos desafios apresentados pelos discursos contemporâneos sobre a natureza. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 36, n. 2, Aug. 2010. Educação Ambiental como Política Pública. SORRENTINO, Marcos et al . Educação ambiental como política pública. Educ. Pesqui. São Paulo, v. 31, n. 2, Aug. 2005. Direito Ambiental ANTUNES, P. B. Direito Ambiental. 12.ed. Rio de Janeiro, 2010. Editora Lumenjuris. Direito Ambiental BELTRÃO, Antônio F. G. Direito Ambiental. 2.ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2009. 22 23 Referências Bibliográfi ca Agenda 21: Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e De- senvolvimento. Disponível em: http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/ agenda21.pdf ANTUNES, P. B. Direito Ambiental. 12.ed. Rio de Janeiro, 2010. Editora Lumenjuris. ARAÚJO, T. C. D. Principais marcos históricos mundiais da educação ambiental. Ambiente Brasil (Online), São Paulo, setembro 2007. Disponível em: http://noticias.ambientebrasil.com.br/artigos/2007/09/11/33350-principais-marcos- historicos-mundiais-da-educacao-ambiental.html BELTRÃO, Antônio F. G. Direito Ambiental. 2.ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2009. BRENNAN, A.; LO, Y. S. Environmental Ethics, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Summer 2002 Edition), Edward N. Zalta (ed.). Disponível em: http://plato.stanford.edu/archives/sum2002/entries/ethics-environmental. Carta de Belgrado. 1975. Disponível em: http://www.mma.gov.br/ Consumo Sustentável: Manual de educação. Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/IDEC, 2005. 160 p Declaração de Estocolmo: Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente. 1972. Disponível em: http://www.mma.gov.br/ DECLARAÇÃO DE TBILISI. Global Development Research Center. Disponí- vel em: http://www.gdrc.org/uem/ee/tbilisi.html. Dicionário Aurélio-Online. Banco de dados. Disponível em: https://dicionario- doaurelio.com DUNLAP, R. The new environmental paradigm scale: from marginality to worldwide use. The Journal of Environmental Education, 2008. 40(1), 3-18. Instituto AKATU. Dados institucionais. Disponível em: http://www.akatu.org.br/ Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/ l12305.htm 23 UNIDADE Educação Ambiental: Instrumento de conscientização ambiental nos programas de gerenciamento de resíduos e rejeitos Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5o, no inciso II do § 3o do art. 37 e no § 2o do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm Ministério do Meio Ambiente. Dados Institucionais. Disponível em: http://www. mma.gov.br/ REIGOTA, Marcos. A Educação Ambiental frente aos desafios apresentados pelos discursos contemporâneos sobre a natureza. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 36, n. 2, Aug. 2010. SORRENTINO, Marcos et al . Educação ambiental como política pública. Educ. Pesqui. São Paulo, v. 31, n. 2, Aug. 2005. UNESCO. Declaration of Thessaloniki (1997). Disponível (em inglês) em: http://unesdoc.unesco.org/images/0011/001177/117772eo.pdf. 24
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