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Maconaria e Simbologia - Uma análise do preconceito através da História e da Psicologia

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Prévia do material em texto

Maçonaria e 
Simbologia
Uma análise do preconceito 
através da História e da Psicologia
G RU P O M U LT I F O C O
Rio de Janeiro, 2020
Maçonaria e 
Simbologia
Uma análise do preconceito 
através da História e da Psicologia
2° E D I Ç ÃO
M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
Copyright © 2020 Marcel Henrique Rodrigues.
direção editorial Grupo Multifoco
edição Dayana Xavier
revisão Victor Veríssimo
projeto gráfico Caroline da Silva
capa Leonardo G. Filho
impressão Gráfica Multifoco
direitos re s erva d os a
G RUPO M U LTIFO CO
Av. Mem de Sá, 126 - Centro
20230-152 / Rio de Janeiro, RJ
Tel.: (21) 2222-3034
contato@editoramultifoco.com.br
www.editoramultifoco.com.br
to d os os direitos re s erva d os . 
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer 
meios existentes sem autorização por escrito dos editores e autores.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).
 R696m Rodrigues, Marcel Henrique .
 Maçonaria e simbologia: uma análise do preconceito através da História 
 e da Psicologia/ Marcel Henrique Rodrigues. – 2. ed. – Rio de Janeiro : 
 Multifoco, 2020.
 172 p. ; 21 cm.
 Inclui bibliografia.
 ISBN: 978-85-8273-874-0
 1. Maçonaria. 2. Simbologia.
 I. Título.
 CDD: 366
“Os pesquisadores de todos os tempos conheciam verdades 
que chegavam ao homem por meio do símbolo. Os rituais 
iniciáticos de todas as culturas o têm utilizado em suas 
cerimônias. Desde o princípio, chegou-se a diferenciar 
aquilo que o símbolo manifesta em sua parte visível 
e acessível ao profano, qualificando-o de exotérico. 
No entanto, essa outra dimensão, a esotérica (interna), 
que vai além das aparências, é a que permite entrar em 
contato com as forças que realmente movem o mundo, 
situando no âmbito do sagrado.”
Musquera, 2010
“Os signos e símbolos governam o mundo, 
não as palavras e as leis.”
Confúcio, 551 a.C – 479 a.C
“O símbolo não reflete a realidade objetiva, mas busca 
revelar o profundo, escondido misterioso, ausente. 
Preocupa-se em desvelar as raízes ocultas da realidade, 
os pilares do universo.”
Mardones, 2006
7
Agradecimentos
Os agradecimentos passam a ser uma di culdade adicional, de-
vido à quantidade de pessoas que, direta ou indiretamente, estão 
interligadas a esta pesquisa.
Primeiramente, agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa 
do Estado de São Paulo (FAPESP) por proporcionar a oportu-
nidade de realizar este projeto de pesquisa, juntamente com um 
intercâmbio realizado no exterior. Agradeço aos pareceristas e 
assessores da Fundação, pela presteza em analisar minha pesquisa 
e apontar as necessidades de melhorias.
Mais gratidão ao CEHR – Centro de Estudos de História 
Religiosa – integrado à Universidade Católica Portuguesa, que 
aceitou com boa acolhida o meu projeto de pesquisa. Sou pro-
fundamente grato aos professores Al edo Teixeira e Matos Fer-
reira, que me orientaram nos quatro meses de investigação em 
Lisboa, juntamente com o secretário José António por sua gran-
de disponibilidade e pro ssionalismo acadêmico.
Mais agradecimentos aos meus orientadores e amigos Luis 
Antonio Groppo, e Sueli Caro (in memoriam), por me acompa-
nharem durante a pesquisa. Também não posso me esquecer dos 
pro ssionais portugueses que me auxiliaram, como os funcioná-
rios do Arquivo Nacional Português, Torre do Tombo, que me 
disponibilizaram antigos e raros documentos históricos. Agra-
deço a todos os especialistas que se dispuseram a discutir sobre 
minha investigação.
Deixo os meus mais apaixonados agradecimentos a minha es-
timada família, sobretudo minha mãe e meu pai, Márcia e Tony, 
que além de me proporcionarem a vida, sempre me apoiaram em 
todos os momentos. Esse livro é dedicado aos meus amigos e cole-
gas. E por m, um especial agradecimento a Deus, que me propor-
cionou todos esses momentos de muita re exão e aprendizagem.
9
Sumário
Prefácio da primeira edição.................................................. 11
Prefácio da segunda edição .................................................. 14
Introdução ........................................................................... 19
1. Algumas considerações sobre a Antropologia dos símbolos 
religiosos .............................................................................. 24
⒈ 1 Os primeiros vestígios de sociedades secretas ................ 30
⒈ 2 Rituais de “morte-renascimento” e a formação de socieda-
des secretas da Antiguidade pagã ........................................ 40
2. Investigação sobre o misticismo ocidental. Percursos para a 
formação de sociedades secretas e a Maçonaria ................... 49
⒉ 1 O advento do Cristianismo e a mudança no paradigma cul-
tural, social e religioso no mundo ocidental ........................ 54
⒉ 2 A Idade Média: os Cavaleiros Templários e os antigos 
construtores de catedrais .................................................... 61
⒉ 3 A Era Moderna: o surgimento da Maçonaria Especulativa 
e seus embates com as igrejas ............................................. 80
⒉ 4 A Era Contemporânea: o golpe de Léo Taxil, sua contri-
buição para a “queda do simbólico” e o preconceito contra a 
Maçonaria ......................................................................... 99
3. A “queda do simbólico”: um estudo histórico e psicológico 
para a compreensão do preconceito contra símbolos religiosos 
e a Maçonaria .................................................................... 105
⒊ 1 A “queda do simbólico” da visão histórica para uma visão 
psicológica ....................................................................... 112
⒊ 2 A interpretação dos símbolos: uma hermenêutica de alguns 
símbolos maçônicos ......................................................... 125
Considerações fi nais .......................................................... 150
Referências ........................................................................ 164
11
Prefácio da primeira edição
Convido o leitor a conhecer este livro, que é uto de instigantes 
investigações do psicólogo, então em formação, Marcel Henri-
que Rodrigues. A respeito do livro, penso que esse, mais do que 
uma obra acadêmica sobre a Maçonaria, é uma pesquisa e re e-
xão muito bem fundamentada sobre a importância do simbólico 
para o ser humano.
Assim argumenta Marcel: é o ser humano um ser simbólico. 
Mas em seus processos históricos, quando o humano se realiza, 
por vezes o humano também se nega. E a história do “mundo 
ocidental” pode ser lida como a queda e a negação do simbólico.
Este é o grande mote das pesquisas de Marcel, as quais tive a 
honra de orientar, inclusive o início da que deu origem a este li-
vro – orientação que foi completada pela minha estimada colega 
Profa. Dra. Sueli Caro (in memoriam). Marcel foi discente, e a 
profa. Sueli é docente, do curso de Psicologia do UNISAL (Cen-
tro Universitário Salesiano de São Paulo), Unidade Americana, 
instituição onde tive a alegria de trabalhar por 15 anos.
Em parte destes anos, ensinei e aprendi com futuros psicó-
logos. Entre eles, Marcel, que logo demonstrou grande interesse 
em seguir a carreira de pesquisador. Procurou-me, pedindo 
ajuda para de nir caminhos e temas de pesquisa. Justo a mim, 
apenas sociólogo, simpatizante da Psicanálise de Freud e das pro-
vocativas ideias de Reich… Fico feliz que Marcel tenha insistido, 
consigo e comigo, e encontrado seus temas e caminhos. Fico feliz 
1 2
M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
porque, creio eu, ainda que um pouco, ajudei-o a se encontrar 
como pesquisador de Psicologia, ainda que eu mesmo não seja 
um psicólogo. Este livro é uto do amadurecimento de Marcel 
como investigador, de seus mergulhos no simbólico do humano, 
de suas trilhas por entre o humano simbólico.
Neste livro, seu autor demonstra grande competência na bus-
ca de fontes bibliográ cas para fundamentar sua reconstituição 
histórica e, principalmente, analisar símbolosrelacionados à Ma-
çonaria. A obra, em sua maior parte, desenvolve com qualidade 
a interpretação de material colhido em pesquisa bibliográ ca, 
trazendo interessante discussão histórica sobre os símbolos reli-
giosos e a formação de sociedades secretas. Na referência teórica, 
destaca-se a Antropologia de Campbell, bem como a perspectiva 
psicológica inspirada em Jung.
O livro apresenta três capítulos. O primeiro capítulo discu-
te a dimensão simbólica do ser humano, destacando rituais da 
Pré-História, em especial os rituais de “morte e renascimento”, 
e as primeiras sociedades secretas. No segundo, o misticismo no 
mundo antigo e o embate do Cristianismo com esse. Em segui-
da, sobre sociedades iniciáticas, em destaque os Templários, e a 
origem da Maçonaria.
No terceiro capítulo ainda são discutidos temas históricos, 
já na modernidade, como a origem da Maçonaria Filosó ca e o 
agravamento dos embates entre Maçonaria e as igrejas cristãs, 
sobretudo a Católica. Também é narrada a oposição à Maçonaria 
por alguns Estados europeus na modernidade.
O terceiro capítulo, entretanto, destaca-se pelo esforço de 
análise, na busca da resposta ao que foi proposto como objetivo 
da obra: as causas da rejeição e da descon ança da cultura Con-
temporânea em relação à Maçonaria. A explicação reside, so-
bretudo, no que Marcel discutiu em suas primeiras pesquisas, 
divulgadas em artigos acadêmicos, a saber, a queda do simbólico 
na contemporaneidade.
13
M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
Para o seu coroamento, o autor traz ainda no capítulo três 
uma fundamentada interpretação de símbolos usados pela Maço-
naria (como o pentagrama, o compasso e o esquadro), ou de um 
símbolo erradamente atribuído a essa (o bode). Faz isto com base 
na Antropologia e na psicologia de Jung, cotejando esta interpre-
tação cientí ca com a da própria Maçonaria e a de alguns textos 
ditos antimaçônicos.
Convido o leitor a ler, conhecer e debater este importante 
livro sobre a nossa própria di culdade em compreender a dimen-
são simbólica da existência humana, di culdade que está na ori-
gem de incompreensões, preconceitos e desvarios, e não apenas 
contra a Maçonaria, tema desta obra. Diante do vislumbre desta 
importante dimensão cultural, a simbólica, pode o leitor se por-
tar com o mesmo deslumbramento com que o autor, por vezes, 
incorre diante de algo tão grandioso. O texto se empenha em de-
 nir e transmitir ao leitor o magní co do mundo dos símbolos, 
ainda que seja preciso reconhecer os limites da palavra diante de 
algo muito portentoso que precisa se expressar.
Ao mesmo tempo, Marcel pouco esconde a decepção com os 
homens e mulheres reais de nosso tempo, tão pequenos ao negar 
valor ao que nos é tão valioso. Ao negar o simbólico, o huma-
no se apequena, acende fogueiras, institui inquisições, fomenta 
perseguições, mutila a si próprio, negando o caminho de sua 
própria individuação, da sua autenticidade. Que o livro nos ajude 
a reencontrarmo-nos e a dissipar estes e outros preconceitos.
Luís Antonio Groppo
Professor da Unifal-MG (Universidade Federal de Alfenas). 
Pesquisador do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimen-
to Cientí co e Tecnológico). Doutor em Ciências Sociais pela 
Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
14
Prefácio da segunda edição
Faz pouco mais de cinco anos que ousei em lançar esse peque-
no estudo que realizei durante minha graduação em Psicologia 
(2010-2014). Digo que “ousei” pois só uma pequena quantidade 
de estudantes decide publicar um trabalho de iniciação cientí ca, 
justamente por tratar-se de uma “iniciação” à escrita e à pesquisa 
acadêmica. Desse modo, o trabalho de iniciação cientí ca per-
manece suscetível a vários “enganos” sendo que, de fato, esses 
“enganos” ocorreram comigo também. Por isso, e por um bom 
tempo, pensei em deixar esse estudo de lado e produzir artigos 
que seriam publicados em revistas acadêmicas, de modo que eu 
pudesse realocar e reconsiderar alguns apontamentos um tan-
to “obscuros” desse texto. Mas minha opinião mudou depois de 
constatar que, passados esses anos, tendo mantido meus estudos 
em torna da temática dos símbolos – mas não propriamente dito 
a Maçonaria – entendi que uma segunda edição deste trabalho 
poderia surgir.
Fiquei entusiasmado quando li o prefácio do livro “Estu-
dos de Iconologia: temas humanísticos na arte do Renascimen-
to” de Erwin Panofsky em que o autor revela que passou pelos 
mesmos dilemas que hoje tenho passado. No prefácio para uma 
nova edição do referido livro, Panofsky comenta que era muito 
di ícil a tarefa de voltar para sua obra que já havia sido publicada 
há vários anos – para ele sua vontade era a de reescrever todo o 
livro, intento este que seria impossível. Algo muito semelhante 
15
M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
ocorre comigo nesse momento. Tenho me desenvolvido na es-
crita acadêmica e em novas leituras, e como todo ser em evo-
lução, tenho tentado me aprimorar na pesquisa cientí ca. Por 
isso, voltar a um texto, uto de uma iniciação cientí ca, é uma 
tarefa e tanto. Mas longe de desprezar esse trabalho meu desejo 
é de valorizá-lo, já que se trata de uma pesquisa honesta uto de 
muita aprendizagem. Tendo esse desejo em vista, resolvi lançar 
essa segunda edição1.
O leitor não encontrará modi cações estruturais e nem con-
ceituais no livro. Essa nova edição foca apenas no acerto de al-
guns erros tipográ cos e ortográ cos. No entanto, acredito que 
me seja permitido nesse novo prefácio indicar algumas falhas do 
meu texto. Primeiro, percebo no meu trabalho que não me apro-
fundei – confesso que por falta de tempo – na análise de muitos 
termos utilizados como, por exemplo, “misticismo” e “esote-
rismo”. No caso, o termo “esoterismo” seria o mais apropriado 
para ser utilizado em todo o texto, em contraposição ao termo 
“misticismo”. Isso é justi cável pois o misticismo é muito mais 
difundido entre as “religiões tradicionais” como no Cristianismo, 
em que encontramos a chamada “mística cristã”, do que o “eso-
terismo”, propriamente dito, que se enquadraria melhor para se 
referir, por exemplo, aos símbolos maçônicos – embora não seja 
errado dizer que exista o “misticismo maçônico”. 
Outro ponto consiste em um erro interpretativo que z no 
capítulo três com a ideia de Mircea Eliade, em que argumentei 
que este estudioso postulou a não existência de relação entre os 
símbolos e o homem contemporâneo‥ Isso de fato é um en-
gano, o que iria na contramão do meu próprio estudo. O que 
este estudioso das religiões propõe é justamente a existência da 
relação entre o indivíduo contemporâneo e os símbolos, porém, 
⒈ Devo agradecer profundamente ao prof. Victor Veríssimo pela leitura pacienciosa deste 
trabalho, bem como suas preciosas dicas e o incentivo que me deu para publicar essa 
segunda edição.
16
M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
o que há é um “afastamento” ou não compreensão dos símbolos 
pelo homem da atualidade. O argumento de Eliade é justamente 
o que desejei demonstrar no que denominei como a “queda do 
simbólico”, ou seja, a não compreensão da “linguagem” dos sím-
bolos, o que gera, no meu ponto de vista, a intolerância religiosa, 
por exemplo. Ou mesmo questões de cunho psíquico que Carl 
Gustav Jung tanto enfatizou ao apontar, entre outras coisas, que 
o homem mergulhado na cultura tecnológica, nas informações 
instantâneas, ou mesmo na própria sociedade de consumo, deixa 
de lado, ou reprime para o inconsciente, questões subjetivas de 
sua existência, muitas vezes expressas em formas de símbolos; o 
resultado dessa “repressão”, ou falta de expressividade simbóli-
coafetiva, é facilmente percebido pelos inúmeros distúrbios psi-
cológicos que crescem na população mundial. 
É claro que esse trabalho visou mostrar o preconceito em 
torno da Maçonaria e, consequentemente, em torno dos símbo-
los e sua linguagem, isso não indica que aqueles que combatem 
a Ordem maçônica possuam desordens de cunho psicológico. 
Nossatese utilizou-se da teoria junguiana justamente porque 
seus estudos não abrangem somente questões de psicopatolo-
gia, mas, também, se abrem para a análise de outras temáticas, 
como da religião. Embora, é claro, que a religião, a intolerância 
e o fanatismo religiosos e os distúrbios psicológicos podem estar 
intrinsecamente interligados, e que o que denominei – ou ao 
menos tentei denominar – de “queda do simbólico” pode ser uma 
explicação para essa temática que não foi demasiadamente apro-
fundada nessa pesquisa. O próprio termo “queda do simbólico 
ou do símbolo” apresenta suas falhas e ao fazer essa revisão, acre-
dito que tal termo poderia ser substituído por “esvaziamento do 
símbolo ou do simbólico” que, para mim, soa melhor do que o 
termo anterior, ao entender que o homem contemporâneo – ape-
sar de nunca ter deixado de utilizar-se de símbolos – mostra-se 
17
M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
cada vez mais distante – cada vez mais “vazio” – dessa antiquíssi-
ma “linguagem” conhecida como “símbolos”.
Do mesmo modo deve o leitor também se atentar para o uso 
do termo “cristão-protestante” ou simplesmente “protestantes”. 
Esse termo foi utilizado sobretudo para abordar as “novas” de-
nominações cristãs que surgiram após a Reforma Protestante. 
Grosso modo, em nosso cenário brasileiro o termo “protestante” 
passou a ser substituído por “evangélico”. Na época da escrita 
deste trabalho decidi por evitar usar esse último termo por seus 
diversos signi cados, o que foge bastante do “senso comum” 
que utiliza o termo simplesmente para designar os cristãos que 
não são católicos. Preferi utilizar o termo “protestantes” para de-
signar os não católicos, embora isso possa causar uma espécie 
de confusão entre os estudiosos dos movimentos pentecostais 
e neopentecostais.
Mencionei a existência de uma espécie de “iconoclastia” – 
embora não use o termo – dentro das denominações “cristãs-
protestantes”. Fui in uenciado, confesso, pela leitura de Jung e 
sua crítica a essas denominações que, para ele, se “despojaram” 
dos símbolos em seus templos. Isso não é totalmente correto se 
pensarmos nas “Escrituras Sagradas” como um livro carregado de 
material simbólico; deste modo os ditos “protestantes” não estão 
desprovidos de símbolos. O que importa seria a maneira pela 
qual esses símbolos bíblicos foram ou são interpretados: se de 
maneira realmente simbólica ou literal.
Por m considero que diversos “pontos” questionáveis po-
dem ter cado para trás. Isso ocorreu, justamente, por não haver 
tempo hábil para reformular todo o texto, sendo que essa ideia 
também não foi a pretensão inicial para essa segunda edição. 
Espero que os assuntos abordados nesse pequeno trabalho pos-
sam ser utos de inspiração para outras investigações cientí -
cas no meio acadêmico ou fora dele, e que tenham por regra o 
18
M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
afastamento dos ditos “achismos” e que possam trazer à luz a 
fascinante temática do estudo dos símbolos contribuindo para 
quebrar “tabus” e estigmas religiosos e culturais.
Marcel Henrique Rodrigues
Novembro de 2019
19
 Introdução
A presente obra tem como objetivo investigar o preconceito social 
e religioso existente na história, sobretudo na contemporaneida-
de, contra a Fraternidade maçônica, mediante pesquisa bibliográ-
 ca e documental, descartando qualquer tipo de apologia religiosa 
ou losó ca. O texto é originalmente um relatório cientí co, u-
to de uma bolsa de Iniciação Cientí ca concedida pela Funda-
ção de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Por milhares de anos, a religião, com seus símbolos, ligada 
à loso a, foi a única forma de pensamento que levou à re exão 
acerca do ser humano e sua existência, buscando compreender a 
essência da humanidade.
Na atualidade, a religiosidade permanece, mas os símbolos 
religiosos passaram a ser, em geral, meros ornamentos sem ne-
nhum signi cado. As religiões, de certa forma, tendem a me-
nosprezar os símbolos, não reconhecendo neles nenhum valor 
histórico e/ou losó co.
A Maçonaria, segundo Benimeli (2010), mostrou-se, assim 
como as religiões, detentora de uma in nidade de símbolos que, de 
modo geral, expressam uma linguagem arcaica e de raiz universal. 
Essa sociedade losó ca, que congrega homens de todas as clas-
ses sociais, que se reúnem em templos denominados “Lojas”, en-
 enta o preconceito social e religioso de modo geral. São poucos, 
entre esses grupos preconceituosos, os que de nem de maneira 
correta a Maçonaria.
20
M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
Algumas perguntas surgem a priori, tais como: o que é a 
Maçonaria? Por que existe preconceito em relação a essa? Por que 
é tão importante o uso de símbolos em seus rituais? Quais são as 
críticas ou preconceitos existentes em torno dela? 
Mansur Neto (2009) admite que, por de nição, a Maçona-
ria é uma Fraternidade losó ca discreta que congrega homens, 
de diversas camadas sociais, que buscam um melhor desenvolvi-
mento de sua personalidade, bem como da sociedade em geral. 
A Maçonaria se utiliza de símbolos religiosos para o desenvolvi-
mento, aprendizado e identi cação entre seus membros.
O seu caráter discreto – ou, para muitos, secreto – e o uso 
de símbolos místicos como linguagem e ritualísticas, já trazem 
para a Fraternidade questões polêmicas e distorções por parte 
dos não membros e, principalmente, por grupos religiosos que 
denominam a Maçonaria como “uma sociedade secreta satânica”.
Porém, de certa forma, esse preconceito é justi cável ente à 
incapacidade de entendimento e familiarização com os símbolos 
que a humanidade vem en entando. É a partir desse pressupos-
to, e com a ajuda da Psicologia e de uma revisão histórica, que 
este trabalho procurará investigar de maneira cientí ca a pro-
blemática da denominada “queda do simbólico” na contempo-
raneidade, bem como o preconceito religioso e social em torno 
da Maçonaria.
Como introdução, apresentaremos sucintamente do que se 
trata cada parte desta pesquisa. No primeiro capítulo será discu-
tida a dimensão simbólica do ser humano, mediante a construção 
e perpetuação de símbolos, sobretudo nas religiões. A elaboração 
de ritos sagrados fez com que, ainda na Pré-História, surgissem 
as primeiras “sociedades secretas”, como atestado pelas pesqui-
sas de Campbell (2008b). No mesmo capítulo serão apresen-
tadas algumas sociedades secretas da Antiguidade Clássica que 
in uenciaram a cultura de seu tempo e as culturas posteriores. 
21
M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
É veri cado que muitos rituais dessas sociedades secretas e de 
muitas religiões pautam-se na simbólica da “morte e renasci-
mento” dos indivíduos, o que não deixa de conferir um caráter 
psicológico a tais ritos. Esta simbólica “morte e renascimento” 
servia, e ainda serve, para produzir no indivíduo a sensação de 
nascimento para uma vida nova, sendo que esse estilo de rito, 
juntamente com os ritos de passagem, ainda é marca expressiva 
na simbólica das atuais religiões e de sociedades losó cas como 
a Maçonaria.
O segundo capítulo, por sua vez, trataremos dos percursos 
do misticismo no Ocidente. Nesta etapa, estudaremos um pouco 
da Antiguidade e o advento do Cristianismo que, como posterior 
religião dominadora, oprimiu todo tipo de religiosidade e mis-
ticismo que não era compatível com a teologia cristã. A menção 
deste fato histórico torna-se importante para compreender a re-
pressão e o preconceito contra doutrinas, ritos e símbolos que 
destoam da religião hegemônica. Os antigos conhecimentos e 
ritos da religiosidade dita “pagã” por pouco não se perderam com 
a ascensão do Cristianismo.
Em continuidade, analisaremos algumas sociedades iniciá-
ticas como a dos Templários, que, mesmo no seio da religião 
cristã, so eram perseguições por parte da Inquisição. Esta Or-
dem, como analisam especialistas, tornou-se fonte de inspiração 
para a formação de futuras sociedades secretas nas eras Moderna 
e Contemporânea.E, por m, entraremos na história maçôni-
ca, que se inicia com os construtores de catedrais medievais. 
Embora essa origem seja um campo controvertido e digno de 
poucas certezas, podemos supor que esses construtores tenham 
permeado antigos conhecimentos místicos nas próprias catedrais 
que erigiram.
A análise da Idade Moderna e Contemporânea é outro pon-
to histórico importante que se somará às divergências ocorridas 
22
M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
entre Maçonaria e religião/Estado. Pudemos veri car que este 
momento é muito importante como ponto chave na história do 
preconceito contra a Maçonaria e outras sociedades losó cas. 
Estes pontos históricos também são importantes para compre-
endermos o caráter psicológico da questão, visto que todos os 
acontecimentos históricos formaram uma maneira de pensar e 
agir dos sujeitos em sua coletividade.
É na contemporaneidade que encontramos a gura de Léo 
Taxil, responsável por disseminar ideias e teorias que apontavam 
que, de fato, a Maçonaria seria uma seita diabólica. A gura de 
Taxil foi primordial para a formação da concepção atual do ima-
ginário coletivo ocidental, que apontou a Maçonaria como luci-
feriana e adoradora do “famoso” bode maçônico. Embora Taxil 
tenha se retratado e admitido a falsidade de suas histórias, essas 
mesmas são ainda muito utilizadas para a “comprovação” de que 
tal Ordem é herdeira de um antigo culto ao mal.
O terceiro capítulo envolve a temática central deste projeto, 
reportando-se à “queda do simbólico na contemporaneidade”. 
Esse capítulo traça os motivos que levaram o homem contempo-
râneo a estranhar os motivos simbólicos, sobretudo aqueles que 
estão relacionados à Maçonaria, uma instituição não religiosa, 
mas que se utiliza de símbolos religiosos em seus rituais, e que 
está permeada de segredos e mistérios. Esse capítulo faz, a todo 
momento, menção à parte histórica investigada anteriormente 
nesta obra.
É muito válido lembrar que a presente obra, em momento 
algum, fez ou fará apologias ou críticas a qualquer segmento re-
ligioso ou losó co, e também não se interessa pela investigação 
da existência de divindades ou forças ocultas.
Neste capítulo voltamos a explanar sobre a natureza do sim-
bólico, e que as religiões, do ponto de vista histórico, se forma-
ram mediante rituais e sacralização de diversos símbolos.
23
M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
Também serão explanados conceitos como Inconsciente Cole-
tivo e arquétipos, que ajudarão a compreender o caráter inato dos 
símbolos na cultura humana.
O objetivo dessa conceitualização é explanar, através de meios 
cientí cos, os motivos pelos quais os símbolos têm sido conside-
rados por algumas denominações religiosas, como fonte de atos 
de blas êmia, idolatria e de poderes oculto-satânicos. Por isso, 
utilizaremos argumentos de cientistas como Campbell (2002) 
e Eliade (2011), buscando compreender por que termos como 
“simbologia”, “rituais”, “ocultismo”, “paganismo” são considera-
dos sinônimos de Satanismo.
A pesquisa contou ainda com uma Bolsa de Estágio em Pes-
quisa no Exterior, BEPE, que teve vigência de 01/03 de 2013 a 
30/06 de 2013, o que possibilitou uma maior abertura acadêmica 
para a pesquisa que se desenvolveu no Brasil. Tal bolsa nos per-
mitiu entrar em contato com documentos históricos originais e 
antigos que comprovam, no decorrer do tempo, a condenação 
maçônica por diversos meios sociais, como a política e a religião.
Em suma, o trabalho não deseja fazer qualquer tipo de apologia 
religiosa, doutrinária ou esotérica. Pelo contrário, utilizamo-nos de 
aparato cientí co para compreender que a “queda do simbólico 
na vida contemporânea” é uto de um longo processo históri-
co, que abarca as noções da própria psique coletiva do homem.
E, por m, desejamos explorar que toda a distorção em torno 
da Maçonaria versa sobre uma “questão simbólica”, questão essa 
que vem permeando a cultura e a história da civilização por todo 
o sempre.
24
 1. Algumas considerações sobre a 
Antropologia dos símbolos religiosos
Antes de iniciarmos o tema da investigação, devemos fazer uma 
análise, mesmo que não tão detalhada, sobre a utilização de sím-
bolos pelas grandes civilizações e religiões mundiais.
A Antropologia atual, impulsionada pelas investigações da 
Arqueologia e da História, tem se voltado e dado cada vez mais 
ênfase ao estudo e à análise da chamada “linguagem dos símbo-
los”. Esses estudos foram impulsionados sobretudo por Cam-
pbell (2008a), Eliade (2002), Frazer (1978), entre outros teóricos, 
que dedicaram suas vidas à exploração da temática do simbólico, 
que, de certo modo, tornou-se a primeira forma de manifestação 
linguística, cultural e mesmo religiosa de nossos ancestrais. 
Sabiamente dissertaram Santos (1959) e Campbell (2008b) 
em seus numerosos trabalhos sobre a dimensão simbólica do ho-
mem. Esses pesquisadores não estudaram apenas os símbolos 
religiosos em imagens concretas, como, por exemplo, o símbolo 
da cruz, mas estenderam suas investigações ao simbolismo dos 
mitos, das metáforas e parábolas de diversas religiões e cultu-
ras. Assim, buscaram comprovar, pelo viés da Antropologia, que 
o homem é, em sua essência, simbólico, e que desde tempos 
imemoriais construiu e adaptou símbolos para ns de comuni-
cação e, como atesta Campbell (2010b), para rituais religiosos e 
expressão de temas subjetivos como deuses, morte e alma.
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M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
Esses citados autores vão longe e analisam possíveis símbo-
los dos primórdios da humanidade, como as imagens rupestres 
do sudoeste ancês, na caverna de Lascaux, onde pinturas que 
foram datadas de mais de quinze mil anos atrás, poderiam ser 
símbolos religiosos, como defende Campbell (2010b), que deno-
minou o lugar como “Capela Sistina da Pré-História”. Por esses 
fatores, é defendido que o homem, por si só, e desde tempos 
muito remotos, utilizava a linguagem dos símbolos para se co-
municar e para prestar cultos religiosos.
Defensores da tese de que o homem é, antropologicamente 
motivado por ideias religiosas e por crenças na possibilidade de 
intervir no ambiente em que vive utilizando-se da magia, por 
exemplo, vem ao encontro da necessidade do uso da simbologia. 
Entre os partidários destas teorias estão estudiosos como Eliade 
(2002), Frazer (1978) e Bettencourt (1997), que defendem que o 
homem é, por si só, religioso. Nunca se encontrou uma civiliza-
ção ateia, ou sem a utilização de símbolos ou ornamentos que co-
notassem alguma espécie de culto ao sagrado. Bettencourt (1997) 
é categórico ao ressaltar que a Antropologia e a Arqueologia 
nos levam a a rmar que o homem é intrinsecamente religioso. 
Fazendo-se uma analogia ou uma metáfora, o homem seria, en-
tão, segundo estes especialistas, “geneticamente” moldado para 
criar culturas em que persistissem valores religiosos e motivos 
simbólicos, sobretudo por meio de imagens.
A compreensão dessa valorização dos antigos pelos símbolos 
religiosos é de extrema importância para o assunto a respeito do 
qual se discorrerá nesta obra. Frazer (1978), importante antropó-
logo inglês no início do século XX, escreveu sobre os costumes 
dos antigos povos. Seu livro, “O ramo de ouro”, versa sobre a 
importância da simbologia entre os antigos, e é nessa obra que 
o autor enfatiza que os rituais, sobretudo os de magia2, foram as 
⒉ O autor cita a magia como forma de interagir e manipular a natureza. Os primitivos 
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M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
primeiras maneiras de o homem interagir com a natureza, o que, 
segundo o autor, foi uma forma de ciência primordial, em que o 
homem sentia-se capaz de manipular a natureza e até mesmo o 
seu próprio destino.
Se persistíssemos na ideia da Antropologia dos símbolos, 
sem dúvida, teríamos também uma dissertação da “psicologia 
das crenças religiosas” ou Psicologia da religião, que igualmente 
tem como postulado que o homem é, desde suas raízes, um ser 
simbólico e religioso.No caso em questão, falamos da antiga 
utilização de simbologia com caráter religioso, que trazia a neces-
sidade dos nossos ancestrais de se “ligarem” com o transcendente. 
Assim, havia a crença de que, por meio dos símbolos, fosse possí-
vel expressar aquilo que era inexpressável, revelando desse modo 
os primeiros sinais de subjetividade. Este inexpressável é bem 
postulado por Jung (2008a), que muito pesquisou sobre a “psi-
cologia das crenças religiosas”. Esse autor a rma que o simbólico 
é resultado expressivo da mais pura subjetividade humana, sendo 
que a arte de criar símbolos foi amplamente difundida e cultuada 
nos quatro cantos do mundo. Mas o que seria essa subjetividade 
que levou o homem a criar símbolos religiosos? 
Na concepção de Jung (2008b), essa subjetividade tem cará-
ter religioso e é universal. Com efeito, para este teórico, a noção 
de pertencer ao universo, ou de encontrar explicações básicas so-
bre os motivos da existência da vida e da morte, levou o homem 
primitivo a criar símbolos como forma de expressão de conceitos 
mais abstratos, como “vida”, “morte” e “divindade”. Jung, em 
seu livro “O homem e seus símbolos”, trata dessa necessidade 
simbólica e religiosa do homem primitivo:
utilizavam-se da magia ora para ns bené cos, ora para ns malé cos. Todos esses rituais 
eram envolvidos por símbolos. Frazer (1978) também acredita que a evolução da humani-
dade se dera por três fases de conhecimento: a magia, a religião e a ciência.
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O papel dos símbolos religiosos é dar signi cação à vida 
do homem. Os índios pueblos acreditam que são lhos 
do Pai Sol, e essa crença dá a suas vidas uma perspectiva 
(e um objetivo) que ultrapassa a sua limitada existência; 
abre-lhes espaço para um maior desdobramento das suas 
personalidades e permite-lhes uma vida plena como se-
res humanos. Esses índios encontram-se em condições 
bem mais favoráveis do que o homem da nossa civilização 
atual, que sabe que é, e permanecerá sendo, nada mais 
que um pobre diabo, cuja vida não tem nenhum sentido 
interior (JUNG, 2008a, p. 111).
Como temos dito, o que Jung (2008a) deseja apontar é que o 
homem é essencialmente simbólico. Ou seja, desde tempos mais 
remotos o homem primitivo cria símbolos, ora para comunica-
ção, ora para externalizar conceitos subjetivos, como o motivo da 
vida e as angústias provocadas pela morte, o que levou à criação 
de símbolos culturais, formando-se assim um conceito, mesmo 
que rudimentar, de religiosidade.
Não é possível estabelecer uma data para o surgimento dos 
primeiros vestígios de religiosidade, e nem para o surgimento de 
símbolos religiosos, porém, Bettencourt (1997) defende a ideia 
de que desde todo o sempre o homem apresentou características 
de religiosidade, mesmo nos tempos mais remotos da Pré-Histó-
ria, quando estava no início de sua evolução corporal e intelectu-
al. Nesse tempo, o homem já possuía indícios de cultos religiosos 
e possíveis rituais, que o integrava a uma espécie de ligação com 
a natureza que o cercava. A própria Antropologia é cautelosa em 
relação aos possíveis aspectos simbólicos de religiosidade e de 
ritualística do homem primitivo, porém, esse ramo da ciência é 
categórico ao a rmar que a religiosidade, como um fenômeno, é 
uma das mais antigas manifestações da cultura do homem.
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M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
É necessário fazer um adendo a essa temática sobre religião 
e Antropologia, pois, como Jung (2008a), que esteve longe de 
inferir a rmações meta ísicas em seus estudos, o que conotaria 
corroborar a existência da divindade, essa obra seguirá semelhan-
te linha. Não se postulará, em momento algum, a existência ou 
inexistência divina, pois tal assunto não é da alçada desta investi-
gação. Pelo contrário, esta pesquisa tem como objetivo, ao menos 
em sua parte introdutória, demonstrar que a criação de símbolos 
e cultos religiosos é muito antiga, e é por parte de Jung (2008b), 
que foi feita a a rmação de que, na Antiguidade, o surgimento 
de símbolos religiosos, e seus respectivos cultos, aponta para os 
vestígios de integração psíquica do homem para com seu meio.
A própria palavra religião, em uma de suas etimologias, 
como explica Paiva (2000), reporta a necessidade da humanidade 
de orientar-se em sentidos sagrados. Com efeito, o termo religião 
vem do latim religare, que simboliza o ato de “ligar” o homem 
a um plano transcendente. O autor ressalta que o termo religião 
só apareceu milhares de anos depois de sua prática, e que, nos 
primórdios, os rituais ou os conceitos religiosos eram tidos como 
habituais ou da natureza da horda.
Portanto, para os autores, a natureza da religião caracteriza 
a humanidade por milhares de anos, chegando-se a supor que 
não tenham existido civilizações ou hordas primitivas sem algum 
conj unto de símbolos ou rituais que conotassem sua religiosidade.
Campbell (2008b) ressalta que a religare está intimamente liga-
da à psique humana. Os mitos (religiosos) têm a função de integrar 
o homem a uma verdade psicológica muito arcaica e inconsciente.
Por base geral, temos as considerações de que os símbolos 
religiosos têm, além da função religiosa, uma base psicológica, 
a rmação essa relacionada ao fato de que o simbólico, de certa 
forma, permite ao homem a sensação de pertencimento ao uni-
verso, ao cosmos, ou à ordem que a sociedade exige.
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M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
Santos (1959) chega à conclusão de que é impossível, em 
termos antropológicos, postular a não conexão entre símbolo e 
religião. Campbell (2010b) amplia o conceito de Santos (1959), 
relatando que uma das primeiras formas de manifestação linguís-
tica também ocorreu por meio de imagens simbólicas e que po-
dem ser encontradas, por exemplo, nas cavernas com inscrições 
humanas pré-históricas. Todo esse sistema simbólico foi sendo 
substituído por sinais mais objetivos, conforme atesta a evolução 
da escrita, e os símbolos passaram a ter exclusivamente uma co-
notação religiosa e mística. O valor de sacralidade dos símbolos 
esteve presente desde o período pré-histórico.
Lurker (2003) explicita uma outra função do simbólico, ad-
mitindo que os símbolos religiosos existem para expressar em 
imagens aquilo que é inexpressável, ou seja, a própria “ gura” 
da divindade. Portanto, necessariamente, todas as religiões usam 
símbolos, linguísticos ou imagéticos, em seus preceitos.
Campbell (2008a) e, sobretudo, Jung (2008b) revelam que o 
ponto máximo ao qual a ciência pode chegar, do ponto de vista 
empírico, sobre a religiosidade da humanidade, está no campo 
da Psicologia e de seus símbolos. Todos os autores até aqui ci-
tados não se preocuparam em provar a existência de Deus ou a 
concretude dos fenômenos da ordem do sagrado, pois isto é algo 
que não compete à ciência, mas preocuparam-se em estudar a 
religião como uma manifestação social, universal e psicológica.
Eliade (2002), em seus numerosos escritos sobre religiões 
e símbolos, aceita a ideia de que os símbolos religiosos vêm a 
ser uma das maneiras de estudar a psique na Antiguidade, pois 
congregam uma forte carga de signi cados e crenças, expres-
sam uma linguagem que se apresenta como universal e possuem 
uma forte dimensão histórica. Portanto, Eliade (2002), como os 
autores já citados, concorda que estudar o fenômeno religioso 
com um olhar cientí co é voltar-se para a Antropologia, para a 
História e, sobretudo, para a Psicologia.
30
M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
 1.1 Os primeiros vestígios de sociedades secretas
Vários estudiosos, entre eles Campbell (2010b), apontaram pos-
síveis vestígios de sociedades secretas, existentes mesmo na pró-
pria Pré-História. Entretanto, devemos ser muito cautelosos ao 
julgar ou mesmo a rmar acontecimentos e costumes que ocorre-
ram há milhares de anos. Como sabemos, apesar de numerosos, 
os estudos sobre a Pré-História trazem ainda dúvidas e incertezas 
acerca de como viviam nossos ancestrais.Os melhores indícios 
para apontar alguns dos principais costumes daquela época ad-
vêm dos materiais arqueológicos encontrados em diversos sítios 
espalhados pelo mundo todo.
Campbell (2010b) analisa, por meio do senso lógico, que 
o homem primitivo, dotado de consciência, percebeu o sentido 
cronológico das etapas ou fases da vida. Sendo assim, nossos an-
cestrais observaram que a vida segue um uxo e, por entre esse 
 uxo, existem diversas passagens de um estágio para o outro, 
principalmente quando se analisa as etapas da existência: nasci-
mento, in ância, juventude, maturidade, velhice e morte. Dessa 
maneira, os primitivos percebiam que a vida era dotada de perío-
dos passageiros. Campbell (2010b) supõe que nossos ancestrais, 
ao se depararem com estas naturais passagens de um período de 
existência para outro, deveriam ritualizá-las por meio de cerimô-
nias que conclamariam a passagem daquele indivíduo para um 
estágio seguinte. Por exemplo: muitas tribos de sociedades a ica-
nas realizavam, e ainda realizam, os ritos de passagem de meninos 
adolescentes que ingressam na vida adulta. Para Campbell 
(2010a), todos estes ritos ganharam conotação mística e religiosa 
e, a partir da evolução do homem, os mitos que os originaram 
foram ganhando mais abrangência, a ritualização parecia marcar 
uma espécie de união entre o sujeito e o divino.
Cada um desses ritos primitivos de passagem tinha como sig-
ni cado o renascimento do indivíduo para uma nova etapa de sua 
31
M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
vida até que ele atingisse a etapa nal, que é a morte. Para tanto, 
segundo alguns estudiosos, como Frazer (1978), as cavernas pré-
históricas, famosas por suas pinturas rupestres, serviam como 
“santuários” para esses ritos de passagem, também conhecidos 
como ritos de iniciação. É o que atesta Campbell, que enfatiza 
que tais ritos se fundamentavam na simbólica do retorno ao útero 
materno, de nascer novamente, para uma nova etapa da vida:
É também um sinal notório nas entradas silenciosas e cor-
redores escuros do antigo túmulo real irlandês de New 
Grange. Esses fatos sugerem que uma constelação de ima-
gens simbolizando a imersão e dissolução da consciência 
nas trevas do não-ser deve ter sido empregada intencio-
nalmente, desde os tempos remotos, a m de representar a 
analogia dos ritos de passagem com o mistério da entrada 
da criança no útero para nascer. Essa sugestão é reforçada 
por mais um fato: as cavernas paleolíticas do sul da França 
e no norte da Espanha – datadas pela maioria dos espe-
cialistas em 30.000- 000 anos a.C – foram certamente 
santuários, não apenas da magia de caça, mas também dos 
ritos da puberdade masculina. Uma terrível sensação de 
claustrofobia e, simultaneamente, de libertação de qual-
quer contexto do mundo lá fora, assalta a mente encerrada 
naqueles escuros abismos onde a escuridão não é mais uma 
ausência de luz, mas uma força experimentada. E quando, 
naquelas cavernas, é lançada uma luz para revelar as belas 
pinturas de touros e mamutes, rebanhos de renas, cava-
los em corrida, rinocerontes lanosos e xamãs dançando, as 
imagens assaltam a mente com marcas indeléveis. É óbvio 
que a idéia de morte-e-renascimento – renascimento atra-
vés do ritual e com uma reorganização dos estímulos sinais 
profundamente estampados – é antiqüíssima na história da 
cultura (CAMPBELL, 2010b, p. 65).
32
M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
O que o autor explanou é exatamente a existência da ne-
cessidade de iniciação, de contemplar certas passagens da vida 
por meio de rituais sagrados que, com uma função simbólica, 
produzem no indivíduo a sensação de morte e renascimento para 
uma nova etapa da vida. O mesmo conceito é atestado por Eliade 
(2010) que, com um amplo estudo embasado na Arqueologia, 
trouxe à luz diversos ritos de iniciação que ocorriam em várias 
localidades da Ásia e partes da Europa.
Eliade (2010) chegou ao mesmo resultado de Campbell 
(2010b), no que se refere às grutas rupestres como santuários de 
iniciação mística, e argumenta que essas iniciações eram, sobre-
tudo, voltadas para os adolescentes do sexo masculino, ou seja, 
existe uma hipótese de que as mulheres estavam excluídas destes 
rituais. Tal hipótese é veri cada pela Arqueologia, que encontrou 
diversos artefatos de uso masculino nestas cavernas, além de os 
desenhos rupestres representarem simbolicamente uma espécie 
de culto masculino.
Este chamado “culto masculino” da Pré-História tem uma 
fundamentação clássica, que foi amplamente estudada por ar-
queólogos e historiadores. Campbell (2010b) estudou o período 
das cavernas paleolíticas e chegou à conclusão de que o siste-
ma patriarcal, ou seja, aquele em que o homem era o detentor 
dos poderes religiosos e da sociedade, não era universalmente 
conhecido e muito menos universalmente praticado. Esse autor 
avalia que em algumas sociedades primitivas da América do Sul e 
da Á ica ocidental, entre outras regiões, predominou por muito 
tempo o estilo social e religioso com o poder no matriarcado. 
Campbell (2008a) observa que esse sistema pode ser comprovado 
em diferentes períodos históricos, por resquícios arqueológicos 
em que são encontrados somente vestígios de culto feminino e 
da divindade da Mãe Terra.
Campbell (2008a), assim como Frazer (1978), a rma que, em 
diversas culturas pré-históricas da Á ica, Oriente e Américas, 
3 3
M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
houve uma época em que predominou o sistema matriarcal, ou 
seja, a mulher possuía o maior poder decisório na sociedade. 
A Arqueologia nos mostra evidências de que o culto feminino, 
por volta de 4500 a.C., se sobrepunha ao culto masculino. Histo-
riadores acreditam que o homem, ao se relacionar com a terra e 
com o desenvolvimento da agricultura, percebeu a analogia entre a 
capacidade de gerar a vida, que uma mulher possui, com a fertili-
dade da terra, que produzia alimento para toda a horda. Portanto, 
as mulheres ganharam maior notoriedade, assumindo um sistema 
matriarcal, no qual a posição do homem era secundária. Grande 
parte destas a rmações se encontra em Campbell (2008a), que 
analisou que as grandes construções religiosas do antigo Iraque 
possuíam formas vaginais, criando uma similaridade com o culto 
da fertilidade da terra. Esse simbolismo demonstra uma posição 
social mais destacada das mulheres, visto que grande parte das 
relíquias religiosas destes períodos é, por sua vez, em parte muito 
mais relevante no que se refere ao culto do feminino. Eis como 
Campbell observa o papel do homem nestas sociedades:
Os homens, em sociedades desse terceiro tipo eram quase 
supér uos e se, como a rmam algumas autoridades, eles 
não tinham nenhum conhecimento da relação entre o ato 
sexual e a gravidez e parto, podemos muito bem imaginar 
a dimensão de seu complexo de inferioridade. Não é de 
surpreender, portanto, que, como reação, sua imagina-
ção vingativa tenha criado asas e desenvolvido con arias e 
sociedades secretas, cujos mistérios e terrores foram fun-
damentalmente voltados contra as mulheres! Segundo a 
visão do Padre Schmidt, os cerimoniais dessas con arias 
secretas devem ser radicalmente distinguidos das inicia-
ções nas tribos de caçadores, sendo sua função psicoló-
gica diferente, como também sua história. A admissão 
dá-se através de seleção e é geralmente limitada: elas não 
34
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são para todos. “Além do mais, tendem a ser proselitis-
tas, ultrapassando os limites da tribo local, procurando 
aliados e membros entre tribos estranhas e, com isso, 
ocorreu, por exemplo, que tanto na Á ica Ocidental 
quanto na Melanésia, sedes de certas “con arias” possam 
ser encontradas entre tribos grandemente diferenciadas. 
Como já notamos, nessas sociedades secretas masculi-
nas dá-se uma ênfase especial ao culto da caveira, que 
é equentemente associado com a caça à cabeça. Cani-
balismo ritual e pederastia são praticados comumente 
e há um uso muito sosticado de tambores e máscaras 
simbólicos. Ironicamente (mas nem por isso ilógico), as 
divindades mais importantes dessas con arias são com 
 eqüência femininas: até o próprio Ser Supremo é ima-
ginado como a Grande Mãe, e na mitologia e na tradição 
ritual dessa deusa, é desenvolvida uma imagética lunar 
(CAMPBELL, 2010b, p. 263).
Essas pesquisas, desenvolvidas por diversos historiadores e 
arqueólogos, vêm ao encontro da temática que esta investigação 
propõe. É di ícil propor datas exatas para esses acontecimentos 
pré-históricos, assim como estabelecer a certeza de que essas “so-
ciedades secretas” de fato tenham existido, já que há limitação de 
informações e comprovações históricas e arqueológicas. De toda 
forma, o que se sabe é que o mundo se tornou patriarcal, ou seja, 
o masculino tornou-se o polo dominador das relações sociais. 
A gura feminina assumiu uma posição de subordinação perante 
à masculina, algo que, ao menos em parte, permanece até os 
dias atuais. Outro enigma é se essas ditas “con arias” masculinas 
tiveram alguma in uência na suposta transição do matriarcado 
para o patriarcado. Porém, como esclarece Campbell (2010b), 
observa-se, em determinado período pré-histórico, um grande 
35
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movimento iconoclasta, em que estátuas ou ornamentos de culto 
ao feminino foram totalmente destruídos, e o culto ao feminino 
foi amenizado em contraposição ao novo culto, o culto à força e 
à virilidade masculina.
Não nos devemos ater a essa temática. Entretanto, o que é 
preciso observar é a possibilidade da existência de “sociedades 
secretas” desde tempos imemoriais, além dos ritos de passagem 
promovidos em praticamente todos os períodos históricos, nos 
mais diversos povos.
Eliade (2010) também explorou a temática dos ritos de ini-
ciação e de possíveis sociedades secretas na Pré-História. Esse 
autor investigou, sobretudo, assim como Campbell (2010b), as 
cavernas pré-históricas do continente europeu, com foco nas ca-
vernas do sudoeste ancês, e chegou à conclusão de que essas 
cavernas funcionavam para a prática de rituais de cunho religio-
so, pois as interpretações das imagens que se encontram, dentro 
delas, fornecem margem para deduzir que aqueles locais ser-
viam para ritos de iniciação. Frazer (1978), em seu célebre livro, 
“O ramo de ouro”, nos diz que os ritos de iniciação na Pré-Histó-
ria, análogos aos ritos de passagem, faziam parte do cotidiano do 
homem arcaico, podendo-se veri car nos mais diversos continen-
tes, ou seja, esses ritos eram mundialmente difundidos.
Cremos que seja necessário nos aprofundarmos na temática 
sobre esses ritos de iniciação e de passagem. Para isso recorre-
mos a Carvalho, que expõe o conceito de iniciação dentro da 
esfera religiosa:
Iniciação – Esta palavra, que vem do latim initiatio, de 
initiare, designava, entre os romanos, a admissão nos mis-
térios de seus ritos secretos… . A Iniciação é a ação ou 
efeito de iniciar ou de iniciar-se, ação ou efeito de dar ou 
receber a noção ou conhecimento de coisas desconhecidas. 
36
M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
Numa passagem de Tertuliano, o termo é sinônimo de 
batismo. Muitas religiões antigas, sobretudo no Orien-
te, tiveram os seus Mistérios e, conseqüentemente, a sua 
Iniciação. Os ritos iniciáticos não são, todavia, peculiares 
à antiguidade. Durante muito tempo, a Igreja cristã dos 
primeiros séculos deu ao batismo o caráter de uma ver-
dadeira iniciação e, entre os judeus, a iniciação religiosa 
corresponde à primeira comunhão. Muitas seitas e socie-
dades secretas conservaram, até os nossos dias, o costu-
me da Iniciação, inclusive a Maçonaria (CARVALHO, 
2000, p. 15).
Como observamos, já nas sociedades arcaicas, o homem per-
cebeu que a vida ocorria em ciclos, tanto para as plantas e ani-
mais, como para a própria comunidade, ou seja, chegou à cons-
ciência do homem que ele, como tudo a sua volta, passa por 
diferentes etapas de existência. Para exempli car e resumir, essas 
passagens consistem nas etapas de nascimento, amadurecimento, 
envelhecimento e morte. Sendo assim, tudo é um processo que 
se inicia com o nascimento e termina com a morte.
Lurker (2003), baseado neste conceito de ciclos existenciais, 
observou que o homem da Pré-História já tinha a necessidade 
psicológica de se adaptar a estas etapas da existência, bem como 
de sentir-se parte deste sistema cíclico. Para tanto foram criadas 
as chamadas “iniciações” e as festas dos ritos de passagem que 
estavam intrinsecamente relacionadas à religiosidade daquele 
determinado povo. Geralmente os ritos de iniciação antecediam 
os ritos de passagem. Entretanto, isso não é uma generalização, 
ainda que fosse o sistema mais difundido. Também é válido 
lembrar que, como a rmam Frazer (1978), Lurker (2003) e 
Eliade (2010), esses ritos, sobretudo os ritos iniciáticos, que 
continham caráter religioso, eram exclusivos para os homens, 
37
M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
pois faziam parte de sociedades de culto à caça, das quais as 
mulheres não faziam parte. As solenidades de iniciação das mu-
lheres davam-se pelos ritos de passagem, cerimônias mais raras, 
porém de caráter público. 
A elevação do patriarcado, em detrimento do matriarcado, 
fez com que as sociedades arcaicas modi cassem seus ritos e cul-
tos, de acordo com a nova sociedade “falocêntrica”. Eliade nos 
mostra que a diferenciação sexual e a consequente divisão de pa-
péis e posições que passariam a ser exercidos pelo homem e pela 
mulher, culminou na intensi cação da criação de sociedades e 
ritos secretos dos quais as mulheres eram totalmente excluídas:
Para evocar outro exemplo, a separação dos sexos permi-
te-nos supor a existência de ritos secretos reservados aos 
homens e celebrados antes das expiações de caça. Ritos 
semelhantes constituem o apanágio dos grupos de adul-
tos, análogos às “sociedades de homens”; os “segredos” 
são revelados aos adolescentes por intermédio dos ritos 
iniciatórios. Certos autores acreditam ter encontrado a 
prova desse tipo de iniciação na gruta de Montespan, mas 
a interpretação foi contestada. Entretanto, o arcaísmo dos 
ritos iniciatórios é indubitável. As analogias entre várias 
cerimônias atestadas nas extremidades do ecúmeno (Aus-
trália, América do Sul e do Norte) testemunham uma 
tradição comum desenvolvida já no paleolítico (ELIADE, 
2010, p. 36).
É explícito o desejo do homem de criar sociedades perme-
adas por certos segredos, reservados apenas aos iniciados. Tam-
bém, desde tempos remotos, como a Arqueologia e a Etnologia 
nos apontam, tais sociedades secretas praticaram a discriminação 
feminina. Quanto aos ritos de passagem, que também estavam 
38
M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
incutidos dentro destas con arias reservadas aos homens, os 
mesmos ritos eram celebrados em ambiente público, momento 
único em que a mulher poderia e deveria participar deles. 
Tais ritos de passagem universalmente difundidos3 são, em 
sua maioria, comemorações de entrada no novo ciclo existencial. 
Como relata Lurker (2003), os ritos de passagem são comemo-
rados desde o nascimento dos indivíduos, passando por sua ado-
lescência, casamento, velhice e morte. Para nalizar o presen-
te subtítulo, é interessante mencionar a apresentação que Jung 
nos fornece sobre a temática do segredo, que foi inculcada nas 
sociedades secretas, como analisamos, desde tempos em que os 
homens viviam nas cavernas. Para tanto, o psiquiatra suíço sa-
lienta que a temática do segredo vem a ser uma necessidade vital, 
favorável ao desenvolvimento psicológico do ser humano. Assim, 
resume a temática dentro de uma perspectiva psicológica, mar-
geando por um viés histórico, pois, se tal necessidade é natural 
da psique humana, essa necessidade passa a ser então justi cada 
pela criação de “sociedades secretas”, permeadas por “segredos”, 
no decorrer da história da humanidade:
A melhor maneira do indivíduo se proteger do risco de 
confundir-secom os outros é a posse de um segredo 
que queira ou deva guardar. Todo o início da formação 
de sociedades implica na necessidade de uma organiza-
ção secreta. Quando não há motivos su cientemente 
imperiosos para a manutenção do segredo, inventam-se 
ou “arranj am-se” segredos que só são “conhecidos” ou 
“compreendidos” pelos que têm o privilégio da iniciação 
(JUNG, 2006, p. 393).
⒊ Este termo “universalmente difundido” é peculiar a Jung (2008) que será explanado 
mais à ente.
39
M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
Desejamos incutir aqui as bases antropológicas das “socieda-
des secretas”, para, assim, nos certi carmos de que o que tratare-
mos à ente no decorrer desta investigação, não é algo moderno 
ou criação da sociedade Contemporânea, mas, do contrário, estes 
ritos de passagem e iniciações, em certas sociedades ditas secretas, 
sempre existiram e, provavelmente, sempre continuarão a existir.
A imagem I remete ao complexo da “Quinta da Regaleira” 
em Lisboa, Portugal, que é um local bastante simbólico. Seu 
autor tinha o intuito de construir um local para re exão perme-
ada de espiritualidade. Toda a Quinta é decorada com símbolos, 
das mais diversas religiões e loso as. Assim, como nas antigas 
cavernas do Paleolítico, o autor da Quinta desejou expressar a 
necessidade de renascimento do homem, uma forma de inicia-
ção, pela escuridão das grutas e cavernas, até chegarmos ao ca-
minho da luz, após uma caminhada pela escuridão das grutas. 
(Rodrigues, 2014).
Imagem I: uma das simbólicas grutas da “Quinta da Regaleira”, em 
Lisboa. Fonte: acervo do autor.
40
M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
 1.2 Rituais de “morte-renascimento” e a formação 
de sociedades secretas da Antiguidade pagã
Discorremos até o momento sobre algumas considerações pri-
mordiais acerca da simbologia na Antiguidade relatando, sobre-
tudo, as características antropológicas da criação e experienciação 
do simbólico, destacando os ritos de passagem e as iniciações 
nas supostas sociedades secretas da Pré-História. Ademais, será 
interessante uma investigação a respeito de dois dos rituais mais 
difundidos na cultura antiga, os rituais simbólicos de morte e 
renascimento, cujos símbolos, de certo modo, foram preservados 
pelas tradições religiosas, chegando até nós de forma praticamen-
te intacta. Estas análises são de máxima importância para a inves-
tigação, certi cando-nos de que os símbolos, ritos e sociedades 
secretas não são criações recentes da sociedade, pelo contrário, 
possuem um longo passado histórico e estão intimamente arrai-
gados na cultura e nos costumes dos mais variados povos.
A evolução do pensamento religioso, como aponta Campbell 
(1994), ocorreu de modo gradual e, conforme o ser humano ex-
plorava a natureza, seus conceitos religiosos também mudavam. 
Não abordaremos a evolução do pensamento religioso- losó co 
da humanidade, mas devemos ter consciência de que, com a pas-
sagem do tempo e o surgimento de grandes civilizações como os 
babilônios, gregos e romanos, foram fomentadas algumas das 
principais bases religiosas da humanidade e que perduram até 
os dias de hoje. Uma característica que permaneceu nas culturas 
religiosas, sobretudo entre os gregos e romanos, foi o sentimento 
psicológico de pertença ao universo religioso e do domínio das 
forças da natureza. Para tanto, as religiões organizaram rituais 
em que o indivíduo era simbolicamente morto e ressuscitado, 
ou seja, o sujeito morria simbolicamente para renascer para uma 
nova jornada.
41
M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
Ao entender o contexto religioso das antigas civilizações, pas-
samos a compreender o que signi ca essa morte simbólica. Dolto 
(2011) utilizou-se da Psicanálise para explicar que, continuamen-
te, nossa vida é perpetuada por mortes e nascimentos, de forma 
inconsciente. A autora destaca que, por exemplo, as etapas da 
existência, como a passagem da adolescência para a vida adulta, 
são marcadas inconscientemente por uma morte psicológica, o 
que quer dizer que estamos constantemente “morrendo e renas-
cendo”. Esse processo inconsciente deve permear a vida do sujeito 
não somente em etapas de mudança cronológica, como a já citada 
passagem da adolescência para a vida adulta, mas também em 
nosso dia a dia, pois é visível atualmente a luta do homem contra 
as adversidades da vida, como a violência, o falecimento de um 
ente querido ou o desentendimento familiar, ou seja, centenas 
de acontecimentos desgastantes que, de certa forma, “convidam” 
a pessoa a recomeçar sua vida de uma outra maneira, que lhe 
possibilite ultrapassar as barreiras di íceis. Esse recomeço exige 
sua morte simbólica, a morte do antigo estilo de vida, para que 
seja possível o renascimento para um novo caminho da existên-
cia, na tentativa de construir uma vivência mais saudável.
É possível fazer um cotejo entre as palavras da mencionada 
psicanalista e os antigos rituais de iniciação citados anteriormen-
te. O presente trabalho segue uma linha psicológica das religiões 
e dos rituais que são tidos como fenômenos da cultura. O obje-
tivo é analisar essas crenças por um viés psicológico e histórico, 
algo já tentado no item anterior, quando explanamos alguns con-
ceitos referentes aos rituais de passagem e de iniciação entre os 
povos pré-históricos e citamos há pouco, com Dolto (2011), uma 
possível explicação psicológica para tais rituais.
Ao voltarmos a lente para o estudo dos rituais simbólicos 
de morte e renascimento, encontramos essa temática em diver-
sos povos antigos, sejam eles uma pequena tribo da América do 
42
M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
Norte ou da Grécia e da Roma antigas, como atestaram Campbell 
(2010a), Eliade (2010) e Frazer (1978), entre muitos outros que 
comprovaram a existência destes rituais nas mais distintas civi-
lizações. Veremos que grande parte destes rituais era reservada 
a poucas pessoas, ou seja, temos mais uma vez o surgimento de 
sociedades secretas, pois o acesso a esses grupos só se dava por 
meio de uma iniciação destinada a poucos.
É interessante a observação de que, o conceito simbólico de 
morte e renascimento também evoluiu de acordo com a mudança 
da mentalidade do homem. Até chegarmos a esse conceito, mui-
tos povos da Antiguidade, em seus rituais, promoviam a morte de 
centenas de seres humanos em nome de diversos deuses e na espe-
rança de que, sacri cando-os, renascessem para uma vida melhor.
Encontramos em Campbell (2009) e Eliade (2011) excelentes 
exemplos disso. Campbell veri cou que a crença na morte e no 
renascimento da alma, em uma vida melhor, é mundialmente 
difundida. Os primitivos, entretanto, tomavam essa crença em 
um sentido literal e de necessidade imediata. Para tanto, muitos 
homens e mulheres se ofereciam em sacri ício aos deuses para 
renascer em uma vida muito melhor e renovada, em um rito de 
passagem extremamente literal e “cruel”. Quanto aos Maias, em 
seus jogos de bola, o capitão do time vencedor era literalmente 
“agraciado” com a morte ritual, ou seja, era morto em honra aos 
deuses, porém recebia a certeza de um renascimento para uma 
vida melhor.
Campbell (2010 a/b) estudou profundamente o ritual do 
sacri ício voluntário e o encontrou centenas de vezes nas mais 
distintas culturas, sobretudo na forma do regicídio, ou seja, a 
morte de um rei. Campbell conta que, em certas regiões da Su-
méria, o rei reinava por sete anos e, transcorrido esse período, 
era literalmente morto durante um ritual para que, assim, o reino 
como um todo pudesse renascer sob a regência de um novo líder. 
43
M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
Eliade (2011) nos mostra que esses sangrentos rituais eram prati-
cados em quase todas as culturas religiosas, pois, psicologicamen-
te, os sujeitos desejavam manter uma harmonia com os deuses, 
mesmo que isso custasse a vida de centenas de pessoas que, em 
sua grande maioria, ofereciam-se para serem sacri cadas. Outro 
considerável estudioso doassunto é Frazer (1978), que analisa 
rituais de sacri ícios humanos em diversos povos.
Para não prolongarmos esse assunto, ainda que seja um tema 
muito importante como fundamento antropológico dessa inves-
tigação, faremos um rápido estudo de como os literais rituais de 
sacri ício humano passaram aos simbólicos ritos de morte e renas-
cimento, o que impulsionou a formação de antigas sociedades se-
cretas que oresceram, por exemplo, na Roma e na Grécia antigas.
Campbell (2008 a/b) estudou um dos rituais simbólicos mais 
antigos já registrados. Tal ritual ocorria no Egito Antigo, sendo 
um exemplo perfeito de como os rituais de sacri ícios humanos 
passaram a ser simbolicamente representados. O faraó, após trin-
ta anos de seu governo, deveria morrer para renovar o império e, 
com sua morte, agraciar os deuses, que abençoariam o Egito com 
prosperidade e riquezas, em um ritual conhecido como festival 
Sed. Entretanto, depois de serem realizados muitos rituais em 
que o rei egípcio era literalmente morto, e com o processo de 
evolução religiosa, os sacerdotes perceberam que tal morte não 
necessariamente precisava ser literal, mas sim simbólica. Em ou-
tras palavras, o rei morria, porém, sua morte era simbólica, para, 
assim, renascer juntamente com o seu império, em um ritual em 
que não se derramava sequer uma gota de sangue. Dessa forma, o 
faraó ressurgia perante a plateia, que assistia a todo o ritual, com 
uma nova vestimenta, representando a pura renovação ou um 
renascimento, tanto de sua pessoa, como de seu governo.
O ritual de Sed egípcio é somente um exemplo, como outros 
rituais similares que ocorriam em diversos povos. É interessante 
4 4
M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
observar a evolução do pensamento e da dimensão simbólica do 
homem, pois esse percebeu que a morte, para a renovação das 
forças da vida, não tinha a necessidade de ser literalmente con-
sumada, mas sim deveria ser substituída por um ritual de caráter 
psicológico-simbólico, pois o sujeito que renascia sentiria em 
vida a sensação psicológica e mística deste renascimento espiritu-
al. É válido lembrar que esse ritual é também uma iniciação, pois 
o sujeito renasce e, portanto, inicia uma nova e simbólica etapa 
de sua existência.
Como mencionado, esses rituais são milenares, iniciaram-se 
com literalidade e, aos poucos, passaram a ser simbólicos, embora 
muitas culturas, como a hindu, tenham mantido alguns ritu-
ais com sacri ícios humanos por longos séculos, conforme atesta 
Campbell (2008a).
É amplamente conhecida e difundida também a temática 
da morte e renascimento (ressurreição) de divindades, dos mais 
variados e distintos panteões da civilização. Como observa 
Lurker (2003), é di ícil estabelecer uma cronologia exata, para 
que se saiba se foram os rituais de morte e renascimento que 
deram origem à mitologia dos deuses que nascem, morrem e 
renascem, ou se o processo ocorreu de forma contrária, sendo o 
ritual in uenciado pela mitologia. Porém, como os especialistas, 
sobretudo Campbell (1994) e Eliade (2011), não propõem dis-
tinções cronológicas para tal, trabalharemos com a suposição de 
que a mitologia dos deuses que morrem e renascem e os rituais 
que celebram este feito tenham se in uenciado reciprocamente 
e, nalmente, conduzido as sociedades em que se inseriram à 
criação, nas antigas civilizações, de associações religiosas secretas.
Jung (2011) e Campbell (2007) estabeleceram que, em di-
versas culturas, houve a crença em uma divindade que morre 
e renasce. Tal característica de mito foi tão difundida nas mais 
distintas culturas, que Jung (2011) a caracterizou como um mito 
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M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
arquetípico4, ou seja, um mito que, de certa forma, é veri cado 
em praticamente todas as culturas. É interessante notar que mitos 
como os de Osíris, Mitra, Átis, Adônis, Dionísio, entre outros, 
enquadram-se perfeitamente no mesmo mitologema do deus que 
nasce, morre e renasce. É muito provável que, sob inspiração 
nesses deuses, tenham sido criadas certas sociedades secretas em 
que o candidato, assim como esses deuses, morria e renascia sim-
bolicamente. Os citados autores admitem que certas sociedades 
secretas da Antiguidade, sobretudo na Roma e na Grécia Antiga, 
traziam em seus rituais a temática da morte e do renascimento do 
neó to, baseada na mitologia dos deuses.
Carpenter (2008) articula que é muito di ícil catalogar a 
quantidade de deuses, entre as mais distintas culturas, que 
morrem e renascem. Mas o autor é propenso a acreditar que, na 
Antiguidade, nas mais famosas civilizações, o mito de morte e 
renascimento divino foi o fator mais importante para a formação 
de sociedades secretas.
Não é nosso intuito explicar a mitologia das dezenas de 
deuses que participam deste processo de nascimento-morte-re-
nascimento, porém, podemos citar alguns, mesmo que de uma 
forma rápida.
É bem difundido, por exemplo, o mito egípcio de Osíris 
que, morto e esquartejado por Seth, tem seu corpo reconsti-
tuído e ressuscitado. O famoso Dionísio grego, após ser morto 
pelos Titãs, acaba ressuscitado para uma nova vida. Encontra-
mos outros exemplos, nas mais diversas culturas, como Mitra, 
Adônis e Tammuz, que também se enquadram dentro da citada 
temática mitológica. Campbell (2007), em seu livro “O herói de 
mil faces”, explica que a jornada desses deuses que morrem e 
renascem contribui para sua personi cação em grandes heróis 
⒋ Lurker (2003, p. 448) explica que o termo arquétipo é comum principalmente na 
psicologia de Jung. Arquétipo refere-se a comportamentos psíquicos típicos, inatos ao 
ser humano. Os arquétipos se manifestam principalmente em sonhos, símbolos e mitos.
46
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mitológicos. Com efeito, o autor relata que, na mitologia, esses 
deuses se sacri caram pelo bem do homem ou prestaram algum 
tipo de bene ício ao ser humano, como no caso de Prometeu, 
que, após roubar o fogo sagrado, foi condenado pelos deuses a 
ser acorrentado para sempre. Assim, o homem teve a necessidade 
de “imitar” os deuses, ou ao menos de representá-los em rituais 
simbólicos que zessem menção a sua morte, portanto, foram 
sendo criadas sociedades religiosas que, em memória desses deu-
ses, promoviam a iniciação de homens nos segredos ou mistérios 
daquela determinada comunidade.
Eliade (2010) analisou diversas sociedades religiosas que, per-
meadas por segredos, faziam menção, em especial, a um ou mais 
deuses que, de certa forma, completavam a jornada de morte e 
renascimento. Entre estas mencionadas sociedades encontramos 
os chamados mistérios gregos de Elêusis. São “mistérios”, pois 
os segredos da sociedade só eram passados àqueles que fossem 
iniciados. O mito de Elêusis se dá em torno de duas divindades 
femininas: Deméter e sua lha Perséfone, que representavam o 
culto da natureza, do sagrado feminino da terra e da fertilidade. 
O mito tinha seu ápice quando a bela e jovem Perséfone era 
raptada pelo deus Hades, o dominador e guardião dos infernos.
Segundo o mito, Hades raptou a lha de Deméter, Per-
séfone, levando-a ao mundo ctônio; Deméter recolheu-se 
em luto e impediu o crescimento de qualquer semeadu-
ra; nalmente, chegou-se a um acordo por intermediação 
do pai dos deuses, segundo o qual Perséfone permane-
ceria um terço do ano com Hades e o resto do tempo no 
Olimpo. A mudança anual do local de residência da lha 
de Deméter simboliza a periodicidade do orescimento 
e morte da natureza; na qualidade de Core, ela é a me-
nina dos grãos, como Perséfone (romano: Prosérpina), 
47
M A R C E L H E N R I Q U E R O D R I G U E S
a deusa do mundo ctônio. Os mistérios celebrados em 
homenagem a Deméter em Elêusis ocorriam em local de 
culto acessível somente aos iniciados. O arcanum, severa-
mente resguardado, somente permite conhecer algumas 
particularidades. Sabe-se com certeza, apenas, que os ritos 
e símbolos (não se sabe o que havia no santuário de De-
méter: espiga, falo ou colo materno)se referiam à descida e 
ao retorno do mundo ctônio, e que os iniciados esperavam, 
com a ajuda de Deméter, renascer para uma nova vida atra-
vés da passagem pela morte (LURKER, 2003, p. 189-190).
O mito e a ritualística do culto de Elêusis acabam por ser 
uma compilação de tudo o que foi discutido até aqui. É visí-
vel que os símbolos dos arcaicos ritos de morte e renascimento 
permaneceram intactos na mentalidade da Antiguidade Clássica. 
Eliade (2010) atesta que, apesar de tais ritos de Elêusis terem 
sido celebrados por cerca de dois mil anos, pouco sabemos sobre 
sua ritualística e segredos. No entanto, o que mais importa em 
termos de investigação é contemplar que, desde a mais remota 
época e também no desenvolvimento das clássicas civilizações, 
o homem possuía a necessidade da religiosidade, porém, havia 
a necessidade adicional de enquadrar-se em sociedades secretas 
para compartilhar de um segredo inviolável, segredo esse que, se-
guindo a linha da simbólica do nascimento-morte-renascimento, 
tinha como função inculcar nele a necessidade de, na vida, mor-
rer e renascer diversas vezes de uma forma simbólica.
Plutarco (apud Eliade, 2010) revela a função psicológica 
dos segredos que essas sociedades secretas só forneciam a seus 
adeptos. Para esse lósofo, a detenção de um “segredo”, por si 
só, aumenta o valor daquilo que se aprende, pois o sujeito tende 
a tornar-se portador de algo que nem todos possuem, garantin-
do-lhe, subjetivamente, uma sensação de “superioridade”.
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M A Ç O N A R I A E S I M B O L O G I A
Para nalizar, é importante salientar que citamos os mistérios 
de Elêusis por essa ser uma das sociedades da Antiguidade que 
mais persistiu no transcurso da história, em quase dois mil anos 
de existência. Tal sociedade pode servir de alicerce histórico e an-
tropológico para o que será investigado no decorrer deste traba-
lho. Entretanto, embora não mencionadas aqui, a Grécia Antiga 
foi palco da formação de diversas sociedades secretas, como as 
dos neoplatônicos, dos pitagóricos e dos or stas, dentre muitas 
outras, todas com a mesma igualdade de iniciação e garantia de 
um segredo inviolável para aqueles que se tornassem seus adeptos 
ou neó tos, que, em tradução literal, signi ca “o mais novo pro-
sélito”, ou “aquele que nasce pela segunda vez”. (Lurker, 2003).
49
2. Investigação sobre o misticismo 
ocidental. Percursos para a formação 
de sociedades secretas e a Maçonaria
O primeiro capítulo tratou, antropologicamente, de questões re-
lativas às sociedades secretas, rituais de iniciação e de passagem 
na Antiguidade pré-histórica e Clássica. É interessante apontar 
que, embora verse sobre os alicerces antropológicos da temática 
proposta, tal capítulo será essencial para que se compreenda, por 
meio do viés histórico, porque na atualidade os símbolos reli-
giosos e sociedades como a Maçonaria têm causado desconforto, 
medo e incompreensão. Veremos, também, como a Maçonaria 
possivelmente herdou dessas antigas tradições os moldes de so-
ciedade secreta.
Antes de iniciar um rápido panorama sobre a história da 
Maçonaria, é importante uma análise do cenário histórico que 
precedeu o surgimento do Cristianismo e a ascensão dessa reli-
gião que, de certa maneira, se sobrepôs aos antigos mistérios, aos 
antigos símbolos pagãos e às antigas sociedades secretas. 
Edinger (1999) aponta para os costumes religiosos dos povos 
pré-cristãos, principalmente na Roma e na Grécia antigas, que 
possuíam diversas divindades, diversas sociedades de mistérios e 
segredos, como a de Elêusis na Grécia, mencionada no capítulo 
anterior. Estes serão elementos fundamentais que perfazem o 
pano de fundo religioso da época em que surgiu o Cristianismo.
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Kinney (2006), especialista no esoterismo ocidental, argu-
menta que os povos pré-cristãos, intitulados de “pagãos”, pos-
suíam uma rica bagagem cultural, religiosa e histórica que, por 
pouco, não se perdeu com o surgimento e o estabelecimento do 
Cristianismo. É bem sabido que a religiosidade pagã ocidental 
era caracterizada por um forte enlace entre o culto ao ser huma-
no e à natureza, ou seja, havia uma difundida crença de que a 
natureza e o humano faziam parte da divindade5. Também havia 
a crença de que o destino do ser humano e da humanidade, de 
modo geral, pudesse ser conhecido antecipadamente com a uti-
lização do Horóscopo e da Astrologia6, que tiveram sua difusão 
entre os imperadores romanos e com o Helenismo.
Esses ditos elementos místicos perfaziam grande parte das 
religiões mundiais, espalhadas pelas mais diversas civilizações 
e, como lembra Lurker (2003), eram classi cadas em mistérios 
exotéricos e mistérios esotéricos. Os mistérios exotéricos se re-
feriam ao conhecimento básico divulgado ao público leigo. Já os 
mistérios esotéricos se referiam ao conhecimento aprofundado, 
enigmático, e que somente era transmitido aos membros de de-
terminada religião ou escola losó ca; para tanto, era preciso 
submeter-se a uma iniciação na qual o iniciado recebia todas as 
orientações sobre os segredos esotéricos que lhe seriam revela-
dos, sendo que, a partir daquele momento, o iniciado renasceria 
para uma nova vida, pois possuiria segredos que nenhum outro 
sujeito que não fosse iniciado teria acesso.
Carpenter (2008) fornece uma extensa lista de aternidades 
iniciáticas nascidas na religiosidade pagã. Dentre elas, as mais 
⒌ Tal doutrina que identi ca o homem e a natureza como parte da divindade é chamada 
de panteísmo.
 A Astrologia, como atesta Carvalho (2000), é tão antiga quanto a história da civili-
zação. Os sumérios e babilônios foram os primeiros a observar os astros e a incluí-los 
no campo da religiosidade. Podemos considerar que a Astrologia foi uma das primeiras 
formas de religiosidade moldadas pela humanidade.
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famosas são: os mistérios de Mitra, os de Osíris, Hórus e Ísis, os 
mistérios de Elêusis, os pitagóricos etc.
E não podemos pensar que somente os politeístas possuíam 
seus mistérios e ritos iniciáticos. Pelo contrário, o Judaísmo tam-
bém estava envolvido esporadicamente em rituais de iniciação e 
esoterismo, tal como a Cabala que, apesar de ter se difundido 
com maior profundidade na Idade Média, tem sua origem no Ju-
daísmo da Antiguidade, segundo alguns especialistas como Grad 
(1978). Essa pode ser uma boa explicação, visto que, atualmente, 
têm sido feitas importantes descobertas a respeito da comunidade 
de Qumran.
Em termos gerais, segundo Bettencourt (s/d b), a comuni-
dade de Qumran, ou comunidade dos Essênios, localizada no 
noroeste do Mar Morto, era uma comunidade de judeus que se 
retiravam para viver uma vida completamente ascética, mas, para 
isso, passavam por rituais de iniciação semelhantes aos desenvol-
vidos nas grandes civilizações da época.
Esta análise torna-se importante, pois traça todo o pano-
rama de como a Antiguidade estava permeada por sociedades 
iniciáticas que tencionavam a promoção do conhecimento se-
creto, ou uma vida supostamente mais plena e feliz, a partir de 
um segredo conquistado e guardado. Portanto, a rápida análise 
destas antigas aternidades, que têm suas origens nos tempos 
mais remotos, indica-nos que a humanidade sempre conviveu 
ou teve a necessidade de experimentar aquilo que, seja o que 
for, tem caráter secreto, a que poucas pessoas têm acesso ou de 
que têm conhecimento, algo que não é revelado à grande parte 
da comunidade. Como expõe Keightley, as sociedades secretas, 
com seus segredos transmitidos a poucos, tiveram, e ainda têm, 
um caráter fortemente social e psicológico; o primeiro porque o 
sujeito, geralmente, ganha destaque social por fazer parte de algo 
que normalmente é desconhecido pelos demais, criando-se um 
ambiente de curiosidade por parte dos não iniciados:
52
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Não é, portanto, de se admirar, que esses cultivadores 
tentassem guardar e preservar o conhecimento

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