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Eficácia na Comunicação Escrita Apresentação Qual importância uma comunicação escrita possui em uma organização? Esse instrumento de comunicação apresenta uma série informações (apresentação, pedidos, solicitações, ordens, pedidos de desculpa, etc.) e é precioso se bem utilizado. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai ver que a forma de redigir uma mensagem deve estar adaptada de acordo com o seu objetivo ou conteúdo (positivo, neutro ou negativo). Uma mensagem redigida de forma correta pode aumentar o poder de persuasão em relação ao seu público-alvo. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir a estrutura de uma mensagem escrita eficaz.• Identificar as etapas para a construção de uma mensagem eficaz.• Reconhecer as diferenças entre mensagens positivas, negativas e persuasivas.• Infográfico O uso eficaz de mensagens escritas requer cuidados em sua construção, uma vez que essas mensagens podem carregar conteúdos de cunho positivo ou negativo. No Infográfico, veja duas informações essenciais para o uso dessa ferramenta - o texto escrito. Conteúdo do livro No capítulo Eficácia na Comunicação Escrita do livro Comunicação e expressão, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai ler a respeito da redação de mensagens neutras e de boas notícias, além de entender que precisa de habilidade para redigir informações negativas. Você sabe como iniciar, desenvolver e finalizar uma mensagem escrita de forma eficaz? A eficiência na comunicação escrita depende de alguns cuidados que você deve ter na hora de redigir uma mensagem. Boa leitura. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Debbie Mello Noble Eficácia na comunicação escrita Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir a estrutura de uma mensagem escrita eficaz. � Identificar as etapas para a construção de uma mensagem eficaz. � Reconhecer as diferenças entre mensagens positivas, negativas e persuasivas. Introdução Neste capítulo, você vai ler sobre os elementos da comunicação escrita e de que forma é possível torná-la eficaz. Para isso, é preciso compreender a importância da clareza e da objetividade na construção de uma men- sagem escrita, bem como ser capaz de diferenciar quando é necessário escrever uma mensagem persuasiva, positiva ou negativa. Estrutura de uma mensagem escrita eficaz A comunicação escrita é a expressão do pensamento por meio da utilização do léxico e das estruturas gramaticais de cada língua com o objetivo de comunicar uma mensagem específica em uma determinada situação. Para Irandé Antunes (2003), a atividade de escrita é uma atividade interativa de expressão, pois envolve aquele que escreve e seu leitor, uma vez que um texto geralmente é produzido para ser lido por alguém. Além disso, Antunes (2003) afirma que a escrita é um meio pelo qual podemos exercer uma função comunicativa, seja a de informar, anunciar, descrever, recordar, explicar, argumentar, instruir, resumir, documentar ou registrar algo. Com isso em vista, precisamos saber qual o objetivo da comunicação escrita: comunicar resultados ou decisões? Essas informações são positivas ou negativas? A partir da definição desses objetivos, respondendo a perguntas como essas, podemos iniciar o planejamento de uma comunicação eficaz. Aspectos de construção de uma mensagem clara e objetiva A escrita, como vimos, está ligada ao funcionamento da língua. Nesse fun- cionamento, é preciso considerar o sentido das palavras, ou seja, seu estudo semântico. Esse estudo permite compreender que as palavras não têm sen- tido único, nem literal, assim, devem se relacionar ao contexto em que são empregadas. Essa questão é fundamental para compreender que não é tão simples garantir que uma mensagem escrita cumpra seus objetivos. Para que uma mensagem seja eficaz, é preciso transmitir clareza e objetividade, o que não é algo simples. Precisamos perceber, primeiro, que as palavras só fazem sentido em uma situação na qual estão envolvidos sujeitos. Assim, ao escolher as palavras empregadas em um comunicado escrito, devemos considerar os diferentes sentidos possíveis para essas palavras e as possibilidades de interpretação dentro do contexto em que se apresentam. Antes de iniciarmos a escrita, precisamos ter clareza dos objetivos da comunicação. Assim, é possível compreender o contexto, conhecer o possível leitor e escolher a melhor forma de comunicar, evitando desentendimentos. Segundo o Manual de redação oficial da Presidência da República (BRA- CKS et al., 2002), a clareza é um dos requisitos fundamentais de um texto oficial. Para Bracks e outros autores (2002, p. 64), atingir a clareza nesse tipo de texto passa pela escolha das palavras e expressões: O emprego de expressões ditas “de uso consagrado” confere uniformidade e transparência ao sentido do texto. Mas isto não quer dizer que os textos oficiais devam limitar-se à repetição de chavões e clichês. Verifique sempre Eficácia na comunicação escrita2 o contexto em que as palavras estão sendo utilizadas. Certifique-se de que não há repetições desnecessárias ou redundâncias. Procure sinônimos ou termos mais precisos para as palavras repetidas; mas se sua substituição for comprometer o sentido do texto, tornando-o ambíguo ou menos claro, não hesite em deixar o texto como está. Para tornar o texto ainda mais eficaz, outro fator importante é a adequação aos interlocutores. Nesse sentido, Carneiro (2001) aponta que o conhecimento do público-alvo da mensagem é relevante na construção dessa adequação. Alguns pontos auxiliam a identificação desse público, como: � atividade profissional; � imagem social; � idade; � regiões/origens dos possíveis leitores. Quanto à imagem profissional, Carneiro (2001) ressalta a importância de estar atento às diferenças de jargões em determinados campos profissionais. Isso porque um modo determinado de se expressar em uma área, muitas vezes, não é correspondente em outras. A imagem social está ligada não somente aos cargos ocupados nas instituições. A imagem social diz respeito também a uma projeção que a sociedade tem sobre os sujeitos. Por exemplo, a imagem social de um líder em uma startup ligada à tecnologia é diferente da imagem do líder de um escritório de advocacia. Isso porque as startups são conhecidas socialmente pela informalidade, ao contrário dos escritórios de advocacia. Esse grau de formalidade/informalidade, visível nas vestimentas, também é variável em relação à linguagem. Assim, a comunicação escrita pode ser mais ou menos formal, de acordo com essa imagem social. A adequação da linguagem na comunicação escrita também tem seus efeitos em relação à idade e à região/origem do público-alvo da mensagem. Se os hábitos e costumes sociais variam com o tempo e com os diferentes espaços geográficos, a língua também sofre variações. Portanto, uma mensagem escrita clara e objetiva necessita de uma tentativa de neutralização dos regionalismos e de possíveis gírias de quem escreve. 3Eficácia na comunicação escrita A adequação é um fator extremamente relevante em qualquer forma de comunicação. Nesse sentido, além de adequar um comunicado ao leitor, é preciso também adequar a linguagem ao tipo de mensagem. São vários os tipos de mensagem escrita, mas, no mundo corporativo, algumas são mais utilizadas. Além dos documentos oficiais — como ofício, circular e memorando —, o e-mail destaca-se por ser o veículo de mensagem mais comum nas organizações, adaptando-se para quaisquer dos objetivos que o leve a escrever uma mensagem. Etapas para construção de uma mensagem eficaz Uma mensagem eficaz, como vimos, depende da capacidade de quem escreve em atentar para os objetivos do que se pretende comunicar. A partir disso, é possível fazer escolhas lexicais coerentes, passando clareza e concisão para o texto. No entanto, a construção de uma mensagem eficaz também dependede uma boa organização textual. Com base em Stella (2015), podemos estabelecer algumas etapas essenciais na construção de uma mensagem escrita eficaz. São elas: � definir o objetivo do texto; � selecionar a abordagem do tema tratado; � hierarquizar as informações abordadas no texto e excluir as que não serão; � recorrer a elementos de fundamentação das ideias: dados, caso, exemplo, analogia, utilidade da informação, causa, consequência; � escolher palavras, formatação e recursos visuais adequados aos leitores e aos objetivos do texto para materializar a informação. A seguir, veremos como aplicar essas etapas na escrita. Eficácia na comunicação escrita4 Objetivos e abordagem A clareza dos objetivos do que se quer comunicar é essencial para os próximos passos de uma comunicação eficaz. Como não há um único modelo a ser aplicado a todas as situações, o texto precisa estar adequado às situações e às necessidades dos interlocutores. Assim, é importante primeiro ter muito claro o objetivo a que se destina a comunicação escrita. Vejamos alguns exemplos de objetivos que requerem mensagens escritas: � solicitar uma informação; � informar resultados; � comunicar decisões internas; � anunciar mudanças; � descrever processos; � explicar algo aos clientes; � dirimir dúvidas; � argumentar valores; � instruir a equipe; � registrar as decisões de uma reunião. Com isso em mente, podemos escolher a melhor abordagem para tratar do assunto. Lembramos que a comunicação escrita precisa ser muito direta e clara, pois o interlocutor não está presente no momento da escrita. Em outras palavras, se a comunicação oral já demanda determinados cuidados, a escrita exige muito mais. A abordagem de um assunto pode ser direta, indireta, formal ou informal, por exemplo. Se buscamos uma informação por e-mail, por exemplo, quanto mais direto e específico ele for, mais facilmente obteremos as respostas sobre o tema. Solicitar informações, reunião, mentoria ou feedback sobre algum trabalho para alguém é algo comum no meio corporativo, mesmo que não se conheça ou não seja próximo dessa pessoa. Adam Grant, psicólogo americano, professor da University of Pennsylvania, espe- cializado em psicologia organizacional e autor do best-seller Dar e receber, dá algumas 5Eficácia na comunicação escrita dicas para conseguir que pessoas importantes respondam aos e-mails. Para isso, é preciso focar em escrever um e-mail que não vai passar despercebido. Como conseguir que pessoas importantes respondam aos e-mails (GRANT, 2013): � Aperfeiçoe a linha de assunto — Assim como é quase inevitável julgar um livro pela capa, o e-mail deve chamar a atenção já na linha de assunto. Busque usar frases criativas, como “seu livro me manteve a noite toda acordado”, ou diretas como “Seu feedback é essencial para mim”. � Deixe claro por que você o escolheu — Não tenha receio de mostrar sua admi- ração pela pessoa, porém, não se esqueça de deixar claro o motivo que o levou a procurar aquela pessoa, e não outras, para auxiliá-lo no seu objetivo. � Mostre que você fez sua lição de casa — Pesquise bem o assunto, a pessoa e a informação de que você precisa antes de solicitá-la a alguém. Não faça a pessoa perder tempo respondendo-lhe um e-mail com algo que você poderia ter en- contrado/feito sozinho. Esteja preparado sobre quem é e o que a pessoa já fez. � Realce semelhanças incomuns — Chame a atenção para alguma característica da pessoa com a qual você se identifica. Destacar isso aumenta as chances de a pessoa ter empatia por você e o auxilia nos seus objetivos. � Faça seu pedido específico e mantenha-o curto e doce — Seja gentil, honesto e direto. Ou seja, escreva mais sobre os passos anteriores do que sobre este, pois nesse ponto você deverá ser o mais objetivo possível. � Expresse gratidão — Seja mais gentil e grato do que persuasivo. As pessoas sentem mais vontade de auxiliar aqueles que se colocam em uma postura de aprendizado e humildade. Por outro lado, se precisamos comunicar uma decisão negativa ou anun- ciar resultados ruins da empresa, precisamos observar com mais cuidado a linguagem empregada para que o leitor não se sinta injustiçado, por exemplo. Hierarquizar as informações Outro aspecto relevante na produção de mensagens escritas eficazes está relacionado à organização do texto. Assim, por mais que não seja possível estabelecer um modelo padrão de mensagem escrita corporativa, podemos re- conhecer um certo modo de hierarquizar as informações no texto. Um exemplo disso são os e-mails solicitando informações, um tipo de mensagem escrita muito comum em qualquer área profissional. Quanto mais claro e organizado estiver o texto, mais objetivas e esclarecedoras serão as respostas recebidas. Eficácia na comunicação escrita6 O e-mail é indicado para mensagens de rotina, que não exijam quantidades de in- formações complexas ou mais oficiais. No entanto, ele pode também servir como suporte por meio do qual se envia alguma documentação oficial utilizando anexos. O e-mail não é indicado para o envio de mensagens com conteúdos confidenciais. Inicialmente, devemos nos apresentar e não ter receio de logo a seguir introduzir o assunto. Devemos dizer exatamente o que queremos saber, ou seja, deixar claro o ponto principal, isto é, a informação mais necessária, que deve estar clara e bem definida. Se for importante, é possível adicionar algumas explicações. Devemos ter cuidado para não adicionar informações desnecessárias, tornando a mensagem confusa. Apesar de já termos deixado claro a informação desejada, também pode ser necessário adicionar algumas perguntas. Nesse ponto, é interessante numerar as perguntas para que o leitor também consiga ser objetivo em suas respostas. Além disso, devemos elaborar as perguntas abertas, de maneira a receber respostas satisfatórias, evitando a possibilidade de uma resposta do tipo sim ou não. Por fim, podemos encerrar retomando o ponto principal e elaborar uma saudação cordial. Agora que já temos uma base de como organizar a escrita em geral, vamos ver como hierarquizar uma resposta eficaz. Por exemplo, quando uma men- sagem envolve apenas um questionamento, podemos ser diretos e objetivos e, após uma saudação inicial, respondemos objetivamente a essa questão. Além disso, podemos acrescentar informações adicionais se necessárias. A Figura 1 apresenta um exemplo de e-mail de solicitação de informações. Na primeira linha, a pessoa (Joana) se apresenta (gerente de marketing da empresa XYZ) e, imediatamente a seguir, na segunda linha, introduz o assunto, indo diretamente ao ponto principal (orçamento de peças). Em seguida, na terceira linha, solicita a informação e especifica os detalhes, ou seja, fornece algumas explicações que ajudem o leitor a compreender suas necessidades. Posteriormente, adiciona algumas perguntas adicionais (solicita sugestões) e, finalmente, despede-se gentilmente. 7Eficácia na comunicação escrita Figura 1. Modelo de e-mail. Leia o link a seguir, publicado no site da Endeavor Brasil, e conheça Os 7 e-mails que você precisa saber escrever: https://goo.gl/nt4ggC Por outro lado, se estamos respondendo a mais de um questionamento, é muito útil ordenar as respostas de acordo com as perguntas enviadas. Outra estratégia possível é copiar as perguntas feitas e responder abaixo delas. Diferenças entre mensagens positivas, negativas e persuasivas Na comunicação empresarial, especialmente naquela que circula internamente, muitas vezes, foca-se somente na comunicação escrita de mensagens neutras, evitando-se abordar especialmente assuntos negativos, ficando totalmente relegadas a segundo plano as mensagens positivas. No entanto, a transparência é um elemento fundamental nas organizações, por isso, o uso de comunicação Eficácia na comunicação escrita8 escrita internamente para comunicar resultados, dar feedbacks ou informar sobre momentos não tão agradáveis deve ser incentivado,desde que comu- nicado da maneira correta. Mensagens positivas e negativas A melhor forma de elaborar uma mensagem escrita é buscar antecipar a reação das pessoas que receberão a mensagem. Se conhecermos o público leitor, poderemos identificar o impacto que a mensagem terá sobre ele. Se o conteúdo daquilo que precisamos comunicar não for muito agradá- vel — ou seja, comunicar resultados negativos, dar um feedback negativo ou recusar uma solicitação de um cliente ou fornecedor —, devemos amenizar as reações negativas e os possíveis sentimentos de frustração e injustiça. Isso pode ser realizado de maneira mais indireta, conforme Quadro 1. Etapa Sugestão de escrita Elabore uma saudação gentil. Boa tarde, prezados colaboradores! Esperamos que este e-mail lhes encontre bem. De acordo com seu objetivo a comunicar, contextualize a razão da mensagem, coloque-se no lugar de quem irá ler quando estiver escrevendo, justificando os motivos que levaram o teor da comunicação a ser negativo. Diante da última avaliação de resultados realizada pela empresa, faz-se necessário comunicar aos colaboradores algumas decisões tomadas pela diretoria, essenciais para auxiliar na melhoria de nossos números. Após contextualizar o assunto, informe o que precisa ser comunicado em uma frase simples e direta, pois a contextualização feita anteriormente já teve o papel de amenizar o comunicado. Assim sendo, será preciso aumentar nossos esforços nessa reta final do trimestre. Por esse motivo, os day offs previamente combinados precisarão ser revistos com os gestores de cada área, ficando dependentes da demanda de cada uma delas. Quadro 1. Sugestão de elaboração de e-mail negativo (Continua) 9Eficácia na comunicação escrita Quadro 1. Sugestão de elaboração de e-mail negativo Etapa Sugestão de escrita Suavize a mensagem com uma saudação que leve o leitor a compreender que não está sozinho naquele momento, ou seja, que, apesar do teor negativo e dos impactos que o comunicado terá na sua vida, ele não está sozinho naquele momento, bem como informe, se possível, de que forma os impactos podem ser amenizados. Certos de que podemos contar com sua colaboração, que é fundamental para o crescimento de nossos resultados, lembramos que, após o final deste trimestre, teremos nossa já tradicional confraternização, juntamente com as famílias, em local a ser decidido pelas equipes. Atenciosamente, XYZ. (Continuação) Quando o e-mail apresenta informações positivas e negativas, é importante não as dividir completamente, mesclando pontos negativos com os positivos, a fim de garantir um contraste e uma amenização do impacto das mensagens. As mensagens de ordem positiva devem ser colocadas na pauta dos comu- nicados necessários. Por exemplo, um gestor que alcança resultados bons com sua equipe deve parabenizá-la também de forma escrita, para que haja um registro positivo do que foi feito. Assim, o gestor deve elaborar esse comuni- cado demonstrando os resultados com números e comprovando por que foram importantes para a empresa. Esse tipo de mensagem resulta em um aumento da confiança e do sentimento de pertencimento da equipe. Além disso, pode ser elaborada uma mensagem a todas as equipes, ressaltando as boas práticas e valorizando os colaboradores. Mensagens persuasivas Ao escrever uma mensagem, é importante considerar o leitor, como já apren- demos. No entanto, em relação às mensagens persuasivas, isso é ainda mais importante, pois, de acordo com o público para o qual iremos comunicar, a argumentação deverá ser direcionada de uma maneira específica. Eficácia na comunicação escrita10 De acordo com o dicionário Caldas Aulete (2018), a persuasão está ligada à capacidade de convencimento de alguém a realizar algo. Nesse sentido, elaborar uma mensagem persuasiva é importante quando precisamos convencer funcionários, gestores ou clientes de nossa posição. Se há a necessidade de elaborar uma mensagem persuasiva, isso significa que já há uma antecipação de certos argumentos contrários do leitor. Por esse motivo, devemos ter conhecimento embasado do tema e prever como rebater esses argumentos contrários. Além disso, não devemos focar somente no embate: podemos escrever algo que leve o leitor a posicionar-se do nosso lado, destacando motivos relacionados e convencendo-o por meio da empatia. O ideal é, portanto, organizar a mensagem de forma muito semelhante às anteriormente estudadas: � saudação cordial no início e no final; � contextualização do tema e dos motivos pelos quais o leitor está envolvido; � em vez de comunicar algo positivo ou negativo, elaboramos uma lista de motivos que justifiquem o posicionamento, transformando essa lista em um parágrafo indireto e cuidadoso, que não afaste o interlocutor. Dessa maneira, a comunicação escrita será sempre eficaz, independente- mente dos motivos e objetivos que o levaram a escrever. ANTUNES, I. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola, 2003. BRACKS, M. V. et al. Manual de redação da Presidência da República. 2. ed. rev. e atual. Brasília: Presidência da República, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/manual/ManualRedPR2aEd.PDF>. Acesso em: 24 nov. 2018. CARNEIRO, A. D. Redação em construção: a escrita do texto. São Paulo: Moderna, 2001. 11Eficácia na comunicação escrita GRANT, A. How to get important people to respond to your e-mails. 2013. Disponível em: <https://qz.com/97281/the-secrets-to-getting-important-people-to-email-you-back/>. Acesso em: 24 nov. 2018. STELLA, V. R. Principais desafios ao redigir textos corporativos. 2015. Disponível em: <http:// vrscursos.com.br/blog/?p=399>. Acesso em: 24 nov. 2018. Leituras recomendadas DICIONÁRIO CALDAS AULETE. Aulete digital. Disponível em: <http://www.aulete.com. br/persuas%C3%A3o>. Acesso em: 24 nov. 2018. NASCIMENTO, E. P. Gêneros do universo oficial/empresarial: para além dos manuais de redação. GeSec - Revista de Gestão e Secretariado, v. 1, n. 2, p. 123-142, jul./dez. 2010. Disponível em: <https://www.revistagesec.org.br/secretariado/article/view/21/85>. Acesso em: 24 nov. 2018. RAVILOCHAN, T. Os 7 e-mails que você precisa saber escrever. 2015. Disponível em: <https:// endeavor.org.br/desenvolvimento-pessoal/e-mail-escrever/>. Acesso em: 24 nov. 2018. Eficácia na comunicação escrita12 Dica do professor De acordo com o dicionário, "persuasão é uma estratégia de comunicação que consiste em utilizar recursos lógico-racionais ou simbólicos para induzir alguém a aceitar uma ideia, uma atitude, ou realizar uma ação." O vídeo a seguir apresenta dicas de como estruturar uma mensagem persuasiva. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/fc94273d2ca050018808efddb02d9df7 Na prática Diariamente nos comunicamos de forma oral e escrita, seja com finalidades formais em caso de trabalho ou estudos, ou informal, quando estamos com amigos e familiares. As redes sociais estão presentes na vida das pessoas, como Facebook, Twitter, Linkedin e outras. Ao contrário do que possa parecer, essas redes não são apenas para contatos informais. É preciso muito cuidado com o que você posta ou compartilha nas suas redes sociais. Sua empresa ou o futuro empregador pode estar observando seu comportamento por meio delas. Escreva de forma correta, evite críticas diretas a empresas ou a marcas, principalmente se estiverem relacionadas com a sua atividade. Recentemente, um jogador de futebol teve sua contratação suspensa porque fez uma piada com o clube que o contrataria por meio do Twitter alguns anos antes, nomeando os torcedores de forma depreciativa. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Fundamentos da administração contemporânea Conteúdo interativo disponível na plataformade ensino! Administração Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Comunicação escrita: Dicas Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Comunicação eletrônica: As transformações nas organizações Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/5D-rIC-3rvQ http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2004/errata2003/comunicacao_eletronica.pdf Eficácia na Comunicação Oral Apresentação Habilidade na comunicação oral, que ocorre dentro e fora das organizações, pode auxiliar o interlocutor a entregar sua mensagem de forma eficaz. Você sabe como isso pode ser alcançado? Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer as técnicas de comunicação verbal e não verbal utilizadas e entender como e por que elas podem auxiliar um gestor na condução de reuniões e de apresentações de projetos eficazes. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as técnicas para conduzir e para participar de reuniões.• Reconhecer as diferenças entre comunicação informal e formal.• Demonstrar métodos de apresentação apropriados.• Infográfico Para que uma reunião empresarial tenha eficácia, ela depende diretamente de planejamento, liderança e controle. Estes três conceitos implicam, também, no rumo que a reunião vai tomar: quem conduz a reunião precisa dominar as técnicas de comunicação oral para observar e saber como agir diante do grupo. Com base nisso, observe o esquema que apresenta direcionamentos que auxiliam a eficácia nesse tipo de comunicação oral. Conteúdo do livro No livro Comunicação e Expressão, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai encontrar mais detalhes a respeito da comunicação verbal. Este trecho selecionado para sua leitura aborda as conversas informais (ouvir e falar), elementos de uma comunicação verbal eficaz (ao telefone e correio de voz) e como observar, na prática, de que forma o emprego dessas técnicas podem auxiliar em uma comunicação mais eficaz. Leia o capítulo Eficácia na Comunicação Oral,e aprofunde seus conhecimentos. Boa leitura. COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL Debbie Mello Noble Eficácia na comunicação oral Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar as técnicas para conduzir e para participar de reuniões. � Reconhecer as diferenças entre comunicação informal e formal. � Demonstrar métodos de apresentação apropriados. Introdução Neste capítulo, você vai ler sobre a comunicação oral, reconhecendo algumas situações do cotidiano nas quais sua eficácia é essencial, como, por exemplo, na participação e na condução de reuniões. Além disso, você compreenderá as diferenças entre situações de comunicação formal e informal, bem como conhecerá e saberá escolher os métodos mais apropriados para uma comunicação oral. Condução e participação de reuniões No mundo dos negócios, na educação, na política ou em qualquer área em que seja necessária a organização de um grupo de trabalho, as reuniões se tornam indispensáveis. No entanto, podemos dizer que há um senso comum sobre as reuniões: elas podem dispender muito tempo útil e ser ineficientes. Uma reportagem da Revista Exame mostrou que as reuniões sobre assuntos burocráticos e tarefas pouco produtivas podem roubar até 10 horas semanais de trabalho de cada funcionário (CARVALHO, 2014). No entanto, se estivermos preparados para conduzir e/ou participar de uma reunião, essa ideia negativa pode desaparecer. Parte disso passa pela capacidade de planejar e se preparar, além disso, é fundamental a objetividade da comunicação. Ter objetivos definidos, planejar o tempo e listar as pessoas indispensáveis na tomada de decisão são fundamentais para conduzir bem ou participar mais efetivamente de uma reunião. Objetivos e tipos de reuniões A questão principal para se preparar para uma reunião é ter muito claros os objetivos que justificam sua necessidade. Ou seja, independentemente de estar conduzindo ou participando de uma reunião, é preciso estabelecer ou conhecer seus objetivos, bem como compreender se ela é indispensável para atingir esses objetivos. Como há diversos tipos de reunião, de acordo com as diferentes situações, é importante esclarecer bem seus objetivos antes de se preocupar com outros detalhes ou notificar os participantes (HINDLE, 1999). Os objetivos mais comuns de uma reunião, geralmente, enquadram-se em um destes exemplos (HINDLE, 1999): � transmitir informações ou conselhos; � divulgar instruções; � mediar conflitos; � tomar ou implementar decisões; � gerar ideias criativas; � apresentar propostas para discussão e/ou decidir sobre elas. Após identificar os objetivos da reunião, podemos direcionar os próximos passos, como: � escolha dos participantes; � quantidade necessária de pessoas envolvidas; � condições em que essa reunião deverá ser realizada. Para entender melhor, confira o Quadro 1. Eficácia na comunicação oral2 Fonte: Adaptado de Hindle (1999). Objetivos Condições Tipo Estudar informações (divulgar ou receber relatórios, dar instruções, anunciar e explicar mudanças de métodos) Envolve, no máximo, três pessoas De poucas pessoas Envolve uma equipe Formal Requer feedback e discussão Informal ou formal Envolve informar o máximo de pessoas de fora da organização, inclusive a mídia Assembleia pública Envolve palestrantes que trazem informações Conferência Resolver problemas Diz respeito a apenas uma pessoa One-on-one (um a um) Requer dados de várias pessoas ou uma equipe Subcomissão especial Lida com problemas urgentes Improvisada/ de incidente Tomar decisões Requer discussão rápida ou envolve temas não regulamentares Improvisada Envolve temas comuns do negócio Formal Requer autorização ou uma maior discussão Conselho Estimular novas ideias Envolve a discussão de ideias criativas Informal Precisa de novas ideias rapidamente Brainstorm (tempestade de ideias) Envolve relatórios sobre temas a serem pensados, discutidos e preparados Formal Quadro 1. Tipos de reuniões conforme objetivos 3Eficácia na comunicação oral A partir do Quadro 1, podemos ter uma ideia inicial para o planejamento de uma reunião conforme seus objetivos. Assim, é possível se preparar em relação à pauta, ao pessoal envolvido e convocado para a reunião e ao nível de formalidade aplicado. O próximo passo para o sucesso da condução de uma reunião é o planejamento da pauta e do tempo. Planejamento, propósito e tempo Segundo Hindle (1999), qualquer encontro de pessoas que vise resolver um problema ou tomar uma decisão é considerado uma reunião, mesmo que ocorra entre colegas de modo informal. Nesse sentido, para que um desses encontros seja frutífero, é preciso ter um propósito claramente definido entre os participantes. O responsável por conduzir uma reunião deve planejá-la com antecedência e comunicar os envolvidos, para que todos saibam da importância de sua participação. Assim, deve elaborar uma pauta e revisá-la, preparando-se ade- quadamente para falar sobre cada um dos tópicos ou comunicando previamente os responsáveis por abordá-los. O passo a passo do planejamento de uma pauta consiste em (HINDLE, 1999): � decidir quais assuntos devem ser discutidos na reunião; � enviar o rascunho da pauta aos participantes, solicitando sugestões de tópicos a acrescentar (assim se evita a dispersão e se administra melhor o tempo); � incorporar as sugestões e fazê-las circular novamente para que sejam aprovadas em definitivo. Outra questão importante é estar preparado em relação aos recursos ne- cessários para a realização da reunião. Assim, é preciso: � reservar uma sala de reuniões ou definir um espaço condizente com o tipo de reunião (conforme vimos anteriormente); � verificar se haverá participantes de forma remota (ou seja,que estarão presentes virtualmente); � preparar todo o equipamento necessário com antecedência. Eficácia na comunicação oral4 Ainda na etapa do planejamento da reunião, devem ser identificadas as possibilidades de abertura que a pauta pode ter, ou seja, antecipar possíveis argumentos contrários ou fuga do foco da pauta. A produtividade e a as- sertividade nas reuniões são fundamentais para evitar a perda de foco e de tempo. Segundo Oliveira (2017), as reuniões ineficientes podem gerar perdas até mesmo financeiras para as empresas. Um método de produtividade e melhor aproveitamento do tempo muito utilizado atualmente pelas empresas é o Getting Things Done (GTD), criado por David Allen. Para o autor, um sistema de produtividade eficiente consiste em: � lista de tarefas ativas — próximas ações a serem completadas nos próximos dias; � lista de projetos ativos — projetos a completar nas próximas semanas/meses; � calendário — compromissos futuros com data e hora específica; � lista um dia/talvez — ideias a explorar, mas não agora; � referência — informação ou documentos que podem ser importantes para con- sultas futuras; � ferramenta de recolha — algo que ajude a capturar as ideias e próximas ações assim que surgem na mente. Para ler mais sobre o tema, acesse o link: https://qrgo.page.link/xC9kB Caso seja uma reunião com objetivo decisório, devemos focar em conduzir bem os argumentos, prevendo aqueles que possam surgir na direção contrária, antecipando-se a eles. Além disso, devemos revisar a pauta para verificar se está clara e coerente com os objetivos previamente estabelecidos. Durante a reunião, é apresentado um resumo dos objetivos, de modo a reforçá-los para os participantes. Em seguida, repassamos a pauta e nos cer- tificamos de que nenhum tópico importante relacionado ao objetivo principal da reunião ficou de fora. Os demais participantes podem ter algo a adicionar nesse momento, por isso, devemos prever um tempo não muito reduzido para abordar cada tópico. Ainda em relação ao tempo, é preciso conduzir a reunião de forma que todos sintam-se confortáveis em participar, porém, devemos ficar atentos às eventuais fugas da pauta, para que a reunião não se estenda além do previsto e não deixe os colegas com a sensação de tempo perdido e poucas decisões tomadas. 5Eficácia na comunicação oral Para otimizar o tempo e envolver a todos, devemos questionar os partici- pantes sobre determinados assuntos que são de seus domínios. Citamos aqui 10 dicas para uma reunião mais produtiva, elaboradas pela Você RH (OLIVEIRA, 2017, documento on-line): � o encontro é, de fato, necessário; � existe uma pauta clara e objetivos; � um material prévio é compartilhado; � apenas os participantes necessários são convocados; � os convidados aparecem no horário; � a reunião começa e termina na hora combinada; � a conversa se resume ao assunto central; � os participantes se preparam para os tópicos da pauta; � ninguém usa o celular nem sai da sala durante o encontro; � a reunião dura no máximo duas horas. Diferenças entre comunicação informal e formal A comunicação oral, seja ela formal ou informal, faz, inevitavelmente, parte de nossas vidas. No meio profissional, usamos a palavra falada a todo momento para muitas situações, que vão desde um contexto extremamente informal até uma situação oposta, totalmente formal: � participar de reuniões; � expor produtos e serviços; � ministrar aulas; � apresentar pessoas e solenidades; � prestar homenagens; � dar entrevistas; � fazer entrevistas de emprego; � participar de reuniões sociais; � falar ao telefone. Eficácia na comunicação oral6 A importância de falar bem é destacada por Polito (1996). Para o autor, a boa comu- nicação proporciona muitos benefícios, entre eles: � é percebida como o reflexo de uma personalidade forte e segura; � projeta e põe em evidência os conhecimentos que o orador possui sobre o tema; � colabora para o marketing pessoal daquele que fala; � é um valioso recurso de persuasão; � contribui para o crescimento profissional; � proporciona melhores relacionamentos. Nas diferentes situações de comunicação oral, assim como na forma de se vestir, é necessário estarmos adequados ao contexto. No meio corporativo, não é diferente: se a pessoa trabalha em um escritório de advocacia, deverá utilizar roupas mais formais e adequar sua maneira de se comunicar. Isso ocorre porque a comunicação oral, para ser eficaz, depende do interlocutor e do contexto em que estamos inseridos. Comunicação informal Quando estamos entre amigos, família e colegas mais próximos de trabalho, raramente nos preocupamos com a forma como estamos falando. Nessas situa- ções, estamos confortáveis e despreocupados, comunicamo-nos — idealmente — sem nenhuma dificuldade. No entanto, há momentos em que a comunicação oral é informal, porém, ainda assim, exige certa seriedade. No trabalho, por exemplo, há reuniões que não comportam formalidade, mas ainda assim necessitam de seriedade. Um exemplo disso são as reuniões para resolução de problemas ou de incidentes de última hora, bem como reuniões de feedback ou de brainstorm (ideias criativas). Nesses momentos, a comunicação é informal, isto é, não demanda tantas regras ou adequação à linguagem culta formal. Porém, não podemos confundir informalidade com falta de compromisso, motivo pelo qual podemos atentar para alguns elementos fundamentais da comunicação verbal, seja ela em uma situação formal ou informal. 7Eficácia na comunicação oral Alguns desses elementos são: Voz — Cada pessoa possui um estilo diferente de voz. Ele varia de acordo com o tom, a velocidade e o volume com que cada pessoa se expressa oralmente. Para alcançarmos qualidade na voz e estarmos confortáveis com nosso estilo de voz, podemos aperfeiçoá-la. O tom de voz (grossa, fina, estridente, rouca) é uma característica difícil de mudar, mas que pode ser amenizada quando se aprende a controlar a altura e a velocidade da fala. Para aqueles que possuem dificuldades em se expressar em tons mais altos mesmo quando necessário ou que sentem estarem forçando a voz, os fonoaudiólogos recomendam alguns exercícios de fonoterapia, em que o paciente aprende a aquecer sua voz, de forma a não a forçar. Os especialistas em fonoaudiologia também recomendam gravar a própria voz a fim de com- preender seu funcionamento e seu estilo. Isso evita também forçar demais o aparelho vocal e a ocorrência de possíveis lesões. O link a seguir apresenta algumas dicas de especialistas em fonoaudiologia sobre como cuidar da voz. https://goo.gl/u3Euqp Polito (2018) recomenda o cuidado com o ritmo da fala. Isso porque o sucesso de uma comunicação eficaz está, para o autor, na alternância do volume da voz e na velocidade da fala. Em determinados momentos, é preciso falar mais alto, enquanto outros pedem um tom mais baixo; em alguns instantes, devemos falar mais rápido, já, em outros, mais lentamente. Essa alternância do ritmo envolve e motiva o público a acompanhar o conteúdo. Adaptação — É também fundamental para tornar a comunicação oral mais eficaz. Isso diz respeito ao interlocutor: mesmo em situações informais, de- vemos adaptar o que vai ser dito, pois o modo de falar não pode ser o mesmo usado com um colega de trabalho, um amigo ou um líder. Eficácia na comunicação oral8 Esses critérios também são válidos quando pensamos na comunicação formal. Vejamos a seguir o funcionamento da comunicação formal para com- parar as situações e o modo de aplicá-la em cada uma. Comunicação formal Como vimos, a adaptação à situação de comunicação é essencial para uma comunicação oral eficaz. No caso das situações que exigem um modo formal de se comunicar, é preciso atentar para alguns critérios, como o público para o qual estamos nos dirigindo e o tempo de fala. Os especialistas em oratória apontam outros detalhes importantes a serem observados na comunicação formal. Algumas dicas dizemrespeito à preparação para uma comunicação do tipo formal, outras estão mais ligadas à situação de comunicação formal em si, seja ela qual for. Conhecimento do assunto — Segundo Polito (1996, p. 64), “[...] quanto mais profundo o conhecimento do assunto, maiores as chances de comunicação”. O autor recomenda eliminar ao máximo as dúvidas sobre o tema e estudar bem as respostas adequadas para as possíveis perguntas do público. Essa preparação prévia vai auxiliar na confiança, levando a pessoa a se sentir mais segura para falar diante de seu público. Tempo — É importante sempre saber quanto tempo possuímos de fala, assim, podemos nos preparar treinando e cronometrando o tempo de fala. Da mesma forma, ao cronometrar o tempo, evitamos que o material preparado seja insu- ficiente, especialmente em situações como palestras e cursos. Prática leva à perfeição — O planejamento do assunto, o tempo e a prática estão intrinsicamente ligados. Quanto mais praticarmos, mais chances a co- municação tem de ser eficaz. Envolver o público — Durante a apresentação, procuramos envolver a plateia desde o início. É interessante conhecer o público para o qual vamos falar, mesmo que de forma genérica. Ou seja, podemos investigar a faixa etária, os interesses ou a profissão do interlocutor. Pode ser uma plateia grande ou pequena ou pode ser uma situação formal, porém individual, com um pre- sidente da empresa ou algum executivo importante. Adequar-se ao público na linguagem e no tom de voz é tão importante quanto saber se o conteúdo é relevante, sendo essencial para uma comunicação eficaz. 9Eficácia na comunicação oral A comunicação formal é um dos maiores desafios da comunicação oral, porque geralmente ocorre em situações que colocam o orador diante de uma plateia numerosa ou especializada. Diante desse desafio, muitas pessoas acabam desenvolvendo um medo ou uma ansiedade muito grande e conhecida por muitos: o medo de falar em público. Algumas causas desse medo são apontadas por Polito (1996): � não conhecimento do assunto com profundidade; � falta de prática ou experiência (seja no ramo profissional ou em apre- sentar temas complexos); � falta de autoconhecimento. Para vencer o medo de falar em público, que ainda hoje é tão comum, o orador precisa analisar atentamente as causas do seu medo, conhecer a sua forma de falar, com bastante prática e ensaios, e entender seus pontos fortes e fracos. Métodos de apresentação Uma apresentação formal em qualquer contexto gera, muitas vezes, nervosismo e ansiedade. Por conta dessas sensações, podem ocorrer diversos problemas durante a apresentação, resultando em algo diferente do esperado. Por esse motivo, devemos estar bem preparados para que a apresentação seja eficaz e não haja espaço para insegurança. Vejamos, a seguir, algumas dicas de como se preparar para uma apresen- tação e escolher os métodos de apresentação apropriados para cada contexto e/ou situação. Adequação da apresentação Ao longo da nossa carreira — desde a universidade, com apresentações de tópicos estudados, trabalhos e até mesmo congressos acadêmicos, até o mundo corporativo, em reuniões, palestras e diversos outros eventos —, somos de- mandados a realizar apresentações. Por conta da variedade de ocasiões em Eficácia na comunicação oral10 que precisaremos apresentar algo, devemos estar atentos à situação e ao seu contexto desde o início do planejamento. Devemos ter alguns cuidados: Quanto ao público — Devemos saber se vamos nos apresentar para um pequeno ou grande grupo de pessoas: de acordo com esse conhecimento prévio, saberemos como colocar a voz para que todos nos compreendam sem dificuldade, bem como providenciaremos recursos eletrônicos, como microfone e caixa de som. Quanto à linguagem — Devemos perguntar qual a formação/profissão/idade das pessoas em geral. Estar ciente do público é fundamental para adequar nossa linguagem aos interlocutores. Se estivermos diante do presidente da empresa ou de um público mais especializado, devemos focar na linguagem formal e considerar a norma culta padrão da língua. Por outro lado, se estivermos entre colegas, realizando uma apresentação informal ou mesmo em uma palestra para um público mais jovem, podemos utilizar a linguagem informal e, até mesmo, interagir com o público por meio de piadas e chistes para quebrar o gelo. Provocar o riso é interessante para quebrar o gelo, mas em excesso acaba tornando- -se ineficaz e até mesmo tedioso em uma apresentação, por mais informal que seja. Preparação e condução de uma apresentação Ao prepararmos uma apresentação, existem diversos passos e técnicas que podemos utilizar para fazê-la ser mais eficaz. Escolher os tópicos — Devemos escolher um tópico com o qual temos fami- liaridade. Devemos considerar nosso conhecimento sobre o tema e o público. Normalmente, o tópico escolhido deve ser um assunto conhecido, ainda assim, devemos nos preparar com cuidado para não comprometer a qualidade da apresentação. Preparar a apresentação — Toda apresentação exige uma boa preparação. Assim, precisamos dominar o assunto, pesquisar muito e ter pleno domínio 11Eficácia na comunicação oral do tema da apresentação. Segundo Mattoso Câmara Jr. (1986), determinar o que vai ser dito, consolidando o conhecimento com reflexões e pesquisas, é essencial. Além disso, é preciso organizar a distribuição do assunto da maneira mais clara e interessante para o público. Uma apresentação formal, normalmente, divide-se em (CÂMARA JUNIOR, 1986): � introdução; � corpo; � conclusão. A introdução serve para que o orador se apresente e capte a atenção e a simpatia do seu público. Nesse momento da apresentação, ocorre um ajustamento das expectativas entre o orador e o público, entre o público e o conteúdo e mesmo entre o orador e seu conteúdo, pois é possível perceber o que está funcionando naquela situação concreta. O corpo da exposição nada mais é do que a divisão do conteúdo. É preciso mensurar alguns critérios de divisão para que não haja uma superexposição de algum tópico e outros acabem ficando de fora. A conclusão da apresentação abrange um apanhado geral de tudo o que foi exposto de forma sucinta. Não há necessidade de retornar nos tópicos para não cansar o público com o que foi dito. Devemos ressaltar o que consideramos essencial e realizar um fechamento das ideias, que deixe claro para o público o objetivo da fala. Escolher o método — Assim como é preciso adequar-se ao público e à lin- guagem formal ou informal, precisamos adequar a apresentação no que diz respeito ao método. A apresentação pode ser improvisada, lida ou memorizada. Linguagem não verbal — Não devemos nos esquecer da máxima que diz que o corpo fala. Não é só de palavras que a apresentação se constitui. Devemos também cuidar da linguagem não verbal, como gestos e postura corporal, que ficam muito em evidência quando estamos diante de um público. A postura inclui a maneira de falar, a forma de se vestir e andar, a linguagem utilizada e a expressão facial. Segundo Gasparini (2017), as pessoas que possuem uma tendência natu- ral a gesticular enquanto falam correm o risco de distrair a plateia, pois os Eficácia na comunicação oral12 gestos podem se tornar ruídos para a comunicação com a plateia. O oposto também é preocupante: os apresentadores que ficam muito tempo parados em uma mesma posição ou nunca gesticulam tendem a perder a atenção dos espectadores facilmente. No link a seguir, os especialistas dão sete dicas de expres- são corporal para as quais devemos ficar atentos em uma próxima apresentação. https://qrgo.page.link/Zo3Kk É interessante não se colocar em nenhum desses extremos para que não haja estranhamento e, consequentemente, perda de foco por parte da plateia. Para isso, os especialistas recomendam que os palestrantes treinem muito e busquem se observar, até mesmo com a ajuda de uma filmagem. Métodos de apresentação Há vários métodospara se fazer uma apresentação formal. Os mais tradicio- nais são: � improviso; � leitura; � memorização. Vejamos a seguir os métodos existentes e como escolher o mais adequado para cada apresentação: Improviso — Ocorre quando precisamos fazer uma apresentação rápida sobre um tema que se domina. Recomenda-se só escolher esse método no caso de uma apresentação rápida. 13Eficácia na comunicação oral Apresentação lida — Ocorre quando se tem e utiliza um material de apoio para leitura. Essa opção pode ser bastante entediante se predominar ou dominar totalmente uma apresentação. Memorização — É a maneira mais difícil de realizar uma apresentação, pois exige muita segurança em relação ao tema abordado. No entanto, o melhor método para prender a atenção do público é estar confortável com o assunto, de forma a variar entre esses métodos: a utilização do roteiro possui em seu material de apoio a leitura de trechos significativos e a memorização de conceitos, improvisando de acordo com as reações do público. Assim, a apresentação será mais dinâmica e o orador demonstrará segurança e domínio do assunto abordado. Existem muitas outras maneiras de mostrar o conteúdo em uma apresentação, além do tradicional recurso de PowerPoint. O link a seguir apresenta oito formas criativas de elaborar uma apresentação. https://qrgo.page.link/XyChQ Para o sucesso das apresentações ser contínuo, devemos realizar uma autoavaliação antes e depois da apresentação. Antes de apresentar, devemos ensaiar os pontos que temos insegurança, treinar a voz e regular o tempo de apresentação. Após as apresentações, devemos buscar vídeos, fotos e feedbacks da apresentação para corrigir os pontos fracos que porventura existam. CÂMARA JUNIOR, J. M. Manual de expressão oral e escrita. Petrópolis, RJ: Vozes, 1986. CARVALHO, J. Empresas perdem até 1/4 de seu tempo com reuniões inúteis. Exame, 11 abr. 2014. Seção Negócios. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/negocios/ Eficácia na comunicação oral14 empresas-perdem-ate-1-4-de-seu-tempo-com-reunioes-inuteis/>. Acesso em: 07 nov. 2018. GASPARINI, C. 7 erros que não dá mais para cometer em apresentações de trabalho. Você S/A, 23 fev. 2017. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/carreira/7-erros-que- nao-da-mais-para-cometer-em-apresentacoes-de-trabalho/>. Acesso em: 07 nov. 2018. HINDLE, T. Como liderar reuniões. São Paulo: Publifolha, 1999. OLIVEIRA, A. C. Saiba como ter reuniões mais produtivas. Você RH, 28 nov. 2017. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/negocios/prepare-se-para-as-reunioes-produtivas/>. Acesso em: 07 nov. 2018. POLITO, R. Aproveite bem a sua voz. 2018. Disponível em: <https://reinaldopolito.com. br/aproveite-bem-a-sua-voz/>. Acesso em: 07 nov. 2018. POLITO, R. Vença o medo de falar em público. São Paulo: Saraiva, 1996. Leituras recomendadas ABRANTES, T. 7 dicas de linguagem corporal para apresentações. Você S/A, 09 mar. 2014. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/carreira/7-dicas-de-linguagem-corporal- para-apresentacoes/>. Acesso em: 07 nov. 2018. ABRANTES, T. 8 jeitos para surpreender nas apresentações do trabalho. Você S/A, 21 mar. 2013. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/carreira/8-jeitos-para-surpreender- nas-apresentacoes-do-trabalho/>. Acesso em: 07 nov. 2018. ALLEN, D. A arte de fazer acontecer – Gettting things done: estratégias para aumentar a produtividade e reduzir o estresse. Rio de Janeiro: Sextante, 2015. ESPECIALISTAS dão dicas de como professores podem cuidar da voz. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2014/10/especialistas-dao-dicas-de- como-professores-podem-cuidar-da-voz.html>. Acesso em: 07 nov. 2018. GIMENEZ JUNIOR, W. Aumente a sua produtividade utilizando o método GTD (Getting Things Done). A Arte de Fazer Acontecer. Disponível em: <https://medium.com/@wilson_66291/ aumente-a-sua-produtividade-utilizando-o-m%C3%A9todo-gtd-getting-things-done- -a813f2e24bf9>. Acesso em: 22 ago. 2019. 15Eficácia na comunicação oral Dica do professor Para muitos gestores, o tipo mais difícil da comunicação verbal é a apresentação formal. Por outro lado, os gestores que possuem habilidades em fazer uma apresentação formal eficaz têm mais chances de obter recursos, promoções e influência na empresa. O vídeo a seguir apresenta dicas de como um gestor pode se tornar um bom comunicador. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/1cbbae985566b1ce7ba53d619af67595 Na prática O gestor deve trabalhar para alcançar eficácia aprimorando suas habilidades de comunicação oral dentro da organização. No entanto, há situações em que o gestor pode estar do outro lado: procurando uma vaga no mercado de trabalho. Isso mesmo! Não são só os jovens em início de carreira que precisam de dicas para ter sucesso na hora da entrevista. Nesse momento, é preciso atentar para os pontos em que a postura se torna parte da comunicação, estabelecendo uma mensagem que chega até o empregador como de conteúdo positivo, neutro ou negativo, se for o caso. A comunicação que se estabelece nesta situação apresenta elementos formais e informais. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Comportamento Organizacional Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Como fazer uma reunião mais produtiva Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Como marcar reuniões pelo telefone Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/ERWKam79ZI0 https://www.youtube.com/embed/qIY-2uDQDCk Eficiência e eficácia da comunicação organizacional Apresentação Você sabe diferenciar eficácia de eficiência? São conceitos complementares, porém diferentes. Um objetivo pode ser alcançado, simplesmente, ou pode ser alcançado com excelência – é aí que está a diferença! Na comunicação organizacional, é fundamental dominar esses dois caminhos paralelos, pois um bom processo de comunicação é aquele que leva a empresa a se tornar melhor, assim como também beneficia seus stakeholders. Nesta Unidade de Aprendizagem, você entenderá o que faz a comunicação ser eficiente e eficaz e como é possível atingir a eficácia. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar eficiência e eficácia.• Identificar processos que levam à eficiência e à eficácia.• Construir uma estratégia que leve à eficácia.• Infográfico Entenda, no infográfico a seguir, as diferenças dos conceitos de eficiência e eficácia. Observe que são interdependentes e que são importantes para a empresa chegar aos objetivos traçados. Conteúdo do livro Para alcançar os objetivos com eficácia nos processos, é essencial compreender as redes de comunicação de uma organização e seus contextos. O livro Comunicação empresarial é a base teórica desta Unidade de Aprendizagem. O capítulo de abertura aborda o contexto da comunicação no local de trabalho, contribuindo para seu entendimento de uma forma de resolução de problemas e acompanhe, passo a passo, esse processo. Sua leitura deve iniciar na página 9 com os subitens OA1.4 (Redes de comunicação da organização) a OA1.8 (processo da comunicação organizacional), que tratam, inicialmente, da descrição das redes de comunicação formais e informais nas organizações. Boa leitura. COM UNICAÇÃO EM PRESARIAL | 2ª ED. FLATLEY | RENTZ | LENTZ EMpRESARIAL O uso das redes sociais como FERRAMENTA DE COMUNICAÇÃO QUATRO DICAS ÚTEIS PARA PLANEJAR UMA MENSAGEM PERSUASIVA! REDAÇÃO FORMAL, INFORMAL, OU UM MEIO-TERMO? MOSTRE SUAS IDEIAS COM O ELEMENTO VISUAL CERTO 2ªed. FLATLEY | RENTZ | LENTZ COMUNICAÇÃO Estude com um livro diferente de tudo que você já viu.F586c Flatley, Marie. Comunicação empresarial [recurso eletrônico] / Marie Flatley, Kathryn Rentz, Paula Lentz ; tradução: Félix José Nonnenmacher. – 2. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2015. Editado como livro impresso em 2015. ISBN 978-85-8055-458-8 1. Administração - Comunicação. I. Rentz, Kathryn. II. Lentz, Paula. III. Título. CDU 658 Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Abertura_Comunicação empresarial_eletronico.indd 2 27/10/2014 18:10:31 CAPÍTULO 1 | A comunicação no local de trabalho 9 animais sociais. Temos a necessi- dade de nos comunicar, e o fazemos quando falamos pouco ou mesmo O comportamento dos funcio- OA1.4 Descrever as redes de comunicação formais e informais da organização. Redes de comunicação da organização Ao observar os tipos de comunicação em uma empresa (interna, externa e interpessoal), notamos um sistema extremamente complexo de fluxo de informações e interação humana, com dezenas, centenas ou mesmo milhares de indivíduos participando de inúmeros atos de comunicação a cada dia de trabalho. A Figura 1.5 mostra as duas redes complexas de informação que vemos na maioria das organizações – uma formal e outra informal –, cruciais para o sucesso da empresa. rede formal Simplificando: os caminhos da informa- ção em uma empresa moderna são muito parecidos com a rede de artérias e veias no corpo humano. Assim como o corpo tem vasos sanguíneos, a empresa tem canais importantes e bem definidos para a troca de informações. São os canais formais – as principais linhas de comunicação operacional. É por eles que flui a maior parte da comunicação de que a empresa precisa para funcionar. Este fluxo inclui o movimento ascendente, des- cendente e transversal das informações contidas em relatórios, memorandos, e-mails e outros formatos; o movimento descen- dente de normas, instruções, avisos e comunicados; e a divul- gação de informações corporativas em boletins informativos, quadros de avisos, e-mails, intranets, blogs ou wikis. Como vimos, a informação flui também para fora. Confirmações de pedidos, recibos, notas, correspondências com fornecedores e consultores e outras formas de comunicação externa padrão incluem o público externo na rede formal de comunicação. Essas linhas de comunicação formalmente implementadas desenvolvem certos modos de comunicação na organização. Por exemplo, na sua empresa, é prática comum o gerente de projeto pedir relatórios semanais da equipe. Em outra, os exe- cutivos agendam reuniões mensais. Não importa o modo de comunicação estabelecido: ele vai gerar certas expectativas Clientes (consumidores, clientes corporativos, o governo...) Parceiros do setor (a concorrência, empresas similares, lobistas...)Agências reguladoras (o governo, associações comerciais, sindicatos, especialistas em direito nacional e internacional...) Grupos públicos (organizações comunitárias, grupos de cidadania, organizações não governamentais, escolas e fundações...) Principais parceiros de negócios (fornecedores, colaboradores temporários, fabricantes, transportadoras, distribuidores...) Sua empresa Prováveis públicos externos das empresas de hojeF I G U R A 1.4 Redes de comunicação na empresaF I G U R A 1.5 A rede formal A rede informal Cap 01_Comunicação empresarial.indd 9 26/09/2014 11:16:33 10 MÓDULO 1 | Comunicação nas organizações sobre o que pode ou não ser dito, quem pode ou não dizer o que é dito, e como as mensagens devem ser estruturadas e redigidas. Isso significa que os modos preferidos, os gêneros, promovem certas práticas na empresa em detrimento de outras. Daí a importância de os principais canais da rede de comu- nicação formal ser cuidadosamente pensados e modificados de acordo com as necessidades. rede informal A rede informal opera junto com a rede formal (Figura 1.6). Ela é formada por milhares de comunicações interpessoais que podem ou não sustentar a rede de comunicação formal de uma empresa. Sem seguir um padrão claro, essas comunica- ções constituem uma estrutura muito complexa e em constante mudança, que une os membros da organização. Sobretudo nas organizações maiores, a complexidade dessa rede informal é muito importante. Na maioria das vezes, ela não é uma única rede, mas uma relação complexa de redes menores for- madas por certos grupos de pessoas. Essa relação fica ainda mais complexa quando percebemos que essas pessoas podem perten- cer a mais de um grupo, e que os vínculos a um grupo e as ligações entre os grupos mudam continuamente. O departamento em que você trabalha, os funcionários com quem você interage em um dia de trabalho e mesmo as conexões pessoais aleatórias, como ser da mesma cidade natal ou ter filhos da mesma idade, são fatores que criam elos nesta rede. Internamente, a rede de comunicações é chamada rádio- -corredor ou rádio-peão (grapevine, em inglês). Sua validade para as operações da companhia é maior do que parece. Claro que ela veicula muitos boatos e rumores. Mas a rádio-corredor normalmente transmite muito mais informa- ções do que o sistema de comunicação formal. Em muitos Gerente de departamento Gerente de departamento Linhas pretas = rede formal (avessa a mudanças) Linhas vermelhas = rede informal (em constante mudança) Gerente de divisão Redes de comunicações formais e informais em uma divisão de uma pequena empresaF I G U R A 1.6 Boa parte do trabalho nas empresas de grande porte envolve a comunicação operacional interna. Há muitos fatores que influenciam a quantidade e o tipo de comunicação de uma empresa. Cap 01_Comunicação empresarial.indd 10 26/09/2014 11:16:34 CAPÍTULO 1 | A comunicação no local de trabalho 11 casos, ela é o termômetro mais eficaz para descobrir como andam as coisas na organização. Os gerentes habilidosos reconhecem a existência da rádio-corredor e sabem que as pessoas mais poderosas nesta rede quase nunca são aquelas no topo da hierarquia formal da organização. Eles descobrem quem são os catalisadores dessas conversas e repassam a essas pessoas as informações que trarão os maiores benefícios para a organização. Esses gerentes também tomam decisões admi- nistrativas que promovem comunicações verbais positivas entre os funcionários. As relações pessoais dos funcionários com o público externo adicionam outra dimensão à rede informal da compa- nhia. Por exemplo, alguém que deixa a companhia possivel- mente continuará mantendo relacionamentos pessoais com alguns de seus antigos colegas. Assim como a rádio-corredor, essas relações tanto ajudam como prejudicam a companhia. Mais uma vez, os gerentes sensatos saberão lidar com a rede informal e administrar essa realidade para promover uma comunicação benéfica para a empresa. OA1.5 Descrever os fatores que influenciam os tipos e a quantidade de comunicação em uma empresa. Como a comunicação varia de empresa para empresa Há muitos fatores que influenciam a quantidade e o tipo de comunicação de uma empresa. A natureza das opera- ções é um deles. As companhias de seguro precisam se comunicar com seus clientes, especialmente por meio de cartas ou panfletos. Já nas empresas de serviço de limpeza essa necessidade não é tão visível. O planejamento ope- racional da empresa determina o volume de comunicação interna. Nas empresas relativamente simples, como as que prestam serviços de consertos gerais, essa necessidade de se comuni- car não é tão alta como nas montado- ras de veículos, por exemplo. A relação da empresa com o ambiente também influencia as práticas de comu- nicação. Em um ambiente relativamente estável, fábricas de tecidos ou indústrias de processamento de alimentos, por exemplo, há uma dependência maior dos tipos mais consagrados de comuni- cação formal em uma hierarquia organizacional consolidada. Em ambientes dinâmicos, empresas desenvolvedoras de software ou no ramo de telecomunicações tendem a ser mais criativas em suas estruturasorganizacional e de comunicação. Outro fator que afeta a comunicação é a dispersão geográ- fica das operações. Uma empresa com muitas filiais certa- mente tem práticas muito diferentes daquelas de uma empresa com uma só sede. As pessoas envolvidas nos negócios da empresa também afetam o volume de comunicação. Cada ser humano é único na sua necessidade e capacidade de se comunicar. Por isso, uma combinação variada de pessoas alarga o leque de exigên- cias relativas à comunicação. Cada empresa possui sua própria cultura organizacio- nal, que afeta e é afetada pela comunicação da companhia. O conceito de cultura organizacional ou corporativa se populari- zou no início dos anos 1980, e se mantém como foco para con- sultores e teóricos da gestão.12 A cultura de uma companhia são as maneiras rotineiras, quase implícitas, que ela tem para perce- ber e fazer as coisas. É o ambiente de valores e práticas preferi- dos, no qual os integrantes da companhia trabalham. A comunicação interpessoal na empresa é inevitável e importante. Cada empresa possui sua própria cultura organizacional, que afeta e é afetada pela comunicação da companhia. Cap 01_Comunicação empresarial.indd 11 26/09/2014 11:16:36 12 MÓDULO 1 | Comunicação nas organizações Pense nos lugares onde você já trabalhou ou nas empresas de que você já foi cliente. Em algumas, a conduta dos funcionários sugere uma cultura coerente e saudável, as pessoas parecem saber o que fazer e estão satisfeitas fazendo isso. No outro extremo estão as companhias onde os funcionários parecem não se identificar com as atividades, ou talvez estejam até sabo- tando a empresa, prestando um serviço ruim ao consumidor, sem o conhecimento necessário sobre o trabalho. O conteúdo e a qualidade da comunicação da companhia têm muito a ver com a atitude e o comportamento dos funcionários. Observe que a cultura oficial e a cultura vigente em uma companhia nem sempre são a mesma coisa. Oficialmente, a gerência anuncia e tenta promover uma cultura com comunica- ções formais, como pronunciamentos da missão da companhia e lemas. Mas, a cultura verdadeira está em um território vivo e orgânico de significados construídos diariamente, com base em vários comportamentos e formas de comunicação em todos os níveis da companhia. Perceber os pressupostos que realmente guiam a conduta das pessoas em seu local de trabalho ou de seu cliente vai ajudá-lo a ser um comunicador mais eficaz. O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES Embora a comunicação de uma empresa seja considerada uma rede de fluxo de informações, é preciso ter em mente que a organização empresarial é feita por pessoas, e que a comunica- ção com quem está dentro e fora da organização também ocorre entre indivíduos. Não esqueça que cada ato da comuni- cação é planejado para alcançar objetivos específicos. A dis- cussão a seguir explica nosso enfoque à comunicação organizacional entre pessoas e ressalta as principais etapas ao enfrentar os problemas dessa comunicação. OA1.6 Explicar por que a comunicação nas organizações é uma forma de resolver problemas. Comunicação organizacional como solução de problemas Praticamente todas as tarefas relevantes que envolvem a comu- nicação baseiam-se na análise de uma configuração única de fatores que requerem ao menos uma solução um tanto singu- lar. Por isso, faz sentido ver a comunicação organizacional como uma atividade de solução de problemas. Pesquisadores de várias áreas – administração, medicina, letras e psicologia, por exemplo – estudam a solução de proble- mas. Eles definem problema simplesmente como “a lacuna entre onde você está agora e onde você quer estar”.13 Nesse âmbito, um problema nem sempre é algo negativo. Ele também pode ser uma oportunidade para melhorar uma situação ou fazer as coisas de um jeito melhor. Em uma empresa focada em objetivos, as atividades giram em torno da solução de proble- mas – assim como a comunicação organizacional. A literatura sobre este assunto divide os problemas em dois tipos principais: os bem definidos e os mal definidos. O pri- meiro tipo pode ser resolvido com uma fórmula, como quando você está calculando quanto tem de dinheiro no orçamento do seu departamento. Mas, a maioria dos problemas no mundo real, incluindo os de comunicação organizacional, não pode ser resolvido assim. Eles não chegam até nós em embalagens boni- tinhas mostrando o caminho para a melhor solução. Longe disso: eles exigem pesquisa, análise, criatividade e avaliação. Na comunicação organizacional, como em qualquer situ- ação de comunicação, isso ocorre em razão do papel das pes- soas nessas interações – e pessoas são seres complexos e únicos. Mas, o contexto de uma empresa quase sempre é complexo, oferecendo múltiplas opções para você lidar com qualquer situação. Por exemplo, se o cliente fez uma recla- mação, o que você vai fazer? Nada? Pedir desculpas? Dar a entender que a culpa é dele? Dar um desconto? Recusar-se a mudar a conta? Até um problema “simples” como esse exige que você pense sobre os efeitos de curto e longo prazo das diversas soluções possíveis. A solução de problemas mal definidos requer que você combine recursos existentes com inovação e uma boa avalia- ção. Embora este livro apresente estratégias básicas para vários tipos comuns de mensagens na comunicação organizacional, você não vai conseguir resolver problemas específicos de comunicação somente ao seguir essas dicas à risca. Essas estra- tégias podem ser vistas como heurísticas – “regras” para que você não precise reinventar a roda a cada novo problema. Mas elas não dizem tudo o que você precisa fazer para resolver cada problema específico de comunicação. Você terá de decidir como adaptar cada estratégia à situação apresentada. Isso significa que a comunicação organizacional bem-suce- dida é mais desafiadora e empolgante do que você imagina. Você terá de recorrer à sua própria capacidade de interpreta- ção e de tomada de decisões para prosperar com seus parceiros de comunicação. É claro que as pessoas enfrentam cada caso de maneira diferente, dependendo de quem elas são, como interpretam a situação e quem elas imaginam ser os receptores. Isso significa que todas as soluções são igualmente válidas? De jeito nenhum. Ainda que não existam soluções perfeitas, análises e esforços insuficientes podem resultar em más soluções. Pensamento focado, pesquisa e planejamento não garantirão sucesso no mundo inconstante e complexo da comunicação humana, mas eles certamente maximizarão suas chances de sucesso. A pró- xima sessão vai ajudá-lo a fazer este tipo de análise. Modelo de comunicação organizacional A Figura 1.7 mostra os elementos básicos do processo de comunicação nas organizações. Embora as pessoas possam (e de fato acabam por) se comunicar sem planejamento prévio, este modelo de comunicação enfoca o que acontece quando alguém deliberadamente tenta se comunicar com outra pessoa para alcançar objetivos empresariais específicos. Cap 01_Comunicação empresarial.indd 12 26/09/2014 11:16:36 CAPÍTULO 1 | A comunicação no local de trabalho 13 Você notará que os dois comunicadores na figura são simples- mente classificados como “comunicador 1” e “comunicador 2”, em vez de “remetente” e “receptor”, ou “comunicador” e “público”. Todo ato de comunicação começa com alguém decidindo que comunicar é necessário e iniciando a comunicação com um “receptor” (termo popular em comunicação oral) ou “público” (o termo preferido em composição) no outro lado. Mas, em muitas situações, em especial aquelas envolvendo conversas em tempo real, os dois lados trabalham juntos para alcançar um entendi- mento mútuo. Quando um comunicador está tentando enviar uma mensagem completa e cuidadosamente preparada – como um e-mail, um relatório ou uma apresentação oral –, nessa hora os receptores já participaram de alguma maneira da construção da mensagem, por meio da memória ou da imaginação do comunica- dor, que pensouneles ao conceber e compor a mensagem. As denominações neste modelo pretendem expressar o esforço coo- perativo por trás de cada ato de comunicação bem-sucedido. OA1.7 Descrever os contextos de cada etapa da comunicação organizacional. contextos da comunicação organiza- cional Algumas características já estão atuando assim que os comunicadores em nosso modelo começam a interagir. O contexto amplo inclui o clima econômico-empresarial geral, a linguagem, os valores e costumes da cultura circun- dante, e o momento histórico em que a comunicação acontece. Pense em como estes contextos influenciam a comunicação. Por exemplo, se a economia de um país ou setor está prospe- rando, a mensagem do comunicador e a reposta do receptor podem ser bem diferentes do que seriam em uma economia em crise. O contexto sociocultural também afeta a comunica- ção. Não importa se eles estão se comunicando no contexto da cultura urbana norte-americana, da cultura de uma região particular ou de outro país, ou entre culturas: comunicador e receptor usam diferentes tipos de comunicação. O contexto histórico de sua comunicação também pode ser um fator determinante. Considere dois temas populares no atual ambiente de negócios, “o comprometimento do funcio- nário” e “o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal”. Ninguém conhecia esses conceitos antes dos anos 1960 e 1970, quando o governo norte-americano aprovou a legislação para auxiliar as funcionárias, especialmente as que eram mães. Desde então, Comunicador 1… Comunicador 2… Contexto mais amplo Econômico-empresarial, sociocultural, histórico Relação entre os comunicadores O mundo do comunicador 2 Organizacional Profissional Pessoal 7-10 O mundo do comunicador 1 Organizacional Profissional Pessoal 1-6 Resposta Canal escolhi do Men sagem inicial Cana l escolhido 1. Percebe uma necessidade de comunicação 2. Define o problema 3. Procura possíveis soluções 4. Seleciona um procedimento (tipo de mensagem, conteúdo, estilo, formato, canal) 5. Redige a mensagem 6. Transmite a mensagem 7. Recebe a mensagem 8. Interpreta a mensagem 9. Decide o tipo de resposta 10. Pode enviar uma mensagem de resposta Processo de comunicação nas organizaçõesF I G U R A 1.7 Comunicaç ão rápida O que um CEO procura nos candidatos que entrevista Em uma entrevista no The New York Times, o CEO da Delta, Richard Anderson, enfatizou a importân- cia das habilidades de comunicação e da consciência contextual. Indagado se nos últimos anos houve alguma mudança nas qualidades que ele procura em um candidato, ele respondeu: Acho que o aspecto da comunicação está ficando cada vez mais importante. As pessoas realmente têm de ser capazes de lidar com a escrita e a fala... A segunda coisa, em minha opinião, que você deve possuir é o que nossos pilotos chamam de consciência operacional. Você tem de olhar para frente... e precisa da consciência situacional de tudo o que está acontecendo ao seu redor. Há muita coisa ocorrendo no mundo, sobre- tudo no cenário econômico atual. A terceira coisa é que você precisa ser habilidoso nos negócios, mas também emocionalmente inteligente. Não basta ser a melhor pessoa operando uma calculadora HP. É preciso ter a inteligência emocional para entender o que é certo culturalmente, dentro e fora de sua empresa. FONTE: “He Wants Subjects, Verbs and Objects,” Adam Bryant, The New York Times 25 Apr. 2009: BU2, The New York Times, Web, 3 Mar. 2010. Cap 01_Comunicação empresarial.indd 13 26/09/2014 11:16:37 14 MÓDULO 1 | Comunicação nas organizações muitos problemas domésticos e pessoais surgiram, movidos pela crescente responsabilidade dos cuidadores, pelo estresse por excesso de trabalho e pela exposição a outras culturas que têm uma carga de trabalho menor. Essas questões afetam tanto as conversas de alto nível corporativo quanto a comunicação diária no local de trabalho. O comunicador habilidoso está alerta a estes contextos mais amplos, que sempre exercem influência e, até certo ponto, estão em constante mudança. O relacionamento entre os comunicadores tam- bém estabelece um contexto importante para a comunica- ção. Comunicar é mover informação do ponto A até o ponto B, mas também é a interação entre seres humanos. Seu pri- meiro contato com outra pessoa inicia um relacionamento mútuo, como indivíduos, como funcionários em cargos específicos ou ambos. Toda a comunicação futura entre vocês levará em conta este relacionamento. Talvez os contextos particulares dos comunicadores sejam os que exercem a maior influência no ato de comunica- ção. Estes contextos estão inter-relacionados e podem ser: • Contextos organizacionais: sabemos que o tipo e a cultura da orga- nização que você representa definem suas escolhas na comunicação de diversas maneiras. Mas, são os contextos organizacionais do seu público que geram as respostas. Na verdade, em todo ato de comunicação orga- nizacional, ao menos uma das partes envolvidas estará representando uma organização. O quê e como você comunica é definido pela organiza- ção que você representa. Por sua vez, a organização a que seu público pertence – suas prioridades, suas circunstâncias atuais e mesmo a velo- cidade do seu ritmo de trabalho – influencia muito a maneira como sua mensagem é recebida. • Contextos profissionais: você sabe, desde a escola e por experiên cia própria, que diferentes profissionais – sejam médicos, assistentes sociais, gerentes, contadores ou envolvidos em outras áreas – possuem diferentes conhecimentos, falam de forma diferente e tendem a enfocar coisas diferen- tes. O que é comunicado e como será influenciado pelos cargos profissionais dos comunicadores. Fique atento porque tanto os públicos internos quanto os externos podem ocupar diferentes cargos profissionais e, portanto, preferir PARA CRIAR UMA MENSAGEM DE SUCESSO OU PLANEJAR UM ATO DE COMUNICAÇÃO, VOCÊ PRECISA ESTAR BEM INFORMADO DA SITUAÇÃO. O relacionamento entre os comunicadores também estabelece um contexto importante para a comunicação. Comunicaç ão rápida A escolha do canal afeta o sucesso da mensagem “Tá oficial, vc não trabalha mais para a JNI Traffic Control. Todas as suas atribuições de trabalho não têm mais validade”. Já imaginou receber uma mensagem de texto como essa? Em Sydney, na Austrália, um empregador foi processado por ter escolhido inapropriadamente este canal de comunicação para demitir um funcionário. Na decisão judicial, o juiz do trabalho foi além, afirmando que e-mail, mensagem de texto e até mesmo secretária eletrônica não são apropriados para uma comunicação organizacional oficial. Ou que tal ser notificado por mensagem de texto sobre uma conta não paga? Embora al- guns acreditem ser um serviço, outros consideram a atitude ina- propriada e agressiva. A importância do canal sempre foi motivo de discórdia. Al- guns argumentam ser simplesmente um meio de transmitir mensagens, outros acham que o canal escolhido já é uma men- sagem em si mesmo. Porém, hoje a maioria das pessoas per- cebe que a escolha apropriada de palavras e do canal de comunicação contribui para o sucesso da mensagem. Ao selecionar um canal, o comunicador precisa levar em conta vários fatores, como o conteúdo da mensagem, os níveis de competência do comunicador em usar o canal, o acesso do receptor ao canal e o ambiente. A escolha apropriada de um canal de comunicação ajuda as pessoas a melhorar a produti- vidade e seus relacionamentos pessoais. Cap 01_Comunicação empresarial.indd 14 26/09/2014 11:16:37 CAPÍTULO 1 | A comunicação no local de trabalho 15 diferentes tipos de conteúdo e linguagem. Os funcionários de administração e engenharia, por exemplo, têm demonstrado prioridades bem diferentes, com aqueles enfocando o benefício financeiro, e estes, o avanço tecnológico.14 Parte da comunicação bem-sucedida é ficar alerta aos diferentes contextos profissionais de seus públicos. • Contextos pessoais:várias fontes formaram quem você é como pes- soa: os genes herdados, sua família e educação, suas experiências de vida, sua escola, as várias pessoas com quem você entrou em contato, a cultura na qual você foi criado. Quem você é como indivíduo depende também, até certo ponto, das suas atuais circunstâncias. Os sucessos e fracassos, os relacionamentos atuais, os altos e baixos financeiros, o estado de sua saúde, seu ambiente físico – tudo pode afetar um dado ato de comunicação. Já que grande parte da comunicação organizacional é feita entre indivíduos ocupando cargos organizacionais, assuntos pesso- ais não costumam ser comentados. Mas é importante ter em mente seu conhecimento sobre os mundos pessoais dos comunicadores. OA1.8 Descrever os processos da comunicação organizacional. processo da comunicação organiza- cional Ninguém sabe ao certo o que passa pelas cabeças dos comunicadores quando criam uma mensagem, mas os pesquisadores chegaram a um consenso sobre as atividades envolvidas, que normalmente ocorrem nesta ordem: 1. Percepção da necessidade de se comunicar. Um problema chegou até você ou você tem uma ideia sobre como atingir uma meta. Alguém enviou uma reclamação por e-mail e você precisa responder, ou talvez você tenha percebido que a companhia pode se beneficiar com a infor- matização de um procedimento. Não importa a situação: você sente que uma ação está em andamento e acredita que alguma forma de comuni- cação vai ajudar a obter os resultados desejados. 2. Definição da situação. Para criar uma mensagem ou planejar um ato de comunicação bem-sucedido, você precisa estar bem informado da situ- ação. Por exemplo, se você recebeu uma reclamação de um cliente, qual é exatamente o problema? O cliente tem razão? Quais são outras infor- mações de que você precisa para entender a situação? Esse problema é parecido com outros que você já resolveu? Como as metas da sua organi- zação, ou você, podem ser prejudicados ou beneficiados dependendo de como você escolhe a forma de se comunicar? 3. Avaliação das possíveis estratégias de comunicação. Conforme a situação vai sendo definida, você começa a avaliar as opções de solução. Que tipo de comunicação você iniciará e qual é o objetivo dela? Que tipo de imagem sua, de sua empresa e de parceiros de comunicação você vai projetar em sua mensagem? Para gerar uma boa solução, você terá que pensar e pesquisar sobre seu público em potencial e seu contexto, seus próprios objetivos e contextos, seu relacionamento com cada público e outros contextos mais amplos e relevantes. 4. Escolha da forma de ação. Ao avaliar a situação que você definiu e as opções de comunicação, você vai considerar os possíveis custos e benefícios de cada opção e escolher a ideal. Sua decisão incluirá esco- lhas preliminares sobre o tipo de mensagem, conteúdo, estrutura, estilo verbal e formato visual, e o canal usado para transmitir a mensagem. 5. Redação da mensagem. Aqui é onde você elabora sua mensagem escrita, trabalhando cuidadosamente com o conteúdo, a estrutura, o estilo verbal e o formato visual, ou planeja a estratégia da comunicação oral com seu público. Se você se decidiu pela mensagem oral, você vai tomar notas ou mesmo escrever a mensagem ou a apresentação inteira e conceber quaisquer elementos visuais de que precisar. Se você decidiu escrever sua mensagem, você vai usar suas estratégias preferidas para compor com eficiência. Para as estratégias recomendadas pelos pesqui- sadores, veja a seção “Os processos de redação” no Capítulo 2. 6. Envio da mensagem. Quando sua mensagem está pronta ou ao menos cui- dadosamente planejada, você pode transmiti-la para os receptores no canal escolhido. Você então escolhe uma boa hora para enviá-la, sabendo que, por exemplo, a manhã de segunda-feira pode não ser a melhor hora para fazer uma importante ligação para um empresário atarefado. Você também pode considerar enviar mensagens secundárias, como ligações ou e-mails de alerta, que aumentarão as chances de sua mensagem principal ser bem- -sucedida. Você tem de fazer de tudo para garantir que sua mensagem não se perca entre todos os outros estímulos competindo pela atenção do seu público. Normalmente essas atividades ocorrem nesta ordem, mas o comunicador precisa revisar etapas anteriores. Em outras palavras, resolver um problema de comunicação pode ser um processo recorrente. Isso vale, sobretudo, em situações que aceitam diversas soluções ou que envolvem muito o público no processo de comunicação. Um comunicador pode iniciar um ato de comunicação com certa ideia da situação e depois des- cobrir, com uma análise detalhada e apuração de fatos adicio- nais, que esta ideia precisa ser revisada e levar em conta todas as partes envolvidas e seus objetivos. Se tudo sair conforme planejado, é isso que acontece com o receptor: 7. Recebimento da mensagem. O canal de sua escolha transmitiu a mensa- gem para cada receptor, que a detecta e decide ler ou ouvir a mensagem. O OBJETIVO DA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL É CRIAR UM ENTENDIMENTO COMUM DE SITUAÇÕES DO AMBIENTE DE NEGÓCIOS QUE PERMITIRÁ QUE AS PESSOAS TRABALHEM JUNTAS DE FORMA BEM-SUCEDIDA. Cap 01_Comunicação empresarial.indd 15 26/09/2014 11:16:37 16 MÓDULO 1 | Comunicação nas organizações A Figura 1.8 lista as principais questões consideradas no desenvolvimento de uma estratégia de comunicação. Essa abordagem analítica o ajudará a pensar conscientemente sobre cada etapa do processo e aumentará as chances de você atingir os resultados desejados com suas mensagens. COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL – O QUE REALMENTE IMPORTA O tema deste capítulo pode ser resumido assim: o objetivo da comunicação organizacional é criar um entendimento comum de situações do ambiente de negócios que permitirá às pessoas trabalharem juntas de forma bem-sucedida. A transferência de informações de modo compreensível e no momento certo nunca foi tão crucial para as empresas. Mas, para fazer as escolhas certas quanto ao tipo, ao meio e à forma das informações, você vai precisar saber tomar as decisões certas. Cada pessoa tem seus próprios contextos e 8. Interpretação da mensagem. Da mesma maneira como você precisou interpretar a situação que motivou a comunicação, seu receptor agora tem de interpretar a mensagem que você enviou. Essa atividade não envolve somente extrair informação da mensagem, mas também identifi- car o propósito da sua comunicação, formando uma opinião sobre você e aqueles que você representa, e detectar os sinais do relacionamento que você quer promover entre os comunicadores. Se previu bem os contextos específicos e interesses de seu receptor, suas chances de ser interpre- tado corretamente são boas. O receptor pode chamar o comunicador para ajudar nesse ato interpretativo, especialmente se a comunicação for uma conversa ao vivo. 9. Decisão de como responder. Ao enviar uma mensagem, o seu objetivo é uma resposta específica de seu público, seja mais boa-vontade, mais informação, uma reação específica ou uma combinação destes. Se sua mensagem for cuidadosamente adaptada ao tipo de receptor, as chances de atingir a resposta desejada serão altas. 10. Resposta à mensagem. A resposta do receptor muitas vezes terá, pelo menos em parte, a forma da sua mensagem inicial. Quando este for o caso, o receptor está agindo como o comunicador inicial, seguindo o seu mesmo processo para gerar uma mensagem. Pensar cuidadosamente nos elementos de cada situação vai dar a você as melhores chances de obter uma comunicação de sucesso. Qual é a situação? O que fez você pensar na necessidade de se comunicar? Quais são as circunstâncias e os antecedentes aplicáveis nessa situação? Ela é parecida ou não com outras que você já encontrou? O que você precisa descobrir para entender cada componente da situação? Onde você pode obter esta informação? Quais são algumas das possíveisestratégias de comunicação? Para quem você vai dirigir sua comunicação? Quem serão seus públicos primários e secundários? Quais são seus contextos organizacionais, profissionais e pessoais? Qual é a preocupação de cada público e o que ele quer saber? Se houve algum contato anterior, qual é o seu relacionamento com esses públicos? Qual é a sua finalidade com cada receptor? Quais são seus contextos organizacionais, profissionais e pessoais? Quais são as estratégias de comunicação que podem ajudar a alcançar seus objetivos? De que forma os contextos amplos econômico-empresarial, sociocultural e histórico afetam o sucesso de diferentes estratégias? Qual é a melhor forma de ação? Quais estratégias são impraticáveis, incompletas ou potencialmente perigosas? Por quê? Qual das estratégias restantes parece ser a ideal? Por quê? Quais serão os melhores modelos, conteúdos, estrutura, estilo e formato para sua mensagem? Que canal você vai usar para transmití-la? Qual é a melhor maneira para conceber a mensagem escolhida? Sabendo dos seus objetivos com cada receptor, quais informações sua mensagem deve incluir? Que estrutura lógica (ordenação e agrupamento de informações) você deve usar? Que estilo você deve usar? Até que ponto você pode ser formal ou informal? Que tipos de associações sua linguagem deve ter? Que imagem de si mesmo e de seu público você deve transmitir? Que tipo de relacionamento com cada receptor sua mensagem deve promover? Como você pode usar formatação de texto, gráficos e/ou mídias de apoio para deixar sua mensagem mais fácil de entender? Quais são as expectativas de seus receptores com o canal que você escolheu? Qual é a melhor maneira de transmitir sua mensagem? Existe um momento ideal para transmití-la? Você deve combinar a mensagem principal com outras mensagens? Como garantir que cada receptor receba e leia ou ouça sua mensagem? Planejamento da sua estratégia de comunicação: uma abordagem à solução de problemasF I G U R A 1.8 Cap 01_Comunicação empresarial.indd 16 26/09/2014 11:16:37 CAPÍTULO 1 | A comunicação no local de trabalho 17 “filtros” mentais – preconceitos, padrões de referência e mundos verbais –, por isso, expressar informações em pala- vras de forma compreensível pode ser um verdadeiro desafio. Você e seu público podem até atribuir significados completa- mente diferentes para as mesmas palavras (um problema que os livros sobre comunicação chamam “desvio”). Para complicar, leve em conta o fato de que a comunicação não é somente a transmissão de informação. A criação e a manutenção de relações humanas positivas são essenciais no ambiente dos negócios e, consequentemente, para a comunica- ção nas organizações. Todo ato de comunicação transmite para materiais adicionais de estudo, em inglês, incluindo apresentações em PowerPoint. ACESSE <http://www.grupoa.com.br> uma imagem de você e da maneira como você julga aqueles para quem fala ou escreve. Os comunicadores empresariais de sucesso prestam muita atenção à dimensão das relações huma- nas em suas mensagens. Sim, a comunicação organizacional pode ser desafiadora. Mas ela também pode ser extremamente gratificante, em razão dos resultados que você alcança e das relações que constrói. As sugestões, os exemplos e os exercícios neste livro vão mostrar a direção ao sucesso. Mas será a sua habilidade de analisar e resolver problemas de comunicação específicos que colocará você neste caminho. Cap 01_Comunicação empresarial.indd 17 26/09/2014 11:16:37 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Dica do professor Uma comunicação eficaz garante que os objetivos pretendidos sejam alcançados. Veja algumas situações que uma má comunicação pode causar, e como a comunicação eficaz dá resultados. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/afcec5704c4078677419db81cfedc01a Na prática Uma determinada empresa planejava uma expansão de última geração, uma experiência de resultado eficaz. O projeto representava um investimento bastante alto e, por isso, não podia dar errado. No entanto, era bastante complexo. Então, para evitar erros que pudessem acarretar atrasos desnecessários, a companhia estabeleceu uma estratégia bem prática para comunicar os detalhes do projeto aos diretores envolvidos: construir um modelo tridimensional em escala representando toda a expansão. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: O cometa Halley e as pérolas da comunicação Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. A importância da comunicação eficaz nas organizações Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Comunicação organizacional eficiente e eficaz Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/b_zHyVzlGp8 http://www.ibccoaching.com.br/portal/rh-gestao-pessoas/importancia-comunicacao-eficaz-organizacoes/ http://pessoasegestao.blogspot.com/2012/03/comunicacao-organizacional-eficiente-e.html Fundamentos da comunicação Interpessoal Apresentação Você sabe o que é comunicação diádica? Basta que duas partes estejam se comunicando para definirmos isso como comunicação diádica. Ela pode ser direta, face a face, ou pode ocorrer com mediações. Em qualquer um dos casos, a comunicação é vulnerável a múltiplos significados e interpretações, o que resulta, muitas vezes, na má compreensão de quem ouve, consequência da má expressão de quem emite a mensagem. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai perceber o quanto a comunicação interpessoal, que ocorre quando você se comunica diretamente com outra pessoa, afeta o andamento dos processos nas organizações e o quanto ela pode auxiliar o gestor na condução dos objetivos e das metas organizacionais. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os níveis de comunicação impessoal e interpessoal.• Diferenciar a comunicação diádica impessoal da interpessoal.• Reconhecer os problemas que uma comunicação ineficiente pode causar a uma equipe.• Infográfico Uma comunicação interpessoal eficaz não depende apenas da clareza da mensagem do emissor, mas da qualidade da escuta do receptor: detectar, avaliar e responder são os estágios básicos para uma escuta ativa: Conteúdo do livro No Capítulo 7 Administração da comunicação do livro Administração e organizações: uma introdução à teoria e à prática, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai encontrar mais detalhes a respeito dos níveis de comunicação. A partir desses níveis, você vai entender as reais diferenças entre a comunicação pessoal e a interpessoal, e observar, na prática, como o conflito pode surgir se essa comunicação for estabelecida de forma ineficaz. Leia do item Níveis de comunicação até o final do subitem Comunicação diádica: impessoal. Boa leitura. STEWART CLEGG MARTIN KORNBERGER TYRONE PITSIS ADMINISTRAÇÃO E ORGANIZAÇÕES SEGUNDA EDIÇÃO Uma Introdução à Teoria e à Prática C623a Clegg, Stewart. Administração e organizações [recurso eletrônico] : uma introdução à teoria e à prática / Stewart Clegg, Martin Kornberger, Tyrone Pitsis ; tradução: [coordenação de] Patrícia Lessa Flores da Cunha... [et al.] ; revisão técnica: Alexandre Perucia. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2011. Editado também como livro impresso em 2011. ISBN 978-85-7780-830-4 1. Administração. I. Kornberger, Martin. II. Pitsis, Tyrone. III. Título. CDU 658 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO313 imagens das páginas 314 e 315. O que elas lhe sugerem com relação à organização que cada uma representa? Níveis de comunicação Uma maneira convencional de dar sentido à comunicação em organizações é começar a distinguir os diferentes níveis de comuni- cação. A comunicação pode ser analisada, olhando para os níveis de envolvimento pes- soal e social. Littlejohn (1989) diferencia quatro níveis de comunicação, apresentados na Figura 7.1. Enquanto os três primeiros tipos de co- municação estão situados, principalmente, em um contexto interpessoal (cara a cara, com exceções, tais como uma ligação telefônica ou e-mail), o quarto tipo é mediado por canais de comunicação de massa (novamente, exis- tem exceções, tais como o “boca a boca”). A comunicação diádica ocorre entre um funcio- nário e um administrador; a comunicação entre pequenos grupos e a equipe ocorre em reuniões, sessões de brainstorming e workshops; e, finalmente, a comunicação de massa está IMAGEM 7.2 Olhe para a imagem de uma tribo das mon- tanhas do norte do Vietnã: apesar de a imagem não falar, as roupas, as cores, as expressões faciais, a postura, o fato de so- mente mulheres po- sarem para as fotos dos visitantes, etc. – quase tudo na ima- gem expressa muito a respeito da vida dessas pessoas. 314 PARTE DOIS ADMINISTRAÇÃO DE PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS em ação em campanhas de marketing e de RP. Independentemente de onde ocorra, ou por quais meios, a comunicação organizacional é um processo de sensemaking, motivado cultu- ralmente. As pessoas comunicam-se para com- preender a si mesmas e aos outros; algumas vezes, elas se comunicam para enganar, em outras, fazem-no para serem claramente compre- endidas. Não é de se admirar que haja uma ampla oportuni- dade para que as mensagens se misturem e para que o público errado receba ou interprete uma mensagem incorreta (Wat- zlawick et al., 1967). Às vezes, sinais que comunicam a mesma mensagem podem diferir acen- tuadamente: comunicação atra- tiva é muito fácil de identificar – compare as placas Underground e Metro. Comunicação diádica: interpessoal Quando o gerente de produção e o novo funcionário do departamento de marketing saem para al- moçar juntos ou se encontram, en- quanto fumam do lado de fora do prédio, podem tentar entender as tarefas um do outro, o que será útil quando a empresa lançar seu novo produto. Certamente, eles podem estar fazendo outras coisas, como flertando, conversando sobre es- portes ou moda, mas estão tam- bém conhecendo o trabalho um do outro. Estão se comunicando interpessoalmente, cara a cara. A comunicação interpessoal é baseada em interdependência, em que o comportamento de cada pessoa é uma consequência do comportamento de outra. Tal comportamento pode ser expres- so verbalmente e não verbalmente e possui um caráter estruturado formal ou informal. Uma entrevis- ta de seleção, por exemplo, é um procedimento organizacional es- truturado formalmente, enquan- to uma conversa durante o almo- ço pode ser informal. Toda comunicação possui um aspecto informativo e, simultanea- FIGURA 7.1 Níveis de comunicação (conforme Littlejohn, 1989). Comunicação diádica Comunicação em pequenos grupos Comunicação organizacional Comunicação impessoal e interpessoal Comunicação de mídia Comunicação de massa IMAGEM 7.3 Underground. CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO 315 mente, conta algo sobre o relaciona- mento das pessoas envolvidas. O geren- te diz a seu subordinado: “Você tem até se- gunda-feira para fazer este relatório”, ou “se- ria possível estar com seu relatório em mãos na segunda-feira?” As sentenças expressam quase a mesma informação, mas definem o relacionamento de maneira totalmente dife- rente. A comunicação sempre possui um as- pecto de metacomunicação, e os administra- dores da organização devem estar bem cons- cientes disso – a forma pela qual a mensagem é projetada e recebida é tão importante quan- to o conteúdo que possui. A comunicação envolve múltiplos signi- ficados, interpretações, distorções e omis- sões. Não é tanto o processamento sem per- calços da informação, mas, de certa forma, a complexa emergência interativa de conhe- cimento, significado e narrativas o que a norteia. E nesse processo, as transições nem são aditivas nem lineares; o que você sabe hoje pode mudar o que pensava saber ante- riormente ou que saberá no futuro. Esse tema é frequentemente utilizado em filmes, como Sliding Doors (Howitt, 1998), um fil- me que mostrou como um acidente pode Você se comunica inter- pessoalmente com ou- tros quando interage com eles diretamente. IMAGEM 7.4 Metro. IMAGEM 7.5 A comunicação diádica é essencial para os relacionamentos humanos. Em geral, é ofuscada por múltiplos significados, interpretações, distorções e omissões. 316 PARTE DOIS ADMINISTRAÇÃO DE PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS mudar a base de um relacionamento e de uma vida. A comunicação abrange uma série de in- terações vistas de maneira diferente pelos par- ticipantes (Figura 7.2). Por exemplo, um lí- der com uma necessidade de controlar pode gerar resistência de funcionários. Se o líder responde com um controle mais rígido, é pro- vável que isso gere ainda mais resistência, que pode ser interpretada como uma falta de mo- tivação. Mas o controle elevado produz ainda mais resistência e menos motivação! Encon- traremos mais exemplos dessas dinâmicas no Capítulo 12, quando discutimos burocracia. Quando um círculo vicioso está em jogo, isso é bastante difícil de resolver. Ambas as partes possuem boas razões para seus comportamen- tos. São partes da mesma interação, mas dife- rem fundamentalmente ao assinalar o que está acontecendo. Enquanto os subordinados po- dem argumentar que estão desmotivados em função da falta de confiança, o superior pode enfatizar que, devido à falta de motivação, so- mente controles impostos, de maneira rígida, podem garantir um engajamento mínimo. Estão contando a mesma história, participan- do do mesmo diálogo, mas pontuando-a de maneira diferente e, assim, criando diferentes realidades, em que causas e efeitos são opos- tos. A amplificação do mal-entendido inten- sifica-se em tais circunstâncias. O exemplo demonstrou o duplo impacto, ao utilizar o fato de um administrador dizer a um funcionário que deve aumentar a produ- tividade e qualidade e que, no futuro, será monitorado mais de perto (ação). Desmoti- vado por essa falta de confiança, o funcioná- rio responde faltando mais dias, em função de doença, e tomando menos cuidado com padrões de qualidade (resposta). O administrador entende esse comportamen- to como prova da necessidade de aumento de mecanismos de controle e de reação por meio de aumento de pressão sobre o funcionário, o que leva a uma queda na motivação do mes- mo, resultando ainda mais em faltas por mo- tivo de doença, e em menos cuidados com padrões de qualidade! É importante observar que esse círculo vicioso ocorre muito na co- municação diária. Como você já sabe até ago- ra, tais dinâmicas fatais resultam da comple- xidade dos processos de comunicação (Wat- zlawick et al., 1967). A diferença em se co- municar, especialmente, faz tais círculos vi- ciosos perdurarem e serem difíceis de mudar. Comunicação diádica: impes- soal Uma carta ou um e-mail entre você e um funcionário da Receita Federal é uma comunica- ção diádica, mas impessoal. Pense em um call center, que é, por de- finição, uma interfa- ce entre cliente e or- ganização. Quando você é colocado na es- pera e é bombardea- do com novas ofertas FIGURA 7.2 Círculos viciosos em ação. Visite www.uk.sagepub.com/ managingandorganizations/ para acesso gratuito a um ar- tigo Karl Weick, cujo trabalho sobre sensemaking teve gran- de impacto na teoria da admi- nistração de Dennis Gioia. Comunicação diádica significa comunicação entre duas partes. A co- municação diádica pode ser impessoal, quando duas pessoas interagem sem contato pessoal di- reto, bem como cara a cara e sem mediação. CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO 317 que não o interessam enquantoaguarda, isso expressa/comunica como a organização, a qual você busca informações, cuida das necessida- des de seus clientes. Direcionando-o para a pessoa “certa”, por meio de um sistema com- plicado de números, os call centers assumem que a comunicação digital é o nível adequado de envolvimento. Contudo, essa não é uma estrutura apropriada para estabelecer um me- tanível de comunicação. Expondo de manei- ra simples, as empresas perdem a chance de se expressar e de moldar de maneira ativa seus relacionamentos com clientes quando se res- tringem a tais formas de comunicação. Além disso, o relacionamento é puramente comple- mentar: se o cliente tem um problema, o call center o resolve, na medida em que for um problema-padrão – que possua uma solução- padrão. Mas, como veremos em breve, as or- ganizações podem aprender muito com seus clientes sobre o que querem, como realmente utilizam seus produtos e que melhorias dese- jam. Um estilo mais dialógico envolveria clien- tes e criaria um relacionamento mais forte, que desencadearia interatividade, conectividade e criatividade (ver também Capítulo 9). Comunicação em pequenos grupos As dinâ- micas de nível grupal diferem das dinâmicas diádicas. Pense em uma equipe com nove membros. A comunicação não ocorre somen- te cara a cara, mas papéis são estabelecidos, subgrupos formados e uma dinâmica diferen- te é criada. Um grupo é formado por dinâmi- cas, além da influência de seus membros indi- viduais. A cultura bem como a qualidade da solução de problemas dentro do grupo depen- dem da interação entre seus membros. As pres- sões do grupo influenciam as formas de pen- sar de seus membros, como demonstra o fe- nômeno do pensamento grupal (Littlejohn, 1983: 237). Dupla interação comunicativa De acordo com Weick (1979), organizações con- sistem em processos que ele denomina dupla interação. Weick define a dupla interação como uma ação, seguida de resposta, que leva a uma reação que muda a ação inicial seguida de res- posta, como em um circuito em movimento. Pen- se em uma situação típica de trabalho: um su- pervisor afirma que precisa controlar seus fun- cionários, pois parecem não estar motivados; os funcionários não estão motivados porque estão sendo supervisionados de maneira rígida e sen- tem-se desmotivados em função da falta de con- fiança. Veja como um círculo vicioso é produzi- do e mantido. O interessante é que ambas as partes vivem em um mesmo mundo, mas visua- lizam causa e efeito de maneira diferente. Para o supervisor, o controle rígido é o efeito causado por baixos níveis de motivação; para os traba- lhadores, a supervisão rigorosa é causa de bai- xa motivação. Em tal situação, ambas as partes estão certas e erradas, ao mesmo tempo. “Pe- gas” nesse circuito, podem discutir para sempre sem encontrar uma solução. ••••• Você é capaz de pensar em experiências de dupla interação que tenha vivido? Como e de que maneira elas poderiam ser conside- radas como duplas interações? Descreva-as abaixo, de maneira sucinta, e compare suas anotações com as de colegas. MOMENTO PARA EXERCITAR Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Dica do professor O vídeo a seguir aborda como a comunicação impessoal entre funcionários de diferentes níveis hierárquicos pode dificultar o processo de comunicação interpessoal. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/5a6d03a07ff753cc0c98898415df905d Na prática A comunicação pode ser interpessoal (face a face), impessoal (cartas, e-mail, quadros, comunicados) ou em em pequenos grupos. Quando há informações importantes a se comunicar, é preferível optar pela utilização de canais de todos os tipos, para se certificar de que todos as receberam e, melhor, entenderam o conteúdo da mensagem. Veja, na prática, como um simples encontro informal pode causar problemas de amplitude maior, que poderiam ser evitados com um melhor entendimento dos recursos de comunicação interpessoal. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Ted 10 regras para conversar melhor Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. FLATLEY, Marie; RENTZ, Kathryn; LENTZ, Paula. Comunicação empresarial Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! JONES, Gareth R.; GEORGE, Jennifer M. Fundamentos da administração contemporânea [Capítulo 13] Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! https://www.ted.com/talks/celeste_headlee_10_ways_to_have_a_better_conversation?language=pt-br Instrumentos de comunicação Apresentação Você sabe qual é o melhor instrumento de comunicação para informar aos seus colaboradores o momento difícil pelo qual a empresa está passando? E-mail? Reunião? Conferência? A escolha do meio de comunicação organizacional não é tão simples quanto pode parecer. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender o que são informações e instrumentos de comunicação considerados ricos e vai perceber que alguns canais têm diferenças sutis quando comparados aos demais, e que essas diferenças devem ser analisadas de acordo com a finalidade da mensagem. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a necessidade de padronização em determinados processos de comunicação organizacional. • Diferenciar os instrumentos de comunicação oral e por escrito.• Reconhecer as situações que caracterizam melhor os principais instrumentos de comunicação.• Infográfico O meio organizacional exige planejamento na hora da comunicação: se quero transmitir informações a novos funcionários e responder suas dúvidas, o que devo escolher como instrumento? Um vídeo? Um encontro informal? Cada canal de comunicação oferece vantagens, basta relacionar essas vantagens ao tipo de mensagem que você deseja comunicar. Observe algumas possibilidades no infográfico a seguir. Conteúdo do livro É fundamental escolher o canal adequado para comunicar, sempre de acordo com o tipo de público e com o objetivo da mensagem. Você sabia que nem sempre é preciso definir um canal somente escrito ou um canal exclusivamente oral? Em uma organização, esses dois instrumentos de comunicação podem coexistir para atingir o mesmo objetivo de uma determinada mensagem. No livro Administração, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai ler sobre esses canais e também sobre como os recursos eletrônicos atuam de modo eficaz tanto na comunicação oral quanto na escrita, encontrará inclusive um case mostrando como o Twitter pode salvar vidas durante um desastre. Boa leitura. SAIBA A VERDADE! O dia a dia, as dificuldades e as soluções encontradas pelos gestores de empresas consagradas A ética, a onda verde e a responsabilidade social: como lidar com as preocupações da atualidade O desafio de gerir pessoas: unindo as individualidades em favor do todo e nos diferentes níveis hierárquicos ADMINISTRAÇÃO www.grupoa.com.br 2a Edição 34649_Serie A-Administracao 1 09/05/12 16:06 B328a Bateman, Thomas S. Administração [recurso eletrônico] / Thomas S. Bateman, Scott A. Snell ; tradução: Allan Vidigal Hastings ; revisão técnica: Gilmar Masiero. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2012. Editado também como livro impresso em 2012. ISBN 978-85-8055-082-5 1. Administração. I. Snell, Scott A. II. Título. CDU 658 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 CAPÍTULO 12 | Comunicação 277 OA12.3 Descrever quando e como usar os diversos canais de comunicação. A comunicação flui por meio de diversos canais A comunicação pode ser enviada por muitos canais diferen‑ tes (etapa 3 da Figura 12.1), inclusive o oral e o escrito. Cada canal tem vantagense desvantagens. A comunicação oral inclui discussões frente a frente (ou presenciais), conversas ao telefone e apresentações e pales‑ tras formais. As vantagens são a possibilidade de fazer e res‑ ponder perguntas; o feedback é imediato e direto; o(s) destinatário(s) pode(m) perceber a sinceridade (ou insince‑ ridade) do remetente; e a comunicação oral é mais persua‑ siva e às vezes mais barata do que a que se dá por escrito. Ainda assim, a comunicação oral também tem desvanta‑ gens: pode levar a declarações espontâneas e mal pensadas (e ao arrependimento) e não deixa registros permanentes (a menos que seja gravada). A comunicação por escrito abrange e ‑mail, memorandos, cartas, relatórios, arquivos de computador e outros documentos por escrito. As vantagens do uso de mensagens como estas são a possibilidade de diversas revisões; o fato de serem registros per‑ manentes que podem ser arquivados; perma‑ necer a mensagem inalterada mesmo que enviada por meio de diversas pessoas; e a possi‑ bilidade de o destinatário ter mais tempo para sua análise. As desvantagens são a ausência de controle do remetente so‑ bre onde, quando ou se a mensagem será lida; a ausência de feedback ime‑ diato ao remetente; a possibilidade de que o destinatário não entenda partes da mensagem; e o fato de a mensa‑ gem precisar ser mais longa para conter informação o bastante para lidar com dúvidas previstas.17 Devemos levar isso em conside‑ ração ao decidir entre a comunica‑ ção oral ou por escrito. Além disso, às vezes é bom usar os dois canais, como quando se redige um memorando de confirmação de uma reunião ou quando se escreve uma carta para permitir que alguém se prepare para um telefonema. A mídia eletrônica oferece canais flexíveis e eficientes A comunicação oral e escrita se dá, cada vez mais, através de meios eletrônicos. Os gestores usam computadores não só para coletar e distribuir dados quantitativos, mas também para “conversar” eletronicamente com outras pessoas. Em salas ele‑ trônicas de tomada de decisão, o software suporta acesso simultâneo a arquivos comuns e permite que as pessoas com‑ partilhem pontos de vista e trabalhem coletivamente.18 Outros meios de comunicação eletrônicos são a teleconferência, na qual grupos de pessoas em diferentes lugares interagem por meio das linhas telefônicas e, talvez, até mesmo aparecem nos documentos por escrito. As vantagens do uso de mensagens como estas são a possibilidade de diversas revisões; o fato de serem registros per‑ manentes que podem ser arquivados; perma‑ necer a mensagem inalterada mesmo que enviada por meio de diversas pessoas; e a possi‑ bilidade de o destinatário ter mais tempo para sua análise. As desvantagens são a ausência de controle do remetente so‑ bre onde, quando ou se a mensagem será lida; a ausência de diato ao remetente; a possibilidade de Cap 12_gestao_BATEMAN.indd 277 16/02/2012 15:19:33 278 Administração monitores umas das outras ao participar de discussões em grupo (videoconferência). Além disso, todos provavelmente estamos muito familiarizados com e ‑mail, mensagens instan‑ tâneas, mensagens de texto e blogs. O e ‑mail tornou ‑se uma ferramenta fundamental de co‑ municação no ambiente de trabalho e o usuário corporati‑ vo médio lida com 171 mensagens por dia.19 As mensagens instantâneas (IM, Instant Messaging) são menos dissemi‑ nadas no ambiente empresarial, mas seu uso é crescente. Segundo um levantamento recen‑ te, 35% dos funcionários entre‑ vistados disseram que usam IM no trabalho.20 Novas versões de software de e ‑mail podem incen‑ tivá ‑los a usar uma maior gama de ferramentas de comunicação ele‑ trônica. A recente atualização do Lotus Notes da IBM, chamada Notes 8, permite que os usuários usem guias para criar uma sessão de IM ou abrir arquivos de pro‑ cessamento de texto ou planilha para criar anexos. Também po‑ dem organizar documentos, men‑ sagens e cronogramas por projeto, permitindo que todos os partici‑ pantes analisem as informações e sejam notificados de mudanças. A mais recente versão do programa de e ‑mail Outlook, da Microsoft, permite que os usuários façam cha‑ madas telefônicas pela internet e redijam documentos em um espaço de trabalho cooperativo chamado SharePoint. A vantagem desse espaço está em que todos os participantes podem ir diretamente para um ponto central e trabalhar diretamente em um projeto, sem o passo intermediário do e ‑mail.21 Esses avanços tecnológicos encorajam tanto a co‑ laboração quanto a comunicação. Os blogs – sites para publicação de textos – também che‑ garam ao mundo dos negócios. Algumas empresas usam blogs para comunicar ‑se com o ambiente externo, comparti‑ lhando, por exemplo, informações sobre usos de seus produ‑ tos ou esforços de responsabilidade social. Os blogs também podem fomentar a comunicação interna na organização.22 Uma equipe de projeto pode ter um blog no qual o líder poste atualizações frequentes, com apresentações e planilhas relevantes. Realizar uma busca no site pode ser para os membros da equipe uma maneira fácil de encontrar informações so‑ bre o projeto. Eles também podem publicar ideias e comentários como respostas aos registros do autor. Os blogs podem, ainda, ser usados para incentivar a colaboração entre funcionários com interesse com‑ partilhado em determinados pro‑ dutos, clientes, ou funções. De modo geral, as mais recentes ferramentas de comunica‑ ção eletrônica enquadram ‑se em uma categoria chamada Web 2.0, um conjunto de aplicativos baseados na internet que incentiva o conteúdo gerado pelos usuários e a colabora‑ ção entre eles. Entre os aplicativos mais populares da Web 2.0 estão redes de relacionamento, podcasts, RSS (Really Simple O O Twitter como salva-vidas durante desastres “O que você está fazendo?” É uma pergunta comum – especialmente para as multidões de usuários do Twitter em todo o mundo. O site de relacionamentos fornece uma maneira rápida e fácil de man- ter o contato com amigos, oferecendo deta- lhes da vida aos “pedacinhos” em tempo real – por exemplo, “estou lavando o carro da minha irmã”, “estou no cinema com ami- gos”, ou “estou pensando em estudar para a prova de economia, mas antes preciso de uma pizza”. Com a limitação de 140 caracte- res por postagem, os usuários logo apren- deram a ser sucintos em suas mensagens. Quando Gen -Xers Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Williams fundaram o Twitter, em 2006, a ideia era permitir que os usuários tivessem acesso a uma rede de comunicação com aqui- lo que chamavam de “mínimo denominador comum”. Para participar, os usuários não pre- cisam de nada além de um telefone celular habilitado para enviar mensagens instantâ- neas. Com isso, o site cresceu exponencial- mente. Em meados de 2009, já eram mais de 24 milhões de usuá- rios, sendo que mais de 17 milhões estavam nos Estados Unidos. O Twitter logo tornou -se mais do que um veículo causal para manter contatos. O site é um meio valioso para relatar e acompa- nhar informações durante desas- tres e acontecimentos em todo o mundo. Quando incêndios flo- restais arrasaram o sul da Cali- fórnia em 2007, por exemplo, os usuários do sistema começaram a fornecer detalhes em segun- dos, ajudando os moradores da região a obter notícias imediatas e avaliar se esta- vam seguros. Depois que terremotos devastaram a China em maio de 2008, o Twitter tornou -se a principal fonte de relatos. Dava informa- ções mais rápido até que o U.S. Geological Survey, a agência governamental norte- -americana encarregada de acompanhar leituras sísmicas em todo o mundo. Algu- mas semanas depois, quando Los Angeles viu -se abalada por terremotos, tweets vin- dos de aparelhos celulares tomaram a rede em segundos. Para fins de comparação, a agência Associated Press levou nove minu- tos para divulgar o assunto. Os cofundadores do Twitter Biz Stone (esq.) e Evan Williams em seu escritório em São Francisco. Cap 12_gestao_BATEMAN.indd 278 16/02/201215:19:34 CAPÍTULO 12 | Comunicação 279 Syndication, que permite que os usuários recebam notícias, blogs, ou outras informações que escolham) e wikis (publica‑ ções online criadas com contribuições de muitos autores‑ ‑usuários). Essas ferramentas tornaram ‑se populares em sites como Facebook, YouTube e Wikipedia, mas os usuários leva‑ ram a experiência para o ambiente de trabalho, aplicando a colaboração online às necessidades de negócio. Ao contrário da primeira geração de aplicativos da internet, apresentados às organizações quando seus departamentos de tecnologia da informação (TI) os avaliavam e os compravam, os funcioná‑ rios costumam começar a usar as ferramentas da Web 2.0 por conta própria para preencher alguma necessidade. Rod Smith, vice ‑presidente de tecnologias emergentes da internet da IBM, recorda ‑se de uma reunião na qual falou de wikis para o chefe de TI do Royal Bank of Scotland. O homem de TI disse que o banco não as usava, mas quando Smith conversou com outros participantes, mais de 20 disseram que eles usavam.23 vantagens As vantagens da comunicação eletrônica são muitas e dramáticas. Nas empresas, incluem o comparti‑ lhamento de mais informações e a velocidade e a eficiência de envio de mensagens rotineiras a várias pessoas espalhadas por vastas áreas geográficas. Wikis voltadas para negócios, como o Socialtext, permitem que equipes de projeto publi‑ quem suas ideias em um fórum para que os membros possam acrescentar contribuições. O Socialtext permite que os líde‑ res de projeto concedam acesso aos usuários com base em suas necessidades de conhecimento e participação. A Web Crossing usa wikis para desenvolver produtos. Michael Krieg, vice ‑presidente de marketing, afirma que as wikis poupam à empresa “volumes inimagináveis em papel, pos‑ tagem, reuniões, despesas de viagem, teleconferências e o tempo associado a tudo isso”.24 A comunicação eletrônica pode reduzir o tempo e as des‑ pesas envolvidos em viagens, fotocópias e uso de correios. Quando um incêndio causado por um acidente rodoviário fe‑ chou uma grande avenida da área da Baía de São Francisco, Valerie Williamson evitou a confusão encontrando ‑se com seu colega Brian Friedlander no escritório virtual da empresa no Second Life, um mundo virtual online. Williamson e Fried‑ lander usaram avatares (imagens animadas de si) para condu‑ zir sua reunião na sala de conferências virtual de sua empresa existente no mundo real, a Electric Sheep Company.25 Os usuá‑ rios do Second Life podem usar seus avatares para fazer comu‑ nicações empresariais, como apresentações PowerPoint, trans‑ missão de áudio e vídeo, e indicação de perguntas. Algumas empresas, entre elas a Boeing, usam softwares de brainstorming que permitem contribuições anônimas, partindo da premissa de que isso aumentará a franqueza das discussões internas. Pesquisas indicam que com um sis‑ tema de tomada de decisão em grupo há um aumento do compartilhamento de dados e da argumentação crítica, assim como decisões de mais alta qualidade em relação a reuniões presenciais.26 Mas a anonímia também cria o potencial para mentiras, fofocas, insultos, ameaças, assédio e divulgação de informações sigilosas.27 desvantagens Entre as desvantagens da comunica‑ ção eletrônica estão a dificuldade de solução de problemas WEB 2.0 Um conjunto de aplicativos da internet que estimula o conteúdo fornecido pelos usuários e a colaboração entre eles. P: Perguntas para discussão • Quais as vantagens do Twitter como meio de comunicação eletrônica? E suas desvantagens? • Em que situações um gestor poderia considerar o Twitter um canal de comunicação apropriado? Quando poderia querer desencorajar o uso do site pelos funcionários? FONTES: Federal Emergency Management Agency, “Twitter FEMA Now: We Want to Hear from You”, site da organização, <http://www.fema.gov>, acessado em 19 de junho de 2009; Lev Grossman, “Iran Protests: Twitter, the Medium of the Movement”, Time, 17 de junho de 2009, <http://www.time.com>; Jamie Diamond, “The Twitter Guys”, New York Times, 8 de maio de 2009, <http://nytimes.com>; United Press International, “Don’t Fight Twitter, Disaster Expert Says”, site da UPI, 6 de março de 2009, <http://www.upi.com>; Claudine Beaumont, “New York Plane Crash: Twitter Breaks the News, Again”, London Telegraph, 16 de janeiro de 2009, <http://www.telegraph.co.uk>; Shira Ovide, “Twittering the USAirways Plane Crash”, The Wall Street Journal, 15 de janeiro de 2009, <http://blogs.wsj.com>; Erica Noonan, “Life Is Tweet”, Boston Globe, 4 de janeiro de 2009, <http://www.boston.com>; John Cox, “Tweets, Twits, and the California Earthquake”, Network World, 30 de julho de 2008, <http://www.networkworld.com>; Mathew Ingram, “Twitter Breaks Chinese Earthquake News”, Toronto Globe and Mail, 12 de maio de 2008, <http://www. theglobeandmail.com>; e Mitch Wagner, “Google Maps and Twitter Are Essential Information Resources for California Fires”, InformationWeek, 24 de outubro de 2007, <http://www.informationweek.com>. Quando um jato da U.S. Airways fez um pouso de emergência no Rio Hudson, em 2009, foi um usuário do Twitter que, com seu telefone móvel, tirou uma foto do avião sobre a água e a enviou para um site de compartilhamento de fotos no Twitter. A imagem surreal espalhou -se pelo mundo em minutos. Hoje, a Agência Federal de Gestão de Emergências dos Estados Unidos (FEMA, Federal Emergency Management Agency) mantém uma página no Twitter que usa para fornecer informações em tempo real sobre desastres, como as enchentes de 2009, no estado da Virgínia Ocidental. O Twitter representou um papel central na cobertura das eleições presidenciais de 2008 nos Estados Unidos, quando as cam- panhas de Obama e McCain usaram-no e o site estabeleceu páginas especiais sobre as eleições. Depois das contestadas eleições de 2009 no Irã e de um blecaute de notícias imposto pelo governo, ativistas usaram o Twitter para manter o resto do mundo a par dos acontecimentos. ❖ Cap 12_gestao_BATEMAN.indd 279 16/02/2012 15:19:34 280 Administração complexos que envolvam interação frente a frente mais pro‑ longada e a impossibilidade de captação de dicas sutis, não verbais ou de inflexão a respeito do que o comunicador está pensando ou transmitindo. Em negociações online – mesmo antes que comecem – as partes desconfiam mais umas das outras do que nas frente a frente. Depois da negociação (se comparados aos negociadores em pessoa), as pessoas costu‑ mam estar menos satisfeitas com os resultados obtidos, mesmo que sejam economicamente equivalentes nos dois casos.28 Embora as organizações dependam muito da comunica‑ ção por computador para a tomada de decisões em grupo, os grupos presenciais costumam levar menos tempo, tomar decisões de mais alta qualidade e ser mais satisfatórios para seus membros.29 O e ‑mail é mais adequado para mensagens de rotina que não exijam grandes quantidades de informa‑ ções complexas. São menos apropriados para informações confidenciais, solução de conflitos, ou negociações.30 Há casos de funcionários que relatam ter sido demitidos por e ‑mail e até por mensagem de texto.31 Essas formas mais impessoais de comunicação podem magoar, e um funcio‑ nário irritado pode facilmente encaminhar essas mensa‑ gens, o que muitas vezes tem um efeito “bola de neve” que pode criar embaraços para todos os envolvidos. Assim como o e ‑mail, as IMs podem ajudar as pessoas a trabalhar em conjunto de maneira produtiva, mas também podem gerar vazamentos de informações delicadas. As empresas preocupam ‑se com vazamentos e com re‑ presentações negativas e podem até exigir que os funcioná‑ rios concordem com diretrizes específicas antes de dar início a blogs. Algumas regras gerais que orientam os bloggers corporativos são:32 • Lembrar que blogs publicados no site de uma empresa devem evitar qualquer conteúdo que possa ser embaraçoso para ela ou divulgue infor‑mações sigilosas. • Ater ‑se ao assunto designado de qualquer blog patrocinado pela empresa. • Se contatado por membros da imprensa para uma matéria sobre um blog, obter autorização oficial antes de prosseguir. A maioria das comunicações eletrônicas é simples e fácil e algumas são anônimas. Por isso, uma consequência ine‑ vitável da comunicação eletrônica é o “flaming”: insultos, desabafos, denún‑ cias e outros comportamentos contrá‑ rios ao protocolo. E ‑mail, blogs e IMs fazem com que as pessoas sintam ‑se li‑ vres para enviar mensagens que jamais diriam a alguém frente a frente . Na au‑ sência de dicas não verbais, observações em tom de brincadeira podem ser le‑ vadas a sério, criando ressentimentos e arrependimentos. Algumas pessoas ten‑ tam esclarecer usando emoticons, como carinhas sorridentes, mas isso pode até piorar a situação.33 Além disso, mensa‑ gens confidenciais, inclusive detalhes sobre vidas privadas e observações in‑ sultuosas e embaraçosas, às vezes, tor‑ nam ‑se públicas por causa de vazamen‑ tos eletrônicos. A comunicação eletrônica tem outros perigos importan‑ tes.34 Pessoas e, às vezes, unidades diversas se apegam a diferentes canais como meio predileto. Por exemplo, uma divisão de engenharia pode usar mais o e ‑mail, mas o gru‑ po de projeto talvez fie ‑se principalmente em mensagens instantâneas e negligencie o e ‑mail. Outra desvantagem é que as mensagens eletrônicas às vezes são monitoradas ou lidas acidentalmente por pessoas que não aquelas a quem se destinam. Tenha muito cuidado com suas IMs: certifi que ‑se de não as enviar sem querer para a pessoa errada e de que não surjam na tela durante uma apresentação de Power‑ Point.35 Uma maneira de evitar o envio à pessoa errada é fechar todas as janelas de IM, a não ser as que estão sendo ativamente usadas para con versas. Apagar mensagens ele‑ trônicas – sejam elas de e ‑mail, IMs ou mensagens de texto no celular – não as destrói: elas ficam gravadas em algum lugar. Os destinatários as podem encaminhar a outras pessoas sem que o remetente original saiba disso. Muitas empresas usam softwares de monitoramento de e ‑mail e IM. E as mensagens podem ser usadas em juízo para indi‑ ciar pessoas e empresas. As mensagens eletrônicas enviadas do local de trabalho e a partir de dispositivos de proprie‑ dade da empresa são propriedade privada – mas pertencem ao dono do sistema, não ao remetente. A regra de ouro é: não apertar “enviar” a menos que sai‑ bamos que nos sentiríamos à vontade se a mensagem apare‑ cesse na primeira página do jornal e fosse lida pelas nossas mães, ou por um concorrente. E não é nada mau pedir que um colega leia e ‑mails não rotineiros antes de enviá ‑los. gestão da carga eletrônica Os meios de comunicação eletrônica parecem essenciais atualmente e as pessoas nem sabem mais como conseguiam viver sem eles. Mas o volume de comunicação pode ser esmagador, espe‑ cialmente quando não param mesmo durante reuniões, pausas ou depois da jornada de trabalho.36 Felizmente, há algumas regras gerais que podem nos aju‑ dar a gerir nossas comunicações eletrônicas.37 No caso da sobrecarga de informação, o desafio está em separar o que é Os norte-americanos estão cautelosos a respeito da sobrecarga eletrônica.38 Porcentagem de norte-americanos adultos que disseram que... As conexões de internet de alta velocidade e dispositivos conectados à rede me deixam conectado demais ao trabalho. É possível ficar viciado no BlackBerry ou outro computador de mão. 0 20 40 60 80 100 38% 70% Cap 12_gestao_BATEMAN.indd 280 16/02/2012 15:19:34 CAPÍTULO 12 | Comunicação 281 ANTIGAMENTE... Datilografar, eu? Ditar memorandos e cartas a secretárias tomava horas do tempo de comunicação dos gestores. AGORA... As redes de comunicação são de alta tecnologia e alcance global, permitindo fluxo instantâneo de mensagens. A foto mostra um sistema TelePresence que permite encontros cara a cara virtuais entre funcionários distantes. importante do rotineiro. Os gestores eficazes dão ‑se tempo para pensar nas questões empresariais importantes e não ficam atolados em responder a qualquer mensagem que pareça urgente, mas possa ser trivial. O essencial, aqui, é pensar estrategicamente em nossas metas, identificar os itens mais importantes e priorizar nosso tempo de acordo com as metas. Mais fácil falar do que fazer, é claro, mas é essencial e ajuda. A maioria dos programas de comunica‑ ção traz ferramentas que podem ser úteis para isso. Por exemplo, no caso das mensagens instantâneas, podemos usar o status “away” (ausente) quando queremos nos con‑ centrar em outra coisa. E a Lotus está desenvolvendo uma característica que permite que os usuários de e ‑mail saibam imediatamente se as mensagens em suas caixas de entrada são endereçadas apenas a eles ou a um grupo. Os e ‑mails coletivos muitas vezes são de baixa prioridade. É claro que a administração também tem um papel a representar nessa área. Alguns funcionários verificam suas mensagens cons‑ tantemente porque acreditam (corretamente, talvez) que é isso que seus chefes esperam deles. Os gestores podem aju‑ dar os funcionários limitando e comunicando os intervalos durante os quais esperam respostas rápidas.39 Mais algumas sugestões específicas: no caso do e ‑mail, não pressione “responder a todos” quando queremos apenas “responder”. Organize ‑se, criando pastas por assunto, prio‑ ridade ou remetente e marque as mensagens que exigem acompanhamento. Se recebermos uma cópia, não precisa‑ mos responder: é apenas para nos manter informados. Algumas empresas têm reconhecido os problemas do uso excessivo dos meios eletrônicos. Na U.S. Cellular, o vice ‑presi‑ dente ‑executivo Jay Ellison tomou a medida radical de proibir o uso de e ‑mail às sextas ‑feiras. Depois de alguma resistência, os funcionários perceberam que estavam construindo relacio‑ namentos mais sólidos por meio de telefonemas e visitas presen ciais.40 Na PBD Worldwide Fulfillment Services, as sextas ‑feiras sem e ‑mail ensinaram novos (ou antigos) hábi‑ tos de comunicação que estão se disseminando pelos outros dias da semana. O vo lume de e ‑mail na empresa caiu 75% e se tradu‑ ziu em maior eficiência.41 Por mais esmagadora que possa ser a comunicação eletrô‑ nica, podemos tomar medidas para simplificá ‑la. Por exemplo, uma equipe global de gestão de contas de clientes estabeleceu duas regras básicas: 1. Sempre que um membro comunicava ‑se com um cliente, enviava um relatório a todos os membros da equipe. 2. Foi designado para cada cliente um contato principal na equipe que era o único autorizado a discutir ou definir estratégias ou políticas para esse cliente. Se contatados por um cliente, os membros da equipe o encaminhavam ao contato correto. Essas medidas simplifi‑ caram os canais de comunicação e reduziram muito o número de mensagens contraditórias e confusas.42 o escritório virtual Muitos empreendedores tra‑ balham por meio de “escritórios” abertos na internet, usando seus computadores onde quer que estejam. Da mesma forma, grandes empresas como a IBM, a GE e a Prudential Califor‑ nia Realty estão reduzindo suas áreas de escritório e dando às pessoas laptops, softwares de telecomunicação, correio de voz e outras tecnologias de comunicação para que possam trabalhar virtualmente a qualquer hora e em qualquer lugar.43 Com base na filosofia de que o foco da administração deve ser sobre aquilo que as pessoas fazem, não o lugar onde se encontram, o escritório virtual é um escritório móvel no qual as pessoas podem trabalhar onde quer que estejam – em casa, no carro, no aeroporto, nos escritórios de clientes –, desde que disponham das ferramentas necessárias para comunicar ‑se com clientes e colegas. ESCRITÓRIO VIRTUAL Um escritório móvel que permite trabalhar em qualquer lugar, desde que se disponha de ferramentas de comunicação com clientes e colegas. Cap 12_gestao_BATEMAN.indd 281 16/02/201215:19:35 282 Administração Com o aumento do poder de processamento dos compu‑ tadores, algumas empresas começaram a levar o escritório virtual para um nível novo e mais interativo. Como já vimos, a Electric Sheep Company estabeleceu um escritório virtual no site Second Life, onde as pessoas podem usar avatares para interagir em um mundo online. Outra orga‑ nização com escritório virtual no Second Life é a filial de Washington da American Library Association. O escritório fica na Cybrary City do Second Life, perto de diversas bibliotecas. Os visitantes podem solicitar serviços de biblio‑ teconomia, como ajuda na construção de uma coleção ou para a consulta de referências.44 Pelo menos no curto prazo, os benefícios dos escritórios virtuais parecem substanciais. A economia realizada com locação e contas de água e luz é uma vantagem óbvia. Em Merced, estado da Califórnia, os 10 corretores da Prudential California Realty permanecem em contato uns com os outros e com seus clientes por meio da internet, compartilhando informações por meio de sites individuais e do e ‑mail.45 Um escritório virtual também permite que os funcionários tenham acesso a todas as informações de que necessitem da empresa, estejam eles em reunião, visitando um cliente, ou trabalhando em casa.46 Contratar e reter pessoas talentosas também fica mais fácil porque os escritórios virtuais permi‑ tem flexibilidade de jornada e podem até permitir reter um funcionário que queira se mudar – por exemplo, se seu côn‑ juge aceitar um novo cargo em outra cidade. Mas qual será o impacto de longo prazo sobre a produtivi‑ dade e a moral? Podemos correr o risco de perder um excesso de “momentos de humanidade” – aqueles encontros autênticos que só acontecem quando duas pessoas estão na presença uma da outra.47 Há quem deteste trabalhar em casa. Outras enviam – e recebem – e ‑mail e correio de voz no meio da madrugada. Algumas trabalham o dia todo, mas sentem que não estão fazendo o bastante. Intervalos muito longos nas proximidades das ferramentas técnicas de trabalho podem causar desgaste. E, em algumas empresas, a supervisão direta nos escritórios é necessária para manter a qualidade do trabalho, especialmente quando os funcionários são inexperientes e precisam de orien‑ tação. O escritório virtual exige mudanças das pessoas e apre‑ senta desafios técnicos. Assim, embora esteja na moda e seja útil, não irá substituir inteiramente os escritórios reais e o tra‑ balho presencial. A Accenture, a gigante da consultoria, tem escritórios em 150 cidades, mas seus funcionários passam a maior parte do tempo nos ambientes de trabalho dos clientes. Sob condições assim, cultivar o trabalho em equipe é difícil para os gestores e desenvolver uma carreira é desafiante para os consultores, que podem ter um cliente em um continente, um supervisor em outro e uma equipe de apoio em um terceiro. Para alimentar a comunicação e manter fortes relacionamentos de tra‑ balho, a Accenture atribui a cada novo consultor um conselheiro de carreira, um funcionário graduado na mesma especialidade que ajuda o novo contra‑ tado a desenvolver a carreira. Por exemplo, Keyur Patel é consultor de varejo na Accenture. Esteja ele em visita a um cliente em São Francisco ou em casa, em Atlanta, Patel fala com seu conselheiro de carreira cerca de uma vez por mês. O conselheiro sugeriu que Patel passasse as sextas ‑feiras no escritório de Atlanta, formando ligações pessoais com os colegas dali. Patel também tem de manter o contato com seu gestor, que fica em Detroit. Eles falam ao telefone mensalmente. A Accenture treina seus gestores na lide‑ rança de equipes virtuais. Eles aprendem a agendar teleconferências que res‑ peitem as diferenças de fuso horário e a dar bastante espaço para conversas casuais que mantêm o senso de pertencimento. A Accenture também usa um sistema de conferências da Web para realizar reuniões online, além de um site de relacionamentos da empresa chamado People Pages, no qual os fun‑ cionários podem ler os perfis uns dos outros e enviar mensagens.48 Situação Escolha ruim Melhor escolha 1 Memorando Reuniões em grupos pequenos Raciocínio: O memorando não oferece o potencial de feedback necessário para explicar o que pode ser considerado informação obscura. Ademais, com esses funcionários existe a possibilidade de problemas de analfabetismo. Uma reunião com o grupo irá permitir uma explicação oral depois da qual os participantes possam fazer perguntas sobre quaisquer materiais complexos. 2 Telefone Correio de voz ou eletrônico Raciocínio: Para uma mensagem simples como essa, não há necessidade de usar um meio rico quando outro mais enxuto basta. 3 E-mail, correio de voz Pessoalmente ou telefone Raciocínio: Em situações que exijam persuasão, o remetente precisa ser capaz de adaptar rapidamente a mensagem ao destina- tário para fazer frente a contestações. O correio eletrônico ou de voz não permite isso. A comunicação pessoalmente oferece o máximo de flexibilidade ao remetente. O telefone é a segunda melhor alternativa. 4 Teleconferência Conferência por computador Raciocínio: Uma teleconferência tende a exagerar as diferenças de status e personalidade entre os engenheiros. A conferência por computador permitiria que o foco da interação se desse sobre a qualidade das ideias. Ademais, esses meios ainda permitem rapidez de feedback. 5 Boletim Vídeo Raciocínio: Se os funcionários já estiverem convencidos da eficiência do sistema atualizado, provavelmente poderemos usar um boletim. Mas um vídeo transmite graficamente informações que exijam demonstrações e ensina os procedimentos às pessoas. Meios sugeridos para determinadas situações T A B E L A FONTE: Extraído de Communicating for Managerial Effectiveness, de P. G. Clampitt. Copyright © 1991 by Sage Publications, Inc. Reproduzido com permissão de Sage Publications, Inc. sistema de conferências da Web para realizar reuniões online, além de um site de sistema de conferências da Web para realizar reuniões online, além de um site de Cap 12_gestao_BATEMAN.indd 282 16/02/2012 15:19:35 CAPÍTULO 12 | Comunicação 283 Uso de meios “mais ricos” para mensagens complexas ou críticas Alguns canais de comunicação transmitem mais informa‑ ções do que outros. O volume de informação transmitido por um meio é chamado de riqueza do meio.49 Quanto mais informações ou dicas um meio enviar ao destinatário, maior sua “riqueza”.50 Os meios mais ricos são mais pessoais do que tecnológicos, fornecem feedback rapidamente, permitem o uso de muita linguagem descritiva e enviam diferentes tipos de dicas. A comunicação cara a cara é o mais rico dos meios porque oferece, além das palavras, diversas dicas: tom de voz, expressão facial, linguagem corporal e outros sinais não ver‑ bais. Também permite uma linguagem mais descritiva do que um memorando, por exemplo. Ademais, cria mais opor‑ tunidades para que o destinatário forneça feedback ao reme‑ tente e faça ‑lhe perguntas, transformando a comunicação de unilateral em bilateral. O telefone oferece menos riqueza do que a comunicação presencial; o correio eletrônico, ainda menos, e os memoran‑ dos são os mais pobres dos meios. De modo geral, devemos enviar mensagens mais difíceis e fora do comum por meios mais ricos, enviar mensagens simples e rotineiras pelos mais pobres e usar multimeios para mensagens importantes que exijam atenção e que queremos garantir que as pessoas enten‑ dam.51 Também precisamos considerar fatores como custo, o meio preferido do destinatário e o estilo preferido de comuni‑ cação em nossa empresa.52 Nas situações adiante, com base na mensagem e no público, que canal escolheríamos?53 1. Uma construtora de médio porte quer anunciar um novo programa de benefícios para os funcionários. 2. Um gestor deseja confirmar um horário de reunião com 10 funcionários. 3. Em uma seguradora de médio ‑porte, aumentar o entusiasmo a respeito de um programa que peçaa funcionários de diferentes departamentos que trabalhem em uma mesma equipe de projeto. 4. Engenheiros pertencentes a um grupo geograficamente disperso dese‑ jam trocar ideias de projeto. 5. Descrever uma versão simples, mas um pouco detalhada e atualizada de um sistema de correio de voz para mil funcionários geograficamente dispersos. Depois, comparemos nossas ideias com as recomendações da Tabela 12.1. OA12.4 Resumir maneiras de tornar-se um melhor “remetente” e “des- tinatário” da informação. APRIMORAMENTO DAS HABILIDADES DE COMUNICAÇÃO Nos últimos anos, os funcionários têm ficado decepciona‑ dos com as habilidades de comunicação dos formados em universidades. Demonstrar capacidade de comunicação efi‑ caz torna os candidatos mais atraentes e os distingue dos demais. Há muito que po‑ demos fazer para melhorar nossas habilidades de comu‑ nicação tanto como remeten‑ tes quanto como destinatários. Os remetentes podem melhorar suas apresentações, sua redação, sua escolha de palavras e sua linguagem corporal Para começar, saibamos que uma comunicação franca e direta é importante, mas muito rara. Os presidentes de empresas muitas vezes são treinados em como ajustar suas mensagens a diferentes públicos – a comunidade investi‑ dora, os funcionários ou o conselho de administração. Essas comunicações provavelmente não serão muito diretas. O foco das mensagens pode variar, mas elas não podem ser incongruentes. As pessoas devem ser capazes de identificar nosso ponto de vista, nosso raciocínio e nossas intenções.54 Para além desses elementos básicos, os remetentes podem melhorar suas habilidades na realização de apresentações e redações persuasivas, no uso da linguagem e no envio de mensagens não verbais. A guru financeira Suze Orman foi classificada como uma das melhores apresentadoras pela revista BusinessWeek por sua capacidade de transmitir informações de maneira facilmente compreendida. Ela fornece informações financeiras usando uma linguagem clara, concisa e direta. Os grandes comunicadores do mundo dos negócios usam linguagem simples para discutir questões complexas. RIQUEZA DO MEIO A capacidade de transmissão de informação de um canal de comunicação. Cap 12_gestao_BATEMAN.indd 283 16/02/2012 15:19:36 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Dica do professor O vídeo a seguir mostra que é possível melhorar a efetividade da comunicação interna por meio da escolha do instrumento de comunicação mais adequado. A comunicação tem variações. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/bc8055bc9d0a590431e5c038930bccb5 Na prática Falhas de comunicação podem causar problemas simples ou mesmo grandes prejuízos. Geralmente, as causas são falta de informações ou equívocos na sua interpretação. A troca de informações entre o cliente e a equipe precisa ser clara, objetiva e direta. Às vezes, entretanto, o erro acontece, e o foco deve ser direcionado para a correção. Um instrumento de comunicação oral permite a correção instantânea ou em um espaço muito curto de tempo. A comunicação escrita, por outro lado, carrega essa desvantagem – a correção exige tempo e, dependendo do equívoco criado, este tempo é mais do que suficiente para alastrar uma falha e trazer problemas desastrosos à organização. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Instrumentos e meios da comunicação interna nas organizações Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Fundamentos da Administração Estratégica - A Busca pela Vantagem Competitiva Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! https://www.rhportal.com.br/artigos-rh/instrumentos-e-meios-da-comunicao-interna-nas-organizaes/ Mensagens e Relatórios Eficazes Apresentação A redação de relatórios empresariais pode parecer, à primeira vista, difícil, o e o documento final, complexo de ler, repleto de dados numéricos e informações em excesso. Se você pensa assim, saiba que há técnicas para tornar um relatório eficaz, além de eficiente. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar a importância desses documentos dentro da empresa e como é possível a redação de um relatório confiável e eficaz. Se forem planejados, mensagens e relatórios oferecem soluções, estratégias e dados confiáveis para se construir ações importantes na Organização. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as etapas para construção de um relatório.• Reconhecer as diferenças entre fontes de dados primários e secundários.• Selecionar formas de levantamento de dados e avaliação de fontes.• Infográfico Para a construção de relatórios eficazes é necessário a inclusão de fonte de dados de cunho primário e de cunho secundário. Observe as vantagens e desvantagens na escolha para a utilização deste conjunto de informação. Não esqueça que tudo vai depender do objetivo e público-alvo do relatório. Conteúdo do livro No capítulo Mensagens e Relatórios Eficazes, do livro Governança Corporativa, você poderá aprender sobre a importância das mensagens e dos relatórios no contexto organizacional, bem como conhecer algumas ferramentas que auxiliam no levantamento de dados e na construção desses importantes condutores de informação e que proporcionam uma comunicação mais assertiva. Boa leitura. Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147 G721 Governança Corporativa [recurso eletrônico] / Giancarlo Giacomelli... [et al.] ; [revisão técnica: Gisele Lozada]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. Editado também como livro impresso em 2017. ISBN 978-85-9502-169-3 1. Governança. 2. Administração pública. I. Giacomelli, Giancarlo. CDU 336.773 U N I D A D E 4 Mensagens e relatórios eficazes Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar as etapas para construção de um relatório. � Reconhecer as diferenças entre fontes de dados primários e secundários. � Selecionar formas de levantamento de dados e avaliação de fontes. Introdução A governança tem uma relação íntima com a comunicação empresarial. Na prática, a transparência, a assertividade e a eficácia no trato das in- formações são ferramentas indispensáveis para uma boa governança. É por meio de relatórios confiáveis e eficazes que os gestores conseguem desempenhar adequadamente suas funções, podendo assim atuar em prol da organização, buscando melhores resultados para o negócio. Neste texto, você vai aprender sobre a importância das mensagens e dos relatórios no contexto organizacional, bem como conhecer algumas ferramentas que auxiliam no levantamento de dados e na construção desses importantes condutores de informação e que proporcionam uma comunicação mais assertiva. Construindo relatórios eficazes A governança tem uma característica central: ela só existe porque os sócios e investidores não estão envolvidos em todas as frentes do negócio. Se as figuras que definem o futuro da organização pudessem acompanhar diariamente e de perto todas as operações da empresa, a governança seria desnecessária, afinal, seu objetivo é zelar pelos melhores interesses da organização. No entanto, a realidade mostra que negócios que crescem acabam se ca- pilarizando, ou seja, passam a ter a sua operação pulverizada em diferentes setores e cidades, ou até mesmo em países distintos. Assim, garantir que a operação do negócio esteja ocorrendo conforme o previstoe que os valores da organização estejam sendo respeitados passa a ser uma gigantesca tarefa da governança. Só é possível realizar esta tarefa com a adoção de rotinas de comunicação eficazes. Dessa forma, os relatórios emitidos pelas filiais ou áreas do negócio se tornam reportes da realidade que ajudam os dirigentes da operação a en- tender como as rotinas estão sendo realizadas e quais resultados estão sendo atingidos. Nesse contexto, todos os integrantes da empresa estão envolvidos de alguma forma com a construção de relatórios. Enquanto alguns autores definem relatórios como documentos que apresen- tam qualquer tipo de informação, ou ainda que façam parte apenas do âmbito formal, Flatley, Lentz e Rentz (2014) os definem como “uma comunicação ordenada e objetiva de informações reais que tem uma finalidade empre- sarial”. Segundo os autores, um relatório é uma comunicação “preparada com cuidado”, cuja finalidade é a abordagem de fatos de maneira imparcial, “sem a influência humana” (FLATLEY; LENTZ; RENTZ, 2014, p. 186). Para Flatley, Lentz e Rentz (2014, p. 186), a palavra comunicação tem sentido amplo e engloba “todos os meios de transmitir sentido: a fala, a escrita, o uso de elementos visuais ou uma combinação destes”. Todos esses aspectos possibilitam a distinção entre os relatórios e as trocas casuais de informações. Etapas para a produção de um relatório A produção de um relatório eficaz pode ser facilitada seguindo-se algumas etapas, como a determinação do problema, a determinação dos fatores e a busca por informações. O início da produção parte da definição do objetivo ou problema do relatório. É fundamental entender para quem o relatório se destina, quais são as informações esperadas e qual será o nível de detalhamento e o escopo. Para se ter uma imagem clara do problema é necessário reunir informações que possibilitem entendê-lo, além de usar a lógica. Reunir essas informações pode envolver muitas tarefas, dependendo do tipo de problema. Alguns podem Mensagens e relatórios eficazes356 exigir a coleta de dados e informações nos arquivos da empresa, a discussão do problema com especialistas, a análise de registros e o diálogo com aqueles que autorizam ou demandam o relatório. Deve-se prosseguir com essa busca até a obtenção de todas as informações necessárias para a compreensão do problema. Isto é o que se pode chamar de análise preliminar, que consiste na etapa imediatamente anterior ao início da produção do relatório e está diretamente relacionada com a apresentação do problema e o entendimento claro da finalidade do relatório. Segundo Flatley, Lentz e Rentz (2014), grande parte dos relatórios apresenta uma declaração do problema e da finalidade do relatório. Para os autores, essa manifestação é importante para o planejamento e a redação do documento e para orientar o leitor sobre “o caminho que o relatório vai tomar” (FLATLEY; LENTZ; RENTZ, 2014, p. 187). Ela também força o autor a refletir sobre os aspectos essenciais do relatório. Conforme os autores, “essa declaração é um guia que o mantém [o autor] no caminho do projeto. Ela pode ser revisada, aprovada ou avaliada por terceiros, cuja ajuda no processo é valiosa” (FLA- TLEY; LENTZ; RENTZ, 2014, p. 187). Ainda conforme Flatley, Lentz e Rentz (2014), o problema e a finalidade do relatório podem mudar durante a investigação, como acontece em outros tipos de redação empresarial, e por isso é importante a revisão. Segundo os autores, esses aspectos “são componentes essenciais da introdução do documento, da carta de apresentação ou do resumo executivo” (FLATLEY; LENTZ; RENTZ, 2014, p. 187). Segundo Flatley, Lentz e Rentz (2014), a declaração do problema “é uma apresentação clara da razão ou da motivação que você tem para redigi-lo”. Em geral ela é redigida objetivamente, como na frase “as vendas da empresa estão caindo” (FLATLEY; LENTZ; RENTZ, 2014, p. 187). Por sua vez, ainda conforme os autores, a declaração de finalidade, tam- bém chamada objetivo ou meta da investigação, é geralmente redigida como uma oração iniciada com um verbo no infinitivo ou como uma pergunta. Os autores citam o seguinte exemplo: “se o problema é que a Companhia X quer saber por que as vendas estão caindo, sua declaração de finalidade poderia ser ‘determinar as causas da queda nas vendas da Companhia X’ ou ‘por que as vendas da Companhia X estão caindo?’” (FLATLEY; LENTZ; RENTZ, 2014, p. 187). 357Mensagens e relatórios eficazes O relatório deve ser capaz de transmitir uma determinada mensagem. Ou seja, ele precisa ser eficaz, atingindo seu objetivo de transmitir uma informação relevante, útil e confiável. Um relatório pode também ser considerado eficiente, ao utilizar e/ou oferecer um volume de dados e informações adequados, que varia conforme cada caso. Dessa forma, o relatório será efetivo na transmissão da mensagem a qual se destina. No contexto da governança corporativa, a produção de relatórios está relacionada às informações prestadas pelos gestores aos acionistas e demais stakeholders da organização. Assim, os objetivos indicados terão caráter informativo e de atualização, e os relatórios geralmente são estruturados em torno de modalidades como: � apresentação do modelo de governança institucional; � apresentação da estrutura da propriedade societária; � apresentação da estrutura de administração; � apresentação das principais operações e stakeholders; � informações sobre a Assembleia Geral; � informações contábeis, financeiras e relatórios de auditoria. No link a seguir, você pode conferir um exemplo de rela- tório de governança do grupo Santander (2015): https://goo.gl/AgShxc A elaboração de cada informativo seguirá requisitos de periodicidade e transparência, definidos por diretrizes como os padrões US GAAP e BR GAAP, que você verá mais adiante neste texto, ou ainda por meio de recomen- Mensagens e relatórios eficazes358 dações emitidas por órgãos como o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2017). Conheça mais sobre o IBGC e suas valiosas recomendações para a adoção das boas prá- ticas de governança corporativa no site do instituto, especialmente na aba “Publicações”: https://goo.gl/85ze4u Fontes de dados primárias e secundárias Tendo claro o objetivo do relatório, inicia-se o trabalho de coleta de dados. Essa etapa é essencial, uma vez que o objetivo da maioria dos relatórios está relacionado a traduzir em informações relevantes os dados que são de difícil acesso para os interessados, ou cuja coleta e processamento demandariam muito tempo. A origem dos dados da coleta pode ter fonte primária ou secundária. Os dados de fonte primária são aqueles que não passaram por qualquer tipo de análise ou coleta anteriormente. Sendo assim, são coletados para atender a um propósito específico. Já os dados de fonte secundária são originários de dados já coletados anteriormente. Normalmente, essas informações são originárias de estudos já realizados, de relatórios produzidos por outra área da própria empresa, ou até mesmo oriundas de fontes externas. A prioridade entre fontes primárias e secundárias pode variar, de acordo com o cenário ou contexto no qual os dados serão empregados. Relatórios de pesquisa voltados para a produção acadêmica ou para a análise de cenários e estudos, por exemplo, encontram nas fontes secundárias sua principal ori- gem de dados, tendo em vista que estas costumam ser fontes de mais rápido acesso e de menor custo. Por outro lado, os relatórios destinados ao contexto da governança corporativa dão prioridade a aspectos como confiabilidade e autenticidade das informações e, por isso, os dados primários tendem a ser mais relevantes nessa finalidade. 359Mensagens e relatórios eficazes Assim, as etapas iniciais dos relatórios de gestão costumam ter como base a coleta de dados provenientes do local em que os fatos geradores dos dados ocorreram, ou seja, de fontes primárias. Um exemplo são as informaçõessobre vendas, que são relatadas diretamente pelas equipes ou sistemas. No entanto, os relatórios de fontes secundárias também são muito presentes no contexto da governança. Eles servem como parâmetros comparativos, permitindo avaliar o desempenho da organização e viabilizando a comparação de desenvolvimento da empresa ao longo do tempo ou até mesmo com outras empresas de seu segmento, ou com concorrentes. É importante reforçar a preocupação da governança com relação à origem dos dados. Casos relevantes de desvios éticos – como o famoso Caso Enron – só foram possíveis pela adulteração e manipulação de dados pelos responsáveis, de forma a enganar os investidores. Confira mais informações sobre o Caso Enron e seu efeito na governança corporativa no box Saiba Mais. Apesar de ter sido um escândalo causador de grandes prejuízos para muitos envolvidos, o Caso Enron em muito colaborou para o despertar da importância da governança corporativa. Confira a matéria do site Estadão no link a seguir para entender o caso (AGENCIA ESTADO, 2002): https://goo.gl/tDEFvE Nesse sentido, a governança avança para o estabelecimento de padrões de elaboração e apresentação de relatórios contábeis, com a intenção de viabilizar e facilitar o trabalho de análise por parte de investidores e auditores independentes. O padrão mais utilizado mundialmente é o US GAAP. Acrônimo de “ge- nerally accepted accounting principles”, GAAP pode ser traduzido como “princípios contábeis geralmente aceitos”. Como sua nomenclatura evidencia, o GAAP é voltado ao âmbito contábil, e não fiscal ou tributário, como muitos podem pensar. As letras que precedem a sigla indicam o país onde é aplicado. Ou seja, US GAAP se refere ao padrão normalmente aceito nos Estados Uni- dos, enquanto o BR GAAP é o padrão normalmente utilizado no Brasil. Eles possuem várias semelhanças e algumas legislações específicas de cada país. Mensagens e relatórios eficazes360 No site Capital Consultoria, indicado no link a seguir, você pode conhecer melhor a principal lei que norteia a contabilidade no Brasil, a Lei das Sociedades por Ações (CAPITAL CONSULTORIA, 2014): https://goo.gl/M1aDCU Você também pode acessar diretamente a Lei das SAs no site do Planalto (BRASIL, 1979): https://goo.gl/z6cikE O US GAAP é o padrão mundial de apresentação de relatórios contábeis. No entanto, ele não substitui as nor- mas IFRS – International Financial Reporting Standards, ou Padrão Internacional de Relatórios Financeiros. Para conhecer as diferenças e semelhanças entre o IFRS, o US GAAP e o BR GAAP, leia o artigo “IFRS x BR GAAP x US GAAP: como as normas da Contabilidade Internacional influenciam na gestão orçamentária?”, indicado no link a seguir (CAMARGO, 2017): https://goo.gl/VX8xzZ Buscando fontes confiáveis de dados Os relatórios de governança têm compromisso com a veracidade das informa- ções prestadas. A validação destas informações é frequentemente delegada ou exercida pelos auditores. Como vimos anteriormente, a fonte geradora dos dados e evidências também contribui para a confiabilidade dos mesmos. Nesse contexto, é im- portante saber que existem: 361Mensagens e relatórios eficazes � processos que estão sob o controle do auditor, permitindo alta possibili- dade de avaliação e contendo uma baixa probabilidade de manipulação dos dados; � processos que estão em grande parte sob o controle e a influência de diretores, com alta probabilidade de manipulação e média possibilidade de avaliação por parte do auditor; � processos que estão sob o controle de terceiros, com média possibilidade de manipulação e baixa possibilidade de avaliação por parte do auditor. Conforme Avalos (2009), no que diz respeito a decisões relacionadas às fontes dos dados, algumas questões devem ser levadas em conta, conforme listadas a seguir. � Custo: avaliação do custo frente aos benefícios derivados da obtenção de determinada evidência. � Importância relativa: identificação do grau de influência da evidência para a análise de determinada situação, bem como sua relevância para o parecer geral do relatório. � Risco provável: avaliação da possibilidade de erro na análise do fato e na obtenção de informações deficientes ou incompletas. � Autenticidade: avaliação da veracidade em todas as características. � Verificabilidade: necessidade de os dados serem passíveis de validação por diferentes auditores. � Neutralidade: compromisso de uma fonte de informação ser livre de influências ou prejuízos. Com relação aos relatórios demandados pelo sistema de governança cor- porativa, as principais fontes de informações relevantes para os processos de governança serão: � os livros de contabilidade, que constituem a forma mais essencial de evidência – a verificação de seus registros é considerada um requisito mínimo da governança e das práticas de auditoria; � os documentos, sempre condicionados à fonte; � os estudos gerais sobre a empresa; � as indagações orais, enquetes ou investigações; � as inspeções. Mensagens e relatórios eficazes362 Além destas, ainda podem existir outras fontes de dados, dependendo do segmento da empresa, havendo grandes diferenças entre organizações privadas e órgãos públicos. No entanto, as premissas para validação das fontes são válidas para ambos os contextos. O aspecto central a ser considerado é o objetivo da governança enquanto mecanismo de comunicação transparente entre a organização e suas principais partes interessadas. 1. Indique a alternativa correta em relação a um relatório. a) É uma comunicação objetiva e definida, que deve ser utilizada apenas no formato escrito. b) É apenas uma comunicação informal que apresenta informações de finalidade corporativa. c) É o mesmo que uma troca casual de informações, já que ambos são preparados com cuidado. d) É uma comunicação ordenada e objetiva, que inclui a apresentação de informações de finalidade empresarial. e) A finalidade de um relatório é a apresentação de fatos sob a perspectiva da pessoa que o produziu. 2. No que diz respeito às etapas a serem seguidas, e que são importantes para a produção de relatórios eficazes, é correto afirmar: a) a primeira etapa recomendada para a produção do relatório consiste na coleta de dados. b) a definição do problema é uma importante etapa, realizada após a coleta de dados e determinação dos fatos. c) uma importante etapa consiste na determinação dos fatores, durante a qual é definido o objetivo do relatório. d) definição do problema, determinação dos fatores e a coleta de informações são algumas das principais etapas. e) é durante a etapa de coleta de informações que o responsável pela produção do relatório busca entender para que e para quem o relatório se destina. 3. Marque a alternativa correta em relação às fontes primárias e secundárias na coleta de dados para escrever relatórios: a) as fontes são caracterizadas em função da ordem em que as informações são encontradas: as que são obtidas primeiro são consideradas primárias; as secundárias são os resultados encontrados na sequência. b) os dados são considerados de fonte primária quando coletados pela primeira vez para atender a um objetivo específico, enquanto que os 363Mensagens e relatórios eficazes dados de fontes secundárias são originários de dados já coletados anteriormente. c) não há diferenças entre fontes primárias e secundárias. O que as caracteriza são as formas como os dados são pesquisados. d) fontes primárias e secundárias dizem respeito ao uso de dados que já foram coletados em outras pesquisas, sendo as primárias mais importantes que as secundárias. e) fontes primárias e secundárias dizem respeito ao uso de dados que já foram coletados em outras pesquisas, sendo as secundárias mais importantes que as primárias. 4. A governança vem avançando no estabelecimento de padrões de elaboração e apresentação de relatórios, contexto que inclui também os relatórioscontábeis. Neste sentido, é correto afirmar: a) a governança recomenda que cada país estabeleça um modelo de demonstrações contábeis voltado especificamente para sua legislação, o que acaba dificultando a existência de um padrão internacional. b) a governança prima pela padronização dos relatórios e demonstrações contábeis, inclusive o âmbito internacional. c) o IBGC corresponde ao modelo de relatório contábil mais aceito no mundo. d) o US GAAP corresponde ao padrão de relatórios mais utilizado no Brasil. e) embora integrante do contexto contábil, o GAAP é mais voltado ao âmbito fiscal e tributário. 5. Em relação à confiança nos dados utilizadas para escrever relatórios, existem diversas questões que devem ser levadas em consideração na decisão de escolha das fontes, a fim de garantir relatórios eficazes e confiáveis. As alternativas abaixo apresentam algumas destas questões. Assinale a alternativa correta. a) Importância relativa diz respeito à neutralidade da fonte. b) A verificabilidade diz respeito à verificação de autenticidade dos dados. c) A análise do custo está diretamente relacionada aos benefícios que os dados podem promover. d) A verificabilidade diz respeito à possibilidade de erro nos dados. e) A autenticidade diz respeito à ausência de influências sobre os dados. Mensagens e relatórios eficazes364 AGENCIA ESTADO. O escândalo da Enron - saiba o que está acontecendo. Estadão, São Paulo, 2002. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,o- -escandalo-da-enron-saiba-o-que-esta-acontecendo,20020207p24521>. Acesso em: 27 out. 2017. AVALOS, J. M. A. Auditoria e gestão de riscos. São Paulo: Saraiva, 2009. BRASIL. Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Brasília, DF, 1979. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L6404consol.htm>. Acesso em: 27 out. 2017. CAMARGO, R. F. IFRS x BR GAAP x US GAAP: como as normas da Contabilidade Inter- nacional influenciam na gestão orçamentária? Treasy, Joinville, 2017. Disponível em: <https://www.treasy.com.br/blog/ifrs-x-br-gaap-x-us-gaap-gestao-orcamentaria>. Acesso em: 27 out. 2017. CAPITAL CONSULTORIA. O que é BR GAAP? Contabilidade, Rio de Janeiro, 2014. Dispo- nível em: <https://capitalconsultoria.wordpress.com/2014/04/28/o-que-e-br-gaap/>. Acesso em: 27 out. 2017. FLATLEY, M.; RENTZ, K.; LENTZ, P. Comunicação empresarial. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. 360p. (Série A). INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. São Paulo: IBGC, 2017. Dis- ponível em: <http://www.ibgc.org.br/index.php/>. Acesso em: 27 out. 2017. SANTANDER. Relatório de Governança Corporativa. São Paulo: Santander SA, 2005. Disponível em: <https://www.santander.com/csgs/StaticBS?ssbinary=true&blobta ble=MungoBlobs&blobkey=id&SSURIsscontext=Satellite+Server&blobcol=urldata &SSURIcontainer=Default&SSURIsession=false&blobwhere=1278680392906&blob header=application%2Fpdf&SSURIapptype=BlobServer>. Acesso em: 27 out. 2017. Leitura recomendada BRASIL. Tribunal de Contas da União. Referencial básico de governança aplicável a órgãos e entidades da administração pública.Brasília, DF: TCU, 2014. Disponiivel em: <http:// portal.tcu.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?inline=1&fileId=8A8182A24F0A 728E014F0B34D331418D>. Acesso em: 27 out. 2017. 365Mensagens e relatórios eficazes Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Dica do professor O vídeo a seguir apresenta dicas de como estruturar relatórios eficazes de acordo com o seu nível de formalidade. Partindo de um documento completo com capa, folha de rosto e sumário, um relatório pode chegar à simplicidade de ser enviado por e-mail. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/3e5723f5c08c50cdd3e35c14b9c2bf08 Na prática Em pequenas empresas, relatórios podem ser tratados com informalidade, mas são igualmente importantes. Imagine, por exemplo, que o proprietário de uma pequena farmácia pediu ao seu gerente que lhe enviasse um e-mail com as principais ocorrências da semana que esteve fora. Ainda que possa parecer uma atividade simples, esta solicitação se trata de um relatório de atividades da empresa durante um período específico. O gerente pode pesquisar no banco de dados os números das vendas, conversar com os demais funcionários e reportar detalhes importantes da operação da empresa nestes dias. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: As Obrigações Contábeis das Sociedades Anônimas de Capital Aberto brasileiras Acompanhe neste artigo uma análise sobre o grau de conhecimento dos profissionais que atuam nas empresas de grande porte a partir da pergunta: Quais são as obrigações contábeis das sociedades anônimas brasileiras? Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Tipos de relatório padrão Veja esta coleção de tipos de relatórios padrão que podem ser adaptados aos seus requisitos específicos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Fundamentos de comportamento organizacional Aprofunde os seus conhecimentos por meio da leitura deste livro que aborda os principais fundamentos da área. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! https://seer.faccat.br/index.php/contabeis/article/download/67/62 https://help.salesforce.com/articleView?id=standard_report_folders.htm&type=5 A comunicação como ferramenta estratégica de gestão Apresentação Para que uma empresa possa desenvolver suas atividades e atingir aos seus objetivos, é necessário realizar diversas etapas e níveis de planejamento, desde questões mais simples até as mais complexas. Desta forma, pode-se definir temas relevantes para a vida da empresa, como de que forma se pode reduzir custos, como ampliar a produção, como se tornar mais competitivo, de que forma levar a mensagem para o consumidor. Entretanto existe outro ponto tão importante como elaborar este pensamento estratégico, este planejamento. Trata-se da comunicação. De pouco vale se estabelecer todas as etapas corretas de um processo de planejamento, elaborar da melhor forma as estratégias de uma organização se não se tiver também um cuidado com o modo que se vai estabelecer a comunicação. A comunicação pode ser de diferentes formas, para atingir diferentes públicos desta organização, sejam eles internos ou externos. Do mesmo modo, é importante que se perceba as diversas etapas que envolvem um processo de comunicação, e se avaliar as diferentes formas com que se estabelece essa comunicação. Por tudo isso, os profissionais devem ter em mente a importância deste processo tão significativo para uma empresa. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender sobre a importância da comunicação como ferramenta estratégica de gestão de uma empresa. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a importância da comunicação como ferramenta estratégica para os negócios.• Identificar as etapas de um processo de comunicação.• Avaliar as diferentes formas de comunicação na organização.• Infográfico Todas as ações de comunicação devem ser estrategicamente estruturadas. Observe, no esquema a seguir, como um processo de comunicação se estrutura, desde a ideia até o que foi dito ser colocado em uso. Essa organização vai ajudar você a planejar ações de comunicação na empresa da qual faz parte, entendendo os passos desse processo. Conteúdo do livro Quando nos comunicamos, o desejo é ser entendido. Isso parece simples? Pois não é! Atingir esse objetivo pode ser mais complexo do que você imagina, e um erro pode comprometer toda a estratégia desenhadapara uma empresa. O livro Comportamento organizacional: o comportamento humano no trabalho é a base teórica desta Unidade de Aprendizagem. O material traz informações detalhadas sobre os ruídos que dificultam a comunicação. Você vai perceber que as barreiras não são somente físicas e pessoais, elas também são semânticas e emocionais. Leia do item Problemas potenciais até a Figura 3.3, onde termina o item O impacto das barreiras no processo de comunicação. Boa leitura. Comportamento Organizacional O Comportamento Humano no Trabalho Tradução da Décima Segunda Edição John W. Newstrom Comportamento Organizacional: O Comportamento Humano no Trabalho Tradução da décima segunda edição ISBN 978-85-7726-028-7 A reprodução total ou parcial deste volume por quaisquer formas ou meios, sem o consentimento escrito da editora, é ilegal e confi gura apropriação indevida dos direitos intelectuais e patrimoniais dos autores. Copyright © 2008 de McGraw-Hill Interamericana do Brasil Ltda. Todos os direitos reservados. Av. Brigadeiro Faria Lima, 201 – 17o andar São Paulo – SP – CEP 05426-100 Todos os direitos reservados. © 2008 de McGraw-Hill Interamericana Editores, S.A. de C. V. Prol. Paseo de la Reforma 1015 Torre A Piso 17, Col. Desarrollo Santa Fe, Delegación Álvaro Obregón México 01376, D. F., México Tradução da décima segunda edição em inglês de Organizational Behavior: Human Behavior at Work, 12th edition © 2007 de McGraw-Hill/Irwin, uma unidade de negócios de The McGraw-Hill Companies, Inc. ISBN da obra original: 978-0-07-287546-1 Diretor-geral: Adilson Pereira Editora de Desenvolvimento: Alessandra Borges Produção Editorial: Lummi • Editorial • Design Supervisora de Produção: Guacira Simonelli Preparação de Texto: Marcos Soel Silveira Santos Editoração Eletrônica: Crontec Ltda. Índice para catálogo sistemático: 1. Análise organizacional : Administração 658.001 2. Estudos organizacionais : Administração 658.001 Administração A McGraw-Hill tem forte compromisso com a qualidade e procura manter laços estreitos com seus leitores. Nosso principal objetivo é oferecer obras de qualidade a preços justos e um dos caminhos para atingir essa meta é ouvir o que os leitores têm a dizer. Portanto, se você tem dúvidas, críticas ou sugestões entre em contato conosco – preferencialmente por correio eletrônico mh_brasil@mcgraw-hill.com – e nos ajude a aprimorar nosso trabalho. Teremos prazer em conversar com você. Em Portugal use o endereço servico_clientes@mcgraw-hill.com. _______________________________________________________________ N532c Newstrom, John W. Comportamento organizacional [recurso eletrônico] : o comportamento humano no trabalho / John W. Newstrom ; tradução: Ivan Pedro Ferreira Santos ; revisão técnica: Carlos Tasso Eira de Aquino. – 12. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2011. Editado também como livro impresso em 2008. ISBN 978-85-63308-87-0 1. Administração. 2. Comportamento organizacional. I. Título. CDU 005.32 _______________________________________________________________ Catalogação na publicação: Ana Paula Magnus – CRB 10/2052 Capítulo 3 Gerenciando as Comunicações 49 Problemas Potenciais A comunicação de duas vias não produz apenas bons resultados. Ela também pode causar difi cul- dades. Duas pessoas podem discordar intensamente sobre algum item e não se darem conta disso até que estabeleçam uma comunicação de duas vias. Ao exporem seus diferentes pontos de vista, elas podem tornar-se ainda mais polarizadas, adotando posições até mais extremadas. Quando se vêem ameaçadas por um possível constrangimento decorrente da perda de uma discussão, os indi- víduos tendem a abandonar a lógica e a racionalidade em detrimento de uma postura defensiva.4 Eles passam a culpar os outros, utilizam seletivamente dados e números, buscam permanecer no controle e dissimular sentimentos negativos. Essa postura defensiva é elaborada para evitar riscos e a aparência de incompetência, mas normalmente resulta no anseio por controle e vitória. Esses objetivos reduzem, previsivelmente, a efi cácia das comunicações. Outra difi culdade que pode surgir é a dissonância cognitiva. Esse conceito corresponde ao confl ito interno e à ansiedade que surgem quando as pessoas recebem informações incompatíveis com seus sistemas de valores, decisões anteriores ou outras informações que possam possuir. Como elas não se sentem confortáveis com a dissonância, tentam removê-la ou reduzi-la. As pessoas po- dem tentar obter novos inputs de informação, alterar sua interpretação sobre os inputs, reverter suas decisões ou modifi car seus valores. Podem até mesmo se recusar a acreditar em inputs confl itantes, ou suprimi-los de maneira racional. Os emissores sempre precisam se comunicar com cuidado, pois a comunicação é uma maneira poderosa de auto-revelação para os outros, bem como uma fonte possível de avaliação. Não só es- tamos revelando algo sobre nós mesmos (conteúdo) ao falarmos, mas também sendo julgados pelos outros. Esse aspecto da comunicação cria uma pressão para adotar uma postura de manutenção das aparências — uma tentativa de nos preservar de ataques aos valores mais estimados de nossa personalidade. Até nossa auto-estima é ameaçada quando as pessoas nos dizem algo que não dese- jaríamos. Algumas vezes, esses indivíduos lamentam, também, nos terem dito coisas que tenham ofendido nossa auto-imagem (nosso conceito acerca de nós mesmos). Embora o envio dessas mensagens lamentáveis geralmente seja não-intencional, elas freqüentemente criam animosidade entre os receptores, ameaçam relacionamentos e até chegam a causar a deteriorização de relações. Há vários tipos de mensagens lamentáveis, como ofensas verbais diretas, ataques pessoais, comen- tários estereotipados, críticas sarcásticas ou informações danosas. As pessoas normalmente enviam mensagens desse tipo durante confrontos emocionados, como neste exemplo: Damian (supervisor de contabilidade) e Janny (gerente de marketing) tinham, ambos, entrevistado uma série de candidatos para a posição de auditor. Mais tarde, eles se reuniram com três chefes de departa- mento para fazer a seleção fi nal. Quando Janny ressaltou um ponto fraco que havia notado em um dos candidatos, Damian reagiu de forma brusca, questionando a capacidade dela para avaliar as habilidades necessárias para um auditor, em virtude de ela ter passado toda a sua carreira na área de marketing. Janny, obviamente, fi cou furiosa por ter sua integridade atacada. Embora Damian tenha, depois, pedido desculpas a ela e lamentado o incidente, Janny nunca esqueceu o comentário dele. Possíveis problemas decorrentes da dissonância cognitiva Manutenção das aparências 50 Parte Um Fundamentos do Comportamento Organizacional Barreiras à Comunicação Mesmo quando um receptor recebe uma mensagem e faz um esforço genuíno para decodifi cá-la, diversas interferências podem limitar a sua compreensão. Esses obstáculos agem como um ruído, ou como barreiras à comunicação, e podem surgir tanto no ambiente físico (como o rádio de um colega atrapalhando uma conversa telefônica) quanto nas emoções de um indivíduo (como a distra- ção de um receptor decorrente da sua preocupação com um parente doente). O ruído pode impedir totalmente a realização de uma comunicação, fi ltrá-la parcialmente ou proporcionar-lhe um sentido incorreto. Há três tipos de barreiras: pessoal, física e semântica. Barreiras Pessoais As barreiras pessoais são interferências nas comunicações produzidas por emoções humanas, valores e maus hábitos como ouvinte. Elas também podem surgir a partir de di- ferenças de educação, etnia, sexo, posição socioeconômica e outros fatores. A presença de barreiras pessoais no ambiente de trabalho é comum, com exemplos mais freqüentes incluindo hábitos de distração verbal (por exemplo, a desnecessária repetição de “e” e o encerramento de quase todas as sentenças com “né”). As barreiras pessoais normalmente envolvem uma formade distância psicológica — um sentimento de estar emocionalmente separado — entre as pessoas, similar à distância física real. Marsha, por exemplo, conversa com Janet, que se ressente do tratamento recebido, e o ressentimen- to de Janet as separa. Nossas emoções agem como fi ltros de percepção em praticamente todas as nossas comunica- ções. Vemos e ouvimos as coisas às quais estamos emocionalmente sintonizados para ver e ouvir, de forma que a comunicação seja guiada por nossas expectativas. Também comunicamos nossa interpretação da realidade em vez da realidade em si. Alguém havia afi rmado que “não importa como você diz que uma coisa seja, ela não é dessa forma”, o que signifi ca que o emissor apenas está transmitindo uma percepção emocionalmente fi ltrada dela. Nessas condições, quando as per- cepções do emissor e do receptor estão razoavelmente próximas uma da outra, sua comunicação é mais efi caz. Barreiras Físicas As barreiras físicas são interferências na comunicação que ocorrem no am- biente no qual ela se desenvolve. Um exemplo de uma típica barreira física é um barulho súbito que provoca uma distração que momentaneamente difi culta a audição de uma mensagem de voz. Outros exemplos incluem: a distância entre pessoas, as paredes em torno dos cubículos de um escritório, ou a estática que interfere nas mensagens de rádio. As pessoas geralmente reconhecem as ocasiões nas quais ocorrem interferências e tentam compensá-las. Quando visitantes vinham a seu escritório, Carmen Valencia costumava sentar-se rigidamente atrás de sua mesa, mantendo a outra pessoa a certa distância, do outro lado da mesa. Essa disposição criava uma distância psicológica que a estabelecia claramente como líder e elemento hierarquicamente superior no processo de interação. Então, Carmen reorganizou seu escritório de forma que o visitante se sentasse junto a ela do mesmo lado da mesa. Esse novo arranjo sugeria mais receptividade e igualdade na interação com os visitantes, e também possuía a vantagem de oferecer uma área de trabalho sobre sua mesa para exame mútuo de documentos. Quando desejava estabelecer um relacionamento mais informal, particularmente com os membros de sua equipe, ela dava a volta para a frente da mesa e sentava-se em uma cadeira próxima do funcionário. O comportamento de Carmen também ilustra a prática da manutenção da distância física ade- quada entre duas partes quando elas se comunicam. O estudo desse tipo de separação espacial é denominado proxêmica e envolve a exploração de diferentes práticas e sentimentos sobre o espaço interpessoal ao longo de culturas diversas. Nos Estados Unidos, as práticas mais comuns permitem que a comunicação íntima entre amigos ocorra a uma distância curta (15 a 20 cm). As conversas com pessoas conhecidas normalmente acontecem a uma distância entre 90 e 120 cm. Discussões relacionadas ao trabalho entre colegas podem ocorrer a uma distância social de 130 a 360 cm, enquanto as conversações mais impessoais e formais em público ocorrem a uma distância ainda maior. Distância psicológica Distância adequada Capítulo 3 Gerenciando as Comunicações 51 Práticas Globais de Comunicação Não somente é importante conhecer e observar as práticas mais comuns com referência à natureza dos relacionamentos entre duas partes (íntimos, amigáveis, relacionados ao trabalho ou casuais); também é imperativo que essas práticas sejam adaptadas às diferenças culturais. Em algumas sociedades, predominam práticas completamente distintas. As culturas latino-americana e asiática geralmente utilizam distâncias menores para a realização de conversas pessoais, e os trabalhadores dos países árabes freqüentemente mantêm um contato muito próximo. Dessa forma, o emissor deve estar ciente das normas culturais e das preferências do receptor e fazer um esforço para compreendê- las e adaptar-se a elas. Barreiras Semânticas A semântica é a ciência que estuda o signifi cado, em oposição à foné- tica, que é a ciência dos sons. Praticamente toda comunicação é simbólica, ou seja, ela é obtida com o uso de símbolos (palavras, fi guras e ações) que sugerem certos signifi cados. Esses sím- bolos são meramente mapas que descrevem um território, embora não um território real de fato; assim, eles devem ser decodifi cados e interpretados pelo receptor. Antes de serem introduzidos os três tipos de símbolo, contudo, uma forma adicional de barreira, uma que se origina na semân- tica, merece atenção. As barreiras semânticas surgem das limitações dos símbolos com os quais nos comunica- mos. Os símbolos normalmente possuem uma variedade de signifi cados e é necessário escolher um entre vários disponíveis. Algumas vezes, é escolhido o signifi cado errado e isso produz mal-enten- didos. Um bom exemplo é o caso do comitê de diretores do início deste capítulo. Isso é particu- larmente possível quando os comunicadores utilizam algum jargão, que diz respeito à linguagem especializada empregada por um grupo específi co. O jargão pode incluir o uso de acrônimos (as primeiras letras de cada palavra de uma sentença, como CO para comportamento organizacional), gíria (palavras singulares para um grupo étnico ou social) ou termos distintos que são criados por um grupo de profi ssionais ou de interesses (por exemplo, “largura de banda”). É interessante dizer que o jargão é benéfi co no interior de um grupo, mas freqüentemente cria problemas na relação entre grupos diferentes. A semântica apresenta um desafi o particularmente difícil quando pessoas de diferentes culturas tentam comunicar-se entre si. As partes não somente deverão aprender o sentido literal das palavras em outra linguagem, como também interpretar as palavras em seu contexto e na forma como são utilizadas (tonalidade, volume e gestos acessórios não-verbais). Nitidamente, o surgimento de uma economia global exige que os gerentes de todas as partes, que tenham sensibilidade, superem as di- fi culdades adicionais que as barreiras semânticas impõem sobre suas comunicações interculturais. Todas as vezes que os indivíduos interpretam um símbolo com base em suas suposições em vez de fazê-lo com base em fatos, estão produzindo uma inferência. As inferências são parte essen- cial da maioria das comunicações. Não se pode evitá-las, esperando até que todas as comunicações sejam factuais antes de aceitá-las. No entanto, visto que as inferências podem transmitir um sinal errado, é necessário sempre estar atento com relação a elas e avaliá-las cuidadosamente. Sempre que surgirem dúvidas, deve-se buscar mais informações. Símbolos da Comunicação Palavras As palavras são os símbolos de comunicação mais utilizados no trabalho. Muitos fun- cionários gastam mais de 50% de seu tempo em alguma forma de comunicação verbal. Surge, con- tudo, uma grande difi culdade, uma vez que praticamente todas as palavras têm vários signifi cados. Múltiplos signifi cados são necessários porque estamos tentando falar sobre um mundo infi nitamen- te complexo ao mesmo tempo em que usamos apenas um número limitado de palavras. As com- plexidades de uma única língua são agravadas quando pessoas que possuem históricos diferentes — como níveis de educação, heranças culturais ou culturas — tentam comunicar-se entre si. Não é de estranhar que tenhamos problemas para nos comunicarmos! Fato versus inferência 52 Parte Um Fundamentos do Comportamento Organizacional Se as palavras não possuem apenas um único signifi cado, como os gerentes conseguem fazer sentido com elas na sua comunicação com seus funcionários? A resposta está no contexto, que é o ambiente que cerca a utilização de uma palavra. O uso da palavra dummy (boneco de testes) para referir-se a uma pessoa durante uma discussão no escritório pode ser ofensivo, mas utilizá-la para referir-se a um jogador que desempenha um papel específi co no bridge (jogo de cartas) pode ser aceitável. É preciso cercar as palavras essenciais de um contexto de outras palavras e símbolos até o ponto em que seusignifi cado seja restringido a certos limites específi cos e que uma possível confusão seja evitada. Conseqüentemente, comunicadores efi cazes estão voltados para as idéias, em vez de estarem orientados somente para as palavras. Eles sabem que as palavras não proporcionam signifi cado, mas as pessoas, sim. O contexto oferece signifi cado para as palavras parcialmente por intermédio de pistas que as pessoas recolhem ao longo do seu ambiente social, como as pistas obtidas a partir de amigos e colegas. As dicas sociais são pequenos pedaços de informações que infl uenciam a maneira como as pessoas reagem às comunicações. Exemplos de dicas sociais são os títulos de cargos, padrões de vestimenta e o histórico da utilização de palavras em determinada região geográfi ca ou grupo étnico. Nossa suscetibilidade em sermos infl uenciados por essas dicas sociais é muito variada, dependendo da credibilidade da fonte, das nossas experiências anteriores com esses itens, da ambi- güidade da dica e das diferenças individuais, tais como de históricos culturais distintos. É sempre importante estar ciente das dicas sociais, pois o uso da linguagem em contextos inadequados cria uma poluição semântica. Da mesma forma que a poluição real, ela irrita os sentidos e interfere na acuidade das percepções. Como o signifi cado das palavras é difícil de ser obtido até mesmo com o uso do contexto, uma suposição razoável seria que, na eventualidade de esses símbolos poderem ser simplifi cados, o receptor os compreenderá mais facilmente. Além disso, se os símbolos dos tipos preferidos pelos receptores são utilizados, eles se mostrarão mais receptivos. Tal suposição está por trás da idéia de facilidade (acessibilidade) para leitura, que designa o processo de tornar os textos e os diálo- gos mais compreensíveis.5 A Figura 3.2 oferece algumas diretrizes para a preparação de um texto mais acessível para os leitores. As orientações são aplicadas, então, para demonstrar como a redação complexa da versão original de um parágrafo pode ser simplifi cada na segunda versão. Quando for escrever o próximo relatório para seus colegas, verifi que se as idéias apresentadas na Figura 3.2 foram praticadas de forma bem-sucedida antes de submetê-lo. Diretrizes para a Preparação de um Texto mais Acessível Sempre utilize palavras e sentenças simples e familiares, como “melhorar” em vez de “aprimorar” e “como” no lugar de “de maneira similar a”. Isso facilita a tarefa do leitor e faz que haja uma probabilidade maior de compreensão. Utilize pronomes pessoais como “você” e “eles”, se o estilo permitir, pois auxiliam o receptor a identifi car-se com a mensagem. Empregue ilustrações, exemplos e gráfi cos. Lembre-se de que “uma imagem vale por mil palavras”. Use sentenças e parágrafos curtos. Você quer expressar seus pensamentos de maneira efi ciente. Evite a utilização excessiva de conjunções e divida os parágrafos longos em menores. Utilize verbos de ação, por exemplo, “O gerente decidiu...” no lugar de “O gerente chegou à conclusão de que...”. Palavras que representam uma ação têm mais impacto. Use somente palavras necessárias. Na sentença: “As más condições do tempo serviram para adiar minha viagem”, a palavra “condições” é desnecessária e a expressão “serviram para adiar” poderia ser reduzida. Você pode dizer apenas: “O mau tempo atrapalhou minha viagem”. Utilize uma estrutura clara. Use títulos e subtítulos para demonstrar que está seguindo um roteiro. Aplique técnicas de ênfase (negrito, sublinhado ou itálico) para ressaltar as idéias que você acredita serem as mais importantes. Inclua listas auxiliares com os pontos principais, destacadas por números ou marcadores. • • • • • • • O contexto proporciona signifi cado. Dicas sociais FIGURA 3.2 Escrita Clara: Diretrizes e um Exemplo Fonte: Adaptado de Readingease: The Key to Understanding, Equipe de Relações com os Funcionários, General Motors Corporation. Facilidade (acessibilidade) para leitura Capítulo 3 Gerenciando as Comunicações 53 Grande parte da literatura organizacional que é enviada para funcionários e clientes contém um nível de difi culdade elevado em relação aos padrões utilizados para facilidade de leitura. Manuais de funcionários, códigos de conduta, relatórios anuais para os acionistas, manuais de montagem de produtos, planos estratégicos e contratos sindicais são classifi cados como “difíceis” ou “muito difí- ceis”. Essas avaliações indicam que a redação desses textos está acima da capacidade de leitura até mesmo de adultos típicos. O monitoramento da facilidade para leitura e a simplifi cação de um documento são tarefas crí- ticas para a comunicação. Muitos membros da força de trabalho dos Estados Unidos, por exemplo, experimentam alguma difi culdade associada à língua. Milhões de norte-americanos são analfabe- tos funcionais. Isso signifi ca que nem sempre eles possuem as habilidades de leitura necessárias para compreender até mesmo as descrições mais simples de atividades ou as ordens de trabalho que lhes são confi adas. Além disso, à medida que contingentes cada vez maiores de trabalhadores são contratados em cenários culturais diferenciados, o inglês se torna uma segunda língua para muitos deles. Isso signifi ca que muitos termos e frases da língua inglesa, usuais para vários trabalhadores, podem soar estranhos a outros. Esse tipo de linguagem deverá ser evitado, ou pelo menos esclarecido. Como o propósito principal da comunicação é fazer que sejamos compreendidos, devemos clara- mente considerar as necessidades dos receptores e adaptar nosso uso das palavras ao nível deles. Figuras Um segundo tipo de símbolo é a fi gura, utilizada para esclarecer a comunicação feita por meio das palavras. As organizações usam extensivamente fi guras, como plantas, gráfi cos de pro- gresso, diagramas tipo espinha de peixe, mapas de causa e efeito, assistentes visuais para os progra- mas de treinamento, modelos em escala de produtos e instrumentos semelhantes. As fi guras podem oferecer imagens visuais poderosas, conforme é sugerido pelo provérbio: “Uma imagem vale por mil palavras”. Para ser mais efi caz, contudo, as fi guras devem ser combinadas com palavras e ações cuidadosamente escolhidas para contar uma história completa. Certa organização, Lake Superior Paper Industries, planejava construir uma instalação de última geração para a fabricação de papel. Por causa da complexidade da tecnologia envolvida, do custo de construção de US$ 400 milhões e dos sérios impactos que poderiam ser causados por quaisquer atrasos na constru- ção da fábrica, a companhia decidiu construir um modelo tridimensional do tamanho de uma sala com todos os prédios e seus conteúdos. Os funcionários da companhia alegaram que essa “fi gura” única, desenvolvida ao custo de mais de US$ 1 milhão, lhes havia economizado uma quantidade muitas vezes superior àquela, ao permitir que os projetistas e os encarregados da construção vislumbrassem precisa- mente quais problemas de projeto poderiam ocorrer antes que confl itos custosos surgissem de fato. Ação (Comunicação Não-verbal) Um terceiro tipo de símbolo de comunicação é a ação, também conhecida como comunicação não-verbal. As pessoas freqüentemente se esquecem de que aquilo que fazem é um meio de co- municação, em virtude de suas ações estarem sujeitas à interpretação por outros indivíduos. Um aperto de mão e um sorriso, por exemplo, possuem um signifi cado. Um aumento de salário ou um atraso em uma reunião também têm signifi cado. Dois pontos signifi cativos sobre as ações são normalmente ignorados. Um ponto é que a falha ao agir é uma maneira importante de comunicar-se. Um gerente que falha em elogiar um funcio- nário por um trabalho bem-feito ou que falha em proporcionar os recursos prometidos está en- viando uma mensagem para essas pessoas. Como enviamos mensagens tanto por ação quanto por ausência de ação, comunicamo-nos praticamente o tempo todo no trabalho, independentementede nossas intenções. Um segundo ponto é que as ações falam mais alto que as palavras, pelo menos no longo prazo. Os gerentes que dizem uma coisa ‘mas fazem outra’ logo descobrirão que seus funcionários “ouvem” essencialmente as coisas que eles fazem. O comportamento de um gerente é sua dica social mais forte. Um exemplo típico disso é um executivo que defende verbalmente a adoção de um comportamento ético, mas reiteradamente viola o próprio código de conduta da empresa. Os funcionários recebem sinais confusos e podem achar mais conveniente imitar as ações antiéticas do executivo. Quando há uma diferença entre aquilo que uma pessoa diz e o que ela pratica, ocorre um gap de credibilidade. A credibilidade nas comunicações é baseada em três fatores: confi ança, expertise e dinamismo.6 Esses três fatores sugerem que os gerentes devem agir com integridade, manifestar-se a partir de uma base forte de conhecimento e transmitir sua mensagem com confi ança e entusiasmo. As ações têm signifi cado. Os gaps de credibilidade causam problemas. 54 Parte Um Fundamentos do Comportamento Organizacional Embora o processo de construção de credibilidade de um gerente possa levar anos para ser executa- do, apenas alguns poucos instantes são necessários para destruí-la. O exemplo apresentado a seguir demonstra como um grande gap de credibilidade pode resultar na perda de confi ança em um líder: Willie Beacon, gerente regional de um escritório de vendas, enfatizava a idéia de que ele dependia de seus funcionários para auxiliá-lo a fazer um bom trabalho porque, segundo suas próprias palavras, “Vocês, da equipe de vendas, são aqueles que estão em contato direto com o cliente e que obtêm muitas informações preciosas e sugestões úteis”. Na maior parte das reuniões de vendas, ele dizia que sempre seriam bem-vindas as sugestões e as idéias dos funcionários. Mas eis como ele traduzia suas palavras em ações: em algumas dessas reuniões, o cronograma de discussões estava tão apertado que, quando ele encerrava suas considerações iniciais, não havia mais tempo para ninguém apresentar problemas nem sugestões; além disso, ele sequer tolerava interrupções durante suas intervenções, porque reclamava que cortavam seu raciocínio. Se uma pessoa de vendas tentasse apresentar uma sugestão no escritório de Willie, ele normalmente iniciava sua fala da seguinte forma: “Bem, estou feliz por você ter trazido suas sugestões”. Em pouco tempo, contudo, ele direcionava a conversa para algum tópico que estivesse em sua mente, alegava que teria um compromisso qualquer ou encontrava qualquer outra coisa que fi zesse que ele nunca chegasse a discutir a sugestão. As poucas sugestões que foram apresentadas, Willie recusou alegando que: “Sim, pensei nisso há muito tempo, mas não funcionou”. O resultado foi que ele passou a não receber mais nenhuma sugestão. Suas ações falaram mais alto que suas palavras. Seu gap de credibilidade era muito grande para ser superado pelos funcionários. Uma importante parte da comunicação não-verbal é a linguagem corporal, por meio da qual as pessoas comunicam algum signifi cado para os demais indivíduos com seus corpos em uma in- teração interpessoal. A linguagem corporal é um importante complemento da comunicação verbal em muitas partes do mundo. As expressões faciais são fontes de linguagem corporal especialmente importantes nas situações do trabalho. Exemplos disso são: o contato visual, o movimento dos olhos, os sorrisos e os franzidos, e a disposição das sobrancelhas. Em um caso, o gerente franziu o cenho quando um funcionário transmitiu-lhe uma sugestão, e o funcionário interpretou esse movimento como uma rejeição, mas, de fato, tratava-se de uma dor de cabeça. Em outro, um sorriso dado em um momento inadequado foi interpretado como sorriso desdenhoso, o que produziu uma discussão. As dicas não-verbais po- dem ser tanto inadvertidas, como nos exemplos anteriores, quanto intencionais, adicionando, dessa forma, mais complexidade ao processo de comunicação. Outros tipos de linguagem corporal são: o contato físico, os movimentos com as mãos e com os quadris, o ato de inclinar-se para a frente ou para trás, o cruzamento de braços e pernas e os movimentos de suspirar ou bocejar. Apesar da rique- za de dados disponíveis sobre dicas não-verbais, sua interpretação é altamente subjetiva e repleta de espaços para erros potenciais. Recomenda-se a adoção de uma postura cautelosa. O Impacto das Barreiras no Processo de Comunicação Até agora, foi revisada uma amostra das barreiras que impedem o intercâmbio de comunicações en- tre duas pessoas. Como próximo passo, seria útil examinar quais das barreiras exercem impacto nos oito passos do processo de comunicação mencionados anteriormente na Figura 3.1. Isso permite que os gerentes, no papel de estudantes do comportamento organizacional, direcionem sua atenção para a minimização dos efeitos de barreiras específi cas. A Figura 3.3 sugere que as barreiras pessoais possuem um efeito mais signifi cativo nas comuni- cações. As emoções podem afetar o desenvolvimento de uma idéia para apresentação, o método e a forma para sua transmissão, o modo como ela é decodifi cada e, mais certamente, se ela é aceita ou não. As habilidades para ouvir (discutidas nas páginas 59-61) têm impacto profundo na efi cácia de como uma mensagem é recebida e interpretada (decodifi cação). Os sentimentos de distanciamento psicológico afetam amplamente o recebimento, a aceitação e o uso de uma mensagem, além da qualidade do feedback oferecido para o emissor. As barreiras físicas, como ruído e distância geográfi ca, afetam essencialmente a transmissão e a recepção das mensagens, enquanto as questões semânticas e a variedade de símbolos para comu- nicação criam problemas, mais freqüentemente, durante os estágios de codifi cação, decodifi cação e recepção. A mensagem que deve ser deixada para os gerentes é que as barreiras podem — e vão — afetar a efi cácia das comunicações em todos os seus oito estágios. Os participantes ativos do A linguagem corporal proporciona signifi cado. Capítulo 3 Gerenciando as Comunicações 55 processo de intercâmbio de comunicações — de modo semelhante ao de dois acrobatas no trapézio — não devem relaxar em momento algum, ou as conseqüências negativas poderão ser duradouras. Passos do Processo de Comunicação Barreiras Pessoais Barreiras Físicas Barreiras Semânticas Emoções Audição Distância Psicológica Ruído Distância Geográfi ca Semântica Símbolos 1. Desenvolvimento X 2. Codifi cação X X 3. Transmissão X X X 4. Recepção X X X X 5. Decodifi cação X X X X 6. Aceitação X X X 7. Uso X 8. Feedback X FIGURA 3.3 Principais Impactos das Barreiras nos Passos do Processo de Comunicação Dica do professor Nesta Dica do Professor, você verá de que forma a comunicação e o feedback são importantes em um processo de planejamento estratégico e na sua execução. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/79004274a61ea266bdcd847d1f17e3f7 Na prática O planejamento estratégico de uma determinada fabricante multinacional de produtos de higiene pessoal envolve uma filosofia de lucros com princípios sociais. Isso está expresso nos valores da empresa e motiva, constantemente, os membros da equipe, independentemente do nível hierárquico ao qual pertencem. Nos pontos de venda, há distribuição de material informativo para a conscientização da comunidade. Essa postura é descrita tanto na comunicação com os funcionários, em palestras e em atividades internas quanto na publicidade, levando esse posicionamento ao conhecimento dos consumidores. É importante ressaltar que tudo isso está alinhando com a estratégia de negócio. Por isso, a empresa consegue ser reconhecida por suas iniciativas sociais, como deseja. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto,veja abaixo as sugestões do professor: Comunicação estratégica para resultados Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Como alinhar a comunicação interna com a estratégia da empresa Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Comunicação empresarial [Série Série A] Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! https://www.youtube.com/embed/Bluk1OUp67Y?rel=0 https://voca.com.br/4-passos-para-alinhar-a-comunicacao-interna-da-sua-empresa/ A comunicação na gestão de crise Apresentação Empresas estão sujeitas a crises dos mais diferentes tipos, mas uma delas preocupa especialmente porque pode comprometer a confiança dos consumidores em uma organização: as crises de imagem têm grande potencial negativo. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai entender como preveni-las e o que fazer caso a empresa seja atingida por algum problema dessa ordem, além de conhecer boas técnicas que podem ajudar a reduzir os impactos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar origens de conflitos nas organizações.• Definir estratégias para solução de crises de imagem nas organizações.• Reconhecer pontos do planejamento estratégico que podem auxiliar na prevenção de crises.• Infográfico Toda organização enfrenta conflitos em seu dia a dia. Alguns deles têm potencial para transformarem-se em crises capazes de comprometer a imagem e trazer prejuízo. Veja no infográfico: Conteúdo do livro Os conflitos organizacionais surgem quando os objetivos, interesses ou valores dos indivíduos ou grupos são incompatíveis. Em alguns casos, esses conflitos podem levar a crises que comprometem a imagem da organização. O livro Administração contemporânea é a base teórica desta Unidade de Aprendizagem, que traz, no trecho selecionado, os tipos, as origens, as estratégias de gerenciamento de conflitos e as negociações. Inicie sua leitura pelo tópico Conflito organizacional e leia até o item Estratégias para encorajar a barganha integradora. Boa leitura. ad m in is tr aç ão C O N T E M P O R Â N E A G A R E T H R . J O N E S J E N N I F E R M . G E O R G E Q U A RTA E D I Ç Ã O Administração Contemporânea Tradução da Quarta Edição ISBN 978-85-86804-72-4 A reprodução total ou parcial deste volume por quaisquer formas ou meios, sem o consentimento, por escrito, da editora é ilegal e confi gura apropriação indevida dos direitos intelectuais e patrimoniais dos autores. Copyright © 2008 by McGraw-Hill Interamericana do Brasil Ltda. Todos os direitos reservados. Av. Brigadeiro Faria Lima, 201, 17.º andar São Paulo – SP – CEP 05426-100 Copyright © 2008 by McGraw-Hill Interamericana Editores, S.A. de C.V. Todos os direitos reservados. Prol. Paseo de la Reforma 1015 Torre A Piso 17, Col. Desarrollo Santa Fé, Delegación Alvaro Obregón México 01376, D.F., México Tradução da quarta edição em inglês de Contemporary Management Publicada pela McGraw-Hill Irwin, uma unidade de negócios da McGraw-Hill Companies, Inc. 1221 Avenue of the Americas, New York, NY 10020 Copyright © 2006, 2003, 2000, 1998 by The McGraw-Hill Companies Inc. ISBN: 0-07-286082-0 Editoras de Desenvolvimento: Marileide Gomes e Gisélia Costa Supervisora de Produção: Guacira Simonelli Preparação de Texto: Marise Goulart/Adriana Rinaldi Design de Capa: Asylum Studios Diagramação: Formato Comunicação Ltda. A McGraw-Hill tem forte compromisso com a qualidade e procura manter laços estreitos com seus leitores. Nosso principal objetivo é oferecer obras de qualidade a preços justos, e um dos caminhos para atingir essa meta é ouvir o que os leitores têm a dizer. Portanto, se você tem dúvidas, críticas ou sugestões, entre em contato conosco — preferencialmente por correio eletrô- nico (mh_brasil@mcgraw-hill.com) — e nos ajude a aprimorar nosso trabalho. Teremos prazer em conversar com você. Em Portugal use o endereço servico_clientes@mcgraw-hill.com. J77a Jones, Gareth R. Administração contemporânea [recurso eletrônico] / Gareth R. Jones, Jennifer M. George ; tradução: Maria Lúcia G. L. Rosa ; revisão técnica: Alexandre Faria. – 4. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2011. Editado também como livro impresso em 2008. ISBN 978-85-63308-86-3 1. Administração. I. George, Jennifer M. II. Título. CDU 005“19” Catalogação na publicação: Ana Paula Magnus – CRB 10/2052 Gerenciando Conflito, Política e Negociação Organizacional 607 utilizar para manter e expandir seu poder e utilizá-lo efetivamente. No final deste capítulo, você saberá por que os gerentes devem desenvolver as habilidades necessárias para gerenciar esses importantes processos organizacionais para que sejam efetivos e atinjam os objetivos organizacionais. Conflito organizacional é a discórdia que surge quando os objetivos, interesses ou valores de diferentes indivíduos ou grupos são incompatíveis e esses indivíduos ou grupos bloqueiam ou frustram as tentativas uns dos outros de atingir seus objetivos.11 O conflito é parte inevitável da vida organizacional porque os objetivos de diferentes stakeholders (pessoas interes- sadas), como gerentes e trabalhadores, são, freqüentemente, incompatíveis. O conflito organizacional também pode existir entre departamentos e divisões que competem por recursos ou mesmo entre gerentes que podem estar competindo pela promoção ao próximo nível na hierarquia organizacional. É importante que os gerentes desenvolvam as habilidades necessárias para gerenciar o conflito efetivamente. Além disso, o nível de conflito presente em uma organização tem implicações importantes para o desempenho organizacio- nal. A Figura 17.1 ilustra a relação entre conflito e desempenho organizacionais. No ponto A, há pouco ou nenhum conflito e o desempenho organizacional fica prejudicado. A falta de conflito em uma organização, freqüentemente, sinaliza que os gerentes enfatizam a conformidade à custa de novas idéias, resistem à mudança e lutam pelo acordo em vez da tomada de decisão efetiva. À medida que o nível de conflito aumenta do ponto A para o ponto B, a efetividade organizacio- nal provavelmente aumenta. Quando uma organização tem um nível ótimo de conflito (ponto B), os gerentes provavelmente são abertos a e encorajam uma variedade de perspectivas, procuram maneiras de aprimorar o funcionamento organizacional e a efetividade e vêem os debates e os desentendimentos como um ingrediente necessário para a tomada de decisão efetiva. À medida que o nível de conflito aumenta do ponto B para o ponto C, o conflito se agrava até o ponto em que o desempenho organizacional fica prejudicado. Quando uma organização tem um nível disfuncionalmente alto de conflito, os gerentes provavelmente gastam recursos organizacio- nais para atingir suas próprias finalidades e estão mais preocupados em vencer disputas políticas que em fazer o que levará a uma vantagem competitiva para sua organização. Ao mesmo tempo, tentam revidar a seus oponentes em vez de tomarem boas decisões. O conflito é uma força que precisa ser gerenciada em vez de ser elimi- nada.12 Os gerentes nunca deveriam tentar eliminar todo o conflito, mas, em vez disso, deveriam tentar mantê-lo em um nível moderado e funcional para promover esforços de mudança que beneficiem a organi- zação. Para gerenciar conflitos, seus tipos e origens devem ser entendi- dos pelos gerentes, que devem estar familiarizados com certas estratégias para que possam lidar com o assunto de forma efetiva. Tipos de Conflito Há vários tipos de conflito nas organizações: interpessoal, intragrupo, intergrupo e interorganizacional (ver Figura 17.2).13 Entender como esses tipos diferem pode ajudar os gerentes a lidar com o conflito. Conflito Organizacional conflito organizacional Discórdia que surge quando os objetivos, interesses ou valores de diferentes indivíduos ou grupos são incompatíveise esses indivíduos ou grupos bloqueiam ou frustram as tentativas uns dos outros de atingir seus objetivos. Os sinais de tensão crescente nesta foto são inconfundíveis. Uma vez que certo grau de conflito é inevitável e desejável, o conflito é uma força que precisa ser gerenciada em vez de ser eliminada. 608 Capítulo Dezessete Conflito interpessoal O conflito interpessoal é aquele entre mem- bros de uma organização, que ocorre devido às diferenças em seus objetivos ou valores. Dois gerentes podem experimentar conflito interpessoal quando seus valores a respeito de proteção do ambiente diferem. Um gerente pode alegar que a organização deveria fazer somente o que é exigido por lei. O outro pode argu- mentar que a organização deveria investir em equipamentos para reduzir a emis- são de poluentes, embora o nível atual de emissões da organização esteja abaixo do limite permitido por lei. Conflito intragrupo O conflito intragrupo é aquele que surge den- tro de um grupo, equipe ou departamento. Quando os membros do departa- mento de marketing de uma fabricante de roupas discordam sobre como deve- riam gastar o orçamento em propaganda para uma nova linha de jeans para homens, eles estão passando por um conflito intragrupo. Alguns dos membros figura 17.1 o efeito do Conflito no Desempenho organizacional N ív e l d e d e se m p e n h o o rg a n iz a c io n a l ALTO BAIXO Nível de conflitoBAIXO A B C ALTO Conflito demais prejudica o desempenho Muito pouco conflito prejudica o desempenho Ótimo nível de conflito leva à tomada de decisão efetiva e ao alto desempenho Conflito interpessoal Conflito intragrupo Conflito intergrupo Conflito interorganizacional Conflito Organizacional figura 17.2 tipos de Conflito em organizações Gerenciando Conflito, Política e Negociação Organizacional 609 querem gastar todo o dinheiro em publicidade em revistas. Outros querem dedi- car a metade do dinheiro a outdoors e propagandas em ônibus e metrôs da cidade. Conflito intergrupo O conflito intergrupo é aquele que ocorre entre grupos, equipes ou departamentos. Os departamentos de P&D, por exem- plo, às vezes passam por conflito intergrupo com os departamentos de produção. Os membros do departamento de P&D podem desenvolver um novo produto que eles acham que a produção pode fazer sem muitos gastos, utilizando as capacida- des de produção existentes. Os membros do departamento de produção, entre- tanto, podem discordar e acreditar que os custos para se fazer o produto serão muito mais altos. Os gerentes de departamentos, geralmente, desempenham um papel-chave no gerenciamento de conflitos intergrupo como este. Conflito interorganizaCional O conflito interorganizacional é aquele que surge entre organizações. Às vezes, o conflito interorganizacional surge quando os gerentes em uma organização sentem que outra organização não está se portando eticamente e está ameaçando o bem-estar de certos grupos de stakeholders. Origens de Conflito O conflito em organizações tem diversas origens. Aqueles que examinaremos aqui são: diferentes objetivos e horizontes de tempo, sobreposição de autoridade, inter- dependência de tarefas, sistemas diferentes de avaliação ou recompensa, recursos escassos e inconsistências de status (ver Figura 17.3).14 Diferentes objetivos e Horizontes De tempo Lembre-se do Capítulo 10. Uma importante atividade gerencial é organizar pessoas e tarefas em departamentos e divisões para a realização dos objetivos da organização. Quase inevitavelmente, esse agrupamento resulta na criação de departamentos e divisões que têm diferentes objetivos e horizontes de tempo, e o resultado pode ser o conflito. A área de produção e os gerentes de produção, por exemplo, geralmente concentram-se na eficiência e no corte de custos; eles têm um hori- zonte de tempo relativamente curto e focalizam a produção de bens e serviços de qualidade de uma maneira oportuna e eficiente. Em contraste, o marketing e os figura 17.3 origens de Conflito em organizações Sobreposição de autoridade Interdependências de tarefas Inconsistências de status Recursos escassos Sistemas incom- patíveis de avaliação ou recompensa Objetivos e horizontes de tempo incom- patíveis Conflito organizacional 610 Capítulo Dezessete gerentes de marketing concentram-se nas vendas e na capacidade de resposta aos clientes. Seu horizonte de tempo é mais longo que aquele da produção porque eles estão tentando responder não somente às necessidades atuais dos clientes, mas também às suas necessidades em mudança para construir a fidelidade do cliente a longo prazo. Essas diferenças fundamentais entre marketing e produção são, freqüentemente, terreno fértil para conflitos. Suponha que a produção esteja atrasada em seu plano de produzir um produto especializado para um cliente importante. O gerente de marketing acredita que o atraso reduzirá as vendas do produto e, portanto, insiste para que o produto seja entregue pontualmente, mesmo que cumprir o programa da produção signifique aumentar os custos, devido ao pagamento de hora extra aos funcionários da pro- dução. A gerente de produção diz que terá muito prazer em cumprir o prazo, desde que o marketing pague por isso. As posições de ambos os gerentes são razoá- veis sob a perspectiva de seus próprios departamentos; o conflito é provável. Na seção “O Desafio de um Gerente”, o objetivo de Jim Press de responder aos clientes norte-americanos, às vezes, é diferente do objetivo dos designers de pro- duto e engenheiros japoneses da Toyota de utilizar eficientemente o espaço interno e economizar combustível. Esses objetivos conflitantes são ilustrados pela experiência da Toyota no mercado de minivans. No final da década de 1980, a Toyota visou à criação de uma minivan ideal, com engenharia precisa. A Previa, de 1991, incorporou a experiência da Toyota em engenharia e o uso eficiente do espaço interno; o motor da Previa ficava entre os assentos dianteiros e traseiros. Embora os engenheiros da Toyota ficassem encantados, os clientes norte-america- nos não ficaram — eles acharam que a Previa não era suficientemente espaçosa e que era difícil se mover dentro dela devido ao calombo no chão entre os assentos, onde o motor se encaixava.15 Press sabia que os clientes norte-americanos prefe- riam minivans maiores, espaçosas, com muitos porta-copos, e ele convenceu os designers de produto japoneses a darem ao mercado norte-americano o que este queria. O resultado foi a minivan Sienna, de 1998, que, embora mais espaçosa que a Previa, ainda não era grande o suficiente para o gosto dos norte-america- nos. Com a Sienna 2004, Press e a Toyota conseguiram dar aos clientes norte-ame- ricanos o espaço e as características que eles queriam em uma minivan; o modelo vendeu notavelmente bem.16 sobreposição De autoriDaDe Quando dois ou mais gerentes, departamentos ou funções alegam ter autoridade para as mesmas atividades ou tarefas, o conflito é provável.17 Foi exatamente isso que aconteceu quando os her- deiros da empresa de distribuição de bebidas Forman, instalada em Washington, DC, receberam a empresa de seus pais. Um dos herdeiros, Barry Forman, queria controlar a empresa e estava relutante em dividir o poder com os outros herdeiros. Vários deles acharam que tinham autoridade sobre certas tarefas cruciais para o sucesso da Forman (como manter bom relacionamento com os diretores de fabri- cantes de bebidas alcoólicas). O que ocorreu foi uma guerra de vontades e um conflito considerável, que se agravou a ponto de ser disfuncional, exigindo que a família contratasse uma firma de consultoria para ajudá-la a resolver a situação.18 interDepenDênCia De tarefas Você já foi incumbido de um pro- jeto de grupo para uma de suas aulas e um dos integrantes deixava continuamente de fazer as coisas no prazo? Isso provavelmente criou conflito em seu grupo, por- que os outros integrantes dependiam das contribuições do participante que atra-sava para a conclusão do projeto. Sempre que indivíduos, grupos, equipes ou departamentos são interdependentes, o potencial para conflito existe.19 Com dife- rentes objetivos e horizontes de tempo, os gerentes de marketing e produção entram em conflito exatamente porque os departamentos são interdependentes. O marketing depende da produção para os bens que divulga e vende, e a produ- ção depende do marketing para criar demanda para as coisas que fabrica. Gerenciando Conflito, Política e Negociação Organizacional 611 sistemas Diferentes De avaliação ou reCompensa A maneira como os grupos, equipes ou departamentos interdependentes são avalia- dos e recompensados pode ser outra causa de conflito.20 Os gerentes de produ- ção, por exemplo, são avaliados e recompensados por seu sucesso em ficarem dentro do orçamento ou em abaixarem os custos enquanto mantêm a qualidade. Então, eles relutam em tomar qualquer iniciativa que aumente os custos, como altos pagamentos aos trabalhadores por hora extra, para terminarem um pedido atrasado para um cliente importante. Os gerentes de marketing, em contrapar- tida, são avaliados e recompensados por seu sucesso em gerar vendas e satisfazer os clientes. Então, eles acham, freqüentemente, que o pagamento por hora extra é um preço pequeno a pagar para atender aos clientes. Assim, o conflito entre a produção e o marketing raramente é inesperado. reCursos esCassos Administração é o processo de adquirir, desenvol- ver, proteger e utilizar os recursos que permitem a uma organização ser eficiente e efetiva (ver Capítulo 1). Quando os recursos são escassos, a administração é mais difícil e o conflito é provável.21 Quando os recursos são escassos, por exemplo, os gerentes de divisão podem estar em conflito quanto a quem terá acesso a capital financeiro, e membros da organização de todos os níveis podem estar em conflito quanto a quem terá aumento e promoção. inConsistênCias De status O fato de alguns indivíduos, grupos, equipes ou departamentos dentro de uma organização serem mais valorizados que outros também pode criar conflito. Em alguns restaurantes, por exemplo, os chefs têm status relativamente mais alto que as pessoas que servem as mesas. No entanto, os chefs recebem pedidos dos clientes por meio dos garçons e estes podem devolver o prato aos chefs se os clientes ou eles mesmos acharem que está inaceitá- vel. Essa inconsistência de status — o alto status dos chefs aceitando ordens de garçons com menos status — pode ser a origem de conflitos consideráveis entre chefs e a equipe de garçons. Por essa razão, alguns restaurantes exigem que a equipe de garçons coloque os pedidos em um mecanismo giratório (no qual os pedidos ficam presos), reduzindo, assim, a quantidade de ordens diretas dadas pelos garçons aos chefs.22 Estratégias de Gerenciamento de Conflitos Para que uma organização atinja seus objetivos, os gerentes devem ser capazes de resolver conflitos de uma maneira funcional. A resolução funcional do conflito signi- fica que este é acordado pela concessão ou pela colaboração entre as partes em conflito (mais adiante, neste capítulo, discutiremos outras formas menos funcio- nais por meio das quais, às vezes, os conflitos são resolvidos).23 A concessão é possí- vel quando cada parte preocupa-se não apenas com a realização de seus objetivos, mas também com a realização do objetivo da outra parte e deseja realizar uma troca mútua e fazer concessões até que uma resolução razoável do conflito seja alcançada. A colaboração é uma forma de lidar com o conflito em que as diferentes partes tentam satisfazer seus objetivos sem fazer qualquer concessão e chegam a uma maneira de resolver suas diferenças, permitindo que ambas se saiam bem.24 Jim Press e seus colegas japoneses na Toyota gerenciam conflitos por meio da colaboração; reunindo-se, freqüentemente, ouvindo uns aos outros e resolvendo pacientemente suas diferenças, eles são capazes de projetar e fabricar carros que atraiam clientes norte-americanos e incorporem a força da engenharia e da pro- dução da Toyota. Além da concessão e da colaboração, há três outras maneiras por meio das quais os conflitos, às vezes, são resolvidos: acomodação, evitação e competição.25 612 Capítulo Dezessete Quando ocorre a acomodação, uma das partes em conflito simplesmente cede às demandas da outra. A acomodação costuma acontecer quando uma parte tem mais poder que a outra e é capaz de perseguir seu objetivo à custa da parte mais fraca. De uma perspectiva organizacional, a acomodação é, freqüentemente, ine- ficiente, pois como as duas partes não estão cooperando uma com a outra, é improvável que elas queiram cooperar no futuro, e a parte mais fraca, que cede ou se acomoda à parte mais poderosa, pode procurar maneiras de revidar, no futuro, à parte mais forte. Quando os conflitos são conduzidos por evitação, as duas partes tentam igno- rar o problema e não fazem nada para resolver o desentendimento. A evitação é, freqüentemente, ineficiente, visto que a verdadeira causa do desacordo não foi tratada, e é provável que o conflito continue e que a comunicação e a colabora- ção fiquem prejudicadas. A competição ocorre quando cada parte de um conflito tenta maximizar seu próprio ganho e tem pouco interesse em entender a posição da outra e chegar a uma solução que permitirá a ambas as partes atingirem seus objetivos. A compe- tição pode realmente se acirrar e chegar a níveis altos de conflito, na medida em que cada parte tenta manobrar a outra. Como forma de lidar com o conflito, a competição é ineficiente para a organização, visto que os dois lados em conflito estão mais preocupados em “ganhar” a batalha que em colaborar para chegarem a uma solução que seja a melhor para a organização e aceitável para ambos. Con- duzir conflitos por meio de acomodação, evitação ou competição é ineficaz do ponto de vista organizacional porque as duas partes de um conflito não colabo- ram uma com a outra e não trabalham para uma solução mutuamente aceitável para suas diferenças. Quando as partes de um conflito estão dispostas a cooperar uma com a outra e por meio da concessão ou da colaboração concebem uma solução que cada uma acha aceitável, é mais provável que uma organização atinja seus objetivos.26 As estratégias de gerenciamento de conflitos que os gerentes podem utilizar para garantir que os conflitos sejam resolvidos de uma maneira funcional concentram- se nos indivíduos e na organização como um todo. A seguir, descreveremos qua- tro estratégias que enfocam os indivíduos: aumentar a consciência das causas de conflito, aumentar a consciência da diversidade e as habilidades, praticar a rota- ção de cargo ou atribuições temporárias e utilizar transferências permanentes ou demissões quando necessário. Também descreveremos duas estratégias que enfo- cam a organização como um todo: mudar a estrutura ou a cultura de uma organi- zação e alterar diretamente a causa do conflito. estratégias foCaDas nos inDivíDuos aumentar a ConsCiênCia Das Causas De Conflito Às vezes, o conflito surge devido a problemas de comunicação e a desentendimentos inter- pessoais. Por exemplo, diferenças em estilos lingüísticos (ver Capítulo 16) podem levar alguns homens em equipes de trabalho a falar mais e a assumir mais crédito por idéias que as mulheres naquelas equipes. Essas diferenças de comunicação podem resultar em conflito quando os homens supõem, incorretamente, que as mulheres estão desinteressadas ou que são menos capazes, porque participam menos, e as mulheres supõem, incorretamente, que os homens estão sendo man- dões e não estão interessados nas idéias delas, porque parecem falar por elas. Aumentando a consciência que as pessoas têm dessa causa de conflito, os gerentes podem ajudar a resolver conflitos de forma funcional. Uma vez que os homens e as mulheres percebem que a causa de seus conflitos são diferenças em termos de esti- los lingüísticos, eles podem adotar medidas para interagir unscom os outros de forma mais efetiva. Os homens podem dar às mulheres mais chance de fornecerem recursos e as mulheres podem ser mais proativas em fornecer esses recursos. Às vezes, as personalidades entram em conflito em uma organização. Nessas situações, também, os gerentes podem ajudar a resolver conflitos funcionalmente, Gerenciando Conflito, Política e Negociação Organizacional 613 aumentando a consciência que os membros de uma organização têm da causa de suas dificuldades. Por exemplo, algumas pessoas que não estão inclinadas a assu- mir riscos podem entrar em conflito com aquelas que tendem a assumir riscos. Os que não assumem riscos podem reclamar que aqueles que aceitam o risco pro- põem idéias bizarras sem justificação, enquanto os que assumem riscos podem reclamar que suas idéias inovadoras estão sendo sempre combatidas. Quando ambos os tipos de pessoas tomam consciência de que seus conflitos se devem a diferenças fundamentais em suas maneiras de abordar problemas, elas, provavel- mente, serão mais capazes de colaborar para chegarem a idéias inovadoras que envolvam apenas níveis moderados de risco. aumentar a ConsCiênCia Da DiversiDaDe e as HabiliDa- Des Conflitos interpessoais também podem surgir por causa da diversidade. Trabalhadores mais velhos podem se sentir constrangidos ou ressentidos em se reportarem a um supervisor mais jovem, um trabalhador de origem hispânica pode se sentir isolado em um grupo de trabalhadores norte-americanos ou uma diretora pode achar que os membros de sua equipe da alta gerência, predominan- temente homens, irão se unir sempre que um deles discordar de uma de suas propostas. Se esses sentimentos são justificados, é provável que eles causem confli- tos recorrentes. Muitas das técnicas que descrevemos no Capítulo 5, para aumen- tar a consciência da diversidade e as habilidades, podem ajudar os gerentes a gerenciarem efetivamente a diversidade e a resolverem conflitos que tenham suas origens em diferenças entre os membros da organização. Hoje, esperaria-se que casos de discriminação aberta estivessem em declínio (ver Capítulo 5). Casos recentes de discriminação sugerem que esta continua sendo um desafio a ser superado pelos gerentes, conforme indicado a seguir na seção “Foco na Diversidade”. Discriminação sexual na merrill lynch Em abril de 2004, um painel de árbitros concluiu que a Merrill Lynch & Com- pany, a maior casa de corretagem dos Estados Unidos, discriminava mulheres que eram corretoras da firma. Os árbitros determinaram que “o fracasso da Merrill em treinar, aconselhar ou disciplinar funcionários que se engajavam em assédio sexual constitui discriminação com malícia ou indiferença excessiva aos direitos protegidos por lei federal de funcionárias.” 27 E. Hydie Sumner, ex-corretora em um escritório da Merrill Lynch em San Antonio, Texas, abriu processo alegando que seu chefe a assediava, e também a outros funcionários, mulheres e de minorias. Quando ela fez reclamações à Merrill Lynch sobre o assédio, seu chefe circulou um artigo em uma revista interna intitulado “Pare de Reclamar”, que indicava que reclamar demais pode- ria levar à perda do emprego. O painel de arbitragem determinou a Sumner o pagamento de $ 2,2 milhões em danos de punição, pagamento retroativo e perda de ganhos.28 Infelizmente, o caso Merrill não é um exemplo isolado. Em julho de 2004, outra corretora, a Morgan Stanley, encerrou um processo trazido pela Equal Employment Opportunity Commission (Comissão de Iguais Oportunidades de Emprego) com o pagamento de $ 54 milhões. Allison Schieffelein, ex-trader de títulos na Morgan Stanley, foi a reclamante no caso, alegando discriminação e assédio contra mulheres na empresa. Schieffelein recebeu $ 12 milhões como parte do acordo, um fundo de $ 40 milhões foi estabelecido para distribuição entre outras mulheres incluídas no caso e $ 2 milhões foram transferidos para programas de diversidade na empresa.29 Foco na Diversidade 614 Capítulo Dezessete Embora os processos da Merrill Lynch e Morgan Stanley tenham se baseado no tratamento das mulheres na década de 1990, novos casos de discriminação alegada contra mulheres e minorias continuam a ser manchete até hoje. Por exemplo, em agosto de 2004, Shirley Ellis abriu um processo nacional de ação de classe contra a Costco Wholesale Corporation, alegando discriminação con- tra mulheres quando decisões de promoção eram tomadas para posições geren- ciais.30 Embora o resultado desse caso ainda esteja para ser visto, está claro que erradicar a discriminação e o assédio é uma preocupação premente para os gerentes (ver Capítulo 5). pratiCar a rotação De Cargo ou atribuições temporá- rias Às vezes, surgem conflitos porque os membros da organização simples- mente não entendem bem as atividades e demandas de trabalho que os outros enfrentam em uma organização. Um analista financeiro, por exemplo, pode ter de submeter relatórios mensais a um membro do departamento de contabilidade. Esses relatórios têm uma baixa prioridade para o analista, e ele costuma entregá- los com alguns dias de atraso. Na data devida, o contador sempre liga para o ana- lista financeiro, e, neste momento, instaura-se o conflito, porque o contador des- creve em detalhe o motivo pelo qual ele precisa que os relatórios sejam entregues pontualmente e o analista financeiro descreve todas as outras atividades que ele precisa fazer antes. Em situações como essa, a rotação de cargo ou atribuições temporárias, que expandem a base de conhecimento dos membros da organiza- ção e a apreciação de outros departamentos, pode ser uma maneira útil de resol- ver o conflito. Se o analista financeiro trabalhar durante um período no departa- mento de contabilidade, ele poderá perceber melhor a necessidade de entregar relatórios com pontualidade. Da mesma forma, uma atribuição temporária no departamento financeiro pode ajudar o contador a perceber as demandas que um analista financeiro enfrenta e a necessidade de agilizar aspectos que não pre- cisam ser reportados. utilizar transferênCias permanentes ou Demissões QuanDo neCessário Às vezes, quando outras estratégias de resolução de conflito não funcionam, os gerentes podem precisar tomar medidas mais drás- ticas, inclusive transferências permanentes ou demissões. Suponha que dois gerentes de primeiro nível que trabalham no mesmo depar- tamento estejam sempre agarrando o pescoço um do outro; conflitos freqüentes surgem entre eles embora ambos pareçam conviver bem com os outros funcioná- rios. Não importa o que o supervisor deles faça para que se entendam melhor, esses conflitos continuam ocorrendo. Neste caso, o supervisor pode querer trans- ferir um ou ambos os gerentes, de modo que eles não tenham que interagir com tanta freqüência. Quando níveis disfuncionalmente altos de conflito ocorrem entre os diretores que não podem resolver suas diferenças e se entender, pode ser necessário que um deles saia da empresa. Foi assim que Gerald Levin gerenciou níveis disfuncio- nalmente altos de conflito entre os diretores quando era chairman da Time War- ner (mais tarde Levin foi CEO da AOL Time Warner). Robert Daly e Terry Semel, diretores na Warner Brothers, que formam uma das equipes gerenciais mais res- peitadas em Hollywood, tinham entrado em conflito com Michael Fuchs, um antigo funcionário da Time Warner e chefe da divisão de música, por dois anos. Como Semel descreveu, a empresa “estava funcionando como uma família disfun- cional, e precisava de uma equipe gerencial para dirigi-la.”31 Levin percebeu que o futuro sucesso da Time Warner estava em resolver esse conflito, que era impro- vável que Fuchs fosse capaz de trabalhar efetivamente com Daly e Semel, e que ele arriscava perder Daly e Semel para outra empresa caso não resolvesse o conflito. Diante desse cenário, Levin pediu que Fuchs saísse.32 Gerenciando Conflito, Política e Negociação Organizacional 615 A negociação é uma técnica de solução de conflito particular-mente importante para os gerentes e outros membros da orga- nização utilizarem em situações nas quais as partes em conflito têm níveis aproxi- madamente iguais de poder. Durante a negociação, as partes em conflito tentam chegar a uma solução aceitável para elas, considerando várias alternativas para alocar recursos entre elas.34 Às vezes, os dois lados envolvidos em um conflito negociam diretamente entre si. Outras vezes, dependem de um negociador. Os negociadores são indivíduos imparciais que não estão diretamente envolvidos no conflito e têm experiência especial na condução de conflitos e negociações;35 conta-se com eles para ajudarem duas partes que estão negociando a alcançar uma solução aceitável para seu conflito.36 Quando um negociador age como mediador, o papel dele ou dela no processo de negociação é facilitar uma nego- ciação entre as duas partes; os mediadores não forçam nenhuma das partes a fazer concessões, nem podem forçar um acordo para resolver um conflito. Os árbitros, por outro lado, são negociadores que podem impor o que eles acreditam ser uma solução justa a uma disputa que ambas as partes são obrigadas a acatar.37 estratégias foCaDas em toDa a organização muDanDo a estrutura ou a Cultura De uma organiza- ção O conflito pode indicar a necessidade de mudanças na estrutura ou na cultura de uma organização. Às vezes, os gerentes podem resolver efetivamente conflitos mudando a estrutura organizacional que eles utilizam para agrupar pessoas e tarefas.33 À medida que uma organização cresce, a estrutura funcional (composta por departamentos como marketing, finanças e produção), que fun- cionava bem quando a organização era pequena, pode deixar de ser efetiva, e uma mudança para uma estrutura de produto pode resolver conflitos efetivamente (ver Capítulo 10). Os gerentes também podem resolver efetivamente conflitos aumentando os níveis de integração em uma organização. Lembre-se do Capítulo 15, no qual a Hallmarks Cards aumentou a integração utilizando equipes multifuncionais para produzir novos cartões. O uso de equipes multifuncionais acelerou o desen- volvimento de novos cartões e ajudou a resolver conflitos entre diferentes depar- tamentos. Agora, quando um escritor e um artista têm um conflito quanto à adequação das ilustrações do artista, eles não ficam criticando seus departamen- tos mutuamente, porque estão na mesma equipe e podem resolver diretamente a questão. Às vezes, os gerentes podem precisar tomar medidas para mudar a cultura da organização a fim de resolver conflitos (ver Capítulo 3). Normas e valores em uma cultura organizacional podem promover inadvertidamente níveis disfuncio- nalmente altos de conflito que são difíceis de resolver. Por exemplo, as normas que enfatizam o respeito pela autoridade formal podem criar conflito difícil de resolver quando uma organização cria equipes de trabalho autogerenciadas e os papéis dos gerentes e a estrutura de autoridade na organização mudam. Valores que reforçam a competição individual podem dificultar a resolução de conflitos quando os membros da organização precisam colocar os interesses dos outros à frente dos seus. Em circunstâncias como essas, tomar medidas para mudar as nor- mas e valores pode ser uma estratégia efetiva de solução de conflitos. alterar a origem Do Conflito Quando o conflito se deve à sobre- posição de autoridade, a diferenças nos sistemas de avaliação ou recompensa e a inconsistências de status, os gerentes, às vezes, podem resolver efetivamente o conflito alterando diretamente a origem do conflito — a sobreposição de autori- dade, o sistema de avaliação ou recompensa ou a inconsistência de status. Por exemplo, os gerentes podem esclarecer a rede de comando e redistribuir tarefas e responsabilidades para resolver conflitos devidos à sobreposição de autoridade. negociação Método de resolução de conflito em que duas partes em conflito consideram várias medidas alternativas para distribuir recursos entre si, a fim de chegarem a uma solução aceitável para ambas. negociador Indivíduo imparcial com experiência na condução de conflitos e negociações que ajuda as partes em conflito a alcançarem uma solução aceitável. mediador Negociador que facilita as negociações, mas não tem autoridade para impor uma solução. árbitro Negociador que pode impor o que ele ou ela considera ser uma solução justa a um conflito que ambas as partes são obrigadas a acatar. Negociação 616 Capítulo Dezessete Negociação Distributiva e Barganha Integradora Há dois tipos principais de negociação — a negociação distributiva e a barganha integradora.38 Na negociação distributiva, as duas partes percebem que têm uma quantidade específica de recursos que precisam dividir.39 Elas adotam uma posi- ção adversária. Cada parte percebe que ele ou ela deve conceder algo, mas pro- cura obter a maior parte dos recursos.40 As partes não vêem necessidade de intera- gir entre si no futuro e não ligam se seu relacionamento interpessoal será prejudicado ou destruído devido à negociação competitiva.41 Nas negociações dis- tributivas, os conflitos são conduzidos por competição. Na barganha integradora, as partes percebem que podem ser capazes de aumentar o total de recursos tentando chegar a uma solução criativa para o con- flito. Elas não vêem o conflito competitivamente, como uma situação de ganhar ou perder. Em vez disso, vêem-no cooperativamente, como uma situação em que ambas as partes podem ganhar. A confiança, a troca de informações e o desejo de ambas as partes de atingir uma boa solução para o conflito caracterizam a barga- nha integradora.42 Na barganha integradora, os conflitos são conduzidos por meio da colaboração e/ou da concessão. Considere o modo como Adrian Hofbeck e Joseph Steinberg, parceiros em um restaurante alemão bem-sucedido no Centro-Oeste dos Estados Unidos, resolve- ram seu conflito recente. Hofbeck e Steinberg fundaram o restaurante 15 anos atrás, dividem as responsabilidades gerenciais e dividem, igualmente, os lucros do restaurante. Hofbeck decidiu, recentemente, que queria se aposentar e vender o restaurante, mas a aposentadoria era a última coisa que Steinberg tinha em mente; ele queria continuar a ter e a gerenciar o restaurante. A negociação distributiva estava fora de questão, pois Hofbeck e Steinberg eram muito amigos e valoriza- vam sua amizade; nenhum deles queria fazer algo que magoasse o outro ou afe- tasse a continuidade de seu relacionamento. Então, eles optaram pela barganha integradora, que achavam que iria ajudá-los a resolver seu conflito, de modo que ambos atingissem seus objetivos e mantivessem a amizade. Estratégias para Encorajar a Barganha Integradora Há cinco estratégias com as quais os gerentes de todos os tipos de organizações podem contar para facilitar a barganha integradora e evitar a negociação distribu- tiva: enfatizar objetivos superiores; focalizar o problema, e não as pessoas; focali- zar os interesses, e não as demandas; criar novas opções para todos ganharem; e focalizar o que é justo (ver Tabela 17.1).43 Hofbeck e Steinberg utilizaram cada uma dessas estratégias para resolver o conflito entre eles. tabela 17.1 Estratégias de Negociação para Barganha Integradora • Enfatizar objetivos superiores. • Focalizar o problema, e não as pessoas. • Focalizar os interesses, e não as demandas. • Criar novas opções para todos ganharem. • Focalizar o que é justo. negociação distributiva Negociação adversária em que as partes em conflito competem para ganhar a maior parte dos recursos enquanto concedem o mínimo possível. barganha integradora Negociação cooperativa em que as partes em conflito trabalham juntas para alcançar uma resolução que seja boa para ambas. Gerenciando Conflito, Política e Negociação Organizacional 617 objetivos superiores na Chrysler Tom LaSorda, COO do Grupo Chrysler (a divisão americana da DaimlerChrys- ler alemã), é o primeiro filho de líderes sindicais a subir a uma posiçãode dire- ção em qualquer uma das três maiores empresas automobilísticas dos Estados Unidos.44 Os pais de LaSorda foram ambos ativos em sindicatos trabalhistas, e seu pai, Frank LaSorda, foi presidente da unidade local do UAW em Windsor, Ontário, de 1977 a 1982. Frank LaSorda esteve em um comitê de 12 pessoas que negociou com o conselho de garantia de empréstimo para financiar a recu- peração da Chrysler, que estava insolvente na década de 1980, e fez muitas con- cessões por parte do sindicato para manter a Chrysler funcionando. Como diz Frank: “Tom não teria aquele emprego, ele não teria corporação nenhuma para liderar se não fosse pelas decisões difíceis... Fizemos três concessões em 13 meses, e cada uma pior que a outra.”4 5 O conselho de garantia de empréstimo, a direção da Chrysler e o UAW foram capazes de alcançar aqueles acordos históricos devido a seu objetivo superior de resgatar a Chrysler. Hoje, as relações entre o UAW e os fabricantes de automóveis dos Esta- dos Unidos, inclusive a Chrysler, são consideradas melhores que nunca, visto que ambos os lados têm o objetivo superior de sobreviver e prosperar ante a intensa competição global de potências como a Toyota (ver a seção “O Desafio de um Gerente”).46 Veja o caso de um acordo histórico feito entre o Grupo Chrysler, o UAW e três fornecedores de auto- móveis.47 O acordo envolve um importante investi- mento nas instalações de produção da Chrysler em Toledo, Ohio, que atualmente fabricam o Jeep Liberty e SUVs Wrangler.48 Três fornecedores, Durr Indus- tries, Kuka Group e Hyundai Mobis, construirão parte do Jeep Wrangler com seus próprios funcionários em suas próprias fábricas, permitindo que a Chrysler gaste menos dinheiro investindo em fábricas e mais no desenvolvimento de produto.49 Os fornecedores, Tom LaSorda e outros diretores na Chrysler, e o UAW enfatizar objetivos superiores Os objetivos superiores são aque- les com os quais ambas as partes concordam, independentemente da origem de seu conflito. Aumentar a efetividade organizacional, aumentar a capacidade de resposta aos clientes e ganhar vantagem competitiva são apenas alguns dos objeti- vos superiores que os membros de uma organização podem enfatizar durante a barganha integradora. Os objetivos superiores ajudam as partes em conflito a pen- sarem no quadro geral e no fato de que elas estão trabalhando juntas para um propósito ou objetivo maior, apesar de suas discordâncias. Hofbeck e Steinberg enfatizaram três objetivos superiores durante sua barganha: assegurar que o res- taurante continuasse a sobreviver e a prosperar, permitindo que Hofbeck se apo- sentasse e que Steinberg continuasse sendo proprietário e gerente, contanto que ele quisesse. Como indicado a seguir na seção “Novas Idéias em Administração”, um foco nos objetivos superiores ajudou a promover a barganha integradora entre o Grupo Chrysler e a United Autoworkers Union (UAW). Ron Gettelfinger, presidente do UAW, o segundo da esquerda para a direita, aperta as mãos de Dieter Zetsche, presidente da DaimlerChrysler do Grupo Chrysler da Alemanha, enquanto o vice-presidente da UAW, Nate Gooden, à esquerda, aperta as mãos de Wolfgang Bernhard, COO do Grupo Chrysler, durante negociações contratuais em Auburn Hills, Michigan, em julho de 2003. Novas Idéias em Administração 618 Capítulo Dezessete vêem o acordo e o investimento geral de $ 2,1 bilhões em Toledo como uma forma de ajudar a Chrysler a manter sua competitividade. Esse objetivo supe- rior permitiu a todas as partes deixar de lado suas diferenças e trabalhar jun- tas.50 Como Lloyd Mahaffey, o diretor regional do UAW em Toledo, coloca: “Este projeto mantém aproximadamente 3.800 empregos aqui em Toledo, nos permite implementar novas formas de nos tornarmos competitivos em tempos de rápida mudança para nosso setor.” 51 foCalizar o problema, e não as pessoas As pessoas que estão em conflito podem não conseguir resistir à tentação de focar as falhas e fra- quezas da outra parte, personalizando, assim, o conflito. Em vez de atacar o pro- blema, as partes atacam-se uma à outra. Essa conduta é inconsistente com a barga- nha integradora e pode levar, facilmente, ambas as partes a um modo de negociação distributiva. Todas as partes de um conflito precisam manter-se foca- das no problema, e não na origem do conflito, e evitar a tentação de desacreditar uma da outra. Dada sua forte amizade, essa não foi a questão para Hofbeck e Steinberg, mas eles ainda tiveram de se policiar para evitar personalizar o conflito. Steinberg relembra que quando eles estavam tendo dificuldade para chegar a uma solu- ção, ele começou a pensar que Hofbeck, um homem saudável de 57 anos, era preguiçoso para querer se aposentar tão jovem: “Se ele não fosse tão preguiçoso, nós nunca estaríamos na confusão em que estamos agora”. Steinberg nunca mencionou esses pensamentos para Hofbeck (que mais tarde admitiu que, às vezes, ficava incomodado com o fato de Steinberg ser tão viciado em trabalho), porque ele percebeu que fazer isso prejudicaria suas chances de chegarem a uma solução integradora. foCalizar os interesses, e não as DemanDas As demandas são o que uma pessoa quer; os interesses são por que a pessoa o quer. Quando duas pessoas estão em conflito, é improvável que as demandas de ambas possam ser atendidas. Seus interesses subjacentes, entretanto, podem ser atendidos, e atendê- los é o que faz a barganha integradora. A demanda de Hofbeck era que eles vendessem o restaurante e dividissem os proventos. A demanda de Steinberg era que eles ficassem com o restaurante e mantivessem o status quo. Obviamente, ambas as demandas não podiam ser atendidas, mas talvez seus interesses pudessem. Hofbeck queria se aposentar, receber sua parte do restaurante em dinheiro e viver dos retornos sobre o inves- timento. Steinberg queria continuar gerenciando, sendo proprietário e obtendo renda do restaurante. Criar novas opções para toDos ganHarem Uma vez que as duas partes de um conflito focam em seus interesses, elas estão a caminho de che- gar a soluções criativas ao conflito que beneficiarão ambas. Esse cenário em que todos ganham significa que, em vez de ter um conjunto fixo de alternativas para escolher, as duas partes podem chegar a novas alternativas que poderiam até ampliar os recursos. Hofbeck e Steinberg chegaram a três alternativas. A primeira, embora Stein- berg não tivesse capital, ele poderia comprar a parte de Hofbeck do restaurante. Hofbeck forneceria o financiamento para a compra e, em troca, Steinberg lhe pagaria um retorno razoável sobre seu investimento (o mesmo tipo de retorno que ele poderia obter se tirasse o dinheiro do restaurante e o investisse). A segunda era que os sócios poderiam procurar vender a parte de Hofbeck a tercei- ros, estipulando que Steinberg continuaria a gerenciar o restaurante e receberia Gerenciando Conflito, Política e Negociação Organizacional 619 por seus serviços. A terceira, os sócios poderiam continuar a ter, conjuntamente, o restaurante. Steinberg o gerenciaria e receberia uma parte proporcionalmente maior de seus lucros que a de Hofbeck, que seria um dono ausente, não envolvido nas operações do dia-a-dia, mas ainda assim receberia um retorno sobre seu inves- timento no restaurante. foCalizar o Que é justo Focalizar o que é justo é consistente com o princípio da justiça distributiva, que enfatiza a distribuição justa de resultados baseados em contribuições significativas que as pessoas fazem para as organiza- ções (ver Capítulo 5). É provável que duas partes em conflito discordem em cer- tos pontos e prefiram alternativas diferentes que cada parte acredita que possa servir melhor a seus próprios interesses ou maximizar seus próprios resultados. Enfatizar a imparcialidade e a justiça distributiva ajudará as duas partes a chega- rem a um acordo mútuo sobre qual é a melhor solução ao problema. Steinberg e Hofbeck concordaram que Hofbeck tinha o direito de cortar seusvínculos com o restaurante se essa fosse sua opção. Eles decidiram, portanto, seguir a segunda alternativa descrita anteriormente e buscar um comprador ade- quado para a parte de Hofbeck. Eles conseguiram encontrar um investidor que estava disposto a comprar a parte de Hofbeck e deixar Steinberg continuar geren- ciando o restaurante. E continuaram bons amigos. Quando os gerentes perseguem essas cinco estratégias e encorajam outros mem- bros organizacionais a fazerem isso, eles têm mais probabilidade de ser capazes de resolver efetivamente seus conflitos por meio da barganha integradora. Além disso, durante todo o processo de negociação, os gerentes e outros membros organiza- cionais precisam estar cientes dos vieses (tendências) que podem levar a tomadas de decisão equivocadas e se policiar contra eles (ver Capítulo 7).52 Como indicado a seguir, na seção “Byte de Tecnologia da Informação”, quando as negociações envolverem parâmetros complexos e múltiplos ou os negociadores não tiverem tempo para participar pessoalmente do processo de negociação, o software de negociação, às vezes, pode ser benéfico. negociações informatizadas Algumas negociações, principalmente aquelas que acontecem entre membros de diferentes organizações e envolvem vários parâmetros, podem levar muito tempo. Para negociações em que os funcionários estão tão ocupados que sim- plesmente não têm tempo para lidar com elas, o software de negociação pode ser uma bênção.53 Por exemplo, os médicos e as empresas de seguro estão freqüentemente em posição de negociar datas de pagamento; os médicos querem pagamentos ime- diatos de seus serviços, enquanto as empresas de seguro preferem prazos de pagamento mais longos. Utilizando software fornecido pela SplitTheDifference, os médicos e as empresas de seguro podem chegar a um acordo mutuamente aceitável.54 Com base em informações de ambas as partes, o software apresenta propostas aos médicos (por exemplo, pagamentos imediatos com desconto sobre os honorários pagos), que podem aceitar a proposta ou rejeitá-la e apre- sentar uma contra-oferta. A negociação prossegue até que um acordo seja feito; se após três rodadas não se chegar a um acordo, ambas as partes voltam aos termos da reivindicação inicial entre o médico e a empresa de seguro.55 Outras empresas estão desenvolvendo software para lidar com tipos mais com- plexos de negociações. Por exemplo, a equipe do Projeto A na Fujitsu Labora- tories of America está desenvolvendo software capaz de tabular milhões de cená- Byte de Tecnologia da Informação 620 Capítulo Dezessete Os gerentes devem desenvolver as habilidades necessárias para gerenciar conflitos organizacionais para que uma organização seja efetiva. Suponha, entretanto, que os diretores estejam em conflito quanto à melhor estratégia a ser perseguida por uma organização ou à melhor estrutura a adotar, para que se utilizem eficientemente os recursos organizacionais. Em tais situações, resolver conflitos é, freqüentemente, difícil, e as partes em conflito apelam para a política organiza- cional e as estratégias políticas para tentarem resolver o conflito em seu favor. Políticas organizacionais são as atividades que os gerentes (e outros membros de uma organização) realizam para aumentar seu poder e utilizá-lo efetivamente, a fim de atingir seus objetivos e superar a resistência ou a oposição.58 Os gerentes realizam, freqüentemente, a política organizacional para resolver conflitos em seu favor. Estratégias políticas são as táticas específicas que os gerentes (e outros membros de uma organização) utilizam para aumentar seu poder e utilizá-lo efetivamente a fim de influenciar e ganhar o apoio de outras pessoas enquanto superam a resis- tência ou a oposição. As estratégias políticas são de extrema importância quando os gerentes estão planejando e implementando grandes mudanças em uma organi- zação: os gerentes não precisam ganhar o apoio apenas para suas iniciativas de mudança e para influenciarem os membros organizacionais a se portarem de for- mas novas, mas também para superarem, freqüentemente, a forte opo- sição de pessoas que se sentem ameaçadas pela mudança e preferem o status quo. Aumentando esse poder, os gerentes são mais capazes de fazer as mudanças necessárias. Além de aumentar seu poder, os geren- tes também devem certificar-se de que utilizam seu poder de uma forma que realmente lhes permita influenciar os outros. A Importância da Política Organizacional O termo política tem uma conotação negativa para muitas pessoas. Alguns podem pensar que os gerentes que são políticos subiram ao comando não por seu próprio mérito e capacidades, mas devido a quem eles conhecem. Ou as pessoas podem pensar que os gerentes rios diferentes envolvendo negociações em que as duas partes poderiam, inicialmente, ter muito mais pontos de divergência que de acordo.56 Os computa- dores podem processar informações e encontrar soluções mais rapidamente que os humanos, então, utilizando informações sobre as preferências das pessoas, os com- putadores podem chegar a um vasto número de soluções potenciais que podem ser repassadas. Por exemplo, a equipe do Projeto A está trabalhando em software capaz de facilitar negociações entre um agente de compras e um fornecedor, levando em conta as preferências de ambas as partes e as prioridades relativas para fatores como tempos de entrega, quantidades, confiabilidade, qualidade, custos de expedição e métodos, tamanho, cor e o que mais poderia ser relevante para a negociação em mãos para chegar a uma solução que ambas as partes achem aceitável. Dave Marvit, que chefia a equipe do Projeto A, coloca essa questão da seguinte maneira: “Os bons negociadores sabem que você pode se dar melhor se acrescentar mais condi- ções de negócio às discussões.... Não é apenas o preço, mas o prazo e outros fatores. Os computadores podem lidar com mais parâmetros de modo que se possa tirar mais valor da transação. É o oposto de um jogo de soma zero.” 57 Política Organizacional “Eu não quero ficar recorrendo ao senhor, doutor, mas tenha uma tendência natural em direção ao poder.” política organizacional Atividades que os gerentes realizam para aumentar seu poder e para utilizá-lo efetivamente a fim de atingir seus objetivos e superar resistência ou oposição. estratégias políticas Táticas que os gerentes utilizam para aumentar seu poder e para utilizá-lo efetivamente a fim de influenciar e obter apoio de outras pessoas enquanto superam resistência ou oposição. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Dica do professor Hoje, as redes sociais potencializam as crises de imagem das empresas. Não é preciso muitos minutos para que uma empresa tenha sua marca dilacerada na Internet. Para isso, o mundo organizacional precisa, constantemente, criar ações para enfrentar situações de crise e, melhor ainda, criar ações para previni-las. Nesta dica, você vai ver como as empresas podem se preparar para evitar crises de imagens, especialmente nas redes sociais. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/3cf1761e375be25af1001630baa39845 Na prática Companhias aéreas, pelas peculiaridades de sua atividade, têm um rígido protocolo de gestão de crise para adotar em caso de acidentes – o que não as livra do risco de comprometimento da imagem institucional nessas ocorrências. Em 29 de setembro de 2006, um Boeing da Gol fazia a rota Rio de Janeiro-Manaus quando colidiu no ar com um jato executivo – 154 pessoas morreram. Era o primeiro grande acidente da empresa. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/81440707-80a6-4af6-b5db-2df1647d6f1f/936b814d-512c-4f0c-bce0-12ae67273909.jpgO executivo visitou o local do acidente, afastou pessoas que não conseguiam lidar com o estresse da situação e estimulou os funcionários a continuarem trabalhando normalmente. A decisão mais importante foi seguir justamente o que estava prescrito no manual. A sala de crise funcionou durante 18 dias. As ações da empresa negociadas na bolsa praticamente não tiveram oscilação no período. Essa experiência é considerada referência em gestão de crise. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: MANUAL DE GESTÃO DE CRISE E IMAGEM Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. 22 DICAS SOBRE GESTÃO DE CRISES E RELACIONAMENTO EM MÍDIAS SOCIAIS Nesse site você vai ver algumas dicas sobre diferentes crises de mídias sociais. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. O que o gestor deve falar para seus colaboradores na hora da crise? Video com a entrevista do jornalista Marçal Siqueira ao Maringá Tube, sobre falas do gestores Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.facisc.org.br/wp-content/uploads/2020/03/Manual-de-Gest%C3%A3o-de-Crise-e-Imagem-FACISC.pdf https://www.linkedin.com/pulse/22-dicas-sobre-gest%C3%A3o-de-crises-e-relacionamento-em-m%C3%ADdias-terra https://www.youtube.com/embed/XXNurv6Fla0 Administração e Comunicação Apresentação Uma empresa tem variadas necessidades de comunicação, com diferentes canais, públicos e objetivos. Para que haja unidade nos processos, é preciso adotar um projeto organizacional e administrativo. Nesta Unidade de Aprendizagem, você entenderá como isso pode ser feito por meio do conceito de organização expressiva. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as potencialidades da organização expressiva.• Reconhecer o poder da linguagem na comunicação organizacional.• Indicar a aplicação do conceito da organização expressiva.• Infográfico Desde o uniforme e o comportamento dos funcionários até o layout do site da organização e de diversas outras características, em conjunto, formam uma organização expressiva – contanto que todas estejam alinhadas, claro. Conteúdo do livro Você sabe o que é organização expressiva? Uma organização se expressa por meio de diversas atividades, mas, na prática, o que isso quer dizer? O livro Administração e organizações, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, esclarece as três características que devem estar alinhadas em uma organização expressiva: visão, cultura e imagem. Inicie sua leitura no item Comunicação no trabalho, que faz parte do Capítulo 7, e leia até o final deste capítulo. Boa leitura. STEWART CLEGG MARTIN KORNBERGER TYRONE PITSIS ADMINISTRAÇÃO E ORGANIZAÇÕES SEGUNDA EDIÇÃO Uma Introdução à Teoria e à Prática C623a Clegg, Stewart. Administração e organizações [recurso eletrônico] : uma introdução à teoria e à prática / Stewart Clegg, Martin Kornberger, Tyrone Pitsis ; tradução: [coordenação de] Patrícia Lessa Flores da Cunha... [et al.] ; revisão técnica: Alexandre Perucia. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2011. Editado também como livro impresso em 2011. ISBN 978-85-7780-830-4 1. Administração. I. Kornberger, Martin. II. Pitsis, Tyrone. III. Título. CDU 658 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO 331 que a tornaram uma das empresas mais reco- nhecidas do mundo, conta com uma revista chamada Color, dedicada a questões como es- cravidão, prisões e refugiados. A Color é tra- duzida para muitas línguas e vendida em mais de 60 países. Analisa temas e faz as pes- soas se conscientizarem de problemas mar- ginalizados. Fazendo isso, a Benetton posi- ciona-se, não apenas como fabricante de roupas, mas também como uma organiza- ção socialmente responsável, preocupada com questões sociais. COMUNICAÇÃO NO TRABALHO Dada a variedade de abordagens, canais, pú- blicos e níveis de comunicação, é fundamen- tal, para as organizações, coordenar suas ati- vidades de comunicação. Uma forma de ad- ministrar o monstro de múltiplas cabeças é explorada pelo conceito de organização ex- pressiva. Criação da organização expressiva Em uma contribuição significativa para a teo- ria da organização e a prática de administra- ção, Schultz et al. (2000) definiram o concei- to de organização expressiva. A comunicação é parte vital de toda ati- vidade organizacional e o conceito de orga- nização expressiva leva isso em conside- ração. A tarefa-chave de uma organização ex- pressiva é comunicar Criar uma marca de sucesso envolve clientes e cria um relacionamento entre esses clientes e a empresa A The Body Shop é um excelente exemplo de criação de marca. Anita Roddick, fundadora da The Body Shop, criou uma identidade de marca forte, em torno da noção de uma filosofia de lu- cros com princípios. A empresa protesta contra a testagem em animais, ajuda países do Tercei- ro Mundo, apoia o movimento das mulheres, para mencionar apenas algumas de suas muitas ati- vidades (Joachimsthaler e Aaker, 1997). Isso ex- pressa claramente os valores da empresa e mo- tiva, de maneira consistente e simultânea, os membros da equipe. A Benetton, por outro lado, teve problemas com sua estratégia de marca. Quando a Benetton começou a fazer anúncios usando imagens de pessoas soropositivas em seus outdoors e levantou outras questões polê- micas, sem dúvida, criou consciência de marca, mas falhou ao ligar essa consciência ao seu ne- gócio – vender roupas. Ao contrário, alienou o mercado-alvo e os varejistas (Joachimsthaler e Aaker, 1997). MOMENTO PARA EXERCITAR Pense em uma marca que você tenha comprado e gostado. Quais foram as razões? Liste-as. Agora, pense em uma marca que você comprou e não gostou. Quais foram as razões? Liste-as. Compare suas anotações com as de seus cole- gas. Vocês identificaram marcas e pontos positi- vos e negativos similares? Em poucas palavras, o conceito de organização expressiva captura dife- rentes níveis de expres- sões organizacionais e seu impacto sobre pro- cessos, tais como cria- ção de estratégias, re- cursos humanos, marke- ting e outros. 332 PARTE DOIS ADMINISTRAÇÃO DE PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS sua identidade a seu público interno e exter- no. Ela integra os níveis de comunicação e os diferentes públicos e alinha a comunicação corporativa de maneira correspondente. Se uma empresa administra a comunica- ção de uma identidade associada a valores como ser inovadora, atual e criativa, atrairá funcionários de alto nível e, simultaneamen- te, motivará os membros de sua equipe. Atrai- rá, também, novos clientes e criará fortes la- ços com os já existentes. Além disso, será mais fácil para essa empresa ter investidores finan- ceiros para si, bem como fortes relações com fornecedores importantes. Em um ambiente cada vez mais competi- tivo, a publicidade e a criação de marca não serão ferramentas suficientes para diferenciar sua empresa da de seus concorrentes. Cada vez mais as organizações irão competir a partir do que são e de sua habilidade em expressar sua identidade e valores centrais. Assim, gerenciar capital simbólico e emocional, por meio da comunicação, torna-se o negócio central da administração. Mesmo o símbolo de fabrica- ção e produção que inventou a linha de mon- tagem, a Ford, anunciou uma alteração em sua orientação, na direção de seu negócio princi- pal e de entendimento do mesmo. Como de- clarou um de seus executivos, “A fabricação de carros será parte decrescente do negócio da Ford. No futuro, haverá uma concentração em projeto, marca, marketing, vendas e operação de serviços” (citado em Olins, 2000:51). O deslocamento de uma empresa de carros tan- gíveis para ativos menos tangíveis implica que a compreensão da comunicação é sua tarefa mais importante. Diferentes marcas comoSkoda, VW, Audi e Seat pertencem à mes- ma empresa e partilham, umas com as ou- tras, uma plataforma corporativa; isso dei- xa claro que a diferença entre esses produ- tos não é tanto de características físicas de carro, mas mais com relação a diferentes visuais, sensações e valores não tangíveis a eles associados. Assim, administrar um fa- bricante de carros significa, cada vez mais, administrar significado. E essa administra- ção de significados apoia-se fortemente na comunicação. É importante entender que uma organi- zação se expressa por meio de várias ativida- des: o comportamento de seus funcionários, seu projeto físico (incluindo uniformes, pon- tos de venda, prédios, etc.), sua identidade cor- porativa (logotipo, página na Web, etc.), sua publicidade, seu objetivo estratégico, seu en- volvimento em atividades comunitárias e as- sim por diante. Em resumo, tudo fala. As or- ganizações sempre comunicam e não podem evitar isso. Dessa forma, a organização expres- siva concentra-se em comunicações que, cons- tantemente (de maneira consciente ou não), representam qualquer organização. Conforme afirmam Hatch e Schultz (2001), a fim de competir exitosamente com seus concorren- tes, uma organização tem de criar uma iden- tidade corporativa forte que se reflita na mar- ca corporativa. Tal organização expressiva ali- nha três importantes características organiza- cionais que são, em geral, analisadas separa- damente: visão (estratégia), cultura (funcio- nários) e imagem (marca). A fim de alinhar essas “estrelas estratégicas”, os autores suge- rem analisar as três possíveis lacunas entre elas: 1 A lacuna entre visão-cultura surge quan- do a administração se afasta de seus fun- cionários, desenvolvendo uma visão que não é compartilhada, compreendida ou apoiada pelo restante da organização. A visão não inspira de maneira suficiente a organização como um todo. 2 A lacuna imagem-cultura deriva de um de- salinhamento entre o comportamento dos funcionários e a imagem expressa. A em- presa não pratica o que prega. 3 A lacuna imagem-visão resulta de um con- flito entre a visão da organização e a ima- gem do ambiente da organização. Se a administração quer que a empresa vá em direção contrária a que seus clientes e ou- tros stakeholders estejam indo, o melhor plano estratégico será em vão e, por fim, fracassará. CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO 333 A chave para o sucesso é analisar as lacu- nas e, por meio de pesquisa cuidadosa, elimi- ná-las pela compreensão de ponto de vista e necessidades de stakeholders, da perspectiva de funcionários e de objetivo estratégico da alta administração. Administração com palavras? Compreender o poder da comunicação e da linguagem possibilita que você utilize palavras para administrar organizações. Tome o exem- plo dos funcionários. Como administrador, você pode se referir a eles como funcionários, mas poderia ainda chamar determinadas pes- soas, em diferentes ocasiões ou contextos, de “mão de obra”, “recursos humanos”, “jogado- res”, “estrelas”, “derrotados”, “perdedores” (ou a expressão australiana equivalente “drongos”) e assim por diante. Metáforas diferentes não so- mente afetam as pessoas de maneiras diversas, mas também despertam pensamentos diversos. Recursos podem ser explorados e desenvolvidos, enquanto mão de obra é apenas utilizada e, sim- bolicamente, torna-se independente da mente, cérebro e corpo. Utilizando diferentes metáfo- ras e comunicando-se por elas, os administrado- res criam diferentes realidades (ver também Ca- pítulo 1). Ao contar histórias, os membros da orga- nização dão forma à organização. Deal e Ken- nedy (1982) identificam três papéis que as histórias exercem nas organizações. Primeiro, elas prendem o presente ao passado. Situam a história da organização e suas origens, o que possibilita às pessoas compreender a situação atual. Segundo, mantêm a coesão. Comparti- lhando as mesmas histórias, proporcionam aos seus membros senso de comunidade e valores comuns. Finalmente, explicam por que as coi- sas são da forma que são. Histórias explicam muito das práticas e do comportamento que são expostos na vida organizacional. A isso, pode- mos acrescentar que elas definem a normalida- de e suas variações; determinam o que está fora do normal como extraordinariamente bom, as- sim como extraordinariamente ruim. Se a comunicação é fundamental para pro- cessos de organização, se a linguagem é o meio pelo qual as organizações são racionais, pla- nejam, negociam e tomam decisões, a mudan- ça poder ser colocada em prática por meio de diferentes linguagens. O exemplo simples uti- lizado acima demonstra facilmente isso. Pen- sar e falar de seus funcionários como “mão de obra” (como fez Taylor) significa deixar de lado uma ampla variedade de possíveis oportuni- dades. Utilizar a metáfora de recursos huma- nos abre um mundo inteiro de possíveis opor- Escutar A comunicação para uma organização expressi- va começa não pela fala, mas pela escuta. Con- forme descobriu Carl R. Rogers em sua expe- riência como psicoterapeuta, o principal obstácu- lo para a comunicação é a tendência das pessoas de avaliar (Rogers, 1991). Esse fenômeno pode ser superado a partir do fortalecimento de outra habilidade – o ouvir. Especialmente quando as pessoas falam sobre questões de elevada carga emocional, elas apegam-se a sua própria estru- tura de referência e esquecem de entender o EM ESSÊNCIA ponto de vista do outro. Mas, como sugere Ro- gers, a mudança pode ser conquistada somente pelo entendimento com o outro e não pelo en- tendimento do outro. ••••• Uma técnica simples pode ajudá-lo a enten- der a importância de escutar: antes de co- meçar a discutir com as pessoas, resuma os pontos apresentados por elas de maneira bastante precisa, de tal forma que concor- dem e sintam-se satisfeitas. Isso significa que você realmente compreendeu bem tudo o que elas querem dizer. 334 PARTE DOIS ADMINISTRAÇÃO DE PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS tunidades de administração, em que as pes- soas tratadas como recursos podem não so- mente ser exploradas, mas, também, desen- volvidas e utilizadas de maneira mais ou me- nos eficiente. Essa nova linguagem de ge- renciar pessoas diferencia-se por meio de di- ferentes habilidades, aprendizado e poten- cial de desenvolvimento, que você pode até mesmo não ver ou administrar enquanto utiliza o termo mão de obra para funcioná- rios. Em resumo, uma mudança de lingua- gem, uma nova metáfora, uma nova manei- ra de comunicação pode alavancar a mudan- ça e o desenvolvimento organizacional. É claro que, da mesma forma que a noção de ser mão de obra possui seu lado negativo, a noção de pessoa como recurso também o tem. Pessoas podem ser usadas, exploradas e esgotadas como recursos. Precisamos pen- sar estrategicamente sobre nossas estratégias de comunicação, metáforas e linguagem – na organização expressiva, elas estão forte- mente ligadas. Poder e comunicação Toda forma de administração envolve poder. A comunicação não é exceção; nunca é um artifício neutro para expressar realidade. Na verdade, ela cria realidade. É um meio pode- roso de estabelecer e reforçar a realidade orga- nizacional. Bordow e Moore (1991) sugerem três etapas (às quais acrescentamos mais duas) MINICASO Comunicação como uma estratégia Um exemplo extraído da Navistar Company ilus- tra a ligação da comunicação com a estratégia (Argenti e Forman, 2000). John Horne, dire- tor-executivo da fabricante de caminhões pesa- dos Navistar, juntou-se à empresa em 1993 e en- controu a organização em uma situação não tão boa. Stakeholders importantes (funcionários, sin- dicatos, alta administração, comunidade finan- ceira, mídia) haviam perdido a confiança na em- presa, e a situação como um todo não era muito boa. Horne decidiu que a forma de mudar isso seria trazer seus funcionários para junto de si (no- vamente) – e isso aconteceu a partir de uma ini- ciativa de comunicação bem desenvolvida. O primeiro passo foi visitar as fábricas, a fim de engajar todos os funcionários na discussãode como bater a concorrência. Logo, isso tor- nou-se uma tarefa formal da administração, e, todo mês, um membro da alta administração vi- sitava uma fábrica. Em encontros que envolviam cerca de 30 trabalhadores, que expunham ante- cipadamente com os colegas suas necessida- des, conversavam a respeito das coisas boas e das que poderiam ser melhoradas. Após a reu- nião, a administração publicava um relatório que incluía respostas às questões levantadas. Além disso, os trabalhadores da fábrica de montagem foram convidados a visitar a sede e discutir as necessidades dos trabalhadores com os toma- dores de decisão, de maneira informal e direta. Essa prática de comunicação desenvolve proces- sos conjuntos de criar e implementar estratégias, onde trabalhadores e administradores aprendem mutuamente, uns com os outros. Em segundo lugar, Horne iniciou uma pes- quisa com funcionários, concentrando-se em si- tuações de trabalho específicas. Os resultados da pesquisa foram publicados, e um plano de ação foi desenvolvido, incluindo prazos e resul- tados, envolvendo, especialmente, líderes sindi- cais, tornando-os participantes do processo de mudança. Com esses esforços e exercícios re- lacionados (como campanhas de RP, introdu- ção de conferências de liderança, a fim de me- lhorá-la, etc.), Horne colocou a Navistar nova- mente no rumo do sucesso. Ele iniciou proces- sos de comunicação com públicos diferentes. Por meio da criação de uma base comunicati- va compartilhada, a organização estabeleceu um futuro comum nas e pelas comunicações (ver Argenti e Forman, 2000). • Pense sobre onde você trabalha ou estuda. A organização se comunica com você eficaz- mente; a partir de seu ponto de vista, quais as formas mais eficientes utilizadas? CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO 335 para que administradores gerenciem a comu- nicação ativamente. Esses devem se dar conta de que, ao administrar com poder na e entre a comunicação, estão, essencialmente, adminis- trando valores (ver também Capítulo 6). Quer estejam priorizando ajuste de gerenciamento orçamentário e o baixo risco, ou estejam pre- parados para investir em oportunidades para inovação com um alto risco de fracasso, eles estão comunicando os valores que dominam a organização. É extremamente importante que esses valores sejam internamente consis- tentes e conhecidos por todos; caso contrário, essa dissonância passa a ideia de desprezo e alienação. Uma vez estando os valores dentro da estrutura, os administradores precisam con- siderar o estabelecimento de uma pauta. Isso significa garantir que as pessoas falem sobre as coisas certas. Você tem um papel de lide- rança ao selecionar o tópico de comunicação. Não importa o que aconteça, é importante que as pessoas falem e entendam os eventos rela- cionados às questões que você levanta. Se as vendas caem, existem muitas formas de lidar com esse problema. Você pode treinar a equi- pe de vendas, baixar os preços, aumentar a qualidade ou os serviços em torno do produ- to, promovê-lo melhor, produzi-lo de manei- ra mais barata ou mudar o mercado, por exem- plo. É importante isolar um ou dois tópicos que são utilizados para discutir e compreen- der os acontecimentos. Ter certeza de que não somente as pessoas falam sobre o assunto, mas também que as pessoas certas falam sobre ele. Criar redes de pessoas que representam atores importantes, que possuem conhecimento, contatos, ideias, energia e poder para mudar as coisas. Esses atores-chave devem se unir e formar uma rede temporária que discute o problema e elabora possíveis soluções. Essa rede poderia envolver pessoas de todos os ní- veis da hierarquia, com históricos e personali- dades diferentes. Ao desenvolver a solução para os problemas que a organização enfrenta, te- nha certeza de que você administra a dissemina- ção, de modo que a informação seja comunica- da por toda a organização e para os stakeholders mais importantes de fora da organização. Exis- tem várias formas de disseminar ideias: anun- ciá-las em discursos, divulgá-las via jornal da organizacão ou jornal eletrônico ou pela pu- blicação de um relatório. Essas estratégias top- down podem ser suplementadas com táticas bottom-up – tais como comentários ou con- versa informal com atores-chave de um pú- blico mais amplo que comunicará sua mensa- gem para seu próprio público. Não confie unicamente em mensagens formais, oficiais, procure descobrir maneiras informais de co- municar a mensagem. O melhor é criar a men- sagem simbolicamente em valores que não são somente anunciados, mas também evidentes na prática (ver também Capítulo 5). Criação da mensagem A história, a seguir, ilustra a criação da men- sagem. Thomas Watson Jr., Presidente do Conselho da IBM, foi desafiado por uma su- pervisora, descrita como [uma] recém-casada de 22 anos de idade, pe- sando 41 quilos, cujo marido foi mandado para fora do país e a quem, em consequência, foi dado um emprego até a volta dele. A jovem mulher, Lucille Burger, foi obrigada a certifi- car-se de que as pessoas que entrassem em áreas de segurança usassem uma identificação clara e correta. Cercado por seu usual séquito de homens de camiseta branca, Watson aproxi- mou-se da entrada de uma área onde ela estava de guarda, não usando um crachá verde que permitiria a entrada por aquela porta, mas um crachá laranja aceito em outros lugares da fá- brica. “Eu estava tremendo em meu uniforme, que era muito grande”, lembra ela. “Ele escon- dia meu tremor, mas não minha voz”. “Des- culpe”, eu disse a ele. Com certeza, eu sabia quem ele era. “Você não pode entrar. Sua en- trada não é permitida”. Isso é o que devíamos dizer”. Os homens que estavam acompanhan- do Watson ficaram chocados; o momento con- tinha possibilidades imprevisíveis. “Você não 336 PARTE DOIS ADMINISTRAÇÃO DE PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS sabe quem ele é?” sussurrou alguém. Watson ergueu sua mão pedindo silêncio, enquanto alguém do grupo retirou-se rapidamente e re- tornou com o crachá adequado (Peters e Wa- terman, 1982, citado em Mumby, 1987: 121). A história deixa claro que, independentemente de poder e de status dentro da hierarquia or- ganizacional, todos os membros têm de obe- decer rigidamente às regras. Watson e a su- pervisora estabeleceram um exemplo de com- portamento correto: Watson providencian- do o crachá correto e a supervisora agindo rigorosamente, de acordo com as regras. Mas a história também funciona como um pon- to de referência para os membros da orga- nização (especialmente para os novatos, que ainda não sabem como a organização fun- ciona realmente) e possui mais um signifi- cado sutil. Como demonstra a história, to- dos na IBM têm de aceitar igualmente as normas. Entretanto, o que a história não menciona é que essas regras são estabeleci- das pela administração, por pessoas como Watson e não pela supervisora. Mumby (1987) afirma que a história pos- sui vários significados subjacentes que influen- ciam de maneira muito intensa a realidade organizacional. Se Watson fosse realmente apenas outro funcionário que tivesse de seguir as normas, não valeria a pena a história ser recontada. Simultaneamente, Watson é apre- sentado como um funcionário “comum”, com o qual se pode conversar tanto quanto qual- quer outro membro da organização, mas, ao mesmo tempo, se mostra como uma figura divina na história. Observe apenas a descri- ção dos dois atores. A supervisora é descrita como uma “recém-casada de 22 anos de ida- de, pesando 41 quilos, cujo marido foi man- dado para fora do país”; suas roupas não ser- vem e ela está nervosa ao enfrentar Watson. Apesar de a história pintar uma fotografia pobre dela, trabalhando apenas porque seu marido está fora do país, Watson mostra-se quase mítico, cercado por uma espécie de sé- quito que normalmente acompanha um rei. Enquanto a supervisora fala, Watson, nova- mente como um deus, não diz nada – ou- tras pessoas falam por ele. E, mesmo no momento da história em que ele poderia ter falado, simplesmente ergue a mão e as coi- sas acontecem (Mumby, 1987).Usando essa história aparentemente inocente como um exemplo, você pode observar a comunica- ção em funcionamento. Ela conta aos mem- bros da organização como eles devem se comportar (seguir as normas rigorosamen- te) e, simultaneamente, promove e reforça as relações de poder organizacionais (Wat- son como uma figura divina, Burger como uma mulher que se envolve apenas com seu trabalho). Em geral, a comunicação é mais poderosa quando utiliza imagens em vez de palavras e conceitos. Observando como líderes estimu- lam pessoas através da comunicação, uma equipe de pesquisadores analisaram o estilo de comunicação de presidentes norte-americanos e a inspiração sentida pelos cidadãos (Roche, 2001). O resultado foi impressionante. Os presidentes que foram descritos como caris- máticos e incríveis usaram palavras baseadas em imagens para comunicar sua visão. Eles pintaram figuras verbais que realmente inspi- raram seus compatriotas. John F. Kennedy afir- mou em seu discurso de posse: “Juntos per- mita-nos explorar as estrelas, conquistar de- sertos, erradicar doenças, tocar as profunde- zas do oceano e encorajar as artes e o comér- cio”. Compare-o com o discurso de Jimmy Carter, em que afirmou, “permita que nossos recentes enganos tragam um compromisso ressurgente com os princípios básicos de nos- sa nação, para que saibamos que se desprezar- mos nosso próprio governo, não teremos fu- turo”. Enquanto Kennedy utilizou imagens cheias de vida, Carter fez uso de conceitos abstratos que parecem continuar vazios e fa- lham ao criar compromisso. Em resumo, a comunicação com base em imagens é muito mais poderosa que a linguagem voltada para conceitos. Em vez de falar apenas sobre sus- tentabilidade, os administradores devem falar CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO 337 sobre como podemos nos manter em contato com nossos filhos e com a natureza. Administradores eficazes e poderosos criam circuitos de feedback. Será decisivo que você saiba o que outras pessoas pensam a respeito de suas iniciativas, pois exercitar poder sem saber como ele está sendo recebido é encami- nhar-se para uma queda. Assim, sondar o ambiente torna-se uma tarefa vital. As men- sagens podem ser ambíguas ou difíceis de en- tender, o que torna necessário descobrir como elas realmente são compreendidas. Isso envolve todos os níveis – de funcionários a stakehol- ders e clientes. Novamente, isso desafia a es- trutura da organização a oferecer canais, em que essa comunicação pode acontecer. A prer- rogativa tem seus privilégios, pois a comuni- cação administrativa não somente reflete a realidade, mas, também, busca constituí-la. Assegurar feedback é especialmente impor- tante quando um conjunto particular de con- sequências inesperadas possam surgir. Mudan- ças importantes na administração e em orga- nizações não são somente disseminadas nas palavras e por elas, mas somente se tornam vivas quando as pessoas adotam o vocabulá- rio recentemente proposto e descrevem nova- mente suas experiências, utilizando essa nova linguagem, como o sistema de gestão da qua- lidade total (GTQ). A partir do uso de uma nova linguagem, elas criam e colocam em prá- tica uma nova realidade. Contudo, você deve prestar atenção aos paradoxos ocultos na co- municação. Por exemplo, dizer às pessoas para “serem espontâneas!” representa uma situação difícil que torna impossível elas se comporta- rem, realmente, de maneira espontânea. Se elas o fazem, obedecem à sua sugestão e simples- mente não são espontâneas. Alguns tipos de pronunciamentos são referidos como profeci- as autorrealizáveis: transmitem comunicações que motivam o que declaram acontecer. Pen- se no mercado de ações. Se todo mundo acre- ditar que a economia irá mal, as pessoas serão mais cuidadosas com seus investimentos, o que realmente irá ocasionar o que temiam. Ou se você tem medo de não ter sucesso em um exa- me, esse medo pode inibi-lo de ter um de- sempenho normal e você pode não ter suces- so, em função de seu medo. Comunicação polifônica Em uma metáfora geralmente utilizada por escritores e artistas, as organizações podem ser ditas similares à Torre de Babel,¹ construções imperfeitas e diferentes, produto de pessoas falando muitas línguas. Diferentes culturas e subculturas, cada uma com sua própria voz, criaram uma realidade organizacional confu- sa. Em vez de forçar todas as pessoas a falar uma língua, homogeneizando a organização em uma comunicação monotônica, o que le- Quando o anúncio de um fato cria o fato em si Um exemplo a partir de um esporte que você pode encontrar no livro de Weick (1979) ilustra o poder da prerrogativa de forma humorística: “A história conta que três árbitros não concordavam a respeito da tarefa de julgar a validade das jo- gadas e identificar strikes. O primeiro disse: “Eu as considero como são”. O segundo disse: “Eu as considero como as vejo”. O terceiro e mais O QUE QUER DIZER? esperto árbitro disse: “Elas não são nada até que eu diga o que elas são”. Como afirma o terceiro árbitro, bolas e strikes não existem sem julga- mento; ao contrário, tornam-se reais somente quan- do são consideradas como tais. Mas a maioria dos administradores estão envolvidos em jogos que são, de longe, mais complicados que o baseball e têm regras muito mais indefinidas e inerentemente problemáticas e, sob essas circunstâncias, seriam tolos os que acreditassem em suas próprias de- clarações sem, antes, assegurar feedback. 338 PARTE DOIS ADMINISTRAÇÃO DE PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS varia, por fim, à mor- te da criatividade (ver, também, Capítulo 9), a administração deve reconhecer o valor da polifonia. Boje (2002) tem uma metáfora para com- preender as organizações que fazem uso da Tamaraland, uma produção teatral. Tamara- land é uma peça, em que diferentes atos acon- tecem, simultaneamente, em diversos espaços, onde o público está livre para se movimentar. O que um membro do público encontra, bem como o sentido que ele dá para isso, irá variar significativamente, de acordo com o rumo que tomará com relação aos espaços. A produção dá uma ideia do que seja ser um membro pro- blemático do público. Contudo, o mais im- portante é que a peça rompe com noções de linearidade, especial- mente pela forma que o público se relaciona com a mesma, pelas inúmeras experiências, dependen- do da ordem em que ele entra em salas específicas. Para Boje, Ta- maraland, como multiplicidade de significados, resultados e ex- periências, é uma projeção de organizações modernas. Segun- do ele, apesar de as organizações poderem ser descritas por mis- sões, estratégias e assim por diante, existem muitos diretores (p. ex., finanças, marketing, re- cursos humanos), para apenas um script. Boje sugere que considere- mos as organizações como um metateatro, como uma multipli- cidade de dramas simultâneos/ descontínuos, cujo sentido você dá conforme segue adiante. Múltiplas pessoas criam múlti- plos sentidos, e processos de sen- semaking de sucesso escutam, democraticamente, vozes que normalmente estariam silencia- das. Pessoas da periferia (novatos e de fora da empresa) irão pensar de maneira mais criativa, pois estão “expostos a ideias e de- senvolvimentos que não estão em confor- midade com as ortodoxias da empresa” (Ha- mel, 1996: 77). Assim, em vez de oferecer uma liderança forte que silencia divergên- cias, as organizações devem utilizar, em suas narrativas, a polifonia que está à disposição. “Narrativas”, conforme sugere Mumby (1987: 113), “oferecem aos membros rela- tos do processo de organizar. Tais relatos le- gitimam, potencialmente, as formas domi- nantes da realidade organizacional e con- duzem ao encerramento discursivo, no sen- tido de restringir interpretações e significa- dos que podem ser atrelados à atividade or- ganizacional”. Assim, narrativas não são so- Polifonia significa, lite- ralmente, a presença de muitas vozes e, portan- to, de diferentes ideias e perspectivas. IMAGEM 7.13 Imagine a polifonia como um buquê de flores, representando diferentes vozes. CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃODA COMUNICAÇÃO 339 mente artifícios de sensemaking, mas tam- bém uma “produção motivada politicamente de uma determinada forma de perceber o mundo” (Mumby, 1987: 114). A 3M mudou basicamente a forma de re- digir planos de negócio e seu processo de sensemaking. Em vez de surgir com uma lista dos pontos a serem realizados, a 3M – as pes- soas por trás do bloco de notas Post-it e mui- tos outros produtos – criou uma história que explica a nova ideia, e como ela deveria se tornar realidade. A abordagem da narrativa cria compromisso e motivação em toda a or- ganização. Considerando que essas histórias põem em prática e reforçam uma determinada imagem de uma organização que pode influenciar seus membros, quase de forma subliminar, abaixo do limite de suas consciências, narrativas que oferecem a matriz para conversas, ações e to- madas de decisão organizacionais normais podem ser potencialmente produtivas ou con- traprodutivas, funcionais ou não funcionais. Se as imagens forem monotônicas, concebi- das remotamente e impostas de cima para bai- xo aos membros da organização, existe mais probabilidade de um menor senso de proprie- dade, comprometimento e responsabilidade, pois foram criadas poucas oportunidades para participar de construção ou compartilhamento de sentido. Em contraposição, procurar ad- ministrar organizações de maneira polifônica significa engajar-se em diferentes histórias que são comunicadas por vários canais com dife- rentes significados, ao mesmo tempo. Ao fa- zer isso, reduzimos o risco do pensamento gru- pal e aumentamos nossa capacidade de pen- sar criativamente. RESUMO E RECAPITULAÇÃO A comunicação organizacional é absolutamente central para a administração. Como vimos, ela va- ria entre diversas abordagens e análises. Importan- tes teorias provêm de áreas de comportamento or- ganizacional e de análises do discurso. Enquanto a primeira se concentra no compartilhamento de signi- ficados e interpretações, a última centra-se na cons- tituição da realidade por meio da comunicação. Discutimos diferentes níveis de comunicação, incluindo comunicação interpessoal (comunicação direta entre você e seu amigo, em um bar); comu- nicação impessoal (entre você e um operador de call center); comunicação em pequenos grupos (com uma equipe); e, finalmente, comunicação de massa (p. ex., um anúncio da Apple em uma revista que fala sobre os últimos lançamentos de produto). É importante manter separados os diferentes níveis de comunicação, pois todos seguem normas diferentes. O que funciona bem na comunicação de massa não funcionaria quando bem aplicado em uma discussão, com um amigo, em um bar. A fim de comunicar de maneira eficaz, você precisa diferenciar os públicos da comunicação: você pode comunicar dentro de uma organização, com outra organização ou com outros stakeholders, como a mídia, um grupo da comunidade local ou sindicatos. O capítulo percorreu o comportamento organi- zacional, a teoria do discurso, a teoria da comuni- cação e o marketing, ajudando-o a entender, por completo, o significado da comunicação. Explora- mos o papel do marketing e da criação de marca em organizações modernas. Embora você irá ou- vir falar mais sobre esses conceitos em outras obras, é importante observar como elas abordam as organizações. Considerando todas as linhas de pensamento, o conceito de Schltz e Hatch de or- ganização expressiva é um importante progresso para compreender a forma por que as organiza- ções modernas estão se desenvolvendo em enti- dades amplamente comunicativas, que subcon- tratam quase tudo, exceto o controle sobre a marca central. Esse é o caminho que organiza- ções corporativas importantes, como a Nike e a Zara, seguem. Administrar comunicação significa lidar com poder. Vamos nos deparar ainda com esse assun- to no Capítulo 12, quando discutiremos a análise dos círculos viciosos de Gouldner. No contexto da administração da comunicação, os aspectos posi- tivos do poder são particularmente evidentes. Co- municação, envolvendo o conversar, o ouvir e a criação de sentido, a partir de diferentes identida- des e entre elas, envolve, necessariamente, polifo- nia. Administrar a polifonia exige repensar e des- Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Dica do professor Tornar-se uma organização expressiva exige a dedicação dos responsáveis pela gestão. Observe como você pode fazer para alcançar seus objetivos de melhorar a administração por meio da comunicação. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/5be4d2257530ddb40cb0688bb968acd4 Na prática Uma grande indústria multinacional, líder em seu setor, recebeu um novo diretor-presidente. A companhia não estava com uma boa relação com seus funcionários. A gestão anterior havia se comprometido com projetos de melhoria do ambiente de trabalho e não cumpriu o acordado. Essa quebra de confiança já estava se refletindo na produção. Como os funcionários não se sentiam mais tão comprometidos com o negócio, falhas no processo produtivo eram registradas com frequência. A decisão do executivo foi de que precisava trazer os funcionários para junto de si. Para isso, traçou uma estratégia de tornar a comunicação mais próxima. A partir dos encontros com as equipes e da campanha de engajamento, o executivo conseguiu, em alguns meses, integrar-se à organização e fazer com que os funcionários voltassem a ter confiança nos gestores, pois eles sentiram-se respeitados pelos administradores. A expressão da organização começa de dentro para fora. Quando a empresa caminha em harmonia internamente, a comunicação com o público externo, consequentemente, se torna mais eficaz. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: A importância da Comunicação no ambiente de trabalho Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Estudando a comunicação organizacional: redes e processos integrativos Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Comunicação empresarial Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! https://athusrh.com.br/a-importancia-da-comunicacao-no-ambiente-de-trabalho/ http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conexao/article/viewFile/170/161 Comunicação e Liderança Apresentação Comunicação e liderança andam juntas no sucesso organizacional. O líder comunica-se em uma linguagem adequada para transmitir seu conteúdo por conhecer seus liderados. E o que mais é necessário para sermos líderes e/ou comunicadores eficazes? Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá as principais estratégias de comunicação nas hierarquias organizacionais e saberá como melhorar a comunicação descendente, ascendente e horizontal, bem como desenvolver a capacidade de liderança para obter melhores resultados. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Sintetizar as estratégias de comunicação nas hierarquias organizacionais.• Explicar como melhorar a comunicação descendente, ascendente e horizontal.• Discutir como desenvolver a capacidade de liderança.• Infográfico Nesta era em que o conhecimento é uma vantagem competitiva, os líderes empresariais precisam manter um fluxo de comunicação aberto e transparente no ambiente organizacional. Líderes eficazes também são comunicadores eficazes. Mas como fazer isso? Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/432351c8-0f45-4151-bd02-ff213706d2a6/45be82c2-4fd9-479f-9083-595cd4293682.png Conteúdo do livro Para entender mais detalhadamente como é possível melhorar a comunicação descendente, ascendente e horizontal,acompanhe o trecho do livro Administração, a partir do item OA12.5 Comunicação organizacional. Você vai perceber que Coaching e Gestão de livro aberto são conceitos fundamentais em comunicação descendente, além de conhecer as vantagens e as desvantagens da comunicação ascendente e horizontal. Boa leitura. SAIBA A VERDADE! O dia a dia, as dificuldades e as soluções encontradas pelos gestores de empresas consagradas A ética, a onda verde e a responsabilidade social: como lidar com as preocupações da atualidade O desafio de gerir pessoas: unindo as individualidades em favor do todo e nos diferentes níveis hierárquicos ADMINISTRAÇÃO www.grupoa.com.br 2a Edição 34649_Serie A-Administracao 1 09/05/12 16:06 B328a Bateman, Thomas S. Administração [recurso eletrônico] / Thomas S. Bateman, Scott A. Snell ; tradução: Allan Vidigal Hastings ; revisão técnica: Gilmar Masiero. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2012. Editado também como livro impresso em 2012. ISBN 978-85-8055-082-5 1. Administração. I. Snell, Scott A. II. Título. CDU 658 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 288 Administração OA12.5 Explicar como melhorar a comunicação descendente, ascen- dente e horizontal. COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL Ser um comunicador hábil é essencial para ser um bom gestor e líder de equipe. Mas a comunicação também precisa ser gerida em toda a organização. A cada minuto de cada dia, incontáveis elementos de informação são transmitidos por meio das organizações. O fluxo informacional afeta o desem‑ penho das pessoas. Quando o sucesso de um grupo depende da descoberta de novas informações, as pessoas que extraem independentemente informações de diversas fontes ajudam a atingir esse sucesso. Para avaliar informações e chegar a deci‑ sões, as pessoas dos grupos mais eficazes comunicam ‑se com os membros de suas equipes (uma rede altamente conectada). As equipes mais produtivas alternam entre o uso de redes cen‑ tralizadas e redes altamente conectadas.89 Esses padrões de comunicação podem incluir comunicações de fluxo descen‑ dente, ascendente, horizontal e informal dentro da empresa. A comunicação descendente orienta, motiva, treina e informa A comunicação descendente refere ‑se ao fluxo de informação dos níveis mais altos para os mais baixos na hie‑ rarquia de uma empresa. Alguns exemplos são um gestor que dá uma tarefa a um assistente, um supervisor que faça um anúncio aos seus subordinados e o presidente de uma empresa dizendo algo à equipe de administração. Uma comunicação descendente que forneça informações relevantes promove a identificação dos funcionários com a empresa, atitudes de apoio e decisões condizentes com os objetivos dela.90 As pessoas precisam receber as informações necessárias para realizar suas tarefas e tornar ‑se – e permanecer – membros fiéis da empresa. Mas muitas vezes lhes faltam informações adequadas.91 A falta de informação se deve a diversos problemas: • Sobrecarga informacional – Gestores e funcionários veem ‑se bombar‑ deados com tanta informação que não conseguem absorver toda ela. Muito da informação não é de grande importância, mas o volume faz com que se percam informações relevantes. • Falta de abertura entre gestores e funcionários – Os gestores podem achar que “Não receber notícias é uma boa notícia”, “Não tenho tempo para mantê ‑los informados de tudo o que querem saber”, ou “Não é da conta deles mesmo”. Alguns gestores retêm informações mesmo quando compartilhá ‑las seria útil. • Filtragem – Como já vimos neste capítulo, quando as mensagens passam de uma pessoa para outra, parte da informação se perde. Quando uma mensagem passa por muitas pessoas, é possível que se perca informa‑ ção a cada transmissão. A mensagem também pode ser distorcida à medida que as pessoas acrescentem a ela palavras ou interpretações. A filtragem representa problemas sérios nas empresas quando as mensa‑ gens são comunicadas de forma descendente por muitos níveis organiza‑ cionais e perde ‑se muita informação. Os dados da Figura 12.2 sugerem que, quando as mensa‑ gens chegam às pessoas às quais se destinam, os destinatá‑ rios podem obter muito pouca informação de valia. Quanto menor o número de níveis pelos quais a comunicação pre‑ cise passar, menor será a perda ou distorção de informações. Com isso, em empresas mais achatadas, a filtragem repre‑ senta um problema menor de comunicação descendente. Os gestores podem lidar com algumas dessas dificuldades por meio da criação de uma cultura que valorize a comunica‑ ção. Em uma grande empresa de telecomunicações, os funcio‑ nários classificavam consistentemente a divisão de recursos humanos (RH) como a que melhor se comunicava com eles. O presidente da divisão enviava mensalmente mensagens sobre novas contas, produtos em desenvolvimento, tendências de contratação de pessoal e realizações de funcionários específi‑ cos. Os funcionários e gestores também eram mantidos atua‑ lizados por meio de comunicações presenciais em reuniões gerais trimestrais, reuniões mensais dos gestores de linha e reuniões semanais da alta administração. E o presidente con‑ vidava 10 funcionários por vez para comunicações informais em cafés da manhã e almoços mensais.92 coaching Algumas das principais comunicações descendentes ocorrem quando os gestores dão feedback de Cap 12_gestao_BATEMAN.indd 288 16/02/2012 15:19:36 CAPÍTULO 12 | Comunicação 289 desempenho aos seus subordinados diretos. Já tratamos da importância do feedback e dos reforços positivos, quando merecidos. Também é importante discutir abertamente o mau desempenho e áreas que possam ser aprimoradas. O coaching é um diálogo que tem por objetivo ajudar outra pessoa a ser mais eficaz e realizar plenamente seu potencial no cargo.93 Quando bem realizado, desenvolve os executivos e melhora o desempenho.94 Quando as pessoas têm problemas de desempenho ou apresentam comporta‑ mentos que precisem mudar, o coaching é frequentemente a melhor maneira de ajudá ‑los a ter sucesso. E o coaching não é só para os de desempenho fraco; como sabem os grandes atletas, é para todos que sejam bons e aspirem a excelência. Os coaches de executivos às vezes são trazidos de fora, mas um coach externo pode não compreender inteiramente o contexto no qual trabalhamos.95 Assim, não devemos acei‑ tar automaticamente seus conselhos. A melhor maneira de usar um coach é como ouvinte, ajudando ‑nos a pensar bem o impacto potencial de nossas ideias, gerar novas opções e aprender com as experiências passadas. Algumas empresas, como a Coca ‑Cola, por exemplo, usam o coaching como elemento essencial do processo de desenvolvimento de executivos. Quando bem realizado, o coaching é um verdadeiro diálogo entre duas pessoas com‑ prometidas e engajadas com a solução conjunta de proble‑ mas. É muito mais do que uma oportunidade de dar destaque a mau desempenho, repreender ou aconselhar. O bom coa- ching exige uma verdadeira compreensão do problema, da pessoa e da situação; a geração conjunta de ideias a respeito de como agir; e o incentivo à pessoa para que se aprimore. Os bons coaches fazem muitas perguntas, são bons ouvintes, for‑ necem insumos e encorajam os outros a pensar por conta própria. O coaching eficaz exige franqueza, calma e apoio, tudo isso somado a um desejo genuíno de ajudar. A principal e mais duradoura forma de ajuda é capacitar as pessoas e analisar e resolver os próprios problemas. comunicação des- cendente em mo- mentos difíceis Uma comunicação descendente ade‑ quada pode ser especialmente valiosa em momentos difíceis. Durante fusões e aquisições, os funcionários sentem ‑se ansio‑ sos e tentam imaginar como as mudanças os afetarão. Ideal‑ mente (e eticamente), a alta administração deve comuni‑ car ‑lhes as mudanças o quan‑ to antes. Há quem se oponha a essa abordagem, argumentando que informar os funcionários a res‑ peito da reorganização pode levá ‑losa pedir demissão cedo demais. Também nesse caso, a alta administração muitas ve‑ zes se fecha, gerando rumores e ansiedade. Os presidentes ‑executivos e outros gestores gra‑ duados cercam ‑se de advogados, bancos de investimento e outras pessoas pagas para fazer a transação acontecer, não necessariamente dar certo. Mas é preciso aumentar, e não re‑ duzir, a comunicação com as pessoas afetadas pelo negócio.96 Em uma fusão de duas empresas da Fortune 500, duas fábricas receberam informações muito diferentes.97 Todos os funcionários de ambas receberam a mesma carta inicial do presidente ‑executivo informando ‑os da fusão. Depois disso, contudo, uma unidade foi mantida no escuro, en‑ quanto a outra era continuamente informada do anda‑ mento. A alta administração deu aos funcionários infor‑ mações sobre demissões, transferências, promoções e rebaixamentos, assim como sobre mudanças de salário, cargos e benefícios. Qual das unidades se deu melhor durante os di‑ fíceis meses de transição? Nas duas, a fusão reduziu a satisfação dos funcio‑ nários com o cargo e seu comprometimento com a organização, enquanto au‑ mentou a crença em que a empresa era indigna de confiança, desonesta e não se importava com eles. Na fábrica em que os funcio‑ nários receberam poucas informações, os proble‑ mas persistiram por muito tempo. Na outra, contudo, a situação se estabilizou e as atitudes retornaram aos níveis normais. A comu‑ nicação aberta não só aju‑ COMUNICAÇÃO DESCENDENTE Informações que fluem dos níveis hierárquicos mais altos para os mais baixos de uma organização. COACHING Diálogo que tem por objetivo ajudar outra pessoa a ser mais eficaz e realizar seu potencial pleno no cargo. GESTÃO DE LIVRO ABERTO A prática de compartilhar com funcionários de todos os níveis da organização informações vitais anteriormente reservadas à administração. Perda de informação na comunicação descendenteF I G U R A 100% Conselho de administração 63% Vice-presidentes 56% Gestores gerais 40% Gestores de fábrica 30% Supervisores 20% Operários 0% de perda 80% de perda 70% de perda 60% de perda 44% de perda 37% de perda Cap 12_gestao_BATEMAN.indd 289 16/02/2012 15:19:37 290 Administração Muitas pessoas acreditam que se estivermos fazendo um bom trabalho e realizando algo, seus chefes necessariamente saberão, mas não sabem. Jeffrey Pfeffer, professor de comportamento organizacional, Stanford105 dou os funcionários a superar um período de ansiedade como também serviu como valor simbólico, sinalizando atenção aos funcionários e preocupação com eles. Sem essas comunicações, as reações dos funcionários a fusões ou aquisições podem ser negativas a ponto de prejudicar a es‑ tratégia corporativa. gestão de livro aberto Os executivos muitas vezes se orgulham de seus boletins, encontros de adminis‑ tração, vídeos e outros veículos de comunicação descen‑ dente. Muitas vezes, as informações prestadas referem ‑se a times esportivos da empresa, aniversários e novas máqui‑ nas copiadoras. Mas uma filosofia menos convencional tem ganhado impulso. A gestão de livro aberto é a prática de compartilhar com funcionários de todos os níveis da empresa informações vitais anteriormente reservadas à ad‑ ministração. Essas informações incluem metas financeiras, orçamentos, vendas, projeções e outros dados relevantes sobre o desempenho e os prospectos da empresa. A prática é drasticamente diferente da tradicional abordagem fechada segundo a qual as pessoas podem ou não saber como anda a empresa, podem ou não acreditar naquilo que a adminis‑ tração lhes diz e podem ou não acreditar que seu desempe‑ nho pessoal faça alguma diferença. A gestão de livro aberto é controvertida e muitos gestores preferem reservar essas informações para si. Compartilhar planos estratégicos e in‑ formações financeiras com os funcionários pode levar a va‑ zamentos de informação ou à insatisfação daqueles com a remuneração. Mas as empresas que compartilham essas informações relatam um impacto favorável sobre a motiva‑ ção e a produtividade. Segundo Cecil Ursprung, presidente do conselho e executivo da Reflexite Corporation de New Britain, estado de Connecticut, “Por que dizer a 5% da equi‑ pe como anda o placar e não dizer aos outros 95%?”98 Frederick Taylor, o “pai” da administração científica no começo do século XX, teria considerado uma “idiotice” abrir os livros a todos os funcionários.99 Mas foi isso que Jack Stack experimentou fazer na Springfield ReManufacturing Corpo‑ ration, que estava à beira do colapso.100 O resultado? Um jor‑ nalista referiu ‑se à empresa como “a força de trabalho mais motivada e treinada em negócios que já vi”. E “Conheci retifi‑ cadores de bomba de combustível que conheciam a margem bruta de todos os bicos e bombas que produziam. Conheci torneiros de eixo e montadores de motores que eram capazes de discutir o retorno sobre o investimento de suas ferramen‑ tas”. As recompensas também eram parte da história: “Conheci um cara que trabalhava em turbinas e tocava sua área como se fosse a própria microempresa. E por que não? Como os outros funcionários, ele também era dono da SRC”.101 Outras pequenas empresas uniram ‑se ao movimento. Depois, outras maiores, como a BP Canadá, a R. H. Don‑ nelley, a Wabash National e a Baxter Healthcare começa‑ ram a usar a gestão de livro aberto. Abrir os livros, quando feito da maneira correta, repre‑ senta um sistema completo de comunicação que faz sentido tanto para o pessoal do chão de fábrica quanto para os altos executivos. O deslocamento em direção à gestão de livro aberto envolve os seguintes passos fundamentais:102 1. Fornecer informação. 2. Ensinar fundamentos de finanças e negócios. 3. Dar às pessoas o poder de tomar decisões com base no que sabem. 4. Certificar ‑se de que todos compartilhem diretamente do sucesso (e dos riscos) da empresa, por exemplo, por meio de distribuição de ações e bonificações. A comunicação ascendente é de valor inestimável para a administração A comunicação ascendente vai dos níveis hierárqui‑ cos mais baixos para os mais altos. A boa comunicação ascendente é importante por diversos motivos:103 • Os gestores ficam sabendo do que acontece. A administração obtém uma visão mais precisa do trabalho, das realizações, dos problemas, dos pla‑ nos, das atitudes e das ideias dos subordinados. • Os funcionários têm a oportunidade de comunicar ‑se ascendentemente. Com isso, podem aliviar algumas frustrações, obter um maior senso de participação no negócio e aumentar o moral. • Uma comunicação ascendente eficaz facilita a descendente comunica‑ ção na medida em que há bons ouvintes dos dois lados. Uma empresa industrial usou a comunicação ascendente enquanto se preparava para ter turnos ininterruptos. Os ges‑ tores esperavam que a mudança seria difícil para alguns fun‑ cionários e, por isso, reuniu um grupo de foco de operários para informar a administração de como os novos turnos iriam afetar os compromissos familiares e outros dos traba‑ lhadores, inclusive seus estudos noturnos. A discussão de possibilidades com o grupo de foco antes do anúncio formal da mudança criava o risco de que os funcionários espa‑ lhassem boatos, mas a administração determinou que esse risco era menor do que o de avançar sem conhecer as preocu‑ pações deles. A mudança de turno levou em conta as preo‑ cupações dos funcionários e transcorreu sem transtornos.104 Os problemas comuns na comunicação ascendente asse‑ melham ‑se aos da comunicação descendente. Os gestores, assim como seus subordinados, veem ‑se bombardeados com informações e podem negligenciar ou deixar de perceber aquelas vindas de baixo. Além disso, alguns funcionários nem sempre são abertos com seus chefes; a filtragem se dá Cap 12_gestao_BATEMAN.indd 290 16/02/2012 15:19:37 CAPÍTULO 12 | Comunicação 291 COMUNICAÇÃO ASCENDENTE Informações que fluem dos níveis mais baixos para os mais altos nahierarquia de uma organização. COMUNICAÇÃO HORIZONTAL Informações compartilhadas entre pessoas de um mesmo nível hierárquico. tanto na comunicação ascendente quanto na descendente. As pessoas tendem a compartilhar com os superiores apenas as boas novas, suprimindo as más por diversos motivos: • Querem parecer competentes. • Não confiam nos chefes e temem ser punidos se eles ficarem sabendo de algo que tenham feito. • Temem que o chefe puna o mensageiro, mesmo que o problema relatado não seja culpa de quem deu a informação. • Acham que estarão ajudando o chefe se o protegerem de problemas. Por esses e outros motivos, os gestores podem não ficar sabendo de problemas importantes. Como observou um perito em liderança, “Se as mensagens vindas de baixo disse‑ rem que estamos fazendo um trabalho impecável, peça uma avaliação mais sincera”.106 Quando Howard Stringer tonou ‑se o primeiro presidente ‑execu‑ tivo estrangeiro da Sony Corporation, teve diversos problemas de comunicação ascendente – e descendente – com seus colegas japoneses. A equipe de administração que herdou preferia lidar com os pro‑ blemas da maneira tradicional japonesa – discretamente, sem informá ‑lo do que estava acontecendo. Embora o método possa ser eficaz para lidar com pequenas desavenças pessoais, acabou virando um grande problema para a Sony, resultando no atraso do lançamento do PlayStation 3 e em um recall de baterias. Stringer tinha tentado encorajar seus altos gestores a cooperar uns com os outros e considerar novas maneiras de desenvolver produtos, mas eles resistiram. Assim, quando o PlayStation atrasou e aconteceu o recall de baterias, Stringer decidiu que era hora de reorganizar sua equipe. Ele substituiu o chefe da divisão de videogames (que era especialmente fechado) e começou a receber todos os relatórios referentes a problemas de fabricação, inclusive aquilo a que se refere como “mais e ‑mails do que gosto de ler”. Stringer, mesmo percebendo que “não se pode atacar uma empresa japonesa com uma marreta”, passou a afirmar sua autoridade com mais frequência. Diz, ainda, que a Sony começou a apresentar mais comunicação entre gestores de um mesmo nível. Segundo Stringer, “Hoje podemos dizer, em qualquer dia, todos os incidentes ocorridos em nossa produção; assim, acho que aprendemos muito com a experiência”. O presidente ‑executivo da Sony espera nunca mais passar por um dia em que não saiba exatamente o que está acontecendo na empresa.107 gestão da comunicação ascendente Gerar informações úteis a partir de baixo exige que os gesto‑ res facilitem e motivem a comunicação ascendente. Por exem‑ plo, podem ter uma política de portas abertas e incentivar as pessoas a fazer uso dela, almoçar ou tomar café com os fun‑ cionários, usar pesquisas de opinião, instituir um programa de produtividade para sugestões, ou realizar assembleias abertas. Podem pedir conselhos aos funcionários, fazer visi‑ tas informais às fábricas, pensar realmente nas sugestões dos funcionários e responder a elas, e distribuir resumos de novas ideias e práticas inspiradas em sugestões e atitudes deles.108 Alguns executivos praticam a gestão baseada no passeio (MBWA, Management By Wandering Around). O termo, cunhado por Ed Carlson, da United Airlines, refere ‑se a sim‑ plesmente sair do escritório, dar uma volta e falar frequente e informalmente com os funcionários.109 Na sede da Secura Insurance, de Appleton, estado de Wisconsin, o presidente‑ ‑executivo John Bykowski tem o hábito de andar pelo prédio e conversar com os funcionários.110 Nos escritórios do jornal South Florida Sun -Sentinel, o editor Earl Maucker é conhe‑ cido por passar pelos escritórios e baias dos funcionários. Maucker é famoso entre seus quadros de redação por ser acessível e franco e, por isso, eles confiam no que ele diz.111 Em uma empresa do setor aeroespacial, a administração contratou consultores porque a confiança e a comunicação entre administração e funcionários eram baixas. Os consul‑ tores estabeleceram uma equipe de funcionários para estu‑ dar o problema e sua recomendação prioritária era a de que os gestores dessem passeios informais, visitando os funcio‑ nários em suas áreas de trabalho. Os membros da equipe de solução de problemas disseram à administração que deseja‑ vam essas visitas como sinal de que os gestores se impor‑ tavam em conhecê ‑los, passar tempo com eles e escutar o que tinham a dizer.112 A boa comunicação ascendente deve ser reforçada, não punida. Alguém que tente conversar com um gestor a res‑ peito de algum problema não deve ser afastado. As políticas de portas abertas devem ser verdadeiras. Além disso, as pessoas precisam confiar em seus supervisores e saber que não haverá retaliação pelo fornecimento de informações negativas. Para obter franqueza, os gestores precisam escu‑ tar, nunca punir o mensageiro por ser franco e agir com base em comentários válidos que recebam. A comunicação horizontal alimenta a colaboração Pessoas em um mesmo nível hierárquico precisam compar‑ tilhar muitas informações. Essa comunicação horizon- tal pode se dar entre pessoas de uma mesma equipe de trabalho ou em departamentos diferentes. Por exemplo, um comprador discute um problema com um engenheiro de produção, ou uma força ‑tarefa de líderes de departamento se reúne para discutir uma questão específica. A comunica‑ ção horizontal também ocorre com pessoas de fora da empresa, inclusive investidores em potencial.113 A comunicação horizontal desempenha muitas funções importantes:114 • Permite que as unidades compartilhem informações, coordenem os tra‑ balhos e solucionem problemas comuns. • Ajuda a solucionar conflitos. • Ao permitir interação entre pares, fornece apoio social e emocional. Todos esses fatores contribuem para o moral e a eficácia. David Carere, vice ‑presidente financeiro de crédito e liqui‑ dação de contas da Rich Products, destaca o fato de que seu pessoal precisa colaborar com os funcionários em outras funções, principalmente vendas e atendimento ao cliente. Essa colaboração horizontal ajuda a empresa de sobremesas refrigeradas a garantir que suas vendas mantenham ‑se lucrativas e que os créditos de liquidação duvidosa sejam mantidos em níveis mínimos. Para alimentar a comunica‑ ção entre seus funcionários e os de outros departamentos, Carere promove reuniões nas quais o departamento de cré‑ dito explica seu papel aos funcionários de outros departa‑ mentos e aprende mais sobre o que eles fazem.115 Cap 12_gestao_BATEMAN.indd 291 16/02/2012 15:19:37 292 Administração gestão da comunicação horizontal Em ambientes complexos, nos quais as decisões de uma uni‑ dade afetam outras, a informação precisa ser comparti‑ lhada horizontalmente. Um exemplo de boa comunicação horizontal é a conferência anual da Motorola para inter‑ câmbio de melhores práticas entre grupos funcionais e de negócio de toda a empresa. A NASA faz intercâmbio entre cientistas de diferentes disciplinas. E a Hewlett ‑Packard usa bases de dados compartilhadas entre diferentes grupos para promover a troca de informações e ideias.116 A General Electric dá um ótimo exemplo para usar a comu‑ nicação horizontal produtiva como ferramenta competitiva.117 As unidades da empresa poderiam operar independente‑ mente, mas espera ‑se que cada uma ajude as demais. Elas transferem entre si recursos técnicos, pessoa, ideias e dinheiro. A GE realiza esse alto nível de comunicação e cooperação por meio da facilidade de acesso entre divisões e ao presidente‑ ‑executivo; uma cultura de abertura, franqueza, confiança e dever mútuos; e reuniões trimestrais nas quais todos os altos executivos trocam informações e ideias. Atividades similares ocorrem também nos níveis mais baixos. OA12.6 Resumir como trabalhar com a fofoca na empresa. É preciso dar atenção à comunicação informal As comunicações organizacionais variam segundo a formalidade: • Comunicações formais são eventos oficiaisde trans‑ missão de informação, sancionados pela organiza‑ ção. Podem ser ascendentes, descendentes ou hori‑ zontais e muitas vezes são previamente arranjados e necessários para a realização de alguma tarefa. • A comunicação informal é menos oficial. Pode haver fofoca; funcionários podem reclamar de seus chefes; as pessoas conversam a respeito dos seus times prediletos; equipes de trabalho ensinam aos recém ‑chegados como se orientar.118 A “fofoca” é a rede social de comunicação informal. As redes informais proporcionam informação às pessoas, aju‑ dam ‑nas a resolver problemas e ensinam ‑lhes como realizar com sucesso seu trabalho. Precisamos desenvolver uma boa rede de pessoas dispostas e capacitadas a ajudar.119 Mas a fofoca pode ser destrutiva quando boatos irrelevantes ou enganosos proliferam e prejudicam as operações.120 O que isso significa para nós? Não nos envolver em fofoca eletrônica. Episódios embaraçosos podem vir a público e processos judiciais por difamação e invasão de privacidade já usaram e ‑mails como provas. Mas também não devemos evitar a fofoca.121 Precisamos escutar, mas avaliar antes de acreditar no que ouvimos. Quem é a fonte? Qual o seu grau de credibilidade? O boato faz sentido? É ou não condizente com outras coisas que ouvimos? Devemos buscar mais informações e evitar jogar gasolina na fogueira. gestão da comunicação informal Sur‑ gem boatos sobre todos os tipos de assuntos, inclusive salá‑ rios, segurança na empresa, erros dispendiosos e a identi‑ dade das pessoas que estão deixando a empresa ou sendo promovidas. Boatos são capazes de des‑ truir a fé e a confiança das pessoas na empre‑ sa – e umas nas outras. Mas não é possível eliminar a fofoca. Por isso, os gestores pre‑ cisam trabalhar com ela. Há diversas ma‑ neiras de gerenciar a “rádio peão”:122 • Se um gestor ouvir algo que possa fugir ao controle, deve conversar com as principais pessoas envolvidas para chegar aos fatos e obter seus pontos de vista. Não devemos permitir fofocas maliciosas. zontais e muitas vezes são previamente arranjados dade das pessoas que estão deixando a empresa ou sendo promovidas. Boatos são capazes de des‑ truir a fé e a confiança das pessoas na empre‑ para chegar aos fatos e obter seus pontos de vista. Não devemos permitir fofocas maliciosas. ? VOCÊ SABIA? Atualmente, os trabalhadores de escritório dedicam-se a quatro modos de trabalho: focado (concentração em uma tarefa que pode envolver pensamento, redação e reflexão), colaboração (trabalhar com outras pessoas para gerar e avaliar ideias), aprendizado (aquisição de novos conhecimentos) e socialização (desenvolvimento de relacionamentos). Os funcionários das empresas de mais alto desempenho dedicam mais tempo às modalidades de trabalho que exigem mais comunicação horizontal – inclusive 16% mais tempo de socialização.123 0 25% 36% 29% 50% 41% 50% Tempo gasto em trabalho focado Empresas de alto desempenho Empresas de desempenho médio Tempo gasto em colaboração Cap 12_gestao_BATEMAN.indd 292 16/02/2012 15:19:38 CAPÍTULO 12 | Comunicação 293 • Para impedir o surgimento de boatos, os gestores podem explicar even‑ tos que sejam importantes, mas não tenham sido esclarecidos; des‑ fazer incertezas com o fornecimento de fatos; e estabelecer, ao longo do tempo, comunicação aberta e confiança.124 Esses esforços são de especial importância em tempos de incerteza, como após uma fusão ou uma demissão em massa, ou quando as vendas esmorecem porque os rumores aumentam com o nível de ansiedade. Por exemplo, quando caí‑ ram as receitas de publicidade da R. H. Donnelley, que publica listas de páginas amarelas, a administração aumentou seus esforços para garan‑ tir que os funcionários escutassem diretamente da administração, e não da imprensa, quaisquer notícias sobre a empresa. A Donnelley também incentivou seus gestores a visitar regularmente os vendedores para res‑ ponder eventuais perguntas.125 • O gestor deve neutralizar os rumores que já tenham surgido. Reconsiderar o boato se este for improcedente; confirmar abertamente elementos verda‑ deiros; fazer comentários públicos (a ausência de comentários é encarada como uma confirmação do boato); negar o boato, se a negação for verda‑ deira (não devemos fazer negações falsas); garantir que a comunicação sobre o tema seja coerente; escolher um porta ‑voz de nível hierárquico e de conhecimento apropriado; e realizar reuniões abertas, se necessário.126 OA12.7 Descrever a organização sem fronteiras e suas vantagens. A organização sem fronteiras não opõe barreiras ao fluxo de informação Atualmente, muitos executivos e acadêmicos de gestão acreditam que as organizações precisam garantir acesso livre à informação em todas as direções. Jack Welch, quando presidente ‑executivo da General Electric, cunhou o termo sem fronteiras. Uma organização sem frontei- ras é uma organização sem barreiras ao fluxo de informa‑ ção. Se não houver fronteiras separando pessoas, cargos, processos e lugares, as ideias, a informação, as decisões e as atitudes podem chegar aonde são mais necessárias.127 Esse livre fluxo não implica em um caos de comunicação ilimi‑ tada e sobrecarga informacional. Implica em informação disponível na medida do necessário, movendo ‑se rápida e facilmente para que as funções organizacionais operem melhor como um todo do que como elementos separados. O diretor de aprendizagem da GE usa a metáfora da orga‑ nização como uma casa com três tipos de fronteiras: o chão e o teto, as paredes que separam os cômodos e a parede externa. Nas organizações, essas barreiras correspondem às fronteiras entre diferentes níveis organizacionais, entre diferentes uni‑ dades e departamentos e entre a organização e seus interessa‑ dos externos, como fornecedores e clientes. A GE também identifica uma quarta parede: fronteiras globais que separam as operações domésticas das internacionais.128 Um método para derrubar fronteiras é o famoso pro‑ grama Workout da GE, uma série de reuniões de membros da empresa de diferentes níveis hierárquicos, caracterizadas por discussões extremamente francas e duras que derrubam as fronteiras verticais. O Workout já envolveu centenas de milhares de pessoas da GE; em qualquer semana, milhares delas podem estar participando de um programa Workout.129 O Workout também se dá com clientes e fornecedores, derru‑ bando fronteiras externas. A GE estendeu a mão à comuni‑ dade, compartilhando esse conhecimento com organizações sem fins lucrativos, como a CommonBond Communities, uma provedora de moradia barata. Um funcionário da GE liderou uma sessão de Workout na qual funcionários da CommonBond identificaram como melhorar processos e a comunicação horizontal.130 A GE também usa diversas outras técnicas de derrubada de fronteiras. É implacável na realização de benchmarking com concorrentes e empresas de outros setores para apren‑ der as melhores práticas de todo o mundo. A empresa reúne fisicamente funções diferentes, como engenharia e produ‑ ção. Compartilha serviços entre unidades. E às vezes divide instalações físicas com seus clientes. As organizações sem fronteiras criam intencionalmente um diálogo transfronteiriço, transformando barreiras em membranas permeáveis. Como observou o pessoal da GE, pessoas de diferentes partes da organização aprendem “como conversar”.131 Mas também precisam aprender “como andar”. Ou seja, o diálogo é essencial, mas precisa ser seguido de atitudes correspondentes. FOFOCA Rede informal de comunicação. ORGANIZAÇÃO SEM FRONTEIRAS Organização que não possui barreiras ao fluxo de informação. para materiais adicionais de estudo, incluindo apresentações em PowerPoint. ACESSE <http://www.grupoa.com.br> Cap 12_gestao_BATEMAN.indd 293 16/02/2012 15:19:38 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Dica do professor Nãosão só os gerentes de grandes empresas que devem desenvolver as habilidades de liderança: elas fazem diferença na vida de todos nós. Neste vídeo, você vai ver algumas dicas de como desenvolver a sua capacidade de liderança! Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/b6fd10757c59c2a600fad7436e588fee Na prática Apontar tendências para a área de comunicação interna parece tarefa simples quando pensamos, por exemplo, no crescimento e na amplitude das redes sociais. Entretanto, alguns instrumentos não tão novos, como a presença da liderança, são, muitas vezes, os melhores aliados das organizações. A Siemens desenvolveu uma série de regras anticorrupção chamada de Compliance: estar em conformidade com as leis. Para esclarecer a importância desse processo, a empresa adotou uma comunicação completamente transparente. A área de comunicação trabalhou com todas as estratégias e ferramentas disponíveis, como folders, folhetos, intranet, e-mails, etc., mas o sucesso da campanha veio mesmo com a participação ativa dos líderes para disseminar e conscientizar os profissionais sobre o Compliance. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Esse caso é a prova de que o líder não só pode como deve ser utilizado como uma ferramenta de comunicação, pois foi essa relação direta e pessoal que trouxe o sucesso da campanha de Compliance, que está em vigor na Siemens. Engajar e apoiar o discurso do líder também é uma tendência! Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: O Papel da Liderança Informal na Comunicação Interna Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Liderança nas Organizações Contemporâneas – O Papel do Líder do Futuro nas Corporações Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. A Liderança É Um Diálogo, Não Um Monólogo Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R3-1698-1.pdf https://revistapanorama360.wordpress.com/gestao-empresarial/lideranca-e-gestao-de-pessoas/lideranca-nas-organizacoes-contemporaneas-o-papel-do-lider-do-futuro-nas-corporacoes/ https://administradores.com.br/artigos/a-lideranca-e-um-dialogo-nao-um-monologo Comunicação Externa Apresentação Você sabe como uma organização deve se comunicar com seu público externo? A sociedade atual é comunicacional, e isso insere as organizações nos processos constantes de comunicação, tanto em seu ambiente interno quanto em ambiente externo. Fora da empresa, os contatos se dão com parceiros de negócios, concorrentes, clientes, grupos públicos, órgãos de governo, entre outros, incluindo todos os esforços da empresa para vender, contendo a publicidade. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender a identificar os diferentes públicos com os quais a organização se relaciona fora de seu ambiente interno e como se comunicar com cada um deles. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os públicos externos de uma empresa.• Definir as estratégias de comunicação para o público externo.• Avaliar oportunidades de comunicação a partir de inovações tecnológicas.• Infográfico A relação da empresa com o público externo varia em forma, conteúdo e canal, pois são diversos os tipos desse público. Observe, no infográfico a seguir, como eles podem ser classificados. Conteúdo do livro A comunicação com o público externo se dá em vários níveis. Há interação com outras organizações, com stakeholders, com consumidores, etc. Além disso, a comunicação é essencial para formar o conceito da marca, sendo a parte principal das estratégias de marketing. O livro Administração e organizações é base teórica desta Unidade de Aprendizagem e destaca, no Capítulo 7, a importância da comunicação externa para uma empresa. Inicie sua leitura no item Comunicação interorganizacional para cooperação e leia até o final do subitem Comunicação como marca. Boa leitura. STEWART CLEGG MARTIN KORNBERGER TYRONE PITSIS ADMINISTRAÇÃO E ORGANIZAÇÕES SEGUNDA EDIÇÃO Uma Introdução à Teoria e à Prática C623a Clegg, Stewart. Administração e organizações [recurso eletrônico] : uma introdução à teoria e à prática / Stewart Clegg, Martin Kornberger, Tyrone Pitsis ; tradução: [coordenação de] Patrícia Lessa Flores da Cunha... [et al.] ; revisão técnica: Alexandre Perucia. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2011. Editado também como livro impresso em 2011. ISBN 978-85-7780-830-4 1. Administração. I. Kornberger, Martin. II. Pitsis, Tyrone. III. Título. CDU 658 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 324 PARTE DOIS ADMINISTRAÇÃO DE PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS Comunicação interorganizacional para co- operação Cooperação interorganizacional e redes de contatos têm se tornado cada vez mais importante para as organizações. Assim como os seres humanos, as organi- zações constroem relacionamentos que, algu- mas vezes, terminam bem, mas, outras vezes, terminam de maneira áspera. Oliver (1990: 104) destacou seis razões pelas quais as orga- nizações podem cooperar com outras organi- zações: 1 Necessidade: a cooperação pode estar ba- seada no fato de uma organização traba- lhar juntamente com outra, a fim de satis- fazer exigências legais ou regulamentares. 2 Assimetria: a cooperação pode ser impul- sionada pelo desejo de controlar ambien- tes relevantes. Um fabricante de roupas pode trabalhar de maneira muito próxima com seus fornecedores, a fim de exercitar controle e poder sobre os mesmos. 3 Reciprocidade: os interesses de duas orga- nizações podem ser mais bem alcançados quando essas organizações unem suas for- ças e formam uma aliança, em que ambas se beneficiem, tal como ocorre em uma associação comercial. CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO 325 4 Eficiência: obviamente, essa motivação para cooperar está baseada na ideia de melho- ria de desempenho organizacional pela co- operação. 5 Estabilidade: organizações podem coope- rar, a fim de manter um nível de estabili- dade, que, de outra forma, não seria al- cançado. 6 Legitimidade: as organizações buscam co- operar, a fim de legitimar seu próprio ne- gócio. A Shell, por exemplo, trabalha jun- tamente com Greenpeace, que, obviamen- te, ajuda a Shell a produzir a imagem de uma empresa que se preocupa e é respon- sável. Para o crescimento de redes de relaciona- mento, confiança e consenso mútuo são deci- sivos. Isso só pode ser alcançado a partir da comunicação. Duas organizações trabalhan- do juntas necessitam muita coordenação, co- operação e negociação, as quais, muitas vezes, geram conflito e coerção, que podem se ma- nifestar na comunicação e não comunicação (Irwin e More, 1994). Redes de contato de sucesso contam com comunicação gerenciada, em que dois papéis são especialmente importantes. Primeiramen- te, o elo entre a organização e o meio externo (boundary spanner): essa figura representa e comunica as metas de uma organização em seu ambiente interno e para os demais am- bientes onde a organização se faz presente, adquirindo informações externas, o que é ne- cessário para a mesma. Em segundo lugar está o elemento de interligação (interlocker): essa figura, basicamente, é um membro de duas organizações e tem como papel reforçar a per- cepção externa do primeiro elemento (boun- dary spanner) com informações que este não saberia ou não compreenderia (como, por exemplo, rumores, comentários de um orga- nização) (ver também Capítulo 8). Comunicação com stakeholders Na comunica- ção com stakeholders, as organizações utilizam diferentes canais de distribuição (TV, mate- rial impresso, rádio, Internet e, em espe- cial, eventos organiza- dos)para comunicar o que oferecem. Na medida em que pro- dutos e serviços tor- nam-se mais e mais refinados e, simultaneamente, mais semelhan- tes e substituíveis, as organizações buscam ma- neiras diferenciadas de se posicionar no mer- cado. RP, comunicação de marketing, geren- ciamento de reputação e marca são os meios organizacionais para a diferenciação. Eles co- municam o que uma organização representa – promovendo não somente seus produtos, mas, também, seus valores centrais e sua iden- tidade. Uma vez que produtos e serviços mudam rapidamente, e a diferença entre produtos ori- ginais e genéricos está cada vez mais difícil de ser reconhecida (pense no mercado de refri- gerantes do tipo “cola”, com todas as suas marcas genéricas baratas), as empresas tentam desenvolver uma identidade singular, criada pela comunicação, incluindo missão, design corporativo (cartões de visita, papéis, envelo- pes, etc.), pontos de venda, logotipos e outras atividades, tais como patrocínios. O fabricante de bebidas Red Bull, por exemplo, o maior produtor mundial de bebidas energéticas, que vende mais de um bilhão de latas por ano, promove muito a bebida em eventos de espor- tes radicais (www.redbull.com). A meta é criar a imagem de uma organização que vai além das características de seu produto. Mais preci- samente, os produtos devem ser promovidos por meio dessa imagem. Comunicação como marketing Em função de ser uma disciplina bem desen- volvida por seus próprios méritos, as pessoas do marketing não necessariamente concordam com que essa área seja parte de uma comuni- cação organizacional. Contudo, a atividade Comunicação com stake- holders diz respeito à co- municação entre uma or- ganização e outros im- por tantes segmentos (investidores/apoiado- res), como a mídia, gru- pos comunitários, sindi- catos, políticos, etc. 326 PARTE DOIS ADMINISTRAÇÃO DE PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS central do marketing – promover produtos, serviços e, por exten- são, a identidade de uma organização – é, na verdade, um exercí- cio de comunicação. Por trás das palavras “satisfazer clientes re- quer lucratividade”, esconde-se, no entanto, uma tarefa complexa e grande quantidade de pesquisa. A EasyJet, por exemplo, descobriu que as pessoas queriam voar a preços mais baratos, abrindo mão de serviços de bordo. A Body Shop descobriu que cosméticos produ- zidos de maneira ética e ambientalmente res- ponsável e de maneira sustentável, não testa- dos em animais, satisfaziam as necessidades de uma ampla base de consumidores. Uma vez identificadas, tais necessidades tornam-se o ponto de partida para realização da estratégia. Os passos iniciais são realizados dentro da empresa, a partir de algumas mentes estraté- gicas. O próximo passo é comunicar essa es- tratégia a clientes e stakeholders. Isso significa fazer as pessoas entenderem por que você ofe- rece o que oferece e por que elas devem com- prar seus produtos ou serviços. Você tem que comunicar sua proposta de venda singular a possíveis clientes. Marketing é exatamente essa comunicação. Uma ótima comunicação desen- volve-se em cinco etapas (Kotler, 2000: 552): MINICASO Comunicação da Nike Considere o exemplo da Nike. As pessoas com- pram tênis Nike, não somente em função de sua qualidade, mas também por causa do estilo atlé- tico que esses produtos promovem, do estilo de vida que as pessoas associam a eles e da dificil- mente alcançável, mas tremendamente valiosa, identidade que a Nike oferece a seus clientes; ou seja, se Shaq O’Neal ou Michael Jordan usam Nike, você também gostaria de usar, não é? Há, no en- tanto, um lado obscuro na história da Nike – não uma história de excelência, mas de exploração, de trabalho suado e de vermes na comida do refeitó- rio. Às vezes, o que é comunicado corporativamen- te não é o que é comunicado organizacionalmen- te. A breve versão da história, conforme relatado por David Boje, em seu website, é a seguinte: Enquanto clientes e pessoas que assistem esportes associam a Nike a atletas rápidos e poderosos, não é surpresa que nem todos que estejam associados à empresa sejam uma Marion Jones ou um Tiger Woods. Na verdade, alguns trabalhadores de fábrica da Nike consideram que as atividades do dia a dia, sem contar o esporte, são desafios as- sustadores. Quando você trabalha 60 horas por semana, produzindo tênis em uma fábri- ca na Ásia ou na América Latina, e seus ami- gos de empresa desaparecem quando pe- dem um aumento, não é tão fácil ser um es- pectador de esportes. Dois exemplos bási- cos: na Kukdong, uma empresa parceira da Nike no México, mulheres ... reivindicaram salários mais justos, ausência de vermes na comida e um sindicato próprio. Essas mu- lheres foram agredidas fisicamente, sofren- do escoriações e pancadas, por reivindica- rem direitos humanos básicos, que você e eu temos como certos. É uma história fre- quente: jovens garotas iniciam uma viagem de aventuras mágica, seduzidas por anún- cios de parceiros da Nike por melhores em- pregos, apenas para descobrir que o que mais valorizam é viver sem medo. Quando histórias como essa se tornaram públi- cas, a Nike agiu rapidamente, a fim de garantir que sua imagem não fosse muito prejudicada. Atualmente, muitas empresas que possuem fá- bricas em países em desenvolvimento cooperam com ONGs e possuem inspetores para fazer suas organizações parceiras se comportarem de ma- neira ética. ••••• O quão eficazes foram as estratégias de co- municação da Nike? Utilize a web para verifi- car os prós e contras das estratégias de co- municação da Nike. A definição mais curta de marketing é a de satisfa- zer as necessidades do cliente de modo lucrativo. CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO 327 1 Identificar o público-alvo: se você quer ven- der roupas, precisa identificar para quem quer vendê-las. Você pode ter como alvo homens, mulheres ou crianças. Mas essas categorias não são precisas o suficiente. Se você decide ter como alvo mulheres, tem de considerar diferentes subgrupos, como mulheres na faixa dos 14-18 anos que an- dam na moda, dos 18-24 anos que são mais independentes, mulheres de negócios na faixa dos 25-35 anos, etc. Cada público é um mercado-alvo. 2 Definir objetivos de comunicação: uma vez conhecido o seu público, você precisa de- finir o objetivo da sua comunicação: você quer que seu público conheça a sua mar- ca? Ou quer que ele venha para sua liqui- dação no próximo sábado? 3 Projetar a mensagem: dependendo do pú- blico e do objetivo, a mensagem irá di- vergir significativamente. Se você quer criar uma imagem de marca forte entre os homens apaixonados por esportes, pode decidir patrocinar futebol. Mas se você quer que as pessoas estejam presen- tes na sua liquidação, no sábado, você pro- vavelmente terá de preparar uma mensa- gem diferente! 4 Selecionar canais de comunicação: canais de comunicação incluem tradicionalmente TV, rádio e anúncios impressos; além dis- so, existem novos canais, como Internet, e-mail, SMS, blogs, etc. 5 Mensurar os resultados do processo de co- municação: finalmente, uma vez decidi- do como comunicar sua mensagem, você deve mensurar a eficácia de sua campa- nha. Campanhas online são muito po- pulares, pois é muito fácil mensurar quantos usuários específicos visitaram um site; outras atividades de comunica- ção, tais como patrocínios, são muito difíceis de quantificar: o quanto o pa- trocínio de grandes eventos esportivos muda a imagem da marca de um patro- cinador é uma questão muito difícil de responder. O marketing é uma parte da comunicação organizacional. Inclui publicidade, promoção de vendas, RP, venda pessoal e marketing di- reto. Geralmente, passa mensagens por canais de comunicação e distribuição utilizados para expor produtos (a mensagem mais forte de organizações de áreas como varejo) e canais de venda (p. ex., bancos que facilitam transa- ções). O mix de marketing é a combinação de ferramentas de marketing que uma organiza- ção utiliza para atingir suas metas. McCarthy (ver Kotler, 2000) distinguiu quatro impor- tantes categorias:produtos, preço, promoção e praça. Essas categorias formam o kit de ins- trumentos para as ferramentas de marketing e de comunicação. Conforme sugere o guru do marketing Philip Kotler: A comunicação da empresa vai além da plata- forma de comunicação específica ... A mode- lagem e o preço do produto, a cor e o formato da embalagem, a vestimenta e o comportamen- to do vendedor, a decoração do lugar e os for- mulários timbrados – todos comunicam algu- ma coisa aos compradores. Todo contato de marca passa algo, uma impressão que pode for- talecer ou enfraquecer a visão de um cliente com relação à empresa. Todo o mix de marke- ting precisa estar integrado, a fim de passar uma mensagem consistente e um posicionamento estratégico (2000: 550). O conceito de marketing integrado tornou-se mais importante, na medida em que as orga- nizações se tornaram cada vez mais voltadas para o cliente e menos centradas no produto. Por exemplo, tarifas aéreas baratas, equipes prestativas, ausência de atrasos e aeronaves lim- pas descrevem um serviço desenvolvido em torno de necessidades de cliente. Mas, para conseguir isso, você precisa integrar finanças, recursos humanos, equipe de limpeza e admi- nistração de aeroporto. A tarefa é ter a certeza de que a organização, como um todo, incluin- do seus fornecedores e sua rede de parceiros, realiza e comunica os serviços oferecidos. 328 PARTE DOIS ADMINISTRAÇÃO DE PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS A pesquisa de marketing é, geralmente, mais reativa do que pró-ativa. Akio Morita, fundador da Sony, afirma que a Sony não aten- de a mercados – ela os cria. O Walkman, por exemplo, provavelmente nunca teria sido pro- duzido se a Sony tivesse feito pesquisa de mer- cado comum. Um produto que é novo e ino- vador surpreende o cliente e cria novas neces- sidades, em vez de satisfazer velhas necessida- des. Como toda análise, a pesquisa de merca- do explica o comportamento passado e, na melhor das hipóteses, captura realidades atuais, mas inferir futuras tendências a partir do pre- sente pode ser perigoso. O Walkman, o iPod ou os blocos de anotações Post-it são exem- plos perfeitos de coisas que ninguém precisa- va, pela simples razão de que as pessoas não sabiam como usá-las ou não se davam conta do papel que esses itens poderiam ter na vida diária. O marketing moderno trabalha de manei- ra muito próxima dos clientes, tentando des- cobrir quais são suas necessidades e tentando oferecer soluções. Precisam ser criadas ligações fortes entre o cliente e a empresa. Clientes são menos manipulados e mais envolvidos, comu- nicando e compartilhando conhecimento. Fi- nalmente, marketing nada mais é que o esta- belecimento de um relacionamento entre a organização e seus clientes (McKenna, 1991: 68). A comunicação é o que nutre essa rela- ção, expressando o valor de seus produtos e serviços, a experiência que criam e, por fim, a personalidade da empresa. Em vez de comunicar os benefícios de um determinado produto, em um mercado satu- rado de mensagens semelhantes, as organiza- ções tentam, cada vez mais, criar uma ima- gem forte, duradoura e poderosa nas mentes de seus clientes em potencial. Isso permite às organizações dissociar seus produtos de sua imagem e estabelecerem-se como uma marca forte. Por exemplo, apesar de você poder não saber que roupas a Benetton vende no mo- mento, certamente sabe o que a Benetton signi- fica em termos de seu engajamento ético: Be- netton é uma marca. Comunicação como marca Olins (2000) e Hatch e Schultz (2001) iden- tificaram várias razões pelas quais criar uma marca é tão importante e fundamental para o IMAGEM 7.10 A ci- dade de Ho Chi Minh (anteriormente co- nhecida como Sai- gon, no Vietnã) à noite. Quantos des- ses luminosos são anúncios de publici- dade, promovendo produtos e serviços? Isso mostra que o marketing faz parte de nossas vidas, si- tuação tida como normal em nosso ambiente urbano! CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO 329 sucesso. Primeira- mente, uma marca torna a escolha mais fácil. Você provavel- mente conhece o sen- timento de estar pa- rado em frente de uma prateleira de su- permercado e de sen- tir-se completamente sobrecarregado com as informações e escolhas que precisa fazer. As economias de mercado criam alternativas que são paralisantes quando você se confronta com muitos produtos intercambiáveis, com peque- nas variações na embalagem e na informação do produto. Marcas fortes eliminam a sua ne- cessidade de ter de fazer comparações, tornan- do, assim, a escolha fácil – e, de alguma for- ma, redundante. Assim, criar uma marca é a pro- jeção consciente de uma imagem sólida própria que uma organização procura comunicar. Em segundo lugar, marcas dão consistên- cia e continuidade à vida de seu cliente. Pense naqueles milhares de produtos em um super- mercado: em vez de verificar todos os 50 ti- pos diferentes de creme dental, você precisa apenas escolher aquele com o qual está fami- liarizado. Resumindo, as marcas nos ajudam a economizar tempo e esforço, tornando as escolhas mais fáceis. Em terceiro lugar, as marcas nos ajudam a constituir nossa própria identidade e nos oferecem recursos para dizer aos outros quem somos (ou, no mínimo, o que tentamos ser). Pense em roupas. Vestir um terno Hugo Boss, óculos de sol criados pela Porsche e um Rolex diz muito sobre quem você deseja ser. O mesmo vale para moda e estilo das ruas; eles oferecem uma fonte de identi- dade. Contudo, os ícones podem ser bem di- ferentes. Por exemplo, veja se você pode iden- tificar, na Imagem 7.11, algumas das imagens comercializadas na seleção de camisetas pen- duradas no mercado e imagine o tipo de cons- trução de identidade que poderia ser associa- do com quem as usa. Em quarto lugar, marcas corporativas re- duzem custos. Em vez de comercializar cada produto separadamente, promover a marca economiza dinheiro. Veja a Sony. Independen- temente de ser uma TV, um aparelho de som ou um jogo, as pessoas associam o nome da marca Sony à qualidade. Em empresas adquiridas a partir de fu- são ou aquisição, é difícil impor novas iden- tidades e manter clientes atrelados a antigas marcas. Quando as empresas investem em negócios de risco e fracassam, a imagem negativa pode influenciar a marca e o negó- cio principal. Isso parece ter ocorrido com a empresa australiana AMP, que fez algu- mas aquisições quando foi convertida em uma sociedade com fins lucrativos, no final dos anos 1990. Por fim, ter uma marca for- te significa ser vulnerável; as pessoas olham muito de perto o que a Nike ou a Shell es- tão fazendo e, em função dessa visibilidade, qualquer mensagem negativa sobre elas é capaz de transitar rapidamente pelos jornais ou websites. Na melhor das hipóteses, as marcas tornam-se signos universais, como Coca-Cola, a marca mais reconhecida do mundo (ver Imagem 7.12). A empresa de consultoria Interbrand di- vulga todo ano um relatório das marcas mais valiosas do mundo. Em 2006, a lista foi lide- rada pela Coca-Cola, com um valor de marca de mais de US$ 65 bilhões. No caso da Coca- Cola, a marca abstrata vale mais que todo o patrimônio físico da empresa junto! Abaixo está a lista das dez marcas mais importantes do mundo: 1 Coca-Cola $ 67,5 bilhões (EUA) 2 Microsoft $ 59,9 bilhões (EUA) 3 IBM $ 53,4 bilhões (EUA) 4 General Electric $ 50 bilhões (EUA) 5 Intel $ 35,6 bilhões (EUA) 6 Nokia $ 26,5 bilhões (Finlândia) 7 Disney $ 26,4 bilhões (EUA) 8 McDonald’s $ 26 bilhões (EUA) 9 Toyota $ 24,8 bilhões (Japão) 10 Malboro $ 21,1 bilhões (EUA) Fonte: Interbrand Uma definição simples descreve uma marca como a imagem de uma organização, que é cria- da por meio de um pro- jeto (p. ex.: nome, publi- cidade, logotipo, etc.), seu comportamento (p. ex.: funcionários) e seus produtos e serviços. 330 PARTE DOIS ADMINISTRAÇÃO DE PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS IMAGEM 7.11 Rostos nas camisetas. Uma marca expressa o que é uma organi- zação e quem ela é. Não é apenas uma ques- tão de aparência – onde uma embalagem ele- gante promove um produto cujos custos reais são uma fraçãodo preço de venda, ou envolve velhas ideias em novas embalagens –, mas uma questão de formas de comunicar o conteúdo da empresa. Pense na Vodka Absolut. Sua ima- gem como uma empresa jovem, sofisticada e chique não deriva de seu produto, mas seus produtos são desenvolvidos em função de seu estilo. Vodca é vodca, alguém poderia dizer, mas a Absolut transformou seu produto em uma marca singular, reconhecível e de suces- so, como um ícone que inspira pessoas. Ela é brilhante, peculiar, iconoclasta e bacana. Como afirma Holt (2003), ícones são mitos encapsulados que dão vida a produtos. A Nike, por exemplo, não está apenas no negócio de venda de tênis – o que é, meramente, um veí- culo para uma história –, pois seus produtos contêm o mito da conquista individual atra- vés da perseverança. Nesse jogo, os produtos são apenas um meio para revelar o mito cor- porativo e oferecer uma história que os clien- tes apreciam. Criar uma marca tem a ver com interagir com o público e comunicar com sua organi- zação, seus valores e sua contribuição à socie- dade. A Benetton, além de lançar campanhas IMAGEM 7.12 Você quer uma Coca assim? CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO 331 que a tornaram uma das empresas mais reco- nhecidas do mundo, conta com uma revista chamada Color, dedicada a questões como es- cravidão, prisões e refugiados. A Color é tra- duzida para muitas línguas e vendida em mais de 60 países. Analisa temas e faz as pes- soas se conscientizarem de problemas mar- ginalizados. Fazendo isso, a Benetton posi- ciona-se, não apenas como fabricante de roupas, mas também como uma organiza- ção socialmente responsável, preocupada com questões sociais. Criar uma marca de sucesso envolve clientes e cria um relacionamento entre esses clientes e a empresa A The Body Shop é um excelente exemplo de criação de marca. Anita Roddick, fundadora da The Body Shop, criou uma identidade de marca forte, em torno da noção de uma filosofia de lu- cros com princípios. A empresa protesta contra a testagem em animais, ajuda países do Tercei- ro Mundo, apoia o movimento das mulheres, para mencionar apenas algumas de suas muitas ati- vidades (Joachimsthaler e Aaker, 1997). Isso ex- pressa claramente os valores da empresa e mo- tiva, de maneira consistente e simultânea, os membros da equipe. A Benetton, por outro lado, teve problemas com sua estratégia de marca. Quando a Benetton começou a fazer anúncios usando imagens de pessoas soropositivas em seus outdoors e levantou outras questões polê- micas, sem dúvida, criou consciência de marca, mas falhou ao ligar essa consciência ao seu ne- gócio – vender roupas. Ao contrário, alienou o mercado-alvo e os varejistas (Joachimsthaler e Aaker, 1997). MOMENTO PARA EXERCITAR Pense em uma marca que você tenha comprado e gostado. Quais foram as razões? Liste-as. Agora, pense em uma marca que você comprou e não gostou. Quais foram as razões? Liste-as. Compare suas anotações com as de seus cole- gas. Vocês identificaram marcas e pontos positi- vos e negativos similares? Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Dica do professor No vídeo a seguir, você vai assistir a algumas dicas sobre o que valorizar ao montar uma estratégia de comunicação via redes sociais. Como esta recente forma de interação contribui para a dinâmica empresarial? As redes sociais são uma coisa só ou cada uma tem um propósito? Confira! Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/1d7f8450d76ced7e45b52355ab260c55 Na prática A Benetton, em determinado momento de sua história, começou a fazer anúncios usando imagens de pessoas portadoras do vírus HIV, assim como explorou igualdade racial e de gênero, política e religião. Aí está o ponto que queremos chegar: a estratégia de comunicação criou consciência de marca, mas não ligou essa consciência ao negócio – a venda de roupas. O mercado-alvo e os varejistas ficaram alienados na campanha, que afetou negativamente, em longo prazo, os negócios da empresa. A Benetton encerrou essa estratégia por volta de 2000 e retornou somente dez anos após a apostar nesse formato de comunicação, quando a empresa buscava retomar presença no mercado. Mais uma vez, houve polêmica, o que levou especialistas em marketing a questionarem sua validade por conta de todo o histórico da marca. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Por que devo investir no marketing digital? O que não faltam são motivos que provam a importância do Marketing Digital para os negócios. Clique no link e entenda melhor. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Como começar uma nova estratégia de marketing Nesse artigo, o pessoal da RockContent mostra os principais pontos para começar uma estratégia de Marketing de Conteúdo para seu e-commerce. Clique o link e Leia o artigo completo. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Guia completo do marketing de conteúdo nas redes sociais Se você deseja aprender tudo sobre marketing de conteúdo nas redes sociais pare de perder tempo e acesse o link e leia o artigo completo. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/KFs6G-Wym4Q?rel=0 https://blog.saninternet.com/estrategia-de-marketing-de-conteudo https://rockcontent.com/br/blog/marketing-de-conteudo-nas-redes-sociais/ Comunicação Interna Apresentação Você sabe em quais sentidos a comunicação pode ocorrer dentro de uma empresa? Ela pode acontecer de cima para baixo, de baixo para cima ou horizontalmente. Em cada uma dessas situações, o planejamento estratégico se dá de forma diferente. Além disso, esses processos envolvem trocas formais e informais. Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá esses processos comunicacionais que ocorrem dentro de uma organização e saberá como tirar proveito dessas interações para o negócio. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os públicos internos de uma organização.• Definir estratégias para se comunicar dentro de uma empresa.• Diferenciar as formas comunicacionais internas.• Infográfico Dentro de uma organização, os processos comunicacionais acontecem em diferentes direções e têm objetivos distintos em cada uma delas. Observe, no infográfico a seguir, o que compreende as comunicações ascendente, descendente e horizontal. Conteúdo do livro As comunicações ascendente e descendente têm seus pré-requisitos e também têm problemas. O trecho selecionado para sua leitura, do livro Comportamento organizacional, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, trata dessas questões. Você vai entender o que é considerado sobrecarga de informação e como se dá o processo de aceitação de uma comunicação, assim como suas necessidades, dificuldades e práticas. Leia os itens Comunicação ascendente e Comunicação descendente, saiba como as organizações se relacionam como seus públicos interno e aprenda sobre os fundamentos envolvidos na comunicação ascendente e descendente e também nas interações informais. Boa leitura! Comportamento Organizacional O Comportamento Humano no Trabalho Tradução da Décima Segunda Edição John W. Newstrom Comportamento Organizacional: O Comportamento Humano no Trabalho Tradução da décima segunda edição ISBN 978-85-7726-028-7 A reprodução total ou parcial deste volume por quaisquer formas ou meios, sem o consentimento escrito da editora, é ilegal e confi gura apropriação indevida dos direitos intelectuais e patrimoniais dos autores. Copyright © 2008 de McGraw-Hill Interamericana do Brasil Ltda. Todos os direitos reservados.Av. Brigadeiro Faria Lima, 201 – 17o andar São Paulo – SP – CEP 05426-100 Todos os direitos reservados. © 2008 de McGraw-Hill Interamericana Editores, S.A. de C. V. Prol. Paseo de la Reforma 1015 Torre A Piso 17, Col. Desarrollo Santa Fe, Delegación Álvaro Obregón México 01376, D. F., México Tradução da décima segunda edição em inglês de Organizational Behavior: Human Behavior at Work, 12th edition © 2007 de McGraw-Hill/Irwin, uma unidade de negócios de The McGraw-Hill Companies, Inc. ISBN da obra original: 978-0-07-287546-1 Diretor-geral: Adilson Pereira Editora de Desenvolvimento: Alessandra Borges Produção Editorial: Lummi • Editorial • Design Supervisora de Produção: Guacira Simonelli Preparação de Texto: Marcos Soel Silveira Santos Editoração Eletrônica: Crontec Ltda. Índice para catálogo sistemático: 1. Análise organizacional : Administração 658.001 2. Estudos organizacionais : Administração 658.001 Administração A McGraw-Hill tem forte compromisso com a qualidade e procura manter laços estreitos com seus leitores. Nosso principal objetivo é oferecer obras de qualidade a preços justos e um dos caminhos para atingir essa meta é ouvir o que os leitores têm a dizer. Portanto, se você tem dúvidas, críticas ou sugestões entre em contato conosco – preferencialmente por correio eletrônico mh_brasil@mcgraw-hill.com – e nos ajude a aprimorar nosso trabalho. Teremos prazer em conversar com você. Em Portugal use o endereço servico_clientes@mcgraw-hill.com. _______________________________________________________________ N532c Newstrom, John W. Comportamento organizacional [recurso eletrônico] : o comportamento humano no trabalho / John W. Newstrom ; tradução: Ivan Pedro Ferreira Santos ; revisão técnica: Carlos Tasso Eira de Aquino. – 12. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2011. Editado também como livro impresso em 2008. ISBN 978-85-63308-87-0 1. Administração. 2. Comportamento organizacional. I. Título. CDU 005.32 _______________________________________________________________ Catalogação na publicação: Ana Paula Magnus – CRB 10/2052 Capítulo 3 Gerenciando as Comunicações 55 COMUNICAÇÃO DESCENDENTE A comunicação descendente em uma organização representa o fl uxo de informação dos níveis de autoridade mais altos em direção aos níveis de autoridade mais baixos. Praticamente metade das comunicações gerenciais é realizada com os subordinados, sendo o restante dividido entre su- periores, pares e receptores externos. Para comunicar-se de forma descendente, alguns executivos utilizam materiais coloridos, apresentações chamativas de PowerPoint e encontros extremamente elaborados com seus funcionários. Tais abordagens, embora consigam prender a atenção de seus espectadores, freqüentemente fracassam na tentativa de fazer que os funcionários compreendam seus conteúdos — uma das metas da comunicação. A chave para uma comunicação melhor não se encontra somente no uso de cor, movimento e assistentes eletrônicos, mas na apresentação da infor- mação por gerentes mais sensíveis, que preparam suas mensagens de maneira mais cuidadosa e as transmitem com simplicidade, energia e dedicação. Os gerentes que se comunicam com sucesso são sensíveis às necessidades humanas e estão abertos a um diálogo franco com seus funcionários. Pré-requisitos e Problemas Parte do fracasso da administração pode ser atribuída ao fato de ela não se preparar adequadamente para a realização de uma comunicação efi caz. Ela fracassou no estabelecimento de uma boa fundação, o que fez que seu edifício da comunicação fosse construído sobre areia. Uma fundação sólida possui quatro pilares que agem como pré-requisitos para uma abordagem efetiva. Primeiro, os gerentes ne- cessitam desenvolver uma atitude positiva em relação à comunicação. Eles devem convencer-se de que a comunicação é uma parte importante do seu dia-a-dia, conforme nos revelam, de modo convin- cente, pesquisas sobre responsabilidades gerenciais. Em segundo lugar, os gerentes devem esforçar-se continuamente para se manter informados. Eles precisam buscar as informações relevantes de inte- resse dos funcionários, compartilhá-las e auxiliar os funcionários a se sentir informados. Em terceiro, os gerentes precisam, de maneira consciente, planejar a comunicação, e devem fazer isso no começo de um curso de ação. Finalmente, os gerentes têm de desenvolver confi ança; conforme mencionado anteriormente, a confi ança entre emissores e receptores é importante em todas as comunicações. Caso os subordinados não confi em em seus superiores, eles não terão a mesma inclinação para ouvir as mensagens da administração ou para acreditar nelas. Considere o caso de dois funcionários da mesma empresa que receberam a instrução de seu gerente para não discutir salários entre si, pois o outro poderia fi car infeliz ao descobrir que recebe um salário menor. Em uma ocasião posterior, durante a festa de ano-novo, eles começam a conversar sobre seus salários e descobrem estar ganhando os mesmos valores. Quais serão seus níveis de confi ança com seu gerente no futuro? Quatro pré-requisitos 56 Parte Um Fundamentos do Comportamento Organizacional Uma Questão Ética Sua organização acabou de anunciar que realizará um corte de 15% para “adequar” o quadro de pessoal a um mercado em redução. Com 22 pessoas que se reportam diretamente a você, isso pode ser traduzido no corte de três ou quatro pessoas, e você já submeteu uma lista prioritária de três, quatro ou cinco pessoas que poderiam ser candidatas a essa redução do quadro. Contudo, você recebeu um pedido para manter a lista em segredo até que a alta gerência fi nalize seus alvos para redução. Nesse meio-tempo, uma das cinco pessoas que você havia identifi cado para corte vem até você e pergunta sobre as chances de ser mantida no emprego após a redução do quadro de funcionários. Você acredita ser ético contar-lhe a verdade? Por quê? Sobrecarga de Comunicação Os gerentes, algumas vezes, operam com a fi losofi a de que mais comunicação implica uma comunicação melhor. Eles oferecem quantidades enormes de informação até o ponto em que os funcionários descobrem que estão sobrecarregados de dados, mas que sua compreensão não foi ampliada. O que ocorre, nesse caso, é uma sobrecarga de informação, um processo em que os funcionários recebem mais entradas de comunicação do que necessitam ou podem processar. As chaves para uma comunicação melhor são a oportunidade e a qualidade ade- quadas, não a quantidade. É possível ter uma compreensão mais ampla com menos comunicação total, caso ela seja de alta qualidade e transmitida no momento oportuno. Aceitação de uma Comunicação Conforme apontado anteriormente, a aceitação de uma mensa- gem pelo seu receptor é crucial; sem a aceitação, a comunicação torna-se inefi caz. Diversas condi- ções favorecem a aceitação de uma comunicação: O reconhecimento da legitimidade do emissor para enviar uma mensagem. A percepção da credibilidade da mensagem recebida. A percepção da competência do emissor com relação à questão. A confi ança no emissor como líder e como indivíduo. A aceitação das tarefas e das metas que a comunicação busca realizar. Poder, por parte do emissor, para aplicar sanções sobre o receptor, direta ou indiretamente. Se a sobrecarga puder ser prevenida e a possibilidade de aceitação for assegurada com o uso dessas seis condições, os gerentes poderão, assim, voltar suas atenções para a satisfação das quatro importantes necessidades de comunicação dos funcionários. Necessidades de Comunicação Os funcionários nos níveis hierárquicos inferiores possuem diversas necessidades de comunica- ção. Os gerentes acreditam conhecer as necessidades dos funcionários, mas eles freqüentemente não pensam dessa forma.7 Essa diferença fundamental na percepção tende a existir em todos os ní- veis da organização, tornando, assim, as comunicações mais difíceis. Ela também faz que a comuni- cação descendente seja excessivamente confi ante e provavelmentenão tenha o cuidado necessário com suas mensagens enviadas para os níveis hierárquicos mais baixos. Instrução sobre o Trabalho Uma necessidade dos funcionários refere-se à instrução adequada com relação a seu trabalho. Os gerentes obtêm resultados mais expressivos, caso eles declarem suas instruções em termos das exigências objetivas das atividades, bem como das oportunidades e das áreas com problemas potenciais. As conseqüências decorrentes de instruções inadequadas de trabalho podem ser desastrosas, como no exemplo a seguir: Um fabricante de pequenas ferramentas contratou um novo representante comercial, conduziu-o em uma visita pela fábrica, ofereceu-lhe uma cópia do catálogo de produtos e determinou-lhe um território de atuação. Em poucas semanas, o representante exultantemente apresentou um pedido para 100 mil unidades de uma ferramenta multiuso. Somente então a companhia percebeu que havia se esquecido de dizer-lhe que aquele produto nunca era oferecido para seus consumidores porque o preço defi nido para a ferramenta era bem abaixo do custo para a companhia produzi-la (para acompanhar o preço de um competidor). O resultado foi que a companhia perdeu mais de US$ 10 mil em apenas um pedido! • • • • • • A qualidade é preferível à quantidade. Capítulo 3 Gerenciando as Comunicações 57 A necessidade de informações objetivas é especialmente importante para funcionários em um novo cargo ou nova organização. Eles rapidamente tornam-se insatisfeitos, pois suas experiências normal- mente entram em confl ito com a realidade. Para prevenir essa insatisfação, as companhias estão utilizando previsões realistas sobre o trabalho, nas quais são oferecidas pequenas amostras da realidade da organização para os candidatos aos cargos. Uma previsão realista minimiza as expecta- tivas exageradas dos funcionários por oferecer informações tanto positivas quanto negativas sobre o ambiente potencial de trabalho. Quando esse método é utilizado, a rotatividade dos funcionários é reduzida. Feedback de Desempenho Os funcionários também necessitam de feedback sobre seus desempe- nhos. O feedback ajuda a orientá-los sobre o que fazer e sobre quão bem eles estão alcançando suas metas. Ele demonstra que outras pessoas estão interessadas naquilo que eles estão fazendo. Consi- derando que o desempenho seja satisfatório, o feedback aumenta a auto-imagem e o sentimento de competência dos funcionários. Geralmente, o feedback de desempenho leva à melhoria tanto no desempenho quanto nas atitudes. Dar feedback é uma tarefa desafi adora para muitos gerentes. Esse processo é discutido com maior profundidade no Capítulo 6. Alguns funcionários dedicados adotam um comportamento orientado para a busca de feedback, no qual procuram por informações sobre seus desempe- nhos anteriores e possíveis áreas para aperfeiçoamento. Os indivíduos orientados para a busca de feedback podem ativamente monitorar as dicas referentes ao seu próprio desempenho (“Este rela- tório afi rma que ainda estou 3% acima do meu orçamento.”) e questionar seus progressos (“Como estou indo?”). Os funcionários têm maior probabilidade de adotar um comportamento orientado para a busca de feedback nos casos em que eles possuam forte motivação associada às suas com- petências e grande incentivo para auto-avaliação, se atualmente há carência de feedback vindo dos outros, e quando não há expectativa de que resultados possam afetar negativamente sua auto-esti- ma.8 Os gerentes devem estimular esse comportamento e procurar satisfazer as necessidades dos funcionários por informações relacionadas ao desempenho. Notícias As mensagens descendentes devem atingir os funcionários na forma de notícias recentes e oportunas, não como mera confi rmação daquilo que já se tenha tornado público por meio de outras fontes. Os funcionários são impacientes, e esse comportamento, até certo ponto, está correto, visto que não se pode agir de forma efi caz com base em informações antigas. No passado, os empregado- res distribuíam informações por boletins, anúncios no quadro de avisos ou encartes nos envelopes de pagamento. Os métodos mais contemporâneos incluem circuitos fechados de televisão, men- sagens diárias pré-gravadas que os funcionários podem receber ao discar certo número (mesmo a partir de suas casas), sistemas de correio eletrônico e páginas na Internet. A empresa de fabricação de aeronaves McDonnell Douglas ampliou intensamente seu programa de disseminação de notícias. Redatores preparam boletins diários, mensais e trimestrais sobre uma vasta quantidade de tópicos operacionais (custos, números sobre desperdício, relatórios sobre progressos, preços das ações da companhia e problemas em geral). Esses boletins são transmitidos eletronicamente para todos os membros associados ao programa — funcionários, clientes, fornecedores e administração. Todos são mantidos informados, e prontamente.9 Apoio social Outra necessidade de comunicação que os funcionários possuem no trabalho é o apoio social, que é a percepção de que eles são assistidos, estimados e valorizados. Quando sen- sibilidade interpessoal e confi ança são demonstradas pelos gerentes, pode haver impactos positivos sobre a saúde física e psicológica dos funcionários, bem como sobre a satisfação e o desempenho no trabalho. Observe, contudo, que se os gerentes comunicarem informações sobre a realização de tarefas, tópicos sobre a carreira, questões pessoais; derem feedback sobre desempenho; ou respon- derem a questões formuladas, eles registrarão aumento no sentimento de apoio social por parte dos funcionários.10 Aparentemente, a presença da comunicação (e sua distribuição cuidadosa), e não o tópico comunicado, é o aspecto importante na satisfação dessa necessidade particular. COMUNICAÇÃO ASCENDENTE Se o fl uxo de informação de duas vias for interrompido por uma comunicação ascendente inadequada, a administração perde contato com as necessidades dos funcionários e fi ca carente de informações sufi cientes para tomar decisões sólidas. Ela fi ca, dessa forma, incapaz de proporcionar A rotatividade é reduzida quando são oferecidas previsões realistas sobre o trabalho. O desempenho é melhorado com o oferecimento de feedback. Comportamento orientado para a busca de feedback 58 Parte Um Fundamentos do Comportamento Organizacional apoio social e nas atividades, necessário para os funcionários. A administração precisa estar em sintonia com os funcionários, do mesmo modo que uma pessoa que tem um rádio precisa sintoni- zar determinada estação. Esse processo requer iniciativa, ações positivas, sensibilidade para captar sinais fracos e capacidade de adaptação aos diferentes canais de informação dos funcionários. Ele exige, fundamentalmente, a consciência e a crença de que as mensagens ascendentes são importan- tes, como mostrado no exemplo a seguir: A necessidade de comunicação ascendente é demonstrada pela difícil experiência pela qual passou uma empresa de montagem que cresceu rapidamente nos últimos três anos. Apesar dos padrões de trabalho, da pressão dos supervisores e de extensiva comunicação descendente, os funcionários careciam de entu- siasmo e a produtividade declinava. Finalmente, a administração trouxe uma equipe de entrevistadores do escritório central. Muitas das reclamações eram pequenas, mas parecia haver um sentimento generalizado entre os supervisores e os funcionários mais antigos de que, à medida que a companhia crescia, se tornavam cada vez mais separados da alta direção. Eles se sentiam isolados e incapazes de discutir seus problemas com alguém. Gradualmente, eles passaram a fi car distantes da administração e tendiam a difundir esse sentimento entre os novos funcionários que estavam sendo contratados conforme a companhia se expandia. Tão logo a administração descobriu o problema básico, foi capaz de adotar ações corretivas. Con- tudo, a maior parte das difi culdades poderia ter sido prevenida se os gerentes houvessem desenvolvido procedimentosefi cazes, com bastante antecedência, para estimular a comunicação ascendente. Difi culdades Vários problemas afetam as comunicações ascendentes, especialmente em organizações maiores e mais complexas. O primeiro deles é o atraso, que é o movimento desnecessariamente lento das informações em direção aos níveis hierárquicos superiores. Alguns gerentes indecisos hesitam em levar um problema para os níveis hierárquicos mais altos, porque isso sinalizaria admissão de fra- casso; dessa forma, cada nível atrasa a comunicação enquanto decide sobre como resolver o proble- ma. O segundo problema, que se encontra intimamente relacionado ao primeiro, é a fi ltragem. Essa triagem parcial de informações ocorre em razão da tendência natural de um funcionário em relatar apenas aquilo que ele acredita que seu supervisor deseja ouvir. Um resultado extremo da fi ltragem é o silêncio organizacional, que diz respeito à retenção consciente ou inconsciente de informações sobre problemas ou questões potenciais por parte dos funcionários.11 O resultado, lamentavelmente, é a transmissão incompleta de informações para a alta gerência. O silêncio organizacional normalmente é causado por dois fatores: medo de repercus- são negativa ao relatar os fatos (a intolerância do gerente em relação ao contraditório) ou a manutenção da idéia de que uma única voz não terá força sufi ciente para ser ouvida. Pode haver razões legítimas para a fi ltragem, como a mensagem total ser exageradamente téc- nica ou a informação ter caráter especulativo e exigir confi rmação adicional. Em alguns casos, o supervisor pode ter solicitado anteriormente aos funcionários que eles apenas transmitissem os pon- tos mais importantes de determinada situação. Essas explicações ressaltam o fato de que a fi ltragem não é necessariamente um problema nas comunicações. Algumas vezes, em um esforço para evitar a fi ltragem, as pessoas ignoram seus superiores di- retos, o que signifi ca que poderiam saltar uma ou mais etapas na hierarquia das comunicações. De um ponto de vista positivo, isso reduz a quantidade de fi ltragem e de atrasos; de um ponto de vista negativo, uma vez que isso desagrada os indivíduos que são ignorados, os empregadores normal- mente desencorajam tal abordagem. Outro problema refere-se à necessidade de resposta legítima por parte dos funcionários. Visto que os funcionários iniciam a comunicação ascendente, eles agora são os emissores e passam a ter grande expectativa de que ocorrerá feedback (o mais rápido possí- vel). Caso a administração dê uma resposta rápida, mais mensagens ascendentes serão estimuladas. Por outro lado, a ausência de respostas eliminará a chance de futuras comunicações ascendentes. Uma última difi culdade de comunicação diz respeito à distorção, que é a modifi cação voluntá- ria de uma mensagem com a intenção de satisfazer os objetivos pessoais de um indivíduo. Alguns funcionários, por exemplo, podem exagerar suas realizações, com a esperança de receberem mais reconhecimento ou maiores aumentos salariais. Outros, porém, podem encobrir difi culdades nos seus departamentos para evitar uma confrontação dolorosa com seus superiores. Qualquer tipo de distorção de mensagem diminui a capacidade dos gerentes de obter informações precisas e de tomar Atraso Filtragem Silêncio Necessidade de resposta A distorção é desagregadora e antiética. Capítulo 3 Gerenciando as Comunicações 59 decisões esclarecidas. Pior ainda, ela representa um comportamento antiético que pode destruir a confi ança entre duas partes. Os gerentes têm de reconhecer o potencial para a existência de todos esses problemas com as comunicações ascendentes e procurar ativamente preveni-los. Práticas da Comunicação Ascendente Um ponto de partida para a construção de comunicações ascendentes mais aperfeiçoadas é o es- tabelecimento de uma política geral que determine quais sejam os tipos de mensagens ascenden- tes desejadas. Isso pode incluir as áreas em que a alta administração seja responsável, os tópicos controversos, os assuntos que requeiram aconselhamento gerencial, quaisquer exceções às políti- cas corporativas ou quaisquer mudanças que sejam recomendadas. Além das declarações da política corporativa, várias práticas são necessárias para aprimorar as comunicações ascendentes. Sessões de aconselhamento, sistemas de registro de reclamações, gestão participativa, sistemas para o rece- bimento de sugestões, pesquisas sobre a satisfação no trabalho e outras práticas serão discutidos em capítulos posteriores. As práticas adicionais discutidas neste ponto são: o questionamento, a capa- cidade de ouvir, as reuniões com os funcionários, as políticas de porta aberta ou de transparência, e a participação em grupos sociais. Questionamento Os gerentes podem encorajar a comunicação ascendente ao fazer boas pergun- tas. Essa prática demonstra aos funcionários que a administração tem interesse em suas opiniões, que gostaria de receber informações adicionais e que valoriza seu input. As perguntas podem assu- mir formas variadas, mas os tipos mais comuns são o aberto e o fechado. As questões abertas introduzem um tópico amplo e oferecem aos outros uma oportunidade para respondê-las de várias maneiras. “Como estão indo as coisas?” é uma pergunta aberta clássica, e as respostas recebidas podem proporcionar dicas valiosas para serem seguidas pelo gerente. Por outro lado, as ques- tões fechadas enfocam tópicos mais restritos e convidam o receptor a oferecer uma resposta específi ca. Um exemplo é: “Quais são as implicações sobre os custos do plano de aposentadoria antecipada proposto?”. Tanto questões abertas quanto fechadas podem ser utilizadas para iniciar as comunicações ascendentes, especialmente se elas produzirem diálogo e pensamento refl exivo. Independentemente de as questões terem sido bem formuladas, elas serão inúteis, no entanto, se não forem acompanhadas de capacidade habilidosa de ouvir e as respostas não tiverem seu signifi cado explorado. Habilidade para ouvir Uma audição ativa representa mais que simplesmente ouvir; ela exige o uso dos ouvidos e da mente. Uma audição efi caz opera em dois níveis — ela ajuda os receptores Diversidade nas Comunicações Os homens e as mulheres utilizam os mesmos padrões de comunicação? Pesquisas sobre estilos de comunicação baseados em gênero começam a mostrar algumas diferenças fascinantes entre os dois grupos. Vários estudos têm explorado se homens e mulheres usam estilos diferentes (aprendidos) de comunicação. Em geral, homens e mulheres apresentam uma diversidade acentuada no modo como se comunicam no trabalho. Os homens enfatizam poder, enquanto as mulheres ressaltam o rapport; os homens têm uma probabilidade maior que as mulheres de reclamar crédito por seus feitos; os homens tendem a desdenhar sua incerteza no lugar de admiti-la; as mulheres formulam questões para aprender mais, enquanto os homens temem que perguntar possa fazê-los parecer ignorantes; as mulheres se desculpam mais formalmente, trocam cumprimentos entre si, incentivam o recebimento de um feedback honesto e suavizam suas críticas com elogios; os homens buscam janelas de oportunidade, participam de discussões formais e buscam reconhecimento. Em geral, os homens tendem a falar mais diretamente, enquanto as mulheres preferem uma abordagem indireta. Fontes: TANNEN, Deborah. The Power of Talk: Who Gets Heard and Why?. Harvard Business Review, set./out. 1995 p. 138-148, TANNEN, Deborah. You Just Don’t Understand: Women and Men in Conversation. Nova York: William Morrow, 1990; TANNEN, Deborah. Talking from 9 to 5. Nova York: Avon Books, 1995. 60 Parte Um Fundamentos do Comportamento Organizacional a compreender tanto a idéia factual quanto a mensagem emocional desejada pelo emissor. Bons ouvintes não somente ouvem o que a outra pessoa está dizendo, mas também captam os sentimentos e as emoções daquele indivíduo. Igualmente importante, os gerentes que ouvem de forma efi caz sinalizamcom a mensagem de que se importam com seus funcionários. Embora muitas pessoas não sejam ouvintes habilidosas, elas podem melhorar suas habilidades com o desejo de aperfeiçoa- mento e pela intensa prática. Os participantes dos cursos de habilidades para ouvir aprendem a: evitar “sonhar acordado”, centrar no objetivo do emissor, considerar as evidências, buscar exem- plos e dicas sobre o signifi cado, e utilizar o tempo livre para revisar mentalmente aquilo que já havia sido dito. Outras sugestões para audição ativa são apresentadas na Figura 3.4. Reuniões com Funcionários Um método muito útil para construir comunicação ascendente é a realização de reuniões com pequenos grupos de funcionários. Nessas “assembléias”, os fun- cionários são estimulados a falar sobre seus problemas, suas necessidades e sobre práticas ge- renciais, tanto as que ajudam quanto as que interferem no desempenho do trabalho. A reunião tenta investigar com mais detalhes algumas questões que estão na mente dos funcionários. Como resultado (assumindo que haja ações de acompanhamento), as atitudes dos funcionários melhoram e a rotatividade diminui. Um sistema de reuniões com funcionários é utilizado na Haworth Company, em Holland, Michigan. Os encontros são chamados “sessões de sensibilização” e oferecem oportunidades para os funcionários informarem à administração o que se passa em suas mentes. Algumas questões formuladas pelos geren- tes são abertas, usadas tanto para identifi car o que está indo bem e o que não está quanto para buscar sugestões para melhorias. Outras questões são mais centradas em assuntos específi cos. Lideradas por executivos corporativos, as sessões de sensibilização têm sido úteis na obtenção de idéias, bem como na construção de parcerias e no encorajamento da colaboração para melhorias dentro da organização.12 Uma Política de Portas Abertas Uma política de portas abertas (ou de transparência) é uma declaração que encoraja os funcionários a virem até seus supervisores ou sua alta gerência com qualquer problema que diga respeito a eles. Normalmente, os funcionários são estimulados a procurar primeiro seus supervisores. Caso seu problema não seja resolvido pelo supervisor, então a gerência superior poderá ser abordada. O objetivo é remover os entraves para a comunicação ascendente. Essa é uma meta valiosa, que nem sempre é fácil de ser implementada, pois freqüentemente existem barreiras reais ou percebidas entre os gerentes e os funcionários. Embora a porta do gerente esteja fi sicamente aberta, barreiras psicológicas ou sociais fazem que os funcionários se sintam relutantes em entrar. Alguns funcionários não querem admitir que não possuem as informações necessárias ou que têm um problema. Outros têm medo de cair em desgraça em relação aos seus gerentes, caso levantem questões controversas. Uma “porta aberta” é ainda mais efi caz quando os gerentes vão além de suas próprias portas e saem de seus escritórios para fi car com seu pessoal. Essa abordagem reforça a política de portas abertas com uma poderosa dica social. Nessa modalidade, os gerentes aprenderão mais do que ja- mais aprenderiam, caso fi cassem sentados em seus escritórios. A prática pode ser descrita como gerenciamento por contato direto — walk around (MBWA, sigla em inglês), na qual o ge- rente toma a iniciativa de fazer contato sistematicamente com grande número de funcionários. Ao ir além de suas portas, o gerente poderá não somente descobrir informações essenciais provenientes de seus funcionários, mas também utilizar essa oportunidade para projetar uma atmosfera de supor- te. Assim, ambas as partes ganham. Participação em Grupos Sociais Eventos informais e relaxados de recreação oferecem excelente oportunidade para uma comunicação ascendente não planejada. Esse compartilhamento espontâneo de informações revela situações reais em condições mais vantajosas que a maior parte das comuni- cações formais. Festas departamentais, eventos esportivos, equipes de boliche, grupos de interesse, piqueniques e outras atividades patrocinadas pelos empregadores são muito úteis nesse sentido. A comunicação ascendente não é o objetivo primordial desses eventos, mas poderá ser um importante subproduto deles. As barreiras podem limitar seu uso. Capítulo 3 Gerenciando as Comunicações 61 FIGURA 3.4 Diretrizes para ser um Ouvinte Efi caz 1. Pare de falar! Você não poderá ouvir se estiver falando. Polônio (Hamlet): “Dê a todos os homens vossos ouvidos, mas a poucos vossa voz”. 2. Deixe seu interlocutor à vontade. Dê as boas-vindas à pessoa e expresse sua disponibilidade. Ajude a pessoa a sentir-se livre para falar ao fazê-la sentir-se confortável. Crie uma atmosfera favorável por meio do estabelecimento de rapport. 3. Demonstre ao seu interlocutor que você deseja ouvi-lo. Pareça interessado. Estabeleça contato visual e forneça respostas não-verbais. Aja de modo interessado. Não leia suas correspondências enquanto alguém estiver falando. Ouça para compreender e não para se opor. Preste muita atenção; esteja “presente”. 4. Remova todas as distrações. Não faça rabiscos nem batuque ou mexa com papéis. Sugira que a porta seja fechada. Não aceite chamadas telefônicas. 5. Crie empatia com seu interlocutor. Tente ver o ponto de vista da outra pessoa. Conecte-se com o indivíduo compartilhando uma experiência similar. Resuma e parafraseie conteúdos para verifi car seu nível de entendimento. 6. Seja paciente. Conceda bastante tempo. Não interrompa o interlocutor. Espere pacientemente as pausas curtas. Não se movimente em direção à porta nem saia andando. 7. Controle seu temperamento. Faça uma pausa antes de falar ou responder. Uma pessoa com raiva obtém o signifi cado errado das palavras. 8. Aja com moderação em relação a discussões e críticas. Essas abordagens colocam o interlocutor na defensiva e ele pode fechar-se ou tornar-se enraivecido. Não discuta. Mesmo quando ganha, você está perdendo. 9. Faça perguntas relevantes. Fazer perguntas estimula o interlocutor e demonstra para a pessoa que você está ouvindo. Questione sobre sentimentos subjacentes e conteúdos ocultos. Isso ajuda a desenvolver mais outros pontos e demonstra emoções relevantes. 10. Pare de falar! Essa diretriz vale tanto no início quanto no fi m, pois todo o restante depende dela. Você não poderá ser um ouvinte efi caz enquanto estiver falando. A natureza deu às pessoas dois ouvidos, mas somente uma boca, o que é um bom indicativo de que elas deveriam ouvir mais do que falar. A audição requer dois ouvidos, um para o signifi cado e outro para o sentimento. Os tomadores de decisões que não ouvem têm menos informação para tomar decisões mais sólidas. • • • Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Dica do professor Gestores têm o desafio de desenvolver estratégias para abrir uma comunicação eficaz com sua equipe. Mas escolher o veículo adequado ajuda a chegar aos resultados esperados. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/fa459e4a9c52bc5dc8d8577f55bef5ef Na prática A NET, empresa de telecomunicações e conhecida principalmente pelo serviço de TV a cabo, enfrentava, em 2014, o desafio de crescer em novas regiões do país. Uma pesquisa interna mostrou que era preciso disseminar o conceito de excelência na prática. O discurso precisava se tornar mais real para os 19 mil funcionários. Primeira parte da estratégia foi alinhar à comunicação externa: A partir do hotsite, era preciso resolver os problemas da cidade fictícia de Cabo Solto. As respostas para enigmas estavam no Guia de Excelência da empresa – ou seja, a partir da ficção,