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Igreja de Santa Maria Del Fiore

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS 
Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática 
 Campus Coração Eucarístico 
 
 
 
 
 Orozimbo Marinho de Almeida 
 
 
 
 
A CAMINHO DA CATEDRAL 
 SANTA MARIA DEL FIORE: 
Brunelleschi, Arquitetura, Arte e Matemática 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2018 
 
 
 
 
 
Orozimbo Marinho de Almeida 
 
 
 
 
A CAMINHO DA CATEDRAL SANTA MARIA DEL FIORE: 
Brunelleschi, Arquitetura, Arte e Matemática 
 
 
 
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa 
de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática 
da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 
como requisito parcial para a obtenção do Grau de 
Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. 
Orientadora: Profa. Dra. Elenice de Souza Lodron Zuin 
Área de concentração: Ensino de Matemática. 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais 
 
 Almeida, Orozimbo Marinho de 
A447c A caminho da Catedral Santa Maria Del Fiore: Brunelleschi, arquitetura, 
arte e matemática / Orozimbo Marinho de Almeida. Belo Horizonte, 2018. 
 180 f.: il. 
 
 Orientadora: Elenice de Souza Lodron Zuin 
 Coorientadora: Lídia Maria Luz Paixão Ribeiro de Oliveira 
 Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. 
Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática 
 
 
 1. Brunelleschi, Filippo, 1377-1446 - Análise. 2. Catedral de Santa Maria del 
Fiore. 3. Geometria - Estudo e ensino. 4. Matemática - Estudo e ensino. 5. Cúpula. 
I. Zuin, Elenice de Souza Lodron. II. Oliveira, Lídia Maria Luz Paixão Ribeiro de. 
III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. IV. Título. 
 
 
 CDU: 378.147 
 Ficha catalográfica elaborada por Fernanda Paim Brito - CRB 6/2999 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Banca Examinadora 
 
 
________________________________________________ 
Elenice de Souza Lodron Zuin 
(Orientadora) 
________________________________________________ 
Lídia Maria Luz Paixão Ribeiro de Oliveira 
(Coorientadora) 
__________________________________________________ 
Cláudio Lister Marques Bahia 
(PUC Minas) 
__________________________________________________ 
Amauri Carlos Ferreira 
(PUC Minas) 
__________________________________________________ 
Romanelli Lodron Zuin 
(PUC Minas) 
 
 Belo Horizonte, 21 de dezembro de 2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedicatória 
 
 
 
 
 
 
 
 Para minha mãe 
que, não mais aqui, 
permanece sempre comigo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cúpula da Catedral de Florença. 
Óleo sobre tela de autoria de Orozimbo Marinho de Almeida (2017) 
 
 
 
 
 
Agradecimentos 
 
 
Apresento meus agradecimentos: 
À minha orientadora, Profa. Dra. Elenice de Souza Lodron Zuin, pelo incentivo ao 
plantar em mim a semente geradora deste trabalho, regada pelo seu acolhimento, generosida-
de, disponibilidade e socialização de seus conhecimentos; 
À coorientadora, Profa. Dra. Lídia M. Paixão Oliveira, pela leitura crítica e sugestões 
apresentadas ao longo do processo da escrita; 
Aos professores da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Florença Giuseppe 
Conti e Roberto Corazzi, por me acolherem em Florença, pela atenção e disponibilidade em 
compartilhar seus conhecimentos através de encontros desde o primeiro contato e pela con-
cessão das imagens do seu livro; 
Aos professores Dr. Amauri Carlos Ferreira, Dr. Cláudio Lister Bahia, Dr. Romanelli 
Lodron Zuin, Dr. Altino Barbosa Caldeira e Dr. Carlos Antônio Carmargos D‟Avila, do Curso 
de Arquitetura da PUC Minas, pelas preciosas contribuições apresentadas; 
À amiga Profa. Yonne Grossi que, com sua sabedoria e competência, direcionou-me 
em busca do objeto, ensinou-me a escrever, enxugando o texto; 
A Fábio Martins, pelo seu apoio e sua amizade; 
À minha irmã, Adriana, e à minha sobrinha, Adrianinha, pelo incentivo; 
Ao Márcio Schuffner, por toda sua colaboração no dia do minicurso; 
À colega e amiga Nayara Leão, pela consideração e amizade; 
Aos funcionários da Secretaria do Programa; 
Aos demais professores do Mestrado e a todos aqueles que se fizeram presentes no 
transcurso da pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os conhecimentos matemáticos são proposições constru-
ídas pelo nosso intelecto de modo a funcionar sempre 
como verdadeiras, ou porque são inatas ou porque a ma-
temática foi inventada antes das outras ciências. A bi-
blioteca foi construída por uma mente humana que pen-
sava de modo matemático, porque sem a matemática não 
se constrói labirintos. E, portanto, trata-se de confrontar 
as suas proposições matemáticas com as proposições do 
construtor, e desse confronto pode-se tomar ciência, 
porque é a ciência de termos sobre termos. 
 (ECCO, in O nome da Rosa,1986, p.251) 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
Esta dissertação busca evidenciar elementos da Matemática e Geometria presentes na constru-
ção da Cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiore em Florença. Descreve a região da Tos-
cana, na Itália, localizando sua capital Florença. Ao apresentá-la, conduz o leitor à Catedral 
Santa Maria del Fiore, cuja edificação é revelada. São mostrados centros urbanos da Toscana, 
sua formação, arquitetura, arte, transformações socioeconômicas na região e as Corporações 
de Ofícios. Abordam-se tormentos, conflitos e anseios do homem medieval para que se apre-
enda o contexto no qual foi construído o Templo e posteriormente sua Cúpula, que apresenta-
ra desafios devido à sua forma octogonal e grandes proporções. Introduz o artesão, artista e 
arquiteto Filippo Brunelleschi, responsável pela realização de seu projeto final. Trata-se de 
uma cúpula alvo de estudos recentes. Revela-se a importância da Matemática e Geometria em 
sua construção através de pesquisa, há pouco elaborada, mostrando os segredos de sua edifi-
cação com o uso aprimorado de conhecimentos geométricos. A partir deste trabalho, elabo-
rou-se um Guia a ser utilizado na formação inicial e continuada dos cursos de Arquitetura, 
Engenharia Civil, Matemática, Física e outras áreas, tendo como objetivo mostrar a aplicação 
da Matemática na solução de impasses ocorridos na construção da referida cúpula. 
Palavras-chave: Cúpula. Catedral de Santa Maria. Brunelleschi. Geometria. Matemática, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIASSUNTO 
 
Questa dissertazione cerca di evidenziaregli elementi di Matematica e Geometria presenti 
nella costruzione della Cupola della Cattedrale di Santa Maria del Fiore a Firenze, descrive la 
regione della Toscana in Italia, individua e presenta sua capitale Firenze. Conduce il lettore 
alla Cattedrale di Santa Maria del Fiore, di cui spiega la struttura. Indica i centri urbani della 
Toscana, la loro formazione, l'architettura, l'arte, le trasformazionisociali nella regione e le 
Arti (corporazioni di arti e mestieri). Le torture, i conflitti e le angosce dell'uomo medievale 
vengono affrontati per far capire il contesto in cui è stato costruito il tempio e più tardi, la sua 
cupola. Questaha presentato sfide nella sua costruzione dovute alla sua forma ottagonale e alle 
sue grandi proporzioni. Presenta l'artigiano, artista e architetto Filippo Brunelleschi, respon-
sabile della sua realizzazione e del suo progetto finale. Lacupola rivela l'importanza della 
Matematicanella sua costruzione, attraverso una ricerca, recentemente elaborata, che mostra i 
segreti della sua fabbricazione con l'uso raffinato della Geometria. Da questo lavoro è stata 
sviluppatauna guida da utilizzare nei corsi di laurea in architettura, ingegneria civile e aree 
correlate, il cui obiettivo é mostrare l‟ impiego della Matematica nella soluzione degli ostacoli 
che si sono presentati nella costruzione della cupola. 
Parole chiave: Cupola. Cattedrale di Santa Maria del Fiore. Brunelleschi. Geometria. Mate-
matica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 01 – Vista da Toscana – arredores de Panzano ........................................................... 20 
Figura 02 – Vista de Florença ................................................................................................ 24 
Figura 03 – Detalhe da Catedral Santa Maria del Fiore ....................................................... 36 
Figura 04 – Planta baixa da antiga igreja de Santa Reparata e ampliação da construção ...... 40 
Figura 05 – Fachada da Catedral de Santa Maria del Fiore ................................................... 41 
Figura 06 – Catedral de Florença, afresco de Andrea di Buonaiuno, entre 1366 e 1369 .......43 
Figura 07 – Torres em residências particulares – símbolo de poder econômico ................... 49 
Figura 08 – Perspectiva linear com ponto de fuga – Santa ceia (Leonardo da Vinci), 
 Milão...................................................................................................................................... 67 
Figura 09 – Disposição dos tijolos na forma “espinha de peixe”, em algumas seções da 
cúpulada Catedral de Santa Maria del Fiore ..................................................................... 68 
Figura 10 – Lanterna coroando a Cúpula e sobre ela a esfera de cobre, obra de Verocchio.. 76 
Figura 11 – Cúpula da Catedral de Florença........................................................................... 81 
Figura 12 – Determinação da vela - porção de um cilindro elíptico....................................... 83 
Figura 13 – Curva catenária .................................................................................................... 84 
Figura 14 – Quarto e quinto agudo da seção transversal da cúpula......................................... 85 
Figura 15 – Estrutura das velas................................................................................................ 87 
Figura 16 – Tijolos colocados ortogonalmente às linhas meridianas das velas – cordas 
flexíveis.................................................................................................................................... 88 
Figura 17 – Disposição dos tijolos segundo aneis ortogonais – visualização segundo 
superfícies cônicas................................................................................................................... 88 
Figura 18 – Determinação das cordas flexíveis....................................................................... 90 
Figura 19 – Detalhe das duas teorias na determinação das cordas flexíveis........................... 90 
Figura 20 – Visualização das superfícies cônicas................................................................... 91 
 
 
 
 
 
Figura 21 – Reforço circular disposto a partir de uma determinada altura para garantir a 
estabilidade da cúpula ........................................................,....................................................91 
Figura 22 – Posição da cúpula (circular) e a técnica “espinha de peixe” em forma de 
élice......................................................................................................................................... 92 
Figura 23 – Traçado da Cúpula com a disposição na forma “espinha de peixe...................... 92 
Figura 24 – Paralelo entre a cúpula da Catedral de Florença e a Catedral de Brasília............ 93 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 14 
 
CAPÍTULO I – CENÁRIOS INAUGURAIS 
 1.1– Toma da Toscana a estrada...........................................................................................20 
1.2 - Florença: um poema de arte e arquitetura no espaço urbano........................................24 
1.3 - Santa Maria del Fiore – a catedral: história e construção.............................................36 
CAPÍTULO II- O DECLÍNIO DA IDADE MÉDIA E A CONSTRUÇÃO DA CÚPULA 
 2.1 – A arte e arquitetura no contexto medieval.............;....................................................44 
. 2.2 – O ofício de artesão .....................................................................................................53 
. 2.3 – Impasses na construção da cúpula..............................................................................59 
 
CAPÍTULO III – A CÚPULA DA CATEDRAL DE FLORENÇA 
 3.1 – Brunelleschi: sábio, artesão, arquiteto, escultor ........................................................64 
 3.2 – A presença de Brunelleschi na construção da cúpula ................................................71 
 3.3 – A cúpula octogonal – pelas mãos da Matemática ......................................................81 
 
CAPÍTULO IV – MATEMÁTICA E GEOMETRIA NA TRAMA DA ARQUITETURA 
- Um relato de Experiência 
4.1 – Do produto...................................................................................................................95 
4.2 – O minicurso.................................................................................................................96 
4.3 – Análise dos dados........................................................................................................96 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................................104 
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................108 
 
APÊNDICES A (Questionário) ............................................................................................111 
APÊNDICES B (Detalhamento do minicurso)......................................................................113 
APÊNDICES C (Cartaz do minicurso)..................................................................................115 
APÊNDICES D (Produto educacional) ................................................................................116 
ANEXO 1 (Mini glossário ilustrado) ....................................................................................172 
ANEXO 2 (Concordância de curvas) ....................................................................................177 
ANEXO 3 (Bibliografia complementar) ...............................................................................178 
ANEXO 4 (Autorização para utilização de imagens) ............................................................180 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 Esta dissertação procura articular distintas dimensões temáticas: Arquitetura, Matemá-
tica, Geometria e Arte que envolvem a construção da Cúpula da Catedral de Santa Maria del 
Fiore, em Florença, na Toscana, Itália. 
A construção da Catedral de Santa Mariadel Fiore, ou Santa Maria da Flor, iniciada 
em1296, baseada no projeto do arquiteto italiano Arnolfo di Cambio (1240-1310) para substi-
tuir o pequeno templo de Santa Reparata. É possível que o fato tenha ocorrido devido à rivali-
dade existente entre as cidades de Florença e Siena. Florença decide construir uma grande e 
majestosa catedral para evidenciar seu poder. Nessa época, a população de Florença atinge 
90.000 habitantes o que demanda uma catedral maior para abrigar os fiéis. A edificação é fei-
ta, conservando em seu interior, a igrejade Santa Reparata, contudo, em 1375, é demolida. 
Atualmente no interior da Santa Maria del Fiore, à direita de quem entra no templo, existe 
uma escada que conduz aos subterrâneos da catedral, onde podem ser observadas as funda-
ções da antiga construção. 
Em 1375, a obra do corpo da catedral é finalizada, faltando a edificação da cúpula. Ha-
ja vista que as cúpulas, até então são de base circular – denominadas de cúpula de rotação – 
essa é projetada tendo uma base octogonal, o que causa sérias dificuldades na sua construção. 
A solução para esse impasse só deve ocorrer por volta de 1420, isto é, cento e vinte anos após 
o início da construção do templo, através do artesão e arquiteto Filippo Brunelleschi (1377-
1446) que provavelmente utiliza seus conhecimentos de matemática e de geometria. A partir 
do momento em que a Arquitetura apropria da Matemática, concretiza-se o fim do padrão 
gótico e o início do padrão moderno. 
Isto posto, uma questão se coloca: como explicitar a relação entre Arquitetura, Geome-
tria e Arte na construção daquela cúpula? É o que se pretende nesta presente pesquisa. Brunel-
leschi, na realidade, constrói duas cúpulas, uma interna cujo diâmetro é 45m e a externa de 
diâmetro 54m e sua altura alcança 116 m. Sua grandiosidade, beleza, estética são motivos de 
encantamento para os que a contemplam. 
15 
 
 
Cabe indagar: onde buscar meu interesse pelas artes em geral? Como a construção da 
cúpula da catedral de Santa Maria del Fiore e Brunelleschi entram em meu percurso acadêmi-
co? 
Minha trajetória nas artes da Matemática, das Línguas e das Artes Plásticas possibilita 
um olhar distinto sobre o mundo, transitando por caminhos que se cruzam em diversas áreas 
dos saberes e fazeres. Na obra A Magia dos Números, de Paul Karlson, encontro suporte para 
justificar meu percurso eclético. O autor lembra que: 
o mundo sempre esteve e está repleto de matemática. Isto nos pode causar 
admiração pois o matemático é tido como um indivíduo de óculos escuros, 
seco, alheio à vida, cujo reino, verdadeiramente, não é deste mundo, mas que 
delicia com elipses, e hipérboles, com frações e raízes, com logaritmos e in-
tegrais, o que é pura verdade. Mas quando tira seus óculos e esfrega os olhos 
para passar em revista o céu e a terra, a sua alegria de descobridor não tem 
fim. No alto dos céus depara com a lua cheia: um círculo perfeito (...). Nas 
ondas majestosas do oceano e no movimento pulsante da água ele vê a ima-
gem do conceito que tem das funções periódicas; a ornamentação cósmica 
do céu estrelado fornece ao matemático uma riqueza inesgotável de relações 
geométricas. (KARLSON, 1961, p.3). 
Hoje, pode-se dizer que minha alma sempre foi de educador, uns momentos pelas dis-
ciplinas das Ciências Exatas, outros voltados para Letras e/ou Artes, cada uma contribuindo 
com seu colorido na tela da minha vida. Procuro ver o mundo sem lentes escuras. 
Frequento Florença desde os anos de 1970. Sinto-me atraído por ela e, cada vez que lá 
retorno, é como se estivesse voltando para casa. Chego a considerá-la quase como minha ci-
dade natal. De tantas idas e vindas por aquelas terras, não cheguei a imaginar que, um dia, 
esta cidade e a cúpula que enfeita sua catedral fossem estar tão presentes em minha trajetória 
acadêmica e pessoal. Admirar a cidade do alto de um mirante no Piazzale Michelangelo, pas-
sear pelos labirintos dos Jardins de Boboli, um jardim renascentista, percorrer ruelas por onde 
circularam Dante Alleghieri, Nicolau Macchiavel, entre outros, são experiências marcantes e 
inesquecíveis, que enriquecem a alma. 
Esta dissertação reforça minha identidade com a cidade e, com ela, rendo homenagem 
à Florença que, sendo considerada o berço do Renascimento, exibe, em cada esquina, em cada 
canto, uma riqueza histórica e artística. 
Do ponto de vista científico, a relevância desta pesquisa ancora-se numa dimensão 
multidisciplinar entre Arquitetura, Arte e Matemática. Edgard Morin (2002), em sua obra A 
16 
 
Religação dos Saberes, preconiza a importância dessa interdisciplinaridade. Cabe rememorar 
a recomendação dada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PC-
NEM): 
Será preciso procurar suprir a carência de propostas interdisciplinares para o 
aprendizado, que tem contribuído para uma educação científica excessiva-
mente compartimentada, especialmente no Ensino Médio, fazendo uso, por 
exemplo, de instrumentos com natural interdisciplinaridade, como [...]. Fe-
lizmente, pelo menos no plano das leis e das diretrizes, a definição para o 
Ensino Médio estabelecida na LDB/96, assim como seu detalhamento e en-
caminhamento pela Resolução CNE/98, apontam para uma revisão e uma a-
tualização na direção correta. Vários dos artigos daquela Resolução são de-
dicados a orientar o aprendizado para uma maior contextualização, uma efe-
tiva interdisciplinaridade e uma formação humana mais ampla, não só técni-
ca, já recomendando uma maior relação entre teoria e prática no próprio pro-
cesso de aprendizado. (BRASIL, 1998, p.48). 
 É inegável a importância de se estabelecer uma relação entre conteúdos de áreas dife-
rentes para que se possa promover, entre os sujeitos do fazer pedagógico, uma efetiva siste-
matização do conhecimento produzido. 
 Finalmente,do ponto de vista social, a importância desse trabalho reside na possibilida-
de de levar tal conhecimento através de um Guia, às outras áreas do saber como a Arquitetura, 
a Engenharia Civil e no Ensino Médio através da Educação Matemática. Além disso, a arte e 
a estética dessa suntuosa cúpula merecem ser conhecidas e admiradas. 
 O objetivo deste trabalho é apresentar a construção da cúpula octogonal da Catedral de 
Santa Maria del Fiore circunscrita aos campos da Matemática, Arquitetura e Arte, demarcadas 
pela obra de Brunelleschi. Em paralelo, perfilam-se os objetivos específicos: 
 Descrever a região da Toscana na Itália e a cidade de Florença para localizar a posição 
da catedral de Santa Maria del Fiore no tecido urbano; 
 Analisar a arte entre os séculos XIII e XV d. C. no contexto histórico/religioso medie-
val fazendo referências às dificuldades de construir uma cúpula de base octogonal; 
 Identificar os impasses e dificuldades da construção da cúpula da Catedral Santa Maria 
del Fiore afim de apreender o uso da geometria na solução dos impasses criados; 
 Descrever resultados de pesquisa recente que analisa à luz da Matemática, a constru-
ção da Cúpula. 
 A dissertação tem como principais referenciais teóricos Giuseppe Conti e Roberto 
Corazzi, pautando-se nos estudos desses dois pesquisadores da Universidade Florença,que 
17 
 
circundam a temática desenvolvida nessa pesquisa. Registram noções de arquitetura em seu 
aspecto de projeto, de matemática, principalmente no que tange aos conhecimentos de geome-
tria, perspectiva e da arte no período medieval. Esse corpus de saberes é utilizado como eixo 
referencial do trabalho. Os autores consultados fizeram uma investigação, detalhada e não 
invasiva com instrumentos georadar, sobre a estrutura das paredes da cúpula e do material 
utilizado em sua construção. Por estar fora dos objetivos desta dissertação, não foram analisa-
dos, em detalhes, neste trabalho. Contudo, tal questão pode ser um precioso material para fu-
turas pesquisas. 
 A presente investigaçãoconstituiu-se de uma pesquisa exploratória e documental, fun-
damentada em fontes secundárias, com análise qualitativa1. Entre os procedimentos metodo-
lógicos tomou-se a análise de conteúdo. Parte do trabalho de campo foi realizado em Floren-
ça, nos verões italianos de 2017 e 2018, onde foram coletados dados relevantes. Houve opor-
tunidade de encontros com os autores Conti e Corazzi, recebendo deles, preciosas informa-
ções. Para os referenciais em outros idiomas, optou-se por uma tradução livre para o portu-
guês. Decidiu-se em adotar a grafia italiana para os nomes próprios. 
 Esta pesquisa gerou o produto educacional intitulado Desafios na construção da Cú-
pula da Catedral de Florença com o objetivo de ser um guia para os profissionais da Arquite-
tura, Engenharia Civil, formação inicial e continuada de professores de Matemática e áreas 
afins, além de atender os docentes em serviço. Devido à especificidade do tema e a sua finali-
dade, expressa anteriormente, em alguns momentos, fez-se necessário retomar, no seu todo ou 
em partes, alguns capítulos da dissertação. Em outros, há partes que não estão contempladas 
na dissertação, como é o caso dos elementos geométricos presentes na construção da cúpula e 
o material dos anexos. 
Em relação à divisão do texto, o primeiro capítulo situa a Catedral de Santa Maria del Fiore 
no contexto espacial e urbano na cidade de Florença, região da Toscana, Itália. 
O segundo capítulo contextualiza o período medieval apreendendo arquitetura, religião, 
arte, movimento intelectual entre outros, evidencia a importância do artesão nas Corporações 
de Ofícios e registra, entre os séculos XIII e XV d.C., o projeto de construção da catedral. 
 
1 A pesquisa teórica tem, normalmente, como objeto de estudo, um corpus de dados constituídos de estudos já 
realizados ou de documentos relacionado à temática. Nessa pesquisa, os procedimentos definem-se 
essencialmente pela leitura, categorização e interpretação dos dados evidenciados nesse corpus. (PEREIRA, 
1999, p. 31) 
18 
 
O terceiro capítulo explicita a presença do arquiteto Filippo Brunelleschi e a solução 
encontrada para os impasses criados na edificação da cúpula octogonal da Santa Maria del 
Fiore. Além disso, apresentam-se algumas evidências atuais, a partir de pesquisas realizadas 
pelos autores já citados, quanto à utilização da matemática na construção da cúpula. 
O quarto capítulo traz o relato de experiência referente ao minicurso ministrado e assen-
tado no Guia educacional, elaborado por esta pesquisa, intitulado: Desafios na construção da 
Cúpula da Catedral de Florença. É apresentada uma análise das respostas do questionário 
aplicado aos participantes do minicurso – estudantes de Arquitetura, Engenharia Civil, Mate-
mática e áreas afins – sobre o referido produto. 
Seguem-se algumas considerações finais do estudo. 
O desenrolar da pesquisa evidencia o campo da interdisciplinaridade. Os cálculos ma-
temáticos representam um dos eixos da sustentação de uma arquitetura voltada para a arte e 
estética. Por todos os aspectos apresentados, conclui-se que é possível exercitar o olhar mate-
mático no encontro de saberes e fazeres. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
CAPÍTULO I 
CENÁRIOS INAUGURAIS 
 
 
Famosa por sua arte, história e paisagem, a Toscana é uma região onde pas-
sado e presente se unem em agradável harmonia. (...) Vários castelos e man-
sões foram construídos para os Medici, os grandes patronos do Renascimen-
to, que financiaram cientistas eminentes como Galileu Galilei. 2 
 
 
Este capítulo localiza, na Itália, a região da Toscana e sua capital Florença, onde se er-
gue a catedral Santa Maria del Fiore com sua imponente cúpula octogonal, foco desta disser-
tação. A narrativa deita raízes nas belezas naturais que compõem o relevo regional. 
De Florença são declinadas sua história, arte, movimento político, intelectual e sua es-
tética na configuração do projeto arquitetônico. Ressaltar-se-á seu grau de importância frente 
às demais cidades italianas, assim como a presença de sua catedral acima mencionada. Para a 
escrita do texto, tem-se apoio nas obras de Bessana (2009), Bloch (1959) e Listri (2002) por 
apresentarem, de forma inspiradora, as principais características que envolvem esse trabalho. 
A relevância da narrativa da região da Toscana, de Florença e da catedral demanda 
uma necessidade de se localizar a problemática da dissertação no espaço, tempo e contexto 
cultural. 
 
 
 
 
 
2 In: Guia da Folha de São Paulo (1998, p.305). 
 
20 
 
1.1 – TOMA DA TOSCANA A ESTRADA 
Figura 1 - Vista da Toscana – Arredores de Panzano 
 
Fonte: Fotografia de Orozimbo Marinho de Almeida (2012) 
 
A Itália é um sonho que retorna pelo resto da vida. 
Anna Akhnatova 
 
Entre as vinte regiões em que está dividida a Itália, seu fascínio resume-se em uma ú-
nica, a Toscana, “joia das mais preciosas de um imenso assentamento ambiental, cultural, 
artístico e gastronômico. Centro espiritual e capital do comércio, é o berço da língua italiana, 
pois, italiano oficial é o falado nessa região” (LISTRI,2002, p. 5).Tal fato explica porque um 
grande número de escolas que ensinam a língua italiana para estrangeiros estão ali localiza-
das. Seus contrastes culturais assemelham-se aos paisagísticos que representam a diversidade 
e especificidades do país. 
A Toscana está localizada na parte central da Itália, entre o norte do Mar Mediterrâneo 
e os Montes Apeninos, cercada e entrecortada por grandes cadeias montanhosas. Conhecida 
por suas belas paisagens, densas florestas e vegetação mediterrânea incluindo a videira, o car-
21 
 
valho, a oliveira e o cipreste, árvore sagrada dos Etruscos3. Ocupa uma área de aproximada-
mente 23 mil quilômetros quadrados sendo a quinta maior em extensão. Seus limites são: ao 
sul, está o Lazio, onde se localiza Roma, a capital do país, a leste, estão a Umbria e Marche, 
ao norte, Emilia-Romagna e Liguria, a noroeste. 
Seu território é banhado pelo Mar Tirreno e pelo Mar da Liguria. Colinas e montes – 
66% de suas terras – são predominantes em seu relevo, mas, também, há presença de forma-
ções montanhosas. Entre as sete ilhas da costa que formam seu arquipélago, merece referência 
a ilha de Elba, terceira maior da Itália em extensão. As províncias (municípios) que a inte-
gram são: Siena, Prato, Pistoia, Pisa, Massa-Carrara, Lucca, Livorno, Grosseto, Florença e 
Arezzo. Possui 287 cidades e 1757 distritos. 
Os montes Apeninos são formados por duas cadeias principais quase paralelas. Uma 
das ramificações é representada pelos Alpes Apuanos que cobrem seu norte e se estendem até 
o mar da Ligúria. Nessa região, localiza-se o Monte Pisanino (1946 m), ponto mais alto. Apu-
anos foram os primeiros habitantes da região cujo assentamento confrontava-se com o territó-
rio etrusco. 
Descrevendo a região, ocorre registrar a narrativa feita por Roberto Bessana sobre o 
Vale D‟Orcia, ali localizado: 
Castelos medievais, colinas, cidades antigas, belas vilas, casas isoladas, ci-
prestes, vinhas fabulosas e oliveiras, campos de trigo da cor de ouro, são es-
tes apenas alguns elementos que compõem as paisagens harmoniosas do Val 
D‟Orcia, próximo da província de Siena. O Vale D‟Orcia é um símbolo uni-
versal, tanto pela beleza natural da Toscana, como pela relação genuína entre 
o homem e a terra que habita (BESSANA, 2009, p.45). 
Considerado patrimônio mundial, em 2004, pela UNESCO, o Vale D‟Orcia é lar de 
paisagens únicas e, por isso, um dos mais fotografados pelos visitantes. Nele os ciprestes são 
como os ponteiros de uma bússola virtual que acompanham os viajantes todo o tempo. 
 O legado artístico e a influência da cultura erudita remetem a região à Itália Renascen-
tista. Na Toscana, nascem os mais influentes personagens da ciênciae das artes, como Fran-
cesco Petrarca (1304-1374), Dante Alighieri (1265-1321), Sandro Botticelli (1445-1510), 
 
3A história dos Etruscos, desde sua origem, até o estabelecimento no solo itálico, constitui uma incógnita para os 
modernos arqueólogos. De onde veio esse povo e como chegaram a dominar a área ocupada pelos vilanovianos 
são fatos que não se pode determinar. (SOARES, 1969, p. 222). 
22 
 
Michelangelo Buonarotti (1475-1564), Leonardo da Vinci (1452-1519), Galileu Galilei 
(1564-1642), Filippo Brunelleschi (1377-1446), Giacomo Puccini (1858-1924), entre outros. 
Seis de suas localidades foram designadas patrimônio mundial, entre elas estão: o cen-
tro histórico de Florença (1982); a praça da Catedral de Pisa (1987); o centro histórico de Sie-
na (1995), o Vale D‟Orcia. A região possui mais de 120 reservas naturais que são protegidas. 
Isto faz da Toscana, incluindo a capital Florença, um destino turístico muito solicitado atrain-
do visitantes de várias partes. 
Toscana é herdeira da antiga Etrúria, a terra dos Etruscos, nome da região na idade 
clássica. A partir do século III d.C., passa a ser conhecida como Tucia e seus domínios com-
preendiam um vasto território incorporando grande parte da Itália central (Toscana, Lazio 
setentrional). A partir do século X, a Tucia setentrional recebe o nome de Toscana devido a 
seus primeiros habitantes, os tuscos. Segundo Raimond Bloch, em seu livro Gli Etruschi, os 
etruscos foram 
[...] responsáveis pela maior civilização da Toscana, viveram na Etrúria duran-
te a pré-história, foram se expandindo pela área compreendida entre os rios 
Arno e Tibre. Sua longa história sobre o solo da península italiana desenvol-
ve-se entre o início do século VIII a.C. e pouco antes da Era Cristã. A princí-
pio, em guerra contra os gregos, com os quais dividia a hegemonia do Medi-
terrâneo e,mais tarde, contra os romanos. Apesar de terem sucumbido à do-
minação romana no século III a.C., sua influência cultural não é interrompida. 
Trazem para a Toscana uma série de inovações no campo de infraestrutura de 
transporte, agricultura e mineração, além de criar arte. Ainda hoje, na Toscana 
e regiões vizinhas, encontram-se muitos vestígios etruscos. (BLOCH, 1959, 
p.16). 
Seguindo sua descrição, Bloch narra que as origens da Etrúria são ainda incertas. Se-
gundo Heródoto, os etruscos emigram da Lídia e outras localidades da Ásia Menor, via 
mar,em direção às praias ensolaradas do mar Tirreno. Decifrar a língua etrusca em sua totali-
dade é,ainda hoje, um desafio. As cidades fundadas por eles, em geral, localizam-se nas en-
costas das montanhas. Cortona é um exemplo, pequena e pitoresca, localiza-se em uma colina 
coberta de bosques, oliveiras e vinhedos. Está a 115 km de Florença e pertence à província de 
Arezzo. Os etruscos possuíam um vasto conhecimento de irrigação. Após a incorporação da 
Etrúria, Roma fundou as cidades de Lucca, Pisa, Siena e Florença provendo a área com novas 
tecnologias e desenvolvimento, além de segurança. 
O desenvolvimento da civilização etrusca, da história romana, da arte medieval e o esplendor 
do Renascimento, conferem às cidades toscanas uma marca indelével. É uma espécie de “au-
ra” que as reveste diferenciando-as das demais cidades das outras regiões. 
23 
 
A região atrai visitantes de muitas partes do mundo, devido à cidade de Florença, sua 
capital, e outras como: Siena, Pisa, Arezzo. Quando se fala da Itália, de sua paisagem, de arte, 
gastronomia, de Leonardo da Vinci, de Dante Alighieri, em qualquer parte do mundo, fala-se 
da Toscana. As principais atividades econômicas são a indústria, o comércio, o artesanato, o 
turismo e a agricultura que mantêm uma posição relevante. 
Os vinhedos de suas colinas produzem vinhos bastante respeitados em virtude de seu 
clima temperado e ensolarado. O Chianti é uma parte da região que engloba as províncias de 
Florença, Arezzo e Siena. É um território de colinas que deve notoriedade à sua produção 
vinícola. O vinho produzido nessa região viaja pelo mundo, como um símbolo italiano.4“A 
área do Chianti é habitada há, pelo menos, 4000 anos como atestam recentes descobertas ar-
queológicas” (BESSANA,2009, p.15). 
Os toscanos orgulham-se do azeite que produzem. Em boa parte da região, o comum 
na paisagem é ser representada alternadamente por vinhas, carvalhos e oliveiras. Oito mil e 
quinhentos hectares do território são cobertos por carvalhos, oliveiras, girassóis, papoulas, 
cereais e pastagens que se alternam com as filas de ciprestes. 
No período medieval, peregrinos que viajavam entre a cidade de Roma e a atual Fran-
ça, enriqueceram a região com novos conhecimentos: culinária, arte, artesanato, etc. Alimen-
tação e abrigo, necessários à estada desses viajantes, incentivaram o crescimento de comuni-
dades ao redor de igrejas e tabernas. Durante os séculos XII e XIII, conflitos entre os Guelfos 
e Gibelinos –facções políticas apoiadas pelo papado e pelo Sacro Império Romano – no norte 
e na região central da Itália, ocasionaram divisões entre os toscanos. Esses fatores incentivam 
o surgimento de algumas comunas medievais ricas e poderosas na Toscana: Arezzo, Florença, 
Lucca, Pisa e Siena. Possuíam certos ativos que garantiram destaque: Pisa tinha um porto, 
enquanto Siena, o poder dos estabelecimentos bancários, Lucca, capital financeiro em casas 
bancárias e mercado da seda, Florença, cultura e arte. Todavia, o encantamento da região 
circunscreve sua capital, Florença. Sua tradição medieval, a estética de sua arquitetura, as 
cores das casas, amarelo palha com janelas, quase sempre verde bandeira, o simbolismo de 
seus monumentos, intrigam e fascinam seus visitantes. 
 
4 Segundo Belford, os morros e vales suaves de Chianti se acomodam entre Siena e Florença, as grandes cidades 
das artes dispõem de alguns dos melhores vinhedos da Itália. Florestas de carvalhos dão lugar a pastagens 
abertas, enquanto que boas estradas rurais levam a Abadias isoladas e a castelos no alto dos morros. (BELFORD, 
2014, p. 110). 
 
24 
 
 
1.2 - FLORENÇA, POEMA DE ARTE E ARQUITETURA NO ESPAÇO 
URBANO 
 
Figura 2 - Vista de Florença 
 
Fonte: Conti e Corazzi (2014, p. 4-5) 
 
O mistério dos telhados de Florença está todo aqui: são, com a 
Cúpula, quase um “sacramento” que se torna um espelho e difu-
sor de beleza, pureza e paz celestial. 
 Giorgio La Pira 
 
Em sua obra Florença, o berço do Renascimento, Machado lembra a escritora e crítica 
literária americana Mary McCarthy: “Os florentinos, de fato, inventaram a Renascença, o que 
quer dizer que eles inventaram o mundo moderno”, e a autora completa: 
Parece exagero, mas não é. Em Florença, estruturou-se a língua italiana, a 
partir de Dante, lá Galileu deu início à ciência moderna, lá nasceu a nova 
concepção de política com Machiavel e se deu a revolução que libertaria a 
arte de todos os limites e preconceitos que vigoraram na Idade Média. Em 
Florença, o homem redescobriu a importância de seu papel no mundo. 
(MACHADO, 2004, p. 9-10). 
25 
 
Acredita-se que conhecer uma cidade seja também conhecer contornos de sua história, ou 
seja, sua fundação, desenvolvimento, estrutura urbana, influências, características de sua ar-
quitetura, atmosfera, o modo de falar dos habitantes e até mesmo o modo de viver. 
Como se deu o processo de desenvolvimento desse assentamento romano surgido às 
margens do Arno? A partir de um rio, uma ponte, uma estrada, tem-se a origem de Florença. 
Pier Francesco Listri autor da obra La piccola grande storia di Firenze quando se refere à 
origem de Florença, assim se expressa: 
Assim nasce Florença – um rio, uma ponte, uma estrada marcam o lugar no 
qual será construída Florença. O rio é bravo e inconstante. Divide-se em bra-
ços,forma ilhas e pântanos, inunda planícies na época de cheia e, no verão, 
torna-se calmo como um riacho. É navegável até o mar por longos períodos 
do ano. Garante energia aos moinhos e água límpida. Os pastores, que des-
cem dos Apeninos para lavar a lã, sabem que o rio não apresenta perigo. A 
ponte, inicialmente construída de madeira e, mais tarde, sobre uma sólida 
base de pedra, é segura porque apoia-se, de um lado, sobre uma margem de 
rochas mais alta do que o terreno que a circunda. A estrada toma a direção 
das colinas que estão ao norte. O lugar é encantado. Espalha-se entre colinas, 
protegido dos ventos, o rio garante a vida. Parece ter sido criado de propósi-
to, circundado por olmos, carvalhos, álamos e salgueiros para acolher o ho-
mem até a noite dos tempos. Aqui nasce Florença, fundada pelos legionários 
de Cesar,supõe-se que, durante a realização da festa de primavera, que acon-
teceu entre o final de abril e o início de maio do ano de 59 a.C., provavel-
mente, habitada pelos etruscos. (LISTRI, 2002, p.37). 
 
A velha ponte, o rio Arno e o tecido urbano do acampamento romano que restou, mar-
cam a origem de Florença. Uma ponte; um rio; uma estrada que, percorre uma estreita planí-
cie, sulcando-a de sul a norte, em direção às colinas de Fiesole e Monte Morello. Esse é o 
cenário sobre o qual Florença se acampava e ainda hoje se acampa. Se as razões de seu pros-
perar podem ser múltiplas e variadas, nem todas a tornam afortunada devido às condições 
geográficas. 
Para construir o caminho que leva à pequena cidade às margens do Arno a representar 
uma parte do primeiro plano na história italiana e europeia, torna-se necessário explicitar con-
flitos entre Império e comuna. A análise abraça o período entre a fundação de Florença e o 
momento de grande esplendor econômico, político e cultural nos primeiros decênios do século 
XIV. 
Cardini descreve o período inicial da Florença romana: 
26 
 
A Florença Romana, um acampamento modelado na forma tradicional do 
Castrum5 militar,um quadrado cercado de muralhas com aproximadamente 
1800 m de lado, dentro do qual viviam entre 10000 e 15000 pessoas. A área, 
construída sobre duas grandes ruas que se cruzavam no centro do quadrado, 
chamadas de Cardo Maximus, na direção norte-sul e Documanos, orientada 
no sentido leste-oeste. Era praticamente um trecho da estrada chamada Via 
Cassia que cortava a cidade na direção leste-oeste. Quatro portas são coloca-
das nos pontos onde as ruas cortam as muralhas. No cruzamento das ruas fi-
ca a sede da administração. (CARDINI, 2015, p.19). 
Uma planície de modestas dimensões: comprimento aproximado de 40 km e largura 
um pouco mais de 10 km, esses limites condicionam o desenvolvimento da “grande Floren-
ça”, por muito tempo, desabitada por condições ambientais. Entre os séculos X e VIII a.C., 
surge, provavelmente onde hoje é o centro da cidade, um modesto acampamento vilanoviano6, 
mais tarde abandonado. 
No período entre os séculos VII e VI a.C., os etruscos se estabelecem na região. Por 
questões de segurança, evitam as planícies, dando preferência às encostas, de onde é possível 
controlar o rio frente à chegada de invasores. Fundam a cidade fortificada de Fiesole, com 
sólidas muralhas implantadas às margens da planície ao norte do Arno. Tudo começa quando 
os romanos precisam atravessar o rio para chegar à Gália Cisalpina, constroem a ponte e fun-
dam um acampamento para fiscalizara região. O ano é de59 a.C., Florença, conforme Cardini 
e outros autores, é filha de Roma. Existem, entretanto, autores que consideram Florença uma 
cidade etrusca e não romana, já que na época de sua fundação, Fiesole, etrusca, florescia nas 
colinas ao lado do acampamento romano. 
 Na descrição de Cardini (2015), a natureza não é indulgente com Florença. As colinas 
que a circundam são belas e apreciáveis, formam, entretanto, uma bacia úmida – abrasadora 
no verão e gelada no inverno – dividida em duas por um rio tranquilo, estreito na entrada e 
saída da cidade, ocasionando enchentes e mortes. Os romanos a fundam para proteger a velha 
ponte na confluência do rio com uma estrada consular: ainda hoje são bem visíveis seus tra-
ços. Todavia, o mar Mediterrâneo, fonte de vida e riqueza, fica longe da cidade; o tráfico flu-
vial do rio Arno é atrofiado; a agricultura sofre com transformações climáticas. Ocorrem in-
vasões bárbaras, levando os romanos a abandonar a região. 
 
5 Os antigos romanos utilizavam o termo Castrum para se referirem aos edifícios, ou áreas de terreno reservas 
para serem utilizadas pelas legiões romanas como acantonamentos ou posições defensivas. (CARDINI, 2015, 
p.19). 
6 Vilanoviana é o nome moderno dado à uma civilização pré-histórica. Seu nome vem da cidade Villanova, 
localizada na província de Bolonha. Séculos X a VIII a.C. (CARDINI, 2015, p.18). 
 
27 
 
Ao final do primeiro século d.C., sob o domínio do imperador Adriano, Florença assis-
te à uma decisiva reestruturação urbanística. Nascem os grandes edifícios públicos, como as 
termas, teatro e anfiteatro. De acordo com Levi (1994), Adriano foi um construtor, amante da 
paz, responsável por reafirmara universalidade da cultura latina e que prolongou por séculos a 
vida do Império Romano. 
 Nas últimas décadas do segundo século, reformas administrativas de Dioclesiano 
transformam Florença na capital da região formada por Tucia e Umbria. Até o final do impé-
rio romano ela está submetida a um governador. Passa por um período de decadência nos sé-
culos III e IV. É ocupada pelos bizantinos em 553 e em 570. A região Toscana é conquistada 
pelos Lombardos que colocam sua base em Fiesole e fazem de Lucca, sua capital. Florença 
deve esperar o seu renascimento no período carolíngio. Conforme narrativa de Cardini, “um 
eclipse parece cobrir a história florentina entre os séculos V e IX: como outros centros do 
universo romano – ocidental que também se viram envolvidos em uma crise de destruição por 
um longo período de invasões bárbaras”. (CARDINI, 2015, p.22). Para Listri, sob Carlos 
Magno “há um renascimento Florentino. O trabalho e comércio de tecidos, de lã, impulsio-
nam a economia criando classes mercantis que desenvolvem a cidade”. (LISTRI, 2002). 
Já nos séculos XI e XII, a cidade é um centro modesto, entretanto vê-se que ultrapassa Arez-
zo, Volterra e outras cidades importantes, mas é inferior a Lucca e Pisa no número de habitan-
tes, potência e riqueza. Nascem as Corporações de Ofícios, com a Arte de Calimala, assim 
chamada por estar na rua principal, isto é, na Cardo Maximus. São criadas, no início dos anos 
duzentos, as artes da troca (banqueiros), da lã, da seda e ainda outras que dão à Florença um 
sentido de vitalidade. 
No alvorecer do ano mil, com suas carências e vicissitudes, no que se refere à produ-
ção agrícola, alimentícia e habitacional, os florentinos vivem isolados entre muralhas constru-
ídas pelos romanos e suas fontes de riqueza eram apenas campos para cultura e pastoreio. No 
entanto, ao se debelar a mortalidade infantil, a população cresce, a agricultura se desenvolve e 
a cidade passa a ser mediadora do transporte de mercadorias entre o sul e o norte. Florença se 
afirma decididamente no tráfico, apesar de seu porto fluvial ser modesto e não possuir uma 
grande estrada. É carente de rebanhos e não tem aqueles apreciados corantes que são utiliza-
dos para tingir os tecidos. Importa lã da Inglaterra e do Maghreb, região localizada no norte 
da África,e busca na Ásia, através da “rota da seda”, as mágicas especiarias necessárias para 
28 
 
tingir os tecidos de azul ultramar ou de vermelho brilhante. Nesta época, estão florescendo as 
Corporações de Oficio que são assim descritas por Brucke: 
Os cidadãos de Florença, na Idade Média, mostram um forte e contínuo im-
pulso de agrupar-se em associações chamadas de Artes, às quais imprimemum caráter artesanal. Escrevem estatutos que especificam direitos e deveres 
de seus membros, exigem juramentos e fidelidade, fazem reuniões, impõem 
tributos e serviços. Tais organizações garantem aos seus membros uma certa 
segurança em um mundo turbulento, no qual a autoridade pública é fraca e a 
sobrevivência depende da cooperação e assistência recíproca. Além de for-
necer uma ajuda, seja material ou psicológica, desenvolvem um importante 
papel social resolvendo conflitos entre seus componentes. (BRUCKE, 1997, 
p.42). 
Efetivamente, o artesanato evolui do „sistema familiar‟ para o „sistema das corpora-
ções‟, quando o artesão se desloca para a cidade e passa a produzir para um mercado estável 
constituído pelos habitantes urbanos. Nesse período de retomada de crescimento econômico e 
explosão demográfica, são construídos mosteiros e igrejas e sua arquitetura é dominada pelo 
estilo românico. 
 A primeira classe a se organizar, a dos mercadores que, em 1082, institui as artes, uma 
associação profissional que, por ser forte e rica, força o governo a promover uma concorrên-
cia com as famílias da nobreza. Em 1197, as Corporações de Ofícios são em número de sete e 
surgem as artes medianas e as menores. Em 1293, as ordens de justiça, verdadeira revolução 
político administrativa, regularizam o número e os direitos políticos das associações de clas-
ses (artes). Ao se aproximar o século XIV, o poder de Florença se explicita através do prestí-
gio e riqueza arquitetônica das catedrais, basílicas, igrejas e atividades mercantis. Atinge 
90.000 habitantes. Com seu crescimento e diante de uma maior complexidade das formas so-
ciais e políticas, estruturam-se associações capazes de atender às novas demandas. 
Nesse século XIV, “as coletividades criadas estabelecem conselhos – legislativo, do 
povo e executivo, das comunas. Todavia, a criação de tais órgãos é excludente. Podem parti-
cipar das comunas quem estiver inscrito em uma das associações da cidade” (LISTRI, 2009, 
p. 21). Por exemplo, para o executivo supremo, torna-se necessário pertencer a uma associa-
ção. A direção suprema da cidade, a Senhoria7, é formada por oito priores escolhidos como 
representantes das comunidades das artes, representativa da Justiça. 
 
7 A Senhoria é uma forma de governo pela qual o poder comunal é centralizado em uma só pessoa, que o exerce 
vitaliciamente. É mais tardia em Florença, pois será a forma predominante no restante das cidades italianas já a 
partir da segunda metade do século XIII. A Senhoria governava com o apoio de 8 priores. (MAQUIAVEL, 
2007, p. IX) 
29 
 
Em meados do século XIII, é criada a mais antiga instituição de caridade, chamada 
Virgem da Misericórdia8, que ainda hoje tem sua relevância na cidade, acolhendo e socorren-
do os necessitados. Nessa época, nascem as chamadas Companhias comum futuro promissor. 
Entre elas, destacam-se a Companhia dos Cantores de Laudas, cuja característica é louvar 
publicamente a Virgem Maria; a dos Tabernáculos cujos membros incitam os artistas a pinta-
rem nas ruas e praças imagens da Madona. Antigas ordens religiosas - franciscana e domini-
cana – utilizam-se as praças existentes na cidade para suas cerimônias e pregações. Sobressa-
em duas praças, a de Santa Croce e de Santa Maria Novella. Mais tarde surgem outras. Em 
1250 iniciam-se a construção da igreja da Santíssima Trindade ede grandes hospitais: San 
Pancrazio, San Salvi, Santa Maria Novella e Santa Maria Nuova. 
A partir de 1252, é instituído o florim de ouro como moeda corrente que, depois de um 
século torna-se uma das moedas europeias mais valorizadas. A conjuntura é percorrida por 
conflitos entre classes sociais: os Guelfos e os Ghibelinos. A historiografia tradicional refere-
se aos Guelfos como guardiões da fidelidade ao papado enquanto que os Ghibelinos, devotos 
do império, apoiam a nobreza.Em 1261, o Palácio Público do Bargelo passa a ser sede do go-
verno. Posteriormente, transfere-se para o Palazzo Vecchio ou Palácio da Senhoria.Em 
1279,dá-se o início da construção igreja de Santa Maria Novella, sob a ordem dos dominica-
nos. Sua fachada, concluída posteriormente, apresenta um estilo renascentista, sendo utilizado 
mármores verde e branco, formando motivos geométricos. Seu interior, amplo e luminoso, 
apresenta estilo gótico. 
Ao final do século XIII, o governo decide construir uma catedral a ser projetada pelo 
renomado arquiteto Arnolfo de Cambio. Sua edificação inicia-se em 1296. Nos últimos anos 
desse século, na praça central da cidade, onde estava sendo construída a grande catedral, fo-
ram realizadas obras de urbanização. Nessa época, grande parte da população vive na pobre-
za, para não dizer, na indigência. Chegam a Florença as grandes ordens dos mendicantes. En-
tre elas estão os beneditinos e os franciscanos que em 1211 e 1221 são visitados por São 
Francisco. Le Goff assegura que “jamais se dirá o suficiente quanto à importância das ordens 
mendicantes, dominicanos e franciscanos, principalmente, na história das cidades da Idade 
 
8A Misericórdia, conhecida em toda a Itália, presta serviços assistenciais especialmente na área da saúde. Nasceu 
em Florença em 1244, da necessidade de recolher os doentes atingidos pela peste que assolava a cidade. Hoje 
atende famílias necessitadas com centenas de voluntários que são chamados de fratelli que conduzem suas 
ambulâncias. 
30 
 
Média”. (1998, p.17-18). Aos beneditinos, durante um longo período, cabe reger o tribunal da 
inquisição que combate a heresia. 
O século XIV contempla o esplendor de Florença. Divide-se em duas partes; a primei-
ra, tumultuada por conflitos entre habitantes e governo, além de invasores. A segunda organi-
za a forma do governo com suas respectivas hierarquias, atributos, normas e regulamentos. O 
exercício do poder assume um novo perfil. No início do século ainda há conflitos dentro e 
fora dos muros da cidade. Listri relata que 
[...] duas famílias, os Cerchi e os Donati, dão vida a um novo dualismo de 
conflitos, repudiado pela cidade, o primeiro forma o grupo dos Brancos, o 
segundo conhecido pelos Negros (ligados ao papa Bonifácio VIII). O impe-
rador Arrigo VII chega na Itália, assedia Florença que resiste. Um ano após, 
em 1313, morre em Siena deixando a Itália dividida em duas: onorte imperi-
al e o sul ocupado. (LISTRI, 2014, p.43). 
Antes da morte de Arrigo, para defender-se, Florença recorre a aliados estrangeiros e a 
escolha recai sobre Roberto D‟Angió, eleito para governar a cidade por cinco anos. Paralelo a 
tais acontecimentos, outras cidades da região tentam construir um estado Toscano sem incluir 
Florença. Pisa desafia Florença e Lucca assedia e conquista Pistoia que pertencia a Florença. 
O estado florentino recorre a Carlos da Calábria, filho do rei de Nápoles. Déspota, acaba com 
as riquezas da cidade. Em contrapartida, salva Florença dos invasores e a cidade retoma seu 
destino. Recupera o governo de Arezzo, Pistoia, Cortona, enquanto que internamente restaura 
suas magistraturas republicanas. 
A pausa democrática dura pouco e, em 1342, Florença vivencia uma nova ditadura es-
trangeira conduzida por Gualtieri di Brienne, duque de Atenas. Com intrigas consegue eleger-
se dirigente da cidade e de maneira despótica, apoiado pelas classes menos favorecidas, reali-
za uma reforma fiscal. Estabelece alianças ambíguas e acaba alijado do poder pelas elites 
dominantes. Em 1348, a peste domina a cidade e extermina grande parte da população. Esse 
acontecimento encontra eco nas páginas imortais de Decameron, escrito por Giovanni Boc-
caccio (1313-1375). 
É oportuno salientar Giovanni de Milão, que dominava parte do norte da atual Itália, 
“alia-se às cidades adversárias de Florença e ameaça invadi-la. Essa revida e retoma sua estra-
tégia de expansão territorial e assim dizimaterritórios inimigos restando apenas o estado do 
papa que se opõe ao grupo dos Guelfos, conflito cunhado como a guerra dos oito san-
tos.”(BESSANA, 2009, p.42). A paz só será estabelecida quando o papa Gregório XI for su-
cedido por Urbano VI. 
31 
 
John Najemy recorda que: 
Durante todo esse período de desavenças externas, o estado Florentino, in-
ternamente foi palco de uma luta triangular entre: uma elite que assume uma 
nova identidade em qualidade de mercadores e banqueiros internacionais, o 
povo organizado nas Corporações de Ofícios e as classes trabalhadoras, 
principalmente a imensa indústria têxtil. (NAJEMY, 2006, p.XIII). 
Percebe-se, o início de atividades mercantis e industriais que permitem uma acumula-
ção de capital presente na primeira revolução industrial do século XVIII. 
No final do século XIV, na descrição de Capretti, 
Florença apresentava uma fisionomia urbana e arquitetônica bem definida, 
refletindo os estágios de sua história. Aos olhos de seus habitantes, a cidade 
se mostrava organizada e sólida, representando a base do território que a cir-
cundava. (CAPRETTI, 2008, p. 12). 
 Torna-se relevante trazer para a história de Florença a presença da família Medici. Sua 
fama ultrapassa os muros florentinos e toscanos, de origem camponesa tornam-se exímios 
mercadores e aliam ao seu poder econômico o político. Promovem as artes, letras e ciências. 
Criam bibliotecas, museus e patrocinam jovens artistas. Revivem a cultura grega, favorecem o 
estudo da filosofia e do humanismo. Sua influência atinge a igreja católica, conseguindo ele-
ger dois papas de sobrenome Medici. “Foram mecenas e grandes colecionadores de obras de 
arte”, tais como: o David de Michelangelo, A primavera de Boticelli, o rapto das Sabinas, 
entre outras (MACHADO, 2004, p.14). Berço do Renascimento, patrimônio mundial da hu-
manidade pela UNESCO, Florença desempenha um papel econômico e cultural preponderante 
nos séculos XV e XVI durante o governo dos Medici que configura outra estética, arquitetura 
e cultura. 
Em 1420, inicia-se a construção da igreja de São Lourenço da família Medici, projeto de 
Brunelleschi. Com essa obra, inaugura-se o estilo arquitetônico típico do Renascimento flo-
rentino. Há grande harmonia de tons cinzas claro, escuro e a geometria equilibrada dos pilares 
e arcadas. Em 1523, narra Machado p.71, “Michelangelo projeta um edifício para acolher 
obras raras da biblioteca, em estilo maneirista, beirando o barroco”. 
Até o início do século XIII, na arquitetura predomina o estilo gótico, mas no decorrer 
desse século surgem alterações próprias de cada região. Janson coloca que: 
Ao longo do século XIII o novo estilo perde aos poucos o seu caráter “im-
portado” e a adversidade regional volta a afirmar-se. Em meados do século 
XIV, observa-se uma tendência crescente de intercâmbio de influências entre 
essas realizações regionais, até que um estilo “gótico internacional” surpre-
32 
 
endentemente homogêneo, prevalece em quase toda parte. Pouco depois, 
quebra-se essa unidade: a Itália, liderada por Florença, cria uma arte radi-
calmente nova, a do Pré-Renascimento. Um século mais tarde, finalmente, o 
Renascimento italiano torna-se a base de outro estilo internacional (JAN-
SON, 1998, p.131-132). 
 A arquitetura gótica italiana tem uma posição de destaque por não ser totalmente gótica 
como em outras regiões da Europa. A Itália cria estruturas de uma beleza e imponência extra-
ordinárias. A Igreja Franciscana de Santa Croce, em Florença, conforme diz Janson: 
[...] é uma obra prima da arquitetura gótica, embora seus tetos sejam de ma-
deira e não de abóbodas de arestas, Certamente isso se deve a escolhas deli-
beradas, e não a necessidades técnicas ou econômicas; assim, evoca-se a 
simplicidade das primitivas basílicas cristãs e liga-se a pobreza franciscana à 
tradição da igreja primitiva. Não há indícios do sistema estrutural gótico a 
não ser na capela-mor com abóbodas e arestas. Por que então chamar a Santa 
Croce de gótica? Sente-se de imediato que esse espaço interno produz um 
efeito radicalmente diverso daquele criado pela arquitetura primitiva cristã 
ou pela arquitetura românica. As paredes da nave têm as qualidades de leve-
za e transparência que se vê nas igrejas góticas. (JANSON, 1998, p.139). 
Numerosas janelas exprimem o papel dominante da luz. Não se têm dúvidas de que a 
igreja de Santa Croce é gótica, mas é, sobretudo, Franciscana e florentina. As construções 
seculares do gótico italiano têm um caráter tão específico quanto as igrejas. Não há nada que 
se compare à imponente austeridade do Palazzo Vecchio, Câmara Municipal de Florença. 
Edifícios como esses, semelhantes a uma fortaleza, refletem as lutas entre as facções – parti-
dos políticos, classes sociais de famílias importantes – tão características da vida interna das 
cidades-estados italianas. A moradia do homem de posses (ou palazzo, termo designativo de 
qualquer grande casa urbana) é, literalmente, o seu castelo, projetado para resistir aos assaltos 
armados. O Palazzo Vecchio9 segue o mesmo padrão. Por trás de suas paredes, o governo da 
cidade pode sentir-se bem protegido contra a ira das multidões enfurecidas. A alta torre não 
simboliza apenas o orgulho cívico, mas tem um objetivo eminentemente prático. Ao dominar 
a cidade e os campos vizinhos, serve de posto de observação contra os inimigos internos e 
externos. 
Formas harmoniosas e equilibradas constituem uma constante na arquitetura florenti-
na. Uma sucessão rítmica de arcadas pode ser observada em vários edifícios na cidade e con-
ferem a eles um caráter de sóbria elegância. Arquitetos florentinos sabem contrabalançar o 
empobrecimento do gótico graças a um equilíbrio de formas, que já prenuncia o Renascimen-
 
9Palazzo Vecchio ou Palazzo della Signoria, sede do governo de Florença, ainda hoje, hospeda a Prefeitura. 
(NAJEMY, 2006, p. XIV). 
33 
 
to. Tem-se um exemplo claro dessa situação, ao analisar a estética da cúpula da Catedral de 
Florença. A sensação de equilíbrio e harmonia que ela transmite é fruto de proporções áureas 
que existem entre os elementos que a compõem. Tais elementos utilizados por Brunelleschi a 
tornam agradável de ser apreciada. 
Há pouco mais de duzentos anos, Florença elege seu primeiro prefeito. Pietro Leopol-
do de Lorena reforma, reorganiza a administração e cria o cargo de prefeito. Os prefeitos são 
mais importantes do que os ministros porque estão mais próximos da população. Conforme 
Cardini (2015), um plebiscito, ocorrido em l86l, depõe o último Grande Duque de Florença e 
a Toscana é anexada ao Reino da Itália recentemente formado. Em 1865, a capital da Itália 
deixa de ser Turim sendo transferida para Florença. Seis anos mais tarde, com a anexação da 
região do Lácio ao reino, Roma passa a ser a capital. 
 No século XIX, a população de Florença duplica, enquanto que, no século XX, chega a 
triplicar-se, devido ao crescimento do turismo, comércio e indústria. Na Segunda Guerra 
Mundial, a cidade é ocupada pelos alemães (1943-1944). A resistência à ocupação nazista, 
forte e generalizada, culmina com um levante da população em agosto de 1944. Durante a 
guerra, as pontes de Florença são destruídas, no entanto, a Ponte Vecchio é poupada por seu 
extraordinário valorhistórico e artístico. 
Em 1966, a paz de Florença é, outra vez, interrompida por uma trágica circunstância: 
uma inundação que ainda hoje é lembrada como uma das calamidades que mais afetaram a 
cidade. Na descrição de Listri (2014), o rio Arno invade significativa parte da cidade provo-
cando 34 mortes e danos incalculáveis ao patrimônio artístico. Diversos voluntários de dife-
rentes partes do mundo dirigem-se para Florença, tentando recuperar as obras de arte da cida-
de, em parte danificadas de forma irreversível. Um gesto de valentia de muitas pessoas – 
chamadas pelos florentinosde “Anjos de Barro” – numa demonstração de solidariedade inter-
nacional por essa extraordinária cidade italiana. 
A história política e religiosa de Florença é rica em tradições, suas festas populares 
atraem seus habitantes. Mas, o que representa a Florença de hoje? Cardini sugere: 
A Florença, de hoje, é um símbolo, um “logos”, uma grife. Florença fascina, 
Florença faz sonhar, Florença vende. De tudo: da moda às marcas de vinhos 
finos, da prataria ao couro trabalhado, das imagens cinematográficas à litera-
tura. Escrever sua história é, ao mesmo tempo, desesperador e muito fácil. 
Existem bibliotecas inteiras sobre fatos esplêndidos ou terríveis, sobre mo-
34 
 
numentos, obras de arte, sobre protagonistas destes dois mil anos vividos en-
tre o Arno e as colinas. [...] Entretanto, não são apenas rosas. O Arno está 
sempre menos prateado como nunca foi, e das sacadas das casas pendem ou-
tras coisas que não as glicínias em flor. A cidade viveu suas noites escuras, 
como aquela contada por Vasco Pratolini em Crônicas dos pobres aman-
tes.[...] a peste, a fome e a sórdida miséria de bairros desesperados, a fúria 
das águas imundas e enlouquecidas daquela noite de novembro de 196610. 
(CARDINI, 2015, p.5). 
 
Como pessoas, as cidades deixam impressas– em seu aspecto exterior, na sua estrutura 
urbana, na soma de características, ora substanciais, ora impalpáveis, que fazem sua atmosfera 
– os traços de seu passado: as glórias, contradições, sofrimentos e erros. Ainda hoje, Roma 
fala aos visitantes, até mesmo para aquele que não sabe a história, de seus antigos esplendo-
res, de sua desolação medieval, de belas basílicas, de sua exuberância nas artes renascentista e 
barroca, de sua retórica fascista feita de colunas e arcos neoclássicos. O mesmo se dá com 
Florença. 
Para quem visita Florença, a cidade revela, antes de tudo, a marca romana no traçado 
ortogonal das ruas centrais, nos nomes de algumas ruas (via do Campidoglio, via das Termas), 
além da estrutura característica dos edifícios localizados entre as praças Peruzzi e a de Santa 
Croce, que acompanham uma linha curvilínea porque foram construídos sobre a planta de um 
antigo anfiteatro romano. Entretanto, o visitante percebe imediatamente – pelas casas com 
torres de pedra, construções renascentistas, igrejas românicas – que o grande tempo da cidade, 
os seus séculos de ouro, são XIII a XVI. Uma época gloriosa, significativa, com a qual os 
florentinos continuam a sonhar mesmo depois de seu fim. Tanto é que, um turista mais atento 
não terá dificuldade em distinguir a quantidade de imitações e restaurações pesadas e arbitrá-
rias. 
À primeira vista, Florença apresenta construções barrocas: um exame mais preciso re-
velará o contrário, existe um barroco refinado e precioso, porém discreto. Atualmente, é uma 
cidade rica em atividades industriais, artesanais, comerciais e culturais, com uma vida artística 
e científica através de suas escolas de arte, universidades. Dos seis séculos de esplendor artís-
tico e cultural, destacam-se os gênios da arte como Michelangelo, Giotto, Botticelli e Brunel-
 
10 O rio Arno sempre ameaçou Florença. Em 1333, a Ponte Vecchio foi destruída pela enchente. Mas a maior 
tragédia foi a grande inundação de 4 de novembro de 1966. É considerada a maior catástrofe da cidade. O tempo 
dos florentinos passou a ser contado como “antes” e “depois” do desastre. A cidade ficou sob as águas barrentas 
que danificaram várias obras de arte, algumas definitivamente perdidas. (MACHADO, 2004, p. 129). 
 
35 
 
leschi, imortalizados em obras presentes na Catedral Santa Maria del Fiore, na Igreja de Santa 
Croce, nas galerias Academia e Uffizi e no palácio Pitti. 
Em razão de sua posição central, comunica-se com a maioria das linhas ferroviárias 
nacionais. Sua população se aproxima de 380.000 habitantes e na região metropolitana con-
tam-se 1.000.000 habitantes. 
A Galleria degli Uffizi está entre os grandes museus do mundo, abrigando obras de 
Leonardo da Vinci, Rafael e Boticelli, entre outros. Outras galerias são dignas de citação: 
Academia, Galerias do Palazzo Pitti. A ponte velha, il Ponte Vecchio, símbolo maior de Flo-
rença por ser sua origem, abriga hoje joalherias que atraem a atenção dos passantes. Outras 
referências arquitetônicas da cidade envolvem o Palazzo dela Signoria, a Basílica de Santa 
Croce, a Igreja de San Miniato al Monte que, em 2018, completa 1000 anos. Todos esses mo-
numentos explicitam uma riqueza de arte e arquitetura. 
Aquele que chega a Florença, por via férrea, e desce na estação Santa Maria Novella, 
estará no centro da cidade. Da praça da estação, entra-se na via Panzani, a seguir, via Ceretani 
e, percorrendo três quadras, vislumbrará a majestosa Catedral Santa Maria del Fiore. É impo-
nente sob todos os ângulos. Deixar-se perder no centro de Florença, por entre ruelas, arcos e 
arcadas é um encanto. Contudo, é fácil de se encontrar: basta olhar para cima e procurar a 
Cúpula da Catedral. Muitas ruas do centro histórico convergem para a Praça San Giovanni 
onde ela está posta. Um destaque especial será dado à cúpula dessa catedral, cujos desafios de 
sua construção demarcam o objeto dessa dissertação. 
A Catedral, cuja construção foi iniciada em 1296, estendendo-se ao longo dos anos 
trezentos e meados do século XV, torna-se o centro religioso de Florença e uma marca do 
poder e riqueza da igreja. 
 
 
 
 
 
 
36 
 
1.3 – SANTA MARIA DEL FIORE - A CATEDRAL: 
 HISTÓRIA E CONSTRUÇÃO 
 
Conforme relato de Francesco Gurrieri (1994), em sua obra La Catedrale di Santa 
Maria del Fiore,a Firenze, a atual Praça de San Giovanni, no centro de Florença, era ocupada, 
desde os tempos bárbaros, por um assentamento ligado ao culto cristão. Essa região, desde o 
início da Idade Média, representa o mais importante centro religioso florentino. Além do Ba-
tistério San Giovani, ocupam o espaço, naquela época, um hospital, um cemitério e a igreja de 
Santa Reparata. Escavações evidenciam que, em seus oito séculos de história, ela sofre várias 
reformas. No século XIII, é substituída pela Catedral de Santa Maria del Fiore. 
 
Figura 3 – Detalhe da Catedral Santa Maria del Fiore 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Fotografia de Orozimbo Marinho de Almeida (2012) 
No coração do centro histórico de Florença, ergue-se a Catedral de Santa Maria del Fiore. 
Ao seu lado destaca-se o campanile de Giotto, cuja construção teve início em 1334. 
 
37 
 
Na última década do século XIII, o arquiteto Arnolfo di Cambio11 é chamado a Flo-
rença para projetar a catedral que substituirá a igreja de Santa Reparata, então existente no 
local. Em grande solenidade, é nomeado chefe da construção da Catedral. Assim a descreve 
Gurrieri: 
É uma obra da arte gótica do início da renascença italiana,considerada de 
fundamental importância para a História da Arquitetura, é um registro da ri-
queza e poder da capital da Toscana nos séculos XIII e XIV. Seu nome pa-
rece referir-se ao lilium, (lírio), símbolo de Florença, mas, documento do sé-
culo XV, por outro lado, informa que fiore significa “flor”, no caso, refere-
se, metaforicamente, ao fruto de Maria, ou seja, Jesus. (GURRIERI, 1994, 
p.148). 
Diz-se também que seu nome Fiore, é tirado de Florença – flor. Durante o período da 
república Florentina, em 1293, o tabelião Ser Mino de Cantoribus sugere a substituição, no 
mesmo local, da velha catedral de Santa Reparata (que só será destruída completamente em 
1375) por uma catedral maior e mais suntuosa de modo que, conforme suas palavras “a indús-
tria e o poder do homem não pudessem inventar, ou mesmo tentar nada maior e mais belo” 
(GURRIERI, 1994 p. 148), e que estava preparado para financiar a construção. Esperava-se 
que a população contribuísse e todos os testamentos incluíssem uma cláusulade doação para 
as obras. Em setembro de 1296, é lançada a pedra fundamental na presença de autoridades, 
entre elas, o Cardeal Pietro Valeriani, enviado especial do papa Bonifácio VIII. “Nos primei-
ros anos da construção os trabalhos aconteceram com grande entusiasmo e satisfação”. 
(GURRIERI, 1994, p.150). 
Arnolfo projeta um templo imenso e magnífico destinado a ser o maior e mais belo da 
Toscana. É composto de duas partes distintas e perfeitas, harmonicamente conjugadas, três 
naves, sendo a central mais larga do que as laterais, com altas pilastras, iluminadas por gran-
des janelas e ogivas12. Um amplo octógono abraça as naves13 em sua extremidade final no 
ponto mais alto da construção. É destinado a receber uma cúpula que será encimada por uma 
 
11 Arnolfo di Cambio – (1232 ou 1245-1302). Considerado o melhor arquiteto do período gótico, nasceu em 
Colle di Val d‟Elsa, fixando-se em Florença em 1296. Dirigiu os primeiros trabalhos da Catedral de Santa Maria 
del Fiore e projetou o Palazzo Vecchio (MACHADO, 2004, p. 145). 
12 Ogiva é o perfil formado por dois arcos de círculo que se cruzam de acordo com certo ângulo (ÁVILA,1996, 
p. 67). 
13 Nave e a parte interna da igreja desde a entrada até a capela-mor. Denomina-se nave central quando esse 
espaço é subdividido por pilastras, colunas ou arcos (ÁVILA, 1996, p.65). 
38 
 
lanterna14. Parece audaz a ideia de se colocar uma cúpula octogonal imensa cobrindo as ex-
tremidades das três naves, concepção que Arnolfo talvez tenha trazido da catedral de Siena, 
anteriormente construída. 
A catedral deveria ter a mesma estrutura do batistério localizado a sua frente. Como 
ele, seria coberta de mármore da Toscana em cores branca, vermelha e verde, e sua cúpula 
deveria ser octogonal e projetada para receber 30000 fieis. Arnolfo, porém, morre na primeira 
década do século XIV, sendo sepultado na igreja de Santa Reparata. Seu ambicioso projeto 
apenas havia começado. Em 1300, é criado um órgão gestor para supervisionar as obras. 
Os trinta anos, que se seguiram, após a morte de Arnolfo, coincidem com um tempo de 
instabilidade e crises políticas. As lutas entre os Bianchi e Neri, facções que lutavam pela he-
gemonia política e econômica, na região no final do século XIII seguidas pelas trapaças com 
Carlo di Valois, Arigo VII, Castruccio Castracani, acabam por tirar do foco a construção do 
monumento e a gestão de seus recursos. Por este motivo, em 1310, o papa Clemente V, de 
Avignon, promete indulgências em troca de um sustento monetário para a continuação dos 
trabalhos. No ano seguinte, o arcebispo da cidade impõe ao clero o pagamento de taxas para 
ajudar o projeto. Em 1321, estabelece-se, em decreto público, a exigência imposta às Corpo-
rações de Ofícios que reservem uma parte de suas arrecadações para a obra. Em 1331, para 
que as atividades da construção se normalizem, os trabalhos da maior igreja de Florença re-
começam depois de suspensos por um longo período. 
São tomadas iniciativas para angariar fundos e agilizar a gestão financeira, quais se-
jam, colocar a obra da Catedral sob a responsabilidade e proteção direta da Arte da Lã (sem 
dúvida, a de maior prestígio e mais rica entre as corporações florentinas) e criar um imposto 
para as lojas dos artesãos. Quanto à obra, em um primeiro momento, os esforços concentram-
se em duas direções: de um lado a construção do campanário para substituir a antiga torre de 
Santa Reparata, do outro, reconstruir a praça para receber a catedral. “Nesse trabalho, em 
1393, torna-se necessário rebaixar o terreno e aumentar a área da praça. Com a permissão dos 
proprietários, algumas casas são demolidas e o cemitério é transferido para outra área da cida-
de”. (GURRIERI, 1994, p. 153). 
 
14 Lanterna é um elemento decorativo com uma dupla função de permitir a entrada da luz a assegurar boa 
ventilação (KING, 2017, p. 141). Conforme Corona (1989, p. 296), é um corpo cilíndrico ou prismático, mais 
alto que largo, com aberturas de iluminação sobre a cúpula. 
 
39 
 
Um período difícil, na história de Florença, se aproxima marcando outra interrupção 
da construção. Experiências negativas do governo, guerras, escassez de fundos, inundações, a 
terrível peste em 1348 acompanham a vida de Florença até a década de 1350. Com lenta recu-
peração, atenções se voltam para a construção do campanário15. A catedral entra em foco ape-
nas em 1353quando se discute o projeto para suas capelas laterais e as tribunas16 do octógono 
que sustentarão a cúpula, um passo definitivo para o término da construção. O grande arquite-
to e escultor Jacopo Talenti (1300-1362), projetista da catedral de Orvieto, apresenta um pro-
jeto para a continuidade da construção, a propósito do qual, o supervisor da fábrica anota em 
seu diário: “muito caro”. Elege-se um conselho para estudar e discutir o projeto que será acei-
to e Talenti passa a ser o substituto natural de Arnofo de Cambio. Assim, começam pequenas 
alterações no projeto original. 
Depois do primeiro período de interrupção forçada, a Corporação de Ofício da Lã re-
solve dar novo vigor à atividade do canteiro de obras e decide contratar Giotto17 que, em 12 
de abril de 1334, é nomeado chefe dos trabalhos. De idade avançada, renomado por seus a-
frescos, encarrega-se de terminar a construção do campanário porque queria deixar em Flo-
rença uma obra de arquitetura. Seu falecimento em 24 de abril de 1337 impede a continuidade 
da obra. Andrea Pisano, (1290-1348/9) escultor e membro das Artes dos Ourives de Pisa, au-
tor da primeira porta do batistério de Florença, o sucede mantendo-se no cargo de chefia de 
1337 a 1343, quando se afasta de Florença após a queda do Duque de Atenas, de quem era 
arquiteto oficial. Em 29 de março de 1359, festeja-se a conclusão do campanário. Sua base 
quadrada de 13,30m de lado, estreita-se um pouco mais acima para 12,40m; a espessura de 
suas paredes é 3,60 m e possui 84,70 m de altura. 
Na descrição de Gurrieri (1994) a forma longitudinal da catedral, típica das basílicas 
paleocristãs, é formada por quatro partes com cerca de 19,5 m cada uma. A nave central é 
quadrada e as laterais são retangulares de dimensões 9,5 m x 19,5 m. A definição do módulo 
estrutural é evidenciada pelo emprego de materiais distintos. As pilastras18 são de pedra forte. 
 
15 Campanário é a torre onde se encontram os sinos, formando parte da construção ou separado dela (CORONA, 
1989, p. 101). 
16 Tribuna é o lugar reservado e elevado, com abertura em janelas e varandas para assistir às cerimônias 
religiosas (ÁVILA, 1996, p. 90). 
17Giotto di Bordone (1267-1337), pintor e arquiteto, mais conhecido na história da arte pela utilização da 
perspectiva na pintura renascentista. Estabeleceu o elo entre a pintura medieval, bizantina e o renascimento. 
Conforme Vasari, era atribuído a ele o papel de grande renovador da pintura (VASARI, 2011, p.91). 
18 Pilastras são colunas ou pilares integrados às paredes, apresentando-se ligeiramente salientes (ÁVILA, 1996, 
p.73) 
40 
 
Representa um novo conceito de arquitetura gótica – como mudança de estrutura das paredes, 
de forma contínua para plataforma. O projeto arquitetônico de Arnolfo de Cambio é uma das 
maiores sínteses dos novos conceitos construtivos medievais. Nele, estão presentes a exatidão 
matemática, a maturidade, a essencialidade construtiva. Medindo 153m de comprimento, 38m 
de largura na parte frontal, sendo a largura na abside19 90m. Sua altura, sem a cúpula, chega a 
86,7m. Ocupa a quarta posição entre as grandes catedrais até hoje construídas; são maiores 
que ela: São Pedro, em Roma, São Paulo, em Londres e a catedral de Milão. 
A figura 4, mostrada a seguir, ilustra as plantas-baixas sobrepostas do projeto inicial 
da Catedral de Santa

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