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ACUPONTOS: TÉCNICAS ESPECIAIS UNIDADE I BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I Elaboração Andrea Barretto Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração SUMÁRIO UNIDADE I BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I ..........................................................5 CAPÍTULO 1 A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA E OS MERIDIANOS PRINCIPAIS E COLATERAIS ..................................... 5 CAPÍTULO 2 OS FATORES PATOGÊNICOS EXTERNOS (FPE), PATOLOGIA INTERNA E EXTERNA ........................................... 13 CAPÍTULO 3 INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES E OS EFEITOS DA ACUPUNTURA NO SISTEMA NERVOS CENTRAL (SNC) ......................................................................................................................................................... 24 CAPÍTULO 4 OS ZANG-FU (ÓRGÃOS E VÍSCERAS) E OS CINCO ELEMENTOS ............................................................................... 27 CAPÍTULO 5 SELEÇÃO DE PONTOS DE ACUPUNTURA, ZONA ALVO, PONTOS DISTAIS E ADJACENTES ......................... 31 REFERÊNCIAS ...............................................................................................................................................34 4 5 UNIDADE I BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I CAPÍTULO 1 A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA E OS MERIDIANOS PRINCIPAIS E COLATERAIS 1.1. A medicina tradicional chinesa A medicina tradicional chinesa (MTC) e a acupuntura estão enraizadas na China antiga e são mencionadas de forma rudimentar na escrita do “Imperador Amarelo clássico de medicina interna” (Huang Di Nei Jing), datado de 500 a.C. A MTC é uma medicina energética, ou seja, toma como base a existência de uma estrutura energética para além do corpo físico e afirma que, no organismo, a energia circula por canais (meridianos) com pontos específicos, que, ao serem punturados, equilibram a circulação energética, desbloqueando tais canais (WEN, 1985; YAMAMURA, 2001). A concepção da filosofia chinesa a respeito do universo, do homem e da natureza está apoiada em três pilares básicos que são eles os cinco elementos (movimentos), a teoria do Yin/Yang e os Zang-Fu (órgãos e vísceras). Assim, a doença é sempre um desequilíbrio da energia funcional que controla e dinamiza os órgãos (YAMAMURA, 2001). A MTC é composta de diversas formas de tratamento, que incluem acupuntura, fitoterapia chinesa, moxabustão, ventosaterapia, GuaSha, auriculoterapia, dietoterapia, Tui Na e exercícios físicos e meditações, tais como o Tai Chi Chuan, Qi Gong, entre outras formas de terapêutica. 1.2. A acupuntura A acupuntura é um método de tratamento de certos transtornos através da inserção de agulhas em várias partes do corpo. Foi desenvolvida na China, onde 6 UNIDADE I | BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I adquiriu uma base teórica elaborada. Recentemente, foi adotada por vários profissionais de saúde ocidentais, muitos dos quais a reinterpretaram em termos de anatomia, fisiologia e patologia modernas. A acupuntura é conhecida no Ocidente há cerca de 300 anos. Embora inicialmente saudada com perplexidade, atraiu a atenção de alguns médicos ocidentais e, particularmente no século XIX, foi usada bastante extensivamente. A principal diferença hoje é que o interesse na acupuntura é parte de um maior entusiasmo pela medicina complementar e alternativa, e isso levou um grande número de profissionais da saúde (médicos, fisioterapeutas, osteopatas, quiropratas, podólogos) a desejar aprender a acupuntura para ajudar seus pacientes (CAMPBELL, 2001). A acupuntura e a moxabustão são procedimentos de componentes importantes no chinês tradicional, que previnem e tratam a doença perfurando certos pontos do corpo com agulhas ou aplicando calor com lã de moxa. De marcante eficácia e exigência nos estudos, principalmente, nos clássicos, mas equipamentos simples, eles são muito populares na China e em outros países (CAMPBELL, 2001). A palavra “acupuntura” é uma junção dos termos agulha (“acu”) e furar (“puntura”) em latim. A acupuntura é uma parte importante do grande tesouro da medicina chinesa. Praticamente não tem efeitos colaterais, podendo ser utilizada isoladamente ou em conjunto, principalmente com a moxabustão, ativando as funções de cura do próprio organismo, auxiliando os tratamentos convencionais. É reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e utilizada em todo o mundo. A acupuntura é uma técnica eficiente e com poucas contraindicações, que pode ser utilizada em quase todas as pessoas e idades, pois apresenta caráter preventivo, porém, exige alguns cuidados e precauções (CAMPBELL, 2001). Atualmente, as agulhas de acupuntura são de aço inoxidável, mas antigamente eram feitas de lasca de pedra, osso, bambu, cerâmica, metálicas (cobre, ouro, ferro, prata, aço inoxidável) e até de espinhos. A agulha tem como composição um corpo, um cabo e uma ponta (Fig. 1). Surgiram as nove agulhas, com a evolução da acupuntura, levando a eficácia terapêutica, assim como, também, ampliando suas indicações. Dentre as nove agulhas, 7 BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I | UNIDADE I as agulhas “Hao” (filiformes) são as mais vendidas e mais usadas atualmente; não enferrujam e têm boa elasticidade, o que ajuda na conservação e esterilização (CAMPBELL, 2001). Figura 1. Agulha de Acupuntura. Ponta Corpo Raiz Cabo Extremo do Cabo Fonte: CAMPBELL, 2001. 1.3. A história da acupuntura Aprender a acupuntura em sua forma tradicional é um processo demorado, o que muitas vezes demanda de centenas de horas de treinamento. No entanto, alguns ficam desencorajados por dois preconceitos. Um deles é que estudar o sistema tradicional é difícil e demorado, e o outro é que tratar os pacientes dessa maneira consome tempo (a maioria dos praticantes ocidentais da acupuntura tradicional deixa as agulhas no lugar por 20 minutos ou mais). O essencial da acupuntura moderna, em contraste com a tradicional, é que pode ser apreendida em muito menos tempo. Na verdade, adquirir habilidades básicas de acupuntura é fácil (CAMPBELL, 2001). Segundo Wen (1985), os documentos históricos baseados nos clássicos, por exemplo, o Imperador Amarelo, revelam que, durante dinastias (1122- 221 a.C.), houve a formulação do princípio da teoria dos cinco elementos e dos meridianos, como o número e o nome dos pontos dos meridianos, a unidade-padrão de medida da superfície do corpo, a descrição minuciosa dos meridianos, e a formulação do Yin/Yang como síndromes energéticas e tratamento das doenças, métodos de tonificação e dispersão, entre outros, tal como a evolução das agulhas de acupuntura. Dia 23 de março é o dia do acupunturista. Dia 24 de outubro é o dia internacional da acupuntura. 8 UNIDADE I | BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I 1.4. Os meridianos principais e colaterais Segundo Campbell (2001), um total de 59 canais de acupuntura é descrito; destes, apenas 14 possuem pontos de acupuntura. Destes 14, 12 estão emparelhados e 2 são da linha média, portanto, não emparelhados (Tab. 1). Assim, são 14 meridianos principais, sendo seis Yin e seis Yang, mais o Du Mai (vaso governador) e o Ren Mai (vaso da concepção). Os meridianos Yin são internos e encontram-se mais na região central; os meridianos Yang são externos e encontram-se mais na região dorsal e na cabeça, onde não existem meridianos Yin. Os sentidos dos meridianos são ascendente, dos pés para a cabeça; e descendente, da cabeça para os pés. Os canais de energia ou meridianos constituem meio de ligação entre o exterior e o interior, transmitindo diversas formas de energia entre eles. Assim, os canais de energia Yin veiculam o calor orgânico ou Yang Qi, enquanto os canais de energia Yang veiculam a água orgânica ou Yin orgânico (YAMAMURA,2001). Quadro 1. Canais de acupuntura. Emparelhado Pulmão (P). Intestino grosso (IG). Estômago (E). Baço (BP). Coração (C). Intestino delgado (ID). Bexiga (B). Rim (R). Pericárdio (Pe). Triplo aquecedor (TA). Fígado (F). Vesícula biliar (VB). Não emparelhado Vaso governador (Du Mai, GV). Vaso da concepção (Ren Mai, VC). Fonte: CAMPBELL, 2001. 1.5. Os pontos de acupuntura A MTC possui mais de 500 pontos de acupuntura mapeados no corpo humano. Esses pontos podem ser classificados de diversas formas: localizados nos meridianos; nos meridianos extraordinários (fora dos meridianos); nos pontos extras; e pontos dos microssistemas (aurículopuntura e craniopuntura). Os pontos de acupuntura estão presentes em locais de encontro de inúmeras 9 BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I | UNIDADE I terminações nervosas, tendões, fibras musculares, articulações e ligamentos. Existem: pontos de efeito sistêmico; pontos de efeito local; pontos de efeito à distância; pontos Ashi (doridos); e pontos de comando. Estes últimos são grupos de pontos que têm funções específicas dentro de cada meridiano (YAMAMURA, 2001), sendo eles: a. Pontos de tonificação: têm como principal função a aplicação clínica de tonificar o meridiano; a agulha é colocada em direção ao fluxo do meridiano. b. Pontos de sedação: têm como principal função a aplicação clínica de sedar o meridiano; a agulha é colocada contra a direção do fluxo do meridiano. c. Pontos de alarme (MU): localizados no abdômen e no tórax ao longo de vários meridianos; são de natureza Yin; a maior parte se localiza no meridiano do vaso da concepção. Apresentam-se sensíveis a acupressão, quando em desequilíbrio. A principal aplicação clínica dá-se no tratamento de doenças de natureza Yin (frio, depressão, fraqueza) e nas doenças dos órgãos (Zang). Têm caráter de tonificar o meridiano. d. Pontos de assentimento (Shu): possuem todos os pontos no meridiano da bexiga. Localizados no dorso paravertebral do meridiano da Bexiga; são de natureza Yang. Utilizados para tratar doenças de natureza Yang, de origem e energias perversas, que afetaram diretamente os órgãos e as vísceras (Zang-Fu). e. Pontos de conexão (Luo): são pontos de passagem. Cada um dos 12 meridianos principais, Du Mai, Ren Mai e o Grande Luo do baço/pâncreas têm um ponto de conexão. Destes pontos, saem vasos, que, por sua vez, ligam os meridianos acoplados entre si. f. Pontos fonte (Yuan): estes pontos distribuem Qi (energia) ao longo dos meridianos. Promovem a ativação das atividades fisiológicas dos Zang-Fu. A principal aplicação clínica é tratar doenças dos órgãos internos (Yin). No meridiano Yin, este ponto coincide com o 3º dos cinco pontos Shu antigos. g. Pontos de confluência: desenvolvem o seu efeito em relação aos oito vasos extraordinários. h. Pontos fenda (Xi): todos estão localizados entre os dedos das mãos e dos pés, entre os cotovelos e os joelhos (exceção de E34); são os locais de concentração e acúmulo de Qi dos canais; são utilizados em padrões 10 UNIDADE I | BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I agudos, principalmente quando há dor ao longo do canal; geralmente utilizados em sedação (padrões de excesso). i. Pontos de encontro (Hui): são pontos que apresentam influência especial sobre determinados tecidos, sangue, órgãos ou Qi; são pontos onde o Qi dessas estruturas se reúne. j. Pontos mar (He) inferiores: são pontos que tonificam as vísceras (Yang), tonificando o canal energético. Todos os pontos têm nomes chineses que geralmente parecem poéticos na tradução (“mar de sangue”, “porta de entrada”, “primavera torta”), mas os livros de acupuntura ocidentais usam um sistema de numeração mais prosaico, mais ou menos padronizado (CAMPBELL, 2001). 1.6. Orientações gerais e técnica de aplicação da acupuntura São recomendadas agulhas em aço, esterilizadas e descartáveis, com variação de diâmetro e comprimento, acompanhada, por vezes, de mandril (opcional no auxílio da aplicação). É necessário que a posição do paciente seja a mais confortável e relaxada possível. Inicialmente, pode ser em decúbito dorsal ou ventral, a depender do tratamento. O ângulo de inserção depende da topografia do ponto pretendido e da estrutura a ser tratada como perpendicular (90º em áreas maiores e musculares), oblíqua (30-50º em regiões menos musculosas e tórax) ou transversal ou subcutânea (5-15º na cabeça ou face). A profundidade depende da localização anatômica do ponto e da localização da estrutura que se pretende estimular. A compleição física e o perfil da disfunção também são relevantes. Na sensação de Qi, pode ocorrer um peso nos membros, pressão, formigamento, dor surda, choque, mãos e pés frios, calor ou até coceira (CAMPBELL, 2001). 1.7. Unidades de medida em acupuntura Em acupuntura, o corpo não é medido em unidades absolutas, mas em unidades proporcionais e relativas de cada paciente. As distâncias são determinadas por referências anatômico-topográficas. A unidade básica de medida na acupuntura 11 BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I | UNIDADE I chinesa é o tsun ou cun. Estas medidas são obtidas a partir das medidas do corpo e dos dedos da mão do paciente (figuras 2 e 3). Figura 2. Medidas com os dedos em acupuntura chinesa. A – Medida de 1 cun B – Medida de 2 cun C – Medida de 1 cun D – Medida de 1,5 cun E – Medida de 2 cun F – Medida de 3 cun Fonte: Focks, 2008. Figura 3. Medidas corporais em acupuntura chinesa. Testa 9 cun Frontal 3 cun Crânio 12 cun Nuca 9 cun Peito 8 cun Abdômen 8 cun Pelve 5 cun Braço 9 cun Antebraço 12 cun Toda coxa 19 cun Fêmur 18 cun Toda perna 16 cun Fíbula 13 cun Fonte: Xinnong, 1987. 12 UNIDADE I | BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece os benefícios da medicina tradicional chinesa e da acupuntura, pois considera seus tratamentos eficazes para vários tipos de patologias, baseada em uma fisiologia de medicina complementar e alternativa. Além de reconhecê-las, também incentiva-as como prevenção e prática de saúde. E, de acordo com OMS, a utilização da acupuntura e da moxabustão está implementada e aprovada em 103 países e, em alguns destes, tem cobertura de planos de saúde. “Reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a acupuntura contribuiu para o alívio da dor em 82% dos casos de dores de costas e apresenta uma eficácia de 72% nos casos de dor lombar e melhorias em 65% dos casos de artrite” (N. N., 2018) “A acupuntura é referida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como tratamento eficaz para cerca de 40 tipos de patologias, entre elas a asma” (DOMINGUES, 2018, p.10). 13 CAPÍTULO 2 OS FATORES PATOGÊNICOS EXTERNOS (FPE), PATOLOGIA INTERNA E EXTERNA 2.1. Fatores patogênicos externos (FPE) Em MTC, considera-se que o clima é a mais importante fonte externa que origina os fatores de doença (figura 4). O clima é composto por seis fenômenos, que são: frio, vento, calor, umidade, calor de verão ou canícula e secura. De acordo do Ross (1994), as oscilações destes fatores climáticos dentro de limites moderados são adequadas dentro de uma vida saudável. Esses fatores de doença estão relacionados com a origem da desarmonia do corpo (Yin/Yang). Figura 4. Fatores de doença. Causa única Efeitos internos Sintomas Fatores de doenças Mudanças internas Sintomas Ocidental Chinesa Fonte: Ross, 1994. 2.2. Os seis excessos (Liu Yin) ou seis energias climáticas (Liu Qi) 2.2.1. Vento (Feng) O vento domina a primavera, e está relacionado com a madeira e o fígado. É uma energia patogênica de natureza Yang; está constantemente em movimento, ataca geralmente a parte superior e superficial do corpo; é rápido quando ascende; tem propriedades de abrir e dispersar; tem tendência ao movimento e à mudança;produz sintomas erráticos e as suas doenças transformam-se sem parar; os seus efeitos são às vezes rápidos e brutais (síncopes, comas, AVC) (MARIÉ, 2007; ROSS, 1994). O vento é a origem de numerosas doenças; é o fator de penetração de outros fatores patogênicos que, sem ele, não teriam meio de penetrar e de invadir o organismo; por esta razão, o frio, o calor, ou a umidade, por exemplo, se combinam com o vento, o 14 UNIDADE I | BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I que faz com que este seja o agente mais frequentemente encontrado nas patologias (MARIÉ, 2007). Por isso, a MTC reconhece as combinações de fatores de doença como vento-frio, vento-calor, vento-umidade, vento-secura e vento-mucosidade (ROSS, 1994). O vento provoca agitação, afetando as estruturas e as funções do corpo, e suas manifestações podem apresentar um conjunto de sintomas como vertigens, movimentos incontrolados, espasmos, rigidez da cabeça, tonturas, tremores e convulsões (ROSS, 1994). Vento externo: este tipo de vento ocorre devido a mudança repentina do clima, penetrando pela pele e vias respiratórias, atacando a Wei Qi (energia defensiva) e a Zong Qi (energia torácica), diminuindo-as. As patologias são de início súbito, gerando sintomas de febre (rápida e brutal, especialmente ao fim do dia) e sudorese (com cheiro a palha podre), temor ao vento, dor de cabeça, obstrução nasal, dor de garganta, pulso superficial e língua com revestimento fino (MARIÉ, 2007; ROSS, 1994). Quadro 2. Comparação dos sintomas de vento externo e vento Interno. Vento externo Sintomas comuns Vento interno Temor ao vento. Frequentemente começo repentino. Vertigens. Obstrução nasal. Sintomas migratórios. Adormecimento dos membros. Garganta irritada. Sintomas podem mudar de lugar. Tremores, convulsões. Pulso superficial. Parte superior do corpo afetada. Frequentemente pulso tenso (resistente). Fonte: ROSS, 1994. Vento interno: é leve e possui características Yang, porém com origem e manifestações clínicas diferentes; é produzido pelos próprios órgãos (principalmente o fígado), provém de um vazio de Yin ou do Yang ou de calor extremo, inclusive de um “vazio de sangue”, até de Yang do fígado hiperativo, uma vez que está relacionado com as desarmonias do próprio fígado (Gan), criando irritabilidade e vento com movimento irregular, oposto ao fluxo suave e uniforme de Qi do fígado. Todo esse vento perturba a circulação de Qi e Xue, manifestando tiques, espasmos, tremores, convulsões, perda da consciência ou vertigens. Tem como sintomas febre altas, AVC, tremores faciais, paralisias, perdas de conhecimento (MARIÉ, 2007; ROSS, 1994). 15 BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I | UNIDADE I 2.2.2. Frio (Han) O frio domina o inverno e está relacionado com a água e com os rins (controla a produção de medula). O frio é uma energia patogênica de natureza Yin e tem tendência a diminuir ou danificar o Yang. Quando o Yang está danificado, já não assegura as suas funções de aquecimento, evaporação dos fluidos (edema) e transformação do Qi. Isso pode levar à falência dos órgãos, pois aumenta o Yin da água e o coração baixa a sua funcionalidade (MARIÉ, 2007; ROSS, 1994). O frio concentra e bloqueia, produzindo oclusões. Ao danificar o Yang, o frio inibe a circulação do Qi e do sangue, que perdem assim a sua fluidez e estagnam, produzindo dores agudas, que são aliviadas com aquecimento. O frio contrai, pode ocasionar retrações musculares, contraturas, parestesias e paralisias. A nível da pele, a contração dos poros inibe a transpiração. Baço e coração são afetados (MARIÉ, 2007; ROSS, 1994). Frio externo: o frio externo ocorre após transpiração com uso de roupas insuficientes, exposição ao tempo frio, contato prolongado com água fria, com consumo excessivo de alimentos e bebidas, e permanecimento em superfícies frias (ROSS, 1994). Segundo Marié (2007), há dois tipos de patologias associadas ao frio externo: » Ataque de frio: quando alcança a superfície do corpo, induzindo a reação da energia defensiva, que bloqueia a pele e os músculos (síndrome gripal, por exemplo); observa-se geralmente febre sem transpiração, dores musculares, pulso superficial e acelerado, temor ao frio que pouco melhora quando o indivíduo se cobre ou se aproxima de uma fonte de calor, porque, neste caso, o frio é excessivo e deve ser dispersado (mediante a transpiração) e não aquecendo. » Penetração direta do frio: quando o frio externo penetra diretamente até as camadas profundas do organismo, danificando o Yang dos órgãos, principalmente, dos rins – por ser a fonte de todo o Yang no corpo (Shen Yang), com manifestações de poliúria e agravamento – e baço – pela exposição da área abdominal, levando a transtornos digestivos (dores epigástricas e abdominais, sensação de frio no ventre, diminuição do apetite, vômitos e diarreias). 16 UNIDADE I | BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I Quadro 3. Comparação dos sintomas de frio externo e frio interno. Frio externo Sintomas comuns Frio interno Calafrios e febre aguda. Sente frio, temor ao frio. Nenhuma febre crônica. Pulso superficial, duro. Pulso duro. Pulso profundo duro. Revestimento na língua fino branco. Revestimento branco na língua. Revestimento grosso branco na língua. Fonte: Ross, 1994. Frio interno: este é um frio vazio, devido à insuficiência de Yang, que afeta principalmente o coração, o baço e os rins (um fator que leva à insuficiência do rim é o excesso de trabalho intelectual), e que produz os seguintes sintomas: arrefecimento dos membros, vômitos e diarreias líquidas, urina clara e abundante, língua pálida com saburra, pulso lento e profundo, temor ao frio, com melhoras quando o paciente se cobre ou se aproxima de uma fonte de calor (ao contrário do frio externo). Nesse caso, o frio deve-se a uma insuficiência do Yang e o indivíduo deve aquecer-se (MARIÉ, 2007). 2.2.3. Canícula (Shu) ou calor de verão A canícula domina o verão e está relacionada com o fogo e o coração. A canícula é uma energia patogênica de natureza Yang e define-se como um calor ardente que gera altas febres com transpiração excessiva, agitação, ansiedade, sede, pele vermelha e pulso amplo e vasto. Em casos mais graves, há perda da consciência e delírio repentino. A canícula é ascendente, dispersiva e expansiva, esgota o Qi e o Yin e prejudica os líquidos orgânicos, além de agitar o espírito (Shen). Em consequência, a transpiração abundante reduz os líquidos orgânicos, aumentando a viscosidade do sangue, e o Qi é arrastado com eles, o que provoca tonturas, astenia grave e inclusive perda de consciência. A canícula combina-se frequentemente com a umidade, provocando náuseas, diarreias ou fezes macias, opressão no peito, oligúria e sensação de corpo pesado (MARIÉ, 2007; ROSS, 1994). A canícula é uma energia patogênica puramente externa. Não existe canícula interna. Por outro lado, para que uma doença, devido a um calor de origem externa, seja considerada uma afeção de canícula, é necessária que ocorra no verão e que o calor seja extremo. Nos outros casos, fala-se de efemeridades de calor. O calor da canícula revela-se um verdadeiro fator patogênico para os grupos de risco (crianças e idosos) (MARIÉ, 2007). “Antes do solstício de verão, é um calor Patogênico; depois do solstício de verão é uma canícula patogênica” (WANG, 2013, p. 177.). 17 BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I | UNIDADE I 2.2.4. Umidade (Shi) A umidade domina a 5ª estação (prolongamento do verão) e está relacionada com a terra e o baço (que gosta da secura). É uma energia patogênica de natureza Yin, que é obstáculo ao movimento do Qi e prejudica o Yang. A umidade encontra-se relacionada com a água e com os líquidos orgânicos (Jin Ye), que são de natureza Yin. Tem tendência a acumular-se nos órgãos, nos meridianos e nos tecidos,o que diminui a velocidade de circulação do Qi e perturba as funções de subida e descida; isto produz sintomas como distensão abdominal, fezes macias, diminuição do apetite e oligúria. Como o baço – que geralmente tem demasiado Yin e insuficiente Yang – gosta muito da secura e teme a umidade, é o órgão mais facilmente afetado por esta efemeridade. As suas funções de transporte e transformação são então facilmente perturbadas (MARIÉ, 2007; ROSS, 1994). A umidade é de natureza pesada e densa, o que origina sensação de corpo e mente pesada e manifestações de densidade (urinas densas, fezes pastosas, erupções que supuram, língua com saburra gorda). É de natureza pegajosa (colante) e tende a estagnar-se. As doenças provocadas pela umidade são crônicas, recorrentes e tenazes e evoluem lentamente, mas são resistentes ao tratamento. Além disso, o caráter “colante” manifesta-se através de certos sintomas (aspectos das mucosidades e secreções). A umidade tem tendência a descer, o que faz com que as suas patologias afetem frequentemente a parte inferior do corpo e evoluam nessa direção (edema dos membros inferiores, duros e dolorosos, leucorreias com odor fétido, transtornos gastrointestinais, acompanhados de cansaço geral). No entanto, apesar desta predileção, a umidade encontra-se em todas as partes do corpo e, devido a sua estagnação, podem surgir manifestações como doenças de pele, abcessos com secreção seropurulenta, úlceras e diarreia (MARIÉ, 2007; ROSS, 1994). Umidade externa: provém do clima, do ambiente ou de circunstâncias que favorecem o seu desenvolvimento (usar roupa úmida, morar em lugares úmidos, áreas enevoadas, por exemplo). Esse tipo de umidade deprime as funções Yang do movimento e da transformação das substâncias (Jin Ye) e, no caso de exposição por muito tempo à umidade, pode afetar os rins e o Yang do baço. Ataca a superfície do corpo e as articulações, provocando dores musculares, dores reumáticas, uma limitação dos movimentos articulares e, às fezes, febre. Pode se manifestar também pela aversão a umidade, sensação de plenitude torácica, perda de apetite, náusea, má digestão, sensação de peso na cabeça ou nos membros, pulso escorregadio e língua com revestimento gorduroso, grosso e branco (ROSS, 1994). 18 UNIDADE I | BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I Umidade interna: provém do vazio de Qi e Yang do baço, que perde as suas capacidades de transporte e transformação, obstruindo a circulação dos líquidos orgânicos, o que gera diarreias, edemas e leucorreias. A umidade externa, ao penetrar no organismo, pode facilmente danificar o baço e dar origem a uma umidade interna. Esta, ao perturbar as funções naturais do organismo, obstrui a circulação de Qi nos canais (Jing Luo), favorecendo a penetração da umidade externa. Assim, pois, as umidades externa e interna têm uma interação recíproca (MARIÉ, 2007). Quadro 4. Comparação dos sintomas de umidade externa e umidade interna. Umidade externa Sintomas comuns Umidade interna Língua com revestimento mais fino agudo, imediato à exposição à umidade externa. Sensações de plenitude e peso, pulso escorregadio e língua com revestimento gorduroso. Língua com revestimento mais grosso crônico, imediato à exposição à umidade interna. Fonte: Ross, 1994. O acúmulo de umidade associada com a deficiência do baço pode originar a mucosidade. Esta é mais grossa, mais pesada e mais sólida do que a umidade, o que reflete nos sintomas desses dois padrões. Enquanto a umidade está associada a sensações de peso e plenitude, a mucosidade está associada a edemas, inchaços e tumores (ROSS, 1994). 2.2.5. Secura (Zao) A secura domina o outono e está relacionada com o metal e o pulmão. Tem um efeito desidratante e adstringente, prejudica os líquidos orgânicos (Jin Ye), provocando diversos sinais de desidratação (secura do nariz, da boca, da garganta, lábios gretados, urina escassa, fezes secas). A secura tem tendência a atacar o pulmão. Por natureza, este órgão é particularmente sensível à secura. Quando o afeta, perturba as suas funções de descida, disfunção e purificação, produzindo uma tosse seca, com difícil expectoração de mucosidades concentradas, às vezes com resíduos de sangue (MARIÉ, 2007). A secura e o calor podem ocorrer em conjunto, e o calor apresentar sintomas da secura, como vermelhidão, sensação de calor, febre e transpiração. O pulmão é o que mais sofre com a secura externa, manifestando-se pela tosse seca com pouco catarro, dor e dificuldade ao respirar, nariz e garganta secos (ROSS, 1994). Secura externa: divide-se em secura quente e secura fria. Nos dois casos, predomina a afecção do Pulmão, associada com sintomas de calor externo, cefaleias, tosse seca, febre e temor ao frio, pulso superficial (MARIÉ, 2007). Não é considerada um fator patogênico importante (ROSS, 1994). 19 BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I | UNIDADE I Secura interna: provém geralmente de uma perda de líquidos orgânicos como transpirações abundantes, diarreias, vômitos e hemorragias, ou de uma febre elevada que consome os fluidos, de uma insuficiência de Yin e de sangue ou também do envelhecimento (as pessoas de idade têm tendência à desidratação). Os principais sintomas são constipação com fezes secas, pele seca e fina, emagrecimento, insônia, ansiedade. 2.2.6. Fogo (Huo) e calor (Re) De acordo com Marié (2007), na medicina chinesa, empregam-se diversos termos referidos ao conceito de fogo ou de calor e, por isso, é importante precisar o seu sentido: » A canícula é o Qi natural do verão e pode converter-se em um agente patogênico externo, mas não existe canícula interna. » O fogo é a energia natural do corpo (por exemplo, “Ming Men Huo” ou “fogo do Ming Men” – grande porta do destino). Fala-se então de “fogo jovem”, que é indispensável à produção de Qi. Por outro lado, em excesso, converte-se em patogênico. Fala-se então de “grande fogo” e “fogo vigoroso” ou de “fogo adulto”, que pode prejudicar o Qi. Habitualmente considera-se que o fogo patogênico tenha origem interna, provocado pelos desequilíbrios da atividade dos órgãos, do Yin/Yang e das energias e substratos do corpo. Por outro lado, fala-se de fogo externo para designar três coisas: a canícula no verão, o calor extremo com interdependência do contexto da estação do ano e a transformação de outra energia externa em fogo (por exemplo, o frio pode transformar-se em calor e o calor extremo produz o fogo) (MARIÉ, 2007). O calor, ao contrário do fogo, é sempre uma energia patogênica. Pode ser de origem interna ou externa. Quando é de origem climática, ao contrário da canícula, não é específico de uma estação. Há que mencionar que, em termos de intensidade, o calor é mais moderado que o fogo. Em geral, entre esses fatores, há em comum uma predominância do Yang no Yin (MARIÉ, 2007). Segundo Ross (1994), o calor tem características Yang e está relacionado com o verão, mas pode ocorrer em qualquer situação, subindo e afetando a parte superior da cabeça, lesando o Yin e, portanto, suas funções, como resfriamento, umedecimento, repouso e nutrição. 20 UNIDADE I | BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I O fogo e o calor são energias patogênicas de natureza Yang. A sua natureza é a de abraçar-se e elevar-se. Produzem, pois, doenças febris e inflamatórias que afetam frequentemente a parte superior do corpo. O fogo e o calor consomem o Qi e prejudicam os líquidos orgânicos. Sabemos que o grande fogo reduz o Qi, nutre-se dele e o dispersa. Por outro lado, evapora os líquidos orgânicos que se escapam, e estes esgotam-se, tentando controlá-lo. Isso produz sede e, em longo prazo, uma desidratação do organismo (MARIÉ, 2007). O fogo pode gerar vento e agitar o sangue. Por exemplo, uma febre forte pode provocar convulsões. Ao aquecer o sangue, o fogo pode levá-lo a sair pelas suas vias naturais; além disso, pode queimar os vasos. Quandoo calor e o fogo agitam o sangue, observam-se diferentes tipos de hemorragias (epistasias, hematêmeses). O fogo tem tendência para provocar inchaços e abscessos. Particularmente quando penetram na camada do sangue, o fogo e o calor podem originar a formação de ulcerações, abscessos e diversas reações inflamatórias. Fala-se frequentemente de calor tóxico para designar este gênero de fenômeno. O fogo pode perturbar a mente, pela sua relação particular com o coração e sua possível reação sobre o sangue, provocando irritabilidade, ansiedade, insônia, e, inclusive, delírio e transtornos psiquiátricos (MARIÉ, 2007). Calor externo: é proveniente de duas causas: a exposição ao calor do meio ambiente e os estágios iniciais de doenças febris infecciosas da medicina ocidental. Dentre as manifestações clínicas, estão temor ao calor, preferência pelo frio e bebidas frias, febre alta, garganta inchada e dolorida, boca seca, sede, urina escassa e escura, rosto e corpo avermelhados, gripe, erupções cutâneas avermelhadas, insônia e irritabilidade, pulso rápido e língua vermelha com revestimento amarelo (ROSS, 1994). Calor interno: calcula-se que é de origem interna, proveniente de desequilíbrios viscerais entre o Yin e o Yang ou dos Zang-Fu (órgãos e vísceras), associado com padrões de deficiência de Yin. O calor externo sempre presente pode levar à deficiência do Yin do rim, gerando o calor interno, lesando esse Yin dos rins, que aumentará o calor interno do corpo todo (ROSS, 1994). Quadro 5. Comparação dos sintomas de calor externo e calor interno. Calor externo Sintomas comuns Calor interno Febre com temor ao vento. Febre. Febre mais alta. Doença mais recente. Doença mais crônica. Pulso rápido, superficial. Pulso rápido. Pulso rápido, cheio. Língua com revestimento amarelo fino. Língua vermelha com revestimento amarelo. Língua mais vermelha com revestimento amarelo mais grosso. Fonte: Ross, 1994. 21 BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I | UNIDADE I Não esqueça que os oito princípios são características que, dentro da MTC, permitem ao terapeuta identificar a característica, a localização e a natureza das desarmonias no organismo, bem como determinar o princípio correto do tratamento a ser escolhido. Chamamos de “padrões” ou “síndromes” essas desarmonias, e cada uma possui diferentes sinais e sintomas, que podem ser classificados dentro destes oito princípios: deficiência e excesso; interno e externo; frio e calor; Yin e Yang. A deficiência (vazio) e o excesso (plenitude) mostram a característica de uma doença. No caso da deficiência, pode ser por vazio de Qi (energia), de Yang e de Yin, de Xue (sangue) ou dos fluídos corporais (Jin Ye) e é considerada como crônica. No excesso, é caracterizada pela presença de invasão de fatores patogênicos externos (FPE) ou pela estagnação de Xue e Qi, e considerada uma doença aguda (MARIÉ, 2007). O interno e o externo mostram a localização de uma doença. Caso se apresente no exterior, significa que está alojada no espaço “Cou Li”, ou seja, entre a pele e o músculo, cujo motivo é a invasão de FPE (vento, frio, calor, umidade ou secura). No interior, significa que o FPE já afetou os órgãos internos – por doença causada pelo estresse emocional, má alimentação, excesso de trabalho e de atividade física que geram deficiência ou estagnação das substâncias vitais como Qi, Xue e fluídos corpóreos; ou, ainda, por fraqueza hereditária dos órgãos que fazem a manutenção da circulação de sangue e do Qi (MARIÉ, 2007). O calor e o frio descrevem a natureza de uma doença. O frio pode ser: por excesso, causado por invasão de FPE ou estagnação de energia; e por deficiência, quando há um vazio da energia Yang. O calor descreve-se da mesma forma, ou seja: por excesso, o quando o organismo é invadido por FPE (neste caso, a doença pode ser externa, podendo aprofundar-se e lesar os órgãos internos, considerando-a interna); ou por deficiência, quando há um vazio da energia Yin (MARIÉ, 2007). Como esses seis princípios estão baseados nas origens do Yin e do Yang, eles formam os oito princípios que estão dispostos da seguinte maneira (Tab. 6): Quadro 6. Padrões de desarmonia dos oito princípios. Yin Yang Interior. Exterior. Frio. Calor. Deficiência. Excesso. Fonte: Ross, 1994. 22 UNIDADE I | BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I 2.3. Patologia interna e externa Os principais fatores de doença na MTC englobam um sistema de classificação que divide os fatores patogênicos em três categorias: » as causas externas – ataques externos associados aos seis excessos de origem climática; » as causas internas – relação com os sete sentimentos (emoções); » as causas nem externas nem internas – que correspondem a fatores patogênicos com diversas origens, ou seja, de estilo de vida (ROSS, 1994). Patologia externa é toda e qualquer patologia que cHegue até o final do meridiano. Patologia interna é aquela que sai do meridiano alcançando o órgão (Fig. 5). Figura 5. Patologias externa e interna. Medicina externa Termos etiológicos e patogênicos (o que mais ataca): 7 emoções Factores Internos: - Seis meridianos - Yin / Yang - Zang-Fu (órgãos e vísceras) - Qi (energia) - Xue (sangue) - Jin Ye (líquidos orgânicos) - Doença chega abruptamente Factores externos: - Seis meridianos - Yin / Yang - Wei Qi (energia defensiva) - Qi (energia) - Xue(sangue) - Yin (nutrição) - Fase aguda da doença Estes fatores externos vão ter transformação interna. - A evolução da patologia externa pode levar a interna, a aguda virar crônica; logo, os sinais também podem mudar. - Uma ascende à outra, ou seja, se for interno, mais cedo ou mais tarde, vai afetar a externa. Zheng Qi Energia sã Se há patogenia externa, os mecanismos são diferentes da interna e vice-versa. Xie Qi Energia patogênica Diagnóstico Medicina interna Etimologia interna Termos etiológicos e patogênicos (o que mais ataca): Patogenesia Etimologia externa Lin Qi (clima) Fatores epidémicos (ex.: clima) Patogenesia Fonte: Arquivo pessoal. 23 BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I | UNIDADE I O diagnóstico em MTC requer ter conhecimento do relógio biológico. Um assunto tão interessante quanto difícil e complicado. Cada órgão tem o seu próprio relógio, ou seja, uma hora em que ele está no seu máximo de funcionalidade, que também está relacionado com os exercícios de Qi Qong. É naquela hora que a energia (Qi) penetra e circula melhor em determinado órgão (Fig. seis e 7). Uma doença ou um distúrbio que apareça com frequência na mesma hora em que a energia está no seu máximo pode fornecer ao terapeuta indicações úteis para entender como diagnosticar e agir em cada síndrome. Figura 6. Horário dos órgãos e vísceras. Fonte: https://wl-incrivel.cf.tsp.li/resize/728x/jpg/657/3c8/ff85475d08af07c0854ce81b5a.jpg. Figura 7. Distribuição dos órgãos e vísceras nas seis camadas energéticas. Pulmão Baço-pâncreas Intestino grosso Intestino delgado Coração Rins Pericárdio Fígado Estômago Bexiga Triplo aquecedor Vesícula biliar Tai-Yin Shao-Yin Jue-Yin Shao-Yang Tai-Yang Yang-Ming Fonte: https://carasteu.files.wordpress.com/2012/06/sem-tc3adtulo-1.jpg?w=457&h=182. 24 CAPÍTULO 3 INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES E OS EFEITOS DA ACUPUNTURA NO SISTEMA NERVOS CENTRAL (SNC) 3.1. Indicações e contraindicações da acupuntura Como regra geral, pode-se dizer que todos os pacientes funcionais podem se beneficiar da acupuntura. Em casos reversíveis, a acupuntura tem maior efeito; nas situações irreversíveis, obtêm-se apenas efeitos transitórios (SUSSMANN, 2011). Assim, a acupuntura pode oferecer aos pacientes efeitos analgésico, anti-inflamatório, de relaxamento muscular, antidepressivo/ ansiolítico, de ajuda ao paciente com sequela de AVC, apressamento no processo de cicatrização, melhora nos sintomas dedistúrbios psiquiátricos e ativação da função imunológica. Na prática, a acupuntura tem efeitos amplos, podendo surgir em conjunto e trazer muitos benefícios para o paciente. Vale ressaltar que, com a melhora do quadro geral do paciente, pode-se até diminuir o uso de remédios e, consequentemente, diminuir seus efeitos colaterais, que podem afetar funções hepáticas, gastrointestinais, cardiorrespiratórias, renais, dentre outras. Em oposição, no tratamento com a acupuntura, quase que inexistem efeitos colaterais. De acordo com vários autores, as contraindicações incluem: » Gravidez – NÃO podem ser estimulados os pontos: IG4, BP6, F3, B60, B67. › No primeiro trimestre, NÃO podem ser estimulados os pontos situados na parte inferior do tórax. › No primeiro e último mês de gravidez, deve-se evitar acupuntura. » Crianças – NÃO punturar no vértice da cabeça (fontanelas). » Não reter as agulhas: fazer a inserção, estimular e retirar, ou fazer massagens. » No tórax, nos hipocôndrios, na cintura, no dorso e no abdómen, não fazer inserção perpendicular e profunda. » Hemofílicos – deve-se evitar a inserção de agulhas em vasos sanguíneos, e ter cuidados nos pontos do tórax e das costas e alguns pontos da face e cabeça. » Pessoas muito debilitada ou em casos de excesso extremo (SUSSMANN, 2011). 25 BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I | UNIDADE I 3.2. Os efeitos da acupuntura no sistema nervoso central 3.2.1. Neurofisiologia e inibição da dor De acordo com a International Association for the Study of Pain (IASP, 1986, p. 217), a dor é “um fenômeno multidimensional desagradável, que envolve aspetos físico sensoriais, bem como aspetos emocionais, associada a uma lesão tecidular real ou potencial, ou corresponder a uma lesão”. Pode-se afirmar que a dor não se trata apenas de uma sensação física e sim de uma experiência complexa que envolve emoções e outros componentes associados e que varia de indivíduo para indivíduo. Os pesquisadores reforçam que os fatores psicológicos podem influenciar a maneira pela qual as pessoas interpretam a dor, como lidam com ela e respondem a ela. O mecanismo de percepção da dor, ocorre quando uma lesão (pôr a mão na chapa quente, por exemplo) faz com que os impulsos da dor viajem através dos nervos sensoriais para a medula espinhal, onde se retransmitem com tratos nervosos que os levam para cima, possivelmente para o tálamo. Aqui, outra retransmissão os leva ao córtex cerebral, onde são conscientemente registrados como dor. Após um processamento adicional, os impulsos percorrerão o sistema motor até os músculos para fazer o processo de retirada da mão (e possivelmente viajar para o aparelho vocal para surgir o grito) (CAMPBELL, 2001). Três tipos de fibra nervosa estão envolvidos na nocicepção. As fibras A-beta são fibras mielinizadas de grande diâmetro. As fibras A-delta também são mielinizadas, mas são menores em diâmetro. As fibras C são de pequeno diâmetro não mielinizadas. Os sistemas de fibra A-delta e C preocupam-se com a nocicepção e a percepção da dor, mas têm papéis diferentes. O sistema de fibra A-delta é responsável pela localização precisa da estimulação nociva sem muito acompanhamento emocional, enquanto o sistema de fibra C produz uma percepção mal localizada da dor acompanhada de efeitos emocionais mais fortes. A diferença entre os dois sistemas pode ser apreciada quando uma pessoa se machuca, por exemplo, golpeando o dedo do pé. Há uma explosão inicial de dor aguda, seguida após alguns segundos por uma dor mais difusa, com qualidade profunda e consideravelmente mais desagradável do que a primeira dor. A dor de início rápido é mediada pelo sistema A-delta, a segunda dor pelo sistema de fibra C. As fibras A-delta são ativadas por pressão forte, calor e frio, e também por picada de alfinete, que é onde entra a acupuntura. Pensa-se que as fibras A-delta são responsáveis pela analgesia da acupuntura; as fibras A-beta provavelmente estão envolvidas apenas no 26 UNIDADE I | BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I TENS (transcutaneous electrical nerve stimulation, inglês para “estimulação elétrica nervosa transcutânea”) e na analgesia por eletroacupuntura, e não na acupuntura clínica comum (CAMPBELL, 2001). Provavelmente existem vários desses sistemas no tronco cerebral, mas dois são bem conhecidos. Um é mediado pela serotonina e envolve corpos medianos de neurônios, incluindo o cinza periaquedutal e o núcleo magno da rafe; o outro é mediado pela noradrenalina e desce em ambos os lados da linha mediana, através dos núcleos gigantocelular e paragigantocelular. O lócus coeruleus, na ponte, também faz parte desse sistema (CAMPBELL, 2001). A medicina chinesa clássica não incluiu realmente o papel do sistema nervoso central como atualmente concebido na ciência médica ocidental. A MTC diz que a dor se desenvolve a partir de uma estagnação de Qi (energia) e de sangue ao longo dos meridianos no corpo. Como afirma o Imperador Amarelo (Huang Di Nei Jing, 2013, p. 205), “A dor vem da estase do meridiano, e desaparece em circulação fluida”. Consequentemente, é aceito que a acupuntura atinja a sua eficácia com o alívio da dor através da regulação do Qi e do sangue e pela promoção da sua circulação ao longo dos meridianos. 27 CAPÍTULO 4 OS ZANG-FU (ÓRGÃOS E VÍSCERAS) E OS CINCO ELEMENTOS 4.1. Os órgãos e vísceras (Zang-Fu) Para Marié (2007), a teoria dos órgãos e vísceras (Zang-Fu) não é somente uma descrição de vísceras, mas também constitui o embasamento da organização vital do ser humano. Suas repercussões excedem a imagem da fisiologia, uma vez que os órgãos estão em relação com os diferentes aspetos do psiquismo. Normalmente, o termo “vísceras” é usado como um termo genérico para designar o conjunto de órgãos e vísceras que, por sua vez, são divididos em três categorias: órgãos (coração, baço, pulmão, fígado e rim); vísceras (vesícula biliar, estômago, intestino delgado, intestino grosso, bexiga e triplo aquecedor); e vísceras extraordinárias (cérebro, medula, ossos, vasos sanguíneos, útero e vesícula biliar). De acordo com Xinnong (1987), são seis órgãos Zang (coração, baço, pulmão, fígado, rim e pericárdio), os seis órgãos Fu (intestino delgado, estômago, intestino grosso, vesícula biliar, bexiga e triplo aquecedor) e os órgãos Fu extraordinários (cérebro, medula, ossos, vasos sanguíneos, útero e vesícula biliar). Como o pericárdio é uma membrana protetora do coração, pertence a outros órgãos Fu e, por isso, geralmente chamamos cinco órgão Zang e seis órgãos Fu. Os cinco Zang (órgãos) têm como funções fabricar e armazenar o Jing Qi e também as substâncias essenciais, a energia vital, o sangue (Xue) e os líquidos orgânicos (Jin Ye), o que difere das seis Fu (vísceras). As funções das vísceras (Fu) são receber, transformar e transportar substâncias – ou seja, os alimentos e bebidas – e excretar os resíduos através das funções fisiológicas. De acordo com as funções dos Zang-Fu, eles são estudados com base nos fatores físico e fisiológico, com as implicações psíquicas, emocionais e com aspetos energéticos de cada órgão (XINNONG, 1987). Os Zang apresentam características Yin, são mais internos e maciços, responsáveis pela produção, transformação, armazenamento de substrato essenciais, liberação e regulação das substâncias puras como Shen (espírito), Jing (essência), Qi (energia), Xue (sangue) e Jin Ye (líquidos orgânicos). Ainda servem de apoio físico aos espíritos viscerais (psíquico), devido aos cinco Shen (Shen, Hun, Po, Yi, Zhi) associados a cada um dos órgãos, logo estão integrados a um processo mental. “Os cinco órgãos armazenam a Energia Essencial sem eliminá-las” (WANG, 2013, p. 147). 28 UNIDADE I | BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I Os Fu apresentam características Yang, são mais externos e ocos, responsáveis pela recepção e armazenamento de bebidas e alimentos,pela passagem e absorção de seus produtos de transformação e pela excreção dos resíduos (XINNONG, 1987). 4.2. Os cinco elementos (Wu Xing) Na natureza, nada é estático, tudo segue em constante mutação, interagindo entre si. Isso é percebido nos ciclos climáticos e sazonais, em cada traço de um indivíduo ou fenômeno no Universo. Para haver equilíbrio, o ciclo natural é inteligente e ordenado, tendo em cada estágio suas propriedades e funções específicas. Os antigos chineses observaram a natureza e, a fim de aplicar o mesmo princípio para a harmonia do homem, estudaram os fenômenos, classificando-os em cinco fases ou cinco elementos. A teoria dos cinco elementos é também chamada de “cinco movimentos”, pois, mais do que elementos físicos, eles representam fases do fluxo da natureza. Estes elementos são madeira, fogo, terra, metal e água (MARIÉ, 2007). A aplicação dos cinco elementos serve de apoio à terapêutica chinesa, tornando-os de grande utilidade como um guia para diagnóstico e tratamento de doenças. Essa teoria fundamenta-se na relação através da Lei da Geração e da Lei da Dominância ou Controle. Diz-se que a Lei de Geração (mãe e filho) advém quando um elemento gera o outro ao mesmo tempo em que é gerado (Fig. 8). E a Lei de Dominância (avô e neto) advém quando um elemento domina o outro ao mesmo tempo que é dominado (Fig. 8). Essas leis explicam as características fisiopatológicas dos “Zang-Fu” (órgãos e vísceras), e sua relação com o ambiente, além de apresentarem atividades, movimentos e transformações (XINNONG, 1987). Figura 8. Relação de geração e dominância entre os cinco elementos. Intergeração Interdominância e excesso de dominância Contradominância Madeira Fogo Terra Metal Água Fonte: Xinnong, 1987. 29 BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I | UNIDADE I Os cinco elementos representam as atividades das forças Yin e Yang quando estão a alternar, manifestando-se nos ciclos de mudanças na natureza, que regulam a vida na Terra. Assim, os Zang Fu são classificados nessas cinco naturezas, de acordo com esses cinco elementos, e nos seus movimentos, para serem observadas as suas relações internas (XINNONG, 1987). No Ciclo da Geração, a madeira gera fogo; o fogo gera terra; a terra gera metal; o metal gera água; a água gera madeira, e assim sucessivamente. Portanto, a madeira é lenha para o fogo, o fogo enriquece a terra (fogo produz cinzas), da terra se retira o mineral (metal), do fundo das minas (metal) nasce a água; e a água hidrata as plantas (madeira). No Ciclo do Controle, a madeira controla terra; a terra controla água; a água controla fogo; o fogo controla metal; o metal controla madeira, e assim sucessivamente. Portanto, a madeira com suas raízes sustenta a terra, a terra suga a água, a água controla a intensidade do fogo, o fogo derrete o metal, o metal corta a madeira. Assim, a Lei da Dominância ou Controle, quando é respeitada, significa que há equilíbrio entre os diferentes elementos, tal que todos coexistem de forma harmoniosa, significando uma boa saúde. Quando há um desequilíbrio, porém, há alteração da saúde. Por exemplo, quando o metal atua excessivamente sobre a madeira, o paciente pode apresentar cansaço, com irritabilidade e tosse (Fig. 9). Por outro lado, o ciclo de controle cria uma relação de acorrentar, como a existente nas batalhas entre o vencedor e o vencido. Assim: Madeira em contato com metal é abatida. Fogo em contato com água se apaga. Terra em contato com madeira é penetrada. Metal em contato com fogo de dissolve. Água em contato com terra para o seu curso (YANG, 2018). 30 UNIDADE I | BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I Figura 9. Excesso de dominância e contradominância entre os cinco elementos. Bexiga Rins Vesícula biliar Fígado Intestino delgado Coração Estômago Baço-pâncreas Intestino grosso Pulmão Madeira Água Fogo Terra Metal Geração Inibição ou controle Contrainibição ou contra-dominância Fonte: http://yuzuru.files.wordpress.com/2008/04/5-elementos.jpg?w=594. Assim que uma das fases de energia se excede, tende a exercer um estímulo excessivo sobre o elemento seguinte do ciclo criativo. Nesse exato momento, o elemento que controla essa energia excessiva entra em ação para restaurar a harmonia. Por exemplo: se o elemento madeira gerar energia em demasia, provendo o elemento fogo de muito combustível, o metal entra em ação, cortando o suprimento de madeira e, assim, restabelecendo o equilíbrio (XINNONG, 1987). O ciclo de contradominância se demonstra quando um elemento está controlando o outro excessivamente e em sentido oposto ao ciclo de dominância (Fig. 9). Assim, a madeira lesa o metal, o metal lesa o fogo, o fogo lesa água, a água lesa a terra e a terra lesa a madeira (XINNONG, 1987). 31 CAPÍTULO 5 SELEÇÃO DE PONTOS DE ACUPUNTURA, ZONA ALVO, PONTOS DISTAIS E ADJACENTES 5.1. Seleção de pontos de acupuntura e zona alvo A exata localização do ponto é indispensável para uma terapêutica correta. Se considerarmos que o ponto tem uma área de apenas 1 a 2 milímetros quadrados, se compreenderá que é necessário desenvolver uma técnica correta para localizá-los. Quando o ponto é sensível, o que nem sempre acontece, sua busca é bastante facilitada. É necessário palpar ao longo da linha de meridianos suspeitos de desequilíbrio, suavemente, para não causar dor em áreas normais (SUSSMANN, 2011). Quando o ponto não é sensível à pressão – e isso é frequentemente observado mesmo em casos patológicos nos pontos de comando –, a busca deve ser orientada com o conhecimento dos elementos importantes: 1. Conhecer a localização exata do ponto, com as referências ósseas, musculares ou “cun” (ou Tsun) com relação a algum reparo constante (Fig. 10). 2. Saber que os pontos estão sempre localizados em depressões ou lacunas, algumas vezes formados por disposições musculares ou tendinosas, mas, outras vezes, sem aparentemente estruturas que os expliquem. Os pontos de acupuntura podem ser escolhidos com base no diagnóstico da medicina tradicional chinesa (MTC) como, por exemplo: através dos oito princípios; com base na localização, desequilíbrio energético e sintomatologia dos pacientes, como os pontos locais, distais e adjacentes; e com base no Jing Luo, ou seja, em pares de meridianos (Yin/Yang), por exemplo, baço e estômago e pulmão e intestino grosso etc. 5.2. Pontos locais, distais e adjacentes Os pontos ativos constituem uma realidade clínica facilmente constatável. Distribuídos ao longo dos canais (meridianos), localizados em lugares conhecidos desde a antiguidade, sua existência não pode passar despercebida por aqueles que examinam cuidadosamente seus pacientes. Muitas vezes, é o paciente que chama a atenção sobre certa dor localizada em lugares que se repetem com frequência (SUSSMANN, 2011). 32 UNIDADE I | BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I Esses pontos ativos se distribuem ao longo dos canais, cada um dos quais representando um órgão ou função. Segundo a localização do ponto, este terá maior ou menor influência sobre a função afetada. Daí a primeira classificação em: pontos de ação específica ou ação a distância sobre a zona alvo (órgão ou função), e pontos de ação local sobre os músculos, ossos e nervos. Quase todos os pontos específicos, que chamamos de pontos de comando, estão distribuídos nas extremidades distais dos membros, do cotovelo e do joelho. Não há dúvida que os resultados mais duradouros se obtêm com os pontos de comando, cujo uso correto constitui o fundamento da verdadeira acupuntura. Porém, também é aconselhável a utilização dos pontos locais, que alguns chamam de “pontos do centro da dor”, especialmente em afecções do tipo reumática ou em qualquer outra, sempre que a dor estiver presente (SUSSMANN, 2011). Pontos locais: são pontos onde se encontram as afecções e que podem ser os própriospontos da acupuntura. Por exemplo, quando há dor no ombro, pode-se usar o TA14 (Jian Liao) e o IG15 (Jian Yu); podem ser os pontos Ashi, que são considerados dolorosos à pressão, por exemplo, quando há dor do nervo ciático, podendo-se usar o VB30 (Huan Tiao); e os pontos extras, que encontram-se fora dos canais de energia principais, mas que podem ser utilizados como local, como, por exemplo, quando há dor de cabeça, pode-se usar o Yin Tang. Os pontos locais têm como função melhorar a circulação de Qi e Xue (energia e sangue) em uma determinada área e, por isso, têm melhor indicação para tratamento da dor. O método de utilização dos pontos locais é o mais simples da acupuntura, encontra-se no próprio local da lesão e apresenta uma boa eficácia nos casos clínicos, especialmente quando há reação cutânea local. Pontos distais: são pontos localizados a distância da zona alvo, ou seja, do local afetado. Indicam os pontos que ficam, principalmente, por baixo dos cotovelos ou joelhos e servem para tratar as doenças no trajeto do meridiano, ou outras doenças afastadas do ponto. Estes pontos promovem uma circulação energética do canal que se encontra lesado. Podem ser os próprios pontos de acupuntura, por exemplo: quando há cefaleia, pode-se usar o F3 (Tai Chong) ou VB39 (Xuang Zhong); podem ser os pontos dos vasos maravilhosos que drenam os excessos (ver Unidade II), por exemplo, quando há problemas de distúrbio do sono ou vertigens, podendo-se usar o B62 (Shen Mai) e ID3 (Rou Xi) que são os pontos, respectivamente, de abertura e fechamento do Yang Qiao Mai. Pontos adjacentes: são pontos que auxiliam no tratamento associados com os pontos locais e distais da acupuntura. Esses pontos são selecionados por sua 33 BASES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, ACUPUNTURA, ACUPONTOS I | UNIDADE I proximidade com a área lesada e por suas ações locais e energéticas. Por exemplo, quando há dor no ombro podem-se usar o TA14 (Jian Liao) e o IG15 (Jian Yu) como pontos locais e o IG14 (Bi Nao) como ponto adjacente e o IG4 (He Gu) como distal, a depender sempre do tipo de síndrome e sintomatologia do paciente. Figura 10. Medida em medicina chinesa (3 cun ou 3 distâncias). Cun ou tsun Unidade de medida Fonte: LIAN et al., 2012. 34 REFERÊNCIAS AUTEROCHE, Bernard et al. Acupuntucture and Moxibustion: A guide to Clinical Practice. London: Churchill Livingstone, 1989. CAMPBELL, Anhony. Acupuncture in Practice: Beyond Points and Meridians. Reino Unido: Butterworth-Heinemann, 2001. CCAOM. 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