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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Prof. ME. PAULO PARDO 004 Aula 01: 016 Aula 02: 026 Aula 03: 039 Aula 04: 050 Aula 05: 057 Aula 06: 069 Aula 07: 082 Aula 08: 089 Aula 09: 098 Aula 10: 111 Aula 11: 123 Aula 12: 141 Aula 13: 159 Aula 14: 164 Aula 15: 188 Aula 16: Estratégia: Origem do Conceito Estratégias Pretendidas Versus Estratégias Realizadas Contexto Histórico da Estratégia Organizacional O Planejamento nas Organizações Os Princípios de Planejamento de Ansoff A Questão Ambiental no Planejamento Organizacional Os Diversos Níveis do Planejamento Organizacional Os Públicos Interessados nas Organizações Definindo a Missão Estratégica da Organização Definindo a Visão Estratégica e os Valores da Organização Estabelecendo Objetivos Organizacionais Natureza da Vantagem Competitiva Como Construir a Vantagem Competitiva nas Organizações Estratégias de Unidades de Negócio Ferramentas para Análise do Ambiente Ferramentas para Análise de Ambiente: a Cadeia de Valor, a Visão Baseada em Recursos e o Balanced Scorecard Introdução Caro(a) aluno(a), vamos iniciar os estudos em Planejamento Estratégico. Aqui, você verá a importância da gestão e do planejamento estratégico nas organizações para que elas consigam concorrer em um ambiente cada vez mais competitivo. Você vai estudar o contexto histórico da estratégia e da gestão organizacional e outros conceitos fundamentais que darão base para que o profissional faça um bom planejamento, trace objetivos claros dentro da organização e alcance os resultados almejados. No trajeto, estudaremos alguns princípios do planejamento estratégico, sistemas e níveis organizacionais e os públicos interessados nas organizações - pois uma empresa não surge por acaso! As pessoas têm necessidades que não conseguem satisfazer isoladamente, e quando um empreendedor decide atender tais necessidades, ele está se identificando com um público que não se resume só a compradores ou usuários, mas também a entidades - as partes interessadas - que se interessam igualmente pelas ações e resultados das organizações. Assim, é preciso estudar a missão, a visão estratégica e os valores da organização, e tudo isso culmina na chamada cultura organizacional, normas e padrões que guiam como os funcionários atuam a fim de cumprir a missão estabelecida e atingir os objetivos traçados. Também falaremos sobre vantagem competitiva e ferramentas para análise do ambiente, temas que o gestor deve dominar para tomar decisões acertadas quanto ao uso adequado e racional dos recursos para que os custos sejam os menores possíveis. Espero que esta disciplina lhe seja de grande valia no crescimento tanto pessoal quanto profissional! Bons estudos! Prof. Me. Paulo Pardo 3 01 Estratégia: Origem do Conceito 4 Prezado(a) aluno(a), Você já percebeu como somos seres sociáveis? Gostamos muito de estar com outras pessoas, seja pessoalmente ou nas redes sociais. E, se você pensar bem, a vida em sociedade nos proporciona alguns confortos que, sozinhos, seria bem difícil usufruir. Mas ao mesmo tempo em que gostamos de pessoas, também promovemos a guerra. A história das guerras na humanidade é terrível, passando de guerras locais para verdadeiros genocídios. E os motivos dessas guerras podem ser os mais variados, tais como conquistas de novos territórios, supremacia racial, riquezas e até – pasmem! – por amor! E como vencer uma guerra? A resposta a essa pergunta persegue as partes beligerantes desde sempre. Como evidência disso, por volta do ano 500 a.C., Sun Tzu, filósofo chinês a quem também se atribui a patente de general, escreveu um livro que é um marco quando se fala em batalhas. Trata-se de “A Arte da Guerra”. Nessa obra, Sun Tzu escreve na perspectiva de general, visando proporcionar mecanismos para a vitória, com ou sem luta. Sem luta? Sim, sem luta. Sun Tzu mostra que é sim possível vencer um inimigo sem entrar no campo de batalha. Interessante isso, não? 5 Há várias obras que compilam e aplicam em situações específicas os ensinamentos de Sun Tzu. Por exemplo, uma das frases de Sun Tzu, citada por Ribeiro (2012, p. 10), é que “se você se conhece e ao inimigo, não precisa temer o resultado de uma centena de batalhas”. Conhecer o inimigo! Quantas batalhas já foram perdidas por esse desconhecimento! O livro “A Arte da Guerra” inspirou vários líderes militares, entre os quais Napoleão Bonaparte, considerado um verdadeiro gênio militar. Pela inspiração desse livro, Napoleão usava algumas táticas, como a de cortar as linhas de fornecimento do inimigo, privando-o de armas e alimento, com um resultado previsível: sem suprimentos, o inimigo acaba por se render. Inclusive, credita-se a Napoleão a seguinte frase interessante: “os soldados caminham sobre seus estômagos”, numa referência ao fato de que o moral dos soldados é afetado quando estão famintos. Mas você pode estar pensando: o que tem a ver um livro sobre guerra com o mundo corporativo? Como dito anteriormente, o livro inspirou muitas pessoas ao longo da história e não é de admirar que essa inspiração acabasse por chegar aos executivos das organizações. A releitura dessa obra possibilitou vários “insights” para esses profissionais, particularmente quando o tema é estratégia. O termo “estratégia” nos é familiar, pois o utilizamos em várias circunstâncias, como em jogos eletrônicos ou futebol (caso você goste de futebol, sou flamenguista, me julgue!). Mas vamos sair um pouco do senso comum e analisar referências a respeito para que nosso conhecimento seja construído com embasamento científico. Vamos lá? 6 Ribeiro (2008) vincula o termo “estratégia” à palavra grega “strategos”, que se aplicava ao general no exercício de comando de suas tropas. Já Oliveira (2013) associa estratégia ao sentido de “a arte do general”, pontuando que o grego “strategos” significaria principalmente “general”. Complementando a ideia, esse autor pontua que Estratégia, na Grécia antiga, significava aquilo que o general fez. Antes de Napoleão, estratégia significava a arte e a ciência de conduzir forças militares para derrotar o inimigo ou abrandar os resultados da derrota. Na época de Napoleão, a palavra estratégia estendeu-se aos movimentos políticos e econômicos visando a melhores mudanças para a vitória militar. [...] de forma genérica, estratégia é a ciência dos movimentos guerreiros fora do campo de visão do general; e a tática, a ciência dos movimentos guerreiros dentro do referido campo. (OLIVEIRA, 2013, p. 188) Seguindo com nossa analogia sobre estratégia militar, você bem sabe que, na maior parte das vezes, em guerras, os lados combatentes são conhecidos como a nação X batalhando contra a nação Y ou contra o grupo terrorista Z. No mundo empresarial, os competidores de uma organização nem sempre são tão claramente identificados. De fato, essas relações de disputa são mais complexas, mas, mesmo assim, ferrenhas. 7 As empresas lidam com a escassez, com a demanda por produtos e serviços, com variáveis difíceis de mensurar, como é o caso do comportamento do consumidor. Evidentemente que a disputa empresarial não se faz com armas, canhões ou mísseis (felizmente!), mas a concorrência, a disputa, é bem real, portanto, fundamentos como conhecer o inimigo (concorrência) e a si próprio (os pontos fortes da empresa) são imperativos. Sendo assim, vamos nos aprofundar um pouco mais no conceito de estratégia, agora focando nas organizações. Uma primeira definição poderia ser: Estratégia é a arte de planejar e colocar o plano em ação, com o objetivo de alcançar ou manter posições relativas e potenciais favoráveis a futuras ações táticas sobre um objetivo e procurar condições favoráveis para alcançar objetivos específicos, ou seja, é o programa geral para a consecução dos objetivos de uma organização e, portanto, para o desempenho de sua missão (RIBEIRO, 2008, p. 11). Note que, nessa definição, são colocados elementos como planejamento, plano de ação, alcance de metas e objetivos, tudo relacionado à missão organizacional,tópico que estudaremos oportunamente. Vamos apresentar mais uma definição, a de Oliveira (2013, p. 188), afirmando que Numa empresa, a estratégia está correlacionada à arte de utilizar, adequadamente, os recursos físicos, tecnológicos, financeiros e humanos, tendo em vista a minimização dos problemas internos e a maximização das oportunidades que estão no ambiente empresarial, o qual não é controlável. Fica claro, por essa definição, que é preciso conhecer profundamente os possíveis problemas internos e estar atento às oportunidades que o ambiente externo oferece, visto que não se têm elementos de controle sobre o que acontece fora dos muros da empresa. 8 Outros autores relevantes sobre o tema, Mintzberg e Quinn (2001, apud Sertek, Guindani e Martins, 2012, p. 104) complementam com duas definições muito importantes: Estratégia - Padrão ou plano que integra as principais metas,políticas e sequência de ações em uma organização em um todo coerente. Umaestratégia bem formulada ajuda a ordenar e a alocar os recursos de umaorganização para uma postura singular e viável, com base em suas competências edeficiências internas relativas, mudanças no ambiente antecipadas eprovidências contingentes realizadas por oponentes inteligentes. Estratégia empresarial - O padrão de decisões em uma empresa que determina erevela seus objetivos, propósitos ou metas, produz as principais políticas eplanos para a obtenção dessas metas e define a escala de negócios em que aempresa deve se desenvolver, o tipo de organização econômica e humana quepretende ser e a natureza da contribuição econômica e não econômica quepretende proporcionar a seus acionistas, funcionários e comunidades. Veja que as duas definições fazem sentido quando argumentam sobre recursos internos e sobre o ambiente externo e foca, no caso da estratégia empresarial, em atingir resultados promovendo impactos positivos em seu público interessado 9 (stakeholders). Isso, evidentemente, não acontece da noite para o dia. A estratégia será colocada em ação em um horizonte de tempo mais longo, como podemos confirmar na definição a seguir: Estratégia é a orientação e o alcance de uma organização a longo prazo, que conquista vantagens num ambiente inconstante por meio da configuração de recursos e competências com o intuito de atender às expectativas dos stakeholders. (JOHNSON; SCHOLES; WHITTINGTON, 2011, p. 21) Acesse o link: Disponível aqui Mesmo empresas transnacionais, como é o caso da Nestlé, por vezes precisam calibrar ou rever suas estratégias. Conheça como a Nestlé buscou fazer isso com sua comunicação digital. Acesse o link a seguir para ter acesso a esse conteúdo. Nesse ponto, faço questão de destacar o trabalho de Alfred DuPont Chandler, autor da obra “Strategy and Structure”, publicado em 1962. Nesse livro, Chandler defende que a estrutura da organização depende da estratégia. Até então, tinha-se justamente o conceito contrário, ou seja, que a estrutura da organização é que definiria sua estratégia. As contribuições de Chandler foram tão relevantes para o estudo da estratégia que ele é considerado o “pai da estratégia” (SERTEK; GUINDANI; MARTINS, 2012) Trazendo o foco ainda mais próximo das organizações, Hill e Jones (2012, p. 4) afirmam que estratégia é “[...] um conjunto de ações que os gestores adotam para melhorar o desempenho de uma empresa em relação a suas concorrentes”. 10 https://corporativo.nestle.com.br/media/pressreleases/nestl%C3%A9-refor%C3%A7a-estrat%C3%A9gia-digital-e-cria-pool-de-atendimento-com-ag%C3%AAncias-certificadas Perceba que os autores trazem a responsabilidade aos gestores (lembra-se do general?) e proporcionam o que se convenciona chamar de “vantagem competitiva” para suas empresas quando conseguem que essas mesmas empresas tenham um desempenho superior aos concorrentes. Assim como na Fórmula 1 (saudades do Senna!), as equipes usam diversos mecanismos para vencer o mundial de pilotos e construtores, como o melhor acerto de motores, melhor aerodinâmica, entre outros elementos. Da mesma forma, as empresas buscam mecanismos para ter vantagem competitiva sobre os concorrentes, cuja métrica, via de regra, é a lucratividade, ou seja, se o lucro for maior que os concorrentes, e esse lucro for sustentado e sustentável, significa que a empresa obteve essa vantagem. O conceito de lucratividade no capitalismo é bem destacado, pois quando um empreendedor coloca seus recursos em um negócio, ele espera que esse valor seja preservado e multiplicado. A taxa de retorno financeiro, ou seja, o pagamento por ter colocado seu dinheiro no negócio, deve ser atrativa, mais atrativa do que outras opções de investimento. Pergunte-se: se você tivesse 1 milhão de dólares e pudesse investir em algo com risco próximo de zero e obter uma taxa de retorno considerada satisfatória, o que te levaria a tirar esse dinheiro desse tipo de aplicação e colocar em 11 um negócio, uma empresa, cujo taxa de risco é muito maior? Só faz sentido se o lucro – o retorno – for maior do que a opção sem risco. É isso o que os investidores fazem. Conforme Hill e Jones (2012, p. 5) destacam, [...] uma empresa que usa seus recursos de maneira eficiente tem um retorno positivo sobre o capital investido. Quanto mais eficiente for a empresa, mais alta é a lucratividade e maior é o retorno sobre o capital investido. A lucratividade de uma empresa – o seu retorno sobre o capital investido – é determinado pelas estratégias que seus gestores adotam. Ficou claro? A estratégia é o segredo do sucesso de uma organização, e a estratégia da empresa é responsabilidade de seus gestores. Assim como os generais do livro “A Arte da Guerra”, os gestores são responsáveis por mobilizar os recursos organizacionais visando atingir resultados positivos para suas organizações. A responsabilidade é tão grande que podemos fazer alusão a uma frase atribuída a Abraham Lincoln: “quando o estrategista erra, o soldado morre” (OLIVEIRA, 2013, p. 185). Pense: se os gestores errarem, a empresa literalmente morre. Por conta disso, os gestores precisam compreender profundamente, elaborar e aplicar uma estratégia que seja efetiva, visando à sobrevivência da organização. A abordagem da estratégia como prática tem se tornado mais usual e é bem fácil de entender a razão. Afinal, as empresas estão em mercados dinâmicos, que exigem respostas que podem vir de diversas fontes, desde os executivos até o chamado chão de fábrica. A prática empresarial é uma excelente fonte de aprendizado para a tomada de decisão. 12 As organizações na atualidade são bastante diferentes das organizações do início do século passado, em vários aspectos. Essa diferença pode ser explicada pela própria mudança do conceito de estratégia. Vamos revisitar os fundamentos históricos dessas definições? Alguns autores são indispensáveis para entendermos a evolução de estratégia, como é o caso de Alfred Chandler (1962), Kenneth R. Andrews (1971), H. Igor Ansoff (1965) e Rumelt, Schendel e Teece 1994) (SOUZA, 2011). Se considerarmos a abordagem das ferramentas estratégicas, podemos destacar os seguintes trabalhos: Michael Porter - Modelo de 5 forças; Consultoria Boston Consulting Group (BCG) – matriz Growth-share, ou, simplesmente, matriz BCG; Strategic Management Society (SMS) – essa entidade é uma organização sem fins lucrativos que procura agregar conhecimento de pesquisadores, gestores empresariais e consultores, promovendo a pesquisa em gestão estratégica. Já conseguiu reunir 1200 instituições em 80 países. Como em outras áreas de conhecimento, a pesquisa sobre estratégia é apresentada de acordo com a perspectiva dos estudiosos do tema e conforme suas abordagens. Um resumo dessas abordagens pode ser visto no Quadro 1, a seguir: 13 Quadro 1: Perspectivas da estratégia organizacional | Fonte: adaptado de Souza (2011). PERSPECTIVA ABORDAGEM REPRESENTANTES Do conteúdo Compreender o que é necessário saber para traçar a estratégia correta de determinada organização, feito pela criação de tipologias analíticas. Ansoff(1965); Rumelt (1974); Porter (1980). Visão baseada em recursos (Resource Based View – RBV) Discute fatores internos e externos da organização, bem como a posse de recursos por parte da organização, recursos construídos ao longo dos anos e que se tornam a vantagem competitiva desta organização. Birger Wernerfelt (1984); Jay Barney (1986); Andrews (1971); Edith Penrose (1959); Philip Selznick (1966). Abordagem processual Foca a análise do cotidiano da formação estratégica. Busca compreender como a estratégia é criada e realizada na organização. Johnson (1987); Pettigrew (1985); Mintzberg e Waters (1985); Mintzberg e McHugh (1985); Mintzberg (1994). Estratégia como prática Busca compreender a estratégia como algo definido pela interação das práticas de estratégia com profissionais envolvidos em execução dos planos no cotidiano. Propicia a observação da relação entre a perspectiva micro do cotidiano do estrategista e a perspectiva macro das práticas definidas para elaboração da estratégia, o que possibilita explorar como essa relação opera. Richard Whittington (1996); Weick (1979); Jarzabkowski, Balogun, & Seidl (2007); Whittington (1996); Jarzabkowski (2008). 14 Há um viés muito forte nas pesquisas recentes em considerar a estratégia como prática, conforme você pode perceber no Quadro 1. Achou complexo? Calma! Essas explanações iniciais são fundamentos teóricos importantes para construirmos o nosso conhecimento sobre o assunto. Como qualquer construção, precisamos começar do alicerce, que é justamente os fundamentos teóricos, que depois aplicaremos em diversas situações concretas. A teoria sobre o assunto, como em qualquer outro campo do conhecimento, não é definitiva, ou seja, é algo dinâmico e, se você se interessar mesmo pelo tema, pode se tornar um grande especialista! O que aconteceu com a Microsoft com o advento da Internet é bastante ilustrativo de como as estratégias podem mudar. De um planejamento que encarava a internet como algo insipiente para uma estratégia que incorpora a Internet como nova forma de pensar os negócios da empresa, a evolução foi brutal. E pensar que essa evolução decorreu das críticas feitas por dois colaboradores da empresa que nem tinham posição hierárquica relevante! Eles conseguiram levar para os altos escalões o fato de a Internet estar crescendo em uso de forma exponencial e não poderia ser ignorada. Nesta aula, você foi introduzido ao histórico da Estratégia, compreendendo, ao final, como a estratégia é fundamental para as organizações. A forte influência do meio militar, das guerras, é claramente perceptível, tanto na questão da formulação estratégica quanto da sua condução. Evidentemente, por serem as organizações uma construção social, ou seja, feita por pessoas, a dinâmica da estratégia é a própria dinâmica social, evolutiva, progressiva e mutável. 15 02 Estratégias Pretendidas Versus Estratégias Realizadas 16 Prezado(a) aluno(a), É importante que você saiba que, na academia, especialmente nas Ciências Humanas, há diferentes correntes de pensamento sobre vários temas. É o caso do tema “estratégia”. Apesar de os estudos e pesquisas chegarem a conclusões próximas, há alguns pensadores que vale a pena conhecer mais de perto. É o caso de Henry Mintzberg, originalmente professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology), dos Estados Unidos, reconhecidamente um dos mais importantes centros de produção de conhecimento do mundo. O trabalho de Mintzberg é relevante especialmente por conta do viés prático que ele vincula aos seus estudos. O foco desse pesquisador é o que acontece no que chamaríamos de agir organizacional. Por exemplo, em uma das abordagens de seu trabalho, Mintzberg (2004) considera os estudos do chamado “pai da Administração Científica”, Frederick W. Taylor – muito conhecido na administração por sua aplicação de métodos científicos no chão de fábrica – conforme demonstrado pela pesquisadora Mariann Jelinek, segundo a qual Taylor, ao estabelecer as tarefas rotinizadas, padronizadas, vai muito além do aumento da produtividade. De acordo com essas conclusões, [...] a contribuição de Taylor em suas famosas experiências no estudo formal e rotinizado do trabalho manual não foi somente para melhorar em muito os procedimentos, mas para iniciar uma verdadeira revolução na maneira de organizar o trabalho - “a codificação das tarefas rotineiras”. Taylor “tornou possível, pela primeira vez, a coordenação de detalhes em larga escala - com uma política de planejamento e pensamento, acima e além dos detalhes da tarefa em si”. Isso levou a uma divisão fundamental de trabalho - entre o desempenho da tarefa e sua coordenação. E isso, por sua vez, capacitou a administração a ser “abstrata”, distante das operações do dia-a-dia, para que “pudesse se concentrar nas exceções” (MINTZBERG, 2004, p. 33). Como podemos entender essa colocação de Mintzberg? Você já deve ter presenciado algum gerente dizendo que fica “apagando fogo” o dia todo, não é verdade? Essa expressão significa que esse gerente está abarrotado de tarefas da rotina do dia a dia 17 que não estão padronizadas, não pertencem a um processo definido e, portanto, exigem atenção constante, sobrando pouco ou nenhum tempo para atividades mais importantes tais como pensar a organização como um todo. Fica claro, então, que com a padronização de tarefas em procedimentos operacionais, o benefício chega aos níveis mais altos da organização, pois quando as tarefas estão codificadas e sob controle, é possível definir o tempo dos gestores na administração das exceções e, a partir de então, eles passarem a dar a direção estratégica que as organizações exigem. Ao focar mais de perto sobre estratégia, Mintzberg (2004) traz a visão de gestores que definem estratégia como um plano ou um guia para ações futuras, um caminho a ser percorrido em busca de objetivos. A dificuldade desses gestores é justamente descrever estratégias passadas, pois se a estratégia é um plano, um guia para o futuro, aquilo que ocorreu no passado deixa de ser estratégia (MINTZBERG, 2004). Como administrador, lembro que os gestores precisam estabelecer objetivos no tempo, marcos a serem atingidos, então, a estratégia usada no passado teve o objetivo de trazer a organização até esse marco no tempo, o que não invalida a definição de estratégia como plano. Porém, o fato de que a organização vai percorrer caminhos para alcançar seus objetivos abre a possibilidade de definirmos estratégia também como um padrão, ou seja, um comportamento, um modo de agir consistente, ao longo do tempo. Um 18 exemplo disso seria o caso de uma organização decidir trabalhar com nichos de mercado, focando em determinadas classes sociais. Outro padrão poderia ser o de trabalhar com soluções tecnológicas para empresas. Ainda outra possibilidade é ter foco em serviços de entretenimento. Você poderia pensar em diversas outras possibilidades. Isso valida duas possibilidades para a definição de estratégia: a que a define como um plano e outra que a define como padrão. As duas são igualmente válidas – dependendo do contexto abordado ou do horizonte de tempo considerado. Para entender melhor essa questão, Mintzberg (2004) descreve estratégia como plano como estratégia pretendida, e, por outro lado, a estratégia considerada padrão é chamada por ele de estratégia realizada. O ponto aqui é claro, não é mesmo? Aquilo que se pretende fazer no futuro, ou seja, a direção que a organização quer seguir é o que ela “pretende” fazer, enquanto que aquilo que aconteceu, que está no passado, é o que de fato foi “realizado”. O mundo dos sonhos dos gestores é que tudo o que eles pretendessem fazer realmente acontecesse, ou seja, que a estratégia pretendida fosse igual à estratégia realizada. Existe, no entanto, quase sempre uma distância entre a estratégia pretendida e a estratégia realizada. 19 Figura 1: Tipos de estratégia | Fonte: Mintzberg (2004, p. 35). Conforme Mintzberg (2004) bem destaca, se por um lado, quando a estratégia pretendida for exatamenteigual à estratégia realizada, isso poderia ser considerado um resultado brilhante; por outro lado, também poderia indicar uma previsão inflexível. Ainda outra análise possível é que, se nada do que se pretendeu ocorreu de fato, a elaboração da estratégia foi desastrosa ou, no mínimo, negligente. Por conta disso, o fato é que, no mundo real, pensa-se, sim, sempre à frente, porém, fazem-se correções durante o percurso. Para visualizarmos esse argumento, veja a Figura 1, a seguir: Veja que a figura demonstra a evolução de uma estratégia, através de setas, mostrando, por uma seta, o início de uma estratégia pretendida, que se torna uma estratégia deliberada, mas que é influenciada por uma estratégia emergente até se tornar uma estratégia realizada, que é o resultado da estratégia pretendida, influenciada pela estratégia emergente. 20 Você conseguiu assimilar o que a Figura 1 demonstra? Sempre a estratégia pretendida é uma estratégia deliberada, significando que ela foi pensada e construída previamente para ser praticada, para se tornar uma estratégia realizada. O que acontece, na prática, é que nem toda estratégia pretendida de fato se concretiza. É perceptível, pela figura, que ao longo do tempo, outro tipo de estratégia pode surgir: a estratégia emergente. Mas o que dá origem a essa estratégia emergente? De fato, essa estratégia emergente não fez parte da estratégia pretendida originalmente, mas como Mintzberg (2004) pontua, alguns fatores podem fazê-la surgir para atender novos cenários ou condições de mercado, por exemplo. Mintzberg (2004), a título de ilustração, considera o caso de uma empresa que não segue inicialmente uma estratégia (plano) de diversificação, ou seja, não é uma estratégia pretendida aplicar a diversificação nos seus negócios. Com o passar do tempo, no entanto, ela diversifica sua atuação. Por exemplo: inicialmente, compra um hotel, depois adquire um resort, na sequência, faz a aquisição de um restaurante e mais adiante, também compra um hotel urbano com restaurante. Após essa última aquisição, de um hotel urbano com restaurante, a empresa passa a comprar um segundo empreendimento com as mesmas características, em seguida, um terceiro e assim sucessivamente, até que seu padrão (estratégia realizada) seja a de diversificação de negócios, com a atuação forte em hotéis urbanos com restaurante. Essa diversificação não estava contemplada inicialmente, na estratégia pretendida, mas emergiu como estratégia ao longo do tempo. A estratégia emergente ficou claramente demonstrada, não concorda? 21 Acesse o link: Disponível aqui A disputa por pontos de mercado no segmento de automóveis está obrigando as grandes montadoras globais a buscar parcerias com a antes temida potência industrial, a China. Exemplos não faltam de parcerias nesse sentido. Veja relatos na reportagem, que você pode acessar no link a seguir. Talvez você conheça outros casos como esse. Lembro-me de um caso em que o empreendedor iniciou com um quiosque para lanches, sendo seu carro-chefe os hot- dogs (nosso famoso cachorro-quente). Em seguida, ampliou o negócio e começou a servir pizza. Depois, na sequência, rodízio de pizza e petiscos, até que o negócio se transformou em uma grande pizzaria. A estratégia pretendida realizou-se em parte, 22 https://www.autoo.com.br/carros-chineses-de-grandes-montadoras-prepare-se-para-uma-nova-realidade/ porém, uma estratégia emergente, que surgiu ao longo do caminho, dominou suas ações e transformou o negócio. Você sabia que a Toyota começou construindo teares para fabricação de tecidos? Esses exemplos nos mostram a relevância do trabalho de Mintzberg, pois outros pesquisados do tema não levam em consideração as estratégias emergentes e focam apenas na estratégia como processos deliberados. Para entendermos que as estratégias emergentes são realmente importantes e existem no mundo real, Mintzberg (2004) aponta para uma pesquisa da revista Fortune – periódico dos mais respeitados no mundo dos negócios – na qual constata que menos de 10% das estratégias são implementadas com sucesso. Por que tantos fracassos? A resposta mais simples, dada pelos gestores, é a que transfere a responsabilidade pelo insucesso aos níveis inferiores da hierarquia organizacional. Porém, se isso realmente acontece, só comprova a deficiência na formulação estratégica, que não levou em conta a importância desses níveis – muitas vezes chamados de “chão de fábrica” – na estratégia pretendida. Mintzberg (2004, p. 36) aponta o dedo para a ferida por afirmar que “todo fracasso de implementação também é, por definição, um fracasso de formulação”. Ou seja, não levar em conta a complexidade de implementação da estratégia é uma falha no momento de formulação dessa mesma estratégia. Interessante isso, não é verdade? 23 Por isso, na avaliação de Mintzberg (2004), não deve haver uma separação entre formulação e implementação da estratégia: ambas as fases devem caminhar juntas ou muito próximas uma da outra. As estratégias de maior sucesso são aquelas em que os gestores participam tanto da formulação quanto da implementação, ou quando esses gestores delegam maior poder aos colaboradores que, uma vez treinados e capacitados, podem executar essa implementação. Uma pontuação muito importante é que a estratégia emergente não necessariamente precisa partir sempre dos altos escalões da organização, ou seja, nem sempre é a alta administração que dá origem à estratégia emergente. Por vezes, uma nova estratégia surge das interações do pessoal da “linha de frente”, ou mesmo de setores de suporte, que, ao adotar uma nova ação que dá resultado, é seguido por outros colaboradores, dando origem a um novo padrão, que se torna uma nova estratégia. Embora esse novo padrão não tivesse sido previamente planejado, foi assimilado como um processo coletivo (MINTZBERG, 2004). A estratégia pretendida é aquela em que os gestores pensam um caminho a percorrer, visando um objetivo futuro. A estratégia realizada é um padrão do que os gestores colocaram em prática. A estratégia emergente é a que surge ao longo do percurso, levando a ajustes de rota por parte dos gestores. Mais uma pontuação que devemos fazer nesse momento: muitos autores do tema de gestão estratégica consideram “estratégia” as coisas mais relevantes da organização enquanto tratam os detalhes como sendo “táticas”. Pelo que vimos até agora, um detalhe pode se tornar tão importante com o passar do tempo – e se assimilado pelo coletivo – que pode se tornar estratégico para a organização. Ou, como Mintzberg (2004) bem pontua, a estratégia de um é a tática de outros, enquanto o que antes foi um detalhe tático pode se tornar estratégico. 24 Organizações globais muitas vezes adotam estratégias diferentes para o mesmo produto, dependendo do país ou região em que atuam. Um caso interessante é o da rede de restaurantes McDonald’s. Na maioria dos países, trabalhar com carne bovina não é problema. No entanto, na Índia, por questões culturais e religiosas, a carne bovina não é utilizada. Por isso, foi naquele país, em 2014, que a rede abriu seu primeiro restaurante vegetariano do mundo. Assim, ao pensar em um negócio, é importante que o empreendedor pense nas preferências regionais provocadas pela cultura, questões econômicas ou mesmo religiosas que podem impactar positiva ou negativamente seu negócio. Nesta aula, entendemos como as organizações, por meio de seus gestores, procuram pensar as estratégias de modo que elas se concretizem. Porém, nem sempre uma estratégia pretendida é a estratégia realizada, pois há influências diversas que podem fazer surgir uma estratégia emergente, que acaba por ser incorporada ou até mesmo substituir a estratégia pretendida. Isso é perfeitamente normal em ambientes dinâmicos, nos quais as organizações estão inseridas. A habilidade dos gestores em aproveitar-se das melhores oportunidades pode fazer com que as estratégias realizadas sejam as mais benéficas para suas organizações em termos de resultados. 25 03 Contexto Histórico da EstratégiaOrganizacional 26 Prezado(a) aluno(a), Como em um campo de batalha, o mercado organizacional é um ambiente competitivo sempre em ebulição. Nesse campo de batalha, a sustentabilidade organizacional é um ponto que deve ser considerado como primordial para o sucesso das organizações e seria, por si só, motivo su�ciente para que as estratégias fossem elaboradas e pensadas para combater as adversidades encontradas no ambiente corporativo. No entanto, é essencial que observemos o contexto histórico que resultou neste ambiente atual tão competitivo e desa�ador. Um resgate importante é o que ocorreu com a intensi�cação da produção em massa ocorrida no início do século XX. Como você talvez saiba, os métodos de produção mecanizados possibilitados pela Revolução Industrial proporcionaram um aumento extraordinário da capacidade produtiva das fábricas. Porém, com os trabalhos de Frederick W. Taylor, no início do século XX, e seus estudos de padrões de trabalho e de tempos e movimentos, seguido do resgate de Henry Ford dos conceitos da linha montagem, as fábricas passaram a produzir uma quantidade de produtos muito superior a qualquer outra época anterior. A era industrial torna-se, então, uma realidade que transforma a sociedade para sempre. Henry Ford revolucionou os métodos de produção, dominando mais de 50% da produção mundial de automóveis com o modelo “T” criado em 1912, impulsionando o surgimento da chamada “classe média” americana. A modi�cação dos sistemas de produção impulsionou o mercado de consumo de forma avassaladora, o que alavancou a economia dos Estados Unidos e levou aos Roaring Twenties (em tradução livre, os Loucos Anos Vinte) em 1920, uma época de intensa prosperidade econômica marcada pelo consumo desenfreado e ampliações 27 de crédito. No entanto, a euforia não durou muito tempo e logo ocorreu A Grande Depressão com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, desencadeando o colapso da economia que afetaria o mundo todo. Para encontrar uma saída para a grande crise, as indústrias precisaram desenvolver uma nova forma de apresentar seus produtos para os consumidores em um mercado saturado e de baixa demanda. Por esses motivos, entre a década de 1920 até meados de 1950, novas estratégias de venda foram elaboradas e implantadas, conforme Sertek, Guindani e Martins (2012). A partir daí, dos anos 1950 até 1990, as organizações tiveram de criar formas de atrair os consumidores visto que, apesar de existirem produtos e força de venda, faltavam um elemento crucial: estratégia! Sem estratégias mercadológicas bem constituídas, as empresas perdiam a chance de cativar o consumidor e aumentar seus lucros. Dessa forma, ganhou força o Marketing, uma estratégia de abordagem para atrair novos consumidores de forma mais direta e especi�ca. Da década de 1990 até os dias de hoje, muita coisa mudou. O mundo foi transformado pela tecnologia e multinacionalização, permitindo a expansão de mercados para as empresas. As tecnologias de informação e comunicação (TICs) permitiram que as empresas se aproximassem de seus clientes de forma mais 28 Figura 2 - Evolução da de�nição do foco estratégico | Fonte: Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 107). personalizada e efetiva, por meio da elaboração de novas técnicas de relacionamento ampliadas pelos princípios do CRM (Customer Relationship Management), ajudando a empresa a agrupar as informações sobre seus clientes, gerando per�s de consumo e descobrindo também formas de obter novos clientes. Conforme destacam Serket, Guindani e Martins (2012), isso possibilitou que os gestores obtivessem uma forma mais efetiva de administração de suas empresas. No entanto, a evolução da tecnologia não trouxe só benefícios, mas também diversos desa�os. Com o surgimento de novos modelos de negócio e com o volume imensurável de informações disponíveis, os gestores tinham nas mãos o grande desa�o de gerir o tempo e foco selecionando quais dados eram relevantes para o desenvolvimento e ampliação das empresas. E é dessa forma que chegamos à era atual de gestão do conhecimento, conforme mostra a evolução do desenvolvimento estratégico na Figura 2: Com as mudanças constantes no mercado �nanceiro e consumerista, na gestão de clientes e na forma com a qual as empresas se relacionam com seu público que ocorreram ao longo das décadas, o modo de pensar o planejamento das organizações também teve que se adaptar e ser modi�cado, conforme bem colocam Sertek, Guindani e Martins: Nas décadas de 1950 e 1960, o planejamento se restringia ao PLANEJAMENTO FINANCEIRO, no qual o controle era representado por meio de orçamentos anuais. Tais atitudes eram assim realizadas porque permitiam um controle em relação ao orçamento de�nido pela empresa. A prática era justi�cada porque representava o dinheiro de que a empresa dispunha em caixa, e o quanto ela poderia dispor para investir durante o ano. Era um modelo aceitável, em razão de que, até então, não havia diversi�cação de negócios (SERTEK, GUINDANI e MARTINS, 2012, p. 107-108). 29 Porém, com a crise do petróleo iniciada no ano de 1973, foi necessário que as organizações previssem alterações antecipadamente em mercados cada vez mais competitivos. Desse modo, o planejamento deixou de ser somente imediato e de controle �nanceiro para se adequar as exigências de um Planejamento de Longo Prazo, antecipando possíveis mudanças de mercado e segmentos ainda não explorados. As empresas que não se adequaram a tais exigências do mercado foram se tornando obsoletas e, consequentemente, deixando de existir. Para conhecer o poder e o volume de negócios de grandes corporações, consulte o site da B3 (Brasil Bolsa Balcão) – antiga BMFBovespa – e analise as altas, baixas e valorização de ações de empresas que você conhece, como Vale, Petrobrás, entre outras. Você se surpreenderá com o resultado. A seguir, é apresentado o progresso da gestão estratégica das empresas entre a passagem dos séculos XX e XXI. 30 Tabela 1: Evolução da gestão estratégica | Fonte: Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 109). A partir de 1980, o acirramento da competição e a evolução dos mercados obrigaram as empresas não só a pensar no longo prazo, mas também a de�nir estratégias para atuar neste novo ambiente. Anos 1950 e 1960 Anos 1970 Anos 1980 Anos 1990 Após 2000 Planejamento �nanceiro Planejamento a longo prazo Planejamento estratégico Gestão estratégica Gestão do conhecimento Abrangência Orçamento anual Projeção de tendências Análise de lacunas Pensamento estratégico Análise das mudanças no ambiente Análise das forças e das fraquezas da organização Flexibilidade Ênfase na informação Conhecimento como recurso crítico Integração de processos, pessoas e recursos. Globalização Mercado mundial Trabalhos gerais Era digital Habilidades e competências gerenciais Ênfase Cumprimento do orçamento Projetar o futuro De�nir a estratégia Integrar estratégia e organização Poder da informação Problemática Orientação pela disponibilidade �nanceira Não previsão de mudança Dissociação entre planejamento e implementação Amplitude de controle Excesso de informação 31 O pensamento estratégico, somado à análise das mudanças no ambiente, às forças e às fraquezas das organizações, permitiu às empresas de�nirem sua estratégia como o diferencial no mercado em que atuavam (SERTEK, GUINDANI e MARTINS, 2012, p. 110). Conforme colocações de Sertek, Guindani e Martins (2012), era possível formular estratégias satisfatórias nesse período, porém, havia grandes di�culdades em colocá- las em prática visto que a operacionalização das estratégias era complexa e excessivamente trabalhosa. Com o avanço do desenvolvimento estratégico, sobretudo a partir da década de 1990, tornou-se cada vez mais imprescindível a existência de uma gestão estratégica para uni�car os objetivos de uma empresa em um processo integrado entre colaboradores, recursos e processos. A informação, abundante e livre, torna-se uma ferramenta disponível a todos, com a percepção e entendimento de que taisinformações são para o benefício da empresa, colaboradores e sociedade como um todo. Essa percepção não surgiu de maneira espontânea, foi necessária uma construção e desenvolvimento de capacitação adequada para que as empresas superassem tal desa�o. A partir do século XXI surge a necessidade não só de desenvolver estratégias, mas colocá-las em prática com colaboradores capacitados e competentes para atingir os objetivos planejados. Com a constante evolução dos softwares integrados, inteligência arti�cial e outros recursos, pessoas que efetuam somente trabalhos operacionais e automáticos passam a não ser essenciais para o crescimento de uma organização, uma vez que essas tarefas podem ser facilmente automatizadas. A necessidade é por pessoas que possuem habilidades e vocação para o mundo corporativo. A escolha assertiva e o alinhamento de colaboradores que sejam compatíveis com os objetivos da empresa se torna essencial para o desenvolvimento pleno das estratégias elaboradas. 32 Alguns autores no �nal do século XX conseguiram prever de forma assertiva como seria a atual conjuntura do ambiente corporativo, como demonstrado abaixo: • a evolução na tecnologia das comunicações; • a integração econômica mundial; • a elevação dos preços de algumas matérias-primas; • a intensi�cação da competição, era da hipercompetição; • o encurtamento do ciclo de vida dos produtos; • a concentração das empresas no chamado core business; • a preocupação acentuada com as questões relativas ao meio ambiente, ética e justiça; • as alianças estratégicas, fusões e aquisições; • a globalização (GONÇALVES, GONÇALVES FILHO e REIS NETO, 2006, p. 38). Consegue enxergar como essas previsões se tornaram, em grande parte, uma realidade atualmente? Entre tais prognósticos, uma das mais notáveis alterações no ambiente corporativo é a internacionalização dos negócios através da globalização e integração mundial. Não basta as organizações focarem no seu planejamento somente tendências ou necessidades locais para o desenvolvimento de um produto ou serviço; com a globalização é necessário que as empresas estejam cientes que o mercado é global, diverso, intenso e competitivo. Com as divergências legais e burocráticas entre países, 33 a concorrência entre produtos de países distintos, com exigências trabalhistas divergentes, pode acabar se tornando uma barreira para o desenvolvimento de empresas que estão em um território com leis menos �exíveis, como é o caso do Brasil. Apesar de existirem muitos críticos da globalização – e eles têm razão em muitas de suas colocações –, o fato é que a globalização também traz muitos efeitos bené�cos, como os apontados por Cardoso (1996, apud Gonçalves, Gonçalves Filho e Reis Neto, 2006, p. 44): A globalização está multiplicando a riqueza e desencadeando forças produtivas numa escala sem precedentes. Tornou universais valores como democracia e a liberdade. Envolve diversos processos simultâneos: a difusão internacional da notícia, a internet, o tratamento internacional de temas como meio ambiente e direitos humanos e a integração econômica global. Como resultados da globalização, podemos apontar a movimentação do capital e do trabalho, a concentração de renda e o aumento do poder de grandes corporações. Através de uma breve coleta de dados na internet, podemos con�rmar que empresas multinacionais podem alcançar níveis de desenvolvimento econômico tão grandes que podem desestabilizar a economia de alguns países. Podemos observar no Quadro 1 a representação do faturamento de grandes corporações do mundo em comparação com o PIB de vários países: 34 Quadro 1: Comparativo do faturamento de empresas mundiais com o PIB de países | Fonte: o autor, com base nos dados da Revista Exame. EMPRESA Faturamento 2010 (em bilhões US) País PIB 2010 (em bilhões US) Wal Mart 422 Noruega 414 Exxon Mobil 355 Tailândia 319 Chevron 196 República Checa 192 Conoco Phillips 185 Paquistão 174 Fannie Mae 154 Peru 153 General Electric 152 Nova Zelândia 140 Berkshire Hathaway 136 Hungria 129 General Motors 135,5 Bangladesh 105 Bank of America 134,2 Vietnã 103,5 Ford 129 Marrocos 103,5 No Quadro 2, podemos analisar o comparativo de empresas brasileiras com desenvolvimento econômico superior ao de algumas nações. 35 Quadro 2: Comparativo empresa brasileira com faturamento maior que país latino | Fonte: Adaptado da Economática. Empresa com faturamento maior que o país EMPRESA PAÍS BB Argentina Itaú Unibanco Colômbia Bradesco Venezuela Petrobrás Chile Santander Brasil Peru Vale Equador BTG Pactual Costa Rica Oi Panamá Telefônica Brasil Bolívia Gerdau Paraguai Esses números são realmente impressionantes, não concorda? Agora pense por um momento na forma como essas megacorporações precisam pensar suas estratégias para continuar sendo líderes em seus segmentos. Para essas corporações, aplica-se o que Yip (1996, apud Gonçalves, Gonçalves Filho e Reis Neto, p. 60) destaca: 36 A estratégia global não deve ser equiparada a um único elemento - produtos padronizados, ou cobertura mundial de marketing, ou rede global de fabricação. A estratégia global, ao contrário, deve ser uma combinação �exível de muitos elementos. A formulação de uma estratégia competitiva global está centrada em: • desenvolver a estratégia essencial do negócio também chamada de core strategy; • internacionalizar a estratégia essencial; • globalizar a estratégia internacional. Podemos observar tais estratégias em corporações globais como McDonald’s, Subway, WalMart, Dell, Microsoft, Apple e muitas outras. As ponderações desta unidade são importantes para introduzirmos entendimentos e conceitos mais aprofundados sobre planejamento estratégico que veremos nas próximas unidades. 37 Nesta aula, foi possível ver como a formulação estratégica das organizações evoluiu com o tempo, desde o ápice da era industrial até a agora conhecida era do conhecimento. A tecnologia da informação e comunicação, sem dúvida, impactou de�nitivamente a forma como a estratégia é elaborada nas organizações. Certamente, veremos em um futuro próximo, os algoritmos desempenhando um papel cada vez mais importante na formulação da estratégia organizacional. Vamos acompanhar isso de perto? 38 04 O Planejamento nas Organizações 39 Prezado(a) aluno(a), Muitas pessoas buscam o planejamento para obter bons resultados em grandes decisões para alcançar o sucesso na vida. Por exemplo, se o objetivo de alguém é comprar uma casa, existe um planejamento �nanceiro para que esse objetivo se torne realidade. Caso alguém tenha o desejo de fazer uma longa viagem internacional, talvez isso envolva aprender um novo idioma, planejar um roteiro de viagem e antecipar possíveis problemas, entre outros detalhes. Agora, pense em uma mudança de carreira: certamente isso requer esforço, realocação de gastos e busca por novos interesses, entre outras necessidades. Em todos esses exemplos, um bom planejamento pode evitar grandes problemas e garantir que o sucesso daquele objetivo seja alcançado. O mesmo princípio pode ser aplicado nas empresas e organizações em geral. Quando existe um bom planejamento e objetivos claros dentro das organizações, as probabilidades de sucesso se tornam atingíveis por meio de lucros e resultados. E as organizações, quando atingem os objetivos institucionais, na forma de lucros e resultados, podem socializar essas conquistas na forma de remuneração do capital aos proprietários e pagamento de salários e outros benefícios para seus colaboradores. Dito dessa forma, signi�ca que todos os envolvidos com a organização, a princípio, desejam que ela seja bem sucedida. Porém, para que resultados satisfatórios sejam atingidos dentro de uma organização, o papel do gestor é essencial. Os gestores são responsáveis por administrar os recursos disponíveis e coordenar a mão de obra existente, aplicando as competências de cada colaborador da melhor e mais apropriada forma possível. Ademais, é necessário também um planejamento de forma completa, considerandoobjetivos de curto, médio e longo prazo para que os resultados sejam sustentáveis. Portanto, você já pode imaginar o tamanho da responsabilidade atribuída aos gestores, ma o nível dessa responsabilidade não é o mesmo em todos os níveis da organização, conforme veremos mais à frente. Neste início, precisamos entender plenamente como o planejamento pode afetar o propósito das organizações. Para isso, vamos compreender um pouco mais dessa palavra que carrega uma carga de signi�cados bastante ampla. 40 Se você tivesse que formular um conceito da palavra planejamento, como você a de�niria? É bastante interessante um conceito oferecido por Barbosa e Brondani (2005, p. 3), que de�nem assim: Planejar signi�ca a formulação sistemática de objetivos e ações alternativas, que ao �nal, a escolha se dará sobre a melhor ação. Também diz respeito a implicações futuras de decisões presentes, pois é um processo de decisões recíprocas e independentes que visam alcançar objetivos anteriormente estabelecidos. Analisando tal conceito, é possível estabelecer que um bom planejamento pode ser aplicado com sucesso na maioria das atividades cotidianas. Barbosa e Brondani (2005) desenvolvem e explanam considerações de Hindle (2002) sobre o avanço do planejamento ao longo da história, mostrando que desde o início da existência humana o planejamento já se mostrava presente em atividades primordiais para a sobrevivência como a caça, pesca, preparo, conservação e armazenamento de alimentos, entre outras funções. Até mesmo a ancestral “dona de casa” tinha que se programar no preparo das refeições, pois não havia sistemas de conservação como temos atualmente. Além disso, segundo Barbosa e Brondani (2005, p. 3), “assim eram desenvolvidos conceitos muito semelhantes ao que hoje se chama cienti�camente de planejamento, controle de orçamento, estoque, produção, logística, etc.” Por exemplo, algumas aldeias da região de Chaoshan, na China, possuíam o hábito de planejar de forma precisa e detalhada o plantio, a colheita e a conservação de alimentos. Muitos alimentos eram preparados em conservas mantidas por meses enterradas em recipientes de barro ou cerâmica até estarem adequadas para consumo no ápice de seus sabores e nutrientes. A culinária chinesa é uma das mais ricas e complexas no mundo todo, visto que havia um planejamento para que os recursos escassos fossem aproveitados da melhor forma possível e ainda existisse diversidade na alimentação da população. Também podemos re�etir em como muitas construções históricas da humanidade foram planejadas e pensadas com antecedência. Dentre elas, destacamos as pirâmides egípcias, a torre Ei�el, a Grande Muralha da China e os jardins suspensos da Babilônia, entre muitas outras grandes obras construídas pelo homem. Essas construções exigiram a elaboração de propósitos a serem alcançados, processos de decisões sobre utilização de material, mão de obra, estratégias e diversos outros pontos para que sua a realização de tais obras fosse possível. 41 Podemos resgatar em alguns conceitos de Steiner (1969 apud Oliveira, 2013, p. 3) as cinco dimensões do planejamento, colocadas no Quadro 1, a seguir: 42 Quadro 1: As cinco dimensões do planejamento de Steiner | Fonte: Adaptado de Oliveira (2013, p. 3). DIMENSÃO EXPLANAÇÃO ASSUNTO ABORDADO Está relacionada às funções desempenhadas pela empresa e que tem a ver com produção, pesquisa, novos produtos, �nanças, marketing, instalações, recursos humanos, etc. ELEMENTOS DO PLANEJAMENTO São os propósitos, objetivos, estratégias, políticas, programas, orçamentos, normas e procedimentos, entre outros. TEMPO DO PLANEJAMENTO De�nição se o planejamento é para o curto, médio ou longo prazo. UNIDADES ORGANIZACIONAIS Está relacionada à de�nição de onde o planejamento é elaborado, ou seja, se é um planejamento corporativo, de unidades de negócio, de subsidiárias, de grupos funcionais, de divisões, de departamentos, de produtos etc. CARACTERÍSTICAS DO PLANEJAMENTO É a de�nição do planejamento por suas características, como complexidade ou simplicidade, qualidade ou quantidade, planejamento estratégico ou tático, con�dencial ou público, formal ou informal, econômico ou caro, etc. Muitos autores concordam que o planejamento envolve um processo, de forma que ocorra a utilização de recursos de modo e�ciente, e�caz e efetivo para que um resultado almejado seja atingido em curto, médio ou longo prazo. Oliveira (2013) difere PLANEJAMENTO de outros conceitos comuns em administração, que são PREVISÃO, PROJEÇÃO, PREDIÇÃO, RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS e PLANOS. Para entender de forma plena o que é Planejamento, vamos analisar as diferenças e correlações entre esses outros conceitos. 43 Fonte: OLIVEIRA, 2013, p. 4 [Adaptado]. Previsão corresponde ao esforço para veri�car quais serão os eventos que poderão ocorrer, com base no registro de uma série de probabilidades. 1 2 3 4 5 Previsão: corresponde ao esforço para veri�car quais serão os eventos que poderão ocorrer, com base no registro de uma série de probabilidades. Projeção: corresponde à situação em que o futuro tende a ser diferente do passado, em sua estrutura básica. Predição: corresponde à situação em que o futuro tende a ser diferente do passado, mas a empresa não tem nenhum controle sobre seu processo e desenvolvimento. Resolução de problemas: corresponde a aspectos imediatos que procuram tão somente a correção de certas descontinuidades e desajustes entre a empresa e as forças externas que lhe sejam potencialmente exclusivos. Plano: corresponde a um documento formal que se constitui na consolidação das informações e atividades desenvolvidas no processo de planejamento; é o limite da formalização do planejamento, uma visão estática do planejamento, uma decisão em que a relação custos versus benefícios deve ser observada (OLIVEIRA, 2013, p. 4). 44 No entanto, como bem destaca Mintzbert (2004), devemos nos manter atentos para que o conceito do planejamento não seja tão amplo de tal forma que seu signi�cado real ou implicações se perca. Isso porque, segundo o autor, intentar o futuro é algo amplo demais, assim como usar a palavra planejamento para pontos que saem do controle do planejador. Ao fazer essa colocação, o autor ainda cita Wildavsky (1973 apud Mintzberg, 2004, p. 23), que explana: Como praticamente todas as ações com consequências futuras são ações planejadas, o planejamento é tudo, e mal se pode dizer que existe a falta de planejamento. A falta de planejamento só existe quando as pessoas não têm objetivos, quando suas ações são aleatórias e não dirigidas para metas. Se todos planejam (bem, quase todos) não é possível distinguir ações planejadas de não planejadas. Por essa razão, Mintzberg (2004, p. 24) chama a atenção para a necessidade de que “precisamos de uma de�nição de planejamento que não nos diga que temos de pensar no futuro, nem mesmo que devemos tentar controlá-lo, mas como fazê-lo”. Desse modo, seu raciocínio sobre o conceito de planejamento sai do plano abstrato e se torna algo mais palpável, formal e concreto, atingindo à seguinte de�nição: Planejamento é um procedimento formal para produzir um resultado articulado, na forma de um sistema integrado de decisões. Para nós, o que capta a ideia de planejamento acima de tudo - distinguindo sua literatura mais claramente e diferenciando sua prática dos outros processos - é sua ênfase na formalização, a sistematização do fenômeno ao qual se pretende aplicar o planejamento (MINTZBERG, 2004, p. 26). Esse esforço que faz Mintzberg em colocar o conceito de planejamento por seus aspectos formais é importante, pois caso isso não seja feito, pode-se perder a força, a intensidade da ideia por deixar-se o termo amplo demais, caindo em um limbo, sem objetividade. Por conta disso, Mintzberg (2004) de�ne três elementos primordiais quando se trata de planejamento: (1) decomposição; (2) articulação e (3) racionalização. 45 Quando se coloca a decomposição como elemento essencial ao planejamento, se considera que é necessárioexistir uma análise dos processos, ou seja, o processo precisa ser seccionado (dividido) em partes de forma que seja compreendido plenamente em diversas etapas que serão, posteriormente, articuladas. Quando se fala em racionalização, entende-se que o planejamento deve ser estruturado e objetivo, tornando os processos mais racionais, processos estes nos quais as decisões são realizadas e futuramente integradas dentro da organização. Ainda segundo Mintzberg (2004), na articulação, após terem sido decompostos em estratégias, subestratégias, programas, planejamentos �nanceiros e objetivos, devem ser descritos de forma clara e explícita, ou seja, formalizados, da forma mais concreta possível, podendo ser usada até mesmo uma folha de papel para isso. “Colocar no papel” remete à etimologia da palavra planejamento, que tem sua origem no latim planum, que signi�ca literalmente “superfície plana”. A utilização de tal palavra se deu pelo fato de mapas e plantas de construções serem realizados em superfícies planas, relacionando o planejamento a documentos formais (MINTZBERG, 2004). Acesse o link: Disponível aqui Os gestores organizacionais formalizam seu planejamento utilizando-se de diversas ferramentas, nas quais procuram deixar visualmente claro os fatores que impactam positiva ou negativamente nas estratégias formuladas. Uma dessas ferramentas é o Business Model Canvas, proposto por Alexander Osterwalder. Veja uma aplicação prática do Canvas em um modelo proposto pelo SEBRAE. A ideia de haver um formalismo em planejamento é praticamente contemporânea ao início de uma produção cientí�ca mais robusta sobre a formação de estratégia nas organizações, por volta da década de 1960, quando, especialmente, a economia 46 https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/bis/quadro-de-modelo-de-negocios-para-criar-recriar-e-inovar,a6df0cc7f4217410VgnVCM2000003c74010aRCRD mundial estava crescendo e as empresas norte-americanas e europeias experimentavam uma expansão em seus mercados. Mintzberg (2004) classi�ca como escola do design a formação de estratégia em que existem algumas premissas básicas, como a adaptação das empresas a fatores externos e internos, criando um ambiente em que a estratégia só exista após uma criteriosa avaliação de elementos positivos e negativos: “As oportunidades externas são exploradas pelas forças internas, ao passo que as ameaças são evitadas e as fraquezas, controladas” (Mintzberg, 2004, p. 44). Quando você se depara com a expressão “escola” na literatura, como por exemplo, “escola clássica”, “escola das relações humanas”, “escola de planejamento” e outras comuns em materiais cientí�cos, estamos nos referindo a grupos de pesquisadores, cientistas que compartilham a mesma orientação teórica e investigam problemas semelhantes. Na Figura 1, podemos observar uma representação da classi�cação da escola do design apresentada pelo autor: 47 Figura 1: Modelo básico de formação de estratégia da escola do design | Fonte: Mintzberg (2004, p. 44). De acordo com Mintzberg (2004), a escola do design pode ser composta da seguinte forma: 1. A elaboração de uma estratégia deve ser um processo de pensamento controlado e consciente. 2. A responsabilidade pelo processo deve ser do executivo principal: o estrategista. 3. O modelo de formação de estratégia deve ser simples e informal. 4. As estratégias devem ser únicas: as melhores resultam de um processo de design criativo. 5. As estratégias devem resultar do processo de design plenamente desenvolvido. 6. As estratégias devem ser explícitas e, se possível, articuladas, o que signi�ca que precisam ser simples. 7. Finalmente, depois que essas estratégias únicas, desenvolvidas, explícitas e simples foram totalmente formuladas, devem então ser implementadas. Tais premissas são utilizadas durante anos por serem bastante razoáveis em uma primeira avaliação e terem se originado na renomada escola de negócios da Universidade de Harvard. 48 Nesta aula, conseguimos visualizar a importância de algumas escolas de pensamento na formulação da estratégia organizacional. Ficou clara a importância da formalização e do desdobramento da estratégia de modo que ela possa ser compreensível e aplicável. De nada adianta uma estratégia muito bem formulada se ela não “conversar” com quem, de fato, vai executá-la. Esse ponto é fundamental para o sucesso de qualquer estratégia. 49 05 Os Princípios de Planejamento de Ansoff 50 Prezado(a) aluno(a), Quando estudamos um tema tão fascinante como planejamento estratégico, encontramos alguns nomes que são expoentes em pesquisa e demonstração de resultados. É o caso de Harry Igor Anso�, matemático e engenheiro russo, que escreveu o livro Estrátegia Corporativa (Corporate Strategy) em 1965, complementando e evoluindo de maneira signi�cativa o conceito de administração estratégica nos Estados Unidos, onde solidi�cou sua carreira, e no mundo todo, tanto que até hoje Igor Anso� é conhecido como o pai da gestão estratégica. Na maior parte dos livros (senão em todos) que você ler sobre este tema, com toda certeza encontrará referências ao trabalho de Igor Anso� (o primeiro nome, Harry, não é muito citado). Figura 1 - Igor Anso�, 1971 | Fonte: Wikimedia Disponível aqui O trabalho de Anso� se diferencia do trabalho da escola do design de Harvard em alguns pontos muito importantes, mas pode-se dizer que ambos têm mais pontos em comum do que divergências. 51 Figura 2: O modelo Anso� de planejamento estratégico Fonte: Mintzberg (2004, p. 47) [Adaptado] Enquanto para a escola do design o planejamento é uma estrutura conceitual mais solta, em que os elementos do planejamento estão no papel, mas são separados somente na fase de implementação, na literatura do planejamento que tem Anso� como um dos seus principais pensadores o planejamento passa a ser um procedimento altamente formalizado, com uma decomposição muito bem elaborada em etapas, sempre apoiada por técnicas e executadas quase mecanicamente. Para exempli�car, observe a Figura 2 abaixo, que mostra um modelo de planejamento estratégico elaborado por Anso�, com a complexidade de 57 caixas: 52 https://uploads-ssl.webflow.com/5e46de0716083062b8f2a03f/5e5513a4566f3afa1846dd56_modelo-ansof-de-planejamento-estrategico.pdf Mintzberg (2004, p.48) explana as premissas básicas da escola originária nos estudos de Anso�: 1. A formação de estratégia deve ser um processo controlado e consciente, bem como formalizado e elaborado, decomposto em etapas distintas, cada uma delineada por checklists e apoiada por técnicas. 2. A responsabilidade por todo o processo compete, em princípio, ao executivo principal; na prática, a responsabilidade pela execução é da equipe de planejadores. 3. As estratégias provêm desse processo prontas, geralmente como posições genéricas, devendo ser explicitadas para que possam então ser implementadas pela atenção detalhada e objetivos, orçamentos, programas e planos operacionais. O foco do trabalho de Anso� em seu livro de 1965 não era o planejamento estratégico em geral, mas, sim, a questão da expansão e diversi�cação das corporações, em um contexto chamado de produto-mercado. Os conceitos elaborados por Anso� foram consolidados através de uma matriz conhecida como Matriz de Planejamento de Anso�, ou somente Matriz Anso�, como demonstrado abaixo na Figura 3: 53 Figura 3: Matriz de planejamento de Anso� | Fonte: Lucca (2013, p. 25) [Adaptado] Essa matriz é fragmentada em duas dimensões: uma de mercados e outra de produtos. Tanto a dimensão de mercados quanto a de produtos são desmembradas em novos e existentes. A intersecção das possibilidades apresentadas por esta Matriz podem gerar quatro cenários: Penetração de mercado: a empresa investe na captação e �delização dos clientes. Desenvolvimento de mercado: a empresa tenta introduzir e fortalecer seus produtos existentes em novos mercados. Desenvolvimento de produtos: a empresa investe em pesquisa e desenvolvimento e aposta na inovação para competir em mercados existentes. Diversi�cação:essa é a estratégia de maior risco, considerando as incertezas dos novos produtos em novos mercados, mas com certeza pode ser a que venha trazer melhores resultados (LUCCA, 2013, pp. 24-25) 54 Conforme destaca Mintzberg (2004), as teorias de Igor Anso� apresentam dois pontos relevantes: disparidade e sinergia. A disparidade dos conceitos de Anso� pode ser interpretada pela diferença entre os objetivos a serem atingidos e a presente situação da empresa. Já a sinergia denota uma ação coordenada, cooperativa e combinada para atingir a expansão desejada. Essa sinergia empresarial �cou conhecida como efeito de “2+2=5”, ou seja, a postura de produto-mercado terá um desempenho combinado maior que a soma de suas partes, ou “efeito que possa produzir um retorno combinado dos recursos da empresa maior que a soma de suas partes” (Anso�, 1979 apud Mintzberg, 2004, p. 50). A ação dos gestores à frente das organizações visa à sua sobrevivência no mercado, representada pela sustentabilidade �nanceira do negócio e o retorno do capital para os investidores. As organizações empresariais são baseadas na geração de lucros, que deve ser maior do que o lucro que seria gerado por uma aplicação tradicional no mercado �nanceiro, por exemplo. Esse, na verdade, é um dos grandes objetivos dos gestores das organizações. O efeito produzido pela aplicação coordenada dos recursos da empresa deve ser maior que a soma das partes. Isso se traduz em produtividade, em lucratividade e, é claro, em retorno aos proprietários. Nesta aula, vimos os princípios da estratégia de Anso�, uma referência obrigatória quando o assunto é planejamento estratégico. Pelas diversas etapas envolvidas no seu modelo de formulação da estratégia, muitos a consideram complexa demais, porém, podemos nos ater a alguns princípios fundamentais, que são a intencionalidade da estratégia, ou seja, ela deve sempre ser provocada pelos gestores da organização. Outro ponto importante é que a decomposição da estratégia em 55 várias etapas auxilia na compreensão e na aplicabilidade da estratégia. Devemos nos lembrar também de que Anso� tinha em mente a expansão e a diversi�cação das corporações, o que pode ser claramente visto na chamada Matriz de Anso�. 56 06 A Questão Ambiental no Planejamento Organizacional 57 Figura 4: Elementos componentes de um sistema | Fonte: Oliveira (2013, p. 26) Prezado(a) aluno(a), Nas unidades anteriores, compreendemos melhor como as organizações nos tempos atuais começaram a se adaptar às novas tecnologias por meio da estratégia e do planejamento, especialmente da década de 1960 até os dias de hoje. Analisar os estudos de Mintzberg e Anso� nos permitiu entender mais plenamente as preocupações principais das organizações e, dessa forma, pudemos perceber que o ambiente de uma organização é um ponto importante a ser considerado para o seu desenvolvimento. Em muitos aspectos, as empresas são sistemas que possuem uma clara relação com o ambiente em que se inserem e se desenvolvem. Oliveira (2013, p.24) de�ne o conceito de sistemas como um “conjunto de partes interagentes e interdependentes que, conjuntamente, formam um todo unitário com determinado objetivo e efetuando uma função”. Quando falamos em planejamento estratégico, é necessário pensar no planejamento desse sistema como um todo para alcançar o resultado esperado. A Figura 4, a seguir, apresenta a representação visual da composição de um sistema: Considerando a �gura anterior, podemos de�nir que: 58 Quadro 1: Elementos componentes de um sistema | Fonte: Adaptado de Oliveira (2013). COMPONENTE EXPLANAÇÃO Objetivos Referem-se aos objetivos dos usuários do sistema e do próprio sistema. Entradas do sistema Forças que fornecem ao sistema os materiais, as informações e as energias para a operação ou processo, o qual gera determinadas saídas do sistema que devem estar em sintonia com os objetivos. Processo de transformação Função que possibilita a transformação de um insumo (entrada) em produto, serviço ou resultado (saída). Saídas do sistema São os resultados do processo de transformação. São as �nalidades para as quais se uniram objetivos, atributos e relações do sistema. Devem ser coerentes com os objetivos do sistema e devem ser quanti�cáveis, de acordo com critérios e parâmetros previamente �xados. Controles e avaliações Tem o objetivo de veri�car se as saídas estão coerentes com os objetivos estabelecidos. Para serem adequados, os controles e avaliações devem ter uma medida ou padrão de desempenho esperado. Retroalimentação (realimentação ou feedback) Reintrodução de uma saída sob a forma de informação, energia, produto, serviço, ou, ainda, tecnologia. É considerada positiva quando a entrada faz aumentar o desempenho de saída. Caso contrário, será negativa. Considerando as informações apresentadas, podemos raciocinar que todo sistema precisa interagir com o ambiente externo que o cerca, visto que não há como um sistema permanecer ativo sem recursos para mantê-lo. É por meio do ambiente externo que um sistema obtém recursos �nanceiros, recursos de mão de obra e de matéria prima, entre outros. 59 Figura 5: Ambiente do sistema-organização| Fonte: Oliveira (2013, p. 27) Oliveira (2013, p. 26) nos apresenta a seguinte de�nição de ambiente: Ambiente é o conjunto de todos os fatores que, dentro de um limite especí�co, se possa conceber como tendo alguma in�uência sobre a operação do sistema. [...]. Ambiente de um sistema é o conjunto de fatores ou elementos que não pertencem ao sistema, mas: 1) qualquer alteração no sistema pode mudar ou alterar os fatores externos ou não controláveis; e 2) qualquer alteração nos fatores externos pode mudar ou alterar o sistema. Analisando tal de�nição, podemos adicionar que os fatores externos alteram um sistema com mais frequência do que o sistema altera o ambiente ao seu redor. Para termos uma melhor compreensão dos fatores externos, controláveis ou não controláveis, analisaremos a Figura 5 abaixo: Como observado no recurso visual apresentado, são vários os fatores externos que podem afetar e serem afetados pelas ações de uma organização. Alguns autores, como Certo e Peter (2010), entendem que existem diversos níveis que uma organização pode afetar e ser afetada devido ao ambiente ao seu entorno, conforme a Figura 6, a seguir: 60 Figura 6: A organização, os níveis de seu ambiente e os componentes desses níveis Fonte: Certo e Peter (2010, p. 31) Detalhando o ambiente geral apresentado na Figura 6, Certo e Peter (2010, p. 30) de�nem o ambiente geral mostrado como o “ambiente externo à organização, formado por componentes que normalmente têm amplo escopo e sobre o qual a organização não tem nenhum controle”. Dessa forma, para compor o ambiente geral, temos os seguintes componentes: O componente econômico indica como os recursos são distribuídos e usados no ambiente. Fazem parte desse componente econômico o produto interno bruto (PIB), lucros do setor econômico, taxas de in�ação, produtividade setorial, taxas de emprego, balanço de pagamentos, taxas de juros, tributos e receitas de consumidores, despesas e débitos públicos. O componente social descreve as características da sociedade na qual se situa a organização. Níveis educacionais, costumes, crenças, estilo de vida, idade, 61 distribuição geográ�ca e mobilidade de uma população fazem parte do componente social. É importante lembrar que, embora as mudanças em uma sociedade possam ocorrer de modo lento ou rápido, elas acabam, inevitavelmente, acontecendo. O componente político compreende os elementos relacionados a decisões governamentais. Exemplos desses elementos incluem estilo de governo, sua atitude diante de várias indústrias, esforços para tentar obter aprovação de projetos por grupos interessados, progressos na aprovação de leis, plataformas de partidos políticos e, algumas vezes, predisposição dos candidatos de se empenhar no cargo. O componente legal consiste na legislação aprovada, ou seja, as regras ou leis que todos os membros da sociedadedevem seguir. No caso do Brasil, como exemplos de legislações voltadas especi�camente para a operação de organizações, temos a Lei de Proteção do Consumidor n° 8.078, de 11 de setembro de 1990, a Lei de Defesa da Concorrência n° 8.158, de 8 de janeiro de 1991, e a Lei do Meio Ambiente n° 6.938, de 31 de agosto de 1981. O componente tecnológico inclui novas abordagens para a produção de mercadorias e serviços, como procedimentos e equipamentos novos. Um exemplo é a tendência contemporânea de utilizar robôs na tentativa de melhorar a produtividade. O aumento do uso de robôs fez crescer em muito a e�ciência das indústrias manufatureiras (CERTO e PETER, 2010, pp. 30-31). Mais adiante em nossas considerações, analisaremos também o ambiente operacional e o ambiente interno. Por ora, vamos tentar compreender melhor o conceito de ambiente geral apresentado. Se �zéssemos uma comparação de um sistema social – como é o caso de uma organização – com sistemas naturais, poderíamos também visualizar os níveis de hierarquia dos sistemas, conforme demonstrado por Bernardes e Marcondes: 62 Figura 7: Comparativo de um sistema organizacional com sistemas físicos e biológicos Fonte: Bernardes e Marcondes (2006, p. 17) É uma maneira interessante de ver as coisas, concorda? Isso traz consequências práticas: um nível superior depende, evidentemente, da e�ciência do nível anterior, ou seja, um grupo depende dos seus constituintes individualmente. Um departamento depende dos grupos que o formam. A organização depende de seus departamentos e assim por diante. Isso denota a necessidade de ordem e e�ciência. Algumas empresas, especialmente na área de tecnologia, colocam em prática diferentes arranjos de hierarquia. Pesquise na internet arranjos como Estruturas em linha, estrutura baseada em projetos e estrutura matricial. Há outros tipos que você pode conhecer pesquisando na internet. Observe que a divisão em níveis é útil para entendermos outra consequência desse arranjo sistêmico: a noção do cliente interno. Na Figura 8, Bernardes e Marcondes exempli�cam esse conceito: 63 Figura 8: Exemplo de divisão de um sistema organizacional Fonte: Bernardes e Marcondes (2006, p. 17) Na organização ilustrada na Figura 8, há interações acontecendo o tempo todo, tanto em sentido vertical como em sentido horizontal. Ao atender um pedido de um cliente externo, por exemplo, disparam-se atividades e tarefas entre os níveis. O departamento de vendas demanda da produção os itens vendidos, e o departamento de produção, por sua vez, demanda de outros setores no mesmo nível ou em níveis inferiores o necessário para o atendimento do pedido. Assim, para o departamento de produção, o departamento de clientes torna-se o cliente interno, que precisa ser atendido e satisfeito. Os níveis inferiores agora têm no departamento de produção seu cliente interno, que igualmente precisa ter sua demanda satisfeita. Esse arranjo sistêmico tem impactos administrativos óbvios: o cliente não é apenas a �gura externa que adquire um produto ou serviço (seja com o pagamento em dinheiro, no caso das empresas ou por ser o objeto de atendimento, no caso de uma fundação ou ONG). Agora, os clientes estão também “dentro” das organizações, pelas interações entre os setores, departamentos e pessoas. A compreensão desse fato faz com que os administradores precisem elaborar estratégias de atendimento especí�cas e e�cazes. De acordo com Oliveira (2013), por serem sistemas abertos, as empresas tendem a estabelecer um equilíbrio dinâmico com seu ambiente, com �uxos contínuos de entradas e saídas de matérias, energias e/ou informações, o que acontece quando se 64 consegue essa relação equilibrada com o ambiente. Em relação a esta relação empresa/ambiente, se nos valermos do que acontece nos sistemas naturais, explicado em grande parte pelo trabalho do biólogo Von Bertalan�y (1972 apud Oliveira, 2013, p. 28) temos algumas situações possíveis, como: Equi�nalidade: um mesmo estado �nal pode ser alcançado, partindo de diferentes condições iniciais e por maneiras diferentes; Entropia negativa: empenho dos sistemas em se organizarem para a sobrevivência, por meio de maior ordenação. É uma função que representa o grau de ordem existente em um sistema. Esses tipos de interação mostram como é dinâmica essa relação empresa/ambiente e, podemos dizer, como praticamente obriga a empresa a se tornar adaptável a esse ambiente. Cada vez mais se usa a palavra “ecossistema” para descrever o ambiente ampliado de um setor, um departamento ou mesmo uma organização, nas suas interações. Várias empresas de um mesmo ramo ou que têm interesses em comum são descritas como “ecossistemas”. Podemos entender que há uma adaptação quando o sistema dá uma resposta a uma mudança que poderia reduzir a e�ciência de comportamento deste sistema. Essa mudança pode ser interna, ocorrendo dentro do sistema, ou externamente, no ambiente externo. Considerando que a organização tem à sua frente gestores de níveis de responsabilidade de�nidas, as mudanças ou adaptações que a organização promoverá serão intencionais, sob a condução desses gestores, que buscam manter o comportamento desse sistema organizacional dentro de parâmetros ou valores determinados. 65 A questão da adaptação para as empresas perante um ambiente mutável e instável é, com certeza, um dos principais desa os das organizações. Os motivos já consideramos em parte: globalização, avanços tecnológicos, novas con gurações de mercado, mudança do per l do consumidor, questões sociais e ambientais e crises econômicas sazonais de maior ou menor intensidade. Se olharmos para o passado, veremos inúmeros exemplos de empresas que tiveram que literalmente se adaptar ou morrer. Algumas morreram. Lembro-me que, quando garoto, minha mãe praticamente me obrigou a fazer um curso de datilogra a (você sabe o que é isso?). Era comum na época ( nal dos anos 1970 e início dos anos 1980) dizer que sem um curso de datilogra a ninguém teria oportunidade de trabalho. E eu realmente z e me foi muito útil durante um bom tempo na vida. Quando trabalhei em escritórios, a datilogra a era fundamental. Para produzir cartas, memorandos, relatórios e uma in nidade de outros documentos, usava-se a boa e velha máquina de escrever. E eu tinha uma preferência: as máquinas de escrever Olivetti. Claro que havia outras, como Remington, Facit e uma “nave espacial”, que era a IBM elétrica, com suas esferas de caracteres que substituíram a barra das máquinas convencionais. Pois bem, onde está a Olivetti, uma das empresas mais importantes da Itália? De uma das maiores companhias do mundo, atualmente, pelo que pude apurar, restam somente algumas operações especí cas voltadas ao segmento de escritórios. Aliás, a última máquina de escrever do mundo foi fabricada na Índia em 2011. 66 A máquina de escrever IBM modelo Selectric e suas esferas de caracteres, 1981: A máquina de escrever Olivetti, década de 1970: 67 Acesse o link: Disponível aqui O avanço da tecnologia tem decretado o �m de histórias de sucesso, como a máquina fotográ�ca de �lme, as videolocadoras, as máquinas de escrever. Você já pensou quantos aparelhos não precisam mais ser usados desde que os smartphones ganharam as funcionalidades atuais? Veja alguns exemplos na reportagem, capturando o QR Code abaixo: Nesta aula, conseguimos visualizar a in�uência do ambiente sobre as organizações e como elas são estruturadas. A Teoria Geral dos Sistemas é importante para enxergarmos as interações internas e externas da organização e como ela in�uencia e é in�uenciada por esses ambientes. O ambiente tem uma força tão grande que pode fazer prosperar ou decretar o �m de uma organização. Por outro lado, a organização que consegue ser dinâmica e se adaptar, costuma colher os melhores resultados nesse ambiente. 68 https://www.techtudo.com.br/listas/2019/12/seis-eletronicos-que-morreram-na-ultima-decada.ghtml 07 Os Diversos Níveis do Planejamento Organizacional 69 Prezado(a) aluno(a), Imagineuma pequena empresa aí da sua cidade, talvez um restaurante ou uma serralheria. Nesse tipo de empresa, geralmente o dono é quem dá as ordens para outros funcionários, que simplesmente as executam. No máximo, existe um encarregado de área ou supervisor, não é assim? É uma con�guração muito comum, já que não faz muito sentido ter diversas divisões hierárquicas quando a empresa tem poucos colaboradores. Já em empresas de porte médio a grande, encontramos com mais frequência uma estrutura organizacional com níveis bem distintos. Essa divisão em níveis hierárquicos determina diferentes níveis de responsabilidade, de acordo com atribuições que lhes são conferidas. Essa hierarquia representa uma especialização vertical da organização, formando uma cadeia de níveis hierárquicos que se sobrepõem e cuja estrutura é muito parecida a uma pirâmide. Basicamente, podemos compreender esses níveis hierárquicos por meio da �gura 9, a seguir: Figura 9: Os níveis organizacionais de uma empresa | Fonte: Chiavenato (2009, p. 22) [Adaptado] 70 Figura 10: Planejamento por nível organizacional Fonte: Nogueira (2014, p. 13) [Adaptado]. Acesse o link: Disponível aqui A organização pode assumir uma estrutura bastante complexa, especialmente se seus negócios envolvem diferentes mercados e uma gama mais abrangente de produtos e serviços. Para de�nição do planejamento estratégico, é preciso �car atento a itens essenciais, entre os quais a comunicação empresarial. Acesse um interessante artigo cientí�co que trata dessas questões: Esses níveis organizacionais também têm uma relação direta no planejamento efetuado pelos gestores. Acompanhando os níveis de responsabilidade, temos a seguinte representação: Oliveira (2013) coloca de forma bastante simples a seguinte relação: 71 http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1679-39512011000400007&script=sci_arttext&tlng=pt Quadro 2: Os níveis organizacionais e suas relações com os tipos de planejamento Fonte: Adaptado de Oliveira (2013). NÍVEL ORGANIZACIONAL TIPOS DE DECISÕES TIPO DE PLANEJAMENTO Estratégico Estratégicas Estratégico Tático Táticas Tático Operacional Operacionais Operacional Torna-se evidente que o planejamento estratégico está relacionado a decisões e objetivos de longo prazo e, para que sejam atingidos, pode envolver o esforço de todo o sistema, ou seja, de toda a organização. Já no planejamento tático, os objetivos são de médio prazo e geralmente envolvem estratégias que afetam apenas partes da empresa. Por exemplo, o gestor de uma unidade de negócio de uma grande empresa pode traçar certas estratégias que envolverão tão somente essa unidade de negócio, embora o resultado �nal possa ser desfrutado por toda a organização. Os executivos e gestores de uma organização operam em suas respectivas áreas de responsabilidade de forma integrada e seguindo um ciclo de planejamento, conforme podemos visualizar na Figura 11, a seguir: 72 Figura 11: ciclo básico dos três tipos de planejamento Fonte: Oliveira (2013, p. 17) [Adaptado] Detalhando mais o que ocorre em cada nível de planejamento, o Quadro 2 apresenta cada um deles: 73 Quadro 2: detalhamento do planejamento segundo o nível hierárquico Fonte: Adaptado de Nogueira (2014). TIPO DE PLANEJAMENTO DETALHAMENTO Estratégico Abrange a organização como um todo, envolve objetivos e estratégias de longo prazo e constituem o ponto de partida para os planejamentos táticos e operacionais. Ao executar um planejamento desse tipo, você precisará manter sua atenção no ambiente externo à organização, focando o cenário econômico, social e político, assim como os comportamentos e preferências do cliente e as ações e posicionamento da concorrência. Os objetivos traçados nesse nível de planejamento são gerais e não �cam restritos a questões especí�cas de alguma área da organização. O planejamento estratégico costuma ser executado pela alta administração. Tático Leva os objetivos gerais para o domínio de uma área especí�ca da organização, como marketing, produção, �nanças ou gestão de pessoas. E, ao realizar um plano tático para o alcance de um objetivo para uma área especí�ca da empresa, é natural que esse plano seja feito com o horizonte temporal de um ano. Geralmente, os gerentes são responsáveis por executar e coordenar esse tipo de planejamento. Operacional O plano operacional se refere a procedimentos e ações especí�cas requeridos nos níveis de execução operacional da organização. Sua execução é um desdobramento do plano tático, e colocá-lo em prática é essencial para apoiar as atividades dos planos tático e estratégico. São orientados para o curto prazo (dias, semanas ou meses) e bastante adaptáveis às circunstâncias que se apresentam no dia a dia. Sua gestão geralmente é realizada por supervisores de primeira linha. 74 Fica bastante claro, também, que planejamento estratégico é o processo administrativo que proporciona sustentação metodológica para se estabelecer a melhor direção a ser seguida pela empresa, visando ao otimizado grau de interação com os fatores externos - não controláveis - e atuando de forma inovadora e diferenciada (OLIVEIRA, 2013, p. 17). Tendo esse enfoque sistêmico de longo prazo, o planejamento estratégico é atribuição para os níveis da Alta Administração, o nível estratégico. No entanto, há outras funções na organização que têm papéis essenciais nas decisões e ações estratégicas. A maior parte dos autores colocam as seguintes funções como essenciais ao processo de planejamento estratégico: 1. Marketing 2. Produção (ou Operações) 3. Finanças Alguns autores colocam em lugar de destaque uma quarta área, que é a área de gestão de pessoas, porque as pessoas são as principais responsáveis pela condução de qualquer tipo de planejamento e em qualquer nível hierárquico. Detalhando essas funções essenciais, Nogueira (2014) explica cada uma delas: Marketing é o processo de atração e retenção de clientes e oferece suporte para a administração estratégica, principalmente em termos do mapeamento das preferências do consumidor, análises de produtos dos concorrentes e de�nições de preço. A área de produção ou operações colabora no sentido de analisar criticamente o projeto de oferecimento de produtos ou serviços, com o objetivo de oferecê-los a um menor custo e prazo e com uma maior qualidade para o cliente. A área �nanceira possui uma contribuição vital para a administração estratégica ao fornecer medidas históricas e de tendência a respeito do desempenho econômico da organização e ao traçar análises �nanceiras que possibilitam uma melhor tomada de decisão. A área de gestão de pessoas pode contribuir ao viabilizar processos de mudança cultural em processos de readequação estratégica, ao 75 Figura 12: Desenvolvimento de planejamentos táticos Fonte: Adaptado de Oliveira (2013, p. 19) realizar gestão do conhecimento organizacional e ao atuar como parceiro estratégico da organização na relação com os empregados (NOGUEIRA, 2014, pp. 14-15). Apesar de focarmos mais destacadamente o nível do planejamento estratégico, devemos sempre nos lembrar de que este planejamento estratégico é desdobrado ou decomposto em objetivos, estratégias e políticas que acontecerão nos níveis inferiores, sendo o nível imediatamente inferior o nível tático. Então, temos no planejamento tático a ocorrência de um processo que se preocupará com aspectos bastante concretos, como o planejamento mercadológico, �nanceiro, de recursos humanos, produção e planejamento da estrutura organizacional. Este planejamento tático pode ser visualizado na Figura 12, a seguir: 76 As organizações trabalham com projeções e, entre essas, a questão orçamentária adquire uma importância fundamental, a�nal, sem recursos �nanceiros, não é possível tocar os negócios e obter resultados. O orçamento nasce de previsões de consumo de recursos de todos os tipos, desde pessoas até investimentos em mídias. Isso auxilia a tomada de decisão, pois os desembolsos devem ser planejados, visando garantir a estabilidade �nanceira da organização. Nãohá como elaborar orçamentos sem a participação dos níveis tático e operacional. Esses níveis são imprescindíveis para que o orçamento seja o mais aproximado possível das situações reais que a empresa vai se deparar. Após terem sido desdobrados no nível tático, passa-se para a fase de formalização no planejamento operacional. Essa formalização acontece através de “documentos escritos, das metodologias de desenvolvimento e implementação de resultados especí�cos a serem alcançados pelas áreas funcionais da empresa” (OLIVEIRA, p. 13). É justamente nesse planejamento operacional que encontraremos os planos de ação, em que teremos de�nidos os recursos que serão demandados para o desenvolvimento e execução desses planos, quais serão os procedimentos que serão adotados, os resultados �nais esperados, o cronograma de execução, os responsáveis pela condução desses planos. Uma questão que pode ser levantada, já que consideramos os três níveis de planejamento organizacional, é: como o planejamento estratégico é executado na prática? Essa questão é relevante, a�nal, estamos falando em pensar no longo prazo, e pensar o futuro não é uma ciência exata. Uma analogia bastante simples para entendermos a complexidade de pensar o futuro é a previsão do tempo que os meteorologistas emitem todos os dias. Vai chover? Fará sol? Quais serão as temperaturas máximas e mínimas? Todos os usuários de serviços meteorológicos e o público que quer saber se leva ou não um guarda-chuva ao sair de casa se interessam por essas questões. Mas será que eles acertam sempre o que vai acontecer nos 77 próximos dias ou até nas próximas horas? Se você saiu de casa em um dia que amanheceu com sol e voltou para casa encharcado porque não levou guarda-chuva, acreditando na previsão do tempo que disse que não choveria, sabe que acertar o que acontecerá no futuro é uma tarefa difícil demais. Assim, um planejamento estratégico pode ter sido muito bem elaborado, com todo o cuidado e utilizando de ferramentas modernas, mas imprevistos podem acontecer e jogar tudo literalmente no lixo. E isso é uma realidade no mundo, o tempo todo. Lembro-me da polêmica dos extintores de incêndio para veículos de passeio. Houve, a princípio, uma determinação para que todos os veículos portassem o extintor tipo ABC, considerado mais e�ciente. No �nal do ano em que essa determinação foi estabelecida, o órgão nacional de trânsito (CONTRAN) de�niu que o uso deste equipamento seria facultativo, pois, segundo aquele órgão, o uso sem preparo do extintor ofereceria mais risco ao usuário do que o próprio incêndio, que, aliás, aconteceria em raros casos. Agora pense nas empresas que se prepararam para fabricar e fornecer o equipamento quando a obrigatoriedade estava em vigor. Quanto foi planejado, investido, trabalhado em todos os níveis das empresas envolvidas e que, de repente, virou pó. Lidar com essas incertezas e mutações que acontecem sem aviso prévio torna-se quase um exercício de futurologia. 78 Figura 13: Planejamento de cenários Fonte: Adaptado de Hill e Jones (2012, p. 26). Assim sendo, como as empresas podem lidar com isso? Hill e Jones (2012) mostram que as empresas trabalham com planejamento de cenários, ou seja, projetam cenários possíveis, alguns otimistas e outros pessimistas. Dentro dessa visão, gestores são alocados para pensar estratégias para cada cenário. Conforme Hill e Jones (2012, p. 25), um conjunto de indicadores é selecionado e eles são colocados como “sinalizadores” para rastrear tendências e identi�car a probabilidade de que algum cenário especí�co venha a ocorrer. A ideia é fazer que os gestores entendam a dinâmica e a natureza complexa do seu ambiente, que pensem como resolver problemas de uma maneira estratégica e gerem um leque de opções estratégicas, as quais possam ser seguidas em circunstâncias diferentes. Algumas estatísticas, trazidas à atenção por Hill e Jones (2012), davam conta de que 50% das 500 maiores empresas do mundo, ranqueadas pela revista Fortune, usam algum método de planejamento de cenários. A dinâmica como isso é processado está demonstrado na Figura 13: 79 No início das operações das TVs a cabo no país, algumas empresas dominaram o mercado. Você talvez se lembre de marcas como TVA e DirectTV. O grupo Globo era acionista em empresas de TV a cabo. Com o advento da internet, os serviços de streaming se tornaram um negócio lucrativo, e o foco de participação nas empresas de TV a cabo pela Globo mudou. Atualmente, a Globo investe pesadamente no serviço de streaming pertencente ao Grupo, o serviço conhecido como Globoplay. Você conhece outras empresas que mudaram o foco estratégico por conta do advento de novas tecnologias e inovações? Vale também pontuar um alerta que Hill e Jones (2012) fazem em relação à formulação do planejamento estratégico. Apesar de ser responsabilidade da alta administração, ou seja, do nível hierárquico estratégico, não se pode criar uma “casta” de pensadores e outras de executores. Isso se mostra quase sempre desastroso. Ilustrando essa a�rmação, os autores resgatam um caso da GE, uma grande corporação cujos planejadores não conseguiram fazer a leitura correta da mudança demográ�ca que estava ocorrendo nas famílias, que diminuíam em número de componentes (menos �lhos ou nenhum �lho). Esses planejadores acreditaram que famílias menores iriam demandar eletrodomésticos menores e, por conta disso, investiram tempo e recursos desenvolvendo equipamentos dentro dessa possível nova realidade. Acontece que essas famílias menores optaram por ter geladeiras grandes para diminuir o número de idas ao supermercado. Todo o planejamento elaborado foi por água abaixo. Esse risco também se materializa por formar barreiras que colocam os gestores dos níveis táticos e operacionais “contra” os gestores do nível estratégico, que não dão a importância necessária aos níveis inferiores. Assim, há ações de “sabotagem” aos planos estratégicos quando não se envolvem os demais níveis na formulação estratégica. Para corrigir estas tendências, 80 [...] exige reconhecer que o planejamento estratégico inclui gestores de todos os níveis da corporação. Uma grande parte do melhor planejamento pode e deve ser feita por gestores de negócios e funcionais, que estão mais próximos dos fatos - o planejamento deve ser descentralizado. O papel dos gestores de nível corporativo deve ser o de facilitadores, que ajudam os gestores de negócios e funcionais a fazer o planejamento estabelecendo os objetivos estratégicos mais amplos da organização e fornecendo os recursos necessários para identi�car as estratégias que podem ser mais adequadas para atingir esses objetivos (HILL e JONES, 2012, p. 28). Nem toda a literatura concordaria com essas colocações de Hill e Jones (2012) mencionadas agora. Porém, mesmo para esses, sempre se pontua o fato de ouvir aqueles que executam, que estão mais próximos dos fatos e principalmente, dos públicos interessados da organização, seus stakeholders. Assim, �cou claro para nós, nesta aula, como as organizações verticalizadas materializam o planejamento estratégico, desdobrando-o para os outros níveis organizacionais. Cada gestor tem um papel fundamental na realização dos objetivos organizacionais, entregando ou cumprindo o que se espera deles em termos de resultados de suas respectivas áreas de atuação. A organização, como sistema, não terá efetividade se os níveis hierárquicos trabalharem de forma isolada. A inter- relação e a interdependência desses níveis são fundamentais. 81 08 Os Públicos Interessados nas Organizações 82 Prezado(a) aluno(a), Nem precisamos lembrar que uma organização não surge por acaso, por geração espontânea. O surgimento de uma organização é marcado pela identi�cação de uma necessidade não satisfeita pelos agentes que estão no mercado e que, portanto, abre um leque de possibilidades para os empreendedores atuarem. E como as pessoas têm necessidades, não é verdade? O próprio fato de existirem organizações é um atestado de que temos necessidades não satisfeitasou que não conseguimos satisfazer isoladamente. O ser humano, frágil como é se comparado a outras criaturas do planeta, precisa de certas ferramentas e dispositivos para tornar sua vida possível e confortável. Além disso, temos outras necessidades de natureza mais intimista, como necessidades de realização, de status, de poder, en�m, o ser humano é complexo em sua natureza e muitas de suas aspirações são atendidas por meio das organizações. Quando um empreendedor decide atuar para atender necessidades não satisfeitas, talvez até de forma inconsciente esteja identi�cando um público interessado em suas atividades empresariais. E esse público não �cará restrito aos compradores e usuários de seus produtos e serviços. Há muito mais pessoas e entidades que, igualmente, se interessarão pelas ações e resultados da organização que ganhará vida. A esses públicos interessados denominamos stakeholders, palavra que signi�ca basicamente partes interessadas. 83 Figura 1: os stakeholders e o empreendimento Fonte: Adaptado de Hille Jones (2012, p. 43) Um empreendedor não age isoladamente e não consegue sobreviver em sua atividade se não tiver inúmeros laços de relacionamento com diversos públicos. Quando a empresa ganha corpo e se torna uma grande corporação, esses laços tornam-se ainda mais diversi�cados. Podemos dizer que há stakeholders - ou partes interessadas - internos e externos. Consegue identi�car stakeholders internos? Os proprietários (em empresas de capital aberto são os acionistas) são sem dúvida um público interno muito interessado na organização. Os funcionários, os gestores, os executivos, membros de um conselho de administração ou conselho �scal também são classi�cados como público interno. Os stakeholders externos poderiam ser, por exemplo, indivíduos e organizações fora da empresa que possuem algum tipo de direito ou demanda sobre a empresa tais como bancos, credores, fornecedores, o governo, sindicatos, comunidades, entre outros. Sem nunca esquecer, é claro, do principal stakeholder externo, que é o cliente ou consumidor. Podemos apresentar essa ideia por meio da Figura 1, a seguir: 84 Acesse o link: Disponível aqui O governo não é somente um dos principais stakeholders da organização como recebedor de tributos, mas também é um dos principais compradores do mercado. O governo compra de tudo em termos de produtos e serviços. Para que essas compras aconteçam, é preciso alguns requisitos, além de participar das licitações que o governo promove. Conheça o portal de compras do Governo em: Conforme Hill e Jones (2012) pontuam, todos os stakeholders têm algum tipo de relação de troca com a organização. “Cada grupo de stakeholders fornece importantes recursos (ou contribuições) para a empresa e, em troca, cada um espera que seus interesses sejam satisfeitos (por meio de recompensas)” (HILL e JONES, 2012, p. 43). Pense, por exemplo, nos acionistas, que estão no grupo dos stakeholders internos. Quais seriam seus interesses? Sem dúvida, por terem colocado capital de risco na empresa, esperam um retorno sobre seus investimentos, ao máximo possível. Quando esse grupo de interesse colocou à disposição da empresa esse capital, sem dúvida sabia que esse recurso estaria sob risco, mas conscientemente não espera perder o valor investido ou sofrer prejuízos. Portanto, deposita nos gestores, que são seus representantes, um nível de con�ança muito alto, certos de que esses gestores tomarão as melhores decisões possíveis não só para preservar esse capital investido, mas também para multiplicá-lo. Mesmo que a empresa seja de poucos sócios ou apenas um empreendedor, esses também requerem que o capital investido retorne, e alguns até têm expectativa de prazo para esse retorno, o famoso payback, ou prazo de retorno do capital investido. Outros grupos têm interesses distintos, como é o caso dos credores, que querem que seus empréstimos sejam quitados no prazo e com os juros combinados. Os funcionários têm interesse de serem remunerados de forma justa, com estabilidade 85 https://www.comprasgovernamentais.gov.br/ em seus empregos e bom ambiente de trabalho em troca de seus talentos, habilidades e comprometimento. Os fornecedores abastecem a empresa de tudo aquilo que a empresa não consegue produzir internamente. Podem ser matérias-primas, produtos semiacabados, insumos e serviços. Eles querem, em troca, receber os pagamentos por esse fornecimento e �delização nas compras. Os governos estabelecem regras e ambiente de negócios para as empresas, mantendo a competição em níveis justos e aceitáveis. Devem fornecer um ambiente de negócios estável em termos de legislação e certa proteção contra fraudes e insegurança. Como contrapartida, os governos esperam receber tributos e que as regras estabelecidas para sua apuração sejam obedecidas. As comunidades onde as empresas se instalam ou pretendem se instalar fornecem a infraestrutura necessária, mas também têm expectativas em relação ao comportamento socioambiental correto da organização. E quanto aos consumidores ou clientes? Esse público, do ponto de vista da empresa, tem expectativas em relação à qualidade dos produtos e serviços fornecidos de que esses tenham uma relação de valor que lhes pareça compensadora. Identi�car corretamente os stakeholders pode livrar a organização de dissabores futuros que, em algumas situações, levam à inviabilização de projetos importantes. Este fato é comprovado por muitas obras de infraestrutura, que envolvem milhões de reais, paralisadas por conta de embargos motivados por órgãos ambientais ou por impactar comunidades indígenas ou quilombolas. Essas paralisações provocam um prejuízo imenso para a sociedade e um desperdício de dinheiro público. 86 É evidente que os gestores precisam levar em consideração os interesses de todos esses públicos - o que não é simples, e muitas vezes nem é possível atender os stakeholders no mesmo nível de expectativa. Isso se dá porque, muitas vezes, os interesses são con�itantes. Hill e Jones (2012) destacam que os gestores concluem que três grupos de stakeholders devem ser satisfeitos antes dos outros e esses grupos são: consumidores, funcionários e proprietários (ou acionistas). Ao buscar formular um diagnóstico estratégico da organização, sem dúvida é preciso saber identi�car quais são os públicos de interesse e quais são as suas justas reivindicações. Hill e Jones (2012, p. 44) esclarece que a análise de impacto sobre os stakeholders segue as seguintes etapas: 1. Identi�cação dos stakeholders. 2. Identi�cação de interesses e preocupações dos stakeholders. 3. Como resultado, identi�cação das reivindicações mais prováveis que os stakeholders farão à empresa. 4. Identi�cação dos stakeholders mais importantes segundo o ponto de vista da empresa. 5. Identi�cação dos desa�os estratégicos resultantes. Para que se possa, de fato, formalizar as demandas e expectativas dos stakeholders, a empresa trabalhará sua missão estratégica. Assim, nesta aula �cou evidente que a organização impacta e é impactada por seus públicos de interesse (os seus stakeholders). O nível de impacto pode ser maior ou menor, dependendo se a relação for direta – como é o caso dos proprietários de um lado e os funcionários de outro. Porém, outros stakeholders podem ter justas reivindicações para com a organização. Saber identi�car e atender esses públicos interessados é fundamental na atuação dos gestores. 87 Imagine que você pretenda abrir um bistrô em um bairro bem populoso de sua cidade. Além dos acepipes que servirá, também haverá música ao vivo e um pequeno espaço para dança de casais. Tente descrever como o stakeholders “comunidade” terá interesse sobre o seu futuro negócio. 88 09 Definindo a Missão Estratégica da Organização 89 Prezado(a) aluno(a), Já percebeu, em um bairro novo, como as empresas vão surgindo, uma após a outra, para atender a população desse bairro? São muitas vezes pequenos negócios, de diversos ramos, cuja presença traz certo conforto para as pessoas que moram nas imediações.É evidente que a população atendida por esses negócios no bairro tem expectativas em relação ao que lhe será ofertado em termos de produtos e serviços. Essa população, vista como público consumidor, é um stakeholders, ou parte interessada, das empresas que lhe servem. Os stakeholders têm legítimas demandas sobre as organizações, sejam elas de que porte forem. Para que a organização possa focar no atendimento das expectativas desses públicos interessados, um indicador de que ela fará isso é sua declaração de missão (HILL e JONES, 2012). Segundo Lucca (2013), é também oriunda do meio militar a noção de missão que foi incorporada pelas organizações. E, de fato, você talvez tenha assistido a muitos �lmes de guerra onde um grupo de soldados recebe uma missão. Até um �lme brasileiro de muito sucesso �cou famoso, entre outras coisas, por uma frase: “missão dada é missão cumprida”. A missão “descreve o que a empresa faz” (HILL e JONES, 2012, p. 45). Peter Drucker (conforme citado por Lucca (2013)), considerado uma das maiores referências na administração, declarou certa vez que “uma empresa não se de�ne pelo seu nome, estatuto ou produto que faz; ela se de�ne pela sua missão. Somente uma de�nição clara da missão é razão de existir da organização e torna possíveis, claros e realistas os objetivos da empresa” (LUCCA, 2013, p. 3, grifo acrescentado pelo autor). 90 O nível de importância que uma missão bem formulada pode adquirir é expresso muito bem por outro nome de referência, desta vez no campo do Marketing, Philip Kotler, para quem: Uma missão bem difundida desenvolve nos funcionários um senso comum de oportunidade, direção, signi�cância e realização. Uma missão bem explícita atua como uma mão invisível que guia os funcionários para um trabalho independente, mas coletivo, na direção da realização dos potenciais da empresa (LUCCA, 2013, p. 3) Torna-se claro que a declaração da missão empresarial não deve ser um exercício de marketing interno ou mesmo externo, em que uma bela frase é colocada no site da organização ou emoldurada nas salas dos diversos departamentos. Deve sim ter um signi�cado profundo, sendo um direcionador dos esforços da organização em atender os seus stakeholders. Oliveira (2013, p. 50), falando sobre missão da empresa, pontua que 91 Missão é a determinação do motivo central da existência da empresa, ou seja, a determinação de “quem a empresa atende” com seus produtos e serviços. Corresponde a um horizonte dentro do qual a empresa atua ou poderá atuar. Portanto, a missão representa a razão de ser da empresa (grifo acrescentado). Você talvez já tenha se deparado com a declaração de missão de muitas empresas. Vamos apresentar algumas: Gerdau: Gerar valor para nossos clientes, acionistas, equipes e a sociedade, atuando na indústria do aço de forma sustentável. Gol Linhas Aéreas: Aproximar pessoas com segurança e inteligência. Petrobras: Prover energia que assegure a prosperidade de forma ética, segura e competitiva. Walmart Brasil: Vendemos por menos para as pessoas viverem melhor. Gosto muito da missão divulgada da Disney: “Fazer as pessoas felizes”. Bem, pelo menos no meu caso, isso parece ser verdade. Eu gosto muito dos produtos da Disney, especialmente depois que ela adquiriu a Marvel e passou a produzir �lmes baseados em histórias em quadrinhos, das quais sou fã desde criança. Então, eu �co muito feliz quando consumo alguns produtos da Disney! Tente pesquisar na Internet a missão declarada de outras empresas. Você encontrará muitas declarações muito bem formuladas, que parecem expressar realmente a vocação desta organização perante seus públicos interessados. A missão é uma poderosa ferramenta para que os gestores da organização tenham foco e direcionamento para atender necessidades já existentes ou que possam existir no futuro. O que não faz parte da missão da organização, do seu chamado core business (seu negócio principal), pode ser realizado por parceiros, inclusive ser alvo de terceirizações. 92 Se você é gestor ou empreendedor e, ao fazer o diagnóstico estratégico, percebeu que sua organização não tem uma missão clara e difundida, procure trabalhar isso usando ferramentas que lhe auxiliarão nesta elaboração. Lucca (2013) sugere o uso da ferramenta 5W2H. Você conhece essa ferramenta? Ela é excelente para traçar planos de ação e faz parte das chamadas ferramentas da qualidade, muito utilizadas pelas organizações. As letras “W” e “H” representam iniciais em inglês para perguntas fundamentais. Então serão 5 questões começando com a letra “W” e 2 questões começando com a letra “H”. Basicamente, o 5W2H, questiona: What - O quê? Who - Quem ou para quem? Why - Por quê? Where - Onde? When - Quando ou por quanto tempo? How - Como? How much - Quanto custa? Na aplicação prática, para o uso da ferramenta como auxílio para elaboração da missão empresarial, teríamos o que está expresso no Quadro 1, a seguir: 93 Quadro 1: Aplicação dos 5W2H paradeclaração da missão Fonte: Lucca (2013, p. 3) SIGLA QUESTÃO WHAT O que a empresa faz? WHO Para quem a empresa faz? WHY Por que a empresa deve fazer? WHERE Para onde a empresa faz? WHEN Há quanto tempo se faz? HOW Como a empresa faz? HOW MUCH Quanto custa? Se você analisar com cuidado, perceberá que responder essas perguntas vai requerer uma profunda análise dos processos empresariais em vigência ou aqueles que se pretende implantar. Muitos gestores se surpreendem quando descobrem que muitas coisas que se realizam na empresa contribuem muito pouco ou quase nada para a realização da missão da organização. 94 Hill e Jones (2012, p. 45) pontuam que na declaração de missão, deveria ser possível responder as seguintes perguntas: “Qual é o nosso negócio? Qual será o nosso negócio? Qual deveria ser o nosso negócio?” Assim, para esses autores, [...] a empresa deveria de�nir seu negócio em três dimensões: quem está sendo satisfeito (que grupos de consumidores), o que está sendo satisfeito (que necessidades dos consumidores) e como os consumidores estão sendo satisfeitos (por meio de que habilidades, conhecimentos ou competências) (HILL e JONES, 2012, p. 45). 95 Figura 1: De�nindo o negócio Fonte: Adaptado Hill e Jones (2012, p. 46) Acesse o link: Disponível aqui Vários especialistas contribuem com sugestões sobre como formular uma missão signi�cativa para as organizações. Quer conhecer sugestões da Endeavor, um dos melhores portais de empreendedorismo do mundo? Na intersecção das respostas a essas questões, estabelece-se qual, de fato, é o negócio da empresa. Isso pode ser ilustrado pela Figura 1, a seguir: 96 https://endeavor.org.br/estrategia-e-gestao/missao/ É muito importante, ao pensar na de�nição do negócio, não focar nos PRODUTOS e sim nos PÚBLICOS INTERESSADOS, especialmente nos CLIENTES. Isso porque devemos lembrar que um produto é apenas uma solução temporária para uma necessidade que poderá, a qualquer momento, ser satisfeita mediante uma alternativa mais criativa ou inovadora. De�nir uma missão em função de um produto é quase um atestado de prazo de validade da organização: ela só durará enquanto o produto ainda for atrativo. Evidentemente, não é isso que os donos do negócio querem para suas organizações, não é mesmo? Assim, nesta aula �cou clara a importância da de�nição da missão organizacional, ou seja, mostrar claramente o motivo pelo qual a organização veio à existência. Há técnicas para construir essa declaração de missão, mas é importante que ela realmente faça sentido para todas as partes interessadas da organização. 97 10 Definindo a Visão Estratégica e os Valores da Organização 98 Prezado(a) aluno(a), Entender o motivo da existência de uma organização, ou seja, sua missão, é imperativo para que as pessoas possam se mobilizar para atender ou cumpri-la. Porém, mais elementos são requeridos para que as organizações tenham sucesso e construam uma reputação ou marca que seja respeitada por seus stakeholders. Estamos falando especi�camente da visão estratégica e dos valores daorganização, tópicos que vamos discutir a partir da agora. A visão empresarial Compondo a missão empresarial, outra parte muito relevante é a visão estratégica da empresa. Muitas vezes, há certa confusão entre a declaração da missão e da visão estratégica da organização. Para esclarecer esse assunto, Lucca (2013, p. 5) informa que, “diferentemente da missão, que objetiva expressar a razão de existir da organização somada aos seus valores e diferenciais competitivos, a visão é um macro objetivo estratégico a ser alcançado pela organização no futuro”. A visão declara para onde a organização deseja ir, para qual rumo ela direcionará a empresa. Oliveira (2013, p. 65) estabelece que visão [...] é conceituada como os limites que os proprietários e principais executivos da empresa conseguem enxergar dentro de um período de tempo mais longo e uma abordagem mais ampla. Nesse contexto, a visão proporciona o grande delineamento do planejamento estratégico a ser desenvolvido e implementado pela empresa. A visão representa o que a empresa quer ser no futuro próximo ou distante, de acordo com o horizonte de tempo que os executivos da empresa conseguem visualizar, com adequada competência estratégica. Talvez você já tenha ouvido ou lido uma frase famosa na gestão da qualidade total: “quem não sabe para onde vai, qualquer lugar serve”. A autoria dessa frase é contestada – o mais provável é que seja do �lósofo romano Sêneca e parafraseada pelo escritor Lewis Carroll em “Alice no País das Maravilhas” – mas, de qualquer 99 Figura 1 - Companhia Energética de Minas Gerais forma, ela guarda uma verdade fundamental: é preciso ter um direcionamento, um rumo a seguir, de modo a que os esforços sejam realmente envidados para chegar neste norte estabelecido. Vamos apresentar algumas declarações de visão de empresas que você provavelmente conheça. Algumas dessas visões mudaram com o tempo e você vai perceber o motivo em seguida: A CEMIG, por exemplo, declarava há algum tempo a seguinte visão: “Consolidar-se, nesta década, como o maior grupo do setor elétrico nacional em valor de mercado, com presença em gás, líder mundial em sustentabilidade, admirado pelo cliente e reconhecido pela solidez e performance”. Atualmente, a mesma empresa declara, como visão, o seguinte: “Estar entre os três melhores grupos integrados de energia elétrica do Brasil em governança, saúde �nanceira, desempenho de ativos e satisfação de clientes”. Da mesma forma, a PETROBRÁS declarava a seguinte visão: “Visão 2030: Ser uma das cinco maiores empresas integradas de energia do mundo(*) e a preferida de seus públicos de interesse. (*) métrica: uma das cinco maiores produtoras de petróleo, dentre todas as empresas, com ou sem ações em bolsa. [Fonte para apuração: Relatório anual da Pretroleum Intelligence Weekly - PIW]” Atualmente, a visão que o portal da empresa apresenta é a seguinte: “A melhor empresa de energia na geração de valor para o acionista, com foco em óleo e gás e com segurança, respeito às pessoas e ao meio ambiente”. Outros exemplos de visão empresarial: 100 ORGANIZAÇÕES GLOBO: Queremos ser o ambiente onde todos se encontram. E encontram informação, diversão e cultura, instrumentos essenciais para uma sociedade que busca a felicidade de todos e de cada um. GRUPO PÃO DE AÇÚCAR: O Grupo Pão de Açúcar almeja ampliar a participação no mercado brasileiro de varejo e tornar-se a empresa mais admirada por sua rentabilidade, inovação, e�ciência, responsabilidade social e contribuição para o desenvolvimento do Brasil. Pesquise na Internet outras declarações de visão empresarial. Anote e re�ita sobre aquelas que você achou mais interessantes. Das visões aqui apresentadas, gostaria de destacar duas, que acredito que contenha um elemento que pode passar despercebido, mas avalio como de máxima importância. Veja que, nas visões anteriores da CEMIG e da Petrobras, há um referência a um determinado horizonte de tempo, “nesta década”, “visão 2030”, respectivamente. Por que considero isso importante? Porque a visão é um objetivo de longo prazo, mas ainda é um objetivo. Só faz sentido traçar um objetivo se você tem uma data para isso acontecer. Deixar isso solto, ao acaso, pode não servir como um impulsionador ou catalisador de energia dos envolvidos em fazer com que a organização se torne aquilo que ela declarou em sua visão. Se minha empresa declara que quer ser “reconhecida como a melhor empresa do ramo de...”, mas não coloco uma data para isso acontecer, qualquer data serve, não é verdade? Assim, estabelecer um marco de tempo no futuro, mesmo que seja um horizonte de tempo de muitos anos, pode ter um efeito positivo sobre as pessoas da organização. Poderíamos comparar isso a querer chegar ao alto de uma escada. Não se chega ao topo de uma escada em apenas uma passada, concorda? É preciso galgar degrau a degrau até atingir esse topo. Nas organizações, o topo, o alto da escada, é o objetivo de longo prazo estabelecido na visão. Cada ano, ou cada ciclo econômico, poderia 101 servir como um “degrau” a ser vencido em direção ao objetivo maior. Cumprindo-se as etapas intermediárias, ou seja, atingindo-se as metas de curto e médio prazo, vamos garantir que a empresa está caminhando para o cumprimento de sua meta ou objetivo maior do longo prazo. Ao �nal, atingindo-se esse objetivo maior, a empresa estabelecerá outro objetivo que a levará a mais alguns anos de esforço rumo à excelência. Agora, pense um pouco: dentre as empresas que você conhece ou consume produtos e serviços, sem dúvida haverá algumas que divulgam sua declaração de visão. Você acredita que essa visão realmente direciona os esforços dos componentes dessa organização? Talvez você esteja pensando o motivo pelo qual as empresas CEMIG e PETROBRÁS agora apresentam outras declarações de visão nos seus portais. Lembre-se que essas empresas têm controle estatal (estadual no caso da primeira e federal no caso da segunda). As empresas estatais se sujeitam à orientação do principal acionista – que é o governo – e mudanças de governo impactam na governança das organizações por ele controladas, o que acaba por alterar seus gestores da alta direção – em alguns casos, até gestores de nível tático e operacional – que, por sua vez, podem mudar o foco estratégico das empresas. 102 Definindo os valores organizacionais As pessoas possuem características peculiares que as diferenciam das demais a ponto de a�rmarmos que não existem duas pessoas exatamente iguais na face da Terra. Podemos até ser idênticos �sicamente, mas diferentes em termos de personalidade. Por ter características únicas, as pessoas consideram preciosas certas crenças e preceitos que dão sentido à vida. Algumas pessoas consideram o trabalho duro como um valor a ser cultivado, bem como talvez honestidade, respeito e ética, entre outros. Mas nem todas as pessoas têm o mesmo sistema de valores, justamente porque as pessoas são diferentes. Como são construtos sociais, as organizações levam para dentro de si um contingente de pessoas que possuem valores individuais, mas que, uma vez trabalhando em um mesmo ambiente, terão que cooperar para que os objetivos da organização sejam atendidos. É razoável concluir que seria impossível que a organização deixasse 103 totalmente livre a expressão dos valores de cada indivíduo. Na verdade, a organização estabelecerá um conjunto de valores corporativos, segundo os quais ela espera que os indivíduos se adéquem e respeitem. Como Nogueira (2014, p. 43) bem pontua, [...] ao restringir uma lista de valores desejados a serem praticados pelos seus membros, a organização determina um padrão esperado de conduta. Esse padrão possui um forte poder de normatizar e padronizar a maneira como as pessoas agem em uma organização. É como misturar cores diferentes e analisar qual pigmento se sobressai na mistura. Assim, ao analisar essa questão, encontramos valores que são cultivados e praticados pela organização de forma corporativa, que se sobrepõem aos valores individuais de seus membros.Oliveira (2013, p. 68) a�rma que esses valores “representam o conjunto dos princípios, crenças e questões éticas fundamentais de uma empresa, bem como fornecem sustentação para todas as suas principais decisões”. 104 Você pode concluir que os valores constituem a base do que se convenciona chamar de cultura organizacional, que expressam esse conjunto de valores adotado pela organização, bem como suas normas e padrões que irão controlar como os funcionários trabalharão para cumprir a missão estabelecida bem como atingir os objetivos traçados para esta mesma organização. Como declaram Hill e Jones (2012, p. 48), os valores de uma empresa “declaram como seus funcionários e gestores devem se comportar, como devem fazer negócios e, ainda, que tipo de organização devem construir para ajudá-la a cumprir sua missão”. Reforçando essa ligação entre os valores adotados pela empresa com a missão corporativa, Lucca (2013, p. 6) a�rma que Os valores são um conjunto de crenças e sentimentos que constroem a cultura e as ações da empresa. É comum os valores estarem atrelados à missão, como princípios morais ou políticas organizacionais. Os valores representam um conjunto de crenças essenciais que regem as pessoas em relação aos seus compromissos na organização. Assim, podemos encontrar nos valores uma aplicação prática para atender a missão da organização. Como Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 57) con�rmam, [..] os valores são critérios de ação que direcionam as decisões das pessoas entre várias alternativas que possam atender a missão, condicionando ou orientando o seu modo de realização. A empresa, por exemplo, pode de�nir sua missão como “prover alimentos saudáveis e diferenciados aos seus clientes”, e o modo de realização de�ne como valor a integridade e o cumprimento dos requisitos da legislação alimentar pertinente. Dessa forma, considerando que a missão deve levar em conta os interesses dos stakeholders da organização, caso essa organização venha a atuar em locais ou regiões que possuam uma cultura e um sistema de valores diferentes da empresa, provavelmente haverá a necessidade de adaptação por parte da organização para respeitar essas características locais. Isso pode até mesmo impactar a forma como a organização fabrica seus produtos e nos processos de trabalho. 105 A necessidade de adaptação da empresa para respeitar a cultura dos seus stakeholders pode ser comprovada com o que o McDonald’s fez para atuar no mercado da Índia. Segundo reportagem no portal do jornal O Estado de São Paulo, 80% dos 1,2 bilhão de habitantes da Índia são hindus, que consideram a vaca como sagrada e proíbem o consumo de carne de porco. Respeitando a cultura local, o McDonald’s, a maior rede de restaurantes do mundo, adaptou seu cardápio, abrindo a primeira loja vegetariana com a marca no planeta. Por exemplo, em um abatedouro de aves de certa região do país, os gestores contrataram vários funcionários que são muçulmanos. Para respeitar a prática da crença religiosa de seus colaboradores, este abatedouro disponibilizou uma sala especial, com todos os itens necessários para que estes funcionários pratiquem suas orações nas horas determinadas pelo Alcorão. Sem dúvida, um exemplo de respeito a um dos seus principais stakeholders, que são os funcionários. Acesse o link: Disponível aqui As empresas têm feito esforços para promover transparências nas suas ações e combater a corrupção, colocando esses enfoques nas suas declarações de valores organizacionais. Conheça mais sobre como é importante esse combate à corrupção, acesse a matéria: 106 https://www.ethos.org.br/cedoc/a-importancia-dos-movimentos-empresariais-no-combate-a-corrupcao/ Algumas empresas fazem questão de publicar seu sistema de valores em seus portais na Internet para todos os interessados. Essa prática pode ser muito bem avaliada pelos diversos públicos interessados, o que denota transparência de comportamento e ações por parte da organização. Veja alguns exemplos: Gerdau: Ter a preferência do CLIENTE. SEGURANÇA das pessoas acima de tudo. PESSOAS respeitadas, comprometidas e realizadas. EXCELÊNCIA com SIMPLICIDADE. Foco em RESULTADOS. INTEGRIDADE com todos os públicos. SUSTENTABILIDADE econômica, social e ambiental . Caixa Econômica Federal: Nosso trabalho é importante para a sociedade. Temos orgulho de trabalhar na Caixa. Juntos podemos mais. Nossas atividades são pautadas pela ética. Respeitamos as ideias, as opções e as diferenças de toda a sociedade. A liderança se faz pelo exemplo. Somos inovadores no que fazemos. Natura: Humanismo Valoriza ao máximo as relações e o potencial humano. Respeita e estimula a individualidade que enriquece a diversidade. Busca contribuir para o aperfeiçoamento da sociedade e da qualidade das relações em cada uma de suas ações. Criatividade Ousar, inovar 107 Busca soluções inovadoras com alegria, ousadia, determinação e paixão. Objetiva o aperfeiçoamento contínuo com intuição, sensibilidade e conhecimento. Equilíbrio Harmonia, interdependência Inspira-se no equilíbrio e dinâmica da natureza. Percebe o homem como parte da natureza, com a qual deve se harmonizar, e valoriza a interação com ela. Busca aliar consciência e competência, discurso e prática, saber e fazer, ética e estética. Transparência Claro, evidente, que se deixa conhecer Vive seus processos abertamente. É franca, à vontade. É contra ambiguidades, manipulações e discriminação em todas as relações. Busca com determinação a qualidade e reconhece suas imperfeições. Compartilha suas dúvidas e a busca de respostas. McDonald’s: A experiência dos consumidores está no centro de tudo o que fazemos. Temos um compromisso com as nossas pessoas. Acreditamos no Sistema McDonald's: Fraqueados, Companhia e Fornecedores. Gerimos e desenvolvemos o nosso negócio de forma ética. Retribuímos às nossas comunidades. Desenvolvemos o nosso negócio com rentabilidade. Procuramos melhorar continuamente. 108 Muito interessante essas declarações de valores, não concorda? E quando cultivadas, servem como apoio para sustentar o cumprimento da missão organizacional. Além disso, os valores cultivados servirão como um freio para ações temerárias que podem ocorrer no âmbito das relações de negócio de uma organização. O mundo �cou chocado ao saber, por exemplo, que os CEOs (Chief Executive O�cers), ou presidentes, das companhias de seguro e dos bancos envolvidos no escândalo �nanceiro que culminou com a crise imobiliária americana e mundial de 2008, receberam polpudos bônus, de milhões de dólares, porque haviam atrelado resultados de curto prazo às suas recompensas como gestores. Como as operações realmente deram um grande lucro no curto prazo, esses executivos embolsaram uma fortuna, enquanto que, logo em seguida, os acionistas e o público em geral assistiram impotentes à quebra de grandes conglomerados e viram suas ações virarem pó. Embora uma simples declaração de valores não seja su�ciente para forçar um comportamento ético, sua prática real, diária, pode ter um efeito anticorrupção. No Brasil, também veio à tona casos em que grandes corporações tinham relações questionáveis com o poder público. Após esses incidentes, não é raro atualmente vermos nos contratos cláusulas em que constam objetivamente obrigações mútuas de transparência de combate à corrupção. Assim, vimos nesta aula como as organizações projetam seus macro-objetivos por meio de sua visão e como elas constroem um sistema de valores que norteiam as ações internas visando uma boa relação com seus públicos de interesse. Novamente, 109 é importante pontuar que tanto a visão como os valores precisam ser compreendidos pelos stakeholders, em especial pelos internos, visto que estão diretamente envolvidos no cumprimento da visão e no acatamento dos valores declarados. 110 11 Estabelecendo Objetivos Organizacionais 111 Prezado(a) aluno(a), a ideia de ter objetivos é tão comum em nossas vidas, está tão internalizada, que às vezes nem pensamos muito nesse assunto, não é verdade? Os objetivoscorriqueiros são estabelecidos sem um grande esforço de planejamento. Na verdade, muitos deles perseguimos “no piloto automático”. Quando pensamos em uma organização, principalmente no nível estratégico, o “piloto automático” não funciona muito bem. É necessário um esforço consciente e a utilização de ferramentas para atingir tais objetivos. Por exemplo, ao projetar um futuro desejado, um gestor de uma organização está, de forma natural, estabelecendo objetivos. Mas, o que são objetivos? Oliveira (2013, p. 149) oferece a seguinte descrição para o termo “objetivo”: [...] é o alvo ou ponto quantificado, com prazo de realização e responsável estabelecidos, que se pretende alcançar através de um esforço extra. [...] Os objetivos podem ser conceituados como o estado, situação ou resultado futuro que o executivo pretende alcançar. Na realidade, o termo objetivo relaciona-se a tudo que implica na obtenção de um fim ou resultado final. 112 Observe algumas expressões importantes na descrição do autor: “ponto quantificado”, “prazo”, “responsável”, “esforço extra”, “situação futura”. Pois bem, torna-se claro que, ao pensar em objetivo organizacional, o gestor tem a exata posição onde a organização se encontra no tempo atual e projeta uma situação futura, em um tempo determinado e conhecido, com responsáveis designados para tomar a liderança nos processos que conduzirão ao alcance dos números estabelecidos, pois, conforme vimos, o objetivo deve ser mensurável, quantificável. Como Hill e Jones (2012, p. 49) bem estabelecem, “um objetivo é um estado futuro preciso e mensurável que uma empresa tenta atingir. Neste contexto, o propósito de um objetivo é especificar com precisão o que deve ser feito, caso a empresa queira cumprir sua missão e sua visão”. Veja que os objetivos a serem estabelecidos pelos gestores precisam contribuir para que a organização cumpra sua missão e visão. Na verdade, não faz sentido o estabelecimento de qualquer outro objetivo, pois desfocaria o rumo estabelecido quando a empresa concebeu sua missão e visão. Muitos autores e literatura sobre objetivos também denominam de meta. Oliveira (2013, p. 150) menciona que se pode entender meta de duas formas: meta é a quantificação do objetivo; meta é a etapa ou passo intermediário para se alcançar determinado objetivo. Na prática, os gestores usam muito a palavra meta para relacionar aos objetivos organizacionais. Particularmente gosto muito desse uso. Como gestor em organizações por muitos anos, constatei que os colaboradores entendem mais rapidamente seu significado e compreendem mais claramente os números envolvidos. De qualquer forma, entendemos que meta ou objetivo é um ponto numérico no tempo que a organização pretende alcançar. 113 Mas, o que seria uma boa meta ou um bom objetivo? Hill e Jones (2012, p. 49) estabelecem que objetivos bem formulados possuem quatro características: 1) São precisos e mensuráveis. Objetivos mensuráveis dão aos gestores uma régua ou um padrão para medir e avaliar o desempenho. 2) Dizem respeito a questões cruciais. Para manter o foco, os gestores devem escolher um número limitado de objetivos principais para avaliar o desempenho da empresa. Os objetivos selecionados devem ser cruciais ou importantes. 3) São desafiadores, mas realistas. Dão aos funcionários um incentivo para buscar maneiras de melhorar as operações de uma organização. Se um objetivo não for realista nos desafios que propõe, os funcionários podem desistir; em contrapartida, um objetivo muito fácil de ser atingido pode falhar na motivação dos gestores e de outros funcionários. 4) Quando conveniente, especificam um período de tempo no qual deveriam ser atingidos. A restrição de tempo diz aos funcionários que o sucesso exige que um objetivo seja atingido dentro de certo prazo, 114 não depois dele. Prazos podem dar um sentido de urgência para que um objetivo seja atingido e podem funcionar como um elemento motivador. Essas ponderações dos autores têm muito a ver com a visão organizacional, quando algumas organizações colocam um horizonte temporal, ou seja, um marco no tempo em que suas visões devem ser atingidas. Assim, essa visão organização torna-se um objetivo a ser perseguido, mediante o cumprimento de objetivos ou metas intermediárias. É evidente que atingir a visão da organização é um trabalho que leva muito tempo e não é atingido de imediato. Por conta disso, as metas intermediárias servem como “degraus” em uma escalada contínua rumo à meta maior da visão organizacional. Porém, não critico visões que não estabelecem esse ponto no tempo. São maneiras diferentes de mostrar que a organização possui um objetivo de excelência a ser atingido. Muito provavelmente, no caso de não estar declarado um marco temporal na declaração da visão, este marco está em outros documentos que guiam o planejamento estratégico dos gestores. As organizações, como já pontuamos diversas vezes, são formadas por pessoas e as pessoas têm seus objetivos e valores individuais. Por conta disso, Oliveira (2013) lembra que os objetivos organizacionais precisam guardar alinhamento com os objetivos dos indivíduos. Isso porque dificilmente uma pessoa se engajará em atingir um objetivo se este não estiver alinhado minimamente com os seus próprios objetivos individuais. Pense, por um momento, como ficaria o comprometimento de um colaborador em atingir um objetivo organizacional que vai resultar na extinção do setor em que esse colaborador trabalha! Seria muito difícil, não concorda? A possibilidade de “sabotagem” seria muito provável. 115 Nos apontamentos de Hill e Jones (2012) que vimos anteriormente, das 4 características que os objetivos devem possuir, notamos também a questão de que os objetivos devam estar relacionados a questões cruciais. Você já deve ter presenciado ou vivenciado situações em que vários objetivos estabelecidos pelos gestores não tinham um grau de importância significativo, que, no final, só resultaram em perda de tempo e dinheiro. Um desperdício inaceitável nestes tempos de racionalização de recursos e alta competitividade, com certeza! Geralmente, segundo pontua Oliveira (2013), os gestores têm dificuldade em estabelecer ou diferenciar os objetivos em curto, médio e longo prazo. Segundo esse autor, não se tem, na mente dos gestores, quais são claramente os objetivos de longo prazo, ou seja, os objetivos estratégicos na organização. No entanto, os objetivos são essenciais, pois servem aos seguintes propósitos: • Fornecer às pessoas um sentimento específico e adequado de seu papel na empresa; • Dar consistência à tomada de decisão entre grande número de diferentes executivos; • Estimular empenho profissional e a realização baseada em resultados esperados; e • Fornecer a base para o controle e as ações corretivas e de aprimoramento (OLIVEIRA, 2013, p. 153). 116 Se você procurar saber quais objetivos cruciais uma organização deve atingir, a resposta dependerá em muito do tipo de organização que estivermos considerando. Se o caso for de uma organização empresarial, sem dúvida, o retorno ao acionista ou proprietários é um objetivo crucial a ser atingido. Se a organização for sem fins lucrativos, os objetivos provavelmente não estarão vinculados a retorno financeiro, mas sim ao alcance das finalidades para as quais a organização foi criada, ou seja, sua missão estabelecida. Quando falamos em retorno ao acionista, muitos gestores se veem pressionados a conseguir um resultado expressivo no curto prazo, motivados muitas vezes até por interesses de retorno em termos de remuneração. Isso é extremamente perigoso e pode levar a um caminho antiético, com péssimos resultados no longo prazo. Por conta disso, muitas organizações formalizam um posicionamento ético já na sua declaração de valores. As estratégias equivocadas envolvem desinvestimento em Marketing, Pesquisa e Desenvolvimento e até corte de pessoal. No curto prazo os resultados aparecem, mas não são sustentáveis. Essa estratégia serve para impressionar os acionistas e proprietários,que não perceberão que é, literalmente, “um tiro no pé”, no longo prazo, pois implicará na perda de capacidade competitiva da organização (HILL e JONES, 2012). Evidentemente que toda a organização precisa apresentar resultados 117 Figura 1: Hierarquia dos objetivos e desafios da empresa | Fonte: Oliveira (2013, p. 155). que a sustentem, e o resultado positivo em relação ao retorno financeiro (leia-se, lucro) é essencial para as organizações empresariais. Mas a busca pelo lucro a qualquer custo não é sustentável no longo prazo. Visto isso, precisamos pensar em como se estabelecem esses objetivos na prática. O planejamento acontece nos diversos níveis hierárquicos da organização (nível estratégico, tático e operacional). Quando se pensa uma situação desejada, no futuro, inicialmente podem-se propor vários propósitos que depois serão refinados por técnicas de análise para verificar sua viabilidade e aderência com a missão organizacional. Oliveira (2013) menciona que, nesta fase inicial, ainda não há uma grande preocupação com mensuração, ou seja, ainda não estão estabelecidas as metas exatas que se pretende atingir, mas há sim um direcionamento em relação aos setores e recursos que serão envolvidos. Veja como isso se dá, na Figura 1, a seguir: Na proposta que Oliveira (2013) expressa na Figura 1, nos objetivos da empresa está a identificação e qualificação das expectativas dos setores de atuação que são estabelecidas no nível anterior, onde estão os propósitos e a postura estratégica. 118 Aqui ainda não há, de acordo com o autor, uma preocupação demasiada com quantificação dos resultados esperados, embora exista uma verificação quanto à disponibilidade de recursos e as responsabilidades que serão atribuídas às diversas áreas que serão envolvidas. Nada impede, entretanto, que já se inicie por aqui a quantificação, pois facilitará os demais níveis. No nível dos objetivos funcionais, as áreas já serão comprometidas com a implementação e execução, pois aqui estão os planejamentos tático e operacional da organização. Acesse o link: Disponível aqui Estabelecer macro-objetivos já é um processo complexo, mas muitos gestores acham ainda mais desafiador desdobrar esses objetivos até chegar no nível da execução, ou seja, nos desafios operacionais. Conheça algumas ferramentas interessantes sobre como fazer isso acessando a seguir. No nível em que se declaram os “desafios”, temos o detalhamento quanto aos prazos, responsáveis, recursos, enfim, os planos estão formalizados e representam um esforço extra para que se atinjam as metas. Precisamos agora entender como os objetivos podem ser estabelecidos, ou seja, quais os critérios e análises que levam à construção dos objetivos organizacionais. Podemos visualizar estas formas e critérios no Quadro 1, a seguir: 119 https://www.siteware.com.br/gestao-estrategica/desdobramento-de-metas/ FORMA OU CRITÉRIO DE ESTABELECIMENTO DE OBJETIVOS DETALHAMENTO Cruzamento de fatores externos e internos Considerado a forma ideal. Para isso, o diagnóstico estratégico da empresa deve ser muito bem realizado. Interação com os cenários Serve mais como um fator de ajuste para mais ou para menos de variáveis como tempo e quantificação do objetivo. Intuição Forma mais utilizada. Não é exatamente um problema o uso da intuição. O problema é quando esse método é usado em demasia. Determinístico O objetivo é identificado em uma situação precisa. Exemplo: “aumentar as vendas em 10% até o final do próximo ano”. Probabilístico O objetivo é apresentado como uma situação provável de acontecer. Exemplo: “Não ter mais de 2% dos produtos em devolução por defeito”. Qualitativo Exemplo: “melhorar a imagem da organização perante a comunidade”. Logístico Exemplo: “adquirir o controle acionário do principal concorrente”. Neste critério logístico, considera-se a interação da organização com outros fatores ambientais ou externos, sendo, no exemplo citado, adquirir o controle acionário do principal concorrente. Obtenção Quando a empresa deseja obter algo que ainda não possui. Por exemplo, ingressar no segmento de 120 Figura 2: Processo de estabelecimento dos objetivos e desafios na organização | Fonte: Oliveira (2013, p. 164). Quadro 1: Critérios e formas de estabelecimento de objetivos organizacionais | Fonte: Adaptado de Oliveira (2013). smartphones, no caso de uma indústria de eletroeletrônicos. Manutenção Quando a empresa deseja manter uma situação ou algo que já possui. Por exemplo, manter os atuais 20% de participação de mercado no segmento de lavadoras domésticas. Talvez você imagine como se dá esse fluxo no processo de estabelecimento de objetivos. Podemos imaginar que tudo corre “top down”, ou seja, de cima para baixo. Embora algumas organizações até trabalhem dessa forma, a prática tem demonstrado que há um ganho significativo de sinergia e engajamento quando o processo é mais interativo e até colaborativo. Então, podemos ter o início no nível estratégico, em seguida o desdobramento para o nível tático e, após isso, novamente o nível estratégico para realinhamento, voltando em seguida para o nível tático para que desça ao nível operacional. No nível operacional há o estabelecimento dos desafios e metas, que então são alinhados com o nível tático. A dinâmica desse processo todo pode ser visualizada na Figura 2, a seguir: 121 Percebemos que chegará o momento em que tudo o que foi proposta, os objetivos que foram estabelecidos, deverão ganhar o mundo real e ser acompanhados muito de perto para se garantir sua efetivação, não descuidando, é claro, de eventuais ajustes e calibração que certamente ocorrerão ao longo do caminho. Esse acompanhamento exigirá, então, um sistema de gestão de resultados, que envolverá ferramentas administrativas, possibilitando ao gestor a tomada assertiva de decisão. Faça um exercício simples, de como objetivos empresariais podem ser desdobrados ao nível da execução. Imagine uma empresa de porte médio, do ramo de alimentação – um restaurante – que atua servindo refeições tradicionais no estilo “self service”. Na análise que seus sócios fizeram, concluíram que, apesar de ainda terem um bom faturamento, estão aos poucos perdendo espaço para restaurantes que se especializaram em comidas vegetarianas e veganas e para pequenos serviços de marmitaria. Na revisão de seu planejamento estratégico, querem preservar a missão da empresa (“Alimentar com qualidade as famílias a que servimos”), mas refizeram a visão empresarial, que passou a ser: “Tornar-se a principal opção de alimentação saudável das famílias em um prazo de 10 anos”. Simule como essa visão pode ser desdobrada ao nível tático e no nível operacional. 122 12 Natureza da Vantagem Competitiva 123 Prezado(a) aluno(a), As organizações, nos ambientes em que estão inseridas, sem dúvida buscam manter- se em atividade, atendendo sua missão, de forma perene. No caso de organizações sem fins lucrativos, elas desejam atender seus diversos públicos e que seus resultados sejam reaplicados nas suas atividades. Já pelo lado das empresas, os stakeholders esperam também que a empresa se mantenha no mercado, prospere, gere riquezas, emprego e renda, sendo que os proprietários podem legitimamente usufruir de parte dos resultados em forma de remuneração do capital que colocaram em risco. Agora pense que, no caso das empresas, sua situação de atuação no mercado pode ser bem variada. Se tomarmos como exemplo países capitalistas, é possível esperar que encontremos diversas empresas atuando no mesmo segmento econômico, competindo pelos mesmos clientes. Como você já pode ter notado, essa competição pode excluir do mercado diversos concorrentes. A pergunta é: por que alguns competidores se saem melhor que outros? Sem dúvida, algum tipo de vantagem se estabeleceu de uns competidores sobre os outros. Mas como podemos entender o que é vantagem competitiva? Como ela se estabelece? 124 Primeiramente, temos que entender que a competição ocorre por setores. Por setor, podemos entender como“um grupo de empresas que oferece produtos ou serviços que são substitutos próximos uns dos outros, ou seja, produtos ou serviços que satisfazem as mesmas necessidades básicas do consumidor” (HILL e JONES, 2012, p. 86). Dessa forma, a empresa compete em um setor que atende certas necessidades em comum dos consumidores. Mas como saber qual setor a empresa está inserida? Hill e Jones (2012) recomendam que os gestores não façam essa análise pelo produto e sim pela visão do consumidor. Assim, teremos como fronteiras ou limites do setor, segundo esses autores, as necessidades básicas atendidas por um mercado. Quando essa leitura não é feita adequadamente, esses limites podem ser estreitos demais ou amplos demais. Como exemplo, Hill e Jones (2012) citam que a Coca-Cola, durante muito tempo, encarou que era líder do mercado de refrigerantes. No entanto, quando o consumo de bebidas mais saudáveis se tornou mais intenso, a empresa percebeu que não deveria focar simplesmente o mercado de refrigerantes, mas o de bebidas não alcoólicas, o que inclui sucos de frutas, água mineral, que tirou mercado de refrigerantes da própria Coca-Cola. A empresa reagiu rápido adquirindo companhias de produção de sucos e lançando marca própria de água mineral. Mas se a empresa não tivesse feito rapidamente essa leitura de um novo cenário, poderia ter sofrido perdas difíceis de serem reparadas (HILL e JONES, 2012). Sabendo-se o setor que a organização está presente, a próxima etapa é avaliar a natureza de uma possível vantagem competitiva a ser obtida. Para nos ajudar a entender como se expressa a competição no mercado e como a vantagem competitiva se estabelece, vamos nos valer de um trabalho de Michael Porter que se tornou referência neste tema. Trata-se da ferramenta que ficou conhecida como o Modelo das 5 Forças de Porter. Michael Porter é considerado um dos mais respeitados teóricos da área de negócios da atualidade e está vinculado à Universidade de Harvard, mais especificamente na Harvard Business School. Esse modelo é apresentado na Figura 1, a seguir: 125 Figura 1: O modelo das 5 Forças de Porter | Fonte: Hill e Jones (2012, p. 88). O modelo foi desenvolvido com o objetivo inicial de avaliar a competição entre indústrias, mas podemos pensar em aplicar também em outros segmentos econômicos. De qualquer forma, precisamos entender a partir de agora, essas cinco forças descritas por Porter, para entender como se forma a vantagem competitiva das organizações. A lógica por detrás do modelo de 5 forças de Porter é relativamente simples: quanto maiores as forças, as empresas terão maior dificuldade para agir livremente no estabelecimento de seus preços, ou seja, haverá uma limitação nos lucros que as empresas podem obter. Por outro lado, se as forças competitivas forem fracas, estabelece-se uma oportunidade, com a empresa podendo obter maiores lucros. Hill e Jones (2012) destacam que a intensidade das forças pode se alterar ao longo do tempo, por fatores diversos, e o desafio para os gestores é saber reconhecer como possíveis mudanças nessas 5 forças podem fazer surgir ameaças e oportunidades e como reagir a essas mudanças. Isso tem tudo a ver com a escolha da estratégia que será empregada. 126 Analisando os Riscos de Entrada de Novos Concorrentes Um dos fatores que afetam a formação da vantagem competitiva e das estratégias das organizações é o risco de entrada de potenciais concorrentes. Barney (2011, 31) classifica esses novos entrantes como “empresas que iniciaram operações recentemente em um setor ou que ameaçam começar operações em breve”. Hill e Jones (2011) procuram exemplificar esses novos entrantes, classificando-os como empresas que ainda não operam em um setor, mas que poderiam fazê-lo se quisessem. Na prática, veja que interessante: na época em que o livro de Hill e Jones (2011) foi escrito, um risco era empresas de TV a cabo entrarem no mercado de telefonia, aproveitando-se da infraestrutura de transmissão de dados que já possuíam. E o que aconteceu? A realização desta ameaça, ou seja, atualmente, as empresas de TV a cabo oferecem o serviço de telefonia. Mas como as empresas de telefonia reagiram? Fazendo o caminho inverso, ou seja, quando notaram a entrada das empresas de TV a cabo na telefonia, as empresas de telefonia também passaram a oferecer os serviços de TV a cabo. 127 Hill e Jones (2011, p. 89) destacam as estratégias que as empresas já estabelecidas em um setor podem adotar: Empresas estabelecidas que já operam em um setor precisam estar alertas para desencorajar concorrentes potenciais a entrar no setor, pois, quanto mais empresas entrarem, mais difícil se torna para as empresas previamente estabelecidas proteger sua fatia do mercado e gerar lucros. Um alto risco de entrada de potenciais concorrentes representa uma ameaça à lucratividade de empresas estabelecidas. Se o risco de novas entradas é baixo, empresas estabelecidas podem tirar vantagem dessa oportunidade para aumentar os preços e ter maiores retornos. Assim, as empresas estabelecidas podem formar uma barreira de entrada, que são mecanismos que tornam pouco interessante para uma organização tornar-se uma nova entrante em um setor. Hill e Jones (2011, p. 89), classificam essas barreiras de entrada como “fatores que inviabilizam para empresas entrar em um setor”. Barney (2011, p. 31) explica que Até que ponto a nova entrada representará uma ameaça ao desempenho de uma empresa estabelecida dependerá do custo de entrada. Se esse custo em um setor for maior do que o lucro potencial que um novo entrante pode obter ingressando, então a entrada não será acessível e novos entrantes não serão uma ameaça para as empresas estabelecidas. Mas, se o custo de entrada for menor do que o retomo da entrada, esta ocorrerá até que os lucros derivados da entrada sejam menores do que os custos de entrada. A ameaça de entrada depende do custo de entrada, e este, por sua vez, depende da existência e da 'altura' das barreiras à entrada. Barreiras à entrada são atributos da estrutura de um setor que aumentam o custo de entrada. Quanto maior é esse custo, mais altas são as barreiras. Com a existência de barreiras à entrada significativas, entrantes potenciais não ingressarão em um setor, embora as empresas estabelecidas ganhem vantagens competitivas. Falar em estabelecer barreiras de entrada pode parecer simples, mas viabilizar que isso ocorra requer competências bem específicas dos gestores. Vamos conhecer algumas possíveis barreiras à entrada no Quadro 1, a seguir: 128 TIPO DE BARREIRA DE ENTRADA DETALHAMENTO FORMAS DE OBTENÇÃO Economias de escala Economias de escala acontecem quando o custo unitário cai, à medida que a empresa aumenta sua produção. 1) redução de custos por meio da produção em massa de produtos padronizados; 2) descontos em grandes compras de matérias-primas e componentes; 3) diluição de custos fixos de produção por grande volume de produtos fabricados; 4) redução de gastos com marketing na diluição com um grande volume de produtos. Fidelidade à marca Se estabelece quando os consumidores têm preferência pelos produtos de empresas estabelecidas. Publicidade contínua de produtos com a marca e nome da empresa; patentes de produtos; inovação em produtos com auxilio de Pesquisa e Desenvolvimento: Ênfase na alta qualidade dos produtos; bom atendimento pós-venda. Vantagens absolutas em custos Estrutura de custos das empresas estabelecidas muito superior a de potenciais entrantes 1) Processos e operações de produção superiores, devido a experiência, patentes ou processos; 2) controle de insumos necessários à produção, como mão de obra, materiais, equipamentos ou habilidades de gestão, que existam em quantidade limitada; 3) acesso a financiamento mais barato devido a oferecer risco menor aos agentes financeiros. Custos de mudança para o consumidor Acontece quando o consumidor precisa gastar tempo, energia e dinheiro Quando os custos mudança são tão altos, os consumidores podem ficar presos aos produtos oferecidos pelas129 Quadro 1: Tipos de barreiras à entrada de novos concorrentes | Fonte: o autor, com base em Hill e Jones (2011) e Barney (2011). para mudar dos produtos oferecidos por uma empresa estabelecida para outros produtos oferecidos por uma nova empresa. empresas estabelecidas. Exemplo: sistemas para computadores. Regulamentação governamental Regulamentações governamentais protegem setores já estabelecidos. Regulamentação governamental. Acontece normalmente onde há monopólio estabelecido pelo governo. No mercado brasileiro você já deve ter se deparado com situações como as relatadas no Quadro 1. O Brasil já teve um mercado altamente regulado pelo governo, com alta concentração de setores inteiros nas mãos de poucas empresas ou até mesmo de apenas uma. Esse foi o caso da telefonia de longa distância que era dominada por uma única empresa estatal federal e, nos Estados, a maioria só possuía uma única empresa telefônica estatal estadual. Com a privatização do setor, assistimos em um primeiro momento a entrada de várias companhias competindo, mas, com o tempo, o mercado está sofrendo uma nova concentração, não mais na forma de monopólios, mas com apenas poucos concorrentes diretos. Na questão dos custos de mudança para o consumidor, esta realidade é bem presente, como mostrado no Quadro 1, especialmente em softwares corporativos, quando a empresa tem seus sistemas baseados em uma determinada tecnologia e, para mudança, mesmo que o concorrente ofereça uma melhor solução, os custos, riscos e transtornos são tão elevados que os gestores preferem continuar com os sistemas atuais. 130 Analisando os Riscos de Concorrentes Estabelecidos Uma situação que exige uma gestão estratégica efetiva acontece quando a empresa já atua há algum tempo no setor e enfrenta a concorrência de outras organizações que também estão consolidadas. Não se trata de ameaça de novos entrantes, mas sim do equilíbrio de forças entre os players que já estão estabelecidos. Neste caso, acontece o que está previsto no modelo de 5 forças de Porter como rivalidade entre empresas estabelecidas. Por rivalidade, Hill e Jones (2011, p. 94) definem como “a disputa competitiva entre empresas de um setor, que buscam tirar participação de mercado umas das outras”. Barney (2011, p. 35) indica que essa rivalidade entre empresas pode reduzir seus lucros econômicos: Altos níveis de rivalidade em um setor são indicados por ações como cortes constantes de preços (por exemplo, descontos nos bilhetes aéreos), lançamento frequente de novos produtos (por exemplo, introdução contínua de produtos eletrônicos de consumo), campanhas de publicidade acirradas (por exemplo, Pepsi versus Coca) e ações e reações competitivas rápidas (empresas aéreas acompanhando rapidamente os descontos das concorrentes). Dessa forma, “uma rivalidade mais intensa implica preços mais baixos ou maiores gastos com armas de competição não relativas ao preço ou ambas as coisas” (HILL e JONES, 2011, p. 94). Essa competição pode rebaixar os lucros de todo o setor com o rebaixamento dos preços e aumento dos custos. O caminho contrário também é verdade, ou seja, com a rivalidade pouco intensa, os preços tendem a subir, os custos a se reduzir e os lucros se tornam maiores. Barney (2011) lista os seguintes motivos para intensa rivalidade: 131 Quadro 2: Motivos para intensa rivalidade entre empresas estabelecidas | Fonte: o autor, com base em Barney (2011). MOTIVOS EXEMPLOS Grande número de empresas concorrentes que são praticamente do mesmo tamanho Grandes empresas fabricantes de computadores pessoais e laptops. Crescimento lento do setor Redes de fast food Falta de diferenciação do produto Transporte aéreo de passageiros Adição de capacidade em grandes incrementos Aumento de um parque produtivo de uma indústria. Hill e Jones (2011, p. 94) colocam que a intensidade da rivalidade está ligada a quatro fatores: 1. Estrutura competitiva do setor; 2. Condições de demanda; 3. Condições de custos; e 4. Altura das barreiras de saída do setor. Detalhando como se dá a rivalidade entre empresas estabelecidas, pontuada por Hill e Jones (2011), podemos visualizar os fatores a seguir: Estrutura competitiva do setor Refere-se ao número e a distribuição do tamanho das empresas que fazem parte da estrutura competitiva do setor. Pode-se apresentar um setor fragmentado, constituído por grande número de pequenas e médias empresas, sem que nenhuma é capaz de terminar os preços do setor ou setor consolidado, dominado por um oligopólio ou por monopólio, no qual as empresas conseguem determinar os preços do setor. 132 Condições de demanda O crescimento da demanda pela chegada de novos consumidores ou pelo aumento das compras dos consumidores já presentes no mercado tende a moderar a competição. O resultado é um setor com lucros altos. Demanda em queda provoca mais rivalidade, pois as empresas brigam para manter sua participação no mercado e sua receita. Condições de custo Em setores nos quais os custos fixos são altos, a lucratividade tende a ser bastante nivelada pelo volume de vendas e o desejo de aumentar esse volume pode desencadear uma intensa rivalidade. Altura das barreiras de saída do setor São fatores econômicos, estratégicos e emocionais que impedem que empresas deixem um setor. Fonte: o autor, com base em Hill e Jones (2011) Ao explicar a questão das barreiras de saída do setor, Hill e Jones (2011) esclarecem que essas barreiras à saída incluem: • Investimentos em bens como máquinas, equipamentos e unidades operacionais específicos que são de pequeno ou de nenhum valor para usos alternativos ou que não podem ser vendidos. Se uma empresa quiser sair do setor, ela precisa amortizar de seu patrimônio os valores de seus bens. • Altos custos de saída, como indenizações, benefícios de saúde e pensões, que terão de ser pagos a empregados cujo trabalho se torna desnecessário quando uma empresa deixa de operar. • Ligação emocional a um setor, como no caso em que os proprietários ou os funcionários não querem sair do setor por razões afetivas ou por orgulho. • Dependência econômica de um setor porque a empresa baseia todos os seus lucros e receitas em um único setor. Necessidade de manter um conjunto caro de bens em um nível mínimo ou acima dele para poder participar de um setor. • Regras de falências (HILL e JONES, 2011, pp. 98-99). 133 Se buscarmos exemplos de barreiras à saída de que falam os autores, poderemos encontrar empresas que atuam em serviços muito focados, como entregas de correspondência. A EBCT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), por exemplo, tem o compromisso de entregar encomendas e correspondências em todo o território nacional, independente de qual localidade for. Isso quer dizer que a empresa não pode abandonar uma rota de entrega, mesmo que ela seja deficitária, para cumprir sua função social. Muitas outras empresas igualmente precisam manter estruturas de atendimento em locais distantes dos grandes centros, por imposição legal, como é o caso de postos de atendimento de empresas distribuidoras de energia elétrica. Essas unidades são, quase sempre, deficitárias, mas não podem ser abandonadas. Analisando o Poder de Barganha dos Fornecedores Na maior parte das vezes, as empresas não possuem uma estrutura totalmente verticalizada, ou seja, não conduz, com os próprios recursos, todos os processos relativos à sua produção. Na verdade, na atualidade, a tendência é pela horizontalização, quando a empresa se vale de diversos fornecedores para alimentar seus processos. Assim, temos fornecedores de matérias-primas, insumos, produtos semiacabados, entre outros bens. Barney (2011, p. 36) afirma que os fornecedores podem “ameaçar o desempenho de empresas em um setor aumentando o preço ou reduzindo a qualidade de seus suprimentos. Quaisquer lucros que estiverem sendo auferidos em um setor podem ser transferidos para fornecedores dessa maneira”. Assim, as empresas precisam conhecer sua estrutura de fornecimento e quais itens são vitais para seus processos.Uma ameaça de fornecedores pode ocorrer quando acontecem uma ou mais condições das listadas a seguir: 1. Setor de fornecedores dominado por um número pequeno de empresas. 2. Fornecedores vendem produtos exclusivos ou altamente diferenciados. 3. Fornecedores não são ameaçados por substitutos. 4. Fornecedores ameaçam a integração vertical para a frente. 5. As empresas não são clientes importantes para os fornecedores (BARNEY, 2011, p. 36) 134 Quando o número de fornecedores for pequeno, a empresa pode se ver presa a poucas alternativas e qualquer majoração de preços de fornecedores pode afetar os custos da empresa cliente. Como exemplo, Barney (2011) cita a Microsoft, que domina o mercado de sistemas operacionais de computadores. Apesar de opções mais recentes, como o Linux, o Android e o iOS, a Microsoft permanece dominando este mercado e as empresas fornecedoras de equipamentos de informática se veem obrigadas a embarcar o sistema Windows em seus equipamentos se quiserem ter boa aceitação por parte de seu público consumidor. Hill e Jones (2011, p. 101) definem poder de barganha dos fornecedores como “a habilidade dos fornecedores de aumentar o preço dos insumos ou de aumentar os custos de um setor de outras maneiras”. Assim, fornecedores que detenham muito poder são uma ameaça para um setor. O contrário também é verdadeiro: se os fornecedores forem fracos, as empresas que compõem o setor podem forçar os preços para baixo e exigir maior qualidade nos produtos (HILL e JONES, 2011). Existem alguns fatores que tornam mais evidente a força dos fornecedores: • O produto que vendem tem poucos substitutos e é vital para as empresas de um setor. • Sua lucratividade não é significativamente afetada pelas compras das empresas de um setor específico; em outras palavras, quando esse setor não é um consumidor importante dos fornecedores. • Empresas em um setor teriam custos de mudança significativos se decidissem mudar para o produto de um fornecedor diferente, em razão de os produtos de um fornecedor específico serem únicos ou diferentes. Em casos assim, a empresa depende de um fornecedor específico e não pode jogar os fornecedores uns contra os outros para reduzir preços. • Os fornecedores podem ameaçar entrar no setor de seus consumidores e usar seus insumos para fabricar produtos que competiriam diretamente com os das empresas que já estão no mercado. • Empresas de um setor não podem ameaçar entrar no setor de seus fornecedores e fabricar os próprios insumos como uma tática para reduzir os preços desses insumos (HILL e JONES, 2011, p. 102). 135 Podemos pensar em exemplos de fornecedores cujos produtos são altamente demandados, como a Coca-Cola, por exemplo. No caso do setor de varejo de alimentos, as empresas quase “necessitam” ter o produto Coca-Cola em suas prateleiras. Embora existam outras linhas de refrigerantes, pela grande procura por parte dos consumidores, não ter o produto nas prateleiras pode resultar em insatisfação do consumidor final, forçando os revendedores a obter o produto e seus “agregados”, ou seja, outros produtos da indústria Coca-Cola que não vendem tanto quanto a própria bebida Coca-Cola. Barney (2011), também detalha a questão da força dos fornecedores quando um setor não é um consumidor importante. Siderúrgicas, por exemplo, não estão muito preocupadas em perder negócios com um escultor ou uma pequena construtora. No entanto, ficam muito preocupadas em perder negócios com grandes fabricantes de latas, fabricantes de eletrodomésticos da linha branca (isto é, de refrigeradores, máquinas de lavar, secadoras etc.) e montadoras de automóveis. Siderúrgicas, como fornecedoras, tendem a ser muito flexíveis e mostram-se dispostas a reduzir preços e a aumentar a qualidade para fabricantes de latas, fabricantes de eletrodomésticos da linha branca e montadoras. Clientes pequenos 'menos importantes', no entanto, geralmente estão sujeitos a aumentos de preços e a serviços e produtos de qualidade inferior (BARNEY, 2011, p. 37). 136 Assim, esse componente do modelo de 5 forças de Porter deve ser seriamente considerado. Analisando o Poder de Barganha dos Compradores As empresas sabem, desde sempre, que a figura mais importante em seus processos é o cliente. O cliente é aquele que adquire os produtos ou serviços de uma organização. Hill e Jones (2011, p. 100) definem o poder de barganha dos compradores como “a habilidade dos compradores de baixar, por meio de barganha, os preços cobrados por empresas de um setor e de aumentar os custos dessas empresas pela exigência de maior qualidade de seus produtos e serviços”. Podemos ter compradores na forma de consumidores finais de produtos ou outras organizações que adquirem os produtos para seus processos de fabricação ou para revenda. Os compradores tendem a forçar os preços para baixo, reduzindo as margens dos vendedores. De acordo com Barney (2011, p. 38), há uma tendência de ameaça dos compradores quando: • Há um número pequeno de compradores. • Os produtos vendidos são indiferenciados e padronizados. • Os produtos vendidos são uma porcentagem significativa dos custos finais de um comprador. • Os compradores não estão obtendo lucros econômicos significativos. • Os compradores ameaçam a integração vertical para trás. 137 O fato é que compradores com poder exigem estratégias do setor fornecedor para preservar seus lucros. Alguns setores são historicamente muito fortes em relação às suas compras, como é o caso das grandes montadoras de automóveis. Essas montadoras costumam fazer parcerias com pequenas e médias empresas fornecedoras de autopeças e componentes que dependem das compras das montadoras para manutenção de seu negócio. Hill e Jones (2011, p. 100) mostra que os compradores tendem a ser mais poderosos nas circunstâncias a seguir: • O setor que está fornecendo um produto ou serviço específico é composto de muitas pequenas empresas e, ao mesmo tempo, tem compradores grandes e em número pequeno. Essas circunstâncias permitem a esses compradores dominar as empresas fornecedoras. • Os compradores compram em grande quantidade. Nessas circunstâncias, eles podem usar seu poder de compra como influência para barganhar preços menores. • O setor que fornece depende dos compradores para uma importante parcela de suas vendas. • Os custos de mudança de fornecedor são baixos, o que permite que os compradores joguem as empresas fornecedoras umas contra as outras para forçá-las a baixar os preços. • É economicamente viável para os compradores adquirir um mesmo material de várias empresas fornecedoras de uma vez só, de maneira que eles possam jogar as empresas de um setor umas contra as outras. 138 • Os compradores podem ameaçar entrar no setor e, assim, passar a produzir para atender as próprias necessidades, o que também é uma tática para forçar uma baixa dos preços. As grandes redes de hipermercados têm um poder enorme de compra. Alguns pequenos fornecedores, ansiosos para ter seus produtos nas gôndolas dessas mega redes de varejo, por vezes se assustam com as condições para que elas comprem seus produtos. Já presenciei exigências como o fornecimento de lotes de produtos a custo zero para que os consumidores “experimentem” os produtos e, caso apreciem, então a rede decidirá se compra ou não, qual a quantidade, qual o valor estão dispostas a pagar e quais as condições de pagamento. Que força! Analisando o Risco dos Produtos Substitutos Todos nós, como consumidores, temos alguma preferência por certos produtos e serviços que atendem alguma necessidade ou desejo que tenhamos. As tecnologias têm alterado a forma como satisfazemos nossas necessidades. Muitas vezes temos mais de uma opção para nosso consumo. Cito o caso daqueles que amam música. Podemos ouvir música em rádio, CD ou em algum serviço online, como o Spotify, por exemplo. Percebe como essas opções podem representar uma ameaça para certos setores? Não me lembro da última vez que comprei um CD de música, embora esse produto ainda continue sendo ofertado e eu goste muitode música. E quanto a você? É claro que podemos ter um apego meio sentimental a certas formas de atender nossas necessidades. É o caso do cinema, que apesar de muitas formas de se exibir filmes tenham surgido nas últimas décadas, ainda é uma indústria poderosa, por todo um apego a essa modalidade que o público possui. 139 Também podemos ver que o livro impresso resiste ao tempo, mesmo com a opção dos livros digitais para serem lidos em smartphones, tabletes ou equipamentos exclusivos como o Kindle, da Amazon. Por produtos substitutos, Hill e Jones (2011, p. 103) classificam aqueles “de diferentes empresas ou setores que podem satisfazer necessidades semelhantes dos consumidores”. Barney (2011, p. 36) complementa por afirmar que os substitutos “impõem um teto aos preços que as empresas de um setor podem cobrar e aos lucros que podem auferir. Em última análise, os substitutos tomam o lugar de produtos e serviços de um setor”. As empresas precisam avaliar se atualmente existem ofertas de substitutos que podem ocupar o lugar daqueles produtos e serviços oferecidos por elas. Os grandes laboratórios, por exemplo, têm produtos “similares” e “genéricos” que podem ser a opção de compra para os clientes. O custo destes substitutos tende a ser menor, pois os laboratórios não investem de forma tão intensa em pesquisa e desenvolvimento como fazer os laboratórios que produziram o medicamento pela primeira vez. De qualquer forma, é uma ameaça que tem até mesmo o apoio governamental, no caso do Brasil. Assim, nessa aula ficou muito claro para nós a intensidade da competição entre as organizações e como essa competição se dá. É muito raro uma empresa que surfe sozinha uma onda de mercado, podendo estabelecer suas margens conforme ache conveniente. A prática mostra que a concorrência é implacável e, se os gestores não tiverem boas estratégias para enfrenta-la, decretarão o fim de seus negócios. 140 13 Como Construir a Vantagem Competitiva nas Organizações 141 Prezado(a) aluno(a), É importante sabermos o que pode impactar positiva ou negativamente na intensidade da competição entre organizações. Para isso, o modelo das 5 forças de Porter nos auxilia a pensar que as estratégias de uma organização precisam levar em conta diversos fatores, muitos dos quais não estão sob o controle direto dos gestores. Apesar disso, a organização não pode ficar à mercê do destino; é preciso planejar e traçar estratégias que possam ser implementadas diante de diferentes cenários que possam se apresentar. Algo de extrema importância no planejamento estratégico da organização é construir uma vantagem competitiva que a coloque em posição de destaque no seu setor, tornando-a sempre – ou na maioria das vezes - uma opção considerada na decisão de compra dos clientes. Como podemos saber se uma empresa conseguiu uma vantagem competitiva sobre seus concorrentes? Hill e Jones (2011, p. 128) afirmam que uma empresa “tem uma vantagem competitiva quando sua lucratividade é maior do que a média da lucratividade do setor, e tem uma vantagem competitiva sustentada quando é capaz de manter essa lucratividade superior por vários anos”. Como exemplo, os autores citam o Walmart que tem conseguido uma vantagem competitiva sustentada já por várias décadas, refletida em uma lucratividade em alta. O Walmart é, simplesmente, o maior varejista do planeta. 142 Figura 1: Criação de valor para o consumidor | Fonte: Hill e Jones (2011, p. 130) Uma empresa conseguirá um lucro maior basicamente em duas situações: pelo valor que os seus clientes atribuem aos bens e serviços adquiridos e se houver uma boa gestão em relação aos seus custos de produção (HILL e JONES, 2011). Aqui vale um apontamento muito importante: o preço cobrado por um determinado produto não é o mesmo que o valor percebido pelo cliente. Há diversas teorias econômicas para explicar esse desalinhamento, mas podemos entender de forma mais fácil se enxergarmos o seguinte: quando compramos um determinado produto em qualquer canal de venda, desembolsamos um valor por ele, que é o preço. No entanto, os benefícios que o produto pode nos proporcionar e que nos traz a satisfação de uma necessidade ou desejo é uma expressão de valor subjetivo. Em sendo um valor subjetivo, é diferente de uma pessoa para outra, ou seja, pode ser que ao adquirir um produto, esse trouxe uma sensação de satisfação tão plena, que eu posso acreditar que o que me foi cobrado (preço) é inferior ao que de fato aquele produto vale (conceito subjetivo). Para outra pessoa, a avaliação pode não ser tão positiva. Já pagou por algo um preço que você, ao final das contas, chegou à conclusão que o produto não valia? Na Figura 1, a seguir, temos uma noção de como se forma o valor, preço e custo de um produto. 143 Na Figura 1 temos diversas leituras a serem feitas. Algumas são muito importantes para a definição da estratégia. Quando se menciona na figura o item excedente do consumidor, entende-se que é a diferença entre o preço médio praticado no mercado pelo produto ou serviço e aquilo que o consumidor avalia como sendo o valor real que o produto deveria valer. O conceito de margem de lucro é relativamente fácil: basta deduzir o custo de produção do preço cobrado. Toda vez que a empresa consegue ter um Preço (P) maior que o custo (C), ela terá lucro, que será tanto maior quanto menor for o custo (C), ou se manter o custo estável e conseguir aumentar o preço de venda. No mundo ideal (do ponto de vista da empresa, é claro!), ela deveria poder cobrar um preço (P) idêntico ao valor (V) percebido pelo cliente. Mas, na prática isso não acontece, pelo simples motivo das pressões da competição que o setor exerce. Quanto maior a pressão, o preço (P) tende a se reduzir para alinhar-se com a concorrência, mesmo que o valor (V) continue elevado. Como se forma o valor (V) de um produto? Hill e Jones (2011, p. 130) explicam que O valor criado por uma empresa é medido pela diferença entre V e C (V – C). Uma empresa cria valor convertendo insumos que custam C em um produto ao qual os consumidores atribuem um valor V. Uma empresa pode criar mais valor para seus consumidores baixando C ou fazendo o produto mais atraente por meio de design, funcionalidade, qualidade ou outros atributos em nível superior, a fim de que os consumidores atribuam um valor maior a ele (V aumenta) e, consequentemente, se disponham a pagar um preço maior (P sobe). Dessa forma, o grande “pulo do gato” para que as empresas criem e mantenham uma vantagem competitiva frente aos seus concorrentes, justamente está na criação de valor aos seus produtos e serviços. Quanto maior o valor (V) que os clientes percebam naquilo que estão adquirindo, mais distância a empresa cria em relação às ofertas de valor de seus concorrentes. Tendo em vista essas questões, Porter (1986 apud Sertek, Guindani e Martins, 2012) oferece três estratégias para lidar com as forças competitivas que se apresentam, quais sejam: 144 Diferenciação e enfoque; e Nicho de mercado. Essas estratégias são classificadas na literatura de gestão estratégica como estratégias genéricas competitivas. Vamos entender cada uma dessas estratégias a seguir: Liderança em custo A empresa visa oferecer o produto ou o serviço a um custo mais baixo e tem escopo amplo, devendo atender a vários segmentos empresariais. Ela ainda comanda os preços do setor, mas precisa de paridade ou proximidade com a diferenciação relativa aos seus concorrentes. Diferenciação e enfoque A empresa objetiva ser a única em seu setor e em algumas dimensões amplamente valorizadas pelos compradores, devendo escolher atributos que sejam realmente diferentes. No entanto, precisa de paridade ou proximidade de custos em relação aos seus concorrentes. Servindo a um mercado limitado, a empresa que se utiliza da estratégia do enfoque pode buscar liderança em custos ou em diferenciação nesse segmento, com as mesmas vantagens e desvantagens dos líderes de custo e dos diferenciadores. Nicho de mercado É a busca de um segmentoespecífico do mercado total, que pode ser definido pela singularidade geográfica, por exigências especiais no uso do produto ou por atributos particulares do produto com força de apelo para um determinado e restrito público. Fonte: o autor, com base em Sertek, Guindani e Martins (2012). Podemos visualmente entender como se constituem essas estratégias na Figura 2, a seguir: Liderança em custo; 145 Figura 2: Estratégias competitivas genéricas | Fonte: Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 165). Diante de cada uma das estratégias escolhidas, decisões sobre produtos, mercados e competências devem ser tomadas. Isso pode ser resumido no Quadro 1, a seguir: Quadro 1: Decisões sobre produto/mercado/competências distintivas em estratégias competitivas genéricas | Fonte: Hill e Jones (2012, p. 186). Liderança em custo Diferenciação Foco (nicho) Diferenciação de produto Baixa (principalmente pelo preço) Alta (principalmente pela singularidade) Baixa a alta (preço ou singularidade) Segmentação de mercado Baixa (mercado de massa) Alta (muitos segmentos de mercado) Baixa (um ou poucos segmentos) Competências distintivas Produção e gestão de materiais Pesquisa e desenvolvimento, vendas e marketing Qualquer tipo de competência distintiva 146 Estas decisões serão aplicadas conforme a estratégia que será adotada. Após apresentados os conceitos, vamos detalhar um pouco mais cada um deles. Tente visualizar as decisões, apresentadas no Quadro 1, à medida que considerarmos detalhadamente cada uma das estratégias. Liderança em Custos No caso de liderança em custos, a empresa terá como objetivo “a obtenção de melhor desempenho que os concorrentes, considerando todas as ações para produzir produtos e serviços a custos mais baixos que os da concorrência, o objetivo central de toda a estratégia” (CAMPOS, 2016, p. 176). Com esta estratégia em andamento, todas as ações da empresa se voltarão para uma gestão eficiente e eficaz dos seus custos, independente de que área se considere. Essas ações poderão envolver economias de escala, combate aos desperdícios, eficiência operacional, entre outras. De acordo com Campos (2016), isso confere a possibilidade de a organização ser flexível em relação às suas margens, proporcionando vantagens em relação aos concorrentes que têm estruturas de custo mais rígidas e inflexíveis. As economias de escala obtidas permitem produzir mais a custos cada vez menores. Neste caso, temos uma quantificação da experiência medida pela chamada curva de experiência, que, conforme Campos (2016, p. 178), “indica a duplicação do volume acumulado de produção e a redução a uma porcentagem constante e previsível do custo de fabricação”. Esse comportamento da curva de experiência é mostrado no Gráfico 1, a seguir: 147 Gráfico 1: Curva de experiência | Fonte: Campos (2016, p. 178) Para obter essa vantagem competitiva em custos, a empresa precisa ter uma boa posição de participação no mercado e facilidade para obtenção de insumos e matérias-primas. Além disso, a empresa precisa cuidar constantemente de sua formação de custos de produção, investindo em máquinas e equipamentos que possam continuar gerando essa redução de custos, bem como em pesquisa e desenvolvimento. Como vantagens dessa estratégia, Campos (2016, p. 178) elenca duas principais: 1) Como a empresa tem custos baixos, pode ser mais lucrativa que seus concorrentes mais próximos. 2) Se a rivalidade no setor for grande e as empresas passarem a competir pelo preço, a empresa líder em custos terá maiores vantagens competitivas. 148 Um exemplo não muito antigo no Brasil é o da Gol Linhas Aéreas, que investiu em uma entrada de mercado baseada em uma estratégia por custo total. De maneira rápida e eficaz, a empresa conquistou o nicho de duas outras empresas comerciais que eram fortes no país – TAM e Varig. A organização realizou essa estratégia com a otimização de rotas aéreas, a utilização de vendas online e a redução dos serviços aéreos. A GOL conseguiu reduzir a quantidade de funcionários e os custos operacionais, como manutenção de aeronaves e pessoal em solo, posicionando-se como líder em custos na aviação comercial no país. Fonte: Campos (2016, p. 177). Os produtos e serviços da empresa que compete em custos geralmente se destinam a um tipo de consumidor médio, ou seja, pode não agradar a todos os tipos de consumidor, mas devido ao preço ser mais baixo, torna-se atrativo para seus consumidores de forma geral (CAMPOS, 2016). Existem riscos, no entanto, nessa estratégia. Hill e Jones (2012, p. 189) alertam que os principais riscos surgem [...] quando os concorrentes conseguem desenvolver novas estratégias que reduzam sua estrutura de custos e com isso ganham da líder em custos no próprio terreno. Por exemplo, se uma mudança tecnológica torna as economias da curva de experiência obsoletas, novas empresas poder aplicar tecnologias mais econômicas, que lhes deem uma vantagem de custo sobre a líder em custos. Portanto, revisões constantes na estrutura de custos da empresa, bem como estar atentos a novas tecnologias que possam substituir as tecnologias atuais que proporcionam a vantagem competitiva em custos, torna-se fundamental para os gestores. 149 Estratégia da Diferenciação Uma das estratégias genéricas que as organizações aplicam é a da diferenciação. Por estratégia de diferenciação podemos entender como “aquela que tenta obter uma vantagem competitiva ao criar um produto que seja percebido pelos consumidores como único em algum aspecto importante” (HILL e JONES, 2012, p. 190). Você, como consumidor, tem preferência por algum produto assim? Vamos imaginar um produto comum na atualidade, que são os automóveis. Você talvez possua um ou até mais de um. A função dessa máquina extraordinária é relativamente simples: possibilita que uma pessoa ou várias se desloquem de um ponto A para um ponto B, concorda? Para fazer isso você pode usar um carro de qualquer marca, modelo, cor, enfim, as opções são inúmeras, desde um carro popular até um carro de luxo. Em que consistiria a diferenciação, nesse caso? Basicamente, em nada, pois carros populares têm um alinhamento muito próximo uns dos outros e o mesmo acontece com as outras faixas de automóvel, passando dos modelos médios para os de luxo. Todas as indústrias procuram oferecer um “pacote” de benefícios embarcados que faz com que os produtos se aproximem muito uns dos outros. Mas algumas organizações conseguem oferecer atributos tão distintos que as colocam em uma posição diferenciada. Pense em um relógio diferenciado. Que marca lhe vem à mente? Muito provavelmente um Rolex. Agora em um automóvel diferenciado, qual marca você imagina? Ferrari? Lamborghini? Que tal um Porsche? 150 Parece exagerado pensar que uma organização qualquer consiga fabricar produtos de apelo tão forte quanto as que mencionamos acima, não é? Mas, certamente, essas fábricas todas começaram em algum ponto, em algum momento no tempo, a distanciar-se de seus concorrentes com uma estratégia de diferenciação. Também não podemos esperar que todas as empresas adotem a mesma estratégia para diferenciar seus produtos e serviços. No caso das marcas mencionadas anteriormente, a diferenciação coloca esses produtos naquilo que poderíamos classificar como de categoria premium. Mas há outras formas de diferenciação que poderíamos considerar para os produtos e serviços de uma organização. Neste ponto, diferentes autores oferecem vários mecanismos de diferenciação. Por exemplo, Campos (2016, p. 181) lista os seguintes tipos de diferenciação possíveis: Diferenciação de preço – trata-se da maneira mais básica de diferenciação de um produto: a cobrança de preço baixo. Diferenciação na imagem – refere-se à criação, por meio de marketing, de uma imagem para o produto, uma diferenciação que de outra forma não existiria. Diferenciação de suporte – consiste em uma opção mais visível, apesar de não ter efeito direto no produto. Acompanhando o produto, a empresa oferece base de suporte emcaso de reparos, 151 manutenção ou troca de produto. Diferenciação na qualidade – define a fabricação de um produto melhor; não diferente, mas superior. Diferenciação de projeto – busca a oferta de algo verdadeiramente diferente, que rompe com o projeto tradicional, se existir um. Não diferenciação – é a não existência de base de diferenciação como estratégia. McKeown (2013, p. 89) destaca, sobre esta estratégia que Há uma quantidade infinita de maneiras de ser diferente. Seu produto pode ser menor, maior, mais rápido, mais lento, mais pesado, mais leve, mais feio ou mais bonito. Permite encaixe perfeito com outros produtos. Pode ser promovido por celebridades ou propagandas incríveis. Ser mais conveniente ou mais prestigioso, vir em várias cores e padrões diferentes, ser mais eficiente ou mais silencioso ou, ainda, ter qualquer número de novas funções. O mais importante em relação à diferenciação é que ela precisa ser valorizada pelo cliente mais do que exigências que competem entre si pelo dinheiro e pelo tempo, e ser de maior valor do que custa para você produzi-lo, permitindo-lhe ter lucro para continuar fazendo o produto ou fornecendo o serviço. A diferenciação é determinada por adjetivos e é julgada por quem está lhe pagando. Hill e Jones (2012) destacam que a diferenciação pode ocorrer em três segmentos diferentes: qualidade, inovação e resposta ao consumidor. Vamos entender sucintamente como se dá a diferenciação considerando esses três segmentos a seguir: Qualidade Atributos de qualidade do produto avaliados como superiores pelos consumidores, como um produto de beleza de apelo naturalista ou de pureza. Também pode envolver atendimento de alta qualidade oferecido pela equipe de vendas de uma organização. 152 Inovação Muito importante para produtos de alta tecnologia, nos quais as novas características são a fonte de diferenciação, e muitas pessoas pagam um preço diferenciado por produtos novos e inovadores, como um smartphone de última geração, um console de videogame ou um carro, com alta tecnologia embarcada. Resposta ao consumidor Rápido, eficiente e eficaz serviço de pós-venda ou assistência técnica ao consumidor. Em empresas de serviços, atributos ligados à qualidade do serviço também são importantes, incluindo conhecimento, profissionalismo e reputação. Fonte: o autor, com base em Hill e Jones (2012). Conforme ressaltam Hill e Jones (2012, p. 191), [...] uma empresa que adota uma estratégia de diferenciação luta para se distinguir no maior número possível de dimensões. Quanto menos se parecer com suas concorrentes, mais ela estará protegida contra a competição e maior será o seu apelo de mercado. Daí vem a ideia de oferecer uma imagem de status, realização e prestígio que algumas marcas oferecem. A inovação também traz uma sensação de realização aos consumidores de certos produtos. Basta você notar o que acontece quando uma empresa como a Apple anuncia o lançamento de um novo produto ou nova versão de um produto já existente. Alguns consumidores ficam dias em uma fila (às vezes debaixo de chuva ou neve) para serem os primeiros a adquirir essa novidade. A Apple não tem apenas consumidores; possui, isto sim, seguidores. As desvantagens desse posicionamento estratégico por diferenciação estão justamente em manter essa diferenciação em um horizonte muito extenso de tempo. Como atestam Hill e Jones (2012, p. 193), “os problemas principais da estratégia de diferenciação estão na capacidade de longo prazo de manter a singularidade percebida pelos olhos dos consumidores”. A própria tecnologia é responsável por isso, em grande parte. Quando a Apple lança um produto inovador, em tempo recorde outras empresas seguem a tendência e oferecem até benefícios adicionais. E assim é com vários outros produtos, serviços e conceitos. A onda dos food trucks 153 mostra como uma ideia inovadora pode ter seguidores muito rapidamente, retirando a vantagem de ser o pioneiro no lançamento do diferencial. Não é fácil ser sempre diferente! Estratégia de Nicho A estratégia de nicho também é chamada por vários autores como estratégia de foco. Como esclarecem Hill e Jones (2012, p. 195), a estratégia de foco é aquela de “atendimento às necessidades de um ou de poucos grupos ou segmentos de consumidores”. Ou seja, define-se um nicho de mercado e o foco de atuação da organização volta-se a este nicho. Não faltam exemplos para ilustrar esta proposta estratégica. Veja o caso das pessoas que valorizam uma alimentação saudável. Para esses, há alimentos orgânicos, alimentos e bebidas detox, alimentos com fibras, sem açúcares, isentos de adições químicas, entre outros. Se você focar o nicho dos jovens e pessoas descoladas e atletas (mesmo que amadores) há linhas variadas de produtos, como para skatistas, surfistas, ciclistas, praticantes de running, esportes radicais e outras tantas atividades que se vinculam a este estilo de vida. 154 Figura 3: Tipos de estratégias de nível de negócios | Fonte: Hill e Jones (2012, p. 196). Se o foco for para pessoas “da melhor idade”, temos cada vez mais empresas ofertando um produto ou serviço como um benefício de bem estar, uma solução para uma dificuldade, uma opção de qualidade de vida, entre tantas outras possibilidades. Esse tipo de estratégia é geralmente vinculado a uma ou outra das duas estratégias vistas anteriormente, que são a estratégia de diferenciação e a liderança em custos. Isso porque, uma vez definido o nicho, muito provavelmente a empresa não estará sozinha para atender esse segmento de consumidores, de modo que será necessário aliar a estratégia de diferenciação ou de liderança em custo para ganhar vantagem sobre os concorrentes (HILL e JONES, 2012). Podemos visualizar esta estratégia em operação, comparada com as estratégias de diferenciação e de liderança em custos, na Figura 3, a seguir: Hill e Jones (2012, p. 196) frisam que, basicamente, “uma empresa focada é especializada em diferenciação ou em liderança em custos”. Ou seja, a estratégia de nicho quase em todas as situações está associada à uma ou outra estratégia genérica. Já McKeown (2013, p. 89), coloca dessa forma a estratégia de nicho: 155 [...] é um tipo de diferenciação, já que você se concentra numa parte do mercado e mantém os outros concorrentes longe. Isso pode se dever a restrições geográficas naturais - tal como ser o único cabeleireiro na sua área. Com frequência, o foco é alcançado porque você faz uma diferenciação em relação a quem você tem como alvo ao elaborar propagandas e processos de satisfação em torno dos clientes desse nicho. E, a longo prazo, você começa a fazer mais mudanças no serviço ou no produto para melhor satisfazer as necessidades e aspirações de seu nicho. Na prática, ser o único a atender um determinado nicho é algo difícil de ser alcançado. Sem dúvida, focar em nichos específicos de mercado coloca a empresa mais próxima de seus clientes, dando-lhe condições de acompanhar e entender quaisquer mudanças nas necessidades e desejos desses clientes. Acesse o link: Disponível aqui Alguns mercados de nicho surgem de tempos em tempos, dependendo do aumento do interesse do consumidor em determinado produto ou serviço. Um caso clássico é o das cervejarias artesanais, que começou como um nicho muito reduzido, mas que vem continuamente ganhando novos adeptos. Conheça um pouco mais do desafio de entender mercados de nicho, com ênfase nas cervejarias artesanais, lendo o artigo que você vai encontrar a seguir. Como desvantagem desse tipo de estratégia, Hill e Jones (2012) mencionam que, pelo fato de produzir em volume menor do que um grande fornecedor, os custos de produção desta empresa focada tendem a ser maiores, que, por sua vez, podem impactar na lucratividade, especialmente se a empresa tiver que constantemente 156 http://bibliotecadigital.fgv.br/ocs/index.php/clav/clav2017/paper/viewPaper/6138 investir em pesquisa e desenvolvimento e em equipamentos e máquinas para manter-se diferenciada perante possíveis concorrentes. Em contrapartida,Hill e Jones (2012, p. 198) destacam que as empresas focadas podem ser mais flexíveis e [...] sistemas flexíveis de produção abrem novas oportunidades para empresas focadas, pois ciclos pequenos de produção passam a ser viáveis a baixo custo. Cada vez mais, empresas pequenas e especializadas estão competindo com empresas grandes em segmentos específicos de mercado, nos quais suas desvantagens de custo são muito pequenas. Por conta disso, os gestores de empresas focadas podem realmente obter vantagens por atuar com esta estratégia. Fechando este tópico, apresentamos no Quadro 2, a seguir, os principais riscos associados a cada uma das estratégias genéricas: 157 Quadro 2 – Riscos associados às estratégias genéricas | Fonte: Certo e Peter (2010, p. 95). Riscos da liderança de custos Riscos da diferenciação Riscos do enfoque Liderança baseada em custo não se sustenta Os concorrentes imitam A tecnologia muda Outras bases para a liderança baseada nos custos são destruídas A diferenciação não é sustentada Os concorrentes imitam Bases da diferenciação tornam-se menos importantes para os compradores A estratégia de enfoque é imitada O segmento-alvo torna-se estruturalmente não atraente Erosão da estrutura A demanda desaparece Perda da proximidade na diferenciação Perda da proximidade de custos Concorrentes amplamente visados dominam o segmento Os que enfocam nos custos conseguem custos ainda mais baixos em segmentos da indústria Os que enfocam na diferenciação conseguem diferenciação ainda maior em segmentos Novos concorrentes que enfocam subsegmentos da indústria Este quadro nos reforça a ideia de que não há uma estratégia perfeita, livre de riscos. Todas elas embutem algum tipo de risco para a organização que devem ser avaliados com bastante critério por parte dos gestores. Assim, fica claro para nós, nessa aula, que é preciso definir uma estratégia considerando a realidade do mercado e a própria dinâmica da competição existente, escolhendo aquela estratégia que proporcionar um melhor resultado para a organização. 158 14 Estratégias de Unidades de Negócio 159 Prezado(a) aluno(a), É importante destacarmos que, após o planejamento estratégico ter sido elaborado, há um desdobramento natural para o planejamento tático, onde consideramos as Unidades de Negócio (UNs) das organizações. Uma organização pode ter diversas Unidades de Negócios, que em seu âmbito de atuação, atendem diferentes necessidades de mercado. Uma corporação pode ter várias unidades de negócio que, sendo efetivas, trarão resultados positivos para a corporação como um todo. As grandes corporações podem atuar em áreas bastante distintas, tendo, para cada área, uma Unidade de Negócio dedicada. A Unilever, uma das maiores corporações mundiais de bens de consumo, possui no Brasil diversas unidades de negócio, para produção de itens como amaciantes, sabonetes, desodorantes, creme dental, sorvetes, bebidas à base de soja, maionese, mostarda, ketchup, temperos, amaciantes, amido de milho e tantos outros. Conhece as marcas Maizena, Karo, Kibon, Omo, Comfort, Close Up, Arisco, Knorr, Lux, Dove? São todas marcas da Unilever! Pois bem, como se processam as estratégias para as unidades de negócio de uma organização? A resposta a essa pergunta dependerá em grande parte da fase ou do estado em que o setor se encontra. Basicamente, o setor pode se apresentar nas seguintes situações ou fases, de acordo com Kluyver e Pearce II (2007, p. 113): • Setor emergente ou embrionário • Setor em crescimento e fragmentados • Setor maduro • Setor em declínio 160 Vamos, primeiramente, entender cada um destes setores para, em seguida, avaliarmos quais as melhores estratégias. Setor emergente ou embrionário: para Kluyver e Pearce II (2007), setores emergentes ou embrionários podem ser resultado de inovações tecnológicas que podem criar um setor novo ou provocar a reforma de setores antigos. Como exemplo, temos um setor tradicional, que é o de energia e uma derivação deste setor, em fase ainda inicial, que é o de energias limpas, como são os casos das energias eólica e solar ou fotovoltaica. Setor em crescimento ou fragmentado: De acordo com Hill e Jones (2012, p. 201), muitos setores são “fragmentados, o que significa que são compostos por um grande número de pequenas e médias empresas”. Como exemplo, temos os restaurantes, as academias de ginástica, escritórios de advocacia. As empresas grandes não têm grandes vantagens sobre as pequenas, pois não há possibilidade de obter grandes economias de escala. Além disso, podem existir vantagens de permanecer pequeno, como o fato de estar mais próximo dos consumidores, ter um conhecimento ou expertise local, questões logísticas, entre outras (HILL e JONES, 2012). Logo, é preciso avaliar quais seriam as principais estratégias para cada setor listado anteriormente. Podemos, de forma sintética, apresentar essas estratégias no Quadro 1, a seguir: 161 Quadro 1: Estratégias para Unidades de Negócio | Fonte: o autor, com base em Hill e Jones (2012) e Kluyver e Pearce II (2007). SITUAÇÃO OU FASE DO SETOR ESTRATÉGIA Setor emergente Como as tecnologias ainda não estão maduras, os concorrentes tentarão melhorar designs e processos já existentes ou combiná-los com a próxima geração de tecnologia. Ser pioneiro, ou seja, lançar o produto ou serviço antes dos concorrentes pode formar uma vantagem pelo ineditismo. Os pioneiros podem conseguir lançar os padrões dos produtos subsequentes. É preciso aproveitar as janelas de oportunidade. Setor fragmentado ou em crescimento Montar cadeias, franquias, fusão horizontal, utilização da internet. Setor maduro A estratégia gira em torno da compreensão de como as grandes empresas tentar reduzir coletivamente a grandeza das 5 forças da competição no setor para preservar tanto a lucratividade do setor quanto da empresa. Setor em declínio Pode ser montada uma estratégia em 4 frentes: (1) estratégia de liderança, em que a empresa busca ser a líder no setor em declínio; (2) estratégia de nicho, concentrada em bolsões de demanda que estão em declínio mais lento que o restante do setor; (3) estratégia de aproveitamento imediato dos resultados, também chamada de colheita, que otimiza o fluxo de caixa; (4) estratégia de desinvestimento, em que a empresa vende o negócio para terceiros. 162 Ao ler o quadro anterior, você pode ter pensado em várias empresas que adotaram estas estratégias. Pode-se afirmar que, em alguma medida, a Apple é uma empresa que se posiciona em um setor ainda emergente, pois as tecnologias estão em constante evolução e construção. O ineditismo é parte de seu negócio. O setor de franquias é muito forte no mundo e especialmente no Brasil, mostrando que em setores fragmentados, podemos ter esta estratégia funcionamento muito bem. Um setor maduro como é o caso da TV aberta, coloca os grandes players em constante embate por audiência, tentando levantar barreiras de entrada para novos, como, por exemplo, por deter a maior parte da verba publicitária do setor. Finalmente, nos setores em declínio, você talvez se lembre que a IBM foi a pioneira nos computadores pessoais mas vendeu sua unidade de notebooks para a Lenovo, saindo do negócio. Acesse o link: Disponível aqui Você já deve ter notado que a tecnologia tem impactado setores muito tradicionais, como o de jornais e revistas impressas. Muitos títulos desapareceram e outros conservaram apenas suas edições digitais. Você acredita que o setor de jornais e revistas impressos finalmente desaparecerá? Quer conhecer como está a situação dos principais periódicos do país? 163 https://www.meioemensagem.com.br/home/midia/2020/01/21/circulacao-dos-maiores-jornais-do-pais-cresce-em-2019.html 15 Ferramentas para Análise do Ambiente 164 Prezado(a) aluno(a), Sem dúvida você deve ter internalizado a importância da construção de estratégias para lidar com os desafios a que as organizações se deparam, não é verdade? Para essa construção, faz-se necessário que os gestores compreendam exatamentequal o cenário e o ambiente em que as suas organizações estão inseridas, pois é nesse ambiente que são implementadas as estratégias competitivas e de sobrevivência dessas organizações. Pois bem, mas como proceder a essa análise de ambiente? A análise de cenário é utilizada por um número significativo de empresas de grande porte, sendo que uma pesquisa da revista de negócios Fortune constatou que mais de 50% das 500 maiores empresas listadas nessa revista utilizam a análise de cenários como um mecanismo de planejamento estratégico. Zenaro (2002, apud Sertek, Guindani e Martins, 2012) sugere que os gestores elaborem um número máximo de 3 cenários possíveis, dentro de uma lógica que seria: 165 1. CENÁRIO OTIMISTA: em que se imagina a melhor situação possível para o negócio. 2. CENÁRIO REALISTA: quando se detalha a real situação do negócio, sem interferências externas otimistas ou pessimistas. 3. CENÁRIO PESSIMISTA: em que se prevê a pior situação possível para o negócio (ZENARO, 2002 apud SERTEK, GUINDANI e MARTINS, 2012, p. 146). É uma proposta interessante, mas o que tenho presenciado, em minha experiência junto a empreendedores iniciantes, é que eles se prendem muito a um cenário otimista, ou seja, colocam uma espécie de “óculos cor-de-rosa” e imaginam que tudo vai conspirar a seu favor neste seu negócio nascente. Infelizmente, isso nem sempre acontece, deixando frustrados esses corajosos, porém pouco prudentes, empreendedores. Os gestores, ao procederem essa análise ambiental, precisarão colher dados e transformá-los em informações para a tomada de decisão estratégica. Esses dados poderão ser obtidos de diversas fontes, conforme demonstra a Figura 1, a seguir: 166 Figura 1: Fontes gerais de informações para exames ambientais internos e externos | Fonte: Certo e Peter (2010, p. 40). Evidentemente que, para se traçar a estratégia da organização, além de conhecer o ambiente interno e externo, também é preciso compreender claramente questões como o produto, a estrutura do negócio e o posicionamento da organização junto ao seu público. Temos algumas ferramentas importantes para tratar essas questões. A partir deste momento, vamos considerar as mais utilizadas pelos gestores. 167 Figura 2: O ciclo de vida de um produto | Fonte: Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 147). Ciclo de Vida do Produto Uma ferramenta frequentemente utilizada pelos gestores para traçar estratégias de participação no mercado é a do ciclo de vida do produto. Podemos visualizar na Figura 2, a seguir, como se dá a dinâmica: Observe que o produto passa por fases específicas, desde sua concepção até que seja retirado do mercado por deixar de ser atrativo para os clientes. Vamos entender isso a seguir: INTRODUÇÃO É caracterizada por elevados investimentos, sendo o planejamento um fator crítico de sucesso. Nessa fase, a empresa precisa fazer com que seus produtos e serviços se tornem mais rentáveis. Dessa forma, os investimentos ainda devem continuar 168 elevados. É uma fase que pode tornar o mercado atrativo para potenciais concorrentes. MATURIDADE O mercado se aproxima de sua capacidade máxima, crescendo agora em um ritmo lento. Nesse estágio do ciclo de vida, o número de concorrentes é elevado e o marketing dever ser colocado como atividade central para conquistar novas parcelas de mercado. REJUVENESCIMENTO Significa inovar e reposicionar o produto, retornando à fase inicial do ciclo: a introdução. Essa estratégia é muito utilizada pelas montadoras de veículos, quando estas mudam algumas pequenas características do carro (modelo dos faróis, cor dos estofamentos, leves modificações no design do carro etc.), ou seja, atualizam o modelo para colocá-lo em uma fase primária do desenvolvimento do ciclo de vida. DECLÍNIO Nesta fase, o mercado começa a diminuir consideravelmente. A empresa, levando em consideração as barreiras de saída, apenas escolhe o melhor momento para abandonar esse mercado. Fonte: o autor, com base em Sertek, Guindani e Martins (2012). Não se pode esperar que esse modelo seja aplicável a qualquer segmento de negócios. Alguns produtos não apresentam uma fase de declínio tão acentuada em curto espaço de tempo. Há produtos muito longevos, como é o caso da Coca-Cola, que está no mercado há mais de 100 anos e não mostra sinais aparentes de declínio. Vez por outra, a empresa pode adotar estratégias de um setor maduro, para manter sua participação. 169 Figura 3: Matriz SWOT de Albert Humphrey | Fonte: Lucca (2013, p. 26). Matriz ou Análise SWOT Já pontuamos em vários momentos a necessidade de se conhecer profundamente o ambiente em que a organização está inserida, em todas as suas nuances. Uma ferramenta que se tornou bastante popular na análise ambiental, sendo empregada tanto no ambiente externo quanto no interno é a chamada análise SWOT. De acordo com Lucca (2013, p. 25), esta ferramenta “foi desenvolvida pelo engenheiro químico e consultor empresarial Albert Humphrey (1926-2005) especializado em gestão organizacional e em mudanças culturais nas organizações”. Esta ferramenta, desenvolvida por Humphrey data da década de 1960, mas está em plena utilização em muitas empresas até os dias de hoje. SWOT é uma sigla para quatro palavras em inglês (Strenghts, Weaknesses, Opportunities, Threats), ou Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças, na tradução dos termos. Alguns livros de graduação trazem esta ferramenta como matriz FOFA, usando as iniciais das palavras em português. Eu, sinceramente, não gosto muito, mas nada contra. Veja na Figura 3 a representação desta ferramenta: 170 Para entendermos a aplicação desta ferramenta, observe que existem duas dimensões ambientais. Na dimensão do AMBIENTE INTERNO, a organização pode apresentar forças e fraquezas, ou seja, pontos em que ela é muito boa, com performance de processos ou qualidade superiores, ou um produto reconhecidamente melhor frente aos concorrentes. Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 151) afirma que os pontos fortes “são os aspectos que correspondem às vantagens internas da empresa em relação às concorrentes”. Já os pontos fracos são deficiências que se apresentam e que podem prejudicar a performance da organização em um mercado competitivo. No AMBIENTE EXTERNO, temos oportunidades e ameaças que Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 151-152) explicam da seguinte forma: Oportunidades – referem-se aos aspectos positivos do ambiente que envolvem a empresa e que possuem potencial para lhe trazer vantagem competitiva. Ameaças – referem-se aos aspectos negativos do ambiente que envolvem a empresa e que possuem potencial para comprometer a vantagem competitiva que ela possui. Podemos, para efetuar essa análise dos aspectos do ambiente externo e interno, utilizar um guia dos fatores que impactam em ambos os ambientes, através do Quadro 1, a seguir: 171 ANÁLISE EXTERNA Oportunidades Riscos Entrar em novos mercados ou segmentos? Aumentar a linha de produtos? Diversidade de produtos relacionados? Incluir produtos complementares? Integração vertical? Crescente pressão competitiva? Capacidade de mudar para melhor o grupo estratégico? Convivência com empresas rivais? Crescimento de mercado mais rápido? Outros? Provável entrada de novos concorrentes? Aumento das vendas de produtos substitutos? Crescimento mais lento do mercado? Política governamental restritiva? Vulnerabilidade à recessão e aos ciclos do negócio? Crescente poder de barganha dos clientes ou fornecedores? Mudanças de necessidades e gostos dos compradores? Mudança demográfica relevante? Outros? ANÁLISE INTERNA Pontos fortes Pontos fracos Uma fonte de competência distintiva? Recursos financeiros adequados? Boa habilidade competitiva? Atitude positiva dos compradores? Líder reconhecido no mercado? Estratégias de áreas funcionais? Economias de escala em crescimento? Direção estratégica pouco clara? Posição competitiva desvantajosa? Instalações obsoletas? Lucratividade baixa em virtude de ...? Falta de talento e profundidade administrativa? Falta de experiênciaou competências-chave bem concebidas? Controles ruins na implementação da estratégia? 172 Quadro 1: Considerações para análise dos ambientes externo e interno | Fonte: Certo e Peter (2010, p. 77). Isolado da forte pressão de concorrentes? Dono da tecnologia? Vantagens de custo? Vantagens competitivas? Capacidade de inovação de produtos? Administração competente? Outros? Contaminação por problemas operacionais internos? Vulnerável a pressões da concorrência? Atraso em relação a pesquisa e desenvolvimento? Linha muito limitada de produtos? Imagem fraca no mercado? Desvantagens competitivas? Experiência de marketing abaixo da média? Incapaz de financiar as mudanças necessárias na estratégia? Outros? Uma observação sobre o guia de perguntas apresentado no Quadro 1 é apontada por Certo e Peter (2010), a seguir: Embora as questões listadas (no Quadro 2) possam ajudar diretamente na avaliação dos fatores internos e externos, boa parte do trabalho consiste em responder a elas de modo correto. Isso significa que a importância relativa de cada uma delas precisa ser determinada e seu impacto potencial sobre a formulação da estratégia, avaliado. Por essa razão, a importância relativa de cada questão pode variar de acordo com o nível em que a estratégia é formulada (nível organizacional, de negócios ou funcional). Assim, a ferramenta pode ser um direcionador importante de análise, desde que tomados os devidos cuidados quanto à importância relativa de cada questão. O objetivo principal desta análise é determinar o que se convenciona chamar de FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO, que são aqueles essenciais, vitais, para o sucesso das estratégias organizacionais. Sertek, Guindani e Martins (2012) listam alguns fatores críticos de sucesso, que os consumidores ou clientes atribuem valor, quais 173 Figura 4: Modelo aplicado da análise SWOT | Fonte: Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 153). sejam: preço, rapidez, confiabilidade, tradição, simpatia, atendimento e exclusividade. Como exemplo, os autores citam um fast food que possui, em essência, cinco fatores críticos de sucesso: rapidez, preço, higiene, local e praticidade. Um desdobramento prático da análise SWOT é mostrado na Figura 4, a seguir: No caso da Figura 4, vista acima, os gestores devem, conforme Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 154) “identificar o posicionamento dos produtos e da empresa no sentido de capitalizar, melhorar, monitorar e eliminar os aspectos considerados em relação aos pontos fortes e fracos, bem como em relação às ameaças e oportunidades”. Dessa forma, os gestores poderiam concluir o seguinte: 1. Pontos fortes + oportunidades (ponto A da figura) Nesse quadrante, a empresa provavelmente obtém sucesso com seus produtos, pois aproveita as oportunidades com base em seus pontos fortes. 2. Pontos fracos + oportunidades (ponto B da figura) As oportunidades, nesse quadrante, dificilmente são aprovei tadas em curto prazo. Para obter sucesso, devem-se converter as fraquezas em 174 pontos fortes, o que demanda algum tempo. 3. Pontos fortes + ameaças (ponto C da figura) Nessas condições, as ameaças podem ser tratadas pela orga nização sem maiores problemas, pois os pontos fortes dão sustentação para qualquer eventual ameaça. 4. Pontos fracos + ameaças (ponto D da figura) Essa é uma zona de fragilidade e, para lidar com essa situação, a empresa precisa traçar uma estratégia de eliminação de pontos fracos, para que possa superar as ameaças (SERTEK, GUINDANI e MARTINS, 2012, p. 154). Muito interessante, não acha? Uma ferramenta que aparentemente é simples, mas cujos resultados podem ser extremamente úteis para a organização. Matriz BCG Quando pensamos em uma organização que fornece diversos produtos e serviços ao mercado – que pode ser para nichos diferentes, por exemplo – podemos concluir que nem todos apresentam a mesma performance de retorno para a empresa. Para entender a participação e o posicionamento de um produto no mercado, o BCG – Boston Consulting Group (empresa de consultoria empresarial, fundada por Bruce Henderson na década de 1960) desenvolveu um modelo de avaliação de participação relativa no mercado conhecida como matriz crescimento-participação, ou, simplesmente, Matriz BCG. Mintzberg (2010, p. 100) destaca sobre esta matriz: A matriz de crescimento-participação fazia parte do "planejamento de portfólio", o qual tratava da questão de como alocar fundos para os diferentes negócios de uma empresa diversificada. Antes de seu surgimento, as corporações dependiam de orçamentação de capital e assemelhados para avaliar o retorno sobre o investimento de diferentes propostas. A matriz de crescimento-participação procurava embutir essas opções em uma estrutura sistemática. A intenção era nada menos do que uma tentativa de análise 175 Figura 5: Matriz de crescimento-participação do BCG | Fonte: Henderson (1979 apud Mintzberg 2010, p. 101). estratégica - uma "aplicação de estratégia decisiva", para parafrasear um termo que se tornou popular posteriormente. Use a matriz de crescimento-participação, insiste Bruce Handerson, fundador do BCG e criador da matriz, e você não precisará de algo mais: Um único diagrama, com uma posição projetada para cinco anos, é suficiente para prever a lucratividade, a capacidade de endividamento, o potencial de crescimento e a força competitiva da empresa. Se você procurar nos livros didáticos sobre planejamento estratégico e em artigos científicos, verá diferentes modelos da matriz BCG. Originalmente, conforme foi concebida pelo próprio criador, Bruce Handerson, a matriz se apresentava da seguinte forma: 176 Mintzberg (2010) destaca que a empresa para ter sucesso, precisa ter produtos com diferentes taxas de crescimento e também diferentes participações no mercado. É através da comercialização dos produtos e serviços que se geram fluxos de caixa para a empresa. Por isso, Mintzberg (2010, p. 100) salienta que: • As margens e o caixa gerado são funções da participação de mercado. Altas margens e alta participação de mercado vão lado a lado. Este é um assunto de observação comum, explicado pelo efeito da curva de experiência. • O crescimento requer recursos para financiar os ativos adicionais. Esses recursos são uma função das taxas de crescimento. • Uma alta participação de mercado precisa ser conquistada ou comprada. A compra de participação de mercado requer investimento adicional. • Nenhum produto e/ou mercado pode crescer indefinidamente. O retorno do crescimento deve vir quando o crescimento fica mais lento, ou não virá, O retorno é um dinheiro que não pode ser reinvestido naquele produto. Por isso, precisamos identificar os produtos que compõem a matriz. Mas, antes, vamos apresentar uma “versão” diferente da matriz BCG, que também é muito utilizada. Veja na Figura 6, a seguir: 177 Figura 6: Matriz BCG | Fonte: o autor, baseado em Lucca (2013, p. 27). Identificando os produtos que compõem a matriz BCG, temos a explicação a seguir, pelo modelo apresentado por Lucca (2013): Questionamento Também conhecido como “ponto de interrogação” ou “criança-problemática”, tem uma situação delicada quanto ao retorno sobre o investimento. Produtos nesse quadrante precisam receber investimentos para aumentarem sua participação em mercado promissor e crescente e neste caso tornarem-se um produto “estrela”. Por outro lado, caso a decisão seja a de não investir no produto para mudar sua participação de mercado, o tempo de ciclo do mercado poderá expirar e o produto terá absorvido um grande investimento, tornando-se um “abacaxi”. 178 Estrela Os produtos “estrela” são referências no mercado, possuem alta participação em um mercado promissor e crescente. São lucrativos, embora exijam grandes investimentos e com taxas de crescimento potencialmente elevadas. A melhor decisão estratégica é garantir os investimentos para que o produto não perca sua participação no mercado, pois quando a potencialidade de crescimento do mercado perder sua força com o tempo, ele pode se tornar uma“vaca leiteira”. Vaca leiteira Nesse quadrante estão os produtos mais lucrativos da empresa. Com o baixo crescimento do mercado, esses produtos não exigem grandes investimentos e já detêm uma alta taxa de participação no mercado. Geralmente, são estes produtos que sustentam o desempenho atual da organização. Abacaxi Também conhecido como “cão”, “vira-lata” ou “animal de estimação”, deve ser evitado e minimizado nas empresas. São produtos que não são lucrativos, pois têm baixa participação no mercado, e não possuem expectativa de crescimento. Quando não houver mais rentabilidade, a melhor decisão estratégica será abandonar o produto. Fonte: o autor, com base em Lucca (2013). Para o autor da matriz BCG, Henderson (1979 apud Mintzberg, 2010, p. 102), a empresa que tem um leque de produtos diversificado, pode ter um portfólio equilibrado, aproveitando-se de oportunidades de crescimento. Para esse autor, essa portfólio equilibrado é constituído por: "Estrelas", cuja alta participação e alto crescimento garantem o futuro; "Vacas leiteiras", que fornecem fundos para aquele crescimento futuro; "Crianças-problema", a serem convertidas em "estrelas" com os fundos adicionais; Os "cães" não são necessários; eles são evidências de fracasso, tanto na obtenção de uma posição de liderança, durante a fase de crescimento, quanto para sair e cortar os prejuízos (HENDERSON, 1979 apud MINTZBERG, 2010, p. 102). 179 As decisões quanto a manter ou excluir um produto do portfólio da organização deve levar esses fatores em consideração. Complementando, McKeown (2013, pp. 224-225) faz a seguinte recomendação sobre como utilizar esta ferramenta: Descubra qual é o crescimento do mercado e a participação dos produtos (ou divisões ou subsidiárias) em que você está focado. Uma estimativa relativa é suficiente nesse estágio inicial. O objetivo é ser capaz de organizar o que você tem em quatro grupos, para que possa decidir onde priorizar o esforço e o investimento. Em geral, investe-se mais em produtos estrela para fazer com que se mantenham crescendo, mas menos investimento é feito em vacas- leiteiras porque elas não precisam do dinheiro e não podem crescer. Da mesma forma, nenhum investimento é leito em abacaxis, já que não têm futuro. E longas horas são gastas debatendo se interrogações podem ser transformadas em estrelas com a quantidade certa de investimento. Tente visualizar em uma organização produtos que poderiam ser enquadrados em cada um desses quadrantes. É fácil e simples fazer essa identificação? McKeown (2013) afirma que, apesar das vantagens da matriz BCG, é preciso tomar cuidado pois mercados não são definidos de forma tão clara e participação de mercado não é sinônimo de lucratividade e, por conta disso, esse autor recomenda que é muito mais interessante analisar o crescimento da receita e o lucro gerado por cada produto comercializado. 180 Figura 7: Modelo da matriz McKinsey ou Matriz GE | Fonte: Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 158). Matriz de McKinsey ou Matriz GE Uma ferramenta interessante de avaliar a participação de produtos no mercado e, a partir disso, elaborar as estratégias organizacionais é a matriz de McKinsey ou matriz GE. Há outros nomes pelos quais essa ferramenta é conhecida, como “matriz de nove células da GE, matriz de carteira de negócios das nove células da GE e matriz de pontos de negócios e atividades de mercado” (CERTO e PETER, 2010, p. 86). Os nomes alternativos da Matriz de McKinsey, como o que a denomina como matriz de nove células da GE, são compreensíveis, pela própria estrutura que se apresenta visualmente na Figura 7, a seguir: 181 Para entendermos como se aplica esse modelo, é relativamente simples: é na intersecção entre o eixo horizontal de atração do setor com o eixo vertical de participação no mercado que se traça a estratégia a ser adotada. Basicamente, seria assim: • ao relacionarmos cada eixo da matriz, horizontal e vertical, temos o posicionamento do produto. Se estivermos em um mercado pouco atrativo, que não cresce e que possui escassa participação, devemos deixar de investir no negócio; • no outro extremo da matriz, aparecem as situações de sucesso estratégico: os mercados com altas oportunidades. Nessa situação, a estratégia ideal é defendermos essa posição privilegiada em relação aos concorrentes; • na zona intermediária, a empresa não tem uma posição privilegiada em mercados atrativos. Assim sendo, devemos adotar uma ação estratégica que melhore nossa participação e, consequentemente, aumente nossos rendimentos (SERTEK, GUINDANI e MARTINS, 2012, p. 158). Observe que, em cada decisão, há resultados financeiros envolvidos, seja de deixar de investir, seja de investir para manter, defender ou avançar na posição. Exemplificando a utilização, observe no Quadro 2, a seguir: 182 ATRATIVIDADE DO SETOR PONTOS FORTES DO NEGÓCIO Fatores de mercado Tamanho (dinheiro, unidade ou ambos) Sua participação (na mesma medida) Tamanho dos segmentos-chave Sua participação nos segmentos-chave Taxa de crescimento por ano Sua taxa de crescimento anual Total Total Segmentos Segmentos Diversidade de mercado Diversidade de sua participação Sensibilidade a preços, características Sua influência sobre o mercado Repetitividade Atrasos e adiantamentos de vendas 183 Sazonalidade Poder de barganha de fornecedores poderosos Poder de barganha de seus fornecedores Poder de barganha de fornecedores “amigos” Poder de barganha de seus clientes Concorrência Tipos de concorrentes Onde você está, como você se compara no que diz respeito a produtos, capacidade de marketing, serviços, pontos fortes na produção e finanças, e administração Grau de concentração Mudanças no tipo e no mix Entradas e saídas no mercado Segmentos em que você entrou ou dos quais saiu Mudanças na participação Mudança em sua participação relativa 184 Substituição por nova tecnologia Sua vulnerabilidade a novas tecnologias Graus e tipos de integração Seu próprio nível de integração Fatores econômicos e financeiros Margens de contribuição Suas margens Fatores de alavancagem, tais como economias de escala e experiências Sua escala e experiência Barreias à entrada e saída Barreiras à sua entrada ou saída (tanto financeiras como não financeiras) Utilização da capacidade Sua utilização da capacidade Fatores tecnológicos Maturidade e flexibilidade Sua capacidade de enfrentar mudanças Complexidade Seu grau de experiência 185 Diferenciação Tipos de sua experiência tecnológica Patentes e direitos Sua proteção de patentes Processo tecnológico de manufatura exigido Sua tecnologia de manufatura Fatores sociopolíticos em seu ambiente Atitudes e tendências sociais Resposta e flexibilidade de sua empresa Leis e regulamentos de agências do governo Capacidade de sua empresa em competir Influência sobre grupos de pressão e representantes do governo Agressividade de sua empresa Fatores humanos, tais como sindicalização e aceitação pela comunidade Relacionamento de sua empresa Quadro 2: Fatores que contribuem para a atratividade e pontos fortes de negócio do setor | Fonte: Certo e Peter (2010, pp. 87-88). 186 Há desdobramentos importantes no uso desta ferramenta, como a comparação, através de pesos, do que temos como pontos de atratividade do negócio com os pontos fortes do negócio. 187 16 Ferramentas para Análise de Ambiente: a Cadeia de Valor, a Visão Baseada em Recursos e o Balanced Scorecard 188 Prezado(a) aluno(a), Como você já deve ter percebido, as organizações impactam profundamente a vida das pessoas, quer positiva quer negativamente. E as pessoas, consideradas sob o ponto de vista de mercado consumidor, também impactam essas organizações, forçando-as a movimentos de melhoria de processos, de redução de preços e aumento da qualidade de seus produtos e serviços. Veremos nessa aula algumas ferramentas que os gestores se utilizam para analisar se estão sendo eficientes, eficazes e efetivos na sua relação com outras organizaçõese com o mercado de forma geral. Iniciaremos nossas considerações tratando de um conceito muito importante para tornar disponíveis serviços e produtos aos consumidores: a cadeia de valor. A Cadeia de Valor Estamos tão habituados a ter nossas necessidades e desejos atendidos por organizações que, por vezes, não percebemos qual o papel uma determinada organização desempenhou para tornar aquele produto ou serviço disponível. Em um exemplo simples, imagine-se em um grande supermercado, fazendo suas compras para o final de semana. Você tem vários corredores, com gôndolas e prateleiras, onde são expostos produtos dos mais diversos, além de áreas como açougue, padaria, hortifrútis, entre outras. Você enche seu carrinho, paga no caixa e vai embora. Mas, se pudesse voltar até a origem dos produtos que você adquiriu, veria que há diversos processos envolvidos, em que não uma única organização participou, mas, muito provavelmente, uma cadeia de organizações, que captou a matéria-prima, transformou essa matéria-prima através de um parque produtivo de máquinas e equipamentos, colocou para distribuição, armazenagem, até chegar aos pontos de venda. A cada intervenção e participação de um membro de uma cadeia de suprimentos, temos a agregação de um valor ao produto, até que chegue ao ponto de consumo final. Essa sequência de participação e intervenção de diversas organizações no fluxo de um produto ou serviço até seu ponto de consumo é chamada de cadeia de valor. Gerenciar uma cadeia, de modo proporcionar o melhor resultado a todos os participantes da cadeia e que seja reconhecido como de valor para o cliente é o grande desafio dos gestores (CAMPOS, 2016). 189 Figura 1: Composição de uma cadeia de valor | Fonte: Campos (2016, p. 92). Uma organização, inserida em uma cadeia de valor, deve avaliar como sua estrutura contribui para essa geração de valor esperada. Campos (2016, p. 92) observa que Porter (1985) dividiu a empresa em nove áreas ou elos, sendo cinco atividades principais - logística de entrada, manufatura, logística de saída, marketing e vendas - e quatro atividades de suporte - infraestrutura, recursos humanos, pesquisa e desenvolvimento (P&D) e compras transversais à empresa. As atividades principais estão diretamente ligadas ao fluxo dos produtos ou serviços até o cliente, enquanto as atividades de suporte servem para apoio às atividades principais. A ideia de Porter, ao estabelecer essas áreas, é a de que a soma do valor agregado que cada um desses setores gera com uma margem estabelecida resulta no valor agregado que a empresa fornece aos seus clientes. Podemos visualizar uma cadeia de valor na Figura 1, a seguir: Considerando as atividades primárias e de apoio da cadeia de valor, podemos entender seu papel no Quadro 1, a seguir: 190 ATIVIDADES PRIMÁRIAS ATIVIDADE EXPLANAÇÃO Logística de entrada Constitui-se nas atividades associadas às operações de recebimento, armazenamento, controle e distribuição interna dos insumos. Manufatura Refere-se às ações de transformação dos insumos em produto acabado para os clientes. Logística externa Diz respeito às operações associadas à manipulação dos produtos finais destinados aos clientes, como os registros de pedidos, embalagens, armazenamento, montagem e desmontagem, manutenção e transporte até a entrega aos consumidores. Marketing e vendas São as ações de promoção dos produtos e serviços aos clientes. Serviços de pós- venda Consistem nas ações relacionadas às atividades de pós- venda de produtos. ATIVIDADES DE APOIO (OU SUPORTE) ATIVIDADE EXPLANAÇÃO Infraestrutura da empresa São as atividades referentes à elaboração de planos de controle contábil, financeiro, legal e de gestão em geral. Recursos humanos Consistem nas atividades relacionadas ao recrutamento e seleção de pessoas, à contratação, ao treinamento, à capacitação e ao desenvolvimento dos colaboradores. Pesquisa e desenvolvimento Referem-se a atividades de desenvolvimento de novos produtos, melhoria dos existentes e incremento dos 191 Quadro 1: Atividades primárias e de apoio na cadeia de valor | Fonte: o autor, com base em Campos (2016). processos internos da empresa. Compras institucionais São ações relacionadas às operações de compra de insumos, máquinas e equipamentos utilizados na fabricação e no suporte das operações fabris. Com a visão da cadeia de valor, os gestores podem tomar decisões importantes, como focar nas atividades primárias e terceirizar certas atividades de apoio, por exemplo. É claro que isso não é uma receita aplicável a qualquer organização, mas muitas seguem por esse caminho. Ou, ao menos procuram tornar eficientes as áreas de apoio, com uso adequado e racional dos recursos de modo que os custos sejam os menores possíveis. Dentro da lógica de uma cadeia de valor, temos outro fundamento importantíssimo para a gestão estratégica que é o de competências. As atividades em que a organização demonstra grande força e habilidade são chamadas de competências essenciais. São chamadas assim aquelas competências que trazem alguma vantagem competitiva para a organização (CAMPOS, 2016). Conceitualmente, definem-se competências essenciais como “um conjunto de recursos que, articulados de forma adequada, são difíceis de imitar, são versáteis e contribuem para o desempenho do empreendimento” (CAMPOS, 2016, p. 96). O exercício, de acordo com Campos (2016), é realizar análises periódicas das competências da organização, visando assegurar que essas ainda são essenciais para o negócio. As perguntas a serem feitas, para realizar essas análises, são: • Nossa competência essencial provê acesso a mercados variados? • Nossa competência essencial traz uma significativa contribuição ao valor percebido do produto pelo cliente? • Nossa competência essencial é difícil de ser imitada pelos concorrentes? (CAMPOS, 2016, p. 96). É prudente essas reavaliações, pois o exame pode revelar necessidades de ajustes na gestão estratégica da organização. 192 As empresas fazem uma avaliação de sua cadeia de valor para assegurar que esta contribui de fato para a geração de valor para o cliente. O Banco do Brasil, por exemplo, tem a seguinte postura em relação à sua cadeia de valor: “trabalhar com a visão de cadeia de valor significa considerar todas as etapas dos processos de produção e de distribuição que agregam valor a produtos e serviços até o consumidor final”. Fonte: o autor, com base em Campos (2016, p. 97). A Visão Baseada em Recursos (VBR) Como vimos no item anterior, as organizações possuem certas competências essenciais que, se bem utilizadas, proporcionam uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes. Seguindo essa lógica, Barney (2007) trata do uso dos recursos que a organização tem à sua disposição para estabelecer o alicerce de sua vantagem competitiva. Essa é a ideia por detrás da VBR, a Visão Baseada em Recursos, conceito que ganhou força nos estudos sobre estratégias organizacionais. 193 Como podemos entender recursos pela Visão Baseada em Recursos? Barney (2007, p. 58) explica que Recursos, no modelo VBR, são definidos como ativos tangíveis e intangíveis que a empresa controla e que podem ser usados para criar e implementar estratégias. Entre os exemplos de recursos, podemos citar as fábricas (um ativo tangível) de uma empresa, seus produtos (um ativo tangível), sua reputação entre os clientes (um ativo intangível) e o trabalho em equipe entre seus gerentes (um ativo intangível). Para as organizações, os recursos podem ter as seguintes origens: Recursos financeiros – dinheiro de qualquer fonte, incluindo lucros retidos, que a empresa pode utilizar para formular e sustentar suas estratégias. Entre essas fontes estão os proprietários (ou acionistas), bancos, credores, entre outros. Recursos físicos – trata-se da tecnologia utilizada pela empresa, incluindo planta ou parque de produção, localização geográfica, acesso a matérias-primas, hardware e software. Recursos humanos – envolve treinamento, experiência, inteligência, relacionamentos,dos gerentes e colaboradores de uma organização. Algumas empresas dependem quase exclusivamente desse recurso, como é o caso de empresas de tecnologia de ponta, cujas inovações são fruto dos seus recursos humanos. Recursos organizacionais – referem-se a atributos de grupos de pessoas, incluindo a estrutura hierárquica da empresa, sistemas formais e informais de planejamento, coordenação e controle, cultura organizacional e sua imagem e as relações informações entre grupos internos e externos à empresa (BARNEY, 2007). Barney (2007) destaca muito bem que as organizações, mesmo competindo em um mesmo setor, não possuem necessariamente os mesmos recursos em proporções idênticas. Essa discrepância de recursos é chamada de heterogeneidade de recursos. Como exemplo, o autor lista a Toyota como tendo uma competência de produção maior que outras montadoras, superioridade conseguida pelo uso de recursos diferenciados em relação aos concorrentes, enquanto a Apple destaca-se 194 pelo design inovador de seus produtos, também fruto de competências distintas obtidas pelo uso exclusivo de certos recursos, diferentemente dos demais competidores. Uma forma de classificar os recursos da uma organização é o modelo VRIO, uma sigla para VALOR, RARIDADE, IMITABILIDADE e ORGANIZAÇÃO. Sertek, Guindani e Martins (2012, pp. 167-168) explicam assim os recursos no modelo VRIO: Recursos valiosos: atendem à necessidade de a empresa ter uma estratégia de criação de valor, ou seja, um recurso deve possibilitar essa valoração do produto ou da empresa por meio da superação de seus concorrentes ou reduzindo suas próprias fraquezas. Uma coisa relevante nesse critério é que os custos para obter esse recurso não podem ser superiores aos benefícios futuros que serão trazidos por ele. Recursos raros: para possuir valor, um recurso deve ser, por definição, raro. Recursos não imitáveis: sendo um valioso recurso, controlado por apenas uma empresa, ele pode ser uma fonte de vantagem competitiva. No entanto, essa vantagem só pode ser sustentável se os concorrentes não são capazes de duplicar esse ativo estratégico de maneira perfeita. Recursos não substituíveis: mesmo que seja um recurso raro, potencialmente gerador de valor e não imitável, um aspecto igualmente importante é que ele não seja substituível. Esse aspecto é muito importante, pois, se os concorrentes são capazes de criar um similar ou um produto com base em um recurso substituto mais barato, a empresa vê-se obrigada a baixar seus preços até o limite, podendo resultar em nenhum lucro econômico. Para compreender como é realizada a análise dos recursos de uma organização pelo modelo VRIO, dentro da Visão Baseada em Recursos (VBR), o Quadro 2 nos auxilia: 195 Quadro 2: Análise da vantagem competitiva sustentável pelo modelo VRIO | Fonte: Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 169). A empresa possui o recurso? Valioso Raro Não imitável Não substituível Implicações competitivas Não - - - - Desvantagem competitiva Sim Não - - - Desvantagem competitiva Sim Sim Não - - Paridade competitiva Sim Sim Sim Não - Vantagem competitiva temporária Sim Sim Sim Sim Não Paridade competitiva Sim Sim Sim Sim Sim Vantagem competitiva sustentável Obter a vantagem competitiva sustentável, como pode ser percebido pelo Quadro 2, é responder afirmativamente a todos os requisitos quanto aos recursos no modelo VRIO. 196 O Balanced Scorecard (BSC) Durante muitos anos, as organizações utilizavam-se, para formulação de suas estratégias e acompanhamento de sua performance, apenas indicadores relacionados às perspectivas financeira e contábil. Apesar da importância que essas dimensões têm para as organizações, elas não davam conta dos desafios crescentes que as organizações enfrentavam em ambientes competitivos. Avaliando essa necessidade, surgiu na década de 1990 (mais especificamente em 1992) uma das principais ferramentas para formulação estratégica utilizada na atualidade, que é o Balanced Scorecard (BSC). Essa ferramenta foi desenvolvida por dois professores da Harvard Business School, os doutores Robert Kaplan e David Norton. Campos (2016, p. 257) pontua que o BSC surgiu pela necessidade de analisar as organizações em sua complexidade, e tem como objetivo principal “traduzir a missão e a estratégia da empresa na forma de objetivos e indicadores e resume-se a um único documento, dividido em quatro diferentes perspectivas: financeira, clientes, processos internos e aprendizagem e crescimento”. 197 Alves e Vieira (2011, p. 3) explicam assim essas quatro perspectivas: 1. Perspectiva Financeira: com o BSC as medidas financeiras deixam de ser o foco principal, mas são preservadas devido à importância que têm no que se refere às consequências econômicas imediatas de ações consumadas; 2. Perspectiva do Cliente: envolve a identificação de segmentos de clientes e mercados nos quais a organização competirá e as medidas de desempenho nesses segmentos-alvo; 3. Perspectiva dos Processos Internos: envolve a identificação dos processos críticos nos quais a empresa deve alcançar a excelência, oferecendo propostas de valor que atraiam e retenham clientes em segmentos-alvo de mercado e satisfaçam às expectativas financeiras dos acionistas; 4. Perspectiva do Aprendizado e Crescimento: envolve a identificação da infraestrutura que a empresa deve construir para gerar crescimento e melhoria no longo prazo, que têm como fontes as pessoas, os sistemas e os procedimentos. A evolução que se deu nesta ferramenta ao longo dos anos, sendo inserida para a gestão empresarial, possibilitou novos usos e aplicações ao BSC, tornando-se um verdadeiro “modelo organizacional e um processo de mudança organizacional voltado para o alinhamento e foco estratégico” (ALVES e VIEIRA, p. 4). O alinhamento do BSC às estratégias organizacionais deve ser realizado observando- se três princípios: [...] as relações de causa e efeito (o scorecard deve traduzir a estratégia através de uma sequência de relações de causa e efeito), os vetores de desempenho (o scorecard deve ser uma combinação de medidas de resultados e vetores de desempenho, pois estes comunicam como se alcançar aqueles) e a relação com os fatores financeiros (as relações causais de todas as medidas incorporadas ao scorecard devem estar vinculadas a objetivos financeiros) (ALVES e VIEIRA, p. 4). Podemos exemplificar essas relações de causa e efeito, que integram as perspectivas do BSC, na Figura 2, a seguir: 198 Figura 2: A relação de causa-e-efeito no BSC | Fonte: Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 215). Percebe, na Figura 2, que toda a estratégia converte para o lucro, que é, em última análise, um dos principais objetivos de uma organização empresarial, mas que somente poderá ser assegurado, de forma sustentável, na integração de todas as perspectivas do BSC. Na Figura 3, a seguir, conseguimos visualizar essas perspectivas abarcadas pelo BSC: 199 Figura 3: Perspectivas do Balanced Scorecard (BSC) | Fonte: Martins et al (2010, p. 24). Acesse o link: Disponível aqui Construir um BSC para operações empresariais é um desafio para os gestores. Alguns artigos acadêmicos tratam a respeito disso. Para acessar um exemplo de como esses indicadores do BSC podem ser formulados, acesse o interessante artigo da revista científica ConTexto. 200 https://seer.ufrgs.br/ConTexto/article/view/24302/pdf Figura 4: Perspectivas para o BSC | Fonte: Campos (2016, p. 238). O BSC sai de uma abordagem puramente de processos e grandezas financeiras – embora, é claro, busque a sustentabilidade da organização no tempo – para abordagens mais sistêmicas, dos ativos intangíveis, que envolvem, na visão de Kaplan e Norton (2000 apud Martins et al. 2010, p. 25), “relacionamentos com os clientes, produtos e serviços inovadores, tecnologia da informação e banco de dados, vão além de capacidades, habilidades e motivação dos empregados”. A ideia é uma integração das perspectivas, estabelecendo-se indicadores em cada uma delas, de modo tal que se possa atingir a visão ecumprir a missão organizacional. Esses indicadores podem ser visualizados na Figura 4, a seguir: Ao pensar nas perspectivas do BSC, apresentadas na Figura 4, é lógico pensarmos que, em cada uma delas, os gestores irão estabelecer os objetivos a serem atingidos, métricas para o acompanhamento desses objetivos, as metas desejáveis (que podem ser originadas, por exemplo, de um processo de benchmarking) a as ações e iniciativas que deverão ser implementadas para que se atinjam as metas. Há muitos livros, artigos e portais na internet que visam apresentar diversas aplicações ao BSC. É muito recomendável que você busque esses materiais. Bons estudos! 201 Conclusão Prezado(a) aluno(a), foi um grande prazer e enorme responsabilidade trabalhar pontos relevantes da gestão organizacional com você! Em nossos estudos, percebemos como as organizações – independentemente do porte ou setor de atuação – precisam definir propósitos para a sua atuação, ou seja, precisam ter uma missão claramente definida, que vai guiar os esforços dos gestores em direção ao cumprimento dessa missão e da realização da visão de longo prazo. Nenhum empreendedor inicia um novo negócio para fechar as portar depois de apenas alguns anos (em alguns casos, meses!). A ideia sempre é que a organização se mantenha ao longo do tempo e, de preferência, que prospere, gerando assim benefícios para os seus diversos públicos atendidos, bem como aos seus controladores. A realidade, porém, é que muitos empreendimentos não conseguem obter êxito, pois as forças externas, provenientes do ambiente, podem ser contrárias à atuação da organização, e os gestores não tiveram a competência de reverter esses obstáculos e aproveitar-se das oportunidades que esse mesmo ambiente oferece. Assim, consideramos a importância da gestão e do planejamento estratégico para que a organização possa concorrer neste ambiente cada vez mais competitivo. Ao longo das aulas, tratamos de conceitos fundamentais tais como a origem e aplicação da estratégia nas organizações, a importância da definição de uma missão e visão empresarial, a formulação das estratégias nos diversos níveis da estrutura organizacional, a natureza e o estabelecimento da vantagem competitiva, as ferramentas mais usuais e conhecidas da gestão estratégica, entre tantos outros tópicos relevantes. Espero que a disciplina tenha lhe sido de proveito e que tenha despertado em você o interesse de conhecer ainda mais esses fundamentos apresentados. Foi uma honra trabalhar essa disciplina com você! Sucesso! Prof. Me. Paulo Pardo 202 Material Complementar Livro O essencial da administração estratégica: casos reais e aplicação prática da teoria Autores: Charles Hill e Gareth Jones Ano: 2012 Editora: Saraiva Sinopse: Estruturado para explicar, de modo claro e conciso, a importância da administração estratégica para as pessoas, empresas e sociedade, o livro discute os principais tópicos de gestão, fornecendo um panorama amplo do que é a administração estratégica e de como a construção de uma estratégia afeta o desempenho de uma empresa. Livro Ascensão e queda do planejamento estratégico Autor: Henry Mintzberg Ano: 2004 Editora: Bookman Sinopse: Neste texto, Henry Mintzberg desvenda o processo do planejamento estratégico. Um dos primeiros pensadores em Administração, Mintzberg conclui que a estratégia não pode ser planejada, porque planejamento é análise e estratégia é síntese. É por essa razão, assegura o autor, que o processo fracassa de forma tão frequente e dramática. Esta é uma obra para todos que são influenciados, em uma organização, pelo planejamento ou pelo processo de elaboração da estratégia. 203 Filme Troia Ano: 2004 Direção: Wolfgang Petersen Sinopse: Em 1193 A.C., Paris (Orlando Bloom) é um príncipe que provoca uma guerra da Messência contra Tróia, ao afastar Helena (Diane Kruger) de seu marido, Menelaus (Brendan Gleeson). Tem início então uma sangrenta batalha, que dura mais de uma década. A esperança do Priam (Peter O'Toole), rei de Tróia, em vencer a guerra está nas mãos de Aquiles (Brad Pitt), o maior herói da Grécia, e seu filho Hector (Eric Bana). Filme O plano perfeito Ano: 2006 Direção: Wolfgang Petersen Sinopse: Quatro pessoas vestidas com uniformes de pintor entram no movimentado banco Manhattan Trust. Em poucos minutos elas controlam o local, para a realização de um assalto planejado em detalhes. Após a notícia do assalto ser divulgada chegam ao local os detetives Keith Frazier (Denzel Washington) e Bill Mitchell (Chiwetel Ejiofor), que têm a missão de fazer contato com o líder dos bandidos, Dalton Russell (Clive Owen). Os detetives trabalham com o auxílio do capitão John Darius (Willem Dafoe) e esperam que a situação seja resolvida rapidamente. Porém eles não contavam com a frieza e inteligência de Russell, que parece estar sempre um passo à frente das ações da polícia. Quando a capacidade de Frazier começa a ser posta em dúvida surge Madeline White (Jodie Foster), uma poderosa jogadora que solicita um encontro particular com Russell. 204 ALVES, Alane; VIEIRA, M. G. Balanced Scorecard: Uma ferramenta estratégica e de controle das empresas. XXXI Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Anais... Belo Horizonte, 2011. BARBOSA, Emerson Rodrigues; BRONDANI, Gilberto. Planejamento estratégico organizacional. Revista eletrônica de contabilidade, v. 1, n. 2, p. 123, 2005. 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