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DESCRIÇÃO Cinesiologia e Biomecânica dos membros superiores: cintura escapular, ombros, braços, cotovelos, antebraços, punho e mão. PROPÓSITO Conhecer o comportamento articular e segmentar dos membros superiores a partir das demandas cotidianas, terapêuticas ou do exercício é imprescindível para o profissional da saúde que trabalha com o movimento. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar o comportamento funcional do complexo do ombro a partir das diferentes estruturas anatômicas e com base nas demandas cotidianas e esportivas MÓDULO 2 Reconhecer o arranjo do complexo do cotovelo considerando a sua capacidade de amplitude de movimento e a estabilidade do sistema locomotor MÓDULO 3 Relacionar as estruturas anatômicas da região do punho e da mão com as demandas funcionais e as múltiplas possibilidades de combinação entre os movimentos INTRODUÇÃO Uma das características que distingue o homem dos outros animais é a sua capacidade manipulativa. Mas, para que ela ocorra, há necessidade de uma série de arranjos nas articulações e nos segmentos que constituem os membros superiores. Ao iniciar este estudo, é preciso ter em mente que nem sempre a articulação dotada de maior mobilidade é a mais estável, e a de menor capacidade de movimentação é a menos relevante. Estruturas como as articulações esternoclavicular e acromioclavicular são tão importantes quanto outras articulações que constituam os membros superiores. Que tal conhecermos um pouco mais dessas articulações? A partir de exemplos aplicados no dia a dia e nos esportes, vamos identificar a sua importância e as diferentes capacidades funcionais com os referidos mecanismos de otimização dos movimentos. Vamos então ao estudo! MÓDULO 1 Identificar o comportamento funcional do complexo do ombro a partir das diferentes estruturas anatômicas e com base nas demandas cotidianas e esportivas COMPLEXO DO OMBRO O complexo do ombro é uma estrutura que envolve a cintura escapular e o úmero na sua região proximal, com base nas capacidades funcionais das articulações esternoclavicular, acromioclavicular e glenoumeral. Essas articulações atuam de maneira combinada e permitem maior alcance para a região da mão e dedos. Dessa forma, vale já destacar que uma alteração estrutural ou funcional na região do complexo do ombro tenderá a afetar também toda cadeia de movimento dos membros superiores. Imagem: Shutterstock.com. Adaptado por Claudio Gonçalves Peixoto O complexo do ombro é uma estrutura que envolve a cintura escapular e o úmero na sua região proximal, com base nas capacidades funcionais das articulações esternoclavicular, acromioclavicular e glenoumeral. CONCEITOS BÁSICOS Alguns conceitos são necessários, para que você compreenda o comportamento funcional do complexo do ombro: Artrocinemática É a capacidade de movimentação dos ossos articulados, ou seja, as possibilidades de movimento de uma articulação quando atua como um eixo – movimento angular; ou quando, dentro da articulação, observa-se o movimento de deslizamento de um osso em relação a outro — movimento de translação. Osteocinemática É o deslocamento que o segmento corporal efetua no espaço a partir da capacidade do movimento de uma articulação. Assim, deve contemplar a trajetória realizada pelo segmento diante das possibilidades funcionais de uma articulação. É dada pela ação das forças potentes e resistentes sobre um segmento que impacta o torque articular em função do gasto de energia necessário para realização do movimento. Como você deve começar a pensar no complexo do ombro? Vamos começar pela cintura escapular. Essa estrutura é constituída pelas clavículas e escápulas direita e esquerda, formando assim dois pares ósseos. Como a união da cintura escapular com o restante do esqueleto ocorre através da clavícula na articulação esternoclavicular e da não articulação entre os seus lados direito e esquerdo, ela é considerada um anel incompleto, que possibilita a total independência de movimentos para os membros superiores direito e esquerdo. Imagem: Shutterstock.com Cintura escapular. A condição de livre movimentação para os membros superiores faz com que seus movimentos sejam mais amplos, eficientes e cadenciados, graças a um conjunto de articulações e segmentos. Vale destacar que os membros superiores estão mais capacitados a realizar complexas habilidades de manipulação e coordenação motora fina. Com foco no movimento, a cintura escapular deve ser estruturalmente percebida a partir das articulações esternoclavicular e acromioclavicular, o que permite variados arranjos da escápula para os movimentos da articulação glenoumeral. Vamos conhecer um pouco mais sobre essas estruturas. ARTROCINEMÁTICA DO COMPLEXO DO OMBRO Três articulações estruturais e uma articulação funcional constituem o complexo do ombro. Imagem: Shutterstock.com ARTICULAÇÃO ESTERNOCLAVICULAR Articulação entre a região proximal (medial) da clavícula e o manúbrio (esterno). Imagem: Shutterstock.com ARTICULAÇÃO ACROMIOCLAVICULAR Articulação entre a região distal (lateral) da clavícula e o acrômio (escápula). Imagem: Shutterstock.com ARTICULAÇÃO DO GLENOUMERAL Articulação entre a cavidade glenoide (escápula) e a cabeça do úmero. Essas três articulações são classificadas como articulações estruturais do tipo sinovial, ou seja, com cápsula articular. Há também uma articulação funcional entre a escápula e o gradil costal, que é chamada de “articulação escapulotorácica”. Essa classificação é dada em função da possibilidade de movimentação da escápula em relação ao gradil costal, onde ocorre a maioria dos movimentos da articulação glenoumeral. ATENÇÃO Silva (2015, p. 62) afirma que: “a articulação escapulotorácica não é uma articulação verdadeira, não havendo contato entre as estruturas ósseas, sendo separadas por um conjunto muscular, os quais reduzem o cisalhamento nos movimentos”. Imagem: Shutterstock.com Relação escapulotorácica. Agora que você já ganhou alguma intimidade com as estruturas articulares, que tal conhecer um pouco mais sobre cada uma delas e o seu comportamento na prática? ARTICULAÇÃO ESTERNOCLAVICULAR Há duas classificações possíveis para a articulação esternoclavicular: sinovial deslizante e esferoidal modificada. Assim, são identificados movimentos de deslizamento (translação) anterior e posterior no plano transverso e superior e inferior no plano frontal. O movimento rotacional para frente e para trás no plano sagital existe graças à possibilidade de movimento em torno do eixo longo da clavícula. Há também um disco fibrocartilaginoso, no interior da articulação, que melhora o encaixe e a preservação dos ossos articulados, e um forte suporte ligamentar conferido pelos ligamentos interclavicular, esternoclavicular e costoclavicular. Apesar de aparentemente apresentar pequena mobilidade, os movimentos da articulação esternoclavicular são fundamentais para a amplitude final conseguida pelos membros superiores. Por exemplo, com o braço posicionado a 90° em relação ao tronco, o movimento de rotação interna e externa da articulação glenoumeral exige uma pequena rotação que ocorre na articulação esternoclavicular. Ao pensar no posicionamento das clavículas a partir da posição anatômica e quando observadas no plano frontal, elas devem estar “horizontalizadas” em relação ao solo. Para que isso ocorra, a tensão dos músculos que sustentam a cintura escapular é fundamental, ou seja, a integridade postural da cintura escapular depende diretamente da tensão residual do sistema locomotor ativo. Imagem: Shutterstock.com Posicionamento da clavícula. ARTICULAÇÃO ACROMIOCLAVICULAR A articulação acromioclavicular é uma articulação sinovial deslizante que também impacta diretamente os movimentos da articulação glenoumeral. Assim, qualquer restrição na mobilidade da acromioclavicular tem efeito direto na amplitude de movimento da articulação glenoumeral. A acromioclavicular possui disco fibrocartilaginoso,com as mesmas finalidades desempenhadas na articulação esternoclavicular. Quanto ao aspecto estrutural, a acromioclavicular possui um forte suporte ligamentar conferido pelos ligamentos coracoclavicular e acromioclavicular, que limitam significativamente os deslizamentos na articulação. Também possui uma cápsula densa, o que ajuda na preservação da integridade estrutural articular. Atente-se para o fato de que a articulação acromioclavicular está localizada sobre o topo da cabeça do úmero. Isso pode restringir os movimentos da articulação glenoumeral, em especial quando há comprometimento estrutural da articulação acromioclavicular, por exemplo, no caso de artrose. Em termos funcionais os movimentos nas articulações esternoclavicular e acromioclavicular são antagônicos para os deslizamentos (translações), ou seja, elevação, depressão, protração e retração. Como já mencionamos, a articulação escapulotorácica é uma articulação funcional, porém fundamental para facilitar as variadas amplitudes de movimento da articulação glenoumeral. Pensando nisso, os movimentos da cintura escapular são identificados a partir das variações do posicionamento da escápula em relação ao gradil costal. São identificadas tanto a translação como a rotação, dependendo do movimento que esteja ocorrendo na articulação esternoclavicular ou glenoumeral. ATENÇÃO A clavícula funciona como um “braço móvel” para os movimentos da escápula. A característica funcional da articulação estcapulotorácica deve considerar que, em relação ao gradil costal, a escápula está “apoiada” nos músculos serrátil anterior e subescapular. Imagem: Shutterstock.com Anatomia do ombro. ARTICULAÇÃO GLENOUMERAL OU ARTICULAÇÃO DO OMBRO A articulação glenoumeral é a mais ampla de todas as articulações do complexo do ombro — e também a que atinge maior amplitude no corpo humano. É classificada como uma articulação sinovial de cabeça e cavidade (esferoide), isto é, triaxial. Se focarmos em sua constituição estrutural, a integridade da articulação glenoumeral apresenta aspectos de vulnerabilidade em função dos seguintes aspectos: Cápsula frouxa em relação à cabeça umeral (tem aproximadamente o dobro do volume da cabeça umeral). Cavidade glenoide envolvendo aproximadamente apenas 25% da cabeça umeral. Na região anterior, suporte ligamentar limitado (glenoumeral superior, médio e inferior); e na região superior, coracoumeral. Vale destacar que os ligamentos glenoumerais assumem formatação espiralada em torno da articulação, limitando, principalmente, os movimentos de rotação externa e abdução da glenoumeral. E ainda, ajudam evitar a subluxação inferior da cabeça do úmero. Já o ligamento coracoumeral auxilia no fortalecimento da parte superior da cápsula articular, resistindo ao deslocamento inferior da cabeça do úmero durante a abdução e ao movimento de rotação externa do ombro. Você pode estar pensando que o lábio da glenoide (glenoidal) e os músculos do manguito rotador irão conferir o que falta para a articulação se estabilizar. Não é bem assim! O lábio da glenoide tende a aumentar em aproximadamente 75% a área de contato entre a cavidade e a cabeça do úmero e ainda exerce alguma “função ligamentar”. E o manguito rotador? RESPOSTA É a ação conjunta de quatro músculos da região do ombro — infra e supraespinhal, subescapular e redondo menor — que, a partir dos seus tendões, tendem a auxiliar na estabilização da cabeça do úmero à cavidade glenoide. Imagem: Shutterstock.com O manguito rotador. A artrocinemática do ombro permite identificar movimentos de rotação e translação: além de girar em torno do eixo articular, a cabeça do úmero também tende a deslizar no interior da articulação durante os movimentos de rotação em função de suas características estruturais articulares. OSTEOCINEMÁTICA DO COMPLEXO DO OMBRO Passemos agora a pensar no deslocamento dos ossos no espaço em função dos movimentos articulares, ou seja, quais são as trajetórias possíveis e desejáveis em cada movimento. CINTURA ESCAPULAR NAS ARTICULAÇÕES ESTERNOCLAVICULAR E ACROMIOCLAVICULAR Desde já, esteja ciente de que esses movimentos são antagônicos (opostos). Na elevação da clavícula, a acromioclavicular desloca-se para cima enquanto a articulação esternoclavicular, para baixo. Na depressão da clavícula, a acromioclavicular desloca-se para baixo, enquanto a esternoclavicular, para cima. Esses movimentos ocorrem no plano frontal e, além da translação, ocorre uma rotação. Na elevação, a amplitude máxima é de aproximadamente 45°; já na depressão, essa amplitude é reduzida para 15°. Na protração da clavícula, a articulação acromioclavicular desloca-se para frente enquanto a articulação esternoclavicular, para trás. Na retração da clavícula, a articulação acromioclavicular desloca-se para trás enquanto a articulação esternoclavicular, para frente. Aqui, os movimentos ocorrem no plano transverso e são observadas a translação e a rotação de aproximadamente 15° em cada sentido, no máximo. Finalizando, temos o movimento de rotação anterior e posterior da clavícula. A amplitude aproximada destes movimentos é de aproximadamente 45°. A rotação anterior é caracterizada pela anteriorização da parte superior da clavícula, por exemplo, quando ocorre o movimento de hiperextensão da articulação glenoumeral. Já a rotação posterior apresenta o comportamento oposto, e isso ocorre quando a parte superior da clavícula tende a se deslocar para trás, por exemplo, quando ocorre a flexão completa da articulação glenoumeral. ATENÇÃO A articulação esternoclavicular apresenta maior mobilidade quando comparada à articulação acromioclavicular. Quanto aos movimentos da cintura escapular, esses são identificados a partir do deslocamento da escápula em relação ao gradil costal. MOVIMENTOS ESCAPULARES 1. Movimentos de translação no plano frontal ELEVAÇÃO A escápula é deslocada prioritariamente para cima, com a possibilidade de um discreto afastamento do ângulo inferior do gradil costal. DEPRESSÃO É o abaixamento da escápula com acomodação no gradil costal. 2. Movimento de rotação no plano “transverso” com eixo (imaginário) longitudinal ABDUÇÃO É o afastamento da borda medial da escápula da linha média do corpo, ou seja, da coluna vertebral. ADUÇÃO É a aproximação da borda medial da escápula da linha média do corpo (coluna vertebral). 3. Movimento de rotação no plano “frontal” com eixo (imaginário) anteroposterior javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) ROTAÇÃO SUPERIOR OU LATERAL O ângulo inferior da escápula é girado lateralmente e para cima. ROTAÇÃO INFERIOR OU MEDIAL O ângulo inferior da escápula move-se medialmente ou como retorno da rotação superior. ATENÇÃO O ritmo escapulotorácico deve ser observado durante os movimentos da escápula, pois qualquer alteração no posicionamento da coluna vertebral (segmento torácico), por exemplo a hipercifose torácica, tenderá a afetar o deslocamento da escápula. Uma melhor visualização dos movimentos escapulares será conseguida com os movimentos da articulação glenoumeral. Assim, o ritmo escapuloumeral, ou seja, a acomodação dos movimentos escapulares para um melhor posicionamento da cabeça do úmero na cavidade glenoide deve ser observado. Por exemplo, o movimento de extensão da articulação glenoumeral tende a ser acompanhado pela rotação inferior da cintura escapular. MOVIMENTOS DA ARTICULAÇÃO GLENOUMERAL Os movimentos da articulação do ombro tendem a vir acompanhados dos movimentos da escápula quanto mais amplo for o movimento. 1. Movimentos que ocorrem no plano sagital com eixo laterolateral, a partir da posição anatômica FLEXÃO Deslocamento do segmento braço para frente. Amplitude de movimento ±180o. EXTENSÃO javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) É o retorno da flexão, com o deslocamento do segmento braço até a posição anatômica. Amplitude de movimento ±180o. HIPEREXTENSÃO É o deslocamentodo segmento braço para além da posição anatômica. Amplitude de movimento ±60o. 2. Movimentos que ocorrem no plano frontal com eixo anteroposterior, a partir da posição anatômica ABDUÇÃO Movimento tem início com afastamento do segmento braço da linha média do corpo. Amplitude de movimento ±180o. ADUÇÃO É o retorno do movimento de abdução até a posição anatômica. Amplitude de movimento ±180o. 3. Movimentos que ocorrem no plano transverso com eixo longitudinal, a partir da posição anatômica ROTAÇÃO INTERNA OU MEDIAL Segmento braço gira medialmente ou para dentro. Amplitude de movimento ±80o. ROTAÇÃO EXTERNA OU LATERAL Segmento braço gira lateralmente ou para fora. Amplitude de movimento ±65o. 4. Movimentos em que a posição inicial é diferente da posição anatômica Para estes movimentos, a posição inicial considera a postura ereta, com os ombros em abdução a 90° (braços paralelos ao solo) no plano frontal médio (posição de crucifixo). Os javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) movimentos são realizados no plano transverso com eixo Longitudinal: FLEXÃO-ADUÇÃO-HORIZONTAL Segmento braço desloca-se para frente. Amplitude de movimento ±135o. EXTENSÃO-ABDUÇÃO-HORIZONTAL Segmento braço desloca-se para trás, ou seja, além da posição inicial. Amplitude de movimento ±45o. ATENÇÃO Alguns pontos devem ser observados em relação aos movimentos da articulação glenoumeral: o ritmo escapuloumeral jamais deve ser negligenciado, ou seja, o comportamento espacial do complexo do ombro obriga-nos a pensar não só na articulação glenoumeral, mas também nas articulações esternoclavicular e acromioclavicular — e ainda nos deslocamentos da escápula ao longo das trajetórias percorridas pelo braço. Por isso, nunca negligencie qualquer alteração estrutural nas articulações esternoclavicular e acromioclavicular, pois a articulação glenoumeral também será impactada por essa possível disfunção da cintura escapular. APLICAÇÕES FUNCIONAIS Nos movimentos do braço, primeiros 30o de abdução e 45o/60o de flexão, a escápula tende a permanecer estática. A partir dessas amplitudes na articulação glenoumeral, a escápula começa a se deslocar, permitindo um ajuste no posicionamento da cintura escapular e, consequentemente, a facilitação do movimento para a articulação glenoumeral. Essa combinação guarda uma relação: a cada dois graus de movimento na articulação glenoumeral ocorre um grau de movimento na cintura escapular. Ou seja, em amplitude extrema (180°), é possível afirmar que 120° são da articulação glenoumeral e 60° ocorrem na cintura escapular. Um ritmo básico de ajuste que guarda uma relação de aproximadamente 2:1. javascript:void(0) javascript:void(0) Assim, na abdução da articulação glenoumeral, a cintura escapular realiza uma rotação superior, o que auxilia na preservação do espaço subacromial. Com a abdução da glenoumeral acima de 90o, o tubérculo maior na cabeça do úmero aproxima-se do arco coracoacromial. ARCO CORACOACROMIAL Arco “imaginário” observado no plano sagital, formado a partir da posição do processo coracoide, acrômio e ligamento coracoumeral. Quando isso ocorre, a compressão dos tecidos moles — tendão do supraespinhoso, bíceps braquial cabeça longa e bursa subacromial — sob a região do arco coracoacromial começam a limitar a abdução adicional e, caso isto venha acompanhado de rotação interna da glenoumeral, o tubérculo maior do úmero tende a fazer contato com o acrômio, potencializando um mecanismo lesivo, por exemplo, a síndrome de impacto. Agora, se a articulação glenoumeral é girada externamente, a abdução adicional se torna mais fácil, pois o tubérculo maior é movido para fora da região do arco coracoacromial. Contudo, quanto mais amplo for o movimento, menor será a capacidade do manguito rotador de auxiliar na estabilização da articulação glenoumeral. Na prática, movimentos acima de 90° devem ser progressivamente introduzidos nas rotinas de treinamento e tratamento, para permitir não só uma adaptação cinestésica, mas também as adaptações positivas do sistema locomotor a fim de garantir segurança e eficácia do movimento. SAIBA MAIS Durante o movimento de abdução da articulação glenoumeral, a rotação que ocorre no interior da articulação vem acompanhada por uma translação inferior da cabeça do úmero na cavidade glenoide. Isso é importante para evitar a compressão dos tecidos moles sob o arco coracoacromial. javascript:void(0) O movimento de hiperextensão da articulação glenoumeral apresenta diferenças significativas de amplitude para as condições ativa e passiva, que são respectivamente 60° e 80°. Além disso, na hiperextensão, a escápula tende a elevar e rodar anteriormente e a cabeça do úmero sofre um pequeno deslocamento anterior. Com a articulação glenoumeral em abdução, os movimentos de rotação interna e externa tendem a apresentar maior amplitude, o que pode concorrer positivamente nos processos de fortalecimento do manguito rotador. Na prática, em um treinamento ou tratamento, essa situação só deverá ser proposta depois de realizados os estímulos — com o braço ao longo do corpo, os cotovelos flexionados a 90°, em postura ereta. Quando as rotações forem executadas com ombro em abdução, é sugerida a posição de decúbito dorsal. PRINCIPAIS AÇÕES MUSCULARES E TORQUES ARTICULARES NO COMPLEXO DO OMBRO O complexo do ombro é uma das regiões do corpo humano que tem maior dependência das ações musculares, para que o movimento dessas estruturas seja plenamente aproveitado — em outras palavras, para que haja harmonia entre os movimentos articulares e o deslocamento do segmento. Diversos músculos atravessam os ossos articulados na região do ombro e são responsáveis não só pelos movimentos do complexo do ombro, como também por articulações adjacentes, por exemplo, a articulação do cotovelo. Daí, a importância de se compreender o comportamento desses músculos em diferentes ações, tanto nas atividades cotidianas como nos exercícios terapêuticos, pois eles são regularmente inseridos em rotinas de treinamento e tratamento. MÚSCULOS E CINTURA ESCAPULAR Os músculos que se originam na região proximal têm como base as inserções proximais na coluna vertebral, costelas e base do crânio. Já as inserções distais conectam-se à clavícula e à escápula. Os músculos que se inserem de maneira proximal nas escápulas e clavículas têm suas inserções distais no braço. Em função disso, necessitam dos arranjos posturais da cintura escapular para uma plena movimentação da articulação glenoumeral. Na prática, os músculos trapézio (porção superior) e elevador da escápula são responsáveis por manter a integridade postural da cintura escapular, a partir da horizontalização das clavículas, quando o sujeito é observado no plano frontal anterior. A alteração no posicionamento clavicular pode caracterizar um excesso de tensão ou frouxidão nesses músculos. Os adutores escapulares são os músculos romboides (maior e menor) e o trapézio (porção média). As bordas mediais das escápulas, ao serem observadas no plano posterior, devem estar verticalmente alinhadas com a coluna vertebral. Na prática, esses músculos são estimulados quando os membros superiores são deslocados posteriormente, por exemplo, nas “puxadas” e “remadas”. Imagem: Shutterstock.com Músculos da região dorsal e peitoral/Movimentos do complexo do ombro. A depressão da cintura escapular é conseguida a partir do músculo trapézio (porção inferior) e é parte da ação do músculo peitoral menor. A protração da cintura escapular se dá pelo músculo serrátil anterior e do peitoral menor. Observe que, na prática, esses músculos são imprescindíveis para uma boa qualidade de deslocamento do segmento braço à frente do corpo (flexão do ombro). Vale destacar que a perda da funcionalidade em qualquer desses músculos relacionados à cintura escapular, irá interferir nos movimentos glenoumerais e na postura estrutural do indivíduo, por exemplo,a posição anatômica. MÚSCULOS NOS MOVIMENTOS DA ARTICULAÇÃO GLENOUMERAL OU OMBRO Um dos principais músculos a atuar nessa articulação é o latíssimo do dorso ou grande dorsal. Em função agonista, é o responsável pelos movimentos de adução e extensão da articulação glenoumeral, mas outros músculos exercem função sinergista para estes movimentos: a porção esternocostal do peitoral maior, o tríceps braquial (porção longa), o deltoide posterior e o redondo maior e menor. Na prática, a ação conjunta desses músculos ocorre no movimento de extensão da articulação do ombro, iniciando com os braços ao lado da cabeça, por exemplo, no exercício pull over. Imagem: Shutterstock.com Músculo latíssimo do dorso. Foto: Shutterstock.com Músculo latíssimo do dorso. A abdução da articulação glenoumeral tem como motores primários os músculos supraespinhal e deltoide (porções anterior, média e posterior). O destravamento para o início de movimento de abdução ocorre em função do músculo supraespinhal, e a ação do deltoide para esse movimento é mais efetiva a partir de 60° de amplitude. O músculo trapézio também trabalha nesse movimento. Imagem: Shutterstock.com À esquerda, a abdução ou flexão total do ombro; à direita, a abdução dos ombros até 90°. A flexão da articulação glenoumeral é realizada pelo músculo peitoral maior (porção clavicular), deltoide anterior e coracobraquial. É constantemente solicitada, quando se eleva o braço para alcançar um ponto ântero-superior ao corpo. Por exemplo, colocar um objeto sobre uma prateleira. Imagem: Shutterstock.com Movimento de flexão (esquerda), a extensão corresponde à volta do membro superior da extensão à posição inicial (centro) e hiperextensão do ombro (direita). MÚSCULOS NO MOVIMENTO DE FLEXÃO- ADUÇÃO-HORIZONTAL Na prática, o movimento de flexão-adução-horizontal é chamado de flexão-horizontal ou adução-horizontal. Por exemplo, quando os braços paralelos ao solo são deslocados para frente. Os principais músculos que agem na articulação do ombro são o peitoral maior (porção clavicular e costoesternal), o deltoide (porção anterior) e o coracobraquial. Imagem: Shutterstock.com O movimento de flexão horizontal pode ser observado na execução do exercício crucifixo. O mesmo raciocínio deve ser utilizado para o movimento de extensão-abdução-horizontal, ou seja, extensão horizontal ou abdução horizontal, que tem como músculos agonistas o latíssimo do dorso, o deltoide (porção medial e posterior), o infraespinhal e o redondo menor. Romboides e trapézio não participam do movimento na glenoumeral, mas atuam na adução da escápula que é complementar ao movimento da articulação glenoumeral. Imagem: Shutterstock.com Extensão horizontal do ombro. Quando consideramos o ritmo glenoumeral, é interessante pensar que os músculos que atuam nas articulações glenoumeral e cintura escapular usualmente têm suas funções combinadas. Com isso, fica difícil isolar um músculo específico em um exercício. MÚSCULOS NOS MOVIMENTOS COMBINADOS DA ARTICULAÇÃO GLENOUMERAL E CINTURA ESCAPULAR O trapézio (porção superior), além de efetuar a rotação superior da escápula, auxilia no posicionamento dinâmico da clavícula durante a abdução do ombro, e essa ação é equilibrada por uma função neutralizadora do trapézio (porção inferior). A porção medial do trapézio auxilia no posicionamento da escápula durante os movimentos de abdução, flexão e flexão horizontal da articulação glenoumeral, tendendo a manter uma tensão de retração na escápula. O movimento de flexão horizontal da articulação glenoumeral é acompanhado pela protração da cintura escapular. Portanto, na prática, observe que os bancos para a realização do exercício supino reto tendem a ser estreitos, visando minimizar a restrição ao movimento da cintura escapular. Foto: Shutterstock.com Exercício supino reto. Já o movimento de extensão horizontal da articulação glenoumeral tende a ser acompanhado pela retração da cintura escapular. O que pode ser observado, por exemplo, no exercício de “remada horizontal” em um equipamento de musculação. Foto: Shutterstock.com Exercício remada horizontal. ASPECTOS FUNCIONALMENTE IMPORTANTES: COMPRIMENTO X TENSÃO MUSCULAR A força muscular gerada para o movimento de adução do ombro é, em média, o dobro da força conseguida para o movimento de abdução, mas observe que os músculos abdutores em funções agonistas são usados com maior frequência nas atividades cotidianas e esportivas. Fotos: Shutterstock.com Abdução e adução do ombro. Na prática, fique atento ao equilíbrio nas funções musculares agonistas e antagonistas para os movimentos de abdução e adução do ombro. Caso a função antagonista ao movimento de abdução do ombro prepondere, há possibilidade de estresse excessivo sobre os músculos abdutores, por exemplo, o supraespinhal ao iniciar o movimento de abdução. Ao pensarmos na aplicação prática da relação comprimento x tensão muscular na articulação do ombro, as características estruturais e funcionais desta articulação permitem afirmar que os músculos relacionados aos movimentos do ombro são fáceis de alongar e de fortalecer em razão da mobilidade da articulação. Esteja atento para que a amplitude de movimento seja progressivamente alcançada, evitando o risco de lesão. No equipamento “voador”, os locais para apoio dos cotovelos podem apresentar diferentes possibilidades de ajustes. O projeto do equipamento não foi feito ao acaso! Imagem: Shutterstock.com Exercício voador peitoral. Conforme vimos anteriormente, a ação dos músculos do manguito rotador proporciona à articulação do ombro, em especial até 90°, uma “estabilidade” funcional. É importante salientar que as ações musculares mais fracas nos movimentos da articulação do ombro são nas rotações. A rotação externa é mais fraca que a rotação interna. Na prática, considere que a carga para o movimento de rotação interna seja no máximo duas vezes aquela utilizada para rotação externa, mesmo que a percepção para o esforço no movimento de rotação interna seja de menor intensidade. Essa relação deve ser preservada a fim de manter a integridade postural e, consequentemente, funcional da articulação glenoumeral. Durante a rotação externa, deve-se observar que o braço e o cotovelo permaneçam junto ao corpo, pois a tendência é que, quanto maior for a amplitude, mais esse afastamento ocorra. Imagem: Shutterstock.com Rotação interna (esquerda) e rotação externa (direita). MANGUITO ROTADOR A ação do manguito rotador visa minimizar a instabilidade funcional do complexo do ombro, a partir de sua ação na articulação glenoumeral. Conforme foi explicado anteriormente, as estruturas anatômicas envolvidas na estabilização da articulação glenoumeral são parcialmente eficientes e, assim, sem a ação sinérgica dos músculos do manguito rotador, as amplitudes de movimentos da articulação do ombro estariam altamente comprometidas. Vejamos as ações isoladas desses músculos e suas consequências: O músculo supraespinhal, responsável pela abdução da articulação glenoumeral, tem em sua ação o tracionamento da cabeça do úmero de encontro a cavidade glenoide, melhorando a eficiência do movimento de rotação e reduzindo a translação no interior da articulação — em especial, entre os 60° e 120° de amplitude de movimento. A falha funcional do músculo supraespinhal tende a gerar uma impactação sob a região do arco coracoacromial, pois as cargas aplicadas sobre os tecidos moles nessa região aumentariam o potencial lesivo. Vale lembrar que o movimento de rotação externa ocorre na articulação glenoumeral, aquela que tem menor capacidade de geração de força em função dos seus músculos agonistas (infraespinhal e redondo menor). Na prática, o movimento de abdução da articulação do ombro acima de 90° só deve ser proposto em fases avançadas de treinamento ou tratamento. Ao pensarmos no movimento de rotação interna da articulação glenoumeral, o músculo subescapular nãoestá sozinho. Ele tem função sinergista na contribuição de potentes músculos, como o peitoral maior e o latíssimo do dorso. Na prática, observe que, caso não sejam respeitados os equilíbrios de forças nos movimentos de rotação interna e externa, a ação dos músculos rotadores internos tende a sobrepujar a ação dos rotadores externos. Como os rotadores externos têm ação antagônica, ou seja, de desaceleração do movimento, caso haja um desequilíbrio de força na relação rotação interna x rotação externa, diversos movimentos tendem a ser prejudicados. Por exemplo, o arremesso de uma bola em determinadas modalidades esportivas — acima de 90o de elevação da articulação do ombro, a força do manguito rotador diminui, deixando a articulação do ombro mais vulnerável às lesões. COMPORTAMENTO FUNCIONAL DO COMPLEXO DO OMBRO O especialista Claudio Gonçalves Peixoto fala sobre o comportamento funcional do complexo do ombro, fazendo um resumo do módulo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O COMPLEXO DO OMBRO É UMA ESTRUTURA QUE ENVOLVE A CINTURA ESCAPULAR E O ÚMERO NA SUA REGIÃO PROXIMAL, COM BASE NAS CAPACIDADES FUNCIONAIS DE ALGUMAS ARTICULAÇÕES. AS ARTICULAÇÕES ESTRUTURAIS QUE CONSTITUEM O COMPLEXO DO OMBRO SÃO: A) Articulação esternoclavicular, articulação acromioclavicular e articulação do glenoumeral B) Articulação esternoclavicular, articulação escapulotorácica e articulação do glenoumeral C) Articulação escapulotorácica, articulação acromioclavicular e articulação do glenoumeral D) Articulação esternoclavicular, articulação acromioclavicular e articulação escapulotorácica E) Articulação esternoacromial, articulação escapulotorácica e articulação do glenoumeral 2. AS CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS DO COMPLEXO DO OMBRO PERMITEM AFIRMAR QUE A CONDIÇÃO FUNCIONAL DA ARTICULAÇÃO GLENOUMERAL ESTÁ DIRETAMENTE RELACIONADA À AÇÃO DOS MÚSCULOS DO MANGUITO ROTADOR. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA SOBRE A RELAÇÃO DO MANGUITO ROTADOR E A ARTICULAÇÃO GLENOUMERAL: A) Ação dos músculos rotadores internos e externos tende a ser igual. B) Ação dos músculos abdutores tende a ser mais eficaz acima de 90° de abdução. C) Ação dos músculos adutores tende a ser mais fraca quando comparada aos abdutores. D) Ação dos músculos rotadores externos tende a sobrepujar a ação dos rotadores internos. E) Ação dos músculos rotadores internos tende a sobrepujar a ação dos rotadores externos. GABARITO 1. O complexo do ombro é uma estrutura que envolve a cintura escapular e o úmero na sua região proximal, com base nas capacidades funcionais de algumas articulações. As articulações estruturais que constituem o complexo do ombro são: A alternativa "A " está correta. O comportamento espacial dos membros superiores é diretamente dependente dos arranjos articulares do complexo do ombro. 2. As características estruturais do complexo do ombro permitem afirmar que a condição funcional da articulação glenoumeral está diretamente relacionada à ação dos músculos do manguito rotador. Assinale a alternativa correta sobre a relação do manguito rotador e a articulação glenoumeral: A alternativa "E " está correta. O manguito rotador garante a estabilidade da cabeça do úmero dentro da cavidade glenoide. Usualmente, o fortalecimento equivocado dos músculos do manguito rotador pode gerar desarranjos funcionais na articulação glenoumeral. MÓDULO 2 Reconhecer o arranjo do complexo do cotovelo considerando a sua capacidade de amplitude de movimento e a estabilidade do sistema locomotor COMPLEXO DO COTOVELO Apesar de apresentar alta demanda funcional, a região do cotovelo é estruturalmente capacitada para suportar tanto a alta frequência de movimento quanto a intensidade aplicada sobre ela, em especial, as cargas tensivas. O arranjo estrutural do complexo do cotovelo permite que sejam identificadas dentro da mesma cápsula articular três articulações distintas: articulação umerorradial, articulação umeroulnar e articulação radioulnar proximal ou superior. Imagem: Shutterstock.com Complexo do cotovelo. Vamos conhecer um pouco mais sobre o comportamento funcional dessas articulações e analisar os deslocamentos ósseos a partir dos movimentos articulares, para que possamos identificar as múltiplas possibilidades funcionais do complexo do cotovelo. Os extremos ósseos no interior do complexo do cotovelo são envoltos por cartilagem hialina e toda a região por uma cápsula articular. ARTROCINEMÁTICA DO COMPLEXO DO COTOVELO A articulação umeroulnar é considerada a “verdadeira” articulação do cotovelo. Caracteriza- se pela união dos ossos úmero e ulna. Assim, a incisura troclear da ulna se insere na tróclea umeral. A articulação umerulnar é considerada uma articulação muito estável, apresentando ótima integridade estrutural e bom suporte ligamentar e muscular. É classificada como uma articulação sinovial do tipo dobradiça, ou seja, apresenta movimento em torno de um único eixo. Assim, os movimentos possíveis para essa articulação são rotacionais ou angulares. Imagem: Shutterstock.com Articulações umeroulnar e umerorradial. Articulação umerorradial É lateral à articulação umeroulnar e não existe encaixe entre o úmero e o rádio. Assim, é classificada como sinovial plana, ou seja, a cabeça do rádio desliza em torno do côndilo umeral. O movimento realizado na articulação umerorradial é linear curvilíneo, mas tem relação direta com a estrutura das articulações adjacentes, isto é, umeroulnar e radioulnar superior. Articulação radioulnar proximal ou superior É formada pela cabeça do rádio e a incisura radial na ulna. É classificada como uma articulação sinovial do tipo trocoide ou pivô, que realiza movimento em torno de um único eixo (movimento rotacional). É interessante destacar que o complexo do cotovelo apresenta um forte suporte estrutural a partir dos ligamentos anular, colateral ulnar e radial e o ligamento oblíquo. Uma anel “fibro- ósseo”, constituído pelo ligamento anular e a incisura radial da ulna, aumenta o suporte dinâmico nesta região, o que concorre para reduzir a compressão na articulação durante os movimentos de pronação e supinação. Apesar de estruturalmente bem identificadas, a proximidade entre essas articulações permite uma série de possibilidades para análise dos movimentos do complexo do cotovelo, como veremos a seguir. Imagem: Shutterstock.com Anatomia do cotovelo. OSTEOCINEMÁTICA DO COMPLEXO DO COTOVELO ARTICULAÇÃO UMEROULNAR: MOVIMENTOS NO PLANO SAGITAL COM EIXO LATEROLATERAL FLEXÃO É o deslocamento do segmento antebraço para frente. Amplitude de movimento ±150o. EXTENSÃO javascript:void(0) javascript:void(0) É o alinhamento do segmento antebraço e braço, ou ainda, o retorno da flexão. Amplitude de movimento ±150o. ATENÇÃO É pertinente atentar que, na posição anatômica, o segmento antebraço está alinhado ao segmento braço. Esta posição é considerada ângulo 0 (zero). Lembre-se que o cotovelo não apresenta o movimento de hiperextensão. Na posição de extensão, a tróclea umeral assimétrica cria uma angulação lateral na ulna, aumentando a convexidade na região medial do cotovelo, criando uma posição em valgo. Esse comportamento estrutural é chamado de “ângulo de carregamento” e tende a variar de 10o a 15o nos homens e 20o a 25o nas mulheres. Durante o movimento de flexão, essa posição de valgo é reduzida e pode até resultar em uma posição em varo com flexão completa. Na prática, a articulação umeroulnar deveria ser classificada como uma “dobradiça modificada”, em função do exposto anteriormente. Assim, o movimento de flexão e extensão não ocorrem no plano sagital “puro”, e sim, em um plano “médio-lateral”. ARTICULAÇÃO RADIOULNAR SUPERIOR: MOVIMENTOS NO PLANO TRANSVERSO COM EIXO LONGITUDINAL PRONAÇÃO A partir da posição anatômica, em que o rádio está paralelo à ulna, o rádio cruza sobre a ulna. Grau de amplitude de movimento ±150o. SUPINAÇÃO javascript:void(0) javascript:void(0) A partir da posição pronação, o rádio retorna à posição anatômica.Grau de amplitude de movimento ±150o. ATENÇÃO Na posição neutra ou semipronada, descrita como o braço ao longo do corpo com a palma da mão voltada para a face lateral da coxa, o rádio e a ulna ficam próximos um do outro, mas, em pronação completa, o rádio cruza sobre a ulna diagonalmente — a chamada posição pronada. O movimento de flexão da articulação umeroulnar é limitado pela capacidade de estiramento do músculo tríceps (antagonista), pelo contato nas partes moles (pele) do antebraço com o braço e o contato osso a osso do processo coronoide com a cavidade coronoide. Foto: Shutterstock.com Movimento de flexão do cotovelo. O movimento de extensão da articulação umeroulnar é inicialmente limitado pelo contato do olecrano na fossa do olecraniana, mas, caso haja hipertrofia excessiva dos flexores do cotovelo, o grau de estiramento reduzido também pode limitar o movimento. Foto: Shutterstock.com Extensão do cotovelo com halteres. Atente-se para os epicôndilos medial e lateral do cotovelo, pois são pontos de fixação de músculos da região do antebraço, referências proeminentes nas faces medial e lateral do cotovelo e locais de lesão por uso repetitivo. As fibras dos músculos flexores do punho e pronadores da articulação radioulnar superior conferem resistência às cargas em valgo no cotovelo, portanto, são chamados de estabilizadores dinâmicos mediais do cotovelo. A partir da posição anatômica, a articulação radioulnar superior pode apresentar as seguintes posições: Foto: Shutterstock.com SUPINAÇÃO Rádio e ulna estão paralelos com a palma da mão voltada para frente. Foto: Shutterstock.com NEUTRA OU SEMIPRONADA Rádio e ulna estão paralelos com a palma da mão voltada para face lateral da coxa. Foto: Shutterstock.com PRONADA O rádio cruza sobre a ulna, com a palma da mão voltada para trás. O ligamento colateral medial do cotovelo aumenta a capacidade de resistência à tensão nas forças compressivas no complexo do cotovelo e no movimento de flexão da articulação umeroulnar. O ligamento colateral lateral (feixe radial) é tensionado durante a flexão completa do cotovelo. Este mesmo ligamento em seu feixe ulnar atua como um “guia” para o movimento da articulação umeroulnar, conferindo estabilidade no plano sagital. PRINCIPAIS AÇÕES MUSCULARES E DETERMINAÇÃO DOS TORQUES ARTICULARES NO COMPLEXO DO COTOVELO FLEXÃO O movimento de flexão da articulação do cotovelo ocorre a partir da função sinergista de três músculos: braquial, bíceps braquial e braquiorradial. Imagem: Shutterstock.com. MÚSCULO BRAQUIAL É considerado o flexor puro da articulação umeroulnar, pois, por ser monoarticular, só atravessa a articulação. Dessa forma, não tem sua ação influenciada pelo posicionamento da articulação radioulnar superior. Imagem: Shutterstock.com. MÚSCULO BÍCEPS BRAQUIAL Tem sua ação influenciada não só pelo posicionamento da articulação radioulnar superior, mas também pela articulação glenoumeral, por estar relacionado ao movimento dessas articulações adjacentes. Assim, o bíceps braquial é mais efetivo com a articulação radioulnar superior na posição supina e a articulação glenoumeral ligeiramente hiperestendida. Na prática, a tensão sobre o bíceps braquial fica aumentada nesta condição por causa da relação comprimento x tensão e só deve ser proposta em treinamentos para indivíduos em estágios mais avançados. Imagem: Shutterstock.com. MÚSCULO BRAQUIORRAQUIAL O braquirradial é um sinergista do bíceps braquial e do braquial na flexão do cotovelo, mas também atua nos movimentos de pronação e supinação. ATENÇÃO Em função do sinergismo muscular, o posicionamento da articulação radioulnar superior irá interferir no aproveitamento da força dos flexores do cotovelo. A posição semipronada é aquela na qual a força máxima em flexão pode ser desenvolvida, seguida pela posição supinada e, por último, a posição pronada. EXTENSÃO O movimento de extensão da articulação do cotovelo tem como motor primário o músculo tríceps braquial (porção lateral, medial e longa) e o músculo ancôneo, que é considerado o “destravador” no início do movimento. Imagem: Shutterstock.com Músculo tríceps braquial. Em função de sua inserção comum no olécrano da ulna, a ação do músculo tríceps braquial para as três porções tem, no movimento de extensão do cotovelo, um torque articular semelhante. O posicionamento da articulação radioulnar superior não interfere na participação da musculatura do tríceps braquial para o movimento de extensão da articulação do cotovelo, pois a sua inserção distal está localizada no olécrano da ulna. A porção longa do tríceps braquial depende do posicionamento da articulação glenoumeral e é mais efetivo quando o ombro está flexionado. A porção medial é considerada extensora plena do cotovelo. A porção lateral é mais bem estimulada contra uma carga de maior resistência, para, assim, ser plenamente ativado. Atente-se para o fato de que o grupo muscular flexor da articulação do cotovelo é quase duas vezes mais forte do que o grupo extensor. Na prática, isso nos torna melhores “puxadores” do que “empurradores”. Lembre-se que as únicas posições que colocam alguma forma de alongamento sobre os flexores e extensores da articulação do cotovelo precisam incorporar hiperextensão e flexão na articulação glenoumeral, em razão das inserções musculares proximais. ATENÇÃO A relação comprimento x tensão permite afirmar que os melhores torques articulares para a extensão do cotovelo consideram a flexão do cotovelo a 90°, o que é reforçado pelo ângulo de inserção do tríceps braquial. Atenção ao músculo bíceps braquial, que, além de um potente flexor da articulação umeroulnar, é um excelente supinador da articulação radioulnar superior. Assim, ao flexionar o cotovelo, há uma tendência à supinação na região do antebraço que pode ser neutralizada pela ação dos músculos pronador redondo e quadrado. Entre os pronadores, o quadrado é o mais ativo e não sofre interferência da força do movimento de flexão. Já o pronador redondo, por atuar também na flexão, é influenciado pelo comportamento flexor da articulação umeroulnar. Imagem: Shutterstock.com Pronador redondo e quadrado - braço direito. COMPORTAMENTO FUNCIONAL DO COMPLEXO DO COTOVELO O especialista Claudio Gonçalves Peixoto fala sobre o comportamento funcional do complexo do cotovelo, fazendo um resumo do módulo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O COMPLEXO DO COTOVELO APRESENTA CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS DE ALTA ESTABILIDADE E FUNCIONALIDADE E É UMA DAS ARTICULAÇÕES MAIS SOLICITADAS NAS ATIVIDADES COTIDIANAS. SOBRE A REGIÃO DO COTOVELO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) As articulações que constituem o complexo do cotovelo são a umerorradial, a umeroulnar e a radioulnar distal ou inferior. B) As articulações que constituem o complexo do cotovelo são a umerorradial, a umeroulnar e a radioulnar proximal ou superior. C) As articulações que constituem o complexo do cotovelo são a glenoumeral, a umeroulnar e a radioulnar proximal ou superior. D) As articulações que constituem o complexo do cotovelo são a umerorradial, a glenoumeral e a radioulnar distal ou inferior. E) As articulações que constituem o complexo do cotovelo são a umerorradial, a umeroulnar e a glenoumeral. 2. O BÍCEPS BRAQUIAL É UM IMPORTANTE MÚSCULO NA REGIÃO ANTERIOR DO BRAÇO, QUE TEM AÇÃO DIRETA EM DIFERENTES ARTICULAÇÕES. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA SOBRE O COMPORTAMENTO DINÂMICO DO MÚSCULO BÍCEPS BRAQUIAL: A) É agonista do movimento de extensão da articulação umeroulnar. B) É agonista do movimento de extensão da articulação glenoumeral. C) É agonista do movimento de flexão da articulação radioulnar proximal ou superior. D) É agonista do movimento de supinação da articulação radioulnar proximal ou superior. E) É agonista do movimento de pronação da articulação radioulnar proximal ou superior. GABARITO 1. O complexo do cotovelo apresenta características estruturais de alta estabilidadee funcionalidade e é uma das articulações mais solicitadas nas atividades cotidianas. Sobre a região do cotovelo, assinale a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. O domínio das estruturas que constituem o complexo do cotovelo dá ao profissional da área da saúde maiores possibilidades de composições de estímulos e exercícios. 2. O bíceps braquial é um importante músculo na região anterior do braço, que tem ação direta em diferentes articulações. Assinale a alternativa correta sobre o comportamento dinâmico do músculo bíceps braquial: A alternativa "D " está correta. Os músculos bi ou poliarticulares exercem influência nas articulações por eles atravessadas. Conhecer as suas funções nas diferentes articulações é fundamental para a seleção correta dos estímulos. MÓDULO 3 Relacionar as estruturas anatômicas da região do punho e da mão com as demandas funcionais e as múltiplas possibilidades de combinação entre os movimentos ARTROCINEMÁTICA DO PUNHO E DA MÃO Uma das características do ser humano é a sua grande capacidade manipulativa graças à multiplicidade de arranjos para a região do punho e mão, desde as atividades mais intensas, como comprimir um objeto pesado, até as mais leves, como a digitação de um documento. ATENÇÃO Usualmente, os movimentos das mãos estão relacionados a “combinações finas” de ajustes entre o conjunto punho, mão e dedos. São possíveis aproximadamente 58 combinações ou arranjos entre os posicionamentos desses segmentos. PUNHO Na região do punho, são identificadas as articulações radioulnar distal ou inferior, a articulação radiocarpal e a intercárpica, entre os oito ossos do carpo, a partir de duas fileiras de quatro ossos, o que permite identificar a articulação médio-carpal. Imagem: Shutterstock.com Região do punho e mão. ARTICULAÇÃO RADIOULNAR INFERIOR ARTICULAÇÃO RADIOCARPAL ARTICULAÇÃO INTERCÁRPICA ARTICULAÇÃO RADIOULNAR INFERIOR É classificada como sinovial do tipo trocoide ou pivô, apresentando um eixo. Ocorre entre a incisura ulnar do rádio e a cabeça da ulna e realiza os movimentos de pronação e supinação. Estruturalmente, um disco de fibrocartilagem está disposto entre a cabeça da ulna e os ossos do carpo, o que facilita a coaptação dos ossos na articulação, além de melhorar a absorção de choques (impactos). ARTICULAÇÃO RADIOCARPAL É formada pelo rádio com três ossos da primeira fileira do carpo (escafoide, semilunar e piramidal) e é classificada como sinovial do tipo condilar. Possui dois eixos que realizam movimentos rotacionais: a flexão e extensão; a abdução ou flexão radial ou desvio radial; e a adução ou flexão ulnar ou desvio ulnar. ARTICULAÇÃO INTERCÁRPICA É formada entre a fileira proximal e distal dos ossos do carpo, na região mediocárpica. É classificada como uma articulação sinovial do tipo plana ou deslizante, fazendo com que, em função dos movimentos da articulação radiocarpal e dos dedos, os ossos do carpo sofram pequenos deslizamentos para “acomodação” das peças ósseas. MÃO Na região da mão, temos a articulação carpometacárpica, que é caracterizada a partir do segundo metacarpo e a fileira distal dos ossos do carpo. É classificada como sinovial, pois possui cápsula articular — preliminarmente consideradas como planas. Na região do quarto e quinto metacarpo, são identificadas como biaxiais e classificadas como elipsoides. Uma articulação carpometacarpal que merece especial atenção é a articulação do polegar. Estruturalmente constituída pelo trapézio e o primeiro metacarpo, é classificada como sinovial selar biaxial, apresentando na região proximal do primeiro metacarpo uma estrutura côncava no sentido anteroposterior; e outra convexa, no sentido laterolateral. Essa estrutura permite a realização dos movimentos rotacionais de flexão e extensão e abdução e adução do “polegar”, dando a este a possibilidade de fazer “oposição” aos outros quatro dedos no movimento de garra e preensão. As articulações metacarpofalângicas são formadas entre a parte distal dos metacarpos e as falanges proximais. Classificadas como sinovial do tipo condilar e biaxiais, permitem os movimentos de flexão e extensão; abdução e adução. Possuem um forte suporte ligamentar para todos os movimentos realizados e apresentam mobilidades diferentes para os movimentos de flexo-extensão. São mais móveis na sequência do quinto para o primeiro dedo e, na abdução-adução, obedecem a seguinte ordem decrescente: V, II, IV, III, I. As articulações interfalângicas são estruturadas entre as falanges proximais e médias e entre estas e as falanges distais — com exceção do polegar, que só possui duas falanges. Classificadas como sinovial do tipo dobradiça ou gínglimo, apresentam apenas um eixo para realizar os movimentos rotacionais de flexão e extensão. Assim como as articulações metacarpofalangeanas, as articulações interfalângicas apresentam um forte suporte ligamentar, o que auxilia na estabilização articular, em especial, o deslocamento lateral do segmento (falange). Imagem: Shutterstock.com Ossos da região da mão. OSTEOCINEMÁTICA DO PUNHO E DA MÃO PUNHO Os movimentos da articulação radioulnar inferior são os mesmos da articulação radioulnar superior, ou seja, pronação e supinação, caracterizados, respectivamente, a partir da posição anatômica do cruzamento do rádio sobre a ulna e do retorno a posição inicial. A amplitude de movimento é de aproximadamente 150°. Na prática, a articulação radiocarpal é considerada a “verdadeira” articulação do punho. A partir da trajetória do segmento mão na articulação, tem a capacidade de realizar os seguintes movimentos: 1. Movimentos no plano sagital com eixo laterolateral FLEXÃO Segmento mão desloca-se para frente a partir da posição anatômica. Amplitude de movimento ±70o a 90o. EXTENSÃO Segmento mão desloca-se para trás a partir da posição anatômica. Amplitude de movimento ±70o a 80o. javascript:void(0) javascript:void(0) Foto: Claudio Gonçalves Peixoto Flexão do punho. Foto: Claudio Gonçalves Peixoto Extensão do punho. 2. Movimentos no plano frontal com eixo anteroposterior ABDUÇÃO, FLEXÃO-RADIAL OU DESVIO-RADIAL javascript:void(0) Segmento mão desloca-se lateralmente a partir da posição anatômica. Amplitude de movimento ± 30o a 40o. ADUÇÃO, FLEXÃO-ULNAR OU DESVIO-ULNAR Segmento mão desloca-se medialmente a partir da posição anatômica. Amplitude de movimento ± 45o. Foto: Claudio Gonçalves Peixoto Abdução do punho. javascript:void(0) Foto: Claudio Gonçalves Peixoto Adução do punho. ATENÇÃO Quando o punho é flexionado, deslocando o segmento mão para a frente, o movimento tem início na articulação intercárpica – região mediocárpica. Então, os deslizamentos que ocorrem nesta região conferem 60% da amplitude de movimento — os 40% restantes acontecem na articulação radiocarpal. Já o movimento de extensão apresenta comportamento contrário: a maior parte da amplitude de movimento está relacionada à articulação radiocarpal e à menor amplitude associada à articulação intercárpica. Na prática, qualquer lesão ou disfunção na região intercárpica irá interferir na amplitude de movimento da articulação radiocarpal. Por exemplo, nos casos de artrose na região do carpo. MÃO Conforme a classificação anatômica, as duas fileiras de quatro ossos do carpo em cada fileira proximal e fileira distal deslizam entre si, para aumentar a amplitude de movimentos das articulações radiocarpal e demais movimentos da região da mão. Convém ressaltar que: “as variações morfológicas dos ossos carpais podem apresentar alterações na cinética e na cinemática do punho, estando mais predispostos ao desenvolvimento de alterações degenerativas nas articulações” (SACCO; TANAKA, 2008, p. 93). Os movimentos que ocorrem na articulação carpometacárpica são identificados mais facilmente a partir da articulação do polegar com o primeiro metacarpo e apresentam para o segundo e terceiro metacarpo um comportamento de deslizamento, voltando a termobilidade aumentada no quarto e quinto metacarpo. Segundo Silva (2015, p. 96), “em posição anatômica, do II ao V dedo, os metacarpos estão alinhados lado a lado, enquanto (sic) o metacarpo do polegar está rodado a 90° para medial”. Na prática, o fortalecimento do polegar, para o movimento de oposição aos outros quatro dedos, deve contemplar a mobilidade da articulação carpometacárpica do polegar para os movimentos de flexão-extensão – Amplitude de movimento de ± 50o a 80o, e abdução e adução – Amplitude de movimento de ± 40o a 80o. Dessa forma, os delgados músculos relacionados a estes movimentos devem não só ser fortalecidos, mas também alongados de maneira progressiva, com o objetivo de prevenir lesões. As articulações metacarpofalangeanas permitem os movimentos de flexão/extensão e abdução/adução para do 2o ao 5o dedo, conforme já mencionado. Hall (2013, p. 180) afirma que: “a abdução é definida como o movimento para longe do dedo médio e a adução em direção ao dedo médio”. Já a articulação metacarpofalangeana do polegar apresenta estruturas aproximadamente planas, conseguindo pequenas amplitudes para os movimentos de flexo- extensão. As articulações interfalângicas realizam os seguintes movimentos: 1. Movimentos no plano sagital com eixo laterolateral FLEXÃO É o deslocamento das falanges para frente a partir da posição anatômica. Amplitude de movimento de ± 70o para interfalângicas distal; e amplitude de movimento de ± 100o para interfalângica proximal. EXTENSÃO javascript:void(0) javascript:void(0) É o retorno do movimento de flexão, caracterizado na posição de 0° pelo alinhamento longitudinal entre as falanges. Em função dos tecidos moles que circundam a articulação – ligamentos e cápsulas articulares —, o movimento de hiperextensão das articulações interfalângica proximais e distais tendem a apresentar baixa amplitude. ATENÇÃO Vantagens do fortalecimento da região do punho e dos dedos: Melhora o movimento de garra e preensão. Reduz o estresse nas regiões medial e lateral dos epicôndilos umeral, em função dos movimentos de flexão e extensão do punho. Previne e reduz uma série de lesões, por exemplo, Síndrome de Quervain (entorse da lavadeira). PRINCIPAIS AÇÕES MUSCULARES E DETERMINAÇÃO DOS TORQUES ARTICULARES DO PUNHO E DA MÃO Os músculos envolvidos com os movimentos do punho e da mão apresentam características estruturais e funcionais que devem ser respeitadas, visando prevenir não só as lesões nesta região, mas também evitar o comprometimento de toda a cadeia de movimento. Em relação aos movimentos da mão e dedos, vale ressaltar que são identificados 9 músculos extrínsecos e 10 músculos intrínsecos na região da mão, além dos 7 músculos relacionados à região do punho. AO PARTIREM DE SUAS ORIGENS, OS MÚSCULOS FLEXORES E SEUS TENDÕES ASSUMEM UM TRAJETO ANTERIOR AO PUNHO, ENQUANTO OS TENDÕES EXTENSORES ATRAVESSAM O PUNHO NA SUA FACE POSTERIOR. (SACCO; TANAKA, 2008, p. 96) Esses músculos, apesar de delgados e com longos tendões, devem ser estimulados nas sessões de treinamento e tratamento, o que irá auxiliar não só na condição dinâmica, mas também na própria estabilização da articulação do punho, necessária à realização de alguns exercícios para membros superiores, por exemplo, a abdução da articulação glenoumeral ou a flexão da articulação do cotovelo, com halter de barra curta (HBC). Imagem: Shutterstock.com Músculos da região anterior do antebraço. As trajetórias dos músculos na região do antebraço atuam de maneira antagônica nos movimentos de flexão e extensão do punho, por exemplo, o flexor e o extensor ulnar do carpo. No entanto, esses mesmos músculos são agonistas para o movimento de adução do punho. Veja o quadro a seguir. Músculo Função agonista Palmar longo Flexão da articulação radiocarpal Palmar curto Enrugação da pele na face ulnar da mão Flexor radial do carpo Flexão e abdução da articulação radiocarpal Extensor radial longo do carpo Extensão e abdução da articulação radiocarpal Extensor radial curto do carpo Extensão e abdução da articulação radiocarpal Flexor ulnar do carpo Flexão e adução da articulação radiocarpal Extensor ulnar do carpo Extensão e adução da articulação radiocarpal Quadro: Músculos e suas funções agonistas. Elaborado por Claudio Gonçalves Peixoto Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal ATENÇÃO Na prática, exercícios como flexão e extensão do punho com o HBC deveriam fazer parte dos estímulos previstos para o fortalecimento da região do punho. MÚSCULOS RELACIONADOS AOS MOVIMENTOS DA MÃO E DOS DEDOS Já vimos as características dos músculos relacionados aos movimentos da mão e dos dedos. Quando esses músculos não são condicionados de modo progressivo, as disfunções nos movimentos da mão tendem a lentamente se transformar em lesões. Uma vez instaladas, o reparo tecidual é demorado. Daí, ser relevante conhecer a função agonista de alguns desses músculos. Veja o quadro a seguir. Músculo Função agonista Extensor longo do polegar Extensão das articulações metacarpofalangeanas e interfalangeana do polegar Adução da articulação metacarpofalangeana do polegar Extensor do dedo indicador Extensão da segunda articulação metacarpolangeana Extensor do dedo mínimo Extensão da quinta articulação metacarpofalangeana Flexor profundo dos dedos Flexão das articulações interfalangeanas proximal e distal; e metacarpofalageana do segundo ao quinto dedo Flexor curto do polegar Flexão e adução da articulação metacarpofalangeana do polegar Oponente do polegar Flexão e adução da articulação carpometcárpica do polegar Interósseos palmares (três músculos) Adução e flexão da articulação metacarpofalangeana do segundo, quarto e quinto dedo Lumbricais (quatro músculos) Flexão da articulação metacarpofalangeana do segundo ao quinto dedo Quadro: Músculos relacionados aos movimentos da mão e dos dedos. Elaborado por Claudio Gonçalves Peixoto Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Perceba que os torques articulares na região de punho e mão estão relacionados a músculos que atuam de maneira conjunta em vários arranjos de movimentos. Nenhum desses músculos apresenta como principal característica uma grande predisposição para hipertrofia, quando comparados aos músculos do braço, por exemplo. Considere, portanto, o recrutamento seletivo de várias pequenas unidades motoras relacionadas a essas musculaturas, para que a quantidade final de força possa ser alcançada de maneira eficaz a partir da componente neural. Por exemplo, existe uma grande diferença entre “segurar firme” e “segurar forte” (apertar) um implemento (halter de barra curta ou barra). Muitas vezes, a força de preensão manual limita a sequência de exercício em uma sessão de treinamento por fadiga na região do antebraço. CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA DO PUNHO E MÃO O especialista Claudio Gonçalves Peixoto faz um resumo do módulo apresentando as regiões do punho e da mão, a artrocinemática, osteocinemática e as ações musculares. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A REGIÃO DO PUNHO PROPORCIONA AO HOMEM AMPLA POSSIBILIDADE DE MOVIMENTOS, EM FUNÇÃO DOS AJUSTES POSSÍVEIS COM A MÃO. SOBRE AS ESTRUTURAS QUE CONSTITUEM A ARTICULAÇÃO DO PUNHO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Na região do punho, são identificadas as articulações carpometacárpica, radiocarpal e intercárpica. B) Na região do punho, são identificadas as articulações radioulnar distal ou inferior, radiocarpal e intercárpica. C) Na região do punho, são identificadas as articulações radioulnar distal ou inferior, radiocarpal e carpometacárpica. D) Na região do punho, são identificadas as articulações radioulnar proximal ou superior, radiocarpal e intercárpica. E) Na região do punho, são identificadas as articulações radioulnar proximal ou superior, radiocarpal e carpometacárpica. 2. A CAPACIDADE MANIPULATIVA DO SER HUMANO É OBTIDA, EM PARTE, PELA AÇÃO DOS MÚSCULOS QUE ENVOLVEMA REGIÃO DO PUNHO E DA MÃO. ACERCA DOS COMPORTAMENTOS ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS DA REGIÃO DO PUNHO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) A força gerada na região do punho e da mão tem a quantidade final de força alcançada prioritariamente a partir da ação isométrica dinâmica. B) A força gerada na região do punho e da mão ocorre a partir do recrutamento seletivo de várias pequenas unidades motoras com alta capacidade de hipertrofia. C) A força gerada na região do punho e da mão tem a quantidade final de força alcançada prioritariamente a partir da componente morfológica. D) A força gerada na região do punho e da mão ocorre a partir do recrutamento seletivo de várias grandes unidades motoras com alta capacidade de hipertrofia. E) A força gerada na região do punho e da mão ocorre a partir do recrutamento seletivo de várias pequenas unidades motoras, em função do componente neural. GABARITO 1. A região do punho proporciona ao homem ampla possibilidade de movimentos, em função dos ajustes possíveis com a mão. Sobre as estruturas que constituem a articulação do punho, assinale a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. O domínio das possibilidades de interpretações dos movimentos da região do punho, a partir de suas características estruturais, proporciona ao profissional da área da saúde mais segurança para a prescrição dos exercícios. 2. A capacidade manipulativa do ser humano é obtida, em parte, pela ação dos músculos que envolvem a região do punho e da mão. Acerca dos comportamentos estruturais e funcionais da região do punho, assinale a alternativa correta: A alternativa "E " está correta. É importante entender que a quantidade de força final gerada por um músculo não só está relacionada à sua característica hipertrófica, mas também à sua componente neural. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS As características estruturais e funcionais dos membros superiores exigem atenção constante, uma vez que, ao comprometer qualquer desses conjuntos a cada conjunto de segmentos, implicará o comportamento dos demais. Assim, a estrutura do complexo do ombro nos obriga a ter não só um olhar especial para articulação glenoumeral, mas também para a dinâmica funcional da “articulação escapulotorácica”. A região do cotovelo, que é muito estável, tem, nas ações dos músculos responsáveis pela realização dos movimentos, diversas possibilidades de sinergia, em função das articulações adjacentes, ou seja, o posicionamento da articulação glenoumeral e o comportamento da articulação do punho tendem a impactar diretamente as articulações umeroulnar e radioulnar proximal. A região do punho e mão permite aproximadamente 58 movimentos combinados entre os seus conjuntos articulares. Essa característica está associada a músculos delgados e longos tendões, o que nos obriga a intencionalmente prescrever exercícios de fortalecimento e alongamento para a região, visando dar uma condição segura aos movimentos de garra e preensão, isto é, a valorização da condição manipulativa do ser humano. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS HALL, S. Biomecânica básica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. HAMILL, J.; KNUTZEN, K. M. Bases biomecânicas do movimento humano. 3. ed. São Paulo: Manole, 2012. LIMA, C. S.; PINTO, R. S. Cinesiologia e musculação. Porto Alegre: Artmed, 2006. SACCO, I. C. N.; TANAKA, C. Cinesiologia e biomecânica dos complexos articulares. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. SILVA, V. R. Cinesiologia e biomecânica. Rio de Janeiro: SESES, 2015. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos tratados neste conteúdo, leia os artigos: Análise da estabilidade durante a execução de dois exercícios de abdução de ombro, disponível na plataforma ResearchGate, para se aprofundar no conteúdo “estabilidade na execução de exercícios para a articulação do ombro”. Equilíbrio de torque muscular e amplitude de movimento de rotação medial e lateral do ombro em atletas e não atletas de voleibol, disponível no site do Repositório Institucional da UFSC. Impacto da cinesioterapia na discinesia escapular: revisão integrativa, disponível no Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 8, 2020. Estudo piloto sobre o impacto do tratamento com toxina botulínica na biomecânica do membro superior de pacientes com AVC, disponível na plataforma ResearchGate. Análise estabilométrica durante a execução dos exercícios de abdução de ombro com e sem os cotovelos fletidos, disponível no site do Repositório Institucional da UFMG. Biofeedback no aprendizado do controle de força dos músculos extensores do punho: relato de caso, disponível na plataforma ResearchGate. Avaliação biomecânica na prática do ténis: exposição a vibração sistema mão e braço, disponível na seção de Estudo Geral do site do Repositório da Universidade de Coimbra. Influência do design de órteses de punho e mão no desconforto, transmissão de torque e desempenho em tarefas manuais, disponível no site do Repositório Institucional da FAAC, Unesp. Leia também a tese de mestrado Análise dos efeitos biomecânicos das órteses de membros superiores nas articulações do ombro e cotovelo durante a execução de tarefas funcionais, disponível na Biblioteca Digital da USP. Acesse os Anais do Congresso Brasileiro da Associação Brasileira de Fisioterapia Traumato-Ortopédica (Abrafito), para se atualizar sobre o conteúdo “prevalência da discinesia escapular em indivíduos não atletas”. CONTEUDISTA Claudio Gonçalves Peixoto CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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