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Estudo de Caso: Precariedade Menstrual Apesar de estarmos em pleno século XXI e de termos a informação na nossa mão através da Internet, falar de menstruação ainda é um tabu e grande parte das mulheres não se sente à vontade em discutir sobre esse processo absolutamente natural. Na maioria das vezes, os temas relacionados ao corpo feminino, são repletos de estigmas e desinformação: A precariedade ou pobreza menstrual é um desses temas. O termo “pobreza menstrual” é usado para se referir à falta de informação (sobre o tema) e ao acesso de meninas, mulheres e homens trans a produtos para manter a higiene no período menstrual. Vai além da falta de dinheiro para compra de absorventes, também diz respeito a ausência e/ou precariedade de infraestrutura de onde essas pessoas vivem e como vivem: Banheiros, água e saneamento, por exemplo. A Escócia foi o primeiro país do mundo a oferecer absorventes menstruais gratuitos e produtos utilizados durante a menstruação para todas as mulheres. Já na Califórnia (EUA), desde 2017, a legislação já estabelecia a distribuição gratuita de absorventes para alunas de baixa renda. Recentemente, o governo ampliou a medida e agora exige que as universidades locais e escolas públicas disponibilizem absorventes íntimos. No ano de 2018, a Netflix (plataforma de streaming) adicionou ao seu catálogo um documentário/curta metragem que aborda uma revolução silenciosa liderada por mulheres contra o estigma enraizado da menstruação na zona rural da Índia, nos arredores de Delhi. Dirigido por Rayka Zehtabchi, o curta “Absorvendo o Tabu” recebeu muitos elogios da crítica, foi indicado ao Oscar (ganhando o prêmio de melhor documentário Curta-Metragem) e, principalmente, levou para as telas esse assunto ainda tão evitado. Em 2020, a UNICEF (Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas – em Inglês, United Nations International Children’s Emergency Fund) divulgou uma cartilha relacionando o período menstrual e a pandemia da COVID-19 e ratificou a higiene menstrual como direito humano. Dentre as 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) se entende que o direito a higiene menstrual está ligado ao primeiro objetivo que se refere a erradicação da pobreza; ao terceiro que é alcançar saúde e bem-estar; ao quarto que se refere a educação de qualidade, dentre outros. A meta é atingir esses objetivos até 2030. Como se já não bastasse todas as dificuldades com relação a higiene menstrual no Brasil, nós temos uma das maiores taxações sobre os absorventes no mundo, o que dificulta ainda mais a aquisição desse produto. Para diminuir e/ou extinguir essa alta tributação, o Governo Federal precisa considerar os produtos de higiene menstrual como essenciais (porque são) para higiene básica como já acontece com outros produtos que são isentos da incidência de tributos. A criação de programas e políticas públicas que diminuam essa carga tributária sobre os absorventes também é uma alternativa. Em Novembro de 2021, o Governo do estado do Rio Grande do Norte publicou no Diário Oficial do estado, um decreto que institui e regulamenta o “Programa Dignidade Menstrual” (DECRETO Nº 31.100, DE 22 DE NOVEMBRO DE 2021) que consiste em conceder acesso a produtos e condições de higiene adequados as meninas, mulheres e homens trans no estado, que se enquadrassem em alguns critérios como: estar em situação de rua, estar em situação de vulnerabilidade social, ser estudante da rede estadual de ensino dentre outros. Entretanto, uma audiência pública foi realizada no dia 11/05/22 para cobrar a efetivação da Lei nº 10.947/2021, responsável por instituir as diretrizes para a política pública “Menstruação sem tabu”. Segundo Talita Venâncio (Presidente do Girl Up Natal), “O maior objetivo dessa audiência era buscar respostas, que estamos aguardando desde 2020. A lei ficou cerca de 10 meses parada na CCJ, aguardando votação. E nós ainda temos diversos obstáculos e desafios até conseguirmos garantir os direitos das pessoas que menstruam no RN. Nós protocolamos o Projeto de Lei em julho de 2020, e somente em julho de 2021 a lei foi sancionada. Agora, estamos em mais uma etapa, em que temos a lei, mas não temos efetividade.”. A secretária estadual das Mulheres, da Juventude, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Maria Luiza Tonelli, fez um pronunciamento a respeito dos entraves para a efetivação da lei e disse que agora, finalmente, já estão no processo de compra, e que até Agosto, acredita que os absorventes já estarão sendo distribuídos. Compreende-se que a higiene menstrual faz parte da higiene básica do ser humano e, sendo assim, deve ser tratada como tal para garantir dignidade a quem precisa.
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