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CURSOS DE ATUALIZAÇÃO DESCOMPLICANDO A VENTILAÇÃO MECÂNICA 2020 © Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos à Editora Sanar Ltda. pela Lei nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume ou qualquer parte deste livro, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, gravação, fotocópia ou outros), essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem como às suas características gráficas, sem permissão expressa da Editora. Descomplicando a Ventilação Mecânica Thalita Galeão Fabrício Sawczen e Agência Mirai Fabrício Sawczen Agência Mirai Caio Vinicius Menezes Nunes Paulo Costa Lima Sandra de Quadros Uzêda Silvio José Albergaria da Silva Título | Editor | Projeto gráfico e diagramação| Capa | Revisor Ortográfico | Conselho Editorial | Editora Sanar S.A R. Alceu Amoroso Lima, 172 - Salvador Office & Pool, 3ro Andar - Caminho das Árvores CEP 41820-770, Salvador - BA Tel.: 0800 337 6262 atendimento@sanar.com www.sanarsaude.com ____________________________________________________________________________________________________________ -. ____________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________ 978-65-87930-23-7 23-7. Filipe Chagas Vieira, Leonardo Pamponet Simões, André Luiz Lisboa Cordeiro - 978-65-87930- AUTORES FILIPE CHAGAS VIEIRA Graduado em fisioterapia pela faculdade Ruy Barbosa. Especialista (Residência Multiprofis- sional) em clínica da pessoa e da família pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia em parceria com a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Atualmente é fisioterapeuta da Clínica Avançada de Fisioterapia (CAFIS). ANDRÉ LUIZ LISBOA CORDEIRO Doutorando e Mestre em Medicina e Saúde Humana pela Escola Bahiana de Medicina e Saú- de Pública. Graduado em Fisioterapia pela Faculdade Adventista da Bahia. Especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO. Pós-graduado em Fi- sioterapia em Terapia Intensiva pela Faculdade Social da Bahia. Atualmente é docente da Faculdade Nobre, Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana e da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. LEONARDO PAMPONET SIMÕES Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia Respiratória e em Terapia Intensiva (ASSOBRA- FIR/COFFITO). Residência em Fisioterapia Hospitalar com }enfase em Terapia Intensiva (SE- SAB). Supervisor de Fisioterapia no Hospital Aliança e Coordenador do Serviço de Fisioterapia do Hospital da Mulher. Suplente na regional BA da ASSOBRAFIR. SUMÁRIO VENTILAÇÃO MECÂNICA (VM) 6 VENTILAÇÃO MECÂNICA (VM) 6 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA VM 6 INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA 9 HEMOGASOMETRIA ARTERIAL 9 PRINCIPAIS PARÂMETROS DA VENTILAÇÃO MECÂNICA 13 MONITORIZAÇÃO DA MECÂNICA VENTILATÓRIA 16 BIBLIOGRAFIA 18 VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA 19 VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA 19 O CICLO VENTILATÓRIO 21 MODOS VENTILATÓRIOS 23 MODOS VENTILATÓRIOS BÁSICOS 23 BIBLIOGRAFIA 25 MODOS VENTILATÓRIOS AVANÇADOS 26 MODOS VENTILATÓRIOS AVANÇADOS 26 BIBLIOGRAFIA 28 ASSINCRONIA PACIENTE-VENTILADOR 29 ASSINCRONIA PACIENTE-VENTILADOR 29 ASSINCRONIAS DE DISPARO 30 SUMÁRIOASSINCRONIAS DE FLUXO 32ASSINCRONIAS DE CICLAGEM 33 BIBLIOGRAFIA 35 VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA EM CONDIÇÕES ESPECÍFICAS 36 VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA EM CONDIÇÕES ESPECÍFICAS 36 VMI E SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO AGUDO (SDRA) 36 OUTRAS CONDUTAS POSSÍVEIS NA SDRA 43 VMI E DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) 43 VMI E COVID-19 48 BIBLIOGRAFIA 56 DESMAME/EXTUBAÇÃO DA VM 57 DEMANE/EXTUBAÇÃO DA VM 57 BIBLIOGRAFIA 60 COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS À VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA 61 COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS À VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA 61 BIBLIOGRAFIA 62 VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA (VNI) 63 VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA (VNI) 63 USO DA VNI E SUAS EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS 68 BIBLIOGRAFIA 74 1Ventilação Mecânica (VM) VENTILAÇÃO MECÂNICA (VM) A ventilação mecânica, também conhecida como suporte ventilatório, consis- te no suporte para o tratamento de pacientes com insuficiência respiratória aguda ou crônica agudizada por meio da substituição total ou parcial da ven- tilação espontânea. A ventilação mecânica pode ser dividida em dois modos distintos: a ventilação mecânica invasiva (VMI) e ventilação mecânica não in- vasiva (VNI), que se encontram descritas na figura 1. Figura 1 - Subdivisão da VM VENTILAÇÃO MECÂNICA Ventilação mecânica Invasiva (VMI) Ventilação mecânica não Invasiva (VNI) Quando é realizado através de um tubo endotraqueal ou cânula de traqueostomia. Quando é realizada através de uma interface entre o paciente e o ventilador artificial, comumente uma máscara. Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Carvalho; Junior; Franca (2007)2. Antes de nos aprofundarmos a respeito da ventilação mecânica é interessan- te abordar o processo histórico da evolução desta terapia. BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA VM Apesar de já terem sido utilizados aparelhos para insuflar os pulmões nos pri- mórdios da sociedade, foi por volta do século XIX que os primeiros aparelhos 7Descomplicando a Ventilação Mecânica de suporte ventilatório a serem utilizados foram descritos de forma mais es- pecífica. Neste processo merece atenção a criação de um equipamento que submetia a caixa torácica do indivíduos a uma pressão negativa, enquanto as vias áreas mantinham contato com a pressão atmosférica normal. Deste modo, a entrada de ar no pulmão ocorria por pressão negativa (diferente dos equipamentos atuais que geram pressão positiva). Esses primeiros apare- lhos ficaram conhecidos como “pulmões de aço”, representados na figura 2. Figura 2 - Pulmões de aço Deste modo, a entrada de ar no pulmão ocorria por pressão negativa (Diferente dos equipamentos atuais que geram pressão positiva). Esses primeiros aparelhos ficaram conhecidos como “pulmões de aço”, representados na figura 2. Figura 2- Pulmões de aço Fonte: https://clebertoledo.com.br. Por volta dos anos 40/ 50, surgiram os aparelhos com ventilação por pressão positiva. O surto de poliomielite influenciou na disseminação dos aparelhos com ventilação por pressão positiva que necessitavam de uma via aérea invasiva, no qual os pulmões dos pacientes eram ventilados de forma manual por voluntários. Nos anos seguintes, com mais pesquisas e novas descobertas os ventiladores evoluíram, permitindo novas intervenções até chegar nos modelos com microprocessadores. Fonte: https://www.woodlibrarymuseum.org. Figura 3- 1º Geração ventilador mecânico a Pressão positiva Figura 4- Ventilador com microprocessador Fonte: https:// www.draeger- medical.com Fonte: https://clebertoledo.com.br. Por volta dos anos 40/ 50, surgiram os aparelhos com ventilação por pressão positiva. O surto de poliomielite influenciou na disseminação dos aparelhos com ventilação por pressão positiva que necessitavam de uma via aérea inva- siva, no qual os pulmões dos pacientes eram ventilados de forma manual por voluntários. Nos anos seguintes, com mais pesquisas e novas descobertas os ventiladores evoluíram, permitindo novas intervenções até chegar nos mode- los com microprocessadores. Figura 3 - 1º Geração ventilador mecânico a Pressão positiva Deste modo, a entrada de ar no pulmão ocorria por pressão negativa (Diferente dos equipamentos atuais que geram pressão positiva). Esses primeiros aparelhos ficaram conhecidos como “pulmões de aço”, representados na figura 2. Figura 2- Pulmões de aço Fonte: https://clebertoledo.com.br. Por volta dos anos 40/ 50,surgiram os aparelhos com ventilação por pressão positiva. O surto de poliomielite influenciou na disseminação dos aparelhos com ventilação por pressão positiva que necessitavam de uma via aérea invasiva, no qual os pulmões dos pacientes eram ventilados de forma manual por voluntários. Nos anos seguintes, com mais pesquisas e novas descobertas os ventiladores evoluíram, permitindo novas intervenções até chegar nos modelos com microprocessadores. Fonte: https://www.woodlibrarymuseum.org. Figura 3- 1º Geração ventilador mecânico a Pressão positiva Figura 4- Ventilador com microprocessador Fonte: https:// www.draeger- medical.com Fonte: https://www.woodlibrarymuseum.org. 8Descomplicando a Ventilação Mecânica Figura 4 - Ventilador com microprocessador Deste modo, a entrada de ar no pulmão ocorria por pressão negativa (Diferente dos equipamentos atuais que geram pressão positiva). Esses primeiros aparelhos ficaram conhecidos como “pulmões de aço”, representados na figura 2. Figura 2- Pulmões de aço Fonte: https://clebertoledo.com.br. Por volta dos anos 40/ 50, surgiram os aparelhos com ventilação por pressão positiva. O surto de poliomielite influenciou na disseminação dos aparelhos com ventilação por pressão positiva que necessitavam de uma via aérea invasiva, no qual os pulmões dos pacientes eram ventilados de forma manual por voluntários. Nos anos seguintes, com mais pesquisas e novas descobertas os ventiladores evoluíram, permitindo novas intervenções até chegar nos modelos com microprocessadores. Fonte: https://www.woodlibrarymuseum.org. Figura 3- 1º Geração ventilador mecânico a Pressão positiva Figura 4- Ventilador com microprocessador Fonte: https:// www.draeger- medical.com Fonte: https:// www.draeger-medical.com Retomando a respeito da VM que conhecemos atualmente, seus principais objetivos gerais estão descritos na figura 5. Figura 5 - Objetivos gerais da VM Melhorar as trocas gasosas Melhorar relação ventilação/perfusão Reduzir o trabalho respiratório Otimizar os valores de oxigenação OBJETIVOS GERAIS DA VM Diminuir a hipercapnia/ acidose respiratória Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Carvalho; Junior; Franca (2007)2. Como foi citado inicialmente, a VM está fortemente associada a insuficiência respiratória aguda, que pode ser compreendida como o estado em que o sis- tema respiratório não possui capacidade de gerar valores da pressão parcial de oxigênio e de gás carbônico no sangue arterial. Na gasometria, a insufici- ência respiratória pode ser representada pelo seguinte ponto de corte: PaO2: < 60 mmHg que pode ou não estar acompanhado de uma PaCO2: > 50 mmHg. 9Descomplicando a Ventilação Mecânica INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA A insuficiência respiratória é classificada em três subtipos: tipo I (Hipoxêmica), tipo II (Hipercápnica) e mista que estão representadas na figura 6, através de suas principais características. Figura 6 - Caracterização da insuficiência respiratória TIPO I (HIPOXÊMICA) TIPO II (Hipercápnica) MISTA • PaO2 Reduzido • Valores normais ou redu- zidos da PaCO2 • Diferença alvéolo-arterial de oxigênio P(A-a) elevada • PaCO2 Elevada • Diferença alvéolo-arterial de oxigênio P(A-a) nor- mal. • P(A-a)O2 Normal • PaO2 Reduzida • PaCO2 Elevada • Diferença alvéolo-arterial de oxigênio P(A-a)O2 Elevada Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Do Valle Pinheiro; Pinheiro; Mendes (2015)5. A causa inicial da insuficiência respiratória deve ser identificada, pois os pa- râmetros ventilatórios são ajustados de acordo causa base. Exames comple- mentares são fundamentais na avaliação do paciente em VM, como hemo- grama, eletrólitos, radiografia de tórax, ECG e a Hemogasometria arterial. HEMOGASOMETRIA ARTERIAL A Hemogasometria é um exame invasivo que fornece dados que auxiliam na identificação de distúrbios respiratórios e ou metabólicos sendo capaz de mo- nitorar os gases e o equilíbrio ácido-base do organismo. É realizado por meio da punção em especial da artéria radial, porém também tem sido realizado nas artérias braquial e femoral. A Hemogasometria essencialmente fornece informações a respeito do pH (po- tencial hidrogênio); PaO2 (pressão arterial parcial de oxigênio); PaCO2 (pressão arterial parcial de dióxido de carbono); HCO3- (bicarbonato); BE (excesso de bases). Os principais parâmetros observados na hemogasometria estão repre- sentados na figura 7. 10Descomplicando a Ventilação Mecânica Figura 7 - Parâmetros observados na hemogasometria Determina o pH do sangue Hemogasometria Capacidade de transporte de oxigenio Níveis íon de bicarbonato Níveis de CO2 Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Piva; Garcia; Martha (1999)6. PONTO DE FIXAÇÃO O pH pode ser resumido pela fórmula: pH= HCO3/ PaCO2 logo alterações em um desses componentes podem in- fluenciar de forma direta o pH, podendo gerar disfun- ções importantes até o óbito. Com base nesta formula podemos afirmar que o HCO3 possui relação direta- mente proporcional ao pH, (ou seja uma elevação do HCO3 gera a elevação do pH enquanto sua diminuição gera redução do pH), já o a PCO2 possui relação inver- samente proporcional ao pH, desta forma (elevações do PCO2 geram redução do pH enquanto diminuição do PCO2 ocasionam elevação do pH). A PCO2 representa a capacidade de ventilação e é determinado pelo sistema respiratório já o HCO3 representa o sistema metabólico. Existe um parâmetro de referência para os valores dos itens observados na hemogasometria, sendo estes valores representados no quadro 1. 11Descomplicando a Ventilação Mecânica Quadro 1 - Valores de referência na gasometria VALORES DE REFERÊNCIA DA GASOMETRIA pH 7,35-7,45 PCO2 (mmHg) 35-45 PO2 (mmHg) 80-100 HCO3 (mEq/l) 22-26 BE +2/-2 Fonte: Informações retiradas de Piva; Garcia; Martha (1999). Quando os valores do pH se encontram abaixo do valor de normalidade pode- mos afirmar que existe uma acidose e quando os valores estão acima do valor de normalidade uma alcalose. A acidose e/ou alcalose podem ser de origem respiratória, metabólica ou mista, em que ocorrem alterações simultâneas de HCO3 e PaCO2 que alteram de forma semelhante o pH. Os principais distúrbios hemogasométricos podem ser visualizados de forma simplificada no quadro 2. Quadro 2 - Caracterização dos principais distúrbios hemogasométricos DISTÚRBIO CARACTERIZAÇÃO PRINCIPAIS CAUSAS Acidose metabólica Alteração primária: HCO3 - Reduzido pH- Reduzido Compensação: Diminuição do PCO2 Acúmulo de ácidos não voláteis. As causas da acidose metabólica podem ser subdivididas em três categorias: • Perda de bicarbonato; • Falência renal da excreção de ácidos e adição de ácidos. Acidose respiratória Alteração primária: PCO2 - Elevado pH – Reduzido Compensação: Elevação do HCO3 Ocorre por redução do volume corrente/volume minuto podendo estar associado a diminuição da frequência res- piratória. Pode estar presente em alterações do SNC ou doenças pul- monares, cardíacas e neuromusculares. Alcalose metabólica Alteração primária: HCO3 - Elevado pH- Elevado Compensação: PCO2 - Elevado Perda de ácidos gástricos, aumento da atividade minera- locorticoide e administração de diuréticos de alça ou tia- zídicos. Alcalose respiratória Alteração primária: PCO2 -Reduzido pH - Elevado Compensação: Redução do HCO3 Aumento da ventilação alveolar. Hiperventilação é tida como a principal causa primária de al- calose respiratória. Fonte: Adaptado de Piva; Garcia; Martha (1999)6. 12Descomplicando a Ventilação Mecânica Os distúrbios na gasometria podem se encontrar de três formas (figura 8): ▶ Compensados; ▶ Descompensados; ▶ Parcialmente compensados. Figura 8 - Forma de apresentação dos distúrbios Descompensado Quando o parâmetro opostose encontra sem alterações Fora da normalidade Dentro da normalidade Compensado Parcialmente compensado Quando o parâmetro oposto se altera na tentativa de normalizar o pH pH Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Piva; Garcia; Martha (1999)6. Quando o desequilíbrio ácido-básico se mantem durante muito tempo, o or- ganismo tenta compensar o distúrbio através de uma alteração na PCO2 e ou por meio de uma mudança no HCO3—. Os distúrbios metabólicos geram com- pensações respiratórias enquanto os distúrbios respiratórios levam a compen- sações metabólicas. Porém em algumas situações especificas é possível se encontrar alterações na hemogasometria que são consideradas aceitáveis em condições crônicas. O principal exemplo é o paciente com Doença Pulmo- nar Obstrutiva Crônica, esses pacientes estão normalmente em situação de Hipercapnia crônica, com retenção compensatória de bicarbonato. Fisiologi- camente há uma compensação da acidose respiratória gerada pela retenção do CO2, com uma alcalose metabólica, pela retenção de HCO3— pelo rim. A adaptação do organismo ocorre de forma tão importante nesses pacientes habituadas a altos níveis de CO2, que eles se tornam “menos sensíveis” a al- terações de dióxido de carbono e a concentração de oxigênio passa a ser o responsável por permitir que a pessoa mantenha uma respiração “normal”, assim o excesso de oxigênio pode reduzir drasticamente o estimulo respirató- rio nesse grupo de pacientes, desta forma a oxigenoterapia deve ser realizada com muito cuidado nesse grupo de pacientes. 13Descomplicando a Ventilação Mecânica PRATICANDO A TEORIA Com a informação referente a gasometria e sua inter- pretação vamos praticar um pouco: Qual o distúrbio gasométrico de um paciente em quadro de agudiza- ção de DPOC, que se encontra em uma unidade de te- rapia intensiva e apresentou os seguintes parâmetros na gasometria: pH: 7,20; PCO2: 60 mmHg; HCO3: 32 mEq/l? Para responder essa questão vale a pena refletir sobre o quadro clínico apre- sentado em um indivíduo com DPOC. Indivíduos com DPOC apresentam o aprisionamento de ar com consequente retenção crônica de CO2, como vi- mos anteriormente a PCO2 tem relação inversa com o pH, desta forma seu aumento leva a uma redução da taxa do pH, ocasionando uma acidose res- piratória tendo em vista que o quadro base é de uma alteração respiratória, como tentativa de compensação. O parâmetro oposto no caso o HCO3, tende a aumentar na tentativa de equilibrar o sistema porém no nosso exemplo essa compensação ainda não conseguiu “normalizar” o pH. Desta forma esta- mos diante de um quadro de acidose respiratória parcialmente compensada. Se este paciente estivesse sob ventilação mecânica uma das alternativas que poderia ser empregada para melhora do quadro seria aumentar o tempo ex- piratório e ou a frequência respiratória na tentativa de auxiliar a eliminação de CO2 do organismo. PRINCIPAIS PARÂMETROS DA VENTILAÇÃO MECÂNICA Para iniciarmos sobre os aspectos pertinentes a ventilação mecânica alguns conceitos prévios precisam ser esclarecidos. Estes conceitos se encontram descrito no quadro 3. 14Descomplicando a Ventilação Mecânica Quadro 3 - Parâmetros da ventilação mecânica Principais conceitos em Ventilação mecânica • Fração inspirada de oxigênio A fração inspirada de oxigênio comumente denominada apenas como (FiO2) representa a quantidade de oxigênio inspirado. Este é um parâmetro que requer atenção especial principalmente pelos efeitos tóxicos do oxigênio, valores de FiO2 acima de 0,6 estão relacionados a risco de complicações como lesão das vias aéreas por toxicidade direta do O2, atelectasias e agravamento da hipercapnia. A FiO2 recomendada é aquela necessária para manter a saturação arterial de oxigênio entre 93 a 97%. É comum a utilização de uma FiO2 de 1,0 (100%) inicialmente para recuperar a hipoxemia decorrente da instalação do aparelho e ajustes iniciais. • Volumes e frequência respiratória O volume corrente compreende o ar inspirado ou expirado em um ciclo respiratório, no campo da VM representa a quantidade de ar ofertada pelo ventilador a cada ciclo ventilatório. O volume corrente também é denominado de volume tidal (VT), o valor empregado inicialmente nos ajustes iniciais se encontra por volta de 6 a 8 mL/Kg de peso predito porém em algumas situações como a síndrome do desconforto respiratório agudo se empregue volumes menores que 6 mL/Kg de peso predito. O volume minuto corresponde ao produto do volume corrente pela frequência respiratória. Este parâ- metro representa o principal determinante da PCO2, possuindo uma relação inversamente proporcional com o mesmo, desta forma a elevação do VM ocasiona à diminuição dos níveis de dióxido de carbono. A frequência respiratória representa o número de vezes em que o volume corrente ou a pressão programada será disponibilizada ao paciente. A frequência respiratória inicial ajustada normalmente varia entre 12- 16 rpm. Em caso de doença obstrutiva pode-se começar usando f mais baixa (<12 rpm) e em caso de doenças restritivas pode-se utilizar f mais elevada. Deve ser ajustada de acordo com a PaCO2 e pH desejados, e dependerá do modo de ventilação escolhido. • Pressão positiva ao final da expiração (PEEP) A PEEP representa a resistência a fase expiratória. Fisiologicamente existe uma pressão positiva ao final da expiração, que é gerada pelo fechamento da epiglote e represamento de ar no sistema res- piratório, porém nos pacientes sedados/intubados esse mecanismo deixa de existir, sendo necessário o ajuste através do ventilador mecânico propiciando a abertura de unidades pulmonares e ou manu- tenção desta abertura para trocas gases impedindo o colabamento alveolar. Inicialmente é recomendado o ajuste da PEEP entre 3-5 cm H2O salvo algumas situações especiais que devem ser vistas de forma individualizada como na síndrome do desconforto respiratório onde comumente se evita utilizar PEEP menor que 5 cm H2O. No contexto da VMI deve-se ter atenção ao aumento de pressão nas vias aéreas de modo a prevenir a possibilidade de lesão induzida pela venti- lação mecânica. É importante destacar que altos valores de PEEP geram repercussões locais e sistê- micas que podem ser perigosas ao organismo. • Fluxo inspiratório O fluxo inspiratório compreende a velocidade na qual o volume corrente é disponibilizado. O ajuste deste parâmetro pode determinar uma modificação no tempo inspiratório e da relação I:E. É comum a utilização de valores entre 40 a 60 L/min, buscando não ultrapassar pressões de pico maiores que 40 cm H2O. Todavia em algumas condições especificas como na doença pulmonar obstrutiva crônica e asma geralmente são empregados valores maiores com intuito de reduzir o tempo inspiratório e consequen- te melhoria da hipercapnia e redução do risco de auto-PEEP por meio do aumento da relação I:E. • Relação Inspiração: Expiração Representa a relação entre o tempo inspiratório e expiratório. O tempo inspiratório pode ser mensu- rado por meio da divisão entre o volume corrente pelo fluxo inspiratório. Desta forma podemos con- siderar que reduzindo o VT e ou aumentando o fluxo inspiratório, ocorrerá uma diminuição do tempo inspiratório. Geralmente se inicia a VM visando manter relação I:E em 1:2 a 1:3. Em algumas situações especificas essa relação é ajustada de modo é melhorar o quadro como nas doenças que cursam bai- xa complacência pulmonar, como na SDRA uma relação I:E de 1:1 pode ser necessária aumentando desta forma o tempo de troca alveolocapilar, promovendo, melhora na oxigenação. • Sensibilidade A sensibilidade representa o esforço inspiratório que o paciente necessita realizar para desencadear o ciclo respiratório. Os valores da sensibilidade à pressão é em cm H2O e sensibilidade à fluxo é em L/min. Os disparos mais comuns disponíveis no mercado são os disparos a tempo (modo controlado pelo ventilador) e pelo paciente (disparos a pressão e a fluxo, chamados de modos de disparo pneu- máticos).E no modo NAVA ainda é possível a realização de disparo por estímulo neural. 15Descomplicando a Ventilação Mecânica • Pausa Inspiratória Representa à oclusão da via de saída expiratória, do respirador, que impede de forma temporária o início da expiração. É um mecanismo empregado para prolongar o Tempo inspiratório. • Pressão de “Platô” Diz respeito ao valor da pressão das vias aéreas, avaliada no momento da pausa inspiratória, é consi- derado o parâmetro que melhor define as pressões alveolares no momento do término da insuflação pulmonar. Valores muito altos de pressão de platô, geralmente, além de 35cm H2O, estão associados a lesão parenquimatosa, pulmonar, induzida pela ventilação mecânica. • Pressão de Pico Representa o maior valor de pressão atingido durante a inspiração do VT, durante um ciclo de ventila- ção mecânica. Valores elevados, normalmente além de 50 cm H2O, podem gerar traumas associados à ventilação mecânica, como pneumotórax. Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Pádua; Martinez (2001)9 e Barbas (2013)1. PONTO DE FIXAÇÃO O cálculo-base para verificar o peso predito é obtido por meio de duas fórmulas a depender do sexo do pa- ciente. Peso Corporal Predito: • Homens: 50 + 0,91 x (altura em cm – 152,4). • Mulheres: 45,5 + 0,91 x (altura em cm – 152,4). PRATICANDO A TEORIA Qual seria o peso predito de uma paciente do sexo fe- minino que possui 1,70 m de altura. A fórmula para mulheres é 45,5 + 0,91 x (altura em cm – 152,4), transformando a altura da paciente em cen- tímetros temos o valor de 170 cm. Desta forma, o cál- culo será: 45,5 + 0,91 x (170– 152,4) = 45,5+0,91 x (17.6) = 61.516. Continuando neste exemplo se formos estabelecer um VT 6ml/kg/peso predito inicialmente para essa pacien- te teremos o seguinte cálculo: 61.516 (peso predito) x 6 = 369,096 ml. 16Descomplicando a Ventilação Mecânica MONITORIZAÇÃO DA MECÂNICA VENTILATÓRIA O suporte ventilatório com pressão positiva gera importantes alterações na mecânica do sistema respiratório. Sua aplicação propicia a avaliação de parâ- metros com grande relevância clínica. A pressão positiva na via aérea pode ser decomposta em duas partes que se somam: a pressão resistiva (relacionada à passagem do gás pelas vias aéreas até os alvéolos pulmonares) e a pressão elástica (decorrente do estiramento do parênquima pulmonar e da caixa torácica quando da acomodação do vo- lume de gás insuflado nos alvéolos). É recomendado que se faça a monitorização da mecânica ventilatória de ro- tina em todo paciente submetido a suporte ventilatório mecânico invasivo, sendo compreendidos os seguintes parâmetros: ▶ Volume corrente expirado (VCe), ▶ Pressão de pico (pressão inspiratória máxima), ▶ Pressão de platô ou de pausa inspiratória (em ventilação controlada), ▶ PEEP extrínseca, auto-PEEP ou PEEP intrínseca. É fundamental fazer os cálculos de Resistência de vias aéreas (Rva), Compla- cência estática (Cst), e monitorar as curvas de fluxo, pressão e volume versus tempo em casos selecionados. A mensuração da pressão alveolar pode ser obtida através de uma pausa ins- piratória de pelo menos dois segundos de duração. A pressão ao final da pau- sa é denominada de pressão de platô ou pressão de pausa. ▶ Requisitos para mensuração acurada da pressão de pausa » Ausência de esforço muscular respiratório, » Tempo de pausa 2 a 3 segundos (durante a pausa a pressão na via aé- rea mensurada pelo ventilador mecânico se reduzirá até se equalizar com a pressão alveolar). » Ausência de vazamentos. A medida da pressão de pausa permite as medidas clássicas de mecânica res- piratória: resistência de vias aéreas (Raw) e complacência estática (Cst). 17Descomplicando a Ventilação Mecânica Figura 9 - Representação de calculo da RVA e Cst A mensuração da pressão alveolar pode ser obtida através de uma pausa inspiratória de pelo menos dois segundos de duração. A pressão ao final da pausa é denominada de pressão de platô ou pressão de pausa. Requisitos para mensuração acurada da pressão de pausa - Ausência de esforço muscular respiratório, - Tempo de pausa 2 a 3 segundos (Durante a pausa a pressão na via aérea mensurada pelo - ventilador mecânico se reduzirá até se equalizar com a pressão alveolar) - Ausência de vazamentos. A medida da pressão de pausa permite as medidas clássicas de mecânica respiratória: resistência de vias aéreas (Raw) e complacência estática (Cst) Na figura 9 podemos ver a representação de calculo da RVA e Cst: Figura 9- Cálculo da Rva e da Cst Fonte: Barbas (2013)1 Fonte: Barbas (2013)1 A complacência dinâmica (Cdyn) leva em conta não apenas a capacidade do sistema em acomodar o volume, mas também o fluxo de gás. Incluindo assim as propriedades elásticas e resistivas do sistema. Cálculo: Cdyn = VC / (Ppico-PEEP) Quadro 4 - Parâmetros de referência da mecânica respiratória Valores de referência Cdyn de 100 a 200 ml/cm H2O Cst de 50 a 100 ml/cm H2O Raw < 10 cm H2O/L/s DP < 15 cm H2O Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Braz (2000)9 18Descomplicando a Ventilação Mecânica BIBLIOGRAFIA 1. Barbas, C. V., Isola, A. M., Farias, A. M., Cavalcanti, A. B., & Gama, A. M. C. D. A. Diretrizes brasileiras de ventilação mecânica. 2013. Associação de Medicina Intensiva Brasileira e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, 2013; 1-140. 2. Carvalho, C. R. R. D., Toufen Jr, C., & Franca III, S. A. III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. Ventilação Mecânica: princípios, análise gráfica e modalidades ventilatórias. J Bras Pneumol, 2007; 33(Supl 2); 54-70. 3. Melo, A. S., Almeida, R. M. S. D., & Oliveira, C. D. D. A mecânica da ventilação mecânica. Re- vista Médica de Minas Gerais. 2014; 24(8); 43-48. 4. Slutsky, A. S. History of mechanical ventilation. From Vesalius to ventilator-induced lung injury. American journal of respiratory and critical care medicine, 2015; 191(10); 1106-1115. 5. Valle Pinheiro, B., Pinheiro, G. S. M., & Mendes, M. M. Entendendo melhor a insuficiência respiratória aguda. Pulmão RJ. 2015; 24(3); 3-8. 6. Piva, J. P. Distúrbios do equilíbrio ácido-básico. Jornal de Pediatria: Rio de Janeiro. (1999). 75 (supl. 2); 234-s243. 7. Wilkins, R. L., Stoller, J. K., & Kacmarek, R. M. EGAN Fundamentos da terapia respiratória. 9ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009. 8. Pinto, J. M. A., Saracini, K. C., Lima, L. C. A. D., Souza, L. P. D., Lima, M. G. D., & Algeri, E. D. B. D. O.; Gasometria arterial: aplicações e implicações para a enfermagem. Revista Amazônia Science & Health. 2017; 5(2); 33-39. 9. Braz, J. R.C. Temas de anestesiologia. 2º ed. UNESP, 2000. ANOTAÇÕES 2Ventilação Mecânica Invasiva VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA A VMI é indicada para casos de insuficiência respiratória grave, indivíduos com redução grave do nível de consciência devido Incapacidade de proteger as vias aéreas, parada cardiorrespiratória e situações extremas. Diversas condições requerem o uso de intubação endotraqueal e o uso de VM, dentre essas condições podemos destacar: ▶ Rebaixamento do nível de consciência condizente com um Glasgow <8; ▶ Obstrução de vias aéreas superiores; ▶ Falência mecânica do aparelho respiratório; ▶ Condições que propiciam a aspiração; ▶ Reanimação devido à parada cardiorrespiratória. O ciclo ventilatório durante a ventilação mecânica com pressão positiva pode ser dividido em quatro fases. Figura 10 - Componentes do ciclo ventilatório Disparo (início da fase inspiratória): Fase em que se finaliza a expiração e ocorre o disparo (abertura da válvula ins) do ventilador, dando inicio a uma nova fase inspiratória. Fase inspiratória: Diz respeito à fase de ciclo em que ocorre insuflação de ar nos pulmões. Mudança de fase (ciclagem): Representa a passagem da fase inspiratória para a expiratória. Determina o final da fase inspiratória. Fase expiratória: Corresponde ao esvaziamento dos pulmões. Momento seguinte ao fechamentoda válvula inspiratória e aberta da válvula expiratória. 1. 2. 3. 4. Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Barbas (2013)1. 20Descomplicando a Ventilação Mecânica A seguir temos duas representações gráficas do ciclo ventilatório de acordo com as fases descritas acima. Figura 11 - Representação gráfica do ciclo ventilatório Tempo Fluxo = 0 1 2 3 4 4 Fonte: Carvalho; Junior; Franca (2007)2. Figura 12 - Parâmetros visualizados no gráfico do ciclo ventilatório A seguir temos duas representações gráficas do ciclo ventilatório sendo a primeira no modo ventilação controlada por volume de acordo com as fases descritas acima. Figura 11. Representação gráfica do ciclo ventilatório Fonte: Carvalho; Junior; Franca (2007)2. Figura 12. Parâmetros visualizados no gráfico do ciclo ventilatório Fonte: Pádua; Martinez (2001)3. Fonte: Pádua; Martinez (2001)3. 21Descomplicando a Ventilação Mecânica O CICLO VENTILATÓRIO A inspiração pode ter início durante a fase inicial através de três mecanismos. Figura 13 - Mecanismos da inspiração na fase inicial Mecanismos da inspiração na fase inicial Tempo preestabelecido no respirador pelo terapeuta. Mudança de pressão em que o esforço gerado pelo paciente causa diminuição da pressão da via aérea e do circuito (sensibilidade de pressão). Através da alteração de fluxo (sensibilidade fluxo). Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Melo; Almeida; Oliveira (2014)4. ▶ No início da inspiração após o trigger/disparo ocorre a abertura da valva inspiratória e liberação do fluxo, sendo este fluxo controlado por limites estipulados pelo terapeuta. Os dois limites comumente estabelecidos são: a taxa de fluxo (onde a taxa e o padrão são limitados pelo terapeuta, nesse modo ocorre variação da pressão da via aérea) e a taxa de pressão (onde o limite de pressão inspiratória é determinado pelo terapeuta e o fluxo e o volume são variáveis). ▶ A fase de liberação do fluxo vem seguida pela fase ciclo-término que re- presenta o término da inspiração que a depender do modo ventilatório estabelecido pode acontecer de quatro formas distintas. Figura 14 - Formas de ciclagem Ciclagem a Volume - Em que a inspiração é finalizada no momento em que o volume predeterminado é atingido. Ciclagem a Tempo - Em que a inspiração é finalizada quando o tempo inspiratório é atingido. Ciclagem a Fluxo - Em que a inspiração termina no momento que o fluxo inspiratório reduz para o nível estabelecido. Ciclagem a Pressão - Em que a inspiração termina no momento que a pressão inspiratória é atingida. Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Melo; Almeida; Oliveira (2014)4. 22Descomplicando a Ventilação Mecânica ▶ A próxima fase é a expiração, fase passiva que dependerá da elastância e da resistência das vias aéreas e do circuito. A imagem a seguir contribui para a visualização do sistema ventilatório e componentes relacionados ao ciclo ventilatório. Figura 15 - Componentes básicos e ciclo ventilatório Figura 15- Componentes básicos e ciclo ventilatório. Fonte: http://www2.ebserh.gov.br. 2.2 Modos ventilatórios 1,2,4 As modalidades ventilatórias podem ser controladas, assistida e espontâneas: Os modos ainda podem ser associados, como o modo assistido-controlado (que combina um mecanismo misto de disparo, programado por sensibilidade à pressão ou a fluxo, dependente do paciente para dar início a inspiração, e por tempo, dependendo da frequência respiratória configurada, agindo como um sistema de segurança e gerando um novo ciclo somente quando não ocorre disparo pela sensibilidade. Modalidades ventilatórias Controladas: Todos os ciclos ventilatórios são disparados e/ou ciclados pelo ventilador, o disparo é controlado pelo tempo Assistida: O paciente dá inicio aos ciclos respiratórios através de ajuste da sensibilidade, mas o ventilador controla e finaliza a inspiração. O ciclo assistido é iniciado quando o paciente, com seu próprio esforço, gera uma pressão negativa no sistema ou cria um fluxo no sentido contrário ao do sistema. Espontâneas: O paciente inicia e finaliza o ciclo ventilatório Fonte: http://www2.ebserh.gov.br. PONTO DE FIXAÇÃO Estas quatro formas descritas de ciclagem do respira- dor (volume, tempo inspiratório, fluxo ou pressão) é o que classifica os modos ventilatórios. Outra forma de ciclagem mais recente é o disparo elé- trico, que ocorre pela detecção da variação da ativida- de elétrica do diafragma. 23Descomplicando a Ventilação Mecânica MODOS VENTILATÓRIOS As modalidades ventilatórias podem ser controladas, assistida, espontâneas e assistido-controlado: Modalidades ventilatórias Controladas: Todos os ciclos ventilatórios são disparados e/ou ciclados pelo ventila- dor, o disparo é controlado pelo tempo. Assistida: O paciente dá inicio aos ciclos respiratórios através de ajuste da sensibi- lidade, mas o ventilador controla e finaliza a inspiração. O ciclo assistido é iniciado quando o paciente, com seu próprio esforço, gera uma pressão negativa no sistema ou cria um fluxo no sentido contrário ao do sistema. Espontâneas: O paciente inicia e finaliza o ciclo ventilatório. Assistido-controlado: Os modos ainda podem ser associados, como o modo assisti- do-controlado (que combina um mecanismo misto de disparo, programado por sen- sibilidade à pressão ou a fluxo, que depende do paciente para dar início a inspiração, e por tempo, que depende da frequência respiratória configurada, agindo como um sistema de segurança e gerando um novo ciclo somente quando não ocorre disparo pela sensibilidade). MODOS VENTILATÓRIOS BÁSICOS Agora iremos detalhar os modos básicos, que são os mais conhecidos da VM. Quadro 5 - Síntese dos Principais Modos ventilatórios básicos Ventilação controlada a volume (VCV) É um modo assisto-controlado limitado a volume, pode ser disparado a tempo (con- trolado), pressão e fluxo (assistido) e é ciclado ao se atingir o VCinspirado pré-deter- minado. Considerado o modo de admissão na unidade de terapia intensiva. No modo VCV é possível garantir o VC desejado e ter um maior controle sobre a PaCO2. Sendo utilizado na avaliação da mecânica respiratória. Neste modo ocorre variação da pressão nas vias aéreas, por esse fato é necessário atenção na monitorização da pressão de pico e de platô ao utilizá-lo, devendo haver adequada regulagem de alarme de pressão máxima em vias aéreas, quando é apli- cada uma pausa inspiratória, para mensuração da mecânica respiratória, a ciclagem passa a ser a tempo. Ventilação controlada a pressão (PCV) É um modo assisto-controlado limitado a pressão e ciclado a tempo, é mais utilizado nas situações em que se observa comprometimento da mecânica do sistema respi- ratório, pois garante um melhor controle das pressões em vias aéreas e alveolares. O modo PCV mantém a pressão limitada durante toda fase inspiratória, com ciclagem a tempo. O tempo inspiratório é fixo em segundos pelo terapeuta. O fluxo é livre e desacelerado. Nesta modalidade o VC é variável e consequente do delta de pressão administrado e da mecânica ventilatória do paciente. É necessário atenção à monito- rização do VCexpirado e regulagem de alarme de volume minuto máximo e mínimo. Ventilação com pressão de suporte (PSV) É um modo espontâneo, a inspiração é iniciada pelo paciente ao negativar a pressão no sistema e também a fluxo é finalizada no momento que o fluxo reduz abaixo de um nível específico (geralmente, a 25% do Pico de Fluxo Inspiratório). Início pode ser a fluxo, nessa modalidade é o paciente quem determina a frequência respiratória, o tempo inspiratório e o volume corrente. É modo disparado exclusivamente pelo pa- ciente, a pressão ou a fluxo. Na PSV, a entrega de um volume corrente específico não é garantida. A PSV comumente é usada durante o processo de desmame de ventila- dores, geralmente em níveisinferiores a 15 cm H2O. Quando bem utilizada, consegue abreviar o tempo de desmame ou mesmo aumentar suas chances de êxito. 24Descomplicando a Ventilação Mecânica Ventilação mandatória intermiten- te sincroni- zada (SIMV) Essa modalidade permite, dentro da janela de tempo dos ciclos mandatórios con- trolados, a ocorrência de ciclos espontâneos assistidos. Os ciclos controlados podem ser ciclados a volume (SIMV-V, os ciclos mandatórios têm como variável de controle o volume, são limitados a fluxo e ciclados a volume) ou limitados a pressão (SIMV-P, os ciclos mandatórios têm como variável de controle a pressão, são limitados a pressão e ciclados a tempo). Atualmente o uso desta modalidade tem sido restrito a pacientes que necessitam garantir volume-minuto mínimo no início da PSV como por exemplo neuropatas ou pacientes no despertar inicial de anestesia geral. Esse modo tem sido pouco utilizado, devido ao fato de ter se mostrado associado ao aumento do tempo retirada da ventilação. Pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) Nessa modalidade ventilatória, o paciente respira espontaneamente por meio do cir- cuito pressurizado do aparelho, de tal forma que uma certa pressão positiva, defini- da quando do ajuste do respirador, é mantida praticamente constante durante todo o ciclo respiratório. Esse método deve ser empregado a pacientes com capacidade ventilatória mantida, geralmente sendo empregado em pacientes com patologias parenquimatosas, puras, de baixa gravidade e/ou no processo de desmame. Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Melo; Almeida; Oliveira (2014)4; Barbas (2013)1. A seguir estão representadas as principais características dos modos ventila- tórios básicos. Quadro 6 - Principais características dos modos ventilatórios básicos Modo ventilatório Disparo Fase inspiratória Ciclagem Vantagens Desvantagens A/C VCV Tempo ou paciente (pressão ou fluxo) Fluxo Volume Volume Tempo Melhor controle da mecânica ventilatória. Garante volu- me corrente. Efeitos adversos hemodi- nâmicos potenciais (Auto- -PEEP), hiperventilação, pres- são inspiratória excessiva. Necessidade do paciente estar sedado, com pouca ou nenhuma interação com a máquina. A/C PCV Tempo ou paciente (pressão ou fluxo) Pressão Tempo Limita a pres- são de pico inspiratória. Hipo ou hiperventilação, mudanças na resistência ou elastância das vias aéreas. SIMV/ PSV Tempo ou paciente (pressão ou fluxo) Pressão Volume Tempo Volume Interfere menos com a função car- diovascular. Maior trabalho respiratório comparada com A/C. Assincronias Modo ineficien- te para desmame. PSV Exclusivo - paciente (pressão ou fluxo) Determi- nada pelo paciente mantida a pressão das vias aéreas constante pelo ventila- dor. % Do pico de fluxo Aumenta o conforto e melhora a sincroniza- ção previne a atrofia muscular e a fadiga por sobrecarga de trabalho. Necessita do pleno funcio- namento do impulso neuro- muscular para respiração. VC não garantido. Fonte: Adaptado de Tallo (2014)5. 25Descomplicando a Ventilação Mecânica BIBLIOGRAFIA 1. Barbas, C. V., Isola, A. M., Farias, A. M., Cavalcanti, A. B., & Gama, A. M. C. D. A. Diretrizes brasileiras de ventilação mecânica. 2013. Associação de Medicina Intensiva Brasileira e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, 2013; 1-140. 2. Carvalho, C. R. R. D., Toufen Jr, C., & Franca III, S. A. III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. Ventilação Mecânica: princípios, análise gráfica e modalidades ventilatórias. J Bras Pneumol, 2007; 33(Supl 2); 54-70. 3. Pádua, A. I., & Martinez, J. A. B. Modos de assistência ventilatória. Medicina (Ribeirão Pre- to), 2001; 34(2); 133-142. 4. Melo, A. S., Almeida, R. M. S. D., & Oliveira, C. D. D. A mecânica da ventilação mecânica. Re- vista Médica de Minas Gerais. 2014; 24(8); 43-48. 5. Tallo, F. S., Vendrame, L. S., Lopes, R. D., & Lopes, A. C. Ventilação mecânica invasiva na sala de emergência: uma revisão para o clínico. Rev Bras Clin Med. São Paulo, 2013;11(1), 48-54. ANOTAÇÕES 3Modos Ventilatórios Avançados MODOS VENTILATÓRIOS AVANÇADOS A partir da utilização dos microprocessadores nos ventiladores mecânicos, ocorreu ampliação na possibilidade de sofisticação e aprimoramento dos mo- dos básicos propiciando o desenvolvimento de novos métodos, porém nem todos apresentam evidências concretas de sua eficácia e segurança. Alguns dos principais modos avançados serão apresentados a seguir no quadro 10. Quadro 7 - Caracterização dos principais modos avançados Volume controlado com pressão regulada (PRVC): É um modo ciclado a tempo e limitado a pressão. A cada ciclo o ventilador reajusta o limite de pres- são, baseado no volume corrente obtido no ciclo prévio até alcançar o volume corrente alvo ajustado pelo operador. Está indicada nas situações que se objetiva controle do volume corrente com pressão limitada, bus- cando ajustes automáticos da pressão inspiratória se a mecânica do sistema respiratório se modificar. Ventilação com liberação de pressão nas vias aéreas (APRV): É um modo espontâneo, limitado à pressão e ciclado a tempo. Tem sido utilizado quando existe ne- cessidade de manutenção da ventilação espontânea, do recrutamento alveolar com potencial melho- ra das trocas gasosas e redução do espaço morto e da assincronia. Pode ser usado em pacientes com SARA como estratégia protetora, desde que gere baixos volumes correntes. É indicado nas situações de necessidade de manutenção da ventilação espontânea, do recrutamento alveolar com potencial melhora das trocas gasosas e redução do espaço morto e da assincronia. Ventilação Assistida Proporcional (PAV): O PAV é uma modo espontâneo em que é utilizado a equação do movimento para oferecer pressão inspiratória (Pvent) proporcional ao esforço do paciente (Pmus). Esse modo determina a quantidade de suporte em relação ao esforço do paciente. Existe uma versão mais recente denominada de PAV (Plus) que estima o Trabalho Ventilatório do paciente e do ventilador mecânico usando a equação do movimento e calcula a Complacência e Re- sistência através da aplicação de micropausas inspiratórias de 300 ms a cada 4-10 ciclos ventilatórios. Ambos os modos apresentam melhor sincronia paciente-ventilador em comparação com PSV. Tem sido indicado nos pacientes com drive respiratório, que apresentam assincronia importante em modo espontâneo. Quando se almeja conhecer o WOB do paciente e medidas de mecânica durante venti- lação assistida. 27Descomplicando a Ventilação Mecânica Compensação automática do tubo (ATC): É um modo espontâneo que de forma automática compensa a resistência do tubo endotraqueal. Esse modo está contra indicado aos indivíduos sem drive respiratório, e cuidado com excesso de se- creções que interfiram com o fluxo inspiratório. É importante garantir que alarmes de pressão de vias aéreas estejam bem ajustados. Essa modalidade ventilatória tem apresentado em alguns estudos menor trabalho respiratório e maior conforto em comparação com o modo PSV. Ventilação Assistida Ajustada Neuralmente (NAVA): Essa modalidade ventilatória captura a atividade elétrica do músculo diafragma e usa como critério para disparar e ciclar o ventilador, ofertando suporte inspiratório. Para o seu funcionamento existe a necessidade de fixação de uma sonda esofágica (mais especifica- mente no 1/3 distal do esôfago) para mensuração da atividade elétrica do diafragma. Esse modo está indicado para pacientes com drive respiratório, que apresentem. Assincronia impor- tante em modo espontâneo, em especial esforços perdidos em PSV, como nos pacientes com Auto- -PEEP O disparo do ventilador ocorre por variação de 0,5 µV da atividade elétrica do diafragma (Edi) já a ci- clagem ocorrerá com queda da Edi para 70% do pico máximo de Edi detectado. Ventilação de Suporte Adaptativa (ASV): Essa modalidade ventilatória utiliza um algoritmo para escolher a combinação entre volume correntee frequência respiratória com o objetivo de atingir o Volume Minuto regulado pelo terapeuta, por meio de ciclos espontâneos e controlados, com a mínima pressão de vias aéreas possível. Também existe uma versão denominada Intellivent-ASV, essa versão utiliza um sensor de CO2 no final de expiração e sensor de saturação periférica de oxigênio para realizar ajustes automáticos da PEEP e FiO2 utilizando uma tabela. O ASV está indicado nos quadros de insuficiência respiratória grave, em que se busca redução do tra- balho respiratório e estímulo para respirações espontâneas. Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Barbas (2013)1; Melo; Almeida; Oliveira (2014)4 e Pádua (2001)3 28Descomplicando a Ventilação Mecânica BIBLIOGRAFIA 1. Barbas, C. V., Isola, A. M., Farias, A. M., Cavalcanti, A. B., & Gama, A. M. C. D. A. Diretrizes brasileiras de ventilação mecânica. 2013. Associação de Medicina Intensiva Brasileira e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, 2013; 1-140. 2. Carvalho, C. R. R. D., Toufen Jr, C., & Franca III, S. A. III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. Ventilação Mecânica: princípios, análise gráfica e modalidades ventilatórias. J Bras Pneumol, 2007; 33(Supl 2); 54-70. 3. Pádua, A. I., & Martinez, J. A. B. Modos de assistência ventilatória. Medicina (Ribeirão Pre- to), 2001; 34(2); 133-142. 4. Melo, A. S., Almeida, R. M. S. D., & Oliveira, C. D. D. A mecânica da ventilação mecânica. Re- vista Médica de Minas Gerais. 2014; 24(8); 43-48. ANOTAÇÕES 4Assincronia Paciente- -Ventilador ASSINCRONIA PACIENTE-VENTILADOR A assincronia pode ser entendida como um desacoplamento entre o pacien- te, em relação a demandas de tempo, fluxo, volume e/ou pressão de seu sis- tema respiratório, e o ventilador, que as oferta durante a ventilação mecânica. Essa situação é considerada frequente com incidência que varia entre 10% e 85%. A assincronia paciente ventilador pode ser devido a fatores relacionados ao paciente, ao ventilador ou a ambos. Alguns destes fatores estão citados abaixo na figura 16. Figura 16 - Principais fatores do paciente e ventilador relacionados as assincronias Fatores relacionados ao paciente Fatores relacionados ao ventilador Maior gravidade clínica Sepse Acidose Dor Ansiedade e febre DPOC Fraqueza muscular Redução do drive ventilatório Presença de secreções e de auto-PEEP Escolha do modo ventilatório e seus ajustes O disparo pneumático pode ser fonte de assincronia, Modo VCV associa-se mais frequentemente a assincronias decorrentes de Fluxo e/ou volume corrente inadequados. Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Holanda (2018)2. Os tipos possíveis de assincronia paciente ventilador são as de disparo, de ci- clagem e as de fluxo, representados na figura 17. 30Descomplicando a Ventilação Mecânica Figura 17 - Principais tipos de assincronia paciente/ventilador TIPOS DE ASSINCRONIA PACIENTE VENTILADOR. Assincronias de disparo Esforço ineficaz Autodisparo Duplo disparo Disparo reverso Assincronias de ciclagem Ciclagem prematura Ciclagem tardia Assincronias de fluxo Fluxo insuficiente Fluxo excessivo Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Holanda (2018)2 e Esperanza (2020)3. ASSINCRONIAS DE DISPARO Representam problemas no disparo ou na inicialização do ciclo respiratório por parte do ventilador em resposta ao esforço muscular do paciente. Suas características estão representadas no quadro 7. Quadro 8 - Caracterização das assincronias de disparo Assincronias Fatores determinantes Estratégias terapêuticas Disparo ineficaz O esforço inspiratório do paciente não é su- ficiente para disparar o ventilador. Ventilador: Mau ajuste ou problemas no mecanismo de sensibilidade. Paciente: Fraqueza muscular respiratória. Depressão do comando neural. Hiperinsuflação dinâmica (auto- -PEEP). Ajuste/correção de problemas da sensibi- lidade (fluxo mais sensível que pressão).. Reduzir tempo inspiratório por ajustes em cada modo. (VCV, PCV e PSV). Reduzir ou suspender drogas depresso- ras do comando neural, sedação ou BNM. Minimizar a hiperinsuflação e titular PEEP externa (valores inferiores a auto-PEEP), reduzir níveis de PS (modo PSV). Duplo disparo Ocorre quando um es- forço do paciente dis- para dois ciclos segui- dos. Ventilador: Tempo inspiratório muito curto em relação ao tempo neural. Volume corrente baixo em modo VCV. Aumentar o tempo inspiratório (VCV ou PCV) ou reduzir o limiar de percentual de fluxo para ciclagem (PSV). Modos com possibilidade de variação do volume corrente, como PCV. Sedação profunda e/ou BNM na fase pre- coce de SDRA grave. 31Descomplicando a Ventilação Mecânica Disparo reverso O esforço muscular ins- piratório do paciente decorre de mecanis- mos reflexos gerados pela insuflação mecâ- nica de um ciclo con- trolado pelo ventilador. Esforço muscular decorrente de insuflação mecânica. Reduzir sedação, BNM na fase precoce de SDRA grave. Auto-Disparo O ventilador é dispara- do sem que haja esfor- ço do paciente. Ventilador: Sensibilidade “excessiva” Vazamento no sistema Condensado no circuito do ven- tilador. Paciente: Transmissão de oscilações de pressão e/ou fluxo por batimen- tos cardíacos. Otimização do ajuste de sensibilidade. Correção de vazamentos. Remoção de condensados. Otimização do ajuste de sensibilidade. Fonte: Adaptado de Holanda (2018)2. A representação gráfica deste subtipo de assincronia pode ser visualizada na figura 18. Figura 18 - Representação gráfica da Assincronia de disparo A representação gráfica deste subtipo de assincronia pode ser visualizada na figura 18: Figura 18- Representação gráfica da Assincronia de disparo Fonte: Barbas (2013)1. Legenda Assincronias de disparo identificadas nas curvas de volume, fluxo e pressão vs. tempo e assinaladas com setas. As deflexões negativas nas curvas pressão vs. tempo representam os esforços do paciente (pressão muscular), visíveis somente se monitorizada a pressão esofágica. Painel A: Esforços perdidos. Na primeira seta observar um estímulo débil, incapaz de disparar o ventilador, resultando em uma pequena onda de fluxo positiva e mínimo volume corrente. Na segunda seta, observar o esforço que ocorre durante a exalação, sem disparar o ventilador, apenas fazendo com que o fluxo volte à linha de base e até se torne levemente positivo. Painel B: Duplo disparo. Exemplo em VCV. Os esforços do paciente permanecem no momento da ciclagem e, assim, disparam novo ciclo. Os volumes se somam (empilhamento) e a pressão nas vias aéreas se eleva, muitas vezes disparando o alarme de alta pressão. Painel C: Auto-disparo: na modalidade pressão de suporte, alguns ciclos são disparados sem esforços do paciente, tendo sido favorecidos pela presença de vazamentos, visíveis na curva volume vs. tempo, a qual não retorna à linha de base (medida do volume inspirado maior do que a do expirado). Figuras obtidas pelo Xlung.net, simulador virtual de ventilação mecânica. Disponível em: http//:www.xlung.net Fonte: Barbas (2013)1. Legenda: Assincronias de disparo identificadas nas curvas de volume, fluxo e pressão vs. tempo e assinaladas com setas. As deflexões negativas nas curvas pressão vs. tempo representam os esforços do paciente (pressão muscular), visíveis somente se monitorizada a pressão esofágica. Painel A: Esforços perdi- dos. Na primeira seta observar um estímulo débil, incapaz de disparar o venti- lador, resultando em uma pequena onda de fluxo positiva e mínimo volume corrente. Na segunda seta, observar o esforço que ocorre durante a exalação, sem disparar o ventilador, apenas fazendo com que o fluxo volte à linha de base e até se torne levemente positivo. Painel B: Duplo disparo. Exemplo em VCV. Os esforços do paciente permanecem no momento da ciclagem e, as- sim, disparam novo ciclo. Os volumes se somam (empilhamento) e a pressão 32Descomplicando a Ventilação Mecânica nasvias aéreas se eleva, muitas vezes disparando o alarme de alta pressão. Painel C: Auto-disparo: na modalidade pressão de suporte, alguns ciclos são disparados sem esforços do paciente, tendo sido favorecidos pela presença de vazamentos, visíveis na curva volume vs. tempo, a qual não retorna à linha de base (medida do volume inspirado maior do que a do expirado). ASSINCRONIAS DE FLUXO As principais características relacionadas as assincronias de fluxo estão sinte- tizadas no quadro 9. Quadro 9 - Caracterização das assincronias de fluxo ASSINCRONIAS FATORES DETERMINANTES ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS Fluxo inspiratório insuficiente Ventilador: Em VCV, ajuste de fluxo muito baixo. Em PCV e PSV, pressão aplicada muito baixa, tempo de subida longo. Paciente: Excesso de demanda ventilatória, coman- do neural elevado. Em VCV, aumentar o fluxo inspirató- rio ou mudar para modos PCV ou PSV (fluxo livre). Reduzir estímulo do comando neural e demanda metabólica: controlar fe- bre, dor, acidose metabólica e ansie- dade. Fluxo inspiratório excessivo Ventilador: Em VCV, ajuste de fluxo muito alto. Em PCV e PSV, pressão aplicada muito alta, tempo de subida muito curto (over- shoot). Em VCV, reduzir o fluxo inspiratório. Em PCV e PSV, reduzir a pressão apli- cada, aumentar o tempo de subida (rise time). Fonte: Adaptado de Holanda (2018)2. A representação gráfica desse subtipo de assincronia pode ser visualizada abaixo na figura 20. Figura 19 - Representação gráfica da Assincronia de fluxoFigura 20- Representação gráfica da Assincronia de fluxo Fonte: Barbas (2013)1. Legenda: Assincronia de fluxo. Na modalidade volume - controlada, o fluxo foi ajustado aquém da demanda do paciente, que mantém esforço muscular durante toda inspiração, a qual passa a apresentar uma concavidade voltada para cima. Essa assincronia está representada com intensidade progressiva do primeiro para o terceiro ciclo na figura. As deflexões negativas nas curvas pressão VS tempo representam os reforços do paciente (pressão muscular), sendo visualizadas somente quando se monitoriza a pressão esofágica. Figuras obtidas pelo Xlung.net, simulador virtual de ventilação mecânica. Disponível em: http//www.xlung.net. 33Descomplicando a Ventilação Mecânica Fonte: Barbas (2013)1. Legenda: Assincronia de fluxo. Na modalidade volume - controlada, o fluxo foi ajustado aquém da demanda do paciente, que mantém esforço muscular durante toda inspiração, a qual passa a apresentar uma concavidade voltada para cima. Essa assincronia está representada com intensidade progressiva do primeiro para o terceiro ciclo na figura. As deflexões negativas nas curvas pressão VS tempo representam os reforços do paciente (pressão muscular), sendo visualizadas somente quando se monitoriza a pressão esofágica. ASSINCRONIAS DE CICLAGEM As principais características relacionadas as assincronias de ciclagem estão sintetizadas no quadro 8. Quadro 10 - Caracterização das assincronias de ciclagem Assincronias Fatores determinantes Estratégias terapêuticas Ciclagem prematura O ventilador interrompe o fluxo inspiratório antes do desejado pelo paciente, ou seja, o tempo inspiratório mecânico do venti- lador é menor que o tempo neu- ral do paciente. Ventilador: Tempo inspiratório muito curto em relação ao do paciente. Paciente: Mecânica respiratória de padrão restritivo no modo PSV, como na fibrose pulmonar. Em VCV, diminuir o fluxo inspi- ratório e/ou aumentar o volume corrente. Em PCV, aumentar o tempo ins- piratório. Em PSV, reduzir o percentual do critério de ciclagem e/ ou au- mentar a PS. Ciclagem tardia O tempo inspiratório mecânico do ventilador ultrapassa o dese- jado pelo. Paciente, ou seja, é maior que o tempo neural do paciente. Ventilador: Tempo inspiratório muito longo em relação ao do paciente. Paciente: Mecânica respiratória obstrutiva no modo PSV, como na DPOC. Em VCV, aumentar o fluxo inspi- ratório. Em PCV, reduzir o tempo inspi- ratório. Em PSV, aumentar o percentual do critério de ciclagem e/ou re- duzir a PS e/ou aumentar o tem- po de subida (rise time). Fonte: Adaptado de Holanda (2018)2. A representação gráfica desse subtipo de assincronia pode ser visualizada abaixo. 34Descomplicando a Ventilação Mecânica Figura 20 - Representação gráfica da Assincronia de Ciclagem 3.2 Assincronias de ciclagem1,2,3,4 As principais características relacionadas as assincronias de ciclagem estão sintetizadas no quadro 8: Quadro 8- Caracterização das assincronias de ciclagem Assincronias Fatores determinantes Estratégias terapêuticas Ciclagem prematura O ventilador interrompe o fluxo inspiratório antes do desejado pelo paciente, ou seja, o tempo inspiratório mecânico do ventilador é menor que o tempo neural do paciente Ventilador: Tempo inspiratório muito curto em relação ao do paciente Paciente: Mecânica respiratória de padrão restritivo no modo PSV, como na fibrose pulmonar Em VCV, diminuir o fluxo inspiratório e/ou aumentar o volume corrente Em PCV, aumentar o tempo inspiratório Em PSV, reduzir o percentual do critério de ciclagem e/ ou aumentar a PS Ciclagem tardia O tempo inspiratório mecânico do ventilador ultrapassa o desejado pelo Paciente, ou seja, é maior que o tempo neural do paciente. Ventilador: Tempo inspiratório muito longo em relação ao do paciente Paciente: Mecânica respiratória obstrutiva no modo PSV, como na DPOC Em VCV, aumentar o fluxo inspiratório. Em PCV, reduzir o tempo inspiratório Em PSV, aumentar o percentual do critério de ciclagem e/ou reduzir a PS e/ou aumentar o tempo de subida (rise time) Fonte: Adaptado de Holanda (2018)2. A representação gráfica desse subtipo de assincronia pode ser visualizada abaixo na figura 19: Figura 19- Representação gráfica da Assincronia de Ciclagem Fonte: Barbas (2013)1. Legenda: Assincronias de ciclagem durante a pressão de suporte. No primei- ro ciclo, o ponto de corte de 25% do pico fluxo foi atingido rapidamente (0% de critério de ciclagem), fazendo com que o tempo inspiratório do ventilador tenha sido menor que o desejado pelo paciente. Isso pode ser observado pela porção expiratória da curva de fluxo, que tende voltar para a linha e base em função do esforço ainda presente do paciente. O último ciclo representa o contrário, ou seja, ciclagem tardia. A redução de fluxo se faz de forma muito lenta, fenômeno típico de obstrução ao fluxo aéreo, fazendo com que o limiar de ciclagem demore a ser atingido. Algumas vezes o ciclo é interrompido pela contração da musculatura expiratória, que gera uma elevação acima da pres- são de suporte ajustada ao final da inspiração (não representada nesta figura). 35Descomplicando a Ventilação Mecânica BIBLIOGRAFIA 1. Barbas, C. V., Isola, A. M., Farias, A. M., Cavalcanti, A. B., & Gama, A. M. C. D. A. Diretrizes brasileiras de ventilação mecânica. 2013. Associação de Medicina Intensiva Brasileira e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, 2013; 1-140. 2. Holanda, M. A., Vasconcelos, R. D. S., Ferreira, J. C., & Pinheiro, B. V. (2018). Assincronia pa- ciente-ventilador. Jornal Brasileiro de Pneumologia,2018 44(4), 321-333. 3. Esperanza, J. A., Sarlabous, L., de Haro, C., Magrans, R., Lopez-Aguilar, J., & Blanch, L. Moni- toring Asynchrony During Invasive Mechanical Ventilation. Respiratory Care, 2020; 65(6), 847-869. 4. Mirabella, L., Cinnella, G., Costa, R., Cortegiani, A., Tullo, L., Rauseo, M., ... & Gregoretti, C. Patient-Ventilator Asynchronies: Clinical Implications and Practical Solutions. Respiratory Care. 2020; 65. ANOTAÇÕES 5 Ventilação Mecânica Invasiva em Condições Especificas VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA EM CONDIÇÕES ESPECIFICAS Diversas condições patológicas requerem um ajuste diferenciado da venti- lação mecânica, a seguir serão apresentados algumas destas condições e as principaisrecomendações de ajuste da VMI para cada caso. VMI E SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO AGUDO (SDRA) Antes de falar efetivamente da VM na SDRA, vamos entender o que é a síndro- me do desconforto respiratório agudo e suas principais repercussões. A SDRA é entendida como um distúrbio agudo, caracterizado por infiltrados pulmonares bilaterais e hipoxemia progressiva grave na ausência de qualquer evidência de edema pulmonar cardiogênico. Os fatores de risco mais comumente relacionados à SDRA podem ser subdi- vididos em injuria direta e indireta apresentados também denominado como pulmonar ou extrapulmonar (Figura 21). 37Descomplicando a Ventilação Mecânica Figura 21 - Causas de acometimento direto e indireto na SDRA INJURIA DIRETA INJURIA INDIRETA • Aspiração • Afogamento • Inalação tóxica • Contusão pulmonar • Embolia gordurosa • Toxicidade pelo oxigênio • Infecção pulmonar, difusa (bacteriana, viral, pneu- mocystis e outros) • Síndrome séptica • Choque • Grandes queimados • Pancreatite • Intoxicação exógena • Excesso de fluidos • Coagulação intravascular, dis- seminada Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Barbas, C. S. V. (2011)3. O diagnóstico de SDRA é feito com base nos seguintes critérios estabelecidos pela definição de Berlim (2012): Início agudo, infiltrados pulmonares bilaterais na radiografia de tórax de origem não cardíaca e relação PaO / FiO inferior a 300 mmHg. A SDRA pode ser classificada em três categorias: ▶ Leve ▶ Moderada ▶ Grave Quadro 11 - Classificação da SDRA pela definição de Berlim (2012) Critério LEVE MODERADA GRAVE Tempo de início Aparecimento súbito dentro de 1 semana após exposição a fator de risco ou aparecimento ou piora de sintomas respiratórios. Hipoxemia (PaO2/FIO2) 201-300 com PEEP/CPAP ≥ 5 101-200 com PEEP ≥ 5 ≤ 100 com PEEP ≥ 5 Origem do Edema Insuficiência Respiratória não claramente explicada por Insuficiência Cardíaca ou sobrecarga volêmica. Anormalidades Radio- lógicas Opacidades bilaterais* *Não explicados por nódulos, derrames, massas ou colapsos lobares/pulmonares. Fonte: Barbas (2013)1. Os principais sintomas relacionados a SDRA são: ▶ Dispneia; ▶ Taquipneia e alcalose respiratória; ▶ Taquicardia; 38Descomplicando a Ventilação Mecânica ▶ Cianose; ▶ Roncos e estertores pulmonares bilaterais e difusos; ▶ Na radiografia podem ser visualizados: Infiltrados pulmonares bilaterais e difusos, geralmente assimétricos e sem presença de cardiomegalia; ▶ Redução da capacidade residual funcional; ▶ Desequilíbrio da relação ventilação/perfusão. FISIOPATOLOGIA DA SDRA A SDRA representa uma resposta estereotípica a diversas etiologias. Ela evolui por diferentes fases, (didaticamente três fases) começando com dano alvéo- lo-capilar, uma fase proliferativa caracterizada por melhora da função pul- monar e cicatrização e uma fase fibrótica final sinalizando o fim do processo agudo da doença. Quadro 12 - Evolução da SDRA FA SE S D A S D R A Fase exsudativa (de edema e hemorragia): Se caracteriza por congestão capilar, edema alvéolo-intersticial e a hemorragia intra-alveolar. Ocorre necrose do epitélio alveolar, com perda da barreira epitelial, alveolar e passagem do líquido intersticial para o espaço alveolar. Fase proliferativa (de organização e reparação): Ocorre proliferação de pneumócitos do tipo II na área dos septos alveolares. Os fibroblastos convertem o exsudato em tecido de granulação celular evoluindo para deposição de colágeno, em tecido fibroso denso. Fase de fibrose: Há um aumento de elastina, fibras musculares lisas e glicoproteínas e comprometimento de todo o sistema alvéolo-capilar, associado nas trocas gasosas, que repercutem em hipoxemia grave e refratária com hipertensão arterial pulmonar, responsáveis pela fase terminal da SDRA. 39Descomplicando a Ventilação Mecânica PONTO DE FIXAÇÃO Uma característica importante do padrão de lesão visualizada na SDRA é que a mesma não é uniforme. Segmentos do pulmão podem ser mais gravemente afetados, levando a uma redução da complacência pulmonar regional, que classicamente envolve mais as bases do que os ápices. Esse diferencial intrapulmonar na patologia leva a uma resposta variante às estraté- gias de oxigenação. Apesar da pressão expiratória fi- nal positiva (PEEP) elevada ser capaz de melhorar a difusão de oxigênio nos alvéolos afetados, pode acar- retar volutrauma deletério e atelectrauma de alvéolos adjacentes não afetados. COMO VENTILAR O PACIENTE COM SDRA? A seguir serão apresentadas as recomendações presente nas diretrizes bra- sileiras de ventilação mecânica (2013) direcionadas aos paciente com SDRA (Quadro 12). Quadro 13 - Parâmetros ventilatórios da VMI NA SDRA PARÂMETROS AJUSTES Modos ventila- tórios No início (primeiras 48-72 horas) em todas as categorias de gravidade são reco- mendados modos controlados: volume controlado (VCV) ou pressão controlada (PCV). Volume corrente Na categoria de gravidade leve, sob ventilação assistida: VC deve ser ajustado em 6 ml/ kg (considerando-se peso predito). Na categoria de gravidade moderada ou grave, sob ventilação assistida ou contro- lada: VC deve ser ajustado entre 3-6 ml/kg (considerando-se peso predito). • Hipercapnia permissiva tolerada, contanto que pH > 7,2. Existem alguns pacientes (por exemplo, pacientes com lesão neurológica ou hiper- tensão pulmonar) nos quais a oxigenação mais baixa e a hipercapnia permissiva almejada por protocolos de ventilação de proteção pulmonar podem ser prejudi- ciais. Fração inspiratória de oxigênio (FiO2) Usar a menor FiO2 possível para garantir SpO2 > 92% em todos as categorias de gravidade. 40Descomplicando a Ventilação Mecânica Pressão de Platô (Pplatô) Buscar manter Pplatô ≤ 30 cm H2O. Buscar manter o diferencial de pressão Platô - PEEP (chamado de Pressão de Dis- tensão) menor ou igual a 15 cm H2O para todas as categorias de gravidade. Nos casos de SDRA moderada e grave, quando a PEEP usada for elevada pode-se tolerar Pplatô de no máximo 40 cm H2O, desde que necessariamente a Pressão de Distensão seja mantida ≤ 15 cm H2O. Frequência respiratória (f) Iniciar com f = 20 rpm e caso necessário aumentar até 35 rpm, desde que não oca- sione auto-PEEP, de acordo com a PaCO2 almejada. Nos quadros de gravidade moderada ou grave, submetidos a estratégia de hiper- capnia permissiva com VC ≤ 6 ml/kg de peso predito, a f pode ser ajustada até 45 rpm, desde que não ocasione auto-PEEP. PEEP Talvez seja o parâmetro de maior controvérsia entre os pesquisadores. É recomendado evitar utilizar PEEP menor que 5 cmH2O. Evitar usar PEEP inferior aos valores da tabela PEEP BAIXO/FIO2 (Quadro 13), sendo que a Tabela PEEP BAIXO x FiO2 deve ser utilizada apenas em casos de SDRA leve. Em quadros moderados e graves usar tabelas PEEP ALTO x FiO2 (Quadros 14,15), em como alternativa à técnica da PEEP decremental. Protocolos de PEEP mais elevados podem ser perigosos para pacientes com pneu- motórax ou que apresentam risco de fístula broncopleural. Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Barbas (2013)1 e Mowery (2017)5. Quadro 14 - Tabela PEEP BAIXO x FiO2 FiO2 0.3 0.4 0.4 0.5 0.5 0.6 0.7 0.7 0.7 0.8 0.9 0.9 0.9 1.0 PEEP 5 5 8 8 10 10 10 12 14 14 14 16 18 18↔24 Fonte: Barbas (2013)1. Quadro 15 - Tabela PEEP ALTO x FiO2 (ALVEOLI) FiO2 0.3 0.3 0.4 0.4 0.5 0.5 0.5↔0.8 0.8 0.9 1.0 PEEP 12 14 14 16 16 18 20 22 22 22↔24 Fonte: Barbas (2013)1. Quadro 16 - Tabela PEEP ALTO x FiO2 (LOVS) FiO2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0 PEEP 5↔10 10↔18 18↔20 20 20 20↔22 22 22↔24 Fonte: Barbas (2013)1. MANOBRAS DE MÁXIMO RECRUTAMENTO ALVEOLAR Nos casos de SDRA moderada e grave, pode-se utilizar de manobras de Má- ximo Recrutamento Alveolar (MRM) como parte da estratégia protetora, com o objetivo de reduzir a Pressão de Distensão inspiratória (= Driving Pressure), ela deve ser realizada em modo PCV, com pressão de distensão de 15 cm H2O. Iniciar com PEEP = 10 cm H2O, aumentando o valorda PEEP em incrementos de 5 cm H2O a cada 2 minutos, até atingir um valor de 25 cm H2O, após o qual aumenta-se o incremento para 10 cm de H20 atingindo 35 e no máximo 45 41Descomplicando a Ventilação Mecânica cm H2O. Na sequência, baixar a PEEP para 25 cm H2O. Um esquema repre- sentando a Manobra de máximo recrutamento alveolar pode ser visualizado na figura 22. Figura 22 - Manobras de Máximo Recrutamento Alveolar (MRM) Incremento para 10 cm de H2O atingindo 35 e no máximo 45 cm H2O Aumentar valor da PEEP em incrementos de 5 cm H2O a cada 2 minutos, até atingir um valor de 25 cm H2O PVC, com Pdis 15 cm H2O Iniciar com PEEP = 10 cm H2O Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Barbas (2013)1 A aplicação de pressão expiratória final positiva (PEEP) pode prevenir o des- recrutamento alveolar e o atelectrauma no entanto uma PEEP elevada, pode gerar superdistensão alveolar e ou comprometimento hemodinâmico devido a altas pressões intratorácicas e diminuição do retorno venoso. Assim como as manobras de recrutamento, em que uma PEEP elevada é utilizada por um breve intervalo, podem melhorar a oxigenação pela abertura dos alvéolos com atelectasias, mas também podem ocasionar barotrauma ou comprome- timento hemodinâmico. POSIÇÃO PRONA Nas situações em que os pacientes que apresentam hipoxemia refratária ao suporte ventilatório ou que exibem falência pulmonar pode-se lançar mão da ventilação em posição prona, que se baseia no fornecimento do suporte ventilatório com o paciente adotando o posicionamento de decúbito ventral (Figura 23). Figura 23 - Representação da posição prona Posição Prona7,8 Nas situações em que os pacientes que apresentam hipoxemia refratária ao suporte ventilatório ou que exibem falência pulmonar pode-se lançar mão da ventilação em posição prona, que se baseia no fornecimento do suporte ventilatório com o paciente adotando o posicionamento de decúbito ventral (Figura 23). Figura 23- Representação da posição prona Fonte: https://site.hcrp.usp.br Curiosidade cientifica8: A posição prona passou a ganhar mais destaque em 2013 com o estudo do grupo PROSEVA, realizado por Guérin e colaboradores, em que foi realizado um ensaio clínico randomizado multicêntrico com 466 indivíduos portadores de SDRA (237 pacientes foram atribuídos ao grupo prono, e 229 pacientes foram atribuídos ao grupo supino), com relação PaO2/FIO2 <150 mm/Hg e em suporte ventilatório (PEEP ≥5 cm H2O, FIO2 ≥ 0.6) respectivamente recebendo sessões de posicionamento em pronação de pelo menos 16 horas (grupo prono/ intervenção) ou para serem deixados em posição supina (Grupo controle). Foi observado que a utilização precoce (entre 12 e 24 horas após o diagnóstico SDRA) e por tempo prolongado de posição prona reduziu significativamente a mortalidade no grupo intervenção 28 e 90 dias8. Fonte: https://site.hcrp.usp.br 42Descomplicando a Ventilação Mecânica Curiosidade cientifica: A posição prona passou a ganhar mais destaque em 2013 com o estudo do grupo PROSEVA, realizado por Guérin e colaboradores, em que foi realizado um ensaio clínico randomizado multicêntrico com 466 indivíduos portadores de SDRA (237 pacientes foram atribuídos ao grupo prono, e 229 pacien- tes foram atribuídos ao grupo supino), com relação PaO2/FIO2 <150 mm/Hg e em suporte ventilatório (PEEP ≥5 cm H2O, FIO2 ≥ 0.6) respectivamente recebendo sessões de posicionamento em pronação de pelo menos 16 horas (grupo prono/ intervenção) ou para serem deixados em posição supina (Grupo controle). Foi observado que a utilização precoce (entre 12 e 24 horas após o diagnóstico SDRA) e por tempo prolongado de posição prona reduziu significativamente a mortalidade no grupo intervenção 28 e 90 dias. O efeito fisiológico de maior destaque da posição prona é a melhora da oxigena- ção, essa melhora pode ser atribuída a vários fatores dentre eles estão a diminui- ção dos fatores que contribuem para o colabamento alveolar, a redistribuição da ventilação alveolar e a redistribuição da perfusão. Os parâmetros necessários para o posicionamento em prona estão apresentados no quadro 16. Quadro 17 - Parâmetros para pronar o paciente RECOMENDAÇÕES REFERENTE A POSIÇÃO PRONA Indicação • Pacientes com SDRA com P/F < 150 por pelo menos 16 horas por sessão. • Evitar utilizar na SARA leve de forma rotineira. A posição prona é indicada nas primeiras 48 horas de ventilação mecânica. Utilizar na SDRA moderada, quando: • Após PEEP titulada; • IVD (Insuficiência Ventricular Direita Aguda – Cor Pulmonale Agudo) mo- derada a grave. • Na impossibilidade de sustentar ventilação protetora: necessário Pressão de Distensão > 15 cmH2O; f > 35 rpm; pH < 7,2. Contraindicação da posição prona • Hipertensão intracraniana. • Fratura Pélvica. • Fratura de coluna. • Hipertensão intra-abdominal (contraindicação relativa). • Peritoniostomia. • Gestação (contraindicação relativa). • Tórax instável. • Instabilidade hemodinâmica grave. • Equipe inexperiente. Duração da intervenção: Manter a prona de 16 a 20 horas devendo deixar de ser repetida assim que se atingir P/F > 150 mmHg com PEEP 10 cmH2O em posição supina. Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Barbas (2013)1 43Descomplicando a Ventilação Mecânica OUTRAS CONDUTAS POSSÍVEIS NA SDRA OXIGENAÇÃO EXTRA-CORPÓREA POR MEMBRANA (ECMO) É uma modalidade de suporte de vida extracorpóreo que permite suporte temporário à falência da função pulmonar e/ou cardíaca, que não respondem ao tratamento clínico convencional. Pode ser utilizada para remoção de CO2 ou para oxigenação por membrana extracorpórea. Pacientes com SDRA em ECMO devem ser ventilados de forma protetora, no intuito de prevenir lesão pulmonar induzida pelo ventilador mecânico. Os pa- cientes devem ser ventilados com baixo volume corrente, baixa FiO2, baixa pressão de platô e pressão de pico. OXIDO NÍTRICO (NO) Pode-se usar NO inalatório em pacientes com SARA grave com Hipertensão Pulmonar aguda e falência de VD, monitorizando-se a resposta e titular a do- sagem de partes por milhão. BLOQUEADOR NEUROMUSCULAR (BNM) Nos casos de SARA com P/F < 120 mmHg sob sedação profunda é recomenda- do utilizar cisatracúrio nas primeiras 48 horas de suporte ventilatório. VMI E DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) A doença pulmonar obstrutiva crônica é entendida como uma doença que se caracteriza por limitação persistente do fluxo aéreo de caráter progressivo e reversível parcialmente, que se associa a um quadro inflamatório crônico devido à exposição a partícula e/ou gases nocivos. Tendo como principal fator de risco para o tabagismo. Com a evolução do entendimento da DPOC, esta é atualmente considerada passível de prevenção e tratamento e engloba duas condições principais: enfisema e bronquite crônica. 44Descomplicando a Ventilação Mecânica Figura 24 - Condições principais da DPOC ENFISEMA BRONQUITE CRÔNICA Caracterizado por aumen- to anormal e permanente dos espaços distais aos bronquios, associado a destruição das paredes e fibras elásticas dos alvéolos sendo o principal respon- savel pela limitação ao flu- xo aéreo e aprisionamento de ar. É caracterizada pela produção exacerbada de muco. Os tubos brônqui- cos se tornam inflama- dos e estreitos. O indivíduo passa a apresentar tosse crônica capaz de causar expec- toração durantes três meses durante um ano e por dois anos sucessivos. Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de Vogelmeier (2017)9. Uma das grandes complicações visualizadas na DPOC é a hiperinsuflação pul- monar que ocasiona diversas outras manifestações como: ▶ Redução da capacidade contrátil do diafragma; ▶ Alteração do posicionamento do diafragma; ▶ Redução da CI; ▶ Aumento da CRF. A DPOC está muito além apenas do comprometimento pulmonar, também demonstrando grandes repercussões sistêmicas. 45Descomplicando a Ventilação Mecânica Figura 25 - Manifestações sistêmicas da DPOC
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