Buscar

CURSO UNASUS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 59 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 59 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 59 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Unidade 1 - Como normatizar e organizar o Sistema de Garantia de Direitos (SGD)?
 Tópico 1 - Princípios norteadores da escuta protetiva – conhecendo as normativas
Unidade 1: Como normatizar e organizar o Sistema de Garantia de Direitos?
Neste recurso educacional, Módulo 1, U1, Tópico 1, serão elencados os princípios norteadores da escuta protetiva – escuta especializada, definidos pela Lei n.º 13.431, de 4 de abril de 2017, regulamentada pelo Decreto n.º 9.603, de 10 de dezembro de 2018, que estabelece o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente vítima ou testemunha (SGD), ao tempo que propõe as diretrizes de normatização e organização.
Essas normativas estão ancoradas no Art. 227 da Constituição Federal (CF), de 1988, e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, cuja missão é a proteção integral da criança e do adolescente.
Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como normatizar e organizar o Sistema de Garantia de Direitos? Unidade 1. In: Saúde do Adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2022.
Para nortear este Recurso 2 – Escuta de Crianças e Adolescentes na rede de serviços do SUS, destacam-se os princípios norteadores do SGD, de acordo com o artigo 2º, do Decreto n.º 9.603, de 12 de dezembro de 2018, conforme a seguir, criança e adolescente (BRASIL, 2018):
São sujeitos de direito e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento e gozam de proteção integral (Item I, Art. 2º, Decreto n.º 9.603, 10/12/2018);
Devem ter proteção integral quando os seus direitos forem violados ou ameaçados (Item II, Art. 2º, do Decreto n.º 9.603/2018).
Têm o direito de ter seus melhores interesses avaliados e considerados nas ações ou nas decisões que lhes dizem respeito, resguardada a sua integridade física e psicológica (Item III, Art. 2º, do Decreto n.º 9.603/2018).
Devem receber intervenção precoce, mínima e urgente das autoridades competentes tão logo a situação de perigo seja conhecida (Item V, Art. 2º, do Decreto n.º 9.603/2018).
Têm assegurado o direito de exprimir suas opiniões livremente nos assuntos que lhes digam respeito, inclusive nos procedimentos administrativos e jurídicos, consideradas a sua idade e a sua maturidade, garantido o direito de permanecer em silêncio (Item VI, Art. 2º, do Decreto n.º 9.603/2018).
Têm o direito de não serem discriminados em função de raça, cor, sexo, idioma, crença, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou regional, étnica ou social, posição econômica, deficiência, nascimento ou outra condição, de seus pais ou de seus responsáveis legais (Item VI, Art. 2º, do Decreto n.º 9.603/2018).
Devem ter sua dignidade individual, suas necessidades, seus interesses e sua privacidade respeitados e protegidos, incluída a inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral e a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, das ideias, das crenças, dos espaços e dos objetos pessoais (Item VIII, Art. 2º, do Decreto n.º 9.603/2018).
Têm direito de serem consultados acerca de sua preferência em serem atendidos por profissional do mesmo sexo (Item IX, Art. 2º, do Decreto n.º 9.603/2018, adaptado).
Em consonância com o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 4º, da Lei n.º 8.069/90 (BRASIL, 1990), o conjunto de medidas adotadas pelo Poder Público (Item IV, Art. 2º, Decreto n.º 9.603/2018) reafirma as diretrizes como princípio, no qual a criança e o adolescente têm preferência (BRASIL, 2018):
em receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
 em receber atendimento em serviços públicos ou de relevância pública;
na formulação e na execução das políticas sociais públicas; e
na destinação privilegiada de recursos públicos para a proteção de seus direitos.
Nesse sentido, a Lei n.º 13.431/2017 é decisiva ao reafirmar dispositivos do ECA e do Art. 227 da Constituição Federal (1988) que, na sua “aplicação e interpretação”, sejam asseguradas as condições peculiares da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento e que “o Estado, a família e a sociedade, em geral, reúnam todos os esforços para garantir os direitos fundamentais com absoluta prioridade (Art. 3º, Lei n.º 13.431/2017), assentados nos dispositivos da Constituição Federal, de 1988, e no Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990.
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios desenvolverão políticas integradas e coordenadas que visem a garantir os direitos humanos da criança e do adolescente no âmbito das relações domésticas, familiares e sociais, para resguardá-los de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, abuso, crueldade e opressão (parágrafo único, art. 2º, Lei 13.431/2017) (BRASIL, 2017).
O próprio enunciado já mostra que a implementação das medidas, em prol da proteção integral, envolve:
Imagem 1: Envolvidos na implementação das medidas em prol da proteção integral
Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como normatizar e organizar o Sistema de Garantia de Direitos? Unidade 1. In: Saúde do Adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2022.
É por isso que a absoluta prioridade, apesar dos avanços das políticas públicas, firmadas e reafirmadas na CF/1988 e no ECA/1990, ainda é um desafio rumo à proteção integral. Assim, a escuta especializada é mais um degrau importante para a proteção de crianças e adolescentes em situação de violência.
Conheça, no quadro 1, as principais normativas garantidoras da proteção integral de crianças e adolescentes, como sujeitos de direito, devendo ser acolhidos, atendidos e cuidados como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.
Quadro I: Atos normativos para a proteção integral a crianças e adolescentes
	Ato normativo
	Descritor
	Fonte
	Art. 227 da Constituição Federal, de 1988.
	É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
	http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art227
	Decreto n.º 99.710, de 21 de novembro de 1990.
	Promulga a Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC).
	https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d99710.htm
	Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990.
	Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências.
	http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art2p
	Lei n.º 13.257, de 8 de março de 2016.
	Dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância e altera a Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o Decreto-Lei n.º 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei n.º 5.452, de 1º de maio de 1943, a Lei n.º 11.770, de 9 de setembro de 2008, e a Lei n.º 12.662, de 5 de junho de 2012.
	http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm#art18
	Lei n.º 13.431, de 4 de abril de 2017.
	Estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera a Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
	http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/Lei/L13431.htm
	Decreto n.º 9.603, de 10 de dezembro de 2018.
	Regulamenta a Lei n.º 13.431, de 4 de abril de 2017, que estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítimas ou testemunhas de violência.
	http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/Decreto/D9603.htm
Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como normatizar e organizar o Sistema de Garantia de Direitos? Unidade 1. In: Saúde do Adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviçosdo SUS, Brasília: UNA-SUS, 2022.
Como se observa no Quadro I – atos normativos para a proteção integral a crianças e adolescentes, o Brasil dispõe de um ordenamento jurídico importante para garantir os direitos da criança e do adolescente. Entretanto, a própria convenção dá pistas para que as medidas sejam tanto legislativas quanto administrativas, as quais são necessárias para efetivação dos direitos desse público o mais próximo possível de onde eles residem.
A edição da Lei 13.431/2017 preenche uma lacuna importante para avançar na proteção integral que vai desde a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) até a normatização e organização do Sistema de Garantia de Direitos (SGD).
É, portanto, neste ponto que reside um importante desafio:
A ausência de diretrizes de integração e de organização do SGD fez com que as políticas públicas setoriais adotassem medidas sanitárias de atendimento e de acolhimento de acordo com a missão de cada uma delas, visando à promoção, à proteção e ao cuidado de crianças e adolescentes em situação de violência.
Para a integração e a coordenação dos serviços, dos programas, da capacitação e dos equipamentos públicos para o atendimento da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência, o regulamento da Lei 13.431/2017, estabelecido no Art. 31, Decreto n.º 9.603/2018, preconiza a edição de normas complementares , envolvendo os Ministros de Estado da Justiça, da Segurança Pública, da Educação, do Desenvolvimento Social, da Saúde e dos Direitos Humanos (BRASIL, 2018).
Até a presente data, 21.05.2021, continua pendente um ato conjunto dos órgãos e das políticas setoriais do Sistema de Garantia de Diretos de criança e adolescente vítima ou testemunha de violência, definidos pelo Decreto n.º 9.603/2018.
Além disso, também se constituem enormes desafios a articulação, o engajamento e a união de órgãos e instituições das esferas estadual, distrital e municipal com o objetivo comum de integrar as políticas de atendimento e de coordenação dos serviços para a proteção integral da criança e do adolescente e suas famílias, a fim de identificar onde eles vivem e a quais formas de violação de direitos estão expostos.
Órgãos setoriais das políticas setoriais, da esfera federal, num esforço para orientar a atuação dos profissionais que atuam nos programas, serviços e equipamentos da rede de proteção do SGS, no sentido de acolher a demanda da escuta especializada, de forma a evitar a repetição de escutas sucessivas e revitimização da criança e do adolescente em situação de violência, lançaram o documento:
“Parâmetro de escuta especializada para crianças e adolescentes em situação de violência” (BRASIL, 2017a).
Parte desse esforço de coordenação e integração das políticas setoriais foi no sentido de suprir a lacuna de uma normativa conjunta desses órgãos para orientar o atendimento integral e integrado, visando à promoção e à proteção, bem como ao controle e à defesa de direitos desse público.
Portanto, a proposição deste recurso educacional 2, Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, tem por finalidade a capacitação de gestores e profissionais de saúde, alinhada aos princípios norteadores do atendimento protetivo, à integração entre as políticas setoriais e ao diálogo com os profissionais das políticas sociais que integram o SGD e assumem funções similares para a proteção integral da criança e do adolescente em situação de violência.
Tópico 2 - Políticas setoriais implicadas: Sistema de Garantia de Direitos (SGD)
Então vamos começar revisitando as faixas etárias que definem a criança e o adolescente para a política de saúde.
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA
O Estatuto da Criança e do Adolescente define como criança a pessoa de 0 a 12 anos incompletos e adolescente de 12 a 18 anos (BRASIL, 1990).
Convenção sobre os Direitos da Criança
A Convenção sobre os Direitos da Criança define criança a pessoa de 0 a 18 anos (BRASIL, 1990).
Marco Legal da Primeira Infância
O Marco Legal da Primeira Infância, Lei n.º 13.257, de 8 de março de 2016, considera primeira infância como os primeiros 6 (seis) anos completos ou 72 (setenta e dois) meses (BRASIL, 2016).
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Crianças (PNAISC)
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Crianças (PNAISC) define:
· - Criança: de 0 a 9 anos:
· - Primeira infância: de 0 a 5 anos (72 meses) em consonância com a Lei n.º 13.257/2016;
· - Adolescentes: o atendimento destes nos serviços de pediatria é de 10 a 15 anos (BRASIL, 2015).
Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens, na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde
As Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens, na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde, define:
· - Adolescente: de 10 a 19 anos (BRASIL, 2010).
· De acordo com Lei n.º 13.431/2017, e seu regulamento, o Sistema de Garantia de Direitos de crianças e adolescentes (SGD) é formado por órgãos, programas, serviços e equipamentos das políticas setoriais – de saúde, assistência social, educação, segurança pública e justiça, que integram “os eixos de promoção, controle e defesa dos direitos da criança e do adolescente e são responsáveis pela detecção dos sinais de violência (Art. 7º, Decreto n.º 9.603/2018) (BRASIL, 2018).
· As políticas implementadas nos sistemas de justiça, segurança pública, assistência social, educação e saúde deverão adotar ações articuladas, coordenadas e efetivas voltadas ao acolhimento e ao atendimento integral às vítimas de violência (Art. 14, Lei n.º 13.431/2017) (BRASIL, 2017).
· Para cumprir as obrigações atribuídas pela Lei n.º 13.431/2017, as políticas setoriais poderão “criar programas, serviços ou equipamentos que proporcionem atenção e atendimento integral e interinstitucional às crianças e aos adolescentes vítimas ou testemunhas de violência”.
· É também uma prerrogativa desses serviços a estruturação de “equipes multidisciplinares especializadas”, conforme o Art. 16, Lei n.º 13.431/2017 (BRASIL, 2017).
· A política de saúde, neste caso, desde a instituição do ECA, assumiu o protagonismo nessa agenda e estruturou um arranjo organizacional:
· Imagem 2: Arranjo organizacional
· 
· Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como normatizar e organizar o Sistema de Garantia de Direitos? Unidade 1. In: Saúde do Adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2022.
· Por outro lado, a proposta da Lei n.º 13.431/2017 vem ao encontro do arranjo institucional da política de saúde, em curso, com destaque para:
· Imagem 3: Lei n.º 13.431/2017 de encontro ao arranjo organizacional da política em saúde
· 
· Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como normatizar e organizar o Sistema de Garantia de Direitos? Unidade 1. In: Saúde do Adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2022.
· A política de saúde funciona como uma das engrenagens do SGD, engajadas no mandato de promover e proteger os direitos da criança e do adolescente em situação de violência. Além de acolher, cuidar e recuperar, devem observar também as oito diretrizes para a ação, definidas em Lei – § 1º, Art. 14, Lei n.º 13.431/2017 (BRASIL, 2017):
· Imagem 4: Diretrizes definidas em lei para a ação
· 
· Fonte: BRASIL, 2017.
· Os programas, serviços ou equipamentos públicos, criados ou organizados para o atendimento integral, intersetorial e interinstitucional a crianças e adolescentes, “poderão contar com delegacias especializadas, serviços de saúde, perícia médico-legal, serviços socioassistenciais, varas especializadas, Ministério Público e Defensoria Pública”, e com outros dispositivos possíveis de integração no território, além de propor o estabelecimento de parcerias em caso de indisponibilidade de serviços de atendimento, de acordo com o disposto no Parágrafo único, do Art.16. da Lei n.º 13.431/2017 (BRASIL, 2017).
· Art.16. da Lei n.º 13.431/2017
· A seguir conheça a proposta de um arranjo elaborado de uma redede cuidado e proteção integral, do Sistema de Garantia de Direitos para criança e adolescente em situação de violência, tomando por base a Lei n.º 13.431/2017 e seu regulamento.
· Nele, é reunido um conjunto de órgãos e dispositivos do poder público e de organizações da sociedade em geral que podem integrar o SGD.
· A ideia é contribuir para novas iniciativas ou reorganização da rede de proteção e âmbito local. Entretanto, é importante considerar a capacidade instalada – de serviços e equipamentos de proteção, de cada município/cidade –, lembrando que o gestor é o responsável pela organização da rede de proteção em cada localidade.
Imagem 5: Políticas sociais básicas
Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como normatizar e organizar o Sistema de Garantia de Direitos? Unidade 1. In: Saúde do Adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2022.
Imagem 6: Sistema de Segurança Pública (SSP)
Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como normatizar e organizar o Sistema de Garantia de Direitos? Unidade 1. In: Saúde do Adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2022.
Imagem 7: Sistema de Justiça
Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como normatizar e organizar o Sistema de Garantia de Direitos? Unidade 1. In: Saúde do Adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2022.
Imagem 8: Órgãos independentes
Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como normatizar e organizar o Sistema de Garantia de Direitos? Unidade 1. In: Saúde do Adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2022.
Imagem 9: Órgãos deliberativos e consultivos da sociedade civil
Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como normatizar e organizar o Sistema de Garantia de Direitos? Unidade 1. In: Saúde do Adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2022.
Atenção: este arranjo da rede intersetorial e interinstitucional não exclui outros equipamentos e serviços que realizam atendimento de crianças e adolescentes no território. Em suma, cada município deve organizar a sua rede de proteção.
SUGESTÃO DE INFOGRÁFICO
SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS (SGD) – Rede Intersetorial e interinstitucional de proteção integral de crianças e adolescentes em situação de violência
Imagem 10: Exemplo de rede intersetorial dialogando com a saúde no território
Fonte: Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças, Adolescentes e suas Famílias em Situação de Violências. 2014. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/linha_cuidado_atencao_integral_saude.pdf. Acesso em: 8 de jun. de 2021.
SIGLAS Módulo 1 – Unidade 1 - Tópico 2
APS: Atenção Primária à Saúde
CAPSi: Centro de Referência de Atenção Psicossocial infantojuvenil
CDC: Convenção sobre os Direitos da Criança
CRAS: Centro de Referência da Assistência
CREAS: Centro de Referência Especializado da Assistência Social
CT: Conselho Tutelar
ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente
ESF: Equipes de Saúde da Família
SGD: Sistema de Garantia de Direitos da criança e do adolescente
OAB: Ordem dos Advogados do Brasil
SSP: Sistema de Segurança Pública
SUAS: Sistema Único de Assistência Social
SUS: Sistema Único de Saúde
UBS: Unidade Básica de Saúde
UPA 24h: Unidade de Pronto Atendimento
Escuta especializada: é o procedimento de escuta (entrevista), criado por lei, sobre a situação de violência com a criança ou o adolescente perante órgão da rede de proteção, limitado o relato estritamente ao necessário para o cumprimento de sua finalidade (BRASIL, 2017, Lei n.º 13.431).
Linha de cuidado: é uma estratégia para a ação, um caminho para o alcance da atenção integral, que busca articular a produção do cuidado, permeando a atenção primária, média e de alta complexidade, exigindo ainda a interação com os demais sistemas para a garantia de direitos de crianças e adolescentes (BRASIL, 2014).
Revitimização: o discurso ou a prática institucional que submeta crianças e adolescentes a procedimentos desnecessários, repetitivos, invasivos, que levem as vítimas ou testemunhas a reviver a situação de violência ou outras situações que gerem sofrimento, estigmatização ou exposição de sua imagem (Art. 5º, Decreto n.º 9.603, de 10 de dezembro de 2018).
Unidade 2 - Como promover intervenções protetivas e não revitimização?
Tópico 1 - Tipologia de violência e suas consequências para o desenvolvimento de crianças e adolescentes
São muitos os conceitos e as definições lastreados sobre os tipos, a natureza de violência em normativas e documentos oficiais em âmbito nacional e internacional. Nesse contexto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a violência como um problema de saúde pública, segundo a qual:
· Violência é o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (MAGALHÃES, 2011, p. 57, apud KRUG, et al., 2002).
A violência contra crianças e adolescentes, adotada pelo Ministério da Saúde, é definida como: “quaisquer atos ou omissões dos pais, parentes, responsáveis, instituições e, em última instância, da sociedade em geral, que redundam em dano físico, emocional, sexual e moral às vítimas” (BRASIL, 2014, p. 25).
O Ministério da Saúde adotou a metodologia sistematizada pela OMS, alinhada com a implementação da Ficha de Notificação Individual.
Neste recurso educacional, serão utilizadas apenas as variáveis da tipologia de abrangência da violência interpessoal, na esfera intrafamiliar e comunitária, no que couber, considerando que é neste recorte que se concentra a maior parte dos eventos de violência contra crianças e adolescentes (MAGALHÃES, 2011), conforme apresentado no Infográfico 1.
Infográfico 1: Tipos e natureza de violências contra crianças e adolescentes
Fonte: Magalhães, 2011, p58; BRASIL, 2014, p28.
Vamos conhecer agora a metodologia sistematizada pela OMS, adotada pelo Ministério da Saúde (em forma de Infográfico) que retrata os principais tipos de violência que acometem crianças e adolescentes.
Essa tipologia é dividida em três classificações ou categorias:
· autoprovocada ou infligida,
· interpessoal e
· coletiva.
Entretanto, neste recurso vamos abordar apenas a categoria interpessoal (cor laranja).
Vamos entender o conceito de violência interpessoal. É quando uma pessoa ou um grupo de pessoas usam a força física ou o poder real ou em ameaça, de forma intencional contra outra pessoa ou outro grupo, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (BRASIL,2014).
A categoria interpessoal é subdividida em duas esferas: intrafamiliar e comunitária. São nos espaços de interação de crianças e adolescentes, onde se concentram as violações de direitos contra esse púbico.
Este infográfico é uma forma pedagógica de demonstrar que a violência pode acontecer por meio das naturezas física/castigos corporais, sexual, psicológica e da negligência e/ou do abandono. Perceba que elas podem ocorrer em todas as categorias demonstradas no infográfico – autoprovocada, interpessoal e coletiva, à exceção de natureza sexual, com a autoprovocada ou infligida.
Segundo resultados dos casos de notificação de violência interpessoal ou autoprovocada/infligida, coletados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, no período de 2011 a 2017, foram de:
1.460.326 casos para todos os ciclos de vida
Desse total:
· 40,3% foram praticados contra crianças e adolescentes, sendo:
· 
· 219.717 (15,0%) notificações contra crianças; e
· 372.014 (25,5%) contra adolescentes (BRASIL, 2018, p. 3 – Boletim epidemiológico).
É importante destacar que a maioria dos tipos de violência praticada contra crianças e adolescentes, de acordo com as informações registradas/notificadasna Ficha de Notificação Individual, do Ministério da Saúde, no período de 2011 a 2017, foram por meio de natureza:
· física;
· psicológica;
· sexual; e
· negligência/abandono (Infográfico 1)
Entretanto, a natureza dessas violências pode se manifestar diferentemente e, portanto, elas devem ser registradas em outros (ou seja como outras formas), conforme campo 56 – VIOLÊNCIA; e no campo 58 – VIOLÊNCIA SEXUAL, recorte da referida ficha a seguir:
Imagem 2: Recorte da Ficha de Notificação Individual
Fonte: Ficha de Notificação Individual. Violência interpessoal/autoprovocada. Sinan/SVS. In: Viva: instrutivo notificação de violência interpessoal e autoprovocada, 2016. 92 p. Disponível em: https://bit.ly/3FHCBwV. Acesso em: 13 maio 2022
O Brasil vem aprimorando os dispositivos do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069 de 13 julho de 1990), que tratam sobre as formas de violação de direitos contra crianças e adolescentes, entre os quais se destacam:
· Lei n.º 13.010 (26 de junho de 2014)
A Lei n.º 13.010/2014 trata sobre o castigo físico e tratamento cruel ou degradante, com a finalidade de prevenir castigos físicos (violência física) contra crianças e adolescentes, utilizados, muitas vezes, de forma equivocada como a justificativa disciplinar e educativa, na qual reafirma que:
A criança e o adolescente têm direito de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los (Art. 18-A, da Lei n.º 13.010/2014) (BRASIL, 2014a).
· Lei n.º 13.431 (4 de abril de 2017/2017)
A Lei n.º 13.431/2017, que estabelece o sistema de garantia de direitos para crianças e adolescentes na condição de vítimas ou testemunhas, sem prejuízo da tipificação das condutas criminosas (Lei nº 12.015, de 07 de agosto de 2009), reconhece como formas de violência: a violência física, a violência psicológica (bullying, alienação parental, entre outras condutas) e a violência sexual (abuso sexual, exploração sexual comercial e tráfico de pessoas), violência institucional (inclusive quando gerar revitimização) (BRASIL, 2017).
TIPOLOGIA DE VIOLÊNCIAS CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Os tipos e a natureza das violências que acometem crianças e adolescentes, em grande medida, ocorrem no âmbito intrafamiliar. São eles:
Imagem 3: Tipos e natureza das violências que acometem crianças e adolescentes
Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como promover intervenções protetivas e não revitimização? Unidade 2. In: Programa Saúde do adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2021.
VIOLÊNCIA FÍSICA/CASTIGO FÍSICO
O castigo físico é definido como a “ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente, que possa resultar em sofrimento físico ou lesão”. Considera, ainda, o “tratamento cruel ou degradante” mediante “conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente” que possa resultar em situação de humilhação, ou ameaça grave, ou ridicularização (Parágrafo único, da Lei n.º 13.010/2014) (BRASIL,2014a).
Os castigos físicos são notificados na Ficha de Notificação Individual como “violência física, entendida como a ação infligida à criança ou ao adolescente que ofenda sua integridade ou saúde corporal ou que lhe cause sofrimento físico” (Art. 4º, Lei n.º 13.431/2017) (BRASIL, 2017).
Violência física “são atos violentos, nos quais se faz uso da força física de forma intencional, não acidental, com o objetivo de ferir, lesar, provocar dor e sofrimento ou destruir a pessoa, deixando, ou não, marcas evidentes no seu corpo”. É (também definida como sevícia física, maus-tratos físicos ou abuso físico) (BRASIL, 2016, p. 57).
São formas de violência física:
· tapas;
· beliscões;
· chutes;
· torções;
· empurrões;
· arremesso de objetos;
· estrangulamentos;
· queimaduras;
· perfurações;
· mutilações;
· entre outras (BRASIL, 2016, p.57 – VIVA-instrutivo).
VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA E NEGLIGÊNCIA
Violência psicológica é qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em relação à criança ou ao adolescente mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, agressão verbal e xingamento, ridicularização, indiferença, exploração ou intimidação sistemática (bullying) que possa comprometer seu desenvolvimento psíquico ou emocional (Art. 4º, Lei n.º 13.431/2017) (BRASIL, 2017).
A violência psicológica, também denominada como violência moral, em geral praticada de forma repetida e sistemática, causa estresse tóxico na criança e/ou no(a) adolescente. Se esse tipo de prática não cessar e, se não for tratado e cuidado, causa danos à autoestima, à identidade, à saúde e ao desenvolvimento saudável.
O assédio moral, o bullying, a tortura, inclusive a negligência e o abandono, também são formas de violência psicológica, que, do mesmo modo, se não forem tratadas e cuidadas, podem deixar sequelas, com graves consequências para a saúde e o desenvolvimento em todos os ciclos de vida, com impacto na frequência escolar e nas relações interpessoais. Vamos conhecê-las mais detalhadamente.
ASSÉDIO MORAL
O assédio moral é a violência que ocorre no ambiente de trabalho, mediante relações de poder, que pode ocorrer de forma vertical, entre patrão e empregado, ou horizontal entre os empregados. É considerado como conduta abusiva, “exercida por meio de gestos, atitudes ou outras manifestações repetidas, sistemáticas, que atentem contra a dignidade ou a integridade psíquica ou física de uma pessoa, que ameace seu emprego ou degrade o clima de trabalho”. Portanto, a violência moral causa grande sofrimento psíquico devido a sua “ação destinada a caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a reputação da pessoa” (BRASIL, 2016, p.57), podendo levar a sérias consequências, especialmente para adolescentes que se encontram em fase de muitas transformações físicas e psicológicas, que podem precipitar tentativas de suicídio ou mesmo a consumação do ato.
BULLYING
O bullying é outra forma de violência psicológica que costuma ocorrer entre crianças e adolescentes, “em ambientes escolares ou outros meios, como o cyberbullying” (BRASIL, 2016, p. 57). O cyberbullying, embora seja um fenômeno mais recente, tem sido bastante frequente nos últimos anos, praticado por intermédio de envio de e-mails, mensagens de celulares, telefonemas, divulgação de “fotos digitais, sites pessoais difamatórios, ações difamatórias on-line como recursos para a adoção de comportamentos deliberados, repetidos e hostis” (BRASIL,2014, p.32).
Quando o bullying ou cyberbullying são identificados, necessita-se de intervenção imediata da família. Nesse contexto, quando se percebem mudanças de comportamento da criança ou do(a) adolescente e da comunidade escolar, é imperioso iniciar uma atuação conjunta com a família para cessar esse tipo de violência e reparar eventuais danos ocorridos, “rastreando sintomas e incentivando a implantação de programas antibullying nas escolas” (BRASIL, 2014, p. 32). Esses tipos de violência podem causar graves implicações para o desenvolvimento saudável da criança e do adolescente no desempenho escolar, na vida social e no ambiente do trabalho.
TORTURA
Tortura “é o ato de constranger alguém com emprego de força ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental com fins de: obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa”. Também se configura como tortura “provocar ação ou omissão de natureza criminosa e em razão de discriminação racial ou religiosa (Lei n.º 9.455/1997)” (BRASIL, 2016, p. 58).
NEGLIGÊNCIA/ABANDONO
Negligência/abandono “é a omissão pela qual se deixou de prover as necessidades e os cuidados básicos para o desenvolvimento físico, emocional e social da pessoa atendida/vítima”.Em geral, a negligência é praticada por familiares e/ou cuidadores. Em relação ao abandono, ele é considerado “uma forma extrema de negligência” (BRASIL, 2016, p. 60).
São exemplos de negligência a falta de cuidados básicos com a saúde da criança, mediante a privação de alimento, falta de administração de medicamentos, quando prescritos por médicos; descuido com a higiene, ausência de proteção contra o frio e o calor; ausências recorrentes na escola, entre outros cuidados necessários para o desenvolvimento de crianças e adolescentes (BRASIL, 2016).
VIOLÊNCIA SEXUAL
Os dados do Ministério da Saúde, no período de 2011 a 2017, mostraram que foram notificados 184.524 casos de violência sexual, sendo 141.105 (76,5%) contra crianças e adolescentes.
Imagem 4: Casos de violência sexual notificados contra crianças e adolescentes (2011 a 2017)
Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como promover intervenções protetivas e não revitimização? Unidade 2. In: Programa Saúde do adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2021.
Em comparação entre os anos 2011 e 2017 (BRASIL, 2018), observou-se:
Imagem 5 Aumento de casos de violência sexual notificados contra crianças e adolescentes (2011 e 2017)
Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como promover intervenções protetivas e não revitimização? Unidade 2. In: Programa Saúde do adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2021.
Considerando as estatísticas, observa-se que a Lei n.º 12.015, de 7 de agosto de 2009, que altera o Código Penal, tornando mais severas as penas por crimes hediondos contra a dignidade e a liberdade sexual, crimes sexuais contra vulnerável (crianças e adolescentes até os 14 anos), ainda não surtiu os efeitos necessários para coibir a violência de natureza sexual contra crianças e adolescentes (BRASIL, 2009).
Vamos conhecer os tipos de violência sexual.
VIOLÊNCIA SEXUAL
Violência sexual é “qualquer conduta que constranja a criança ou o adolescente a praticar ou presenciar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo em foto ou vídeo por meio eletrônico ou não”, que inclua o abuso sexual, exploração sexual comercial e tráfico de pessoas (Art. 4º, Lei n.º 13.431/2017) (BRASIL, 2017).
ESTUPRO
Estupro: “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso” (Art. 213, da Lei nº 12.015/2009) (BRASIL, 2009). Inclui-se nessa definição a “conjunção carnal (penetração peniana ou de outro objeto no ânus, vagina ou boca), independentemente da orientação sexual ou do sexo da pessoa/vítima” (BRASIL, 2016, p. 63).
PORNOGRAFIA INFANTIL
Pornografia infantil: “é a apresentação, a produção, a venda, o fornecimento, a divulgação e/ou a publicação de fotografias ou imagens com pornografia ou cenas de sexo explícito (exposição de imagens) envolvendo crianças ou adolescentes, utilizando qualquer meio de comunicação” (BRASIL, 2016, p.63).
ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Estupro de vulnerável: “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos” (Art. 217-A, da Lei nº 12.015/2009) (BRASIL, 2009). A violência sexual pode ou não vir acompanhada de violência física, especialmente em crianças e adolescentes, menores de 14 anos, pela condição de vulnerabilidade, que é classificada.
EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL
Exploração sexual comercial: é “o uso da criança ou do adolescente em atividade sexual em troca de remuneração ou qualquer outra forma de compensação, de forma independente ou sob patrocínio, apoio ou incentivo de terceiro”, podendo ser presencial ou meio eletrônico (Art. 4º, Lei n.º 13.431/2017) (BRASIL, 2017).
Tráfico de pessoas para fins de exploração sexual comercial: “é entendido como o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento da criança ou do adolescente, dentro do território nacional ou para o estrangeiro, com o fim de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de coação, rapto, fraude, engano, abuso de autoridade, aproveitamento de situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento, entre os casos previstos na legislação” (Art. 4º, Lei n.º 13.431/2017) (BRASIL, 2017).
TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
Tráfico internacional de pessoas para fins de exploração sexual: “promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro”. A pena para quem pratica esse crime é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, e nos casos de menores de 18 anos, a pena é umentada da metade (Art. 231, da Lei n.º 12.015/2009) (BRASIL, 2009).
TRÁFICO INTERNO DE PESSOA PARA FIM DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual: “promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual”. A pena para quem pratica esse crime é de reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e nos casos de menores de 18 anos, terá a pena aumentada pela metade (Art. 231-A, da Lei n.º 12.015/2009) (BRASIL, 2009).
Por trás da exploração existe um explorador sexual, que age para a obtenção de “pagamento ou recompensa, serviços sexuais, de forma direta ou com recurso de intermediários (agenciamento direto, indução, facilitação)” (BRASIL, 2016, p. 58 – VIVA-instrutivo).
A violência sexual contra crianças e adolescentes deve ser enfrentada com medidas preventivas para evitar que ela aconteça. Por isso, a importância de investimentos em programas e ações educativas voltadas para as famílias e a comunidade escolar, além de campanhas educativas veiculadas nas redes sociais e em outros meios digitais e de comunicação a fim de que atinjam a sociedade em geral.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
A violência doméstica e familiar contra as mulheres (adolescentes, adultas e idosas) acontece independentemente de idade, classe social, raça, etnia, orientação sexual, renda cultura, nível educacional e religião.
A Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, cria mecanismos para coibir esse tipo de violência contra mulheres. É um tipo de violência grave, embora bastante recorrente na nossa sociedade, que necessita ser enfrentada. A violência doméstica e familiar é considerada como qualquer ação ou omissão baseada no sexo que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (BRASIL, 2006).
Podem ocorrer no âmbito:
· doméstico, no espaço de convício permanente, com ou sem vínculo familiar;
· familiar pela convivência de pessoas que são ou se considerem aparentados, unidas por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
· de qualquer relação íntima de afeto a que as adolescentes estão expostas em seus relacionamentos afetivos (Art.5º, Lei nº 11.340/2006) (BRASIL, 2006).
· Esse tipo de violência, no âmbito familiar, deixa sequelas não apenas para a mulher, que é vítima, mas para crianças e/ou adolescentes que habitam o lar e são obrigadas a vivenciarem tais atos violentos contra a mãe ou os membros familiares.
· Além de serem acometidas por sofrimento físico e psicológico por repetição, muitas vezes, chegando à violência extrema, que é a consumação de feminicídio nos lares brasileiros.
· Imagem 6 Feminicídio
· 
· Fonte: Julien Leiv, ID 124358469, Adobe Stock, 2022.
· Outras formas de violação de direitos contra a criança e o adolescente, vítima ou testemunha, são praticadas por agentes de instituição pública ou conveniada/privada que, no exercício de suas funções, na tentativa de proteger e cuidar, podem incorrer em revitimização.
· Nesse sentido, a Lei n.º 13.431/2017, para coibir a ocorrência dessa prática, qualifica a violência institucional e define o sentido de revitimização, de acolhimento ou colhida para evitar abordagens desnecessárias, reduzindo o número de vezes que as crianças ou os adolescentessejam submetidos a reviverem a situação de violência sofrida ou testemunhada.
· Violência institucional é a “violência praticada por agente público no desempenho de função pública, em instituição de qualquer natureza, por meio de atos comissivos ou omissivos”, ou seja, por ação ou omissão, que tragam prejuízo à criança ou ao adolescente vítima ou testemunha de violência nos serviços ou equipamentos de atendimento (Art. 5º, Decreto n.º 9.603, de 10 de dezembro de 2018) (BRASIL, 2018a).
Portanto, a violência institucional ocorre quando os profissionais que atuam nos equipamentos das políticas públicas, no desempenho de suas funções e/ou atribuições, para a garantia de direitos, praticam de forma deliberada ação ou omissão que retardem ou criem obstáculos no percurso da criança ou do adolescente e suas famílias nos pontos de atenção da rede de serviços no território, dando causa à revitimização, entre outros danos ou prejuízos para reparação do direito violado de forma ágil e oportuna, na continuidade das dimensões do cuidado (acolhimento, atendimento, notificação e o seguimento da rede de cuidado e de proteção).
São inúmeras as consequências da violência, seja ela de natureza física, psicológica, sexual, ou seja por de negligência/abandono.
As evidências mais recentes mostram que situações adversas, entre elas a violência, têm um impacto devastador e levam a uma extensa gama de problemas sociais e de saúde, comprometendo o desenvolvimento cognitivo e emocional, com prejuízos posteriores na aprendizagem, no comportamento e no bem-estar físico e mental, desde a idade mais precoce até a idade adulta (BRASIL, 2014).
Entre as situações adversas que podem afetar o desenvolvimento das conexões cerebrais com consequências durante a infância, a adolescência e a vida adulta, estão: a pobreza extrema, o abuso sexual (violência sexual) abuso físico (castigo físico), que resulte em sofrimento físico, lesão); o tratamento cruel ou degradante e a negligência recorrentes. Também podem afetar o desenvolvimento da criança e do(a) adolescente, no âmbito familiar, o uso abusivo de álcool ou drogas pelos pais, a falta de moradia e de trabalho, além da exposição às situações de violência intrafamiliar (SHONKOFF and GARNER, 2012; MOORE et. al., 2015).
Para reafirmar os efeitos prejudiciais da revitimização para a criança e o adolescente e suas famílias, a Lei n.º 13.431/2017 reconhece a importância do acolhimento (ou acolhida), uma das dimensões da linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças e adolescentes e suas famílias em situação de violência.
OMS: Organização Mundial da Saúde
SINAN: Sistema de Informação de Agravos de Notificação
VIVA: Vigilância de Violência e Acidentes
SGD: Sistema de Garantia de Direitos da criança e do adolescente
Abuso sexual: é “toda ação que se utiliza da criança ou do adolescente para fins sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato libidinoso, realizado de modo presencial ou por meio eletrônico, para estimulação sexual do agente ou de terceiro” (Art. 4º, Lei n.º 13.431/2017) (BRASIL, 2017).
Castigo físico: é definido como a “ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente, que possa resultar em sofrimento físico ou lesão”. Considera ainda, que o “tratamento cruel ou degradante” mediante a “conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente” que possa resultar em situação de humilhação, ou ameaça grave, ou ridicularização (Parágrafo único, da Lei n.º 13.010/2014) (BRASIL,2014).
Estupro: consiste em “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso” (Art. 213, Lei nº 12.015/20099) (BRASIL, 2009).
Estupro de vulnerável: consiste em “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos (Art. 217-A, da Lei nº 12.015/2009) (BRASIL, 2009).
Exploração sexual comercial: é “o uso da criança ou do adolescente em atividade sexual em troca de remuneração ou qualquer outra forma de compensação, de forma independente ou sob patrocínio, apoio ou incentivo de terceiro”, podendo ser por meio presencial ou eletrônico (Art. 4º, Lei n.º 13.431/2017) (BRASIL, 2017).
Negligência/abandono: “é a omissão pela qual se deixou de prover as necessidades e os cuidados básicos para o desenvolvimento físico, emocional e social da pessoa atendida/vítima”.Em geral, a negligência é praticada por familiares e/ou cuidadores. Em relação ao abandono, ele é considerado “uma forma extrema de negligência” (BRASIL, 2016, p.60).
Quebra de sigilo: poderá ocorrer nas seguintes situações: a) presença de qualquer tipo de violência - emocional, maus tratos, sexual, interpessoal nas relações afetivas bullying e etc; b) diagnóstico de doenças graves, quadros depressivos e outros transtornos do campo mental; c) uso escalonado (cada vez maior) de álcool e outras drogas, sinais de dependência química; d) autoagressão, ideações suicidas ou de fuga de casa; e) gravidez e ou abortamento; f) sorologia positiva de HIV (comunicar aos familiares e à parceria sexual); e g) não adesão a tratamentos, deixando o adolescente ou terceiros em risco (NOTA TÉCNICA Nº 2/2022-COSAJ/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS).
Violência física: é o uso da força física de forma intencional, não acidental, por meio de atos violentos “com o objetivo de ferir, lesar, provocar dor e sofrimento ou destruir a pessoa, deixando, ou não, marcas evidentes no seu corpo”. (Também denominada sevícia física, maus-tratos físicos ou abuso físico) (BRASIL, 2016, p.57).
Violência institucional: é a “violência praticada por agente público no desempenho de função pública, em instituição de qualquer natureza, por meio de atos comissivos ou omissivos”, ou seja, por ação ou omissão, que tragam prejuízo à criança ou ao adolescente vítima ou testemunha de violência nos serviços ou equipamentos de atendimento (Art. 5º, Decreto n.º 9.603, de 10 de dezembro de 2018) (BRASIL, 2018).
Violência interpessoal: é o uso intencional de força física ou poder, real ou em ameaça, por uma pessoa ou um grupo de pessoas contra outra pessoa ou outro grupo, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (BRASIL, 2014).
Violência sexual: é “qualquer conduta que constranja a criança ou o adolescente a praticar ou presenciar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo em foto ou vídeo por meio eletrônico ou não”, que inclua o abuso sexual, exploração sexual comercial e tráfico de pessoas (Art. 4º, Lei n.º 13.431/2017) (BRASIL, 2017).
Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan/SVS: é um sistema alimentado com as informações coletadas na Ficha de Notificação Individual – violência interpessoal/autoprovocada e investigação de casos de agravos/violências que constam da lista nacional de notificação compulsória.
Tópico 2 - Ética, privacidade, confidencialidade e sigilo para escuta, intervenção e não revitimização
Neste tópico , você verificará que a prática da proteção integral depende de cada um nós (poder público, família e comunidade).
Diante disso, faz-se necessário reconhecer os princípios da ética, da privacidade, da confidencialidade e do sigilo, para a escuta e a intervenção protegida, visando a não revitimização de crianças, adolescentes e suas famílias.
“O conjunto crescente de evidências sobre o que funciona para prevenir e responder à violência contra crianças cria para nós o dever de aplicar as lições aprendidas – seja em nossos lares, nossas comunidades ou em nível global” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018, p. 93).
Com as lições aprendidas sobre os princípios da ética, da privacidade, da confidencialidade e do sigilo, alinhados aos conhecimentos sobre a tipologia da violência e suas consequências para saúde, bem-estar físico e mental de crianças e adolescentes, você poderá adotar uma postura acolhedora de modo a evitar a revitimização. Além de contribuir paraque as famílias se fortaleçam e beneficiem o resgate da autoestima de suas crianças e seus adolescentes.
De acordo com o Decreto n.º 9.603, de 10 de dezembro de 2018, que regulamenta a Lei n.º 13.431/2017, considera-se:
· REVITIMIZAÇÃO
· ACOLHIMENTO OU ACOLHIDA
O discurso ou a prática institucional que submeta crianças e adolescentes a procedimentos desnecessários, repetitivos, invasivos, que levem as vítimas ou testemunhas a reviver a situação de violência ou outras situações que gerem sofrimento, estigmatização ou exposição de sua imagem (Art. 5º, Decreto n.º 9.603, de 10 de dezembro de 2018) (BRASIL,2018a).
O Decreto n.º 9.603/2018, de modo a distinguir o acolhimento de crianças e adolescentes na condição de vítima e/ou testemunha de violência, especifica o tipo de serviço de acolhimento do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), e o considera como:
“Serviço realizado em tipos de equipamentos e modalidades diferentes, destinados às famílias ou aos indivíduos com vínculos familiares rompidos ou fragilizados, a fim de garantir sua proteção integral” (Art. 5º, Decreto n.º 9.603, de 10 de dezembro de 2018) (BRASIL, 2018a).
A intervenção protegida é uma medida de prevenção para a não revitimização.
Trata-se de uma atitude do profissional, que deve preservar o interesse superior de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento, a partir do acolhimento ou da acolhida, a primeira etapa da linha de cuidado, respeitando “os consensos fundamentais: da ética, da privacidade, da confidencialidade e do sigilo, especialmente quando da confirmação da violência sexual” (BRASIL, 2014, p. 54).
ÉTICA
é a relação do profissional das políticas públicas (saúde, educação, assistência social, conselho tutelar, autoridade policial da segurança pública, e equipamentos do sistema de justiça) que integram o SGD para criança e adolescente na condição de vítima e/ou testemunha, ancorada nos “princípios de respeito, autonomia e liberdade, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente e pelo Código de Ética de diferentes categorias” (BRASIL, 2014, p. 54).
PRIVACIDADE
é entendida como um conjunto de atitudes do profissional seguidas em um espaço de acolhimento ou acolhida, para a escuta e/ou consulta de crianças e adolescentes para que possam ser atendidos sozinhos, caso desejem, ou quando necessário, a depender de cada caso, independentemente da idade, como forma de respeito à sua autonomia e à sua individualidade. Essas atitudes contribuem para o aumento da autoestima e o fortalecimento de responsabilidade, em especial de adolescentes com a sua própria saúde. Além do mais, favorece a construção do vínculo de crianças e adolescentes em situação de violência com o profissional das políticas públicas, que compõem a rede de proteção e cuidado, na obtenção de informações privilegiadas em caso de suspeita ou confirmação de violência, e até a revelação espontânea (BRASIL, 2014).
CONFIDENCIALIDADE
refere-se às informações prestadas por crianças e adolescentes em situação de violência, e de seus familiares ou cuidadores, desde o primeiro contato com os profissionais dos serviços ou equipamentos da rede do SGD, seja no acolhimento ou na acolhida para a primeira escuta, no atendimento (consulta), na coleta de informações para a notificação e no acompanhamento ambulatorial ou psicológico, as quais devem ter o sigilo garantido (BRASIL, 2014).
QUEBRA DE SIGILO
poderá ocorrer nas seguintes situações: a) presença de qualquer tipo de violência - emocional, maus tratos, sexual, interpessoal nas relações afetivas bullying e etc; b) diagnóstico de doenças graves, quadros depressivos e outros transtornos do campo mental; c) uso escalonado (cada vez maior) de álcool e outras drogas, sinais de dependência química; d) autoagressão, ideações suicidas ou de fuga de casa; e) gravidez e ou abortamento; f) sorologia positiva de HIV (comunicar aos familiares e à parceria sexual); e g) não adesão a tratamentos, deixando o adolescente ou terceiros em risco (NOTA TÉCNICA Nº 2/2022-COSAJ/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS).
SIGILO PROFISSIONAL
relaciona-se à informação a ser preservada, a qual só deve ser quebrada se houver iminente “risco de morte ou riscos relevantes, a exemplo de situações como violência sexual ou exploração sexual, risco ou tentativa de suicídio, risco ou tentativa de aborto, informações sobre homicídio, dependência de álcool e outras drogas”, gravidez indesejada e outras situações que representem risco à integridade física e psicológica da criança ou do adolescente e até da própria família (BRASIL, 2014, p. 55).
A intervenção do profissional quando é acolhedora e respeitosa “favorece a saúde física e emocional de crianças e adolescentes em seu processo de crescimento e desenvolvimento”, em especial nos momentos de acontecimentos que produzem estresse e de mudanças importantes (BRASIL, 2014, p.15).
No momento do acolhimento, e no atendimento, a escuta “a fala, o olhar, os gestos, as informações transmitidas em linguagem simples e acessível podem fazer uma enorme diferença na construção do vínculo” de confiança entre o profissional a criança e a família (BRASIL, 2014, p.15).
São atitudes positivas dos profissionais para a construção de vínculo e fortalecimento da resiliência (BRASIL, 2014):
· escutar de forma empática o que a criança ou o adolescente tem a dizer diante da situação de violência, sem interrupção;
· criar as condições para permitir que crianças e adolescentes possam expressar os sentimentos de tristeza, angústia, raiva e medo;
· demonstrar que crianças e adolescentes não são culpados pelo ocorrido e que eles serão cuidados e protegidos;
· oferecer o apoio necessário para que crianças e adolescentes se sintam seguros;
· demonstrar empatia para favorecer a construção de vínculos com as crianças e os adolescentes e suas famílias;
· acolher a revelação espontânea, sem interrupção, sem demonstrar indignação, evitando culpabilizar a vítima ou o agressor;
· encorajar a adoção de iniciativas para criação de saídas e a busca de soluções para a superação da situação (BRASIL, 2014).
· A equipe multiprofissional do serviço de saúde, ou de qualquer outro ponto da rede de proteção do SGD, precisa desenvolver uma compreensão do contexto da situação de violência no âmbito intrafamiliar e as suas possíveis sequelas físicas e emocionais, que atinge não apenas as pessoas envolvidas (vítimas ou testemunhas), mas todos os membros da família, considerando que a violência ocorre de forma sistêmica (BRASIL, 2014).
· 
· Por isso, em quaisquer das etapas do percurso da criança ou do adolescente e sua família nos serviços da rede de proteção do SGD, recomenda-se “evitar julgamentos e comentários de alerta, indignação, censura ou acusação e confrontos” (BRASIL, 2014, p. 15).
· Portanto...
· Imagem 7: Atitude da equipe multiprofissional do serviço de saúde.
· Caso a equipe multiprofissional do serviço de saúde, ou de outro ponto da rede de proteção do SGD “perceba que há risco de revitimização ou considere que a própria família representa um risco para a criança ou o adolescente, ela deve contatar imediatamente o Conselho Tutelar,” – (CT) e a autoridade policial, a fim de comunicar a situação e receber orientações para protegê-los (BRASIL, 2014, p. 15).
· Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como promover intervenções protetivas E não revitimização? : Unidade 2. In: Programa Saúde do adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2021.
· Faz-se necessária “a identificação de alguém da família para acompanhar a criança ou o adolescente”. Na avaliação de cada equipe multiprofissional, sempre que possível, deve incluir o autor da violência e/ou os outros responsáveis do núcleo de convivência da criança ou do adolescente no atendimento (nas situações de castigos físicos, é possível orientar a família outras estratégias para educar e dar limites à criança ou ao(à) adolescente). Todavia, cada caso deve ser analisado particularmente (BRASIL, 2014, p. 15).
·Caso a equipe multiprofissional do serviço de saúde, ou de outro ponto da rede de proteção do SGD “perceba que há risco de revitimização ou considere que a própria família representa um risco para a criança ou o adolescente, ela deve contatar imediatamente o Conselho Tutelar,” – (CT) e a autoridade policial, a fim de comunicar a situação e receber orientações para protegê-los (BRASIL, 2014, p. 15).
· Nos serviços de saúde, além da intervenção para o acolhimento, a notificação, o atendimento para o diagnóstico, o tratamento e os cuidados, colocam-se em evidência as ações de promoção da saúde e prevenção de violência, para evitar a violência por repetição no âmbito familiar. São estratégias aplicadas no sentido de recuperar a saúde, bem como a autoestima da criança ou do(a) adolescente, com orientações às famílias como mecanismos de protegê-los(las) de outras tentativas e/ou consumação de violências.
· Vamos conhecer, então, sobre a resiliência.
· RESILIÊNCIA (Termo)
· Resiliência é um termo usado de várias maneiras e contextos nas ciências sociais, comportamentais e biológicas. É um recurso utilizado, algumas vezes, como uma característica individual, outras, como um processo e, por fim, como um resultado. Mas, apesar dessas diferenças, há um conjunto de características comuns e definidoras da resiliência utilizadas para a intervenção na saúde. Portanto, a essência da resiliência é uma resposta positiva e adaptativa da pessoa diante de adversidades, que inclui a capacidade de se adaptar com sucesso a estresses agudos, traumas, tragédias, ameaças ou fontes significativas de estresse, retomando o funcionamento positivo após a adversidade (NATIONAL SCIENTIFIC COUNCIL ON THE DEVELOPING CHILD, 2015).
· RESILIÊNCIA (Recurso importante)
· A resiliência é um recurso importante para ser utilizado pelos profissionais de saúde e das políticas sociais básicas a fim de encorajar as famílias a se tornarem capazes de superar situações difíceis e desenvolver habilidades positivas para que possam lidar e enfrentar as adversidades, apesar de a violência possuir grande potencial de produzir muito sofrimento. Contudo, quando existem serviços de retaguarda e redes de apoio, existe a possibilidade de mudar a história de vida de muitas crianças, adolescentes e suas famílias.
RESILIÊNCIA (Atributos ou recursos)
A resiliência depende, sobretudo, de três atributos ou recursos:
· Pessoal/individual com autonomia, autoconfiança, autoestima e competência social;
· Familiar ou, pelo menos, um adulto/pessoa confiável com laço afetivo forte com a criança ou o adolescente, que ofereça suporte emocional nos momentos de crise; e
· Redes de apoio social com múltiplas oportunidades de recursos institucionais disponíveis para a proteção de crianças, adolescentes e suas famílias no enfrentamento de situações adversas na vida (BRASIL, 2014; NATIONAL SCIENTIFIC COUNCIL ON THE DEVELOPING CHILD, 2015).
· Então, quais são os pilares de sustentação para fortalecer a capacidade de lidar com a situação e se sair bem em face de adversidades significativas?
· Apesar da crença generalizada de que a coragem individual, a autoconfiança ou alguma força de caráter possam triunfar frente à adversidade, a ciência nos mostra que é a presença de, pelo menos, um relacionamento confiável e o apoio de múltiplas oportunidades para o desenvolvimento de habilidades eficazes que funcionam como pilares de sustentação para fortalecer a capacidade de lidar com a situação e se sair bem em face de adversidades significativas. (NATIONAL SCIENTIFIC COUNCIL ON THE DEVELOPING CHILD, 2015).
· Esses atributos são fatores protetivos e favorecem “os vínculos afetivos sólidos e o bom funcionamento da rede de relacionamentos da família” e atuam de maneira bastante efetiva “como suporte para que a pessoa reflita sobre sua vida e encontre forças para a superação, muitas vezes, desconhecidas por ela própria” (BRASIL, 2014, p.14).
· As situações de violência contra crianças e adolescentes por si sós já são estressoras, alinhadas à falta de acolhimento, de escuta atenta e intervenções malsucedidas podem resultar na ativação excessiva de estressores, que caracterizam o fenômeno de estresse tóxico, podendo provocar alterações fisiológicas, as quais causam prejuízos posteriores na aprendizagem e no comportamento, bem como no desenvolvimento de doenças físicas e mentais crônicas relacionadas ao estresse do corpo (SHONKOFF, 2012).
· 
Shonkoff and Garner (2012) apresentam uma definição conceitual proposta pelo “The National Scientific Council on the Developing Child”, de três tipos de resposta ao estresse:
· positivas;
· toleráveis; e
· tóxicas.
Destacam-se, a seguir, apenas os fatores de risco, com múltiplos estressores, para a resposta tóxica, que têm relação à temática da violência:
· abuso infantil (violência sexual) e físico (castigos físicos e psicológicos) ou negligência;
· abuso de substâncias pelos pais (álcool e outras drogas);
· depressão materna, que é capaz de induzir uma resposta ao estresse tóxico.
· Portanto, a resposta ao estresse tóxico acontece em decorrência de uma ou mais situações de violência. Por isso, evitar a revitimização é fundamental para prevenir violências por repetição, reparar direitos de crianças e adolescentes e recuperar a saúde dos efeitos adversos da violência sofrida.
· Nesse sentido, o apoio de um adulto de referência, de membros da família ou da rede de proteção, funciona como fator de redução de danos causados pela violação sofrida. Por outro lado, a ausência dessa rede de apoio pode resultar na ativação excessiva, frequente ou prolongada de situações estressoras dos sistemas de resposta ao estresse do corpo (SHONKOFF and GARNER, 2012; SHONKOFF, 2012).
· Os efeitos funcionais dessas mudanças estruturais incluem mais ansiedade, afetando a memória e o controle de humor (SHONKOFF and GARNER, 2012; SHONKOFF, 2012).
CT - Conselho Tutelar
Acolhimento: é o momento do encontro que favorece a construção de vínculos e a confiança mútua e respeitosa, colocado em prática, desde 2010, na rede de serviços de saúde para qualificar a humanização da atenção à saúde às pessoas atendidas no SUS. (BRASIL, 2014).
Acolhimento ou acolhida: é o posicionamento ético do profissional, adotado no percurso do atendimento da criança, do adolescente e de suas famílias em situação de violência, com o objetivo de identificar as necessidades de cuidado com responsabilização e resolutividade da atenção (Art. 5º, Decreto n.º 9.603, de 10 de dezembro de 2018) (BRASIL, 2018).
Confidencialidade: as informações prestadas por crianças e adolescentes e suas famílias em situação de violência, desde o primeiro contato com os serviços da rede do SGD, no acolhimento ou na acolhida para a primeira escuta, no atendimento (consulta), coleta de informações para a notificação e no acompanhamento ambulatorial ou psicológico devem ter o sigilo garantido (BRASIL, 2014).
Curso de vida: é uma abordagem que reconhece a importância das intervenções em favor do desenvolvimento, desde a primeira infância até a idade adulta para melhorar a saúde e a equidade da saúde em longo prazo (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2018).
Ética: é a relação do profissional ancorada nos “princípios de respeito, autonomia e liberdade, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente e pelo Código de Ética de diferentes categorias” (BRASIL, 2014, p54).
Linha de cuidado: é uma estratégia para a ação, um caminho para o alcance da atenção integral, que busca articular a produção do cuidado, permeando a atenção primária, média e alta complexidade, exigindo ainda a interação com os demais sistemas para a garantia de direitos de crianças e adolescentes (BRASIL, 2014).
Privacidade: é entendida como um conjunto de atitudes do profissional seguidas em um espaço de acolhimento ou acolhida, para a escuta e/ou consulta de crianças e adolescentes para que possam ser atendidos sozinhos, caso desejem, ou quando necessário a depender de cada caso, independentemente da idade, como forma de respeito à sua autonomia e individualidade (BRASIL,2014).
Quebra de sigilo: poderá ocorrer nas seguintes situações: a) presença de qualquer tipo de violência - emocional, maus tratos, sexual, interpessoal nas relações afetivas bullying e etc; b) diagnóstico de doenças graves, quadros depressivos e outros transtornos do campo mental; c) uso escalonado (cada vez maior) de álcool e outras drogas, sinais de dependência química; d) autoagressão, ideações suicidas ou de fuga de casa; e) gravidez e ou abortamento; f) sorologia positiva de HIV (comunicar aos familiares e à parceria sexual); e g) não adesão a tratamentos, deixando o adolescente ou terceiros em risco (NOTA TÉCNICA Nº 2/2022-COSAJ/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS).
Resiliência: é um termo usado de várias maneiras e contextos nas ciências sociais, comportamentais e biológicas. É um recurso utilizado, algumas vezes, como uma característica individual, às vezes, como um processo e, outras, como um resultado (NATIONAL SCIENTIFIC COUNCIL ON THE DEVELOPING CHILD, 2015).
Revitimização: o discurso ou a prática institucional que submeta crianças e adolescentes a procedimentos desnecessários, repetitivos, invasivos, que levem as vítimas ou testemunhas a reviver a situação de violência ou outras situações que gerem sofrimento, estigmatização ou exposição de sua imagem (Art. 5º, Decreto n.º 9.603, de 10 de dezembro de 2018).
Sigilo profissional: é uma informação a ser preservada e só deve ser quebrada se houver iminente “risco de morte ou riscos relevantes, a exemplo de situações como violência sexual ou exploração sexual, risco ou tentativa de suicídio, risco ou tentativa de aborto, informações sobre homicídio, dependência de álcool e outras drogas”, gravidez indesejada e outras situações que representem risco à integridade física e psicológica da criança ou do adolescente e até a própria família (BRASIL, 2014, p.55).
Módulo 2 - As inovações da Lei nº. 13.431/2017 - Escuta Especializada e Depoimento Especial
Unidade 1 - Como será a aplicação da escuta especializada nos serviços da rede de proteção do SGD?
A Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC), de 1989, um dos documentos internacionais mais reconhecidos mundialmente, orientou a mudança de paradigma sobre os direitos de crianças e adolescentes no Brasil.
A CDC recomenda aos Estados-Partes, que assegurem os direitos da criança (e do adolescente), entre outros, o “de expressar suas opiniões sobre todos os assuntos relacionados a si mesma” ou a si mesmo, considerando a sua idade e o seu grau de amadurecimento, com a finalidade de assegurar que seja ouvido ou “ouvida em todo o processo judicial e administrativo que afete a mesma, ou o mesmo, por intermédio de um representante ou por órgão” da rede de proteção do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) (itens 1 e 2, do art. 12, Decreto n.º 99.710, de 21 de novembro de 1990 (BRASIL, 1990).
Nesse sentido, a Lei n.º 13.431/2017, que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990, no qual estabelece que “a criança e o adolescente serão ouvidos sobre a situação de violência por meio de escuta especializada e depoimento especial”.
Para tanto, recomenda-se a adoção de procedimentos harmônicos, pelos órgãos que compõem a rede de proteção do SGD em âmbito local, para a ocasião da escuta livre/revelação espontânea da violência sofrida ou testemunhada (art. 4º item IV, § 1º, Lei n.º 13.431/2017) (BRASIL, 1990; BRASIL, 2017).
Uma das inovações da Lei n.º 13.431/2017 (https://bit.ly/33gYaFn), e do Decreto n.º 9.603/2018 (https://bit.ly/3nIe1EI), além dos procedimentos de escuta especializada ou oitiva (depoimento especial), é a organização de uma rede de “serviços e equipamentos das políticas setoriais” (de saúde, da assistência social, da educação, da segurança pública e da justiça) “que integram os eixos de promoção, controle e defesa dos direitos de crianças e adolescentes”, formando dessa maneira uma rede intersetorial, definida como Sistema de Garantia de Direitos (SGD) de crianças e adolescentes, responsáveis pela detecção de sinais e riscos de violência (art. 7º, do Decreto n.º 9.603/2018).
Tópico 1 - Escuta especializada – especificidades para a sua aplicação nos serviços
Os parâmetros estabelecidos pelas políticas setoriais para a escuta de crianças e adolescentes buscam orientar a implementação da escuta especializada nos pontos da rede do SGD, para garantir a proteção integral, com a oferta de serviços de acolhimento ou acolhida e o atendimento humanizado da criança ou do (a) adolescente que se encontra numa situação de fragilidade emocional e física. A escuta deve levar em consideração o grau de maturidade e desenvolvimento e as peculiaridades de cada criança e de cada adolescente no modo de se expressar e vivenciar as situações de violência que estão submetidas (BRASIL, 2017a).
A violência institucional foi incluída no rol das tipificações de violência contra crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas, não ao acaso.
Imagem 1: Violência institucional.
Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como será a aplicação da escuta especializada nos serviços da rede de cuidado e de proteção do SGD? : Unidade 1. In: Saúde do Adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2022.
Na contramão do que recomenda a lei, no campo da prática, observa-se que cada órgão/serviço da rede de atenção e proteção adota o seu próprio protocolo e instrumento de escuta e coleta de informação.
Assim, destaca-se que a adoção de instrumento único/intersetorial contribui para:
· evitar a revitimização da criança ou do (a) adolescente pelas inúmeras vezes que são obrigados a repetir o mesmo relato da violação sofrida ou testemunhada;
· coibir a violência institucional por dar maior celeridade na acolhida, no atendimento e na proteção para esse público.
· VEJAMOS A DEFINIÇÃO DE ESCUTA ESPECIALIZADA E REVELAÇÃO.
· Conheça a definição da escuta especializada, segundo a Lei n.º 13.431/2017, bem como seu objetivo.
· Imagem 2: Escuta especializada – definição e objetivo.
· 
· Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como será a aplicação da escuta especializada nos serviços da rede de cuidado e de proteção do SGD? : Unidade 1. In: Saúde do Adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2022.
· Por isso, o acolhimento é uma exigência para que crianças e adolescentes possam se expressar de forma livre, com linguagem compatível com o seu desenvolvimento, suas características e particularidades, e que seja realizado em um ambiente acolhedor e protegido, para favorecer o relato dos fatos ocorridos.
· A escuta especializada não tem a finalidade de “produzir prova para o processo de investigação e de responsabilização”, portanto, deve limitar-se ao necessário para cumprir a sua função de proteção social e o acesso aos cuidados de saúde (§ 4º, do art. 19, do Decreto n.º 9.603/2018).
A escuta especializada de crianças e adolescentes em situação de violência nos serviços de saúde deve ser:
· alinhada com a linha de cuidado, harmonizada com a escuta qualificada para a intervenção de saúde; e
· realizada em serviço credenciado – ambulatorial e/ou de referência para a atenção às pessoas em situação de violência sexual.
Esses serviços são credenciados, dispõem de equipe multiprofissional e têm capacidade técnica de aplicar as melhores práticas para os casos de violência interpessoal de natureza física, sexual, psicológica, além de negligência e/ou abandono.
A intervenção realizada pelo profissional de saúde é fundamental para o cuidado, a consulta clínica, o diagnóstico, os exames laboratoriais e o tratamento, favorecendo o restabelecimento da saúde física e emocional, e contribuindo para a superação das adversidades. Esses serviços também reúnem condição técnica de acolher os membros da família ou cuidadores em situação de crise.
De acordo com a Lei n.º 13.431/2017, crianças e adolescentes em situação de violência, atendidos na rede de serviços do SUS, não necessitam de realizar novamente a escuta especializada ou o depoimento especialpara a confirmação dos fatos, considerando que esses serviços dispõem das orientações da Linha de Cuidado e das Normas Técnicas, e Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), do Ministério da Saúde, que incluem a escuta qualificada (especializada) para a intervenção de saúde, que perpassa o acolhimento, o atendimento clínico/psicológico, a notificação do caso, e até o seguimento para a rede de cuidado e proteção do SGDCA, de acordo com cada caso (art. 4º, § 3º, da Lei n.º 13.431/2017) (BRASIL, 2017).
A revelação espontânea da violência sofrida ou testemunhada pela criança ou pelo o (a) adolescente poderá ocorrer em qualquer local, por exemplo, no ambiente familiar, na escola, entre amigos ou no serviço de saúde, por ocasião de atendimento nos serviços para o tratamento de doenças e outros agravos.
Em regra, ela acontece no ambiente onde a criança ou o adolescente frequenta e se sente acolhido e seguro para relatar os fatos (art. 4º, §2º, da Lei n.º 13.431/2017), inclusive, no momento do primeiro contato em qualquer ponto dos serviços e estabelecimentos da rede de atenção e proteção do SGDCA (BRASIL, 2019).
A revelação espontânea pode ser entendida em duas perspectivas:
· REVELAÇÃO DO FATO OCORRIDO (a violência)
A revelação do fato ocorrido (a violência) – é quando a criança ou o (a) adolescente relata o fato de forma espontânea, no momento de crise ou de medo para uma amiga, irmã ou professora (ambos os sexos), a mãe ou avó e pode acontecer também no momento de atendimento na rede de proteção do SGD. Nesse caso, a criança ou o adolescente apenas revela que sofreu ou que testemunhou alguma violência, sem o apoio ou intervenção de profissional capacitado para prover o(s) encaminhamento(s) e acompanhamento (s) adequados.
· REVELAÇÃO DE COMO OS FATOS ACORRERAM (a violência)
A revelação de como os fatos acorreram (a violência) – é quando ocorre a interação da criança ou do (a) adolescente, que sofreu ou testemunhou a violência, perante um profissional ou alguém da confiança com quem ela ou ele se sente acolhida(o) e segura(o) para expressar os sentimentos e eventualmente revelar os detalhes da situação, sem indução (perguntas) ou questionamentos. Nesse caso, a revelação ocorre em espaço protegido, com suporte e apoio no momento da revelação e os profissionais estão capacitados para o acolhimento ou acolhida.
· REVELAÇÃO ESPONTÂNEA
A revelação espontânea é o relato da criança ou do adolescente, sem indução ou questionamentos, que pode ocorrer diante de uma pessoa que a criança ou o(a) adolescente tenha algum laço afetivo, mas também pode ocorrer no percurso do atendimento nos serviços da rede de proteção do SGD.
· ESCUTA ESPECIALIZADA
A escuta especializada é um procedimento de entrevista, com um roteiro mínimo, diante de um ou mais profissionais capacitados (equipe multiprofissional), que oriente a criança ou o (a) adolescente e sua família a respeito dos direitos dele(s) ou dela(s), dos encaminhamentos para a rede de cuidados e de proteção, visando o tratamento, em tempo oportuno, além dos acompanhamentos psicossocial e jurídico.
Assim, por se tratar de situações distintas de relatos, após a revelação espontânea, é imprescindível adotar medidas para viabilizar a escuta especializada, no tempo e local adequados, a fim de que sejam adotados os procedimentos recomendados, os cuidados e as medidas de proteção da criança e do adolescente e familiares.
Mas será que os serviços da rede de atenção e proteção do SGD estão preparados para isso?
Os serviços da rede de atenção e proteção do SGD, apesar de muitos avanços, ainda não dispõem de condições apropriadas nem do apoio de pessoas com conhecimentos técnicos a respeito do tema da violência (BRASIL, 2019) para acolher e dar o suporte necessário à criança ou ao (à) adolescente no momento de crise, ou seja, da revelação. “Estar diante de crianças e de adolescentes, vítimas de violências, mobiliza sentimentos e afetos por vezes intensos e contraditórios”. A revelação diante de profissionais despreparados, sem conhecimentos técnicos e habilidades necessárias para a escuta pode causar sentimentos de indignação e de ansiedade, quando estes pressionam a criança ou o (a) adolescente a revelar detalhes da violência sofrida, criando situações de constrangimento e discriminação (BRASIL, 2014; DELGADO et al, p. 205).
Nessa direção...
Imagem 3: Lei n.º 13.431/2017.
Fonte: MAGALHÃES, Maria de Lourdes. Como será a aplicação da escuta especializada nos serviços da rede de cuidado e de proteção do SGD? : Unidade 1. In: Saúde do Adolescente. Escuta de crianças e adolescentes na rede de serviços do SUS, Brasília: UNA-SUS, 2022.
Conheça, a seguir, a experiência elaborada passo a passo para a implantação de serviços, de acordo com as diretrizes da Lei n.º 13.431/2017 e do Decreto n.º 9.603/2018, a partir da experiência do Centro de Referência ao Atendimento Infantojuvenil (CRAI), implementado desde o ano 2000, no município de Porto Alegre/RS (BRASIL, 2021).
Fonte: peopleimages.com, ID 152198114, Adobe Stock, 2022.
PORTO ALEGRE – O CRAI é um serviço de atenção integral e integrado com o objetivo de realizar o acolhimento e o atendimento em um mesmo espaço físico para evitar a revitimização com atuação em rede a fim de promover a proteção de crianças e adolescentes, vítimas ou testemunhas de violência.
Na sequência, conheça a metodologia do Centro de Atendimento Integrado 18 de maio, adaptada a partir da Lei n.º 13.431/2017 e do Decreto n.º 9.603/2018 para a escuta especializada de crianças e adolescentes, vítimas ou testemunhas de violência, implementada em serviços do município de Porto Alegre/RS e do Distrito Federal/DF (BRASIL, 2021).
DISTRITO FEDERAL – O Centro 18 de maio desenvolveu a metodologia da escuta de crianças ou adolescentes, aplicada em dois momentos distintos: o primeiro durante o ano de 2017 e início de 2018, quando se tomava o depoimento especial na modalidade de uma entrevista guiada com base no Protocolo Brasileiro de Entrevista Forense (PBEF), o mesmo utilizado pelos Tribunais de Justiça para a tomada do depoimento especial (depoimento sem dano) (CHILDHOOD; CNJ; UNICEF, 2020).
O Segundo momento, a partir de abril 2018, ainda utilizando-se do PBEF, passou a realizar a escuta especializada com adaptações para não exceder o papel designado pela Lei 13.431/17 (SANTOS, 2020).
Conheça a experiência acessando: https://bit.ly/3G1B1oR.
Fonte: Análise da Escuta Protegida realizada pelo Centro 18 de maio (Capítulo 6, p. 71-75) In: Avanços e Desafios no Atendimento Integrado de Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência: um estudo de caso do Centro 18 de maio – DF.
Para alcançar o objetivo da escuta especializada e garantir o acompanhamento de crianças, adolescentes no cumprimento da função protetiva e dos cuidados necessários para a recuperação e superação das consequências da violação sofrida, o Decreto n.º 9.603/2018 orienta que os órgãos da rede do SGD adotem um instrumento único de registro: um roteiro para a coleta de informações necessárias durante o atendimento da criança ou do (da) adolescente. Os dados coletados devem ser compartilhados para a continuidade do cuidado e a proteção, com no mínimo:
· os dados pessoais da criança ou do (a) adolescente;
· a descrição do atendimento realizado;
· o relato espontâneo ou revelação espontânea da criança ou do (da) adolescente, quando houver;
· os encaminhamentos efetuados para os pontos de atenção para o acompanhamento do caso (art. 28, Decreto n.º 9.603/2018) (BRASIL, 2018).
PARA A ESCUTA ESPECIALIZADA: REDE DE PROTEÇÃO INTEGRAL DO SGD, É NECESSÁRIO:
· Acolher a criança ou o (a) adolescente e a família de forma empática e respeitosa.
· Adotar atitudes positivas de cuidado e de proteção diante da criança ou do (da) adolescente.
· Informar sobre os assuntos que serão abordados durante a escuta.
· Priorizar a busca de informações com seus familiares, cuidadores ou acompanhantes.
· Consultar a criança ou o (a) adolescente como quer ser ouvido (sozinho ou acompanhado).
· Perguntar apenas o necessário para o

Continue navegando