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Tubercul�s� - Pediatri� Emyll� Pinheir� 4°C Doença infecto-contagiosa responsável pelo mais alto número de óbitos em jovens e adultos. No Brasil, a tuberculose é a quarta causa de morte por doença infecciosa e a nona internação. EPIDEMIOLOGIA ● ⅓ da população mundial é portadora do bacilo da tb. ● Um paciente bacilífero, sem tratamento, infecta de 10 a 15 indivíduos no período de um ano. ● Em crianças, a tuberculose pulmonar é geralmente paucibacilar. ETIOLOGIA ● O agente etiológico da tb é o Mycobacterium tuberculosis. ● É um bacilo Gram-positivo, aeróbio, não forma esporos, não produz toxinas e não tem flagelos. ● Conhecido como BAAR - Bacilo Álcool-Ácido Resistente. ● Morre rapidamente se exposto ao calor e à luz solar. ETIOPATOGENIA E IMUNIDADE CELULAR ● Os bacilos inalados alcançam os bronquíolos e os alvéolos pulmonares, onde se inicia um processo inflamatório inespecífico. ● Duas a 10 semanas após o contágio, segue-se a formação de um foco no parênquima pulmonar, o nódulo de Ghon, seguido de linfangite de drenagem e linfadenomegalia mediastinal satélite - complexo primário de Ranke. ● Nessa etapa, ocorre disseminação linfo-hematogênica e os bacilos atingem outros órgãos. ● A lesão histológica é o granuloma, que é um nódulo constituído por linfócitos, macrófagos, células epitelioides e células gigantes tipo Langhans - ambas são macrófagos ativados - com necrose caseosa central e fibrose circunjacente. ● No início do processo, os macrófagos fagocitam os bacilos, liberando quimiocinas, que atraem e ativam monócitos, neutrófilos, linfócitos e outras células. ● Os linfócitos T CD4 ativados dividem-se em TH1 e TH2. ● Os TH1 produzem linfocinas, que ativam as células fafocíticas e inflamatórias para inibir o crescimento do bacilo. ● Os TH2 produzem linfocinas, que inibem a ativação dos macrófagos e favorecem o bacilo. ● Os linfócitos T CD8 produzem citocinas semelhantes aos linfócitos T CD4 e atuam favorecendo a lise das células infectadas nas lesões. ● O adoecimento ocorrerá ou não, na dependência do número de bacilos inalados, de sua virulência e do equilíbrio entre as respostas TH1 e TH2. FISIOPATOGENIA ● 95% dos infectados evoluem para a cura do processo primário (tuberculose infecção) e 5% desenvolvem a tuberculose pulmonar primária (doença), incluindo as formas agudas de disseminação linfo-hematogênica, que são a tb miliar e/ou a meningoencefalite tuberculosa. ● Risco de adoecimento maior nos 2 primeiros anos após o contágio ● Risco muito elevado nos primeiros anos de vida e situações de imunossupressão Tubercul�s� primári� o� d� primoinfecçã� ● Doença que se apresenta nos primeiros cinco anos após a instalação do complexo primário ● O foco parenquimatoso pode evoluir para pneumonia, broncopneumonia ou caverna primária, por drenagem do material caseoso através dos brônquios ● Pode romper-se na pleura, com consequente pleurite e derrame pleural ● O acometimento dos linfonodos mediastinais pode levar à compressão brônquica e hiperinsuflação ou colapso (atelectasia) de segmento ou lobo pulmonar ● Pode haver fistulização para dentro de um brônquio, com consequente endobronquite ou disseminação canalicular para outros segmentos dos pulmões (broncopneumonia) ● Pode haver fístulas para outros órgãos (pericárdio, esôfago) ● Durante ou logo após a formação do complexo primário, os bacilos podem atingir a corrente sanguínea ● Dessa forma atinge outros órgão dando origem a tuberculose miliar ou meningoencefalite tuberculosa ou permanecer latente durante anos ou toda a vida Tubercul�s� p��-primári� o� d� reinfecçã� o� secundári� ● Ocorre em indivíduos que tiveram a infecção previamente ● A forma pulmonar segue-se à inalação de nova carga bacilar (reinfecção exógena) ou reativação de focos latentes localizados nos pulmões (reativação endógena) ● Esta última é encontrada em situações da queda da imunidade, como idade avançada, diabetes, aids, uso de drogas imunossupressoras e doenças consumptivas, ou que levam à imunossupressão, como leucemias, linfomas e outras ● A lesão pulmonar pode evidenciar-se como pneumonia, broncopneumonia, tuberculoma, forma miliar ou cavitária ● Os adolescentes podem apresentar o tipo de tuberculose de primo infecção ou reinfecção ● A formas extrapulmonares da tuberculose são consequentes à reativação dos focos latentes em vários locais do organismo - rins, ossos, articulações, olhos, pele, linfonodos periféricos DIAGNÓSTICO ● Clínico: sintomas e sinais clínicos sugestivos ● Epidemiológico: contato domiciliar com adulto bacilífero ● Imunológico: teste bacilífero reator, sem história de BCG prévio ou sem cicatriz vacinal ● Radiológico: imagem radiológica de acometimento pulmonar e/ou linfonodal mediastinal ou de espessamento/derrame pleural, sugestivos de etiologia tuberculosa ● Bacteriológico/histológico: achado do bacilo em exame direto ou cultura de secreções (escarro, lavado gástrico, lavado brônquico, líquido pleural, líquor, urina e outros) ou de granuloma com necrose caseosa em material de biópsia (pleural, ganglionar, óssea ou de outros órgãos) Critério clínico - Tuberculose pulmonar primária (ou de primo infecção): assintomática; febre, tosse persistente, sudorese noturna ou pneumonia de evolução arrastada, que não responde ao tratamento convencional. - Tuberculose extrapulmonar: diagnosticada quando ocorrem sintomas ou aparecem sinais clínicos. - Tuberculose miliar: ocorre em crianças menores de 5 anos e resulta da disseminação hematogênica, por primoinfecção tuberculosa. Acomete praticamente todos os órgãos, inclusive o pulmão. O início é agudo, com febre elevada, dispneia, tosse e prostração. Hepatoesplenomegalia e linfadenomegalia periférica são observadas em 50% dos casos. Os tubérculos na coróide, evidenciados ao exame de fundo de olho, podem ser detectados precocemente e são de grande importância diagnóstica. - Meningoencefalite tuberculosa: resulta da disseminação hematogênica, podendo ocorrer associação com a forma miliar em 30% dos casos. Frequente em crianças com menos de 5 anos. Sintomas iniciais: febre, anorexia, prostração, irritabilidade e vômitos. Posteriormente, manifesta-se irritação meníngea e hipertensão intracraniana, como cefaléia e rigidez na nuca, paralisia de pares cranianos, seguindo-se torpor, convulsões, alterações da consciência, coma e sinais de descerebração. - Tuberculose linfonodal: pouco comum na infância; acomete os linfonodos de cadeia cervical, que se tornam aumentados de volume, indolores, de consistência aumentada e aderentes aos planos profundos, podendo haver fistulização. - Tuberculose renal: pouco frequente na infância; acometendo crianças maiores. Podendo ser assintomática no início, mas evolui com disúria, hematúria, polaciúria e dor lombar. - Tuberculose da coluna vertebral e osteoarticular: local mais acometido - mal de Pott. Acontece em 50% dos casos de TB óssea e acomete principalmente a região toracolombar. Dor referida no segmento comprometido, posição antálgica e limitação dos movimentos. Os bacilos destroem a parte anterior das vértebras, que se deformam em cunha; posteriormente, estas se fundem, o que resulta em lesões e deformidades incapacitantes. São frequentes os abscessos na região paravertebral - abscessos frios. Os sinais e sintomas incluem dor, alteração da marcha, contraturas e atrofias musculares, cifose e cifoescoliose. A TB osteoarticular apresenta-se como osteomielite ou artrite crônica. Vários ossos podem ser acometidos, mas as articulações do quadril, joelho e tornozelo são as mais comuns. Apura-se dor referida no segmento acometido, posição antálgica, edema articular, deformidades, contraturas e atrofias musculares, limitação dos movimentos, claudicação, luxações e abscesso. Critério imunológico - Teste tuberculínico: Técnica de Mantoux → 0,1 do produto (PPD) é injetado na face anterior do antebraço esquerdo e a leitura é efetuada, em 72h. Mede-se o diâmetro transverso da induração em mm. (0-4: não reatores; 5 ou mais: reatores). A maioriadas crianças com tb pulmonar tem o teste tuberculínico reator acima de 15mm. Critério radiológico Imagem característica do complexo primário, constituída de foco parenquimatoso, linfangite de drenagem e linfonodomegalia satélite (imagem em halteres). O acometimento parenquimatoso inicial desaparece rapidamente, persistindo a adenomegalia hilar ou paratraqueal (mais frequente). Pode haver áreas de hiperinsuflação pulmonar ou mesmo colapso de segmento ou lobo, quando ocorrer compressão parcial ou total do brônquio. Micronódulos disseminados bilateralmente são vistos na tb miliar. Nos casos de acometimento pleural, verificam-se espessamento e/ou derrame pleural. - Tuberculose renal: urografia excretora pode evidenciar calcificações puntiformes no parênquima, irregularidades do sistema pielocalicial, com aspecto serrilhado, cavidades, retrações, dilatações ureterais e bexiga de bordas irregulares. - Tuberculose osteoarticular: rarefação óssea dos segmentos acometidos e osteoporose regional e depois osteoartrose ou destruição óssea. Na coluna vertebral, evidenciam-se vértebras “em cunha” e as vezes abscesso paravertebral. Critério bacteriológico e/ou histológico - Pesquisa do bacilo: presença do bacilo ao exame direto do escarro, lavado gástrico ou brônquico, líquor, líquido pleural, urina ou em material de biópsia (Mycobacterium tuberculosis). A cultura (padrão-ouro) é mais específica. - Biópsia e outros exames: biópsia do órgão acometido (granuloma com necrose caseosa central) - A biópsia pleural deve ser realizada quando há derrame pleural suspeito de etiologia tuberculosa. - Na meningoencefalite tuberculosa encontra-se, no líquor, aumento moderado do número de células, com predomínio de neutrófilos na fase inicial e de linfócitos posteriormente, com elevação das proteínas e redução da glicose. MÉTODOS MODERNOS PARA DIAGNÓSTICO ● ELISA ● Radioimunoensaio ● Cromatografia gás-líquida ● BACTEC ● PCR ● IGRA TRATAMENTO CONTROLE DO TRATAMENTO A melhora da sintomatologia é evidente ao final do primeiro ou segundo mês. O exame radiológico deve ser realizado ao final do tratamento. Após o sexto mês, já podem ser evidenciadas calcificações hilares e/ou parenquimatosas, assim como regressão importante da linfadenomegalia hilar. O exame bacilífero deve ser realizado mensalmente somente em crianças bacilíferas à época do diagnóstico. PREVENÇÃO ● vacina BCG (prevenção da infecção latente) ● tratamento da infecção latente (impede a evolução da doença) Crianças com indicação de tratamento: 1. Crianças e adolescentes, contatos de casos bacilíferos: - Teste tuberculínico >/= 5mm em crianças não vacinadas com BCG, crianças vacinadas há mais de 2 anos ou portadoras de condições imunossupressoras - Teste tuberculínico >/= 10mm em crianças vacinadas com BCG há menos de 2 anos Crianças que adquiriram a infecção latente até os 5 anos são o grupo prioritário para tratamento da infecção latente. 2. Portadores de HIV/AIDS, com radiografia de tórax normal: - Teste tuberculínico >/= 5mm - Teste tuberculínico < 5mm, com registro documental de ter sido >/= 5mm e não submetido a tratamento da infecção latente na ocasião.