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Carla Alessandra Cavalcanti – UniRV - FAMEF - @carlanamed Carla Alessandra Cavalcanti - @_carlalessandra Introdução Processo inflamatório da glândula com relativo comprometimento dos órgãos adjacentes e até estruturas distantes (pulmões). Advém da ação de enzimas inadequadamente ativadas, causando: • Edema; • Hemorragia; • Necrose pancreática ou peripancreática. Classificação: • Leve: pouco ou nenhum distúrbio orgânico; • Grave: associada a falência de órgãos e/ou complicações locais (abscesso/necrose). Óbitos nos primeiros 14 dias/2 semanas (fase inicial) decorrem da síndrome da resposta inflamatória sistêmica, (Secundária a necrose pancreática; disfunção múltipla dos órgãos é o resultado final de uma cascata inflamatória intensa desencadeada inicialmente pela inflamação pancreática). Óbitos depois de 2 semanas (período final) ocorrem em função de complicações infecciosas/sépticas. Etiologia Vários mecanismos. Principais: • Doença biliar; • Álcool (surtos agudos em doença crônica). Fisiopatologia Ácino é a unidade funcional do pâncreas: • Secreta enzimas na forma de tripsinogênio e pró-enzimas. A ativação dessas enzimas ainda no ducto pancreático inicia um processo de autodigestão do tecido glandular. Obstrução da ampola de Vater eleva a pressão intraductal, causando inflamação (no cálculo biliar, essa obstrução é temporária). A agressão constante do álcool altera o metabolismo, e quando contínua forma fibrose: processo de cronicidade. Vários fatores com o mesmo final=ativação de proteases digestivas no interior do pâncreas. A tripsina é responsável por essa cadeia. Causa: • Edema, fenômenos vasculares e hemorrágicos; • Necrose gordurosa do tecido pancreático e peripancreático; • Alterações a distância: via sanguínea e linfática (pulmão e rim); • Estresse oxidativo; • Danos a microcirculação glandular; • Liberação de citocinas. Quadro inicial fica restrito ao tecido pancreático e ocasionar pancreatite intestinal (leve) ou necrose do parênquima e tecido peripancreático (grave). Pancreatite biliar Teoria obstrutiva: • Lesão pancreática é o resultado de pressão excessiva no interior do ducto pancreático. Essa pressão intraductal elevada é consequência da secreção contínua do suco pancreático na presença de obstrução do ducto pancreático. Teoria do refluxo: • Cálculos ficam impactado na ampola de Vatter formam um canal comum que permite o refluxo de sais biliares para o pâncreas. Pancreatite alcóolica Desencadeia acessos pró-inflamatórios, capazes que medeiam a apoptose. Pancreatite anatômica Fluxo anormal do suco pancreático par ao duodeno (tumores pancreáticos, parasitas e anomalias). Pancreatite induzida por CPRE PA é complicação da CPRE. Pancreatite induzida por medicamentos Metronidazol, eritromicina, tetraciclinas, didanosina, tiazidas, furosemida, inibidores Carla Alessandra Cavalcanti – UniRV - FAMEF - @carlanamed Carla Alessandra Cavalcanti - @_carlalessandra de redutase (estatinas) 3-hidroxi-3- metilglutaril-coenzima A (HMG-CoA), azatioprina, 6-mercaptopurina, ácido 5- aminossalicílico, sulfassalazina, ácido valproico e acetaminofeno. Mais recentemente, os agentes antirretrovirais usados para o tratamento de AIDS. Fatores metabólicos Hipertrigliceridemia e hipercalcemia. Diagnóstico 1. Quadro clínico: Diversidade de acordo com a gravidade da doença. Início pode estar relacionado com a ingestão de álcool ou alimentos gordurosos, com dor no epigástrio irradiando para o dorso, associado a náuseas e vômitos. Dor abdominal intensifica após o início e permanecer por dias. Ao exame físico apresentar sinais de irritação peritoneal, evidentes na região epigástrica. Distensão abdominal, ruídos hidroaéreos diminuídos. Palpação de massa é rara, quando há deve- se suspeitar de: • Edema peripancreático; • Pseudocisto; • Abscessos. Febre é incomum, quando tem, deve-se associar a origem infecciosa com necrose após 2-3 semanas. Pode haver derrame pleural esquerdo, hipoxemia e insuficiência respiratória por efeito da fosfolipase A, ativada sobre o surfactante pulmonar. Graves pode ocorrer perca volêmica (intenso sequestro hídrico no espaço retroperitoneal, cavidade abdominal ou pela hemorragia pancreática), causando palidez, sudorese, agitação, hipotensão, taquicardia e choque. Raro ter sinal de Cullen (região periumbilical) ou flancos (sinal de Grey-Turner) provocando equimoses. Hemorragia digestiva alto devido quadro de vômitos excessivos (síndrome de Mallory Weiss). Diagnósticos diferenciais: • Colecistite aguda; • Úlcera péptica perfurada; • Síndrome dispéptica; • Apendicite aguda; • IAM: • Pielonefrite; • Obstrução intestinal. 2. Exames laboratoriais: • Amilase sérica: 3x a mais do valor normal após 6h do início e permanece alterada por alguns dias. Acima de 1000 Ul/dL são indícios de pancreatite biliar, e inferiores origem alcóolica (não é regra). Úlcera perfurada e isquemia mesentérica também elevam amilase sérica. Pancreatite crônica devido a destruição do parênquima não há liberação suficiente de enzima para aumento sérico. Hiperlipidemia: amilase sofre interferência de lipídeos. • Enzimas hepáticas TGO e TGP, alanina, bilirrubinas e FA; 3x acima do normal. • Lipase sérica: Mais sensível, permanece elevada por mais tempo. Colecistite aguda, úlcera perfurada e fraturas ósseas. 3x ao normal. • Gasometria arterial: Avaliação inicial e estratificação de gravidade na admissão do paciente. • Glicose e hipocalcemia; • Ureia e creatinina. 3. Métodos de imagem: US(ultrassonografia): principal, porém não é bom para visualização do parênquima pancreático inflamado; TC (tomografia computadorizada) diagnóstico diferencial: Dúvida diagnóstica. Pacientes com hiperamilasemia e doença grave. Critérios de Ranson>3. APACHE II> ou = 8. Casos sem melhora após 72 h. Pacientes com melhora inicial e piora súbita; Estadiamento. Monitoramento. Deve-se lembrar que existe a possibilidade de piora pancreática (contraste). Carla Alessandra Cavalcanti – UniRV - FAMEF - @carlanamed Carla Alessandra Cavalcanti - @_carlalessandra RM (ressonância magnética): distinção entre pseudocisto não complicado e um que tenha debris e necrose. Colangiorressonância: igual CPRE. 4. Métodos invasivos: CPRE não é indicada em leve e pancreatites não biliar. Indicadores de gravidade Sinais prognósticos Identificação precoce de pacientes de risco para desenvolvimento da forma grave possibilita abordagem mais agressiva. Análise bioquímica e fisiológica são utilizadas. Critérios elaborados de RASON para estimar a gravidade da pancreatite aguda: • 2 ou menos critérios: mortalidade baixa! APACHE: baseia-se em 12 variáveis fisiológicas, dados clínicos e laboratoriais, diferenciando leve e grave, melhor que RASON. Critérios de Balthazar: relaciona o grau de comprometimento pancreático, presença de inflamação, necrose, coleções e infecção. Graves igual ou maior que 7. Na prática clínica, esses critérios não são muitos utilizados, em Atlanta teve um simpósio para estabelecer alguns pontos em comum no tratamento e conduta de pancreatite aguda. Tratamento Clínico Não há tratamento específico para o processo inflamatório que impeça progressão da doença. Fase inicial é feito com administração de medicamentos sintomáticos. Estabilização do paciente, independente da etiologia. Mensurar gravidade, diagnóstica e tratar etiologia e complicações. Choque hipovolêmico (sequestro do líquido), deve-se manter o controle da hidratação (reposição volêmica) e da diurese, corrigindo distúrbios eletrolíticos e acidobásicos, lançando mão de drogas vasoativas.Suporte nutricional em pacientes com dificuldade para aceitar a reintrodução da dieta (sonda nasoenteral após primeira porção duodenal). Nutrição enteral previne atrofia intestinal e mantém íleo ativo. Controle álgico por analgésicos. Antibioticoterapia não é usada nos pacientes com quadro de pancreatite leve. Cirúrgico Evitar a recidiva ou tratar complicações. Pancreatite aguda de causa não biliar o tratamento clássico cirúrgico ou por técnicas minimamente invasivas indicado na presença de coleção ou necrose infectada ou abcesso pancreático. O procedimento cirúrgico deve ser adiado até a necrose ser controlada, após 4 semanas. Necrose pancreática estéril: tratamento conservador na terapia intensiva, só depois cirurgia sem não houver melhora. Síndrome compartimental abdominal e pancreatite aguda Além da inflamação, pode ter SCA. Pode surgir precocemente, associada a insuficiência de órgãos. Excesso na reposição volêmica, edema visceral e retroperitoneal. Complicações 1. Coleções líquidas estéreis peripancreáticas infectadas: Coleções líquidas não envolvidas. 2. Abscesso pancreático: Coleção purulenta dentro da uma cavidade definida, associada a pouca ou nenhuma necrose. Evolução de 3-4 semanas. Quadros sépticos, confirmar por TC e aspiração por agulho fina. Punção drena toda a coleção, sem melhora deve ir para cirurgia, na vigência de antibioticoterapia. 3. Pseudocisto pancreático: Coleção fluida (suco pancreático que sai pela ruptura ductal) envolta por tecido fibroso não epitelizado. 4. Necrose pancreática; 5. Ascites pancreáticas; 6. Fístulas pancreatopleurais; 7. Fístula pancreatocutânea, Carla Alessandra Cavalcanti – UniRV - FAMEF - @carlanamed Carla Alessandra Cavalcanti - @_carlalessandra • Referência: Maia, Daniel Eichemberg Fernandes, E. e Marcelo Augusto Fontenelle Ribeiro Jr.. Manual de Condutas Básicas em Cirurgia. Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2013. Carla Alessandra Cavalcanti @carlanamed
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